Centro de Inovação Agroindustrial e Empresarial Do Pontal Do Triângulo Mineiro (CIAP) Desafios e Possibilidades para o Desenvolvimento Regional

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REVISTA OBSERVATORIO DE LA ECONOMIA LATINOAMERICANA

Curitiba, v.21, n.1, p.173-195. 2023.

ISSN: 1696-8352

Centro de inovação agroindustrial e empresarial do pontal do Triângulo


Mineiro (CIAP): desafios e possibilidades para o desenvolvimento
regional1

Center for agroindustrial and entrepreneurial innovation of the pontal


Triangulo Mineiro (CIAP): challenges and possibilities for regional
development

Recebimento dos originais: 24/02/2023


Aceitação para publicação: 23/03/2023

Edson Arlindo Silva


Pós-Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo (USP) com Área de
Concentração em Ciências Sociais Aplicadas
Instituição: Universidade Federal de Uberlândia – Campus Pontal de Ituiutaba
Endereço: Universidade Federal de Uberlândia - Campus Pontal, Sala 3º Piso, Direção
da FACES, Rua Vinte, 1600, Tupã, Ituiutaba – MG, CEP: 38304-402
E-mail: [email protected]

RESUMO
O Centro de Inovação Agroindustrial e Empresarial do Pontal (CIAP) concebido como
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica objetiva instigar ações e intervenções no
âmbito local e regional com vistas ao desenvolvimento econômico, criação de novos
empreendimentos, suporte especializado a empreendimentos já existentes e à geração de
trabalho e renda. O cenário competitivo globalizado e informatizado impõe a busca por
orientação e apoio qualificado. Na busca por ajuda, o empreendedor opta pela incubação
devido seu baixo custo. As incubadoras de empresas têm por missão oferecer suporte para
as empresas regionais nascentes, ofertando ambientes de criatividade, inovação e de
coragem para o novo empreendedor. Nesta direção as parcerias público-privadas,
fundamentadas na trilogia Universidades-Empresas-Governos em um movimento que
ficou conhecido como “Tríplice Hélice”, principalmente em países desenvolvidos,
implantando um conjunto de ações e estratégias direcionadas à inovação tecnológica e
geração de produtos e processos de alto valor agregado. A metodologia consistiu em
análise documental, survey, visitas técnicas, brainstorming e observação não-
participante. Os resultados podem ser percebidos até mesmo pelos indicadores de
resultados acadêmicos, sendo as publicações científicas e as patentes um dos mais
utilizados. A interação entre Universidades, Governos e Empresas torna-se fundamental
para a transformação do conhecimento em inovação tecnológica e favorece a prospecção
de sinergias. Conclusivamente tem-se que o CIAP vem realizando minucioso diagnóstico
na região do Pontal Mineiro, identificando potencialidades, vulnerabilidades e desafios

1
Pesquisa financiada com recursos públicos oriundos do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), Edital CNPq 09/2017, Processo de N o. 312852/2017-7.

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para criar e/ou reestruturar Empresas Urbanas e Agroindustriais, estando contribuindo


significativamente para a consolidação de uma cultura da inovação e transferência de
conhecimento científico e tecnológico.

Palavras-chave: empreendedorismo, inovação, incubadora de empresas, gestão.

ABSTRACT
The Pontal Agroindustrial and Entrepreneurial Innovation Center (CIAP) conceived as a
Technological-based Business Incubator aims to instigate actions and interventions at the
local and regional level with a view to economic development, creation of new ventures,
specialized support for existing ventures and generation of work and income. The
globalized and computerized competitive scenario requires the search for guidance and
qualified support. In seeking help, the entrepreneur opts for incubation due to its low cost.
Business incubators have the mission of providing support for nascent regional
companies, offering environments of creativity, innovation and courage for the new
entrepreneur. In this direction, public-private partnerships, based on the Universities-
Companies-Governments trilogy in a movement that became known as the “Triple
Helix”, mainly in developed countries, implementing a set of actions and strategies aimed
at technological innovation and generation of products and processes of high added value.
The methodology consisted of document analysis, survey, technical visits, brainstorming
and non-participant observation. The results can be seen even by academic results
indicators, with scientific publications and patents being one of the most used. The
interaction between Universities, Governments and Companies is fundamental for the
transformation of knowledge into technological innovation and favors the search for
synergies. In conclusion, it is clear that the CIAP has been carrying out a thorough
diagnosis in the Pontal Mineiro region, identifying potentialities, vulnerabilities and
challenges to create and/or restructure Urban and Agroindustrial Companies, contributing
significantly to the consolidation of a culture of innovation and transfer of scientific
knowledge and technological.

Keywords: entrepreneurship, innovation, business incubator, management.

1 INTRODUÇÃO
A criação do Centro de Inovação Agroindustrial e Empresarial do Pontal (CIAP)
do Triângulo Mineiro, fundamentado nas ações da Incubadora de Empresas de Base
Tecnológica do Pontal, tem como propósito central instigar ações e intervenções no
âmbito regional com vistas ao desenvolvimento econômico, criação de novos
empreendimentos, suporte especializado a empreendimentos já existentes e geração de
emprego e renda. Na economia globalizada, o número de micro e pequenas empresas vêm

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crescendo significativamente no Brasil. O cenário competitivo impõe a busca por


orientação e apoio qualificado. Na busca por ajuda, o empreendedor opta pela incubação
devido seu baixo custo.
Segundo Dornelas (2002), as incubadoras têm por objetivo oferecer suporte para
as empresas regionais nascentes, ofertando ambientes de criatividade, inovação e de
coragem para o novo empreendedor. Nesse contexto a abertura da Economia Brasileira
no início da década de 1990 trouxe consequências impactantes em várias dimensões da
vida social. Dentre estas dimensões encontram-se a valorização que tiveram as
Incubadoras de Empresas de Bases Tecnológicas no processo de geração de riquezas,
novos empreendimentos, geração de trabalho e renda, bem como na aceleração do
desenvolvimento econômico regional.
Para Piekarski e Torkomian (2008), as incubadoras tecnológicas no Brasil se
consolidaram na década de 1990 como catalisadoras e indutoras de mudanças culturais
importantes para o adensamento do sistema nacional de inovação. Com o avanço das
incubadoras tecnológicas no Brasil, realizou-se minucioso diagnóstico no Pontal do
Triângulo Mineiro, identificando potencialidades, vulnerabilidades e desafios para criar
e/ou reestruturar Empresas Urbanas e Agroindustriais no contexto regional, podendo este
estudo contribuir significativamente para a consolidação de uma cultura voltada à
inovação e disseminação/transferência de tecnologia e conhecimento científico.

2 EMBASAMENTO TEÓRICO
O processo de globalização mundial que culminou com a abertura da Economia
Brasileira no início da década de 1990 favoreceu diversas iniciativas em torno de ações
voltadas ao empreendedorismo inovador, particularmente por intermédio das Incubadoras
de Empresas de Bases Tecnológicas (IEBTs).
Neste contexto as Incubadoras passaram a ser vistas como “entidades
heterodoxas”, capazes de unirem Universidades, Empresas e Governo em um movimento
que ficou conhecido, segundo Etzkowitz (2011), como “Tríplice Hélice”, principalmente
em países desenvolvidos como Inglaterra e Estados Unidos da América (especialmente
no chamado “Vale do Silício”), objetivando um conjunto de ações e parcerias público-

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privadas em prol da Inovação Tecnológica e da geração de Produtos/Processos de


Tecnologia de Ponta com alto valor agregado.
No âmbito da Teoria da Tríplice Hélice, acredita-se que à medida que a economia
do conhecimento avança, os ativos intangíveis de natureza tecnológica, cultural e
informacional ganham importância como fonte de crescimento de uma nação. Etzkowitz
(2013) reforça essa ideia argumentando que a academia – universidades principalmente
– é considerada ator central na era do conhecimento, uma vez que, além de ensino e
pesquisa, a academia incorpora uma terceira missão, a saber, a de interveniente ativo no
processo de desenvolvimento econômico por meio da criação de conhecimento científico
e tecnológico aplicado, contribuindo diretamente para a inovação tecnológica.
O modelo da Tríplice Hélice foi proposto em 1996 por Henry Etzkowitz e Loet
Leydesdorff, e defendia a dinâmica da inovação em uma conjuntura em evolução, na qual
relações se estabelecem entre três atores organizados em uma sociedade baseada no
conhecimento, quais sejam, Universidade, Indústria e Governo – as três hélices. O modelo
pode ser considerado capaz de entender o processo de inovação e ainda, capaz de nortear
a proposição de políticas públicas voltadas à ciência, tecnologia e inovação, visando à
interação entre os três atores que integram a Tríplice Hélice.
A Tríplice Hélice, fundamentada no tripé Universidade-Empresa-Governo,
posiciona cada um dos agentes como um importante papel a ser desempenhado, de forma
que a Universidade auxilia na geração de conhecimento, as Empresas geram
desenvolvimento social e o Governo elabora políticas, a fim de atender as iniciativas
propostas pelas Universidades e Empresas (ETZKOWITZ, 2007). Essa relação busca
produzir inovação tecnológica e desenvolver a economia da região em que está inserida.
Reforçando esta ideia Etzkowitz (2007) constatou em seus estudos que a forma ideal de
funcionamento da Tríplice Hélice seria que fosse possível a interação das três esferas de
maneira sinérgica, de forma que os três elos conseguissem desempenhar o papel uma das
outras, entretanto, nem sempre essa interação ocorre.
Assim, com a finalidade de concretizar essa relação Universidade-Empresa-
Governo as incubadoras de empresa assumem importante papel, como parte fomentadora

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desta relação e tendo como objetivo central, ações em torno do desenvolvimento


econômico regional (ETZKOWITZ, 2002).
Corroborando com as premissas teóricas propostas pela Teoria da Tríplice Hélice
descrita nos trabalhos de Etzkowitz (2011), emerge no Brasil em 02 de dezembro de 2004
a Lei de Inovação de número 10.973. Esta Lei 10.973/04, no inciso IV do artigo 2º, traz
a definição de inovação, que foi aprimorada por intermédio do complemento da Lei
13.243/16, que coloca inovação como algo a ser inserido, seja um novo produto, serviço
ou processo, no ambiente, desde “que compreenda a agregação de novas funcionalidades
ou características a produto, serviço ou processo já existente que possa resultar em
melhorias e em efetivo ganho de qualidade ou desempenho” (BRASIL, 2004). É
importante ressaltar que, apesar de a legislação brasileira não possuir novas leis que
tratem do tema inovação, há a preocupação em manter seus conceitos, bem como os
demais conteúdos, atualizados, por intermédio de complementos à lei. Essas iniciativas
estão ligadas ao fato desta lei – que regulamenta incentivos à inovação –, possuir o intuito
de promover a pesquisa tecnológica e científica.
De acordo com Dornelas e Tiffin (2002), no contexto de uma economia baseada
no conhecimento, a inovação parece desempenhar um papel fundamental, fazendo com
que o tema esteja incluído na agenda política da maioria dos países desenvolvidos. Esta
realidade com foco na vocação inovadora e tecnológica encontra nas Incubadoras de
Empresas de Base Tecnológica (IEBTs) um campo cada vez mais fértil para promover
ações em prol do desenvolvimento econômico e social no âmbito regional. Assim, sucede
uma troca de conhecimento por parte do pesquisador e de experiência para o
empreendedor. Dornelas (2002) constatou que a primeira incubadora sem fins lucrativos
foi concebida no final da década de 1950, em Nova York, como consequência imediata
da proliferação dos parques tecnológicos nos Estados Unidos.
A Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovado-
res (ANPROTEC) classifica as incubadoras em quatro tipos: as de base tecnológica, as
tradicionais, as sociais e as mistas, conforme exposto no Quadro 1.

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Quadro 1 – Classificação das Incubadoras de Empresas


TIPO DE INCUBADORA CARACTERÍSTICAS
Incubadora de Empresas de Base Tecno- Empresas que baseiam o seu negócio no
lógica (IEBT) uso da tecnologia.
Incubadoras de Empresa Tradicionais Empresas de setores tradicionais da econo-
(IET) mia.
Associações populares e cooperativas soci-
Incubadora de Empresas Sociais (IES)
ais.
Incubadora de Empresas Mistas (IEM) Empresas de todos os tipos.
Fonte: ANPROTEC, 2019.

As “Incubadoras de Empresa de Base Tecnológica” abrigam empreendimentos


que oferecem produtos, serviços e/ou processos que se baseiam no uso de tecnologia e
alto valor agregado. Geralmente, essas modalidades de empreendimentos são resultados
de pesquisas científicas. Já as “Incubadoras de Empresas Tradicionais” dão suporte a em-
preendimentos que fazem parte da economia tradicional e os seus produtos e/ou serviços
fazem uso da tecnologia já difundida e conhecida. Em relação as “Incubadoras de Em-
presas Sociais” estas por sua vez atendem empreendimentos que têm foco social e asso-
ciativo. Normalmente são formadas por cooperativas e associações originárias de projetos
sociais voltadas aos princípios, valores e formas de gestão intimamente ligados à Econo-
mia Solidária. No que se refere as “Incubadoras de Empresas Mistas”, estas auxiliam
vários tipos de empreendimentos, tanto de setores tradicionais quanto de setores inova-
dores e tecnológicos (ANPROTEC, 2019).
Nesse sentido, somadas as ações das incubadoras, tem-se que as instituições de
ensino ajudam a difundir conhecimento, não apenas por perseguirem fronteiras em
pesquisas por si mesmas, mas também por difundir o conhecimento sistematizado e
codificado no mundo. Os resultados desse novo cenário podem ser percebidos até mesmo
pelos indicadores de resultados acadêmicos, sendo as publicações científicas e as patentes
um dos mais utilizados. Nessa direção, percebe-se que a interação entre Universidades,
Governo e Empresas/Indústrias torna-se fundamental para a transformação do
conhecimento em inovação tecnológica. Essa transformação requer esforços tanto macro
institucionais quanto micro institucionais, pois é preciso criar uma base sólida
institucional para que os mecanismos de inovação possam prosperar e gerar sinergias

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efetivas a partir da interação entre instituições de ensino, governo e empresas/sociedade


civil (PIEKARSKI; TORKOMIAN, 2008).
Sendo assim, acredita-se que o papel e as funções desempenhadas pelas
Incubadoras de Empresas de Base Tecnológicas (IEBTs) têm como atribuição gerir a
política de inovação tecnológica destas instituições de ensino, e possuem a relevante
missão de alavancar parcerias entre Universidade, Governo e Empresas com vistas ao
desenvolvimento econômico regional, como acontecem em outras partes do mundo
quando se tem este tipo de parceria no formato de Tríplice Hélice (ETZKOWITZ, 2007).

3 METODOLOGIA DE PESQUISA ADOTADA


A abordagem utilizada para a investigação do assunto em questão é a abordagem
mista (quantitativa e qualitativa), uma vez que tem ocorrido interpretação dos fenômenos,
formulação de indicadores/gráficos e atribuição de significados no processo de pesquisa.
Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva-exploratória, uma vez que vem buscando
expor as características que compõem o conjunto de fenômenos estudados até o momento
na região de pesquisa denominada de Pontal Mineiro (VERGARA, 2015).
Em relação à coleta de dados e informações, são combinadas fontes primárias e
secundárias. Os procedimentos utilizados são pesquisa documental, observação não
participante e pesquisa de campo mediante visitas técnicas nas organizações públicas e
privadas que fazem parte do estudo proposto.
A pesquisa documental, que, de acordo com Gil (2002, p. 45), “vale-se de
materiais que não recebem um tratamento analítico” esta sendo utilizada para traçar o
histórico e evolução das organizações públicas e privadas situadas na Microrregião do
Pontal do Triângulo Mineiro, bem como tem servido para verificar a existência de
políticas públicas, ações empresariais e parcerias público-privadas voltadas ao
empreendedorismo e a inovação tecnológica.
Já a observação não-participante consiste no momento em que o pesquisador,
apesar de estar presente no ambiente, não interage com o meio ou fenômeno pesquisado,
sendo um “espectador atento”, de forma que o pesquisador deve registrar o que é

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interessante para a pesquisa, de acordo com os objetivos propostos da pesquisa (GIL,


2002).
Para Lima (2010), as visitas técnicas são frequentemente realizadas por diversas
instituições de educação profissional, técnica e tecnológica espalhadas por todo o Brasil.
Seus procedimentos essenciais consistem na elaboração de um roteiro básico direcionado
para a investigação de questões importantes relacionadas ao fenômeno estudado;
reprodução fiel do espaço observado transformando-o em documentos válidos para fins
de consultas imediatas ou pesquisas futuras; favorece ainda a transformação de vivências
práticas em conhecimentos teórico-científicos fundamentais tanto para a academia quanto
para as empresas/instituições.
Como técnicas complementares de coletas dados e informações de pesquisa, para
melhor compreender as ações de empreendedores e empreendedoras assessorados pelo
Centro de Inovação Agroindustrial e Empresarial do Pontal (CIAP), tem-se a utilização
das seguintes técnicas: Brainstorming e Survey.
Brainstorming, de acordo com os estudos de Creswell (2010) e Roesch (2005), é
considerado uma técnica de pesquisa que favorece a geração coletiva de novas ideias por
intermédio da contribuição e participação de diversos indivíduos inseridos num de
determinado grupo. Ao ser aplicada em grupos de empreendedores que buscam apoio no
CIAP, a utilização desta técnica baseia-se no pressuposto de que um grupo gera mais
ideias do que os indivíduos isoladamente e constitui, por isso, uma importante fonte de
inovação por meio do desenvolvimento de pensamentos criativos e promissores.
Em relação ao Survey (Questionário), Marconi e Lakatos (2006) afirmam que esta
técnica é favorável dentro de algumas circunstâncias como, a saber: i) O número de
sujeitos de pesquisa é muito grande; ii) A população alvo está dispersa geograficamente;
iii) Existe pouco tempo para a realização da coleta de dados; iv) Os recursos financeiros
são escassos para a realização de outros tipos de coleta de dados; v) As informações a
serem levantadas são de fácil compreensão e análise; vi) Existe grande quantidade de
informações quantitativas a serem levantadas. Tais circunstâncias tem permitido ao CIAP
levantar um volume significativo voltado às ações empreendedoras e de difusão de
inovação tecnológica na região do Pontal Mineiro.

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3.1 CARACTERIZAÇÃO E DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE PESQUISA


A mesorregião do Triângulo Mineiro está localizada a oeste do Estado de Minas
Gerais e é uma das dez macrorregiões de planejamento estratégico do Estado, sendo com-
posta por quatro microrregiões, são elas, Ituiutaba, Uberlândia, Uberaba e Frutal. Essas
microrregiões agregam um total de 35 municípios, são eles, Água Comprida, Araguari,
Araporã, Cachoeira Dourada, Campina Verde, Campo Florido, Canápolis, Capinópolis,
Carneirinho, Cascalho Rico, Centralina, Comendador Gomes, Conceição das Alagoas,
Conquista, Delta, Fronteira, Frutal, Gurinhatã, Indianópolis, Ipiaçu, Itapagipe, Ituiutaba,
Iturama, Limeira do Oeste, Monte Alegre de Minas, Pirajuba, Planura, Prata, Santa Vitó-
ria, São Francisco de Sales, Tupaciguara, Uberaba, Uberlândia, União de Minas e Verís-
simo, conforme apresentado na Figura 1 (IBGE, 2022).

Figura 1 – A Macrorregião do Triângulo Mineiro

Fonte: Elaborado com base em dados do IBGE (2022).

No que se refere à ocupação da região do Triângulo Mineiro, destaca-se que ocor-


reu na primeira metade do século XVIII, através da expedição de Bartolomeu Bueno Silva
que, em busca de pedras preciosas, atravessou o território mineiro para chegar ao atual
estado de Goiás. Para facilitar a locomoção dos sertanistas foi criada a estrada dos Goia-
ses, entre os estados de São Paulo e Goiás (GUIMARÃES, 2010).

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Para fins de desenvolvimento das ações voltadas ao empreendedorismo e inovação


tecnológica do Centro de Inovação Agroindustrial e Empresarial do Pontal (CIAP), tem-
se o município de Ituiutaba como polo e a microrregião do Pontal Mineiro como a
principal beneficiária. Segundo dados do IBGE (2022), Ituiutaba é um município do
interior do estado de Minas Gerais, região sudeste do país. Sua população, de acordo com
estimativas de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de 105.255
habitantes, sendo o trigésimo município mais populoso do estado em total de 853
municípios, com área territorial de 2.598,046 km², sendo seu gentílico denominado de
Ituiutabano, Bioma Cerrado e Mata Atlântica.
A área de delimitação da presente pesquisa é a microrregião do Pontal do
Triângulo Mineiro, tendo como polo central de pesquisa científica a Universidade Federal
de Uberlândia – Campus Pontal, situada na cidade de Ituiutaba, Estado de Minas Gerais.
A região do Pontal Mineiro, tendo seu traçado em formato de uma ponta delimitada entre
as BRs 153, 364 e 365, é composta pelos seguintes municípios: Araporã, Cachoeira
Dourada, Campina Verde, Canápolis, Capinópolis, Carneirinho, Centralina, Comendador
Gomes, Fronteira, Frutal, Gurinhatã, Ipiaçu, Itapagipe, Ituiutaba, Iturama, Limeira do
Oeste, Monte Alegre de Minas, Prata, Santa Vitória, São Francisco de Sales e União de
Minas, conforme apresentado na Figura 2 (IBGE, 2022).

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Figura 2 – Municípios da Região do Pontal Mineiro

Fonte: IBGE, 2022.

Nesta região e municípios são considerados como potenciais parceiros as


organizações públicas (Municipal, Estadual e Federal) e privadas (Indústrias, Usinas,
Empresas Urbanas, Agroindústrias e Associações Formais) presentes nos municípios da
chamada região do Pontal do Mineiro (IBGE, 2022).

4 RESULTADOS DA PESQUISA
A questão/problema de pesquisa que vem guiando este estudo é: Como a atuação
de uma Incubadora de Empresas de Base Tecnológica, denominada Centro de Inovação
Agroindustrial e Empresarial do Pontal (CIAP), tem agido de forma positiva e contínua
para instigar empreendimentos inovadores e tecnológicos com vistas ao desenvolvimento
econômico regional? Os resultados desse trabalho estão servindo para nortear o arranjo
de estratégias de intervenção empresarial e a formulação de políticas públicas regionais
de inovação no sentido de assessorar e prestar consultorias especializadas em
empreendimentos consolidados e/ou a serem incubados.
Hodiernamente, o CIAP vem atendendo as seguintes pretensões de empresários e
empreendedores no âmbito regional, quais sejam: 1º) Promoção do desenvolvimento
regional por meio das ações da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do Pontal;

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2º) Fomento à implementação de um Parque Tecnológico e Científico com múltiplas


funcionalidades para auxiliar o desenvolvimento e expansão do Distrito Industrial de
Ituiutaba e complexo Agroindustrial existente no município e região; 3º) Viabilizar a
criação e o desenvolvimento de novos negócios de Base Tecnológica e promover a
difusão da cultura empreendedora e das tecnologias inovadoras oriundas da comunidade
acadêmica, contribuindo para o desenvolvimento local e regional; 4º) Estimular os novos
empreendedores (e também antigos) mediante projeto de negócio de base tecnológica
com apoio necessário para desenvolverem suas habilidades gerenciais e administrativas,
além de orientações, assessorias e consultorias que facilitem a introdução e o
desenvolvimento da empresa no mercado; 5º) Criação de condições necessárias para a
integração entre Universidade, Governo (Municipal, Estadual e Federal) e
Sociedade/Empresas com vistas à geração de Produtos e Processos Inovadores e de Base
Tecnológica; 6º) Contribuir na geração de trabalho/emprego e renda junto aos micro,
pequenos, médios e grandes empreendimentos a serem criados e/ou existentes na região
do Pontal do Triângulo Mineiro, oferecendo acompanhamento, capacitação e assistência
técnica qualificada aos empreendedores e empresários; 7º) Estímulo às Parcerias Publico-
Privadas objetivando o fomento e a captação de recursos por intermédio de projetos,
intervenções qualificadas, consultorias especializadas, prestação de serviços qualificados,
formulação e acompanhamento de políticas públicas de inovação que possam alavancar
as atividades e manutenção do CIAP.
Nesse contexto, a cidade de Ituiutaba é considerada um polo regional, atendendo,
com serviços variados, a região do Pontal Mineiro. Referência pode ser feita aos
municípios de Capinópolis, Santa Vitória, Gurinhatã, Canápolis, Cachoeira Dourada de
Minas, Ipiaçu, Campina Verde, Prata pela proximidade.
Em Ituiutaba destaca-se a Feira de Exposição Agropecuária anual, conhecida
como EXPOPEC, que tem abrangência nacional e que acontece no mês de aniversário da
cidade, setembro, e atrai pessoas e produtores de todo o estado de Minas Gerais e de
outras regiões do Brasil. Nesta feira são promovidas diversas iniciativas, entre tantas
destacam as ações voltadas ao empreendedorismo e inovação tecnológica, associadas às
empresas agroindustriais particularmente.

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Figura 3 – PIB e Valor Agregado Industrial de Municípios do Pontal Mineiro

Fonte: IBGE/FIEMG, 2022.

A cidade possui alguns grandes supermercados: Supermercado Bretas, Supra


Supermercado, Rede Pontual de Supermercados, Supermercado Ferreira e o Atacadista e
Varejo Mart Minas. Recentemente a cidade foi contemplada com unidades do Bahamas
Mix (Atacadista e Varejo) e Supermercado ABC.

Figura 4 – Relação Empresas e Empregos Gerados em Ituiutaba-MG

Fonte: IBGE, 2022.

Ainda segundo o IBGE (2022), o município de Ituiutaba tem no agronegócio


(agricultura da soja e milho e pecuária de corte e leite) e nas agroindústrias seus principais
elementos e fontes de divisas.

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Figura 5 – Principais Fontes de Riquezas de Ituiutaba

Fonte: IBGE, 2022.

No que se refere à pecuária de leite, Ituiutaba tem obtido maior expressão no


cenário produtivo após a implantação da Nestlé que foi instalada em 1974 e é a única
unidade que produz leite ninho em pó para todo o Brasil. Nesta direção vale ressaltar as
demais processadoras de leite que coletam este produto nesta unidade territorial e que
também contribuem para o fomento deste setor. Destaca-se a agroindústria Fazendeira,
que é datada do ano de 1938 e a Canto de Minas, que iniciou suas atividades em 1994,
ambas com capital de origem local.
Além das agroindústrias presentes no município de Ituiutaba, a região do Pontal
Mineiro abriga outras fábricas que captam leite dos produtores da região para atender a
demanda de suas unidades, as quais localizam-se nos munícipios próximos a unidade
territorial de Ituiutaba, como a Alimentos Triângulo/Doce Mineiro (Canápolis/MG),
COOPRATA – Cooperativa dos Produtores do Município de Prata (Prata/MG), CALU –
Cooperativa Agropecuária Limitada de Uberlândia (Uberlândia/MG) e o Laticínio
Catupiry (Santa Vitória/MG).
Complementarmente às empresas agroindustriais do setor lácteo, a região do
Pontal Mineiro possui várias empresas de natureza micro, pequena e familiar. Nesse
contexto empresarial, constatou-se que pesquisas realizadas tanto pelo IBGE quanto pelo

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SEBRAE em âmbito nacional nesta década revelam que a taxa de mortalidade das
empresas apresentaram resultados dramáticos, em que aproximadamente 60,4% das
empresas abertas em 2009, não sobreviveram até 2014. Para o ano de 2016, os resultados
apresentados foram ainda mais preocupantes, uma vez que, das 660,9 mil empresas
abertas em 2011, apenas 38% sobreviveram até 2016, ou seja, em torno de 62% das
empresas não sobreviveram aos primeiros cinco anos de atividade (IBGE, 2022).
Reforçando este cenário apresentado via pesquisa do IBGE (2022), Ferreira et. al.
(2012) apontam alguns fatores relacionados à mortalidade das micro e pequenas empresas
como é o caso da falta de plano de negócios, da falta de inovação nos produtos e serviços
ofertados, dificuldade em captar e manter clientes, elevado número de concorrente e baixo
conhecimento de mercado por parte de empresários e empreendedores, seja por baixa
escolaridade ou por falta de competência gerencial e experiência relacionada ao segmento
de atuação.
Por outro lado, dentre os principais motivos listados pelos empresários que
conseguiram manter as empresas abertas nos primeiros anos de funcionamento, estão à
redução na carga de impostos, a utilização permanente do plano estratégico de negócios,
o crédito mais facilitado, políticas governamentais favoráveis, melhor planejamento,
qualificação dos quadros funcionais, incorporação de tecnologias da
informação/comunicação e profissionalização do negócio constituído (SEBRAE, 2017).
A expansão da produção de leite bovino nesta unidade territorial foi fundamental
para a reorganização produtiva, econômica e espacial, pois na medida em que houve a
demanda por leite, os proprietários de estabelecimentos agropecuários que realizavam
demais atividades, passaram a produzir leite, incrementando o setor. Contudo, vale
ressaltar que esta atividade possui problemas, mas também, boas perspectivas no que
tange ao desenvolvimento local.
Em relação ao setor secundário, destacam-se: Nestlé, Syngenta Seeds, BP
Biocombustíveis, Frigorífico JBS, Canto de Minas, Laticínios Baduy, entre outras.
Resumidamente, o município de Ituiutaba possui 189 estabelecimentos Industriais, 1255
estabelecimentos comerciais, 3.829 estabelecimentos prestadores de serviços (inclusive

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profissionais liberais), 1.663 propriedades rurais, 7 estabelecimentos de educação


superior e 32 estabelecimentos de atividades agroindustriais (IBGE, 2022).
No âmbito econômico Ituiutaba apresentava, em 2018 de acordo com o IBGE,
salário médio mensal de 2,1 salários mínimos. A proporção de pessoas ocupadas em
relação à população total era de 21,3%. O PIB de Ituiutaba é de R$ 972.529 milhões e
seu PIB per capita é de R$ 27.698,62. O Total de receitas realizadas recentemente é de
R$ 317.795,53 milhões e as despesas totais empenhadas é de R$ 289.375,26 milhões. A
população economicamente ativa é de 49.862 habitantes, sua Renda per Capita é de R$
7.809 e o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) encontra-se em 0,739.
É neste cenário de perspectivas positivas e também de desafios, é que o Centro de
Inovação Agroindustrial e Empresarial do Pontal do Triângulo Mineiro (CIAP) vem
atuando no sentido de dar suporte técnico e assessoria especializada aos empreendedores
locais e regionais, bem como tem acompanhado as inovações tecnológicas incorporadas
pelas empresas agroindustriais anteriormente mencionadas.
Ressalta-se ainda que a região do Pontal Mineiro abriga importantes Usinas
Sucroalcooleiras como a BP-Bunge Biocombustíveis (Ituiutaba), Usina Canápolis
Triálcool (Canápolis), Usina Damfi (Canápolis), Usina de Bioenergia Alvorada Açúcar e
Álcool (Araporã), Usina Santa Vitória Açúcar e Álcool Ltda (Santa Vitória), Companhia
Energética do Vale do São Simão (Santa Vitória), Usina Coruripe (Carneirinho), Usina
BP Bunge (Itapagipe), Usina Vale do Pontal (Limeira do Oeste), Usina Coruripe (Limeira
do Oeste), CRV Industrial (Capinópolis), Japungu Agroindustrial de Açúcar e Álcool
(Capinópolis), Usina Coruripe (Iturama), Usina Bunge (Frutal) e Usina Cerradão (Frutal),
conforme dados da NovaCana.com (NOVACANA, 2022).
Neste caso o CIAP vem fomentando neste segmento parcerias em projetos de
pesquisas e consultorias voltadas ao empreendedorismo inovador. Ressalta ainda que as
Usinas de Açúcar e Álcool contribuem consideravelmente com as exportações industriais
como pode ser observado na Figura 6.

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Figura 6 – Perfil das Exportações da Região do Pontal Mineiro

Fonte: Ministério da Economia/FIEMG, 2020.

A partir do histórico apresentado, tendo a região do Pontal Mineiro como poten-


cial geradora e indutora de empreendedorismo inovador – particularmente voltado à
agroindústria, constata-se que o empreendedorismo no Brasil está em ascensão. Segundo
informações do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), no ano de 2016, aproximada-
mente 36% dos brasileiros estavam envolvidos em alguma atividade empreendedora, con-
forme demostrado na tabela 1:

Tabela 1 – Taxas de empreendedorismo segundo o estágio dos empreendimentos no Brasil


Estágio do Empreendi-
Estimativa de Empreendedores²
mento Taxa¹
Nascentes 6,2% 8.350.471
Novos 14,0% 18.793.132
Estabelecidos 16,9% 22.674.916
Total de empreendedores 36,0% 48.239.058
¹ Percentual da população de 18 a 64 anos.
² Estimativas calculadas a partir de dados da população brasileira de 18 a 64 anos para o Brasil em 2016:
aproximadamente 133,9 milhões.
Fonte: GEM, (2017).

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Nessa pesquisa, o GEM (2017) classifica o empreendedorismo em três estágios, a


saber: “Empreendimentos Nascentes”, “Novos Empreendimentos” e “Empreendimentos
Estabelecidos”. Compreende-se como “Empreendimentos Nascentes”, aquele que, de-
vido ao princípio de suas operações, os proprietários não conseguem realizar a retirada
de pró-labores ou outra remuneração por mais de três meses. “Novos Empreendimentos”
são aqueles que possibilitam aos proprietários a retirada de 3 a 42 meses de pró-labores.
Já, os “Empreendimentos Estabelecidos” são os que conseguem proporcionar mais de 42
meses de remuneração para os proprietários (GEM, 2017).
Quando se compara as taxas de empreendedorismo estabelecido no Brasil com os
demais países do grupo “impulsionados pela eficiência” (definidos pelo avanço da
industrialização), ele ocupa posição de destaque. O Brasil ocupa a terceira posição, e é
precedido somente pela Tailândia (primeiro) e pelo Líbano (segundo) de acordo com
dados do GEM (2017). Entretanto, apesar da posição de destaque, o Brasil está distante
de fornecer um ambiente confortável para os empreendedores. Observa-se que os novos
empreendimentos, principalmente os pequenos, possuem uma alta taxa de fracasso nos
primeiros anos, realidade esta na maioria das vezes justificada pela ausência ou baixa
inovação em negócios, produtos e processos (SEBRAE, 2017).
O Manual de Oslo, elaborado pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), entende que inovar vai além de inserir um novo
produto no mercado, podendo, além disso, ser um produto ou processo aperfeiçoado, um
novo método de marketing ou modelo organizacional, seja para melhoria das relações
internas, externas ou interorganizacionais. Consequentemente para que ocorra inovação
em determinada empresa, a mesma não precisa, necessariamente, ter prosperado, pois
muitas inovações podem fracassar e nem por isso deixarem de tê-la sido, desde que sejam
inseridas no mercado. O processo inovativo é complexo e, algumas vezes, pode até
mesmo ser imperceptível para a organização (OCDE, 2006).
Para a OCDE (2006), a inovação pode ocorrer em um produto ou processo, em
um método de marketing ou em uma mudança organizacional. A inovação de produto se
refere tanto a um bem quanto a um serviço novo ou melhorado, podendo esta melhoria
ocorrer por intemédio de conhecimentos ou tecnologias novas ou já existentes. Além

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disso, “o desenvolvimento de um novo uso para um produto com apenas algumas


pequenas modificações para suas especificações técnicas é uma inovação de produto” e,
em contrapartida, se não houver mudanças significativas funcionais, tal alteração não
pode ser caracterizada como inovação de produto. Quando se trata de inovação de
processo, esta se refere a uma modificação na forma de produção, com a finalidade de
redução de custos ou mesmo, melhoria do produto. A mudança pode ocorrer em
equipamento, softwares ou técnicas. Em relação à inovação de estratégias de marketing
esta se refere a uma modificação com a pretensão de atender os consumidores do produto
de forma adequada ou até mesmo buscando a inserção em novos mercados, atendendo
novos nichos. Já a inovação organizacional tem por intuito melhorar as relações de
trabalho e a comunicação entre os membros da organização, proporcionando um ambiente
de trabalho agradável aos colaboradores e, consequentemente, aos clientes mediante
implementação de novos modelos de gestão e de práticas de negócios empresariais
(OCDE, 2006).
No Brasil, a primeira incubadora de empresas surgiu em 1985, na cidade de São
Carlos, Estado de São Paulo. De acordo com um estudo realizado entre 2017 a 2019, pela
Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores
(ANPROTEC), em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), o Brasil tem 363 incubadoras em operação, que abrigam 3.694
empresas incubadas e 6.143 empresas graduadas. As empresas incubadas geram 14 mil
postos de trabalho diretos, recolheram R$ 110 milhões em tributos e tiveram faturamento
anual estimado em torno de R$ 550 milhões. Já as empresas graduadas contribuem com
a geração de 56 mil postos de trabalho diretos, recolheram R$ 3,6 bilhões em tributos e
tiveram faturamento estimado em R$ 18 bilhões. Sendo assim o principal objetivo de uma
incubadora é a geração de empresas de valor, capazes de competir no mercado, gerar
empregos e contribuir para o desenvolvimento econômico regional (ANPROTEC, 2019).
Para Etzkowitz (2002), as incubadoras têm por objetivo oferecer suporte para as
empresas regionais nascentes, ofertando um ambiente de criatividade, inovação e de co-
ragem para o novo empreendedor, compartilhando suporte técnico, orientação prática,

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teórica e profissional. Como mostram Dornelas e Tiffin (2002), o acesso aos conhecimen-
tos tecnológicos, à capacidade de compreender, aprender e usá-los, é visto como uma
vantagem competitiva e um grau de desenvolvimento de nações, regiões, empresas, uni-
versidades e indivíduos. A criação de incubadoras no ambiente acadêmico estimula a cri-
ação de projetos inovadores assim como auxilia o desenvolvimento das micro, pequenas,
médias e grandes empresas situadas e em operação na região do Pontal Mineiro.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As Incubadoras de Empresas de Bases Tecnológicas possuem papel relevante
quando se pensa no fomento às novas ideias de negócios, produtos e processos, na
promoção da cultura da inovação, no aperfeiçoamento do processo empreendedor, na
qualificação de empresários e empresárias, na elaboração de planos estratégicos de
negócios, na geração de riquezas, na criação de novos postos de trabalhos, no suporte
técnico-científico via consultorias especializadas, e em ações voltadas ao
desenvolvimento econômico regional.
As recentes mudanças que tem ocorrido no processo de incubação, pelo fato de
que nas últimas décadas, o Brasil tem passado por diversas transformações políticas,
sociais, culturais e econômicas, tem facilitado o acesso das empresas ao comércio
exterior, aumentando as importações e exportações de produtos e serviços especializados
contribuindo para o crescimento do número de empreendedores e a criação de
mecanismos que vem corroborando para auxiliar as empresas brasileiras a se
desenvolverem, com a finalidade de reduzir a taxa de mortalidade das micro e pequenas
empresas e explorar oportunidades direcionadas à inovação tecnológica e ao
empreendedorismo inovador, particularmente nas médias e grandes empresas.
Nessa direção, tem-se que a importante classificação adotada pelo Sebrae (2017)
sobre “Perfil Empreendedor”, revela que os empreendedores podem ser de dois tipos,
sendo os “Empreendedores por Necessidade”, aqueles que buscam uma fonte de renda ao
abrir o próprio negócio e os “Empreendedores por Oportunidade”, que são os que
percebem a oportunidade de um novo empreendimento no ambiente.

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O empreendedorismo é um importante ponto de partida para o desenvolvimento


de uma sociedade. Mas, para que realmente isso aconteça, é necessário criar formas de
apoio a quem quer empreender. Uma dessas formas é a incubadora de empresas, que tem
como objetivo fornecer subsídios financeiros, treinamento e apoio gerencial aos novos
empreendedores, com o propósito de prepará-los para dar continuidade ao negócio e se
tornarem autossustentáveis. Um dos fatores que contribui para esse processo é o
compartilhamento de conhecimento, pois, por intermédio da convivência e da troca de
experiência, é possível gerar conhecimento, o qual pode ser transformado em vantagem
competitiva.
Nesse contexto, o fenômeno do empreendedorismo pode ser analisado a partir de
duas perspectivas teóricas: a “Comportamentalista” e a “Econômica”. Na visão
comportamentalista o empreendedorismo está associado às características pessoais do
empreendedor, que é aquela pessoa criativa que cria soluções. Já na perspectiva
econômica o empreendedorismo é entendido como o principal gerador de
desenvolvimento econômico e inovação. Para que realmente o empreendedorismo seja
fonte de inovação, foram criados vários mecanismos de fomento e apoio ao
empreendedor. Um deles é a incubadora de empresas, que é um ambiente bastante
envolvido com o movimento de empreendedorismo e responsável pelo suporte técnico-
científico aos empreendedores.
O principal objetivo de uma incubadora de empresas, como é o caso do Centro de
Inovação Agroindustrial e Empresarial do Pontal (CIAP), é a formação de novos
empreendedores que estejam preparados para dar continuidade ao seu negócio após
deixarem a incubadora, ou seja, geralmente após um prazo de dois a quatro anos de
incubação. Mas, para que esse processo seja conduzido de uma forma satisfatória, há
alguns fatores críticos para o sucesso dos ambientes de incubação, como, por exemplo, o
acesso a financiamentos e investimentos, o suporte gerencial qualificado, políticas
governamentais específicas para o setor, estratégias inovadoras de negócios e uma boa
rede de relacionamento voltada para o empreendedorismo e à cultura inovadora.

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