Artigo Sobre Seminário
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Artigo Sobre Seminário
PRÁTICAS DE ORALIDADE
Autor: Otoniel Inácio da Silva1
Professor da Educação Básica do Estado da Paraíba
Resumo: Neste artigo, nos propusemos a apresentar o gênero textual oral seminário, como uma
técnica de ensino, que apesar de tradicional, ainda faz parte da prática de muitos professores,
atualmente. O seminário é um gênero textual que culmina com uma exposição oral. As características
gerais do seminário, entendido aqui como exposição oral, é que ele é um discurso que se realiza numa
situação específica a que poderíamos dizer que tem dois polos: de um lado o orador ou grupo de
oradores e do outro lado uma plateia de ouvintes, que comporta as seguintes dimensões: a situação de
comunicação, a organização interna da exposição e as características linguísticas. Esse gênero textual é
um lugar de práticas da oralidade. De forma mais abrangente, o seminário é multimodal por ser uma
técnica de ensino e aprendizagens marcada pelo uso constante de variados gêneros e formas de
linguagens. É aquele que se realiza por mais de um código semiótico para se prestar ao serviço da
comunicação discursiva. Por fim, o seminário é apresentado como um gênero textual hibrido, pois,
apesar de ser um gênero que se manifesta por meios orais, onde se nota sempre um ou mais falantes
expositores e uma plateia ouvinte, na sua estruturação há a recorrência de inúmeros gêneros tais como
o resumo, a estrutura de tópicos, a exposição oral, o debate, a imagem como gêneros não verbal, o
roteiro, etc. Acreditamos que esse gênero textual é relevante no sentido de que promove o
desenvolvimento de capacidade orais e argumentativas do educando.
INTRODUÇÃO
Nesse trabalho procuramos apresentar o gênero textual seminário, tipicamente oral, que
é muito utilizado no contexto de sala de aula. A ideia de trabalhar de forma sistemática com
esse gênero textual surgiu por acreditarmos que os professores recorrem a essa técnica de
ensino por variadas razões: Primeiro por ser uma técnica de trabalho em grupo que abarca um
número variado de temáticas; segundo por que é uma técnica que envolve as dimensões da
leitura, da escrita, pesquisa e oralidade; terceiro por que é uma técnica que mesmo estando no
rol das metodologias tradicionais, apresenta dinamicidade e elevado grau de aprendizagem,
quando praticada com seriedade e organização; e por último, quebram a rotina de práticas
cansativas de realização de aulas expositivas e realização de exercícios de fixação, na maioria
das vezes propostas ao final de cada lição do livro didático.
Para o ensino com foco na oralidade, segundo Schneuwly e Dolz (2004) há que se
pensar em definir claramente as características do oral a ser ensinado, visando construir um
1
Professor efetivo do estado da Paraíba. Graduado em letras pela UFCG – campus de Cajazeiras - PB. Mestre em
Letras – PROFLETRAS pela UFCG- Campus de Cajazeiras – PB.
objeto de ensino-aprendizagem que confira ao oral legitimidade e pertinência em relação aos
saberes de referências, às expectativas sociais e as potencialidades dos alunos. Num sentido
mais específico, é preciso definir os gêneros textuais a serem ensinados, pelo menos no que
diz respeito a uma abordagem argumentativa, para que, a partir deles, as práticas de oralidade
sejam desenvolvidas e o aprimoramento das relações interpessoais por meio da linguagem
possam ser efetivadas na prática.
Com base em nossa experiência empírica como professor que vivencia a realidade de
sala de aula, diariamente, elencamos alguns dos principais entraves que comprometem o
trabalho com o gênero em questão: a) os seminários apresentados em sala de aula acabam
sendo resumidos à leituras de trechos desorganizados de informações sobre determinadas
temáticas, muitas vezes retirados de livros ou da internet, sem o crivo da observação
coordenativa do professor; b) o grupo que apresenta o seminário muitas vezes não considera,
adequadamente, o auditório para quem eles estão apresentando os trabalhos e acabam por
transparecer um profundo desejo de chegarem, o mais rápido possível ao final da
apresentação; c) Geralmente, em apresentações de seminários, não há uma depuração das
informações, nem tampouco uma preocupação com o que os outros (o auditório) vão
compreender do tema em exposição; e c) depois de terminada a apresentação, os alunos que já
apresentaram os trabalhos, não demonstram muito interesse ou comprometimento com o que
será exposto pelos outros grupos. Acreditamos que esses problemas podem ser amenizados
desde que o professor se aproprie adequadamente desse gênero e trabalhe para que os alunos
também tenham essa apropriação.
De maneira mais específica, intentamos apresentar o seminário como gênero textual que
envolve práticas de leitura, oralização da escrita, pesquisa sistematizada, produção de textos,
visualização de imagens e, acima de tudo, como gênero que têm como características
fundamentais o uso da exposição e de práticas argumentativas orais.
METODOLOGIA
Gil (1994) defende que a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de
permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenõmenos muito ampla. A pesquisa
bibliográfica é indispensável para os estudos históricos, para a construção de uma base teórica
sobre o problema investigado, para a compilação de dados que podem ajudar de forma
significativa na elaboração de conceitos. Em muitas situações não há outras fontes para se
conhecer os fatos passados que se deseja pesquisar senão com base em dados dibliográficos.
Dessa forma, para montarmos uma ideia clara sobre o gênero textual seminário,
especialmente sobre sua função dentro do contexto de sala de aula, percorremos então a
seguinte trajetória: Compilação de acervo bibliográfico que aborda os gêneros textuais, a
argumentação e práticas de oralidade. Em seguida procedemos com um enfoque exploratório
desse acervo, desenvolvendo leitura e interpretação das obras selecionadas para compreender
conceitos relativos a gêneros textuais orais, com o fim de verificar teorias e abordagens
didáticas a respeito de como o seminário está sendo abordado em sala de aula, num contexto
em que existe inumeráveis meios tecnológicos e muitas maneiras de auxiliar ao seminarista
no momento da organização de exposições orais.
As características gerais do seminário, entendido aqui como exposição oral, é que ele é
um discurso que se realiza numa situação específica a que poderíamos dizer que tem dois
polos: de um lado o orador ou grupo de oradores e do outro lado uma plateia de ouvintes. O
enunciador representa um especialista sobre o assunto. É aquele que estudou, teoricamente fez
pesquisas, sintetizou informações, etc., para poder passar para a sua audiência, que, no
mínimo, representa alguém que quer ou precisa aprender alguma coisa. Assim, o enunciador
tem a responsabilidade de diminuir a distância entre o que ele sabe e o que a sua plateia
precisa aprender.
Nas três definições, algo que nos chama a atenção é o uso da palavra ‘debate’ como
parte integrante do conceito de seminário. Seminário é um momento de discussão, exposição
e debate de ideias acerca de determinados temas. É momento de pesquisas, reflexões,
integração, divisão de experiências, e acima de tudo, é momento de aprendizagens
significativas. Assim, o seminário é uma técnica de ensino e aprendizagens marcada pelo uso
constante de variados gêneros e formas de linguagens. Uma das marcas do seminário é que
ele é multimodal.
De posse dessa ideia de multimodalidade, entendendo que já não basta mais e somente
o contato com a modalidade escrita da linguagem, mas com os mais variados meios de
significação, podemos dizer que o gênero seminário é um gênero essencialmente multimodal.
Esse gênero, evoluiu muito nos últimos tempos, deixando de ser caracterizado apenas como
um gênero oral com estrutura de tópicos, passando a incorporar elementos semióticos como a
imagem, o vídeo e o áudio, etc.
Esse repertório linguístico que cada sujeito constrói ao longo de sua existência é
fundamental à comunicação e à montagem de estratégias persuasivas durante o envolvimento
conversacional com outros sujeitos.
Os falantes, quando do momento de interação, sinalizam certos traços que logo podem
ser interpretados ou não pelos ouvintes, dependendo do grau de convenções culturais,
históricas e, principalmente linguísticas, existentes entre ambos.
Dessa forma, tanto professor, quanto alunos precisam considerar que a história e a
experiência comunicativa compartilhada facilitam a cooperação conversacional, e que a
multimodalidade do gênero seminário pode e deve funcionar como pistas de contextualização
para a compreensão da mensagem pretendida pelos falantes apresentadores de tal gênero.
Ao longo desse trabalho, vimos discutindo, além de outros fatores, a dinamicidade dos
gêneros textuais. Apesar de Bakhtin (2003) ter defendido a ideia de que os gêneros se
apresentarem com estruturas relativamente estáveis, há muito de variável e mesclável no que
diz respeito à composição interna de cada gênero. Segundo Marcuschi (2008), eles se
apresentam como estruturas dinâmicas que se modifica de acordo com as necessidades de
cada prática social. Eles se modificam conforme as intenções comunicativas do falante, de
acordo com cada situação conversacional.
Diz-se que hibrido é tudo aquilo que é composto pela mistura de dois ou mais
elementos diferentes. No que diz respeito ao texto, o hibridismo se caracteriza pela mistura de
gêneros textuais diferentes. Assim, o seminário, apesar de ser um gênero que se manifesta por
meios orais, onde se nota sempre um ou mais falantes expositores e uma plateia ouvinte, na
sua estruturação é há a recorrência de inúmeros gêneros tais como o resumo, a estrutura de
tópicos, a exposição oral, o debate, a imagem como gêneros não verbal, o roteiro, etc.
Os gêneros não são nem autônomos, nem autossuficientes. Eles sempre dependem de
outros para se estruturarem, para se consolidarem dentro da sociedade, e sempre estão
assumindo novas funções sociais, novas formas de dizer, novas maneiras de significar o
mundo e novas estruturas. Dessa forma, segundo Dell´Isola (2005), há um mover constante no
surgimento e desaparecimento de gêneros híbridos que se ajustam à atividade social e
intelectual da qual texto e discurso fazem parte, considerando que a sociedade é dinâmica,
diversificada e se modifica também, de forma constante. Dessa forma, os discursos e as
práticas sociais são um aglomerado de história e de formação cultural que não são fechados
em si, mas sujeitos a todas as alterações possíveis.
CONCLUSÃO
Aliás, quero me aproveitar das ideias de Rodrigues (2016) que, considerando sobre o
significado da palavra seminário, afirma ter vindo do latim, seminarius, e significa viveiro de
plantas onde se coloca a semente e favorece a germinação. Dessa maneira, a palavra já nos
serve de metáfora para a principal função desse gênero, que é a de semear ideias, semear
conhecimentos, semear ação solidária, o respeito à voz do outro, esperando-se sempre colher
frutos para vida inteira.
REFERÊNCIAS
ALVES FILHO, Francisco. Gêneros Jornalísticos: notícias e cartas de leitor no ensino
fundamental. São Paulo: Cortez, 2011
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
GUMPERZ, John J. Convenções de contextualização. In: RIBEIRO, Branca Telles &
GARCEZ, Pedro M. (org) Sociolinguistica interacional. 2ª. edição. Loyola, São Paulo - SP,
2002
_______________, Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 10. ed. São Paulo:
Cortez, 2010.
_______________, et al. Gêneros textuais, reflexão e ensino. 4. Ed. São Paulo: Parábola
editorial, 2011
WACHOWICZ, Tereza Cristina. Análise linguística nos gêneros textuais. São Paulo:
Saraiva, 2012.