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PRINCÍPIO DA BOA FÉ OBJETIVA E PLACAS DE AVISOS NOS


ESTACIONAMENTOS DOS ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS.

Brenda Mendes1
Elton Moreno2
Isabel Gandarela3
João Henrique Oliveira4
Marta Nogueira5
Selma Carvalho6

A crescente utilização de estacionamentos privados, impulsionada pela


necessidade de segurança para os veículos, contrasta com a frequente prática de
afixar placas7 que isentam o estabelecimento de responsabilidade por eventuais
danos. Essa prática, contudo, tem gerado controvérsias e questionamentos acerca de
sua legalidade, especialmente em face do Código de Defesa do Consumidor (CDC).
O presente artigo analisa a responsabilidade civil dos estacionamentos privados à luz
do CDC, investigando a validade das cláusulas de isenção de responsabilidade, a
vulnerabilidade do consumidor, a boa fé objetiva e a aplicação da teoria de culpa e do
risco nesse contexto. Para tanto, serão examinadas as diferentes perspectivas
doutrinárias e jurisprudenciais sobre o tema, buscando compreender os direitos e
deveres dos consumidores e estabelecimentos comerciais e/ou prestadores de
serviços de estacionamento. Objetiva-se, assim, contribuir para o debate sobre a
proteção do consumidor e a segurança nos estacionamentos privados, visando
garantir a adequada reparação de danos em caso de falhas na prestação do serviço.
A vulnerabilidade do consumidor é um conceito central no Direito do
Consumidor, reconhecido tanto na doutrina como na jurisprudência. Ela representa a
posição de fragilidade do consumidor em relação ao fornecedor no mercado de
consumo, justificando a necessidade de proteção especial.
Diversos juristas exploraram esse conceito, cada um com sua ênfase e
nuances como por exemplo Cláudia Lima Marques que em sua obra Manual de Direito

1
Discente Curso Direito na Faculdade Estácio.
2
Discente Curso Direito na Faculdade Estácio.
3
Bacharel em Ciências Contábeis pela Fundação Visconde de Cairú em 1996 e discente Curso Direito na Faculdade Estácio.
4
Discente Curso Direito na Faculdade Estácio.
5
Mestra em Ciência de Educação e discente Curso de Direito na Faculdade Estácio.
6 Discente Curso Direito na Faculdade Estácio.
7 Ver Anexo 1

1
de Consumidor 5ª. edição revista, atualizada e ampliada Revista dos Tribunais . p.40
cita “O favor debilis é, pois, a superação da ideia - comum no direito civil do século
XIX - de que basta a igualdade formal para que todos sejam iguais na sociedade, é o
reconhecimento (presunção de vulnerabilidade - veja art. 4.°, I, do CDC) de que alguns
são mais fortes ou detêm posição jurídica mais forte (em alemão, Machtposition)
detêm mais informações, são experts ou profissionais, transferem mais facilmente
seus riscos e custos profissionais para os outros, reconhecimento de que os “outros”
geralmente são leigos, não detêm informações sobre os produtos e serviços
oferecidos no mercado, não conhecem as técnicas da contratação de massa ou os
materiais que compõem os produtos ou a maneira de usar os serviços, são, pois, mais
vulneráveis e vítimas fáceis de abusos. É a vulnerabilidade que aqui chamaremos de
vulnerabilidade técnica, vulnerabilidade jurídica (ou econômica), vulnerabilidade fática
(ou monopolística) e vulnerabilidade informacional (Marques, Contratos no Código de
Defesa do Consumidor, p. 320-353.
Segundo Flávio Tartuce e Daniel Amorim Assunção Neves em sua obra literária
Manual de Direito do Consumidor – Direito Material e Processual – Volume Único 13
edição revista, atualizada e ampliada Edição 2024 p.30 e 31 “Pela leitura do art. 4º. I
do CDC é constatada a clara intenção do legislador em dotar o consumidor, em todas
as situações, da condição de vulnerável na relação jurídica de consumo.
De acordo com a realidade da sociedade de consumo, não há como afastar tal
posição desfavorável, principalmente se forem levadas em conta as revoluções pelas
quais passam as relações jurídicas e comerciais nas últimas décadas. O comentário
de Bittar (2002, p.2) sobre as desigualdades, demonstram que estas assimetrias não
encontram, nos sistemas jurídicos oriundos do liberalismo, resposta eficiente para a
solução de problemas que decorrem da crise de relacionamentos e lesionamentos
vários que sofrem os consumidores, pois os Códigos se estruturam com base em uma
noção de paridade entre as partes, de cunho abstrato. Diante da vulnerabilidade
patente dos consumidores, surgiu a necessidade de elaboração de uma lei protetiva
própria, caso da Lei 8.078/1990.
Com efeito, há tempos não se pode falar mais no poder de barganha antes
presente entre as partes negociais, nem mesmo em posição de equivalência das
relações obrigacionais existentes na sociedade de consumo. Os antigos elementos
subjetivos da relação obrigacional (credor e devedor) ganharam nova denominação
no mercado, bem como outros tratamentos legislativos. Nesse contexto de mudança,
2
diante dessa frágil posição do consumidor é que se justifica o surgimento de um
estatuto jurídico próprio para sua proteção.
A vulnerabilidade, mais que uma característica inerente ao consumidor,
representa um estado de fragilidade que o coloca em desvantagem nas relações de
consumo. Essa condição, seja individual ou coletiva, permanente ou provisória,
desequilibra a relação consumerista e demanda a intervenção do Direito para garantir
a justiça contratual.
Nesse sentido, o Código de Defesa do Consumidor (CDC), Lei nº 8.078/1990,
reconhece a vulnerabilidade do consumidor como princípio norteador, inspirando a
criação de normas de proteção e mecanismos de reequilíbrio nas relações de
consumo.
A doutrina brasileira, em consonância com o CDC, tem aprofundado o estudo
da vulnerabilidade, destacando sua multifacetada natureza. Autores como Claudia
Lima Marques, em sua obra "Contratos no Código de Defesa do Consumidor" (2024),
e Leonardo de Medeiros Garcia, em seu "Curso de Direito do Consumidor" (2024),
exploram as diversas dimensões da vulnerabilidade, como a técnica, a jurídica, a
fática e a informacional.
A jurisprudência brasileira também reconhece a vulnerabilidade como fator
determinante na interpretação e aplicação do CDC. O Superior Tribunal de Justiça
(STJ), em diversos julgados, tem reforçado a necessidade de considerar a
vulnerabilidade do consumidor na análise de cláusulas contratuais, práticas abusivas
e dever de indenizar.
Assim, a vulnerabilidade se consolida como elemento essencial na construção
de um Direito do Consumidor efetivo e protetor, garantindo a igualdade e a justiça nas
relações de consumo.
As cláusulas de exclusão de responsabilidade em contratos de estacionamento
configuram vício do serviço, na medida em que transferem ao consumidor o ônus de
eventuais danos, em clara afronta ao princípio da boa-fé objetiva e à vulnerabilidade
do consumidor. Nesse sentido, o artigo 25 do Código de Defesa do Consumidor veda
expressamente a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou
atenue a obrigação de indenizar.
A boa fé objetiva é um princípio fundamental do direito que exige que as partes
exerçam com honestidade, lealdade e cooperação em suas relações jurídicas. É um
padrão de conduta que vai além da mera intenção subjetiva do indivíduo, impondo
3
deveres de agir com correção e transparência, buscando o equilíbrio e a justiça
contratual.
Considerado o pai do Código Civil de 1916, Clóvis Beviláqua já defendia a boa
fé como elemento essencial dos contratos, afirmando que "a boa fé deve presidir a
todos os contratos".
A boa fé é destacada como um princípio geral de direito confirme Pontes e
Miranda, onde para ele a mesma se aplica a todas as relações jurídicas, e não apenas
aos contratos. A teoria tridimensional do direito abordada por Miguel Reale defendia
a boa fé como um valor fundamental que deve orientar a aplicação do direito.
O estudo da boa fé objetiva, no direito brasileiro, foi aprofundado por Judith
Martins Costa, jurista argentina que destacava as suas funções de controle,
interpretação e integração dos contratos. (2003, p.143)
Obrigações. Do Adimplemento e da Extinção das Obrigações)
A boa-fé objetiva, princípio fundamental do Direito Civil, vai além da mera
intenção do indivíduo e exige um comportamento honesto, leal e colaborativo nas
relações contratuais. É um padrão de conduta que se impõe a todos os envolvidos,
devendo nortear as ações e decisões durante toda a relação contratual. A boa-fé
objetiva busca garantir o equilíbrio e a justiça nas relações contratuais, impedindo que
uma parte se beneficie indevidamente em detrimento da outra. A boa fé objetiva
desempenha diversas funções no direito, entre elas:
• Função interpretativa: Auxilia na interpretação dos contratos, buscando o
sentido que melhor atenda à vontade das partes e aos princípios da justiça
contratual.
• Função integrativa: Supre lacunas contratuais, preenchendo as omissões com
base na boa fé e nos usos e costumes.
• Função de controle: Limita o exercício de direitos subjetivos, impedindo que
sejam utilizados de forma abusiva ou desleal.
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) estabelece a responsabilidade objetiva
dos fornecedores por danos causados aos consumidores, independentemente de
culpa, nos casos de defeito na prestação de serviços. Isso significa que, mesmo que
haja uma placa de aviso, o fornecedor poderá ser responsabilizado por danos
causados ao veículo ou aos bens do consumidor no estacionamento, como furto,
roubo, colisão ou incêndio.

4
A Súmula 130 do Superior Tribunal de Justiça (STJ) consolida esse entendimento,
afirmando que "a empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou
furto de veículo ocorridos em seu estacionamento"..
A responsabilidade civil objetiva é um tema central no direito civil, e sua
compreensão foi moldada por diversos juristas renomados. Ao contrário da
responsabilidade subjetiva, que exige a comprovação de culpa (negligência,
imprudência ou imperícia) para gerar o dever de indenizar, na responsabilidade
objetiva basta a demonstração do dano e do nexo causal entre a conduta e o dano
para que surja o dever de indenizar, independentemente de culpa. (2012. Pablo Stolze
Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. p.428,429)
O destaque da responsabilidade objetiva se fundada na teoria do risco, ou seja, quem
exerce uma atividade que gera risco para terceiros deve ser responsabilizado pelos
danos causados, independentemente de culpa.
Surgiu, então, na segunda metade do século XIX, a teoria da
responsabilidade objetiva, fundada na doutrina do risco, prescindindo-se do
elemento culpa para impor ao agente o dever de indenizar o lesionado pelo
infortúnio.
Georges Ripert, então, recorda que, no fim do século XIX, procurou-se alargar
o campo da responsabilidade civil, momento em que, sem abandonar a ideia
de culpa, a doutrina formulou os conceitos de risco-profissional, do risco-
propriedade e do risco-criado, manifestando o citado jurista francês sua
adesão à expressão “doutrina do risco”. A regra moral nas obrigações civis.
Tradução de Osório de Oliveira. Campinas: Bookseller, 2000. p. 45.
É a passagem do individualismo, marca do Código Napoleônico, segundo o
qual só pode responder pelo dano aquele que tenha concorrido com sua
vontade para o infortúnio, para a socialização do direito representada na
fórmula da responsabilidade objetiva, muito mais consentânea à solução dos
novos problemas que surgiam à frente do jurista.
E arremata Massimo Franzoni afirmando que um dos resultados mais
importantes alcançados pelos estudiosos da responsabilidade civil foi ter
subtraído da responsabilidade civil o caráter de punição da ação lesiva, já
que a conduta assumiu uma fisionomia autônoma e desligada do perfil
subjetivo da vontade do agente para assumir aquela do simples critério de
ligação entre o sujeito tido como responsável e o evento de dano ressarcível.
La responsabilità oggetiva. Milano: Dott. Antonio Milani, 1995. p. 95

5
A responsabilidade objetiva facilita a obtenção de indenização por danos,
especialmente em um mundo cada vez mais complexo e com riscos crescentes,
representando um avanço na proteção da vítima.
A responsabilidade civil objetiva, um conceito central no direito contemporâneo,
dispensa a prova da culpa para configurar o dever de indenizar. Carlos Roberto
Gonçalves, em sua obra "Direito Civil Brasileiro" (2024), explica que essa modalidade
de responsabilidade se ancora no risco criado pela atividade desenvolvida. Ou seja,
se uma atividade, por sua natureza, implica risco para os direitos de outrem, aquele
que a exerce será responsabilizado pelos danos causados, independentemente de
culpa.
Em suma, a responsabilidade objetiva representa um importante instrumento
de proteção às vítimas, garantindo a reparação de danos de forma mais célere e
eficiente, sem a necessidade de comprovar a culpa do agente causador do dano.
Basta a demonstração do dano e do nexo causal entre este e a atividade de risco para
que surja o dever de indenizar.
A defesa da responsabilidade objetiva como um fundamental do direito
contemporâneo fica evidente por Rui Stoco, na Tratado de Responsabilidade Civil,
Revista dos Tribunais (2013. p.210,213) o autor esclarece que a atividade que gera
lucro deve, inevitavelmente, arcar com os riscos e os danos que pode causar. Essa
perspectiva se alinha com a evolução do direito, que busca ampliar a proteção da
vítima e garantir a reparação integral dos danos sofridos.
A responsabilidade objetiva representa um avanço na busca por justiça social.
Os juristas destacam a comprovação da culpa, elemento essencial na
responsabilidade subjetiva e isso pode ser um obstáculo para a vítima que busca
reparação por danos. A exigência da culpa pode gerar situações de injustiça,
especialmente em casos complexos onde a prova da conduta culposa é dificultada.
A responsabilidade objetiva, por outro lado, dispensa a prova da culpa,
bastando a demonstração do dano e do nexo causal entre a conduta e o dano. Isso
facilita o acesso à justiça e garante a efetiva reparação à vítima, independentemente
da existência de culpa por parte do agente causador do dano.
Exemplos práticos são ilustrados por Flávio Tartuce e Daniel Amorim
Assumpção Neves, onde a responsabilidade objetiva, portanto, se apresenta como
um instrumento essencial para garantir a justiça e o equilíbrio nas relações sociais,
especialmente em um contexto de crescente complexidade e riscos nas atividades
6
humanas. Ela assegura a proteção da vítima e impõe ao agente causador do dano o
dever de indenizar, independentemente de culpa, consolidando-se como um pilar
fundamental do direito moderno.
A responsabilidade objetiva se diferencia da subjetiva por dispensar a
comprovação de culpa para gerar o dever de indenizar, segundo Pablo Stolze
Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2012. p.243), é necessário apenas que a vítima
demonstre o dano e o nexo causal entre este e a conduta do agente. Isso significa
que, em casos de responsabilidade objetiva, a vítima não precisa provar que o agente
agiu com negligência, imprudência ou imperícia, mas apenas que o dano ocorreu e
que ele foi causado pela conduta do agente.
Os supracitados autores enfatizam que a responsabilidade objetiva busca
garantir a efetiva reparação do dano, facilitando a vida da vítima e impondo ao agente
causador do dano o dever de indenizar, independentemente da existência de culpa.
Isso contribui para a justiça social e para a construção de uma sociedade mais segura
e responsável. Assim, a responsabilidade objetiva, com sua aplicação específica e
seu foco na proteção da vítima, se consolida como um importante instrumento do
Direito Civil para garantir a reparação de danos e promover a justiça nas relações
sociais.
A responsabilidade objetiva encontra fundamento legal no artigo 927, parágrafo
único, do Código Civil Brasileiro, que dispõe:
"Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem."
No entanto, a análise da responsabilidade do fornecedor deve ser feita caso a
caso, considerando as circunstâncias específicas. A placa de aviso pode ser um fator
a ser considerado, mas não é o único. É preciso analisar, por exemplo, se o
estacionamento era gratuito ou pago, se havia segurança no local, se o consumidor
contribuiu de alguma forma para o dano, entre outros aspectos.

TEORIA DA CULPA

A teoria da culpa tradicionalmente exige a demonstração de um ato ilícito, para


que se configure a responsabilidade civil. No caso dos estacionamentos, a colocação

7
de placas que excluem a responsabilidade poderia ser interpretada como uma
tentativa de se eximir da culpa, antecipando uma possível discussão sobre a
existência ou não de negligência.
No entanto, a teoria da culpa encontra limitações nesse contexto onde a
responsabilidade civil evoluiu para um modelo mais objetivo, em que a culpa não é
sempre o único requisito para a responsabilização, destacando que a guarda de
veículos em estacionamentos é um serviço que envolve risco, e o estabelecimento se
beneficia economicamente dessa atividade e o Código de Defesa do Consumidor
(CDC) impõe ao fornecedor uma responsabilidade objetiva, ou seja, independe da
comprovação de culpa.

TEORIA DO RISCO

A teoria do risco, por sua vez, baseia-se na ideia de que quem se beneficia de uma
atividade de risco deve responder pelos danos que ela causar, independentemente
de culpa. No caso dos estacionamentos:
• Benefício econômico: O estacionamento se beneficia financeiramente da
guarda dos veículos.
• Risco inerente à atividade: A guarda de veículos em um local concentrado
implica em um risco inerente de danos ou furtos.
• Possibilidade de controle: O estacionamento tem o dever de adotar medidas
de segurança para minimizar os riscos.
A teoria do risco se mostra mais adequada para analisar a questão, pois reconhece
que a atividade de estacionamento envolve riscos e que o estabelecimento, por se
beneficiar dessa atividade, deve responder pelos danos causados, mesmo que não
tenha agido com culpa.
As cláusulas que excluem a responsabilidade dos estacionamentos são
consideradas abusivas pelo CDC, pois transferem ao consumidor um risco que, em
princípio, é do fornecedor.
Responsabilidade objetiva: O CDC estabelece a responsabilidade objetiva do
fornecedor de serviços, o que significa que o estacionamento responde pelos danos,
independentemente de culpa, desde que haja nexo causal entre o serviço prestado e
o dano.

8
Em alguns casos, pode ser difícil provar o nexo causal direto entre a conduta do
estacionamento e o dano. Nesses casos, a teoria da perda de uma chance pode ser
aplicada, responsabilizando o estacionamento por ter diminuído as chances do
consumidor de evitar o dano. A teoria da perda de uma chance, originada no Direito
francês, tem ganhado espaço no ordenamento jurídico brasileiro como instrumento
para a reparação de danos em situações complexas, onde o nexo causal entre a
conduta e o dano não é facilmente demonstrado. No contexto dos estacionamentos,
essa teoria pode ser aplicada quando, mesmo com a falha na prestação do serviço,
não é possível provar com certeza que a conduta do estacionamento causou
diretamente o dano ao veículo do consumidor.
Imagine a seguinte situação: um cliente estaciona seu carro em um
estacionamento que não possui sistema de segurança adequado, como câmeras de
vigilância e controle de acesso. Seu veículo é danificado, mas não há provas de quem
causou o dano ou como ele ocorreu. Nesse caso, ainda que não seja possível
comprovar o nexo causal direto entre a falta de segurança do estacionamento e o
dano, é possível argumentar que a falha na prestação do serviço diminuiu as chances
do consumidor de evitar o dano.
A aplicação da teoria da perda de uma chance, nesse contexto, permite
responsabilizar o estacionamento por ter privado o consumidor da possibilidade de
evitar o dano, mesmo que não seja possível provar que a conduta do estacionamento
causou diretamente o dano. Isso ocorre porque o estacionamento, ao não oferecer a
segurança adequada, contribuiu para aumentar o risco de danos ao veículo.
É importante destacar que a teoria da perda de uma chance exige a demonstração
de que a chance perdida era real e séria, e que o dano era provável, não apenas uma
mera possibilidade. A indenização, nesse caso, não será pelo dano integral, mas sim
pela perda da chance de evitá-lo, considerando o grau de probabilidade de que o dano
seria evitado caso o estacionamento tivesse cumprido com seu dever de segurança.
A aplicação da teoria da perda de uma chance no contexto dos estacionamentos
representa um avanço na proteção dos direitos do consumidor, garantindo a
reparação de danos em situações complexas onde a demonstração do nexo causal
tradicional é dificultada. Essa teoria contribui para a efetividade da responsabilidade
civil e para a justiça nas relações de consumo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

É fundamental que os órgãos de defesa do consumidor intensifiquem a


fiscalização dos estacionamentos, coibindo a prática abusiva de afixar placas com
cláusulas de exclusão de responsabilidade. Além disso, é importante que os
consumidores sejam informados sobre seus direitos e busquem a reparação dos
danos sofridos quando houver violação aos seus direitos.
Diante do exposto, conclui-se que as cláusulas de exclusão de
responsabilidade em estacionamentos são nulas de pleno direito, não gerando
qualquer efeito jurídico. O consumidor que tiver seu veículo danificado em um
estacionamento tem o direito de ser indenizado pelos prejuízos sofridos,
independentemente da existência de placas que tentem eximir o estabelecimento de
sua responsabilidade.
Em princípio, a boa fé objetiva impõe que os fornecedores ajam com lealdade
e transparência em suas relações com os consumidores. A colocação de placas que
se isentam de qualquer responsabilidade, de forma genérica e unilateral, pode ser
considerada uma prática abusiva, que viola o princípio da boa fé objetiva e os direitos
básicos do consumidor.
Em suma, a responsabilidade objetiva é uma importante evolução no direito
civil, que visa a proteger a vítima e garantir a efetiva reparação do dano, impondo ao
agente causador do dano o dever de indenizar, independentemente da existência de
culpa. A boa fé objetiva exige que o fornecedor tome medidas para garantir a
segurança dos veículos no estacionamento, como:
• Oferecer vigilância adequada, com câmeras de segurança, iluminação e
funcionários.
• Sinalizar adequadamente o local, com placas de orientação e
advertências claras e visíveis.
• Adotar medidas de prevenção contra incêndios e outros riscos.
• Informar de forma clara e precisa as condições de uso do
estacionamento, incluindo os limites de responsabilidade.

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Em caso de dano ao veículo ou aos bens do consumidor, o fornecedor deverá
indenizar o consumidor pelos prejuízos sofridos. O consumidor pode buscar seus
direitos por meio de reclamação junto ao Programa de Proteção e Defesa do
Consumidor (PROCON), ação judicial ou outros meios adequados.
Em resumo, a boa fé objetiva exige que os fornecedores ajam com lealdade e
transparência na relação com os consumidores, não se eximindo de suas
responsabilidades de forma abusiva. A colocação de placas de aviso não isenta o
fornecedor de indenizar o consumidor por danos causados no estacionamento,
especialmente quando se trata de serviço essencial ou relacionado à atividade
principal do estabelecimento. A responsabilidade do fornecedor será analisada caso
a caso, considerando as circunstâncias e a boa fé objetiva de ambas as partes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BITTAR, Carlos Alberto, Direito do Consumidor. 5. Ed. Rio de Janeiro:


Forense Universitária, 2002. p.2.

2. CAVALIERI Filho, Sérgio, Programa de Responsabilidade Civil. 13ª ed. Atlas


(2020) p.210, 213

3. Código Civil Brasileiro. art. 927. p único

4. Código de Defesa do Consumidor. Art 14.

5. Código de Defesa do Consumidor (CDC) art. 25.

6. Código de Defesa ao Consumidor art 4º. I.

7. GARCIA, Leonardo de Medeiros, Direito do Consumidor Código Comentado


e Jurisprudência. 20ª ed. Salvador: JusPodivm (2022) p.378 e 395.

8. GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona, Novo Curso de Direito


Civil. 14ª. ed (2012). p.428, 429.

11
9. GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo Curso de Direito
Civil 1. 14ª. ed (2012). p.243.

10. La responsabilità oggetiva. Milano: Dott. Antonio Milani. 1995. p.95.

11. MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor.


10ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2017. p.682.

12. MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor.


5a 1 * IV . Edição revista, atualizada e ampliada. p.320-353.

13. MARQUES, Claudia Lima. Manual de Direito de Consumidor. 5ª. Ed. Revista
dos Tribunais . p.40.

14. NUNES, Rizzato, Curso de Direito do Consumidor. 7ª edição revista e


atualizada. Saraiva (2012), p. 435.

15. OLIVEIRA, Osório de Oliveira. A regra moral nas obrigações civis.


Campinas Bookseller. 2000. p.45.

16. STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil Tomo I. 9ª. Ed. 2013.p.210,
213.

17. Sumula 130 do STJ.

18. TEPEDINO, Gustavo; SCHREIBER, Anderson. Revista 23_139 (2003).p.139.

19. TARTUCE, Flávio Tartuce; NEVES, Daniel Amorim Assunção. Manual de


Direito do Consumidor. Direito Material e Processual. Volume Único 13. Ed
revista, atualizada e ampliada Edição. 2024. p.30 e 31.

20. TARTURE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito do


Consumidor Direito Material e Processual. 6. Ed. Editora Método (2017).
p.70.
12
21. VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil Contratos. (2017) p.28.

ANEXO I

13

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