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ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

CAP INF IGOR RODRIGO LINS DE MELO

O DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA TÁTICA NOS CMT PEL E CMT SU:


O EXERCÍCIO DE DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA

Rio de Janeiro
2020
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

CAP INF IGOR RODRIGO LINS DE MELO

O DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA TÁTICA NOS CMT PEL E CMT SU:


O EXERCÍCIO DE DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA

Trabalho acadêmico apresentado à


Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais,
como requisito para a especialização
em Ciências Militares com ênfase em
Gestão Operacional.

Rio de Janeiro
2020
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
DECEx - DESMil
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS
(EsAO/1919)
DIVISÃO DE ENSINO / SEÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO
FOLHA DE APROVAÇÃO

Autor: Cap Inf IGOR RODRIGO LINS DE MELO

Título: O DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA TÁTICA NOS CMT PEL E


CMT SU: O EXERCÍCIO DE DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA

Trabalho Acadêmico, apresentado à Escola


de Aperfeiçoamento de Oficiais, como
requisito parcial para a obtenção da
especialização em Ciências Militares, com
ênfase em Gestão Operacional, pós-
graduação universitária lato sensu.

APROVADO EM ___________/__________/__________ CONCEITO: _______

BANCA EXAMINADORA
Membro Menção Atribuída

_____________________________
ARONES LIMA DA ROSA - TC
Cmt Curso e Presidente da Comissão

_____________________________
LEANDRO TAVARES LUIZ - Maj
1º Membro

_____________________________
HÉLIO VIANA SANTOS SOBRINHO - Cap
2º Membro e Orientador

_________________________________________
IGOR RODRIGO LINS DE MELO – Cap
Aluno
O DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA TÁTICA NOS CMT PEL E CMT SU:
O EXERCÍCIO DE DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA

Igor Rodrigo Lins de Melo

RESUMO
O presente artigo procura apresentar a importância do Exercício de Desenvolvimento da Liderança
(EDL) na construção da liderança militar nos comandantes de pelotão (Cmt Pel) e comandantes de
subunidade (Cmt SU). A liderança militar tem se mostrado um dos fatores preponderantes para a
conquista de batalhas ao longo da história. Trata-se de um Elemento de Poder de Combate de suma
importância para a consecução de objetivos, seja em tempo de guerra ou de não guerra. Existe uma
confusão na definição dos conceitos de liderança e autoridade formal. O Exército Brasileiro tem
mostrado preocupação com o assunto e buscado cada vez mais desenvolver formas de aprimorar a
liderança militar, principalmente nos pequenos escalões. Algumas habilidades são necessárias para
que haja uma liderança plena, a saber, técnica, interpessoal e conceitual. Dentro de cada conjunto
dessas habilidades descritas existem vários atributos indispensáveis ao líder. Durante o ano de
instrução está previsto que seja realizado nos corpos de tropa o Exercício de Desenvolvimento da
Liderança. Dessa forma, o artigo buscará embasar a importância da temática para a consecução dos
objetivos militares, seja em operações de guerra ou em operações de não guerra.

Palavras-chave: Liderança Militar. Exercício de Desenvolvimento da Liderança. Líder Tático.

ABSTRACT
This article seeks to show the importance of the Leadership Development Exercise (EDL) in building
military leadership in platoon commanders and subunit commanders (Cmt SU). Military leadership has
proven to be one of the most important factors in winning battles throughout history. It is a Combat
powerful element of great importance to achieve the objectives, whether in time of war or non-war.
There are some misunderstanding in defining the concepts of leadership and formal authority. The
Brazilian Army has shown great concern with this subject and has increasingly developing ways to
improve military leadership, especially in the small ranks. Some skills are necessary for full leadership,
such as technical, interpersonal and conceptual. Within each of these skills there are several attributes
that are indispensable to the leader. During the year of instruction, the Leadership Development
Exercise is scheduled to take place in the troop bodies. Thus, the article will support the importance of
the theme for the achievement of military objectives, whether in war operations or in non-war
operations.

Keywords: Military leadership. Leadership Development Exercise. Tactical Leader.


4

1 INTRODUÇÃO

A liderança militar tem sido decisiva para a vitória nas batalhas e o êxito no
cumprimento das diversas missões militares em qualquer exército. Com a evolução
das estratégias e o emprego cada vez mais descentralizado das frações nas
operações militares, cresce de importância a atuação da liderança no comando dos
pelotões e subunidades.

A acentuada evolução do conhecimento científico-tecnológico,


possibilitando a produção de armas e equipamentos sofisticados,
dispendiosos, de difícil manuseio e manutenção, torna cada vez mais
complexas as atividades militares, realçando a importância do papel
daquele que é o elemento primordial de qualquer exército, em qualquer
época: o ser humano (BRASIL, 2011, p 11).

O Exército Brasileiro, percebendo a importância da liderança como um fator


decisivo para as operações, de guerra e não guerra, elencou-a como um Poder de
Combate Terrestre1, ao lado de outros elementos, tais como: Comando e Controle,
Informações, Movimento e Manobra, Inteligência, Fogos, Logísticas e Proteção
(Figura 1).

FIGURA 1 – Elementos do Poder de Combate Terrestre.


Fonte: Brasil (2014).

Vários são os conceitos e definições de liderança, tendo o Exército Brasileiro


entendido que a Liderança Militar é “[...] a capacidade de dirigir e influenciar outros
militares, por meio de motivação, objetividade e exemplo” (BRASIL, 2014, p. 5-8).
Para isso, o líder militar deverá incorporar várias competências que serão
desenvolvidas ao longo de sua carreira, com experiências individuais e
desenvolvidas pela instituição.

1Os Elementos de Poder de Combate Terrestre (Figura 1) representam a essência das capacidades
que a F Ter emprega em situações – sejam de Guerra ou de Não Guerra. (BRASIL, 2014, p. 5-8).
5

Diante da necessidade da atualização dos conceitos de liderança frente a


evolução do ambiente operacional e da complexidade das operações militares, o
Exército Brasileiro, por meio da Portaria nº 070-EME, de 25 de junho de 2007,
aprovou a Diretriz para Implementação do Programa de Ensino e Estudo da
Liderança Militar no Exército Brasileiro, tendo por objetivos:

Sistematizar o ensino da Liderança Militar nos estabelecimentos de ensino


do Exército e Centros de Instrução; definir os atributos inerentes à
Liderança Militar; estimular o desenvolvimento da Liderança Militar, com
ênfase nas escolas de formação do Departamento de Ensino e Pesquisa
(DEP), bem como nos demais Estabelecimentos de Ensino e Centros de
Instrução do Exército que esse Departamento julgar conveniente;
estabelecer as bases para o desenvolvimento da Liderança Militar no
Exército Brasileiro (BRASIL, 2007, p. 32).

Dentro desse contexto, várias são as formas para que os comandantes de


subunidades (Cmt SU) e comandantes de pelotão (Cmt Pel) desenvolvam sua
capacidade de liderar seus subordinados, tais como: exercícios de marcha,
operações de adestramento, instruções, formaturas e treinamento físico militar. Mas
um exercício em especial é previsto durante o ano de instrução nas Organizações
Militares Operacionais: o Exercício de Desenvolvimento da Liderança (EDL). O
mesmo como objetivo principal “[...] propiciar aos Comandantes de Unidade um
instrumento de avaliação de atributos afetivos e, concomitantemente, da capacidade
técnica e tática dos Quadros” (BRASIL, 2006, p. 5).

1.1 PROBLEMA

É no cenário acima descrito que emerge a problemática da pesquisa que ora


se delineia: Quais são os principais atributos necessários para a liderança tática2
militar do século XXI, e como esses atributos podem ser desenvolvidos por meio do
Exercício de Desenvolvimento da Liderança?
Sob esse contexto, a importância da pesquisa será decorrente da análise de
como o Exercício de Desenvolvimento da Liderança pode auxiliar o Líder Tático,
Cmt Pel ou Cmt SU, a verificar suas capacidades e limitações na liderança de suas
frações.
Foram realizadas pesquisas nos manuais da Marinha do Brasil, do Exército
Brasileiro e das Forças Armadas de outros países. Foram consultados ainda, artigos
2 “É a capacidade de mobilizar a energia e a competência das pessoas – subordinados, pares,
superiores, fornecedores e parceiros de negócio – para a execução da estratégia corporativa
planejada e / ou a atuação de curto prazo com vistas a tratar os problemas que surgiram a partir de
novos movimentos da concorrência ou de grandes transformações que acabam de alterar a ordem
das coisas em seu mercado de atuação” (MOREIRA, 2015, p. 12-13).
6

científicos, dissertações, livros e publicações sobre a temática. A rede mundial de


computadores foi amplamente utilizada como ferramenta de busca de dados.
O assunto problema do presente trabalho é descrito no caderno de instrução
para o exercício de desenvolvimento da liderança, da seguinte forma:

O Exercício de Desenvolvimento da Liderança é um exercício concebido


com a finalidade de possibilitar a observação e a avaliação do
comportamento dos militares executantes, no tocante a objetivos ligados ao
desenvolvimento de atributos da área afetiva, que impliquem reflexos
marcantes no exercício da liderança no contexto da Defesa Externa. De
modo subjacente, permite avaliar, também, o nível da capacitação técnica e
tática dos Quadros. (BRASIL, 2006, p. 9)

Dessa maneira, o presente artigo tem por finalidade apresentar, por meio de
pesquisa bibliográfica e documental, as limitações do desenvolvimento da liderança
tática por meio do Exercício de Desenvolvimento da Liderança. Ressalta-se que este
trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas de servir como ferramenta
para novos trabalhos sejam desenvolvidos nesse sentido.
Chefia, comando, autoridade, líder, influência, colaboradores, todas essas
palavras remetem a ideia de liderança. Mas afinal, o que é liderança? Como a
liderança pode influenciar na decisão de um combate? Quais são os atributos
esperados em um líder do século XXI? Como desenvolver a liderança nos
comandantes táticos de frações? Esses e outros questionamentos serão levantados
no presente trabalho, sendo realizada a busca de soluções, onde, por meio do
estudo de diversos autores, pode-se ratificar ou retificar conceitos, métodos e
metodologias.
Vários conceitos e definições sobre liderança foram e estão sendo formulados
ao longo da história. Tipos de líderes são definidos, características são desenhadas,
e perfis são formulados. Apesar das inúmeras imprecisões e divergências, todas
conferem a liderança um local de extrema importância, seja em um ambiente
corporativo, seja na conquista de batalhas.

1.2 OBJETIVOS

O presente artigo científico tem como objetivo geral apresentar o Exercício de


Desenvolvimento da Liderança na construção da liderança dos comandantes de
pelotão e comandantes de companhias.
Para viabilizar a consecução do objetivo geral de estudo, foram formulados os
objetivos específicos, abaixo relacionados, que permitiram o encadeamento lógico
do raciocínio descritivo apresentado neste estudo:
7

a) Apresentar a importância da liderança tática para os comandantes de


pelotão e comandantes de companhia;
b) Apontar os principais atributos necessários para o desenvolvimento da
liderança tática dos comandantes de pelotão e comandantes de companhia;
c) Relacionar as diferenças entre liderança e autoridade formal;
d) Expor o Caderno de Instruções de Exercícios de Desenvolvimento de
Liderança;
e) Identificar oportunidades de melhoria do Caderno de Instrução de Exercício
de Desenvolvimento de Liderança;
f) Informar os benefícios dos exercícios simulados no desenvolvimento da
liderança tática dos Cmt Pel e Cmt SU.

1.3 JUSTIFICATIVAS E CONTRIBUIÇÕES

a) A presente pesquisa se justifica em virtude da grande importância da


liderança tática dos Cmt Pel e Cmt SU no êxito do cumprimento das diversas
missões impostas em um qualquer contexto operacional;
b) Em um ambiente operacional cada vez mais complexo, novos atributos são
exigidos dos Cmt Pel e Cmt Cia no desenvolvimento da liderança tática de suas
tropas;
c) Vários exemplos históricos e atuais mostram que a liderança tática do Cmt
Pel e Cmt SU foram e têm sido fundamentais na conquista de diversas batalhas.
d) O manual de Campanha C 20-10 (LIDERANÇA MILITAR) discorre sobre os
principais atributos exigidos dos líderes no comando das diversas frações;
e) O Caderno de Instrução 20-10_3 de 2006 (Exercícios de Desenvolvimento
da Liderança) discorre de maneira suscinta como desenvolver e conduzir a instrução
para o desenvolvimento da liderança para os comandantes de pequenas frações.

2 METODOLOGIA

A pesquisa se iniciou com a revisão teórica do assunto, por meio de consulta


bibliográfica a manuais doutrinários e trabalhos científicos. O estudo foi desenvolvido
com base em pesquisa bibliográfica e documental. Compreende a identificação dos
principais atributos necessários ao Cmt Pel e Cmt SU na liderança tática das frações
pelotão e subunidade, e de como os exercícios simulados podem desenvolver tais
atributos, além da conceituação de liderança tática e seus principais atributos.
8

A coleta de dados foi realizada por meio de consultas aos Manuais Doutrinários
do Ministério da Defesa, da Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro e de outras
Forças Armadas de Nações Amigas. Também foram consultados artigos científicos e
a rede mundial de computadores.

2.1 REVISÃO DE LITERATURA

O manual de Doutrina Militar Terrestre relaciona a Liderança entre os


elementos essenciais para o Poder de Combate Terrestre, ao lado do Comando e
Controle, Informações, Movimento e Manobra, Inteligência, Fogos, Logística e
Proteção (BRASIL, 2014, p. 5-8). Para tanto, requerem que os comandantes estejam
aptos para extrair o melhor do pessoal e dos sistemas de combates colocados à sua
disposição, devendo ainda possuírem qualidades individuais, tais como, iniciativa,
coragem física e moral, competência e moral. Dessa maneira, o desenvolvimento da
liderança em todos níveis, em especial nível pelotão e subunidade, é determinante
no êxito do cumprimento das missões.
O manual de campanha C 20-10 do Exército Brasileiro ressalta que a liderança
militar “[...] não é algo que surge de uma hora para outra, mas é construída com o
passar do tempo, é fruto de relacionamento interpessoal” (BRASIL, 2011, p 3-3),
sendo desenvolvido e construído com os anos de vivência institucional, tanto em
exercícios de adestramento como no cumprimento das diversas missões.

A liderança militar consiste em um processo de influência interpessoal do


líder militar sobre seus liderados, na medida em que implica o
estabelecimento de vínculos afetivos entre os indivíduos, de modo a
favorecer o logro dos objetivos da organização militar em uma dada
situação (BRASIL, 2011, p. 3).

Várias são as aptidões esperadas de um líder militar, as quais podem ser


divididas nas áreas do cognitivo, psicomotora e afetiva. Dentro das habilidades
cognitivas e psicomotoras, destacam-se os seguintes atributos: proficiência técnica e
tática; aptidão física; e conhecimento sobre o ser humano. Já as afetivas pessoais
podem ser divididas em subgrupos, a saber: diretamente relacionadas aos valores
(coerência, coragem, dedicação, imparcialidade e responsabilidade); relacionadas
às habilidades individuais (adaptabilidade, autoconfiança, criatividade, decisão,
dinamismo, equilíbrio emocional, flexibilidade, iniciativa, objetividade, organização,
persistência e resistência). E ainda as afetivas interpessoais, que são aquelas
relacionadas às habilidades de relacionamento (comunicabilidade, camaradagem,
cooperação, direção, empatia, persuasão e tato) (BRASIL, 2011).
9

Uma forma de aperfeiçoar a liderança tática dos Cmt Pel e Cmt SU é por meio
do Exercício de Desenvolvimento da Liderança, previsto no Programa de Instrução
Militar e na 2ª edição do Programa Padrão de Instrução Bravo 1 -1999:

O Exercício de Desenvolvimento da Liderança (EDL) é um eficaz


instrumento planejado com o objetivo de propiciar o aprimoramento de
determinados atributos e valores necessários ao exercício da liderança
pelos Quadros das OM Operacionais e, de modo subjacente, possibilitar ao
Comandante observar e avaliar o rendimento das instruções da CTTEP, em
especial, o atingimento dos objetivos da área afetiva (BRASIL, 1999, p. 2-3).

Não existe uma regra determinada e específica para a formação de um líder


militar, devendo tal desenvolvimento ocorrer de forma espontânea ou por meio de
ensinamentos, exercícios e operações. Dessa forma, nos momentos críticos, a
liderança poderá ser decisiva para o êxito no cumprimento das missões. Como se
observa na descrição dos atributos de um líder no manual de liderança da Marinha
Brasileira:

Embora não existam fórmulas de liderança, a História, a experiência e


também a pesquisa psicossocial têm demonstrado que é importante que os
chefes procurem desenvolver esses traços em si e nos seus subordinados,
porque em momentos críticos ou nas situações difíceis eles podem
contribuir para um exercício mais eficaz da liderança no contexto militar
(BRASIL, 2013, p. 1).

No Exército Brasileiro, em todas as atividades operativas e administrativas,


poderão ser observados os atributos de liderança do Cmt Pel e Cmt SU. Porém, são
nas atividades operacionais que os comandantes de frações colocam mais a prova
seus atributos de líderes. Dentre essas, o Exercício de Desenvolvimento da
Liderança é a principal atividade para se desenvolver e avaliar a liderança dos Cmt
Pel e Cmt SU. O Caderno de Instrução Exercícios de Desenvolvimento da Liderança
regula e orienta quanto aos procedimentos para a condução desse exercício nas OM
Operacionais do EB.

Apesar do vertiginoso avanço da tecnologia, do surgimento de novas armas


e da evolução das doutrinas militares, continuam incontestáveis o valor e a
importância da liderança, como atributo dos Comandantes, que ainda são
os responsáveis - nos diversos escalões - pelas vitórias e pelas conquistas
nas batalhas e nas guerras (BRASIL, 2006, p. 5).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As pesquisas relacionadas ao tema liderança militar busca embasar a


importância do assunto para a consecução dos objetivos militares, seja em
operações de guerra ou em operações de não guerra.
10

3.1 PONDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE LIDERANÇA MILITAR

3.1.1 Liderança X Autoridade formal

Segundo Maximiano (2005), liderança seria a capacidade de influenciar e dirigir


o comportamento de outras pessoas, sendo a proximidade física ou temporal
irrelevantes nesse processo. Trata-se, portanto, de uma definição restrita e limitada
do fenômeno complexo de que se trata a liderança.
Existe uma grande confusão de conceitos quando tenta-se definir liderança e
chefia. Muitas características presentes em um poderão ser encontradas em outro.
Porém, “[...] autoridade formal é diferente da liderança, porque são diferentes as
bases nas quais se assenta a motivação dos seguidores” (MAXIMIANO, 2005, p
304).
Autoridade formal e liderança nem sempre andam nem precisam andar
juntas. A pessoa que ocupa uma posição de autoridade formal (a “figura de
autoridade”) pode não ter liderança informal sobre seus colaboradores ou
jurisdicionados nem precisar dela. É o caso dos agentes da lei que exercem
poder de polícia. Da mesma forma, a pessoa que exerce liderança informal
sobre um grupo pode não ocupar cargo com autoridade formal
correspondente nem precisar dele. Isso acontece, por exemplo, em grupos
sociais organizados, que precisam de líderes, mas não de chefes: grupos
voluntários, associações, condomínios (MAXIMIANO, 2005, p. 304).

A tabela abaixo sintetiza as principais diferenças entre autoridade formal e


liderança:
AUTORIDADE FORMAL LIDERANÇA
Fundamenta-se em leis aceitas de comum Fundamenta-se na crença dos seguidores a
acordo, que criam figuras de autoridade dotadas respeito das qualidades do líder e de seu
de poder de comando. interesse em segui-lo
O seguidor obedece à lei incorporada na figura de O seguidor obedece ao líder e à missão que
autoridade, não à pessoa que ocupa o cargo. ele representa.
A lei é o instrumento para possibilitar a O líder é instrumento para resolver problemas
convivência social. da comunidade.
A autoridade formal é limitada no tempo e no A liderança é limitada ao grupo que acredita
espaço geográfico, social ou organizacional. Os no líder ou precisa dele. Os limites da
limites definem a jurisdição da autoridade. liderança definem a área de influência do líder.
A autoridade formal é temporária para a pessoa A liderança tem a duração da utilidade do líder
que desempenha o papel de figura de autoridade. para o grupo de seguidores.
A autoridade formal inclui o poder de forçar a Os líderes têm o poder representado pela
obediência das regras aceitas para a convivência. massa que o segue.
A autoridade formal é atributo singular. A liderança é produto de inúmeros fatores.
Não é qualidade pessoal singular.
QUADRO 1 – Diferenças entre autoridade formal e liderança
Fonte: Maximiano (2005).
11

3.1.2 Liderança direta X indireta

Existem duas formas do exercício da liderança: a direta e indireta. Na


liderança direta, ocorre o envolvimento diretamente entre o líder e o liderado, por
meio do convívio diário. Nessa forma de liderança, há grande envolvimento
emocional de ambas as partes. A liderança direta “[...] ocorre em situações nas
quais o líder influencia diretamente os liderados, falando a eles com frequência e
fornecendo exemplos pessoais daquilo que prega” (BRASIL, 2011, p.18).
Dessa maneira, pode-se observar que seria uma forma de liderança mais
característica dos comandantes de pequena fração: nível subunidade e pelotão.
Nela, o líder precisa de atributos específicos para exercer de forma plena a sua
liderança, tais como: comunicabilidade, rigor físico, conhecimento institucional,
dentre outros que serão debatidos neste presente trabalho.
Na liderança direta há um grande vínculo entre o líder e liderado, exigindo de
ambos esforços para consecução dos objetivos propostos pelo líder. Formaturas,
treinamentos físico militar, instruções, adestramentos e tantas outras atividades
militares são o ambiente perfeito para que o líder exerça sua liderança direta.
A liderança indireta é uma outra forma do exercício da liderança. Nela “[...] o
líder exerce a sua influência atuando por intermédio de outros líderes a ele
subordinados” (BRASIL, 2011, p.19). Trata-se, portanto, de uma liderança mais
complexa, onde deve ser estruturada uma cadeia de comando bem definida. Para
que a liderança aconteça “[...] é fundamental que se estabeleça uma cadeia de
lideranças que atinja todos os indivíduos do grupo” (BRASIL, 2011, p. 19).
Porém, para que sejam atingidos os objetivos na liderança indireta, o líder
precisa utilizar muitas das vezes da liderança direta. Deverá ser exemplo para os
seus subordinados mais próximos. O comandante de uma brigada, por exemplo,
topo da cadeia de comando em uma estrutura militar complexa, muitas vezes se
valerá da liderança direta com o seu Estado Maior e comandantes de unidade para
que possa liderar indiretamente os militares na base da cadeia de comando. O
manual de liderança militar dos Estados Unidos da América trata a diferente de
níveis de liderança da seguinte forma:

Há um consenso geral de que os líderes lideram de maneiras diferentes em


diferentes níveis organizacionais. Os líderes de nível júnior realizam
missões e constroem equipes principalmente usando o modo de liderança
direta e direta. Nas organizações maiores, o escopo das missões se amplia
e lidera é mais complexo. Os líderes e comandantes de nível sênior
fornecem visão, influenciam indiretamente por meio de camadas de grandes
unidades, constroem organizações e criam condições que permitem aos
12

líderes de nível júnior (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1990, p. 8,


tradução nossa).

FIGURA 2 – Leadership Modes (Modos de liderança).


Fonte: Estados Unidos da América (1990).

3.1.3 Liderança tática

Segundo o manual de doutrina militar terrestre, liderança é “[...] competência


individual que confere ao indivíduo a capacidade de dirigir e influenciar outros
militares, por meio de motivação, objetividade e exemplo” (BRASIL, seção 5-8).
Muito se fala em liderança tática, aquela à qual os Cmt SU e Cmt Pel estão mais
aptos a desenvolverem. O manual que trata de liderança militar não traz, em seu
escopo, a previsão do que seja a liderança tática.
Consequentemente, para definir e tentar limitar o que seja o líder tático será
utilizada a literatura não militar. Após isso, adaptar-se-á tal conceito para a realidade
da caserna. Segundo Moreira (2015), líder tático é elo entre a alta administração e
os demais colaboradores de uma empresa, sendo fundamental sua atuação em
todos os momentos, especialmente nos de crises. Para Moreira, liderança tática
compreende:

[...] a capacidade de mobilizar a energia e a competência das pessoas –


subordinados, pares, superiores, fornecedores e parceiros de negócio –
para a execução da estratégia corporativa planejada e (ou) a atuação de
curto prazo com vistas a tratar os problemas que surgiram a partir de novos
movimentos da concorrência ou de grandes transformações que acabam de
alterar a ordem das coisas em seu mercado de atuação (MOREIRA, 2015,
p.11-12).

O ambiente operacional militar, diferente do ambiente corporativo, é bastante


complexo, seja no tempo de paz ou de guerra. Toda operação militar, por mais
simples que seja, requer um minucioso estudo de situação e planejamento
detalhado, podendo ocorrer em diferentes níveis (político, estratégico, operacional e
13

tático). O manual de doutrina militar terrestre traz, entre outras definições, o que
venha a ser operação militar.

Operação militar é o conjunto de ações realizadas com forças e meios


militares, coordenadas em tempo, espaço e finalidade, de acordo com o
estabelecido em uma diretriz, plano ou ordem para o cumprimento de uma
atividade, tarefa, missão ou atribuição. É realizada no amplo espectro 3 dos
conflitos, desde a paz até o conflito armado/guerra, passando pelas
situações de crise, sob a responsabilidade direta de autoridade militar
competente (BRASIL, 2014, seção 2-1).

O Cmt Pel e Cmt SU são aqueles responsáveis por executar na “ponta da


linha” as ordens do escalão superior, tendo suas ações, reflexos importantíssimos
para o êxito ou não das operações militares. Esses comandantes utilizam-se muito
da liderança direta, aquela no qual lidera diretamente seus subordinados por meio
do exemplo.
A estrutura organizacional do Exército Brasileiro é bastante complexa e
extensa. Vários militares, nessa longa cadeia de comando, podem e exercem a
liderança. Os menores níveis de comando são grupos de combate, e vão até o nível
subunidade.

O nível de comando de pequenos escalões é caracterizado pelas esquadras


ou turmas, pelos grupos, pelos pelotões ou pelas seções, até o nível
subunidade incorporada. É nesse nível que é exercida mais explicitamente
a liderança direta. No entanto, ainda que a forma de liderança direta seja a
mais exercida, haverá momentos em que os líderes se utilizarão da forma
indireta (BRASIL, 2011, seção 6-5).

3.1.4 Principais atributos necessários em uma liderança tática

A liderança tática é aquela em que o líder de pequena fração, por meio da


liderança direta, exerce um papel fundamental na consecução dos objetivos
propostos. O manual de liderança militar do Exército Brasileiro traz de forma
genérica quais são os aspectos básicos da liderança militar: “[...] o líder deve saber,
ser e fazer, além de interagir com o grupo e com a situação. São os fatores que
criam e sustentam a credibilidade do líder militar” (BRASIL, 2011, p. 3).

3 É o Conceito Operativo do Exército, que interpreta a atuação dos elementos da F Ter para obter e
manter resultados decisivos nas operações, mediante a combinação de Operações Ofensivas,
Defensivas, de Pacificação e de Apoio a Órgãos Governamentais, simultânea ou sucessivamente,
prevenindo ameaças, gerenciando crises e solucionando conflitos armados, em situações de Guerra
e de Não Guerra. (BRASIL, 2014, p. 4).
14

FIGURA 3 – Pilares da liderança militar.


Fonte: Brasil (2011).

Moreira (2015), em sua obra Líder Tático, elenca quais seriam as habilitares
fundamentais à liderança tática, e as divides em três habilidades: conceituais,
interpessoais e técnicas. Ainda segundo Moreira (2015, p. 94) “[...] numa posição de
nível tático em uma empresa tradicional, é imprescindível ser muito habilidoso com
as pessoas para cumprir o papel de articulação que cabe a todo gesto
intermediário”.

3.1.4.1 Habilidades técnicas

Segundo Moreira (2015), habilidades técnicas seriam aqueles conhecimentos


específicos da profissão, cujo entendimento e domínio pelo líder o levará a cumprir
as atividades propostas. Seria, portanto, fundamental o domínio do dessa
habilidade, o que lhe levará a angariar a confiança dos seus subordinados. Apoiado
no rol de habilidades técnicas exigidas dos líderes táticos descritas por Moreira
(2015), será feita uma conversão para a realidade do Cmt SU e Cmt Pel.
Moreira (2015) Autor (2020)

Busca pelo conhecimento, e constante atualização


Atualização de informações e registros. profissional (Aprimoramento técnico-profissional).

Apresentação em público. Domínio da oratória (Comunicabilidade).

Demonstração e venda de ideais, produtos e Capacidade de influenciar e persuadir outras pessoas


políticas. (Persuasão).
Verificado o problema, buscar a melhor solução, e
Diagnóstico e resolução de problemas. colocá-la em prática (Iniciativa).

Tradução da visão em ação. Colocar em prática aquilo que foi planejado (Direção).
QUADRO 2 - Habilidades Técnicas necessárias a um líder tático.
Fonte: Elaboração própria (2020).
15

3.1.4.2 Habilidades interpessoais

Habilidades interpessoais seriam aquelas que possibilitam o relacionamento


entre pessoas. Trata-se, portanto, de uma habilidade fundamental no contexto da
arte de liderar, principalmente da liderança que está sendo tratada neste trabalho: a
liderança tática, exercida de forma direta.

Os líderes táticos que se dedicam a ampliar habilidades interpessoais


desenvolvem-nas ao conviverem com as outras pessoas. Aproveitam as
inúmeras situações que ocorrem em suas rotinas para exercitarem o
autocontrole, demonstram empatia com quem vê o mundo de forma
diferente e fazem o ambiente brilhar assim que chegam. (MOREIRA, 2015,
p. 96)

A habilidade interpessoal é fundamental dentro de um grupo, onde o líder


deverá contar com a empatia do liderado, sendo vários fatores importantes para
isso. Ao mesmo tempo que é uma propensão fundamental, a habilidade interpessoal
é muito difícil de ser conquistada, pois não depende apenas de como o líder se
apresenta para o grupo, mas também de como os liderados veem o papel do
desempenhado pelo líder.

Moreira (2015) Autor (2020)


Liderança.
Influência e impactos.
Capacidade de influenciar pessoas (Liderança).
Capacidade de inspirar as pessoas.
Espírito de equipe.
Escuta interessada. Capacidade de escutar e compreender as aflições
de seus liderados, sabendo diferenciar as
Capacidade para lidar com reclamações de
situações que são apresentadas, procurando agir
clientes.
da melhor forma em cada uma delas (Tato).
Empatia ao lidar com as pessoas.

Capacidade de criar um relacionamento amistoso


Construção de relacionamentos duradouros. e agradável com todos os seus subordinados
(Camaradagem).
O líder deve ter a capacidade de influenciar e
Influência e persuasão de pessoas. persuadir pessoas a seguirem suas decisões
(Persuasão).
Capacidade de agir, decidir diante de problemas
Negociação e administração de conflitos. novos (Decisão).
QUADRO 3 - Habilidades interpessoais necessárias a um líder tático
Fonte: Elaboração própria (2020).

3.2.4.3 Habilidades conceituais

Apesar de ser uma habilidade mais voltada para pessoas que ocupam
posições estratégicas nas empresas, a habilidade conceitual também é importante
16

para os líderes táticos. Segundo Moreira (2015, p. 98), “[...] habilidades conceituais,
isto é, aptidões humanas que possibilitam ver a organização como um todo,
compreender o relacionamento entre as suas partes”. Os Cmt de SU e Pel devem ter
conhecimento do todo da organização, dos valores da instituição e suas diretrizes
para assim tomarem as melhores decisões sempre buscando atingir a intenção do
escalão superior.

Os líderes táticos também precisam desenvolver essa capacidade, mesmo


que em menor grau; afinal, uma coisa é fazer parte do nível estratégico e
outra bem diferente é atuar estrategicamente. Muitas vezes, o líder tático se
vê diante de problemas urgentes cuja solução precisa do direcionamento
daqueles que estão acima, no entanto, essa ajuda é mínima e ele precisa
decidir praticamente sozinho - e logo - para onde caminhar. É em momentos
como esse que ter uma visão completa do quadro antes de escolher com
segurança a melhor das opções disponíveis faz uma enorme diferença
(MOREIRA, 2015, p. 98).

Moreira (2015, p. 98) continua, em sua análise, mostrando como alcançar a


habilidade conceitual: “[...] buscar uma sólida formação de nível superior (pós-
graduação stricto sensu, especialmente) e manter uma rígida rotina de leituras que o
ajudem a ampliar a visão de mundo”.

Moreira (2015) Autor (2020)

Capacidade de abstração. Capacidade de tomar uma decisão, de forma


abstrata, isto é, alheio a sua vontade e
interpretação (Abstração).

Visão global. Conhecer a visão geral da instituição, e o contexto


em que está sendo empregado.

Clareza quanto aos objetivos. Capacidade de escolher a melhor, de forma mais


rápida e direta, dentre várias possibilidades
apresentadas (Objetividade).
Planejamento e análise estratégica.
Percepção de tendências. Capacidade de planejar e decidir de forma
estratégica.
Construção de cenários futuros.
Criatividade para encontrar novas maneiras de
Capacidade de buscar soluções inovadoras para
fazer as coisas.
problemas inesperados e desafiadores.
Concepção de novas ideias ou soluções. (Criatividade)
QUADRO 4 - Habilidades conceituais necessárias a um líder tático.
Fonte: Elaboração própria (2020).

Por fim, Moreira (2015, p. 99) lembra a existência de um quarto grupo de


atributo: “[...] as chamadas habilidades de gestão, competência genéricas
relacionadas ao ato de cuidar de coisas e pessoas”. Trata-se de propensão muito
voltada para a gestão de empresas, que não tem tanta aplicabilidade prática para a
liderança tática militar. Dessa forma, não será apresentada neste trabalho.
17

Com isso, pode-se observar que existem várias tendências que devem estar
presentes no líder tático. A deficiência de alguma dessas pode colocar sob risco o
desenvolvimento e a consecução de objetivos estratégicos. São fundamentos que
devem ser perseguidas e desenvolvidas pelos líderes, quer seja por meio da busca
do autoaperfeiçoamento, quer seja pelo desenvolvimento proposto pela instituição.

Os fatores de liderança estão sempre presentes e afetar o que você deve


fazer e quando você deve fazê-lo. Nem todos os soldados devem ser
liderados da mesma maneira. Você deve avaliar corretamente as
competências, comprometimento e motivação dos soldados para que você
pode tomar as ações corretas de liderança. Como líder, você deve saber
quem você é, o que você sabe, e o que você pode fazer para poder
disciplinar e lidera soldados efetivamente (ESTADOS UNIDOS DA
AMÉRICA, p. 8, tradução nossa).

Após ser feita a análise do que é liderança militar, liderança tática, e quais são
as principais habilidades exigidas para o Cmt de SU e Cmt Pel exercerem com
plenitude a liderança de seus subordinados, será apresentado, a seguir como está
sendo desenvolvida e aperfeiçoada a liderança dos comandantes de pequenas
frações no Exército Brasileiro.

3.2 EXERCÍCIOS DE DESENVOLVIMENTO DE LIDERANÇA

3.2.1 O desenvolvimento da liderança tática

Não há dúvidas da importância da liderança para o cumprimento das ações


em períodos de guerra e de não guerra. Porém, há divergência quanto a preparação
e formação de líderes. Valente (2007), em sua dissertação de mestrado, realizou
uma análise de resultados da capacitação de liderança militar: “[...] aqueles que são
favoráveis à adoção dos programas de capacitação listam principalmente os
seguintes pontos”:

a) O treinamento funciona, pois um de seus objetivos é orientar os


funcionários treinados a tomar decisões e o processo decisório é uma tarefa
eminentemente racional;
b) As organizações de um modo geral têm boas expectativas em relação
aos programas e, por isso, investem neles;
c) Indivíduos com reconhecida capacidade de liderança afetam os
resultados organizacionais;
d) Há indícios de que entre 20% e 45% da variância dos resultados
relevantes das organizações explicam-se como efeito da ação dos líderes
(Robbins, 2005 apud Valente, 2007, p.44);
e) Os programas de capacitação são adaptáveis. Em consequência, podem-
se adotar várias estratégias de treinamento de acordo com os objetivos,
necessidades e capacidades das organizações (CHERNISS apud
VALENTE, 2007, p. 43-44).
18

Do outro lado, existem aqueles que se opõem à criação de métodos e


programas de treinamento para formar líderes, usando como principais argumentos:

a) Não há certeza sobre o que efetivamente seja a liderança (CHEMERS,


apud VALENTE, 2007, p. 44);
b) Há organizações que julgam que o treinamento de lideranças é um
desperdício de tempo e de dinheiro (ROBBINS apud VALENTE, 2007, p.
44);
c) Há dúvidas sobre a efetiva influência de líderes nos resultados positivos
das organizações (MEINDL apud VALENTE, 2007, p.44);
d) A liderança pode ser uma atribuição explicativa tanto para o sucesso
como para o fracasso dos grupos (MEINDL apud VALENTE, 2007, p.44);
e) As evidências relativas a treinamento de pessoas para a liderança não
são muito encorajadoras, e
f) Pode-se ensinar muito sobre liderança, mas não a liderar (VALENTE,
2007, p. 44).

Em sua dissertação, continua mostrando quais são os argumentos daqueles


que não acreditam nos programas de treinamento para a formação de líderes
militares. “Algumas explicações possíveis para esse ceticismo em torno dos
programas de treinamento de lideranças são”:

a) Variáveis como personalidade e motivação podem exercer profunda


influência sobre a disponibilidade de um indivíduo para o treinamento;
b) Exceto em casos pontuais, em que se verifica grande investimento
pessoal, não há evidências de que alguém possa efetivamente mudar seu
estilo básico de liderança (e relacionamento);
c) As concepções teóricas de fundo dos programas exercem influência nos
resultados do treinamento: quanto mais complexa a teoria e quanto maior o
número de variáveis envolvidas, maior a dificuldade de pôr em prática um
programa e, por outro lado, quanto menor a consistência da(s)
concepção(ões) de fundo, menor o potencial de eficácia de um programa de
treinamento (VALENTE, 2007, p. 44).

3.2.2 A liderança nas escolas de formação

A formação4 do líder tático começa na Escola Preparatória de Cadetes do


Exército (EsPCEx), Campinas-SP, porém, o assunto ganha maior importância na
Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), Resende-RJ, onde o cadete tem
contato com a cadeira de Comando, Chefia e Liderança (CCL).
Em 1997, o Departamento de Pesquisa e Ensino (DEP) do Exército Brasileiro
publicou a Portaria nº 42, de 10 de outubro de 1997, na qual aprovou o processo de
modernização do ensino, o qual previa a atualização pedagógica e de ensino. Como
consequência dessa portaria, o comandante da AMAN, no ano de 2001,

4Existem várias escolas de formação de oficiais do Exército Brasileiro, tais como: Escola Preparatória
de Cadetes do Exército (EsPCEx), Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), Instituto Militar de
Engenharia (IME), Centro Preparatório do Oficial da Reserva (CPOR), Núcleo de Preparação de
Oficais da Reserva (NPOR) e outros que formam oficiais das áreas técnicas. O presente capítulo foca
apenas na formação do oficial combatente de carreira.
19

implementou o Projeto Liderança AMAN, que após 5 anos de pesquisas e estudos


teve como resultado a formação da cadeira de CCL.

O programa de desenvolvimento da Liderança admite que existam


características inatas no ser humano que facilitam ou não a ascensão ao
papel de líder. No entanto, admite também a existência de fatores que
podem ser aprendidos e incorporados pelo indivíduo, fazendo com que ele,
com mais conhecimento e prática, possa alcançar um nível de liderança
desejável para o exercício das funções de oficial (RODRIGUES apud
VALENTE, 2007, p. 48).

Hoje, o cadete da AMAN tem em Plano de Disciplina (PLADIS) da cadeira de


Liderança os seguintes assuntos e objetivos, que são ministrados durante os 4 anos
de sua formação.
UNIDADE OBJETIVOS
Identificar as peculiaridades e as exigências da formação
do oficial combatente, ligadas ao exercício da liderança
militar. Compreender os conceitos de líder e de liderança
UD I: A Liderança Militar:
militar, conforme o C 20-10 Manual de Liderança Militar e
conhecimentos fundamentais
Caderno de Instrução de Liderança Militar (CILM) com o
objetivo de a utilizar a linguagem padronizada sobre o
tema.
Identificar e comparar as diferentes correntes de
pensamento sobre liderança e as características da Teoria
de Campo Social de Kurt Lewin com o objetivo de pensar a
liderança sob sua base teórica. Compreender e
correlacionar os conceitos de Chefe, Administrador e Líder,
bem como os fatores da Liderança – Líder, Liderados,
Interação e Situação – preconizados no C 20-10 e CILM
como o objetivo de ponderar linhas de ação a adotar e
decidir adequadamente levando em consideração os
UD II: O Liderança Militar: fundamentos fatores da liderança. Distinguir os diferentes tipos e níveis
de liderança existentes no C 20-10 e CILM, com o objetivo
de atuar segundo as características de cada um em
conformidade com a situação. Compreender por que a
credibilidade do comandante, em qualquer escalão, é fator
fundamental para o estabelecimento de laços de liderança
com os subordinados com o objetivo de atuar segundo as
características de cada um e em conformidade com a
situação.
Compreender os conceitos de personalidade
temperamento e caráter, relacionando-os com o senso
moral do líder, segundo o CILM, para fundamentar a ética
de sua atuação. Identificar os valores que fundamentam a
ação militar, estabelecidos no E1 e CILM, de forma a agir
UD II: Liderança e Cultura Militar observando parâmetros éticos. Identificar as obrigações e
deveres militares, bem com entender e utilizar o princípio
da reciprocidade, com o objetivo de realizar julgamentos e
ações justos, conforme o que é preconizado pelas normas
castrenses.
Avaliar a importância da Competência profissional para o
líder militar, descrevendo e correlacionado os diversos
componentes que interagem em sua formação, conforme o
UD III: Capacidade de Liderança
CILM, a fim de possuir parâmetros para realizar sua
autoavaliação e estabelecer metas para seu
autodesenvolvimento. Compreender o que é Capacidade
de Liderança, segundo o CILM, identificando e
20

correlacionando seus componentes, para aplicá-lo no


exercício proposto e generalizá-lo a outras situações.
Identificar as falhas graves que trazem prejuízos para a
credibilidade do líder, conforme o CILM, com o objetivo de
evitar cometê-las quando no comando de fração.
Sintetizar os conhecimentos apreendidos em princípios
que norteiem seus procedimentos para como os
subordinados. Interpretar os princípios de Liderança Militar,
contidos no C20-10 e CILM. Avaliar a importância dos
UD IV: Princípios de Liderança
princípios para a construção da credibilidade do líder e da
relação de confiança com seus liderados. Aplicá-los em
estudos de caso estabelecendo relações com as possíveis
situações a serem vividas quando no exercício do
comando das pequenas frações.
QUADRO 5 - Extrato do PLADIS da AMAN.
Fonte: AMAN (2019).

O desenvolvimento de líderes deve ser uma preocupação incessante por


parte do alto comando do Exército Brasileiro, visto que cada vez mais o ambiente
complexo exigirá mais deles.

Para obter sucesso nos campos de batalha assimétricos do século XXI — o


ambiente de combate dominante nas próximas décadas, em minha opinião
—o nosso Exército necessitará de líderes especialmente ágeis, versáteis e
criativos; líderes dispostos e aptos a pensar e agir de forma criativa e
decisiva em um tipo de mundo diferente, em um tipo de conflito diferente
daquele para o qual nos preparamos nas últimas seis décadas (GATES,
2009, p. 52).

Na mesma esteira do projeto liderança da AMAN, iniciou-se em 2015 o


projeto de liderança da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército Brasileiro
(EsAO5), cujo resultado pode ser observado no PLADIS de liderança militar dessa
instituição. A EsAO é dividida em dois momentos: um em ensino à distância, o outro
em ensino presencial.
UNIDADE OBJETIVOS
Compreender o porquê de a Liderança Militar ser
UD I: A Liderança Militar como elemento considerada um Elemento do Poder de Combate
do Poder de Combate Terrestre. Terrestre.
Compreender a importância da competência do
líder/componente atitudinal resiliência.
UD II: O Líder Militar na Era do Compreender a importância da competência do
Conhecimento. líder/componente atitudinal empatia.
Compreender a importância da Inteligência Emocional
para a liderança militar.
Identificar o enquadramento do capitão dentro dos níveis
de comando onde ocorrem o fenômeno da liderança
militar;
UD III: - O Capitão como líder militar.
Avaliar o papel do capitão dentro da estrutura do EB,
como líder militar;

5Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) do Exército Brasileiro tem por objetivo aperfeiçoar o
capitão para ocupar o cargo de Estado Maior e Comandante nível Unidade.
21

Avaliar o papel do capitão comandante de subunidade


dentro da estrutura do EB, como líder militar.
Identificar o enquadramento do comandante de Unidade
dentro dos níveis de comando onde ocorrem o fenômeno
da liderança militar;
UD IV: O comandante de unidade como Avaliar o papel do comandante de unidade dentro da
líder militar. estrutura do EB, como líder militar;
Avaliar os momentos críticos para um comandante de
Unidade em situações de crise, abordando aspectos
como o pânico, o desastre e a desobediência de ordem
legal.

Analisar a personalidade de um líder militar em um


conflito/batalha/operação básica;
Descrever os valores evidenciados e/ou aqueles
UD V: Líderes militares em Op negligenciados por um líder militar;
Defensivas. Descrever as competências do líder evidenciadas e
aquelas não evidenciadas por um líder militar;
Descrever o estilo de liderança observado em um líder
militar.
Analisar a personalidade de um líder militar em um
conflito/batalha/operação básica;
Descrever os valores evidenciados e/ou aqueles
negligenciados por um líder militar;
UD VI: Líderes em Op. Ofensivas.
Descrever as competências do líder evidenciadas e
aquelas não evidenciadas por um líder militar;
Descrever o estilo de liderança observado em um líder
militar.
Analisar a personalidade de um líder militar em um
conflito/batalha/operação básica;
Descrever os valores evidenciados e/ou aqueles
UD VII: Líderes militares em Op de negligenciados por um líder militar;
Cooperação e Coordenação com as
Descrever as competências do líder evidenciadas e
Agências.
aquelas não evidenciadas por um líder militar;
Descrever o estilo de liderança observado em um líder
militar.
QUADRO 6 - Extrato do PLADIS da EsAO.
Fonte: PLADIS – EsAO 2019 Comum / LM (Fases EAD e presencial).

O General de Exército (Gen Ex) Ordieno (2015), do Exército Americano,


ressalta a importância de líderes táticos preparados para o ambiente complexo que
se apresenta. Esses líderes deverão ter a capacidade de decidir, muitas vezes sem
tempo de consultar o escalão superior. Nesse sentido, afirma que “[...] estamos
evoluindo e transformando esse processo, preparando-nos para um futuro mais
complexo” (ORDIENO, 2015, p. 8).

Ao implementarmos The Army Operating Concept: Win in a Complex World


(“O Conceito Operacional do Exército: Vencer em um Mundo Complexo”,
em tradução nossa), nossa prioridade número um deve continuar a ser o
22

desenvolvimento de nossa vantagem competitiva: nossos líderes. O


Exército deve desenvolver líderes que sejam ágeis, adaptáveis e
inovadores; que tenham êxito em condições de incerteza e caos; e que
sejam capazes de visualizar, descrever, dirigir, liderar e analisar operações
em ambientes complexos e contra inimigos adaptáveis. Isso não acontecerá
por acaso. É algo que requer programas deliberados, direcionados e
contínuos de desenvolvimento de líderes, firmemente baseados em nossos
valores essenciais e ética profissional (ORDIENO, 2015, p. 4).

O referido autor segue ressaltando a importância do desenvolvimento da


liderança nos sargentos, tenentes e capitães:

O desenvolvimento de líderes é o mais importante fator a contribuir para


moldar o Exército do futuro. Para colocar isso em perspectiva, muitos dos
líderes do Exército do futuro — os sargentos, tenentes e capitães que se
destacarão na próxima década — ainda estão no ensino fundamental e
médio, ao passo que os capitães de hoje estarão à frente de batalhões e
brigadas. Continuamos a adaptar nosso ensino profissional militar e a
desenvolver as táticas, ferramentas e técnicas de que precisarão. Portanto,
a tarefa mais importante, atualmente, é formar os processos e estratégias
de gestão, para capacitar os líderes de amanhã a obter êxito no mundo
incerto, ambíguo e complexo que, sem dúvida, enfrentarão (ORDIENO,
2015, p. 5).
3.2.3 O Exercício de Desenvolvimento de Liderança (EDL)

Atualmente, uma das ferramentas utilizadas pelo Exército Brasileiro para


adestrar e desenvolver a liderança dos sargentos e oficiais é o Exercício de
Desenvolvimento de Liderança (EDL). A sua realização está prevista no Programa
de Instrução Militar (PIM):

O exercício de desenvolvimento da liderança (EDL), regulado pelo CI 20-10-


3, edição 2006, deverá ser objeto de atenção pelo Comandante da OM. O
EDL deve ser realizado dentro de rigorosos critérios, segundo os objetivos
propostos no CI 20-10-3. O COTER acompanhará a realização desses
exercícios (BRASIL, 2019, p. 22-23).

Além disso, o Programa-Padrão de Instrução da Capacitação Técnica e


Tática do Efetivo Profissional (CTTEP), 2ª edição, 2017, estabelece dentro do
assunto de liderança militar as condições, tarefas e o padrão mínimo a ser atingido
durante a execução do EDL, conforme extrato a seguir exposto:
TAREFA CONDIÇÃO PADRÃO MÍNIMO
Participar do Exercício de Conforme descreve o CI 20-10/3 Executar todas as oficinas
Desenvolvimento da (Exercício de Desenvolvimento de do exercício, conforme
Liderança (EDL) de 48 horas Liderança) a análise da Ficha de descritas no CI 20-10/3.
de duração. Gerenciamento de Risco nas instruções
é obrigatória, a fim de minimizar os
riscos de acidentes. Of, S Ten e Sgt. Os
Cb e Sd apoiam a instrução.
QUADRO 7 - Tarefa, condição e padrão mínimo durante o EDL.
Fonte: Brasil (2017).

3.2.3.1 Caderno de instrução: Exercício de Desenvolvimento da Liderança (EDL)


23

O caderno de instrução 20-10-3, de 2006, apresenta como devem ser


conduzidas as atividades de exercícios de desenvolvimento da liderança. Para isso,
ele é dividido em cinco capítulos: planejamento, preparação, execução, avaliação e
conclusão.
Na fase do planejamento é descrito de forma resumida quais são as
finalidades do exercício de desenvolvimento da liderança, e quais atributos serão
avaliados.

O Exercício de Desenvolvimento da Liderança é um exercício concebido


com a finalidade de possibilitar a observação e a avaliação do
comportamento dos militares executantes, no tocante a objetivos ligados ao
desenvolvimento de atributos da área afetiva, que impliquem reflexos
marcantes no exercício da liderança no contexto da Defesa Externa. De
modo subjacente, permite avaliar, também, o nível da capacitação técnica e
tática dos Quadros (BRASIL, 2006, p. 9).

Durante a realização do exercício as seguintes qualidades serão avaliadas:


autoconfiança, cooperação, criatividade, decisão, entusiasmo profissional, iniciativa
e persistência.
Ainda nessa fase, ocorre a descrição de como serão organizados os
grupamentos de instrução podendo ser adotada um de duas linhas de ação: grupos
de oficiais e sargentos, ou por frações constituídas.
Algumas oficinas de instrução são sugeridas no manual: ataque ao posto
rádio inimigo, resgate de fardo, patrulha motorizada, reconhecimento de Locação de
Ater, descontrole emocional, patrulha de contato, contra emboscada, resgate de
ferido, busca e captura de desertor inimigo, neutralização de arma anticarro inimiga,
emboscada de oportunidade, desertores inimigos, ferido amigo e inimigo, transporte
de suprimentos, e outras oficinas.
O capítulo II do caderno de instrução segue descrevendo como deverá
ocorrer a preparação dos militares para a realização do exercício do EDL.

A fase de preparação visa a causar aos executantes desgastes físicos e


psicológico com intensidades próximas daquelas verificadas nas situações
reais de combate, após o que será aplicado o Exercício de Desenvolvimento
da Liderança propriamente dito. Consiste, na prática, em um “exercício
preliminar (BRASIL, 2006, p. 21).

O presente capítulo segue sugerindo atividades que poderão ser conduzidas


preliminarmente ao EDL com o objetivo de levar os militares ao desgaste físico,
sendo elas: marcha a pé, operações ofensivas (exercícios de campanha), patrulha
de longo alcance, operações defensivas (exercícios de campanha), operações de
24

contraguerrilha, sobrevivência, ou a combinação de dois ou mais dos exercícios


citados.
O capítulo III discorre como deverá ocorrer a execução do adestramento,
sendo inicialmente os militares submetidos a uma inspeção sanitária. Segue,
expondo como deverá ocorrer o rodízio nas oficinas e designação dos comandantes
de fração, entre outras medidas administrativas.
Já o capítulo IV mostra como deverá ser realizada a avaliação dos militares
participantes do EDL, trazendo como exemplo uma ficha de avaliação. Abaixo pode
ser observado a ficha de avaliação sugerida no caderno de instrução.

FIGURA 4 - Ficha de avaliação.


Fonte: Brasil (2006)

Por fim, o caderno de instrução traz um modelo de pesquisa de opinião, tendo


por finalidade validar o exercício, e colher subsídios para a sua melhoria, concluindo
da seguinte forma:

O EDL é um poderoso instrumento de medida do desenvolvimento de


Atributos da Área Afetiva, desde que aplicado sob rígido controle e severas
condições de segurança. Permite ao Comandante submeter os seus
subordinados a situações muito próximas dos desafios do combate e dá ao
militar a oportunidade de conhecer-se a si mesmo, quando nos limites de
sua resistência física e do seu equilíbrio psicológico. O custo-benefício é
favorável, pois, com poucos meios, o Cmt OM pode avaliar o potencial de
liderança de seus Oficiais, Subtenentes e Sargentos. A finalidade do
Exercício deve ser exposta de maneira clara, antes, durante e ao final do
mesmo, valorizando a sua execução. O respeito ao executante, em todas as
fases do Exercício, deve constituir um ponto de honra. Será, mesmo,
25

essencial, para evitar rejeições futuras ou traumas psicológicos (BRASIL,


2006, p. 30).

3.2.3.2 Programas de Leitura no Desenvolvimento da Liderança

O programa de leitura é fundamental para o desenvolvimento das habilidades


conceituais tão necessárias aos líderes táticos. Hoje, apenas as escolas de
formação militares desenvolvem de forma sólida programas de leituras, sendo essa
atividade pouco abordada nas organizações militares. O General de Brigada da
reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva mostrou a importância do precoce
desenvolvimento desses programas para os líderes táticos.

O estudo de Relações Internacionais, Estratégia, Administração, História


Militar e Liderança deve começar no início da carreira e evoluir
progressivamente em graus de profundidade e intensidade. O EB não pode
esperar o ingresso do oficial na ECEME para iniciar o estudo destas
disciplinas, nem deve o oficial esperar que apenas a Força o aperfeiçoe.
Deve ser um autodidata, sendo fundamental a leitura de obras relacionadas
com aquelas disciplinas (PAIVA, 2008, p. 78).

Nessa direção, em 2006, foi publicada a Portaria 255-EME, que aprovou a


diretriz para a implantação do projeto raízes, valores e tradições do Exército
Brasileiro, tendo como objetivos:

Identificar, coletar e disseminar boas práticas, visando estimular a


implantação, o aperfeiçoamento e a manutenção de projetos e ações
executivas que propiciem sistematizar o conhecimento das raízes, dos
valores, das tradições, dos deveres e da ética militar e a consequente
internalização dessas informações nos integrantes do Exército Brasileiro
(EB), nos diversos níveis de Comando, em todas as Organizações Militares
(OM); fortalecer e disseminar os hábitos, atitudes e condutas
tradicionalmente praticadas nos Estabelecimentos de Ensino do Exército de
Caxias, voltados para o aprendizado da história da Força, o culto aos seus
heróis e o desenvolvimento das virtudes castrenses, consolidados ao longo
da carreira; contribuir para o fortalecimento do espírito cívico, dos valores
morais e éticos no seio da sociedade, por meio do exemplo e da saudável
interação (BRASIL, 2016, p. 17).

Seguindo as orientações contidas na presente portaria, foi publicada pela


Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx) uma relação com
84 obras editadas pela Biblioteca do Exército divididas por público-alvo e temática.
Mais uma vez foi reiterado a importância da prática da leitura: “[...] o incentivo à
prática da leitura é uma ação de comando que trará inúmeros benefícios
institucionais. Dentre esses, destaca-se a ampliação da capacidade crítico-reflexiva,
que é fundamental ao exercício da profissão das armas” (BRASIL, 2016, p. 20).
26

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quanto às questões de estudo e objetivos propostos no início deste trabalho,


conclui-se que a presente pesquisa contemplou ao pretendido, tornando mais amplo
o entendimento sobre a importância da liderança tática para as operações de guerra
em não guerra na atualidade.
A revisão de literatura viabilizou concluir que vários atributos são necessários
para o líder tático, além daqueles previstos no manual de liderança militar do
Exército Brasileiro. Verificou-se, ainda, que é necessário o desenvolvimento de
algumas habilidades especificas para o líder tático: conceituais, interpessoais e
técnicas.
Foi observado que o caderno de instrução que trata do exercício de
desenvolvimento da liderança encontra-se desatualizado e necessita de uma revisão
e reformulação para que sejam desenvolvidas as capacidades esperadas para o
líder tático do século XXI.
Além disso, a habilidade conceitual esperada no líder tático tem sido pouco
desenvolvida. Conforme observado, é necessária uma rígida rotina de leitura para
que seja ampliada a visão de mundo, permitindo que essa capacidade será atingida.
Programas de leituras nas organizações militares devem ser estimulados com
recomendações de obras literárias capazes de instruir em relação aos valores
morais e éticos, e quanto ao aspecto técnico profissional.
Conclui-se, portanto, que é de fundamental importância a prática de
exercícios de desenvolvimento de liderança como continuidade da formação dos
líderes táticos. Porém, deve ser dada maior atenção ao desenvolvimento das
capacidades conceituais dos Cmt Pel e Cmt SU, com a criação de programas de
leitura, onde possam ser apresentadas obras literárias de interesse da força.
27

REFERÊNCIAS

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2011.

______. ______. ______. EB20-MF-10.102: Doutrina Militar Terrestre. Brasília,


DF: Estado-Maior do Exército, 2014.

______. Exercito Brasileiro. Portaria n° 070-EME, de 25 de junho de 2007. Aprova a


Diretriz para Implementação do Programa de Ensino e Estudo da Liderança Militar
no Exército Brasileiro. Boletim do Exército, Brasília, DF, n. 26, p. 31, jun. 2007.

______. ______Portaria n° 0255-EME, de 04 de julho de 2006. Aprova a Diretriz


para Implementação do Projeto Raízes, Valores e Tradições do Exército Brasileiro.
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BRASIL. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Comando de Operações Terrestre


CI 20-10_3: Exercícios de Desenvolvimento da Liderança. Brasília, DF: Ministério
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______. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Comando de Operações Terrestre


EB 70-PP-11-014: Programa-Padrão de Instrução da Capacitação Técnica e
Tática do Efetivo Profissional. 2. ed. Brasília, DF: Ministério da Defesa, 2017.

______. ______. ______. Comando de Operações Terrestre. EB70-P-11.001


Programa de Instrução Militar. Brasília, DF: Ministério da Defesa, 2019.

COURTOIS, Gaston. A arte de ser chefe. Tradução de Job Lorena de Sant’Anna. 2.


ed. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2012.

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Department of the Army. Headquarters. FM 22-


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MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria geral da administração: da revolução


urbana à revolução digital. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

PAIVA, Luiz Eduardo Rocha. O Líder Militar: uma visão pessoal. Padeceme, Rio de
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NAISBITT, Jonh. O líder do futuro. Tradução de Ivo Korytowiski. Rio de Janeiro:


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VIEIRA, Belchior. Liderança Militar. Brasília, DF: Academia Militar. Estado Maior do
Exército. 2002.
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ANEXO A: Solução Prática

Esta pesquisa concluiu que o desenvolvimento da liderança militar tática é de


fundamental importância para os Cmt SU e Cmt Pel. Vários atributos são
necessários para o líder tático, além daqueles previstos no manual de liderança
militar do Exército Brasileiro. Verificou-se, ainda, que é necessário o
desenvolvimento de algumas habilidades especificas para o líder tático: conceituais,
interpessoais e técnicas.
Buscando melhorar o desenvolvimento da liderança militar nos líderes táticos,
sugere-se a observância dos seguintes aspectos:
- Atualização do caderno de instrução que trata do exercício de
desenvolvimento da liderança, para que sejam abordadas as capacidades táticas
esperadas para o líder do século XXI;
- Programas de leitura direcionada para os capitães e tenentes, onde deverão
ocorrer debates sobre os livros sugeridos, sendo conduzida a atividade
preferencialmente pelo militar mais antigo da OM.

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