Prova de Ética I 1

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ-UNIOESTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA
PROVA DA DISCIPLINA ÉTICA I
PROFESSOR: SAULO SBARAINI AGOSTINI
DISCENTE: ARIADNI CAROLINE MAGALHÃES

A origem da palavra ética vem do grego ethos. Sua etimologia era escrita com
eta, mas com o passar do tempo passou a ser escrita com epsilon. O sentido
originário de ethos (ηθoς – com eta) era de casa, abrigo, morada do homem. Mas
depois ethos (εθoς – com epsilon) passou a significar costume, modos, tradições
com práticas constantes e repetitivas. O sinônimo de etha (com epsilon) é héxis
(sinônimo muito importante para entendermos o εθoς) que significa uma ação
pensada, não se trata de agir por costume/hábito, mas sim ter liberdade e
deliberação de agir, meditar e fundamentar segundo um princípio.
Os filósofos como Homero, Platão e Aristóteles possuem um tipo de ethos, ou
seja, de ética. Para Homero, o ethos é essencialmente um ethos da ação. O
pressuposto é de que toda virtude implica uma postura prática, uma ação. E logo
falar sobre virtude dentro da ética implica-se dizer como se age bem.
Um dos objetivos da ética é direcionar as ações para o bem, sobretudo as éticas
antigas que têm essa noção de finalidade com o bem. Portanto, para Homero o bom,
o virtuoso, o excelente está ligado com o bélico, com o guerreiro, com aquele que
tem a destreza e com os heróis gregos das guerras.
A relação entre virtude e ética é um pouco mostrar como a virtude tem
sempre uma aplicação prática que orienta para o bem e/ou para o bem comum
(esse é um dos objetivos da ética), mas a noção de bem e de bom de Homero, é
bastante particular, porque o bom é ser o bom guerreiro, o distinto e o nobre.
A virtude grega e, sobretudo, a virtude homérica, está interessada não em seguir
manuais de como agir eticamente, mas sim em seguir modelos heroicos e que te
proporcionassem o ser distinto, o reconhecido pelos demais como o elevado, o
diferente de todos os demais, a ponto de se tornar propriamente o modelo.
Um exemplo disso é Aquiles que muitas vezes não agiu conforme a tradição, para
fazer a sua própria história e se tornar distinto. Isso tem uma relação íntima com o
que Homero chama de areté, a areté do guerreiro, a areté do melhor (o pressuposto
para definir o que é melhor significa dizer que não é possível a totalidade da areté, o
melhor é fruto de uma minoria). Portanto não tem nenhuma relação com a areté da
democracia, com uma virtude democrática que leva em conta todos os cidadãos.
Isso não existe em Homero, pois a virtude dele está liga em ser melhor e ser melhor
enquanto o indivíduo que se torna distinto dos comuns. Inclusive, para Homero, as
pessoas comuns não possuem areté, pois se possuíssem elas seriam incomuns,
seriam distintas.
Quando se diz “virtude grega” fala-se sobre concepções gerais de Grécia,
poderíamos falar sobre o que é virtude para Sócrates e Platão, e posteriormente o
que é virtude para Aristóteles (tudo isso engloba o que é virtude grega).
Com o Platão e Aristóteles, inicia-se uma pragmática distinta, não tanto da força
física ou da destreza, mas cada vez mais intelectualizado.
Em Homero (areté e a virtude) são nitidamente ligados com a formação para a
guerra. Os nobres guerreiros eram aqueles que se tornavam (pelas lendas e pelos
contos) os modelos a serem seguidos. Então havia um reconhecimento da plebe,
dos comuns, que aquele nobre, aquele aristocrata era de fato alguém que tem
grandes histórias, aquele que lutou nas guerras e é reconhecido por isso.
Se fizermos o passo etimológico de que areté (areté a palavra para se dizer
virtude em grego) tem o radical de aristos é possível mostrar como a aristocracia ou
a areté tem caráter ambíguo. A areté está intimamente ligada com aristocracia e
aristocracia quer dizer o melhor guerreiro e o melhor nobre.

O herói homérico é o homem hábil no falar e capaz de agir, seja em


tempo de guerra ou de paz, nas assembleias e nos conselhos. Apto
para todos os atos da vida cortês, ama o risco e daria a vida pela
glória. Depende da opinião de seus iguais e do favor dos deuses
para afirmar o seu valor. Desenvolve suas habilidades junto a um
preceptor mais velho e de comprovado renome. Alcançar a
excelência (areté) é sua máxima aspiração. Deve superar seus
paradigmas e honrar sua genealogia. Seus valores integram uma
ética individualista, de amor à honra (timé) e à glória. (SILVA, 2008) .

Já a ética de Platão, corresponde a busca do conceito de virtude. É


necessário conhecer a ideia de virtude (em si mesma) para poder ser virtuoso.
A ética platônica é intimamente ligada com a metafísica, poderíamos chamá-la de
“metaéticas, à vista de que é necessária uma educação do corpo para que a alma
seja dominante. Ao ser a alma dominante do corpo, ela toma o conhecimento das
ideias como guia e faz com que o corpo a pratique. Por isso tenho que conhecer a
ideia de bem como ela é, e a tomar como guia das minhas ações.
Segundo Platão, não existe diferença entre teoria e prática, pois, se você conhece,
você pratica, logo, se eu conheço a virtude eu a realizo e assim sou ético e estou
dentro do âmbito da ética, que tem como finalidade conduzir o indivíduo para a
prática do bem. Se eu conheço a ideia de bem, eu ajo conforme ela. Mas, se eu ajo
malignamente é porque eu estou deixando o corpo liderar sobre a alma. Tendo
assim, consequências éticas.
Enquanto em Homero, a prática da virtude que leva a ética seria a prática do
guerreiro virtuoso, excelente, que enfrenta a batalha heroicamente. O modelo ético
(ou como a virtude se aplicaria na ética em Platão) é o modelo daquele que reflete e
medita, ou seja, aquele que busca conhecer a ideia de virtude em si mesma e a
torna governadora de todas as suas ações.
Poderíamos definir o ethos platônico em uma educação corporal (através da
phronesis e prudência), para que o corpo não atrapalhe a alma que está em busca
das formas eternas. Ao buscar as formas eternas, nesse caso, a forma de bem, é o
que possibilitaria a ação boa, pois o conhecimento da ideia do bem é capaz de
governar o homem. Aqueles que conhecem a forma de bem, exercem-na de uma
boa maneira.
Então, se a virtude é conhecimento, é possível ensiná-la?
Segundo os sofistas sim, eles se intitulavam possuidores da sabedoria e afirmavam
que o ensino da virtude era possível e desejável. Era isso que eles faziam no dia a
dia, comercializavam/vendiam seus conhecimentos na arte da palavra,
argumentação, retórica para elite ateniense, que tinha como objetivo formar novos
aristocratas. Os sofistas afirmavam ser possível ensinar alguém a ser melhor,
apenas com a aplicação prática do conceito, a saber, o sucesso pessoal. Porém,
Sócrates afirmava que a virtude não pode ser ensinada, ela é uma arte que precisa
ser aprendida por conta própria. Ambos defendiam que a virtude era um tipo de
conhecimento, mas o pressuposto platônico é de que todos conhecem. E o
pressuposto do ensino é ensinar para quem não sabe nada, para quem não tem
conhecimento. Acontece que ao nascer novamente, as almas passam pelo rio Lete
(rio do esquecimento, do velamento) e esquecem-se de todos esses conhecimentos,
de todas essas formas, por isso, não podemos ensinar o conhecimento para quem já
conhece. O dever da educação é auxiliar, dar meios e exercícios para que a alma
possa rememorar o conhecimento que já tem, para que o “educando” busque o
conhecimento por conta própria.
No livro “A República”, Platão diz que o que os sofistas dizem sobre o que é
educação, na verdade não é. Eles não podem ensinar aquilo que é virtude, porque
esse método de ensino se assemelha em produzir ciência em algo que não tem. É
como se o estudante fosse um vazio que está para engolir o conteúdo que aquele
que tem conhecimento vai passar. Platão utiliza-se da imagem da visão para
explicar que não se trata disso, pois se pensarmos dessa maneira, estamos errados.
Todos que possuem alma veem, portanto você não da visão para aquele que é
cego. A sofistica fala que todos aqueles que não sabem estão cegos e eles irão dar
visão para esses cegos. É como se colocam na alma que não tem conhecimento, o
conhecimento (como se introduzissem a vista em olhos cegos, e/ou dessem visão a
aquelas que não veem).
A educação não é o que alguns proclamam que é, porquanto
pretendem introduzi-la na alma onde ela não está, como quem
tentasse dar vista a olhos cegos. [...]. A educação é, pois, a arte que
se propõe esse objetivo, a conversão da alma, e que procura os
meios
mais eficazes de conseguir. Não consiste em dar visão ao órgão da
alma, visto que já a tem; mas, como ele está mal orientado e não
olha para onde deveria, ela esforça-se por encaminhá-lo na boa
direção. (PLATÃO, 2000, Livro VII).

Platão faz a ressalva de que educação, seria, por conseguinte, a arte do


desejo do bem, da vontade de conhecer e querer conhecer as formas em si mesmo.
Sendo assim, a maneira mais fácil de fazer com que esses olhos passem a olhar a
forma de bem e não as copias (as noções de bem cotidianas passageira), mas sim
dar a volta e enxergar as formas em si mesmas é necessário, deve ser mostrando
como a visão não está olhando para posição correta e não olha para onde deve.
Isso, segundo Platão, é dar os meios para que cada um torne-se por si mesmo, o
contemplador das formas eterna
Nossa alma é imortal, conhece o conceito das formas em si mesmas, é
necessário apenas fazer uma reminiscência pelo rememorar, as formas já foram
vistas no âmbito das ideias. Cada um vai acabar tendo um caminho para buscar a
ideia de bem, mas independente do caminho, o foco é o mesmo (a ideia universal,
imutável, imortal de bem). É nosso dever buscar a verdade, e ao buscar a verdade
nós estamos desvelando as almas que foram veladas pelo rio. Contudo, esse
movimento tende ao esquecimento, a tendência segundo Platão, é esquecer. Tanto
com o nascer novamente, quanto com o passar do tempo (vivo), por isso a busca
pelo conhecimento deve ser uma constância.
Por esse motivo é tão necessário educar o corpo para que ele não atrapalhe a alma.
Devemos deixar apenas o conhecimento dominar, para que o nosso corpo não fale
mais alto que a alma e domine as nossas ações, que quando dominadas pelo corpo,
não serão éticas porque não estarão seguindo a forma perfeita de bem, estarão
sendo guiadas por impulsos corpóreos. E para Platão, quem permite o corpo ditar
não tem vontade, é involuntário e é ignorante.
As virtudes em Platão são diversas, mas a ética é só uma. O conhecimento, a
educação do corpo, a busca pela rememoração, etc. são todas espécies de virtudes
que nos levam para a ética. Esses modelos de virtudes buscam através do
reconhecimento da ignorância (que se adentra a um aspecto de humildade), da
maiêutica, do exercício de rememoração, da educação do corpo, da liberdade para
que a alma tenha livre acesso ou possibilidade de acessar o âmbito das ideias.
Todas essas virtudes e suas relações possibilitam uma postura ética (ideia de bem)
que uma vez adquirida o agente que possui esse conhecimento agirá de modo
virtuoso.
A ética para Aristóteles se assemelha com a de Platão na questão de buscar
a virtuosidade. Aristóteles, acredita na busca pelo justo meio, das ponderações do
pathos (referente as paixões e pulsões), ele crê que o ser humano pode controlar
suas emoções, e buscar a prudência nas ações. Aristóteles vê a ética como uma
ciência prática, diferente de Platão que a entende como algo teórico e matemático.
Para ele, sua ética está mirada em uma busca pela felicidade.
Aristóteles se preocupa com a felicidade concretado homem.
Fazer o homem é, com efeito, agir. A vida política, por
conseguinte, é tornada, para Aristóteles, essencialmente, uma
vida prática. Vida esta que implica a prática das virtudes éticas
sob a égide da prudência e estas, por sua vez, devem tornar
possível a contemplação. Assim, é no exercício das
magistraturas civis ou dos comandos militares que as virtudes
éticas encontram seu campo de ação privilegiado. Aristóteles
insiste na união das duas vidas. Ora, é o mesmo homem que
deve, por sua vez, viverem Deus contemplando e viver no
homem agindo. A felicidade do homem está na vida
contemplativa e na vida ativa. Com outras palavras, a
contemplação é uma vida racional por essência, visto que é a
vida do intelecto, exercendo-se no estado puro. Por outro lado,
a atividade das virtudes éticas, onde a atividade se inscreve em
termos de subordinação e obediência, não é uma vida racional e,
então, uma felicidade senão por participação. Pode-se dizer,
assim, que a ação está para a contemplação como o acidente
está para a substância numa relação de hierarquia ontológica. A
felicidade, portanto, está na síntese e simbiose entre a vida
contemplativa e ativa. (NODARI, 1997) .

Entendendo os três, podemos entender que suas filosofias acerca da ética se


são similares no sentido de ser o entendimento das ações do homem, se diferem
nas formas em que o ethos é atingido. Homero, entendia essa virtude de uma forma
bastante distinta de Platão e Aristóteles, ele via a ética como algo que seria
alcançado em conjunto com outros seres humanos, pois, para ser virtuoso deveria
ser heroico, para atingir esse feito, era necessário estar em comunhão. Já Platão,
acreditava que a virtuosidade do ethos era seguir o lado da razão e da justiça, assim
era possível atingir a felicidade. Contudo, Aristóteles, que foi um aprendiz e seguidor
de Platão, defendia a ideia de que para se alcançar a felicidade e a ponderação das
decisões era necessário que não se seguisse o racionalismo e sim a empiria e a
prática de vida em sociedade.
Mesmo com as diferenças e particularidades de cada pensamento exposto
neste ensaio, o que há em comum entre eles é a busca da compreensão de como
ser um homem bom, justo e digno de notoriedade. Por tanto, o ethos é essa busca
da virtuosidade do homem nas decisões e na busca por sua felicidade e completude.

Bibliografia:

Nodari, Paulo Cesar. "A ética aristotélica." Síntese: Revista de Filosofia 24.78
(1997).
ROUMBEDAKIS, Inês Geffer Abrão. A crítica de Platão à poesia de Homero na
República.

PLATÃO. A República. Livro VII. Tradução Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova
cultural, 2000 p.225 – 229.

REGO, P. C. Hábito e Liberdade. Algumas considerações sobre a natureza do


Ethos. Síntese (Belo Horizonte), Belo Horizonte, v. 22, n.69, p. 179-192, 1995.

Ribeiro, Lucas Mello Carvalho, Ariana Lucero, and Eduardo Dias Gontijo. "O ethos
homérico, a cultura da vergonha e a cultura da culpa." Psychê 12.22 (2008): 125-
138.
SILVA, Roseli G. MELO, José Joaquim. A formação do homem ideal: o herói grego e
o cristão. Seminário de Pesquisa. Universidade Estadual de Maringá. 2008.

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