Estudo Da Microestrutura E Comportamento em Fadiga Da Liga Ti-6Al-4V Aplicada Como Biomaterial

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ESTUDO DA MICROESTRUTURA E COMPORTAMENTO EM

FADIGA DA LIGA Ti-6Al-4V APLICADA COMO BIOMATERIAL1


Silvando Vieira dos Santos2
Vanessa Danielle de Oliveira Fortes3
MikaeleTavares de Almeida Rocha3
Sandro Griza4
Resumo
Neste estudo foram realizados tratamentos térmicos na liga Ti-6Al-4V α+β globular a
fim de obter diferentes microestruturas aciculares, normalmente encontradas em
rotas térmicas de produção de materiais biomédicos tais como forjamento a quente e
deposições superficiais a quente. Foram feitos tratamentos térmicos para produzir
duas diferentes microestruturas aciculares além de uma camada alfa, que ocorre
quando do tratamento térmico em atmosfera rica em oxigênio. Ensaios de fadiga
foram realizados baseando-se na norma ASTM E466-07 para as diferentes
condições microestruturais. As superfícies de fratura foram analisadas através de
microscopia eletrônica de varredura (MEV). Foram realizadas análises
microestruturais e ensaios de dureza Vickers. A caracterização microestrutural da
liga Ti-6Al-4V revelou que as diferentes rotas de tratamento térmico levam a
modificação microestrutural sendo estas dependentes da temperatura de
aquecimento e da taxa de resfriamento. Os resultados indicaram que a
microestrutura α+β globular possui maior resistência a fadiga e maior dureza Vickers
que as microestruturas α+β aciculares. O ensaio de fadiga revelou também que a
resistência a fadiga foi reduzida devido à camada alfa. Análises de MEV
evidenciaram a fragilidade da camada alfa.
Palavras-chave: Ti-6Al-4V; Microestrutura; Oxidação térmica; Fadiga.
STUDY ON THE MICROSTRUCUTRE AND FATIGUE BEHAVIOR OF THE Ti-6Al-
4V ALLOY AS BIOMATERIAL APPLIED
Abstract
In this study, heat treatments were performed in α+β globular Ti-6Al-4V alloy to
obtain different acicular microstructure, typically encountered in thermal routes for the
production of biomedical materials such as hot forging and hot surface deposition.
Heat treatments were performed to produce two different acicular microstructures
and the alpha layer, which occurs when the heat treatment is performed in an oxygen
rich atmosphere. Fatigue tests were performed based onASTME466-07 for the
different microstructural conditions. The fractures were analyzed by scanning
electron microscopy (SEM). Microstructural analyzes and Vickers hardness tests
were performed. The microstructural characterization of the Ti-6Al-4V alloy revealed
that the different heat treatment route sleading to microstructural change and such
changes are dependent on the heating temperature and cooling rate. The results
indicated that the globular α+β microstructure has higher fatigue strength and Vickers
hardness than the microstructure acicular α+β. The fatigue test also shows that the
fatigue resistance was reduced due to alpha layer. The SEM analysis showed the
brittleness of the alpha layer.
Keywords: Ti-6Al-4V; Microstructure; Thermal oxidation; Fatigue.
1
Contribuição técnica ao 67º Congresso ABM - Internacional, 31 de julho a 3 de agosto de 2012,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Mestrando, Programa de Pós Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais(P2CEM),
Universidade Federal de Sergipe, Brasil.
3
Graduando (a) em Engenharia de Materiais Universidade Federal de Sergipe, Brasil.
4
Prof. Dr. P2CEM e da Graduação em Engenharia de Materiais Universidade Federal de Sergipe.

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1 INTRODUÇÃO

Um dos principais campos de pesquisas na área de implantes biomédicos consiste


no desenvolvimento e/ou melhoramento de materiais para artroplastia total de
quadril, por ser este o principal procedimento de ortopedia. Outro fator preocupante
são os casos relacionados a falhas de próteses que são implantadas em pacientes.
Falhas devido ao carregamento dinâmicoa baixa tensão, fenômeno conhecido por
fadiga, podem ser desencadeadaspor vários fatores, entre eles má seleção do
material, erros de projeto, na produção e na colocação do implante;falhas de
reparação do osso; ou até mesmo uma combinação desses fatores.(1)
Muitas das propriedades mecânicas dos materiais são melhoradas através da
modificação microestrutural por meio de aplicação de tratamentos térmicos, dentre
elas destaca-se a resistência a fadiga. Assim, é importante investigar a relação entre
tratamento térmico, microestrutura e o limite de resistência à fadiga, a fim de
determinar quais parâmetros serão ideais para a fabricação de implantes com
melhor qualidade.
Um substituto ósseo necessita exibir várias características a fim de ser satisfatório.(1)
Algumas destas características incluem biocompatibilidade, excelente resistência à
corrosão em meio corpóreo e apropriadas propriedades mecânicas em serviço,
como alta resistência mecânica e boa resistência à baixo módulo de elasticidade,
baixa densidade e boa resistência ao desgaste.(2-6)
As propriedades mecânicas e físicas das ligas de Ti combinam-se para prover
implantes que são altamente tolerantes a fratura.(7) Contudo, a baixa resistência ao
cisalhamento e ao desgaste são problemas quando o Ti e suas ligas são usados em
cirurgia ortopédica.(8) Por isso, seu uso tem sido principalmente limitado a utilização
da liga Ti-6Al-4V pois esta apresenta maior resistência mecânica.(9)
O titânio apresenta alotropia. À temperatura ambiente possui estrutura hexagonal
compacta representada como fase α. Essa estrutura transforma-se em cúbica de
corpo centrado, fase β, a aproximadamente 882°C.(10-12)A temperatura de
transformação alotrópica pode ser alterada e a manipulação das fases α e β pode
ocorrer através da adição de elementos de liga, sendo esses fatores, a base para
modificação de propriedades dos materiais.(13-15) Os elementos estabilizadores da
fase α (Al, Sn, Ga, C, O e o N) aumentam a temperatura de transformação
alotrópica, ao passo que elementos estabilizadores da fase β (V, Mo, Nb, Cu, Fe, Cr,
Zr e o Ta) diminuem esta temperatura.(12)
A liga Ti-6Al-4V é considerada a mais importante de todas.(13) Sua caracterização
microestrutural evidencia a presença das fases α e β, sendo que é possível obter
diferentes arranjos microestruturais através do histórico de processamento e
também por meio da aplicação de tratamento térmico à liga. A fase β pode ficar
dispersa na matriz α, como também pode ocorrer o oposto, sendo as microestruturas
classificadas como: globular, acicular ou equiaxial, dependendo da sua morfologia. A
microestrutura acicular é encontrada disposta em lamelas, apresentando-se na
forma martensítica ou em colônias denominadas basketweave/Widmanstätten.(16-18)
A norma da liga Ti-6Al-4V para uso médico hospitalar, NBR ISO 5832-3,(19)
determina a condição microestrutural α mais β globulares finamente dispersas, pois
esta condição é a mais favorável tanto para o desempenho mecânico quanto para a
resistência a processos corrosivos. Entretanto, diversas rotas térmicas podem
ocorrer entre a matéria prima e a forma final do implante em sua fabricação. Dentre
as que apresentam maior potencial de mudança microestrutural destacam-se

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processos de forjamento a quente e processos de deposição superficial a quente,
como por exemplo, a deposição de hidroxiapatita por plasma spray.
Quando há elevação da temperatura, o titânio e suas ligas são capazes de absorver
oxigênio até cerca de 40% em massa atômica, em solução sólida no seu retículo
cristalino.(13) Dessa forma, a alta reatividade do Ti e suas ligas à temperatura elevada
resulta na formação de uma camada cerâmica na superfície, composta de óxido de
titânio, TiO2, e de uma camada de difusão na qual predomina a fase hexagonal que
é comumente denominada camada alfa.
A literatura tem relatado que a presença de TiO2 na superfície de implantes melhora
a interação implante/tecido ósseo pois o titânio oxidado termicamente propicia
condições adequadas para uma maior atividade das células.(20-22) Já a formação da
camada alfa normalmente conduz a um aumento na dureza da superfície e
consequente melhoria das propriedades tribológicas.(23-25)
Na literatura também são encontrados trabalhos relatando que ligas oxidadas
termicamente apresentaram menor vida em fadiga para uma mesma tensão quando
comparado com o mesmo material não oxidado.(13,15,23)
Apesar de existir informações que a camada alfa pode afetar as propriedades de
fadiga, pelos poucos trabalhos publicados não se pode ter certeza que tal fato era
decorrente de parâmetros específicos aplicados no determinado estudo ou se para
um determinado componente submetido a qualquer rota de oxidação térmica, será
prejudicado em maior ou menor proporção.(13)
Assim, esse trabalho apresenta como proposta investigar a influência de fatores
microestruturais e de superfície no comportamento em fadiga da liga Ti-6Al-4V que
tem sido extensivamente aplicada como biomaterial.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Neste trabalho será utilizada a liga Ti-6Al-4V,fornecida pela empresa MDT - Indústria
e Comércio de Importação e Exportação de Implantes Ortopédicos Ltda (Rio Claro-
SP). O material foi adquirido na forma de tarugos com 12mm de diâmetro.
Na literatura relata-se que a temperatura de transição α→β para a liga Ti-6Al-4V é
cerca de 995°C.(17) Assim, é sugerido que a transformação α→β pode ocorrer da
seguinte maneira: a 900°C encontra-se quantidades intermediárias da fase β no
campo α+β, à 950°C localiza-se alta concentração de β no campo α+β e acima de
1.000°C é constatado formação completa da fase β. Os tratamentos térmicos
realizados tiveram o intuito de avaliar a microestrutura resultante a partir de
diferentes concentrações da fase β.
Após recebimento do material foram cortados pedaços das barras,com espessura ou
diâmetro semelhante às dimensões reais do modelo de corpo de prova considerado
para o ensaio de fadiga, para realização de tratamentos térmicos.Em seguida
realizaram-se as seguintes rotas de tratamento térmico:
 tratamento 1: tratamento de solubilização a 960ºC por 1h, seguido de
resfriamento em água;
 tratamento 2: tratamento de solubilização a 1.000°C por 1h, seguido de
resfriamento ao ar; e
 tratamento 3: tratamento de solubilização a 1.020°C por 1h, seguido de
resfriamento em água e tratamento subsequente de envelhecimento a 750°C
por 2h.
Para realização dos tratamentos térmicos, o forno foi aquecido à temperatura
desejada, para cada tratamento, e em seguida a amostra foi colocada dentro do

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forno. Passado o tempo estipulado a amostra foi retirada e submetida ao método de
resfriamento especificado.
A caracterização microestrutural foi realizada através de análise metalográfica
conforme a Norma ASTM E3-01(26) para a liga de Ti-6Al-4V como recebida e
também para as amostras tratadas termicamente.
Após o tratamento térmico foi realizado novo corte e as amostras foram embutidas
em resina polimérica lixadas uma a uma seguindo uma sequência de lixas d’água de
SiC comgranulometria variada (120 a 1.500) e polidas utilizando-se pasta de
diamante de 6µm, 3µm e 1µm. Posteriormente foi realizado ataque químico na
amostra com reagente Krollpara revelar a microestrutura. A técnica usada foi a
imersão da amostra durante o tempo de 60 segundos. Em seguida as micrografias
foram obtidasem um microscópio óptico modelo Carl Zeiss Axio Scope A.1.
Foi realizado ensaio de dureza em um durômetro Vickers modelo Vickers Hardness
FV-700. Para cada amostra foram realizadas cinco indentações em posições
aleatórias. Aplicou-se uma carga de 10kgf por 15 segundos sobre a amostra polida e
foi medida a impressão da indentação na peça para determinação do valor de
dureza. O ensaio foi realizado de acordo com a ASTM E92.(27)
Os ensaios de fadiga foram realizados em uma máquina servo-hidráulica MTS Bionix
modelo 3070.02 com célula de carga de 15KN e razão de carregamento R=0,1. Para
os ensaios de fadiga usinou-se um total de quinze corpos de prova baseando-se na
Norma ASTM E466-07.(28)
Os quinze corpos de prova foram separados em três grupos. O primeiro grupo é
constituído por sete corpos de prova, material como recebido (condição 1). Estes
foram lixados até a granulometria 1.200 para minimizar os defeitos superficiais
resultantes do processo de usinagem. O segundo grupo é constituído por cinco
corpos de prova sendo que estes receberam o Tratamento Térmico 2, após
usinagem, e através de desgaste abrasivo foi removido cerca de 0,5mm de seu
diâmetro em cada corpo de prova após realização do tratamento térmico (condição
2) seguindo-se com o processo de lixamento até a granulometria de 1.200. O
terceiro grupo é constituído por apenas três corpos de prova, sendo que estes
também receberam o Tratamento Térmico 2. No entanto, este grupo diferencia-se do
segundo por não ter sofrido redução significativa no diâmetro do corpo de prova
após realização do Tratamento Térmico 2e assim ser possível manter uma camada
de oxidaçãona superfície que, evidenciada por microscopia ótica. Neste grupo, após
o tratamento térmico, as amostras foram apenas lixadas até a granulometria 1.200
(condição 3).
Para as condições 2 e 3 foi escolhido esse tratamento térmico por apresentar uma
condição severa de aquecimento (1.000°C) e o resfriamento ao ar, condição
facilmente encontrada em rotas de processamento da liga (forjamento ou plasma
spray, por exemplo).
O primeiro corpo de prova na condição 1 foi ensaiado a um nível de tensão máxima
equivalente ao limite de escoamento do material encontrado na literatura. O limite de
escoamento para a liga de Ti-6Al-4V pode variar entre os valores de 830MPa (liga
recozida) e 1.103 MPa (liga tratada termicamente por solução sólida e
envelhecida).(29) Dessa forma, optou-se por ensaiar o primeiro corpo de prova a
tensão de 1.100MPa. Para os demais corpos de prova, foram utilizadas tensões
sucessivamente mais baixas.
A microscopia eletrônica de varredura (MEV) foi utilizada para observar com maior
detalhe as superfícies de fratura dos corpos de prova após ensaio de fadiga. As
amostras analisadas por MEV desse trabalho foram realizadas em um equipamento

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JEOL JCM-5700 Carry Scope. Nessas análises foram identificados os principais
mecanismos de fratura.

3 RESULTADOS

A análise metalográfica teve como objetivo obter a caracterização morfológica da


liga Ti-6Al-4V e fornecer uma melhor compreensão da formação das fases α e β,
que estão presentes na amostra conforme procedimento descrito anteriormente. A
Figura 1 apresenta as microestruturas antese apóso emprego dos tratamentos
térmicos.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 1. Microestrutura da liga Ti-6Al-4V, (a) material como recebido; (b) após tratamento térmico 1;
(c) após tratamento térmico 2; e (d) após tratamento térmico 3. Ataque realizado com o reagente
Kroll. Aumento de 500 X.

(a) (b)

Camada α

Figura 2. Efeito da oxidação térmica na superfície da liga Ti-6Al-4V após tratamento térmico 2.
Aumento de (a) 200x; e (b) 500x.

Os tratamentos térmicos realizados nos corpos de prova utilizados para o ensaio de


fadiga foram conduzidos em atmosfera não controlada provocando a formação de
uma camada rica em oxigênio (camada alfa) que pode ser visualizada na Figura 2.
Os resultados do ensaio de dureza Vickers são apresentados na Tabela 1. Também
é apresentado o desvio padrão referente ao ensaio de dureza para cada amostra.

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Tabela 1. Resultado de dureza Vickers e seu respectivo desvio padrão
Média de Dureza Medida do
Amostra
Vickers (HV10) Desvio Padrão
Como recebida 363 5
Após tratamento térmico 1 313 6
Após tratamento térmico 2 336 6
Após tratamento térmico 3 348 7

A Figura 3 mostra as curvas de resistência à fadiga obtida para cada condição, suas
respectivas equações correspondentes a curva de tendência para o ensaio de
fadiga, e seus respectivos R2.

Figura 3. Curvas de resistência à fadiga do Ti-6Al-4V para as três diferentes condições analisadas.

As Figuras 4 a 6 apresentam imagens da análise fractográfica da liga Ti-6Al-4V após


ensaio de fadiga obtidas por microscopia eletrônica de varredura.

(a) (b) (c)


Figura 4. Microscopia eletrônica de varredura para o corpo de prova ensaiado na condição 1.

1582
(a) (b) (c)
Figura 5. Microscopia eletrônica de varredura para o corpo de prova ensaiado na condição 2.

(a) (b)
Figura 6. Microscopia eletrônica de varredura para o corpo de prova ensaiado na condição 3.

4 DISCUSSÃO

Naanálise metalográfica das barras de Ti-6Al-4V como recebida Figura 1a,observa-


se a presença de duas fases, revelando a microestrutura presente nesta liga sendo
uma mistura das fases α e βglobular.(16)A fase α é caracterizada como sendo a fase
mais clara enquanto que a fase βé caracterizada pelas regiões escuras. Notou-se
que a fase β encontra-se distribuída homogeneamente na fase α. O aspecto de uma
microestrutura refinada composta de grãos da fase α+β globulares está de acordo
com a Norma NBR ISO 5832-3.(19) Essa estrutura refinada confere à liga excelentes
propriedades mecânicas e resistência à corrosão.
O tratamento térmico 1resultou em uma microestrutura formada por grãos grosseiros
(Figura 1b), com a presença de uma subestrutura no interior dos grãos compostas
pelas fases α e β acicular. Esta subestrutura é formada por lamelas da fase α dentro
de grãos originariamente β.(16,30) Também pode ser observada predominância da
fase β nos contornos lamelares dos subgrãos.
O aumento da temperatura para aplicação do tratamento térmico 2 (chegando a
1.000°C) levou a microestrutura para o campo da fase β.Na Figura 1c foi
apresentada a microestrutura obtida após esse tratamento térmico. A existência de
estruturas distintas, delineadas por vários contornos de grão, onde coexistem as
estruturas α primária e estruturas lamelares indicando a presença da fase α lamelar
e uma estrutura martensítica(10) foi observada.Observou-setambém uma
microestrutura mais grosseira com a presença de grãos maiores e mais alongados
na forma de colônias de lamelas que se entrelaçam, comumente chamada de
Widmanstätten. Essa estrutura é constituída de grãos α,com forma acicular,
formados a partir da fase β. Esta se encontra prioritariamente nos contornos de
grãos.(16-18)
A Figura 1d apresentou a estrutura obtida após realização do tratamento térmico 3.
É observada uma microestrutura totalmente martensítica formada por grãos
originalmente β.Estudos relatam que altas taxas de resfriamento induzem a
formação de uma microestrutura fina, totalmente β, ao contrário de taxas lentas que
favorecem o crescimento de grão e a transformação β→α em forma de lamelas mais

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espessas.(10,31) Dessa forma, pode-se afirmar que a taxa de resfriamento é um
parâmetro muito importante no controle da espessura de estruturas lamelares.
Também, pode-se afirmar que para uma taxa de resfriamento menor provavelmente
haveria a formação da fase α acicular na forma de lamelas.
A alta reatividade do Titânio a elevada temperatura, decorreu no aparecimento de
uma camada alfa resultante da dissolução de oxigênio para o interior da liga Ti-6Al-
4V através do processo de difusão.
A camada alfa, enriquecida em oxigênio, pôde ser visualizada na Figura 2. É
possível observar uma camada mais clara contínua ao redor de toda a superfície da
amostra (Figura 2a). Na Figura 2b é apresentado um detalhe da Figura 2a, no
qualéapontada a presença de uma regiãopassível de se iniciar uma trinca de fadiga.
Outras regiões semelhantes a esta foram encontradas na superfície da camada alfa.
Ao se investigar a morfologia da camada alfa é possível visualizar a presença de
grãos grosseiros que apresentam contornos bem definidos.
O ensaio de dureza consiste em uma medida da resistência de um material a uma
deformação plástica localizada.(29) Neste trabalho, os resultados do ensaio de dureza
Vickers apresentados na Tabela 1 mostraram o maior valor de dureza para a
amostra do material como recebido o que sugere que esta microestrutura possui
melhores propriedades mecânicas. Nota-se que para esta amostraobteve-se o
menor valor de desvio padrão. Isso pode ser explicado devido a uma maior
homogeneidade das fases presentes para esta amostra.
Considerando a liga Ti-6Al-4V na condição 1, microestrutura α+β globular, o ensaio
de fadiga foi realizado para determinar o limite de resistência à fadiga. Foram
testados sete corpos de prova sendo os dois últimos ensaiados a uma tensão de
700 MPa. Estes não romperam até 107 ciclos o que caracteriza o limite de
resistência à fadiga (Figura 3, condição 1). Isso sugere que abaixo dessa tensão o
material analisadopode sofrer um número infinito de ciclos sem que ocorra a fratura.
Também pode ser visualizado na Figura 3a tendência da curva de Wöhler por meio
de cinco corpos de prova testados na condição 2.Estes foram ensaiados com o
objetivo de determinar parte da curva de fadiga e avaliar a resistência à fadiga em
função da microestrutura formada pelas fases α+β acicular resultante do tratamento
térmico 2.Para essa condição observou-se uma diminuição da vida em fadiga para
os dois primeiros corpos de prova ensaiados, quando estes são comparados aos
corpos de prova que possuem microestrutura α+β globular ensaiados às mesmas
tensões. Baseando-se em dois corpos de prova ensaiadosa 800MPa, não se pode
afirmar que houve redução ou aumento na vida em fadiga quando comparado à
condição 1. A dispersãodos resultados para esta tensão não permite avaliar este
parâmetro com exatidão. Para o corpo de prova ensaiado a 700MPa, percebe-se
uma redução significativa na vida em fadiga. Por fim, nota-se que não foi
determinado o limite de resistência à fadiga para a condição 2. Com base nesses
dados é possível afirmar que o limite de fadiga da condição 1 é maior que o da
condição 2. Porém, alguns ensaios a mais serão necessários para que o limite de
resistência desta condição seja estabelecido e possa ser feita uma comparação
quantitativa em relação à condição 1.
Considerando o ensaio de dureza Vickers, observa-se que para o material na
condição 2 houve uma redução na resistência à deformação plástica localizada.
Essa diferença não é significativa quando se leva em conta a variação dos
resultados. No entanto, a partir do resultado de dureza, já é possível estimar uma
possível redução na vida em fadiga para a condição 2.

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A tendência da curva de Wöhler para corpos de prova na condição 3, também é
apresentada na Figura 3 com o intuito de investigar a influência da camada alfa na
vida em fadiga da liga Ti-6Al-4Vformada pelas fases α+β acicular. Percebe-se uma
redução significativa na vida em fadiga para condição3 supostamente provocada
pela presença da camada alfa na superfície.
O aumento do tamanho de grão normalmente reduz as propriedades mecânicas dos
metais. Os contornos de grão são regiões passíveis de propagação de trincas que
podem ser iniciadas a partir da superfície por meio da aplicação de cargas cíclicas.
Devido à combinação desses fatores, pode-se sugerir que a morfologia da camada
alfa favorece a iniciação de trincas. Pois a microestrutura da camada alfa apresenta-
se na forma de lamelas que em algumas regiões estão orientadas na direção quase
perpendicular à superfície (Figura 2b). Este pode ser um fator que contribui para
iniciação de trincas de fadiga.
É encontrado na literatura que a fácil iniciação da trinca pode ser atribuída à
diferença significativa entre o módulo de elasticidade na superfície da camada alfa
(que pode apresentar valor próximo ao módulo de elasticidade da fase TiO2–
230MPa) e o interior da liga (Ti-6Al-4V – 110 GPa a 120GPa). Em tal sistema trincas
prematuras podem aparecer na superfície e a partir da zona de difusão de oxigênio
a uma tensão mais baixa.(23)
Na Figura 4foi ilustrado o padrão fractográfico do corpo deprova ensaiado em fadiga
axial da liga Ti-6Al-4V na condição 1. Pode ser observada a frente de propagação
das trincas a partir da superfície na Figura 4a, dando seguimento a uma região plana
de propagação estável das trincas e uma região de transição entre a propagação de
trinca e a ruptura por sobrecarga, estrias de fadiga são apresentadas na Figura 4b
características do ensaio de fadiga e, por último é mostrada uma região fibrosa e
dúctil correspondente a ruptura final do corpo de prova (Figura 4c). Essa região
fibrosa é encontrada nas regiões com inclinação a 45° do plano de propagação das
trincas de fadiga.
A Figura 5 ilustrou o padrão fractográfico do corpo de prova ensaiado na condição 2.
Pelas imagens obtidas, são observadasna Figura 5a duas frentes de propagação de
trincas. Na Figura 5b,são observadas estrias de fadiga encontradas a uma
distânciada superfície de aproximadamente 500µm. Após a região de propagação
inicial das trincas de fadiga,observa-se o desenvolvimento de microcavidadesque
pode ser visualizada a baixo aumento na Figura 5c. Uma estrutura uniforme com
dimples de pouca profundidade também pode ser notada. O aspecto de fratura
rugosa é indicativo de grãos grosseiros.
O padrão fractográfico do corpo de prova na condição 3é apresentado na Figura 6.
Observa-se vários pontos de iniciação e propagação de trincas na Figura 6a. De
maneira geral, nota-se que a superfície de fratura do corpo de prova preparado para
o ensaio de acordo com a condição 3 é semelhante ao corpo de prova preparado na
condição 2. Porém, a semelhança é apenas até certo ponto. Ao se investigar com
maior aumento regiões próximas à superfície do corpo de prova na condição 3
consegue-se visualizar o efeito da camada alfa. Na Figura 6b é apresentada a região
delineada pela elipse da Figura 6a, observa-se na superfície de fratura uma
morfologia semelhante à encontrada na análise metalográfica para a camada alfa. A
fratura apresenta aspecto frágil na qual se evidencia o descolamento de grãos da
camada alfa e a presença de clivagem na superfície do corpo de prova. O aspecto
de fratura rugosa é indicativo de grãos grosseiros.

1585
5 CONCLUSÕES

A caracterização microestrutural da liga Ti-6Al-4V revelou que diferentes rotas de


tratamento térmico leva a modificação microestrutural sendo a microestrutura
dependente do histórico de processamento da liga e principalmente da temperatura
de aquecimento e da taxa de resfriamento imposta.
Os resultados de dureza Vickers revelaram que a microestrutura α+β globular possui
melhor resistência a deformação plástica localizada.
O ensaio de fadiga revelou que a vida em fadiga foi reduzida para ambos os grupos
de corpos de prova tratados termicamente e preparados na condição 2 e na
condição 3 que apresentam microestrutura α+β acicular. A redução da vida em
fadiga foi mais significativa para a amostra na condição 3 devido a presença de uma
camada de difusão do oxigênio (camada alfa) que torna frágil a superfície da liga Ti-
6Al-4V.
A microscopia eletrônica de varredura evidenciou a fragilidade da camada alfa por
meio da morfologia da superfície de fratura. E revelou que as superfícies de ruptura
de amostras com diferentes microestruturas seguem mecanismos de ruptura
divergentes.

Agradecimentos

Cnpq, Finep, MDT – Ind. Comer. Impor. Exp. de Implantes Ortopédicos, Fapese,
NUCEM/P2CEM/UFS.

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