TCC Davi Final

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

DAVI JOSÉ ALVAREZ MAGALHÃES

MODELAGEM DE UM SISTEMA BENCHMARK PARA ESTUDOS DE SISTEMA DE


TRANSMISSÃO HVDC UTILIZANDO CONVERSORES VSC E LINHA AÉREA

NITERÓI
2022
DAVI JOSÉ ALVAREZ MAGALHÃES

MODELAGEM DE UM SISTEMA BENCHMARK PARA ESTUDOS DE SISTEMA


DE TRANSMISSÃO HVDC UTILIZANDO CONVERSORES VSC E LINHA AÉREA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Corpo Docente do Departamento de
Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia da
Universidade Federal Fluminense, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do título
de Engenheira(o) Eletricista.

Orientador(a):
Prof. Dr. Sergio Gomes Junior

Niterói, RJ
2022
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA GERADA EM:


http://www.bibliotecas.uff.br/bee/ficha-catalografica
DAVI JOSÉ ALVAREZ MAGALHÃES

MODELAGEM DE UM SISTEMA BENCHMARK PARA ESTUDOS DE SISTEMA


DE TRANSMISSÃO HVDC UTILIZANDO CONVERSORES VSC E LINHA AÉREA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Corpo Docente do Departamento de
Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia da
Universidade Federal Fluminense, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do título
de Engenheira(o) Eletricista.

Aprovado em 7 de fevereiro de 2022, com nota 9,6 (nove, seis), pela banca examinadora.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________
Prof. Dr. Sergio Gomes Junior – Orientador
UFF

________________________________________________
Prof. Dr. Bruno Wanderley França – Membro Convidado
UFF
JULIO CESAR DE CARVALHO Assinado de forma digital por JULIO CESAR
DE CARVALHO FERREIRA:07925621788
FERREIRA:07925621788 Dados: 2022.02.14 15:12:18 -03'00'
________________________________________________
Prof. Júlio César de Carvalho Ferreira – Membro Convidado
CEFET-RJ

Niterói
2022
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Luis Felipe e Anali, e meus irmãos, Pedro e Ana Clara, por todo apoio
ao longo da minha vida, especialmente nos momentos de incertezas e dificuldades.
Aos meus colegas de graduação Diogo Bragança e Gustavo Carvalho, pela parceria e
todos os trabalhos que realizamos juntos.
Ao professor Felipe Sass e demais colegas do grupo PET-Elétrica, por terem sido
minha primeira experiência de trabalho em grupo e pesquisa na faculdade.
A minha supervisora de estágio, Patricia Neves, e todos os engenheiros da gerência de
Planejamento Elétrico do ONS, em especial: Agílio Neto, Caroline Gonçalves, Fabricio
Mourinho, Rafael Aoun, Rodrigo Bataglioli e Tais Almeida pela amizade e todos os
ensinamentos ao longo do meu período de estágio. Vocês são a referência do engenheiro que
pretendo ser um dia.
Ao engenheiro Allan Sousa e demais colegas do projeto P&D entre UFF e SGBH pela
ajuda na elaboração deste trabalho.
Finalmente, ao professor Sergio Gomes, pela confiança e pela orientação neste
trabalho, onde sempre esteve disponível e com grande paciência para o auxílio de dúvidas e
passar seus ensinamentos da área de sistemas de potência.
RESUMO

Conversores VSC possuem vantagens significativas em relação aos conversores LCC


convencionais utilizados nos sistemas de transmissão em corrente contínua. No entanto,
desenvolvimentos, em especial no que diz ao desempenho para curto-circuito na linha CC,
ainda são necessários para maior aplicação desses conversores em projetos HVDC com
transmissão aérea por longas distâncias.
Neste trabalho foi realizada a modelagem de um sistema Benchmark estilizado, com
características similares ao SIN, para a realização de estudos de elos HVDC-VSC com
transmissão aérea. A modelagem foi realizada nos programas Anarede, Anafas, Anatem e
PSCAD. O estudo tem ênfase no desempenho dinâmico do elo, incluindo as suas interações
com uma rede elétrica que o envolve. Ressalta-se, no entanto, que não foi desenvolvido um
modelo para o elo VSC, sendo este representado de forma provisória nos diferentes programas.
O documento apresenta todas as premissas e critérios adotados para definição da rede
e as principais características e processo de modelagem nos programas utilizados, sendo
comparados os resultados de regime permanente, curto-circuito e desempenho dinâmico entre
os programas do CEPEL e PSCAD, a fim de validar a rede modelada e sua equivalência entre
os programas. Os resultados foram considerados satisfatórios mesmo apresentando algumas
diferenças devido a representação dos harmônicos injetados na rede pelos conversores no
PSCAD.

Palavras-Chave: Benchmark; PSCAD; Transmissão HVDC; Conversor LCC;


Conversor VSC.
ABSTRACT

VSC converters have significant advantages over conventional LCC converters used
in direct current transmission systems. However, developments, especially regarding the short-
circuit performance in the DC line, are still needed for the greater application of these converters
in HVDC projects with overhead lines over long distances.
In this work, a stylized Benchmark system was modeled, with similar characteristics
to the Brazilian Interconnected Power System (BIPS), to carry out studies of HVDC-VSC links
with overhead lines. The modeling was performed using Anarede, Anafas, Anatem and Pscad
software. The study emphasizes the dynamic performance of the link, including its interactions
with an electrical network that surrounds it. However, it is noteworthy that a model was not
developed for the VSC link, which is provisionally represented in the different programs.
The document presents all the assumptions and criteria adopted to define the network
and the main characteristics and modeling process in the used computer programs were
presented, comparing the results of steady state, short circuit and dynamic performance between
CEPEL software and PSCAD to validate the modeled network. The results were considered
satisfactory even with some differences due to the representation of harmonics injected into the
network by the converters in PSCAD.

Keywords: Benchmark; PSCAD; HVDC transmission; LCC converters; VSC


converters.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Projeção da expansão de geração eólica e solar no Norte/Nordeste até 2033 .......... 6
Figura 2 – Relação de custos de um sistema HVDC e HVAC em função da distância. ............ 8
Figura 3 – Conversor CA-CC de 6 pulsos a tiristor ................................................................... 8
Figura 4 – Conversor VSC de 2 níveis ..................................................................................... 10
Figura 5 – Conversor VSC de 3 níveis ..................................................................................... 10
Figura 6 – Conversor VSC-MMC com submódulos HB ......................................................... 11
Figura 7 – Bibliotecas de componentes do PSCAD ................................................................. 18
Figura 8 – Sistema HVDC-VSC no PSCAD ............................................................................ 19
Figura 9 – Diagrama unifilar do Sistema Benchmark .............................................................. 21
Figura 10 – Comandos no Anarede para inclusão dos bipolos LCC de Belo Monte ............... 25
Figura 11 – Diagrama unifilar dos elos LCC no Anarede ........................................................ 27
Figura 12 – Relatório de saída RELA RLDC do Anarede ....................................................... 28
Figura 13 – Interface gráfica do utilitário ANAANA .............................................................. 29
Figura 14 – Modelo de máquina como fonte de tensão em série com impedância no Anatem 31
Figura 15 – CDU para medição da corrente de curto-circuito em Silvânia no Anatem ........... 31
Figura 16 – Diagrama de blocos do regulador de tensão ......................................................... 32
Figura 17 – Diagrama de blocos do regulador de velocidade .................................................. 33
Figura 18 – Inclusão dos bipolos LCC no Anatem .................................................................. 34
Figura 19 – Polos eletromecânicos do sistema sem estabilizadores ......................................... 35
Figura 20 – Diagrama dos resíduos para o polo 0,2793 + j4,4701 ........................................... 36
Figura 21 – Diagrama de Nyquist com e sem compensação da função de transferência
ω 5800Vref 5800 .................................................................................................................... 37
Figura 22 – Diagrama de blocos e parâmetros do estabilizador da máquina 5800 .................. 37
Figura 23 - Polos eletromecânicos do sistema após projeto do primeiro estabilizador ............ 38
Figura 24 – Polos eletromecânicos do sistema com estabilizadores ........................................ 39
Figura 25 – Modelagem das linha de transmissão de 500 kV no PSCAD ............................... 40
Figura 26 – Entrada de dados das fontes de tensão no PSCAD ............................................... 41
Figura 27 – Sistema HVDC LCC utilizado no PSCAD ........................................................... 42
Figura 28 – Malhas de Controle do Retificador dos elos LCC no PSCAD ............................. 42
Figura 29 – Malhas de Controle do Inversor dos elos LCC no PSCAD .................................. 43
Figura 30 – Atualização manual do fator de conversão na malha de cálculo de Alfa máximo 44
Figura 31 – Tensão CA em Serra da Mesa – Anatem x PSCAD ............................................. 48
Figura 32 – Ângulo de Disparo do Retificador – Elo Xingu-Estreito – Anatem x PSCAD .... 49
Figura 33 – Ângulo de Extinção do Inversor – Elo Xingu-Estreito – Anatem x PSCAD........ 49
Figura 34 – Corrente CC – Elo Xingu-Estreito – Anatem x PSCAD....................................... 50
Figura 35 – Potência CC – Elo Xingu-Estreito – Anatem x PSCAD ....................................... 51
Figura 36 - Tensão CA em Serra da Mesa – Anatem com fontes x Anatem com máquinas ... 52
Figura 37 – Ângulo de Disparo do Retificador – Elo Xingu-Estreito – Anatem com fontes x
Anatem com máquinas ............................................................................................................. 53
Figura 38 – Ângulo de Extinção do Inversor – Elo Xingu-Estreito – Anatem com fontes x
Anatem com máquinas ............................................................................................................. 53
Figura 39 – Corrente CC – Elo Xingu-Estreito – Anatem com fontes x Anatem com máquinas
.................................................................................................................................................. 54
Figura 40 – Potência CC – Elo Xingu-Estreito – Anatem com fontes x Anatem com máquinas
.................................................................................................................................................. 54
Figura 41 – Tensão CA em Serra da Mesa, Silvânia e Graça Aranha – Anatem com modelo de
máquinas ................................................................................................................................... 55
Figura 42 – Frequência dos geradores síncronos – Anatem com modelo de máquinas ........... 56
Figura 43 – Malha de controle CCA do retificador - ANATEM ............................................. 67
Figura 44 – Malha de controle VDCOL do retificador - ANATEM ........................................ 68
Figura 45 – Malha de controle CCA do inversor - ANATEM ................................................. 69
Figura 46 – Malha de controle VDCOL do inversor - ANATEM ........................................... 70
Figura 47 – Malha de controle do cálculo de Alfa Máximo do inversor - ANATEM ............. 71
Figura 48 – Malha de controle de chute de gama do inversor - ANATEM ............................. 72
Figura 49 – Malha de controle CCA do retificador - PSCAD.................................................. 73
Figura 50 – Malha de controle VDCOL do retificador - PSCAD ............................................ 74
Figura 51 – Malha de controle CCA do inversor - PSCAD ..................................................... 75
Figura 52 – Malha de controle VDCOL do inversor - PSCAD................................................ 76
Figura 53 – Malha de controle do cálculo de Alfa Máximo do inversor - PSCAD ................. 77
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Sistemas HVDC em operação no Brasil. .................................................................. 5


Tabela 2 – Sistemas HVDC Back-to-Back em operação no Brasil. ........................................... 5
Tabela 3 – Comparação entre os conversores LCC e VSC ...................................................... 12
Tabela 4 – Parâmetros por unidade de comprimento das linhas de transmissão de 500 kV .... 23
Tabela 5 – Influência da correção hiperbólica para uma linha de 500 kV de 300 km ............. 23
Tabela 6 – Dados de geração da rede Benchmark .................................................................... 24
Tabela 7 – Dados de carga da rede Benchmark ........................................................................ 24
Tabela 8 - Nível de curto-circuito nas barras de Silvânia e Graça-Aranha nos casos do PDE
2030 .......................................................................................................................................... 30
Tabela 9 – Dados dos geradores utilizados no Anatem ............................................................ 32
Tabela 10 – Parâmetros do regulador de tensão ....................................................................... 32
Tabela 11 – Parâmetros do regulador de velocidade ................................................................ 33
Tabela 12 – Parâmetros dos estabilizadores ............................................................................. 38
Tabela 13 – Comparação das tensões CA - Anarede x PSCAD ............................................... 45
Tabela 14 – Comparação da potência ativa nos conversores - Anarede x PSCAD.................. 46
Tabela 15 – Comparação dos ângulos de disparo nos conversores - Anarede x PSCAD ........ 46
Tabela 16 – Nível de curto-circuito nas barras conversoras – Anafas x PSCAD .................... 47
Tabela 17 – Nível de curto monofásico nas barras conversoras do bipolo B – Anafas x PSCAD
.................................................................................................................................................. 47
Tabela 18 – Ponto de Operação do Sistema no Anarede .......................................................... 62
Tabela 19 – Dados de Linhas de Transmissão ......................................................................... 64
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Programa Computacional do CEPEL de Análise de Faltas


Anafas
Simultâneas
Programa Computacional do CEPEL de Análise de Redes
Anarede
Elétricas
Programa Computacional do CEPEL de Análise de Transitórios
Anatem
Eletromecânicos
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
CA Corrente Alternada
CC Corrente Contínua
CCA Current Controller Amplifier
CDU Controlador Definido pelo Usuário
CDUEdit Programa editor de Controladores Definitos pelo Usuário
CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Elétrica
EPE Empresa de Pesquisa Energética
FB Full-Bridge
FT Função de Transferência
HB Half-Bridge
HVAC High Voltage Alternating Current
HVDC High Voltage Direct Current
IGBT Insulated Gate Bipolar Transistor
LCC Line Commutated Converter
MMC Modular Multilevel Converter
MOV Metal Oxide Varistor
ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico
Programa Computacional do CEPEL de Análise e Controle de
PacDyn
Oscilações Eletromecânicas
PSCAD Power System Computer Aided Design
PSS Power System Stabilizer
PWM Pulse-Width Modulation
SCR Short Circuit Ratio
SGBH State Grid Brazil Holding
SIN Sistema Interligado Nacional
VDCOL Voltage Dependent Current Order Limiter
VSC Voltage Source Converter
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 1
1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................ 2
1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................ 2
2 TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA .......................................................... 4
2.1 CENÁRIO BRASILEIRO ........................................................................................... 4
2.2 SISTEMAS HVDC-LCC ............................................................................................. 7
2.3 SISTEMAS HVDC-VSC ............................................................................................. 9
2.4 COMPARAÇÃO ENTRE LCC E VSC .................................................................... 11
3 SOFTWARE PARA ESTUDOS DE SISTEMAS HVDC ............................................ 13
3.1 SOFTWARE DO PACOTE CEPEL ......................................................................... 13
3.1.1 ANAREDE ......................................................................................................... 13
3.1.2 ANAFAS ............................................................................................................ 15
3.1.3 ANATEM ........................................................................................................... 16
3.1.4 PACDYN ............................................................................................................ 17
3.2 PSCAD....................................................................................................................... 17
4 REDE BENCHMARK .................................................................................................. 20
4.1 MODELAGEM NO ANAREDE............................................................................... 22
4.2 MODELAGEM NO ANAFAS .................................................................................. 28
4.3 MODELAGEM NO ANATEM................................................................................. 30
4.4 MODELAGEM NO PACDYN ................................................................................. 34
4.5 MODELAGEM NO PSCAD ..................................................................................... 39
5 VALIDAÇÃO DA MODELAGEM .............................................................................. 45
5.1 REGIME PERMANENTE ........................................................................................ 45
5.2 CURTO-CIRCUITO .................................................................................................. 46
5.3 DESEMPENHO DINÂMICO ................................................................................... 47
6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS ............................................................. 57
6.1 CONCLUSÕES ......................................................................................................... 57
6.2 TRABALHOS FUTUROS ........................................................................................ 57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 59
APÊNDICE A – DADOS DO SISTEMA BENCHMARK ..................................................... 62
A.1 PONTO DE OPERAÇÃO DO SISTEMA ........................................................................ 62
A.2 LINHAS DE TRANSMISSÃO ......................................................................................... 64
APÊNDICE B – MALHAS DE CONTROLE DOS ELOS LCC NO ANATEM ................... 67
APÊNDICE C – MALHAS DE CONTROLE DOS ELOS LCC NO PSCAD ........................ 73
1

1 INTRODUÇÃO

A disponibilidade abundante de recursos energéticos localizados distantes dos


principais centros de carga fomentou a construção de grandes projetos de transmissão HVDC
(High Voltage Direct Current) no Brasil. Diversas questões técnicas e econômicas tornam essa
tecnologia mais atraente do que a transmissão HVAC (High Voltage Alternating Current) para
longas distâncias (KIMBARK, 1971).
No entanto, a transmissão HVDC convencional baseada em tiristores, denominada
LCC (Line Commutated Converter), também apresenta características indesejáveis na operação
de sistemas de potência. Alguns desses problemas são a necessidade de um nível mínimo de
curto-circuito na rede CA do inversor, inserção de equipamentos para compensação da potência
reativa, filtros de harmônicos e a ocorrência de falhas de comutação (GT B4.38BR, 2021). Esse
último se torna ainda mais crítico tendo em vista a atual configuração do SIN (Sistema
Interligado Nacional), onde ocorre a operação eletricamente próxima de múltiplas estações
inversoras na região Sudeste, formando assim o cenário conhecido como multi-infeed. Desse
modo, um distúrbio pode ocasionar falhas de comutação simultâneas em mais de um elo,
causando a interrupção de uma grande quantidade de potência transmitida com graves
consequências para o sistema.
O desenvolvimento da eletrônica de potência e o surgimento de novas chaves auto
comutadas, viabilizou a utilização dos conversores VSC (Voltage Source Converter). As
principais vantagens dessa tecnologia são o controle independente de potência ativa e reativa,
capacidade de black-start e operar conectado a redes fracas sem riscos de falha de comutação
(JOVCIC, 2019). Desse modo, a transmissão HVDC utilizando conversores tipo VSC surge
como uma evolução dos conversores comutados pela linha e futuros projetos de transmissão
para longas distâncias, como o elo de corrente contínua entre Graça Aranha (MA) e Silvânia
(GO) previsto no plano decenal de expansão (MME/EPE, 2021), devem considerar a
possibilidade de uso desses conversores.
Entretanto o custo elevado e dificuldades associadas à extinção da corrente de curto-
circuito para faltas na linha CC, fator essencial para transmissão aérea por longas distâncias,
ainda são grandes impeditivos para o surgimento de sistemas HVDC-VSC, especialmente no
Brasil, onde os sistemas de corrente contínua são utilizados para transmitir grandes blocos de
energia com transmissão aérea ao longo de grandes distâncias. Nesse contexto, esse trabalho
faz parte de um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ANEEL da empresa SGBH
(State Grid Brazil Holding) em parceria com a UFF (Universidade Federal Fluminense)
2

intitulado “Conversores VSC para transmissão UHVDC usando linhas aéreas” a fim de verificar
a viabilidade dessa tecnologia no mercado nacional.

1.1 OBJETIVOS

Este trabalho tem como principal objetivo a modelagem de um sistema Benchmark


estilizado, com configurações similares ao SIN, que permita a realização de estudos de elos
HVDC-VSC com transmissão aérea, com ênfase no desempenho dinâmico do elo, incluindo as
suas interações com uma rede elétrica que o envolve.
Para isso, será descrito todo o processo de modelagem e validação da rede e de seus
componentes nos programas Anarede, Anafas, Anatem e PSCAD. A modelagem nos programas
do CEPEL visa o ajuste preliminar do ponto de operação e da potência de curto-circuito das
estações conversoras. Após isto, os mesmos dados do sistema serão utilizados para modelagem
no PSCAD, validando-se os resultados com os programas anteriores.
Com esses objetivos atingidos, acredita-se que em trabalhos futuros pode-se
desenvolver uma modelagem para conversores VSC a partir de fontes controladas por
Controladores Definidos pelo Usuário (CDU) no Anatem e utilizar modelos já existentes desses
conversores no PSCAD. No atual estágio de desenvolvimento deste trabalho, foram usadas
representações provisórias para o elo HVDC-VSC presente na rede Benchmark, que serão
descritas na seção da modelagem em cada programa. Dessa forma, o presente trabalho irá focar
na descrição dos outros componentes do sistema elétrico modelado, como as linhas de
transmissão, geradores e os elos HVDC-LCC.
Concluindo, o foco do trabalho é o desenvolvimento do Benchmark para ser utilizado
em trabalhos futuros de avaliações da tecnologia HVDC-VSC com transmissão aérea, não
entrando na questão da modelagem e simulação do HVDC-VSC, que serão explorados em
estudos mais avançados do projeto de pesquisa que este trabalho faz parte.

1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO

O documento foi estruturado da seguinte forma:

• Capítulo 1 – Introdução: Neste capítulo foi feita uma introdução ao tema do


trabalho e explicitado o seu objetivo;
3

• Capítulo 2 – Transmissão em Corrente Contínua: Foi realizada uma introdução


ao tema de transmissão em corrente contínua, com uma contextualização do
cenário brasileiro, principais características dos sistemas com conversores
LCC e VSC e uma comparação entre as duas configurações.
• Capítulo 3 - Software para estudos de sistemas HVDC: Foram apresentados os
programas computacionais utilizados, com suas principais características e
aplicações no trabalho;
• Capítulo 4 – Rede Benchmark: Foi feita uma descrição das premissas e critérios
adotados para construção do sistema Benchmark proposto por este trabalho e
apresentado o seu processo de modelagem em cada programa;
• Capítulo 5 – Validação da modelagem: Neste capítulo foi feita uma
comparação entre os resultados obtidos em simulações do sistema nos
softwares do CEPEL e PSCAD, para validação e verificação das premissas
adotadas;
• Capítulo 6 – Conclusões e Trabalhos Futuros: Foram apresentadas as
conclusões do trabalho desenvolvido, comentando sobre seus resultados e
limitações. Por fim, também foram propostas melhorias e continuações para
trabalhos futuros.
4

2 TRANSMISSÃO EM CORRENTE CONTÍNUA

2.1 CENÁRIO BRASILEIRO

O grande potencial hidrelétrico brasileiro localizado distante do principal centro de


carga na região Sudeste leva à necessidade de se transmitir um elevado montante de energia por
longas distâncias. As vantagens técnicas e econômicas da transmissão HVDC para essas
condições, associadas ao consumo excessivo de potência reativa de transmissões HVAC, que
ocasionam dificuldades no controle de tensão e de estabilidade (KIMBARK, 1971),
estimularam o desenvolvimento dos sistemas em corrente contínua no Brasil.
O primeiro sistema de transmissão em corrente contínua no país foi da usina de Itaipu
Binacional, em 1984, Foz do Iguaçu no Paraná. Esse sistema, composto por 2 bipolos, transmite
6300 MW em ±600 kV, escoando o excedente da energia gerada em 50 Hz na parte Paraguaia
da usina por cerca de 800 km até a subestação inversora de Ibiúna em São Paulo (ITAIPU
BINACIONAL, 2021).
Apenas em 2013 entrou em operação o segundo sistema de transmissão em corrente
contínua de longa distância. Esse sistema, conhecido como projeto Madeira, é composto por
dois bipolos de ±600 kV com potência total de 6300 MW, transmite a potência gerada pelas
usinas hidrelétricas de Santo Antônio de Jirau por 2375 km entre a subestação retificadora em
Porto Velho e inversora em Araraquara (PETERSON, TAVARES, et al., 2015).
Uma conexão Back-to-Back, isto é, sem linhas de transmissão, ao sistema de 230 kV
do Acre-Rondônia também foi necessária devido a problemas de afundamento de tensão e
potência acelerante nos geradores da região na ocorrência de falhas de comutação nos elos
inversores desse sistema (GT B4.38BR, 2021).
O terceiro sistema de transmissão em corrente contínua de longa distância entrou em
operação 2018 e foi projetado, em conjunto com reforços na rede CA, para transmitir parte da
potência gerada pela usina hidrelétrica de Belo Monte até a região Sudeste, com dois bipolos
de ±800 kV e potência total de 8 GW. Ao contrário dos outros dois, esse sistema é inserido, ou
seja, possui um forte corredor CA em paralelo e alterações em sua ordem de potência tem
reflexos diretos no fluxo dessas linhas (NEVES, KUSEL, et al., 2019). Além disso, cada bipolo
se conecta em uma subestação inversora diferente. O primeiro interliga a estação conversora de
Xingu no Pará à estação inversora de Estreito em Minas Gerais, a uma distância 2140 km. Já o
segundo bipolo se conecta a subestação Terminal Rio, no estado do Rio de Janeiro, através de
uma linha de transmissão de 2440 km(NEVES, KUSEL, et al., 2019).
5

A Tabela 1 a seguir, resume os sistemas HVDC de longas distâncias em operação no


Brasil.

Tabela 1 – Sistemas HVDC em operação no Brasil.


Estação Estação Potência Tensão Extensão
Sistema HVDC
Retificadora Inversora (MW) CC (kV) (km)
Foz do Iguaçu – Ibiúna –
Itaipu 50 Hz 2 x 3150 ± 600 800
PR SP
Complexo do Coletora Porto Araraquara
2 x 3150 ± 600 2375
Madeira Velho – RO 2 – SP
Estreito –
Belo Monte 1 Xingu – PA 4000 ± 800 2140
MG
Terminal
Belo Monte 2 Xingu - PA 4000 ± 800 2440
Rio - RJ
Fonte: Autor

Além dos sistemas de transmissão em corrente contínua de longas distâncias, também


estão em operação no Brasil diversos sistemas na configuração Back-to-Back. Exceto o de Porto
Velho, esses elos foram projetados com o objetivo de estabelecer intercâmbios de energia com
sistemas elétricos de países vizinhos. A Tabela 2 apresenta os elos HVDC Back-to-Back em
operação no Brasil.

Tabela 2 – Sistemas HVDC Back-to-Back em operação no Brasil.


Potência
Sistema HVDC Fronteira
(MW)
Garabi 2 x 1100 Argentina

Uruguaiana 50 Argentina

Rivera 70 Uruguai

Melo 500 Uruguai

Porto Velho 2 x 400 -


Fonte: Autor
6

Em 2016 a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), indicou através do relatório EPE-


DEE-NT-020/2016-rev0, denominado “Aumento da Capacidade da Interligação entre as
regiões Norte/Nordeste e Sudeste/Centro-Oeste para Escoamento de Excedentes de Energia das
Regiões Norte e Nordeste: Bipolos A e B” a necessidade da construção de mais dois bipolos
em operação no SIN (EPE, 2016). O “Bipolo A” interligaria a SE Parauapebas (PA) à SE Assis
2 (SP) e o “Bipolo B” conectaria a SE Graça Aranha (MA) à SE Silvânia (GO).
Essas ampliações visavam possibilitar o escoamento do crescente potencial de geração
eólica previstos para a Região Nordeste na época. No entanto, apesar da necessidade apontada
pelo estudo, os empreendimentos ainda não foram a leilão e passam por um processo de
reavaliação. A principal característica esperada para estes empreendimentos, e outros futuros,
é de serem do tipo embedded, o que significa que os elos de corrente contínua trabalhariam no
interior de uma rede elétrica malhada de corrente alternada.
O aumento expressivo de geração eólica e solar na região Nordeste foi confirmado.
Como se pode ver pela Figura 1, são esperados 34 GW de geração renovável variável na região
Norte e Nordeste até 2025, e esse valor pode chegar até 72 GW até 2033.

Figura 1 – Projeção da expansão de geração eólica e solar no Norte/Nordeste até 2033

Fonte: (EPE, 2021b)

De acordo com o relatório “Expansão das Interligações Regionais – Diagnóstico


Inicial”, emitido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em 2021, será necessária uma
expansão de até 31 GW da capacidade de exportação total da região Nordeste para escoar essa
geração sem limitações de intercâmbio segundo os critérios de segurança utilizados no
7

planejamento da transmissão e, com isso, surgem novas possibilidades de expansão da


transmissão HVDC no Brasil. Em particular, a expansão exclusiva com tecnologia LCC pode
ocasionar problemas de múltiplas alimentações em corrente contínua, o denominado HVDC
multi-infeed, principalmente a possibilidade de múltiplas falhas de comutação envolvendo
múltiplos elos HVDC-LCC. A tecnologia VSC, por outro lado, não teria em teoria este tipo de
problema por não necessitar da rede de corrente alternada para o seu processo de conversão
CA-CC.

2.2 SISTEMAS HVDC-LCC

Os primeiros elos HVDC (High Voltage Direct Current) foram construídos na década
de 1950 utilizando a tecnologia de válvulas a arco de mercúrio. Porém, sua popularização
ocorreu somente na década de 70 com o desenvolvimento das válvulas tiristoras que permitiram
a construção de sistemas de corrente contínua mais simples, confiáveis e econômicos. A partir
da primeira aplicação de tiristores em elos HVDC no sistema de Eel River no Canadá em 1972,
as válvulas tiristoras substituíram rapidamente as de arco de mercúrio (KIMBARK, 1971).
A transmissão em corrente contínua apresenta características operativas e
comportamentos específicos que são muitas vezes vantajosos em relação a transmissão em
corrente alternada. Algumas das aplicação que os sistemas HVDC se provaram superiores
técnico e/ ou economicamente são (JOVCIC, 2019):
• Transmissão aérea a longas distâncias;
• Interconexão de redes CA assíncronas;
• Transmissão via cabos submarinos ou subterrâneos;
• Controle de transferência de potência entre redes CA.
A Figura 2 mostra uma comparação entre os custos de um sistema de transmissão CC
e CA. O custo inicial da transmissão HVDC é muito maior devido ao elevado valor das estações
conversoras. Por outro lado, o aumento da distância implica em maiores custos de compensação
reativa em CA, além do projeto de linha normalmente ser mais econômico em CC. Assim, a
medida em que a distância de transmissão aumenta, os custos vão se aproximando e, a partir do
ponto de “break even”, a transmissão HVDC passa a ser mais vantajosa em custo do que a
transmissão HVAC. Atualmente, a distância de break even é entre 600 e 800 km para
transmissão aérea e 40-70 km para cabos submarinos (JOVCIC, 2019) considerando a
tecnologia convencional LCC. É importante ressaltar que essa distância depende diretamente
8

do custo das tecnologias envolvidas nas estações conversoras dos sistemas HVDC e, portanto,
tende a reduzir com o barateamento ao longo dos anos ou aumentar com o uso de tecnologia
mais moderna como, por exemplo, a que adota conversores VSC.

Figura 2 – Relação de custos de um sistema HVDC e HVAC em função da distância.

Fonte: (GT B4.38BR, 2021)

Sistemas HVDC-LCC utilizam conversores comutados pela linha porque tiristores não
são desligados por ações de controle. Essas chaves são parcialmente controláveis, sendo
possível controlar seu instante de condução, enquanto seu desligamento ocorre apenas quando
a corrente passa por zero.
O principal equipamento do processo conversão nos sistemas HVDC-LCC é o
conversor de 6 pulsos denominado Ponte de Graetz, mostrado na Figura 3.

Figura 3 – Conversor CA-CC de 6 pulsos a tiristor

Fonte: (JOINT WORKING GROUP C4/B4/C1.604, 2013)


9

Para ângulos de disparo menores que 90 graus nas válvulas tiristoras esse conversor
opera como retificador, isto é, a potência é transmitida do lado CA para o CC. Enquanto para
ângulos de disparo maiores que 90 graus, a potência é transmitida do lado CC para o CA e,
portanto, o conversor opera como inversor. Elos HVDC-LCC são construídos basicamente por
duas pontes de Graetz interconectas pelo lado CC (JOINT WORKING GROUP C4/B4/C1.604,
2013).
A tecnologia LCC é a mais consolidada, confiável e econômica para conversão
CA/CC. No entanto, esta apresenta limitações técnicas que podem restringir sua aplicação.
Devido às características operativas dos tiristores, os conversores consomem elevada potência
reativa, independente do modo de operação como retificador ou inversor. Esse consumo deve
ser compensado por filtros CA, bancos de capacitores shunt ou compensadores síncronos e
estáticos, aumentando o custo e o tamanho das subestações. Além disso, quando conectada a
redes fracas, isto é, com baixa potência de curto-circuito no ponto de conexão do inversor, os
conversores LCC podem apresentar diversos problemas como sobretensões transitórias
elevadas, instabilidade de tensão, ressonância harmônica e maior ocorrência de falhas de
comutação (KUNDUR, 1994).

2.3 SISTEMAS HVDC-VSC

Conversores fontes de tensão utilizam chaves auto comutadas como os IGBT


(Insulated Gate Bipolar Transistor) e, por isso, podem ser ligados e desligados de forma
controlada, ao contrário dos tiristores que desligam apenas quando sua corrente passa por zero.
Sua característica viabiliza a utilização de técnicas de chaveamento como o PWM (Pulse-Width
Modulation), que permitem sintetizar uma tensão senoidal independente do sistema CA e um
controle preciso de potência ativa e reativa (JOINT WORKING GROUP C4/B4/C1.604, 2013).
De forma geral, três topologias são utilizadas para transmissão VSC: dois níveis, três
níveis e MMC (Modular Multilevel Converter). Os dois primeiros possuem topologias mais
simples e consolidadas, apresentadas na Figura 4 e Figura 5. Entretanto, para aplicações de alta
tensão apresentam perdas elevadas em comparação com o LCC e não possuem capacidade de
extinguir faltas na linha CC, sendo necessária a utilização de disjuntores CC ou da abertura dos
disjuntores CA.
10

Figura 4 – Conversor VSC de 2 níveis

Fonte: (JOINT WORKING GROUP C4/B4/C1.604, 2013)

Figura 5 – Conversor VSC de 3 níveis

Fonte: (JOINT WORKING GROUP C4/B4/C1.604, 2013)

Recentemente, tem-se adotado a tecnologia MMC para aplicações de alta tensão


(RODRÍGUEZ, LAI, et al., 2002). Apesar da maior complexidade e do maior número de chaves
e capacitores, o baixo conteúdo harmônico do sinal de tensão não requer filtros CA e o
chaveamento em baixa frequência reduzem as perdas de forma significativa, tornando essa
configuração muito mais vantajosa na aplicação na transmissão em extra alta tensão de grandes
blocos de energia. Ademais, configurações MMC, tal como a FB (Full Bridge) possuem a
capacidade de extinguir curtos-circuitos na linha CC a partir do seu sistema de controle. A
Figura 6 apresenta a configuração de um conversor VSC-MMC com submódulos HB (Half
Bridge).
11

Figura 6 – Conversor VSC-MMC com submódulos HB

Fonte:(BISWAS, AHMED, et al., 2021)

Conversores VSC estão se tornando uma tecnologia madura e diversas pesquisas estão
sendo realizadas nessa área. Em (LEBRE, PORTUGAL, et al., 2018) é proposta uma
configuração híbrida com um retificador LCC e um inversor VSC. Esta configuração permitiria
uma redução de custos e um aumento da capacidade de transmissão de potência devido ao LCC,
mantendo as vantagens no desempenho dinâmico do VSC. Em (XU, ZHANG, et al., 2021) é
demonstrada a possibilidade de utilizar a topologia HB (Half Bridge) em conjunto com FB nos
conversores MMC. O uso combinado permite se aproximar dos benefícios de cada arranjo, isto
é, menores distorções, perdas e maior proximidade com o custo da configuração HB, incluindo
ainda a capacidade de extinção de curto-circuito na linha CC pela parcela FB.

2.4 COMPARAÇÃO ENTRE LCC E VSC

Conversores VSC trouxeram diversas melhorias em relação a transmissão HVDC-


LCC tradicional. A Tabela 3 apresenta um breve resumo comparativo entre as duas tecnologias.
12

Tabela 3 – Comparação entre os conversores LCC e VSC


Característica LCC VSC – 2 ou 3 níveis VSC-MMC
Dispositivo de chaveamento Tiristor IGBT IGBT
Potência de curto-circuito
> 2,5 ≥0 ≥0
do sistema CA (SCR)
Capacidade de Black-start
Não Sim Sim
(recomposição)
Demanda de potência reativa Elevada Não Não
Sim (alta
Filtro de harmônicos Sim Não
frequência)
Perdas Baixa Alta Baixa
Espaço físico Grande Pequeno Pequeno
Capacidade de extinguir
Sim Não Sim
curto-circuito na linha CC
Falha de comutação Sim Não Não
Reversão de potência Lenta Rápida Rápida
Fonte: Adaptado de (JOVCIC, 2019)

O maior desafio da utilização dos conversores VSC para transmissão HVDC é a


eliminação de curto-circuito no lado CC e o elevado custo para projetos de grande potência.
Com o desenvolvimento de novas tecnologias para solucionar esse problema e a redução natural
do preço com o tempo, é esperado que a tecnologia VSC substitua a LCC em empreendimentos
de corrente contínua.
13

3 SOFTWARE PARA ESTUDOS DE SISTEMAS HVDC

3.1 SOFTWARE DO PACOTE CEPEL

Os principais programas do CEPEL (DRE, 2021) utilizados neste trabalho foram o


Anarede (análise de redes em regime permanente) (CEPEL, 2021a), Anatem (simulação
dinâmica de transitórios eletromecânicos) (CEPEL, 2021b) e Anafas (cálculo de curto-circuito)
(CEPEL, 2017), que são descritos sucintamente com foco no seu uso dentro do trabalho. Foi
utilizado ainda o PacDyn (análise linear de oscilações e projeto de controladores) (CEPEL,
2021c) para análise dos polos eletromecânicos e no projeto dos estabilizadores das máquinas
no Anatem. Encontra-se em desenvolvimento o programa AnaHVDC para simulação dinâmica
de elos de corrente contínua, considerando simultaneamente os transitórios eletromecânicos e
eletromagnéticos. No entanto, como o AnaHVDC ainda não possui modelos de elos HVDC-
VSC, o mesmo não foi utilizado neste trabalho.

3.1.1 ANAREDE

O Anarede permite o cálculo do fluxo de potência do sistema, que será utilizado como
ponto de operação inicial das simulações dinâmicas. No Anarede é feita a modelagem da
topologia elétrica da rede, onde são informados os nós elétricos, representados no programa por
barras, e os elementos série conectados entre duas barras, denominados circuitos,
principalmente transformadores e linhas de transmissão. São ainda incluídos os elementos de
compensação reativa (reatores e capacitores derivação ou série), as cargas elétricas, dispositivos
FACTS e, como foco do trabalho, os elos de corrente contínua.
O ponto de operação é definido pelas variáveis especificadas de barras, onde podem
ser utilizadas os tipos básicos de barra PQ, PV e Vθ. Cada barra possui quatro variáveis: tensão,
ângulo e potências ativa e reativa líquidas. Nestes tipos básicos de barras, duas variáveis são
especificadas, que denominam o tipo, e duas são calculadas (A.J. MONTICELLI, 1983).
Na barra do tipo PQ, ou barra de carga, normalmente não há geração e são
especificados os valores das cargas existentes na barra. Barras de passagem são um caso
particular de barra de carga com potência consumida nula. Nestas barras podem também ser
incluídas gerações sem controles de tensão, fornecendo o valor da potência ativa e reativa das
mesmas. A barra do tipo PV são as barras de geração com potência e tensão especificada.
Servem para modelar as usinas convencionais, térmicas e hidráulicas, mas também podem ser
14

usadas para as fontes alternativas com controle de tensão, como é o caso da eólica e solar. O
último tipo Vθ é a barra de referência (“slack”), também denominada de barra de balanço
(“swing”) onde são especificadas as tensão e o ângulo da barra. Esta barra é utilizada em uma
das barras de geração para fornecer a potência ativa necessária para equalizar o balanço entre
geração e a potência consumida pelas cargas e perdas do sistema. Além disso, a barra de
referência define um ângulo de referência para cada subrede síncrona de corrente alternada e,
portanto, cada uma dessas subredes deve possuir pelo menos uma barra de referência.
Complementar a estes tipos de barras, os equipamentos podem ter controles
específicos que vão produzir as condições particulares de regime permanente de cada um. Por
exemplo, o transformador pode ter controle de tap, onde esse tap varia para que a tensão de sua
barra controlada esteja dentro da faixa desejada. Adicionalmente, compensadores estáticos de
reativos, compensadores série controlados e motores também possuem os seus controles
particulares (CEPEL, 2021a).
Analogamente, os elos de corrente contínua possuem diversas malhas de controle que
impõem um comportamento específico de regime permanente, cujos valores controlados são
fornecidos como dados de entrada de valores especificados. Por exemplo, em um elo
convencional fonte de corrente são especificadas como dados de entrada a corrente ou potência
do elos, os valores do ângulo de disparo no retificador e de extinção no inversor e a tensão de
corrente contínua da barra retificadora ou inversora do sistema (CEPEL, 2021a). Com isso, o
Anarede consegue calcular as demais variáveis, como as potências ativa e reativa do retificador
e do inversor, ângulos de comutação e os taps dos transformadores das estações conversoras.
Os elos do tipo VSC, por outro lado, não possuem ainda modelos específicos no
Anarede e cada barra conversora foi representada neste trabalho como PV, isto é, com sua
potência e tensão terminal especificadas.
Após a entrada dos dados da rede elétrica, o programa permite então o cálculo do ponto
de operação e a sua gravação em um arquivo de dados, denominado histórico ou savecase, que
pode ser lido pelos demais programas do CEPEL. Há ainda o recurso de desenho gráfico da
rede elétrica (diagrama unifilar), onde os resultados numéricos do fluxo de potência podem ser
visualizados junto do desenho.
15

3.1.2 ANAFAS

O Anafas é um programa para análise de curto-circuito em sistemas elétricos de grande


porte, permitindo a modelagem fiel do sistema e a simulação de diversos tipos de defeitos, que
podem ser compostos para definição de faltas simultâneas.
O sistema elétrico é modelado por redes de sequência positiva e zero, através de 6
grupos de dados: dados de barra, de circuito, de mútua, de shunts de linha, de MOVs e de
geradores eólicos síncronos com conversor de frequência. Os dados de circuito por sua vez são
classificados entre: linhas de transmissão, transformador, compensação série, compensação em
derivação, carga (impedância constante) e geradores.
Usualmente, como nas bases de dados do ONS e da EPE, as tensões terminais de todos
os geradores são consideradas em 1∠0°, desprezando a contribuição da corrente de carga em
regime permanente no curto-circuito. Entretanto, o Anafas também permite a representação de
sistemas com tensões e carregamentos pré-falta. A representação do carregamento pré-falta
fornece resultados mais próximos da realidade, mas necessita de uma modelagem mais
completa do sistema. Assim sendo, deve-se representar os taps fora da posição nominal, a
susceptância das linhas, os reatores e capacitores shunts, as potências de cada gerador e as
cargas tipo impedância constante.
A metodologia utilizada para solução da rede combina a representação em
componentes de sequência para o sistema balanceado com a representação trifásica para a parte
desbalanceada do sistema (defeito). Esta combinação permite a representação precisa de curto-
circuito assimétricos simultâneas e MOVs em um algoritmo de solução geral, sem
comprometimento da eficiência computacional (CEPEL, 2017).
Elos de corrente contínua LCC e VSC não contribuem para as correntes de curto-
circuito e, portanto, não são representadas no programa. Todavia, o Anafas é utilizado em
estudos de sistemas HVDC para o cálculo da potência de curto-circuito nas subestações
conversoras. A relação entre a potência transmitida pelo elo e o nível de curto-circuito no
conversor, é denominada SCR (Short Circuit Ratio) e mede o quão sensível é a tensão do
sistema no ponto de conexão para variação de potência no elo (KUNDUR, 1994).
16

3.1.3 ANATEM

O Anatem é um programa para simulações dinâmicas no domínio do tempo, visando


a análise não linear de transitórios eletromecânicos de sistemas de potência de grande porte,
compreendendo os períodos de estabilidade transitória e dinâmica.
Como alguns transitórios de baixa frequência são fortemente dependentes da
modelagem de todas as principais usinas do sistema e dos grandes elos de corrente contínua,
como é o caso das oscilações inter-áreas (KUNDUR, 1994), normalmente as simulações são
conduzidas utilizando uma representação completa e detalhada do sistema, sem utilização de
equivalentes reduzidos.
O Anatem utiliza o arquivo histórico do Anarede em conjunto com dados dinâmicos
complementares. Haja vista que os parâmetros básicos dos equipamentos em regime
permanente são fornecidos pelo Anarede e podem ser aproveitados na simulação dinâmica, tais
dados são compostos principalmente dos parâmetros das máquinas elétricas e seus
controladores (reguladores de tensão, velocidade e estabilizadores), e ainda dos sistemas de
controle dos demais componentes, incluindo os elos de corrente contínua. Os sistemas de
controle podem utilizar modelos internos do programa, denominados built-in, onde são
fornecidos apenas os seus parâmetros, ou utilizar os denominados “Controladores Definidos
pelo Usuário” (CDUs). Nos CDUs, podem ser fornecidas topologias genéricas pelo uso e
conexão de uma biblioteca de blocos matemáticos elementares (CEPEL, 2021b), que permitem
a modelagem de praticamente qualquer tipo de controle.
Nos arquivos do Anatem são ainda fornecidos os distúrbios a serem aplicados no
sistema, as variáveis selecionadas para análise gráfica e os parâmetros de simulação, incluindo
a duração da simulação e o passo de tempo a ser utilizado na solução por integração numérica
das equações do sistema.
A partir dos dados, o Anatem realiza uma inicialização automática de todas as
variáveis, incluindo as variáveis internas dos controles, de forma que a simulação do sistema
inicie em regime permanente em consonância com o ponto de operação calculado no Anarede.
Com a aplicação dos distúrbios, é então calculada e apresentada graficamente, por
curvas das variáveis em função do tempo, a evolução dinâmica dessas variáveis, permitindo a
avaliação do comportamento dinâmico dos diversos componentes do sistema. Portanto, isso
inclui o comportamento dinâmico dos elos HVDC e o impacto deste comportamento no sistema.
Não há no momento modelos particulares de elos UHVDC-VSC-MMC. Em (DA
SILVA, Milon P., LIRIO, et al., 2018) e (DA SILVA, Milon Pereira, 2019) um modelo foi
17

proposto, mas a sua implementação foi limitada ao MATLAB e não houve detalhamento do
modelo de linha de transmissão.

3.1.4 PACDYN

O PacDyn é um programa de análise a pequenos sinais que possui uma série de


ferramentas computacionais aplicadas ao modelo linearizado de um sistema de potência. O
PacDyn utiliza os mesmos modelos do Anatem, porém de forma linearizada.
Basicamente, o PacDyn permite identificar os modos de oscilações naturais de um
sistema de potência, em especial os modos eletromecânicos, por seu cálculo de polos e, com
isso, é possível verificar possíveis problemas relacionados à falta de amortecimento destes
modos. Para solução desses problemas, pode-se utilizar os resíduos para identificar os locais
mais adequados para reajuste de controladores ou para instalação de estabilizadores. O PacDyn
permite ainda realizar o projeto de estabilizadores por meio de ferramentas de resposta em
frequência e lugar das raízes.
Neste trabalho, o PacDyn foi utilizado no projeto de estabilizadores das usinas com o
objetivo de tornar o sistema Benchmark bem amortecido para as oscilações eletromecânicas.

3.2 PSCAD

O PSCAD (Power System Computer Aided Design) é um programa de transitórios


eletromagnéticos que permite a análise de fenômenos transitórios rápidos, com a inclusão da
simulação da rede elétrica associada à transmissão em corrente contínua, e seus respectivos
sistemas de controle, considerando os eventos que levam à incidência de mais altas frequências
nas grandezas elétricas, como aqueles decorrentes do chaveamento de linhas de transmissão, de
filtros e reatores, aplicação e eliminação de defeitos, dentre outros, e a resposta dos dispositivos
eletrônicos frente a estes transitórios (GT B4.38BR, 2021).
O programa utiliza a metodologia Dommel (DOMMEL, 1969), de integração
trapezoidal tradicional, para a solução numérica das equações que descrevem o comportamento
dos diversos componentes de um sistema elétrico de potência. Uma importante característica
do PSCAD é o recurso da interpolação do passo de integração nos momentos em que a corrente
em um dos tipos de chave cruza por zero, permitindo maior precisão, especialmente quando o
passo de integração seja maior (GOLE, KERI, et al., 1997).
18

A interface gráfica do programa permite aos usuários modelar seus sistemas elétricos
de forma fácil e amigável, ao invés de trabalhar somente com arquivos de texto e programação.
O próprio programa é responsável por criar o arquivos de dados, bem como os arquivos fonte
associados aos diversos componentes presentes no diagrama da modelagem para gerar o
executável de cada caso de estudo.
O PSCAD conta com uma extensa biblioteca de componentes e modelos pré-
programados, conforme apresentado na Figura 7. Estes componentes são copiados e colados
para a página de trabalho e servem como base para a montagem da rede elétrica e dos sistemas
de controle.

Figura 7 – Bibliotecas de componentes do PSCAD

Fonte: Autor

Os equipamentos baseados em eletrônica de potência, que serão amplamente usados


para a modelagem dos elos HVDC LCC e VSC nos estudos se encontram na biblioteca “HVDC,
FACTS & POWER ELETRONICS”. No PSCAD, os tiristores (aplicados nos conversores
LCC) e os IGBT (aplicados nos conversores VSC) são representados como chaves resistivas
com dois estados de operação. No caso dos tiristores deve ser fornecido apenas o sinal de
disparo, enquanto para o IGBT é necessário fornecer pulsos de duas dimensões, sendo um
disparo para habilitar e o outro para efetuar o bloqueio da chave semicondutora. Esses sinais de
19

disparo geralmente vêm de uma lógica de controle, que por sua vez são modeladas através da
conexão de blocos pré-existentes na biblioteca “CMSF” (Continuous System Model Functions
Digital and Analog Control Blocks).
Além da ampla biblioteca de componentes e modelos pré-programados também estão
disponíveis no site do PSCAD (PSCAD, 2021) diversos arquivos de simulação contendo
modelos de diferentes áreas de estudo como eletrônica de potência, armazenamento de energia,
transmissão e distribuição. O modelo base do conversor VSC neste projeto foi retirado do
arquivo H_Bi2TCCSC _2015_02_27 disponível no site do PSCAD e é apresentado na Figura
8. No entanto, conforme comentado anteriormente, sua modelagem e validação não serão
apresentadas nesse trabalho.

Figura 8 – Sistema HVDC-VSC no PSCAD

Fonte: Autor

Outra característica a ser comentada sobre o programa é a sua inicialização. Em uma


simulação para análise do desempenho sistêmico na presença de elos de corrente contínua,
deseja-se partir de um ponto de operação prévio em regime permanente para, em seguida,
aplicar um distúrbio e realizar a simulação propriamente dita. No PSCAD, para se atingir uma
condição operativa de regime permanente pré-distúrbio, próxima à definida na avaliação de
fluxo de potência, as máquinas e fontes são inicializadas subindo a amplitude das grandezas
elétricas em rampa a partir de zero. Este procedimento requer um período de tempo de
simulação, por vezes longo, para se atingir a condição desejada, anterior à aplicação do
distúrbio (GT B4.38BR, 2021). Após o regime permanente ser atingido, pode-se gerar um
arquivo com a “fotografia” da condição operativa do sistema, denominado “snapshot”, na qual
os distúrbios podem partir com a referência de tempo zerada, sem aparecer explicitamente o
período de inicialização.
20

4 REDE BENCHMARK

Com o objetivo de possibilitar no futuro analisar as características dinâmicas da


tecnologia VSC, está sendo proposto e modelado um sistema Benchmark estilizado que possui
semelhanças com as características topológicas do SIN. Ressalta-se que não se trata de um
sistema equivalente e não tem como objetivo reproduzir o comportamento dinâmico da rede
elétrica brasileira de forma fidedigna, haja vista a complexidade que haveria no
desenvolvimento de um sistema equivalente para isso.
O sistema elétrico proposto como Benchmark para as simulações futuras do
comportamento dinâmico do sistema HVDC VSC-OHL é apresentado na Figura 9 e possui as
seguintes características:
• Preserva de forma estilizada algumas características topológicas da rede
elétrica brasileira em relação ao projeto do Bipolo B sem, no entanto,
reprodução de seu comportamento dinâmico;
• Reprodução aproximada da potência de curto-circuito do SIN nos terminais do
elo a ser estudado, tendo como referência os casos de curto-circuito do Plano
Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2030. Possibilidade de variar esse
ajuste com a finalidade de ilustrar o comportamento do elo em relação aos
fenômenos normalmente analisados em sistemas de potência;
• Presença de uma rede de corrente alternada em 500 kV em torno do elo
estudado, considerando a rede da região Nordeste com as fontes renováveis
variáveis, a presença das usinas de Tucuruí e Belo Monte, os bipolos dos elos
LCC de Belo Monte, com o objetivo de permitir mostrar a operação em
conjunto com um elo convencional, conforme existente no Sistema Interligado
Nacional (SIN), a região Sudeste e a interligação Norte-Sul entre Imperatriz e
Serra da Mesa;
• Esforço computacional satisfatório, o sistema conta com 53 barras e 64
circuitos CA;
• Permite demonstrar a viabilidade e as diversas características da utilização de
elos de corrente contínua VSC com transmissão aérea, com ênfase no
desempenho dinâmico do elo, incluindo suas interações com uma rede elétrica
que o envolve.
21

Este Benchmark destina-se não somente ao estudo do projeto do Bipolo B


propriamente em questão, mas possibilitar a análise de desempenho de um sistema HVDC-VSC
genérico “embedded”, ou seja, no interior de uma rede CA malhada. Neste sentido, é possível
inclusive com este Benchmark desenvolvido neste trabalho comparar as tecnologias LCC e
VSC para os diversos fenômenos estudados em sistemas de potência, incluindo os modelos
apropriados nos pontos da rede designados como correspondentes a Silvânia e Graça Aranha.

Figura 9 – Diagrama unifilar do Sistema Benchmark

Fonte: Autor

Neste capítulo será abordado o processo de modelagem nas ferramentas


computacionais do pacote CEPEL e o PSCAD. Para isso, será apontado em cada seção o
desenvolvimento do sistema Benchmark nos programas Anarede, Anafas, Anatem, PacDyn e
PSCAD de modo a salientar as premissas adotadas e as características de cada programa.
22

4.1 MODELAGEM NO ANAREDE

A modelagem no Anarede visa, a partir da definição de carga, geração e topologia, o


ajuste preliminar do ponto de operação inicial das simulações dinâmicas no Anatem e PSCAD
e das tensões pré-falta no Anafas.
Com relação a definição da topologia, o sistema Benchmark preserva de forma
estilizada algumas características topológicas da rede elétrica brasileira em relação ao projeto
do Bipolo B. Com isso, foram utilizados comprimentos aproximados das linhas de transmissão
entre os pontos considerados, através da verificação do comprimento das linhas existentes ou
pela distância aproximada entre as cidades medidas no Google Maps. Para evitar problemas de
estabilidade angular, de tensão, ou sobretensões muito elevadas de transitórios
eletromagnéticos de manobra, o comprimento das seções de linhas foi limitado em 400 km,
como usualmente ocorre na prática, e o fluxo por circuito em 1500 MW.
Para uma maior facilidade na entrada de dados e para não necessidade de obtenção de
todos os dados reais de várias empresas, todas as linhas de transmissão em 500 kV foram
modeladas com os mesmos parâmetros típicos por unidade de comprimento utilizados em
(ALMEIDA, LIRIO, et al., 2014) e apresentados na Tabela 4. Ressalta-se que foi aplicada uma
correção hiperbólica nos parâmetros das linhas em função dos seus comprimentos, para que
haja uma correspondência em regime permanente dos modelos com o PSCAD. O cálculo da
correção hiperbólica é realizado da seguinte forma:

𝑍𝑐 . sinh(𝛾. 𝑙) (4.1)
𝑍𝑎𝑛𝑎 = × 100
𝑍𝑏𝑎𝑠𝑒

𝛾. 𝑙
2. tanh ( 2 )
𝑀𝑣𝑎𝑟𝑎𝑛𝑎 = 𝐼𝑚 { . 𝑉𝑏𝑎𝑠𝑒 2 } (4.2)
𝑍𝑐

Sendo:

• 𝑍𝑐 = √𝑧⁄𝑦, a impedância característica da linha; (4.3)

• 𝛾 = √𝑧. 𝑦, a constante de propagação da linha; (4.4)


Onde z e y são a impedância série e a admitância shunt por unidade de comprimento,
respectivamente, e l é o comprimento total da linha em km.
23

Os dados de entrada do Anarede são a resistência e reatância da linha em porcentagem


obtidas da parte real e imaginária de (4.1), e a potência reativa nominal total da linha em Mvar
obtida diretamente pelo cálculo de (4.2).

Tabela 4 – Parâmetros por unidade de comprimento das linhas de transmissão de 500 kV


Parâmetro da linha de transmissão Valor por unidade de comprimento
Resistência de sequência positiva 0,000022758 [Ω/m]
Reatância indutiva de sequência positiva 0,000333256 [Ω/m]
Reatância capacitiva de sequência positiva 203,660976 [MΩ.m]
Resistência de sequência zero 0,000198049 [Ω/m]
Reatância Indutiva de sequência zero 0,00159191 [Ω/m]
Reatância Capacitiva de sequência zero 401,08238 [MΩ.m]
Fonte: Autor

A Tabela 5 ilustra a influência da correção hiperbólica nos parâmetros de uma linha


de transmissão de 500 kV de 300 km. Observa-se que ao considerar os efeitos dos parâmetros
distribuídos é verificado uma redução da impedância série e um aumento na susceptância da
linha. Essas discrepâncias aumentam conforme o comprimento da linha de transmissão.

Tabela 5 – Influência da correção hiperbólica para uma linha de 500 kV de 300 km


Xc Xc0
Correção hiperbólica R [%] Xl [%] R0 [%] Xl0 [%]
[Mvar] [Mvar]
sem 0,2731 3,9990 368,26 2,3766 19,1029 186,99
com 0,2598 3,9020 372,85 2,1011 18,0024 192,76
Fonte: Autor

Foi utilizado o modelo de impedância RL (resistiva-indutiva) em série constante para


as cargas e reatância de 10% na base dos geradores para os transformadores elevadores. Além
disso, foram incluídos reatores de linha e de barra para compensação reativa das linhas e ajuste
de tensão do ponto de operação.
De modo geral, as gerações e cargas agregadas foram definidas de forma a representar
um cenário Nordeste Exportador Carga Pesada, usando como referência para os valores totais
de geração e carga por região o relatório “Anuário Estatístico de Energia Elétrica 2020” da EPE
(EPE, 2020). Os dados das linhas de transmissão e o ponto de operação completo são
apresentados no Apêndice A. A Tabela 6 e a Tabela 7 apresentam a geração e carga por
barramento da rede.
24

Tabela 6 – Dados de geração da rede Benchmark


Nº da
Região/ usina Geração Ativa [MW] Potência Base [MVA]
Barra
300 Itumbiara 3500 4200
500 Araraquara 2 5000 6000
1100 Minas Gerais 5000 6000
1300 Rio de Janeiro 6000 7200
1600 São Paulo 7038,1 * 8000
2800 Tucuruí 5000 6000
3500 NE - Área Norte 8000 9600
4800 NE - Área Sul 6000 7200
5200 NE - Área Leste 8000 9600
5800 Mato Grosso 5000 6000
5900 Belo Monte 6000 7200
(*) Barra Swing
Fonte: Autor

Tabela 7 – Dados de carga da rede Benchmark


Nº da Carga Ativa Carga Reativa
Região
Barra [MW] [Mvar]
6 São Paulo 15000 1500
10 Minas Gerais 10000 1000
12 Rio de Janeiro 12000 1200
34 NE - Área Norte 5000 500
49 NE - Área Sul 3500 350
54 NE - Área Leste 6000 600
56 Distrito Federal 5000 500
57 Mato Grosso 3500 350
Fonte: Autor

Para representação dos elos Xingu-Estreito e Xingu-Terminal Rio contidos na rede


Benchmark, foram obtidos os parâmetros dos conversores e das linhas CC a partir dos Casos
de Referência do Estudo Quadrimestral de Janeiro a Abril de 2022, disponíveis na plataforma
do ONS na Internet. (ONS, 2021)
Do ponto de vista do programa Anarede, o usuário informa o ângulo de disparo, a
tensão CC e a potência CC do retificador. No inversor, o usuário informa o ângulo de extinção.
O programa calcula os valores das relações de transformação dos transformadores conversores
e a tensão CC do inversor.
Os comandos utilizados para a inclusão dos bipolos na rede Benchmark no Anarede
são mostrados na figura abaixo:
25

Figura 10 – Comandos no Anarede para inclusão dos bipolos LCC de Belo Monte

Fonte: Autor

Os principais dados em cada código de execução apresentados acima são:


26

• DELO: Neste código de execução foram fornecidos os dados de tensão e base


de potência, que são 800 kV e 2000 MW, respectivamente;
• DCBA: Neste código de execução foram informadas a numeração das barras
CC, sua identificação alfanumérica e a indicação de todas as barras que
pertencem ao mesmo elo. Neste caso, o elo de Xingu-Estreito foi definido
como número 1 e o de Xingu-Terminal Rio como 2. Foi necessário também
informar a barra de referência de cada polo e sua tensão especificada
preenchendo com "1" na coluna “Tipo”, para determinar que a tensão
especificada fosse mantida no retificador;
• DCLI: Neste código foram informadas a resistência e a indutância da linha
CC. O valor da indutância representa a soma dos valores da linha CC e dos
reatores de alisamento dos dois terminais;
• DCNV: Neste código foram fornecidos os dados de conversor CA-CC.
Inicialmente foram informadas as barras do conversor, sendo uma CA e duas
CC (Polo e Neutro). Depois foram especificados o modo de operação do
conversor: R (retificador) ou I (inversor), o número de pontes conversoras de
seis pulsos e a corrente nominal do conversor em Amperes. Por fim, também
foi informada a reatância de comutação por cada ponte de seis pulsos, a tensão
base fase-fase do secundário do transformador conversor e a potência base
trifásica do transformador conversor;
• DCCV: Neste código de execução foram fornecidos os dados de controle do
conversor CA-CC. Foi informado que o controle do elo será feito em controle
de potência com o valor especificado de 2000 MW nos retificadores. Também
foram especificados o ângulo de operação, e os limites mínimo e máximo dos
conversores, em graus elétricos. Foi escolhido como ângulo de operação, 15
graus para os conversores retificadores (alfa) e 17 graus para os inversores
(gama). Por fim, também foram determinadas as faixas de variação dos taps do
transformador conversor de 0,925 a 1,25.

A Figura 11 apresenta o diagrama unifilar do Anarede com a representação dos elos


LCC. Observa-se que as tensões CC no inversor convergiram em 765,3 kV e 759 kV para os
bipolos de Xingu-Estreito e Xingu-Terminal Rio, respectivamente. Na figura também pode se
27

verificar o valor dos taps dos transformadores conversores, que se mantiveram dentro da faixa
de 0,925 a 1,25 informada nos dados de entrada.

Figura 11 – Diagrama unifilar dos elos LCC no Anarede

Fonte: Autor

Para se obter informações sobre o consumo de potência reativa e o ângulo de


comutação em cada conversor é necessário utilizar o comando RELA RLDC, cujo relatório de
saída é ilustrado na Figura 12. Os bancos de capacitores conectados nas barras conversoras
foram dimensionados para suprir esse consumo de potência reativa além dos valores da
filtragem CA presentes no modelo de PSCAD.
28

Figura 12 – Relatório de saída RELA RLDC do Anarede

Fonte: Autor

Como mencionado no item 3.1.1, elos VSC ainda não possuem modelos específicos
no Anarede e foram representados neste trabalho como barras PV, o que foi considerado
satisfatório para representação do comportamento em regime permanente, uma vez que esses
conversores realmente possuem a capacidade de controlar a ordem de potência e tensão em seus
terminais.

4.2 MODELAGEM NO ANAFAS

O Anafas foi usado na comparação das correntes de curto-circuito para validação dos
modelos implantados no PSCAD e ajuste do nível de curto-circuito no sistema modelado.
29

Para gerar o arquivo de dados de curto-circuito foi utilizado o programa utilitário de


conversão ANAANA (Figura 13) instalado no mesmo diretório do Anafas. O ANAANA lê um
arquivo de dados do Anarede (.PWF) e gera um arquivo de dados do Anafas (.ana) com inclusão
das tensões e carregamentos pré-falta. Neste arquivo estão representados todos os equipamentos
shunt, todas as cargas (impedância constante), taps, defasamentos de transformadores e
potência reativa capacitiva (line-charging) das linhas. Os dados de sequência zero são
inicializados com valores iguais aos de sequência positiva e foram corrigidos manualmente
após a conversão.

Figura 13 – Interface gráfica do utilitário ANAANA

Fonte: Autor

Assim como para a sequência positiva, também foram utilizados parâmetros típicos
para os valores de sequência zero das linhas de transmissão de 500 kV conforme a Tabela 4. Os
transformadores elevadores foram representados com reatância de 10% na sua base de potência
e com enrolamento delta-Y a partir do lado da máquina, portanto, com defasagem de -30° em
relação ao lado de alta tensão.
As impedâncias dos geradores não fazem parte dos dados de fluxo de potência e
também foram incluídas manualmente. Foram considerados parâmetros típicos de 25% e 12,5%
para as reatâncias de sequência positiva e zero, respectivamente. Para as resistências foi
utilizado 1% do valor das reatâncias.
Os Elos HVDC LCC e VSC não contribuem para a corrente de curto-circuito e,
portanto, não são representados no ANAFAS.
A EPE disponibiliza em seu site (EPE, 2021a) os arquivos de simulação utilizados para
elaboração do Plano Decenal de Energia (PDE). Entre eles estão dois arquivos .ana do Anafas
correspondentes ao caso de curto-circuito mínimo e máximo. Os dois possuem a mesma
topologia da rede, entretanto diferem quanto ao número de máquinas sincronizadas,
30

representando duas situações extremas que, se garantidas a operação segura, também garantem
a operação adequada em pontos de operação intermediários.
A partir da alteração da quantidade de circuitos e dos valores de geração e carga, as
potências de curto-circuito nas barras conversoras do Bipolo B foram ajustadas para níveis
próximos aos obtidos no caso de potência mínima do PDE 2030 apresentados na Tabela 8. Os
valores de curto-circuito no caso de potência mínima foram escolhidos por serem considerados
mais críticos para as simulações dinâmicas a serem realizadas no Anatem e PSCAD.

Tabela 8 - Nível de curto-circuito nas barras de Silvânia e Graça-Aranha nos casos do PDE 2030
Nível de Curto-Circuito (kA)
Barra
PDE 2030 - CC PDE 2030 - CC
Conversora
Min Max
Silvânia 17,63 22,45
Graça Aranha 16,25 24,31
Fonte: Autor

4.3 MODELAGEM NO ANATEM

As simulações no Anatem têm por objetivo ilustrar a análise dos transitórios


eletromecânicos do sistema e do impacto na dinâmica de baixa frequência, possibilitando a
realização da análise do comportamento dinâmico dos sistemas de controle, do desempenho de
baixa frequência dos elos de corrente contínua, além dos fenômenos de perda de sincronismo,
falta de amortecimento de oscilações de potência, estabilidade de tensão e frequência.
Inicialmente, para validação dos resultados dinâmicos de curto-circuito com o
PSCAD, as máquinas foram modeladas como fonte de tensão constante em série com
impedância. Essa modelagem no Anatem é feita com o comando DMDG MD01 conforme
mostra a Figura 14, onde também são informadas a indutância transitória de eixo direto e a
resistência do enrolamento de armadura em porcentagem na base da máquina, a constante de
inércia e a potência nominal da máquina em MVA. A constante de inércia é um parâmetro
obrigatório quando se quer especificar a impedância da máquina e, por isso, foi utilizado um
valor extremamente grande, 1010 s, para representação como fonte de tensão onde a variação
angular é idealmente nula.
31

Figura 14 – Modelo de máquina como fonte de tensão em série com impedância no Anatem

Fonte: Autor

Uma vez que não é possível medir diretamente a corrente de curto-circuito no Anatem,
foram criados CDUs específicos para medição do nível de curto em cada barra conversora. A
Figura 15 ilustra o CDU utilizado para calcular a corrente de curto-circuito na barra de Silvânia.

Figura 15 – CDU para medição da corrente de curto-circuito em Silvânia no Anatem

Fonte: Autor

Posteriormente, para a avaliação dinâmica do sistema Benchmark no Anatem foram


incluídos modelos de máquinas e seus sistemas de controle. Foi utilizado o modelo bult-in
MD02 de máquina síncrona de polos salientes com um enrolamento de campo e dois
enrolamentos amortecedores, sendo um no eixo direto e outro no eixo em quadratura. Os dados
dos geradores são os mesmos e estão listados na Tabela 9. A potência aparente nominal de cada
máquina usada como base para os parâmetros se encontra na Tabela 6.
32

Tabela 9 – Dados dos geradores utilizados no Anatem


Parâmetro Descrição Valor
Ld Indutância síncrona de eixo direto 1,8 pu
Lq Indutância síncrona de eixo em quadratura 1,7 pu
L'd Indutância transitória de eixo direto 0,3 pu
L''d Indutância subtransitória de eixo direto 0,25 pu
Ll Indutância de dispersão da armadura 0,2 pu
T'd0 Constante de tempo transitória de circuito aberto no eixo d 8s
T''d0 Constante de tempo subtransitória de circuito aberto no eixo d 0,03 s
T''q0 Constante de tempo subtransitória de circuito aberto no eixo q 0,05 s
Ra Resistência do enrolamento de armadura 0,0025 pu
H Constante de inércia 6,5 s
f Frequência nominal 60 Hz
Vn Tensão nominal nos terminais 20 kV
Fonte: Autor

Para inclusão dos reguladores de tensão foi usado um modelo de excitatriz estática
apresentado na Figura 16 com os parâmetros da Tabela 10, enquanto para os reguladores de
velocidade foi utilizado o modelo built-in MD01 do Anatem cujo diagrama de blocos se
encontra na Figura 17 e os parâmetros na Tabela 11.

Figura 16 – Diagrama de blocos do regulador de tensão

Fonte: Autor

Tabela 10 – Parâmetros do regulador de tensão


Parâmetro Descrição Valor
Tr Constante de tempo do regulador 0,05 s
Ka Ganho do regulador 100
LMIN Limite inferior da tensão de campo -4
LMAX Limite superior da tensão de campo 4
Fonte: Autor
33

Figura 17 – Diagrama de blocos do regulador de velocidade

Fonte: (CEPEL, 2021b)

Tabela 11 – Parâmetros do regulador de velocidade


Parâmetro Descrição Valor
R Estatismo permanente 0,05 pu
Rp Estatismo transitório 0,38
At Ganho da turbina 1,081
Qnl Vazão sem carga 0,15 pu
Tw Constante de tempo da água 7s
Tr Constante de tempo do regulador 0,05 s
Tf Constante de tempo de filtragem 0,5 s
Lmn Limite inferior de abertura da comporta 0
Lmx Limite superior de abertura da comporta 0,984 pu
Dtb Fator de amortecimento da turbina 0,352 pu
D Fator de amortecimento da carga 1 pu
Pbg Potência base do gerador 1 MVA
Pbt Potência base da turbina 1 MW
Fonte: Autor

Os estabilizadores foram projetados com auxílio do programa PacDyn e seus ajustes


são detalhados no item 4.4.
A modelagem dos bipolos LCC no Anatem foi realizada em duas etapas. Primeiro foi
feita a modelagem dinâmica dos conversores em CDU (Controladores Definido pelo Usuário)
e depois associou-se essa modelagem aos elementos representados previamente no Anarede.
A modelagem CDU utilizada para os conversores possui malhas como CCA, VDCOL
e ALFA Máximo. Ela foi utilizada previamente em (ALMEIDA, LIRIO, et al., 2014) tendo
34

sido adaptada neste trabalho para os níveis de 800 kV e 4 GW. O diagrama de blocos dos CDU
utilizados se encontram no Apêndice B.
Na Figura 18, são apresentados os comandos incluídos no arquivo STB do Anatem
para representação dos elos LCC:

Figura 18 – Inclusão dos bipolos LCC no Anatem

Fonte: Autor

No código DCNV é feita a leitura dos dados dos conversores e a associação aos seus
modelos. Foram mantidos os ângulos mínimo e máximo de alfa em 5º e 163º dos retificadores
e o ângulo mínimo de extinção dos inversores em 17º informados no Anarede.
O código DFCM permite definir os limites de tensão por unidade (Vfc) e ângulo de
extinção (Gfc) para a detecção de falha de comutação de forma automatizada, sua duração
mínima (Thd) e a barra inversora submetida (Nm). Foram utilizados valores típicos de ângulo
de extinção mínimo = 14,1º e duração mínima de 16 ms.

4.4 MODELAGEM NO PACDYN

O PacDyn foi utilizado para o projeto de estabilizadores considerando que, na ausência


dos mesmos, o sistema seria instável a pequenos sinais, ou seja, os polos correspondentes às
35

oscilações eletromecânicas para pequenos distúrbios possuiriam parte real positiva e, portanto,
as oscilações teriam amortecimento negativo, sendo indefinidamente crescentes.
O PacDyn utiliza os mesmos arquivos de dados do Anatem e, portanto, a modelagem
é equivalente em ambos os programas, com a diferença que o PacDyn realiza a linearização do
sistema de equações que descreve o sistema de potência.
A Figura 19 a seguir apresenta os polos eletromecânicos do caso inicialmente
modelado, sem estabilizador:

Figura 19 – Polos eletromecânicos do sistema sem estabilizadores

Fonte: Autor

Verifica-se que há 3 pares de polos complexo conjugados com amortecimento


negativo e os 7 demais pares de polos com amortecimento baixo, inferiores a 10%. Para
estabilização do primeiro polo com amortecimento negativo, de valor -6,2354%, e projeto do
primeiro estabilizador, são calculados seus resíduos considerando a FT (função de
𝜔
transferência) 𝑉 ,
𝑟𝑒𝑓

Os resíduos de um polo em um FT correspondem à magnitude da componente modal


na variável de saída da FT quando se aplica um impulso na variável de entrada (GT B4.38BR,
2021). Além disso, o resíduo também representa a sensibilidade de uma realimentação na malha
de controle por um ganho infinitesimal. Dessa forma, o cálculo dos resíduos é utilizado para
verificar quais as melhores usinas para instalação de estabilizadores de velocidade entrando
junto a tensão de referência no regulador de tensão.
Na Figura 20 é exibido o diagrama dos resíduos do polo 0,2793 + j4,4701, indicando
a máquina 5800 como a mais adequada para estabilização do polo eletromecânico em análise.
36

Figura 20 – Diagrama dos resíduos para o polo 0,2793 + j4,4701

Fonte: Autor

É utilizado então o projeto automático de estabilizador do PacDyn baseado no método


do diagrama de Nyquist com amortecimento (GOMES, GUIMARÃES, et al., 2018). Este
método, baseia-se na utilização do diagrama de Nyquist onde o lugar geométrico da FT no plano
complexo é avaliado com s variando ao longo de uma reta de fator de amortecimento constante.
O usuário então informa o fator de amortecimento desejado, nesse primeiro caso foi 15%, e a
frequência do polo a ser compensado e, com isso, o programa calcula um projeto inicial de
estabilizador. Na Figura 21 são apresentados os diagramas de Nyquist com e sem a
compensação pelo PSS projetado em azul e vermelho, respectivamente.
37
𝜔 5800
Figura 21 – Diagrama de Nyquist com e sem compensação da função de transferência
𝑉𝑟𝑒𝑓 5800

Fonte: Autor

A Figura 22 a seguir apresenta a topologia do PSS projetado e seus parâmetros


calculados de forma automática pelo PacDyn.

Figura 22 – Diagrama de blocos e parâmetros do estabilizador da máquina 5800

Fonte: Autor

A lista de polos incluindo este primeiro estabilizador projetado encontra-se na Figura


23. Verifica-se o polo posicionado na frequência 4,477 rad/s e fator de amortecimento 15%
especificados no projeto.
38

Figura 23 - Polos eletromecânicos do sistema após projeto do primeiro estabilizador

Fonte: Autor

Este processo foi repetido até que todos os polos atingissem um fator de
amortecimento mínimo de 12%. Ressalta-se que se utilizaram fatores de amortecimento
variados, alternando-se entre 12% e 18% durante este processo sequencial para evitar que o
diagrama de Nyquist fosse para infinito entre projetos consecutivos pela presença de polo de
malha fechada na posição do último fator de amortecimento escolhido (GOMES,
GUIMARÃES, et al., 2018). A Tabela 12 apresenta os parâmetros utilizados em cada PSS e a
Figura 24 mostra a lista de polos após o projeto de todos os estabilizadores:

Tabela 12 – Parâmetros dos estabilizadores


Parâmetro
Gerador
TW TN1 TD1 TN2 TD2 KP1 LMIN LMAX
300 3 0,274 0,075 0,274 0,075 0,869 -0,1 0,1
500 3 0,464 0,053 - - 3,309 -0,1 0,1
1100 3 0,225 0,201 - - 6,793 -0,1 0,1
1600 3 0,355 0,169 - - 7,439 -0,1 0,1
2800 3 0,613 0,362 - - 21,726 -0,1 0,1
3500 3 0,259 0,215 - - 7,086 -0,1 0,1
4800 3 0,328 0,291 - - 14,346 -0,1 0,1
5800 3 0,274 0,178 - - 11,663 -0,1 0,1
Fonte: Autor
39

Figura 24 – Polos eletromecânicos do sistema com estabilizadores

Fonte: Autor

4.5 MODELAGEM NO PSCAD

A modelagem da rede Benchmark no PSCAD e sua validação é uma parte fundamental


deste trabalho, uma vez que irão possibilitar que os modelos desenvolvidos e as simulações
dinâmicas do elo VSC sejam realizadas no programa. Desse modo, todos os parâmetros e
critérios detalhados nas seções anteriores se mantém para modelagem no PSCAD e nessa seção
serão descritas suas especificidades.
Foram utilizados os modelos de Bergeron para as linhas de transmissão com os
mesmos parâmetros por unidade de comprimento apresentados na Tabela 4. No entanto, para
reduzir o número de nós elétricos e o esforço computacional, linhas com múltiplos circuitos
foram representadas com apenas um e seus parâmetros divididos pelo número de circuitos. A
Figura 25 mostra a representação no PSCAD do trecho de linha entre as barras de Serra de Mesa
e Rio das Éguas que possui 2 circuitos. Observa-se que os parâmetros da linha são os valores
típicos de 500 kV divididos por dois.
40

Figura 25 – Modelagem das linha de transmissão de 500 kV no PSCAD

Fonte: Autor

As usinas foram representadas por um modelo equivalente de fonte de tensão em série


com uma indutância subtransitória. A entrada de dados é ilustrada na Figura 26 e consiste na
magnitude e ângulo da tensão atrás da impedância do gerador. Para isso, em cada máquina foi
realizado o seguinte cálculo com auxílio dos valores obtidos previamente no fluxo de potência
do programa Anarede:

Sendo a corrente do gerador igual:



𝑆̇
𝐼̇ = ( ) (4.5)
𝑉𝑡̇
A tensão atrás da impedância do gerador pode ser calculada da seguinte forma:
̇ = 𝑉𝑡̇ + 𝑍𝑔̇ . 𝐼 ̇
𝐸𝑖𝑛𝑡 (4.6)

Onde:
• ̇ é a tensão interna do gerador;
𝐸𝑖𝑛𝑡
• 𝑉𝑡̇ é a tensão terminal do gerador;
• 𝑆̇ é potência aparente do gerador;
• 𝑍𝑔̇ é a impedância série do gerador.
41

Figura 26 – Entrada de dados das fontes de tensão no PSCAD

Fonte: Autor

As cargas foram representadas por um circuito série resistivo-indutivo correspondente


ao consumo da carga em regime permanente. De forma semelhante os elementos de
compensação reativa (reatores em derivação e banco de capacitores) foram representados por
elementos passivos com valores de indutância ou capacitância de acordo com seu consumo de
potência em regime.
Para a modelagem dos sistemas de corrente contínua LCC do sistema Benchmark no
PSCAD utilizou-se um modelo validado previamente em trabalhos do CEPEL (ALMEIDA,
LIRIO, et al., 2014) baseado em um dos bipolos do projeto Madeira. Tendo em vista que esse
bipolo foi projetado para operar com tensão CC de ±600 kV e potência nominal de 3150 MW,
ajustes foram realizados nos parâmetros dos equipamentos e nos sistemas de controle para
adaptar o modelo a tensão CC de ±800 kV e a potência nominal de 4000 MW dos bipolos do
sistema de Belo Monte. Os novos parâmetros foram obtidos da base oficial de dados do ONS
(ONS, 2021).
42

A Figura 27 apresenta o modelo de elo HVDC de Xingu-Estreito no PSCAD. A


modelagem do bipolo compreende a representação das conversoras (retificadores e inversores),
transformadores dos conversores, reatores de alisamento e filtros CA, além da linha CC.

Figura 27 – Sistema HVDC LCC utilizado no PSCAD

Fonte: Autor

O sistema de controle utilizado é o mesmo modelado em CDU no Anatem, inclusive


com as mesmas constantes de tempo e ganhos. Portanto, em condições de operações normais,
o controle de corrente é realizado no retificador e o ângulo de extinção mínimo no inversor.
A seguir é feita uma descrição sucinta das malhas de controle presentes no modelo,
ilustradas na Figura 28 e Figura 29 pelo sistema de controle do retificador e inversor,
respectivamente.
Figura 28 – Malhas de Controle do Retificador dos elos LCC no PSCAD

Fonte: Autor
43

Figura 29 – Malhas de Controle do Inversor dos elos LCC no PSCAD

Fonte: Autor

• Voltage Dependent Current Order Limiter (VDCOL): Responsável pela


limitação da Ordem de Corrente do polo em função da magnitude da tensão
CC, com o objetivo de tentar auxiliar na recuperação do elo durante a
ocorrência de subtensões na rede CA, principalmente no caso de ocorrência de
curto-circuito, reduzindo transitoriamente a potência injetada na rede em
contingência e reduzindo o consumo de potência reativa da conversora;
• Current Controller Amplifier (CCA): Malha de controle responsável por
fazer com que a corrente transmitida no Elo HVDC seja igual a ordem de
corrente gerada e tratada pelo VDCOL;
• Alfa max Calc: Responsável por calcular o ângulo de disparo do inversor de
modo a manter o ângulo de extinção no valor de referência, que é um mínimo
seguro para assegurar um menor consumo de potência reativa do inversor, sem
riscos significativos de falha de comutação na operação em regime
permanente;
• Com Fail Detector: Malha de controle responsável por monitorar a ocorrência
de falhas de comutação no inversor a partir da comparação da corrente CC e
da corrente no conversor, e promover o aumento da referência do ângulo de
extinção após sua detecção.
No Apêndice C são apresentados os conteúdos de cada uma das funções de controle
descritas.
44

Para cada novo ponto de operação deve-se atualizar manualmente o valor dos taps dos
transformadores conversores conforme obtido no programa Anarede. Com isso, o fator
utilizado para conversão do valor da tensão CC no inversor para pu nas malhas de controle do
cálculo de alfa máximo também deve ser atualizado manualmente de acordo com a seguinte
equação:
𝑉𝑏𝑎𝑠𝑒 𝐶𝐴 . 𝑉𝑏𝑎𝑠𝑒 𝐶𝐶
𝐹𝑎𝑡𝑜𝑟 = (4.7)
𝑎. 𝑉𝑡𝑟𝑓 . 𝑛𝑝
Sendo,
• Vbase CA a tensão base CA;
• Vbase CC a tensão base no lado CC do conversor;
• 𝑎 o inverso do tap calculado no ANARE;
• Vtrf a tensão base fase-fase no secundário do transformador conversor;
• np o número de pontes conversoras de seis pulsos.

A Figura 30 apresenta o cálculo e a atualização desse fator para o bipolo de Xingu-


Estreito no caso base da rede Benchmark:

Figura 30 – Atualização manual do fator de conversão na malha de cálculo de Alfa máximo

Fonte: Autor

Para inicialização dos elos de corrente contínua, isto é, o estabelecimento do fluxo de


potência inicial, foram conectadas fontes de tensão ideais nas barras conversoras,
transformando-as em barras infinitas, com módulo e ângulo das tensões conforme calculado no
Anarede. Estas fontes são desligadas após os elos atingirem a condição operativa desejada, em
torno de 500 ms.
45

5 VALIDAÇÃO DA MODELAGEM

Neste capítulo será apresentada a validação do modelo implantado nos programas


computacionais. Serão apresentados resultados de simulações no Anarede, Anafas, Anatem e
PSCAD.

5.1 REGIME PERMANENTE

Para validação da rede em regime permanente foi feita uma comparação entre as
tensões CA das barras conversoras e alguns parâmetros dos bipolos LCC entre o Anarede e o
PSCAD sem aplicação de nenhum evento, isto é, os valores de regime após a inicialização do
sistema.
É importante destacar que os resultados no Anarede não levam em consideração o
efeito de harmônicos na rede, ao contrário do PSCAD. Dessa forma, foram incluídas nas
comparações dois valores obtidos do PSCAD: antes e após o desbloqueio dos elos LCC. Isso
foi feito, pois, durante a inicialização dos elos a tensão nas barras conversoras é mantida com o
mesmo módulo e ângulo de tensão obtidos no Anarede por meio de fontes de tensão,
desacoplando a rede CC da rede CA e permitindo uma comparação entre os programas sem a
injeção de harmônicos dos conversores. Após o desbloqueio, o efeito dos harmônicos é
considerado no regime permanente final e são esperados erros maiores por conta disso.
A comparação das tensões CA, da potência ativa e dos ângulos de disparo em cada
conversor se encontram nas tabelas abaixo:

Tabela 13 – Comparação das tensões CA - Anarede x PSCAD


Barra ANAREDE PSCAD PSCAD - após desbloqueio
Xingu 1,050∠83,5° 1,05∠83,7° 1,039∠83,7°
Estreito 1,050∠1,4° 1,0499∠1,5° 1,043∠1,5°
Terminal Rio 1,050∠-12,8° 1,0499∠-12,6° 1,035∠-12,6°
Silvânia 1,050∠30,7° 1,0498∠30,8° 1,049∠30,8°
Graça
1,050∠76,8° 1,0498∠77,0° 1,049∠77,0°
Aranha
Fonte: Autor
46

Tabela 14 – Comparação da potência ativa nos conversores - Anarede x PSCAD


Conversor ANAREDE PSCAD PSCAD - após desbloqueio
Retificador elo Xingu - Estreito 4000 MW 4000 MW 3969 MW
Inversor elo Xingu - Estreito 3826,2 MW 3820 MW 3785 MW
Retificador elo Xingu - Terminal Rio 4000 MW 3999,2 MW 3939,6 MW
Inversor elo Xingu - Terminal Rio 3789,8 MW 3779,8 MW 3718,6 MW
Fonte: Autor

Tabela 15 – Comparação dos ângulos de disparo nos conversores - Anarede x PSCAD


Ângulo de disparo ANAREDE PSCAD PSCAD - após desbloqueio
Retificador elo Xingu - Estreito 15° 15,29° 14,69°
Inversor elo Xingu - Estreito 142,51° 142,38° 142,38°
Retificador elo Xingu - Terminal Rio 15° 15,22° 16,04°
Inversor elo Xingu - Terminal Rio 142,32° 142,21° 142,08°
Fonte: Autor

Devido ao ripple nas medições do PSCAD foi utilizado um bloco de “polo real” nas
medições. Este bloco atua como uma função de atraso, com ganho 1 e constante de tempo de
50 ms para amortecer as oscilações e assim obter um valor mais preciso.
Observa-se que os resultados são basicamente equivalentes antes do desbloqueio dos
elos LCC. No entanto, após o desbloqueio, são observadas diferenças de até 1,4% nos módulos
das tensões CA, 1,8% na potência ativas nos conversores e 1,04° nos ângulos de disparo.
Essa diferença nos pontos de operação inicial entre os programas do CEPEL e o
PSCAD já foi verificada em outros projetos (CEPEL, 2021d), e foram consideradas
satisfatórias. Para redução destas diferenças, poderia-se melhorar o desempenho da filtragem
CA dos conversores, com reflexo nos custos dos filtros, mas avaliou-se não necessário.

5.2 CURTO-CIRCUITO

Para validar os níveis de curto-circuito foi feita uma comparação entre as correntes
obtidas para um curto-circuito trifásico franco nas barras conversoras entre o Anafas e PSCAD,
os resultados são mostrados na Tabela 16.
47

Tabela 16 – Nível de curto-circuito nas barras conversoras – Anafas x PSCAD


Barra Nível de Curto-Circuito (kA)
Conversora ANAFAS PSCAD
Silvânia 17,85 17,73
Estreito 21,51 20,34
Terminal Rio 14,45 13,88
Graça Aranha 19,47 19,48
Xingu 22,94 28,97
Fonte: Autor

Com exceção da barra conversora de Xingu, os resultados no PSCAD foram próximos


aos do Anafas, sendo as diferenças devido a divergências nas tensões pré-falta e na
representação das componentes harmônicas no PSCAD.
Observa-se também que, conforme projetado, o nível de curto nas barras de Silvânia e
Graça-Aranha ficaram similares aos obtidos da base de dados da EPE que se encontram na
Tabela 8. Nesse contexto, a Tabela 17 também apresenta o nível de curto-circuito monofásico
das barras conversoras do bipolo B.

Tabela 17 – Nível de curto monofásico nas barras conversoras do bipolo B – Anafas x PSCAD
Barra Curto monofásico (kA)
Conversora ANAFAS PSCAD
Silvânia 22,34 21,47
Graça Aranha 23,86 23,86
Fonte: Autor

5.3 DESEMPENHO DINÂMICO

A validação do desempenho dinâmico foi realizada por meio da comparação dos


resultados entre PSCAD e Anatem com as máquinas modeladas como fonte de tensão. A partir
da plotagem do comportamento das variáveis elétricas CA e CC foi possível uma avaliação
qualitativa das diferentes modelagens implementadas em cada programa.
O evento simulado foi um curto monofásico franco na barra de Serra da Mesa. Tendo
em vista que o Anatem utiliza uma representação monofásica e equilibrada da rede, foi aplicado
um curto-circuito trifásico com o mesmo afundamento de tensão obtido no PSCAD para
replicar o evento (Figura 31).
48

Figura 31 – Tensão CA em Serra da Mesa – Anatem x PSCAD

Fonte: Autor

Mesmo sendo um evento de difícil comparação devido as diferenças na representação


do sistema entre os programas, os resultados foram considerados satisfatórios, representando
qualitativamente bem o comportamento dinâmico da rede elétrica analisada e seus
componentes.
Nas figuras a seguir são apresentadas as comparações dos ângulos de disparo no
retificador, ângulo de extinção no inversor, corrente CC e potência CC para o elo de Xingu-
Estreito.
49

Figura 32 – Ângulo de Disparo do Retificador – Elo Xingu-Estreito – Anatem x PSCAD

Fonte: Autor

Figura 33 – Ângulo de Extinção do Inversor – Elo Xingu-Estreito – Anatem x PSCAD

Fonte: Autor
50

Observa-se pela Figura 33 que a ocorrência de falha de comutação no inversor ocorreu


praticamente no mesmo instante e tiveram a mesma duração nos dois programas. Dessa forma,
é possível afirmar que os parâmetros utilizados no código DFCM do arquivo STB para detecção
automática de falha de comutação no Anatem foram coerentes.

Figura 34 – Corrente CC – Elo Xingu-Estreito – Anatem x PSCAD

Fonte: Autor
51

Figura 35 – Potência CC – Elo Xingu-Estreito – Anatem x PSCAD

Fonte: Autor

Como descrito na seção 4.3, também foi preparado no Anatem um caso com modelos
de máquina e sistemas de controle incluídos (reguladores de tensão, velocidade e estabilizador).
O uso desse caso no Anatem terá por objetivo ilustrar a análise dos transitórios eletromecânicos
do sistema e do impacto na dinâmica de baixa frequência, que é o foco das simulações do
Anatem, dos elos VCS-MMC com transmissão aérea, mostrando que o modelo que irá ser
implementado pode ser utilizado nos estudos dinâmicos. O único gerador que não utilizou
modelo de máquina foi o da Barra 5200, que representa a geração agregada da região Leste do
NE, por apresentar torque sincronizante negativo com polo eletromecânico real positivo ao
invés da situação normal de par de polos complexo-conjugados. Isto ocorreu pelo ângulo
interno ficar maior que 90º em relação aos geradores eletricamente próximos pela configuração
topológica muito específica de ter uma carga concentrada em radial com uma linha longa, que
aumentou significativamente a abertura angular do gerador equivalente, além de haver uma
distância elétrica elevada para as demais gerações. A adoção de modelo de fonte nesta geração
específica não trouxe problemas técnicos e evitou-se um trabalho maior de realizar alterações
topológicas do sistema Benchmark.
As figuras a seguir apresentam uma comparação, para as mesmas variáveis plotadas
anteriormente, entre as simulações do Anatem com fonte de tensão e com modelagem das
52

máquinas. Percebe-se que o comportamento inicial das grandezas permanece muito similar. A
tensão em Serra da Mesa, vista na Figura 36, teve uma diferença um pouco mais significativa,
aproximadamente 3,5% do valor do pico mínimo. Esta diferença seria explicada pela dinâmica
das máquinas que alteram as quedas de tensão do período inicial do curto-circuito e geram
oscilações de baixa frequência no período subsequente à eliminação do defeito. Para as
variáveis do elo, o efeito da dinâmica de baixa frequência das máquinas é reduzido, impactando
mais no período da recuperação.

Figura 36 - Tensão CA em Serra da Mesa – Anatem com fontes x Anatem com máquinas

Fonte: Autor
53

Figura 37 – Ângulo de Disparo do Retificador – Elo Xingu-Estreito – Anatem com fontes x Anatem
com máquinas

Fonte: Autor

Figura 38 – Ângulo de Extinção do Inversor – Elo Xingu-Estreito – Anatem com fontes x Anatem com
máquinas

Fonte: Autor
54

Figura 39 – Corrente CC – Elo Xingu-Estreito – Anatem com fontes x Anatem com máquinas

Fonte: Autor

Figura 40 – Potência CC – Elo Xingu-Estreito – Anatem com fontes x Anatem com máquinas

Fonte: Autor

Com o objetivo de observar o efeito da inclusão da modelagem dos geradores nos


transitórios eletromecânicos do sistema, a Figura 41 mostra o desempenho da tensão CA nas
55

barras de Serra da Mesa, Silvânia e Graça Aranha para o mesmo evento de aplicação de um
curto monofásico em Serra da Mesa, só que com o tempo de simulação de 10s.

Figura 41 – Tensão CA em Serra da Mesa, Silvânia e Graça Aranha – Anatem com modelo de máquinas

Fonte: Autor

Percebe-se que devido aos modos eletromecânicos introduzidos com a representação


dos geradores síncronos, as tensões observadas demoram um tempo muito maior para voltar ao
estado de regime permanente (KUNDUR, 1994).
Nesse sentido, a Figura 42 apresenta a variação da frequência dos geradores síncronos
do sistema Benchmark para o mesmo caso. A possibilidade de se observar as oscilações de
velocidade das máquinas torna possível a realização de estudos adicionais como a viabilidade
de uso de inércia sintética e verificação da contribuição à estabilidade de frequência da rede
elétrica, o que não seria possível sem a modelagem dos geradores síncronos e seus sistemas de
controle.
56

Figura 42 – Frequência dos geradores síncronos – Anatem com modelo de máquinas

Fonte: Autor
57

6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

6.1 CONCLUSÕES

Os sistemas HVDC-VSC possuem diversas vantagens em relação aos convencionais


elos HVDC-LCC, no entanto, para sua maior aplicação ainda são necessários
desenvolvimentos, em especial no que tange ao seu desempenho para curto-circuito na linha
CC, questão fundamental para transmissão em linha aérea e por longas distâncias.
Nesse trabalho foi desenvolvido um sistema Benchmark estilizado com características
similares ao SIN, com o objetivo de permitir a simulação de diversos fenômenos envolvidos
em uma análise dinâmica de um elo HVDC-VSC internalizado em uma rede de corrente
alternada e cujas conclusões das análises possam ser gerais, não se restringindo a um projeto
específico.
Para isso, foram utilizados ao longo do trabalho os programas do CEPEL: Anarede,
Anafas, Anatem, PacDyn e o programa PSCAD, sendo apresentadas as características e a
utilização de cada programa para a conclusão do trabalho. Nesse ponto, foi possível observar a
importância do uso inicial dos programas do CEPEL para a modelagem de um sistema num
programa de transitórios eletromagnéticos como PSCAD. A partir do Anarede foi possível obter
o estado da rede em regime permanente e com isso, as tensões internas das máquinas e os taps
dos transformadores conversores. Com o Anafas foi realizado o ajuste prévio da potência de
curto-circuito nas barras conversoras e com o Anatem e PacDyn foi realizada uma análise
preliminar do desempenho dinâmico da rede e o projeto de estabilizadores.
Para validação do sistema modelado foram feitas comparações com a rede completa
entre os programas do CEPEL e o PSCAD, onde foi possível perceber diferenças causadas
especialmente pela injeção de harmônicos dos conversores LCC no PSCAD, que não são
representadas nos programas do CEPEL, sendo, no entanto, considerados satisfatórios para
diversas análises de problemas e fenômenos de um sistema real.

6.2 TRABALHOS FUTUROS

Um dos trabalhos futuros seria desenvolver uma modelagem para conversores VSC a
partir de fontes controladas por CDU no Anatem e fazer a inclusão de modelos já existentes
desses conversores no PSCAD para realizar a análise de desempenho do elo HVDC-VSC dentro
de uma rede CA com dimensões razoáveis para avaliações de diversos aspectos relacionados a
58

estabilidade eletromecânica, de tensão e eletromagnética. Além destes trabalhos, outras


implementações que poderiam ser avaliadas são: inclusão da representação das máquinas por
modelos completos, com reguladores e estabilizadores no PSCAD; redimensionamentos dos
filtros CA dos conversores, com objetivo de reduzir as diferenças de regime permanente
observadas entre o Anarede e PSCAD; inclusão de uma lógica simplificada de controle mestre
entres os elos LCC, de modo a melhorar o desempenho dinâmico da rede na contingência de
um dos bipolos.
59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Release., 2021c

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62

APÊNDICE A – DADOS DO SISTEMA BENCHMARK

A.1 PONTO DE OPERAÇÃO DO SISTEMA

A Tabela 18 contém o ponto de operação do sistema, com os valores obtidos do fluxo de potência no Anarede.

Tabela 18 – Ponto de Operação do Sistema no Anarede


Carga Ativa Carga Reativa Geração Ativa Geração Reativa Shunt
Barra Nome Tensão (pu) Ângulo (graus)
(MW) (Mvar) (MW) (Mvar) (Mvar)
1 SILVAN-GO500 1,050 30,66 - - - - -
2 S.MESA-GO500 1,061 27,58 - - - - -
3 ITUMBI-MG500 1,074 29,40 - - - - -
MARIMB-
4 1,076 17,30 - - - - -
MG500
5 ARARQ2-SP500 1,055 5,25 - - - - -
6 EQ.SP--SP500 1,017 -15,37 15499,43 1549,94 - - -
7 P.CALD-MG500 1,095 -4,29 - - - - -
8 R.PRET-SP500 1,080 -0,97 - - - - -
9 ESTREI-MG500 1,050 1,43 - - - - 2436,80
10 EQ.MG--MG500 1,018 -9,29 10355,60 1035,56 - - -
11 GER.MG-MG500 1,043 1,39 - - - - -
12 EQ.RJ--RJ500 0,999 -22,20 11975,52 1197,55 - - -
13 GER.RJ-RJ500 1,039 -4,71 - - - - -
14 T.RIO--RJ500 1,050 -12,84 - - - - 2900,52
15 C.PAUL-SP500 1,074 -10,94 - - - - -
16 GER.SP-SP500 1,042 -4,61 - - - - -
24 GURUPI-TO500 1,053 41,56 - - - - -
63

Carga Ativa Carga Reativa Geração Ativa Geração Reativa Shunt


Barra Nome Tensão (pu) Ângulo (graus)
(MW) (Mvar) (MW) (Mvar) (Mvar)
25 MIRACE-TO500 1,058 55,78 - - - - -
26 COLINA-TO500 1,073 68,16 - - - - -
27 ITACAI-PA500 1,073 81,39 - - - - -
28 TUCURU-PA500 1,062 92,79 - - - - -
29 XINGU--PA500 1,050 83,53 - - - - 4233,57
31 IMPERA-MA500 1,083 79,28 - - - - -187,83
33 G.ARAN-MA500 1,050 76,81 - - - - -
34 TERES2-PI500 1,046 85,81 5466,48 546,65 - - -
35 GER.N--NE500 1,049 93,75 - - - - -
36 RGONCA-PI500 1,076 75,29 - - - - -196,98
37 B.ESPE-PI500 1,084 79,27 - - - - -
39 GILBU2-PI500 1,071 71,89 - - - - -68,83
40 R.EGUA-BA500 1,009 44,44 - - - - -
41 BARREI-BA500 1,002 58,90 - - - - -
42 S.J.PI-PI500 1,083 82,40 - - - - -305,09
43 BURITI-BA500 1,030 73,17 - - - - -
47 MILAGR-CE500 1,045 92,73 - - - - -
48 GER.S--NE500 1,042 95,22 - - - - -
49 SUL----NE500 0,979 78,41 3355,44 335,54 - - -
52 GER.LE-NE500 1,050 108,58 - - - - -
54 LESTE--NE500 1,014 80,02 6168,21 616,82 - - -
56 EQ.DF--DF500 1,040 22,96 5404,47 540,45 - - -
57 EQ.MT--MT500 1,065 35,22 3973,01 397,30 - - -
58 GER.MT-MT500 1,057 48,76 - - - - -
59 BMONTE-PA500 1,051 87,68 - - - - -
100 INVERSOR-VSC 1,016 37,84 - - 4000,00 -788,59 -
300 ITUMBI-MG020 1,050 33,63 - - 3500,00 -923,43 -
64

Carga Ativa Carga Reativa Geração Ativa Geração Reativa Shunt


Barra Nome Tensão (pu) Ângulo (graus)
(MW) (Mvar) (MW) (Mvar) (Mvar)
500 ARARQ2-SP020 1,050 9,57 - - 5000,00 -116,66 -
1100 GER.MG-MG020 1,050 5,75 - - 5000,00 659,63 -
1300 GER.RJ-RJ020 1,050 -0,33 - - 6000,00 1088,24 -
1600 GER.SP-SP020 1,050 -0,00 - - 7038,12 975,40 -
2800 TUCURU-PA020 1,050 97,07 - - 5000,00 -540,60 -
3300 RETIFIC--VSC 1,026 69,70 - - -4000,00 -501,29 -
3500 GER.N--NE020 1,050 98,09 - - 8000,00 355,59 -
4800 GER.S--NE020 1,050 99,59 - - 6000,00 814,58 -
5200 GER.LE-NE020 1,050 112,92 - - 8000,00 350,15 -
5800 GER.MT-MT020 1,050 53,06 - - 5000,00 -231,23 -
5900 BMONTE-PA020 1,050 92,02 - - 6000,00 161,56 -
Fonte: Autor

A.2 LINHAS DE TRANSMISSÃO

Os dados das linhas de transmissão são apresentados na Tabela 19 na base de 100 MVA. “Nc” é o número de circuitos equivalentes
representados em cada seção de linha e “Shunt” é o valor da potência nominal do reator em derivação em cada terminal da linha.

Tabela 19 – Dados de Linhas de Transmissão


l R Xl Xc R0 Xl0 Xc0 Shunt
Nº DE Nome DE Nº PARA Nome Para Nc
[km] [%] [%] [Mvar] [%] [%] [Mvar] [Mvar]
1 Silvânia 3 Itumbiara 200 3 0,05937 0,87905 740,56 0,50051 4,1354 379,01 -
1 Silvânia 56 DF 100 4 0,02263 0,33235 491,68 0,19544 1,5816 250,15 -
1 Silvânia 57 MT 300 3 0,08661 1,3007 1118,5 0,70035 6,0008 578,29 -
2 Serra da Mesa 24 Gurupi 250 4 0,05497 0,81907 1238,1 0,45493 3,8197 636,52 320
65

l R Xl Xc R0 Xl0 Xc0 Shunt


Nº DE Nome DE Nº PARA Nome Para Nc
[km] [%] [%] [Mvar] [%] [%] [Mvar] [Mvar]
2 Serra da Mesa 40 Rio das Éguas 250 2 0,14882 2,2560 873,92 1,16969 10,2751 454,89 220
2 Serra da Mesa 3 Itumbiara 250 3 0,07329 1,0921 928,57 0,60658 5,0930 477,39 -
2 Serra da Mesa 9 Estreito 350 4 0,05497 0,8191 1238,1 0,45493 3,8197 636,52 -
2 Serra da Mesa 56 DF 200 3 0,05937 0,87905 740,56 0,50051 4,1354 379,01 -
3 Itumbiara 4 Marimbondo 200 4 0,04453 0,65929 987,42 0,37538 3,1015 505,35 -
3 Itumbiara 57 MT 350 1 0,29764 4,5119 436,96 2,3394 20,550 227,44 -
4 Marimbondo 5 Araraquara 2 200 4 0,04453 0,65929 987,42 0,37538 3,1015 505,35 -
5 Araraquara 2 6 SP 300 8 0,03248 0,48775 2982,8 0,26263 2,2503 1542,11 -
5 Araraquara 2 7 Poços de Caldas 200 1 0,17811 2,6372 246,85 1,5015 12,406 126,34 -
6 SP 15 Cachoeira Paulista 150 2 0,06744 0,99366 369,39 0,57658 4,7061 188,40 -
6 SP 16 Ger SP 150 7 0,01927 0,28390 1292,9 0,16474 1,3446 659,39 -
7 Poços de Caldas 8 Ribeirão Preto 150 1 0,13488 1,9873 184,70 1,1532 9,4121 94,199 -
7 Poços de Caldas 15 Cachoeira Paulista 200 2 0,08905 1,3186 493,71 0,75077 6,2030 252,68 -
8 Ribeirão Preto 9 Estreito 100 1 0,09054 1,3294 122,92 0,78175 6,3262 62,538 -
9 Estreito 10 MG 150 6 0,02248 0,33122 1108,2 0,19219 1,5687 565,19 -
9 Estreito 12 RJ 400 2 0,16648 2,5517 1004,0 1,2646 11,448 526,80 -
10 MG 11 Ger MG 150 5 0,02698 0,39746 923,48 0,23063 1,8824 470,99 -
10 MG 12 RJ 300 1 0,25983 3,9020 372,85 2,1011 18,002 192,76 -
12 RJ 13 Ger RJ 200 5 0,03562 0,52743 1234,3 0,30031 2,4812 631,69 -
12 RJ 14 Terminal Rio 100 3 0,03018 0,44313 368,76 0,26058 2,1087 187,61 -
14 Terminal Rio 15 Cachoeira Paulista 200 1 0,17811 2,6372 246,85 1,5015 12,406 126,34 -
24 Gurupi 25 Miracema 250 4 0,05497 0,81907 1238,1 0,45493 3,8197 636,52 320
25 Miracema 26 Colinas 200 3 0,05937 0,87905 740,56 0,50051 4,1354 379,01 200
25 Miracema 39 Gilbués II 400 1 0,33297 5,1034 502,01 2,5292 22,897 263,40 140
26 Colinas 27 Itacaiúnas 300 2 0,12992 1,9510 745,69 1,0505 9,0012 385,53 200
26 Colinas 36 Ribeiro Gonçalves 350 1 0,25983 3,9020 372,85 2,1011 18,002 192,76 100
26 Colinas 31 Imperatriz 300 2 0,14882 2,2560 873,92 1,1697 10,2751 454,89 220
66

l R Xl Xc R0 Xl0 Xc0 Shunt


Nº DE Nome DE Nº PARA Nome Para Nc
[km] [%] [%] [Mvar] [%] [%] [Mvar] [Mvar]
27 Itacaiúnas 28 Tucuruí 250 2 0,10994 1,6381 619,05 0,90987 7,6394 318,26 160
28 Tucuruí 29 Xingu 200 3 0,05937 0,87905 740,56 0,50051 4,1354 379,01 -
28 Tucuruí 31 Imperatriz 400 3 0,11099 1,7011 1506,0 0,84306 7,6323 790,20 380
29 Xingu 59 Belo Monte 50 5 0,00909 0,13321 306,99 0,07896 0,63573 155,96 -
31 Imperatriz 33 Graça Aranha 300 3 0,08661 1,3007 1118,5 0,70035 6,0008 578,29 280
33 Graça Aranha 34 Teresina 200 5 0,03562 0,52743 1234,3 0,30031 2,4812 631,69 -
33 Graça Aranha 37 Boa Esperança 200 2 0,08905 1,3186 493,71 0,75077 6,2030 252,68 140
34 Teresina 35 Ger NE - Área Norte 100 7 0,01293 0,18991 860,44 0,11168 0,90375 437,77 -
34 Teresina 47 Milagres 250 2 0,10994 1,6381 619,05 0,90987 7,6394 318,26 -
36 Ribeiro Gonçalves 42 São João do Piauí 350 1 0,29764 4,5119 436,96 2,3394 20,550 227,44 120
37 Boa Esperança 42 São João do Piauí 250 2 0,10994 1,6381 619,05 0,90987 7,6394 318,26 160
39 Gilbués II 42 São João do Piauí 300 1 0,25983 3,9020 372,85 2,1011 18,002 192,76 100
39 Gilbués II 43 Buritirama 200 1 0,17811 2,6372 246,85 1,5015 12,406 126,34 -
40 Rio das Éguas 41 Barreiras II 200 2 0,08905 1,3186 493,71 0,75077 6,2030 252,68 140
41 Barreiras II 43 Buritirama 200 2 0,08905 1,3186 493,71 0,75077 6,2030 252,68 140
42 São João do Piauí 48 NE - Área Sul 400 1 0,33297 5,1034 502,01 2,5292 22,897 263,40 140
42 São João do Piauí 47 Milagres 400 2 0,16648 2,5517 1004,0 1,2646 11,448 526,80 260
43 Buritirama 48 NE - Área Sul 300 2 0,12992 1,9510 745,69 1,0505 9,0012 385,53 -
47 Milagres 52 Ger NE - Área Leste 200 7 0,02544 0,37674 1728,0 0,21450 1,7723 884,37 -
47 Milagres 54 NE - Área Leste 200 7 0,02544 0,37674 1728,0 0,21450 1,7723 884,37 -
48 NE - Área Sul 49 NE - Área Sul (Carga) 200 3 0,05937 0,87905 740,56 0,50051 4,1354 379,01 -
57 MT 58 Ger MT 200 5 0,03562 0,52743 1234,3 0,30031 2,4812 631,69 -
Fonte: Autor
67

APÊNDICE B – MALHAS DE CONTROLE DOS ELOS LCC NO ANATEM

Figura 43 – Malha de controle CCA do retificador - ANATEM

Fonte: Autor
68

Figura 44 – Malha de controle VDCOL do retificador - ANATEM

Fonte: Autor
69

Figura 45 – Malha de controle CCA do inversor - ANATEM

Fonte: Autor
70

Figura 46 – Malha de controle VDCOL do inversor - ANATEM

Fonte: Autor
71

Figura 47 – Malha de controle do cálculo de Alfa Máximo do inversor - ANATEM

Fonte: Autor
72

Figura 48 – Malha de controle de chute de gama do inversor - ANATEM

Fonte: Autor
73

APÊNDICE C – MALHAS DE CONTROLE DOS ELOS LCC NO PSCAD

Figura 49 – Malha de controle CCA do retificador - PSCAD

Fonte: Autor
74

Figura 50 – Malha de controle VDCOL do retificador - PSCAD

Fonte: Autor
75

Figura 51 – Malha de controle CCA do inversor - PSCAD

Fonte: Autor
76

Figura 52 – Malha de controle VDCOL do inversor - PSCAD

Fonte: Autor
77

Figura 53 – Malha de controle do cálculo de Alfa Máximo do inversor - PSCAD

Fonte: Autor

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