Cyberempatia
Cyberempatia
Cyberempatia
Araraquara
2023
Fernanda Issa de Barros Farhat
Alexandre Jollien
AGRADECIMENTOS
A todas e todos mencionados, recebam minha gratidão, com todo meu coração!
Ser “moral” implica pensar nos outros, em qualquer outro na humanidade…
Ser “moral” implica ter vontade: querer e raciocinar além do próprio eu…
Ser “moral”, implica, às vezes, perder vantagens imediatas para si em prol de outros
que nunca conheceremos…
Às vezes, implica até em sermos revolucionários, sermos contrários às leis que nos humilham,
às leis que nos tornam submissos, sem dignidade…”
Kant.
RESUMO
We understand the importance of the internet in people's lives and the positive characteristics
that it provides. However, besides the accomplishments from the virtual world, many
coexistence problems are present on this virtual world, causing a lot of suffering to people. The
violence exposure presents itself more extensively to this subject, taking into account the
anonymity, the durability and the possibility of spreading these contents, considerably
increasing this pain. Obviously, such problems did not start because of this mean of
communication but migrated to this space. From this perspective, the suffering is less perceived
once it’s necessary a higher cognitive effort to acknowledge the problem. Therefore, how to
make virtual relations more sensible? Could empathy be a potentially effective factor for these
situations? We will be facing a new concept – cyberempathy. From this concern came our
research problem: Have teenagers been showing cyberempathy online? To answer this
question, this investigation had 3 objectives: a) to verify the situations where this feeling is
more or less evident; b) to verify if there are any differences between girls and boys
cyberempathy’s score; c) to verify if there are any differences in cyberempathy scores among
teenagers from 11 to 14 and 15 to 17 years old. This is an exploratory research with descriptive
nature and can be classified as being field research. It was used an initial sample of 3471
teenagers split among 1992 public school students and 1479 private school students from the
state of São Paulo. All students are enrolled on the final years of elementary school, with ages
varying from 11 to 17 years old. To gather the information, an online survey questionnaire was
used through Google Forms platform. The creation of the procedure was done through two
other existing procedures. One of them was created in the beginning of 2020 by members of
GEPEM and was about feelings and actions that would enable a virtual interaction between
teenagers during the pandemic. Another resource used to generate the items about
cyberempathy was the Multidimensional Empathy Scale (RICHAUD; LEMOS; OUROS,
2013), that were also applied in Argentina by Moreno, Segatore and Tabulo (2019), based on
the social cognitive neuroscience model from Decety and Jackson (2004). The part which this
investigation refers to consisted of closed questions, divided into two sections: a) participants
profile; b) cyberempathy items. The results show that teenagers empathizes more with known
people than with strangers; The cognitive dimension is key to be able to imagine one’s feelings
behind a screen. The results also showed that girls are more empathetic than boys and there
was no difference on empathy levels between ages (11 and 14) and (15 to 17). Therefore, with
the pedagogical implications of this research, it is essential that teachers learn in their education
to utilize the school space as a potential place to develop cyberempathy in the youth.
Figura 1 - Pesquisas do GEPEM, coordenadas pela Prof. Dra. Luciene Tognetta (2019 – 2023)
84
Figura 2 - Eixos de ações do Projeto FIS-FCC 86
LISTA DE QUADROS
MEMORIAL ............................................................................................................................ 18
1 Introdução ............................................................................................................................. 24
2 As relações virtuais e suas implicações................................................................................ 28
2.1 Encantos e desencantos nas relações interpessoais virtuais ................................................................... 29
2.1.1 O Brasil na internet e a pandemia ....................................................................................................... 32
2.1.2 Isolamento Social e a Saúde ................................................................................................................ 34
2.1.3 Doença nas pessoas e nas informações: a infodemia .......................................................................... 35
2.1.4 O limite nas redes interpessoais virtuais ............................................................................................. 40
2.2 Os problemas vividos na internet ........................................................................................................... 44
2.2.1 Fake News ........................................................................................................................................... 45
2.2.2 Shaming e linchamento virtual ............................................................................................................ 46
2.2.3 Cancelamento virtual .......................................................................................................................... 47
2.2.4 Discurso de ódio.................................................................................................................................. 49
2.2.5 Cyberteasing ....................................................................................................................................... 49
2.2.6 Cyberstalking ...................................................................................................................................... 50
2.2.7 Cybergrooming ................................................................................................................................... 50
2.2.8 Sexting ................................................................................................................................................ 51
2.2.9 Cyberbullying ..................................................................................................................................... 54
2.3 Espaços on-line podem ser considerados “terra sem LEI?” ................................................................... 57
2.3.1 O papel das instituições escolares ....................................................................................................... 61
3 A empatia: olhar o mundo pelos olhos do outro ................................................................. 64
3.1. Um sentimento que traz luz às relações ................................................................................................ 67
3.1.1 E do ponto de vista da Epistemologia Genética Piagetiana, como compreender a empatia? .............. 75
3.1.2 O que pode impedir que olhemos o outro pelos olhos dele... .............................................................. 76
4 Metodologia........................................................................................................................... 82
4.1 Os objetivos da pesquisa ........................................................................................................................ 84
4.2 Revisão bibliográfica ............................................................................................................................. 87
4.3 Metodologia e amostra ........................................................................................................................... 89
4.4 O instrumento de investigação ............................................................................................................... 90
5 Resultados e Discussão ......................................................................................................... 93
5.1 O perfil dos estudantes ........................................................................................................................... 94
5.2 Os resultados quanto à cyberempatia ..................................................................................................... 94
5.3 Limitações e indicações para pesquisas futuras ................................................................................... 110
6 Considerações finais e as implicações pedagógicas .......................................................... 112
6.1 Objetivos do desenvolvimento sustentável .......................................................................................... 116
6.2. Por fim.... ............................................................................................................................................ 117
Referências ............................................................................................................................. 119
ANEXO 1 – Lei 12.965/2014 ................................................................................................. 133
ANEXO 2 – Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital ................................. 142
ANEXO 3 – INSTITUIÇÕES PARA PEDIDOS DE AJUDA ............................................. 151
APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE PESQUISA ............................................................ 154
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) 160
APÊNDICE C – TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TALE) .... 162
APÊNDICE D: Evaluación multidimensional de la empatía para niños ........................... 164
APÊNDICE E: Cuestionario Multidimensional de Conductas Prosociales ....................... 166
18
MEMORIAL
Escrever sobre a nossa história, falarmos de nós mesmos é um tanto difícil. E é difícil
porque muitos sentimentos, bons e ruins, vão tomando conta. Algumas lembranças doces, mas
outras que gostaríamos de deixar para trás.
Sou a filha mais velha de António Carlos e Solange. Meu pai um cara simples e muito
trabalhador. Ele me ensinou que batalhar pelo que se deseja é um valor. Minha mãe, minha
vida, quando ficou grávida, largou a faculdade de psicologia para se dedicar a cuidar de mim e
depois das minhas irmãs. Uma vida abdicando de si para se dedicar às filhas. Minha mãe é
minha base, o lugar onde eu encontro paz, amor, força e segurança. Minha mãe é minha guia,
a mulher mais corajosa que eu conheço!
Fui criada, também, pelos meus avós, Raul e Claudette. Vivia na casa deles! Com
certeza, viver com eles foi uma das melhores coisas que eu poderia ter tido na vida.
Minha avó sempre dedicada aos netos, fazia aquelas comidas de “vó”. Ela me ensinou
a ter fé, a rezar e a acreditar em Deus!
Meu avô, o grande amor da minha vida, foi tudo para mim, quase impossível colocar
em palavras nossa relação e tudo o que vivemos. Ele me ensinou a ser forte, a ser única!
Entrei na escola aos dois anos de idade, uma escola que ficava pertinho da casa dos
meus avós. Aliás, todas as escolas foram perto, minha avó fazia questão, porque adorava me
pegar na escola e depois dar o almoço. Na época, meu avô achava um absurdo eu ir à escola
tão pequena, era só minha mãe me deixar que meu avô me buscava para passar a tarde com ele.
Ficava com ele durante a tarde toda, deitada no sofá. Minha mãe ria, sabia que não ia adiantar
falar nada para ele. Ele era autêntico e não se importava para a opinião de ninguém (rs).
Bom, ao concluir a educação infantil, fui para outro colégio, Rio Branco. Tenho muitas
lembranças boas daquela época, amizades que perduram até hoje. Mas, também, sofri muito lá.
Eu sofri bullying. Tinha 9 anos. Agora essa é a parte que eu, até hoje, não gosto de lembrar,
mas entendo que se faz necessário, e é por isso que eu me dedico tanto a estudar as questões de
convivência no âmbito escolar. Não acaso eu estou aqui!
Eu fazia parte de um grupo de meninas, queria muito ser amiga delas. Mas era uma
criança frágil, me submetia para ter a amizade delas. Elas me excluíam, falavam mal de mim
19
para os outros colegas da sala, riam de mim, escreviam meu nome no banheiro, me
ridicularizando. Lembro o que escreviam, mas prefiro não dizer.
Isso durou bastante tempo, até que um dia eu tive coragem de contar para minha mãe e
minha madrinha. Elas estavam em casa quando cheguei e disse que queria conversar. Cada uma
em uma poltrona, e eu sentei no chão. Disse: “mãe, eu não quero mais ir à escola, porque fico
muito triste lá. As meninas riem de mim, fazem com que eu me sinta muito mal”.
Depois desse dia, conseguia ir à escola um pouco melhor, talvez mais forte. Até que um
dia uma das meninas, que era a autora principal, foi me ridiculizar na frente da sala toda. Fui
tomada por uma raiva tão grande que não me contive! Ainda bem! Levantei do meu lugar, fui
em direção a ela e dei um tapa na cara dela. Confesso que foi um alívio!
Eu ia mais segura para a escola, comecei a ser feliz naquele lugar. Embora até hoje,
quando passo lá, lembro disso que passei, e me dá um “calafrio”.
Fiquei mais alguns uns anos nesse colégio, no oitavo ano mudei para fazer o ensino
médio em outra escola, também bem pertinho da casa dos meus avós. Foi uma época incrível!
Eu sempre fui uma aluna muito esforçada e dedicada! Aquela que tinha os cadernos
impecáveis, fazia todas as lições, participava das aulas com atenção.
Mas....ao terminar o ensino médio eu não tinha a menor ideia da carreira que queria
seguir. E percorri alguns caminhos, até encontrar minha missão!
Fiz um tempo de rádio e TV, teatro e teatro musical. Nada fazia sentido para mim.
Um dia minha mãe chegou até mim e disse: “Fernanda, você vai se inscrever em
qualquer curso e vai se formar”.
Assim que cheguei em casa fui até minha mãe e falei: “Mãe, encontrei minha
profissão!”. Ela levantou os braços e disse: “graças a Deus!” (rs).
Como dito, comecei como estagiária, e desde que iniciei essa função me questionava
acerca das intervenções que eram realizadas na escola, e ficava me perguntando se haveriam
outras formas de falar, atuar com os alunos, que os ajudassem a se ver como valor, bem como
para que pudessem ter ferramentas para agir bem e estabelecer uma sensação de satisfação
pessoal.
Um tempo depois, não muito longo, assumi um grupo, ou seja, virei professora titular.
Esse grupo era considerado difícil, era uma sala com crianças de cinco anos de idade.
Eu quase enlouqueci (rs). Mas todos os dias, pensava o que podia fazer para melhorar
a qualidade daquelas relações.
O trabalho com esse grupo foi intenso e lindo. Aos poucos, as crianças começaram a
serem mais respeitosas umas com as outras, os vínculos foram fortalecidos, eles estavam mais
interessados nas propostas, e as famílias mais próximas.
Ter assumido uma sala tão desafiadora, no começo da minha carreira, foi um grande
privilégio. Até hoje tenho contato com algumas mães, e minhas alunas e alunos já têm
Instagram (rs).
Passei por outras escolas como professora e coordenadora. Todos os lugares que passei
e pessoas que encontrei foram fundamentais para meu crescimento.
E não parei mais de estudar esse tema, fiz inúmeros cursos, entrei na pós-graduação,
GEPEM 2 e GEPEM 1.
A Soraia Campos, falo que ela é minha madrinha, foi um anjo na minha vida!
21
Logo depois, em 2018, encontrei meu padrinho, o Raul, que se tornou meu irmão de
alma. Entrei para o “Supergrupo” e comecei a dar formações. Como eu adoro isso!
Compartilhar, dividir, trocar saberes e ter a oportunidade de multiplicar possibilidades.
Afinal, meu desejo era poder contribuir com as escolas, mostrar que esses lugares são
tão importantes para a construção da identidade que é necessário que pensemos todos os dias
sobre as relações que se estabelecem nesse espaço, que pensemos todos os dias acerca do que
podemos fazer para que essas relações tenham mais qualidade. Para que nossas crianças e
jovens sejam mais felizes.
Em 2019, prestei o mestrado pela primeira vez, mas não passei. Meu currículo
acadêmico foi reprovado.
Durante um ano investi muito para que pudesse melhorar esse currículo e prestar
novamente.
Em 2020, prestei e passei! Mas, devido à COVID-19 o processo foi cancelado. Eu fiquei
triste, mas acredito que tudo na vida tem sua hora certa, e eu não ia desistir.
Em 2021, prestei pela terceira vez, agora sim! Entrei no mestrado! Foi uma emoção e
novamente chorei de alegria.
Em 2021, fui convidada pela Prof. Dra. Adriana de Melo Ramos a ministrar aulas no
curso de pós-graduação “As Relações Interpessoais na Escola: das Competências
Socioemocionais à Personalidade Ética”, no Instituto Superior de Educação Vera Cruz, na
cidade de São Paulo/SP, na disciplina de “Comunicação Construtiva”.
Em 2022, a Prof. Dra. Adriana de Melo Ramos convidou-me também a dar aulas na
graduação, pelo mesmo Instituto.
A educação tem sentido porque mulheres e homens aprenderam que é aprendendo que se
fazem e refazem, porque mulheres e homens se puderam assumir como seres capazes de
saber.”
Paulo Freire
24
1 INTRODUÇÃO
1 Como veremos na revisão bibliográfica realizada para esta pesquisa, constatamos que a escrita do termo “cyber”
que se refere às relações virtuais pode divergir entre diferentes investigações por opção dos autores, ou mesmo por
traduções ou manutenção do termo em diferentes línguas. Por opção, para que pudéssemos manter um padrão entre
as pesquisas do grupo, considerando inclusive as que já foram publicadas, resolvemos manter o termo “cyber”
agregado a agressões, mesmo sabendo que estamos utilizando uma terminologia derivada de outra língua.
2 Da mesma forma, pelas razões descritas anteriormente, optamos por manter “cyberempatia”.
26
Diante disso, será que os nossos jovens têm conseguido, em sua percepção, demonstrar
empatia na convivência virtual? Nossos objetivos contribuirão para responder a este problema
de pesquisa.
Para responder tais indagações, esta investigação contou com 3 objetivos:
1) verificar as situações de maior e menor evidência do sentimento de cyberempatia
entre os adolescentes.
2) identificar se existe diferença nos scores de cyberempatia demonstrados por meninas
e meninos na convivência virtual;
3) averiguar se existe diferença entre os scores de cyberempatia demonstrados por
adolescentes entre 11 a 14 anos e 15 a 17 anos.
Dispomos de uma amostra inicial de 3.471 adolescentes, divididos em 1.992 estudantes
de escolas públicas e 1.479 alunos da rede privada do estado de São Paulo. Todos os alunos
fazem parte do Ensino Fundamental II, com idades entre 11 a 17 anos.
Temos por hipótese que a empatia pode atravessar as telinhas. Por meio da condição
cognitiva somos capazes de imaginar o que o outro pode vir a sentir, mesmo que não vejamos
esse outro, tampouco o conheçamos. Portanto, acreditamos que é possível que as relações
virtuais sejam mais sensíveis, uma vez que podemos nos sensibilizar por quem está do outro
lado da tela.
A internet se faz cada vez mais presente no cotidiano, cada vez mais cedo, apresentando
um significativo aumento dos problemas vividos nesse espaço, especialmente pela sua distância
física e emocional. Diante desse pressuposto, consideramos imprescindível pensar como nossas
pesquisas podem contribuir para que as relações virtuais sejam mais respeitosas, sensíveis,
generosas por meio do desenvolvimento da empatia.
28
As questões que merecem reflexão na temática da vida virtual são inúmeras, porém
abordaremos neste capítulo algo extremamente relevante e urgente que merece nosso esforço,
para que possamos compreender com maior profundidade não apenas os problemas que existem
no âmbito virtual, suas leis, a hiperconectividade, o papel das instituições escolares na formação
dos estudantes, mas, sobretudo, como esse cyberespaço pode vir a ser um lugar mais justo,
respeitoso e empático.
As redes sociais virtuais são palco de conexões diretas que expandem o quadro
relacional entre os pares, e, como as compreendemos, são parte indissociável da nossa
convivência social. O uso generalizado – e a eficácia comunicativa de dispositivos digitais
como celulares, computadores, smartphones, tablets – representa uma nova contribuição de
estímulos positivos na vida social dos jovens, denominado como cyberconvivência (Ortega et
al., 2012).
Segundo Deleuze (1996), o ambiente virtual se mostra como um nó de forças que advém
de diversas situações. Nas palavras do autor “as multiplicidades se expressam a partir de um
rizoma”, ou seja, o mundo virtual está em constante transformação, em direção a todo o
movimento que acontece fora das telinhas. Portanto, refere-se não a um objeto de saber, mas
sim de um eterno experimentar. Isso, porque o cyberespaço, segundo Lévy (2000) é um novo
meio de comunicação que aparece por meio da interconexão global de computadores e que
oferece um universo oceânico de informações que advém desse espaço. O autor elucida que
todo o conjunto de técnicas, sejam elas materiais ou intelectuais, de condutas, práticas e
pensamentos e de valores se desenvolvem a partir e juntamente com o crescimento desse
espaço.
Com a eclosão da internet, as interações sociais intercedidas por dispositivos
tecnológicos conceberam espaços peculiares em que novos costumes e hábitos se formaram,
lançando os adolescentes a um “novo habitat” (Prioste, 2020). Nele, os adolescentes
estabelecem contatos com as pessoas que fazem parte do seu círculo social, como amigos,
familiares, parentes próximos e não tão próximos.
Neste novo oceano, os jovens podem se expressar mais livremente e podem fazer isso
por meio de diferentes meios de comunicação ou de representação: mensagens, música, vídeo,
rimas, memes, fotos, postagens etc. É assim, quando expressam suas preferências na internet,
que encontram aqueles que têm gostos semelhantes e ampliam e fortalecem suas relações.
Assim, o cyberespaço favorece as conexões, as coordenações, as sinergias entre as inteligências
30
físicas – impactam a vida; cada um tem suas especificidades, mas eles são indissociáveis,
porque as ações realizadas no plano virtual interferem na vida presencial e vice-versa. Assim,
ações impensadas podem acontecer também nesse espaço.
Para Bauman (1997), tais formas de agir são permeadas em tempos pós-modernos pelo
medo do vazio, e esse medo é muito forte. Somos obrigados a viver com acontecimentos que
não entendemos, e isso pode nos levar a reagir impensadamente; trata-se do que costumamos
chamar de a “casca dura” do ser humano. Por isso, precisamos de um código de ética rigoroso
a fim de fortalecer a capacidade dos seres humanos de viver juntos, mesmo que pelas telas.
Na tentativa de explicar as razões pelas quais os indivíduos agem sem considerar o
outro, Bauman (1997) afirma que a pós-modernidade é uma modernidade sem ilusões. Tais
ilusões referem-se ao fato de que “a confusão do mundo humano não passa de estado temporário
e reparável, a ser substituído, mais cedo ou mais tarde, pelo domínio ordenado e sistemático da
razão” (Bauman, 1997, p. 51). Portanto, há um estado de provisoriedade nas relações humanas
que se estendem para as relações virtuais e presenciais. Complementa que o mundo pós-
moderno é um mundo em que podem acontecer situações que não apresentem nenhuma razão
que as façam necessárias, considerando que as pessoas podem ter comportamentos que
provavelmente não passariam no “teste de um propósito calculável” (Bauman, 1997, p. 52).
Podemos entender que as relações humanas são resultado da necessidade de estarmos
juntos, ou seja, da necessidade de suprir essa carência quase insuportável que faz com que
estejamos intensamente conectados, mesmo que as relações estabelecidas possam advir de
“comunicações superficiais, passageiras, intempestivas” (La Taille, 2009, p. 76).
Diante disso, essa carência se potencializou a partir do momento pandêmico que se
instaurou no ano de 2020. Devido ao isolamento social, as pessoas foram privadas de estarem
frente a frente umas com as outras, e o único meio de aproximação entre os seres humanos foi
possível por meio das telas dos computadores e celulares.
32
escolares. Mais de 90%, (especificamente 93%) dos gestores escolares do Brasil relataram esse
problema, de acordo com os dados da pesquisa Tic Educação 2020 (Edição Covid-19 –
Metodologia Adaptada).
3 O núcleo é uma “iniciativa colaborativa que produz, traduz e dissemina o conhecimento científico sobre o
desenvolvimento na primeira infância, com o intuito de fortalecer e qualificar programas e políticas públicas que
impactem positivamente crianças brasileiras em situação de vulnerabilidade social” (NCPI, 2020, p. 3). As
organizações que o compõem são: Fundação Bernard van Leer, Center on the Developing Child e David
Rockefeller Center for Latin American Studies, ambos da Universidade de Harvard, Fundação Maria Cecilia Souto
Vidigal, Insper e Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
35
Com base no que diz a OMS, Zattar (2020) apresenta a definição de infodemia como a
propagação de um grande volume de informações sobre um tema; as características da
infodemia são basicamente quantitativas. O perigo dessa propagação desmesurada é
exatamente a divulgação de informações falsas ou imprecisas que confundem e dificultam o
acesso às fontes realmente confiáveis.
A confusão criada pela desinformação não é uma novidade dos tempos
contemporâneos. Ainda conforme Zattar (2020), o termo disinformation apareceu durante os
anos da Guerra Fria, mas com a generalização do uso da internet qualquer pessoa pode criar e
disseminar conteúdos falsos.
No ano de 2017, aconteceu uma situação devastadora no Brasil: inúmeros macacos
foram mortos em diversos lugares do Brasil após uma fake news veicular a notícia de que eles
eram os transmissores da febre amarela. O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-
Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), precisou desmentir a informação e
36
pediu em seu site: “Não matem os macacos! Eles são aliados da saúde no combate à febre
amarela” (Czezacki, 2017).
O psiquiatra Claudio Martins afirma que há uma sensação de euforia gerada pelas fakes
news, a sensação de saber de uma “novidade”. É essa sensação que cria o desejo de contar o
que se sabe para outras pessoas, mesmo sem saber se o que está sendo disseminado é ou não
verdadeiro. A sensação agradável é ainda mais intensa quando a fake news confirma opiniões,
ideias, crenças, e juízos pessoais, o que gera identificação e aumenta o desejo de compartilhar.
Por outro lado, com o isolamento social a internet possibilitou que de alguma maneira
a “normalidade” fosse restabelecida, evitando vários efeitos que o distanciamento pudesse
gerar, como solidão, depressão, possíveis tentativas de suicídio etc.
As pesquisas mencionadas permitem concluir que o número de internautas cresceu
muito durante a pandemia e que o tempo de permanência nas redes também aumentou, levando
a uma nova realidade social: a hiperconectividade.
37
e de se sentirem aceitos pelas pessoas, especialmente por aqueles que são referências para si.
Seria justamente esse reconhecimento que pode proporcionar um conceito novo e positivo
desse “eu” que está em constante desenvolvimento. Ainda de acordo com a autora, o
pensamento do adolescente está em constante cinesia, ou seja, em vir a ser e que favorecerá a
ele mesmo uma espécie de “acabamento”, como explicita a autora.
Por conseguinte, essas buscas e aspirações, metaforicamente, são como foguetes que
acometem os jovens no desejo de serem melhores e constituírem uma representação simbólica
de como se veem nos locais de convivência. Ao estabelecer esse pressuposto com as relações
interpessoais virtuais, esses objetivos podem levar os adolescentes a idealizarem mais do que
simplesmente a representação de si, podem inclusive levar à construção de imagens irreais.
De acordo com Bozza (2021), a aceitação digital é um ponto essencial para os jovens.
Por meio de curtidas, postagens e compartilhamentos eles “apresentam” aos outros suas
características pessoais, além de apresentarem aspectos relacionados à sua personalidade. Essas
representações serão interpretadas pelos usuários, mas nem sempre serão condizentes com a
realidade. A construção da autoimagem permeada por ferramentas tecnológicas tem como fruto
a potencialização de um fenômeno específico da modernidade, o cuidado com o limite, a
intimidade.
40
Para a filósofa alemã Hannah Arendt (1972), a sociedade moderna eliminou a diferença
entre o que é público e o que é privado, ou seja, não há mais distinção entre o que pode ser
compartilhado e o que precisa ser resguardado. O privado vai se tornando público, e crianças e
jovens perdem o espaço seguro tão necessário para que desenvolvam sua intimidade. Então,
qual é o limite a ser considerado no ambiente virtual?
La Taille (2000) abarca três grandes dimensões quando analisa o conceito de limite: i)
pode representar aquilo que precisa ser transposto, tanto do ponto de vista para alcançar a tão
almejada maturidade, quanto para caminhar em direção à excelência nos campos das nossas
ações; ii) pode representar aquilo que precisa ser respeitado e não mais atravessado, seja para
que se consiga viver bem ou para que outro assim o viva; e iii) pode determinar a fronteira da
intimidade, ou seja, o domínio das outras pessoas sobre nossa intimidade.
As situações de agressão virtual são exemplos claros de rompimento de limites, pois é
suspensa a preservação da intimidade, e a dignidade humana é desrespeitada.
Segundo Dempsey et al. (2011), a agressão virtual visa a provocar danos intencionais a
uma vítima, ridicularizando-a, ameaçando-a ou humilhando-a. Mas também acontecem
agressões bilaterais, quando há trocas de ofensas entre os usuários. Grigg (2010) acrescenta
que agressões virtuais são comportamentos identificados pelas vítimas como hostis, aviltantes
e maléficos.
Existem inúmeras formas de agressão virtual e, com o passar do tempo, vão aparecendo
novas formas no mundo virtual.
Pesquisas realizadas por Garaigordobil, et al. (2020) mostram que vítimas de agressão
no ambiente virtual podem apresentar sentimentos de solidão, tristeza, insegurança, depressão,
ideação suicida – alguns, inclusive, cometem suicídio –, medo, baixa autoestima, fobias,
problemas de desempenho acadêmico, frustação, irritabilidade, desamparo, distúrbios do sono,
raiva. Esses sentimentos costumam se manter presentes a médio e longo prazo.
Com relação a quem pratica as cyberagressões, os pesquisadores relatam que podem
apresentar instabilidade emocional, resistência em seguir normas, agressividade, ingestão de
álcool e drogas, sentimentos de solidão, dependência de tecnologias, pessimismo. Em geral,
são moralmente desengajados, ou seja, não interpretam suas ações como imorais (Bandura
et.al., 1996).
O impacto das agressões virtuais torna-se ainda mais grave para a vida das vítimas
devido a sensação de anonimato, ou seja, os atos violentos praticados nas redes não são
facilmente identificados, o que impede que o alvo apresente alguma ação contra seu agressor.
O anonimato gera uma sensação de poder e diminui muito a possibilidade de o autor enfrentar
as consequências dos seus atos. (Avilés, 2013). Esse fenômeno – anonimato – pode facilitar as
agressões. O sentimento de “não sabem quem eu sou” pode favorecer e encorajar as pessoas a
cometerem ações que, se estas acontecem presencialmente, talvez não a incumbissem (Belsey,
2010). Este sentimento de invisibilidade pode favorecer comportamentos que gerem a outrem
angústia, raiva, ódio, tristeza (Mason, 2008).
Bozza (2016) adverte sobre outros problemas potencializadores para as vítimas de
agressão virtual: um é a permanência do conteúdo, tanto do ponto de vista do espaço como do
tempo, pois mesmo deletados do cyberespaço, outros usuários podem copiá-lo, aumentando
muito o sentimento de angústia das vítimas. Além disso, há a capacidade de disseminação e a
velocidade dos conteúdos postados. Bozza (2016) aponta que é impossível mensurar a
velocidade do compartilhamento nos espaços on-line, visto que tais publicações podem
alcançar rapidamente múltiplos dispositivos móveis, como celulares, notebooks etc.
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O alvo sofre e sente as agressões intensamente, mas elas podem passar despercebidas
para as pessoas ao redor num primeiro momento, já que os prejuízos são emocionais. Além
disso, a possibilidade da propagação de conteúdos causa um sofrimento constante. Uma vez
postadas, as agressões virtuais se perdem no espaço on-line, não estão mais sob o controle de
ninguém e, independentemente de quem seja o destinatário, não é possível saber quem a verá
ou compartilhará. A esse espectador desconhecido, Boyd (2010) define como “audiência
invisível”.
O fato é que a literatura já tem nomeado diferentes formas de cyberagressões e suas
características. Passemos a elas.
44
Ademais, existem as deepfakes, que se referem a vídeos falsos, criados por meio de
inteligência artificial, de pessoas públicas, falando ou agindo de maneira falaciosa.
O objetivo das fake news é influenciar os internautas, manipulando sua compreensão
dos fatos e seus sentimentos em relação a acontecimentos, pessoas e ideias (Bozza, 2016).
Inúmeros cientistas, pesquisadores e profissionais da saúde se dedicaram
veementemente e lutaram bravamente em busca de respostas sobre a Covid-19, buscaram
compreender esse vírus e, principalmente, os tratamentos para a doença. Contudo, uma outra
“força”, essa virtual, também lutou para disputar espaço com as conquistas e conhecimentos
46
Segundo Silva (2021), a cultura do cancelamento caracteriza-se por expor alguém nas
redes sociais, e a posteriori esse indivíduo passa a ser rechaçado publicamente. O cancelamento
pode ser temporário ou pode durar muito tempo. O objetivo é anular, eliminar, excluir o
indivíduo das relações virtuais.
Uma das participantes da 21ª edição do reality show Big Brother Brasil, a rapper Karol
Conká, foi eliminada com 99,17% dos votos do público. Após sua saída, a cantora perdeu
contratos publicitários, seus shows foram cancelados e ela chegou a receber ameaças de morte.
A participante foi acusada, durante sua permanência no programa, de pressão
psicológica sobre alguns participantes do programa. Dentro do programa ela era considerada
uma das peças principais do grupo classificado como “gabinete do ódio”.
Suas condutas feriram princípios que sustentam a dignidade humana, ela demonstrou
desrespeito, ausência de compaixão pelo estado emocional do outro e falta de generosidade.
Suas ações foram compreendidas como desrespeitosas na `vida real’ e, justamente por isso, foi
cancelada.
Nas palavras dela: “Me sinto uma coisa, como se fosse um negócio que as pessoas jogam
para lá e para cá e tiram suas próprias conclusões”, afirmou Karol Conká numa entrevista dada
ao youtuber Whindersson Nunes. A curitibana relatou que não superou os traumas vividos e
que está sob acompanhamento médico.
48
Diante disso, é crucial que analisemos esse tipo de justiça que está atrelada às situações
de cancelamento. Notadamente, é um comportamento que visa “olho por olho e dente por
dente”, denominada justiça retributiva (Piaget, 1932). Esse tipo de justiça diz respeito à
retribuição, ou seja, é definida pela proporcionalidade entre a ação e a sanção. A justiça
retributiva é um nível de justiça ainda pouco elaborado. No entanto, a justiça distributiva alude
à ideia de considerar a igualdade, do ponto de vista dos direitos e deveres, refere-se ao conceito
de distribuição. É a partir das relações permeadas pelo respeito mútuo e pela cooperação que
as noções de justiça vão se desenvolvendo.
Silva et al. (2011) afirmam que os discursos de ódio são mensagens que visam
discriminar e inferiorizar pessoas ou grupos de pessoas que têm características comuns. A
organização da SaferNet Brasil esclarece que discursos de ódio têm como alvo grupos
específicos por fatores como etnia, raça, gênero, opção religiosa, orientação sexual etc. Até o
ano de 2019, a SaferNet Brasil recebeu 2.263.060 denúncias de conteúdos com homofobia,
racismo, intolerância religiosa, incitação à violência, entre outros. Esse número pode ser ainda
maior se considerarmos que ele contempla apenas situações que foram denunciadas.
De acordo com a SaferNet (2021) é preciso entender claramente que o exercício da
liberdade de expressão é direito irrevogável das sociedades democráticas, não pode suplantar
os princípios éticos de convivência social. É imprescindível que a expressão de pensamentos,
ideias e opiniões seja exercida de maneira consciente e responsável. No entanto, essa liberdade
de expressão está separada por uma linha tênue, ou seja, há de se considerar que há um limite
que resguarda integridade moral dos sujeitos, quando esse limite é ultrapassado a “liberdade de
expressão” torna-se discurso de ódio.
Não podemos deixar de mencionar os indivíduos que se colocam como “juízes” na
internet, o “tribunal da internet”. As redes viraram palco de apontamento alheio, de julgamento,
sem considerar esse outro, e sendo constantemente julgado por suas postagens. Como diria
Monica Lewinsky, numa conferência para a Revista Forbes: “Essa pressa por julgar, promovida
pela tecnologia, cria multidões de atiradores de pedras virtuais”.
2.2.5 Cyberteasing
há a intenção de ferir, como os memes, porém quem recebe esses conteúdos não os avalia dessa
maneira, enxergando-os como provocações.
2.2.6 Cyberstalking
2.2.7 Cybergrooming
Este tipo de agressão virtual consiste em ações desempenhadas por adultos que utilizam
as redes sociais para estabelecer algum tipo de conexão emocional com crianças e adolescentes
e, posteriormente, cometer abusos sexuais. Carvalho (2011) complementa que esses atos
pedófilos podem ir desde a apreciação de fotos e filmes até estupros.
A pornografia infantil é um dos problemas mais graves do espaço virtual. Segundo os
dados divulgados pela SaferNet (2021), as denúncias contra atos dessa natureza aumentaram
33,45% no ano de 2021.
Entre os meses de janeiro a abril de 2021, a SaferNet Brasil registrou 15.856 denúncias
relacionadas à pornografia infantil, sendo que 7.248 foram removidas por indício de crime. O
número apresenta um crescimento de mais de 33% nas denúncias em relação ao mesmo período
do ano passado. No primeiro ano de isolamento social, causado pela Covid-19, foram mais de
98 mil denúncias anônimas de conteúdos de pornografia infantil, recorde histórico desde o ano
de 2006.
O presidente da SaferNet, Thiago Tavares, afirma no site da organização que:
2.2.8 Sexting
Outro grave problema de agressão virtual é o sexting e que vem ganhando destaque,
especialmente entre os adolescentes.
Segundo Figueiredo (2016), o termo foi usado pela primeira vez em 2005 no Sunday
Telegraph Magazine. No Brasil, a primeira definição foi dada pela SaferNet, sendo sexting uma
junção de duas palavras: sex (sexo) e texting (envio de mensagens via celular).
Barros et al. (2014) referem-se ao sexting como algo que nasce no século XXI, e o
caracterizam como uma ação sociocultural que incide em enviar para alguém fotos, vídeos,
mensagens, de conotação sexual, por meio das tecnologias digitais.
Del Rey et al. (2019) esclarecem que há dois tipos: sexting primário e sexting
secundário. No primeiro, há troca de imagens íntimas sem que elas sejam compartilhadas em
52
4 Ameaça de divulgação em massa de imagens íntimas para forçar alguém a fazer algo – ou por vingança, ou para
extorsão financeira. É uma forma de violência grave que pode levar a consequências extremas como o suicídio
(SAFERNET, 2017). Mais informações disponíveis em: https://new.safernet.org.br/content/o-que-é-sextorsão.
53
Ainda de acordo com a organização, os casos que envolvem sexting é a terceira solicitação mais
recorrente.
O relatório “Violência, suicídio e crimes contra a honra de mulheres na internet”, da
Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados, apontou que, entre os anos de 2015 e 2017,
127 mulheres e meninas se mataram no Brasil devido à exposição on-line.
Segundo pesquisa nacional desenvolvida pelo UNICEF (2019b) com 14 mil meninas
de 13 a 18 anos, o sexting faz parte da vida das adolescentes, porém elas não têm conhecimentos
de como podem se proteger de “vazamentos” das imagens nas redes virtuais. Além disso, não
têm apoio nem na família nem na escola.
Das 14 mil meninas da pesquisa, 35% já mandaram fotos ou vídeos íntimos a alguém;
mais de 70% já receberam imagens íntimas sem pedir; 80% receberam pedidos para enviar
imagens nuas; e menos de 20% disseram ter solicitado imagem de nudez a alguém. Cinquenta
e cinco por cento relataram que a prática acontece pelo aplicativo WhatsApp, e 25% disseram
que acontece pelo Snapchat.
A pesquisa também concluiu que dificilmente as adolescentes falam sobre o tema com
os responsáveis: 70% das meninas nunca conversaram com a família, preferindo emudecer ou
falar somente com os colegas. O ponto é que os pares não têm condições para tratar de
problemas dessa gravidade. A grande maioria das meninas não conhece qualquer rede de
proteção que auxilie vítimas em casos de vazamento de imagens íntimas sem assentimento.
Somente 6% conheciam canais de ajuda. Quando interrogadas sobrea atuação da escola, 70%
relataram que o tema nunca havia sido discutido em sala de aula, mostrando que conteúdos tão
importantes para a formação dos jovens, especialmente com o avanço da tecnologia e com o
aumento da permanência do tempo que os adolescentes ficam na internet, não têm sido
incluídos no currículo escolar.
Nesse sentindo, é necessário que os jovens sejam preparados para atuar, uma vez que
são eles quem têm conhecimento quando tais situações acontecem.
Em concordância, Tognetta, Souza e Lapa (2019) elucidam que uma das maneiras que
as instituições escolares possuem para intervir em casos de bullying presencial ou virtual, ou
outras formas de violências entre pares, se dá com a implementação das Equipes de Ajuda.
Diversos estudos, como os de Cowie e Wallace (2000) e Cowie e Fernández (2006) mostram a
potência dos sistemas de apoio entre pares para o progresso da convivência presencial e virtual.
As Equipes de Ajuda chegaram no Brasil em 2015, trazidos pela pesquisadora Luciene
Tognetta, e correspondem a grupos de referência na instituição escolar, em que os jovens têm
a oportunidade de buscar ajuda quando necessário. Esse programa tem como objetivo formar
54
as alunas e os alunos para que se tornem responsáveis por específicas ações junto a seus pares,
como escuta, apoio, ajuda, acolhimento, com o desígnio de desenvolver uma convivência ética.
Pesquisas realizadas por Tognetta, Souza e Lapa (2019), apontam que há um índice
mais baixo na frequência de tipos de bullying em escolas que possuem esse tipo de Sistema de
Ajuda entre Iguais (SAI). Outra pesquisa feita por Bonfim (2019) mostra uma maior aderência
a valores morais, além de evidenciar uma significativa melhoria na qualidade das relações
interpessoais nas instituições com Equipes de Ajuda (Tognetta et al., 2020). Para saber mais
consultar: www.somoscontraobullying.com.br
2.2.9 Cyberbullying
De acordo com os dados da SaferNet Brasil, dos 232 atendimentos sobre o tema no ano
de 2020, 161 se dirigiam ao público feminino e 71 ao masculino.
É preciso lembrar que todas as agressões virtuais descritas até aqui, e qualquer outra
que possa vir a surgir, não são resultados diretos do uso das tecnologias, elas são reproduções
de condutas que existem fora das telas dos computadores há milhares de anos, ou seja, os
comportamentos dos seres humanos caminham em direção ao mundo on-line e são
potencializados pela sensação de impunidade e anonimato existentes nas redes sociais. O que
acontece na internet também pertence às relações presencias, ou seja, as pessoas são reais, o
desejo de pertencimento é real, a necessidade de se ver como um ser humano de valor, ou seja,
essa busca de se superar, um imperativo intrínseco aos seres humanos, caminha em direção às
telas dos dispositivos eletrônicos (Tognetta, 2009).
Ao encontro desse imperativo, Adler (1935) expõe que todo ser humano possui um
sentimento de inferioridade e, por isso, uma das grandes motivações das ações humanas é a
expansão de si, agente do desenvolvimento. É justamente nessa busca incessante da expansão
de si que floresce as imagens de como eu me vejo e como quero que as pessoas me vejam, isso
porque todos os seres humanos querem se ver como uma pessoa de valor, almejando
representações que lhes permitam ter uma boa imagem sobre si mesmos.
Mas se os comportamentos agressivos da humanidade podem se espelhar nas redes
virtuais, acreditamos que condutas pautadas pela sensibilidade também possam caminhar para
as relações on-line. É o que trataremos no próximo capítulo. Contudo, passemos a um último
tópico importante ao se tratar ainda das cyberagressões.
57
Iniciamos com algumas indagações: as redes sociais podem ser consideradas “terra de
ninguém” ou “terra sem leis?” “É um lugar onde ninguém pode me encontrar?” “Há
consequências legais na internet?”
É preciso desmistificar esse pensamento pautado no senso comum de que o âmbito
virtual é “terra sem lei”; é preciso compreendê-lo como um lugar de direitos e deveres. O
cyberespaço é gerador de muitas inquietações do ponto de vista jurídico. Há leis que têm como
objetivo assegurar os princípios que devem permear as relações interpessoais no meio on-line,
considerando que a internet é mais um espaço de convivência, de interação social, um espaço
coletivo, contudo mediado pelas tecnologias.
No ano de 2012, no mês de novembro, foi publicada a Lei nª 12.737, que modificou o
Código Penal brasileiro, adicionando os artigos 154-A, 154-B, 266 e 298 para a punição dos
crimes cometidos na internet.
A lei, que se tornou conhecida como “Lei Carolina Dieckmann”, tem por objetivo punir
pessoas que invadam dispositivos alheios visando roubar informações, destruí-las ou deturpá-
las. Apesar de ganhar um espaço maior após o caso de invasão ter ocorrido com a atriz Carolina
Dieckmann, por isso o nome da lei, o texto já era pleiteado pelo sistema financeiro em função
do número significativo de denúncias de golpes e roubos de senhas na internet.
A Lei nª 12.735/12 se refere a ações praticadas contra sistemas informatizados. Foi essa
lei que deu origem às delegacias especializadas em crimes cibernéticos.
É considerado crime na internet quando o autor atribui à vítima a autoria de um crime
tendo ciência que este é inocente; quando uma situação insulta a reputação de outrem, não
interessando se o fato é verídico ou não; quando qualificações negativas ou defeitos são
atribuídos às vítimas. Os crimes mais comuns na internet são: ameaça (art. 147); calúnia (art.
138); difamação (art. 139); injúria (art.140) e falsa identidade (art. 307).
Em 2014, foi sancionada pela ex-presidente Dilma Rousseff, a Lei nª 12.965/14,
conhecida como Marco Civil da internet (Anexo 1). Essa lei protege os dados pessoais e a
privacidade dos internautas. Somente em situações extraordinárias, mediante ordem judicial,
pode acontecer quebras de dados e acesso às informações particulares presentes nas redes
sociais.
Com relação à pornografia infantil, o Estatuto da Criança e do Adolescente se apoia nos
artigos 241 e 241-A.
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou
adolescente: (Redação dada pela Lei 11.829, de 2008).
59
A pena para essas situações é de quatro a oito anos de reclusão, além da multa.
dos usuários da internet. Diante dos conteúdos contemplados na carta, ressaltamos o direito à
privacidade nos ambientes digitais e direito à segurança no cyberespaço. Apresentamos a carta
na íntegra no Anexo 2.
Em 2015, o governo brasileiro divulgou um canal exclusivo para as vítimas do âmbito
virtual, o Humaniza Redes. O programa tem como objetivo receber denúncias de casos que
violam os direitos humanos na internet, como: xenofobia, homofobia, pornografia infantil,
racismo, violência, neonazismos, discriminação contra a mulher, crimes contra a vida e tráfico
de pessoas. Com relação às denúncias de cyberbullying, o Humaniza Redes designou uma
parceria com a SaferNet para que pessoas em sofrimento possam ser atendidas por profissionais
especializados, como psicólogos.
É possível contar também com o apoio de outros canais de ajuda. Apresentamos
algumas sugestões de canais de apoio no Anexo 3.
Recentemente, foi apresentada no Congresso Nacional a minuta de um decreto pelo
ministro do turismo, Gilson Machado, cujo objetivo será impedir as redes sociais de excluírem
conteúdos sem decisão judicial, dificultando o combate ao comportamento ilícito e prejudicial
nas redes. Isso potencializa os riscos à segurança dos usuários do Brasil na internet. A minuta
de novo decreto presidencial afeta a luta, o empenho e a dedicação, tanto do ponto de vista
nacional quanto internacional na aplicação de políticas e tecnologias de identificação de abusos,
resultando em retrocesso das conquistas da última década que procuraram tornar a internet um
espaço mais ético, seguro e saudável para crianças e jovens. O decreto dificulta
significativamente a utilização de tecnologias especificas, desde a mais sofisticada até as
intermediárias, que podem reconhecer imagens de abusos sexuais antes mesmo de serem
publicadas e impedir que sejam viralizadas, prevenindo que comportamentos criminosos
aconteçam.
Em contrapartida, o deputado Leo Brito ressalta que este decreto viola o Marco Civil da
Internet, pois, segundo o deputado, a liberdade de expressão não pode ser absoluta. Em suas
palavras: “A internet não é terra sem lei, ela não pode ser espaço para a reprodução de
racismo, de machismo, de xenofobia, de fake news, de desinformações. Tem gente morrendo
no País por conta de fake news, porque não tomaram vacina”. Ainda reforça que a ciência deve
ser respeitada nas redes sociais virtuais.
Conforme uma pesquisa feita pela Tic Kids Online Brasil 2019, do CETIC.br, 43% das
crianças e dos adolescentes brasileiros entre 9 a 17 anos identificaram situações de
discriminação nas redes sociais, e 7% da população dessa faixa etária afirmaram ter se sentido
discriminados.
61
Calhau e Rezende (2020) apontam, em uma pesquisa realizada recentemente, que com
o aparecimento das primeiras três leis federais (13.185/15, 13.277/16 e 13.663/18) que versam
sobre o bullying e cyberbullying no Brasil nos anos de 2015 a 2018, a omissão culposa das
instituições escolares em não realizar as ações apresentadas pela lei ocasiona danos para toda a
comunidade escolar, que fica descuidada e desprotegida por não obter um programa efetivo de
prevenção e intervenção aos casos de cyberbullying. Calhau (2020) explica que o cyberbullying
é considerado um ato ilícito civil de importante gravidade para os sujeitos envolvidos, além de
ter trazido grandes preocupações para as instituições escolares. Reforça que em hipótese
alguma pode ser admitido, justamente por ser um ato que fere seriamente a dignidade dos seres
humanos.
Entendemos que a orientação parental, mesmo sendo importante, muitas vezes não é
suficiente para educar as crianças e jovens para um uso seguro, consciente e ético das redes
sociais, visto que apenas tal monitoramento não dá conta de promover a formação moral desses
sujeitos.
Dados revelados pelo relatório Tic Kids Online, 2019, advertem que entre os brasileiros
de 9 a 17 anos 78% asseguraram que enviam mensagens em aplicativos sem supervisão dos
familiares; 77% têm permissão de assistir a vídeos e filmes on-line sem nenhum tipo de
orientação por parte dos adultos; e 75% utilizam a internet sozinhos. E mais, 42% dos
entrevistados já estabeleceram contato on-line com alguém que não conheciam (27% dessas
comunicações foram feitas pelas redes sociais e 21% por meio de plataformas de mensagens
on-line). O relatório aponta que 22% explicitaram terem encontrado pessoalmente com pessoas
que conheceram na internet.
Uma recente pesquisa realizada por Tognetta et al. (2022), com duas diretorias de
ensino do Brasil (essa pesquisa será apresentada com maiores detalhes na metodologia),
mostrou que dos 1923 adolescentes entrevistados quase 40% das alunas e alunos responderam
já terem sidos insultados.
Esse dado mostra a pertinência das instituições escolares educarem os jovens para o uso
consciente na internet, quais limites devem construir, a quem pedir ajuda quando for necessário,
onde podem denunciar, até onde podem ir para que a dignidade humana não seja ferida, ou seja,
promover uma intensa, urgente e importante reflexão sobre os benefícios e os riscos que este
meio pode apresentar.
62
A posteriori, percebemos que muitos dos problemas que acontecem no espaço virtual
repercutem nas relações presencias, principalmente dentro do ambiente escolar, o que
pressupõe a importância de as instituições intervirem urgentemente nos diferentes problemas
de convivência que se manifestam no cyberespaço.
Portanto, é vital que as escolas implementem no currículo espaços de troca entre os
pares, de escuta, de diálogo. Ora, se não nas escolas, onde mais as crianças e os jovens podem
vivenciar tantas situações entre os pares e experimentar trocas de perspectivas? Lembrando
Piaget (1932), a cooperação é o remédio para a superação de um pensamento que exclui, que
desrespeita o outro. No sentido piagetiano, `cooperar` se refere a “co-operar”, ou seja, “operar
com” ou “pensar com”. É por esse motivo que práticas que se dispõem a formar para valores
morais se utilizam de ferramentas como assembleias, rodas de conversa, debates, e mesmo nas
intervenções aos conflitos, se insiste tanto que os envolvidos possam falar do que pensam para
que, coordenados perspectivas e sentimentos, se chegue a soluções mais equilibradas. Assim,
cooperação não quer dizer acordo, mas sim uma discussão equilibrada em que cada pessoa pode
expor seus sentimentos e suas opiniões e considerar as perspectivas alheias (Menin, 1996).
Colocar-se no lugar do outro e perceber seus sentimentos e os dos outros, pode propiciar
a construção de espaços de convivência presenciais mais respeitosos e, por conseguinte, que
alunos e alunas consigam também fazê-lo em âmbitos virtuais, ainda que neste ambiente
(virtual) nem sempre se sabe quem pode estar do outro lado e, portanto, as relações tendem a
horizontalidade.
Nas relações virtuais, mais do que pensar nas situações de cyberagressão, é preciso que
as escolas levem os alunos e as alunas à reflexão do que significa `cyberconvivência`, ou seja,
conjeturar sobre a possibilidade de construir relações virtuais mais justas, respeitosas e
empáticas e, sobretudo, que se indignem com situações de humilhações, desrespeito ou ofensas.
Tais ações dizem respeito também ao cumprimento da Lei nº 13.185, que foi sancionada
no ano de 2015 e estabeleceu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em
todo o território nacional. De acordo com a lei, é dever das instituições escolares, clubes,
agremiações a adotarem medidas tanto do ponto de vista do combate, quanto da prevenção de
situações de intimidação entre pares. Além disso, determina que seja feita a capacitação de
docentes e equipes pedagógicas para implementação de ações de prevenção e solução do
problema, bem como a orientação a pais e familiares. Seus objetivos em destaque:
A empatia exerce papel importante nas relações interpessoais, visto que por meio dela
é possível se conectar às emoções das outras pessoas e, por conseguinte, promover ações
pautadas pelo cuidado, pela generosidade e pelo respeito.
Na obra “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, escrita por Morin (2000),
o autor esclarece que a compreensão dos seres humanos deve ser uma das mais importantes
finalidades da educação do futuro. Essa compreensão humana, de acordo com o autor, vai além
da explicação objetiva ou intelectual, pois envolve o conhecimento e a relação com o outro, ou
seja, a empatia.
O outro não é visto apenas de maneira objetiva, mas é reconhecido, percebido como
alguém com quem nos identificamos. Nesse sentido, trata-se de um processo de identificação
com o outro e de projeção de si. Morin (2000) ressalta que a compreensão mútua entre os seres
humanos é imprescindível para as relações, pois só assim existe uma possibilidade de os
sujeitos saírem de seu estado bárbaro de incompreensão.
A palavra “empatia” vem do grego empatheia, que significa “em+paixão”, ou seja,
“entrar no sentimento”, e seu emprego do ponto de vista da estética foi muito divulgado por
autores como Brentano, Lipps e Robert Visher (Enz; Zoll, 2006). Tais autores definiram
“empatia” como um processo de imitação interna, Einfuhlung, fomentado em situações de
apreciação de objetos de arte, quando a projeção do self em obras artísticas gera um sentimento
de admiração nos observadores (Camino et al., 2013; Wispé apud Wispé, 1990).
68
Ainda, de acordo com o autor, a empatia pode levar a uma construção altruísta;
entretanto, também pode provocar sentimentos de angústia que levam para si mesmo e, assim,
ao distanciamento das situações e das emoções das outras pessoas.
De qualquer maneia, representar mentalmente o que o outro sente, entrando em
ressonância afetiva com este outro, pode manifestar o sentimento de compaixão, considerando
que tal consciência tornará mais evidente as necessidades que este outro precisa que sejam
cuidadas.
Em concordância, o autor Comte-Sponville (2016), em sua obra “Pequeno tratado das
grandes virtudes”, ressalta que a compaixão é uma das formas da simpatia 5. Segundo o autor,
“a compaixão é a simpatia na dor ou na tristeza, em outras palavras, é participar do sentimento
do outro” (p. 117).
Mas compartilhar a dor do outro não significa validar o sofrimento e, tampouco,
reconhecer os motivos desse sofrimento, mas sim se recusar a considerar os seres humanos
como coisas e ser indiferente ao sentimento alheio. Segundo Comte-Sponville (2016), a
compaixão é o oposto da crueldade, pois não há como rir quando o outro chora.
No livro “Teoria dos sentimentos morais”, Adam Smith (1999) aponta a piedade e a
compaixão como sentimentos que marcam a solidariedade entre os seres humanos; e a simpatia
se refere a essa solidariedade como qualquer ‘paixão’. O filósofo e economista afirma que o
sentimento de simpatia pode acontecer tanto na dor quanto na alegria de outrem, e que ela é
proveniente da imaginação. Afirma que a sensibilidade moral se origina da capacidade mental
para trocar de lugar com o outro, e que as pessoas tendem a compartilhar mais suas dores que
suas satisfações, pois as primeiras sensibilizam mais do que as últimas; a ausência da simpatia
em situações conturbadas assusta mais do que a felicidade advinda das situações positivas.
5A simpatia aqui pode ser compreendida como forma mais virtuosa e voltada ao outro.
71
Enfatiza ainda que é necessário que os sujeitos se libertem de seus próprios egos, para que seja
possível sintonizar-se com as emoções e experiências das outras pessoas.
Mas como é possível conhecer o que o outro pensa e sente?
Batson (1987) apresenta oito modalidades diferentes para a empatia, que embora
estejam relacionadas, não constituem, necessariamente, aspectos do mesmo fenômeno. São
elas:
1) conhecimento do estado interior do outro;
2) imitação motora e neural;
3) ressonância emocional;
4) projetar-se intuitivamente na situação do outro;
5) representação mais clara possível dos sentimentos do outro;
6) imaginar o que sentiríamos se estivéssemos no lugar do outro;
7) aflição empática;
8) solicitude empática.
Expliquemos melhor as ideias do autor.
Conhecimento do estado interior do outro: é possível estar ciente do que alguém pensa
ou sente e, contudo, permanecer indiferente a seu destino.
Salientamos que estar ciente do que alguém pensa, trata-se da possibilidade de
compreender do ponto de vista cognitivo a perspectiva do outro, ainda assim para que a
sensibilização aconteça, é preciso conjuntamente a dimensão cognitiva a afetiva, para que assim
seja possível se sensibilizar.
Imitação motora e neural: os pesquisadores Preston e Waal (2002) foram os pioneiros
a sugerir um modelo teórico para os mecanismos neurais que pautam a empatia. Elucidam que
o fato de se identificar com alguém pode induzir o sistema neural a adotar um estado análogo
ao desse alguém. Esclarecem que o processo de imitação por observação das ações físicas é
uma das bases dos mecanismos de aprendizagem transmitidos de uma pessoa a outra. Tal
processo pode promover sentimentos de empatia.
Ressonância emocional: trata-se de sentir o que o outro sente, seja alegria ou tristeza.
Embora seja impossível viver precisamente a experiência alheia, é possível experimentar
emoções similares.
Projetar-se intuitivamente na situação do outro: apresenta o risco que as pessoas correm
ao imaginar o que o outro pode vir a sentir em determinadas situações, já que elas podem se
enganar.
72
Representação mais clara possível dos sentimentos do outro: significa tentar representar
da forma mais clara possível o que o outro diz e o que se observa, considerando o conhecimento
que se tem desse indivíduo, de seus valores e anseios.
Imaginar o que sentiríamos se estivéssemos no lugar do outro: imaginar a situação do
outro considerando suas aspirações individuais e sua visão de mundo.
Aflição empática: sentimento que advém quando se testemunha a dor e o sofrimento do
outro. Esse sentimento aflitivo não se refere exatamente a uma preocupação pelo estado
emocional do indivíduo a, mas sim a uma ansiedade pessoal desencadeada pelo outro. Batson
(1991) relata que a contemplação egocêntrica da dor alheia mina a coragem e a disponibilidade
de prestar atenção a esse alguém.
Solicitude empática: é uma resposta voltada ao outro e não a si mesmo, visto que
consiste em conscientizar-se das necessidades alheias e experimentar um desejo verdadeiro de
atendê-las.
De acordo com Krznaric (2015), que se dedica a estudar a empatia por mais de uma
década, esse sentimento é compreendido pelo senso comum como uma “emoção vaga”, a que
muitas pessoas chamam de bondade. Todavia, o autor afirma que a empatia é
extraordinariamente potente para promover profundas mudanças sociais, podendo inclusive
levar a uma revolução nas relações humanas. Para ele, “empatia é a arte de se colocar no lugar
do outro por meio da imaginação, compreendendo seus sentimentos e perspectivas e usando
essa compreensão para guiar as próprias ações” (p.10).
Durante doze anos, Krznaric (2015) pesquisou a empatia em campos que vão da
psicologia experimental à história social, da antropologia a estudos literários, da política à
ciência do cérebro, e após estudos profundos descobriu que pessoas extremamente empáticas
possuem características comuns. Essas pessoas se esforçam para cultivar o hábito da empatia,
ou seja, se preocupam em manter um conjunto de práticas diárias que sustentem os circuitos
empáticos do cérebro, favorecendo a compreensão da visão de mundo do outro.
Krznaric (2015, p. 15) apresenta seis hábitos necessários para desenvolver a empatia.
O autor explicita que tornar esses hábitos parte de nossa vida pode modificar nosso
modo de pensar, sentir e fazer. Complementa que a empatia é experimentada muito mais
frequentemente do que se imagina. Ainda relata que as pessoas podem ficar fascinadas ao
“entrar” na mentalidade das outras e tentar descobrir por que pensam como pensam, e que a
compressão acerca do outro se expandirá “sem limites” (Krznaric, 2015). Do ponto de vista da
Epistemologia Genética Piagetiana, tais ações para o desenvolvimento do sentimento de
empatia não seriam suficientes se pensarmos que a empatia é um sentimento que precisa ser
experimentado nas relações entre as pessoas e, portanto, provocado por aquele que media um
conflito, por exemplo.
Moore (1985), que fala sobre o tema desde 1970, relata que a empatia é a consciência
constante do fato de que os interesses individuais não são necessariamente interesses coletivos,
bem como as necessidades particulares não são necessidades de todos, por isso é preciso
praticar concessões em determinadas situações.
A autora fala que a empatia não se trata de caridade, tampouco de sacrifício pessoal,
nem é prescritiva, mas se refere a uma permanente evolução de viver, tão inteiramente quanto
possível. Na perspectiva de Falcone (1999) e de outros autores (Frey; Hirschstein; Guzzo, 2000,
Stephan; Finlay, 1999), a empatia se estende a uma habilidade de comunicação intensamente
pautada na formação de vínculos afetivos e na melhoria da qualidade dos relacionamentos
interpessoais que contempla três componentes: componente cognitivo (capacidade de
compreender os sentimentos e perspectivas de outra pessoa); componente afetivo
(caracterizado por sentimentos de compaixão e simpatia pelo outro, bem como a preocupação
74
essa razão, a escolha de Piaget por chamá-la assim. Como vimos em Hoffman, está relacionada
ao outro e, por essa razão também, é considerada um sentimento moral.
Vale dizer que essa primeira forma de empatia que Piaget se refere é ainda pouco
conservada, haja visto a falta ainda do pensamento operatório. Nota-se exatamente isso nas
brincadeiras da primeira infância quando as crianças brincam amigavelmente com as outras,
como melhores amigas, e se distanciam na mesma velocidade como “não sou mais seu amigo”,
voltando, novamente, a serem amigas (Tognetta, 2009). Portanto, no modelo piagetiano se
encontram sentimentos de antipatia e simpatia.
Hoffman (1991) reitera os estudos de Piaget ao afirmar que há uma espécie de empatia
pelo contágio entre os bebês, ainda que sem a noção exata da distinção entre o eu e o outro, o
que explica os estudos sobre generosidade ser uma virtude anterior à justiça em sua gênese.
Contudo, como vimos, a presença da empatia como distinguindo o eu ao outro é dada no
despertar do senso moral, quando a criança já se reconhece como separada dos outros
(Tognetta, 2009) e apresenta um importante papel para a ação moral. E é por meio dessa
capacidade de prestar atenção às necessidades das outras pessoas que as crianças começam a
se movimentar para supri-las.
Assim, salientamos que a escolha pelo conceito de empatia e não simpatia não nos afasta
do modelo piagetiano. Isso, porque estamos considerando a “empatia” como o sentimento
moral que vai além daquele primeiro sentimento interindividual descrito na gênese da
afetividade por Piaget.
3.1.2 O que pode impedir que olhemos o outro pelos olhos dele...
estarem “apenas cumprindo ordens”. O que distingue os sujeitos que tendem a ser mais
empáticos é justamente a vontade e a capacidade de enfrentar a autoridade quando é necessário
agir de maneira empática.
Diversos autores (Arsenio; Lover; La Taille; Tognetta, 1996, 2009), explicitam que, por
essa razão, a empatia é um sentimento moral relacionado entre pares, ou seja, tratam que é por
simpatia (na mesma lógica de Piaget quando o trata de um sentimento interindividual no exato
momento em que se vê diante do outro) e não por obediência que “prestam atenção” ao outro,
ou seja, as crianças valorizam a generosidade como mais admirável.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito à distância, seja espacial, social ou
temporal. Quanto mais a vida e a história de outras pessoas estejam distantes ou sejam
estranhas, mais se reduz o interesse moral por elas. Isso acontece não só em relação à distância
espacial, mas também em relação à distância social, considerando que os indivíduos apresentam
mais propensão a serem empáticos com pessoas que pertencem à mesma religião, raça ou que
tenham o mesmo grau de instrução. Há também a distância temporal, que se refere à diminuição
da empatia em relação a pessoas cujos ‘laços’ emocionais são mais distantes.
Não raro deparamos com situações complicadas vividas por pessoas que amamos e nos
sensibilizamos com o que estão passando, mas quando pessoas desconhecidas passam por
momentos similares nossa capacidade de sensibilização enfraquece. O grande desafio, por
conseguinte, é atenuar as distâncias espacial, social ou temporal, para que a empatia esteja
presente para todo e qualquer ser humano. Nesse sentido, Piaget (1932) considera a necessidade
da generalização. Retomaremos essa questão.
A negação pode ser outro fator que bloqueia nossa capacidade empática. Uma relevante
explicação para situações de negação é a “fadiga da compaixão” ou “fadiga da empatia”.
Quando vivenciamos situações de muito sofrimento, como a pandemia da Covid-19, por
exemplo, entramos em contato com muitas dores e acabamos nos afastando em busca de certo
conforto para conseguir superar o momento. Ficamos, como diria Pink Floyd em uma das suas
músicas: “confortavelmente entorpecidos”.
O sociólogo Stanley Cohen (2008), em sua obra States of Daniel, elucida que as pessoas
são produto da “cultura da negação”, na qual a grande maioria tem ciência do sofrimento alheio,
mas muitas vezes, para aliviar um sentimento de culpa ou vergonha por terem uma vida melhor,
se “protegem” inventando razões convenientes para não realizar qualquer ação que alivie a dor
do outro. As pessoas que apresentam muita empatia têm plena consciência de que esse tipo de
pensamento é, em geral, uma maneira de aliviar as dores do ego.
78
Segundo Puig (2006, p. 55), existem dois fatores fundamentais que favorecem o
desenvolvimento do juízo moral: o desenvolvimento cognitivo ou intelectual e a perspectiva
social. Para o autor o desenvolvimento cognitivo é necessário para que seja possível assumir
em plano mental outras perspectivas. Assim, a capacidade para assumir perspectivas diferentes
é uma habilidade que se desenvolve paulatinamente.
Wall (2010) diz que é necessária uma forte consciência do “eu” para que seja possível
tratar a situação do outro de maneira afastada de si mesmo. A criança precisa se separar do
outro, ou seja, se reconhecer como indivíduo para conseguir realmente localizar a fonte de seus
sentimentos.
Foi realizada uma pesquisa por Camino et al. (2013) com duzentas e cinquenta e quatro
pessoas do sexo masculino (n=107) e do sexo feminino (n=147), com idades variando entre 10
e 29 anos (M = 17,20; DP = 5,00), estudantes de escolas públicas (n=69), escolas particulares
(n=35) e de uma universidade pública (n=150) das cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).
Para extrair os dados, os participantes foram organizados em três faixas etárias: crianças, entre
10 e 12 anos de idade (n=77), adolescentes, entre 13 e 17 anos de idade (n=37) e adultos, entre
18 e 29 anos de idade (n=140).
O principal objetivo do trabalho foi verificar se os sentimentos empáticos diante de
situações reais, onde os participantes assumiram uma perspectiva observadora, eram diferentes
entre crianças, jovens e adultos. Além disso, a pesquisa também analisou se o sexo e a idade
estariam relacionados às respostas empáticas descritas pelos participantes.
Os entrevistados foram organizados em três grupos: crianças, entre 10 e 12 anos de
idade (77); adolescentes, entre 13 e 17 anos de idade (37); e adultos, entre 18 e 29 anos de idade
(140). O instrumento principal da pesquisa foi um roteiro de entrevista semiestruturado que
buscava identificar os tipos de emoções ou sentimentos desencadeados nos participantes por
quatro diferentes reportagens televisivas. O roteiro tinha questões como: “o que você sentiu ao
assistir a essa reportagem (que sentimentos/emoções)?”; “você poderia me falar um pouco mais
sobre esse sentimento/emoção?”; “o que você acha que os pais dessa criança sentiram ao assistir
a esse vídeo?”; “você já viveu alguma situação em que sentiu algo semelhante ao que sentiu
agora?”; “poderia me falar sobre essa situação?”. A pesquisa também utilizou um pequeno
questionário para coletar dados sociodemográficos dos entrevistados; e uma escala gráfica tipo
Likert com cinco graus (1 = muito fraco; 5 = muito forte) para avaliar a intensidade dos
sentimentos relatados pelos participantes.
De um modo geral, os dados apresentados mostram que os tipos de sentimentos
empáticos mudaram expressivamente em termos de conteúdo e de intensidade, em função da
79
idade dos participantes. Esses resultados apontam para o papel que o desenvolvimento
cognitivo desempenha sobre as respostas empáticas suscitadas em situações nas quais o sujeito
assume a perspectiva de observador, (Hoffman, 2000). Fica claro que a evolução da habilidade
cognitiva permite que o sujeito coordene diversos elementos ao analisar uma situação complexa
(Piaget, 1976), e possa, assim, assumir as diferentes perspectivas das pessoas envolvidas na
situação (Selman, 1974).
Quanto às diferenças relacionadas ao sexo, os dados apresentados vão ao encontro de
autores como Lennon e Eisenberg (1987), para quem, embora haja algumas evidências
empíricas sobre a influência do sexo acerca da empatia, ainda esse é um campo obscuro. Os
autores assinalam a possibilidade de vieses socioculturais que podem levar homens e mulheres
a se distinguir em pesquisas com medidas autoavaliativas. Essas diferenças tendem a
desaparecer em pesquisas que usam medidas mais objetivas para avaliar a empatia. Ainda
assim, é importante refletir sobre o motivo que faz as mulheres demonstrarem mais tristeza e
raiva que os homens. Para os autores Cecconello e Koller (2000); Escrivá, Garcia e Navarro
(2002, 2004); Garaigordobil e Galdeano (2006); Sampaio et al. (2008), o que explica essa
diferença é o papel socialmente construído que homens e mulheres assumem.
Gilligan (1982) evidencia a característica empática feminina da generosidade. A autora,
definitivamente, considera imprescindível a generosidade como elemento da ética do cuidado.
“A consciência de múltiplas verdades leva a uma relativização da igualdade no sentido da
equidade e enseja uma ética da generosidade e do cuidado” (Gilligan, 1982, p.178).
Por certo, um comportamento ético será movido pela empatia cuja característica
principal é a comoção ao estado do outro. De acordo com Tognetta (2009), para agir eticamente
é preciso mais do que a consciência do dever, é necessário querer agir bem. Dever e querer são
inseparáveis, considerando que o fim não está somente em agir corretamente, mas na qualidade
do querer agir bem e estar bem com as ações, ou seja, estabelecer uma sensação de satisfação
pessoal ao realizar o bem para si e para o outro; como lembraria Ricoeur (1990, p. 202), “a
busca por uma vida boa com e para o outro”. A moral é caracterizada por um sentimento de
obrigatoriedade que leva à busca por conteúdos pautados na generosidade e na justiça, entre
outros valores morais. Certamente, quem orienta a moral é a capacidade de distinguir entre o
certo e o errado, entre o bem e o mal, ou seja, é a tomada de consciência. Contudo, saber o que
deve ser feito não determina a ação moral propriamente dita. É fundamental oferecer sentido a
essa ação. Em outras palavras, se a moral como dever é guiada pela razão, pela inteligência, a
ética é inspirada por uma força interior, por uma energia que nos move (os sentimentos) em
direção à satisfação pessoal.
80
humilhado, ofendido, linchado?”, “como nos sentimos quando vemos alguém sendo
ridiculizado nas redes sociais?”, “o que é possível fazer quando nos deparamos com essas
situações para que o outro se sinta acolhido?”, “o que podemos fazer para que as agressões
virtuais não aconteçam?”. Tais inquietações são condições para que possam pensar sobre o
outro e, por conseguinte, se sensibilizar pelos estados afetivos alheios.
Diante dessa urgente necessidade, é preciso planejar e organizar um currículo que se
baseia em quatro princípios essenciais que pautam as dimensões da convivência que visamos
para nossas crianças e jovens (Tognetta, 2022).
O primeiro se refere à convivência inclusiva e a diversidade, onde parte do
reconhecimento de todas as pessoas independente da raça, deficiência, religião, gênero e
cultura. Ou seja, para além das diferenças, este princípio requer a valorização da pluralidade
presente numa sociedade tão desigual. O segundo, a convivência ética e democrática, que se
trata em favorecer uma convivência sustentada por valores morais, como justiça, respeito e
solidariedade, entre outros. No entanto, o valor da convivência democrática exige a
participação de todas e todos aqueles que convivem. Já a convivência pacífica é para além de
refletir a superação da violência, mas, sobretudo, pensar na promoção da convivência que
almejamos. Portanto, compreender que existem ações que antecedem a superação, como
aprender a cooperar, bem como elaborar estratégias de apoio e cuidado.
O último princípio, a convivência cuidadosa, se caracteriza pelo respeito à segurança,
à proteção e à acolhida. Isto é, dentro das instituições escolares o cuidado visa ensinar a cuidar
de si, dos outros, além do cuidado com o planeta. Necessário, então, ensinar nossas meninas e
meninos a expressarem seus sentimentos, reconhecê-los, regular suas emoções para que
consigam controlar suas ações.
Desse modo, mais do que nunca, é indiscutível a força da empatia! Ela urge para que as
relações presenciais e/ou virtuais sejam assim, mais cuidadosas. Essa capacidade de imaginar
alguém que não vejo, mas consigo representar o que pode vir a sentir, sobretudo a capacidade
de se comover com os sentimentos desse outro, que se encontra do outro lado da tela, é o que
denominamos como: CYBEREMPATIA!
Portanto, a presente pesquisa visa trazer um conceito nunca estudado anteriormente: a
CYBEREMPATIA!
82
4 METODOLOGIA
Figura 1 - Pesquisas do GEPEM, coordenadas pela Prof. Dra. Luciene Tognetta (2019 –
2023)
Conforme a figura, a pesquisa “Não te vejo, mas posso imaginar e sentir tua dor.
Quando a empatia atravessa os dispositivos digitais e alcança o coração: a cyberempatia”
encontra-se no subeixo “A convivência como valor nas escolas públicas: formação docente e
equipes de ajuda.
Esse eixo de investigações está relacionado diretamente ao da “Construção de um
modelo replicável”, financiado pela Fundação Itaú Social (FIS) e pela Fundação Carlos Chagas
191 (FCC), por meio do Edital de Pesquisa – “Anos Finais do Ensino Fundamental –
Adolescências, qualidade e equidade na escola pública”, por utilizar-se da mesma amostra de
participantes e serem pesquisas derivadas do projeto original, cujo título era “A convivência
como valor nas escolas públicas: implantação de um Sistema de Apoio entre Iguais”, e foi um
dos vencedores, sob o número 452, do edital lançado em outubro de 2018, para realização entre
2019 e 2021. O projeto contou com o acompanhamento da Profa. Dra. Maria de Fátima Barbosa
Abdalla, supervisora da Fundação Itaú Social.
O projeto inicial seria realizado em três polos selecionados pela Secretaria Estadual de
Educação de São Paulo (SEDUC), com base no critério de maior vulnerabilidade apresentado
nos relatórios de 2018 e 2019 do antigo Sistema de Proteção Escolar (SPEC) da Secretaria de
Educação de São Paulo (Tognetta, 2022). Naquela época, em 2019, o trabalho iniciado visava
como objetivo central implementar uma forma de Sistema de Apoio entre Iguais em escolas
públicas do Estado de São Paulo, realizando a formação de docentes e equipes gestoras, além
de alunas e alunos dos anos finais do Ensino Fundamental.
Fonte: GEPEM.
Esse grande e importante trabalho, mesmo com suas alterações, para além das ações
previstas no edital original (conforme o eixo Construção de um modelo replicável na figura 1)
resultou em investigações que compõem o eixo do qual a presente investigação faz parte. Tais
pesquisas foram publicadas num dossiê que foi elaborado por muitas mãos, resultando em nove
artigos:
1) A implantação de um programa de convivência para as escolas (Tognetta; Abdalla,
2022).
2) A convivência escolar como política pública no estado de São Paulo (Fodra; Souza,
2022).
3) Quem educa e protege para garantia de direitos de crianças e adolescentes (Lahr;
Carrasco; Oliveira, 2022).
4) A promoção da convivência ética e a prevenção da violência na escola (Knoener;
Santos; Duarte, 2022).
5) O sofrimento emocional em adolescentes em tempos de pandemia da Covid-19
(Tognetta; Martínez; Souza Neto, 2022).
87
nenhum tipo de relação com nossa pesquisa. Considerando esse delimitado resultado, optamos
por utilizar outras duas palavras, “empatia e cyberbullying”, apresentando 2 resultados, sendo
1 deles importante para este estudo. O artigo trazia a percepção dos espectadores envolvidos
numa situação de cyberbullying, apresentando que os agressores não possuem empatia com
suas vítimas.
No decorrer das pesquisas, embora tenha sido possível utilizar essas referências para
compor nosso quadro teórico, ficou evidente o quanto a empatia, internet e agressão virtual são
temas que, juntos, ainda não foram amplamente difundidos.
Ademais, para compor nosso quadro teórico, além dos artigos encontrados, utilizamos
livros e capítulos de livros publicados de forma impressa, especializados no tema, baseados em
estudos teóricos e pesquisas e que são destacados ao longo da pesquisa, bem como das análises
dos resultados encontrados.
Esse resultado nos alimenta e salienta o quanto este nosso objeto de estudo pode ser
importante para futuras pesquisas.
6 Por ocasião do exame de qualificação foram apresentados itens sobre cyberagressões que são parte da pesquisa
maior da qual esta é um recorte. Contudo, diante das discussões engendradas naquela ocasião optamos por manter
apenas os objetivos destacados, e por essa razão apresentamos aqui apenas as duas seções utilizadas nesta
investigação.
91
35) Ajudar outra pessoa que está com raiva, mesmo que eu esteja feliz.
36) Ficar feliz com a felicidade um amigo (a).
39) Reconhecer e dar parabéns quando alguém faz algo bom ou bem-feito.
KMO 0,83
Teste de esfericidade de Bartlett Valor-p <0,01
χ2 (gl) 5499,4 (10)
Fonte: a autora.
Os valores de 0,83 para o teste de KMO e o valor-p menor que 0,01 para o teste de
esfericidade de Barlett indicam uma adequação dos dados à fatoração. De acordo com Souza
92
(2023), a análise paralela foi performada, indicando a existência de apenas um fator, da mesma
forma que existe apenas um fator com autovalor >1, assim os itens desse instrumento podem
ser considerados unidimensionais.
Isto posto, o domínio único do constructo da cyberempatia se configurou com cinco
itens, abaixo:
Após a análise fatorial, a validade do constructo foi por fim validada pelo teste de
consistência interna.
Esta pesquisa foi registrada no Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências
e Letras da UNESP de Araraquara/SP, sob o número de registro CAAE: 46222921.2.0000.5400
(APÊNDICE B).
As alunas e os alunos o responderam de maneira on-line, por meio de um formulário
criado via Google Forms, após apresentarem um termo de consentimento livre e esclarecido
(TCLE) assinado por seu pai, mãe e/ou responsável e consentimento próprio (TALE), que
constava no formulário.
93
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para encontrar os escores atingidos por nossos sujeitos nesta escala de cyberempatia,
consideramos as respostas de cada item como uma escala likert de 4 pontos, sendo (1) MUITO
POUCO a (4) BASTANTE. Para todos os itens a resposta “não aconteceu comigo” foi excluída
da análise, pois foram considerados apenas os participantes com resposta válida a todos os itens
de cada instrumento.
O processo se inicia com o cálculo dos escores brutos (EB) de cada um dos domínios
que compõe o instrumento geral. Esse EB é obtido pela soma das pontuações dos itens (q) de
acordo com o quadro abaixo, e dividido pelo número de itens que compõe cada um dos
domínios ou instrumento. Esse cálculo é feito utilizando a seguinte fórmula:
𝑞1 + 𝑞2 + ⋯ + 𝑞𝑛
𝐸𝐵 =
𝑛
A partir do cálculo do EB foi feita a transformação linear (escores de 0 a 100) que seguiu
os passos:
95
Desvio-
Média
Escores N* padrão Mínimo Máximo
empatia 2267 68,86 25,59 0 100
Fonte: A autora.
Entretanto, nos interessa saber quais são as ocasiões em que cyberempatia é mais ou
menos experimentada, bem como entender se comportam as outras variáveis que objetivamos
conhecer.
Passemos a apresentar os resultados encontrados para cada objetivo que traçamos nesta
investigação.
1º Objetivo: verificar as situações de maior e menor evidência do sentimento de
cybempatia entre os adolescentes.
Vejamos o que encontramos para cada item do instrumento de cyberempatia com
auxílio do gráfico 1.
Gráfico 1 - Pontuação dos itens do instrumento de cyberempatia
Fonte: A autora.
96
Podemos verificar que 11,07% dos respondentes alegam que pouco se sensibilizam nas
relações virtuais por pessoas que conhecem. Se analisarmos apenas a porcentagem podemos
entender que é um número pouco relevante. No entanto, quando consideramos os valores
brutos, vemos que dos 2267 respondentes mais de 400 apresentam pouca empatia por pessoas
que conhecem.
Em seguida, verificamos que 37,45% sentem BASTANTE empatia por pessoas que
conhecem, seguidos de 19,72% que somando esses dois valores da escola temos um total de
57,17%, que revela que mais da metade dos adolescentes conseguem se sensibilizar pelo
sofrimento de pessoas que conhecem.
Por conseguinte, quando analisamos as respostas do item 32. Me sensibilizar com o
sofrimento de pessoas que não conheço, identificamos que essa capacidade diminui
consideravelmente. Apenas 22,05% dos alunos entrevistados conseguem se sensibilizar
BASTANTE por pessoas desconhecidas e 16,92% quase não se sensibilizam.
Diante do que vimos, uma das barreiras para a empatia é a distância. Complementando
o que já abordamos sobre o autor Krznaric (2015), essa distância seja ela espacial ou emocional,
concluímos que nossa capacidade empática tende a diminuir.
Embora a internet tenha “aproximado” as pessoas, ainda assim, como esclarece o autor,
quando não conhecemos as pessoas, quando suas vidas são pouco conhecidas, torna-se mais
difícil de encontrar o desejo de nos importarmos por elas. Ainda, acrescenta que essa distância
nos protege de perceber as consequências de nossas ações, “parecemos capazes de fazer quase
tudo” (p.73).
Ainda de acordo com o autor, há três tipos de distâncias: distância espacial (explicitada
acima); distância social e a distância temporal. A segunda caracteriza-se por apenas sentirmos
empatia por pessoas em que há alguma semelhança social, como maneira de pensar, mesmo
grau de instrução, raça ou religião. Já a distância temporal, se relaciona com o grau de empatia
que sentimos por pessoas que estamos mais vinculadas emocionalmente, filhos, pais, netos...
Contudo, conforme esse vínculo afetivo vai se distanciando, nossa capacidade empática
pode diminuir.
Portanto, o grande desafio da empatia seria estreitar essas distâncias, para que
consigamos nos comover pelo sentimento alheio de quem quer que seja.
Passemos a outro item: no item 33. Perceber quando algum dos meus colegas se sente
mal, a maioria demonstra perceber os afetos de quem conhece. 34,4% conseguem perceber
BASTANTE quando algum dos colegas se sente mal.
Contudo, ao somarmos os resultados 1 e 2 da escala, sendo 1 o valor de 12,97% e 2
97
Ao nos debruçarmos nos itens 36, identificamos que a maior parte dos respondentes
conseguem se sensibilizar pela felicidade alheia. Averiguamos que é mais fácil ficar feliz com
a alegria do outro do que pela dor. 53,01% se alegram pelo outro contra 9,8% não compartilham
desse sentimento.
De maneira geral, como vimos, os adolescentes se sensibilizam mais por pessoas
conhecidas do que pessoas desconhecidas, e que a porcentagem de adolescentes que se
sensibilizam pela felicidade alheia (53,01%) é maior do que pelo sofrimento das pessoas
conhecidas (37,45%).
De acordo com Smith (2015) o princípio em que aprovamos e/ou desaprovamos nossa
própria conduta se dá pela maneira que formamos juízos a outras pessoas. Ou seja, aprovamos
ou desaprovamos a ação das outras pessoas de acordo com nossos sentimentos ao estabelecer
uma relação às nossas próprias ações e assim da mesma forma podemos aprovar ou não nossas
condutas quando as colocamos numa outra perspectiva.
Portanto, o modo pelo qual vamos formando juízos é se representando nos outros. Nas
palavras de Smith (2015, p. 141): “Nossas primeiras ideias de beleza e deformidade das pessoas
são extraídas da figura e da aparência de outros, não das nossas próprias”. Todavia, segundo o
autor, o que transmitimos ao outro nos preocupa porque não estamos desligados da sociedade.
Assim, quando nos dedicamos a refletir acerca da nossa própria conduta, seja para aprová-la
ou não, isso de divide em dois fatores: 1 – como eu avalio e 2 – como penso que posso ser
avaliado.
Estabelecendo uma relação com o ambiente virtual, dificilmente vemos situações em
que as dores são compartilhadas, mas em sua grande maioria o que se compartilha são as
alegrias. Talvez exista uma preocupação com o que vão pensar de nós, o que explica, em sua
maioria, as postagens que transmitem uma vida perfeita.
2º Objetivo: identificar se existe diferença nos scores de cyberempatia demonstrados
por meninas e meninos na convivência virtual.
Antes de apresentarmos os resultados encontrados neste segundo objetivo, abordaremos
alguns dados obtidos por ocasião de um recorte da mesma investigação conduzida com os
participantes sobre as questões de cyberconvivência. A dimensão da
cyberconvivência/cyberagressão contou com 15 itens para verificar os relacionamentos e os
comportamentos em ambientes virtuais.
Na tabela abaixo apresentamos alguns resultados absolutos e frequências de respostas
para a afirmação “Fizeram isso comigo ou aconteceu comigo”.
Ameaçar alguém por meio de mensagens na internet, nas redes sociais 175 9,1%
ou situações de jogos online.
99
Excluir uma pessoa sem que ela queira, de uma rede social ou grupo, 173 9,0%
porque ela incomoda ou porque não se gosta dela.
“Cancelar” uma pessoa por ter condutas ou opiniões diferentes. 114 5,9%
Editar uma foto ou criar “memes”, criar um perfil fake (falso) para 68 3,5%
ridicularizar ou humilhar alguém.
Insultar ou zoar alguém na internet por seu tipo físico (magro, obeso, 162 8,4%
alto, baixo, ruivo, negro, loiro etc.)
Ameaçar o(a) namorado(a) por WhatsApp ou rede social porque ele(a) 39 2,0%
quer romper a relação.
Ofender ou desrespeitar (não é discutir) com alguém na internet por sua 94 4,9%
opção política, religiosa ou ideológica.
Fonte: as autoras
Percebemos que 38,5% das alunas e dos alunos entrevistados já vivenciaram essas
situações ou conhecem colegas que já sofreram com mensagens ofensivas; isso evidencia, a
nós pesquisadores, que o trabalho com a convivência cibernética precisa urgentemente ser tema
estruturante dos currículos nas instituições escolares. Notamos também que 162 adolescentes
já insultaram ou zoaram alguém na internet por seu tipo físico, o que direciona nossos esforços
para estudos sobre empatia virtual.
Ademais, outras indagações surgiram na investigação conduzida anteriormente: o fato
de terem computador em casa pode ser uma variável que interfere nesses resultados? Da mesma
forma, ter um celular próprio é fato causador de conflitos relacionados à cyberagressão?
Para responder essas indagações tomamos para análise as respostas que apontaram a
autoria de cyberagressões: quem assinalou a alternativa "Eu fiz isso" como autores de
100
cyberagressão e aqueles que não assinalaram essa alternativa ("Eu fiz isso") como "não autores
de cyberagressão". Os percentuais se referem às agressões indicadas em algum momento nos
últimos 3 meses, considerando quem não tem computador e quem tem; quem não tem celular
e quem tem.
Tabela 3 - Correspondência entre ter ou não computador em casa e ter sido autor
Tem computador/notebook
na sua casa?
Variável Valor-p
Não
Sim (n=1021)
(n=902)
Enviar mensagens que ofendem. 39 (4,32%) 28 (2,74%) 0,06
Ameaçar alguém por meio de mensagens na internet, nas redes sociais ou situações
30 (3,33%) 22 (2,15%) 0,11
de jogos online.
Criar páginas ou grupos para falar mal de alguém. 50 (5,54%) 27 (2,64%) <0,01
Excluir uma pessoa sem que ela queira, de uma rede social ou grupo, porque ela 124
130 (12,73%) 0,51
incomoda ou porque não se gosta dela. (13,75%)
“Cancelar” uma pessoa por ter condutas ou opiniões diferentes. 52 (5,76%) 47 (4,6%) 0,25
Usar fotos íntimas de uma pessoa para chantageá-la. 29 (3,22%) 13 (1,27%) <0,01
Editar uma foto ou criar “memes”, criar um perfil fake (falso) para ridicularizar ou
42 (4,66%) 20 (1,96%) <0,01
humilhar alguém.
Hackear a conta de outra pessoa e enviar mensagens ou postar algo fingindo ser essa
39 (4,32%) 24 (2,35%) 0,02
pessoa.
Criar ou participar de enquetes nas redes sociais que zoam ou ridicularizam alguém. 30 (3,33%) 25 (2,45%) 0,25
Insultar ou zoar alguém na internet por seu tipo físico (magro, obeso, alto, baixo,
43 (4,77%) 27 (2,64%) 0,01
ruivo, negro, loiro etc.)
Ameaçar o(a) namorado(a) por WhatsApp ou rede social porque ele(a) quer romper
27 (2,99%) 17 (1,67%) 0,05
a relação.
101
Ofender ou desrespeitar (não é discutir) com alguém na internet por sua opção
52 (5,76%) 43 (4,21%) 0,12
política, religiosa ou ideológica.
Fonte: Autores
Escore cyberempatia
Diferença Intervalo de
Variável Média Mediana Valor-p
estimada confiança (95%)
(DP) (Mín-Máx)
Sexo
72,06
F (25,14) 80 (0 - 100) 8,45 6,28 10,62 <0,01
66,67 (0 -
M 63,6 (25,52) 100) ref.
Fonte: A autora.
Como podemos ver nos achados da nossa pesquisa, as meninas atingiram em média um
escore de 72,06 pontos enquanto os meninos pontuaram 63,6, apresentando uma diferença
estimada de 8,45, o que demonstra que as meninas pontuaram em média 8 pontos a mais que
os meninos.
Quando comparados esses escores, o valor de p<0,01 representa que essa é uma relação
estatisticamente relevante, confirmada pelo intervalo de confiança que varia de 6,28 a 10,62
102
Fonte: Os autores
Fonte: A autora.
Fonte: A autora.
104
Pelo gráfico podemos constatar que as meninas, novamente, conseguem perceber mais
quando os colegas se sentam mal (44, 28%) do que os meninos (33,14%), quando comparamos
suas respostas “Bastante”.
Fonte: A autora.
Fonte: A autora.
Os resultados encontrados no gráfico acima apresentam, mais uma vez, que as meninas
se sensibilizam mais do que os meninos.
Nossos resultados confirmam os resultados encontrados de uma pesquisa que contribuiu
para posteriores estudos. A autora Gilligan (1982), que por meio da sua teoria denominada “A
Ética do Cuidado”, aborda que há um olhar mais sensível nas mulheres: o cuidado. De acordo,
com a autora, os julgamentos morais trazidos por mulheres são diferentes dos homens, uma vez
que estão atrelados a sentimentos de simpatia e compaixão. As conclusões de Gilligan (1982)
podem colaborar no sentido de abranger essa diferença entre os gêneros, quando aclara que o
raciocínio moral do sexo feminino estaria mais relacionado para o cuidado com o outro, mas
também, consigo.
Uma recente pesquisa realizada por Boni (2023), intitulada como “A relação entre
bullying, empatia e pró-socialidade entre estudantes pertencentes a escolas públicas da rede
estadual do estado de São Paulo”, concluiu que as meninas se mostraram mais empáticas que
os meninos, dentre aqueles que não se identificaram em situações de bullying.
Hernández (2014) também considera que a empatia é uma habilidade mais comum em
mulheres entre 12 a 17 anos do que em homens desta mesma idade. Os dados desta pesquisa,
realizada por testes estatísticos, apresentaram essas diferenças entre a pontuação de empatia
106
das meninas em relação aos meninos, apontando que as meninas se sensibilizam mais
(Hernández, 2012).
Uma pesquisa realizada por Silva (2015) também encontrou diferenças de gênero nas
causas, estratégias de resolução de conflitos entre crianças de 8 e 9 anos. Os dados encontraram
que os meninos iniciam mais conflitos de provocação, enquanto que os conflitos das meninas
envolvem a disputa de amigos. As meninas, também, apresentam mais estratégias cooperativas
do que os meninos nas resoluções de conflitos.
Algumas pesquisas (Moreno, 1999; Finco, 2003), podem explicar essas diferenças entre
meninas e meninos. De acordo com os autores, a família e a escola agem de maneiras
específicas frente aos comportamentos das crianças e adolescentes do sexo oposto, reforçando
estereótipos construídos socialmente. São vistas como condutas permitidas nos meninos e
algumas vezes, até incentivadas, a agressividade, mas são reprimidas nas meninas.
Por um lado, embora a empatia seja fomentada pelo social, há estudos que aclaram
que a empatia mais elevada nas mulheres, parte, também, de um desenvolvimento biológico,
Cristov-Moore et.al. (2014). Ou seja, fortalecem que a empatia é resultante não apenas de um
contexto social, mas também de uma base biológica. Ademais, apresentam que os homens
seriam mais habilidosos, do ponto de vista cognitivo, enquanto as mulheres do ponto de vista
afetivo. Ainda de acordo com os autores, a maior empatia nas mulheres do que nos homens
pode ser explicada por um funcionamento psíquico mais adaptado aos estímulos ocorridos pela
socialização. Os homens, além de não possuírem a mesma disposição biológica que as melhores
não são estimulados pela sociedade, e quando são, esses estímulos ocorrem mais tardiamente e
em diferentes moldes.
Outros estudos confirmam que as mulheres tendem a ser mais empáticas do que os
homens (Craig; Lowry, 1969, apud Hoffman; Levine, 1976). Eisenberg e colaboradores (1996)
asseguram a importância desses estigmas entre os gêneros, considerando que podem acarretar
diferentes perspectivas entre os homens e as mulheres.
Em concordância, o autor Hoffman (1982), em suas pesquisas, encontrou
diferenças expressivas entre os escores de empatia em meninos e meninas, findando que as
meninas são mais empáticas.
107
Razão de
Feminino Masculino
Ação Valor-p prevalênci
(n=1837) (n=1493)
a
8) Enviar mensagens que ofendem. 22,75% 16,01% <0,01 1,42
9) Ameaçar alguém por meio de
mensagens na internet, nas redes sociais 9,8% 13,8% <0,01 0,71
ou situações de jogos online.
10) Criar páginas ou grupos para falar
7,24% 3,62% <0,01 2,00
mal de alguém.
11) Excluir uma pessoa sem que ela
queira, de uma rede social ou grupo,
16,11% 10,52% <0,01 1,53
porque ela incomoda ou porque não se
gosta dela.
12) “Cancelar” uma pessoa por ter
9,25% 7,3% 0,04 1,27
condutas ou opiniões diferentes.
13) Publicar ou enviar comentários
pessoais de alguém conhecido para outras
9,91% 7,1% <0,01 1,40
pessoas ficarem sabendo (e que a pessoa
não gostaria que fosse divulgado).
14) Usar fotos íntimas de uma pessoa
2,61% 2,28% 0,53 1,15
para chantageá-la.
15) Compartilhar vídeos/fotos íntimas de
uma pessoa conhecida sem a permissão 2,72% 2,41% 0,57 1,13
dela (o).
16) Editar uma foto ou criar “memes”,
criar um perfil fake (falso) para 3,97% 5,02% 0,14 0,79
ridicularizar ou humilhar alguém.
17) Hackear a conta de outra pessoa e
enviar mensagens ou postar algo fingindo 3,76% 4,29% 0,44 0,88
ser essa pessoa.
18) Criar ou participar de enquetes nas
redes sociais que zoam ou ridicularizam 2,5% 2,75% 0,66 0,91
alguém.
19) Ofender ou zoar alguém na internet
por sua orientação sexual ou identidade
4,63% 4,02% 0,39 1,15
de gênero-LGBT+ (homofobia,
transfobia etc.).
108
A média da pontuação dos escores do grupo 1 foi de 68,82 pontos, enquanto do grupo 2 de
68,96, apresentando um resultado muito próximo entre as pontuações.
Isso nos leva a alguns questionamentos: por que será que esses alunos não estão avançando?
Será que as instituições escolares não estão favorecendo tal desenvolvimento?
Voltemos à pesquisa realizada por Souza (2023), que contou com um objetivo: “comparar
a prevalência de comportamento pró-social virtual entre adolescentes de dois grupos de faixas
etárias distintas: grupo 1 (11 a 14 anos) e grupo 2 (15 a 17 anos)”. Os resultados encontrados
ratificam os dados encontrados na presente pesquisa, pois não foram encontradas diferenças
entre os grupos das faixas etárias.
Um estudo conduzido por Decety et al. (2010); Decety e Jackson (2004); Decety e Lamm
(2006); Decety, Norman, Berntson e Cacioppo (2021); Decety e Svetlova (2012), avalia o
desenvolvimento da empatia no âmbito do neurodesenvolvimento, ou seja, a evolução cerebral
110
desde a infância até a idade adulta. Os resultados apontaram que tal desenvolvimento envolve
a ativação de sistemas neurais em relação à dimensão cognitiva da empatia, ao mesmo tempo
a habilidade empática está associada a um processamento emocional. Dessa maneira, a
capacidade de compreender os estados mentais, bem como as emoções dos outros aparecem
mais no decorrer do desenvolvimento do que a capacidade de experimentar as emoções.
Outra pesquisa realizada por Zabala et al. (2018) tinha como objetivo caracterizar a teoria
da mente (MT) e a empatia em crianças e adolescentes, e analisar se existe uma interação
diferente entre ambos os processos de acordo com o estágio de desenvolvimento. Este objetivo,
segundo os autores, é permeado pelo estudo da cognição social e sugere que a MT auxilia a
capacidade empática na atribuição de emoções, bem como entender o estado emocional dos
outros. Foram 168 participantes, 83 meninas e 85 meninos, com idades entre 9 e 18 anos.
Esse dado pode explicar o resultado encontrado na nossa pesquisa. Quando estamos
conectados com o outro por uma tela, para conseguirmos nos sensibilizar pelo estado emocional
daquele é necessário um esforço cognitivo ainda maior. É preciso pensar sobre o que o outro
pode vir a sentir em situações de desrespeito virtual. Nossos resultados, como supracitado, não
encontraram diferenças nas idades. Portanto, será necessário aprofundar em pesquisas futuras
se esse desenvolvimento se modificou ou não, uma vez que a troca entre os pares está cada vez
mais pautada pela tecnologia.
Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas
existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são
pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros
engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de serem pássaros. Porque a essência dos
pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam
são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso
elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser
ensinado. Só pode ser encorajado.
7
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
117
Então o que podemos fazer para as escolas brasileiras se tornem lugares mais seguros,
respeitosos e empáticos? De acordo com os autores (Jares, 2008; Tognetta, 2009; Uruñela,
2017; Vinha et al., 2017), promover a convivência é oferecer espaços que seja possível aos
alunos refletirem, falarem, discutir acerca dos valores morais e a ausência deles em
determinadas situações, tomar decisões, expressarem sentimentos e assim fortalecer o termo
“convivência” como substituição a normas rígidas e intolerantes, a vincular como oportunidade
de elaboração de relacionamentos democráticos, como um contraveneno à violência, e
sobretudo, como um caminho seguro e firme para o desenvolvimento do respeito e da empatia.
Compreendemos que não é uma tarefa simples, mas sem ela estaremos fadados ao
fracasso! Porque sim, a sociedade está em constante mudança e as escolas têm o papel de
preparar as crianças e os adolescentes para a diversidade, para serem cada vez mais justos,
considerando a equidade, para olhar para si e para o outro com respeito e empatia. Sobretudo,
para que possam ser mais capazes de compreender e se sensibilizar por esse outro, que por
vezes, está atrás de uma tela e que pode ser alguém conhecido, mas pode também não ser. Por
fim, para que possamos ter a cyberempatia para todos e para qualquer um!
Trazemos então um novo conceito: CYBEREMPATIA. É a capacidade humana de
representação que envolve aspectos cognitivos e afetivos que permitem a um sujeito ser capaz
de imaginar alegria ou a dor de outrem que não está fisicamente presente e se comover com o
que sente.
119
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133
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º Esta Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da
internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios em relação à matéria.
Art. 6º Na interpretação desta Lei serão levados em conta, além dos fundamentos,
princípios e objetivos previstos, a natureza da internet, seus usos e costumes particulares e sua
importância para a promoção do desenvolvimento humano, econômico, social e cultural.
CAPÍTULO II
DOS DIREITOS E GARANTIAS DOS USUÁRIOS
de acesso a aplicações de internet, bem como sobre práticas de gerenciamento da rede que
possam afetar sua qualidade;
VII - não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de
conexão, e de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso e
informado ou nas hipóteses previstas em lei;
VIII - informações claras e completas sobre coleta, uso, armazenamento, tratamento
e proteção de seus dados pessoais, que somente poderão ser utilizados para finalidades que:
a) justifiquem sua coleta;
b) não sejam vedadas pela legislação; e
c) estejam especificadas nos contratos de prestação de serviços ou em termos de
uso de aplicações de internet;
IX - consentimento expresso sobre coleta, uso, armazenamento e tratamento de
dados pessoais, que deverá ocorrer de forma destacada das demais cláusulas contratuais;
X - exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada
aplicação de internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as
hipóteses de guarda obrigatória de registros previstas nesta Lei e na que dispõe sobre a proteção
de dados pessoais; (Inciso com redação dada pela Lei nº 13.709, de 14/8/2018, publicada no
DOU de 15/8/2018, em vigor 24 meses após a publicação, nos termos da Lei nº 13.853, de
8/7/2019)
XI - publicidade e clareza de eventuais políticas de uso dos provedores de conexão
à internet e de aplicações de internet;
XII - acessibilidade, consideradas as características físico-motoras, perceptivas,
sensoriais, intelectuais e mentais do usuário, nos termos da lei; e
XIII - aplicação das normas de proteção e defesa do consumidor nas relações de
consumo realizadas na internet.
Seção I
Da Neutralidade de Rede
Seção II
Da Proteção aos Registros, aos Dados Pessoais e às Comunicações Privadas
Art. 12. Sem prejuízo das demais sanções cíveis, criminais ou administrativas, as
infrações às normas previstas nos arts. 10 e 11 ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes
sanções, aplicadas de forma isolada ou cumulativa:
I - advertência, com indicação de prazo para adoção de medidas corretivas;
II - multa de até 10% (dez por cento) do faturamento do grupo econômico no Brasil
no seu último exercício, excluídos os tributos, considerados a condição econômica do infrator
e o princípio da proporcionalidade entre a gravidade da falta e a intensidade da sanção;
III - suspensão temporária das atividades que envolvam os atos previstos no art. 11;
ou
IV - proibição de exercício das atividades que envolvam os atos previstos no art.
11.
Parágrafo único. Tratando-se de empresa estrangeira, responde solidariamente pelo
pagamento da multa de que trata o caput sua filial, sucursal, escritório ou estabelecimento
situado no País.
Subseção I
Da Guarda de Registros de Conexão
Subseção II
Da Guarda de Registros de Acesso a Aplicações de Internet na Provisão de Conexão
Subseção III
Da Guarda de Registros de Acesso a Aplicações de Internet na Provisão de Aplicações
Art. 17. Ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei, a opção por não guardar os
registros de acesso a aplicações de internet não implica responsabilidade sobre danos
decorrentes do uso desses serviços por terceiros.
Seção III
Da Responsabilidade por Danos Decorrentes de Conteúdo Gerado por Terceiros
Art. 18. O provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por
danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros.
§ 1º A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade,
identificação clara e específica do conteúdo apontado como infringente, que permita a
localização inequívoca do material.
§ 2º A aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou a
direitos conexos depende de previsão legal específica, que deverá respeitar a liberdade de
expressão e demais garantias previstas no art. 5º da Constituição Federal.
§ 3º As causas que versem sobre ressarcimento por danos decorrentes de conteúdos
disponibilizados na internet relacionados à honra, à reputação ou a direitos de personalidade,
bem como sobre a indisponibilização desses conteúdos por provedores de aplicações de
internet, poderão ser apresentadas perante os juizados especiais.
§ 4º O juiz, inclusive no procedimento previsto no § 3º, poderá antecipar, total ou
parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, existindo prova inequívoca do
fato e considerado o interesse da coletividade na disponibilização do conteúdo na internet, desde
que presentes os requisitos de verossimilhança da alegação do autor e de fundado receio de
dano irreparável ou de difícil reparação.
Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por
terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da
divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais
contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de
notificação pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente,
no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo.
Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena de
nulidade, elementos que permitam a identificação específica do material apontado como
violador da intimidade do participante e a verificação da legitimidade para apresentação do
pedido.
Seção IV
Da Requisição Judicial de Registros
Art. 22. A parte interessada poderá, com o propósito de formar conjunto probatório
em processo judicial cível ou penal, em caráter incidental ou autônomo, requerer ao juiz que
ordene ao responsável pela guarda o fornecimento de registros de conexão ou de registros de
acesso a aplicações de internet.
Parágrafo único. Sem prejuízo dos demais requisitos legais, o requerimento deverá
conter, sob pena de inadmissibilidade:
I - fundados indícios da ocorrência do ilícito;
II - justificativa motivada da utilidade dos registros solicitados para fins de
investigação ou instrução probatória; e
III - período ao qual se referem os registros.
140
Art. 23. Cabe ao juiz tomar as providências necessárias à garantia do sigilo das
informações recebidas e à preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem
do usuário, podendo determinar segredo de justiça, inclusive quanto aos pedidos de guarda de
registro.
CAPÍTULO IV
DA ATUAÇÃO DO PODER PÚBLICO
Art. 24. Constituem diretrizes para a atuação da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios no desenvolvimento da internet no Brasil:
I - estabelecimento de mecanismos de governança multiparticipativa, transparente,
colaborativa e democrática, com a participação do governo, do setor empresarial, da sociedade
civil e da comunidade acadêmica;
II - promoção da racionalização da gestão, expansão e uso da internet, com
participação do Comitê Gestor da internet no Brasil;
III - promoção da racionalização e da interoperabilidade tecnológica dos serviços
de governo eletrônico, entre os diferentes Poderes e âmbitos da Federação, para permitir o
intercâmbio de informações e a celeridade de procedimentos;
IV - promoção da interoperabilidade entre sistemas e terminais diversos, inclusive
entre os diferentes âmbitos federativos e diversos setores da sociedade;
V - adoção preferencial de tecnologias, padrões e formatos abertos e livres;
VI - publicidade e disseminação de dados e informações públicos, de forma aberta
e estruturada;
VII - otimização da infraestrutura das redes e estímulo à implantação de centros de
armazenamento, gerenciamento e disseminação de dados no País, promovendo a qualidade
técnica, a inovação e a difusão das aplicações de internet, sem prejuízo à abertura, à neutralidade
e à natureza participativa;
VIII - desenvolvimento de ações e programas de capacitação para uso da internet;
IX - promoção da cultura e da cidadania; e
X - prestação de serviços públicos de atendimento ao cidadão de forma integrada,
eficiente, simplificada e por múltiplos canais de acesso, inclusive remotos.
Art. 28. O Estado deve, periodicamente, formular e fomentar estudos, bem como
fixar metas, estratégias, planos e cronogramas, referentes ao uso e desenvolvimento da internet
no País.
CAPÍTULO V
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 30. A defesa dos interesses e dos direitos estabelecidos nesta Lei poderá ser
exercida em juízo, individual ou coletivamente, na forma da lei.
Art. 31. Até a entrada em vigor da lei específica prevista no § 2º do art. 19, a
responsabilidade do provedor de aplicações de internet por danos decorrentes de conteúdo
gerado por terceiros, quando se tratar de infração a direitos de autor ou a direitos conexos,
continuará a ser disciplinada pela legislação autoral vigente aplicável na data da entrada em
vigor desta Lei.
Art. 32. Esta Lei entra em vigor após decorridos 60 (sessenta) dias de sua publicação
oficial.
DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardozo
Miriam Belchior
Paulo Bernardo Silva
Clélio Campolina Diniz
142
Olá pessoal,
Hoje vocês responderão a um questionário que nos trará informações bastante importantes para
cuidarmos da nossa convivência nestes tempos de pandemia. Pedimos que sejam bastante
verdadeiros ao pensar sobre cada item do questionário!
( ) Pai
( ) Avó
( ) Avô
( ) Madrasta ou companheira de seu responsável
( ) Padrasto ou companheiro de seu responsável
( ) Irmã/irmão ou irmãs/irmãos
( ) Outros (por exemplo: primas, primos, tias, tios...)
10. Qual é a atividade dessa pessoa (responsável)?
( ) Trabalha fora de casa o dia todo
( ) Trabalha fora de casa meio período
( ) Trabalha em casa com atividades remuneradas (recebe pagamentos)
( ) Trabalha somente nas tarefas de casa
( ) Desempregada ou desempregado
( ) Aposentada ou aposentado
11. Tem computador/notebook na sua casa?
( ) Sim
( ) Não
12. Você tem um celular próprio?
( ) Sim
( ) Não
13. Onde você costuma acessar a internet com mais frequência (via Wi-fi ou rede móvel
do celular)?
( ) Não tenho acesso frequente à internet
( ) Em casa
( ) Na escola
( ) Casa de amigas ou amigos
( ) Casa de parentes
( ) Bares, restaurantes, lanchonetes etc.
Responda considerando os últimos 3 meses. Você pode marcar mais de uma alternativa para
cada situação.
15. Compartilhar
vídeos/fotos íntimas de
157
22. Ofender ou
desrespeitar (não é
discutir) com alguém na
internet por sua opção
política, religiosa ou
ideológica.
158
Não 1 2 3 4
aconteceu
isso
comigo...
Seu(sua) filho(a) está sendo convidado(a) a responder ao questionário “Cá entre nós, alunos e
alunas: pensando sobre a convivência” que faz parte do projeto de pesquisa “A Convivência
como Valor nas Escolas Públicas: implantação de um Sistema de Apoio entre Iguais”.
O projeto vem sendo desenvolvido desde 2019 em escolas da rede estadual de educação de São
Paulo – inseridas nas Diretorias de Ensino das regiões: Leste 3 (capital); Suzano (região
metropolitana; e Taquaritinga (interior) – com a participação de equipes gestoras e docentes
em parceria com o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM-
UNESP/UNICAMP), a Fundação Itaú Social e a Fundação Carlos Chagas.
Diante dos índices significativos de ocorrência de problemas de convivência dentro de
instituições de educação que, neste contexto de pandemia, foram potencializados nas relações
que os adolescentes estabelecem consigo mesmos, com os pares e com o adultos para além das
paredes da escola e partindo de investigações anteriores sobre a os problemas de convivência e
sofrimento emocional em adolescentes, a pesquisa tem como objetivo principal: Investigar a
percepção de adolescentes de escolas públicas do estado de São Paulo sobre seus sofrimentos
emocionais e problemas que afetam a convivência no contexto pandêmico.
Trata-se de uma pesquisa exploratória de caráter descritivo que envolve dados quanti e
qualitativos. O grupo de participantes será composto por alunos e alunas do Ensino
Fundamental: Anos Finais das escolas estaduais envolvidas no projeto de pesquisa mencionado
anteriormente.
Para participar seu(sua) filho(a) responderá a um questionário online com questões fechadas
que contemplam duas dimensões:
O tempo para responder ao questionário será de cerca de 20 minutos e seu(a) filho(a) tem
liberdade de se recusar a participar e ainda de continuar participando em qualquer fase da
pesquisa, sem qualquer problema. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com
os(as) pesquisadores(as) ou com a escola.
Os procedimentos adotados nesta investigação obedecem aos critérios da ética nas pesquisas
com Seres Humanos conforme resolução nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde. Portanto,
nenhum deles oferece riscos à sua dignidade ou integridade física, embora haja a possibilidade
de, em algum momento, o(a) aluno(a) sentir-se desconfortável ou pouco à vontade para
responder aos itens. Por qualquer ocorrência que possa resultar em danos ao estudante, se
161
Sua família não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada
será pago por sua participação. No entanto, caso qualquer participante tenha alguma despesa
não prevista, em decorrência da participação, ele(a) será integralmente ressarcido(a).
Ao participar da pesquisa seu(a) filho(a) não terá nenhum benefício direto. Entretanto, espera-
se que os resultados obtidos nesta investigação forneçam subsídios para que novas propostas
sejam formuladas, não somente pelas unidades escolares envolvidas nesta investigação, mas
também pelas instituições que representam o Estado e têm a responsabilidade de integrar e
potencializar o trabalho de educação para a convivência nas escolas públicas no Brasil.
As informações obtidas por meio da pesquisa serão confidenciais, e asseguramos o sigilo sobre
sua participação, sendo assim, as respostas do(a) seu(sua) filho(a) serão anônimas, sendo
impossível identificá-lo(a) a menos que escreva o nome no formulário. Além disso, os(as)
pesquisadores(as) responsáveis manterão em seu poder todas as avaliações aplicadas, de forma
a proteger e assegurar a privacidade dos(as) participantes.
Você receberá uma via deste termo onde consta o telefone e o endereço da pesquisadora
principal, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer
momento.
PERGUNTA:
( ) Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios da participação do(a) meu filho(a)
nesta pesquisa. Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,
manifesto meu interesse que ele(a) responda ao questionário. A pesquisadora me informou que
o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Faculdade de
Ciências e Letras do Campus de Araraquara- UNESP, localizada à Rodovia Araraquara-Jaú,
Km 1 – Caixa Postal 174 – CEP: 14800-901 – Araraquara – SP – Fone: (16) 3334-6263 –
endereço eletrônico: [email protected].
( ) Não concordo.
162
Você está sendo convidado(a) a responder ao questionário “Cá entre nós, alunos e alunas:
pensando sobre a convivência”.
Nem sempre a convivência é uma coisa fácil, não é mesmo? Além dos problemas que vários(as)
adolescentes já tinham na escola como, bullying, conflitos com colegas ou com os adultos,
solidão, falta de amigos(as) etc., neste contexto de pandemia, tudo isso foi potencializado nas
relações que a gente tem consigo mesmo, com os colegas e com os adultos em ambientes
virtuais. É por isso que esta pesquisa tem como objetivo investigar a percepção de adolescentes
de escolas públicas e particulares sobre os problemas que afetam a convivência virtual no
contexto pandêmico. Para além disso, esta pesquisa investigará o sentimento da empatia
presente nas relações virtuais, bem como a pró-socialidade, ou seja, a capacidade de realizar
ações morais, como acolher, ajudar, apoiar, vividas no âmbito virtual.
Trata-se de uma pesquisa envolvendo alunos e alunas do Ensino Fundamental: Anos Finais de
escolas públicas e particulares do nosso país.
O tempo para responder ao questionário será de cerca de 15 minutos e você tem a liberdade de
se recusar a participar ou de continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer
problema. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com os(as) pesquisadores(as)
ou com sua escola.
Seu pai, mãe ou responsável autorizou que você participasse deste estudo e não terão nenhum
tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua participação.
Ao participar você não terá nenhum benefício direto. Entretanto, espera-se que os resultados
obtidos nesta investigação forneçam pistas para que novas propostas de ajuda sejam
formuladas, não somente pelas escolas envolvidas nesta investigação, mas também pelas
instituições que representam o Estado e têm a responsabilidade de proteger e ajudar alunos e
alunas para uma convivência saudável nas escolas brasileiras.
As informações obtidas por meio da pesquisa serão confidenciais e asseguramos o sigilo sobre
163
sua participação, sendo assim, suas respostas serão anônimas, sendo impossível identificar você
a menos queira que a gente saiba quem é você e escreva o seu nome no formulário.
Você receberá uma via deste termo onde consta o telefone e o endereço da pesquisadora
principal e você ou sua família poderão tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação,
agora ou a qualquer momento.
Pesquisadores:
Prof. Raul Alves de Souza
Profa. Fernanda Issa de Barros Farhat
Profa. Dra. Luciene Regina Paulino Tognetta
PERGUNTA:
( ) Concordo.
( ) Não concordo.
164
Sexo: Edad:
Escuela:
Por favor, hacé una cruz X en la opción que muestre mejor lo que a vos te pasa. Hacé sólo una
cruz para cada afirmación. No hay respuestas correctas o equivocadas. Gracias por contestar
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V. Lemos
Escuela
Nombre
Sexo: Edad Grado
: :
Por favor, hace una cruz (x) en la opción que mejor muestra lo que a vos te pasa. Hacé sólo una cruz
para cada afirmación. No hay respuestas correctas o equivocadas. ¡Gracias por contestar con
sinceridad todos los ítems!