Boas Práticas em Aleitamento Materno Aplicação de Formulário de Observação e Avaliação Da Mamada

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Boas Práticas em Aleitamento Materno: Aplicação de


formulário de Observação e Avaliação da Mamada

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Ana Vieira
Universidade Federal de Pelotas
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ARTIGO DE PESQUISA

Boas práticas em aleitamento


materno: Aplicação do formulário de
observação e avaliação da mamada
Good practices about breastfeeding: Application of the form
of observation and assessment of suckling
Buenas prácticas de lactancia materna: Aplicación del formulario
de observación y evaluación de la mamada
Ana Cláudia Vieira1, Amanda Riboriski Costa2, Paloma Gomes de Gomes3

Resumo
Objetivo: Avaliar a mamada nas primeiras 24 horas após o parto, mediante aplicação do Formulário de Descritores
Observação e Avaliação da Mamada preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundo das Aleitamento materno; Avaliação;
Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em puérperas e seus respectivos bebês internados na maternidade Empoderamento
de um Hospital de Ensino do sul do Brasil. Método: trata-se de um estudo descritivo observacional de
caráter transversal, realizado no período ente abril, maio e junho de 2014, com 20 duplas mãe/recém-
nascido. Resultados: Por meio do estudo, constatou-se que 40% das puérperas apresentaram dificuldades
relacionadas às mamas, 20% delas eram primíparas e 10% dos bebes apresentaram dificuldades
relacionadas à pega no início da amamentação. Conclusão: A aplicação do Formulário de Observação
e Avaliação da Mamada permitiu uma abordagem focada nos aspectos que necessitam intervenção,
mostrando- se factível como prática de cuidado.

Abstract
Objective: Evaluate the suckling at the first 24 hours post parturition, with the application of the Form of Keywords
Observation and Assessment of suckling preconized by the World Health Organization (WHO), and the Children’s Breastfeeding; Evaluation;
Rights & Emergency Relief Organization (UNICEF), in puerperal women and their respective babies hospitalized Empowerment
to the maternity from a teaching hospital from Brazil. Method: it is a observational descriptive study, which has
transversal character, performed during April, May and June of 2014, having 20 pairs of mother/newborn. Results:
Through study it was found that 40% of puerperal women presented difficulties related to the breasts, 20% of them
were their first breastfeeding, and 10% of the babies had difficulties related to the first breastfeeding. Conclusion:
the application of the Survey of Observation and Evaluation of Suckling allowed an approaching focused on the
aspects that need intervention, which shows it self feasible as a care practice.

Resumen
Objetivo: Evaluar la mamada en las primeras 24 horas pos-parto, mediante aplicación del Formulario Descriptores
de Observación y Evaluación de la Mamada preconizado por la Organización Mundial de Salud (OMS) y Lactancia materna; Evaluacíon;
Fundo de las Naciones Unidas para Infancia (UNICEF), en puérperas y sus respectivos bebes internados Empoderamiento
en la maternidad de un hospital universitario del sur de Brasil. Método: se trata de un estudio descriptivo
observacional de carácter transversal, realizado en el periodo de abril, mayo, y junio de 2014, con 20 duplas
madre/recién-nascido. Resultados: a través del estudio, se encontró que 40% de las puérperas presentó
dificultades relacionadas a las mamas, 20% de ellos eran primíparas y 10% de los bebes tenido dificultades
relacionadas a la primera mamada. Conclusión: la aplicación del formulario de observación y evaluación
de la mamada permitió una abordaje enfocada en los aspectos que necesitan intervención, se mostrando
factible como practica de cuidado.

1
Doutora em Saúde da Criança. Professora adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas – UFPEL, Pelotas (RS), Brasil.
2
Graduada em Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas - UFPEL, Pelotas (RS), Brasil.
3
Graduada em Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas - UFPEL, Pelotas (RS), Brasil.
Autor correspondente: Ana Cláudia Vieira - [email protected]

Rev. Soc. Bras. Enferm. Ped. | v.15, n.1, p 13-20 | Junho 2015 13
Boas práticas em aleitamento materno: Aplicação do formulário de observação e avaliação da mamada

Introdução tivos de dificuldades, referentes à posição corporal da


A amamentação é o modo de proporcionar o alimento mãe e do bebê, respostas dos mesmos ao iniciarem a
ideal para o crescimento saudável e o desenvolvimen- mamada, eficiência da sucção, envolvimento afetivo
to dos recém-nascidos, além de ser parte integral do entre a mãe e seu filho, entre outros(12).
processo reprodutivo, com importantes implicações Atualmente, no mundo existem no mundo di-
para a saúde materna(1). versos instrumentos que foram elaborados e testados
As vantagens do aleitamento materno são inúmeras com o objetivo de avaliar a mamada; alguns destes
e já reconhecidas, e sua prática exclusiva é fundamental são mais conhecidos e foram validados em alguns
na alimentação das crianças até os 6 meses de vida. Por países, como por exemplo, o LATCH Assessment(13-14),
isso, é imprescindível que o aleitamento seja praticado Neonatal Oral-Motor Assessment Scale (NOMAS), In-
em regime de livre demanda, sem intervalos e sem com- fant Breastfeeding Assessment Tool (IBFAT), Preterm
plementação com qualquer outro tipo de alimento(2). Infant Breastfeeding Behaviour Scale (PIBBS). Estes
Os estudos desenvolvidos pelo grupo da Epide- instrumentos envolvem elementos essenciais na ava-
miologia de Pelotas vêm demonstrando há décadas a liação da mamada, semelhantes ao formulário utiliza-
importância da amamentação e seu efeito protetor na do neste estudo: comportamento do bebê, comporta-
morbimortalidade neonatal, sendo de vital contribui- mento da mãe, posicionamento, pega, sucção efetiva,
ção as ações de inúmeros profissionais da saúde na aspecto da mama e a experiência do aleitamento na
área maternoinfantil, com repercussão mundial(3-6). percepção da mãe(10).
Para a manutenção da amamentação, a mãe preci- Apesar disso, não há uma tradição no cotidiano
sa receber apoio e ajuda, centrados em suas dificulda- profissional a respeito do uso desses instrumentos,
des, nos quais sejam oferecidas informações relevantes que inicialmente desenvolvidos no âmbito acadêmico
que proporcionem tranquilidade e que a façam sentir- para utilização em pesquisas, sendo ainda escassa a
se mais confiante e bem consigo mesma e seu bebê(7). incorporação destes na prática clínica.
Neste aspecto, os estudos ainda são escassos, tan- Tendo em vista estas considerações e o projeto
to na literatura nacional como na internacional, que de extensão “Promotores do Aleitamento”, vincula-
descrevam a utilização dos instrumentos de avaliação do à Universidade Federal de Pelotas (COCEPE ins-
da mamada. No cotidiano da prática profissional, ain- crição no número 53654023), as autoras participantes
da é incipiente a adoção de instrumentos confiáveis deste projeto observaram (em uma casuística de 570
e validados que permitam subsidiar tais avaliações mulheres atendidas) dificuldades enfrentadas pelas
realizadas pelos profissionais de saúde. Embora os es- puérperas no estabelecimento da amamentação, como
tudos apontem que o aconselhamento face a face seja por exemplo, as fissuras/traumas mamilares, o ingur-
primordial no estabelecimento do aleitamento exclusi- gitamento mamário, mastite e, em decorrência disso,
vo, é de extrema importância identificar precocemente a introdução de leite artificial (“complemento”) e/ou
os possíveis fatores envolvidos no risco de insucesso desmame precoce.
desse processo(8-10). Este estudo teve como objetivo avaliar a mama-
Para orientar essa prática, o Fundo das Nações da nas primeiras 24 horas após o parto, mediante
Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização aplicação do Formulário de Observação e Avaliação
Mundial da Saúde (OMS) elaboraram um Formulá- da Mamada preconizado pela Organização Mundial
rio de observação da mamada, utilizado em cursos de da Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a
Aconselhamento em Amamentação, com o objetivo de Infância (UNICEF), em puérperas e seus respectivos
capacitar os profissionais da saúde a desenvolver ha- bebês internados na maternidade de um Hospital de
bilidades clínicas no manejo da lactação e, assim, pro- Ensino do Sul do Brasil.
mover o sucesso da amamentação(11).
Neste formulário, é possível avaliar os comporta-
mentos desejáveis das mães e dos bebês e outros indi- Metodologia
cativos de problemas, que contém uma série de itens O presente estudo caracteriza-se como descritivo ob-
classificados em favoráveis à amamentação ou suges- servacional de caráter transversal.

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Vieira AC, Costa AR, Gomes PG

Foi realizado na unidade de internação obstétri- tonomia das mulheres frente ao aleitamento materno,
ca do Hospital de Ensino da Universidade Federal de o manejo adequado da amamentação na prevenção
Pelotas (UFPel), localizado na região Sul do Estado do do desmame precoce e possíveis complicações, como
Rio Grande do Sul, que presta atendimento exclusiva- trauma mamilar, ingurgitamento mamário e/ou mas-
mente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e representa tite puerperal.
uma estrutura de referência para Pelotas e macrorre- Os dados obtidos foram digitados e armazenados
gião. A unidade obstétrica da respectiva instituição é em banco de dados em uma planilha de Excel e, após,
referência para gestação de alto risco, assiste em média foram analisados por meio de estatística descritiva
94 partos ao mês e conta com o suporte da Unidade de (média e desvio padrão).
Terapia Intensiva Neonatal, que também é referência Para avaliação dos resultados, foram utilizados
para região sul do estado. escores (bom, regular, ruim) adaptados do estudo de
A amostra, caracterizada como de conveniência, Carvalhaes e Corrêa(12) e computou-se o número de
foi composta por 20 duplas de puérperas e seus be- comportamentos desfavoráveis à amamentação, que
bês, recrutados de forma aleatória, nas quais o parto demonstram alguma dificuldade no estabelecimento
ocorreu até 24 horas do dia anterior à coleta de dados da lactação. Nos dados da Tabela 1, são apresentadas
e que preencheram os critérios de inclusão, no período os critérios empregados na classificação dos escores.
compreendido entre abril, maio e junho de 2014.
No estudo as puérperas e os bebês em alojamento
conjunto foram incluídos, e estas não estavam impos- Resultados
sibilitadas de amamentar e bebês a termo. Não fizeram A idade média das mães participantes foi de 28 anos e
parte do presente estudo puérperas soro positivo para a variação foi igual a 21 (36-15). Em relação à escolari-
o vírus da imunodeficiência humana (HIV), aquelas dade, 30% apresentaram Ensino fundamental incom-
infectadas pela bactéria Treponema pallidum, causadora pleto, o que mostra um menor nível de escolaridade
da Sífilis, bebês pré-termo e gemelares. das participantes, e 85% destas relataram ter compa-
O estudo teve aprovação do Comitê de Ética em nheiro. Ilustram os dados da Tabela 2.
Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Das características gestacionais, dezesseis partici-
Federal de Pelotas mediante o Parecer nº 611.922. pantes tiveram parto do tipo vaginal (80%) e quatro
A coleta de dados foi realizada por duas das auto- parto do tipo cesáreo (20%). A variação no nº de ges-
ras, estudantes de graduação em enfermagem. Para a tações anteriores entre as puérperas foi de quatro (5-
aplicação do Formulário de Observação de Avaliação 1), e 40% delas apresentaram duas gestações prévias.
da Mamada (Figura 1), houve treinamento prévio e foi Apenas 15% não apresentaram o número mínimo de
usado um estudo piloto com 10 duplas para testar a consultas de Pré-Natal recomendadas pelo Ministério
observação. A concordância das observadoras foi de da Saúde (15) e 85% das participantes apresentaram seis
90%, e o tempo dispendido para a aplicação do instru- consultas ou mais. (Tabela 2). Entende-se que o Pré-
mento foi de, aproximadamente, 10 minutos. Natal como uma estratégia de cuidado na atenção à
Além da observação direta do ato de amamentar, saúde da mulher favorece o incentivo à amamentação
foram coletados dados dos prontuários, referentes aos e reforça o empoderamento dessas mulheres para o
antecedentes gestacionais, como idade gestacional, pleno sucesso dessa tarefa(2).
tipo de parto, peso do recém-nascido, Apgar e outros Dos recém-nascidos, 60% foram do sexo feminino
aspectos dirigidos à puérpera e ao recém-nascido, que e 40% masculino. Também, foram avaliados os escores
possibilitaram a construção do perfil dos participantes de Apgar nos 1º e 5º minutos de vida desses bebês.
da pesquisa. Estas variáveis foram registradas em uma Destes, 55% apresentaram oito no 1º minuto de vida
ficha individual, anexada ao instrumento de pesquisa. e 70% apresentaram nove no 5º minuto, conforme os
As participantes da pesquisa foram informadas dados da Tabela 3.
sobre os possíveis desconfortos (exposição da puér- Os resultados da avaliação dos comportamentos
pera durante a mamada) e os benefícios da mesma. favoráveis e desfavoráveis à amamentação são apre-
Dentre os benefícios expostos, estão o incentivo e a au- sentados nos dados da Tabela 4. Pode se perceber

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Boas práticas em aleitamento materno: Aplicação do formulário de observação e avaliação da mamada

Quadro 1 - Formulário de Observação e Avaliação da mamada


Nome da Mãe: Nome do bebê:
Situação Marital: Idade gestacional:
Número de consultas de Pré Natal: Peso ao nascer:
Data do parto: Apgar 1º e 5º min de vida:
Tipo de parto: Data da observação:
Sinais favoráveis à amamentação Sinais de possível dificuldade
Observação geral da Mãe
( ) Mãe parece saudável ( ) Mãe parece doente ou deprimida
( ) Mãe relaxada e confortável ( ) Mãe parece tensa e desconfortável
( ) Mamas parecem saudáveis ( ) Mamas avermelhadas, inchadas e/ou doloridas
( ) Mama bem apoiada, com dedos fora do mamilo ( ) Mama segurada com dedos na aréola
Posição do bebê
( ) A cabeça e o corpo do bebê estão alinhados ( ) Pescoço/ cabeça do bebê girados ao mamar
( ) Bebê seguro próximo ao corpo da mãe ( ) Bebê não é seguro próximo ao corpo da mãe
( ) Bebê de frente para a mama, nariz para o mamilo ( ) Queixo e lábio inferior opostos ao mamilo
( ) Bebê apoiado ( ) Bebê sem estar apoiado
Pega
( ) Mais aréola é vista acima do lábio superior do bebê ( ) Mais aréola é vista abaixo do lábio inferior do bebê
( ) A boca do bebê esta bem aberta ( ) A boca do bebê não esta bem aberta
( ) O lábio inferior esta virado para fora ( ) Lábios voltados para frente ou virados para dentro
( ) O queixo do bebê toca a mama ( ) O queixo do bebê não toca a mama
Sucção
( ) Sucções lentas e profundas com pausas ( ) Sucções rápidas e superficiais
( ) Bebê solta mama quando termina ( ) Mãe tira o bebê da mama
( ) Mãe percebe sinais do reflexo da ocitocina ( ) Sinais do reflexo da ocitocina não são percebidos
( ) Mamas parecem mais leves após a mamada ( ) Mamas parecem duras e brilhantes
Fonte: adaptado de WHO(11)

Tabela 1 - Critérios para classificações dos escores empregados de acordo com o nº de comportamentos desfavoráveis a
amamentação (sinais de possível dificuldade)
Classificação dos escores por nº de
Aspecto avaliado Nº de comportamentos desfavoráveis observados comportamentos observados
Bom Regular Ruim
Observação Geral da Mãe 4 0-1 2 3-4
Posição do bebê 4 0-1 2 3-4
Pega 4 0-1 2 3-4
Sucção 4 0-1 2 3-4
Adaptado de Carvalhaes e Corrêa(12)

que parte das duplas mãe/bebê apresentou maior bebê, 90% dos recém-nascidos apresentaram com-
número de comportamentos favoráveis à amamen- portamentos favoráveis à amamentação, e dois des-
tação nos quatro aspectos avaliados. Na observa- tes bebês mostraram escore ruim para este aspecto.
ção geral da mãe, 70% apresentaram sinais de que Dezenove desses bebês tiveram escores adequados
a amamentação vai bem, 30% apresentaram escores (bom) no segmento da sucção eficaz (95%), e apenas
regulares, ou seja, no mínimo dois comportamentos um apresentou escore regular (5%). A ocorrência de
sugestivos de dificuldade e nenhuma dupla apre- escores favoráveis (bom), ou seja, maior número de
sentou escore ruim para este aspecto. Já na posição comportamentos sugestivos de que a amamentação
do bebê, 95% mostraram escores adequados (bom) vai bem, foi nos aspectos de posição do bebê e suc-
nesse segmento e apenas uma dupla mãe/bebê apre- ção. Já os escores menos favoráveis (regular e ruim),
sentou escore regular (5%). Em relação à pega do que demonstram maior número de comportamentos

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Vieira AC, Costa AR, Gomes PG
Tabela 2 - Características sóciodemográficos e gestacionais das puérperas do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas,
Pelotas, RS, (2014)
Variáveis N % Média (DP)*
Faixa etária
15-25 6 30%
26-34 11 55% 28 (6,094)
>34 3 15%
Escolaridade
Fundamental Incompleto 6 30%
Fundamental Completo 4 20%
Médio Incompleto 3 15% -
Médio Completo 5 25%
Superior Incompleto 1 5%
Superior Completo 1 5%
Situação Marital
Com companheiro 17 85% -
Sem companheiro 3 15%
Idade Gestacional
Variação 41,1-38 - 39,5 (0,884)
Número de consultas de pré-natal
Variação 13-4 - 8 (2,692)
Tipo de Parto
Vaginal 16 - -
Cesáreo 4
*DP: Desvio padrão

Tabela 3 - Características dos recém-nascidos do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, (2014)
Variáveis Recém-nascidos Média (DP)*
Sexo
Feminino 12 -
Masculino 8
Peso ao nascer
Variação 4,52- 2,170 Kg 3,394 (0,520)
Apgar no 1º minuto
Variação 9-6 8 (0,732)
Apgar no 5º minuto
Variação 10- 9 9 ( 0,470)
*DP: Desvio padrão

sugestivos de dificuldade, ocorreram nos segmentos O aspecto do instrumento relacionado à pega do


de observação geral da mãe e pega do bebê. No pri- bebê mostrou comportamentos desfavoráveis, com
meiro aspecto, 40% das puérperas apresentaram algu- escore ruim em 10% das duplas mãe/bebê. Neste seg-
ma complicação relacionada às mamas, como fissuras mento, os comportamentos sugestivos das dificul-
e traumas mamilares, ingurgitamento e dor, já nas dades observadas foram a aréola vista mais na parte
primeiras 24h após o parto e destas, 20% eram primi- inferior do lábio do bebê, boca sem estar bem aberta,
gestas. Onze puérperas não posicionaram a mama de lábios voltados para dentro e o queixo do bebê não
forma adequada no momento da mamada (55%), se- toca a mama.
gurando a aréola com os “dedos em tesoura”. Quatro
participantes mostraram-se tensas e/ou desconfortá-
veis durante a amamentação nas primeiras 24h após o Discussão
parto, e duas destas tiveram parto cesáreo e, as outras Os resultados deste estudo evidenciaram o predo-
duas, parto do tipo vaginal. mínio de comportamentos favoráveis à amamenta-

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Boas práticas em aleitamento materno: Aplicação do formulário de observação e avaliação da mamada

Tabela 4- Distribuição das duplas mãe/bebê em relação aos


escores em cada aspecto avaliado- Pelotas, RS, (2014). mandando pouco tempo (10 minutos), permitindo
Escores Duplas mãe/bebê a abordagem focada nos aspectos que necessitavam
de intervenção.
Observação Geral da Mãe N %
Nesta perspectiva, o tempo dedicado pela equi-
Bom 14 70%
pe para apoiar mães nas primeiras mamadas poderá
Regular 6 30% reverter-se em melhor utilização da disponibilidade
Ruim 0 - dos profissionais de saúde para resolver dificuldades
Total 20 100% inerentes a este processo(7).
Posição do bebê No que concerne à presença de trauma/fissuras
Bom 19 95% mamilares, ingurgitamento e dor, houve uma prevalên-
Regular 1 5% cia de 40% já nas primeiras 24 horas, o que pode sig-
Ruim 0 -
nificar ausência do manejo adequado nesta situação.
Total 20 100%
É possível pensar no desconhecimento das puérperas
Pega
para lidar com esses problemas em decorrência do des-
Bom 18 90%
Regular 0 -
preparo da equipe, além de uma escassa abordagem da
Ruim 2 10% temática e ações educativas durante o Pré-Natal.
Total 20 100% O estudo de Carvalhaes e Corrêa(12) também
Sucção identificou as dificuldades enfrentadas por 50 binô-
Bom 19 95% mios mãe/recém-nascido no estabelecimento da ama-
Regular 1 5%
mentação, a frequência de comportamentos sugesti-
Ruim 0 -
vos de dificuldades totalizou 34 % (17 binômios) e os
Total 20 100%
piores resultados foram relativos à posição corporal
mãe e do recém-nascido durante a mamada, confor-
me o instrumento aplicado na pesquisa. Além disso,
ção, de acordo com os aspectos: observação geral mostrou que 30% (14 binômios) apresentavam algum
da mãe, posição do bebê, pega e sucção. É possível tipo de lesão no mamilo, como trauma/fissuras ma-
pensar que, por se tratar de recém-nascidos a termo, milares e/ou ingurgitamento mamário entre 18 e 30
eles tenham maior probabilidade de obter êxito nes- horas após o parto.
sa tarefa. Neste estudo, pode se observar que 80% dos
Ao mesmo tempo, quando houve sinais de pos- partos foram do tipo vaginal, o que faz pensar que
sível dificuldade no estabelecimento da amamenta- esses recém-nascidos tenham sido amamentados na
ção, estes ocorreram em todos os comportamentos primeira hora de vida de acordo com o que é pre-
observados, necessitando da intervenção sob a for- conizado, ou seja, o bebê ser colocado em contato
ma de correção e apoio com intuito de se estabelecer pele a pele durante seu período de alerta ou período
o processo de lactação. sensível(17). Este dado não foi contemplado na coleta
Entretanto, o aspecto crucial observado esteve re- de dados nem houve registro descrevendo isso no
lacionado à pega do bebê. Este achado está, de acor- prontuário.
do com o forte predomínio da observação de má pega As dificuldades enfrentadas pelas puérperas
descrita em outros estudos(9,12,16), como o principal fator em caso de parto cesáreo, referem-se ao desconforto
causador de fissuras/traumas, ocasionando dor e des- em decorrência da dor, dificuldade em se posicionar
conforto, contribuindo, fortemente, para o insucesso para segurar o bebê(18), o que na maioria das vezes pa-
da amamentação. Nesse sentido, o manejo precoce e rece ser “negligenciado”, especificamente em relação
adequado dessas situações, visto como uma interven- à avaliação e manejo da dor, realizado pela equipe
ção de enfermagem poderá corrigir a pega e prevenir de saúde.
possíveis complicações. Por outro lado, o contato tardio da mãe e seu bebê,
Em relação ao manejo propriamente dito, a em decorrência das rotinas hospitalares, faz com que
aplicação do instrumento mostrou-se factível, de- esses recém-nascidos não suguem precocemente ou

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de forma adequada. A infraestrutura do local contri- instrumento utilizado na pesquisa mostrou-se factí-
bui, preponderantemente, por não dispor de um cen- vel para ser utilizado à beira de leito, pois é de fácil
tro obstétrico no qual as mulheres possam permanecer aplicação, pontua as dificuldades e pode nortear as
com seus recém-nascidos. intervenções.
A deficiência de habilidades clínicas e o manejo O reconhecimento dessas dificuldades no es-
inadequado das situações relacionadas aos profissio- tabelecimento da lactação e uma abordagem pre-
nais de saúde podem contribuir para a ocorrência de coce podem assegurar o sucesso da amamentação.
dificuldades durante o estabelecimento da lactação. O encorajamento e promoção da autonomia das
Por isso, é importante que estes desenvolvam apti- mulheres frente a essa prática são consideradas im-
dão e competências a fim de realizar precocemente portantes estratégias de cuidado que fortalecem a
intervenções adequadas na promoção do aleitamento confiança e o papel da mulher frente ao aleitamento
materno(7). materno.
Entende-se que semelhante ao estudo de Mosele A realização deste estudo, embora com algu-
e colaboradores(19), a relevância na utilização de um mas limitações impostas pelo tamanho da amostra,
instrumento de avaliação da mamada como o deste mostrou que há necessidade de rever as práticas de
estudo, considerado “padrão ouro” e recomendado cuidado.
pela OMS e UNICEF, permite promover o aleitamen- Como contribuição, o estudo respalda o manejo
to, prevenir complicações e consequentemente dimi- adequado do aleitamento materno, mediante a apli-
nuir a possibilidade do desmame, uma vez que estes cação de um instrumento de avaliação da mamada e,
surgem muito precocemente. Se não forem tratadas possivelmente, subsidie novas pesquisas na área.
de forma adequada, culminam em uma situação que
se posterga ao longo da primeira semana de vida dos
recém-nascidos, ocasionando desconforto e ansieda- Referências
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