Prova de Ética I 1
Prova de Ética I 1
Prova de Ética I 1
A origem da palavra ética vem do grego ethos. Sua etimologia era escrita com
eta, mas com o passar do tempo passou a ser escrita com epsilon. O sentido
originário de ethos (ηθoς – com eta) era de casa, abrigo, morada do homem. Mas
depois ethos (εθoς – com epsilon) passou a significar costume, modos, tradições
com práticas constantes e repetitivas. O sinônimo de etha (com epsilon) é héxis
(sinônimo muito importante para entendermos o εθoς) que significa uma ação
pensada, não se trata de agir por costume/hábito, mas sim ter liberdade e
deliberação de agir, meditar e fundamentar segundo um princípio.
Os filósofos como Homero, Platão e Aristóteles possuem um tipo de ethos, ou
seja, de ética. Para Homero, o ethos é essencialmente um ethos da ação. O
pressuposto é de que toda virtude implica uma postura prática, uma ação. E logo
falar sobre virtude dentro da ética implica-se dizer como se age bem.
Um dos objetivos da ética é direcionar as ações para o bem, sobretudo as éticas
antigas que têm essa noção de finalidade com o bem. Portanto, para Homero o bom,
o virtuoso, o excelente está ligado com o bélico, com o guerreiro, com aquele que
tem a destreza e com os heróis gregos das guerras.
A relação entre virtude e ética é um pouco mostrar como a virtude tem
sempre uma aplicação prática que orienta para o bem e/ou para o bem comum
(esse é um dos objetivos da ética), mas a noção de bem e de bom de Homero, é
bastante particular, porque o bom é ser o bom guerreiro, o distinto e o nobre.
A virtude grega e, sobretudo, a virtude homérica, está interessada não em seguir
manuais de como agir eticamente, mas sim em seguir modelos heroicos e que te
proporcionassem o ser distinto, o reconhecido pelos demais como o elevado, o
diferente de todos os demais, a ponto de se tornar propriamente o modelo.
Um exemplo disso é Aquiles que muitas vezes não agiu conforme a tradição, para
fazer a sua própria história e se tornar distinto. Isso tem uma relação íntima com o
que Homero chama de areté, a areté do guerreiro, a areté do melhor (o pressuposto
para definir o que é melhor significa dizer que não é possível a totalidade da areté, o
melhor é fruto de uma minoria). Portanto não tem nenhuma relação com a areté da
democracia, com uma virtude democrática que leva em conta todos os cidadãos.
Isso não existe em Homero, pois a virtude dele está liga em ser melhor e ser melhor
enquanto o indivíduo que se torna distinto dos comuns. Inclusive, para Homero, as
pessoas comuns não possuem areté, pois se possuíssem elas seriam incomuns,
seriam distintas.
Quando se diz “virtude grega” fala-se sobre concepções gerais de Grécia,
poderíamos falar sobre o que é virtude para Sócrates e Platão, e posteriormente o
que é virtude para Aristóteles (tudo isso engloba o que é virtude grega).
Com o Platão e Aristóteles, inicia-se uma pragmática distinta, não tanto da força
física ou da destreza, mas cada vez mais intelectualizado.
Em Homero (areté e a virtude) são nitidamente ligados com a formação para a
guerra. Os nobres guerreiros eram aqueles que se tornavam (pelas lendas e pelos
contos) os modelos a serem seguidos. Então havia um reconhecimento da plebe,
dos comuns, que aquele nobre, aquele aristocrata era de fato alguém que tem
grandes histórias, aquele que lutou nas guerras e é reconhecido por isso.
Se fizermos o passo etimológico de que areté (areté a palavra para se dizer
virtude em grego) tem o radical de aristos é possível mostrar como a aristocracia ou
a areté tem caráter ambíguo. A areté está intimamente ligada com aristocracia e
aristocracia quer dizer o melhor guerreiro e o melhor nobre.
Bibliografia:
Nodari, Paulo Cesar. "A ética aristotélica." Síntese: Revista de Filosofia 24.78
(1997).
ROUMBEDAKIS, Inês Geffer Abrão. A crítica de Platão à poesia de Homero na
República.
PLATÃO. A República. Livro VII. Tradução Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova
cultural, 2000 p.225 – 229.
Ribeiro, Lucas Mello Carvalho, Ariana Lucero, and Eduardo Dias Gontijo. "O ethos
homérico, a cultura da vergonha e a cultura da culpa." Psychê 12.22 (2008): 125-
138.
SILVA, Roseli G. MELO, José Joaquim. A formação do homem ideal: o herói grego e
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