Artigo Sobre Seminário

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O GÊNERO TEXTUAL SEMINÁRIO COMO MOTIVADOR DE

PRÁTICAS DE ORALIDADE
Autor: Otoniel Inácio da Silva1
Professor da Educação Básica do Estado da Paraíba

Resumo: Neste artigo, nos propusemos a apresentar o gênero textual oral seminário, como uma
técnica de ensino, que apesar de tradicional, ainda faz parte da prática de muitos professores,
atualmente. O seminário é um gênero textual que culmina com uma exposição oral. As características
gerais do seminário, entendido aqui como exposição oral, é que ele é um discurso que se realiza numa
situação específica a que poderíamos dizer que tem dois polos: de um lado o orador ou grupo de
oradores e do outro lado uma plateia de ouvintes, que comporta as seguintes dimensões: a situação de
comunicação, a organização interna da exposição e as características linguísticas. Esse gênero textual é
um lugar de práticas da oralidade. De forma mais abrangente, o seminário é multimodal por ser uma
técnica de ensino e aprendizagens marcada pelo uso constante de variados gêneros e formas de
linguagens. É aquele que se realiza por mais de um código semiótico para se prestar ao serviço da
comunicação discursiva. Por fim, o seminário é apresentado como um gênero textual hibrido, pois,
apesar de ser um gênero que se manifesta por meios orais, onde se nota sempre um ou mais falantes
expositores e uma plateia ouvinte, na sua estruturação há a recorrência de inúmeros gêneros tais como
o resumo, a estrutura de tópicos, a exposição oral, o debate, a imagem como gêneros não verbal, o
roteiro, etc. Acreditamos que esse gênero textual é relevante no sentido de que promove o
desenvolvimento de capacidade orais e argumentativas do educando.

Palavras- chave: Seminário. Oralidade. Ensino. Gênero textual.

INTRODUÇÃO
Nesse trabalho procuramos apresentar o gênero textual seminário, tipicamente oral, que
é muito utilizado no contexto de sala de aula. A ideia de trabalhar de forma sistemática com
esse gênero textual surgiu por acreditarmos que os professores recorrem a essa técnica de
ensino por variadas razões: Primeiro por ser uma técnica de trabalho em grupo que abarca um
número variado de temáticas; segundo por que é uma técnica que envolve as dimensões da
leitura, da escrita, pesquisa e oralidade; terceiro por que é uma técnica que mesmo estando no
rol das metodologias tradicionais, apresenta dinamicidade e elevado grau de aprendizagem,
quando praticada com seriedade e organização; e por último, quebram a rotina de práticas
cansativas de realização de aulas expositivas e realização de exercícios de fixação, na maioria
das vezes propostas ao final de cada lição do livro didático.

Para o ensino com foco na oralidade, segundo Schneuwly e Dolz (2004) há que se
pensar em definir claramente as características do oral a ser ensinado, visando construir um

1
Professor efetivo do estado da Paraíba. Graduado em letras pela UFCG – campus de Cajazeiras - PB. Mestre em
Letras – PROFLETRAS pela UFCG- Campus de Cajazeiras – PB.
objeto de ensino-aprendizagem que confira ao oral legitimidade e pertinência em relação aos
saberes de referências, às expectativas sociais e as potencialidades dos alunos. Num sentido
mais específico, é preciso definir os gêneros textuais a serem ensinados, pelo menos no que
diz respeito a uma abordagem argumentativa, para que, a partir deles, as práticas de oralidade
sejam desenvolvidas e o aprimoramento das relações interpessoais por meio da linguagem
possam ser efetivadas na prática.

Com base em nossa experiência empírica como professor que vivencia a realidade de
sala de aula, diariamente, elencamos alguns dos principais entraves que comprometem o
trabalho com o gênero em questão: a) os seminários apresentados em sala de aula acabam
sendo resumidos à leituras de trechos desorganizados de informações sobre determinadas
temáticas, muitas vezes retirados de livros ou da internet, sem o crivo da observação
coordenativa do professor; b) o grupo que apresenta o seminário muitas vezes não considera,
adequadamente, o auditório para quem eles estão apresentando os trabalhos e acabam por
transparecer um profundo desejo de chegarem, o mais rápido possível ao final da
apresentação; c) Geralmente, em apresentações de seminários, não há uma depuração das
informações, nem tampouco uma preocupação com o que os outros (o auditório) vão
compreender do tema em exposição; e c) depois de terminada a apresentação, os alunos que já
apresentaram os trabalhos, não demonstram muito interesse ou comprometimento com o que
será exposto pelos outros grupos. Acreditamos que esses problemas podem ser amenizados
desde que o professor se aproprie adequadamente desse gênero e trabalhe para que os alunos
também tenham essa apropriação.

Então, o objetivo desse trabalho é caracterizar o gênero textual seminário, de forma


que o professor que se debruce para a apreciação desse artigo, encontre nele um norte para o
entendimento da estrutura básica do seminário e possa, de alguma forma, aprimorar o seu
trabalho em sala de aula.

De maneira mais específica, intentamos apresentar o seminário como gênero textual que
envolve práticas de leitura, oralização da escrita, pesquisa sistematizada, produção de textos,
visualização de imagens e, acima de tudo, como gênero que têm como características
fundamentais o uso da exposição e de práticas argumentativas orais.

METODOLOGIA

A metodologia adotada para a realização desse trabalho foi estritamente bibliográfico,


realizado através de exploração de publicações já feitas com relação ao gênero textual
seminário e sua utilização com técnica de ensino em sala de aula. Conforme Gil (1994) o
delineamento da pesquisa pode ser definido em dois grandes grupos: Aqueles que dizem
respeito aos dados físicos, ou seja, as chamadas fontes de papel e aqueles cujos dados são
fornecidos por pessoas. No primeiro grupo estão as fontes bibliográficas e documental, já o
segundo grupo diz respeito a dados coletados junto a pessoas, através de estudo de caso ou
estudos de campo. Esta pesquisa se enquadra no primeiro grupo, uma vez que recorremos ora
a acervo bibliográfico, ora a documentos oficiais para construção de uma ideia clara e lógica
do problema que investigamos.

Gil (1994) defende que a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de
permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenõmenos muito ampla. A pesquisa
bibliográfica é indispensável para os estudos históricos, para a construção de uma base teórica
sobre o problema investigado, para a compilação de dados que podem ajudar de forma
significativa na elaboração de conceitos. Em muitas situações não há outras fontes para se
conhecer os fatos passados que se deseja pesquisar senão com base em dados dibliográficos.

Dessa forma, para montarmos uma ideia clara sobre o gênero textual seminário,
especialmente sobre sua função dentro do contexto de sala de aula, percorremos então a
seguinte trajetória: Compilação de acervo bibliográfico que aborda os gêneros textuais, a
argumentação e práticas de oralidade. Em seguida procedemos com um enfoque exploratório
desse acervo, desenvolvendo leitura e interpretação das obras selecionadas para compreender
conceitos relativos a gêneros textuais orais, com o fim de verificar teorias e abordagens
didáticas a respeito de como o seminário está sendo abordado em sala de aula, num contexto
em que existe inumeráveis meios tecnológicos e muitas maneiras de auxiliar ao seminarista
no momento da organização de exposições orais.

Seminário: lugar de práticas de oralidade


O seminário é um gênero textual que culmina com uma exposição oral. É uma das
ferramentas mais utilizadas por professores quando se trata de trabalhar com a oralidade, não
importando qual seja o componente curricular. Esse gênero é utilizado como ferramenta para
expor todos os tipos de conhecimento humano. Faz parte de uma tradição de muitos anos e é
apontada por professores, segundo Schneuwly e Dolz (2004) como uma das ferramentas que
lhes parecem mais úteis para desenvolver o domínio da oralidade.

Entretanto, advertem Schneuwly e Dolz (2004, p. 216):


Se a exposição vem de uma longa tradição e é constantemente
praticada, muitíssimas vezes isso se dá sem que um verdadeiro
trabalho tenha sido efetuado, sem que a construção da linguagem
expositiva seja objeto de atividades em sala de aula, sem que
estratégias concretas de intervenção e procedimentos explícitos de
avaliação sejam adotadas. Deste ponto de vista, a exposição
permanece como uma atividade bastante tradicional, na qual, para
qualquer tipo de pedagogia, vêm-se expor diante da classe as
aquisições anteriores dos alunos [...].

As características gerais do seminário, entendido aqui como exposição oral, é que ele é
um discurso que se realiza numa situação específica a que poderíamos dizer que tem dois
polos: de um lado o orador ou grupo de oradores e do outro lado uma plateia de ouvintes. O
enunciador representa um especialista sobre o assunto. É aquele que estudou, teoricamente fez
pesquisas, sintetizou informações, etc., para poder passar para a sua audiência, que, no
mínimo, representa alguém que quer ou precisa aprender alguma coisa. Assim, o enunciador
tem a responsabilidade de diminuir a distância entre o que ele sabe e o que a sua plateia
precisa aprender.

De acordo com Schneuwly e Dolz (2004), ao seminário estão intrínsecas as dimensões


ensináveis que são divididas em três categorias: a situação de comunicação, a organização
interna da exposição e as características linguísticas.

A situação de comunicação é a seguinte: a exposição oral reúne aluno ou grupo de


alunos e um público- alunos que elaboram uma apresentação e um público que se reúne para
ouvi-los. Normalmente o expositor ou expositores são caracterizados como eu ou nós – e os
ouvintes como vocês. Dessa forma o papel do expositor especialista é o de transmitir de forma
clara e convincente um conteúdo, de modo que possa informar, esclarecer, e modificar os
conhecimentos dos ouvintes para quem eles estão direcionando as apresentações. O
apresentador precisa ter habilidades de avaliar, perceber os sinais enviados pela plateia e de
fazer perguntas ou qualquer outro tipo de estímulo para interagir com o público para o qual
ele dirige sua apresentação.

No que diz respeito a organização interna da exposição, Schneuwly e Dolz (2004)


estabelece um parâmetro para apresentação de um seminário, que exige planejamento (que
pode ser monogerado – feito a partir de um indivíduo ou poligerado – feito a partir de um
grupo de indivíduos). Por sua vez, o planejamento exige triagem de informações,
reorganização dos elementos pesquisados e retidos e hierarquização das ideias. A
apresentação segue as seguintes etapas de organização: uma fase de abertura, uma fase de
introdução do tema, a apresentação do plano, o desenvolvimento e encadeamento dos
diferentes temas, uma fase de recapitulação e síntese, a conclusão e o encerramento. Cada
uma dessa etapas será definida logo mais, na seção em que desenvolveremos uma proposta
para o ensino do oral, a partir do seminário. É importante dizer que essas etapas são
correspondentes ao momento de realização de uma exposição, ou seja, é a culminância de
todo um processo que se realiza anterior a esta etapa. Sendo assim, existem ainda algumas
etapas que precedem e outras que sucedem a exposição oral.

Por último, os estudiosos falando sobre as características linguísticas de uma


exposição oral, elencam pelo menos quatro aspectos linguísticos que devem fornecer ao aluno
um repertório que permita a ele construir operações linguísticas específicas a esse gênero
textual. Os aspectos linguísticos dizem respeito à coesão temática que asseguram a articulação
entre as partes, e são caracterizadas pelo uso de palavras ou expressões como então, a partir
de agora, é preciso, passaremos a falar, etc. que dão progressão as ideias que serão
apresentadas ao longo do trabalho; Sinalização do texto, no interior da apresentação, que
permite distinguir ideias principais de ideias secundarias, explicações de descrições ou ainda
marcadores de estruturação de discursos – então esses elementos isolados/ isso não muda
nada na compreensão/ é preciso evitar que/ então / portanto/ começarei primeiramente por
descrever, etc.; Introdução de exemplos – Para esclarecer isso eu trago o seguinte exemplo;
Reformulações – dizendo de outra maneira, isto é/ ou reelaborando esse conceito.

O seminário, de maneira geral, exige do especialista expositor certos domínios da


estruturação de um texto dessa natureza e também exige a consciência de que toda exposição
oral é um contínuo de mudanças de níveis que precisam ser percebidos pelo apresentador,
desde que começa com a fase de pesquisas para a sua elaboração até o encerramento com a
avaliação dos aspectos que foram apresentados.

Goffman (1987, apud SCHNEUWLY; DOLZ, 2004) tratando de conferências,


distingue três maneiras principais de dar vida as palavras pronunciadas: a memorização, a
leitura em voz alta e à fala espontânea, de sorte que, esses três elementos estão interligados e
podem, juntos, compor uma postura comportamental e didática para apresentações orais.
Essas maneiras devem ser trabalhadas na perspectiva de um ensino coerente da oralidade, que
levem em conta que, o que vai ser evidenciado é a clareza da exposição, e se o expositor
atinge os objetivos da exposição que é a transmissão de uma mensagem a um público
determinado.
Assim., na exposição oral, seria razoável o aluno não criar uma apresentação para ser
lida, mas que busque suportes diversificados tais como o plano, o esquema, bloco de notas,
citações, o slide, o áudio, o vídeo etc. que podem ser utilizados não como essência, mas como
apoio da apresentação.

Seminário: um gênero textual multimodal


Começaremos discutindo um conjunto de conceitos de Seminário, conforme o
dicionário Houaiss, versão online. Esse dicionário dá pelo menos cinco definições para o
vocábulo seminário. No entanto, algumas das definições que não estão relacionadas ao
contexto no qual temos empregado, não nos interessa por se tratarem de conceitos alheios ao
seminário como técnica de ensino. Assim, conforme o dicionário citado, seminário é pelo
menos “congresso científico ou cultural, com exposição seguida de debate; grupo de estudos
em que os estudantes pesquisam e discutem tema específico; aula dada por um grupo de
alunos em que há debate acerca da matéria exposta por cada um dos participantes” (Houaiss
digital)

Nas três definições, algo que nos chama a atenção é o uso da palavra ‘debate’ como
parte integrante do conceito de seminário. Seminário é um momento de discussão, exposição
e debate de ideias acerca de determinados temas. É momento de pesquisas, reflexões,
integração, divisão de experiências, e acima de tudo, é momento de aprendizagens
significativas. Assim, o seminário é uma técnica de ensino e aprendizagens marcada pelo uso
constante de variados gêneros e formas de linguagens. Uma das marcas do seminário é que
ele é multimodal.

O conceito de multimodalidade hoje está em voga na educação. A sociedade em geral


está repleta de muitas formas de comunicação e de usos da linguagem. Seja através de
músicas, imagens, slides, vídeos, mensagens de texto e de voz, chamadas de vídeos em
celulares, etc. São muitos e variados os meios pelo qual a sociedade se comunica hoje. A essa
variedade de modos de comunicação, dá se o nome de multimodalidade.

O mundo moderno se desenvolve numa velocidade que não tem precedentes e a


sociedade acompanha essa velocidade e dinamicidade. Nesse sentido, tudo o que se pensar em
matéria de comunicação e linguagem precisa funcionar com rapidez e eficiência. Para atender
a essa demanda social, os discursos têm sido elaborados observando os mais variados meios
semióticos.
Assim, o texto multimodal, segundo essa pesquisadora, é aquele que se realiza por
mais de um código semiótico para se prestarem ao serviço da comunicação discursiva. Os
usuários da língua estão cada vez mais exigentes quanto a rapidez e eficiência da
comunicação e não se contentam com discursos que se utilizam apenas do código verbal.
Dessa forma, ainda segundo Aquino (2014, p. 7),

Examinar a multimodalidade como característica constitutiva do texto


é prerrogativa para elucidação das maneiras como as formas
simbólicas são lidas e compreendidas por quem as produz e as recebe
no seu decurso de vida. O sentido nos textos pós-modernos é
constituído num universo entrelaçado de palavras, imagens, cores e
padrões sintáticos descomplicados, permitindo compreensão rápida e
global, refletindo o ritmo acelerado da vida pós-moderna, bem como
as formas de interconexão social que cobrem o globo.

De posse dessa ideia de multimodalidade, entendendo que já não basta mais e somente
o contato com a modalidade escrita da linguagem, mas com os mais variados meios de
significação, podemos dizer que o gênero seminário é um gênero essencialmente multimodal.
Esse gênero, evoluiu muito nos últimos tempos, deixando de ser caracterizado apenas como
um gênero oral com estrutura de tópicos, passando a incorporar elementos semióticos como a
imagem, o vídeo e o áudio, etc.

Como prática discursiva o seminário é um complexo de discursos. O seminarista se


utiliza de pistas de contextualização como estratégia para se fazer entendido e consiga
transmitir de forma eficiente todas as informações sobre a temática debatida. Aqui é
importante lembrar que a sala de aula, onde esse gênero textual é mais recorrente, é um
ambiente diversificado social, cultural e linguisticamente. Cada professor, cada aluno, cada
funcionário carrega em si uma história de vida que construiu com base na cultura e costumes
sociais, históricos e linguísticos da sua família e da sua comunidade. O seminário, tanto
individual quanto o apresentado em grupos, é marcado pela história, pela cultura, pela
experiência de vida e conhecimento de mundo de cada sujeito participante, fatores esses que
influencia na elaboração dos discursos dos seminaristas.

Dessa forma, cada um dos sujeitos envolvidos no contexto educacional carrega um


repertório cultural convencionado pela troca de experiências entre os membros de sua
convivência. Um dos aspectos fortes dessas convenções é a questão linguística e a sua
diversidade. Segundo Gumperz (2002, p. 150)
A diversidade linguística funciona como um recurso comunicativo nas
interações verbais do dia-a-dia no sentido de que, numa conversa, os
interlocutores – para categorizar eventos, inferir intenções e aprender
expectativas sobre o que poderá ocorrer em seguida, - se baseiam em
conhecimentos e estereótipos relativos às diferentes maneiras de falar.

Esse repertório linguístico que cada sujeito constrói ao longo de sua existência é
fundamental à comunicação e à montagem de estratégias persuasivas durante o envolvimento
conversacional com outros sujeitos.

Para a manutenção da comunicação, cada falante, dentro de determinados enquadres,


se vale de pistas de contextualização levando sempre em conta que, segundo Gumperz (2002,
p. 151), “uma elocução pode ser entendida de várias maneiras e que as pessoas decidem
interpretar uma determinada elocução com base nas definições do que está acontecendo no
momento da interação”. Para este mesmo estudioso, de forma geral, as pistas de
contextualização são:

[...] constelações de traços presentes na estrutura de superfície das


mensagens que os falantes sinalizam e os ouvintes interpretam qual é
a atividade que está ocorrendo, como o conteúdo semântico deve ser
entendido e como cada oração se relaciona ao que se precede ou
sucede. [...] as pistas de contextualização são todos os traços
linguísticos que contribuem para a sinalização de pressupostos
contextuais[...] são portadoras de informação e os significados são
expressos como parte do processo interativo. (GUMPERZ (2002,
p.152).

Os falantes, quando do momento de interação, sinalizam certos traços que logo podem
ser interpretados ou não pelos ouvintes, dependendo do grau de convenções culturais,
históricas e, principalmente linguísticas, existentes entre ambos.

As convenções de contextualização permitem, ao participante ouvinte de uma


determinada interação linguística, o clareamento da força ilocucionária presente no discurso
do falante. Aqui reside um grande desafio para o apresentador do seminário. Ele precisa ter
conhecimento do que é convencional dentro do grupo para o qual ele ministra sua mensagem
educativa, sua exposição, e assim possa, segundo o que diz Perrenoud (2009, p. 25) que:
Ligar o desconhecido ao conhecido, o inédito ao já visto, está na base
de nossa relação cognitiva com o mundo; porém, a diferença está em
que, às vezes, a assimilação ocorre instantaneamente, a ponto de
parecer confundir-se com a própria percepção da situação, e outras
vezes, precisa-se de tempo e de esforços, ou seja, de um trabalho
mental, para apreender uma nova realidade e reduzi-la, ao menos em
certos aspectos e de maneira aproximativa, a problemas que se sabe
resolver.

Essa ligação do desconhecido ao conhecido é possível pela linguagem, pelos métodos


comunicativos, pela competência comunicativa de cada falante, enfim, pelo repertório que o
apresentador do seminário conseguiu acrescentar ao que ela já tinha, ao longo do processo de
preparação da apresentação.

Como já dito, o ambiente de sala de aula é diversificado e heterogêneo. São muitos os


fatores que precisam ser considerados pelo indivíduo para que haja a interação adequada entre
todos os membros participantes, de forma que haja a construção efetiva do conhecimento, e
que os alunos possam entender quais as verdadeiras intenções tanto do professor que propõe a
apresentação de gêneros orais no contexto de sala de aula, quanto a intenção dos alunos que se
propõem a apresentar.

Dessa forma, tanto professor, quanto alunos precisam considerar que a história e a
experiência comunicativa compartilhada facilitam a cooperação conversacional, e que a
multimodalidade do gênero seminário pode e deve funcionar como pistas de contextualização
para a compreensão da mensagem pretendida pelos falantes apresentadores de tal gênero.

Seminário: um gênero híbrido

Ao longo desse trabalho, vimos discutindo, além de outros fatores, a dinamicidade dos
gêneros textuais. Apesar de Bakhtin (2003) ter defendido a ideia de que os gêneros se
apresentarem com estruturas relativamente estáveis, há muito de variável e mesclável no que
diz respeito à composição interna de cada gênero. Segundo Marcuschi (2008), eles se
apresentam como estruturas dinâmicas que se modifica de acordo com as necessidades de
cada prática social. Eles se modificam conforme as intenções comunicativas do falante, de
acordo com cada situação conversacional.

O seminário é um desses. É um gênero textual que assume a característica de se


modificar a cada momento de apresentação. Por sua vez é dinâmico por que se adequa a cada
situação. Por ser dinâmico se modifica com muita frequência e incorpora novas formas de
comunicar e de significar e é composto, variavelmente, por inúmeros protótipos textuais, o
que nos permite dizer que se trata de um gênero hibrido.

Diz-se que hibrido é tudo aquilo que é composto pela mistura de dois ou mais
elementos diferentes. No que diz respeito ao texto, o hibridismo se caracteriza pela mistura de
gêneros textuais diferentes. Assim, o seminário, apesar de ser um gênero que se manifesta por
meios orais, onde se nota sempre um ou mais falantes expositores e uma plateia ouvinte, na
sua estruturação é há a recorrência de inúmeros gêneros tais como o resumo, a estrutura de
tópicos, a exposição oral, o debate, a imagem como gêneros não verbal, o roteiro, etc.

Assim, o seminário por ser hibrido, aparentemente infringe convenções estabelecidas e


caracteriza-se por apresentar uma estrutura em que há ruptura do convencional, do previsível,
a qual parece se manifestar no todo sob forma diversificada, em que se espera da audiência
uma “descoberta” de uma função social na apresentação que não está na superfície de sua
macroestrutura, mas está relacionada com as pequenas partes que o compõem. São essas
pequenas partes que dinamizam a apresentação do seminário e se constituem como discursos
diferentes que se juntam para a consolidação de um propósito comunicativo.

Conforme Dell´Isola (2014, p. 76),

[...] postula-se aqui que um gênero não é uma unidade autossuficiente


e autônoma em si mesma. Há sempre a interdependência entre texto e
discurso em que são estabelecidas relações entre gêneros já
produzidos e outros em processo de construção, sejam eles orais ou
escritos. Esse processo de retomada constitui um dos princípios
essenciais da própria sobrevivência textual como prática necessária à
existência das relações humanas. A busca de um referente textual pré-
existente faz parte da dinâmica constitutiva de cada um dos textos
com que interagimos diariamente. Desse modo, recriam-se sempre
novos textos, os quais podem se modificar, se transformar, sem nunca
deixarem de conter elementos de textos precedentes, seja de maneira
explícita ou implícita. Ao perderem contornos difusos, gêneros
híbridos estabilizam-se e novas formas híbridas surgem com seus
contornos difusos.

Os gêneros não são nem autônomos, nem autossuficientes. Eles sempre dependem de
outros para se estruturarem, para se consolidarem dentro da sociedade, e sempre estão
assumindo novas funções sociais, novas formas de dizer, novas maneiras de significar o
mundo e novas estruturas. Dessa forma, segundo Dell´Isola (2005), há um mover constante no
surgimento e desaparecimento de gêneros híbridos que se ajustam à atividade social e
intelectual da qual texto e discurso fazem parte, considerando que a sociedade é dinâmica,
diversificada e se modifica também, de forma constante. Dessa forma, os discursos e as
práticas sociais são um aglomerado de história e de formação cultural que não são fechados
em si, mas sujeitos a todas as alterações possíveis.

O seminário, como uma prática discursiva, envolve locutores e interlocutores que


possuem formações históricas e individuais que justificam e determinam as escolhas de como
montar um discurso de apresentação e não outra, as maneiras de montar os slides e não outra,
as maneiras de estruturar um roteiro e não outra, os gêneros que vão compor a apresentação.
O seminário é uso dinâmico da linguagem e é composto por sujeitos do discurso. Não há
linguagem sem sujeitos e não há sujeitos sem história, sem crenças, sem individualidades,
sem formação ideológica.

O discurso é uma junção de todos esses fatores. Da dinamicidade da língua e da


multiplicidade de aspectos relacionados à formação de cada indivíduo. O discurso se
materializa pela palavra, mas está aquém e além dela. Discurso, entendido em seu sentido
etimológico, como diz Orlandi (2001), é curso, é percurso, é a palavra em movimento. Mas
também é o pensamento em movimento, é a história em movimento, é a ideologia em
movimento, é o homem em movimento, visto que só ele é capaz de falar e produzir
enunciados inteligíveis.

Assim, como já discutido até aqui, na sua composição, o seminário, é multimodal no


sentido de que é estruturado a partir de variados meios de linguagem, é hibrido por se compor
de diversos outros gêneros em seu interior, e é um gênero conversacional. Uma vez que
envolve práticas discursivas diversas e compreende todos os princípios enunciativos.

CONCLUSÃO

Aqui é importante relembrar que a sociedade dinâmica como se apresenta, a cada


passo necessita também de ferramentas dinâmicas para a efetivação do diálogo e essas
ferramentas são os gêneros textuais, os quais apresentamos como essenciais à comunicação
humana. Cada situação de comunicação requer um gênero textual diferente, uma postura
diferente no que diz respeito à linguagem e à forma de comunicar as questões do cotidiano.
Assim, não é possível pensar a linguagem sem a presença dos gêneros textuais. Seja para
dialogar, para argumentar, para receitar, para informar, para narrar, recitar ou qualquer outra
ação de comunicação, os gêneros textuais estão presentes. Eles são dinâmicos e dinamizam a
interação entre os seres humanos.
Apesar da multiplicidade de gêneros textuais existentes na sociedade, escolhemos o
gêneros textual seminário como técnica para o ensino da comunicação oral e da
argumentação. Apresentamos o seminário como uma técnica dinâmica de ensino. Dinâmica
por se tratar de um gênero multimodal, que se estrutura com o apoio de variados meios
semiótico desde a palavra até imagem e o som; hibrido, por que comporta diversos outros
gêneros em sua composição e conversacional, pois se trata de um gênero textual que se
fundamenta essencialmente em produções orais em que é imprescindível a presença de um ou
mais falantes e de um ou mais ouvintes.

Aliás, quero me aproveitar das ideias de Rodrigues (2016) que, considerando sobre o
significado da palavra seminário, afirma ter vindo do latim, seminarius, e significa viveiro de
plantas onde se coloca a semente e favorece a germinação. Dessa maneira, a palavra já nos
serve de metáfora para a principal função desse gênero, que é a de semear ideias, semear
conhecimentos, semear ação solidária, o respeito à voz do outro, esperando-se sempre colher
frutos para vida inteira.

REFERÊNCIAS
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