Refletindo Ciencia Tecnologia Sociedade
Refletindo Ciencia Tecnologia Sociedade
Refletindo Ciencia Tecnologia Sociedade
Médio
Nilcéia A. M. Pinheiro1
Eloiza A. S. Ávila de Matos2
Walter Antonio Bazzo3
Resumo
O artigo tem por objetivo discutir a relevância de se trabalhar, em sala de aula, temas que
contemplem as relações existentes no contexto científico-tecnológico e social. Para tanto, expõe-se
como a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) tem tratado tais questões em nível
de Ensino Médio. Enfatiza-se que os trabalhos desenvolvidos no referido nível de ensino, foram
subsidiados pelos pressupostos epistemológicos do enfoque CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade)
a partir de pesquisa empírica assentada em premissas da investigação-ação. Destaca-se, assim, a
necessidade de o público escolar ter subsídios suficientes, em seu processo de formação, para
entender e julgar a veracidade das evidências colocadas pela ciência e pela tecnologia, comparando-
as com outras também significativas, a fim de que possam tomar decisões coerentes diante de
problemas que envolvam a sociedade.
1- Introdução
1
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
2
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
3
Universidade Federal de Santa Catarina
oportunizar a formação de competências básicas, tanto no exercício da cidadania como no
desempenho de atividades profissionais. Tal exigência é estabelecida na Constituição
Brasileira de 1988, por meio do seguinte dispositivo:
Em seu artigo 21, a LDB considera como Educação Básica o conjunto formado
pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, sendo este último
considerado como “etapa final da Educação Básica”.
O interessante a se destacar é que foi somente na atual LDB que o Ensino Médio
recebeu identidade própria. Revisitando a história da educação brasileira1, no contexto que
enfatiza a origem do Ensino Médio, percebe-se que é antiga a discussão em torno da função
social desse grau de ensino. Todavia, na atual LDB, em que o Ensino Médio é considerado
como parte integrante da Educação Básica, fica evidenciado que a sua função primordial é
completar a formação do indivíduo para a vida social, enquanto cidadão. O caráter
formativo, atribuído ao Ensino Médio, foi conseguido pelas lutas que se travaram a fim de
se conseguir uma extensão de obrigatoriedade para esse grau de ensino. Incorporado na
Constituição como resultado das pressões populares, esse dispositivo visa a estender o
acesso ao Ensino Médio para todos os cidadãos brasileiros.
Com isso, não se pode mais reduzir o Ensino Médio ao objetivo restrito de
preparação para o Ensino Superior (função essa, que lhe foi atribuída em grande parte das
leis educacionais, até então, existentes), nem à função de formação profissionalizante. É
notório, no contexto da sociedade científico-tecnológica, que não se exija do cidadão
apenas o domínio da leitura, do cálculo e da escrita, faz-se mister que se saiba interpretar o
mundo.
Portanto, é no espaço do Ensino Médio, também, que se deve gerar aos educandos
oportunidades que lhes permitam a formação de importantes capacidades:
4- Considerações finais
A educação democrática pressupõe que os cidadãos tenham a capacidade de
compreender alternativas, expressar opiniões e tomar decisões bem fundamentadas, enfim,
possam construir seu espaço político. Neste sentido, a formação de amplos seguimentos
sociais com vistas a nova imagem da ciência e tecnologia tem seu elemento chave na
renovação educativa, propiciada pelo enfoque CTS, quer seja em conteúdos curriculares,
quer seja em metodologias e técnicas didáticas.
Para tanto, acredita-se que o enfoque CTS, possa ser um alicerce impulsionador
para que questões que envolvam a ciência, a tecnologia e a sociedade possam ser trazidas e
discutidas em sala de aula, despertando, dessa forma, o senso crítico, a postura e defesa dos
alunos perante situações que envolvam seu dia-a-dia. Cabe a cada uma das áreas do
conhecimento, presentes no Ensino Médio, trazer o enfoque CTS para sua disciplina e
questionar a relevância da mesma no que concerne ao envolvimento da ciência, da
tecnologia e da sociedade, conforme tem acontecido na UTFPR.
As experiências desenvolvidas tanto na disciplina de Princípios Tecnológicos e
nos avanços posteriores, obtiveram uma avaliação bastante positiva por parte dos alunos.
As atividades desenvolvidas foram consideradas dinâmicas, criativas e interativas,
permitindo a tomada de decisões, exposição de idéias, opiniões e, principalmente,
possibilitando a busca de vários conhecimentos. Nessa perspectiva, o aprender ganhou uma
nova conotação. O conhecimento não foi considerado algo pronto e transmitido somente
pelo professor. O aprender se construía à medida que o aluno tinha sua curiosidade
aguçada. Sob essa premissa, Freire (1996, p. 77) afirma que “[...] aprender é uma aventura
criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada.
Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar [...]”.
Os alunos reconheceram a importância de assumirem uma postura crítica ao
analisar os feitos científico-tecnológicos percebendo que eles, enquanto cidadãos, têm o
direito, o dever e, principalmente, a capacidade de intervir em seu cotidiano. Entendem que
se é o homem que constrói o meio social no qual vive, mudanças podem ser realizadas.
Argumentam que não precisam apenas se adaptarem a essa realidade, tem que se lutar
pelas decisões e escolhas, pois nada lhes é dado pelo destino. Se tudo é construído, tem-se
o direito de desconstruir, mudar e reconstruir para melhor. Esse entendimento foi
despertado pelo contato com o enfoque CTS.
Percebeu-se que os alunos encaram o enfoque CTS como uma força que os fez
despertar para o mundo, abrindo-lhes os olhos para o senso crítico, encorajando-os a irem
atrás de maiores informações a respeito dos fatos. São sensibilizados quanto à sua
capacidade de intervir no mundo, de comparar, romper, escolher, formalizar grandes ações
em busca de soluções que venham a beneficiar um maior número de pessoas. O importante
é sempre otimizar os resultados.
Ao se utilizar estratégias de discussão oral e escrita, além de permitirem uma
participação mais efetiva dos alunos, também propiciaram o desenvolvimento de outras
habilidades, dentre as quais a criatividade, a reflexão crítica e a capacidade de
argumentação. Tornou-se cada vez mais visível a necessidade de os alunos falarem,
exporem suas idéias, criticarem e questionarem.
Assim sendo, além do diálogo promovido dentro de cada disciplina, é necessário
que os conhecimentos deixem de ser trabalhados de forma estanque, sem que o vínculo
entre eles e o contexto social seja ressaltado. É necessário que o trabalho conjunto e
contextualizado possa acontecer, de forma a não levar o aluno a pensar que o diálogo entre
os conhecimentos não existe e que um não necessita do outro.
A interdisciplinaridade e a contextualização, proporcionadas ao longo das
disciplinas que adotaram a abordagem CTS, mostraram-se indispensáveis para que se
possibilitasse aos alunos um processo de desenvolvimento de competências, capacidades e
habilidades, a fim de que pudessem compreender e atuar na sociedade científico-
tecnológica.
O constante diálogo e estudos mantidos pelos docentes no grupo de estudos do
enfoque CTS e os resultados da investigação-ação têm possibilitado a recondução de
pressupostos epistemológicos e metodológicos para a abordagem das relações entre ciência,
tecnologia e sociedade.
As experiências que têm sido desenvolvidas na UTFPR demonstram o quanto os
alunos do Ensino Médio possuem capacidade de refletir e aprender, construindo seus
próprios conhecimentos. Foram capazes de criticar, posicionando-se contra ou a favor,
argumentando e defendendo suas posições. Os alunos revelaram, também, a necessidade de
o enfoque CTS ser introduzido já no ensino fundamental, a fim de formar aos poucos um
cidadão que tenha sua atenção despertada para os aspectos que envolvem o contexto
científico-tecnológico e social. Consideram, do mesmo modo, ser o enfoque CTS de tal
relevância que ultrapassa os limites de uma forma de abordagem de conteúdos em sala de
aula, para se tornar uma forma de compreender e ver o mundo. Uma postura que o cidadão
assume ao tratar dos problemas que envolvem o seu entorno, acompanhando-o durante toda
a sua vida, quer seja em seu contexto profissional ou no ambiente onde vive.
NOTAS
o
1 PILETTI, Nelson. Ensino de 2 . grau: educação geral ou profissionalizante. São Paulo: EPU,
1988. PILETTI, Nelson. História da Educação no Brasil. São Paulo: Ática, 1991. RIBEIRO,
Maria Luisa Santos. História da Educação Brasileira: a organização escolar. 5 ed. São Paulo:
Cortez, 1991. ROMANELLI, Otaiza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930-1973).
Petrópolis: Vozes, 1989.
2 Tradução de: El enfoque educativo CTS, en tanto recupera los espacios críticos de esa
relación conjunta al devolver las implicaciones y los fines del desarrollo científico
tecnológico en un entramado social, político y ambiental, se nos presenta como un campo
de análisis propicio para entender y educar en el fenómeno tecnocientífico moderno.
3 Tradução de: en los injertos CTS se mantiene la estructura disciplinar clásica del
currículo, pero se crían espacios sobre temas de naturaleza CTS.
Referências
AULER, Décio. Interações entre Ciência-Tecnologia-Sociedade no contexto da
formação de professores de ciências. Florianópolis: Programa de Pós-Graduação em
Educação.Universidade Federal de Santa Catarina, 2002. Tese de doutorado. 248 p.
______; LINSINGEN, Irlan von.; PEREIRA, Luiz T. do Vale. Introdução aos estudos
CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade). Madri: OEI, 2003
CRUZ, Sonia Maria Silva Correa de Souza. Aprendizagem centrada em eventos: uma
experiência com enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade no Ensino Fundamental.
Florianópolis: Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de Santa
Catarina, 2001. Tese de doutorado. 247 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 163 p.