Plantão 1
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Os fatores precipitantes
A maioria das propostas preventivas baseia-se na identificação de fatores de risco, pois há uma
escassez de dados referente aos fatores protetores. É legítimo supor que fatores como
alojamento seguro, segurança em geral, boa alimentação e períodos adequados de repouso
possam não só contribuir para a consolidação da saúde, mas também reduzir o impacto de
fatores adversos, como situações de estresse ou a presença de doenças mentais. Entretanto,
desconhece-se o papel específico desses fatores em relação aos comportamentos suicidas.
Não podemos esquecer que há uma coexistência de desejos e atitudes antagônicas que
capturam a indecisão do indivíduo frente à vida. Ele deseja morrer e, simultaneamente, deseja
ser resgatado ou salvo. Atos estereotipados de tomar psicotrópicos e telefonar em seguida
para conhecidos solicitando ajuda expressam ambas as faces do ato. A maioria dos pacientes
suicidas é ambivalente, incorpora uma batalha interna entre o desejo de viver e o desejo de
morrer.
Não há como prever quem cometerá ou não suicídio, mas é possível avaliar o risco individual
que cada paciente apresenta, baseado nos fatores de risco e de proteção investigados na
entrevista clínica.
Em casos de tentativa de suicídio, a entrevista inicial tem dois objetivos: um é semiológico, com
coleta de várias informações; outro é de apoio emocional e de estabelecimento de um vínculo.
O primeiro contato pode ocorrer em condições pouco favoráveis, muitas vezes no pronto-
socorro, estando o paciente reticente, sonolento ou ainda recebendo cuidados médicos
intensivos. O paciente pode mesmo negar que tenha tentado morrer, embora familiares e
equipe médica refiram-se a uma tentativa de suicídio.
É inegável que diante da urgência e da angústia que a tentativa ou a ideação suicida nos impõe,
cuidadores e profissionais de saúde podem ser levados a tentar conduzir o paciente para algo
em que realmente acreditam (uma ideologia, uma fé). No entanto, separar estas crenças,
sentimentos ou desejos, sem as negar, faz parte do treinamento, complexo e geralmente
sofrido, dos profissionais de saúde.
Deve-se abordar o paciente de uma maneira calma, não julgadora e empática. O assunto deve
ser abordado com tato, porém com clareza, como, por exemplo, perguntar, no contexto da
entrevista clínica, progressivamente, conforme as respostas sejam positivas:
2) Questões adicionais
O processo não termina com a confirmação das ideias suicidas. Ele continua com questões
adicionais para avaliar a frequência e a gravidade da ideação suicida, bem como a possibilidade
real de suicídio. É importante saber se o paciente tem algum plano e se tem os meios de
cometer o suicídio; se o meio proposto é facilmente acessível, o risco de suicídio é maior.
Finalmente, é fundamental que as questões não sejam coercitivas, mas sim que sejam feitas de
maneira suave, na tentativa de se criar a empatia entre o médico e o paciente.
MANEJO DO PACIENTE
Na maioria dos casos, uma transferência para uma enfermaria ou instituição psiquiátrica é
inviável. Mesmo nas emergências psiquiátricas, muitas vezes a estrutura física e o preparo das
equipes médicas e paramédicas estão longe das condições ideais, como por exemplo, a
existência de enfermarias que misturam pacientes suicidas e pacientes clínicos. Como
transformar uma enfermaria clínica ou cirúrgica em um ambiente seguro para um paciente
potencialmente suicida? É importante assinalar o risco de suicídio no prontuário e na papeleta
da enfermagem, bem como o tratamento implementado; mas, mais do que isso, é
imprescindível trocar ideia com a equipe assistencial a respeito do risco e das medidas a serem
adotadas.
Algumas precauções devem ser tomadas, como a remoção de objetos perigosos que estejam a
seu alcance (perfuro-cortantes – como talheres –, ou que possam ser transformados numa
corda – como cintos, isqueiros, ale de medicamentos guardados entre seus pertences), colocá-
lo em leito de fácil observação, se possível em andar térreo ou em local com janelas trancadas
ou com grade e com acesso ao banheiro sempre supervisionado. Autorizar que um
acompanhante sempre esteja presente pode ser uma alternativa a ser adotada.
Pacientes em delirium com turvação da consciência e agitação devem ser sedados, e a
contenção física deve ser criteriosamente usada. Quando da realização de exames ou de
procedimentos fora da enfermaria, esses pacientes devem ser transportados sedados e com
contenção física, contando-se com a possibilidade de agitação psicomotora e de atos suicidas
impulsivos. O plano de tratamento deve ser flexível, passando por revisões periódicas.
Em síntese, podemos dizer que os elementos básicos do atendimento de uma pessoa em crise
suicida são:
• ouvir. Em geral, precisa-se ouvir muito, pois o paciente necessita falar sobre seus
pensamentos e sentimentos. Há situações, no entanto, em que o profissional precisa ser mais
ativo, incentivando o diálogo em busca de soluções, ou tomar ele próprio decisões
emergenciais de proteção à vida;
• um ponto de apoio, como uma boia a qual a dupla terapeuta/ paciente possa tomar fôlego e
continuar depois. Às vezes, já ao fim do primeiro contato, é preciso vislumbrar um ponto por
onde começar a organizar o caos emocional. Um ponto de esperança, poderíamos também
dizer.