6 Corpo Saude e Doenca Paradigma Atual

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Corpo, Saúde e

Doença: um
paradigma atual
Guedes, F. L. ; Pereira, L. Q.
SST Corpo, Saúde e Doença: um paradigma atual / Fabiana
de Lima Guedes; Loren Queli Pereira -
Ano: 2021
nº de p. : 10

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Corpo, Saúde e Doença:
um paradigma atual

Apresentação
Neste momento, teremos como foco principal corpo, saúde e doença. Propõe-se
aqui uma reflexão sobre o conceito de saúde e as diversas variáveis que envolvem
essa temática. Veremos que o conteúdo busca abordar os conceitos de saúde-
doença, corpo e visão de ser humano integral nas diversas sociedades.

Para o melhor desenvolvimento deste tema, nos aprofundaremos em conteúdos


importantes no contexto das práticas alternativas. Para isso, abordaremos os
seguintes tópicos: corpo, sentido e significado; o que é saúde; corpo, saudável e
práticas integrativas.

Corpo, sentido e significado


Durante todo o processo de evolução humana, sempre houve uma curiosidade por
compreender o corpo humano em suas variáveis internas e externas. Ao longo
dos séculos, o corpo humano foi estudado e pesquisado de várias formas pela
humanidade, na perspectiva tanto ocidental quanto oriental; cada uma com sua
própria concepção e representação de corpo e indivíduo.

Um dos estudiosos que impulsionou o início dos estudos anatômicos foi Andréa
Vesalius (1514-1564), um cirurgião renascentista que mostrava grande interesse
pela anatomia e pregava que, para conhecer o corpo humano, era necessário
dissecá-lo. O corpo vesaliano era explicado como sendo constituído por
diversas repartições, e que a constante movimentação delas ocasionava o bom
funcionamento do corpo. Até hoje seus estudos influenciam de certa forma a visão
de corpo anatômico.

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Curiosidade
Podemos dizer que a anatomia é o estudo da estrutura do corpo, de
como suas células, seus tecidos e seus órgãos são constituídos.

Hoje, a linguagem anatômica é bastante difundida tanto nas ciências da saúde,


como em práticas corporais e, até mesmo, na nossa linguagem cotidiana e tentamos
entender cada vez mais, de forma detalhada, o que ocorre em nosso corpo. Com
influências, como a de Vesalius, a visão anatômica, fisiológica e a representação
“interna” do corpo se transformaram no decorrer da história humana, e uma
lenta mudança também se impunha na observação do corpo doente, embora
permanecessem confusas as relações entre o conhecimento biológico fundamental
e as práticas médicas (VIGARELLO; PORTER, 2008).

Do latim corpus, o termo corpo abrange várias significações. Ao buscarmos


compreender a palavra “corpo”, nos deparamos com diversas definições, como
aquilo que é perceptível pelos sentidos, ou o conjunto dos sistemas orgânicos que
constituem um ser vivo, além do conjunto das coisas contidas em uma obra escrita e
da espessura ou densidade dos líquidos.

Antes dos estudos sistemáticos que conhecemos hoje, como da Anatomia e


Fisiologia, o corpo humano era estudado e explicado, especialmente, pela religião
e pela filosofia, mas de forma “externa”, buscando-se basicamente entender o
funcionamento e a estruturação de suas partes. Na época, esse estudo e o ato de
abrir os corpos de cadáveres era visto como algo profano e proibido.

Alguns aspectos da filosofia natural de Newton incentivaram os cientistas à


rejeição de concepções estritamente mecanicistas do corpo, fazendo-os levantar
questões mais amplas sobre as propriedades da vida e reflexões sobre as ações
humanas que não poderiam ser inteiramente explicadas por reações mecânicas em
cadeia, e que os “todos” seriam maiores do que a soma das partes. Além disso, na
atividade humana, numa instância mais ampla, supõe-se a presença de uma alma
comandando e intervindo de modo constante no organismo (VIGARELLO; PORTER,
2008).

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Atenção
Na contemporaneidade, o corpo é fortemente influenciado por
diversos meios: indústria cultural, meios de comunicação, internet,
revistas, cinema, televisão, entre outros. Isso acaba por determinar
padrões estéticos para os corpos.

Para Silva (2017), é possível que essa seja uma diferença fundamental da sociedade
contemporânea, se comparada a outras épocas, no que diz respeito aos padrões
estéticos. Pois, se no passado determinadas qualidades eram consideradas como
mais belas do que outras conforme a cultura de um determinado povo, na atualidade,
a indústria cultural tem o poder de divulgar os padrões estéticos para uma faixa mais
ampla de pessoas, extrapolando os limites geográficos das nações.

Podemos dizer que a cultura designa padrões de comportamento e, no caso do


corpo, fortalece padrões culturais específicos. Os indivíduos, desde o nascimento,
assimilam valores, regras e costumes sociais por meio dos seus corpos, ou seja, um
conteúdo cultural.

O que é saúde?
Quando falamos de saúde, dificilmente encontraremos uma única definição ou
resposta. Isso porque saúde engloba muitas variáveis, assim como muitas culturas.

Reflita
Por exemplo, a visão de saúde no ocidente é bem diferente de sua
compreensão no oriente. Trazendo isso para algo mais próximo de
nós, a visão de saúde que temos como brasileiros se difere muito
da visão de saúde dos estadunidenses.

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É possível compreender como a saúde é influenciada fortemente pela cultura
de cada povo. Mais do que isso, saúde envolve ainda o entendimento do ser
humano sobre o modo de enxergar o corpo e como lidar com ele. Isso envolve as
significações culturais que as diferentes sociedades determinam na visão de seus
corpos.

Há uma outra maneira de compreender a saúde se baseando em pesquisas e


estudos ocidentais que dividem a saúde em modalidades de bem-estar. Acompanhe.

Bem-estar social:

comunidade, amizade, família.

Bem-estar físico:

autocuidado, nutrição.

Bem-estar emocional:

apoio nas crises, stress management.

Bem-estar espiritual:

amor, esperança, caridade.

Bem-estar intelectual:

educação, realização, carreira.

Vimos até aqui que saúde é um conceito amplo, relacionado com aspectos que
ultrapassam meramente a variável física. Assim, a saúde para cada um se difere e
pode se relacionar até mesmo com a capacidade de o indivíduo lidar com limitações,
fragilidades, capacidade de escolhas e autonomia próprias. É um pensamento mais
holístico, considerando assim o ser humano como um ser integral.

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Assim, saúde e doença são variáveis distintas. O conceito de doença constituiu-
se a partir de uma redução do corpo humano, pensado a partir de constantes
morfológicas e funcionais, as quais se definem por intermédio de ciências, como
a anatomia e a fisiologia. É uma visão que reduz a compreensão de saúde como
mera ausência de doenças. Há nesse contexto uma desconexão e redução do corpo,
deixando de lado todas as relações que constituem os significados da interação
do corpo com a vida. Ainda, desconsidera que a medicina se relaciona com um ser
integral e não apenas com estruturas físicas, como órgãos e funções.

Atenção
O discurso da saúde pública e as perspectivas de mudança das
práticas de saúde, a partir das duas últimas décadas, vêm se
associando ao redor da ideia de promoção da saúde. Promoção é
um conceito tradicional, definido por Leavell e Clarck (1976) como
um dos elementos do nível primário de atenção em medicina
preventiva. Um dos princípios básicos do discurso da promoção da
saúde é fortalecer a ideia de autonomia dos sujeitos e dos grupos
sociais (GUEDES, 2017).

Além disso, a ideia de promoção engloba também a questão do fortalecimento


da capacidade individual e coletiva, para que o indivíduo possa lidar com a
multiplicidade dos condicionantes da saúde (CZRESNIA; FREITAS, 2003). Nesse
sentido, as práticas em saúde devem ir além das aplicações técnicas e normativas
estabelecidas, devendo aceitar que não é suficiente conhecer os mecanismos das
doenças para seu controle.

A concepção de promoção de saúde diz respeito ao fortalecimento da saúde


por meio da construção de capacidade de escolha, bem como da utilização do
conhecimento com o discernimento de atentar para as diferenças e singularidades
dos acontecimentos que englobam a vida (CZRESNIA; FREITAS, 2003). É nesse
contexto que as práticas alternativas começam a ser discutidas e utilizadas no
campo da saúde, visto que muitas delas têm o intuito de tratar, por meio de técnicas
específicas, o indivíduo e não apenas a doença.

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Corpo, saúde e práticas alternativas
No contexto da área da saúde, as práticas alternativas foram introduzidas por meio
da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC).
A construção da PNPIC no SUS iniciou-se a partir do atendimento das diretrizes e
recomendações de várias conferências nacionais de saúde e das recomendações
da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em junho de 2003, representantes
das Associações Nacionais de Fitoterapia, Homeopatia, Acupuntura e Medicina
Antroposófica reuniram-se com o Ministro da Saúde (Humberto Costa). Nessa
ocasião, por solicitação do próprio ministro, foi instituído um grupo de trabalho para
discussão e implementação das ações no sentido de se elaborar a Política Nacional,
coordenado pelo Departamento de Atenção Básica e pela Secretaria de Atenção
à Saúde (SAS), com a participação de representantes das Secretarias de Ciência,
Tecnologia e Insumos Estratégicos e de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde/
MS; Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa); e Associações Brasileiras
de Fitoterapia, Homeopatia, Acupuntura e Medicina Antroposófica. Em fevereiro de
2006, o documento final da política, com as respectivas alterações, foi aprovado
por unanimidade pelo Conselho Nacional de Saúde e consolidou-se, assim, a PNPS
no SUS, publicada na forma de Portarias Ministeriais, n 971, 3 de maio de 2006, e n.
1.600, de 17 de julho de 2006.

Atenção
A implementação dessa política no SUS envolve justificativas de
natureza política, técnica, econômica, social e cultural. Essa política
atende, sobretudo, à necessidade de se conhecer, apoiar, incorporar
e implementar experiências que já vêm sendo desenvolvidas na
rede pública de muitos municípios e estados, entre as quais se
destacam aquelas no âmbito da Medicina Tradicional Chinesa
(MTC), da acupuntura, da homeopatia, da fitoterapia, da medicina
antroposófica e do termalismo-crenoterapia.

Essas práticas se baseiam em conhecimentos tradicionais e são voltadas para


tratamento, prevenção, promoção de saúde e cuidados paliativos. É importante
salientar que essas práticas não substituem o tratamento da medicina tradicional,
elas podem ser associadas a esses tratamentos e auxiliar na melhora do indivíduo.

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Fechamento
Ao longo desta unidade, estudamos a visão de corpo, saúde e práticas alternativas
envolvendo muitas formas de ver e compreender o ser. Para se pensar em saúde,
variáveis como cultura e meio social não podem ser vistas como coisas separadas.
Aprendemos que buscar uma perspectiva ampla em saúde é capaz de ampliar o
contexto biológico. Uma mudança de paradigma importante no campo da saúde
ocorre com a efetiva inclusão do cidadão no processo de desenvolvimento e controle
da promoção da saúde. Além disso, estudamos muitos indícios de que a área da
saúde busca um olhar mais amplo para a incorporação das práticas em saúde, que
considere a magnitude do processo de promoção da saúde, para além das variáveis
fisiológicas.

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Referências
CZRESNIA, D.; FREITAS, C. M. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências.
Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.

GUEDES, F. L. As práticas corporais no SUS: um olhar a partir de documentos


veiculados no campo da saúde. 2017. Dissertação (Mestrado em Ciências da
Atividade Física) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

LEAVELL, S.; CLARCK, E. G. Medicina preventiva. São Paulo: McGraw-Hill, 1976.

SILVA, R. S. M. Culto ao corpo: Expressões do Voyeurismo e do Exibicionismo na


Estética Contemporânea. 2. ed. São Paulo: Blucher, 2017.

VIGARRELO, G.; PORTER, R. Corpo, saúde e doenças. In: CORBIN, A.; COURTINE, J.;
VIGARELLO, G. História do corpo: da Renascença às luzes. Petrópolis: Vozes, 2008.
v. 1. p. 441-486.

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