Parecer05 - Dirceu Estabilidade
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TRIBUNAL DE CONTAS
MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS
A própria interessada fez a juntada de uma petição (fls. 25 dos autos), corroborada
por documentos, no bojo da qual requer a inclusão de uma estabilidade financeira nos
proventos de sua aposentadoria, considerando que tal vantagem não foi consignada no ato de
inativação supramencionado.
PERCEPÇÃO DA G.S.E.
De 04/80 a 07/83;
de 04/85 a 07/91;
de 01/92 a 10/02.
Assim, na fl. 56 dos autos, foi exarado o Ofício GC-02 nº 335/05, no qual o
Conselheiro-relator solicita a retificação da Portaria nº 550/04, desta feita incluindo nos
cálculos dos proventos o valor da estabilidade financeira requerida.
Do Mérito
Cada lei trata a matéria de forma peculiar, hipótese que confrontada, no dizer de Souto
Maior Borges, com algumas linguagens – objeto (leis previsoras de estabilidade financeira)
terá, induvidosamente, a sua confirmação.
II – Lei 6.785/74, art. 53, § 4º (com a redação imposta pela Lei 9.986/86) – A norma
legal faz alusão, neste caso, a gratificação e/ou indenização de representação relativa a
exercício de CARGO e/ou FUNÇÃO.
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III – Lei Complementar nº 03/90, art. 1º, § 2º, XVIII – A lei aporta com a expressão
“GRATIFICAÇÃO OU COMISSÃO PERCEBIDA A QUALQUER TÍTULO”, texto
idêntico àquele previsto no art. 115, da Lei 10.426/90 (ambos já revogados). Não há como
divisar as restrições presentes nos outros modelos legais citados, aqui a MENS LEGIS afasta
qualquer qualificação à vantagem GRATIFICAÇÃO (cuja percepção lastreia a aquisição da
estabilidade financeira), ou seja, não importa a razão específica de concessão de gratificação
encartada na lei previsora. Assim, neste caso o modelo normativo exige, apenas, o
cumprimento do interregno legal na percepção da vantagem categorizada legal e
doutrinariamente1 como GRATIFICAÇÃO.
IV - Lei 10.798/92, art. 1º (CAPUT) – O fautor desta lei foi bem mais analítico,
referindo-se a gratificação de representação ou de função pelo exercício de cargo em
comissão ou FUNÇÃO GRATIFICADA DE DIREÇÃO, CHEFIA, ASSESSORAMENTO ou
APOIO.
1
Estará rechaçada, nesta linha de entendimento, a aquisição de
estabilidade financeira com arrimo na percepção de vantagem que tem o NOMEN JURIS
de GRATIFICAÇÃO, entrementes, por exemplo, seja, em verdade, uma espécie de
INDENIZAÇÃO.
2
Sobre a matéria o brilhante pensador ainda afirma que “A norma é sempre
em qualquer hipótese um pressuposto necessário para qualquer investigação
jurídica: o ponto de referência dos estudos jurídicos”.(mesma obra e artigo, p.
115).
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A intelecção acima exposta representa uma retratação nossa após maior reflexão no
enfrentar da matéria. Destarte, utilizando-nos do pertinente caminho da subsunção,
enfrentamos o caso vertente à luz do que dispõe o texto debuxado no art. 1º, § 1º, inciso
XVIII da Lei Complementar nº 03/90, dispositivo aplicável ao caso, considerando-se o seu
âmbito de validade temporal, muito embora abaixo façamos uma ressalva quanto à sua
revogação .
Neste caso, o texto aplicável traz consigo uma anchura de alcance e eficácia maior do
que aquele vislumbrado pela douta Procuradora-Geral Adjunta, data máxima venia, haja vista
que faz expressa referência a estabilidade garantida face a PERCEPÇÃO DE
GRATIFICAÇÃO A QUALQUER TÍTULO. À despeito do que preconiza a P.G.E., o
TCE/PE já deliberou, em casos concretos, pela contagem de tempo de gratificações diversas
(não relacionadas com o exercício de cargo comissionado ou função gratificada) para efeito
de concessão de adicional de estabilidade financeira, fulcrado na Lei Complementar nº 03/90,
podendo-se citar o Acórdão TC nº 380/95 (nos autos do Processo TC nº 9604097-2- cópia
acostada).
Por fim, embora sejamos contrários à tese de que o inciso XVIII, § 2º, art. 1º da Lei
Complementar nº 03/90 só tenha sido revogado pela Lei Complementar nº 16/96, esta é a
intelecção que frutificou no âmbito desta Casa. Portanto, partindo da premissa de que o
dispositivo em tela vigeu até o advento da Lei Complementar nº 16/96 (revogação expressa
constante de seu texto), não há como não reconhecer o direito da servidora a incorporar o
valor do adicional de estabilidade financeira G.S.E.
Não resta dúvida, portanto, que a servidora satisfez, plenamente, a moldura legal de
estabilidade insculpida na LC nº 03/90, assim é inconcusso o direito subjetivo à vantagem,
embora não tenha sido requerido e deferido no âmbito administrativo.
LC nº 063/04
“Art. 33 ...........................
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A nossa brilhante administrativista Maria Sylvia Zanella Di Pietro, em
artigo publicado na Revista do Tribunal de Contas da União (“Coisa Julgada –
Aplicabilidade a Decisões do Tribunal de Contas da União” – nº 70, 1996, p.33-
34), afirma que não se pode colocar a decisão proferida pelo Tribunal de Contas
no mesmo nível que uma decisão proferida pela Administração Pública. Não haveria
sentido em que os atos controlados tivessem a mesma força que os atos de
controle.
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Orgânica, esta última um repositório legal só modificável por lei de iniciativa da própria
presidência da Corte de Contas.
Sobre o tema, é força lembrar, impende referir o voto da Ministra Ellen Gracie no
M.S. nº 23.996-4/DF, perfilhando trecho do Parecer da Procuradoria-Geral da República:
Pouco importa o que a “referida” lei prescreve, o certo é que tanto a concessão quanto
a denegação do registro pelo TCE/PE são deliberações INTANGÍVEIS ou INDISPONÍVEIS
para a Administração. Portanto, ao invés de resolver um impasse, a lei ora profligada agravou
um indesejável estado de plurivocidade e disseptação. O chamado controle interno (?) não
passou a assenhorar-se de um viés da legalidade dos atos, a uma porque a LEGALIDADE não
pode ser cindida ou “parcializada”5, a duas porque a NÃO-INCLUSÃO de uma vantagem
5
Ao abordar o problema da possibilidade do registro parcial dos atos de
aposentadoria, parcialidade esta que parte da premissa de que o controle da
legalidade pode ser flexibilizado, o preclaro Dr. Flávio Germano de Sena Teixeira
(em “O controle das Aposentadorias pelos Tribunais de Contas” – Fórum, 2004, ps.
232-233) pontifica, com veemência, que, “mesmo quando o prejuízo advindo da
irregularidade da composição é do servidor e não do erário, incumbe aos Tribunais
de Contas dissentirem do ato, vez que o móvel de sua atuação não é, ao contrário
do que asseveram respeitáveis vozes discrepantes, exclusivamente a proteção das
finanças públicas, mas o cumprimento da lei a realização do interesse público
primário, que não desgruda dos princípios da boa-fé e da moralidade pública”. Em
outro excerto, o doutrinador pernambucano rechaça a idéia do registro parcial,
desta feita ponderando que o registro não é ato discricionário e que diante de
composição de proventos que considere indevida, os Tribunais de Contas teriam de
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devida levará à denegação de registro do ato ilegal, denegação esta, como já asseverado,
impositiva no âmbito administrativo. Neste sentido são esclarecedoras as assertivas lançadas
pelo preclaro Flávio Germano de Sena Teixeira, senão vejamos:
Outra não foi a intelecção firmada pelo S.T.F. nos autos do Recurso Extraordinário nº
74.663. A 2ª turma do Excelso Pretório, ao exarar o venerável aresto, asseverou de forma
lapidar que “as decisões do Tribunal de Contas são obrigatórias para os órgãos da
Administração”, salvo a revisibilidade de suas deliberações pelo Poder Judiciário.
negar registro ao ato, haja vista que o registro de aposentadoria pelos Tribunais
de Contas é ato vinculado.
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Outro aspecto da lei que causa espécie há de ser realçado. O chamado CONTROLE
INTERNO, todo poderoso, é de difícil definição. Tratar-se-ia de um Órgão Central de
Controle Interno? Ao contrário, tratar-se-ia de diversos órgãos setoriais de controle da
legalidade?
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LEI COMPLEMENTAR Nº 02/90
Art. 3º ... OMISSIS
...........
XI – fixar a interpretação de normas constitucionais, legais e
administrativas a ser uniformemente seguida pelos órgãos e entidades da
administração estadual;
...........
XIII – assistir o Poder Executivo e autarquias estaduais no controle
interno da legalidade e da moralidade administrativa de seus atos;
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É o Parecer.
S.M.S
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Conforme já foi explicado, a denegação do registro por parte dos
Tribunais de contas torna a despesa respectiva irregular e, por outro lado,
dependendo da corrente doutrinária adotada, ou anula o ato de aposentadoria ou
retira-lhe a EFICÁCIA que até então era precária, ou seja, estava pendente da
deliberação da corte de contas que, nestes casos, opera como um verdadeiro
implemento de uma condição RESOLUTIVA.
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