Resenha Yuri
Resenha Yuri
Resenha Yuri
PARNAÍBA-PI
2021
LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as Democracias Morrem. São Paulo, Editora
Zahar, 2018.
Para os potenciais ditadores as rédeas impostas pela democracia são camisas de forças,
não aceitam as pequenas concessões, assim autoritários eleitos com um discurso populista
podem vim a acabar com uma democracia, muitas vezes lentamente corroendo aos poucos,
pode parecer inofensivo, trazendo discursos de acabarem com a “corrupção” limpar as ruas de
bandidos, aumentar a segurança nacional, ganhando sutilmente as instituições, para os
autoritários judiciário e polícias, representam uma oportunidade de ganho de poder,
protegendo o governo de futuras investigações e processos criminais, a maneira mais extrema
mencionada no livro para capturar os “árbitros” assim chamado os órgãos neutros que
supervisionam os mandatos seria a nova criação de um tribunal e corte, (pág. 95 e 96).
Agora como lidar com os oponentes, nessa parte é destacada as maneiras mais
frequentes, oferecendo posições públicas, suborno direto em troca de apoio, meios de
comunicação, fechamento de contrato com o governo por meio dos grandes empresários.
Os norte Americanos sempre acreditaram na sua constituição por isso acreditam que o
país tenha sido tão bem sucedido no século XIX, os freios e contra pesos de sua legislação
foram feitos para evitar autoritarismo e deu certo na maior parte do tempo, “A concentração
de poder do presidente Abraham Lincoln durante a Guerra Civil foi revertida pela Suprema
Corte depois que a guerra acabou” (LEVISTIKY e ZIBLLAT, 2018, p.113). Segundo o texto
a constituição dos Estados Unidos foi copiada por vários países inclusive na América Latina
Pós-colonial porém a maioria das repúblicas caíram em ditaduras e autoritarismo.
Apenas uma constituição bem escrita não é suficiente para garantir uma democracia
um exemplo no Brasil é de Getúlio Vargas que conseguiu ultrapassar seus 2 mandatos ficando
no poder por 15 anos, todo constituição por mais detalhada que seja não consegue prever tudo
o que pode acontecer, assim sempre deixando lacunas que serão exploradas, mas também
além de regras escritas as regras informais são importantes para manter uma sociedade
democrática unida, assim como em todos os âmbitos da nossa vida seja acadêmica ou
profissional o que mantém um ambiente regulado também são os acordos informais
estabelecidos, a exemplo no livro da constituição dos Estados Unidos ele confere como um
jogo de basquete.
O basquete de rua não é regido pelas regras estabelecidas pela NBA, NCAA ou
qualquer outra liga. Só o entendimento compartilhado do que é aceitável e do que
não é impede que elas descambem para o caos. As regras não escritas do basquete de
meia quadra são familiares a todos que o praticam (LEVISTIKY e ZIBLLAT, 2018,
p. 117).
Capítulo 7 - A Desintegração
Neste capítulo, Levitsky introduz um novo participante que teve destaque fundamental
no início da erosão das regras democráticas nos EUA.
Newt Gingrich - rejeitava as normas de cooperação de civilidade e bipartidária,
membro do Partido Republicano, lançou um método de abordagem combativa que consistia
em discursos com retórica exagerada, ofensas, etc, como - congresso corrupto, doente -,
questionava o patriotismo de seus rivais Democratas. Através de um novo comitê de ação
política, o Gopac, Gingrich e seus aliados trabalharam na difusão dessas táticas em todo o
partido. O Gopac produziu mais de 2 mil fitas de educação e treinamento, distribuídas a cada
mês para colocar os recrutas da “Revolução Republicana” de Gingrich na mesma página
retórica.
No começo dos anos 1990, Gingrich e sua equipe distribuíram memorandos para os
candidatos republicanos, instruindo-os a usar certas palavras negativas para descrever os
democratas, incluindo patético, doente, grotesco, deslealdade, contra a bandeira, contra a
família e traidores. Este foi o começo de uma mudança sísmica na política norte-americana.
Além de discursos combativos, os Republicanos adotam o sistema de “obstrução”
quando alguma lei contrária a seus interesses é pautada.
A violação de normas também ficou evidente no âmbito dos estados. Entre os casos
mais notórios está o plano de redefinição de distritos eleitorais no Texas em 2003. Segundo a
Constituição, os legislativos estaduais podem modificar os distritos congressuais para manter
distritos com população igual. Entretanto, existem normas duradouras e amplamente
compartilhadas de que a modificação dos distritos deve ocorrer uma vez a cada década, logo
após a publicação do censo. Há uma boa razão para isso: como as pessoas estão sempre se
mudando, o redesenho dos distritos eleitorais que ocorrer posteriormente em determinada
década estará baseado em números menos precisos. Embora não haja nenhum impedimento
legal para redivisões em meados de década, isso sempre foi raro.
Sob a direção de DeLay, os republicanos do Texas prepararam um plano de redesenho
distrital manipulado para redistribuir eleitores afro-americanos e latinos num pequeno grupo
de distritos democratas e, ao mesmo tempo, acrescentar eleitores republicanos em distritos de
mandatários democratas, garantindo assim sua derrota. O novo mapa deixava seis
congressistas democratas especialmente vulneráveis.
A Câmara dos Representantes do Texas exige quórum mínimo de ⅔, os membros
Democratas obstruíram a sessão viajando para outro estado onde passaram 4 dias até a câmara
retirar o projeto. Em outra sessão, viajaram para o Novo México e ficaram cerca de um mês
lá.
Com os ataques terroristas em 11 de setembro de 2001 e sua provocada histeria, levou
veículos de comunicação como a FOX NEWS a atacar congressistas Democratas os
vinculando a terroristas da Al-Qaeda.
A eleição presidencial de 2008 foi um divisor de águas na questão da intolerância
partidária. Através do ecossistema de mídia de direita – inclusive a Fox News, o canal de TV
a cabo mais assistido dos Estados Unidos –, o candidato democrata Barack Obama foi pintado
como marxista, antiamericano e secretamente muçulmano.
Em vez de introduzir uma nova era de tolerância e cooperação, a gestão de Obama foi
marcada por extremismo crescente e guerra sectária. Questionamentos da legitimidade do
presidente, que começaram com jornalistas conservadores secundários, personalidades do
rádio e comentaristas de televisão, logo foram incorporados num movimento político de
massa: o Tea Party, que começou a se organizar apenas algumas semanas após a posse de
Obama. Embora o movimento estruturasse a sua missão em termos de ideias conservadoras
tão tradicionais como governo limitado, impostos baixos e resistência à reforma da assistência
de saúde, sua oposição a Obama foi muito mais perniciosa. A diferença? O Tea Party
questionava o próprio direito do presidente de ser presidente.
Duas linhas que rompiam com as normas estabelecidas se desdobraram de maneira
consistente no discurso do Tea Party. Uma era que Barack Obama representava uma ameaça
para a nossa democracia. Poucos dias após a eleição, o congressista Paul Broun, da Geórgia,
advertiu sobre a perspectiva de implantação de uma ditadura comparável à Alemanha nazista
ou à União Soviética. Posteriormente, ele tuitou: “Sr. Presidente, o senhor não acredita na
Constituição. O senhor acredita no socialismo.” Um membro do movimento em Iowa, Joni
Ernst, que logo em seguida seria eleito para o Senado, afirmou que o “presidente Obama tinha
se tornado um ditador”.
A segunda vertente era que Barack Obama não era um “americano de verdade”.
Durante a campanha de 2008, Sarah Palin tinha usado a expressão “americanos de verdade”
para descrever seus apoiadores (uma esmagadora maioria de brancos cristãos). Isso teve
importância fundamental para a campanha do Tea Party contra Obama, na medida em que
seus seguidores salientaram reiteradamente que ele não amava o país e não compartilhava os
valores americanos.
Se o Tea Party repetiu à exaustão que Barack Obama não amava a nação, o
“movimento birther” foi ainda mais longe, pondo em dúvida se ele havia nascido nos Estados
Unidos – e, consequentemente, questionando o seu direito constitucional de ocupar a
Presidência. A ideia de que Obama não fosse nascido no país circulou pela primeira vez na
blogosfera durante a sua campanha ao Senado em 2004 e voltou à fossa em 2008.
Os Estados Unidos passaram pela gestão Obama por 3 graves crises que mostraram
como as normas de reserva tinham sido desgastadas:
Obama ficou refém do Congresso (controlado pelos Republicanos) por meses em que
se recusaram a aprovar o aumento no limite de endividamento do governo gerando bilhões em
prejuízos e a agência de risco Standard & Poor’s rebaixou a classificação de crédito dos
Estados Unidos pela primeira vez na história.
Após assumir a presidência, Obama passou a sofrer boicotes dos Republicanos na
aprovação de legislações enviadas por ele, o forçando a emitir ordens executivas que é uma
espécie de acordo, inclusive emitiu ordem executiva sobre o acordo nuclear do Irã levando
Republicanos enfurecidos a enviar uma carta aos líderes Iranianos “desautorizando” as
medidas de Obama.
O terceiro momento de violação de normas foi a recusa do Senado, em 2016, de
aceitar a indicação presidencial de Merrick Garland para a Suprema Corte. É importante
repetir que nenhuma vez desde a Reconstrução um presidente teve a oportunidade de
preencher uma vaga na Suprema Corte recusada ao nomear alguém antes da eleição de seu
sucessor.
O movimento pelos direitos civis, que culminou com a Lei dos Direitos Civis em 1964
e a Lei do Direito de Voto em 1965, deu fim a esse arranjo partidário. Não só ele finalmente
democratizou o Sul, emancipando os negros e acabando com o domínio de um único partido,
mas acelerou um realinhamento em longo prazo do sistema partidário cujas consequências
estão se desdobrando ainda hoje.
O realinhamento foi muito além da oposição liberal versus conservadores. As bases
sociais, étnicas e culturais da filiação partidária também mudaram dramaticamente, dando
origem a partidos que representam não apenas abordagens políticas distintas, mas
comunidades, culturas e valores diferentes.
A partir dos anos 1960, os Estados Unidos experimentaram uma onda maciça de
imigração, inicialmente da América Latina e, posteriormente, da Ásia, a qual alterou de forma
substancial o mapa demográfico do país. Juntamente com a emancipação negra, a imigração
transformou os partidos políticos norte-americanos. Esses novos eleitores apoiaram
desproporcionalmente o Partido Democrata que se tornava cada vez mais, um partido de
minorias étnicas.
Em seu ensaio de 1964 “The Paranoid Style in American Politics”, o historiador
Richard Hofstadter, explica que há uma percepção por parte da população que o “país em que
cresceram está escapando entre os dedos”, ameaçados pela rápida transformação do que
acreditam ser a “verdadeira américa”.
Se a definição de “verdadeiros americanos” for restrita a nativos, falantes de inglês,
brancos e cristãos, então fica fácil entender por que os “verdadeiros americanos” podem ver a
si mesmos como em declínio. A percepção entre muitos republicanos simpatizantes do Tea
Party de que o país está desaparecendo nos ajuda a compreender o apelo de slogans como
“Take Our Country Back” (Retomar nosso país) e “Make America Great Again” (Tornar a
América grande de novo). O perigo de tais apelos é que caracterizar os democratas como
americanos não verdadeiros constitui um verdadeiro ataque frontal contra a tolerância mútua.
Capítulo 8 - Trump contra as grades de proteção
Chamou a mídia de “inimiga do povo americano”, questionou a legitimidade de juízes
e ameaçou cortar o financiamento federal de cidades de grande importância.
Donald Trump exibiu claros instintos autoritários durante o seu primeiro ano de
mandato. No capítulo 4, apresentamos três estratégias através das quais os autoritários eleitos
buscam consolidar o poder: capturar os árbitros, tirar da partida importantes jogadores do time
adversário e reescrever as regras para inverter a situação de jogo contra os oponentes. Trump
tentou todas as três.
Trump tentou punir ou expurgar agências que atuavam com independência, demitiu o
diretor do FBI, depois que ficou claro que este não podia ser pressionado a proteger sua
administração e estava ampliando a investigação sobre a Rússia.
Afastou um procurador federal, depois que investigações sobre lavagem de dinheiro
ameaçavam alcançar o círculo íntimo de Trump.
O presidente fez críticas indiretas ao Judiciário em agosto de 2017, ao perdoar o
controverso ex-xerife Joe Arpaio, do Arizona, condenado por violar uma ordem da corte
federal que o impedia de praticar abordagens por perfil racial. Arpaio era um aliado político e
um herói para muitos apoiadores anti-imigrantes de Trump.
Trump atacava deliberadamente os veículos de mídia como o New York Times e a
CNN, acusando-os de estarem distribuindo “fake news” e conspirando contra ele e familiares,
chamou a mídia de “inimiga do povo americano”.
Talvez a iniciativa mais antidemocrática já empreendida pela administração Trump
tenha sido a criação da Comissão Presidencial de Aconselhamento sobre Integridade Eleitoral,
presidida pelo vice-presidente Mike Pence, mas dirigida pelo vice-presidente da comissão,
Kris Kobach. Para compreender seu impacto potencial, lembrem-se de que a Lei dos Direitos
Civis e a Lei do Direito de Voto incitaram uma forte mudança na identificação partidária: o
Partido Democrata tornou-se o principal representante de eleitores minoritários e da primeira
e segunda gerações de imigrantes eleitores, enquanto os eleitores do GOP permaneceram
esmagadoramente brancos. Como a fração minoritária do eleitorado está crescendo, essas
mudanças favorecem os democratas, uma percepção que foi fortalecida com a vitória de
Barack Obama na eleição de 2008, na qual a taxa de comparecimento das minorias foi
incomumente alta.
A pressão por leis de identificação do eleitor se baseava numa informação falsa: de
que fraudes eleitorais eram disseminadas nos Estados Unidos. Todos os estudos respeitáveis
concluíram que os níveis desse tipo de fraude no país eram baixos.
As normas são as grades flexíveis de proteção da democracia; quando elas param de
funcionar, a zona de comportamentos políticos aceitáveis se expande, dando origem a
discursos e ações que podem pôr a democracia em perigo. Comportamentos que outrora
foram considerados impensáveis na política norte-americana estão se tornando pensáveis.
Mesmo que Donald Trump não ponha abaixo as grades de proteção da nossa democracia
constitucional, ele aumentou a probabilidade de que um futuro presidente o faça.
Capítulo 9 - Salvando a democracia
“... quando a democracia norte-americana funcionou, ela se baseou em duas normas
que nós muitas vezes tomamos como naturais – tolerância mútua e reserva institucional.
Tratar rivais como concorrentes legítimos e subutilizar prerrogativas institucionais próprias no
espírito do jogo limpo são regras não escritas na Constituição dos Estados Unidos. Sem elas,
contudo, nosso sistema de freios e contrapesos não vai operar como esperamos”.
Levitsky rechaça a ideia de que os Democratas devem lutar como os Republicanos,
especificamente sobre quando os Democratas tentaram evitar a posse de Trump.
“A lição é essa: onde existem canais institucionais, os grupos de oposição devem usá-
los”.
Conclui especificando que as normas democráticas devem ser estendidas à toda a
sociedade Norte Americana que é tão diversificada, hoje é preciso fazer com que essas
normas funcionem em uma era de igualdade racial e de diversidade étnica. Poucas sociedades
conseguiram ser multirraciais e genuinamente democráticas. Esse é o nosso desafio. Se o
respondermos de maneira satisfatória, a América será sem dúvida excepcional.