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História da saúde

dos Santos, Rosana Oliveira


SST História da saúde / Rosana Oliveira dos Santos
Ano: 2020
nº de p.: 15

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História da saúde

Apresentação
Nesta unidade, abordaremos a história da saúde e a sua evolução, juntamente com
os conceitos de saúde e doença.

Estudaremos também sobre o início da saúde pública em nosso país, as principais


ações e movimentos ao longo dos anos, grandes nomes que marcaram as ações
em prol da saúde, e toda a sua evolução até chegarmos à criação do Sistema Único
de Saúde (SUS) e as principais políticas públicas em saúde da atualidade.

História da saúde
A história da saúde caminha junto com a história da medicina. Os primeiros
registros foram do médico grego Galeno, que documentou o conhecimento médico
da sua época. Para ele, a saúde era um equilíbrio entre as partes primárias do
corpo. Esse estudo do equilíbrio constituiu um tratado de anatomia considerado
um dos maiores da Grécia antiga, o qual foi utilizado por muito tempo na medicina
ocidental.

Na Grécia Antiga, acreditava-se que as doenças pudessem ser causadas por


elementos naturais ou sobrenaturais, tendo uma compreensão baseada nos
conceitos religiosos. Outro pensamento da mesma época era de que alguns
fatores externos causavam doenças, tais como as estações do ano, a qualidade da
água e as características do vento, iniciando também a ideia de contágio. Com as
crescentes epidemias, a ideia de contaminação foi difundida e muitos acreditavam
que as águas estavam envenenadas por leprosos, judeus ou algum tipo de ritual
místico/esotérico.

Já na Idade Média, surgiu a teoria miasmática, que considerava como causa das
doenças fatores externos, como gases ou resíduos nocivos, que tinham sua origem
na atmosfera ou a partir do solo. Assim, segundo a teoria, essas substâncias eram
levadas pelo vento e chegavam até um indivíduo provocando a doença.

O cenário mudou no fim do século XVIII e início do século XX, quando a medicina
criou condições adequadas de salubridade para a sociedade, abrindo espaços

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para a prática da medicina tradicional. Já no século XIX aparecem a bacteriologia
e a teoria de que para cada doença existe um agente que poderia ser combatido
com agentes químicos ou vacinas. A história da saúde e a medicina foram
influenciadas pelo empirismo, porém no século XIX a biologia científica se fortalece,
sem influência direta da filosofia, passando de ciência empírica para ciência
experimental.

Curiosidade
Bacteriologia é um ramo da ciência que pertence à biologia,
responsável por todos os estudos e pesquisas relacionados às
bactérias e suas propriedades.

A medicina moderna tem a sua atuação voltada ao corpo, à mente e à doença,


na busca por um estado biológico “normal”, com base em diferentes estudos e
pesquisas, e aliada à alta tecnologia e altos custos. É bom destacar que a saúde
e a doença na cultura ocidental apresentam diferentes contextos e realidades.
Assim, uma das mais modernas definições para a doença compreende a análise
da matéria ou do corpo baseada na anatomopatologia (ramo da ciência que estuda
a alteração dos processos patológicos do organismo). Ou seja, na Idade Moderna
o pensamento científico referente ao processo saúde-doença tende à diminuição,
objetividade e fragmentação do conhecimento, interpretando os acontecimentos e
resultados de forma abstrata e calculável.

A medicina definiu o conceito de saúde de diversas formas ao longo da história

Fonte: Plataforma Deduca 2020

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Na tentativa de definir saúde e doença, alguns fatores merecem destaque nos
tempos atuais. Quando se fala sobre o que é normal, é levada em consideração a
frequência de certo fenômeno para determinar o estado mais comum ou prevalente.
Então, estabelecendo-se o estado mais frequente, percebe-se também qual o mais
saudável.

A saúde e a doença envolvem questões altamente subjetivas e não apenas


biológicas e científicas. A definição entre o normal e o patológico pode apresentar
muitas variações, observadas em todo o contexto histórico da saúde e doença,
tanto quanto ao aparecimento e desaparecimento, diminuição ou frequência de
alguma doença.

O redimensionamento dos limites da ciência para os estudos e ações entre


saúde e doença serviu para ampliar a interação com outras formas de saber, de
contextualizar a realidade, buscando inovações para a racionalidade científica.

Assim, o conceito de doença, segundo Canguilhem (2006), é entendido como a


compreensão não apenas da dor física, e sim de todo o sofrimento que o sujeito
apresenta e os devidos sentimentos expressos. Isso quer dizer que a subjetividade
deve ser levada em consideração para estabelecer se um indivíduo está ou não
doente.

A saúde pode ser a capacidade que cada indivíduo tem de consumir e


conduzir a própria vida, é uma experiência de vida, vivenciada no próprio
corpo e/ou mente. De forma geral, a saúde se estabelece de maneira
“silenciosa”, e nós conseguimos identificá-la apenas quando adoecemos.

Constata-se, então, que o processo de saúde-doença ocorre de maneira desigual


entre os indivíduos, independentemente da sua condição, sendo uma questão
ampla e totalmente subjetiva.

O olhar psicológico da saúde é baseado na subjetividade porque cada ser humano


estabelece um tipo de relação com ele mesmo e com a sociedade. Assim, a
psicologia da saúde edifica uma série de modulações que estabelecem o modo
como cada indivíduo se relaciona com o mundo e com ele mesmo.

Ao pensarmos em discutir saúde no contexto psicológico, devemos considerar que


ela é algo que passa por determinados processos existenciais ao mesmo tempo
que somente é possível a partir de certas áreas do saber, nas quais utilizamos

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interpretações, traduções como formas de objetivação, com o intuito de descobrir o
sentido do fenômeno (queixas, doenças) apresentado.

Assim, a psicologia passa a representar a problematização, já que a denominação


de saúde não é somente algo coletivo, podendo ser entendida também como
produção de vida, estabelecida por condições sociais, físicas, psicológicas,
comportamentais e ambientais, e tornando cada indivíduo um ser biopsicossocial.

Atenção
O termo “biopsicossocial” é muito utilizado para definições no
contexto psicológico, quando referimos que devemos ter um
olhar amplo sobre o indivíduo, observar as diferentes áreas como
psicológicas, biológicas ou físicas, sociais, ambientais, familiares
e culturais.

Entendemos, então, que a saúde é identificada como uma questão integral, com
muitas pluralidades, marcando o sujeito como indivisível e completo. Não se está
agindo apenas sobre o indivíduo, mas sobre a relação, as ações que ele estabelece
consigo e com os outros. Não existe apenas uma definição para o conceito de
saúde, mas formas que o conceito vai assumindo de acordo com os campos que
ultrapassa.

A saúde é um conceito com múltiplas interpretações

Fonte: Plataforma Deduca (2020)

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No enfoque psicológico, a saúde não age sobre o indivíduo, mas sim sobre suas
ações. Ao definir a saúde como uma questão integral, o intuito é agir sobre as
relações e ações que cada ser humano estabelece com ele e o seu meio social. O
foco da psicologia é afirmar que não existe uma definição rígida para o conceito
de saúde, mas formas diferentes que o conceito pode assumir nos diferentes
campos da vida. A compreensão é de que o sujeito não é apenas um ser biológico,
mas também psicológico, então os estudos desse campo estão voltados
para compreender os fenômenos psicológicos do ser humano que levaram ao
adoecimento.

Políticas públicas em saúde no Brasil


Ações relacionadas ao trabalho na contenção das epidemias, melhoria do ambiente
físico, questões de higiene, provisão de águas e assistência médica, entre outras
medidas, originaram o que chamamos de saúde pública. O conceito de saúde
pública tem relação direta com a área governamental, voltada para as questões
de saúde que atingem a coletividade. Assim, é fundamental para a saúde pública
entender os fatores que podem contribuir para a falta de equilíbrio do processo
saúde-doença e, a partir disso, determinar os pontos cruciais de intervenção com o
intuito de reverter o processo do adoecimento.

Curiosidade
O termo “saúde coletiva” refere-se ao processo de trabalho em
saúde que objetiva promoção de saúde e prevenção de risco e
agravos, com foco na melhoria da qualidade de vida, privilegiando
mudanças nos modos de vida de determinada população.

Segundo Solha (2014), na metade do século XIX, a higiene é reconhecida como um


saber social, envolvendo assim toda a sociedade e dando início à atenção para a
saúde pública. Nesse contexto, foram realizados alguns trabalhos científicos que
revelaram a relação entre saúde e condições de vida.

Proteger a saúde da população carente e modificar os hábitos de higiene


passam a ser objetivos nacionais. A partir disso, o conceito de prevenção vem
se aproximando cada vez mais da saúde pública, propagando-se e causando

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um grande impacto com a entrada da vacinação na prevenção de algumas
doenças. Surgem então os primeiros comitês de vacinação, e assim as
questões de riscos envolvendo as doenças passam a ser um objetivo coletivo
e não apenas individual.

No início do século XX, surgiu a proteção sanitária como política de governo. Foram
criadas três formas clássicas de prevenção: primária, secundária e terciária. A
forma primária trabalha com a eliminação das causas e condições de aparecimento
das doenças, agindo no ambiente. A secundária, ou prevenção específica,
busca impedir o aparecimento de determinada doença, por meio da vacinação,
campanhas, e controles de saúde. Já a forma terciária visa limitar a prevalência de
incapacidades crônicas ou recidivas.

Ainda no século XX começam a surgir grandes mudanças e marcos para as


políticas públicas em saúde. No chamado modelo campanhista (inspirado nas
ações do médico Oswaldo Cruz), o saber tem base em pesquisas e experimentos,
com o objetivo de combater as endemias e epidemias. Os ricos da época, também
chamados de burguesia, pressionaram os governantes e favoreceram a criação de
uma Diretoria Geral para Saúde Pública, para dar suporte às ações de erradicação
da febre amarela e varíola.

A Constituição de 1891 não mencionou diretamente o assunto da saúde pública e,


assim, deixou para os estados e municípios os cuidados com saúde e saneamento.
Competiam, então, ao governo federal as ações de saúde do Distrito Federal,
a vigilância sanitária nos portos e o acompanhamento dos Estados em casos
previstos constitucionalmente. Esse quadro foi alterado em 1902 na gestão
Rodrigues Alves, em que passou a ser responsabilidade do governo federal, devido
ao avanço das epidemias de febre amarela e varíola em várias regiões do país.

A política sanitária também obteve o seu espaço. O médico Emílio Marcondes Ribas
foi o condutor dessa visão, e o estado de São Paulo tornou-se um polo científico e
sanitário.

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Emilio Ribas

Fonte: Wikicommons (2020)

O ano de 1926 foi um marco na saúde pública brasileira, com os movimentos mais
intensificados pela população e a publicação, pelo Instituto Oswaldo Cruz, dos
cadernos de viagem dos médicos Artur Neiva e Belisário Pena, que realizaram um
trabalho no interior dos estados do Nordeste e de Goiás. Essa viagem denunciou as
precárias condições de vida no interior do país, e o movimento sanitarista passou a
ser também o “saneamento dos sertões”. Essa missão impulsionou o poder central
dos estados da região Nordeste frente às políticas públicas de saúde.

Em 1934, durante o governo Getúlio Vargas, apresentou-se um novo cenário para


a saúde brasileira, com a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública sob
o comando de Gustavo Capanema. O intuito desse ministério era criar um aparato
governamental que centralizasse as ações para nível federal, estadual e municipal.
O território nacional foi dividido em oito regiões, objetivando à fiscalização e
execução das ações de saúde nos estados.

Na década de 1930, um novo sistema voltado aos trabalhadores foi criado. Esse
sistema era o Instituto de Aposentadoria (IAPS), que tinha o objetivo de integrar as
categorias dos trabalhadores. Esse período foi marcado pela desigualdade, porque
alguns movimentos trabalhistas exerciam mais força e poder sobre outros, e essa
pressão resultava em piores ou melhores serviços.

O movimento médico-sanitarista teve o seu fortalecimento na década de 1950,


quando as discussões entre a economia nacional e as precárias condições da
maioria da população justificaram o sanitarismo desenvolvimentista (movimento
que afirmava que o bom nível de saúde de uma população depende primeiramente
do grau de desenvolvimento econômico de um país).

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A partir desse momento a saúde pública brasileira iniciou a fase do modelo
assistencial-privatista, a assistência médica da previdência social. Esse
modelo tinha como base as ações médicas de evolução da medicina
terapêutica para a medicina preventiva. O Ministério da Saúde atribuiu
também os chamados “negócios de saúde pública” a outros profissionais, e
não apenas aos médicos sanitaristas da época.

Com a reorganização do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), a


criação do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS)
e também a criação de um programa específico para os trabalhadores rurais e
autônomos, porém essas ações causavam discussões na esfera política porque
ao mesmo tempo que mantinham trabalhos assistenciais, a desigualdade e a
discriminação se destacavam. Podemos perceber que a história da saúde pública
no Brasil se confunde com a história da previdência social em determinados
períodos.

Com os avanços e o fortalecimento da Saúde Pública, em 1988 foi criado pela


Constituição Federal o Sistema Único de Saúde (SUS), regulamentado pelas Leis
nº 8080/90 (Lei Orgânica da Saúde) e nº 8.142/90. O objetivo do SUS era erradicar
a desigualdade de acesso à assistência à saúde, passando a ser obrigatório o
atendimento público gratuito a toda a população.

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Fechamento
Compreendemos que a história da medicina caminha junto a história da saúde
e conhecemos seus processos ao longo da história antiga, na idade média e na
modernidade.

Conhecemos as diferentes concepções de saúde e doença ao longo da história e


entendemos que a saúde e a doença implicam questões bastante subjetivas, e não
apenas biológicas ou científicas.

Refletimos sobre o conceito de doença para Cangulhem (2006) que a define para
além do sofrimento físico, considerando todos os sentimentos expressos pelo
sujeito. Assim, compreendemos a saúde como uma questão integral.

Aprofundamos os conceitos de saúde coletiva e saúde pública. E, por fim,


conhecemos o processo histórico das políticas públicas de saúde no Brasil.

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