ARTIGO - Cooperativismo Híbrido
ARTIGO - Cooperativismo Híbrido
ARTIGO - Cooperativismo Híbrido
4-22, 2008
Elpídio Serra
Universidade Estadual de Maringá – Programa de Pós-Graduação em Geografia
[email protected]
Resumo
As cooperativas que atuam no setor agrícola do Paraná, em sua maior parte, surgiram
como empresas mercantis vinculadas ao recebimento e ao repasse para o mercado de
matérias primas entregues pelos agricultores associados, passando em seguida por
intenso processo evolutivo para se transformarem em grandes empresas comerciais e
industrias integradas ao agronegócio. Na nova fase assumem um comportamento
híbrido e contraditório ao operar, ao mesmo tempo e com a mesma estrutura, com
associados livres, associados integrados e terceiros (agricultores não associados). O
presente trabalho aborda tal evolução e tal comportamento, tomando como referências
as cooperativas COCAMAR, sediada em Maringá, região Norte e C. VALE, sediada em
Palotina, região Oeste do Paraná, destacando que pela nova forma de agir as empresas
se distanciam de suas bases sociais e dos princípios ideológicos do cooperativismo
como sistema universal, baseado em sociedade de pessoas e não de capitais.
Resumen
Las cooperativas que operan en el sector agrícola de Paraná, en su mayor parte han
surgido empresas como del mercado de trabajo en la recepción y repase para el mercado
de materias primas proporcionadas por los agricultores implicados, que pasa por un
intenso proceso evolutivo y se convirtió en un gran empresas comerciales y la
agroindustria integrada de las industrias. En la nueva fase son un híbrido y
contradictorio comportamiento cuando se opera al mismo tiempo y con la misma
estructura, con los miembros libres, integrados y asociados y terceros (los agricultores
no asociados). El presente artigo responde a esos acontecimientos y ese tipo de
comportamiento, teniendo como referencias COCAMAR las cooperativas, con sede en
Maringa, en el norte y C. Vale, con sede en Palotina, la región occidental de Paraná,
destacando que la nueva forma de actuar las empresas están distanciam de sus bases
sociales y los principios ideológicos de las cooperativas como sistema universal, sobre
la base de la sociedad de las personas y no de capital.
Abstract
The cooperatives operating in the agricultural sector of Paraná, for the most part have
emerged as market companies working in receiving and repassing to the market for raw
materials supplied by the farmers involved, then passed by an intense evolutionary
process and became a big commercial enterprises and the integrated agribusiness
industries. In the new phase are a hybrid and contradictory behavior when operating at
the same time and with the same structure, with free members, associated and others
producers (who don’t fit into any of these categories). This article treats of
developments and such behavior, taking as references COCAMAR, based in Maringá,
northern of the Paraná, and C. VALE, based in Palotina, the western region of Paraná,
stressing that the new form of acting companies are so far table of associations and their
own ideological principles of cooperatives as universal system, based on society of
people and not capital.
Keywords: co-operativism; agribusiness; Paraná; hybrid companies; industrialization.
INTRODUÇÃO
Agricultura, em 1972. Ou seja: pelo menos três anos das geadas, ocorridas em 1975, a
COCAMAR já estava aparelhada para operar com novos produtos, ciente portanto de
que o café estava com seus dias contados na região. O armazém foi o primeiro passo,
sendo que outros equipamentos foram sendo implantados nos anos seguintes, em função
das necessidades dos novos produtos agrícolas que passariam a ser cultivados pelos
associados em lugar do café, da mesma forma com a ajuda oficial mediante uma política
de créditos fartos e juros altamente subsidiados. Nesta nova fase, inaugurada nos anos
1970 e que vai ser consolidada depois das geadas de 1975, deixou de ter sentido o nome
“Cooperativa de Cafeicultores”: é aí que COCAMAR passa a significar Cooperativa de
Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá e, posteriormente, Cooperativa
Agroindustrial. Com as novas denominações, e em função da nova fase, deixa de
trabalhar apenas com café e diversifica sua linha de recebimento de produtos agrícolas;
deixa de ser apenas uma recebedora e repassadora de produtos entregues pelos
associados, passando a também industrializar as matérias-primas que recebe.
deslocaram para o Oeste e Sudoeste do Paraná a partir dos anos 1940, trocando
minifúndios antieconômicos em seus estados de origem por espaços maiores que
podiam ser adquiridos nas últimas frentes colonizadoras do Paraná, da mesma forma
como na região Norte, em condições facilitadas, à altura das condições econômicas dos
pequenos agricultores.
No plano prático, “em 1963, ano de sua fundação, o objetivo que motivou a
cooperativa era um armazém e um caminhão” (BELUSSO, 2007:50), acreditando que o
meio de transporte e o armazenamento da produção ajudariam a romper a condição de
dependência que mantinham com os atravessadores intermediários. O interesse do setor
público, entretanto, era outro: “O apoio dos governos federal e estadual incentivava a
criação de cooperativas como meio de viabilizar a substituição da agricultura colonial
pelo binômio soja e trigo” (BELUSSO, 2007:42). Tanto que dois anos depois, em 1965,
os agricultores eram persuadidos a utilizarem os recursos do recém-criado Sistema
Nacional de Crédito Rural (SNCR) para mudarem a estrutura de suas propriedades e
trocarem as lavouras de subsistência pelas lavouras mecanizadas.
15 AGRÁRIA, São Paulo, No 8, 2008 SERRA, E.
A contribuição dos associados se deu com a retenção das sobras não distribuídas
pela cooperativa no final de exercícios fiscais e transformadas em investimento a partir
de decisões coletivas tomadas em assembléias gerais.
Por outro lado, a utilização do parque industrial, adquirido em nome dos
associados, para a transformação de matérias-primas entregues por terceiros
(agricultores não associados), bem como sua locação para outras empresas, em
momentos de ociosidade das máquinas, são situações que geram agregações de valores
19 AGRÁRIA, São Paulo, No 8, 2008 SERRA, E.
em benefício apenas da cooperativa, mas não de seus associados, considerando que não
foi deles ou não saiu de suas propriedades a mercadoria transformada. Ora, não havendo
a expropriação direta e também não havendo a utilização exclusiva dos equipamentos
em função dos produtores filiados ou de suas mercadorias agrícolas, em parte deixa de
haver a esperada sintonia entre o desempenho da cooperativa e o repasse de seus
benefícios, na forma monetária, para o corpo associativo, embora, pelo menos
teoricamente, esses sejam os verdadeiros donos da empresa.
No caso da COCAMAR, essa relação híbrida, produto de uma conjuntura em
que o crescimento da cooperativa ocorreu e ainda ocorre não totalmente dependente da
participação direta dos associados, ganha importância histórica no primeiro e no
segundo anos do século XXI, quando o setor industrial, atrelado ao setor comercial
atacadista e varejista, passa a responder pela maior fatia do faturamento geral da
empresa e quando boa parte desse setor não está diretamente relacionada à produção
agrícola do quadro associativo, nem mesmo do setor agrícola regional. A COCAMAR
ingressa no setor de sucos concentrados, de maionese, ketchup, transformando em
industrializados produtos que não são próprios da agricultura de sua área de atuação, e
como conseqüência não saem das lavouras dos associados: ela os recebe de outras
indústrias, na forma de semi-manufaturados, completa o processo de industrialização,
envasa e lança no mercado com sua marca. Nesta fase de seu processo evolutivo, a
empresa encontra justificativas para mudar, pela terceira vez, sua denominação.
COCAMAR, que começou como Cooperativa de Cafeicultores de Maringá, que mudou
para Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá, agora é batizada como
Cooperativa Agroindustrial.
O crescimento, mais que crescimento, a metamorfose das cooperativas, gera
contradições e novas ambigüidades em relação à filosofia e às próprias bases do
cooperativismo. Não há como negar, por exemplo, que o quadro associativo perdeu sua
importância na sustentação das empresas, sofrendo, em relação a elas, o que seria pelo
menos na aparência, uma ruptura social e econômica. O distanciamento, que coloca a
cooperativa de um lado e o corpo associativo do outro, vai encontrar sustentação diante
do seguinte quadro:
Considerando tais situações, que são concretas, pode-se chegar a uma, que não é
concreta: diante de uma hipotética liquidação da empresa, os associados têm direito, de
acordo com as normas cooperativistas, a receber o correspondente ao volume
depositado em sua conta capital, com as devidas correções. Ocorre que no caso da
COCAMAR e da C. VALE o patrimônio liquido é muitas vezes superior ao montante
da conta capital, considerando que foi constituído em grande parte graças a um conjunto
de atividades que não dependeu do esforço do quadro social. A ajuda do Estado através
da liberação de créditos subsidiados, a operação com terceiros (agricultores não
filiados), a eficiência do sistema administrativo, a agregação de valores capitalizados e
convertidos em máquinas e equipamentos, que vão explicar e justificar o patrimônio
adicional da cooperativa, não podem ser desconsiderados na eventualidade de um ajuste
final de contas.
21 AGRÁRIA, São Paulo, No 8, 2008 SERRA, E.
REFERÊNCIAS