Caderno de Resumos PDF
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Caderno
de resumos
RELATOS E COMUNICAÇÕES
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
GPEL – GRUPO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Caderno
de resumos
RELATOS E COMUNICAÇÕES
I Jornada GPEL
Livro Ilustrado: memórias,
práticas e experiências
2024
Comissão científica
Profª. Drª Bruna Cunha (UFPE)
Profº. Dr. Clecio Bunzen (UFPE)
Profª Drª Cynthia Agra de Brito Neves (UNICAMP)
Profª Drª Daniela Segabinazi (UFPB)
Profª Drª Denize Teis (UTFPR)
Profª Drª Diana Martins (UMINHO)
Profª Drª Diana Navas (PUC/SP e FATEC/SP)
Profº. Dr. Diógenes Buenos Aires de Carvalho (UESPI)
Profª Drª Eliane Debus (UFSC)
Profª Drª Ester Rosa (UFPE)
Profº. Dr. Fernando José Fraga Azevedo (UMINHO)
Profº. Dr. Fernando Rodrigues de Oliveira (UNIFESP)
Profª Drª Ivanda Silva (UFRPE)
Profª Drª Ivete Walty (PUC-MG)
Profª Drª Jéssica Máximo Garcia (FASESP)
Profº. Dr. José Jacinto dos Santos Filho (UPE)
Profª Drª Juliana Pádua
Profº. Dr. Luis Girão (PUC/SP e USP)
Profª Drª Magda Dezzotti (UEMG)
Profº. Dr. Marcel Amorim (UFRJ)
Profª Drª Márcia Tavares (UFCG)
Profº. Dr. Marcos Scheffel (UFRJ)
Profª Drª Maria Lucia Ferreira Figueiredo Barbosa (UFPE)
Profª Drª Maria Zélia Versiani Machado (UFMG)
Profª Drª Marta Passos (CEFET/MG)
Profª Drª Neide Rezende (USP)
Profª Drª Otilia Lizete Heinig (FURB
Profª Drª Renata Junqueira (UNESP)
Prof. Dr. Robson Teles (UNICAP)
Profª Drª Rosiane Maria Soares da Silva (UFPE)
Profº. Dr. Sandro Luis da Silva (UNIFESP)
Profª Drª Ywanoska Gama (UFRPE)
Organizadores do evento
Clecio dos Santos Bunzen Júnior
GPEL/UFPE - Centro de Educação (CE-UFPE) e Centro de
Artes e Comunicação (CAC)
PROFLETRAS/UFPE
PPGL/UFPE
Resumo: Este trabalho tem como objetivo compartilhar um relato de experiência sobre os
elementos da linguagem visual a partir de livros de imagem, livros-objeto e demais formatos
que apresentem uma narrativa visual por meio de pontos, linhas, formas, cores e texturas no
contexto da aula de Arte, a partir de experimentações em sala de aula compreendidas entre
2018 e 2022, quando a pesquisadora atuava com estudantes de 1º a 5º anos em Limeira, SP.
Dessa forma, esta análise se propõe a discutir questões sobre a alfabetização visual de
crianças com a finalidade de investigar diferentes percepções em torno da educação das
imagens, na qual as representações imagéticas podem atribuir sentidos e significados, por
meio dos imaginários e dos simbolismos que residem na matéria da memória e dos sonhos.
Assim, o olhar atento para as imagens a partir da sintaxe da linguagem visual pode contribuir
para o estudo das imagens como paisagens abertas, ou seja, enquanto formas orgânicas que
sugerem aos leitores diferentes enunciados e evocações. No Ensino de Arte, entre outras
questões fundamentais, propõe-se a introdução dos elementos visuais na paisagem, por meio
do desenho, da pintura e das possíveis escritas imagéticas que decorrem deste processo.
Ocorre que, neste âmbito, algumas considerações sobre a forma como o desenho se coloca
no espaço escolar e não escolar atravessa a própria História, pois, muito recorrentemente, o
caminho que se toma é por didatizar a forma, tentando se adequar ao planejamento
docente. Assim, como uma questão que preocupa o Ensino de Arte de forma ampla, este
relato se apresenta como uma possibilidade para se discutir os elementos da linguagem visual
no contexto do livro ilustrado a partir de sua pertinência e adequação ao trabalho
pedagógico que é realizado, seja em Arte ou no trabalho interdisciplinar. Defende-se,
portanto, uma educação visual baseada na experiência vivida, com a exploração de
diferentes materialidades pelo leitor, a partir da mediação do professor que instigue e
promova vivências produtivas com as mais diversas materialidades do livro em campo
expandido. Logo, a proposta de uma sintaxe rítmica no Ensino de Arte considera que os
objetos ocupam o espaço com diferentes funções, que passam pela convenção ou mesmo
decodificação de um signo, mas que ultrapassam a questão utilitária e tomam forma como
objeto que tem suas singularidades e especificidades. Sendo assim, uma educação visual que
considere as potencialidades como diferenças importantes para a construção de
experiências humanizadoras frente aos desafios contemporâneos.
Uma experiência de leitura bilíngue e intersemiótica com The cat and the devil/o gato
e o diabo, de James Joyce
Resumo: Este trabalho buscou compreender por quais caminhos uma experiência de leitura
com crianças no contexto escolar pode contribuir com a formação do leitor infanto-juvenil,
utilizando para tanto a obra ilustrada O Gato e o Diabo/The Cat and the Devil, do escritor
James Joyce, ícone da literatura modernista anglófona. O autor, que notadamente não
escreveu para o público infanto-juvenil, foi inspirado por sua relação afetiva com o neto,
Stephen James Joyce, a lhe contar histórias pessoalmente ou através de cartas. O potencial
literário de uma destas cartas, enviada a Stephen em 1936, deu origem ao livro ilustrado em
questão. Retraduzida para mais de vinte idiomas nos últimos 60 anos, a obra traz temas e
elementos da escrita joyciana para adultos, com cada retradução seguindo uma imagem
infantil muito específica, de acordo com a sociedade em que está inserida, e que muda
conforme o tempo e o local. Através de uma pesquisa qualitativa documental descritiva sobre
a função da literatura na formação do leitor infanto-juvenil e dos aspectos semióticos da
ilustração, tradução e adaptação de obras literárias, contextualizada com informações
biográficas sobre a vida e obra de James Joyce e uma minuciosa análise de edições
selecionadas da carta-conto publicada como livro ilustrado infanto-juvenil O Gato e o
Diabo/The Cat and the Devil, realizou-se a observação e análise subjetiva de uma
experiência de leitura bilíngue e intersemiótica com uso de translinguagem com um grupo de
estudantes do quarto ano do ensino fundamental em uma escolainternacional do Rio de
Janeiro. Como resultado, a experiência positiva vivenciada por este grupo de crianças pode
levá-los pelos caminhos da literatura, por experiências futuras com os escritos de Joyce, e
por tantas outras possibilidades oferecidas pela literatura infanto-juvenil ao longo de sua
escolarização e de seu percurso como leitores. Ficou evidenciado que a escola pode - e deve
- ser um lócus privilegiado de acesso à literatura, à imaginação, à fruição, e à construção do
leitor crítico e reflexivo.
Resumo: Uma educação literária que promova e dê visibilidade à cultura afro-brasileira não
acontece amplamente pelas páginas eurocêntricas do livro didático, tampouco pelos
ementários das disciplinas de língua portuguesa e literatura nas escolas de ensino médio
técnico no estado do Amapá. A literatura em suas nuances do texto vivo e lido torna-se
apagada em sala de aula, principalmente a produção de autores negros do estado. Trabalhar
com autores afrodescendentes em sala de aula é permitir o direito à literatura (Candido,
2017), uma vez que o ensino de literatura deve extrapolar os conteúdos das periodizações das
escolas literárias e promover também discussões que evidenciem as origens étnicas, gêneros,
classes, racismo, identidades entre outros. Nesse sentido, o objetivo é apresentar um relato de
experiência ancorado nas Unidades de Leitura desenvolvidas por Silva (2003), que traz como
objeto de estudo os livros da escritora quilombola amapaense, Esmeraldina dos Santos. A
atividade foi desenvolvida por uma turma de graduação em Letras, como aplicação de
oficinas de leitura do Estágio Supervisionado, em uma turma do ensino médio. O objetivo foi
promover a prática leitora com viés crítico e produtor de releituras das obras da autora
supracitada. Problematizou-se que os alunos não conheciam a escrita de autoras negras do
estado e pouco liam leituras literárias quaisquer em sala de aula. Sendo assim, trata-se de um
relato de experiência que permitiu um trabalho de mediação e compartilhamento de leitura.
Os procedimentos de aplicação da atividade organizaram-se com o primeiro ano do ensino
médio técnico. Expostos aos livros, os alunos promoveram a leitura integral das obras, partilha
e troca de experiências por meio de releituras e atividades práticas de língua e literatura em
sala de aula . Os resultados revelaram que a leitura pode ser acolhida pelos alunos no
espaço-tempo da sala de aula, bem como promover um currículo que trabalha conceitos em
torno do tema da literatura afro-brasileira, permitindo a discussão de temas caros à escola
como preconceito, resistência, racismo, além de solidificar a importância da leitura de
literatura como um ensino que promove a compreensão do texto literário em seus aspectos
sócio-histórico-cultural, artístico e linguístico (Amorim et al, 2022). O aporte teórico foi
norteado por Silva (2003), Candido (2017), Macedo (2021) e Amorim et al (2022).
Resumo: Este estudo explorou o potencial do livro paradidático: "Ei, você!: Um livro sobre
crescer com orgulho de ser negro" de Dapo Adeola, para promover o letramento literário e a
formação de leitores antirracistas em alunos do 6º ano. A pesquisa fundamentou-se na teoria
do letramento literário Cosson (2018), que enfatiza a importância da interação entre leitor e
texto para a construção de significados, e na perspectiva da formação de leitores
antirracistas Cavalleiro (2020), que visa desenvolver a consciência crítica sobre o racismo e a
valorização da diversidade. Além da motivação pela necessidade de implementar um
currículo que valorize a cultura afrodescendente e combata o racismo no ambiente escolar,
em consonância com a legislação brasileira, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) 9394/1996 e a lei 11645/2008. A metodologia empregada consistiu na
aplicação da sequência básica de Cosson, que envolve etapas de predição, leitura
compartilhada, discussão e atividades de aprofundamento. Após a leitura e discussão do
livro, os alunos foram convidados a produzir ilustrações sobre seus antepassados, como forma
de expressar sua compreensão da obra e sua conexão com a temática racial. Os resultados
da pesquisa evidenciaram o impacto positivo da leitura do livro na formação de leitores
antirracistas. Os alunos demonstraram maior compreensão sobre o racismo e suas
manifestações, além de expressarem identificação com as experiências e mensagens do livro.
A atividade de ilustração dos antepassados promoveu a reflexão sobre a ancestralidade e a
valorização da cultura afro-brasileira, contribuindo para o fortalecimento da identidade e
autoestima dos estudantes negros. A experiência demonstrou que a literatura pode ser uma
ferramenta poderosa para a promoção da educação antirracista, incentivando a reflexão
crítica, a empatia e o respeito à diversidade. A combinação da teoria do letramento literário
com a perspectiva da formação de leitores antirracistas mostrou-se eficaz para o
desenvolvimento de leitores críticos e engajados na luta contra o racismo.
Resumo: A discussão sobre mediação de leitura de livros ilustrados tem ganhado força nas
discussões mais recentes a partir do reconhecimento da grande potência que o imbricado
diálogo entre texto e imagem pode representar na formação do leitor, na educação do olhar,
na ampliação de repertórios e construção de sentidos, tanto para o leitor quanto,
possivelmente em primeira mão, para mediadores de leitura que apresentam obras dessa
natureza aos leitores. Essa é uma via de mão dupla, na construção de leitores críticos, que vai
exigir do mediador de leitura não apenas sensibilidade, mas planejamento cuidadoso, atento
aos vários entrelaçamentos de imagens, palavras, projeto gráfico, abertura à diferentes
leituras, considerando que as possibilidades oferecidas pelo livro ilustrado ultrapassam a
dimensão do texto escrito, sendo fundamental conhecer vários aspectos que o compõem
para uma exploração profunda, possibilitando que durante a mediação de leitura possam ser
mobilizadas diferentes alternativas que contribuam para aguçar o leitor a explorar o
entrecruzamento desses elementos que apontam mais entrelinhas do que se pode imaginar.
Com base nos estudos de Nikolajeva e Scott (2011), Linden (2011), Chambers (2023) e Bajour
(2012 e 2023), apresentamos o relato de experiência com a mediação de leitura do livro
Onde vivem os monstros, uma obra-prima de um dos pioneiros do livro ilustrado, o norte-
americano Maurice Sendak (1928-2012). O relato parte da experiência desenvolvida pela
primeira autora com a mediação dessa obra em diferentes contextos (escolares e não
escolares) e das discussões e estudos desenvolvidos em parceria com a segunda autora, nos
processos de formação de mediadores de leitura onde têm atuado juntas. A partir da
reflexão sobre os desafios de planejar e realizar a mediação de leitura dessa obra,
discutiremos elementos fundamentais apontados pelos autores estudados que possibilitam a
ampliação do olhar e redimensionamento dos caminhos de construção dos sentidos do texto
e que apontam para uma necessidade de estudos e formação que contemplem a dimensão
teórica, estética e dialógica que esse gênero exige.
Resumo: O presente relato de experiência tem como objetivo apresentar algumas das
reflexões tecidas em um grupo de estudos de alfabetização, na perspectiva discursiva,
acerca das contribuições do livro ilustrado na formação do leitor na educação infantil e no
ensino fundamental I. Este relato consiste em um estudo exploratório realizado pelo GRUPAD
(Grupo de Estudos Alfabetização em Diálogos), um subgrupo do GEPEC (Grupo de Pesquisas
e Estudos em Educação Continuada) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
composto por professores, coordenadores, diretores, supervisores e formadores de
professores advindos tanto de escolas públicas quanto de escolas privadas. O grupo em
questão reúne-se quinzenalmente de forma híbrida para estudar coletivamente assuntos
inerentes à alfabetização e à formação do leitor. Por ser um grupo colaborativo, a cada
encontro todos são convidados a organizar e conduzir o próximo encontro, a pensar na pauta
e construí-la de maneira coletiva a partir das dúvidas e das necessidades trazidas pelos
integrantes do grupo. Este relato é o resultado deste estudo colaborativo, realizado em dois
encontros do segundo semestre de 2023, nos quais foram desenvolvidas atividades que
possibilitaram a reflexão, a análise, o aprofundamento, a discussão, a seleção e a mediação
de leitura de livros ilustrados visando correlacionar a teoria com a prática (práxis). Como
fundamentação teórica utilizou-se as contribuições de Colomer (2007), Reyes (2013), Cosson
(2014), Ramos (2011), Dalcin (2018), Gouveia e Rea (2021), Bakhtin (2007; 2017); Linden ( 2018)
entre outros.Desta forma este trabalho pretende compartilhar como a experiência de leitura
de livros ilustrados na formação de professores e como a mediação da leitura desses livros
repercutem significativamente na valorização da literatura, na ampliação da percepção do
livro em suas diferentes linguagens e materialidades, no desenvolvimento da fabulação, na
linguagem oral, na sua apreciação, e, principalmente, na formação leitora das crianças.
Como resposta aos encontros formativos foi observado por parte dos participantes uma maior
apreciação estética bem como melhoria do nível conceitual sobre as características do livro
ilustrado no que tange a linguagem textual, a linguagem visual e o designer.
Resumo: Esta comunicação tem como objetivo descrever e analisar a relação dos alunos de
uma turma do quinto ano do Ensino Fundamental I com a leitura e os recursos imagéticos em
uma escola localizada na Zona Norte da cidade de São Paulo. Tal observação surge do
contexto da residência educacional no curso de licenciatura em Linguagens da Faculdade
SESI de Educação, a qual forma professores por área de conhecimento, privilegiando, dessa
forma, o entrelaçamento entre os estudos de língua e artes. O acompanhamento do cotidiano
escolar dos estudantes possibilitou o exame das diferentes estratégias empregadas por
professores e demais atores da escola para o incentivo à leitura, assim como a percepção de
quais processos foram mais exitosos no período em observação, de um ano. De forma
específica, portanto, o trabalho privilegiou a constatação da importância das imagens no
processo de letramento literário dos estudantes dessa turma. Tal relação foi observada a
partir de reflexões sobre duas situações aqui descritas, sendo a primeira "Leitura coletiva e
audiovisual", acerca de uma sequência envolvendo o Mito de Prometeu e recursos de imagem
e vídeo, e a segunda situação, "Contação de histórias", com enfoque sobre sequência
didática que envolveu os livros O Vazio, escrito e ilustrado por Anna Llenas (2018) e O
desenho do mundo, escrito por Eliana Cruz e ilustrado por Estevão Ribeiro (2022). Os dois
livros apresentam diferentes técnicas de ilustração, como desenho, pintura e colagens, porém
têm em comum em sua feitura traços e composições que se assemelham às produzidas por
crianças. Constatou-se, nessa pesquisa, que obras como essas possibilitam uma aproximação
com os estudantes, os quais se sentem convidados a participar da criação artística. Além
disso, com base nas reflexões tecidas sobre os momentos de ensino-aprendizagem, percebe-
se o processo de apreensão e fruição que se intercala entre imagem e texto verbal, a fim de
enriquecer o repertório interpretativo dos educandos. Foi possível observar como uma
perspectiva de ênfase sobre os multiletramentos colaborou também, nesse contexto, para o
letramento literário dos estudantes. Como suporte teórico, os autores utilizados foram: Abreu
(2018), Barbosa e Barros (2015), Dalvi (2020), Freire (1989), Nunes e Gomes (2014), Silva
(2020) e Oliveira (2020).
A educação infantil como lugar onde a imagem fala e o corpo responde: o encontro
das crianças pequenas com textos imagéticos e a expressão corporal
Resumo: O que move um pesquisador? O que faz uma pessoa sair da sua zona de conforto
para fazer uma pesquisa no qual passará noites em claro em frente a uma tela de
computador? Em meio a esses questionamentos, foi preciso tomar novo fôlego, escavar e
escovar as histórias da mente, uma vez que a pesquisa se passou entre 2013 e 2014 quando
fui lecionar na Escola de Ensino Fundamental Jany Camelo Lima, lócus da pesquisa, situada
na zona rural do município de Arapiraca, interior de Alagoas e me deparei com o acervo
literário presente na escola que contemplava apenas os jovens. Foi somente no início de 2014
que começaram a chegar à Escola livros de histórias do Programa Nacional de Bibliotecas na
Escola (PNBE) , que consideravam as crianças pequenas por causa de seus recursos
multimodais. O despertar para a pesquisa se deu a partir dos estudos realizados no curso
“Leitura e expressão corporal na sala de aula, que fez parte do Projeto de pesquisa “Leitura
em Cena” ministrado pela professora Eliana Kefalás de Oliveira, cuja oferta foi resultado de
uma parceria entre a Universidade Federal de Alagoas-UFAL, o Curso de Letras do Campus I
da Universidade Estadual de Alagoas-UNEAL, que percebi um encantamento dos alunos pelas
imagens, a forma como as crianças usavam voluntariamente o corpo e os gestos para
recontar as histórias que poderiam resultar que culminou no meu Trabalho de Conclusão de
Curso. A metodologia utilizada consistiu em uma pesquisa qualitativa, um exemplar de uma
Linguística Aplicada indisciplinar conforme argumenta Moita Lopes (2006), , e tem como
ponto de partida a experiência da pesquisadora, suas vivências sócio históricas para analisar
seu objeto e assim gerar dado e efeitos de sentidos. No desenvolvimento do trabalho foi
necessário fazer gravações em vídeos dos alunos recontando histórias, observando por fim
que ao fazê-lo as crianças realizaram performances corporais e durante a apresentação oras
se tornavam narradores, oras se transformava em personagem ou os dois juntos. [...] Não é
somente a face de quem conta que expressa algo, é o corpo todo. É esse corpo que é
entregue à história, que dramatiza e se torna consciente (WUO;RAMOS, 2014). Assim, os
resultados sinalizaram que os recursos semióticos constituíram uma relação dialógica do
aluno com o livro, pois o educando conseguiu através da imagem, da voz, dos gestos e dos
movimentos reconstruir os fatos da narrativa.
Resumo: Ler é viajar pelo mundo da imaginação e do faz de conta. A literatura infantil
proporciona prazer pelos livros e as experiências significativas garantidas pela mediação
intencional do professor faz com que as crianças se encantem e desenvolvam necessidades
leitoras, contribuindo na formação do leitor. O objetivo do presente trabalho é relatar a
experiência de um momento de leitura em sala de aula com um livro ilustrado, que buscou
proporcionar às crianças o encantamento pela possibilidade de reflexão e imaginação por
meio do objeto “livro”. Logo, compreende- se que as crianças “merecem livros literários de
qualidade e uma relação íntima com esse objeto cultural, nas mais diversas possibilidades”
(Gonçalves, 2019, p.43). Dessa forma, ler literatura infantil de maneira intencional para as
crianças, pensando em espaços e tempos de qualidade é proporcionar o desenvolvimento de
funções psíquicas como a imaginação, criação, curiosidade e criatividade e criar
necessidades e prazer pela leitura. Ao mediar a leitura do livro “Júlia: viajando o mundo”, uma
narrativa que apresenta uma viagem através da imaginação da personagem principal, que
conhece diversos modos de vida ao redor do mundo por meio da fantasia e troca de
experiências. A leitura foi realizada com crianças pequenas de 4 a 5 anos de idade, no
cantinho específico para realizar leituras em sala de aula. Para o ambiente ficar mais
aconchegante foi disposto um tapete e oferecido uma almofada para cada criança. Os
mediadores disponibilizaram o livro para que as crianças tivessem contato com as ilustrações.
Dessa maneira, foi possível observar que crianças se mostraram entusiasmadas e empolgadas
no decorrer da leitura do livro. Por meio da literatura infantil, observamos que essa oferece e
provoca novas ideias, interações e emoções, surgindo vários relatos como: “Eu também posso
viajar o mundo lendo um livro? Eu gosto de comida Japonesa, quero visitar o Japão! Eu prefiro
ir ao sítio! Já vi um canguru no celular da minha mãe e ele mora no livro?!”. Por fim, esse
trabalho permitiu compreender que o desenvolvimento através da leitura proporciona
aprendizagem e experiência significativa de vivência de mundo.
Bruxa, bruxa, venha à minha festa: uma experiência de mediação literária nos anos
iniciais do ensino fundamental
Resumo: As crianças pequenas são curiosas por natureza e o incentivo à pesquisa precisa ser
preservado fomentado. Os projetos investigativos constituem uma ferramenta pedagógica
fundamental na educação infantil, pois promovem o desenvolvimento integral da criança,
estimulando a curiosidade, a autonomia e o pensamento crítico. Ao investigarem temas do
seu interesse, os pequenos aprendizes constroem conhecimentos de forma ativa e
significativa, como preconizado por Vygotsky (1984), que enfatiza o papel da interação social
na construção do conhecimento. Na pré-escola I as crianças costumam sugerir temas que
fazem parte de sua realidade ou de sua imaginação. Como havíamos saído de um projeto
investigativo realizado no primeiro bimestre, as crianças foram questionadas sobre o próximo
tema do projeto e grande parte sugeriu o fundo do mar e seus animais. Respeitando a opinião
da turma, iniciou-se às pesquisas com o intuito de sanar as dúvidas e curiosidades das
crianças, além de tratar de temas relevantes relacionados ao meio ambiente e preservação
da vida marinha. Essa abordagem pedagógica, além de promover o desenvolvimento
cognitivo, contribui para a formação de cidadãos mais conscientes e engajados com o
mundo ao seu redor. O universo marinho exerce um fascínio singular sobre as crianças,
despertando sua curiosidade e imaginação. A pesquisa sobre o fundo do mar, ao instigar a
curiosidade infantil, ofereceu uma rica oportunidade para a prática interdisciplinar. Iniciamos
a pesquisa com textos informativos, tendo como fontes enciclopédias e livros didáticos. A
confecção de brinquedos com materiais recicláveis também foi uma prática recorrente, pois
as crianças vivenciaram a importância da sustentabilidade e desenvolveram habilidades
manuais e criativas, alinhadas aos princípios do Currículo Referência de Minas Gerais. Brincar
com esses brinquedos, seguindo regras adaptadas ao contexto local e às necessidades dos
pequenos, promove o aprendizado colaborativo e o respeito ao meio ambiente, contribuindo
para a formação de cidadãos conscientes e críticos. A sensibilização da turma por meio da
literatura infantil dentro do tema proposto foi o ponto de partida para a produção de
poemas. Divididos em grupos, as crianças escolheram sobre um animal e relataram de forma
poética suas características. Assim surgiu o livro “Estrela-do-mar e outros poemas marinhos”
que foram apresentados pelas crianças às suas famílias com direito a autógrafo dos
pequenos poetas. A experiência de ouvir e produzir poemas foi extremamente significativa,
estimulando a imaginação, a sensibilidade e a construção de um repertório linguístico rico e
diversificado.
Resumo: O presente trabalho tem como propósito destacar as práticas organizadas pela
professora autora, apresentadas como relato de experiência, que promoveram o
protagonismo literário dos bebês no cotidiano de suas turmas, tanto nos espaços internos
quanto externos à sala de referência. As práticas descritas, tem como público alvo duas
turmas de Berçário 1, composta por 18 bebês (2023) e 12 bebês (até agosto de 2024) de
quatro meses a um ano e meio de idade de uma escola municipal de São José do Rio Preto –
SP. O contato com livros faziam parte da rotina diária dos bebês (Brasil 2010, 2017), sendo
constantemente disponibilizados exemplares de qualidade literária em um espaço acolhedor
e convidativo. Esses livros ficavam ao alcance dos bebês para que pudessem manipulá-los e
explorá-los conforme suas próprias iniciativas e interesses, ampliando seus repertórios,
possibilitando conforme Cabrejo-Parra (2014) mergulhos em universo particular, possibilitando
descobertas e trocas extremamente valiosas entre eles. Além disso, despertavam o prazer
pelas diversas possibilidades que os livros oferecem, colaborando de maneira intrínseca para
a formação de futuros bons leitores. Além do espaço interno, aconteciam com frequência as
chamadas “frescas literárias” que são possibilidades organizadas ao ar livre, com o objetivo
de oferecer um ambiente acolhedor, repleto de boas opções literárias, proporcionando
momentos propícios para o contato com a natureza e com os livros. Dessa forma, as
possibilidades de escolha permitiram maior intimidade entre os bebês e os livros, garantindo-
lhes o direito de acesso a esse bem cultural e a aproximação com outras realidades, culturas
e histórias. As histórias eram apresentadas às crianças por meio de leituras de colo, em
pequenos e grandes grupos, servindo como uma ponte para a comunicação dos bebês com o
mundo, como postula Pezani (2019). Esses momentos faziam parte dos cotidianos das turmas
e eram oferecidos regularmente, através de convites lançados pela professora autora, que
utilizava mudanças no tom de voz, criava suspense ou fazia perguntas para despertar a
curiosidade do grupo. Conforme o interesse das crianças, elas tinham liberdade para
aceitavam ou não o convite. Como parte da documentação desse processo, alguns registros
das vivências literárias resultaram em vídeos compartilhados com os pais e responsáveis, além
de mini-histórias que narravam as diversas aprendizagens dos bebês. Esses registros foram
exibidos em exposições ao longo do ano, garantindo a visibilidade das aprendizagens das
crianças, o direito das famílias de acompanhar seu desenvolvimento, além de espaço de
apreciação para toda a comunidade escolar.
Resumo: Este trabalho foi realizado no ano de 2022 com uma turma de 3º ano do Ensino
Fundamental, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Governador Leonel Brizola, no
munícipio de Arroio do Sal/RS. A turma era composta por 21 estudantes que haviam acabado
de perder a professora titular em uma morte súbita. A dor e o luto tomaram conta da escola e
como fui escolhida para assumir a turma no lugar da falecida professora, senti a necessidade
de dialogar sobre aspectos emocionais e sobre o surgimento da vida, através da literatura.
Em paralelo a isso, surgiu a ideia de criar um projeto para estimular a aprendizagem através
da pesquisa e curiosidade dos estudantes, abrangendo todo o currículo do 3º ano. O intuito
era tentar amenizar a dor da perda. O livro escolhido como ponto de partida para o projeto
literário foi “A Galinha Ruiva” de autoria de André Koogan Breitmam. O projeto envolveu a
mediação de leitura, degustação de alimentos à base de milho e o acompanhamento do
crescimento dos pintinhos. Após a leitura da história, a professora de ciências mostrou um
video sobre como nascem os pintinhos. As crianças ficaram atentas e sugiram muitas
perguntas. Um dos alunos disse que tinha um galinheiro em casa e então tivemos a ideia de
acompanhar o crescimento dos pintinhos na escola. De forma interdisciplinar, com o auxílio
da professora de ciências, trouxemos para a sala de aula uma chocadeira automática.
Depois de instalada, os 21 ovos foram inseridos no equipamento e 10 deles nasceram. Conclui-
se através deste relato que a aprendizagem se dá por meio da curiosidade e da pesquisa. A
literatura é capaz de oportunizar momentos de diálogo entre os estudantes, nos humanizar e
libertar do caos, como afirma Candido (2004). A experiência literária deixou marcas
profundas nos estudantes, que nunca mais esqueceram da galinha ruiva e seus pintinhos.
Resumo: A Mariposa Cartonera, editora artesanal sediada em Recife – PE surge em 2013 com
o objetivo de publicar literatura a baixo custo para facilitar a circulação de livros de
qualidade. Com base em princípios da economia solidária e envolvendo setores fragilizados
da sociedade no processo de produção, o coletivo inspirou-se no fenômeno cartonero,
movimento originado na Argentina durante a crise econômica ocorrida no fim da década de
90 como uma alternativa viável de publicação para escritores sem acesso aos meios editoriais
convencionais. A edição cartonera representa bem mais do que apenas livros. É a recusa da
histeria tecnológica. A paixão, a energia e a partilha são os valores do movimento cartonero.
Ele responde ao sismo econômico que afetou a Argentina e que afeta a cada dia um
crescente número de países. “O que é que eles nos deram? Miséria, pobreza. O que é que
lhes damos ? Livros. Para que haja um outro caminho, uma outra porta, uma outra via pela
qual seja possível passar” (Washington Cucurto). O objetivo da presente proposta de relato é
detalhar o processo de edição e publicação, bem como apresentar propostas de trabalho
pedagógico com as obras ilustradas ‘Le Petit Prince’ e ‘Manual do Pequeno Escritor’. Na
primeira, é feita uma releitura com toque brasileiro do clássico de Saint-Exupéry ilustrado
pela artista francesa Alicia Cuerva (Cosette Cartonera, Clermont-Ferrand). Na segunda obra,
a autora Ana Claudia Suriani (University College London) apresenta elementos essenciais
para desenvolver narrativas de ficção, usando como base contos tradicionais do ocidente. O
livro – que junto com a edição ‘Grimm e Perrault para ler’ compõe a série Manual do Pequeno
Escritor – também é composto por ilustrações de Alicia Cuerva e conta com atividades
práticas e exemplos para facilitar o aprendizado, voltando-se para o público a partir dos dez
anos de idade. Ambas as obras têm capas únicas de papelão reutilizado e são produzidas à
mão, contendo ilustrações coloridas no miolo.
Resumo: Este relato de experiência começa quando, para escrever um livro ilustrado - nos
termos de Sophie Van Der Linden, uma obra “em que a imagem é espacialmente
preponderante em relação ao texto” e “a narrativa se faz de maneira articulada entre texto e
imagem” -, tendo como matéria apenas palavras, pois não sou ilustradora, reduzi um conto de
três páginas para um roteiro de páginas duplas, com projeções de muitas imagens e
pouquíssimas letras: sete frases, para ser mais específica. O resultado foi o livro Loba, em
coautoria com Paula Schiavon e publicação pela Pequena Zahar, um bom retorno de público
e crítica e uma escritora em intimidade com o deslocamento. Como reconhecer-me escritora
quando o livro que consigo construir é justamente aquele em que me abstive da palavra?
Com o pensamento em busca de pertencimentos possíveis para o sujeito que escreve livros
ilustrados, acabei encontrando rumos inusitados em minhas práticas de escrita, como o
diálogo com diversos poetas do não dizer e seus artifícios de concisão e lapidação, tais como
Alejandra Pizarnik e Abbas Kiarostami, e ressonâncias com o cinema e seus procedimentos de
escrita enquanto base para a imagem. Experimentei também a palavra em múltiplas direções,
em uma criação textual que não é compulsoriamente linear e finalizada, mas que pode se
desdobrar em anotações, textos dispersos, desenhos e dobraduras do papel. Diante da
importância e visibilidade crescente da linguagem do livro ilustrado nas produções literárias
para a infância, refletir sobre sua criação a partir do ponto de vista de quem escreve, para
que se ampliem suas possibilidades de atuação, de forma que esta não se limite à produção
de um conto em seus próprios termos, a qual imagens serão sobrepostas posteriormente, mas
que inclua novos usos da palavra em seu diálogo com a imagem desde a gênese da criação,
se configura como ação necessária para ampliar o potencial criativo desses livros tão cruciais
para a formação de leitores no Brasil.
Floripa a pé! Relato da experiência de co-design de livro digital locativo com crianças
Resumo: “Trajetórias de um fio de rio: narrar por imagens no contexto do livro ilustrado” é o
título da dissertação de mestrado de minha autoria, desenvolvida entre os anos de 2017 e
2019 no Instituto de Artes da UNESP. Um dos aspectos fundamentais que nortearam a
pesquisa consistia no entendimento da própria dissertação como um processo criativo que
integrasse teoria e prática. Em conjunto com o desenvolvimento das reflexões conceituais, foi
produzido um livro ilustrado infantil denominado “Fio de rio”, posteriormente publicado nas
livrarias e distribuído em escolas por meio da seleção, em 2020, no programa “Minha
Biblioteca”, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. A investigação teórica que
compõe a dissertação fundamenta essencialmente a criação de “Fio de rio”, compreendido
como dispositivo de transbordamento poético da teoria. Temas como o ofício da ilustração no
contexto da narrativa visual; as possibilidades de jogo semântico entre palavras e imagens; o
papel da imaginação na construção de conhecimento; a importância social da literatura; a
imaginação como forma de resistência; bem como uma reflexão metalinguística sobre a
prática de se fazer pesquisa, reverberaram, em diversas camadas, na narrativa apresentada
em “Fio de rio”. Com uma narrativa predominantemente visual e carregando muitos aspectos
de autobiografia, “Fio de rio” traz a história de uma menina vivendo em um grande centro
urbano em tempos de seca e estiagem. Ao descobrir um singelo fio de água correndo na
borda da calçada, a protagonista percorre um passeio pelas memórias que correm por
debaixo do asfalto. A menina vivencia uma experiência de descoberta individual e coletiva
relacionada aos rios canalizados que se escondem sob as ruas da metrópole, e trilha uma
viagem imaginária que transforma completamente a maneira da criança compreender a
cidade que habita. No contexto em que “Fio de rio” se encontra permeado de relações com a
pesquisa acadêmica, a metáfora do “des-cobrimento” do potencial de água oculto pelo
concreto também reverbera em sugestões sobre o que consiste o próprio ato da pesquisa
crítica, no movimento de desvelamento e aprofundamento no que parece oculto à primeira
vista. Revelar e reavivar o rio pode dizer do jorro inesgotável da diversidade de saberes às
quais, em diversas ocasiões, se impõe uma tentativa de apagamento a partir de um cânone
colocado, feito concreto, como a única verdade possível.
Resumo: A partir de uma atividade sobre contos de fadas que foi aplicada em sala de aula
anteriormente, foi percebido que a maior parte dos estudantes da Educação de Jovens e
Adultos da Escola de Referência em Ensino Médio Solidônio Leite não tinham tido contato
com leituras de livros infantis e ilustrados. Também foi trabalhado em sala de aula o racismo e
suas vertentes, dessa forma, foi pensada uma atividade que pudesse englobar a temática
com o gênero literário. Os livros escolhidos retratam a identidade racial com ilustrações, além
de releituras dos clássicos contos de fadas, trazendo personagens pretos e preocupações
que vão para além de bailes, são eles: “Amoras”, “E foi assim que eu e a escuridão ficamos
amigas” de Emicida ambos ilustrados por Aldo Fabrini, “O pequeno príncipe preto” de Rodrigo
França ilustrado por Juliana Barbosa Pereira, “Neguinha, sim!” de Renato Gama e ilustrado por
Bárbara Aquino, “O pequeno sereio”, “O pedido da fada madrinha”, “Bela, a fera, e Fernão, o
belo” e “Cinderela e o baile dela” de Janaina Tokitaka e ilustrados por Flávia Borges. Todas as
obras são de autores e ilustradores brasileiros. A atividade foi aplicada na turma do segundo
módulo da EJA, dentro da sala eles foram divididos em oito equipes e cada equipe recebeu
um livro, a leitura foi feita na íntegra e após a leitura finalizada, os estudantes apresentaram
suas obras para as demais equipes, eles tiveram que falar sobre a ilustração e seus
significados dentro da obra, o texto em conjunto com os desenhos, o contexto do livro e a
temática central que cada um traz, principalmente na escolha de personagens e os seus tons
de pele, com as releituras, eles tiveram que comparar com os textos originais que também
foram levados para sala de aula. Ao final foi feita uma reflexão sobre as obras escolhidas e a
relevância de trabalhar o tema.
Resumo: O relato de experiência apresentado é fruto de uma atividade realizada com alunos
do curso de Licenciatura em Letras da Universidade Estadual de Alagoas, na disciplina de
Literatura Brasileira. A atividade foi desenvolvida com o objetivo de despertar o interesse dos
alunos pela leitura e escrita literária, promovendo a formação de leitores críticos e reflexivos.
Para tanto, foi utilizado o texto "Morte e Vida Severina," de João Cabral de Melo Neto, em
conjunto com sua adaptação audiovisual, produzida pela TV Escola e adaptada por Miguel
Falcão. A proposta foi interagir passagens do texto literário com situações cotidianas dos
alunos, ampliando a experiência leitora e estimulando a criação artística. O referencial
teórico que embasa a atividade está ancorado nas noções de leitura literária como prática
formativa e na relação entre texto e imagem como potenciais multiplicadores de sentidos. A
escolha do texto "Morte e Vida Severina" foi motivada por sua reconhecida qualidade
literária e pela capacidade de ressoar com a realidade vivida pelos alunos. A versão
audiovisual da obra foi selecionada pela sua riqueza polissêmica, que facilita a transposição
do mote severino para o contexto cotidiano dos estudantes, integrando, assim, o universo
literário ao dia a dia. A experiência foi estruturada em quatro etapas principais: (1) motivação
e primeira leitura através da animação; (2) discussão coletiva sobre a obra, promovendo uma
reflexão sobre a vida severina; (3) contextualização sobre o autor e a produção literária de
João Cabral de Melo Neto; e (4) produção textual e artística pelos alunos, que consistiu na
criação de poemas inspirados na obra lida e na sua ilustração. Os resultados apontam para
um significativo engajamento dos alunos, que demonstraram uma maior sensibilidade e
compreensão crítica tanto do texto quanto das imagens associadas. A relevância da
experiência reside na capacidade de integrar a literatura e as artes visuais como ferramentas
pedagógicas para a formação de leitores mais conscientes e criativos.
Resumo: A leitura de “Ser tão”, de Monteiro (2016), me provocou. Ou, essa obra me
incomodou, a ponto de gerar reações práticas. Dessa situação, este relato visa narrar e
estranhar a leitura, o incômodo e as reações a essa composição literária. Entretanto, a
posição assumida é a de refletir acerca da participação dessa obra literária infantil, ilustrada,
e suas consequências, no letramento literário-imagético territorial, não como recusa ao texto
em questão. Essa problemática nasce no Grupo de Estudos em Linguística Aplicada/Queer
em Questões do Sertão Alagoano (Gelasal), que se preocupa em investigar a interface
“linguagem e território”, a partir da noção de que o discurso é espacializante, conforme
Albuquerque Jr. (2008). A leitura da obra, por um homem adulto, vivendo no sertão alagoano,
interessado nos estudos sobre território, concluiu que esse texto cria artisticamente uma
“paisagem estática” para o espaço sertão: vegetação rasteira, árvores quase sem folhas,
caminho de um rio que insiste em não mais nascer, céu sem nuvens, sol intenso, menino de
olhos e choro secos, onde tudo falta – um lugar deserto – onde até o pássaro não canta e
onde não há barulho de vento. Incomodado com essa produção espacial, tive algumas
reações: a) fotografei e filmei a paisagem sertaneja alagoana (a partir de um passeio por
quase 100km de rodovia), b) inseri o livro como objeto de estudos em uma disciplina em um
curso de Letras, c) orientei um TCC que tomou o livro como objeto de reflexão (Martins, 2023)
e d) fiz um curso sobre paisagem sonora. No curso, a partir de Bialetto (2018a; 2018b), em
tratamento de duas cenas audiovisuais (das filmadas, item a)), produzi uma paisagem sonora
sertaneja, com base na ideia de “inscrições sonoras textuais” – um processo subjetivo-
imaginativo, poético e político. Essa última ação se configura como uma reação de
enfretamento à escrita de uma paisagem estática, e silenciosa. Quero, então, em dialogo
com Andrueto (2012), Bossato (2023), Bunzen (2022), Colomer (2014), Goh (2022), Macedo
(2021) e Portugal (2020), discutir minhas considerações acerca desse processo e pensar o
papel do livro literário infantil ilustrado na formação de crianças. Todo o processo me
possibilitou novas formas de compreender, experimentar, habitar e (re)pensar o espaço
sertão, a partir da sua dimensão sonora, em processos de escuta e de ressignificação.
Busquei dissolver o “Ser tão”, preocupado com as iniquidades sociais forjadas através do
preconceito de lugar, em específico contra o sertão, o Nordeste.
Palavras-chave: “Ser tão”; literatura infantil ilustrada; Linguística Aplicada; paisagem sonora;
letramento literário-territorial
Um convite a descortinar a
racialização do menino negro na Darlize Teixeira de Mello (Ulbra)
literatura infantil na obra “O amigo do Angela Maria Pinheiro
rei”, de Ruth Rocha
A comunicação analisa a seção “Orixás”, do livro Poemas para ler com palmas, do poeta
mineiro, Edimilson de Almeida Pereira, com ilustrações do artista plástico Maurício Negro,
publicado em 2017. Trata-se de um conjunto de oito poemas: “Exu”, “Ogum”, “Iansã”, “Xangô”,
“Iemanjá”, “Omolu” e “Oxalá” e de seus respectivos símbolos sagrados, desenhados pela
técnica do desenho livre em xilogravura. Primeiramente, discute-se o conceito de ilustração
como submídia (Clüver, 2011) de um texto-fonte e como um elemento específico de atuação e
coprodução do sentido do texto verbal. Em seguida, comenta-se como a ilustração opera
uma transposição midiática (Rajewsky apud Clüver, 2011) do texto verbal para o visual e suas
aporias (Clüver, 2006). Na sequência, discute-se como a ilustração no livro de Edimilson,
enquanto gesto midático, coloca a imagem submetida ao critério de sucessividade, uma vez
que ela traduz um texto verbal pré-existente (Hoek, 2006). Por outro lado, evoca-se a imagem
que acompanha cada poema, tomada como mídia de representação, como propõe Elleström
(2017), quando a relação apresenta uma natureza icônica e amplia os sentidos do poema.
Nessa perspectiva, a ilustração é concebida como imagem que acompanha um texto e
assume os seguintes aspectos: a) ícone, quando imita a aparência visual de um objeto; b)
índice, ao apresentar uma relação de causa e efeito com o objeto que representa; c) símbolo,
quando apresenta significados convencionais, isto é, estabelecidos culturalmente, por
convenção (Camargo, s.d, n.p). A partir desses marcos referenciais, discutem-se que aspectos
do processo intermidiático o corpus poemático da referida seção e obra são postos em
evidência pela ilustração. Preliminarmente, a análise revelou o predomínio da
pragmatografia, ou seja, descrição de coisas (Hansen, 2006) atribuídas ao panteão sagrado
africano e que na transposição intermidiática da ilustração indica a opção pela
referencialidade ao símbolo sagrado de cada orixá e consequente figuratividade e
literalidade.
A formação literária de leitores nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, doravante (AIEF),
perpassa questões pedagógicas, estéticas e interculturais. Nesse contexto, este estudo teve
como objetivo investigar como a perspectiva decolonial pode contribuir para a formação de
leitores literários nos AIEF, explorando os elementos multimodais de livros infantis, bem como
práticas pedagógicas que promovam a diversidade cultural, a desconstrução de estereótipos
e a valorização de narrativas marginalizadas na seleção de textos literários. Desse modo, a
pesquisa está fundamentada nos pressupostos teóricos de autores como Walsh (2012, 2014,
2015, 2023), Candau (2010, 2011); Chartier (1998); Petit (2009, 2013); Kress e van Leeuwen
(2006) e Colomer (2007). Do ponto de vista epistemológico, esta investigação enquadra-se
na área dos Estudos decoloniais sobre formação de leitores. Quanto aos seus objetivos,
classifica-se como uma pesquisa bibliográfica interpretativa. Além disso, também é uma
pesquisa-ação (Thiollent, 2011). Quanto à abordagem do problema é do tipo qualitativo.
Nesse contexto, a pesquisa foi realizada em uma turma de 5º ano dos AIEF, de modo que
foram abordadas nos momentos de acolhimento, as obras ilustradas infantis “O Pequeno
Príncipe” (1943), de Antoine de Saint-Exupéry e “O Pequeno Príncipe Preto” (2020), de
Rodrigo França. A partir do trabalho cotidiano com esses textos, foram propostas discussões
relacionadas à desconstrução de estereótipos, à diversidade étnica e racial brasileira, aos
diálogos interculturais. Esses debates tiveram como suporte tanto as narrativas dessas
histórias infantis como também as ilustrações que compõem ambas as obras, pois as
ilustrações são mecanismos multissemióticos que auxiliam na construção de sentidos do texto.
Os registros do trabalho foram feitos em diários de campo e nos planejamentos das aulas da
turma. Logo, concluímos que a formação de leitores literários nos AIEF sob uma perspectiva
decolonial visa não apenas ampliar o repertório literário dos estudantes, mas também
desenvolver neles uma consciência crítica e um senso de justiça social, preparando-os para
serem cidadãos mais conscientes e engajados em um mundo diverso e complexo.
Este estudo objetiva analisar e comparar a obra literária “O amigo do rei” de autoria da
escritora Ruth Roch, a partir de dois projetos gráfico: um da editora Ática, de 1997, ilustrado
por Eva Furnari e outro, da editora Salamandra, de 2009, ilustrado por Cris Eich. Tal estudo
faz parte de um recorte de um projeto de pesquisa de doutorado, em andamento, intitulado
“Curadoria Literafro: olhares e tensionamentos pedagógicos para uma educação antirracista
na rede municipal de Fortaleza/CE”, que visa conhecer e analisar as obras literárias infantis
com temáticas afros e afro-brasileiras do acervo das bibliotecas escolares municipal de
Fortaleza/CE enquanto pedagogia cultural antirracista, com vistas a problematizá-lo e
potencializá-lo. Os pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa situam-se no campo dos
Estudos Culturais, utilizando como abordagem teórico-metodológica a análise cultural,
baseada no circuito da cultura. Para a análise do artefato cultural foi realizado um recorte
das imagens das obras literárias que melhor gerassem possibilidades de comparação e
tensionamento relativos à representação racializada. Os conceitos de identidade, diferença e
representação corroboraram para a análise, considerando os estudos de Hall (2000; 2010) e
Silva (2000). A oportunidade de analisar o projeto gráfico das obras, através da análise
cultural, fez descortinar algumas construções, algumas metanarrativas sobre o racismo,
considerando a análise das imagens. Observou-se quanto as representações são oriundas de
produções de imagens que formam identidades e que acabam por representá-las tomando
por critério os seus códigos culturais. A mesma obra de literatura infantil “O amigo do rei”,
que trouxe um lugar estereotipado para o menino negro em 1997, foi o livro que reverteu este
estereotipo na versão de 2009, contestando um regime racializado de representação. É
interessante observar que já em 1997, na primeira versão desse livro, Ruth Rocha fala sobre um
menino negro que pode ser rei, deslocando o lugar subalterno desse menino e seus
estereótipos, apesar das muitas questões apresentadas nas imagens analisadas no presente
estudo. Após dezesseis anos esta obra é reformulada e traz uma nova narrativa visual, apesar
do seu texto verbal ser o mesmo. Vem mostrar a literatura infantil como um espaço identitário,
de luta, de resistência, um lugar político e de valorização da História e da Cultura Afro e afro-
descendente como obriga as leis 10.639/03 e sua atualização na 11.645/08.
Originalmente publicado em 1937, Histórias de Tia Nastácia (2018) é uma das duas obras de
folclore brasileiro escritas por Monteiro Lobato. Nela, a partir da personagem Tia Nastácia,
demonstra-se majoritariamente a exposição de textos da tradição oral popular brasileira,
textos estes que são inferiorizados em detrimento a textos de matriz europeia por Pedrinho,
Narizinho e Emília. Tendo essa obra de Monteiro Lobato por corpus, esta pesquisa pretende
analisar este processo de inferiorização, visto na obra, a partir do conceito de colonialidade
do saber (Quijano, 2005). Ao lado disto, esta pesquisa objetiva demonstrar, a partir das
discussões sobre pensamento abissal (Santos, 2009), como tal inferiorização, no texto
lobatiano, acaba por invisibilizar tradições não-eurocêntricas. Desta forma e visando uma
justiça cognitiva (Santos, 2009), ambos estes objetivos têm sua finalidade em mostrar como
há uma necessidade de descolonização (Grosfoguel, 2009) do pensamento que perpassa
Histórias de Tia Nastácia (2018), descolonização esta que pode ser dada por meio de um
pensamento pós-abissal (Santos, 2009) e liminar (Mignolo, 2003). De tal modo, a metodologia
desta pesquisa dá-se mediante o estudo bibliográfico, leitura seletiva, interpretação e
recolha — no livro Histórias de Tia Nastácia de Monteiro Lobato (2018) e em teóricos tais quais
Aníbal Quijano (2005), Boaventura de Sousa Santos (2009), Ramón Grosfoguel (2009), Walter
Mignolo (2003), Marisa Lajolo (1993) e Raquel A. da Silva (2009) — de passagens e eixos
temáticos que melhor expressam as questões aqui abordadas. Por resultados, percebe-se que
o processo de inferiorização das histórias populares brasileiras, visto no livro de Lobato (2018),
se mostra sintoma da colonialidade do saber (Quijano, 2005) e engendra o apagamento da
tradição do folclore nacional. É claro que não é possível reescrever a obra de Lobato, porém,
necessita-se que sua leitura tente superar esta matriz colonial invisibilizadora que apaga as
culturas não-eurocêntricas. E isto pode ser feito a partir de um pensamento pós-abissal
(Santos, 2009) e liminar (Mignolo, 2003).
Os devaneios da menina Clarice: uma Ana Luiza Borges Batista Santos (UFU)
análise do surrealismo presente na
obra Clarice de Roger Mello
A obra de João Guimarães Rosa (1908-1907), escritor mineiro pós modernista, já rendeu um
sem-número de pesquisas e estudos acadêmicos. Devido à inquestionável qualidade e
potência de sua produção, pesquisadores do mundo todo se debruçam sob seus textos com
a finalidade de fazer investigações psicanalíticas, literárias, filosóficas, teológicas, entre
outras. No entanto, justamente pela vasta diversidade da produção desse escritor, pouco se
nota a exploração da potencialidade criativa dessa literatura em meio ao universo infanto-
juvenil, menos ainda se percebe o esgotamento na verificação do valor pedagógico e
humanista de suas histórias. Talvez pela complexidade de alguns de seus textos, talvez pelo
limitado conhecimento sobre algumas publicações ilustradas que podem abrir frestas de
compreensão e entendimento para este mundo rosiano, as pesquisas nesse campo ainda são
escassas. Nesse sentido, esta comunicação tem por objetivo analisar dois livros: Fita verde
no cabelo, de João Guimarães Rosa, com ilustrações de Roger Mello (1965 -), publicado pela
Editora Nova Fronteira, em 1992 e Rosa, de Odilon Moraes (1966 -), com texto e ilustrações
desse ilustrador, publicado pela Olho de Vidro, em 2017. Há a intenção de se perceber o
entrosamento entre a narrativa e as imagens (linguagem verbal e não verbal); aspectos de
consonâncias e dissonâncias entre fluxo sintático e fluxo pictórico; as perspectivas dos
ilustradores segundo o contexto de produção de quando compuseram esses trabalhos;
análise de estilo de cada um; contribuições pedagógicas possíveis desses lançamentos. Em
termos de referencial teórico, serão utilizados críticos culturais como Edward Said (1935-
2003); críticos da obra de João Guimarães Rosa como Marli de Oliveira Fantini (UFMG) e
especialmente Vilém Flusser (1920-1991), exímio estudioso da obra de Rosa. Ademais, artigos e
outros estudos que buscaram compreender sobre a trajetória artística de Roger Mello e
Odilon Moraes também serão acessados.
Partindo da leitura do livro de literatura juvenil de Roger Mello, Clarice, ilustrado por Felipe
Cavalcante que também foi responsável pelo projeto gráfico e publicado em 2018, pretende-
se analisar o surrealismo presente na obra a partir das ilustrações, por isso, pretende-se
analisá-la também. A obra Clarice, narra um período da vida de uma menina que está no
caos da ditadura militar brasileira, o livro é narrado em primeira pessoa e tanto as ilustrações
quanto o texto transpassam todos os silêncios e a angústia da menina. A narrativa cria, por
meio da ilustração, figuras abstratas e desfiguradas, como uma planta com olhos vigilantes
no tronco e folhas em formato de uma mão monstruosa, que representam a mente dessa
menina e seus devaneios. Sendo assim, analisaremos o surrealismo presente na ilustração. Os
aparatos teóricos para esta análise serão, a obra de Maria Nikolajeva e Carole Scott, no livro
sobre ilustração e modalidade (1951) Teresa Colomer (2017) sobre fundamentos e
características da literatura infantil, Luis Camargo Ilustração do Livro Infantil (1995), o artigo
de Dante Tringali, Dadaísmo e surrealismo (1990), e também o artigo de Flávio Carvalho (1956)
que será usado como aparato teórico para o surrealismo, Maria Martins: e o desejo
imaginante (2021) será usado como aparato para análise da obra surrealista, O Impossível
(1945), presente na obra por meio de uma intertextualidade, também o artigo de Lúcia Grossi
dos Santos (2002), Robert Ponge (2004) sobre o surrealismo no Brasil na década de 1920 e
1950. O surrealismo não acontece apenas nas ilustrações, mas também na intertextualidade
presente no texto, ele transforma e absorve os certos silêncios e os devaneios os
transformando em surrealistas. Compreende-se que Felipe Cavalcante e Roger Mello criaram
através da ilustração surrealista expor tudo aquilo que atormenta a mente de Clarice, sua
angústia e sua confusão acerca do período ditatorial e seus silêncios.
Este trabalho tem como objetivo compartilhar alguns estudos sobre álbuns e livros de artistas
baseados na experiência da pesquisadora em acervos de bibliotecas escolares durante a
graduação e, mais recentemente, no mestrado em Ensino de Artes pelo Instituto de Artes da
UNESP. As primeiras aproximações com o tema se deram ainda na graduação da
Licenciatura em Letras e se consolidaram a partir da disciplina Tópicos Especiais de
Literatura e Outras Produções Culturais (TL096) ministrada durante o 1º semestre de 2016 no
Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/Unicamp) pelo autor e ilustrador Odilon Moraes. Na
ocasião, foram propostos diferentes exercícios de experimentação para confecção de um
boneco, que contemplou a História do livro e da ilustração a partir de uma perspectiva
histórica e transversal. Este curso foi importante naquele momento, pois abriu um caminho de
possibilidades de pesquisa em livros de imagem em acervos e bibliotecas que permanece até
os dias atuais. Logo, para este recorte temático, iremos produzir algumas reflexões sobre os
livros de artista produzidos pela artista plástica Edith Derdyk (1955-) e que estão no bojo das
discussões sobre as referências fundamentais para professores de Arte no contexto escolar.
Desde 1981, Edith produz livros de artista a partir dos seus trabalhos em instalações e
performances que realiza por diferentes espaços expositivos a partir de variadas
materialidades e significados que os percursos de sua obra nos levam a trilhar. Assim, para
esta análise, iremos destacar os livros de artista Vão (1999), O que fica do que escapa (2001),
Rasuras e Fiação (2002). Cabe ressaltar que há muitos outros livros da artista, todavia, para a
presente reflexão iremos trazer algumas contribuições a partir destas obras para discutir o
livro ilustrado nos seus diferentes suportes e materialidades. Uma das questões fundamentais
nos livros de artista de Edith Derdyk é o trabalho com a palavra como experiência estética, ou
seja, propõem-se um exercício do desdobramento de um texto imagético, a partir do desenho
da escrita e da escrita do desenho. A palavra, neste âmbito, é vista como uma materialidade
fundamental no processo de feitura e produção das imagens, na qual o traçado das letras
sugere novas imagens ao leitor. Portanto, ao trazer as contribuições dos livros de artista para
as discussões sobre o livro ilustrado, pretende-se propor um trabalho por meio da ideia de
escalar como suspensão, na qual as palavras e as imagens provocam afetamentos, escapes e
vazam pelas bordas.
Livro bom, livro duvidoso, livro ruim: Hercules Toledo Correa (UFOP)
qualidade estética, ética e Tathiana Maria Viana
pedagógica em obras para crianças Stemler Morandi de Queiroz (UFOP)
Os contos de história têm origem na antiguidade e, até hoje tem encantado as crianças,
despertando nelas um grande interesse. Sabe-se que alguns contos possuem linguagem
simples e uma simbologia já estruturada, os contos encantam e acompanham as crianças
podendo levá-las a um mundo de fantasias, de idealizações. A conexão existente entre
Literatura Infantil e contação de história permite que a criança construa sua própria
identidade, possibilitando através da linguagem oral e escrita a transmissão de
conhecimentos, estimula a afetividade e desenvolve o gosto pela leitura. Além do mais,
relacionar a Literatura Infantil a ação de contar histórias enquadra-se na capacidade de
viabilizar a interligação da criança a “outros universos”, outras culturas, outras experiências.
Partindo desses pressupostos que surge esse estudo, com intuito de discutir a luz de teóricos
sobre a substancialidade da contação de histórias e uso da Literatura Infantil para o
desenvolvimento das crianças, não as colocando somente como recurso para proporcionar o
aprendizado da leitura e escrita, mas levando em consideração a sua importância para o
desenvolvimento integral das crianças no processo de letramento. Por ser uma pesquisa de
referencial teórico e abordagem qualitativa, o estudo embasou-se em teorias de autores para
fundamentar esta pesquisa dentre eles: Coelho (2002 e 2009); Barbosa (2008); Abramovich
(2003); Cascudo(2000); Tahan (1961); Espínola (2009) e Oliveira (2009); Soares (2000); Sisto
(2001 e 2005), dentre outros, visto que ambos realizaram importantes pesquisas no que diz
respeito ao universo da Literatura Infantil e da contação de história. Conclui-se que, a
contação de história contribui significativamente para o desenvolvimento das crianças na
Educação Infantil, sendo pertinente e imprescindível a presença dessa prática no cotidiano
escolar, bem como que o educador compreenda essa importância, e pratique-a com prazer,
visto que ela auxilia na potencialização da imaginação, da concentração, da oralidade, da
linguagem escrita, contribuindo também na inserção do discente ao mundo letrado, o que
certamente tornará esses alunos futuros leitores e escritores.
Livro bom, livro duvidoso, livro ruim: qualidade estética, ética e pedagógica em obras
para crianças
“Livro bom é um livro cheio de surpresas, que a gente lê sem adivinhar o que vem depois.
Quando eu estou lendo e dá para saber o que vem em seguida, porque eu já li antes um
monte de coisas que nem aquelas, prefiro largar o livro.” (resposta de um adolescente, numa
escola do interior de São Paulo, dada à escritora Ana Maria Machado, durante uma conversa
com a autora, em 2005). Esse depoimento é um dos pontos de partida para as reflexões que
buscam responder a uma grande e polêmica questão: o que é qualidade na literatura para
crianças? As discussões fundamentam-se em aspectos estéticos, éticos e pedagógicos de
algumas obras selecionadas para a formação de professoras da educação infantil no âmbito
do projeto “Leitura e escrita na Educação Infantil”, uma proposta de formação em serviço, de
âmbito nacional, promovida pelo Ministério da Educação em parceria com Universidades
públicas e prefeituras municipais de todo o Brasil. O projeto também faz parte do
“Compromisso Nacional Criança Alfabetizada”. De natureza bibliográfica, os resultados
preliminares da pesquisa apresentam as principais características materiais das obras
analisadas: linguagem verbal expressiva e criativa; ilustrações/imagens que ampliam os
sentidos do texto verbal; projetos gráficos e editoriais que incitam a curiosidade do pequeno
leitor, além de outras questões que proporcionam reflexões éticas e apropriações das obras
pelas unidades de educação infantil. Neste trabalho, parte das obras selecionadas para o
LEEI são comparadas a alguns livros para crianças (literários ou não) disponíveis no mercado
editorial brasileiro. Obras indicadas para o Leitura e escrita na educação infantil
selecionadas para análise: O pato, a morte e a tulipa, texto e ilustrações de Wolf Erlbruch
(Companhia das Letrinhas); Eloísa e os bichos, texto de Jairo Buitrago e ilustrações de Rafael
Yocktent (Pulo do Gato) e Se eu abrir esta porta agora, texto, ilustrações e projeto gráfico de
Alexandre Rampazzo (SESI-SP). A pesquisa recupera e analisa, ainda, resultados de práticas
pedagógicas/pesquisas de campo já realizados/as com alguns dos livros, publicados em
periódicos especializados.
Os livros ilustrados, cada vez mais frequentes no mercado editorial brasileiro, são obras
complexas, cujo modo de narrar transcende os limites verbais e convoca a visualidade e a
materialidade como recursos essenciais às leituras. Esta pesquisa, ao evidenciar o livro
ilustrado nacional na produção literária para a infância, analisou obras premiadas pela
Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ, entre 1975 e 2020. Pretendeu-se
investigar as possíveis transformações ocorridas na função da ilustração, sua articulação com
o texto verbal e o objeto livro, de forma a caracterizar a constituição e identidade do livro
ilustrado brasileiro. A partir do percurso histórico da literatura infantil no ocidente, discutem-
se as especificidades do livro ilustrado, considerando-o como objeto artístico, e busca-se
identificar manifestações acerca da exploração de diferentes relações entre palavra, imagem
e objeto na produção nacional ao longo dos anos. As contribuições teóricas de Michel Melot
(2015), Odilon Moraes (2019), Sophie Van der Linden (2011), Martin Salisbury e Morag Styles
(2012), Rui de Oliveira (2008b) e Maria Nikolajeva e Carole Scott (2011) apoiaram as análises
e conclusões do trabalho. A metodologia consistiu na análise dos livros premiados nas
categorias Criança, Livro de Imagem, Melhor Ilustração e Livro Brinquedo pela FNLIJ, no
período mencionado. O exame dos dados permitiu organizar o acervo em sete categorias
principais, que evidenciam características da perspectiva do livro ilustrado contemporâneo:
1º) Texto e imagens: espaços em disputa; 2º) O silêncio da palavra e a imagem narrativa; 3º)
O design da palavra; 4º) Materialidade e narrativa; 5º) Metaficção e intertextualidade; 6º) O
Brasil expresso na visualidade e 7º) Autoria: referências e paradigmas. Observaram-se pontos
de aproximação entre as obras, nas quatro dimensões do espaço-tempo: (linha, página, livro
e tempo), descritas por José Salmo Alencar e Luiz Antonio Coelho (2016). O percurso desta
pesquisa reforça a complexidade e potencialidade dos livros ilustrados, em especial, na
produção nacional, e indica que este modo de narrar é predominante nas premiações mais
recentes da FNLIJ, nas categorias analisadas. A trajetória de premiações nos revela que,
mesmo antes do uso do termo “livro ilustrado” no Brasil, é possível observar um processo de
ascensão da imagem, aliado à exploração do livro como objeto.
O presente trabalho busca analisar duas obras da escritora e ilustradora alemã Susanne
Strasser e como sua produção estabelece relação com os leitores da primeira infância
partindo de algumas questões norteadoras: quais convites as obras podem fazer ao leitor?
Quais linguagens habitam nas páginas escritas e ilustradas pela autora? Para tanto, nos
debruçaremos sobre as seguintes obras: “Posso ficar no meio?”, publicada no de 2023 e “A
sopa está pronta”, publicada em 2024, ambas pela editora Companhia das Letrinhas. Na
análise, mesmo que inicial, buscaremos tecer um diálogo entre os enunciados visuais e
escritos das referidas obras com as premissas teóricas que versam sobre as práticas de leitura
com as crianças pequenas, perpassando por uma breve análise do projeto gráfico e dos
elementos que compõem as narrativas da autora. Além disso, nos aproximaremos de
referenciais teóricos que versam sobre a literatura para a infância tais como Reyes (2017),
López (2018) bem como estudios russos da Filosofia da Linguagem, sendo um deles Bakthin
(2017), dentre outros pesquisadores. Ainda vale ressaltar que as obras acima citadas
publicadas no Brasil carregam marcas dialógicas e estabelecem relações com a infância,
trazendo elementos que narram situações cotidianas e que, mesclam linguagens que
convidam o leitor pequeno a adentrarem nas narrativas, seja pela personagem em destaque
nas páginas, seja nos outros personagens que vão compondo o livro. Outro ponto a ser
destacado refere-se ao fato de que a autora, que já publicou outras obras no mercado
editorial brasileiro, “costura” as experiências vividas durante a vida e a sua relação com seus
filhos durante suas publicações. Por fim, pretende-se com este trabalho possibilitar um
diálogo que evidencie a potencialidade de obras literárias como as da referida autora alemã
pensando as crianças pequenas como leitoras e suas especificidades nesta fase da vida,
além de explorar as tantas camadas que compõem um livro, seus desafios, suas não-
linearidades e seus convites às práticas com a linguagem literária com crianças.
Palavras-Chave: infância; literatura infantil; Susane Strasser.
Livro ilustrado ou livro-álbum? Ou seria álbum ilustrado? Livro infantil ilustrado? Ou ainda livro
ilustrado contemporâneo? Basta uma rápida busca para conferir que todas essas
nomenclaturas são (ou foram) utilizadas no Brasil para nomear o mesmo objeto: um livro que
se vale da interdependência de palavras, imagens e design em sua composição narrativa. É
comum, por conseguinte, em diferentes publicações teóricas, que o termo livro ilustrado seja
acompanhado de explicações, como se ele mesmo não bastasse para elucidar do que se está
tratando. Não há consenso sobre qual nome usar e essa problemática não é exclusiva do
cenário brasileiro. Na Europa, o livro-álbum também concorre com álbum ilustrado ou apenas
álbum. Em língua inglesa, picture book, picture-book e picturebook, muitas vezes, podem se
referir ao mesmo tipo de livro. Vale ressaltar que, na França, Espanha e Portugal, embora
também haja divergências quanto às terminologias, prevalece sempre a presença do
vocábulo álbum nas nomenclaturas. Nos países da América Latina, vizinhos do Brasil, o termo
com frequência utilizado entre os estudiosos e especialistas é libro-álbum. Nesse sentido, a
ausência de uma nomenclatura específica pode representar um problema, especialmente, no
fortalecimento de pesquisas sobre o tema, ou ainda na demarcação deste tipo específico de
livro, o que pode incorrer em uma dificuldade de reconhecimento e, por consequência, nos
modos de mediação de leitura. Assim, neste trabalho, a partir das inquietações e reflexões
tecidas em nossa pesquisa de doutoramento, ainda em desenvolvimento, tendo como
referência os estudos de Renata Gabriel Nakano (2012), Daniela Gutenfreud (2022), bem
como autores como Fanuel Hanán Días (2007), Sophie Van der Linden (2015; 2018), Maria
Nikolajeva e Carole Scott (2011), dentre outros, pretendemos apresentar um breve painel sobre
os usos dos termos livro ilustrado e livro-álbum, retomando as origens deste tipo de livro em
nosso país, a fim de tentar compreender as diferentes escolhas terminológicas que coexistem
no cenário brasileiro e os motivos pelos quais o termo álbum parecer mais acertado em nossa
percepção.
Este trabalho se propõe a fazer uma análise comparativa entre as obras Hora de sair da
banheira, Shirley!, do escritor John Burningham (1978) e Domingo, de Marcelo Tolentino (2023).
Os livros citados apresentam pontos em comum, como por exemplo: os dois fazem parte do
gênero da literatura infantil, são livros ilustrados, e utilizam elementos do cotidiano para
compor as fantasias da criança, além de apresentar o imaginário da criança como foco
narrativo. Observa-se, nesse gênero, que por meio de sua narrativa, ele oferece à criança a
vivência de situações diferenciadas no seu cotidiano, fazendo-a sentir diversos sentimentos a
partir da leitura de uma obra (Marçal, 2016), que é o que acontece com as obras que serão
trabalhadas, trazendo a fantasia confabulando as emoções postas nas narrativas. A análise
irá focar, sobretudo, no deslocamento de imagens que a imaginação das crianças
protagonistas das obras pode alcançar. Uma conclusão interessante que pode-se perceber
nos dois livros que serão analisados, é que ambos apresentam diferentes formas de realizar a
leitura da narrativa. Como são compostos pelo texto verbal e imagético, eles podem ser lidos
considerando apenas as ilustrações ou pode ser feita a leitura do texto verbal e visual ao
mesmo tempo. Em Hora de sair da banheira, Shirley! há três maneiras de ler: apenas texto
verbal da página esquerda, focando os elementos do mundo adulto; apenas texto visual
adentrando na fantasia de Shirley e as duas leituras juntas. Percebe-se, então, que as duas
linguagens têm a sua função na construção discursiva, em que estabelece não só um vínculo,
mas tornando também a narrativa mais interativa para o leitor (Ramos e Nunes, 2013). Nessas
obras, o encontro dos mundos acontece quando as crianças questionam os adultos como
norma, utilizando estratégias como a fantasia para subverter suas visões (Nikolajeva, 2023).
Assim, concluímos que as duas obras aqui postas evidenciam dois mundos que se cruzam: o
infantil e o adulto, evidenciando, por meio das ilustrações, a criança com seu poder de
fabulação de reverter o real e misturar a fantasia nas ações cotidianas.
Este texto aborda, inicialmente, os apontamentos de Sophie Van der Linden em Para ler o
livro ilustrado (2011), que compreende as características formais da relação visual
estabelecida entre texto e imagem, no que tange a elaboração narrativa. A partir da
perspectiva de Linden sobre a construção formal da página dupla, compreende a importância
da leitura na construção da obra a partir de Wolfgang Iser em o Ato da Leitura (1996) e a
teoria do Efeito Estético. Analisa 3 obras, sendo duas brasileiras: Chapeuzinho Amarelo (1996)
de Chico Buarque e Ziraldo, e O menino que vendia palavras (2016), de Ignácio de Loyola
Brandão e Marina Newlands, e uma portuguesa, A águia e a água (2016) de Mia Couto e
Danuta Wojciechowska. Considera a obra artística livro ilustrado como um fenômeno que se
elabora virtualmente e se realiza através do leitor, mas não desconsidera a importância das
estruturas associativas e dissociativas próprias da relação texto e imagem, ou aspectos
linguísticos, literários, icônicos e plásticos, inerentes a construção do livro ilustrado. Considera,
por fim, que a leitura atravessa a estrutura do livro ilustrado, e que a existência da obra em
seu caráter artístico compreende a experiência do leitor de forma complexa. Esta experiência
complexa, articulada no tecer conjunto dos vários elementos que a compõem, se dá através
do caráter estrutural de geração de significação que ocorre a partir das tensões da página
dupla e da interrelação entre texto e imagem nos seus aspectos formais, que mesmo formais,
ou seja, relativos a existência física do livro, arremetem-se como recurso narrativo e
discursivo. Na medida em que o caráter formal estrutura as articulações texto-imagem-
página dupla, o leitor incorpora a percepção destes aspectos formais na sua leitura, e media
a existência da obra através da sujeição da compreensão dos aspectos à própria
experiência. A formação narrativa e a obra, então, não são únicas ou definitivas, mas existem
porque o leitor lê, colocando a leitura como um ato que renova a obra e torna sua existência
dependente da leitura.
O presente estudo tem como objetivo geral investigar as dinâmicas entre o texto verbal e os
elementos visuais em narrativas gráficas, com foco na compreensão de como essa fusão
contribui para a construção de significados no contexto educacional. Os objetivos específicos
incluem analisar os desafios enfrentados pelos leitores na interpretação dessas narrativas,
explorar a interação entre texto e imagem no contexto da comunicação visual e investigar se
a presença da imagem altera a construção de sentidos por parte dos leitores. A justificativa
para esta pesquisa reside na crescente importância das narrativas gráficas no cenário
contemporâneo, onde a multimodalidade dos textos se torna cada vez mais relevante. Com o
avanço da tecnologia e da cultura digital, as práticas de ensino de leitura, tradicionalmente
focadas apenas no texto escrito, necessitam ser repensadas, de modo a incorporar a leitura
de imagens como uma habilidade complementar e essencial para o letramento literário. O
problema central da pesquisa é compreender como a interação entre o texto verbal e os
elementos visuais influencia a construção de significados e a transmissão emocional nas
narrativas gráficas, além de identificar os desafios que os leitores enfrentam ao interpretar
essas obras. A metodologia adotada é de natureza qualitativa e exploratória, envolvendo a
análise de obras literárias gráficas, entrevistas com leitores e embasamento teórico em
estudos literários e de comunicação visual. A pesquisa busca compreender as complexidades
das experiências de leitura, ressaltando o papel ativo do leitor na interpretação do texto
literário. O referencial teórico está ancorado em estudos sobre multimodalidade, letramento
literário e comunicação visual, que fornecem as bases para a análise das narrativas gráficas.
Até o momento, os resultados indicam que a fusão de texto e imagem nas narrativas gráficas
desempenha um papel crucial na construção de significados, ao mesmo tempo em que exige
dos leitores uma capacidade de interpretação mais abrangente. A relevância deste estudo se
manifesta na ampliação do conhecimento sobre a importância da comunicação visual em
narrativas gráficas, promovendo uma compreensão mais profunda das dinâmicas entre texto
verbal e elementos visuais na literatura contemporânea. Além disso, espera-se que o estudo
contribua para abrir novos caminhos de investigação e para expandir o campo do letramento
literário, integrando de forma mais efetiva a leitura de imagens nas práticas pedagógicas.
Este estudo propõe uma análise da interação entre som e imagem no livro "Lulu, Traço e
Verso", publicado em 2021 pela editora Pancho Sonido. Reunindo letras de músicas de Lulu
Santos e ilustrações de Daniel Kondo, a obra explora a sinergia entre os elementos visuais e
os sonoros, proporcionando uma experiência de leitura multissemiótica guiada pelos sons,
traços e cores. Por meio de um exame das ilustrações e dos sons das canções, este estudo
busca entender como a sonoridade dialoga com as escolhas visuais das ilustrações de Daniel
Kondo, e vice-versa. Ao ler a obra é possível reconhecer que a posição dos elementos visuais
(cores, traços e formas) confere um ritmo de leitura que interfere na maneira como se constrói
o ritmo da canção. Da mesma forma, a organização das páginas duplas por canção e a
sequência das ilustrações também são aspectos que contribuem para a experiência de leitura
das imagens. Tendo isso em vista, nesta pesquisa, propomos uma investigação que irá se
concentrar em três aspectos principais: na composição dos elementos sonoros e visuais que
estruturam o livro, na relação entre a sonoridade e visualidade e, por fim, na experiência
estética projetada pela obra, que parece promover um "karaôke ilustrado". Assim, este estudo
visa promover uma análise da linguagem baseada nos estudos da visualidade (Floch, 1985), da
sonoridade (Barthes, 1990) e da recepção estética (Zumthor, 2018). A partir desse referencial
teórico, acreditamos que esta investigação coloca em destaque relação entre o som e a
imagem reconstruída esteticamente pelos artistas em "Lulu, Traço e Verso", além de
proporcionar caminhos de interpretação para um trabalho de mediação de leitura dessa obra
que constrói um jogo dinâmico entre o som e a visualidade como recursos de construção de
sentidos. Espera-se que os resultados desta pesquisa possam contribuir para o campo da
literatura juvenil, oferecendo renovadas perspectivas sobre a mediação de leitura de obras
que exploram o universo dos sons ou usam desses elementos como chave para renovadas
experiências estéticas.
A expressão pós-moderna na
literatura ilustrada brasileira Carol Gobbo
Este trabalho analisa Chico Moleque: Um Sonho de Liberdade, de Maria Luiza Batista Bretas e
ilustrado por Santiago Régis, explorando aspectos gráficos, textuais e ilustrativos. A obra
retrata a vida de Chico Moleque, resgatando à vivência dos negros escravizados. As
ilustrações complementam o texto, criando uma narrativa crítica-reflexiva sobre identidade e
memória na Literatura Infanto-juvenil. Bretas usa em sua narrativa textual uma linguagem
simples e objetiva que engloba os desafios enfrentados por Chico desde a infância de
trabalho árduo até a liberdade conquistada por determinação. É um livro que promove
reflexões acerca das condições humanas na escravidão e a busca pela identidade em um
ambiente de opressão racial. As ilustrações feitas por Santiago Régis complementam e
enriquecem essa história, usando cores vibrantes e técnicas que não apenas embelezam o
texto, mas também ampliam o significado do texto. A imagens representam a beleza da
África até o cenário de escravidão que narram o caminho de Chico, oferecendo um contexto
intersemiótico que garante a compreensão do leitor. O projeto gráfico da obra é descrito
como excepcional, empregando uma paleta de cores que dá um ar de esperança, resistência
e resiliência. A disposição ponderada entre as imagens e o texto assegura um dinamismo à
leitura, promovendo uma experiência interativa. Além da análise do próprio livro, o artigo se
baseia em referências teóricas de Celia Abicalil Belmiro, Dani Gutfreund e Antônio Candido
sobre o papel dos livros ilustrados na literatura infantojuvenil e a relevância da literatura
humanizadora para aprofundar a compreensão do tema. Em suma, o estudo destaca a
importância de "Chico Moleque, um Sonho de Liberdade" não apenas como uma obra
literária de qualidade artística e narrativa, mas também como um material educacional e
cultural que oferece um olhar crítico sobre questões sociais, visando proporcionar ao leitor
uma reflexão sobre a experiência de corpos negros escravizados. Além de possuir uma voz
ancestral poderosa que promove a representatividade, o livro contribui para a formação de
uma consciência crítica através da literatura infantojuvenil. Este estudo reflete não apenas
a análise do livro em si, mas também a sua relevância dentro do campo da literatura
infantojuvenil, destacando como obras como esta podem moldar perspectivas e desenvolver a
visão de mundo dos jovens leitores.
O presente trabalho tem por objetivo realizar uma análise do livro ilustrado Meu querido
abismo (2020), escrito por Raphael Gancz e ilustrado por Mariana Coan. Para tanto, iremos
usar como suporte teórico o trabalho de Lira (2021) a qual relata sobre temas fraturantes
dentro da literatura infantil e juvenil (LIJ) e a forma como essas temáticas podem ser
abordadas para este público. Para tanto, utilizamos os pensamentos de Cândido (2012),
Coelho (1982), Gutfreund (2023) e Bettelheim (1980), entre outros. Pensar nas crianças como
sendo seres dotados da capacidade de experienciar a fruição estética de uma obra artística
é um ponto de virada no cenário da LIJ como todo. Reconhecer essa competência nas
crianças é fundamental para que se entenda a importância da imaginação para o
desenvolvimento infantil. Por meio da manipulação da palavra e, no caso dos livros ilustrados,
da imagem, a literatura é capaz de criar uma espécie de “veracidade” que acaba se
manifestando através da linguagem que opera. Meu querido abismo é um livro filosófico e
dialógico, adequado para diversas faixas etárias, cumprindo seu papel de provocar e incitar a
reflexão e autocompreensão. A ideia de literatura como lente (COELHO, 1982), facilita o
entendimento da competência imaginativa do texto literário: ele amplia nossos horizontes,
pois permite que o ser humano organize e sinta o mundo. Permite, também, um novo olhar
sobre coisas que são aparentemente simples, é capaz de revelar o que se oculta e de lançar
luz ao que antes era desconhecido. O livro contemporâneo rompe, com muita maestria, as
ideias antes concebidas acerca dos textos destinados aos infantes e aos jovens. A leitura
para as infâncias e juventudes precisa ser significativa, pois “a aquisição de habilidades,
inclusive a de ler, fica destituída de valor quando o que se aprendeu a ler não acrescenta
nada de importante à nossa vida.” (BETTELHEIM, 1980, p. 12). Afinal, cair no abismo não é ruim
quando percebemos que ele é inseparável de quem somos.
De quem você tem medo? Leitura visual e mediação literária na primeiríssima infância
por meio do livro ilustrado Bruxa, bruxa venha à minha festa
Nossa proposta consiste em realizarmos uma abordagem do livro Bruxa, Bruxa, venha à minha
festa, de Arden Druce, ilustrado por Pat Ludlow, com o objetivo de explorar temas fraturantes
na literatura infantil. A obra, conhecida por sua narrativa repetitiva e circular, com ilustrações
de figuras monstruosas, hiper realistas que segundo Van der Linden define como livros
ilustrados aquelas “obras em que a imagem é especialmente preponderante em relação ao
texto, que, aliás, pode estar ausente. A narrativa se faz de maneira articulada entre texto e
imagem” (Van der Linden, 2011, p. 24). Essa obra será trabalhada por meio de uma análise
das representações visuais e do impacto de sua temática em crianças bem pequenas. A
metodologia adotada envolverá duas abordagens principais: uma experiência de mediação
com crianças bem pequenas e uma análise detalhada das ilustrações do livro, a qual estará
concentrada nos elementos visuais e suas formas de mitigarem a percepção do público
infantil. Como suporte teórico-reflexivo, utilizaremos, entre outros, os livros Para ler o livro
ilustrado (2018), de Sophie Van der Linden, e Sombras, censuras y tabús en los libros infantiles
(2020), de Fanuel Díaz. A mediação literária — entendida como: “uma ponte entre os livros e
os leitores” (2012, p. 28), conforme preconiza Yolanda Reyes — será conduzida em ambiente
escolar, no qual as crianças, de um a três anos de idade, serão expostas à leitura interativa
da história. Observações e registros das reações e interações das crianças com a narrativa
permitirão a coleta de dados qualitativos, que serão analisados para compreendermos como
obras potencialmente fraturantes são percebidas e processadas por essa faixa etária. Ao
final, buscar-se-a compreender se a recepção das crianças permite relações de proximidade
com a interpretação construída pelos pesquisadores.
Uma das funções mais importantes de uma mediadora de leitura é selecionar os livros que
serão lidos com as crianças, pois a mediação já começa na seleção (Bajour, 2012). A
bibliotecária e intelectual francesa Geneviève Patte (2012) corrobora com esse pensamento e
defende que quando selecionamos os livros que iremos ler com as crianças não estamos
limitando e restringindo o contato delas com os livros e sim valorizando o que será lido.
Dentre um oceano de excelentes possibilidades literárias, precisamos fazer escolhas para
construir percursos de leitura, e para isso é preciso estabelecer bons critérios para que a
seleção seja eficaz e não aleatória. Diante disso nos perguntamos: Quais critérios
estabelecer para selecionar livros que potencializam a mediação literária através dos
percursos de leitura? Nosso objetivo, ao tentar responder esse questionamento, é refletir
sobre os critérios de seleção de obras para a construção de percursos literários potentes.
Como metodologia desta pesquisa, ancoradas em Bajour (2012) e Patte (2012), analisamos
um conjunto de livros literários para a infância que foram selecionados para fazer parte da
Exposição Fabulários, realizada entre setembro e dezembro de 2023 em Canoas/RS, que
teve como curadora a escritora Gabriela Romeu. As “narrativas das águas, suas gentes,
memórias, plantas, bichos e outros seres”, frase que definiu essa exposição interativa,
estavam presentes em objetos, imagens, vídeos e experiências sensoriais em cada espaço.
Mas foi na “canoa-biblioteca”, local da exposição onde os livros estavam dispostos em
prateleiras com formato de canoa, que detivemos nosso olhar. Buscamos com essa análise a
construção de percursos possíveis a partir dos livros disponibilizados. Entendemos um
percurso de leitura como um conjunto de livros, agrupados por um critério definido pela
mediadora de leitura, que serão lidos em sequência com as crianças. Se assemelha a um
projeto, pois a mediadora tem uma intencionalidade ao escolher os livros e a ordem em que
serão apresentados às crianças. Porém não há a necessidade de um produto final e o que
importa são realmente as conversas literárias suscitadas a partir dos livros, os
questionamentos, as relações intertextuais estabelecidas com outros livros. Concluímos que
ao selecionar livros para um percurso de mediação é necessário conhecê-los, fazendo leituras
prévias a fim de identificar as possíveis relações entre eles. Além disso, que a partir de um
conjunto de livros é possível construir diferentes percursos, a depender dos objetivos de cada
mediação.
O diálogo com as crianças leitoras nas escolhas artísticas: Eva Furnari e a ilustração
Este trabalho se trata de uma análise acerca dos aspectos textuais, imagéticos e gráficos
apresentados na obra "Tom” de André Neves, sendo fruto de um trabalho acadêmico
apresentado e realizado durante a vivência literária na disciplina Literatura infantil, juvenil e
brasileira que ministrado pela professora Érica Verçosa no curso de especialização com o
mesmo nome na Unifafire em 2023. O objetivo deste artigo é apresentar um estudo analítico
e teórico acerca dos elementos que constituem a obra mencionada, destacando o texto, a
ilustração e o projeto gráfico, contribuindo para que possamos perceber o alcance
comunicativo que uma ilustração potente pode representar em um livro de literatura
infantojuvenil. Para o embasamento teórico, utilizamos contribuições pertinentes de autores
como Batista (2023), Camargo (2020), Linden (2014), Lira (2021) que versam com
propriedade sobre ilustração e literatura infantojuvenil. Como panorama inicial abordam-se a
literatura infantojuvenil brasileira e os componentes básicos que se referem aos livros
ilustrados e com ilustrações para contextualizá-los e em seguida é apresentado um apanhado
teórico sobre a potencialidade discursiva dos textos ilustrados para destacarmos
separadamente o texto, ilustrações e o projeto gráfico do livro Tom, trazendo algumas
imagens do livro para complementar a nossa discussão. Paralelo a isso foram trazidos
aspectos importantes sobre os temas que perpassam a obra, como o TEA e o relacionamos
aos temas fraturantes da literatura para discutirmos sobre o significado da obra, nos quais
podemos encaixar o conteúdo e a sua importância para crianças e leitores que se arriscam a
se envolver com a leitura atenta do livro. Acredita-se que nesta conseguimos obter o
resultado de que a linguagem textual potencializada pelo recurso das imagens pode alcançar
muitos leitores, em especial crianças, por conta da sua capacidade comunicativa, sendo algo
muito enriquecedor para o desenvolvimento da leitura e o livro Tom cumpre muito bem esse
papel.
Estratégia de leitura: caminhos para a formação de leitores por meio das ilustrações
do livro Ida e volta, de Juarez Machado.
Este artigo contribui com a elaboração teórica acerca do uso da tipografia nos livros
ilustrados brasileiros. Para isso, utilizamos o conceito de expressividade tipográfica, com o
intuito de evidenciar sua ambiguidade entre vista e lida, além de analisar a atuação
tipográfica dentro dos aspectos de medium das narrativas gráficas no campo dos livros
ilustrados, sendo essas narrativas: artrologia, multimodalidade, ordem pictórica e
materialidade. Utilizamos, também, o conceito de escrita diagramática para compreender
suas relações semânticas na superfície. Diante da lacuna científica nessa discussão,
realizamos uma investigação pautada em quatro fases. Então, antes de restringirmos o
escopo para o estudo da expressividade tipográfica em livros ilustrados, foi necessária uma
etapa exploratória acerca deste artefato, a primeira fase. Assim, partimos para a segunda
fase, a preliminar, a qual subdividiu-se nas etapas de (a) levantamento de autores-
ilustradores brasileiros, em que a produção do autor-ilustrador Odilon Moraes destacou-se
pela longevidade no mercado editorial dos livros ilustrados e, inclusive, sua autoralidade
significativa acerca do uso da tipografia; (b) leitura seletiva, em que analisamos
detalhadamente as recorrências no uso da tipografia e suas obras; (c) elaboração do roteiro
de entrevista para entrevistá-lo acerca de seu trabalho tipográfico. Com isso, realizamos a
terceira fase, a entrevista, a qual ocorreu remotamente em março de 2023. Por fim, a quarta
fase, a analítica, seguiu os preceitos de Yin (2016) para o tratamento dos resultados obtidos
na fase da entrevista com Odilon Moraes. Ao relacionar o discurso do autor-ilustrador com
nossa fundamentação teórica e análises, argumentamos que a escrita diagramática – tanto a
escolha tipográfica quanto a distribuição espacial – de Odilon Moraes é silenciosa: por meio
de escolhas tipográficas convencionais, a palavra prioriza a mensagem linguística, que marca
o ritmo de passagem das páginas. Isso é reiterado pelo relato de seu próprio processo
criativo. Desse modo, articulada com as ilustrações, a experiência estética é avivada na
experiência de leitura. Portanto, demonstramos como a tipografia – mesmo a convencional –
compõe a leitura do livro ilustrado.
Adaptações de Ismália, Os dois irmãos, Nem filho educa pai e o Matador por Odilon
Moraes: livros ilustrados e a criação de necessidades humanizadoras para o ato de ler
literatura
A Literatura Juvenil é uma área que vem ganhando destaque com produções literárias que
apresentam rupturas estruturais e inovações temáticas características da
contemporaneidade, principalmente, a partir dos anos 1980, quando se tem uma maior
preocupação com a qualidade dos livros e os projetos gráficos melhoram. Entretanto, o foco
das pesquisas a respeito dessa produção recai sobre as narrativas juvenis, enquanto a poesia
não tem o seu devido destaque. Em vista disso, o presente trabalho objetiva analisar a obra
de poesia juvenil Cotidiano, paixões & outros flashes: Haiquases (2019), escrita por Luís Dill e
ilustrada por Silvana de Menezes, a fim de destacar a importância do enlace entre o texto
verbal e o texto visual para a construção de sentidos durante a leitura. Buscamos realizar uma
breve contextualização sobre a poesia juvenil brasileira; discutir as características das
produções literárias contemporâneas; descrever os principais elementos constitutivos de um
projeto gráfico; e analisar a verbo-visualidade na obra literária a fim de mostrar as
transformações do gênero e a incorporação de novas tendências. Quanto à metodologia,
pesquisa possui uma natureza básica, com ênfase na pesquisa descritiva, com análise do
corpus a partir das categorias texto verbal e visual e seus entrelaçamentos. Como
embasamento teórico utilizamos como principais referências os estudos de D’Onofrio (1995);
de Sampaio (2014); de Oliveira (2012); de Linden (2011); de Bispo (2021); Nunes (2019) e de
Camargo (1998). Dentre as considerações finais, constatamos que a obra analisada apresenta
traços inovadores em sua composição, evidente na disposição gráfica, nas temáticas e na
relação entre texto e imagem, elementos que favorecem a multiplicação de sentidos do texto
poético. Contudo, reforçamos a necessidade de mais produções literárias no campo da
poesia juvenil que contemplem o texto visual em sua composição, uma vez que não só a
ilustração, como também toda a materialidade presente no livro é necessária para a
multiplicação dos sentidos da poesia.
O presente estudo objetiva analisar obras literárias infantis e juvenis, circulantes no contexto
escolar, sobre a temática de gênero e de sexualidade, com vista a problematizá-las
evidenciando a importância da palavra, da imagem e do design como apoio para a ativa
interação do leitor na construção de sentidos. O estudo, ser apresentado, é um recorte da
dissertação intitulada: Infâncias, juventudes e gênero: as práticas sociais e o contexto
escolar. Os pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa situaram-se no campo dos
Estudos Culturais, utilizando como abordagem teórico-metodológica a análise cultural. Para
a organização do material empírico foi realizado o mapeamento de obras literárias, sobre a
temática de gênero e sexualidade, presentes no espaço escolar de uma escola privada no
município de Porto Alegre/RS, considerando três espaços de circulação: as obras literárias
escolhidas como leituras obrigatórias no currículo escolar, as obras literárias que abordam a
temática na biblioteca e as obras literárias advindas do espaço doméstico. A análise das
obras literárias possibilitou a constituição de dois eixos analíticos da pesquisa: Eixo 1: Palavra,
imagem e design: “Um é menino, outro é menina” e Eixo 2: Palavra, imagem e design: “Amor
homoafetivo: bullying, tabus e segredos”. Para o presente seminário serão abordadas as
análises do segundo eixo analítico: “Amor homoafetivo: bullying, tabus e segredos”. As obras
da “coleção” Heartstopper, trazem para o público infanto-juvenil a complexidade e uma
representatividade saudável das sexualidades e do gênero, mesmo nos momentos dramáticos
e de autodescoberta. Nas análises empreendidas pode-se perceber que a obra traz uma
leitura fluída e contemporânea, um design gráfico moderno, abusando de elementos gráficos
que transcendem as páginas do livro, além de ser marcada pela representatividade do mundo
jovem contemporâneo com uso de redes sociais. Os resultados da pesquisa evidenciaram
como as obras literárias que os alunos trazem para a escola, com conteúdo que “quebram” os
estereótipos de gênero e sexualidade, confrontam-se, na maioria das vezes, com obras
literárias, circulantes no currículo escolar, que ainda trabalham com questões binárias de
gênero e sexualidade, salientando a relevância de colocarmos nossas lentes na direção desse
entre-espaço para que seja possível a incorporação de temas polêmicos e contemporâneos,
como esse, no contexto escolar. Nesse sentido, o estudo realizado traz problematizações
sobre o currículo escolar, situando-o como um espaço fronteiriço de trocas e
interculturalidade, que deveria valorizar e reconhecer o valor das diferenças.
Como ler o Brasil nos livros ilustrados? Um paralelo entre classes de representação
cartográfica e temáticas na literatura nacional para a infância
A literatura é potencialmente relevante para formar a visão de mundo das crianças e, por
meio dos livros ilustrados com representações de lugares e mapas, pode promover o
letramento geográfico e a percepção crítica e afetiva sobre os espaços. Este estudo
investiga como os lugares brasileiros são representados em livros infantis nacionais e por
quais temáticas. Para isso, realizamos um levantamento teórico sobre as aproximações da
literatura para a infância com a cartografia, letramento geográfico e cartográfico,
identificando as principais classes de representações de lugares e mapas encontradas na
literatura infantil e as habilidades demandadas durantes fases do desenvolvimento cognitivo
das crianças. E seguida, realizamos a seleção e análise descritiva de 18 livros ilustrados,
ficcionais e não ficcionais, de 11 editoras brasileiras especializadas no segmento. A análise
desses livros possibilitou identificar categorias nas diferentes classes de representações
cartográficas e mapear tendências temáticas, identificando propensões a estilos gráficos
específicos. Os temas abordados incluem, especialmente, representações de espaços
identitários, biomas, a contextualização de territórios, e experiências subjetivas de trajetos. A
pesquisa também discute como essas representações podem influenciar o desenvolvimento
de habilidades como geolocalização, representatividade, cidadania e o senso de
pertencimento a uma localidade ou território. Este estudo visa contribuir com subsídios para a
seleção e uso mais criterioso de livros, especialmente para educadores e mediadores durante
as práticas de leitura com as crianças, estimulando que possam explorar de forma
significativa as representações gráficas de lugares e mapas nas obras literárias. Além disso,
oferece uma visão abrangente, embora ainda inicial, de como os livros ilustrados brasileiros
podem contribuir para a formação de leitores e na educação geográfica e cultural a partir
da valorização da identidade territorial nacional desde a infância, o que está alinhado com
perspectivas contemporâneas de decolonização e reconhecimento do entorno, do local e da
comunidade nas práticas cotidianas das crianças.
Palavras-Chave: letramento cartográfico; representação territorial; livro ilustrado.
O artigo investiga os paratextos presentes em dez livros de literatura infantil negra, com foco
na análise dos elementos, funções e posicionamentos à luz da perspectiva de educação
antirracista. A pesquisa é embasada em estudos sobre racismo (Almeida, 2019), educação
antirracista (Ribeiro, 2019; Cavalleiro, 2001), literatura infantil (Debus e Vasques, 2009) e
paratextos (Ramos, Schenkel e Rela, 2020). Utilizando uma abordagem qualitativa, a
pesquisa examina tanto o texto verbal quanto as imagens dos paratextos dos livros
analisados. Os paratextos, que compreendem capas, contracapas, prefácios, posfácios,
dedicatórias, orelhas e folhas de rosto, são considerados produções externas ao texto central
do livro. Esses elementos têm o potencial de influenciar a recepção da obra, servindo como
um convite à leitura e ampliando o entendimento sobre o enredo, os autores e os contextos
culturais das obras. Nos livros investigados, esses paratextos abordam e celebram aspectos
culturais da África e dos povos negros, com ênfase na valorização das tradições e na
representação positiva dos indivíduos negros. As capas e ilustrações desses livros retratam a
beleza e a profundidade das culturas africanas, ressaltando a divindade, o encantamento e a
riqueza simbólica presentes nessas tradições. As biografias dos autores, em sua maioria
negros, destacam suas realizações, inteligência e a luta histórica por reconhecimento e
justiça. Essas representações afirmativas desempenham um papel crucial na construção de
uma narrativa antirracista, oferecendo uma visão empoderadora e educacional sobre as
culturas africanas e a identidade negra. A pesquisa demonstra que os paratextos contribuem
significativamente para a promoção de uma educação antirracista, ao valorizar e celebrar a
diversidade cultural e histórica. Os mediadores de leitura podem utilizar os insights desta
pesquisa para desenvolver abordagens mais conscientes e enriquecedoras ao apresentar
livros de literatura infantil negra, incentivando uma apreciação mais profunda e crítica das
culturas retratadas e promovendo uma compreensão mais inclusiva e justa no processo
educacional.
Este trabalho tem como objetivo analisar o livro A rainha louca louca louca de 2023, da
artista Anabella López, concentrando o olhar análise acerca do texto verbal e visual o livro,
pois de acordo com a própria artista em entrevista: “seus livros possuem uma relação entre
imagem e texto”. A rainha louca louca louca é baseado no conto O rei sábio, de Khalil
Gibran. Nesse conto há um rei que todos os súditos respeitavam pela sua sabedoria e temiam
pelo seu poder, até que um dia, uma bruxa enfeitiça o único poço de água da cidade,
fazendo que todos aqueles que bebam da água daquele poço enlouqueçam. Em
contrapartida, na releitura realizada por Anabella López não temos um rei e sim uma rainha.
Importante mencionar que o livro López é dedicado a duas mulheres: Dilma e Nise. Nas
palavras de Beard: “as mulheres no poder são vistas como tendo ultrapassado os limites ou se
apossado de algo a que não têm direito” (BEARD, 2018, p. 64|). É por isso que diferentemente
do conto tradicional, entendemos o motivo de na releitura de López não acontecer a
redenção da rainha, ou seja, ela não volta à lucidez. Ela é julgada, humilhada e expulsa da
cidade, uma cidade, na qual todos os súditos estão inseridos dentro de uma grande teia: uma
teia de difamação, de informações falsas, de discursos selecionados, organizados e
distribuídos para elaborar uma vontade de verdade. Compreendemos, portanto, que o
trabalho realizado pela artista, em seu livro, tanto por meio das imagens quanto das palavras,
demarca o seu projeto estético, um projeto que possui dimensionamento literário, artístico,
temático, ideológico, logo, seus livros dialogam e se mantêm dentro de um percurso estético,
o qual prioriza a qualidade das narrativas verbais e visuais e a constante preocupação com
as questões sociais, com os sujeitos da margem, especificamente, as mulheres e sua inserção
dentro de uma sociedade patriarcal, machista e misógina.
Nosso estudo problematiza o livro literário infantil ilustrado “Ser tão”, de autoria de Fábio
Monteiro, com ilustração de Mauricio Negro, publicado em 2016, pela Editora Paulinas,
indicado para crianças do 3º e 4º ano do Ensino Fundamental. No estudo, desenvolvido no
Grupo de Estudos em Linguística Aplicada/Queer em Questões do Sertão Alagoano
(Gelasal), interrogamos os aspectos linguístico-semióticos mobilizados na obra, discutimos
sua composição e colocamos sob suspeição a tematização territorial, indagando os sentidos
de “sertão” forjados na fábula e a noção de língua(gem) e literatura subjacente nesse livro.
Temos o forte interesse em estranhar as possíveis implicações desse livro no letramento
literário-territorial de crianças pequenas. A pesquisa está vinculada aos pressupostos da
Linguística Aplicada Indisciplinar, que considera a relação entre as práticas discursivas e
sociais, tomando-as como indissociáveis. Nesse fazer, reconhecemo-nos desenvolvendo uma
“Geografia discursiva”, na qual estudamos a interface “linguagem e território” e na qual
compreendemos que é gente que faz espaços. A investigação está sob a ordem
metodológica dos estudos enunciativo-discursivos, no Círculo de Bakhtin. Dialogamos com
Albuquerque Jr (2008; 2011; 2016; 2017; 2019), Antunes (2012), Andrueto (2017), Besse (2014),
Bossato (2023), Bunzen (2022), Colomer (2014), Lima e Rosa (2021), Machado (2001), Martins
e Souza (2021), Moita Lopes (2006); Santos (Ataniel, 2021), Santos (Hugo, 2022), Santos Filho
(2012; 2022) e Távora (1993), dentre outres. Os resultados da pesquisa indiciam que os
elementos constitutivos da narrativa literária infantil trazem uma construção linguístico-
discursiva multissemiótica, mobilizando inclusive traços de obras de arte subjetivas, que
continua a (re)enunciar dizeres de um arquivo de dizibilidade e visualidade sobre “sertão”
forjado no final do século 19 e que forja, na formação infantil, um letramento literário-
territorial sob a perspectiva de “ solos fixos”. Assim, temos a preocupação de questionar a
formação de crianças pequenas nos processos de leitura literária, refletindo, portanto, a
função da literatura e do livro literário infantil ilustrado.
Por fim, mas não menos importante: aspectos paratextuais de livros ilustrados na
leitura do Colofão
Propomos para esta comunicação a análise de 2 livros brasileiros que trazem temáticas
relacionadas ao universo familiar. São objetos de estudo desta comunicação: Amanhã
(Pequena Zahar, 2022) e Rosa (Edições Olho de Vidro, 2017). Amanhã apresenta três
narrativas da mesma família. Três meninas representam três gerações desde Oriê, a menina
que morou no Japão, passando por sua filha e chegando à sua neta. A obra inicia-se com a
história contemporânea adentrando cada vez mais rumo ao passado. Ela conduz o leitor às
histórias individuais e ao mesmo tempo à história da grande imigração japonesa no Brasil.
Quando um homem está perto de ganhar um filho, ele enlouquece e desaparece. Em Rosa,
observamos duas narrativas se desenrolarem uma por meio das imagens e outra por meio das
palavras. Por meio do texto verbal, notamos um pai se afastando do filho que acabou de
nascer sem entendermos muito bem o porquê, vamos compreendendo ao longo da narrativa.
Através das ilustrações, acompanhamos o filho em sua retomada ao lugar de origem em
busca deste pai desaparecido. Vemos nesse desenrolar que o filho acredita na presença do
pai, mesmo que ele não esteja por perto. A metodologia será de cunho bibliográfico e
qualitativo, tendo como principais referências Linden (2011), Nodelman (2011) e do próprio
Odilon Morais (2022). O principal objetivo desta comunicação é observar de que modo a
leitura do livro-álbum brasileiro contemporâneo se transforma por meio das imagens e das
palavras propostas nestas duas obras. Almejamos identificar as estratégias visuais e textuais
propostas pelos autores, analisando de que maneira as palavras se relacionam com as
ilustrações, estabelecendo com elas uma relação de concordância ou discordância. Em
relação à temática, procuraremos estabelecemos de que modo estas duas narrativas, uma
ligada à imigração japonesa e outra ligada ao universo roseano podemos demonstrar
similaridades, mas que também o nosso país foi construído por culturas diversas e que podem
coabitar o mesmo território.
A comunicação é convite para alargamento ainda maior daquilo que o livro ilustrado tem
proporcionado: o atravessar de fronteiras disciplinares. As universidades contemporâneas
foram erigidas sob o paradigma científico iluminista, cioso de delimitações precisas de
campos de conhecimento, entretanto, se as ciências atravessaram séculos se beneficiando de
trocas (inter e transdisciplinares), a atual emergência (e validação) de saberes constituídos à
margem da razão moderna ocidental, recoloca e adensa discussões sobre os recortes. Em tal
contexto, o livro ilustrado é objeto provocador. A disputa por sua nomenclatura – picturebook,
livro álbum, álbum ilustrado etc. – é, em si, evidência das valorosas tensões que ele
estabeleceu entre os campos do texto (literatura), da imagem (arte) e do design.
Compreendendo-o como uma linguagem que articula todos esses elementos, resulta na
problematização de paradigmas e territórios, que podem ser exemplificados,
respectivamente: no questionamento de Dani Gutfreund sobre o livro ilustrado não se reportar
à literatura estrito senso, mas sim à ficção, e nas consideração de Amir Cadôr sobre pontes e
distâncias entre livro ilustrado e livro de artista. Não só. As ferramentas interpretativas
resultantes de pesquisas sobre tal linguagem mostram o vigor de trocas conceituais que
dissolvem fronteiras, como o uso de ecossistema por Aline Abreu. Partindo de tais
considerações, a comunicação objetiva apresentar como a exploração da linguagem livro
ilustrado aciona referentes conceituais que são indispensáveis para o conhecimento histórico,
portanto, atravessando limites e interferindo positivamente na habilidade de crianças e
adultos em melhor compreenderem historicidades. Para começar, estruturalmente, o livro
ilustrado definido como linguagem (texto, imagem e design como diferentes vozes que, no
diálogo, compõem o sentido) rompe com linearidades. É dizer que, no mínimo, a leitura/
manuseio de livros ilustrados fratura o modelo histórico das linhas de tempo -
tradicionalmente constituídas a partir de uma única voz - e apresenta alternativa multivocal
na compreensão de narrativas. E, de modo particular, há obras que promovem outras
experimentações conceituais caras à historiografia. É o caso de TROCOSCÓPIO de Bernardo
Carvalho (Planeta Tangerina, 2010) que, além de acionar os conceitos de deslocamento e
mudança, coloca no horizonte do leitor o argumento da alteração de paradigma.
TROCOSCÓPIO recoloca e adensa a discussão sobre os recortes forma e conteúdo, além
daqueles dos campos do saber.