Resenha Yuri

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - UESPI

CAMPUS ALEXANDRE ALVES DE OLIVEIRA


CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

DANIELLE CRISTINA RIBEIRO BRITO


FRANCISCO NATHAN CASTRO DE CARVALHO
GABRIELE DE OLIVEIRA MOTA

RESENHA: COMO AS DEMOCRACIAS MORREM

PARNAÍBA-PI
2021
LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as Democracias Morrem. São Paulo, Editora
Zahar, 2018.

Steven Levitsky e Daniel Ziblatt são ambos cientistas políticos e docentes da


Universidade de Harvard, a linha pesquisa dos autores trabalha em volta da democracia,
dentre outros aspectos. Na obra aqui analisada os autores vão desenvolver como acontece a
morte das democracias, mas dessa vez uma morte lenta e silenciosa, não mais com canhões,
exército nas ruas, mas de dentro para fora, passando por todo o processo democrático e assim
corrompendo a democracia até sua morte. Apesar do livro ter o intuito de focar nos
indicadores de perigo da democracia dos Estados Unidos, os autores trazem exemplos de
outras democracias e apontam os indicadores de perigo e comportamentos autoritários, ponto
significativo para os leitores.
Capítulo 1- Alianças fatídicas
Esse capítulo busca a partir de exemplo das três experiências a: Italiana de Mussolini,
a Alemanha de Hitler e a Venezuelana de Hugo Chávez, apresentar como figuras autoritárias
conseguiram chegar ao poder por meio de alianças fortes, talvez um dos principais desafios da
democracia seja esse, impedir que esses líderes autoritários acumule poder. cada caso citado
está inserido em seus respectivos contextos, mas o que foi observado é era figuras que de
certa forma foram usados nessas alianças, foram acumulando poderes e mesmo que o
establishment pensasse que pudessem controlá-los não conseguiram. O autor comenta sobre
aprender com as experiências do passado, e faz alguns apontamentos sobre essas experiências,
principalmente que isso se tornou possível pela negligência do establishment, pois todos os
líderes citados tinham algumas características em comum como o fato de serem outsiders
políticos e tentaram golpes contra a ordem anterior, além dos discursos que poderiam ser
analisados, esses são alguns elementos.
A partir disso e baseado nos estudos de Juan Lins para fins de poder identificar
comportamentos autoritários de possíveis líderes, dentre eles estão a rejeição às regras do jogo
democratico; negação da legitimidades dos oponentes; encorajamento e tolerância à violência;
se mostram dispostos a restringir liberdades civis de oponentes e da mídia. A elaboração
desses pontos são importantes e didáticas para se pensar em vários contextos.
Capítulo 2 - Guardiões da América
Apesar dos autores não desenvolverem pontualmente sobre a democracia ou a
constituição dela, eles apontam como "guardiões da democracia” os partidos políticos, no
caso eles são responsáveis por manter longe esses políticos autoritários, e quando concorrendo
os partidos se uniram para combatê-los em nome da democracia.
Como dito, os autores têm como foco principal a questão dos Estados Unidos e nesse
capítulo foi desenvolvido principalmente sobre ela, mencionando formas como as lideranças
ou candidatos eram escolhidos. o primeiro modelo apresentado, é da “sala enfumaçada” onde
grupos de líderes decidiam quem seria escolhido para representar o partido, ainda sobre esse
modelo os autores comentam que hoje não seriam bem visto por ser pouco democratico uma
vez que não prestavam contas, mas em contrapartida esse modelo dificulta que figuras
políticas inadequadas se coloca-se em cena; com a constituição de 1787 que construir o
presidencialismo, esse modelo com relação a como vai ocorrer a escolha é balanceado, uma
vez que o povo tem direito de escolha mas que depois de então essa escolha vai passar pelo
Colégio Eleitoral e após esse veio os partidos, mas que ainda tem o mesmo papel: manter
figuras políticas autoritárias longe do poder. No séc. XIX vamos ter o modelo de convenções
que não era muito diferente do primeiro apresentado, visto que a escolha era feita por um
grupo específico, esse modelo também dificultava a participação de outsiders; em 1972 tem-
se o sistema de primárias presidenciais vinculantes, onde os candidatos eram escolhidos pelo
povo, esse modelo também permitiu que mais outsiders participassem da política. Esse
capítulo sem dúvidas traz reflexões importantes mesmo fora do contexto dos Estados Unidos,
quando ele fala que tal modelo é democratico demais ou de menos, mas afinal como é ser
democratico demais ou de menos? Como isso se aplica? são reflexões que esse capítulo
trouxe.
Capítulo 3 - A grande abdicação republicana
Como dito no capítulo anterior o sistema de primárias abriu espaço para outsiders, e
segundo os autores "vulnerável a um tipo particular de outsider: indivíduos com fama ou
dinheiro o bastante para passar largo da "primária invisível" (LEVISTIKY e ZIBLLAT, 2018,
p. 68).
Este capítulo busca desenvolver sobre o ex-presidente Donald Trump, uma vez que
para os autores a democracia estadunidense ficou em alerta a partir da eleição de Trump, ele
era uma figura da mídia, e isso influenciou sem dúvida sua ascensão ao poder político, os
autores ainda apontam como dois ponto que enfraqueceram o papel dos “guardiões da
democracia” como a citada a mídia, em específico a mídia alternativa, e a disponibilidade de
dinheiro tornando o ambiente político mais fluido. Trump alertava em todos os 4 tópicos de
sinais de alerta para o comportamento autoritário, mas ele era uma figura influente e nem
mesmo os líderes republicanos tinham como controlá-lo. dessa forma os autores apresentam
como aos poucos a democracia foi se enfraquecendo e como o que era pra guardar a
democracia estadunidense falhou não unindo forças para combater um candidato que se
mostrava claramente autoritário e preconceituoso, além de ter intensificado cada vez mais a
polarização política, elemento nocivo à democracia de forma geral.

Capítulo 4 - Subvertendo a democracia

Logo no Início do texto se começa falando da repentina ascensão de Fujimori a


presidente do Peru, sua intenção era apenas a Senado, como não achou nenhum partido que o
aceitasse criou o seu próprio partido, com o Peru fragilizado e com um discurso populista
ganhou a população mais pobre e acabou se elegendo, ao ter poucos amigos no meio politico
acabou esbarrando com o congresso que barrou vários de seus projetos, incluindo o de soltar
presos que cometeram pequenos delitos para abrir espaço nos presídios para os terroristas,
entrou com a ideia de acabar com o terrorismo, para Fujimori a ideia de toda as vezes que
precisasse aprovação do congresso tivesse que almoçar com o presidente, lhe causava repulsa
dai se começa a análise de um líder demagogo que recuso as propostas democráticas para se
manter um governo, Fuijmori atacava o Congresso falando que estavam ligados ao terrorismo
e com os traficantes de drogas.
Esses ataques podem ter consequências importantes. Se o público passar a
compartilhar a opinião de que oponentes são ligados ao terrorismo e de que a mídia
está espalhando mentiras, torna-se mais fácil justificar ações empreendidas contra
eles (LEVISTIKY e ZIBLLAT, 2018, p. 90)

Para os potenciais ditadores as rédeas impostas pela democracia são camisas de forças,
não aceitam as pequenas concessões, assim autoritários eleitos com um discurso populista
podem vim a acabar com uma democracia, muitas vezes lentamente corroendo aos poucos,
pode parecer inofensivo, trazendo discursos de acabarem com a “corrupção” limpar as ruas de
bandidos, aumentar a segurança nacional, ganhando sutilmente as instituições, para os
autoritários judiciário e polícias, representam uma oportunidade de ganho de poder,
protegendo o governo de futuras investigações e processos criminais, a maneira mais extrema
mencionada no livro para capturar os “árbitros” assim chamado os órgãos neutros que
supervisionam os mandatos seria a nova criação de um tribunal e corte, (pág. 95 e 96).

Agora como lidar com os oponentes, nessa parte é destacada as maneiras mais
frequentes, oferecendo posições públicas, suborno direto em troca de apoio, meios de
comunicação, fechamento de contrato com o governo por meio dos grandes empresários.

O governo Fujimori foi mestre em comprar seus críticos, sobretudo na mídia. No


final dos anos 1990, toda rede de televisão importante, vários jornais cotidianos e
tablóides populares estavam na folha de pagamento do governo . (LEVISTIKY e
ZIBLLAT, 2018, p. 96).

A diferença dos ditadores antigos que matavam seus oponentes os ditadores


contemporâneos mascaram seus feitios em uma legalidade que não existe, também usam da
mídia para enfraquecer seus oponentes, empresas midiáticas que não simpatizam com o
governo começam a ser atacadas, assim deixando as outras empresas com medo e começam a
praticar sua autocensura, então assim a democracia aos poucos vai sendo fragilizada mesmo
sem que os cidadãos percebem mesmo estando a sua frente.
Uma das grandes ironias de como as democracias morrem é que a própria defesa da
democracia é muitas vezes usada como pretexto para a sua subversão. Aspirantes a
autocratas costumam usar crises econômicas, desastres naturais e, sobretudo,
ameaças à segurança – guerras, insurreições armadas ou ataques terroristas – para
justificar medidas antidemocráticas. (LEVISTIKY e ZIBLLAT, 2018, p. 108).

Os cidadãos se mostram mais propensos a aceitar um governo autoritário em


momentos de crise e segurança nacional, reais ou não, autoritários em potencial estão sempre
prontos a explorar crises para justificar a tomada do poder.

Capítulo 5- As grades de proteção da democracia

Os norte Americanos sempre acreditaram na sua constituição por isso acreditam que o
país tenha sido tão bem sucedido no século XIX, os freios e contra pesos de sua legislação
foram feitos para evitar autoritarismo e deu certo na maior parte do tempo, “A concentração
de poder do presidente Abraham Lincoln durante a Guerra Civil foi revertida pela Suprema
Corte depois que a guerra acabou” (LEVISTIKY e ZIBLLAT, 2018, p.113). Segundo o texto
a constituição dos Estados Unidos foi copiada por vários países inclusive na América Latina
Pós-colonial porém a maioria das repúblicas caíram em ditaduras e autoritarismo.

Apenas uma constituição bem escrita não é suficiente para garantir uma democracia
um exemplo no Brasil é de Getúlio Vargas que conseguiu ultrapassar seus 2 mandatos ficando
no poder por 15 anos, todo constituição por mais detalhada que seja não consegue prever tudo
o que pode acontecer, assim sempre deixando lacunas que serão exploradas, mas também
além de regras escritas as regras informais são importantes para manter uma sociedade
democrática unida, assim como em todos os âmbitos da nossa vida seja acadêmica ou
profissional o que mantém um ambiente regulado também são os acordos informais
estabelecidos, a exemplo no livro da constituição dos Estados Unidos ele confere como um
jogo de basquete.
O basquete de rua não é regido pelas regras estabelecidas pela NBA, NCAA ou
qualquer outra liga. Só o entendimento compartilhado do que é aceitável e do que
não é impede que elas descambem para o caos. As regras não escritas do basquete de
meia quadra são familiares a todos que o praticam (LEVISTIKY e ZIBLLAT, 2018,
p. 117).

Capítulo 7 - A Desintegração
Neste capítulo, Levitsky introduz um novo participante que teve destaque fundamental
no início da erosão das regras democráticas nos EUA.
Newt Gingrich - rejeitava as normas de cooperação de civilidade e bipartidária,
membro do Partido Republicano, lançou um método de abordagem combativa que consistia
em discursos com retórica exagerada, ofensas, etc, como - congresso corrupto, doente -,
questionava o patriotismo de seus rivais Democratas. Através de um novo comitê de ação
política, o Gopac, Gingrich e seus aliados trabalharam na difusão dessas táticas em todo o
partido. O Gopac produziu mais de 2 mil fitas de educação e treinamento, distribuídas a cada
mês para colocar os recrutas da “Revolução Republicana” de Gingrich na mesma página
retórica.
No começo dos anos 1990, Gingrich e sua equipe distribuíram memorandos para os
candidatos republicanos, instruindo-os a usar certas palavras negativas para descrever os
democratas, incluindo patético, doente, grotesco, deslealdade, contra a bandeira, contra a
família e traidores. Este foi o começo de uma mudança sísmica na política norte-americana.
Além de discursos combativos, os Republicanos adotam o sistema de “obstrução”
quando alguma lei contrária a seus interesses é pautada.
A violação de normas também ficou evidente no âmbito dos estados. Entre os casos
mais notórios está o plano de redefinição de distritos eleitorais no Texas em 2003. Segundo a
Constituição, os legislativos estaduais podem modificar os distritos congressuais para manter
distritos com população igual. Entretanto, existem normas duradouras e amplamente
compartilhadas de que a modificação dos distritos deve ocorrer uma vez a cada década, logo
após a publicação do censo. Há uma boa razão para isso: como as pessoas estão sempre se
mudando, o redesenho dos distritos eleitorais que ocorrer posteriormente em determinada
década estará baseado em números menos precisos. Embora não haja nenhum impedimento
legal para redivisões em meados de década, isso sempre foi raro.
Sob a direção de DeLay, os republicanos do Texas prepararam um plano de redesenho
distrital manipulado para redistribuir eleitores afro-americanos e latinos num pequeno grupo
de distritos democratas e, ao mesmo tempo, acrescentar eleitores republicanos em distritos de
mandatários democratas, garantindo assim sua derrota. O novo mapa deixava seis
congressistas democratas especialmente vulneráveis.
A Câmara dos Representantes do Texas exige quórum mínimo de ⅔, os membros
Democratas obstruíram a sessão viajando para outro estado onde passaram 4 dias até a câmara
retirar o projeto. Em outra sessão, viajaram para o Novo México e ficaram cerca de um mês
lá.
Com os ataques terroristas em 11 de setembro de 2001 e sua provocada histeria, levou
veículos de comunicação como a FOX NEWS a atacar congressistas Democratas os
vinculando a terroristas da Al-Qaeda.
A eleição presidencial de 2008 foi um divisor de águas na questão da intolerância
partidária. Através do ecossistema de mídia de direita – inclusive a Fox News, o canal de TV
a cabo mais assistido dos Estados Unidos –, o candidato democrata Barack Obama foi pintado
como marxista, antiamericano e secretamente muçulmano.
Em vez de introduzir uma nova era de tolerância e cooperação, a gestão de Obama foi
marcada por extremismo crescente e guerra sectária. Questionamentos da legitimidade do
presidente, que começaram com jornalistas conservadores secundários, personalidades do
rádio e comentaristas de televisão, logo foram incorporados num movimento político de
massa: o Tea Party, que começou a se organizar apenas algumas semanas após a posse de
Obama. Embora o movimento estruturasse a sua missão em termos de ideias conservadoras
tão tradicionais como governo limitado, impostos baixos e resistência à reforma da assistência
de saúde, sua oposição a Obama foi muito mais perniciosa. A diferença? O Tea Party
questionava o próprio direito do presidente de ser presidente.
Duas linhas que rompiam com as normas estabelecidas se desdobraram de maneira
consistente no discurso do Tea Party. Uma era que Barack Obama representava uma ameaça
para a nossa democracia. Poucos dias após a eleição, o congressista Paul Broun, da Geórgia,
advertiu sobre a perspectiva de implantação de uma ditadura comparável à Alemanha nazista
ou à União Soviética. Posteriormente, ele tuitou: “Sr. Presidente, o senhor não acredita na
Constituição. O senhor acredita no socialismo.” Um membro do movimento em Iowa, Joni
Ernst, que logo em seguida seria eleito para o Senado, afirmou que o “presidente Obama tinha
se tornado um ditador”.
A segunda vertente era que Barack Obama não era um “americano de verdade”.
Durante a campanha de 2008, Sarah Palin tinha usado a expressão “americanos de verdade”
para descrever seus apoiadores (uma esmagadora maioria de brancos cristãos). Isso teve
importância fundamental para a campanha do Tea Party contra Obama, na medida em que
seus seguidores salientaram reiteradamente que ele não amava o país e não compartilhava os
valores americanos.
Se o Tea Party repetiu à exaustão que Barack Obama não amava a nação, o
“movimento birther” foi ainda mais longe, pondo em dúvida se ele havia nascido nos Estados
Unidos – e, consequentemente, questionando o seu direito constitucional de ocupar a
Presidência. A ideia de que Obama não fosse nascido no país circulou pela primeira vez na
blogosfera durante a sua campanha ao Senado em 2004 e voltou à fossa em 2008.
Os Estados Unidos passaram pela gestão Obama por 3 graves crises que mostraram
como as normas de reserva tinham sido desgastadas:
Obama ficou refém do Congresso (controlado pelos Republicanos) por meses em que
se recusaram a aprovar o aumento no limite de endividamento do governo gerando bilhões em
prejuízos e a agência de risco Standard & Poor’s rebaixou a classificação de crédito dos
Estados Unidos pela primeira vez na história.
Após assumir a presidência, Obama passou a sofrer boicotes dos Republicanos na
aprovação de legislações enviadas por ele, o forçando a emitir ordens executivas que é uma
espécie de acordo, inclusive emitiu ordem executiva sobre o acordo nuclear do Irã levando
Republicanos enfurecidos a enviar uma carta aos líderes Iranianos “desautorizando” as
medidas de Obama.
O terceiro momento de violação de normas foi a recusa do Senado, em 2016, de
aceitar a indicação presidencial de Merrick Garland para a Suprema Corte. É importante
repetir que nenhuma vez desde a Reconstrução um presidente teve a oportunidade de
preencher uma vaga na Suprema Corte recusada ao nomear alguém antes da eleição de seu
sucessor.
O movimento pelos direitos civis, que culminou com a Lei dos Direitos Civis em 1964
e a Lei do Direito de Voto em 1965, deu fim a esse arranjo partidário. Não só ele finalmente
democratizou o Sul, emancipando os negros e acabando com o domínio de um único partido,
mas acelerou um realinhamento em longo prazo do sistema partidário cujas consequências
estão se desdobrando ainda hoje.
O realinhamento foi muito além da oposição liberal versus conservadores. As bases
sociais, étnicas e culturais da filiação partidária também mudaram dramaticamente, dando
origem a partidos que representam não apenas abordagens políticas distintas, mas
comunidades, culturas e valores diferentes.
A partir dos anos 1960, os Estados Unidos experimentaram uma onda maciça de
imigração, inicialmente da América Latina e, posteriormente, da Ásia, a qual alterou de forma
substancial o mapa demográfico do país. Juntamente com a emancipação negra, a imigração
transformou os partidos políticos norte-americanos. Esses novos eleitores apoiaram
desproporcionalmente o Partido Democrata que se tornava cada vez mais, um partido de
minorias étnicas.
Em seu ensaio de 1964 “The Paranoid Style in American Politics”, o historiador
Richard Hofstadter, explica que há uma percepção por parte da população que o “país em que
cresceram está escapando entre os dedos”, ameaçados pela rápida transformação do que
acreditam ser a “verdadeira américa”.
Se a definição de “verdadeiros americanos” for restrita a nativos, falantes de inglês,
brancos e cristãos, então fica fácil entender por que os “verdadeiros americanos” podem ver a
si mesmos como em declínio. A percepção entre muitos republicanos simpatizantes do Tea
Party de que o país está desaparecendo nos ajuda a compreender o apelo de slogans como
“Take Our Country Back” (Retomar nosso país) e “Make America Great Again” (Tornar a
América grande de novo). O perigo de tais apelos é que caracterizar os democratas como
americanos não verdadeiros constitui um verdadeiro ataque frontal contra a tolerância mútua.
Capítulo 8 - Trump contra as grades de proteção
Chamou a mídia de “inimiga do povo americano”, questionou a legitimidade de juízes
e ameaçou cortar o financiamento federal de cidades de grande importância.
Donald Trump exibiu claros instintos autoritários durante o seu primeiro ano de
mandato. No capítulo 4, apresentamos três estratégias através das quais os autoritários eleitos
buscam consolidar o poder: capturar os árbitros, tirar da partida importantes jogadores do time
adversário e reescrever as regras para inverter a situação de jogo contra os oponentes. Trump
tentou todas as três.
Trump tentou punir ou expurgar agências que atuavam com independência, demitiu o
diretor do FBI, depois que ficou claro que este não podia ser pressionado a proteger sua
administração e estava ampliando a investigação sobre a Rússia.
Afastou um procurador federal, depois que investigações sobre lavagem de dinheiro
ameaçavam alcançar o círculo íntimo de Trump.
O presidente fez críticas indiretas ao Judiciário em agosto de 2017, ao perdoar o
controverso ex-xerife Joe Arpaio, do Arizona, condenado por violar uma ordem da corte
federal que o impedia de praticar abordagens por perfil racial. Arpaio era um aliado político e
um herói para muitos apoiadores anti-imigrantes de Trump.
Trump atacava deliberadamente os veículos de mídia como o New York Times e a
CNN, acusando-os de estarem distribuindo “fake news” e conspirando contra ele e familiares,
chamou a mídia de “inimiga do povo americano”.
Talvez a iniciativa mais antidemocrática já empreendida pela administração Trump
tenha sido a criação da Comissão Presidencial de Aconselhamento sobre Integridade Eleitoral,
presidida pelo vice-presidente Mike Pence, mas dirigida pelo vice-presidente da comissão,
Kris Kobach. Para compreender seu impacto potencial, lembrem-se de que a Lei dos Direitos
Civis e a Lei do Direito de Voto incitaram uma forte mudança na identificação partidária: o
Partido Democrata tornou-se o principal representante de eleitores minoritários e da primeira
e segunda gerações de imigrantes eleitores, enquanto os eleitores do GOP permaneceram
esmagadoramente brancos. Como a fração minoritária do eleitorado está crescendo, essas
mudanças favorecem os democratas, uma percepção que foi fortalecida com a vitória de
Barack Obama na eleição de 2008, na qual a taxa de comparecimento das minorias foi
incomumente alta.
A pressão por leis de identificação do eleitor se baseava numa informação falsa: de
que fraudes eleitorais eram disseminadas nos Estados Unidos. Todos os estudos respeitáveis
concluíram que os níveis desse tipo de fraude no país eram baixos.
As normas são as grades flexíveis de proteção da democracia; quando elas param de
funcionar, a zona de comportamentos políticos aceitáveis se expande, dando origem a
discursos e ações que podem pôr a democracia em perigo. Comportamentos que outrora
foram considerados impensáveis na política norte-americana estão se tornando pensáveis.
Mesmo que Donald Trump não ponha abaixo as grades de proteção da nossa democracia
constitucional, ele aumentou a probabilidade de que um futuro presidente o faça.
Capítulo 9 - Salvando a democracia
“... quando a democracia norte-americana funcionou, ela se baseou em duas normas
que nós muitas vezes tomamos como naturais – tolerância mútua e reserva institucional.
Tratar rivais como concorrentes legítimos e subutilizar prerrogativas institucionais próprias no
espírito do jogo limpo são regras não escritas na Constituição dos Estados Unidos. Sem elas,
contudo, nosso sistema de freios e contrapesos não vai operar como esperamos”.
Levitsky rechaça a ideia de que os Democratas devem lutar como os Republicanos,
especificamente sobre quando os Democratas tentaram evitar a posse de Trump.
“A lição é essa: onde existem canais institucionais, os grupos de oposição devem usá-
los”.
Conclui especificando que as normas democráticas devem ser estendidas à toda a
sociedade Norte Americana que é tão diversificada, hoje é preciso fazer com que essas
normas funcionem em uma era de igualdade racial e de diversidade étnica. Poucas sociedades
conseguiram ser multirraciais e genuinamente democráticas. Esse é o nosso desafio. Se o
respondermos de maneira satisfatória, a América será sem dúvida excepcional.

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