MANGO, Cyril (2008) - Bizâncio.. o Império Da Nova Roma (OCR)
MANGO, Cyril (2008) - Bizâncio.. o Império Da Nova Roma (OCR)
MANGO, Cyril (2008) - Bizâncio.. o Império Da Nova Roma (OCR)
O IMPÉRIO
DA NOVA ROMA
Título original:
By::an1i11m
Tradução:
Da Introdução ao capítulo VII: Vãnia Rodrigues I CEQO
Restantes capítulos: Alexandra Morais I CEQO
Capa de FBA
Ilustração da capa:
Pormenor de mosaico bizantino. numa igreja da Turquia
O Corbis/VMI
ISBN: 978-972-44-1492-8
www.edicoes70.pt
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no todo ou cm parte, qualquer que seja o modo utilizado,
incluindo fotocópia e xerocópia, sem prévia autorização do Editor.
Qualquer transgressão à lei dos Direitos de Autor sera passível
de procedimento judicial.
CYRILMANGO
BIZÂNCIO
O IMPÉRIO
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Prefácio
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Introdução
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INTRODUÇÃO
expansão árabe, cerca de trinta anos mais tarde - uma série de reveses que
privaram o Império de algumas das suas províncias mais prósperas,
nomeadamente, a Síria, a Palestina, o Egipto, e, mais tarde, o Norte de
África-, reduzindo-o, assim, a menos de metade da sua dimensão origi-
nal, não só em termos de área, mas também de população. Não obstante,
uma leitura das fontes desta narrativa dá-nos apenas uma vaga ideia das
profundas transformações que acompanharam esses acontecimentos.
Os vestígios arqueológicos de um grande número de sítios terão de ser
considerados para se compreender a magnitude do colapso. Para as terras
bizantinas esse colapso marcou o fim de um modo de vida - a civilização
urbana da Antiguidade - e o início de um mundo medieval muito parti-
cular e distinto. Deste modo, de alguma forma, a catástrofe do século VII
é o acontecimento central da história bizantina. Tal como a Europa
Ocidental fora dominada durante a Idade Média pela sombra da
Roma imperial, também a miragem do império cristão de Constantino,
Teodósio e Justiniano permanecera para Bizâncio como um ideal a atingir
arduamente, mas que nunca seria alcançado. A natureza do aspecto
retrógrado da civilização bizantina deve-se, em grande parte, a estas
circunstâncias.
Se o Período Inicial bizantino pode ser descrito como um equilíbrio
entre duas grandes potências, o Período Médio poder-se-á comparar a um
triângulo, com um lado mais comprido (o Islão) e dois lados mais curtos
(Bizâncio e Europa Ocidental, respectivamente). O mundo do Islão rece-
beu a herança de Roma, mas também a da Pérsia, e, reunindo num vasto
«mercado comum» uma área que se estendia desde Espanha até aos
confins da Índia, produziu uma civilização urbana dotada de uma vitali-
dade extraordinária. O Império Bizantino, apesar de excluído das maiores
rotas de comércio internacional, e constantemente hostilizado pelos seus
inimigos, foi, ainda assim, capaz de mostrar uma grande dinâmica e
recuperar muito do seu território perdido. Mas agora, tinha de olhar numa
direcção diferente - não tanto para as «terras clássicas», mas sobretudo
para o Norte e para o Ocidente bárbaros: os Balcãs, agora povoados pelos
Eslavos e outros povos recém-chegados, o Estado Chazar (península da
Crimeia) e a costa norte do mar Negro, e, além disso, o que no século IX
se tornara o Estado da Rússia. Novas perspectivas estavam, pois, abertas,
e a influência bizantina, pautada pela actividade missionária, irradiou até
à Morávia e ao Báltico. Em síntese, é aqui que residem, numa perspectiva
histórica mais ampla, os aspectos centrais do Período Médio bizantino.
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MAR MEDITERRÂNEO
Conquistas de Justiniano
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PERSA
Mazices
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INTRODUÇÃO
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não tem textos suficientes para ler; pelo contrário, tem até demasiados. No
entanto, estes textos apresentam, estranhamente, uma qualidade opaca, e
quanto mais elegante o seu registo, mais opacos se tomam. Não quer isto
dizer que nos informam erradamente - pelo contrário, os historiadores e
os cronistas bizantinos têm um registo razoavelmente bom para que se
possa atestar a veracidade dos relatos. Os textos oferecem-nos uma pelí-
cula exterior dos acontecimentos públicos; porém, é em vão que olhamos
em busca do conhecimento do que era a vida na realidade, oculta no
interior. Se nos voltarmos para a epistolografia, um género que foi assi-
duamente cultivado durante a existência do Império, ficaremos ainda mais
desapontados: em vez de observações pessoais, são-nos oferecidos chavões
eruditos. Apenas em raras ocasiões a cortina se levanta, e isto por autores
relativamente pouco cultos. Alguns escritos sobre as vidas de santos, que
escaparam aos retoques estilísticos levados a cabo por Simeão Meta-
frastes no século X, cederam àquela categoria; assim como algumas
paterica (compilações de histórias sobre monges) e alguns textos
heterogéneos, como o Strategicon de Cecaumeno (século XI). Em alguns
momentos, somos colocados perante a vida real numa aldeia na Galácia,
no deserto egípcio, ou na propriedade de um senhor no centro da Grécia.
Todavia, em todo o enorme volume da literatura bizantina, a realidade foi
distorcida. Falar-se-á um pouco mais sobre este assunto no capítulo 13.
Para o historiador da civilização bizantina, o carácter limitado deste
material escrito apresenta graves implicações. Pensa-se que o único meio
de ultrapassar estas consequências reside no estudo das ruínas, ou, por
outras.palavras, na arqueologia. De resto, fez-se ainda muito pouco a este
respeito. É verdade que muitas cidades clássicas foram escavadas nas
províncias a leste, e muitas delas exibem um padrão contínuo de ocupação
até ao início do século Vll. Estamos, portanto, bem informados no que diz
respeito aos cenários materiais da vida urbana durante o Período Inicial
bizantino, ainda que uma grande quantidade de aspectos permaneçam por
se conhecer. Os locais em questão revelam habitualmente uma ruptura
dramática no século VII, por vezes na forma de uma redução drástica,
outras por abandono virtual. Mas o que se seguiu? O nosso conhecimento
dos Períodos Médio e Tardio bizantinos é ainda muito escasso. Os únicos
monumentos que sobreviveram em número considerável, e têm sido
objecto de estudo sistemático, são as igrejas. No entanto, essas constru-
ções têm sido estudadas por historiadores de arte, cujo método e aborda-
gem (embora, sem dúvida, de interesse para outros historiadores de arte)
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INTRODUÇÃO
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apenas tiveram uma pequena participação nas questões sociais, não exer-
cendo geralmente uma influência de relevo no pensamento comum.
Na última folha do tríptico, tentámos descrever o que Bizâncio nos
legou. Colocando de parte, devido à sua natureza sobejamente técnica, os
temas da lei e da teologia bizantinas. limitámo-nos apenas à literatura e à
arte. O que quer que a civilização bizantina tenha sido na sua época. é com
base na sua expressão artística e literária que emerge. por fim. a nossa
apreciação.
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Parte I
Povos e Línguas
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Teria sido suficiente para o nosso viajante imaginário, desde que não
se afastasse das cidades, saber duas línguas, nomeadamente, o grego e o
latim. As fronteiras da sua respectiva difusão não foram bem definidas em
todos os lugares. No entanto, pode dizer-se, como um cálculo aproxi-
mado, que a fronteira linguística percorre a península Balcânica ao longo
de uma orientação no sentido este-oeste, nomeadamente, de Odessos
(Varna), no mar Negro, até Dirráquio (Dürres) no Adriático; enquanto a
sul do Mediterrâneo, a fronteira separava a Líbia da Tripolitânia. Com
excepção das terras balcânicas, onde existia uma união razoável, a metade
ocidental do Império era substancialmente latina e a metade oriental fun-
damentalmente grega. na medida em que foram estas as línguas da admi-
nistração e da cultura.
Quase todas as pessoas instruídas do Oriente sabiam falar grego,
assim como todas as pessoas instruídas do Ocidente sabiam falar latim.
Porém, uma grande parte da população comum não sabia falar nenhuma
dessas línguas.
O nosso viajante teria tido uma grande dificuldade em conseguir um
roteiro actualizado. Poderia ter deitado a mão a um simples catálogo de
províncias e cidades chamadas Synecdemus de Hiérocles ( 1 ), tal como
alguns itinerários mais antigos que informavam as distâncias entre as
albergarias que poderia encontrar ao longo das estradas principais. Pode-
ria ter retirado informação útil, embora antiquada, a partir de um pequeno
livro conhecido por nós pelo nome de Expositio totius mundi e gentium (2).
que foi composto em meados do século IV. Mas se quisesse um guia mais
sistemático, combinando geografia e etnografia, teria de trazer na mala
um exemplar da Geografia de Estrabão, Se tivesse conseguido encontrar
o guia geográfico (agora perdido) da autoria do mercador alexandrino
Cosmas lndicopleustes ( 1 ), provavelmente teria tirado dele poucas vanta-
gens a nível prático. Imaginemos que o nosso viajante estava satisfeito
com tal imperfeita documentação e que, partindo de Constantinopla. tinha
intenção de viajar por toda a Europa, na direcção dos ponteiros do relógio.
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Povos E LINGUAS
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Grego
t·······•·.ill
.~::;::;::,1i
•.. , .., .... Grego e autóctone
- Latim e autóctone
m1m1m1m1m Aramaico
~Copta
- Caucasiano
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também uma colónia bastante grande de Sírios como se pode deduzir pela
prevalência da heresia monofisita (ver capítulo 4). Santo Epifânio, o
bispo mais famoso de Salamina (falecido em 403), era palestiniano e
diz-se que sabia cinco línguas - grego, siríaco, hebraico, egípcio e latim (9).
Um exagero talvez, mas, ainda assim, um indício do multilinguismo que
caracterizava, como ainda o faz, os mais empreendedores entre os
Levantinos.
Separada da Palestina por uma área deserta, estende-se a rica e antiga
terra do Egipto. Aqui, também, a disseminação do grego era um legado
directo da era helénica. A capital, Alexandria, era uma cidade predomi-
nantemente grega, mas oficialmente descrita como sendo ad Aegyptum,
não in Aegypto, uma intromissão num país desconhecido; e para quanto
mais longe de Alexandria se viajasse, menos grego se falava. À excepção
da capital, apenas duas cidades haviam sido fundadas pelos Gregos,
Naucrátis no Delta e Ptolemars na Tebaida; nem a helenização teve grande
progresso sob a administração romana. Não contando com a colónia
judaica, que no século I d.C. diz-se ter contado com cerca de um milhão
de pessoas, a maior parte da população, embora fosse administrada em
grego, continuava a falar egípcio (copta), e existem sinais de que no
Período Inicial bizantino o copta ganhava terreno, pelo que, no século VI,
até alguns actos oficiais eram publicados na língua autóctone. Acima de
tudo, o copta era a língua oficial do cristianismo egípcio, enquanto o grego
se identificava com a hierarquia estrangeira imposta pelo governo imperial.
A parte do Egipto colonizada, que estava praticamente limitada ao
vale do Nilo e ao Delta, via-se ameaçada em todas as suas frentes pelas
tribos bárbaras. Do Leste vinham os saqueadores sarracenos; no Sul os
Nobadae e Blémios negros eram particularmente problemáticos, enquanto
o Ocidente estava aberto a incursões berberes, assim como a Líbia, uma
província administrativamente associada ao Egipto. São Daniel, um
monge de Scetis, não muito longe de Alexandria, foi raptado pelos bárba-
ros três vezes e conseguiu escapar, somente após matar o raptor - um
crime pelo qual cumpriu pena durante o resto da vida ( 10). Quando, na
segunda metade do século VI, o monge itinerante João Moscho visitou
os mosteiros egípcios, contou muitas histórias de depredação de bárbaros
e de salteadores nativos. Alguns mosteiros estavam praticamente
desertos ( 11 ).
Com a Líbia chegamos ao limite das províncias de língua grega. Mais
a oeste fica a Tripolitânia, uma faixa costeira estreita, e depois as regiões
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impressos e são uma mina de informação útil, menciona apenas uma vez
a existência da língua siríaca. No entanto. é um facto incontestável que a
Antioquia, onde se falava grego, era uma ilha num mar de siríaco. Autores
eruditos simplesmente não repararam em tal fenómeno <,desconcertante».
Nem as inscrições são muito mais elucidativas. Quem quer que tenha
feito uma inscrição, mesmo numa lápide, usou naturalmente a língua de
«prestígio» da zona. Além disso, muitos dialectos vernáculos não eram
escritos. É em grande parte entre os monges que somos confrontados,
ocasionalmente, com o povo iletrado, permitindo-nos ter uma vaga ideia
de como falavam. Como seria de esperar, tinham a sua língua autóctone
- o patois. Daí o hábito de implantar os mosteiros «nacionais». No entanto,
outros eram multilingues: «Aqueles Que não Dormem» (Akoimetoi)
estava dividido em quatro grupos por língua - latim, grego, siríaco e
copta(16). No mosteiro fundado por São Teodósio, o Cenobiarca, na
Palestina, reinava o grego, o béssico e o arménio ( 17). No monte Sinai, no
século Vl, ouvia-se falar latim, grego, siríaco, copta e béssico ( 18). Em 518
o abade de um mosteiro em Constantinopla não pôde assinar o seu nome
numa petição porque não sabia grego ( 19). Exemplos semelhantes
facilmente se multiplicaram.
O nosso levantamento teria sido muito mais informativo se tivéssemos
sido capazes de exprimir em números a importância relativa dos vários
povos. Infelizmente, não temos números certos à nossa disposição, tal
como já referimos na Introdução do presente estudo. Um escolástico de
relevo aventurou-se, no entanto, a contrariar a ideia de que o Império
de Justiniano, incluindo as províncias ocidentais reconquistadas, não teria
mais de trinta milhões de habitantes (20). Não levando em conta as perdas
causadas pela grande peste de 542, esta estimativa parece-nos demasiado
baixa: podemos estar mais perto da verdade postulando trinta milhões na
metade oriental do Império. Aproximadamente, a distribuição teria sido a
seguinte: oito milhões no Egipto, nove milhões na Síria, Palestina e
Mesopotâmia, conjuntamente, dez milhões na Ásia Menor, e três a quatro
milhões nos Balcãs. Se estes números estiverem perto da realidade, os
falantes autóctones do grego representariam menos de um terço da popu-
lação total, digamos oito milhões, abrindo-se concessões para os povos
não assimilados da Ásia Menor e para os falantes do latim e do trácio
dos Balcãs. O grego, o copta e o aramaico teriam estado, assim, em pé
de igualdade. Comparada com o crescimento do latim na Gália e em
Espanha, dever-se-á presumir que a língua grega terá tido uma evolução
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limitada entre o século III a.C. e o século VI d.C. Esta situação deveu-se,
sem dúvida, ao facto de a helenização se ter centrado, em grande medida,
nas cidades. Cerca de um século depois da conquista árabe, o grego foi
praticamente extinto, tanto na Síria como no Egipto, o que só pode querer
dizer que não teria criado fortes raízes.
Outra observação poderá ser feita com base no nosso levantamento,
nomeadamente, o facto de apesar da crescente insegurança em quase
todas as partes do Império, muitos dos súbditos de Justiniano viviam
ainda nas suas terras de origem tradicionais. A diáspora dos Gregos, dos
Judeus e, a um menor grau, dos Sírios, acontecera alguns séculos antes.
Do ponto de vista etnográfico, assim como em muitos outros aspectos, a
era justiniana representa, portanto, o final da Antiguidade.
Seria maçador descrever todas as mudanças etnográficas que o
Império testemunhou depois do século VI, mas devemos mencionar e
comentar aquela que representou a maior mutação de todas, que teve
início algumas décadas depois da morte de Justiniano. O primeiro sinal
fez-se sentir com a instalação em massa de Eslavos na península Balcâ-
nica. Com efeito, vieram várias vagas de Eslavos e, ao contrário de inva-
sores anteriores, estes vieram para ficar. Num passo muito citado de João
de Amida (também conhecido por João de Éfeso), regista-se que em 581
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Capítulo 2
Sociedade e Economia
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homens (9). Contudo, este valor, não inclui os limitanei, pelo que poderá
eventualmente representar antes um aumento em vez de uma diminuição.
Simultaneamente, devemo-nos lembrar que uma força expedicionária
tinha normalmente entre dez mil e vinte e cinco mil homens, e um exército
de cerca de cinquenta mil, como aquele que eventualmente terá sido
accionado contra a Pérsia, era consideravelmente grande.
O serviço militar era uma ocupação para toda a vida e, supostamente,
bem remunerada. Ainda assim, não havia muito entusiasmo entre as
camadas mais civilizadas do Império, sendo a evasão generalizada. Na
altura do reinado de Justiniano, o recrutamento havia-se tornado volun-
tário e dependia em grande parte das províncias mais vigorosas, como a
llíria, a Trácia e a lsáuria, onde a vida militar era já tradicional. Também
se utilizavam muito os bárbaros, tais como os Godos, os Hunos e os Citas,
que ou haviam sido «criados em casa», ou tirados de tribos fronteiriças
aliadas ao Império (foederati). Contudo, a lealdade destes últimos nem
sempre podia ser tida como certa.
No Período Inicial os comandos militar e civil estavam geralmente
separados, embora na segunda metade do século VI se tivessem começado
a fundir em algumas províncias mais inseguras (particularmente em
África e na Itália). Havia, assim, uma hierarquia nas tropas do exército,
culminando em vários magistri militum, bem como uma hierarquia civil
preocupada com a justiça, com as finanças e com o funcionamento de
vários serviços, tais como os postos públicos (cursus publicus), o Estado
policial e o serviço secreto (magistriani ou agentes in rebus), entre outros.
A administração das províncias estava nas mãos dos chefes de prefeitura
pretorianos, agora destituídos da autoridade militar que detinham anterior-
mente, havendo descido a vicarii das dioceses e governadores das provín-
cias. Constantinopla, como Roma, tinha uma administração separada sob
a alçada de prefeitos urbanos. Dever-se-á referir que, enquanto os escalões
médio e baixo dos funcionários do Estado gozavam da segurança que lhes
conferia o título de posse, ao ponto da efectiva irremovibilidade, os ofi-
ciais superiores possuíam esse benefício apenas por um breve período de
tempo.
Alguns historiadores têm falado de um estrangulamento burocrático
do Império Romano Tardio, no entanto, pelos padrões modernos, o
número mínimo de funcionários do Estado era reduzido: calcula-se que ao
todo não haveria mais de trinta mil a quarenta mil no Oriente e no Oci-
·1 dente, conjuntamente (400 d.C.). A razão traduz-se pelo facto de serem as
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circulavam, mas nenhuma foi emitida em prata até ao século VII. Os trocos
eram de cobre e, depois da reforma do imperador Anastásio em 498,
normalmente vinham em denominações de 5, 10, 20 e 40 nummi, tendo a
última sido conhecida por Jollis. A relação entre o ouro e o cobre estava
sujeita a flutuações, mas, na teoria, um soldo era o equivalente a 180 folies
ou 7200 nummi. A falta de denominações intermédias entre o [ollis e o
tremissis poderá espantar o observador moderno, por isso lhe parecer algo
inconveniente. Visto que a cunhagem era fixada de acordo com o valor do
ouro-padrão, os preços e os soldos permaneciam notavelmente estáveis,
excepto em tempos de crise causada pelas secas, por ataques de inimigos
ou por outras calamidades - de facto, assim foi desde o século IV até ao
século XI, altura em que o soldo começou a ser adulterado.
A informação que temos sobre a dimensão das fortunas pessoais,
sobre os rendimentos, sobre o custo dos bens essenciais e dos luxos, sobre
os preços pagos pelos animais das quintas, assim como pelos escravos
levar-nos-á a algumas conclusões óbvias. Primeiro, existia uma dispari-
dade abissal entre os ricos e os pobres. Segundo, o serviço no governo
normalmente levava a riquezas consideráveis. Terceiro, terá havido um
grande número de pessoas a viver a um nível de subsistência básica, dado
que os operários não especializados e aqueles com apenas uma especia-
lização média eram muito mal remunerados. Quarto, o preço dos artigos
manufacturados, especialmente o vestuário, era comparativamente muito
elevado. Se começarmos pela base da escala social, existem provas razoa-
velmente coerentes de que os rendimentos de um trabalhador rural ou de
um operário semiespecializado rondavam os dez a vinte soldos por ano,
tendo-se em consideração um emprego estável. No final do século IV, São
Gregório de Nissa, que desejava construir uma igreja, recebera uma
equipa de trabalhadores a um terço de soldo por dia mais refeições, um
valor que considerara exorbitante <2º). No século VI, em Jerusalém, um
trabalhador da construção recebia um vigésimo de soldo por dia, isto é,
nove folies (21 ). No início do século VII, um trabalhador comum em
Alexandria recebia aproximadamente o mesmo salário, isto é, vinte e
quatro avos de soldo (22). Quando o imperador Anastásio construíra a
cidade de Dara na Mesopotâmia, como base estratégica contra os Persas
(505-507), oferecera salários excepcionalmente elevados aos pedreiros,
nomeadamente um sexto de soldo por dia, ou um terço para trabalhadores
com o seu próprio burro, levando a que «muitos se tivessem tornado ricos
e abastados» (23). Por seu lado, o preço de um escravo sem qualificações
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É verdade que, após Zótico ter sido destituído, a carreira de João sofreu
um retrocesso. No entanto, permanecera ainda por mais quatro anos na
Prefeitura, chegando ao topo da sua classe e retirando-se com o título de
Conde, de Primeira Classe. Trata-se de um caso interessante, não só do
ponto de vista do que seriam os rendimentos de um oficial, mas também
da importância do patronato e dos laços geográficos.
Infelizmente, não sabemos quase nada sobre os rendimentos da classe
média urbana. Falando de Antioquia, São João Crisóstomo diz que um
décimo da população era rica e outro décimo completamente indi-
gente (32). Não devemos julgar estes valores pelo aspecto exterior, pois o
próprio orador os contradiz na frase seguinte. O número de destituídos,
aqueles inteiramente dependentes da caridade de terceiros, seria prova-
velmente abaixo dos dez por cento, a haver alguma verdade no teste-
munho acima citado que dá conta da existência de sete mil e quinhentos
pedintes ao cuidado da Igreja de Alexandria, bem abaixo dos cinco por
cento da população da cidade. Também não se poderá concluir que oitenta
por cento dos habitantes de Antioquia viviam bem. Já se referiu o modo
como os trabalhadores braçais eram extremamente pobres, e o mesmo se
poderia dizer, sem dúvida, acerca das outras ocupações mais humildes,
tais como os vendedores ambulantes e retalhistas. Os artesãos - normal-
mente organizados em associações, e classificados a um nível social
superior relativamente aos retalhistas -, bem como alguns comerciantes,
como os joalheiros e os cambistas (argyropratês), podiam ascender a
lucros substanciais; mas, embora existam longas listas de ocupações urba-
nas, não é possível organizá-las numa ordem ascendente. A impressão
geral quanto aos rendimentos é a de que os comerciantes e os artesãos não
estariam numa posição em que se ganhasse muito dinheiro. Um homem
pertencente a estas classes poderia aspirar a ter a sua própria casa, com-
prar um escravo, ter uma cama com cobertores e alguns vasos de bronze.
A posse destes itens, que eram muitas vezes adquiridos à custa de se
fazerem rigorosas economias nos bens essenciais, definia o seu estatuto
(schêma) (33).
Pensando-se em ocupações que pudessem revelar o nível de riqueza,
a de mercador vir-nos-á imediatamente à mente. O Expositio totius mundi
do século IV apresenta um retrato justo da actividade comercial. Diz-se
que na Mesopotâmia Nísibis e Edessa eram cidades ricas, porque o
comércio persa se canalizava através delas. Na Síria, os portos de Tiro e
de Laodiceia eram particularmente prósperos. Áscalon e Gaza, na Pales-
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mento, e que, por sua vez, implicaria também uma maior burocracia. Em
resultado das reformas de Diocleciano, o funcionalismo invadiu o mundo
romano, pelo que no século lV já se poderia afirmar que o número de
beneficiários excedia o de contribuintes (40) (embora sem dúvida que com
um exagero considerável). No entanto, como todos sabemos, a burocracia
gera a sua própria cinética e os impostos têm tendência para subir e não
para descer. Não se poderá negar o facto de que, a partir do século IV,
as terras estavam a ser cada vez menos cultivadas e os impostos terão
sido, provavelmente, a principal razão de tal acontecer. À medida que os
lucros daí provenientes diminuíam, os funcionários do Estado, munidos
dos seus cadernos de registos, não tinham outra alternativa senão aplicar
mais medidas repressivas: todos, desde o mais humilde colono ao
decurião, tinham de ser mantidos no seu lugar. Porém, as engrenagens do
governo encalhariam lentamente: como as distâncias eram grandes havia
bastante margem de manobra para a fraude e a evasão. A figura do patrão,
o «fixador», o homem influente, tomou-se, pois, o centro das atenções,
tanto assim que até o culto aos santos cristãos passara a ser visualizado em
termos de patronato, como iremos ver no último capítulo. Já mencioná-
mos o caso de Jacob, o viajante e vendedor judeu. Existe uma continuação
à sua história. Quando o patrão de Jacob, em Constantinopla, soubera que
havia sido defraudado, o que fez? Teria recorrido à lei? Não, de todo. Fora
antes ao encontro do seu protector, um camareiro no palácio imperial, e
este enviara «o seu próprio homem» a Cartago para prender Jacob que,
entretanto, havia abraçado o cristianismo (41 ).
A rigidez da estrutura social e económica do Período Inicial bizantino
podia sempre ser contornada por vias desonestas. Independentemente do
que as leis impusessem (e não há razão para pensar que fossem sistema-
ticamente aplicadas), um homem de recursos encontrava normalmente
uma maneira de as contornar e de continuar a sua vida. Existiam, natu-
ralmente, meios de ascensão social reconhecidos, especialmente no
exército e na função pública. Vários são os exemplos de soldados que
subiram a outros postosde comando, e até mesmo ao trono imperial, bem
como de filhos de fabricantes de salsichas que se tomariam grandes
ministros de Estado. E uma vez constituída a fortuna, esta tendia a per-
manecer na família durante várias gerações, a não ser que fosse confis-
cada. Embora não houvesse uma aristocracia hereditária institucionali-
zada, o funcionalismo trazia dinheiro que permitia assegurar os cargos
de governo. Porém, havia ainda outras formas de mobilidade social.
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O herético Aécio, do século IV, terá começado a sua vida como colono
numa vinha. Mais tarde, conseguira ascender a ferreiro, sendo depois
preso por fraude. Aprendera a medicina dos curandeiros charlatães e,
posteriormente, surgira como físico através dos seus próprios recursos,
chamara a atenção de César Galo (irmão de Juliano) e acabara como
teólogo famoso (42). A história poderá bem ser maliciosa, mas demonstra
o modo como este tipo de percurso era possível. Assim, poder-se-á des-
crever a estrutura social do Período Inicial bizantino como se caracte-
rizando por uma rigidez severa temperada com uma dose de evasão.
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nários públicos eram superiores aos que não detinham nenhuma posição
na hierarquia do governo. Existia. portanto, nas zonas rurais bizantinas,
uma hierarquia social complexa; e embora fosse possível que um indiví-
duo comum subisse na pirâmide social através do seu trabalho, essa
ascensão não era bem-vista. Os imperadores ordenaram que qualquer
pessoa humilde que, «de forma misteriosa». houvesse ascendido a uma
posição de topo seria imediatamente destituída. regressando ao seu esta-
tuto original. Um exemplo particular foi o de um tal Philokales que,
havendo começado como camponês, ascendera ao posto de prôtovestiarios,
conseguindo, assim, adquirir todas as terras da comunidade em que vivia.
Porém, não só fora destituído, como as esplêndidas casas que havia cons-
truído para si foram arrasadas. O engenhoso Philokales terá recuperado do
golpe, tendo em conta que o seu nome fora ostentado por uma família
muito importante dos séculos XI e XII.
A preocupação do governo imperial em reprimir «a ganância insaciá-
vel» dos poderosos prendia-se, por um lado, com razões militares e, por
outro, com razões fiscais. Com efeito, o serviço no exército estava por
essa altura (não sabemos exactarnente a partir de quando) dependente da
posse de terras que valessem, no mínimo, quatro libras em ouro, e assim
continuou até ao reinado de Nicéforo li Focas, que ordenou a subida desse
valor para doze libras, devido à introdução de equipamento bélico mais
pesado (62). Claramente, o exército teria ficado sem efectivos se os solda-
dos-agricultores fossem forçados a vender as suas propriedades. As consi-
derações relacionadas com a questão fiscal não são tão óbvias, uma
vez que as terras inseridas nos registos fiscais teriam provavelmente
mantido o mesmo estatuto independentemente de os seus proprietários
serem pobres ou ricos. Ao que parece, pressupunha-se implicitamente que
enquanto os pobres tinham forçosamente de pagar os seus impostos, os
ricos tinham meios de os evitar. A concessão de imunidades (exkousseia),
que se sabe ter existido antes do século x, e que se tornara mais frequente
nos séculos XI e XII, estava provavelmente entre os meios de evasão
disponíveis para pessoas influentes. Imunidades de impostos parciais ou
totais, aplicáveis tanto às terras como aos rendeiros, eram muitas vezes
concedidas aos mosteiros e aos estabelecimentos de caridade, bem como
a determinados indivíduos como recompensa de serviços prestados ao
Estado e, possivelmente, com base nas suas ligações pessoais. Além disso,
os inspectores do Tesouro eram receptivos a subornos, e até os juízes
provinciais, «mais por necessidade do que por inclinação», poderiam ser
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João II, no que diz respeito às suas províncias a sudeste. Com efeito, ela
veio a ocorrer na década de 1080, e até mais tarde, quando o Chipre,
algumas partes da Ásia Menor Ocidental e, finalmente, Trebizonda se
desanexaram. É talvez surpreendente que o Estado comneno tenha
conseguido sobreviver durante um século, e até alimentado sonhos de
glória. Conseguiu-o pelo facto de se ter tornado, em grande medida. uma
questão de família. Aleixo I e os seus sucessores purgaram a velha aris-
tocracia e rodearam-se dos seus parentes de sangue e de casamento, cujos
títulos recentemente inventados reflectiam o seu grau de parentesco
relativamente ao imperador em funções, sendo que também recebiam
grandes concessões de terras e isenção de impostos. A reforma comnena
marca a última importante transformação da sociedade bizantina: os
Paleólogos deram continuidade ao que os Comnenos haviam feito, mas
em escala menor.
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Capítulo 3
O Desaparecimento e o Renascimento
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Crisóstomo, «e toda a gente está sentada nas filas de cima. Muitas vezes
o próprio tecto está de tal forma coberto de homens, que não se conse-
guem ver nem as telhas, nem as lajes de pedra - nada se vê para além de
cabeças e corpos» (5). Sabemos muito pouco acerca do conteúdo das
representações dado que, ainda que algumas peças novas pudessem ter
sido escritas nesse tempo, nenhuma sobreviveu. No entanto, sabemos que
algumas eram do tipo tradicional: eram representadas com máscaras e
incluíam personagens fictícias, tais como reis, generais, médicos e sofis-
tas. De modo a demarcar a sua própria moralidade, João Crisóstomo
sublinha o facto de os actores pertencerem à arraia-miúda - possivelmente
enroladores de cordas, vendedores de legumes ou até mesmo escravos (6).
E havia também a pantomima que envolvia a dança e a música e, ao que
parece, ocasionalmente alguma nudez: «Quando vos sentais num teatro e
arregalais os olhos para os membros desnudados das mulheres, ficais
deliciados durante algum tempo. Mas, depois, que febre violenta haveis
espoletado! Havendo por uma vez enchido as vossas cabeças com aquelas
visões e com as canções que as acompanham, ficais a pensar nelas mesmo
nos vossos sonhos» (7). Se ao menos, suspira o nosso pregador, fosse
possível abolir o teatro! Era a fonte da desordem civil, do adultério, da
feitiçaria, e da desgraça para as mulheres. Mas já que o teatro não podia
ser abolido, seria, pelo menos, possível evitá-lo (8). Manifestamente, fora
o Diabo quem construíra os teatros nas cidades. As pessoas abandonavam
inclusivamente as suas lojas e negócios para irem ao teatro, e, quando os
actores diziam algo indecente, o público, insensatamente, ria-se em vez de
os apedrejar. «Vós preferíeis não ver uma mulher nua no mercado, ou até
mesmo em vossa casa, no entanto, correis avidamente para o teatro. Que
diferença faz a mulher que se despe ser uma prostituta? Tem o mesmo
corpo que o de uma mulher livre. Por que razão é tal permitido quando
estamos em comunidade e vergonhoso quando estamos sozinhos? Na
verdade, seria melhor colocarmos a cara na lama do que assistir a tais
espectáculos» (9).
Os historiadores têm cegamente seguido os Padres da Igreja, denun-
ciando a libertinagem vergonhosa que caracterizava o teatro do Período
Tardio antigo. Por muito indecentes que fossem as representações (ainda i
que, à luz dos nossos padrões modernos, terão talvez sido relativamente 1
inócuas), importa destacar que os padres viam no teatro um concorrente i
perigoso: roubava-lhes a clientela e era um sorvedouro de dinheiro que, i
de outro modo, talvez pudesse ir parar aos cofres da igreja. As acusações !
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estavam a cultivar as suas terras fora das muralhas. No início do século IX,
o clérigo, ao qua\ fora confiada a distribuição de caridade pelos pobres,
recebia por este propósito uma recompensa de três porcos - dificilmente
um sina\ de uma economia urbana desenvolvida (29). A cidade de Filipos,
a \este de Tessa\onica, parece ter sido abandonada: não existe. em todo o
caso, nenhum vestígio de qualquer actividade até à segunda metade do
século x.
De particular importância para a nossa investigação é o destino das
cidades da Ásia Menor. Expressou-se incredulidade perante a declara-
ção do geógrafo árabe Ibn Khordâdhbeh (e. 840), referindo que no seu
tempo havia apenas cinco cidades na Ásia Menor, a saber, Éfeso. Niceia,
Amorium, Ancira e Samala (?), bem como um número considerável de
fortes (3º). Contudo, podemos agora verificar que provavelmente não
estaria muito longe da verdade. Vejamos alguns exemplos. Na Bitínia, a
província asiática mais próxima de Constantinopla, apenas Niceia parece
ter sobrevivido. Nicomédia, outrora uma grande capital do Império, jaz
em ruínas no século IX. Cízico, a capital da província do Helesponto e
uma cidade importante no período imperial romano, fora quase toda
destruída com o terramoto de 543, deixando de existir algures no século
VII. As suas imponentes ruínas foram usadas como pedreira durante a
Idade Média, enquanto uma pequena povoação surgira em Artakê (Erdek)
na parte ocidental da península de Cizicene.
Em relação à Ásia Menor Ocidental o material arqueológico é razoavel-
mente abundante. Éfeso, devidamente mencionada por Ibn Khordâdhbeh,
conseguira sobreviver, embora reduzida em tamanho. O antigo centro
urbano fora abandonado, talvez por altura da invasão persa, no início do
século VII, e construída uma nova muralha da cidade, cercando uma área
de cerca de novecentos metros quadrados entre o porto o cimo de
Panayirdag, Um pouco mais a oriente surgiu um forte isolado, centrado
na Basílica de São João, o Divino (Ayasoluk). Sabemos que, no final do
século viu, a feira de Éfeso produzia um rendimento de cem libras em
ouro(31), o que, caso seja verdade, indica uma reviravolta comercial con-
siderável. Todavia, os escavadores encontraram poucos vestígios de
construções, excepto uma pequena igreja a substituir a anterior e muito
maior Basílica de Santa Maria. Em Sardes, a capital da Lídia, a mudança
foi ainda mais dramática. Provavelmente, por causa da invasão persa, a
baixa da cidade fora praticamente abandonada e apenas o forte do cimo do
monte continuara a funcionar na Idade Média. Em Mileto, a cidade medie-
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por um período de cento e quarenta anos. Com efeito, deverá ter descido
para números provavelmente bastante abaixo dos cinquenta mil habitan-
tes, talvez para pouco menos de metade desse número.
Uma ténue luz sobre o aparecimento da cidade cerca do ano 760 é
projectada por um texto particularmente confuso intitulado Breves Notas
Históricas (Parastaseis syntomoi chronikaiy (45). Trata-se de um trabalho
de um autor pretensioso e ignorante, que pretende ser uma espécie de guia
sobre as anteriores vistas memoráveis da capital. A imagem que evoca é
a de abandono e ruína. Vezes sem conta é-nos dito que vários monumen-
tos - estátuas, palácios, banhos - existiram outrora, mas haviam sido des-
truídos. Mais importante ainda, os restantes monumentos, muitos dos
quais datados dos séculos IV e v. não foram entendidos pelo que represen-
tavam. Haviam adquirido uma conotação mágica e geralmente ominosa.
Os desastres que ainda estavam para se abater sobre a cidade eram pressa-
giados em vários desabafos e inscrições, e deveriam ser vistos sob todas
as perspectivas. Os «filósofos» que eram especializados em interpretá-los
ficaram desanimados. «Seria bom», disse um deles, «se não vivermos
para ver o que está destinado a acontecer. Quanto a mim, teria sido mais
feliz se não tivesse lido aquela inscrição.»
Apesar daqueles prognósticos sombrios, Constantinopla começara em
755 um processo de recuperação bastante gradual, que iria continuar até à
época das Cruzadas. No século vm não se registaram quaisquer constru-
ções, excepto para os trabalhos de fortificação e reparação pelos estragos
causados pelos terramotos. No século IX novos edifícios foram construí-
dos, mas eram de características diferentes dos do Período Inicial bizan-
tino: os locais de lazer já não eram exigidos e as novas construções, na sua
maior parte, concentravam-se dentro do palácio imperial, que adquirira
um ar das Mil e Uma Noites. Um espírito de «renovação» - ou seja, a
reparação daquilo que fora destruído, em detrimento da criação de algo
novo - foi cultivado pelos propagandistas nas cortes de Miguel III e
Basílio 1. A lista dos edifícios deste último imperador era particularmente
instrutiva. Efectivamente, ela demonstra que quase todas as grandes
igrejas da capital haviam entrado em decadência, algumas delas próximo
da «extinção». Por isso, Basílio procedeu à renovação das vinte e cinco
igrejas da cidade e de outras seis nos subúrbios. Todos os seus novos
edifícios estavam no palácio imperial (46).
Em suma, se pudéssemos traçar um gráfico das venturas de Constan-
tinopla, iríamos descobrir que este revelaria um declive muito acentuado
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sua observância universal. Pois, para citar uma outra lei imperial, «Esta-
mos cientes de que o Nosso Estado é sustentado mais pela religião do que
pelos deveres públicos ou pela labuta e pelo suor I-)». «Se lutarmos ~oro
todos os meios», escreve o imperador Justiniano, «para fazer cumpnr as
leis civis, cujo poder Deus, na Sua bondade, nos confiou para a segurança
dos Nossos súbditos, com que maior afinco devemos Nós empenhar-nos
no sentido de fazer cumprir os sagrados cânones e as leis divinas que
foram concebidas para a salvação das nossas almas!» (3)
O significado literal de ortodoxia não era tanto a fé autêntica, mas uma
doutrina correcta, e isso consistia, acima de tudo, em «admitir e glorificar
correctamente o Pai, Cristo, o Filho de Deus e o Espírito Santo» (4). Por
outras palavras, todos os súbditos do Império eram instigados, com
bastante insistência, não só a serem cristãos, mas também a subscreverem
uma doutrina única, e muito abstrusa, que definia a natureza e as relações
das três pessoas da Trindade, sendo que até o mais pequeno desvio à
mesma era considerado uma heresia (5). É evidente que não precisamos de
imaginar que o corpo particular do dogma, que se transformara por fim
em Ortodoxia com O maiúsculo, se destinava, desde o princípio, a assu-
mir um tal papel. Houve tempos em que diferentes interpretações do
cristianismo tiveram o apoio activo do poder temporal. Os imperadores
Constâncio II e Valente, por exemplo, defenderam a causa do arianismo,
Anastásio I estava do lado dos monofisitas, Heraclio tentou fortemente
impor o compromisso monotelísta. e vários imperadores nos séculos VIII
e IX eram iconoclastas. Até o grande Justiniano, um dos defensores mais
empenhados em impor a uniformidade religiosa, acabara a sua vida
envolto na bruma da heresia juliana. Podemos pensar que qualquer uma
destas doutrinas alternativas podia ter triunfado. Contudo, de uma coisa
podemos estar certos, nomeadamente, de que qualquer que fosse a seita
que se tomasse vencedora, esta seria tão intolerante com as rivais como o
foi a ortodoxia. Podemos contar pelos dedos de uma mão os períodos de
declarada tolerância religiosa no período bizantino.
Contudo, permanece o facto de que nem todos os súbditos do Império
eram cristãos católicos. O número daqueles que O governo considerou
«dementes e insanos» foi muito elevado no Período Inicial bizantino, ao
ponto de talvez constituírem a maioria da população. Este número era
mais baixo no Período Médio e, provavelmente, muito baixo no Período
Tardio. O presente capítulo ocupar-se-á dos dissidentes, daqueles grupos
que, IJOr uma razão ou por outra, não aceitaram a ortodoxia dominante.
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didas por muitas pessoas. Ainda assim, a Igreja estava desejosa de afirmar
a sua autoridade e ser vista a fazê-lo. Também o imperador fez uso do seu
poder para este fim louvável. Em 1114, Aleixo I entrara em contacto com
bogornilos e paulicianos em Filipópolis (Plovdiv), uma cidade que era
quase inteiramente «maniqueísta», e diz-se ter lutado com os hereges dia
após dia, o que resultara na conversão de muitos milhares à ortodoxia (45).
No entanto, o mal havia já chegado a Constantinopla, onde uma multidão
de pessoas já lhe sucumbira, até mesmo as melhores casas. Aleixo pren-
dera o líder da seita, um tal monge Basílio, e levara-o com artimanha a
confessar os seus falsos dogmas. Basílio, que se recusara renunciá-los, foi
condenado à fogueira, enquanto os seus discípulos terminaram os seus
dias numa masmorra. Acendera-se uma grande pira funerária no hipó-
dromo, e quando os carrascos atiraram os hereges para a fogueira, não
houve nem cheiro a carne queimada nem fumo - nada, a não ser urna fina
linha de vapor, pois até os elementos se ergueram para confundir os
ímpios. Este foi o último acto público do admirável imperador, que
morrera pouco tempo depois. Contudo, o bogomilismo continuou a cres-
cer. Expandira-se até à Sérvia e à Bósnia, à Itália e ao Sul de França.
Conseguira até penetrar nas defesas do monte Atos e, nos Balcãs, sobre-
vivera ao Império Bizantino.
Quase todas as dissidências bizantinas assumiram a forma de heresias
religiosas. Os historiadores têm procurado afincadamente causas sociais e
nacionais - as «verdadeiras» causas, das quais as heresias eram apenas
uma máscara -, mas, de um modo geral, os seus esforços não foram
recompensados. Entre os exemplos que revimos, poucos poderão ser
associados a tendências separatistas: os Samaritanos, nos séculos V e VI,
e os arménios monofisitas poderão ser incluídos nesta categoria de sepa-
ratismo. Também os paulicianos tiveram um Estado independente durante
cerca de vinte anos, mas como resultado de circunstâncias muito especí-
ficas, que nada tinham a ver com o dualismo per se. Como vimos, os
bogomilos eram bastante pacíficos no seu comportamento e não tinham
aspirações políticas de que tenhamos conhecimento. Embora a maioria
fosse, sem dúvida, de origem eslava, incluíam um séquito de entre muitas
outras nacionalidades.
A busca de causas sociais revelou-se igualmente inconclusiva. Em
nenhum caso podemos estabelecer uma ligação evidente entre uma here-
sia e uma classe social. Os maniqueístas são conhecidos por incluírem um
grande número de mercadores, mas também intelectuais, aristocratas e
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abandonar as suas crenças ancestrais pela lei, e não de sua livre vontade,
inclinaram-se imediatamente para os maniqueístas e para os chamados
politeístas» (46). Uma última prova diz .respeito aos soldados que foram
banidos em 786 pela imperatriz Irene por apoiarem a iconoclastia:
também eles se juntaram aos maniqueístas ou aos paulicianos (47). Não é
de admirar que o dualismo tenha atraído elementos descontentes, pois
apresentava-se como um movimento de reforma radical para recuperar os
dogmas do cristianismo que haviam sido deliberadamente obscurecidos
pelo clero, patrocinado pelo Estado (48). O apelo a tal atitude pode ser
calculado pelo facto de o dualismo ser a única forma de heresia bizantina
que se disseminara amplamente através de fronteiras étnicas e geo-
gráficas.
O verdadeiro vilão da história é, obviamente, a ortodoxia de Estado.
«Nós sabemos», escreveu Justiniano, «que nada agrada mais a Deus
misericordioso do que a união de todos os cristãos pela crença na verda-
1
deira fé divina e imaculada» (49). Mas a união pela crença religiosa não i
seria suficiente; com o passar do tempo, a união na prática litúrgica, nos
1
dias festivos e nos dias de jejum, nas modas de vestuário e na maneira de
se pentearem os cabelos, tornaram-se tão ou mais importantes. Se uma
1
tolerância total era impossível de atingir, pelo menos a perseguição pode- 1
ria ter sido evitada. Até um clérigo tão austero como Teodoro, o Estudita,
afirmara que o papel da Igreja era o de ensinar os hereges e não matá- 1
-los (50). O Estado, identificado com a Igreja Ortodoxa, muitas vezes pen-
sou de modo diferente. Como consequência directa da sua intolerância,
milhões de súbditos potencialmente leais ao imperador foram transfor-
mados em hereges e, portanto, em inimigos.
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Capítulo 5
O Monasticismo
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dade, proibida por uma lei decretada por um imperador tão pio quanto
Teodósio I, o qual ordenara que vivessem «em lugares desertos e isola-
dos». Esta lei revelara-se improdutiva e fora rejeitada dois anos mais
tarde ( 11 ). Apesar disso, havia um sentimento generalizado de que os
monges não tinham lugar no meio das tentações e da agitação da cidade:
em Antioquia eram escarnecidos e arrastados através das ruas - e por
cristãos ( 12). Por outro lado, no campo, o monge era uma figura familiar
e, se por acaso fosse um ascético conhecido, cumpria um verdadeiro pro-
pósito social: curava doenças das pessoas e do gado, afastava os demónios
e desinfectava, se é que assim se pode dizer, os lugares tomados perigosos
pelas associações pagãs. Em resumo, era uma espécie de feiticeiro. Na
Vida de São Teodoro de Sykeon ( 13) e em muitos outros textos, podemos
encontrar retratos vívidos da sua importância no seu distrito rural e a
deferência com que era tratado pela população. Dever-se-ia negar, então,
ao monge esse mesmo papel nas cidades? No século VI aceitou-se que um
ascético experiente, que conseguisse resistir a todas as tentações da carne,
poderia ter a seu cargo um sacerdócio urbano, se ocultasse a sua verda-
deira identidade. E assim surgira uma categoria peculiar de santos, os
«santos loucos». A ideia de simular a loucura não fora em si nova, mas
quando aparecera pela primeira vez no século IV, fora num contexto
cenobita, e o propósito do exercício seria incrementar as humilhações que
se sofreria na terra para colher maiores recompensas no céu. Uma motiva-
ção diferente parece ter inspirado o mais famoso «santo louco», que
actuava num contexto urbano, São Simeão de Emesa (meados do
século VI) ( 14): estava decidido a emendar os elementos mais desprezados
pela sociedade, tais como as prostitutas e actores, e a converter judeus e
hereges. Para o fazer sem dar nas vistas e, alegremente, fingira ser um
lunático inofensivo: tivera empregos bizarros nas tabernas, convivera com
mulheres da vida, comportava-se mal nas igrejas e violava deliberada-
mente os jejuns cristãos. Enquanto isso, praticava em segredo a mais
austera askêsis. Não fora São Paulo que dissera, «Se alguém dentre vós se
tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio» (I Cor. 3, J 8)?
Por razões óbvias, São Simeão não encontrara muitos imitadores, mas a
tradição de se «ser louco por causa de Cristo» nunca morrera no mundo
bizantino e chegara, por fim, até à Rússia.
Os séculos v e v1 marcaram o auge do movimento monástico no
Oriente. Procurados pela aristocracia e pelos imperadores, encorajados
pelos bispos, os novos «filósofos» cristãos regozijavam-se pela notorie-
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moral que Moscho recolhera no decurso das suas viagens. O mundo que
lhe era familiar, o do monasticismo ortodoxo, havia já recuado em resul-
tado do cisma monofisita: centrava-se na Palestina, estendia-se ao monte
Sinai e a Alexandria (mas não muito para o interior do Egipto), ao Norte
e ao Ocidente da Cilícia, Chipre e algumas das ilhas gregas. Uma plêiade
de ascéticos, cuja fama se espalhara de boca em boca, iluminara este
mundo. Cultivaram a continência, a pobreza, o silêncio e a caridade. Entre
eles estavam alguns estilitas e «aqueles que pastam», mas as formas mais
extremas de mortificação eram geralmente evitadas. Havia um intenso
espírito de competição para atingir a virtude, mas também o sentido de
que a idade heróica do monasticismo havia já passado. Se Moscho se
mostrara intolerante, fora em relação aos monofisitas. Porém, a sua narra-
tiva agradável dificilmente nos deixa suspeitar que ao lado do seu mundo,
o «internacional» dos monges ortodoxos, existia um mundo paralelo, o
dos monges monofisitas que, alvos de perseguição, cultivavam, talvez por
vezes em excesso, sensivelmente as mesmas virtudes e que realizavam os
mesmos milagres e obtinham os mesmos sinais do céu. Para penetrar
neste mundo o leitor pode recorrer à obra As Vidas dos Santos Orientais
de São João de Éfesor!").
De todas as classes sociais os monges eram talvez os menos vul-
neráveis à catástrofe do século VII. Alguns, é verdade, foram massacrados,
enquanto outros fugiram para o Ocidente - para Cartago, Sicília e Roma,
onde já os encontramos bem representados no Concílio Lateranense
de 649. Mas até sob a lei árabe os monges ortodoxos foram capazes de
conservar os principais estabelecimentos na Palestina (suprimidos no
início do século IX), assim como no monte Sinai. São João Damasceno
fora o mais famoso, mas não o último representante do monasticismo
ortodoxo na Palestina.
Inesperadamente, foi no Império Bizantino e não entre os infiéis que
o monasticismo sofrera o mais duro golpe. Quando os imperadores isáuri-
cos fizeram da iconoclastia a doutrina oficial do reino, o clero secular não
oferecera muita resistência, como já tivemos ocasião de observar. Com
efeito, foram os monges quem organizara um movimento de resistência.
Ao fazê-lo, não significa que tivessem um interesse «monástico» em
defender a «superstição», ou que tirassem partido material do culto dos
ícones, como têm sugerido alguns historiadores. Fora simplesmente o seu
poder único face ao povo que os tornara os campeões naturais da tradicio-
nal observância religiosa. Além disso, não eram tão susceptíveis às pres-
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tinos dos séculos XI e XII, teria certamente ficado surpreendido, mas não
triste. Contudo, julgando pelas aparências, nada mudara: perseguiam-se
ostensivamente os mesmos ideais, aplicavam-se (ou, mais provavelmente,
não se aplicavam) os mesmos cânones disciplinares e os pregadores
defendiam o mesmo tipo de vida monástica. Havia, como antes, eremitas,
estilitas, cenobitas e até lavrai do modelo palestiniano. Evidentemente, a
geografia do monasticismo mudara bastante. Enquanto os mosteiros se
disseminavam pelas terras bizantinas, incluindo, por esta altura, as cida-
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O mosteiro de São Neófito tem tido uma existência contínua até aos
dias de hoje, e não se pode dizer que sofresse qualquer dificuldade em
resultado da ocupação latina. Pelo contrário, há indícios de que haveria
uma prosperidade razoável: no final do século xv tinha um rendimento
anual de duzentos ducados venezianos, sendo construídos novos edifícios,
incluindo uma enorme igreja. Ainda assim, o mosteiro não produzira uma
única figura espiritual ou literária. O desejo expresso pelo fundador de
que o abade fosse, como ele, um eremita, fora rapidamente ignorado.
Longe de se tornar um centro de virtude ascética, a Enkleistra transfor-
mara-se num koinobion comum, um empreendimento agrícola como
todos os outros mosteiros do Chipre.
Durante a sua longa existência, o monasticismo bizantino nunca se
desviara da sua forma original. A única possibilidade de reforma residia
num retorno a uma interpretação mais rigorosa dos Padres do deserto ou,
então, numa interiorização em direcção a um misticismo que podia apenas
ser partilhado por alguns. E assim a herança de Simeão, o Novo Teâiogo,
fora retomada no século XIV pelos hesicastas do monte Atos. A contro-
vérsia em relação à «Luz Incriada» do monte Tabor, e o método de se
atingir a visão beatífica sustendo a respiração enquanto se recitava a
«oração de Jesus», pertence mais à história da espiritualidade do que ao
monasticismo como instituição. Podemos notar, no entanto, que o mani-
festo de Gregório Palamas ( 1340), que obtivera a aprovação formal da
Igreja Grega, identificava explicitamente os monges como pessoas de
visões espirituais a quem os mistérios da vontade divina eram revelados,
tal como as verdades do cristianismo haviam sido concedidas aos profetas
do Antigo Testamento (30). É difícil imaginar que os bondosos monges de
Vatopedi, que combateram os seus vizinhos de Esfigmenou com porretes
pela posse de alguns campos, em cujas lutas as duas facções incendiaram
as árvores uns dos outros (31 ), tenham sido os mesmos monges que reivin-
dicaram para si tal posição elevada no grande desígnio de Deus.
Com a sua longa tradição de obstinação e perícia financeira, os
mosteiros bizantinos estavam bem preparados para sobreviver sob o
domínio estrangeiro. Os do monte Atos usufruíam de benefícios conside-
ráveis quando passaram para a governação do rei sérvio, Estêvão Duãan.
Quando, algumas décadas mais tarde, os Turcos Otomanos apareceram
pela primeira vez na Europa, os mosteiros atonitas nem sequer esperaram
pelo estabelecimento do domínio turco. Dirigiram-se directamente ao
sultão, ofereceram-lhe a sua submissão e obtiveram a confirmação dos
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Capítulo 6
A Educação
1
f
Quando, no século IV, o cristianismo triunfou sobre o paganismo,
existia por todo o Império um padrão de educação liberal, que não sofreu
qualquer transformação fundamental desde o período helénico, ou seja,
durante cerca de quinhentos anos. Devemos começar por descrever as 1
suas principais características.
A educação dos rapazes compreendia, como ainda hoje, três fases:
primária, secundária e superior. Começando aos sete anos, os rapazes
(e, ocasionalmente, também as raparigas) eram enviados para um profes-
sor do nível elementar (grammatistês), que lhes ensinava o alfabeto, a ler
em voz alta, a escrever e a contar. Tratava-se de conhecimentos bastante
básicos, e o grammatistês, que normalmente trabalhava por conta própria
e não possuía qualquer qualificação oficial, detinha uma posição na socie-
dade bastante baixa - pouco melhor do que a de um artesão. Uma pro-
porção considerável da população abandonava o ensino no nível ele-
mentar, com memórias indeléveis dos açoites do mestre, da repetição e da
memorização. A fase seguinte, ou a fase do ensino de nível secundário,
era supervisionada por um professor diferente (e consideravelmente mais
bem pago), o grammatikos, que ensinava gramática, não tanto no sentido
actual da palavra (embora também o fizesse), mas mais em termos de um
1 ;-
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uma formação legal), vinte por cento voltaram aos deveres herdados como
decuriões e dez por cento tornaram-se professores (3). Apenas este último
e pequeno grupo poderia afirmar ter aplicado a educação que recebera
para propósitos práticos; para os restantes, fora um exercício mental,
aptidão para escrever uma epístola elegante quando as circunstâncias
assim o exigissem e, acima de tudo, um conjunto comum de chavões que
constituía a cultura.
Não é completamente anacrónico falar de relevância, visto sabermos
que o governo burocrático, tal como instituído por Diocleciano e ela-
borado pelos seus sucessores, criara uma exigência de determinadas
qualificações, que a educação liberal seria incapaz de fornecer. Estas
diziam respeito ao estudo do latim nas províncias ocidentais e à aquisição
de conhecimentos notariais, nomeadamente, a estenografia e a contabili-
dade. A oposição violenta de Libânio a estes estudos limitados é a prova
de que sentira que a sua profissão estava ameaçada. Quando vira a multi-
dão de estudantes a entrar para a Escola de Direito de Beirute, reagira da
mesma maneira que um actual professor de Estudos Clássicos reagiria
ao ver os seus alunos abandonarem-no para seguir Gestão de Empresas.
Os conhecimentos de latim, essa língua bárbara, estava não só a tor-
nar-se uma condição prévia para o ingresso nos estudos de direito, como
o seu uso na administração estava a aumentar no século IV (tempora-
riamente, como se verificara). Quanto ao exercício notarial, este era, aos
olhos de Libânio, apropriado para os escravos, não para os homens ins-
truídos. Contudo, os «tecnocratas» estavam a ascender aos cargos mais
altos na administração.
O que o governo desejava na área da educação poderá ser ilustrado
pela organização da «Universidade» de Constantinopla em 425. Certa-
mente, o ensino superior terá estado disponível em Constantinopla, se não
no reinado de Constantino, pelo menos a partir de Constantino li. As
recompensas que se esperava que resultassem da proximidade com o
tribunal atraíram naturalmente um grupo de distintos mestres da retórica
à nova capital, incluindo, como vimos, Libânio, que não permanecera por
lá durante muito tempo, e Temístio (f. 388), que construíra uma brilhante
carreira e ascendera ao cargo de senador, e até mesmo ao cargo de prefeito
da cidade, apesar de ser pagão. O imperador dera-lhe valor porque elevara
o nível cultural da capital, que se tomara, graças a ele, «numa albergaria
de cultura comum» (4). Por outras palavras, Constantinopla, apesar das
suas origens recentes, estava a caminho de se tornar uma «cidade univer-
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nos séculos IV, v e VI, que fosse natural de Constantinopla ou que tenha
frequentado o seu estabelecimento de ensino.
Se o Estado fizera algumas tentativas para imprimir relevância no
sistema educacional, o que fizera a Igreja? Ninguém poderá negar que o
ensino antigo era, em última análise, pagão na sua visão do mundo e, num
sentido mais imediato, baseado no estudo dos autores pagãos; embora seja
um exagero dizer que os mitos pagãos de Homero e Hesíodo, desgastados
como estavam por séculos de aborrecimento nas salas de aula, ainda cons-
tituíam um grande «fardo». Porém, os cristãos mais rigorosos consi-
deravam esta situação um escândalo. As Constituições Apostólicas
(século IV) são bastante inflexíveis a este respeito:
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tenha perdurado após a morte de Bardas (f. 866), bem como após a pri-
meira geração de professores.
Entre os colegas académicos de Leão, apenas existem referências
mais seguras sobre Cometas: sabe-se que preparara uma nova edição
de Homero, provavelmente transliterada para a letra manuscrita
minúscula (28). O próprio Leão participara na edição do texto de Platão e
possuíra vários manuscritos científicos, incluindo de Ptolomeu e de
Euclides. Parece ter-se interessado pela astrologia e feito previsões. Um
dos seus alunos, um tal Constantino, o Siciliano, ficara tão chocado com
o ensino de Leão que declarara que o mesmo deveria ser postumamente
enviado para o Inferno, onde arderia para toda a eternidade. juntamente
com os seus colegas pagãos - Platão e Aristóteles. Sócrates, Epicuro,
Homero, Hesíodo, Aratus e todo o seu bando maldito (29)_
É inegável que o século IX testemunhara um recrudescimento
espantoso na erudição. Contudo, estranhamente, dificilmente podere-
mos associar este recrudescimento à Universidade Magnaura, ou a
qualquer outra instituição de ensino superior. Fócio, o grande erudito da
época, seguira uma carreira no serviço público, antes de ser elevado ao
patriarcado de Constantinopla (em 858); nunca tivera um cargo no ensino.
Não sabemos como adquiriu a sua educação. Se tiver nascido por volta de
810, como alguns historiadores hoje acreditam, ou mesmo cerca de 820,
seria adulto na altura em que a Universidade fora instituída. Na geração
seguinte, a figura de mais relevo fora Aretas, arcebispo de Cesareia,
nascido cerca de 850. Coleccionador de textos clássicos (muitos dos seus
manuscritos admiravelmente copiados ainda existem), ele próprio escre-
vera num estilo tão precioso e enrolado, que se tornara praticamente
incompreensível. Também não existem indícios de que tenha tido qual-
quer ligação com alguma universidade ou escola. Tudo o que se pode
dizer é que a cultura literária que havia estado tão marcadamente ausente
da corte dos imperadores iconoclastas recuperara apoio nos círculos mais
elevados. Apesar de Basílio l ser um camponês arménio iletrado, o seu
filho Leão VI tivera um tutor particular, Fócio, e dedicara-se à com-
posição literária. Escrevera várias homilias bastante entediantes e tam-
bém tentara escrever cânticos religiosos. Fora, no entanto, o seu filho,
Constantino Vll Porfirogeneta, que encarnara mais profundamente o ideal
do imperador erudito. Mas falaremos das suas actividades literárias no
capítulo 13. Por ora, debrucemo-nos sobre a sua intervenção no domínio
do ensino superior. Sabemos que, ao concluir que as artes liberais e as
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Uma vez que existe outra filosofia que é superior àquela, nomea-
damente, a que consiste no mistério da nossa religião, [ ... ] estudei-a
mais aprofundadamente do que a outra, em parte, seguindo as
declarações dos grandes Padres, em parte, dando a minha própria
contribuição. E se alguém (digo isto francamente e sem astúcia)
quiser elogiar-me pela minha cultura, não deixem de o fazer, [ ... ]não
porque eu li muitos livros (pois não escou iludido pela vaidade) [ ... ],
mas porque a pouca sabedoria que recolhi, não a retirei de uma
nascente corrente; não: ames encontrei os poços obstruídos, abri-os,
limpei-os e, com grande labuta, extraí a água que escava a uma grande
profundidade (34).
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suas asas», ou «O que Pasífae pode ter dito quando se apaixonou por um
touro» (41 ), não podemos evitar a impressão de que o tempo havia parado
mil anos. Nem tão-pouco conseguiremos deixar de perguntar: Qual a utili-
dade de Ícaro e Pasífae para o futuro funcionário público, se nenhum dos
seus negócios ou actividades seria conduzido em grego ático? O máximo
que se pode dizer é que alguma familiaridade com a gramática e a retórica
definia uma certa classe profissional. Calculou-se que, no século X, o
número total de rapazes e jovens que receberam formação gramatical em
Constantinopla (e portanto, em todo o Império) não fora mais de duzentos
a trezentos (42). Daqui se pode concluir que, em qualquer altura, o número
total de pessoas que havia beneficiado de tal formação terá sido pouco
mais de mil. Embora sejam estimativas, estes números dão-nos um
sentido de proporção, sem o qual uma discussão sobre a educação bizan-
tina se tomaria irrelevante. Imagine-se um grupo de cerca de mil homens
de famílias respeitáveis, muitas vezes sobrinhos de bispos, ou filhos de
funcionários públicos - em suma, homens que seguiram uma carreira que
lhes exigia um certo grau de erudição. Ser capaz, ocasionalmente, de
escrever uma missiva elegante, ou fazer um discurso depois do jantar, na
presença do imperador, iria provavelmente atrair uma atenção favorável.
É neste contexto que emergem Ícaro e Pasífae. E uma vez que o objectivo
do exercício era ser apreciado pelos seus parceiros, qual seria a razão
para mudar um sistema educativo que distinguia os homens de cultura?
Os efeitos desta situação na literatura bizantina são óbvios e serão
explorados num posterior capítulo.
Para finalizarmos, é importante referir que nunca existira em Bizâncio
uma educação nos mosteiros acima do nível mais básico. Desde o tempo
de Pacómio, alguns dos maiores mosteiros asseguraram a formação de
principiantes iletrados que eram, muitas vezes, rapazes. Estes aprendiam
o serviço da igreja, os Salmos e partes do Novo Testamento, de prefe-
rência ensinados por um monge mais velho, que tinha de usar uma sala
separada para este propósito, de forma a proteger a irmandade da tentação
sexual. Os Salmos e outros livros bíblicos essenciais eram, normalmente,
aprendidos de cor, reduzindo assim a necessidade de literacia. A instrução
de «crianças seculares» nos mosteiros, considerada inadequada por São
Basílio (43), foi desencorajada durante todo o período bizantino.
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Parte II
1
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Capítulo 7
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seguir, para um vasto olival. Debaixo de cada árvore havia uma tenda
e em cada tenda havia uma cama, na qual descansava um homem.
Entre eles, reconheci muitos que haviam servido no palácio, muitos
de Constantinopla, alguns camponeses e outros membros do nosso
mosteiro, todos já falecidos. Enquanto me interrogava sobre o que
podia ser aquele olival, os apóstolos recordaram-me das «muitas 1
mansões» que existiam na casa do Senhor.
Fomos para uma cidade de indescritível beleza. As suas muralhas
estavam construídas em doze fiadas, cada uma delas feita com uma j
pedra preciosa diferente, e os seus portões eram de ouro e de prata. p
No interior dos portões encontrámos um pavimento dourado, casas
de ouro, bancos de ouro. A cidade estava inundada por uma estranha
luz e um cheiro doce mas, enquanto a atravessámos, não encon-
trámos um único homem, ou animal, ou pássaro. No extremo da
cidade chegámos a um palácio magnífico e entrámos num salão tão
largo como o arremesso de uma pedra. De uma ponta a outra
estendia-se uma mesa de pórfiro, à volta da qual se reclinavam muitos
hóspedes. Uma escada de caracol, situada num dos extremos do
salão, conduzia a um balcão interior. Dois eunucos, resplandecentes
como um raio, apareceram neste balcão, e disseram aos meus com-
panheiros: «Deixem-no também reclinar-se à rnesa.» Foi-me indicado
um lugar, enquanto os eunucos se retiraram para uma outra divisão,
que parecia encontrar-se para além do balcão, e ausentaram-se por
várias horas, durante as quais pude ir reconhecendo muitos dos
outros convidados: alguns eram monges do nosso mosteiro, outros,
funcionários públicos. Ao fim de muito tempo, os eunucos voltaram,
e disseram aos dois apóstolos: «Levem-no de volta porque os seus
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filhos espirituais estão em grande luto pela sua ausência. O impe-
rador consentira que voltasse à vida monástica. Por isso, conduzam- L.'l'l
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-no por outro caminho e, na sua vez, tragam o monge Atanásio do
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mosteiro de Trajano.» Os apóstolos conduziram-me de volta.
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Passámos por sete lagos nos quais uma multidão de pecadores estava ~ ~!
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a ser atormentada: um estava no meio da escuridão, outro do fogo,
outro de uma bruma impregnada do cheiro do mal, outro no meio ih
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de vermes, e havia muitos outros. Em breve encontrámos Abraão,
mais uma vez, que nos oferecera um trago de vinho doce numa taça t/i 11·
de ouro. Depois, voltámos ao portão exterior. O gigante rangeu os .i i.1
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dentes e disse-me zangado: «Desta vez escapaste-me, mas não . /!
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1
verdade a maior parte, eram figuras de segundo plano, a respeito das quais
nada de concreto se sabia. Se procurarmos as razões da sua popularidade,
descobrimos que elas não consistem em nenhuma característica histórica
particular de cada santo, nem na sua actividade, mas antes na existência
de um local de culto que adquirira fama.
Tomemos o caso de São Nicolau de Myra(13). Nada de concreto se
conhece acerca deste bispo, que terá supostamente vivido no século IV, e
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que (embora seja improvável) terá participado no Concílio de Niceia em
325. Por volta do século VI, algumas histórias surgem associadas a esta ~I
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figura. Salvara três cidadãos de Myra da execução e, mais tarde, repetira tn
a façanha libertando três generais do imperador Constantino. Justiniano ,~1-
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mandara erigir uma igreja em honra de São Nicolau em Constantinopla. í,,ll
Algum tempo depois, o bispo de Myra fora confundido com um hornõ-
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nimo local, Nicolau de Sião (um mosteiro na Lícia), que morrera em 564,
tendo-lhe sido creditada uma série de milagres (incluindo o amainar de
tempestades), os quais foram transferidos para o primeiro. No século IX,
o São Nicolau resultante da «fusão» emerge como um doutor de primeiro
plano da Igreja Ortodoxa e a sua representação em mosaico fora colocada
na Igreja de Santa Sofia, em paridade com as de São João Crisóstomo, São
Basílio e outros grandes patriarcas. É difícil dizer a que se deveu esta
elevação. De qualquer forma, Nicolau tinha a vantagem de ter um culto
local bem estabelecido e um túmulo miraculoso que exsudava um óleo
sagrado. É possível que a sua fama se tenha espalhado entre os marinhei-
ros de Bizâncio que acostavam no porto de Myra e, assim, se tenha disse-
minado a outras partes do Império, até que a figura deste velho adorável,
com uma barba redonda curta, se tornara uma das mais familiares do
reportório iconográfico. A transladação das suas relíquias para Bari em
1087 contribuíra para uma difusão ainda mais vasta do seu culto por todo
o mundo cristão.
Podemos também analisar o caso de São Demétrio de Tessalonica ( 14).
Também ele era uma figura de segundo plano, uma suposta vítima da
perseguição de Diocleciano. Além disso, não pertencia originalmente a
Tessalonica, mas a Sírrnio. Quando, em 442-443, a capital da prefeitura da
Ilíria fora mudada para Tessalonica, para estar protegida dos ataques dos
Hunos, o culto de Demétrio também mudara. Pouco tempo depois, fora
erigida uma sumptuosa basílica em sua honra: ainda existe, apesar de ter
sido gravemente destruída por um fogo em 1917. A ausência de relíquias
- no século VII ainda não existiam - fora gradualmente esquecida ou
atenuada. Não só aparecera um túmulo, como este fora até mesmo cons-
truído com um sistema fraudulento de tubagens ocultas, através das quais
escorria um óleo santo, de modo que Demétrio compartilhara com Nicolau
o invejável epíteto de myroblêtês. Transformado num santo militar (origi-
nalmente era diácono), representado como uma figura jovem de cabelo
encaracolado, «defendera» repetidamente a sua cidade contra os ataques
dos Bárbaros.
As mesmas observações podiam ser feitas acerca de outros santos
populares, tais como São Teodoro, São Jorge, São Mamas e São Spyridon.
A mentalidade medieval, ao contrário da mentalidade moderna. não
estava preocupada com a veracidade histórica: o que interessava era a
existência de um local de culto, que oferecesse ao santo uma «base de
poder». Para alguém de Tessalonica, São Demétrio era um seu conterrâ-
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diarn à espreita no campo e ao longo das estradas (podiam ser vistos sob
a forma de moscas, lebres e arganazes) e reconduzira-os para o local da
escavação, que fora posteriormente tapado (22).
Noutra ocasião, um homem rico em Heracleia Pôntica (actual Karadeniz
Ereglisi) cavara um fosso perto de casa e dele emergiram espíritos malé-
ficos que atacaram os membros da sua família e outros habitantes da
cidade. Numa aldeia da região de Lagantine estava um sarcófago de már-
more que continha os restos mortais de antigos pagãos, que eram guarda-
dos por demónios. Os camponeses removeram a tampa do sarcófago para
usá-la como bebedouro para os animais, libertando assim os demónios.
Um incidente parecido acontecera em Germia, na Galácia, causando
considerável agitação. O bispo local fizera uma grande escavação com
vista a edificar uma cisterna. Ao fazê-lo, atingira um antigo cemitério
i
e os demónios que se escondiam nos túmulos saíram e possuíram os
1
habitantes, tanto ricos como pobres. Enquanto os ricos, com vergonha,
trancavam os membros das suas famílias que haviam sido afectados em
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casa, os pobres concentravam-se na igreja. Fora chamado São Teodoro,
que começara por interrogar os demónios. Estes culparam o bispo. 1
i
Haviam sido felizes quando habitavam os túmulos, mas quando o bispo,
levado pela ambição, os expulsara dos seus humildes aposentos, enche-
ram-se de raiva - algo que normalmente não fariam, nos dias de tão céle-
bre exorcista como era São Teodoro. Na presença de um grande número
de clérigos, inclusive de judeus e hereges, o santo procedera ao seu ritual.
Os demónios, que tinham possuído os pobres, foram reunidos, mas come-
çaram a protestar. «Há muitos dos nossos», gritaram, «que estão nos
corpos escondidos nas casas dos ricos e nas estalagens. Deixai-os vir tam-
bém, antes de nos confinardes.» São Teodoro não consentira nisso. «Se
cidadãos respeitáveis fizeram isso por vergonha, porquê fazer deles um
espectáculo público? Todos os espíritos escondidos, em casas ou estala-
gens, serão expulsos pela hoste dos anjos e trazidos até aqui.» E assim
acontecera. Existiam, contudo, duas mulheres que haviam sido possuídas
numa altura anterior, cujos demónios se queixaram com alguma razão:
«Não nos encerreis aqui. [ ... J Nós não pertencemos a este bando, viemos
da Capadócia antes de se haver procedido a esta escavação.» São Teodoro
concordara em tratar deles numa outra ocasião. Aos outros demónios
ordenara-lhes, por uma questão de decência, que não rasgassem total-
mente as vestes das suas vítimas ao saírem do corpo, devendo deixar os
homens em ceroulas e as mulheres com as suas túnicas. Assim, os dernó-
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Capítulo 8
O Universo Físico
Não nos podemos deixar enganar pela premissa, embora até certo
ponto esta possa ser verdadeira, de que os Bizantinos herdaram a espe-
culação científica dos antigos Gregos. É um facto que, em alguns períodos
mais do que noutros, alguns membros da elite intelectual bizantina se
dedicaram ao estudo da cosmologia e geografia antigas. Textos de
Aristóteles, de Ptolomeu, de Estrabão e de outros autores foram copiados
e comentados; embora devamos estar eternamente gratos aos eruditos
bizantinos por nos preservarem esta herança, seria errado supor que os
seus esforços tiveram qualquer impacto significativo no público em geral.
Os Bizantinos comuns não tinham, claramente, falta de interesse pelo
mundo à sua volta mas, na sua opinião, os problemas da ciência natural
faziam parte da interpretação bíblica e eram resolvidos em discussões
oficiais dos Seis Dias da Criação (Hexaêmeron). O texto-chave era o pri-
meiro capítulo do Génesis que, apesar da sua brevidade, contém um
número considerável de incongruências. Outras passagens bíblicas,
especialmente nos livros dos Salmos e de Isaías, tinham de ser tidas em
consideração, mas a tarefa principal era a interpretação do Génesis que
colocou muitas dificuldades, tanto pelas suas declarações como pelas suas
omissões. Temos de começar por perceber algumas destas dificuldades.
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fundação; o abismo como sendo a vastidão das águas. Diz que metade das
águas foi originada acima do firmamento para fornecer chuva, aguaceiros
e orvalho, a outra metade na terra para rios, nascentes e mares. Teófilo foi
algo ignorante ao relacionar a chuva com as águas acima do firmamento,
sendo esta parte da sua teoria abandonada mais tarde, mas a sua expli-
cação do orvalho, que ocorre sem a acção das nuvens, foi mantida. Teófilo
também introduziu um número de comparações simbólicas que se torna-
ram padrão: a lua que minguou e renasceu referia-se ao homem; grandes
peixes e pássaros carnívoros a homens gananciosos e transgressores;
quadrúpedes a homens que não conheciam Deus. Mais importante ainda,
ele explicou o plural de «Façamos o homem» como sendo dirigido a
Logos, isto é, o Filho.
Pondo de lado Orígenes, cuja subtil interpretação ficou pelo caminho,
chega-se às homilias de São Basílio no hexaêmeron, um texto que se
tornou bastante popular e influente durante o período bizantino (4). A sua
posição pode ser definida da seguinte forma:
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Capítulo 9
Os Habitantes da Terra
existência imperfeita: a sua visão e audição são fracas, não têm memória
nem imaginação, não reconhecem nenhum ser familiar. ao passo que os
animais terrestres têm sentidos mais apurados (2). A natureza de cada
espécie animal foi estabelecida pelos comandos de Deus e nenhuma
duração de tempo o alterará. Cada tipo tem a sua característica peculiar: o
leão é orgulhoso, o boi é calmo, o lobo é selvagem. Os animais que são
mais fáceis de capturar são também os mais abundantes (coelhos, cabras
selvagens, e por aí adiante).
Os animais foram criados para se sujeitarem ao homem. Isto é
indicado pelo seu nome tktênos = besta, fantasiosamente derivado de
ktêma = posse), e pelo facto de ter sido Adão que os nomeou, estabele-
cendo assim uma autoridade sobre eles, da mesma forma que quando
alguém se alista no exército imperial também é marcado pelo selo do
Império (3). Os milhares de nomes que Adão conseguiu inventar provam
a sua grande inteligência antes do pecado original. Os animais tinham um
objectivo triplo. Alguns foram criados para ser comidos, os mesmos que
hoje são abatidos; outros para transportar cargas, como cavalos e camelos.
O terceiro tipo consiste em animais «de imitação», que foram feitos para
entreter o homem que estava só no Éden. Alguns destes, como os maca-
cos, imitam gestos, outros, como os papagaios, imitam sons. Original-
mente, a serpente era muito amiga do homem, foi por isso que o diabo a
escolheu como instrumento. Nessa altura andava erecta graças a um
rápido rodopio da sua cauda. Mesmo hoje, quando está enfurecida, tenta
levantar a cabeça, mas volta rapidamente a uma posição rastejante, porque
não consegue resistir à força da condenação de Deus. No entanto, os ani-
mais viviam no Éden tal como os empregados vivem no palácio imperial:
apenas eram convocados quando o seu senhor precisava deles (4).
Outra razão para a criação dos animais foi para dar lições de moral e
fornecer símbolos teológicos. Os peixes grandes alimentam-se de peixes
pequenos: nós fazemos o mesmo quando oprimimos os fracos. O astuto
caranguejo espera que a ostra abra ao sol, depois atira seixos para evitar
que as valvas fechem, e assim devora a sua presa. Também nós agimos
como o caranguejo quando apontamos aos bens do nosso vizinho. A dissi-
mulação dos pólipos, que assumem a cor do que os rodeia, é imitada pelos
parasitas dos ricos e poderosos, pois estes homens são delicados ou
libertinos, de acordo com as circunstâncias. Também podemos tirar lições
admiráveis observando os habitantes das profundezas. Não estão separa-
dos por fronteiras naturais, no entanto, cada espécie está satisfeita por
208
OS HABITANTES DA TERRA
viver dentro do seu próprio território. Assim, as baleias, que são grandes
como as montanhas, foram naturalmente enviadas para o oceano Atlân-
tico, que não tem ilhas e não está cercado por nenhum continente do outro
lado. Connosco é diferente: estamos constantemente a mover «os marcos
antigos que os nossos pais estabeleceram» (Prov, 22, 28); continua-se a
dividir a terra, acrescenta-se casa a casa e campo a campo, enganando os
vizinhos. A víbora repugnante une-se com a enguia e a última subme-
te-se, embora não de bom grado. Da mesma forma as esposas devem
suportar os seus maridos, mesmo quando eles são violentos, bêbedos e
desagradáveis. Também os maridos devem aprender esta lição. A víbora
cospe o seu veneno antes de entrar nesta união; da mesma forma o marido
deve renunciar às suas maneiras duras. Ou, posto de maneira diferente, a
união da víbora e da enguia é adúltera. Os homens que invadem os casa-
mentos de outras pessoas devem reconhecer qual o tipo de réptil que estão
a imitar (5).
Os animais também nos ensinam lições mais nobres de autoridade e
religião. As abelhas são regidas por um rei (diríamos uma rainha) que
exerce uma ascendência natural e que, embora armado com um ferrão, não
usa esta arma. O rei não é nomeado pelos seus súbditos, não é eleito por
voto, nem atinge o poder pela regra da hereditariedade - três princípios que
muitas vezes nos levam aos piores resultados; a sua superioridade deve-se
à natureza. A transformação que o bicho-da-seda sofre, de lagarta apupa e
depois a borboleta, ensina a acreditar na mudança que os nossos próprios
corpos sofrem no momento da Ressurreição. Por isso, também o abutre,
que se reproduz sem cópula, permite-nos aceitar o nascimento virgem de
Cristo (6). Foi especialmente um trabalho chamado Physiologus, tão popu-
lar no Ocidente como no Oriente, que serviu para disseminar a interpre-
tação teológica do alegado comportamento animal: o leão que dorme de
olhos abertos tipifica o Cristo crucificado, cuja divindade permanece acor-
dada; o jovem pelicano que é morto pelos seus pais e volta à vida no
terceiro dia é também um símbolo de Cristo, e por aí adiante (7).
Como todos os homens medievais, os Bizantinos tinham um profundo
interesse pelos animais exóticos, quer reais, quer imaginários. O historia-
dor eclesiástico Philostorgius (8), a propósito do Éden terrestre, afirma que
os animais maiores se encontravam nas regiões a oeste e sul da terra,
apesar do calor que lá se fazia sentir. Ele enumera o elefante, o búfalo
indiano que viu em território romano, dragões com cerca de vinte e sete
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metros de comprimento e largos como vigas, dos quais tinha visto a pele, I'
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BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
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Ü S HABITANTES DA TERRA
211.
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
chamam-se uns aos outros uivando como lobos; outros são abstémios e
dóceis. Se o nosso carácter fosse determinado pela posição das estrelas no
momento do nascimento, e se fosse verdade que a conjunção de Mercúrio
e Vénus, na casa de Mercúrio, produzia escultores e pintores, enquanto a
mesma conjunção, na casa de Vénus, produzia perfumistas, actores e
poetas, então porque é que estas ocupações estão totalmente ausentes entre
os Sarracenos, os Líbios, os Mouros, os Germanos, os Sármatas. os Citas
e, em geral, todos aqueles que vivem a norte do mar Negro?
A diversidade de povos foi explicada pela divisão da terra entre os
filhos de Noé e a subsequente multiplicação de línguas durante a constru-
ção da Torre de Babel; pois antes desse acontecimento toda a humani-
dade era só uma e falava a mesma língua, isto é, o hebraico. A lista básica
dos povos foi fornecida pelo capítulo 10 do Génesis. Na versão da
Septuaginta, esta lista contém um número de nomes que podem ser inter-
pretados no sentido étnico e outros que são claramente étnicos. Assim,
entre os oitos filhos de Jafet encontramos Javã (louan), que nos faz pensar
nos Iónicos, Tarses, que tem algumas semelhanças com os Trácios, assim
como com os Quetos (relembrando Cítio, uma cidade de Chipre) e com os
Ródios. Entre os quatro filhos de Cam, Mizraim refere-se claramente ao
Egipto (Misr), enquanto Canaã gerou Sídon, o Jebuseu, o Amorreu,
Arádios (de Arados, na Síria), o Samareu e Amati (da cidade de Amato,
em Chipre), etc.
A identificação destes nomes estrangeiros foi feita por Flávio
Josefo(18), que estava preocupado em mostrar a prioridade da Bíblia para
com as tradições pagãs. Segundo ele, dos vários povos, alguns manti-
veram os nomes hebreus originais, enquanto outros os perderam devido
aos Gregos (os Macedónios). Quando estes chegaram ao poder deram às
nações nomes que conseguiam compreender, criando assim a falsa
impressão de que estas nações eram de descendência grega. Josefa tam-
bém é responsável por uma divisão geográfica da terra entre os filhos de
-· Noé, uma divisão que foi mais tarde adoptada pela tradição cristã. Os des-
cendentes de Jafet, segundo ele, começaram por habitar o Tauro e o
i Amano (a extensão montanhosa entre a Síria e a Cilícia), depois avança-
ram para a Ásia até ao rio Tanais (o Don), e na Europa até ao estreito de
Gibraltar, sendo todo esse país desabitado na altura. Os filhos de Cam
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ficaram com a costa da Fenícia e a Palestina até ao Egipto, e depois todo
o Norte de África até ao oceano Atlântico. Finalmente, os filhos de Sem
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Ü S HABITANTES DA TERRA
Algum tempo depois de Josefo, mas antes do século IV, foi elaborada
uma lista mais sistemática conhecida como A Divisão da Terra(l9). Este
texto, que não nos chegou na sua forma original, teve uma grande difusão
na Idade Média, não apenas no mundo que falava grego (aparece em todas
as crónicas bizantinas), mas também no Ocidente, na Síria, na Arménia, e
por aí adiante. É um pequeno tratado de geografia e etnografia que
engloba setenta e duas nações, sendo este o número de línguas que existia
na altura da construção da Torre de Babel. A divisão da terra entre os
filhos de Noé estendeu-se, mais ou menos, em três zonas paralelas de
oriente para ocidente: a linhagem de Jafet tinha todo o Norte, ao longo de
uma linha desde a Média a Gibraltar, a de Sem a zona do meio, e a de Cam
o Sul, ao longo de uma linha que corria pelo ponto de junção entre a
Palestina e o Egipto. O autor anónimo também acrescentou uma lista dos
povos que possuíam um alfabeto, e dos principais rios, ilhas e grandes
cidades.
Esta, a lista completa de povos conhecidos pela tradição bizantina, só
se estendia para oriente até ao Império Persa. A existência da Índia era do
conhecimento geral, mas os outros países da Ásia Central e Oriental esta-
vam envoltos em mistério. O sempre popular romance de Alexandre
forneceu maravilhosos detalhes sobre os povos e animais que habitavam
esses locais exóticos. Entre os vários textos relacionados com a lenda de
Alexandre circulava um Itinerário do Paraíso ao País dos Romanos (20).
Este texto informava-nos que perto do Éden terreno estava o país dos
Macarini ou Carnarini, de onde corria um vasto rio que se dividia em
quatro braços. Os Macarini são bons e devotos. Não têm fogo e não cozi-
nham qualquer comida, sendo sustentados pelo maná que cai do céu, e
bebem uma mistura de mel de abelhas selvagens com pimenta. As suas
roupas são tão puras que nunca se mancham. Não existe doença entre eles
e vivem até cento e dezoito e cento e vinte anos. Sabem de antemão a
altura da sua morte e preparam-se para isso deitando-se num sarcófago de
madeira aromática. Também não têm governo, porque vivem em perfeita
harmonia. Todas as pedras preciosas vêm do seu país. Perto dos Macarini
vivem os Brâmanes, que também são extremamente virtuosos. mas con-
forme se vai mais para ocidente há uma deterioração gradual. A cultura de
cereais começa no país de Nebus, 0 quinto do Oriente, que é também o
primeiro país que tem um governo de anciãos. Os guen:eiros encontram-
-se primeiro em Axum, 0 décimo país, depois vem a India Menor, que
gera um grande número de elefantes e, finalmente, a Pérsia, que é prós-
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BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
pera. mas muito cruel. Parece que houve poucas tentativas, da parte dos
Bizantinos. para integrar estes povos orientais numa estrutura bíblica. mas
afirmou-se que as nações virtuosas do Extremo Oriente eram cristãs.
O principal problema que ocorreu na mente bizantina. em relação aos
povos da terra, relaciona-se com o seu estatuto no plano da Divina Provi-
dência. A igualdade dos homens é proclamada no Evangelho, uma vez
que Deus «fez de um só sangue, todo o género humano para habitar em
toda a face da Terra, e fixou a sequência dos tempos e os limites para a
sua habitação; os homens devem procurar Deus, se porventura, tacteando,
o puderem encontrar, o qual, todavia, não está longe de cada um de nós»
(Actos 17, 26-27). No entanto, era como se estes vários povos não tives-
sem sido objecto de igual solicitude da parte do Senhor. Não houve difi-
culdade no Período Inicial, os 2900 anos, mais ou menos, que se esten-
deram desde a Criação à divisão das línguas. Então e os seguintes 2600
anos até à Encarnação? Os profetas foram apenas enviados aos Israelitas,
enquanto as outras nações permaneceram na ignorância sobre Deus. E o
período depois da Encarnação? Não interessa quão longínqua era a afir-
mação do Evangelho, ele não se estendeu a toda a terra. Finalmente, qual
era, no esquema da Divina Providência, o papel das nações pagãs?
Para estas questões encontram-se apenas respostas esporádicas e par-
ciais. Admitindo que todos os homens tinham «um só sangue», a antiga
maldição de Noé pesou sobre os descendentes de Canaã, filho de Cam:
«Maldito seja Canaã. Que ele seja o último dos escravos dos seus irmãos.
Bendito seja o Senhor Deus de Sem, e seja Canaã seu escravo. Que Deus
aumente as posses de Jafet e que ele resida nas tendas de Sem, e seja
Canaã o seu escravo» (Gen. 9, 25-7). Acredita-se que esta maldição foi
feita não apenas porque Carn tinha visto a nudez do seu pai, mas também
como antecipação da ganância de Canaã ao invadir a Palestina e a Fenícia,
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terras que pertenciam a Sem. Assim, enquanto, denegria os Africanos
devido aos seus pecados ancestrais, Noé também profetizou o destino
glorioso da descendência de Jafet, uma vez que foi nesta última que o
cristianismo fez os maiores progressost-t).
Outra saída para dar alguma satisfação aos não crentes, que tinham
vivido antes da chegada de Cristo, foi dada pela declaração de São Pedro
de que o Senhor «também foi pregar aos espíritos que estavam no cárcere,
àqueles que outrora tinham sido rebeldes» (I Ped. 3, 19). Até foi dito que
São João Baptista, que tinha morrido antes de Cristo, começara a pregar
aos espíritos no Hades e que esta afirmação ficou completa na altura da
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Os HABITANTES DA TERRA
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BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
De facto, para um observador que vive no século VI, pode parecer que
não restou muito território para ser conquistado. O único grande obstáculo
era a Pérsia, onde o cristianismo já tinha feito progressos notáveis. No
entanto, foi relatado que o próprio rei da Pérsia, sob a influência do seu
médico cristão e de católicos nestorianos, deixara de comer a carne de
animais impuros e construíra um hospício para estrangeiros, algo de que
nunca se tinha ouvido falar(29).
O sonho de um oikoumenê completamente cristão ficou perto de se
realizar quando Heraclio subjugou o Império Persa e pôde, de facto, ter
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formado uma parte importante da política desse imperador. O revés catas-
trófico que o cristianismo sofreu, imediatamente depois, foi totalmente
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Os HABITANTES DA TERRA
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BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
uma oração, foi capaz de arrancar uma oliveira que obstruía a janela da
sua igreja e, noutra ocasião, fez com que um cadáver falasse. Quando
morreu, várias aparições e alucinações aconteceram sobre o seu túmulo -
tudo por acção dos demónios. A única forma de distinguir entre um
milagre verdadeiro e um falso, entre o cristão e o pagão, é pelo resultado
que alcançam, pois «pelos seus frutos vós deveis conhecê-los» (31 ).
O predomínio da renúncia, depois da conquista árabe, foi talvez uma
indicação de que os argumentos da Igreja não iam ao encontro da aceita-
ção geral. No entanto, durante o período bizantino o sucesso de ethnikoi
foi explicado precisamente da mesma forma que tinha sido por Anastásio.
Esta argumentação foi aplicada aos Ávaros, aos Árabes, aos Búlgaros, aos
Russos, aos Latinos e, finalmente, aos Turcos. Em 860, durante o cerco de
Constantinopla pelos Russos, o patriarca Fócio declarou publicamente
que «Enquanto os povos de Deus se tornarem fortes e triunfarem sobre os
seus inimigos pela Sua Aliança. o resto das nações, cuja religião está em
falta, não aumenta em força pelas suas boas acções. mas devido às nossas
más» (32). No século XV, como muitas vezes antes, a mesma pergunta foi
feita: porque é que os Turcos são vitoriosos, enquanto nós estamos desor-
ganizados? Talvez seja porque não aceitámos a revelação superior de
Maomé, tal como os Judeus foram punidos por não terem aceite a de
Cristo? - Não, responde o imperador Manuel II Paleólogo. Primeiro, não
podemos ser comparados com os Judeus que, desde a queda de Jerusalém,
não tiveram nem rei, nem cidade, nem templo. Segundo, muitos impérios
apareceram e desapareceram e o seu sucesso não pode ser atribuído à sua
superioridade religiosa - por exemplo, o dos Assírios, o dos Persas, ou o
de Alexandre da Macedónia, que era manifestamente ímpio, uma vez que
sacrificou aos demónios. Além do mais - e aqui, finalmente, encontramos
um novo pensamento - existem no Ocidente vários Estados cristãos
que são mais poderosos do que o dos Turcos. Ainda resta algum tempo
antes do fim do mundo: quem sabe quais as alterações que nele podem
acontecer(33)?
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Capítulo 10
O Passado da Humanidade
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quem, mais tarde, os Gregos derivaram o seu próprio alfabeto. Mais ainda,
foi contemporâneo de Melquisedeque, o rei-sacerdote pagão que fundou
Jerusalém, e era o protótipo de Cristo. O reino de Sicião, o mais antigo na
Grécia, foi estabelecido, mais ou menos, na mesma altura.
A fase seguinte do processo histórico foi fornecida por Moisés, o
maior de todos os profetas antes de João Baptista e, por acaso, o primeiro
historiador. A importância de Moisés deveu-se, não tanto ao facto de ter
retirado o seu povo do cativeiro, mas à superior revelação que lhe foi con-
cedida e aos «sinais» que acompanharam toda a sua carreira. Como
Cristo, Moisés, em criança, foi salvo da morte, assim como os outros
recém-nascidos masculinos do seu povo; também como Cristo, retirou-se
para o deserto - não por quarenta dias, mas por quarenta anos. Quando
abriu o mar Vermelho, fê-lo com um movimento cruciforme, e ao lançar
uma árvore nas frias águas de Marah, também isso apontou para a cruz
que dá vida. Os doze poços de água e as setenta palmeiras em Elim
representavam os doze maiores e os setenta menores apóstolos. O maná,
que foi reunido no sexto dia da semana e permaneceu íntegro no domingo,
prefigura o corpo de Cristo. Finalmente, apesar de Moisés ter morrido e
sido enterrado, ninguém conseguiu ver o seu túmulo. O código religioso
que Moisés estabeleceu era, obviamente, provisório, adaptado à percep-
ção imperfeita e costumes idólatras do seu povo - uma sombra da reali-
dade do que viria. Contudo, por comparação com os povos pagãos do seu
tempo - ele era tido como tendo sido contemporâneo de Ínaco, primeiro
rei dos Argivos - Moisés era uma figura de cultura superior, uma observa-
ção que serviu para provar, mais uma vez, que todo o conhecimento
pagão, especialmente o grego, fora um desenvolvimento muito mais
tardio e derivativo.
O grande sábio seguinte dos Israelitas foi o rei Salomão que, apesar da
sua lastimável fraqueza por mulheres, adquiriu conhecimento de todas as
coisas naturais e escreveu livros sobre plantas e animais. Também
descobriu vários remédios e encantamentos contra demónios. Estes livros,
plagiados pelos gregos «iatrossofistas», foram mais tarde destruídos por
ordem de Ezequias, que viu que as pessoas os usavam para fins médicos,
em vez de rezar a Deus pela cura. Também havia interesse considerável
pelo Templo de Salomão, que era especialmente venerado por ser na
altura o único templo do verdadeiro Deus. As figuras esculpidas de queru-
bins, que continha, eram muitas vezes citadas como justificação do uso de
ícones. Em relação à Arca da Aliança, que estava colocada no local mais
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0 PASSADO DA HUMANIDADE
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Capítulo 11
O Futuro da Humanidade
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B IZÂNC IO. 0 lM PéRIO DA N O VA R OM A
uma vez que vinha dos próprios lábios de Cristo, era o «apocalipse
sinóptico» (Mt. 24; Me. 13; Lc. 21). Este previa, primeiro, um período de
guerra entre os reinos e as nações, de «fome e pestes, e terramotos em
diversos locais», que anunciariam o «início das lamentações» (ou, mais
literalmente, o nascimento das dores). Todas as formas de injustiça seriam
então frequentes e muitos falsos profetas chegariam; mesmo assim, «o
evangelho do reino» seria pregado a todo o mundo, «e depois viria o fim».
«A abominação da resolução mencionada por Daniel, o profeta» ficaria no
local sagrado, e haveria grandes aflições e lamentações, mas para bem do
eleito, esses dias seriam encurtados. Depois o sol e a lua perderiam a sua
luz, as estrelas cairiam do céu e o Filho do Homem apareceria nas nuvens
com poder e glória. O eleito deveria ver os sinais apropriados; pois,
embora a altura exacta do Segundo Advento não fosse conhecida nem
sequer dos anjos, mas apenas do Pai, «esta geração não deveria passar até
todas estas coisas estarem cumpridas».
O apocalipse de Cristo era parte essencial da grande onda de espe-
culação escatológica que varreu o mundo judeu entre o século II a.C. e o
século I d.C. Este não é o local para examinar em detalhe as várias ideias
que foram expressas na altura, porém, podemos realçar alguns dos
motivos que iriam ter um papel importante no período bizantino. Parti-
cularmente importante era o mito do Anticristo, mencionado no passo
joanino que citámos no início deste capítulo. Já esboçado no Livro de
Daniel, «o homem do pecado», ou «o filho da perdição», assume uma
forma mais concreta nos ensinamentos de São Paulo. Ele apareceria na
altura da «queda», um pouco antes do Segundo Advento, e sentar-se-ia no
Templo de Deus, fazendo-se passar por Deus e fazendo milagres, mas o
verdadeiro Senhor destruí-lo-ia «com O espírito da sua boca» (II Tess. 2).
Também se acreditava que o Anticristo pertencia à tribo de Dan, que seria
enfrentado por Elias (ou Elias e Enoque, sendo estes, presumivelmente, as
duas testemunhas mencionadas no Apocalipse), que ele mataria, que o seu
reino duraria três anos e meio, e por aí adiante. Também do livro de Daniel
vem a noção de quatro reis ou bestas, o último dos quais - o que tem
dentes de ferro e dez chifres, a besta que «deve devorar toda a terra,
esmagá-la e quebrá-la em pedaços» - era geralmente identificada com o
Império Romano, apesar do facto de na mente do autor ter claramente
denotado os Selêucidas. O reino da quarta besta seria directamente
seguido pelo Juízo Final (Dan. 7). De origem ainda mais antiga, nomea-
damente, o Livro de Ezequiel (caps. 38-39), era a noção de Gog e Magog
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0 FuTURO DA HUMANIDADE
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0 FUTURO DA HUMANIDADE
mado num fantasma sem cabeça, cuja cara estava muitas vezes transfor-
mada numa massa de carne incaracterística, pelo que poderia certamente
ser olhado como Príncipe dos Demónios ou o próprio Anticristo. De qual-
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1
quer maneira, esta foi a dedução que Procópio formulou na sua História
Secreta (4). Além disso, o reinado de Justiniano estava cheio de guerras
sem fim, com terramotos, pestes e todas as outras formas de calamidade.
Numa determinada ocasião, quando Constantinopla foi abalada por um
terrível terramoto, em 557, o rumor de que o mundo estava a chegar ao
fim ganhou grande aceitação, havendo sido particularmente agitado pelos
«santos loucos» que alegaram ter recebido intimações sobrenaturais do
futuro. A população entrou em pânico: alguns fugiram para as montanhas
e tornaram-se monges, outros deram dinheiro às igrejas, os ricos distri-
buíram esmolas pelos pobres, e mesmo os magistrados abandonaram, por
algum tempo, os seus costumes desonestos (5).
A crise sempre intensa dos últimos séculos VI e vn só poderia ter
exortado uma influência semelhante na mente das pessoas. Tibério II, um
imperador virtuoso, foi assegurado por um anjo do Senhor de que o tempo
da impiedade apocalíptica não ocorreria durante o seu reinado. Assim
confortado, ele morreu em paz (6). A expectativa de calamidades medo-
nhas foi de facto cumprida durante o reinado do tirano Focas (602-610),
seguidas pela guerra desesperada entre os impérios romano e persa e o
cerco de Constantinopla pelos Ávaros (626). Todos os sinais apontavam
para a catástrofe final. Uma profecia atribuída ao rei persa Cósroas II,
proclamava que a supremacia «babilónia» sobre os Romanos duraria pelo
menos três «hebdómadas» a partir do ano 59 l (por outras palavras, até
612), depois do que, na quinta «hebdómada» (619-626), os Romanos
derrotariam os Persas; «e quando estas coisas tiverem acontecido, o dia
sem noite amanhecerá sobre os homens» (7). Por uma coincidência maior,
as campanhas de Heraclio contra a Pérsia duraram seis anos, como os Seis
Dias da Criação. O seu regresso triunfal à capital (628) corresponde ao
domingo divino (8) e foi seguido por aquilo que apenas pode ser interpre-
tado como um acto apocalíptico deliberado: Heraclio viajou para Jerusa-
lém para dar graças a Deus e restituiu ao monte Gólgota a relíquia, mira-
culosamente «inventada», da Cruz Verdadeira. Não ficou lá por muito
tempo.
Quem quer que tenha posto a circular a profecia de Cósroas II não
sabia que a sua quinta «hebdómada» correspondia, na verdade, a um
acontecimento de magnitude cósmica, o ano da Hégira. O advento vito-
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Gregos provou ter origem etíope, e foi esse Império que iria manifesta-
mente «estender as suas mãos para Deus».
Depois de fornecer esta demonstração e alguns outros factos da histó-
ria universal, o nosso autor continua a descrever a devastação causada
pela conquista árabe e equipara a miséria do seu tempo ao «declínio» que
havia sido previsto por São Paulo. Mas, depois do domínio árabe ter
durado setenta e sete anos (ou dever-se-á ler sete vezes sete?), surgirá «um
imperador dos Gregos, isto é, dos Romanos», que «acordará como que do
sono, e como um homem que tivesse bebido vinho» (S. 78, 65). Castigará
os Árabes e impor-lhes-á uma pesada opressão. Então todos voltarão a
casa, seja ela na Cilícia, lsáuria, África, Grécia ou Sicília: a Arábia será
devastada e o Egipto queimado. Então a paz reinará: as cidades serão
reconstruídas; as pessoas vão comer e beber, casar e dar em casamento.
Mas não durante muito tempo: pois agora Gog e Magog vão fugir das
Portas do Cáspio e invadir as terras orientais, no caminho até Joppa, onde
o arcanjo do Senhor os vai castigar. Então, o imperador romano conti-
nuará para Jerusalém e habitará lá dez anos e meio; e o Anticristo vai apa-
recer, um homem nascido em Corazaim e criado em Betsaida (Mt. 11, 21).
O imperador vai subir o rochedo do Gólgota e colocar a sua coroa na
Cruz Verdadeira, e esta subirá aos céus. O Anticristo será enfrentado por
Enoque e Elias que ele matará, e ele próprio será destruído pelo Senhor.
Finalmente, o Filho do Homem aparecerá em julgamento.
A esperança de que o Império Árabe desmoronasse no século VII
pareceu, a certa altura, estar perto de se concretizar. A guerra civil árabe
(661-665), o fracassado ataque sobre Constantinopla (674-678) e as incur-
sões destrutivas dos Mardaítas na Síria e na Palestina poderiam ser confir-
madas com esta visão. Os Árabes tiveram que aceitar a paz em termos
desfavoráveis para o imperador Constantino IV e, como escreveu um
cronista, «havia uma grande tranquilidade tanto no Oriente como no
Ocidente» ( 11 ). Em breve, contudo, os Árabes estariam de novo na ofen-
siva. Não sabemos, em detalhe, como esta nova situação foi feita para se
encaixar na visão apocalíptica, excepto que a duração antecipada do
Império Árabe foi alargada gradualmente: no final do século VIII foi-lhe
atribuído um período de prosperidade e o poder avaliado num total de
cento e cinquenta e dois anos(l2). Cerca de 820, um profeta siciliano ficou
satisfeito por adaptar o Pseudo-Metódio, mas introduziu um novo porme-
nor, isto é, que o último imperador seria revelado em Siracusa. Enviaria
os seus emissários «para as regiões interiores de Roma e subjugaria as
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BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
Em relação à nossa cidade deveis saber que até ao final dos tem-
pos não temerá qualquer inimigo. Ninguém a tomará - longe disso.
Pois fora confiada à Mãe de Deus e ninguém a retirará das suas mãos.
Muitas nações baterão com força nas suas muralhas, mas quebrarão
as suas trombetas e partirão envergonhadas, enquanto ganhamos
muita riqueza com elas.
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desesperadamente, salvar os seus parentes e estabelecer relações de tra-
balho com os seus novos mestres. Um sacerdote que escreveu a 29 de
Julho de 1453 - exactamente dois meses depois do desastre - pede a um
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amigo na cidade de Ainos (a actual Enez): «Eu imploro-vos, meu bom /
Senhor, que me envieis o livro de São Metódio de Patara, um exemplar
velho ou novo, se por acaso tiverdes um. Por favor, não negligencieis este
pedido, pois preciso realmente dele. Também vos imploro que me envieis,
se conseguirdes encontrar, algumas ovas de peixe seco» (23). O ano profé- !
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tico de 1492 chegou e passou. O mundo continuou a existir.
O drama final da história humana, que Deus «pelo Seu julgamento
i
inescrutável» continuou a adiar, seria o Segundo Advento - e pode fazer-
-se aqui uma pausa para perguntar como se esperava que isto acontecesse.
Aqui deve-se seguir a visão exacta deste acontecimento, contida na Vida
de Basüio, o Jovem (século X), cujo discípulo, de nome Gregório, foi
transportado para o céu e, por assim dizer, foi-lhe concedida uma «visão
antecipada» especial. Tirando partido da vantagem de estar num ponto
elevado, Gregório viu primeiro uma cidade construída com ouro e pedras
preciosas. Era tão grande como o círculo do firmamento; as suas paredes
tinham trezentos côvados de altura e doze portões, todos fechados com
segurança. Esta era a Nova Sião, que Cristo tinha construído, depois da
sua encarnação, como um local de descanso para os Seus apóstolos e
profetas. Depois de certos preparativos terem sido feitos pelos anjos,
abriu-se um orifício nos céus e uma coluna de fogo desceu à terra. Ao
mesmo tempo um anjo foi enviado a Satanás (o Anticristo), que havia
reinado três anos na terra. O anjo tinha um pergaminho em fogo, no qual
estava inscrita uma missiva do Senhor, ordenando a Satanás que limpasse
todo o mal e corrupção que tinha causado, e que depois partisse para o
Inferno. Então, o arcanjo Miguel e outros doze anjos fizeram soar as suas
trombetas e a morte chegou. Todos pareciam iguais, por outras palavras,
não havia diferença entre homens e mulheres, nenhum sinal de idade, e
mesmo as crianças foram transformadas em adultos. Alguns, todavia,
tinham faces resplandecentes e inscrições luminosas nas sobrancelhas,
expressando as suas respectivas qualidades, enquanto os pecadores esta-
vam cobertos de sujidade e esterco, com lama e cinzas, ou com as erup-
ções da lepra, cada um de acordo com o seu pecado. Havia ainda alguns
que pareciam animais - esses eram os idólatras que nunca tinham ouvido
falar de Cristo ou Moisés. Os pecadores, como o justo, estavam identifi-
cados pela inscrição, e entre eles encontravam-se os heréticos - arianos,
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Capítulo 12
A Vida Ideal
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havia comprimido o universo de uma forma ordenada e era Seu desejo que
a vida humana fosse levada com o mesmo espírito (2). Observando o
princípio da ordem divinamente apontada, tanto nas relações sociais como
na esfera privada, sujeitamo-nos à harmonia do universo: a vida na terra,
com todas as suas imperfeições inerentes, assume semelhanças com a
vida no Céu.
Tal como o universo é regido, monarquicamente, por Deus, também a
humanidade é governada pelo imperador romano. A encarnação de Cristo,
como já realçámos, foi providencialmente regulada para coincidir com a
construção do Império Romano, que colocou um fim nas divergências e
guerras, isto é, na desordem causada pela partilha de poder entre vários
Estados autónomos (polyarchia) (3). Deus não só ordenou a existência do
Império, mas também escolheu cada um dos imperadores, sendo essa
a razão pela qual não foram formuladas quaisquer regras humanas para a
sua nomeação. Isto não significa que o imperador fosse sempre um bom
homem: Deus, na Sua sabedoria, pode, deliberadamente, seleccionar um
mau imperador de forma a punir a humanidade pelos seus pecados(4).
As alternativas para legitimar o governo do imperador eram a usurpação
(tyrannis) e a anarquia. Um tyrannos era alguém que se tentava tornar
imperador em oposição ao desejo de Deus e, consequentemente, falhava;
pois se ele tivesse sucesso era porque Deus estava do seu lado, deixando
ele de ser um usurpador. A ausência de autoridade única ou regras da
plebe (dêmokratia) equivalia à confusão.
Deus rege a humanidade inspirando medo do Inferno e prometendo
recompensa no Céu (5), por outras palavras, com um pau e uma cenoura.
Da mesma forma, o imperador governa os seus súbditos pelo medo: os
seus inimigos são postos na prisão, expulsos, disciplinados pelo chicote,
privados da sua visão ou da sua vida. Mesmo os inocentes «servem-no
tremendo»: podem ser enviados para a batalha, ou ser-lhes dadas tarefas
desagradáveis, mas ninguém se atreve a desobedecer (6). Claro que é
preferível para o imperador governar súbditos ao seu dispor, e ao fazê-lo
deve manifestar certas qualidades que também são partilhadas por Deus.
Acima de tudo, deve amar os homens (philanthrôpos). Enquanto perma-
nece imponente, devido à sua autoridade, deve fazer-se a si próprio amado
pelo exercício da beneficência. Generosidade e clemência são espe-
cialmente apropriadas ao imperador, mas ele também deve insistir na
observância directa da lei (eunomia). Na sua própria pessoa deve ser auto-
comedido, circunspecto, resoluto em acção e lento na ira. O seu único
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lavrava era muitas vezes pobre e rochoso, mas se tivesse sucesso e nasces-
sem frutos, a sua alegria era maior do que se tivesse cultivado um terreno
fértil (19). Por outro lado, os mercadores dedicavam-se a uma profissão
que rapidamente levava a actos imorais. Havia muita liberdade de acção
para se ser desonesto na compra e venda de produtos, e pedir emprestado
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e emprestar a juros era um grande mal. Era nosso dever não virar as costas
a qualquer pessoa que nos pedisse emprestado (Mt. 5, 42), mas exigir
juros era proibido. Um homem sobrecarregado com um empréstimo não
tinha qualquer alegria na vida e nenhum descanso no sono. Via o seu
credor nos seus sonhos, odiava os dias e os meses que o aproximavam da
data de pagamento. Os empréstimos eram causa de mendicidade, ingra-
tidão e perjúrio. Era infinitamente melhor contentar-se com os seus
próprios meios, mesmo que fossem irrisórios. do que recorrer ao dinheiro
de outro homem (2º). No que diz respeito aos artesãos, estes praticavam
algumas técnicas úteis que haviam sido inventadas para todos. não tanto
pela mente humana. mas mais com a ajuda divina. Era inútil preocupar-se
com a visão da sua perfeição adicional (21 ).
Os escravos, que formavam o elemento mais baixo da sociedade,
tinham o dever absoluto, repetidamente enfatizado na Bíblia, de obedecer
aos seus mestres, mesmo que estes fossem cruéis. A instituição de
servidão era ela própria um mal, a consequência do pecado de Carn
(Gen. 9-25), pelo que se louvava dar alforria a escravos herdados. No
entanto, viver inteiramente sem eles dificilmente se tornaria praticável.
Um senhor era bem aconselhado a lavar os seus próprios pés, para ser
geralmente auto-suficiente. Não precisava de um criado para lhe entregar
as suas roupas, ou acompanhá-lo ao banho, mas era impensável um
homem livre cozinhar (22). Por outro lado, era impróprio que uma pessoa
comum comprasse um escravo apenas para o exibir. Em geral, os mestres
eram instados a tratar os seus escravos humanamente, e a não lhes bater.
Não se pode duvidar que o cristianismo introduziu alguma clemência
nas relações sociais. especialmente em relação à escravatura. As Vidas
dos santos sublinham, repetidamente, que todos os homens foram feitos
do mesmo barro e castigam os mestres cruéis. Ocasionalmente é também
feito um apelo para redistribuição da riqueza. Assim, Agapito, no século
VI, comenta que os ricos e os pobres «sofrem males semelhantes de
circunstâncias diferentes; os primeiros rebentam com o excesso, ao passo
que os segundos são destruídos pela fome». Da mesma forma ele insta o
imperador a pegar nalgum do lucro dos ricos e dá-lo aos pobres, para
obter uma maior igualdade (23). Ao salientar continuamente a obrigação
dos cristãos de dar esmolas, a Igreja obteve o mesmo resultado de forma
mais eficaz e em maior escala do que qualquer intervenção que o governo
poderia ter tido. Ao mesmo tempo, há que admitir que nenhuma reforma
fundamental da sociedade foi advogada, sobretudo porque o mérito
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Parte III
O Legado
Capítulo 13
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Bíblicos 10
Litúrgicos 33
Patrísticos 12
Padres do deserto 3
Apócrifos (Testamento dos Doze Patriarcas)
Hagiografia 4
Miscelâneas cristãs (Pandektês, Melissa) 2
Direito canónico 3
Seculares (1 livro de direito; l livro de sonhos; 1 Esopo;
1 Georgius Pisides; 2 crónicas, 1 romance de
Alexandre; 1 Aquiles Taciano; 1 gramática;
1 Persica) 10
Indeterminado 2
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Bíblicos 10
Litúrgicos 33
Patrísticos 12
Padres do deserto 3
Apócrifos (Testamento dos Doze Patriarcas)
Hagiografia 4
Miscelâneas cristãs (Pandektês, Melissa) 2
Direito canónico 3
Seculares (1 livro de direito; I livro de sonhos; I Esopo;
1 Georgius Pisides; 2 crónicas, 1 romance de
Alexandre; I Aquiles Taciano; 1 gramática;
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mesmo que fosse copiado, não tinha grande circulação. A maior parte
destes textos sobreviveu num único manuscrito. Estes representam a
«eternidade» da literatura bizantina, no sentido de que cada geração de
escritores não se construía sobre a existência e ideias da geração prévia,
mas antes mantinha uma relação constante com os seus modelos distantes.
A prova disto, como todos os estudantes de filologia bizantina sabem, é
que um texto não firmemente atribuído a um autor identificável, e com
falta de qualquer referência histórica clara. é quase impossível de datar.
Os exemplos são abundantes e muitas vezes embaraçosos - e não esta-
mos a falar apenas de pastiches, tais como os diálogos pseudolucianistas,
ou as Orações Leptíneas, que há muito se atribuíam a Aélio Aristides
(século II d.C.), mas que hoje se acredita serem obras de Tomás Magister
(século XIV)( 17). Cartas de Isidoro de Pelúsio (século V) foram atribuídas,
por um erudito reputado, ao patriarca Fócio (século IX), e ainda hoje se
discute se a versão grega de Barlaão e Josafat pertence a São João
Damasceno (século vun ou, tal como parece ser mais plausível, se se
trata de um trabalho do século XI. Até se argumentou que um texto
histórico, a saber, A Tomada de Tessalonica, de João Caminiates, não
fora escrito pouco depois de 904, como todos julgavam, mas no início do
século XV (18). Tal incerteza não teria sido possível se o estilo da literatura
bizantina tivesse mostrado um desenvolvimento consistente.
Depois destas observações preliminares, temos que considerar três
tipos de escrita, cada um relacionado com um diferente nível linguístico.
Pedimos desculpas pela omissão, no nosso levantamento, da poesia litúr-
gica. Ninguém negará que os hinos de Romano, o Melodista, em parti-
cular, e os de Cosmas de Maiuma, André de Creta e João Damasceno, em
menor extensão, exibem uma alegria de expressão e profundidade de
sentimento que estão normalmente em falta em quase todos os trabalhos
de poesia bizantina. no entanto, seria enganador tratá-los simplesmente
em termos poéticos. A compreensão da hinografia precisa de algum
conhecimento da sua função litúrgica, da sua estrutura musical e da sua
base semítica; acima de tudo precisa de uma atitude mental que é provável
que o leitor moderno não possua.
A nossa primeira amostra refere-se à historiografia, inegavelmente
uma das grandes proezas das cartas bizantinas. Não falaremos aqui da
crónica que já discutimos no capítulo 10. Uma «história» pertencia a um
tipo diferente: era escrita em grego antigo, imitava os modelos antigos e
narrava a acção através de uma associação de eventos, em vez de seguir
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sarnente ambígua. Será que Procópio quer insinuar que uma manifestação
da doutrina católica (ou monofisita) sobre a natureza de Deus resultaria na
sua descrença? E qual o tipo de perigo que quer evitar?
O problema perene associado a Procópio é o de um homem, com os
seus indiscutíveis dons e aparente integridade, que compôs, no período de
cerca de uma década, três trabalhos com espíritos completamente diferen- i
tes, a saber: Guerras, uma obra imponente e objectiva, História Secreta,
essencialmente difamadora e, por fim, Construções, desavergonhada- 1
mente encomiástica. Conjecturou-se que esta última, que descreve com
rasgados louvores o vasto programa de construção de Justiniano, fora
ocasionada por alguma promoção, ou distinção de favor, que o autor possa
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ter recebido do imperador. Mas, quanto à História Secreta? Uma vez que !
não era para ser publicada, as hipóteses são que expressa fielmente as
opiniões pessoais de Prócopio ou, de qualquer forma, as suas opiniões
naquela fase da sua carreira, em particular. Todavia, dos três trabalhos este
é aquele que se terá mais problemas em aceitar. Diverte pelo registo esca-
broso da juventude de Teodora, mas cansa pela invectiva constante contra
todos os actos da política de Justiniano. Mesmo Belisário, representado
em Guerras como um homem corajoso, de muitos recursos mas modesto,
é aqui caracterizado como um fraco comovente. O mais estranho de rude
é a aparente convicção do autor, declarada sem qualquer sinal de ironia,
de que o imperador era um demónio em forma humana. É pouco provável
que isso fosse uma piada, e ficamos a pensar se Procópio, sob a sua
máscara de cepticismo cultivado, não seria tão supersticioso como a maior
parte dos seus contemporâneos.
Depois de Procópio houve um marcado declínio nos escritos histó-
ricos. O seu sucessor Agatias, que era jurista de profissão e poeta por
inclinação, não tinha qualquer experiência dos assuntos públicos, nem
nenhum compromisso para com a objectividade da história, que olhava
como sendo semelhante à poesia, e servindo principalmente um propósito
moral (23). Uma degradação posterior é perceptível no trabalho moralista
de Teofilacto, após o que houve uma interrupção prolongada na prática da
historiografia. O seu renascimento (pondo de lado o esforço bastante débil
do patriarca Nicéforo) teve que esperar até meados do século X, quando o
patronato de Constantino Porfirogeneta resultou em duas histórias que
remontam a 813, período em que o cronista Teófanes pousara a sua pena.
Os anónimos Continuadores de Teófanes estão, superficialmente, gratos
aos modelos clássico e bizantino inicial, e merecem algum louvor por
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uma idade avançada. Por fim, a sua santidade seria confirmada por mila-
gres póstumos, alguns dos quais eram, habitualmente registados assim
como também o dia e o mês do falecimento do santo.
Uma das vantagens de tal esquema era que podia ser aplicado a
qualquer santo monástico, em relação a quem nada de definitivo se sabia,
a não ser o seu nome, local de origem e data da sua celebração litúrgica.
Muitas Vidas (não apenas dos monges, mas também dos mártires, bis-
pos. etc.) são, assim, apenas um conjunto de frases feitas; outras não são
só fictícias em si mesmo, mas também em relação aos santos que prova-
velmente nunca existiram; e algumas são fictícias, apesar de se referirem
a santos que, por acaso, foram muito bem documentados (tal como Santo
Epifânio de Salamina). Colocando de lado tais produtos dúbios, perma-
nece um resto considerável de Vidas que são, de um modo geral, de con-
fiança. Muitas delas foram escritas por discípulos de santos, ou por um
homem de uma geração mais tardia que foi, apesar de tudo, capaz de
explorar fontes de informação oral. São ricas em detalhes precisos e
pitorescos, valiosos para o historiador, uma vez que as histórias formais
são incompletas a este respeito. De facto, as Vidas dos santos são muitas
vezes a nossa melhor fonte para recriar o quotidiano das cidades e aldeias
bizantinas, e há, felizmente, um vasto conjunto de excelentes textos,
começando com a Vida de Porfírio, bispo de Gaza, por Marco, o Diácono
(século V), passando para a de São Hipácio por Callinicus, as de Santo
Eutímio e de São Sabas, por Cirilo de Citópolis (um autor notado pela sua
precisão), a de São Simeão, o jovem asceta retirado, de São Teodoro de
Sykeon, de São Simeão, o Louco, e a de São João Esmoler, entre muitos
outros. O período iconoclasta produziu uma enchente de Vidas interessan-
tes (notavelmente, a de Santo Estêvão, o Jovem), continuando a hagiogra-
fia a florescer até ao século XI, quando se começa a observar um declínio.
Não apenas as autênticas, mas mesmo algumas das Vidas fictícias
podem ainda ser lidas com prazer e diversão. No entanto, a sua principal
deficiência, do nosso ponto de vista, é que nunca transmitem um sentido
de desenvolvimento psicológico de um santo, apesar de estarem explicita-
mente preocupadas com o seu progresso espiritual. Uma vez que o santo
é um modelo de virtude desde a sua mais precoce infância e não tem
aspectos negativos, sabemos com antecedência que permanecerá o mesmo
durante toda a sua existência terrena. Nunca sucumbirá à tentação
nem errará, excepto por excesso de zelo, ou por agir sob falsa declaração.
Esta previsibilidade era tão apreciada pelo público bizantino como o é um
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LITERATURA
filme ocidental por um público moderno de cinema; pois não pode haver
dúvida de que a hagiografia fornecia não apenas edificação, mas tam-
bém satisfação de desejos. Os homens medievais, vivendo num mundo
real de medo, incerteza e doença, precisavam dos seus heróis que derro-
tavam demónios, envergonhavam os médicos e nunca vacilavam nos seus
propósitos.
As Vidas dos santos que consideramos mais apelativas foram escritas
numa linguagem simples, às vezes à beira do vernáculo, mas mais fre-
quentemente reflectindo o uso linguístico normal da Igreja. A necessidade
de comunicar com um público não instruído nem sempre era procurada.
Leôncio de Neápolis (século vn) insiste neste ponto no Prefácio da Vida
de São João Esmoler: «A consideração que me despertou, especialmente,
para esta tarefa era que deveria contar o conto no meu estilo prosaico, não
adornado e humilde, para que o homem iletrado comum pudesse tirar
benefício das minhas palavras» (29). Todavia, esta abordagem não estava
destinada a durar. No Período Médio bizantino sentia-se que os hagió-
grafos ingénuos não tinham alcançado a dignidade do seu assunto:
«Distorceram algumas acções [dos santos], enquanto a outro respeito, não
sendo capazes de estabelecer o que era apropriado, descreveram a virtude
dos santos de uma forma deselegante. Não criavam um bom argumento,
nem o adornavam com palavras bonitas.» Como resultado, as Vidas dos
santos tornaram-se objecto do ridículo e o público afastava-se devido ao
seu estilo descuidado (30). A tarefa de recompor a herança hagiográfica
dos séculos mais antigos foi primeiro levada a cabo cerca de 900 d.C.
por Nicetas, o Paflagânio, o qual se dedicou a cerca de cinquenta Vidas
sem, no entanto, ganhar grande notoriedade. Algumas décadas mais tarde,
Simeão Metafrastes, possivelmente por instigação de Constantino
Porfirogeneta, fez uma revisão mais detalhada. Parafraseou cerca de cento
e trinta e cinco, manteve outras doze inalteradas e publicou toda a colec-
ção em dez volumes organizados pelo calendário. O seu esforço ganhou
aceitação, sobrevivendo cerca de setecentos manuscritos do menologium
metafrástico, o que significa que um grande número de igrejas e mosteiros
os adoptou para uso litúrgico.
O Metafrastes escrevia num grego «adequado», não tão retorcido
como o de Nicetas, o Paflagônio. Alguns críticos contemporâneos
consideraram-no insuficientemente sofisticado, mas outros louvaram-no
por ter seguido um curso médio e ter tido êxito ao agradar ao público
culto, pela variedade e beleza do seu estilo e por se fazer entender pelos
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LITERATURA
vados, com um intervalo de datas dos séculos XII ou XIII até ao século xv.
Apenas um dos cinco, nomeadamente Callimachus e Chrysorrhoe (34),
pode ser atribuído a um autor conhecido, a saber, Andronico Paleólogo,
primo do imperador Andronico II. A data da sua composição é assim
cerca de 1300 d.C. Modelos ocidentais precisos foram identificados por
dois dos cinco, a saber, Phlorios e Platzia Phlore (uma versão do ampla-
mente difundido Floire et Blanchejlor), e Imberios e Margarona (do fran-
cês Pierre de la Provence et la bel/e Maguelonne, ou um precursor do
mesmo). Esta é praticamente toda a informação factual que ternos à nossa
disposição em relação a estes curiosos poemas.
Ao contrário dos romances de amor eruditos do século xu, a que j:
aludimos, os romances de cavalaria não têm um contexto clássico falso:
aqui somos transportados para um mundo distintamente medieval de
cavaleiros corajosos, donzelas louras, bruxas, dragões e castelos incon-
quistáveis. No poema que é provavelmente o mais antigo e também o
mais atractivo, nomeadamente Belthandros e Chrysantza (35), a geografia
é suficientemente real. O herói, que é o filho mais novo do imperador
bizantino, deixa a sua casa, atravessa a Ásia Menor, que está em mãos
turcas, é emboscado ao passar num desfiladeiro de urna montanha na
cordilheira do Tauro, atinge Tarso e as fronteiras da Cilícia arménia, e
depois continua para Antioquia, onde se apaixona pela filha do rei latino
Chrysantza, Todas as indicações adequam-se perfeitamente ao século XII,
ou à primeira metade do século XIII. O único elemento de fantasia é o
Castelo do Amor situado a dez dias de viagem de Tarso, mas havia vários
castelos românticos na Cilícia de que o autor pode ter ouvido falar. No
entanto, o que nos interessa aqui não é a geografia, mas o clima cultural
do poema. Belthandros é claramente Bertrand, enquanto o seu pai, o
imperador, se chama Rodophilos, que soa mais a Rodolfo. O herói de
cabelos louros não hesita em se tomar o vassalo tlizios) do rei de Antio-
quia. É um grande caçador e lutador, e nele há uma total ausência de
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LITERATURA
numa linguagem popular ou, como parece mais provável, literária. A mais
satisfatória e consistente das versões gregas, a de Grottaferrata (quase
com quatro mil linhas de extensão), não pode ser anterior a meados do
século XI, sendo certamente o trabalho de um autor com alguma educação,
pois conhecia não só a Bíblia e alguns refrães patrísticos, mas também os
romances de Aquiles Taciano e Heliodoro. A popularidade de tais roman-
ces antigos, no século XI, é atestada por Miguel Pselos (37), e vimos que
existia uma cópia de Aquiles Taciano na biblioteca de Eustáquio Boilas,
localizada em Osrhoene, por outras palavras, na mesma região onde
Digeneid parece ter sido composto.
O Digenes de Grottaferrata é feito de dois contos de origem e data
diferentes, o do emir árabe que casa com uma nobre bizantina e se con-
verte ao cristianismo, e o do seu filho Basílio Digenes Akrites. Este,
quando cresce, torna-se uma espécie de barão de fronteira, foge com a
adorável Eudocia Ducaena com quem casa, e passa a vida a lutar com
ladrões (apelatai) e animais selvagens. Finalmente, constrói para si pró-
prio um esplêndido palácio perto do rio Eufrates, onde morre ainda na flor
da juventude. Basílio não é um general bizantino, mas um senhor indepen-
dente, um herói com força de super-homem e perícia, que repetidamente
derrota todos os exércitos sozinho. É arriscado pronunciarmo-nos sobre as
qualidades literárias de um poema que se acredita ser bastante obscuro nas
suas várias redacções. No texto de Grottaferrata, a dicção é muitas vezes
prosaica e há muita moralização. Também a acção tende a ser obscura ou
inconsistente. Por exemplo, somos informados, perto do final (VII, 20lff.),
que Digenes havia subjugado os Árabes e trazido paz às terras romanas,
quando nada do género havia sido mencionado antes. Numa história que,
caso contrário, tem falta de elementos sobrenaturais, é surpreendente ser
de repente confrontado com uma serpente que assumiu a forma humana e
depois desenvolve três cabeças. A bélica Maximô, descendente das ama-
zonas que Alexandre, o Grande, havia trazido da terra dos Brâmanes,
resume uma estranha figura num mundo que é, excepto para ela, povoado
por homens e mulheres. E as infidelidades do herói, apesar de desculpadas
até certo ponto, são integradas na intriga de forma inadequada. Apesar dos
' -1
seus muitos defeitos, Digenes Akrites dá-nos, contudo, um vislumbre de um
cenário verdadeiramente heróico que contrasta fortemente com as fantasias
anémicas dos romances de cavalaria.
Os poucos exemplos que nos chegaram não formam, seguramente,
uma base suficiente para podermos tecer um juízo sobre a literatura bizan-
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Capítulo 14
Arte e Arquitectura
É justo dizer que a arte é a parte da herança bizantina que exerce sobre
nós uma atracção imediata. Esta afirmação não seria verdadeira há cem
anos, e se o é hoje, é porque o nosso próprio gosto estético deixou o
naturalismo em direcção à abstracção parcial ou mesmo total. Como
Robert Byron escreveu, em 1930: «Das numerosas culturas europeias,
cujos monumentos os nossos gostos consideram grandes, a arte represen-
tativa bizantina foi a primeira a descobrir aqueles fenómenos compreen-
didos do princípio da interpretação, em vez da reprodução, que nos nossos
dias apoia toda a expressão artística» ( 1 ). Por razões completamente
diferentes, os artefactos bizantinos foram também muito apreciados na
Idade Média. O erudito árabe al-Djahiz (século IX), embora comentasse
que os Bizantinos não tinham ciência nem literatura, gostava bastante dos
seus trabalhos de carpintaria, escultura e têxteis. «Os antigos Gregos»,
conclui, «eram homens de grande cultura, enquanto os Bizantinos são
artesãos» (2).
Em oposição à sua apreciação agora difundida, uma compreensão
adequada dos Bizantinos, a qual deverá residir no seu desenvolvimento e
na sua ligação aos factores históricos e sociais, não foi ainda totalmente
alcançada. Para isto há muitas razões. Em primeiro lugar, a arte bizantina,
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A RTE E A RQUITECTURA
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ARTE E ARQUITECTURA
últimos anos (681-685), tendo-se mantido um bom nível sob Justiniano II,
o primeiro imperador a colocar uma imagem de Cristo nas suas moedas.
Estas manifestações não nos deverão surpreender, uma vez que corres-
pondem ao breve período de euforia e consolidação que se seguiu ao
fracasso do ataque árabe a Constantinopla.
O impacto da iconoclastia na arte tem que ser avaliado mais na base
de provas textuais do que de monumentos existentes. Dera-se, certamente,
uma vasta destruição de trabalhos anteriores comportando representações
religiosas: foram queimados ícones portáteis, pinturas de muros e mosai-
cos raspados ou caiados, gravuras litúrgicas derretidas, manuscritos ilumi-
nados mutilados. Não podemos, obviamente, imaginar que esta destruição
fora levada a cabo com a crueldade sistemática de um Estado policial
moderno. Por exemplo, ficamos surpreendidos ao saber que alguns mosai-
cos e pinturas do palácio patriarcal de Constantinopla, o centro nevrálgico
da iconoclastia, só foram removidos em 768, quarenta anos depois da
promulgação da sua proibição (7). Em Tessalonica, os mosaicos de São
Demétrio não parecem ter sido molestados, mas o mosaico da abside
.
,
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ARTE E ARQUITECTURA
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A RTE E A RQUITECTURA
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1
pela acção da Virgem Maria. A civitas Dei bizantina é o Novo Testamento l
e o coro dos santos cristãos.
Outra característica da decoração da igreja bizantina, do século IX até
ao século XII, é a restrição do elemento da narrativa. Em vez dos prolon-
gados ciclos da arte primitiva cristã, a história do Novo Testamento foi
condensada num número limitado de episódios-chave, uma espécie de
1
calendário litúrgico composto pelas principais festas, começando com a
Anunciação (habitualmente no pé-direito que ladeia o presbitério) e
terminando com a Dormição da Virgem (na parede ocidental da nave). Tal
selectividade estava de acordo com a forma arquitectural da igreja bizan-
tina do Período Médio. Uma vez que as superfícies verticais das paredes
estavam cobertas com mármore, quase não havia espaço na nave para
mais de uma dúzia de composições figurais, desde que estas estivessem
representadas numa escala razoavelmente grande.
Considerando a decoração da igreja bizantina média, de um ponto
de vista formal, somos surpreendidos, em primeiro lugar, pela eliminação
de «espaço de imagem». Elementos de paisagem e de arquitectura foram
removidos o mais possível e substituídos por um fundo dourado uniforme.
Em algumas composições, tais como a Natividade, o Baptisrno e a
Entrada em Jerusalém, como o cenário não poderia ser totalmente elimi-
nado foi transmitido por um número de apoios simples, como no palco
moderno. Bastava uma cruz para a Crucificação. Na Anastase (Angústia
do Inferno), a ideia de inferno podia ser transmitida por um pequeno
e escuro precipício, cheio de urna série de ferragens (as fechaduras e
parafusos do Inferno) e com dois sarcófagos de onde os eleitos emergiam.
Na Anunciação, a casa da Virgem podia ser omitida, deixando apenas os
dois protagonistas. Na Lavagem dos Pés (como em Hosios Loukas), dois
bancos e urna bacia eram os únicos suportes necessários.
A ausência de perspectiva natural, que é outra característica da arte l,.l / li
bizantina, remonta directamente ao Período Inicial cristão. O tamanho das
figuras numa composição depende mais da sua importância hierárquica 1
do que da sua posição no espaço. Consideremos, por exemplo, a bela /l / t
Natividade em Daphni: a Virgem Maria e José estão colocados no ~ ;
mesmo plano, no entanto, a Virgem é distintamente maior do que o seu
marido. Os anjos são, mais ou menos, do mesmo tamanho que José, mas
I'
estão de pé, a urna distância considerável, atrás de uma montanha. Dois J 1
deles ainda conseguem esticar os braços sobre a montanha que, por isso,
aparece como um objecto de papel machê com quase um metro de altura.
305
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antiga Hécate ou Selene. No entanto, o efeito geral é, de certa forma, insa-
tisfatório. As figuras estão alinhadas sem qualquer preocupação de
composição ou escala, o desenho tem falsos locais (especialmente no caso 1
da Aurora), a faixa de solo não se esbate, sendo a sua linha terminal desa- /·
jeitadamente disfarçada por arbustos em flor. Ou considere-se a Unção
de David no Reginensis gr. 1 (datada de cerca de 940). Aqui, mais uma
vez há um ar superficial de antiguidade, mas a arquitectura por trás faz
pouco sentido - a mão esquerda da figura de Clemência cresce direc-
tamente do cotovelo, e os seis irmãos de David têm apenas dois pares de
pernas. O Rótulo de Josué, um exemplo único de ilustrações contínuas,
exibe a mesma mistura de personificações antigas, as cenas de «Pompeia»
e parte de desenhos de figuras mal interpretadas. Todos os três manus-
critos reproduzem a iconografia tradicional do Antigo Testamento, e são
cópias mais ou menos fiéis dos originais do Período Inicial bizantino. Até
que ponto as cópias partem dos seus originais perdidos é agora quase
impossível determinar; mas mesmo que tenha havido alguma adaptação,
ela não atinge um fenómeno de criatividade genuína. Os pseudoclássicos
mais do que os clássicos, os manuscritos iluminados do Renascimento
macedónio reflectem o gosto pela antiguidade artificial e anémica dos
círculos da corte.
Observações muito semelhantes podem ser feitas em relação às gra-
vuras de marfim do período macedónio. Figuras individuais têm, oca-
sionalmente, algo da qualidade da estatuária antiga, como no painel que
representa os apóstolos João e Paulo (agora em Veneza), a ajuda do com-
panheiro de André e Pedro, em Viena, o tríptico Harbaville, no Louvre,
etc. Contudo, o classicismo nunca se estende para além das figuras indivi-
duais. No marfim romano do Cabinet des Médailles, de cerca de 945,
Cristo está na forma antiga, enquanto o par imperial parece bone-
cos empalhados, sendo a mobília representada em perspectiva inversa.
As composições narrativas podem ter resultado de um recurso ao «relevo
pictórico» da forma helénica, mas a oportunidade não foi aproveitada.
De considerar, por exemplo, a insígnia dos· Quarenta Mártires no Museu
de Berlim. O tema, que deve vir de um original bizantino iniciai, repre- ff:':
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•'
senta os santos a congelar até à morte num lago. Ao variar a elevação
'!
do relevo, o gravador podia ter conseguido uma ilusão de profundidade,
todavia, optou por não o fazer. O trabalho figurativo é bom, mas a sua
profundidade não é uniforme, com o resultado de que os santos parecem
estar empilhados num monte. O que é particularmente instrutivo, no
307
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Apêndice
Lista cronológica dos imperadores bizantinos
317
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
Focas 602-610
Heraclio 610-641
Constantino IIl e Heraclonas 641
Constâncio II 641-668
Constantino IV 668-685
Justiniano 11 685-695
Leôncio 695-698
Tibério 11 698-705
Justiniano 11 (novamente) 705-711
Filípico 711-713
Anastásio 11 713-715
Teodósio lll 715-716
Leão lil 716-740
Constantino V 740-775
Leão IV 775-780
Constantino VI 780-790
Irene 790
Constantino VI (novamente) 790-797
Irene (novamente) 797-802
Nicéforo I 802-811
Estaurácio 811
Miguel I Rangabe 811-813
Leão V 813-820
Miguel II 820-829
Teófilo 829-842
Miguel lll 842-867
Basílio l 867-886
Leão VI 886-912
Alexandre 912-913
Constantino VII 913-959
Romano I Lecapeno 920-944
Romano II 959-963
Nicéforo 11 Focas 963-969
João I Tzimices 969-976
Basílio II 976-1025
Constantino VIIl 1025-1028
Romano III Argiro 1028-1034
Miguel IV 1034-1041
318
APÊNCIDE. LISTA CRONOLÓQICA DOS IMPERADORES BIZAl'ITINOS
Miguel V 1041-1042
Zoé e Teodora 1042
Constantino IX Monómaco 1042-I055
Teodora (novamente) 1055-1056
Miguel VI 1056-1057
Isaac I Comneno 1057-I059
Constantino X Ducas l059-I067
Romano IV Diógenes 1068-1071
Miguel VII Ducas 1071-1078
Nicéforo III Botaniates l078-I081
Aleixo I Comneno 1081-1118
João II Comneno III8-1143
Manuel I Comneno 1143-1180
Aleixo II Comneno 1180-1183
Androníco I Comneno 1183-1185
Isaac II Ângelo II85-I 195
Aleixo III Ângelo II95-1203
Isaac II (novamente) e Aleixo IV Ângelo 1203-1204
Aleixo V Murzuflo 1204
Em Niceia
319
1
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·- ---·•···
AB Analecta Bollandina
BZ Byzantinishce Zeitschrift
Cod. Just. Codex Justinianus, ed. P. Krueger = Corpus iuris civilis, II
(Berlim, 1929)
Cod. Theod. Codex Theodosianus, ed. Th. Mommsen (Berlim, 1905).
Trad. inglesa de C. Pharr, The Theodosian Code (Prin-
ceton, 1952)
CSHB Corpus scriptorum historiae byzantine (Bona, 1828-1897)
DOP Dumbarton Oaks Papers
Joannou, Discipline P.-P. Joannou, Discipline générale antique (IVe_JXe s.),
U 1, U2 (Grottaferrata, 1962)
JRS Journal of Roman Studies
Just, Nov. Justiniani Novellae, ed. R. Schoell e W. Kroll = Corpus
iuris civilis, III (Berlim, 1928)
PG Patrologia graeca, ed. J. P. Migne (Paris, 1857-1866)
Pl Patrologia latina, ed. J. P. Migne (Paris, 1844-1880)
PO Patro/ogia orientalis (Paris, 1907- )
REB Revue des études byzantines
ROC Revue de l'Orient chrétien
1
TM Centre de Recherche d'Histoire et Civilisation de Byzance, ·1
Travaux et mémoires
.1
Zepos, Jus J. e P. Zepos, Jus graeco-romanum (Atenas, 1931)
321
'I
!
;
Notas
323
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
(1) Leôncio de Neápolis, Life of St. Symeon the Fool, ed. L. Rydén (Upsala,
1963), 128.
(2) lbn Khordâdhbeh, Bibliotheca geographorum arabicorum, ed. M. J. de
Goeje, VI (Leiden, 1889), 81; V. Minorsky, «Marvazi on the Byzantines», Annuaire de
L'/nsr. de Philol. et d'Histoire Orientales et Slaves, X (1950), 460.
( 3 ) Cf. H. Ahrweiler, «Un discours inédit de Constantin Vil Porphyrogénete»,
TM, II (1967), 399.
(4) H. Beckh (ed.), Geoponica, pref. 6 (Leipzig, 1895), 2.
(5) Constantino VII, Nov. VIII, pref. em Zepos, Jus, I, 222.
(6) Leão VI, Tactica, PG CVII, 796A.
324
NOTAS
325
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
326
N OTAS
327
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
- : CAPÍTULO 4: OS DISSIDENTES
329
BIZÁNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
§139.
(49 ) Confessio rectae jidei, PG LXXXVI. 993C.
(5º) Teodoro, o Estudita, Epist., 11 155, PG XCIX, 1481-1485.
CAPÍTULO 5: O MONASTICISMO
330
NOTAS
19
( ) Ver especialmente o seu Testamentum, PG XCIX, l 8 I 7ff.
(2º) Hypotypôsis, §25, ibid., 17 I 3A.
( 21) Zepos, Jus. I, 213.
( 22 ) lbid., 249ff.
(23) Ibid., 267-269.
24
) Ver especialmente João de Antioquia, De monasteriis /aicis non tradendis,
(
PG CXXXII, l l l 7ff.
( 25 )
Ver P. Lemerle et ai. (eds.), Archives de l'Athos (fundado por G. Millet),
(Paris, 1937-).
( 26 ) Ver especialmente Treatise on Confession em K. Holl, Enthusiasmus und
Bussgewalt beim griechischen Mõnchtum (Leipzig, 1898), 11 Off.
(27) De emendando vila monastica em T. L. F. Tafel, Eustathii opuscu/a
1
(Frankfurt, 1832; reimpresso em Amesterdão, 1964), 2l5ff.
(28) 1. P. Tsiknopoullos (ed.), Kypriaka typika (Nicósia, 1969), lff.
I
(29) Neófito, Typicon, ibid., 69ff. Para uma discussão da sua vida ver C. Mango
e E. J. W. Hawkins, «The Hermitage of St. Neophytos and its Wall Paintings», DOP,
I
XX ( 1966), l 22ff.
( 3 º) Hagloreitikos tomos em P. Chrêstou et ai. (eds.), Grêgoriou tou Palama
syngramata, II (Tessalonica, 1966), 568-569.
(31) J. Lefort (ed.), Actes d'Esphigménou = Archives de l'Athos. VI (Paris, 1973), /:
n.º 12, pp. 89-90.
(32) Ver N. Oikonomidês, «Monastêres et moines, lors de la conquête ottomane»,
1
Siidost-Forschungen, XXXV (1976) lff.
CAPÍTULO 6: A EDUCAÇÃO
331
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
332
NOTAS
1
CAPfTULO 7: O MUNDO INVISfVEL DO BEM E DO MAL f,
(1) Synaxarium ecclesiae Constantinopolitanae, ed. H. Delehaye, Propylaeum
I
ad Acra Sanctorum Novembris (Bruxelas, 1902), I07ff.
(2) Iohannis Euchaitorum ... quae ... supersunt, ed. J. Bollig e P. de Lagarde,
r
pág. 31.
(3 ) Can. 35 em Joannou, Discipline, 1/2, 144-145. 1
(4) Interpret, epist, ad Coloss., PG LXXXII, 6f3. i.
(5) Então, por exemplo, Pseudo-Cesário, I. 48, PG XXXVIII, 917.
(6 ) Th. Preger (ed.), Scriptores originum Constantinopolitanarum, l (Leipzig, 1.
1901). 86.
(7) PG CXl, 692.
( 8 ) Pantoleon diaconus, Miracula S. Michaelis, em F. Halkin (ed.), Inédits
byzantins d'Ochrida, Candie et Moscou (Bruxelas, 1963), 150.
(9 ) Ver C. Walter, «Two Notes on the Deesis», REB, XXVI (1968), 311-336.
(10) Ver N. H. Baynes, «The Supernatural Defenders of Constantinople», AB,
LXVII (1949), 165ff.; reimpresso em Byzantine Studies and Other Essays (Londres,
1955), 248ff.
(11) Ver J. Ebersolt, Sanctuaries de Byzance (Paris, 1921), 54ft'.
(12) Ver N. H. Baynes, «The Finding of the Virgin's Rob», Annuaire de l'/nst. de
Philol. et d'Hist. Orient. et Slaves, IX (1949), 87ff.; reimpresso em Byzantine Studies,
240ff.
( 13 ) G. Anrich, Hagios Nikolaos (2 vols., Leipzig, 1913-1917).
(14) Ver H. Delehaye, Les légendes grecques des saints militaires (Bruxelas,
1909), I03ff.; id., Les origines du cu/te des martyrs (Bruxelas, 1933), 228-229;
P. Lemerle, «Saint-Dérnétrius de Thessalonique», Bulletin de correspondance
héllénique, LXXVII (1953), 660ff.; M. Vickers, «Sirmium or Thessaloniki?». BZ,
LXVII (1974), 337ff.
( 15 ) PG LXXXVII/3, cap. 180, col. 3052.
(16) Vita S. Basilii iunioris, ed. S. G. Vilinskij, Zapiski Imp, Novorossijskago
333
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
(19) Vira S. Basilii iunioris, ed. S. G. Vilinskij. Zapiski lmp. Nov. Univ .. VII. 344-345.
(20) J. Goar, Euchologion sive rituale graecorum (Paris, 1647). 730-731.
(21) Anrich. Hagios Nikolaos, l, l 2ff.
(22) A.-J. Festugiêre (ed.), Vie de Théodore de Sykéôn, I, §8, 16, 26a. 43.
(23) Jbid .. §44 (cf. 114-116), I 18, 161.
(24) Vira S. Andreae sali, §90. PG CXI, 732.
(25) Vita S. Basilii iunioris, ed. A. N. Veselovskij, Sbornik Otdelenija Russkago
Jazyka i Slov. lmp. Akad. Nauk, Llll (1891), suppl., 7.
(26) Vira S. A11to11ii, §9. 28, PG XXVI. 857, 888.
(27) lbid., §65, PG XXVI. 935.
(28) Life of St Symeon the Fooi, ed. L. Rydén, 14 I.Cf. A.-J. Festugiêre (ed.), Life
of St John the Almsgiver. 395-396 e notas, 613-617.
(29) Vita S. Basilii iunioris. ed. A. N. Veselovskij. Sbornik Otdelenija Russkago
Jazyka i Slov. Imp. Akad. Nauk., XLVI ( 1889). suppl.. 19ff.
(30) Pseudo-Macarius Alexandrinus, De sorte animarum, PG XXXIV, 388ff.
(31) L. Petit, X. A. Siderides e M. Jugie (eds.), Oeuvres completes de Georges
Sclwlarios, 1 (Paris. 1928), 505ff. Cf. Symeon de Thessalonica. Responsa ad Gabrielem
Pentapolitanwn, PG CLV, 84lff.
il l 1
Final é discutida por D. V. Ainalov, The Hellenistic Origins of Byzantine Art, trad. E.
e S. Sobolevítch (Nova Brunswick, N. J., 1961), 33ff.
1 (14) Ver A. Grabar, «Le témoignage d'une hymne syriaque sur l'architecture de
!' la cathédrale d'Edesse», Cahiers archeotogiques, li ( 1947), 54ff.
(15) Ed. L. G. Westerink (Nijmegen, 1948), §I20ff.
334
,, ..
1
N OTAS
(1) Basílio, Homil. VII( em S. Giet (ed.), Hexaemeron, 440; Severiano de Cabala,
De 1111111di creatione oral. IV, PG LVI, 458.
{2) Basílio, ibid., 43 J ff.
(3 ) Severiano, De mundi creatione oral. V, PG LVI, 481.
(4) !d .. Orat. VI. ibid., 484.
(5 ) Basílio, Homil. VII em S. Giet (ed.), Hexaemeron, 402ff.
(6) /d., Homil. VIII em S. Giet (ed.). Hexaemeron, 446ff.
(7) Ed. F. Sbordone (Milão, 1936), §1. 4, etc.
(8 ) Hist. eccles., III. 11.
(9) W. Wolska-Conus (ed.), Christian Topography, III, 315ff.
( 1º) João Damasceno, De draconibus, PG XCIV, 1600. 1
(11) Cecaumeno, Strategicon, ed. G. G. Litavrin, Sov. i rassk. Kekavmena, 678.
(12) J. Bidez, Deux versions grecques inédites de la V,e de Paul de Thêbes,
t
Compilação de trabalhos publicados pela Fac. de Filos. e Letras de Gand, fase. 25
( 1900), l 2ff.
(13 ) Moscho, Pratum spirituale, cap. 184, PG LXXXVIl/3, 3056.
( 14) Acta Sanctorum, Julho, III ( 1723), 605-606.
( 15 ) Pratum spirituale, cap. 107, PG LXXXVIl/3, 2965ff.
(16) Fócio. Bibtiotheca, cod. 223.
( 17 ) PG XXXVIII, 980ff.
( 18 ) Antiquitates judaicae, l. 5-6.
( 19) Versão completa em Chronicon Paschale, CSHB, I, 46ff. Ver também Epifâ-
nio, Adversus haereses, PG XLII, 160; id., Ancoratus, §113, PG XLIII. 220ff.; W.
Wolska-Conus (ed.), Topographie Chrétienne, I, 329ff.; Georgius Syncellus. CSHB.
1, 82ff. Cf. A. von Gutschmid, Kleine Schriften, V (Leipzig. 1894), 240ff., 585ff.
(20) Expositio totius mundi, ed. J. Rougé, 1 lOff. Um texto grego semelhante é
A. Klotz (ed.), «Hodoiporia apo Edem tou Paradeisou achri tôn Rhornaíôn»,
Rheinisches Museum fiir Philologie, LXV (1910), 606ff. Para a versão georgiana ver
Z. Avalichvili, «Géographie et fégende dans un récit apocryphe de S. Basile ». ROC,
XXVI ( 1927-1928), 279ff.
(21) W. Wolska-Conus (ed.), Topographie Çhrétienne, II, 133ff.; Jorge Sincelo,
CSHB, I, 94.
(22) Anastásio de Sinai, Quaestiones, PG LXXXIX, 764. ;'
(23) /bid., 708.
/!
(24) R. A. Lipsius e M. Bonnet (eds.), Acta apostolorum apocrypha, Wl
335
j
1'
.!
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
(1) P. J. Alexander, The Oracle of Baalbek (Washington, D.e., 1967), 14, 25,
53-55.
(2 ) F. Macler, «Les apocalypses apocryphes de Daniel», Rev. de l'histoire des
religions, xxxm ( 1896), 288ff.
(3) Malaias, Chronographia, CSHB, 408-409; Chronicon Paschale, CSHB, I,
610-611; João Moscho, Pratum spirituale, cap. 38, PG LXXXVII/3, 2888-2889.
(4) Vlll. 13; XII. 19-32. Cf. B. Rubin, «Der Fürst der Dãmonen», BZ, XLIV
(1951), 469ff.; id., «Der Antichrist und die "Apocaíypse" des Prokopios von
Kaisareia», Zeltschr: der Deutschen Morgenlãndischen Gesellschaft, ex ( 1961 ), 55ff.
;; 1 i ( 5 ) Agatias, Historiae, V. 5, ed. R. Keydell, 169-170.
(6) Theophylactus Simocatta, Historiae, ed. C. de Boor, 1. 2 (reimpresso Estu-
garda, 1972), 43.
336
NOTAS
337
BIZÂNCIO. 0 ]MPÉRIO DA NOVA ROMA
338
NOTAS
(1) Ver F. Halkin, Bibliotheca hagiographica graeca, 3.ª ed. (3 vols., Bruxelas,
1957); F. Halkin, Auctarium bibl. hagiogr: graecae (Bruxelas, 1969).
(2) Nilo, Epist, 49, PG LXXIX, 220.
( 3 ) &I. Gy. Moravcsik e R. J. H. Jenkins (Washington, D. C., 1967), cap. 1, pág. 48.
(4) Ed. A. Vogt, I (Paris, 1935), 2.
(5) P. Chrêstou et ai. (eds.), Grêgoriou tau Palama syngramata, II (Tessalonica,
1966), 568.
(6 ) Teófanes, Chronographia, ed. C. de Boor, A. M. 6295, pág. 479.
(7) L. Th. Lefort, les Vies copies de Saint Pachôme (Lovaina. 1943), XLIIf.
(8) Teófanes, Chronographia, ed. C. de Boor, A. M. 6024, pp. 181 ff.
(9) Procópio, Guerras, VIII. 1. 1.
(1º) R. Hercher (ed.), Erotici scriptores graeci, II (Leipzig, 1859), 161-577.
(11) Pratum spirituale, cap. 134, PG LXXXVIl/3, 2997.
(12) F. Miklosich e J. Müller (eds.), Acta et diplomata graeca medii aevi, V
(Viena, 1887), 324ff.; W. Nissen Die Diataxis des Michael Attaleiates von 1077 (Jena,
1894), 86ff.
(13) Ch. Diehl, «Le trésoret la bibliothêque de Patmos au commencement du 13c
síecle», BZ, 1 ( 1892), 496ff.
(14) Cecaumeno, Strategicon, ed. G. G. Litavrin, §§21, 46, 63, pp. 154,212.240.
( 15 ) P. Lemerle, Cinq études sur /e X/e siêcle byzantin (Paris, 1977), 24f.
(16) Ver as observações valiosas de L. G. Westerink, Nicétas Magistros: lettres
d'un exilé (Paris, 1973), 9ff.
( 17) F. W. Lenz, «On the Autorship of the Leptinean Declamations ... », American
Journal of Philology, LXIII ( 1942), l 54ff.
( 18 ) A. P. Kazhdan, «Some Questions Addressed to the Scholars who Believe in
the Authenticity of Kaminiates "Capture of Thessalonica"», BZ. LXXI ( 1978), 301 ff.
(19) Theophanes Continuatus, CSHB, 167.
(2º) Procópio, Guerras, I. 4. l 7ff.
(21) Procópio, Guerras, VII. 1. 5-15.
(22) Procópio, Guerras, V. 3. 6-9.
(23 ) Agatias, Historiae, ed. R. Keydell, Proem, 12 e 1. 7, pp. 6, 18-19.
(24) Ed. E. Renauld. 1, 63.
(25) J. F. Boissonade (ed.), On lhe Characteristics of Certain Writings,
juntamente com De operatione daemo1111111 (Nuremberga, 1838), 50ff.
(26) E. Kurtz (ed.), Die Gedichte des Christophoros Mitylenaios (Leipzig, 1903),
n.º 114.
(27) Ver a análise perceptiva de Nicetas por A. P. Kazhdan, Kniga i pisatel'v
Yizantii (Moscovo, 1973), 82ff.
(28) L. Spengel. Rhetores graeci, III (Leipzig, 1856), 368ff.
(29 ) A.-J. Festugiêre (ed.), Néapolis: Vie de Syméon Léontios dele Fou et Vie de
Jean de Chypre, 344.
339
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
1959), 640.
( 33 ) D.-C. Hesseling e H. Pernot (eds.), Poêmes podromiques en grec vu/gaire
INTRODUÇÃO
341
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
O leitor determinado pode também conseguir extrair muita informação útil de Ph.
Koukoules, Byzantinôn bios kai politismos (5 vols., Atenas, 1948-1952).
342
BIBLIOGRAFIA
C A P ÍT U L O 1: P O V O S E L fN G U A S
Ásia Menor
Síria e Palestina
343
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Norte de África
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Itália e Sicília
Balcãs
,1 344
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Byzantinobulgarica, I (1962), 31-66. l,
Alguns desenvolvimentos depois do século VI
Período Inicial
345
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
A Igreja
Classes Sociais
,.
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346
BIBLIOGRAFIA
347
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
Famllias Proeminentes
348
BIBLIOGRAFIA
Período Tardio
Geral
Constantinopla
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Ásia Menor
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BIBLIOGRAAA
Grécia
Balcãs
Achados de Moedas
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BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
CAPÍTULO 4: OS DISSIDENTES
Geral
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N. G. Garsoian, «Byzantine Heresy. A Reinterpretation», DOP, XXV ( 1971 ), 85-
-113.
J. Goui\lard, «L'hérésie dans l'Empire byzantin des origines au x11• siecle», TM,
I (1965), 299-324.
A. H. M. Jones, «Were Ancient Heresies National or Social Movements in
1; Disguise?», Journal of Theol. Studies, X (1959), 280-298; reimpresso em
i The Roman Economy, ed. P. A. Brunt (Oxford, 1974), 308-329.
Pagãos
Maniqueístas
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P. Brown, «The Diffusion of Manichaeism in the Roman Empire», JRS, LIX
(1969), 92-103.
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BIBLIOGRAAA
Monofisitas
Iconoclastas
CAPÍTULO 5: O MONASTICISMO
Geral
353
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P. Brown, «The Rise and Function of the Holy Man in Late Antlquity», JRS, LXI
(1971 ). 80-101.
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(1971), 61-84.
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A.-J. Festugiere, Les moines d'Orient, I-IV (Paris, 1959-1965).
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P. de Meester, De monachico statu iuxta disciplinam byza111i11a111 (Vaticano,
1942).
Egipto
P. van Cauwenberg, É111de sur /es moines d'Egypte depuis /e Concite de Chalcé-
doine (45l)j11sq11'à l'invasion arabe (640) (Paris-Lovaina, 1914).
H. G. Evelyn White, The Monasteries of lhe Wâdi '11 Natrún (3 vols., Nova
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K. Heussi, Der Ursprung des Mo11ch111ms (Tubinga. 1936).
O. Meinardus, Monks and Monasteries of the Egyptian Deserts (Cairo, 1962).
H. E. Winlock e W. E. Crum, The Monastery of Epiphanius at Thebes (Nova
Iorque, 1926).
Síria e Palestina
Propriedades Monásticas
CAPÍTULO 6: A EDUCAÇÃO
Geral
Período Inicial
Alan Cameron, «The End of the Ancient Universities», Cahiers d'histoire mon-
diale, X ( 1966-1967), 653-673.
-, «The Last Days ofthe Academy at Athens», Proc. of the Cambridge Philol.
Society, n.º 195 (1969), 7-29.
P. Collinet, Histoire de /'Éco/e de droit de Beyrouth (Paris, 1925).
G. Downey, «Education in lhe Christian Roman Empire», Specu/11111, XXXII
(1957), 48-61.
-, «The Emperor Julian and the Schools», Classical Journal, LIII (1957), 97-
-103.
355
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
-,
CAPITULO 7: O MUNDO INV!SIVEL DO BEM E DO MAL
356
BIBLIOGRAFIA
357
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
O único estudo que, segundo sabemos, tenta cobrir mais ou menos o mesmo que
este capítulo é A. Guillou «Le systeme de vie enseigné au VIIIº siêcle dans le monde
byzantin», I Problemi dei'Occidente nel sec. VIII= Settimane di studio dei Centro ital.
di studi sul/'alto medioevo, XX (Espoleto, 1973), 1, 343-381.
A extensa bibliografia sobre a concepção bizantina do Império, e do que o
compõe, pode ser encontrada em H. Hunger (ed.) Das byzantinische Herrscherbild
(Darrnstadt, 1975), 41Sff.
Alguns trabalhos importantes sobre este assunto são:
~ r,. O. Treitinger, Die ostrõmische Kaiser- und Reichsidee nach ihrer Gestaltung im
hõfischen Zeremoniell (Jena, 1938; re-impresso Darmstadt, 1969).
358
BIBLIOGRAFIA
359
B IZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
Historiografia
Hagiografia
360
BIBLIOGRAFIA
literatura vernacular
M. Jeffreys, «The nature and Origins of Political Verse», DOP, XXV1II (1974),
141-195.
M. e E. Jeffreys, «Imberios and Margarona», Byzantion, XLI (1971), 122-160.
B. Knõs, Histoire de la littérature néogrecque (Estocolmo, 1962).
M. I. Manoussacas, «Les romans byzantins de chevalerie et I'état présent des
études les concernant», REB, X (1952), 70-83.
Digenes Akrites
Geral
361
B IZÂNCIO. 0 lMPl:RIO DA NOVA ROMA
C. Mango, The Art of the Byzantine Empire, 312-1453. Sources and Documents
(Englewood Cliffs, N.J., 1972).
Reallexikon wr byzantinischen K1111st, ed. K. Wessel e M. Restle (Estugarda, 1963-).
W. F. Vollbach e J. Lafontaine-Dosogne, Byzan: und der christliche Osten,
Propylãen Kunstgeschichte 3 (Berlim, 1968).
Período Inicial
Arquitectura
Escultura
362
BIBLIOGRAFIA
Ícones
Manuscritos Iluminados
363
B IZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
1-
i
364
Índice remissivo
365
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
366
ÍNDCE R EM ISSIVO
367
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
egípcio, 29 monumentos, 75
expansão do, 215-217 posterior destruição de, 290
e história, 225-230 públicos, 75- 77
e santos, 182-186 religiosos, ver igrejas; mosteiros; e
e teorias da criação, 195-206 templos, pagãos
Virgem Maria no, 182 teatros, 78-80
Croatas, os, 34 ver também arquitectura; arte
crónicas, bizantinas, 220-230, vertam- educação
bém autores individuais e títulos clássica, 149-167
cronologia, 219-230 colapso do sistema, 161-163
Cruz Verdadeira, a, 235-239 eruditos, 166-169
cruzadas, 11, 14, 98 Escola Patriarcal, Constantinopla,
cunhagem, 51, 73, 88-90 172
Estado, I 52-158
Daco-Misianos, os, 29 estrutura, 149- I 73
Danelis de Patras, 62 religiosa, 156-174
Daniel, o Estilita, São, Vida de, 133 ver também temas individuais
Dara, 27, 52 Éfeso, 23, 87-89
decuriões Egéria, peregrina, 28
deveres e atributos dos, 46-48 Egípcios, os, 36
imposto dos, 56 Egipto, 15, 55, 93
rendimento dos, 52-53 colheitas no, 93-95
Demétrio de Tessalonica, São, 184 conquistado pelos Árabes e Persas,
demónios, ver demonologia 34
demonologia, 169, 186-193, 216-218 Igreja no, 49
deuses, pagãos, 109-111 língua no, 26-33
Dilúvio, o, na cronologia, 225 Emesa (Horns), 27
Diocleciano, imperador, 57-58, 154, ensino, 149-156
184,220,229 Epifânio, santo, 29
Diodoro de Tarso, 200, 211 Panarion, 114
!-·! Sobre a criação, 200-202 Erectéion, o, 77
dissidentes, 108-125 eruditos, 166-171
li Divisão da Terra, A, 213 escatologia, 231-247
Domiciano, imperador, 235 escravos, 53-57, 254
Ducas, fanu1a de, 64-65 salários dos, 53
dualismo; 125 Eslavos, os, 9, 11, 14, 31, 33, 36-37
hereges entre, 116-118
economia,a,51-58, 74 migração para a Bitínia, 36-39
&lessa (Urfa), 27, 82 escritos, ver literatura e autores indivi-
edifícios, 91, 99,293,314 duais
banhos, 78 Estado,o,44-48,55-56
casas, 99 colapso do Período Inicial bizantino,
= hipódromos, 80 58-60
= 1
368
ÍNDCE R EM ISSIVO
369
BIZÂNCIO. Ü IMPÉRIO DA NOVA ROMA
370
fNDCE REM ISSIVO
371
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
372
ÍNDCE REMISSIVO
373
BIZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
374
Índice
Prefácio....................................................................................................... 7
Introdução................................................................................................... 9
PARTEI
Aspectos da Vida Bizantina
l. Povos e Línguas................................................................................... 21
2. Sociedade e Economia......................................................................... 43
3. O Desaparecimento e o Renascimento das Cidades 75
4. Os Dissidentes..................................................................................... 107
5. O Monasticismo................................................................................... 127
6. A Educação.......................................................................................... 149
PARTE II
O Mundo Conceptual de Bizâncio
375
B IZÂNCIO. 0 IMPÉRIO DA NOVA ROMA
PARTE Ili
O Legado
Bibliografia................................................................................................. 341
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,.·I
·ij
1
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1i
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i f
i :
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l•l t•
~l 376
LUGAR DA HISTÓRIA
1. A Nova História, Jacques Le Goff, Le Roy 36. Pensar a Revolução Francesa, François Furei
Lndurie, Georges Duby e outros 37. A Grécia Arraica de Homero a Ésquilo (Séculos
2. P11ra 1111w História Antropológica, W. G. 1., VIII-VI a.C.), Claude MosS<!
Randlcs, Nathan Wa1chcl e outros 38. Ensaios de Ego-Histâria, Pierre Nora, Mauricc
3. A Concepção Marxista da História, Helmut Agulhon, Pierre Chaunu, Georges Duby, Raoul
Fleischcr Girardet, Jacques Le Goff. Michellc Perrot, René
4. Senhoria e Feudalidade na Idade Média, Guy Remond
Fourquin 39. Aspectos da Antiguidad«, Moses 1. Finley
5. E.tplicar o Fascismo, Renzo de Feiice 40. A Cristandade no Ocidente /400-1700, John
6. A Sociedade Feudal, Marc Bloch Bossy
7. O Fim do Mundo Antigo e o Princípio da Idade 41. As Primeiras Civilizações - /. Os Impérios do
Média, Ferdinnnd Lo! Bronze, Pierre Lévêque
8. O Ano Mil, Georges Duby 42. As Primeiras Civtttzações - li. A Mtsopotlimia /
9. 7.apata e a Revolução Mexicana, John Womnck Jr. / Os Hititas, Pierre Lévêque
10. Histâria tio Cristianismo, Ambrogio Donini 43. As Primeiras Ctvilizações - Ili. Os Indo-Europeus
11. A Igreja e a Expansão Ibérica, C. R. Boxer e os Semitas, Pierre Lévêque
12. História Econômica do Ocidente Meditval, Ouy 44. O Fruto Proibido, Marcel Bemos, Charles de la
Fourquin Ronclere, Jean Guyon, Philipc Lécrivain •
13. Guia de História Universal, Jacques Herman 45. AS Máquinas do Tempo, Cario M. Cipolla
15. Introdução d Arqueologia, Carl-Axel Mobcrg 46, História da Primeira Guerra Mundial /914-19/8,
16. A Decadência do Império da Pimenta, de A. R. Marc Ferro
Disney 48. A Sociedade Romana, Paul Veyne
17. O Feudalismo, Um Horizonte Teârico, Alain 49. O Tempo das Reformas (1250-/550) - lbl. I.
Gucrrcau Pierre Chaunu
18. A Índia Portuguesa ,m Meados do Século XVII, 50. O Tempo das Reformas (1250-1550) - lbl. li,
C. R. Boxer Pierre Chaunu
19. Reflexões Sobre a História, Jacques Le Goff 51. Introdução ao Estudo da Hist6ria Econômica;
20. Como se Escreve a Histdria. Paul Veync Cario M. Cipolla
21. História Económica da Europa Pré-Industrial, 52. Polftica no Mundo Antigo. M. 1. Finley
Cario Cipolla 53. O Século de Augusto, Pierre Grimal
22. Mo111ail/ou, Câtoros e Católicos numa Aldeia 54. O Cidadão na Grécia Allriga, Claude Mossé
Occitana ( /294-1324), E. Le Roy Ladurie 55. O Império Roma110, Pierre Grimal
23. Os Gregos Antigos, M. 1. Finley 56. A Tragédia Gllga, Jacqueline de Romilly
24. O Maravilhoso e o Quotidiano no Ocidente 51. Histâria e M,móna - Vol. /, Jacques !.e Goff
Medieval, Jacques Le Goff 58. Histõrta • M,m6ria - Vol. li, Jacques Le Goff
25. As Instituições Gregas, Claude Mossé 59. Homero, Jacquclinc de Romilly
26. A Reforma na Idade Média, Brenda Bollon 60. A lgreja no Ocidentt, Mireille Baumgartner
27. Economia e Sociedade 11a Grécia Antiga, Michel 61. AS Cidades Romanas, Pierre Grimal
Austin e Pierre Vidal Naqucl 62. A Civilização Grega. François Chamou,
28. O Teatro Antigo, Pierre Grimal 63. A Civilização do Renascimento, Jean Delumcau
29. A Revolução Industrial na Europa do Século XTX, 64. A Grécia Antiga. José Ribeiro Ferreira
Tom Kemp 65. A Descoberta de África, organizado por Calherine
30. O Mundo Hetentstico, Pierre Lévéque Coquery-Vidrovi1ch
31. Acreditaram os Gregos nos seus Mitos? Paul Vcync 66. No Princípio Eram os Deuses, Jean Bouéro
32. Economia Rural e Vida no Campo no Ocidente 61. Histõria da lgllja Católica, J. Derck Holmes,
Medieval ( Vol. I}, Georges Duby Bernard W. Bickers
33. Outono da /dadt média e Primavera dos Novos 68. A Btblia, organizado por Françoise Briquel-
Ttmpos? Philippe Wolff -Chatonnet
34. A Cívitização Romana, de Pierre Grimal 69. Recriar África. James Sweet
35. Economia Rural e Vida 110 Campo 110 Ocidente 70. Conquista. Destruição dos Índios ~ricano.,,
Medieval (Vol. I), Georgcs Duby Massimo Livi Bacci
LUGAR DA HISTÓRIA