Acesso e Acolhimento Na APS
Acesso e Acolhimento Na APS
Acesso e Acolhimento Na APS
ACESSO E ACOLHIMENTO NA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS)
A tarefa da APS não é nada simples. A APS precisa dar resposta a uma ampla gama de
problemas, o que exige um planejamento de ações baseado em evidências. O funcionamento
da unidade tem que ser organizado de modo a dar reposta tanto para eventos agudos quanto
para condições crônicas1. Muitos quadros agudos que hoje são atendidos nas emergências e
pronto-atendimentos poderiam ser solucionados na APS.
Do ponto de vista clínico, a APS recebe queixas na maioria das vezes inespecíficas, o
que exige do profissional um raciocínio clinico apurado e intervenções diferentes dos serviços
de especialidades, que, em geral, recebem as pessoas com quadros mais definidos ou mesmo
já diagnosticadas (GUSSO; LOPES, 2012).
O bom funcionamento da APS está ligado a uma série de fatores, entre eles o acesso.
A facilidade/dificuldade do acesso está diretamente relacionada à possibilidade da APS ser
ponto de primeiro contato no sistema de saúde.
¹As condições crônicas são condições ou patologias que têm um ciclo de vida superior a três meses e que não se
autolimitam (Von Korff et al. 1997). Assim, exigem que a equipe se organize para o acompanhamento do usuário
ao longo do tempo. São exemplos tanto doenças como Hipertensão e Diabetes como também condições como
a gestação e a primeira infância. Infecções como Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA ou AIDS) e
tuberculose podem ser incluídas nessa classificação.
Uma pesquisa que descreveu e analisou ações empreendidas em quatro centros urbanos
para fortalecer a ESF (principal formato da APS no Brasil) concluiu que:
O estudo apontou que parte importante dos usuários entrevistados não buscou a ESF
em seu episódio mais recente de adoecimento, o que poderia estar associado às barreiras
de acesso para atendimento da demanda espontânea na ESF, agravadas pelas longas filas de
espera e dificuldades de integração com a atenção especializada.
Outra pesquisa que envolveu a participação de 41% das equipes de ESF no país2 e
usuários revelou que, em relação à condição de ser porta de entrada preferencial, segundo
os usuários, muitas equipes utilizam o sistema de fichas, sendo necessário fazer fila antes da
abertura da unidade para realizar marcação de consultas (Fausto et al, 2014).
A percepção das Equipes de ESF em geral é mais positiva que a dos usuários.
Enquanto os profissionais percebem seus serviços como “porta aberta”, os usuários avaliam
que é necessário realizar avanços quanto à organização funcional, no que diz respeito ao
acolhimento, à disponibilidade para consultas de urgência e às formas de acesso às consultas
(FAUSTO ET AL, 2014; CASTRO, 2009).
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Porcentagem estimada a partir do número de equipes de ESF implantadas. Fonte: BRASIL, Ministério da Saúde.
Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Teto, credenciamento e implantação das estratégias de Agentes Comunitários de Saúde, Saúde da Família e Saúde
Bucal. Unidade Geográfica: Brasil. Competência: Janeiro de 2016.
A PROPOSTA DO ACOLHIMENTO:
Acolhimento não é a mesma coisa que triagem ou aferição de sinais vitais pelo
técnico de enfermagem – não se trata de uma etapa para chegar na consulta médica.
Tal prática, quando obrigatória para todos os usuários atendidos na APS, resulta numa
burocratização do acesso ao invés de uma facilitação.
No exemplo, verificamos que o usuário que chega à unidade com uma atividade
agendada (consulta, grupos), já é diretamente encaminhado a esta atividade. O mesmo
ocorre caso precise de um atendimento de rotina da unidade (vacina, procedimentos,
nebulização). As orientações aos usuários nestes casos devem ser fornecidas na
recepção da unidade, não necessitando passar por uma escuta inicial, evitando esperas
desnecessárias com potencial de confusão na recepção.
Nos casos em que a demanda não for aguda, podem ser ofertadas diversas ações
como, por exemplo, agendamento de uma consulta, encaminhamento para outros
serviços, seja da saúde - centros de especialidades, Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS), entre outros - ou de outros setores - Centro de Referência de Assistência
Social (CRAS), centros de convivência, de esporte e lazer, etc - ou adiantamento de
ações previstas em protocolos (por exemplo, uma gestante que tem consulta marcada
dentro de 15 dias, mas que procura a unidade ansiosa com alguns sintomas pode ter
sua consulta adiantada).
A equipe que realiza a escuta inicial pode ser composta de diferentes categorias
profissionais. O profissional responsável pode ser o técnico de enfermagem, podendo
em alguns casos contar também com a participação do Agente Comunitário de Saúde
(ACS). Algumas equipes optam por ter o enfermeiro à frente da escuta inicial nos
momentos de maior procura por atendimento na unidade (início dos turnos).
É importante iniciar com uma sensibilização, já que é necessário que todos (ou pelo
menos uma grande parte da equipe) percebam as mudanças como necessárias e positivas
para a equipe. É útil identificar aqueles profissionais parceiros e aqueles que ainda terão de ser
sensibilizados.
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O estudo de demandas pode ser realizado através de pesquisas em sala de espera, sistematização das principais
demandas registradas na escuta inicial ou utilizando dados gerados pelos sistemas de informação. No e-SUS,
por exemplo, na funcionalidade “relatórios consolidados” é possível saber quais os principais agravos/sintomas
e problemas mais diagnosticados, seja pela Classificação internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
saúde –CID-10 ou Pela Classificação Internacional de APS - CIAP (Brasil, 2015).
No planejamento das mudanças será necessário definir o modo como cada profissional
participará do acolhimento. Alguns exemplos de questões que precisarão ser definidas em
equipe são: quem será responsável pela escuta inicial, como avaliar o risco e a vulnerabilidade
desse usuário e como será garantida a “retaguarda clínica” para ele (com quem poderá discutir
o caso/realizar interconsulta se necessário), quando encaminhar/agendar uma consulta
médica, como organizar a agenda dos profissionais, que outras ofertas de cuidado (além da
consulta) podem ser necessárias, entre outras. É fundamental ampliar a capacidade clínica da
equipe de saúde (BRASIL, 2013).
A equipe pode contar com a literatura disponível, entrando em contato com experiências
bem-sucedidas para ampliação do acesso na APS, Cadernos de Atenção Básica e protocolos
clínicos embasados em evidências.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Supervisão Geral:
Erno Harzheim
Elaboração de texto:
Lígia Castegnaro Trevisan
Diagramação:
Carolyne Vasques Cabral
Luiz Felipe Telles
Projeto gráfico:
Luiz Felipe Telles
Revisão:
Letícia Felipak dos Passos Martins
Roberto Umpierre
Otavio Pereira D’avila
Rosely de Andrades Vargas
TelessaúdeRS/UFRGS 2016
Porto Alegre – RS.