Crise Venezuelana

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Barros, Pedro Silva; Lima, Raphael Camargo; Carneiro, Helitton Christoffer

Working Paper
Brasil-Venezuela: Evolução das relações bilaterais
e implicações da crise venezuelana para a inserção
regional brasileira (1999-2021)

Texto para Discussão, No. 2761

Provided in Cooperation with:


Institute of Applied Economic Research (ipea), Brasília

Suggested Citation: Barros, Pedro Silva; Lima, Raphael Camargo; Carneiro, Helitton Christoffer
(2022) : Brasil-Venezuela: Evolução das relações bilaterais e implicações da crise venezuelana para
a inserção regional brasileira (1999-2021), Texto para Discussão, No. 2761, Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), Brasília,
https://doi.org/10.38116/td2761

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https://hdl.handle.net/10419/265281

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2761
BRASIL-VENEZUELA: EVOLUÇÃO
DAS RELAÇÕES BILATERAIS
E IMPLICAÇÕES DA CRISE
VENEZUELANA PARA A INSERÇÃO
REGIONAL BRASILEIRA (1999-2021)

PEDRO SILVA BARROS


RAPHAEL CAMARGO LIMA
HELITTON CHRISTOFFER CARNEIRO
2761
Rio de Janeiro, abril de 2022

BRASIL-VENEZUELA: EVOLUÇÃO DAS


RELAÇÕES BILATERAIS E IMPLICAÇÕES
DA CRISE VENEZUELANA PARA A
INSERÇÃO REGIONAL
BRASILEIRA (1999-2021)

PEDRO SILVA BARROS1


RAPHAEL CAMARGO LIMA2
HELITTON CHRISTOFFER CARNEIRO3

1. Técnico de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e


Relações Econômicas e Políticas Internacionais (Dinte) do Ipea.
E-mail: <[email protected]>.
2. Pesquisador do Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional
(PNPD) na Dinte/Ipea. E-mail: <[email protected]>.
3. Pesquisador do PNPD na Dinte/Ipea. E-mail: <[email protected]>.
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e estudos realizados por seus técnicos. 1.Brasil. 2.Aspectos Econômicos. 3.Aspectos Sociais.
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JEL: F14; F15; F51; F52.


DOI: http://dx.doi.org/10.38116/td2761
SUMÁRIO

SINOPSE

ABSTRACT

1 INTRODUÇÃO.........................................................................6

2 CONDICIONANTES GEOPOLÍTICOS DAS


RELAÇÕES BILATERAIS...........................................................9

3 HISTÓRICO DAS RELAÇÕES BILATERAIS (1958-1998)................20

4 CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS RELAÇÕES


BRASIL-VENEZUELA (1998-2020).........................................33

5 DIMENSÃO POLÍTICO-DIPLOMÁTICA....................................42

6 DIMENSÃO ECONÔMICO-COMERCIAL.................................85

7 DIMENSÃO DE SEGURANÇA E DEFESA...............................112

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................120

REFERÊNCIAS........................................................................122

APÊNDICE ............................................................................139
SINOPSE
Este Texto para Discussão aborda o histórico e a dinâmica recente das relações entre Brasil e
Venezuela a partir das dimensões político-diplomáticas, econômico-comerciais e de segurança
e defesa. O estudo analisa décadas de avanços e retrocessos nos entendimentos bilaterais
entre ambos os países, até os mais recentes desdobramentos da crise venezuelana e seus
impactos na governança da América do Sul. Nos últimos vinte anos, as relações econômicas
entre Brasil e Venezuela foram estruturadas em torno do comércio bilateral bastante
superavitário ao Brasil, do financiamento à exportação de bens e serviços de engenharia,
dos investimentos em infraestrutura e da parceria energética entre os dois países. Também
abordam-se as excepcionalidades dos estados fronteiriços de Roraima e Amazonas nas
relações bilaterais, a utilização de instrumentos financeiros de facilitação dos intercâmbios
comerciais na região, os impactos geoeconômicos no comércio bilateral em função das
sanções econômicas sofridas pela Venezuela, a recente migração de venezuelanos para o
Brasil, entre outros temas estratégicos como a cooperação militar entre Brasil e Venezuela,
a arquitetura regional de segurança e defesa, o papel central da integração regional nas
relações multilaterais e o potencial de cooperação energética.

Palavras-chave: relações Brasil-Venezuela; crise; integração regional; comércio bilateral.

ABSTRACT

This Discussion Paper addresses the recent history and dynamics of relations between Brazil
and Venezuela from the political-diplomatic, economic-commercial and security and defense
dimensions. The study analyses decades of advances and setbacks in bilateral understandings
between both countries up to the most recent consequences of the Venezuelan crisis and its
impacts on South American governance. In the past twenty years, economic relations between
Brazil and Venezuela was structured around bilateral trade with a large surplus with Brazil,
financing the export of engineering goods and services, investments in infrastructure and the
energy partnership between the two countries. The article addresses exceptional circumstances
on the Roraima and Amazonas in bilateral relations, the use of financial instruments to facilitate
trade exchanges in the region, the geoeconomic impacts on bilateral trade due to economic
sanctions suffered by Venezuela, the recent migration of Venezuelans for Brazil. The study also
presents other strategic issues such as military cooperation between Brazil and Venezuela, the
regional security and defense architecture, the central role of regional integration in multilateral
relations and the potential for energy cooperation.

Keywords: relations Brazil-Venezuela; crisis; regional integration; bilateral trade.


2761
TEXTO para DISCUSSÃO

1 INTRODUÇÃO

A situação interna da Venezuela tornou-se um dos maiores desafios contemporâneos para


a América Latina. O impasse político vivido pelo país desde a morte do presidente Hugo Chávez
Frías1 e a emergência de seu sucessor, Nicolás Maduro, em 2013, foram agravados pelo aumento
de embates entre governo e grupos de oposição, a partir de 2014, e crescimento das pressões
internacionais ao regime, que atingiram seu ápice em 2019. O agravamento da crise venezuelana
desorganizou a governança regional na América do Sul, tornando a região mais vulnerável aos efei-
tos da competição entre as grandes potências2 em um quadro de maior polarização das políticas
domésticas dos países sul-americanos. Desse modo, o papel de atores extrarregionais, como China,
Estados Unidos, Rússia e União Europeia (UE), tem se tornado cada vez mais determinante para
qualquer saída política da crise venezuelana, fator de grandes implicações para a posição do Brasil
na região.3

Dados socioeconômicos do país demonstram uma crise sem precedentes por qualquer
perspectiva que se analise o tema.4 Entre 2016 e 2020, por exemplo, as quedas do produto
interno bruto (PIB) venezuelano atingiram patamares de dois dígitos, com valores aproxima-
dos de 17%, 16%, 20%, 35% e 30%, ano após ano.5 A Venezuela é um dos países com o
maior crescimento do endividamento público e que apresentou, nos últimos anos, as maiores
taxas de inflação do mundo. Entre 2011 e 2018, a relação dívida pública-PIB passou de 32,6%
para 121,9% e, no mesmo período, de uma inflação estimada de aproximadamente 26% para
1.698.588%.6 Nos últimos três anos (2019-2021), o cenário inflacionário venezuelano vem

1. Para uma coletânea de estudos sobre a Venezuela antes da crise do chavismo, ver Hausmann e
Rodríguez (2014).
2. Para alguns autores, a ordem internacional pós-Guerra Fria encontra-se em crise, dado o retorno das
disputas geopolíticas e da competição estratégica entre as grandes potências iniciada pela ascensão da
China, as atuações mais agressivas da Rússia no Leste Europeu e a retração dos Estados Unidos como
financiador da atual ordem internacional (Mead, 2014; Mearsheimer, 2018; Nye Junior, 2016).
3. De acordo com Stuenkel (2019), a crise da Venezuela é um exemplo de como os países da América do
Sul abriram caminho para a maior influência de potências extrarregionais na definição dos rumos da região.
4. Para um estudo completo sobre a situação econômica da Venezuela e uma proposta de plano de
recuperação econômica, ver Rodríguez e Guerrero (2020).
5. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou quedas de 3,9% (2014), 6,2% (2015), 17% (2016),
15,7% (2017), 19,6% (2018), 35% (2019) e 30% (2020). Até novembro de 2021, a queda do PIB
venezuelano foi estimada em 5%. Mais informações disponíveis em: <https://www.imf.org/external/
datamapper/NGDP_RPCH@WEO/VEN?zoom=VEN&highlight=VEN>.
6. Estimativas do relatório do Bank of America Merrill Lynch denominado Venezuela in focus: new hope
of another mirage, de 1o de fevereiro de 2019.

6
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

desacelerando. Segundo publicação recente da Comissão Econômica para a América Latina


e o Caribe (Cepal), a Venezuela apresentou uma inflação acumulada de 9.585% em 2019 e
2.960% em 2020. Em 2021, segundo as estatísticas do Banco Central da Venezuela (BCV),
a inflação acumulada venezuelana fechou o ano com 686,4%, marcando clara trajetória des-
cendente. Em relação ao crescimento venezuelano, apesar de não se ter dados definitivos, é
possível identificar um horizonte de recuperação econômica para o ano de 2022. Segundo o
Balance Preliminar de las Economías de América Latina y el Caribe da Cepal (2021), estima-se
que a taxa de crescimento do PIB venezuelano, em 2022, seja 3%.7 A deterioração econômica
convive com o acirramento da situação social e as violações de direitos humanos no país. Se-
gundo relatório de julho de 2019 do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Direitos Humanos (ACNUDH), gradualmente as instituições do Estado foram militarizadas,8
com componente de diferentes origens,9 contribuindo para a situação de prisões arbitrárias, más
condições de detenção, tortura, e uso excessivo de força por autoridades militares e policiais. Em
2018, por exemplo, fontes do governo registraram 5.287 mortes por “resistência à autoridade”
durante operações policiais e outras 1.569 entre janeiro e maio de 2019 (OHCHR, 2019a; 2019b).10
Como resultado, emerge também uma calamitosa situação humanitária, com aumento substanti-
vo dos fluxos migratórios de venezuelanos para países vizinhos – como migrantes pendulares em
busca de insumos básicos, refugiados ou migrantes econômicos. Segundo o Alto Comissariado das
Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações
(OIM), o número de venezuelanos que deixaram o país, até outubro de 2021, superou a ci-
fra de 6 milhões de pessoas, com mais de cerca de 5 milhões distribuídos apenas por países da
América Latina. Os países da região que mais receberam refugiados e migrantes venezuelanos,

7. Disponível em: <https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/47192/80/EE2021_Venezuela_es.pdf>;


e <https://www.cepal.org/sites/default/files/pr/files/tabla_prensa_pib_balancepreliminar-2021-port.pdf>.
8. Entre 1999 e 2013, estima-se que 1.614 militares da ativa ou da reserva ocuparam posições políticas
no governo (Strønen, 2016, p. 21). Cabe notar que diversos militares passaram a ocupar posições-chave
em empresas estatais, como a Petróleos de Venezuela (PDVSA).
9. Após a reforma constitucional de 1999 na Venezuela houve a reestruturação das forças armadas do
país. Atualmente, são compostas por Exército Nacional bolivariano, Marinha Nacional bolivariana, Aviação
Militar bolivariana, pela Guarda Nacional bolivariana e pela Milícia Nacional bolivariana, que possuem,
respectivamente, uma quantidade aproximada de 63 mil, 25,5 mil, 11,5 mil, 23 mil e 220 mil militares
(IISS, 2018, p. 433-434; RESDAL, 2016, p. 211). Aqui não são considerados os números referentes aos
colectivos, que não são grupos armados oficiais parte das forças armadas bolivarianas.
10. Fontes da oposição e organizações não governamentais (ONGs) de direitos humanos estimam que o
número seja maior.

7
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

segundo os dados atualizados até 24 de novembro de 2021, foram: Colômbia (1,84 milhão), Peru
(1,28 milhão), Equador (482 mil), Chile (508 mil) e Brasil (261 mil).11

Tais números desastrosos do ponto de vista econômico, social e humanitário são apenas parte
da complexidade da crise. Como apontado, um dos aspectos mais fundamentais é a convivência de
atores com interesses divergentes no âmbito doméstico e internacional. A luta pelo poder entre o
governo chavista e a oposição no país divide espaço com uma disputa de fundo entre potências no
tabuleiro geopolítico latino-americano e global. Estados Unidos, Rússia e China vêm se utilizando da
Venezuela como plataforma para buscar influência na região e obter ativos políticos que potencial-
mente podem vir a ser negociados de forma acessória em outros conflitos globais. Paralelamente, a
crise no país andino também foi capturada nos debates políticos domésticos dos vizinhos, consoli-
dando-se como combustível para polarização. A fragmentação interna nos países latino-americanos
também se transborda para o ambiente internacional, formando uma espiral de desintegração.
A consequência imediata foi a perda de eficácia de diversos mecanismos de governança regional e
global. O Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Organização dos Estados Americanos (OEA)
e a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) quedaram-se paralisados por divisões e radicaliza-
ções entre seus membros, o que se refletiu na emergência de iniciativas que exigiam menor nível de
consenso – como o Grupo de Lima12 e o Grupo de Montevidéu.13

Considerando a importância do tema para o Brasil e para a América Latina, este texto ana-
lisa a evolução das relações bilaterais entre Brasil e Venezuela durante o período de 1999 a
2021. Verificam-se as relações político-diplomáticas, econômico-comerciais, no campo da segu-
rança e defesa, fronteiriço e migratório durante todo o período, considerando seus antecedentes.
Como objetivos complementares, busca-se compreender quais foram os fatores subjacentes da
decadência das relações bilaterais e como evoluiu a postura brasileira durante os impasses do-
mésticos do país andino. A análise está dividida em três eixos centrais: i) político-diplomático;
ii) econômico-comercial; e iii) segurança e defesa.

11. Para acompanhar a evolução dos dados, ver a base de dados do ACNUR disponível em:
<https://www.r4v.info/es/refugiadosymigrantes>.
12. Arranjo ad hoc constituído em agosto de 2017 por Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa
Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru. O grupo reconhece Juan Guaidó como
presidente legítimo da Venezuela e defende a saída de Nicolás Maduro.
13. Arranjo ad hoc constituído em fevereiro de 2019 por Alemanha, Bolívia, Costa Rica, Equador, Espanha,
França, Holanda, Itália, México, Portugal, Reino Unido, Suécia e Uruguai. Diferentemente do Grupo de
Lima, esse conjunto de países defende o diálogo entre governo e oposição e tem um posicionamento mais
moderado, muito embora diversos países-membros tenham reconhecido a legitimidade da presidência de
Juan Guaidó. Aparentemente, essa iniciativa foi desativada pelo novo governo uruguaio de Lacalle Pau
(março de 2020).

8
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Para tanto, o trabalho está dividido em sete seções, considerada esta apresentação.
Na primeira, debatem-se os condicionantes geopolíticos das relações entre Brasil e Venezuela.
Apresenta-se de que forma a geografia, a distribuição populacional e a infraestrutura nas áreas
próximas às fronteiras entre os dois países influenciaram a evolução de uma agenda bilateral
ao longo dos anos. Na segunda seção, debate-se a evolução das relações bilaterais entre os
dois países, nas últimas décadas. Na terceira seção, analisam-se relações contemporâneas entre
os dois países, sendo apresentados os marcos gerais e a periodização adotada no estudo. Na
quarta, quinta e sexta partes são abordadas, respectivamente, as relações do ponto de vista
político-diplomático, econômico-comercial e de segurança e defesa.

2 CONDICIONANTES GEOPOLÍTICOS DAS RELAÇÕES BILATERAIS

Compartilhar fronteiras quase que exclusivamente secas de mais de 2 mil quilômetros de


extensão em uma área de amplos recursos naturais jamais foi condição suficiente para uma
relação próxima entre Brasil e Venezuela. As áreas compartilhadas pelos dois países nas bacias
dos rios Orinoco e Amazonas (mapa 1) reúnem biodiversidade, minérios, bacias hidrográficas,
potencial energético, solo agricultável de forma sustentável e vários outros recursos de grande
importância para ambos os países. O eixo Amazonas-Orinoco é estratégico, pois contempla a
maior faixa petrolífera das Américas, baixa ocupação populacional e enorme potencial produtivo
e de desenvolvimento local, tanto para o sul da Venezuela como para o norte do Brasil (Barros,
Padula e Severo, 2011, p. 34). Ainda assim, esse é um potencial pouco explorado por ambos os
países, dado o processo de ocupação econômica tardio e as limitações de integração física nas
áreas energética, rodoviária, ferroviária e hidroviária.14

14. Um importante exemplo do baixo investimento no potencial de infraestrutura da região é a chamada


ilha das Guianas. Território composto por Guiana, Suriname, Brasil (estados do Amapá, Roraima e a calha
norte do Amazonas de todo o estado do Pará e do Amazonas até o rio Negro), Venezuela (estados de
Delta Amacuro, Bolívar e Amazonas) e França (território ultramarino da Guiana Francesa), representa a
maior ilha marítimo-fluvial do mundo e cuja infraestrutura integrada ainda é muito deficitária. A região
possui um amplo potencial hidrelétrico ainda inexplorado (Barros, 2015).

9
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TEXTO para DISCUSSÃO

MAPA 1
Bacias hidrográficas: amazônica e do Orinoco

Fonte: Banco de Informações e Mapas de Transportes (BIT) da Secretaria Executiva do Ministério


dos Transportes.
Obs.: Figura cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições
técnicas dos originais (nota do Editorial).

A despeito dessa importância geoestratégica e de benefícios político-estratégicos e


econômico-comerciais de uma aproximação, as relações entre os dois países foram distantes
até 1970 e apenas adotaram agendas estruturadas a partir dos anos 1990 (Briceño-Ruiz, 2016,
p. 160; Galvão, 2010; Zurita, 1999; Moreira, 2018, p. 153). Sem que se incorra em qualquer tipo
de determinismo, é possível dizer que há razões geográficas para o distanciamento entre Brasil
e Venezuela. Entre elas, destacam-se os padrões de ocupação, a baixa densidade populacional
nas regiões fronteiriças, a distância dos polos industriais e produtivos, e a vegetação e geografia
da região amazônica, que dificultam a construção de infraestrutura local ou compartilhada.15

Um elemento importante para a compreensão desse distanciamento é uma suposta baixa


complementaridade econômica entre os dois países e o desenvolvimento regional venezuelano

15. Sobre as relações entre o norte do Brasil e o sul da Venezuela e possibilidades de planejamento
conjunto das bacias da Amazônia e do Orinoco, ver Barros (2013).

10
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

concentrado na atividade petroleira, na costa caribenha e, com menos intensidade, nos Andes
fronteiriços com a Colômbia. Enquanto no Brasil, o desenvolvimento regional concentra-se no
centro-sul. Tais dinâmicas refletem-se, por exemplo, nos padrões históricos de ocupação popu-
lacional ainda presentes na contemporaneidade (figura 1), ainda que haja uma tendência de
desconcentração espacial do desenvolvimento do Brasil, sobretudo nos últimos anos, em função
do aumento da produção e do dinamismo econômico da fronteira oeste brasileira.

FIGURA 1
Densidade populacional América do Sul

Fonte: Geopolitical Futures, 2017. Disponível em: <https://geopoliticalfutures.com/south-americas-population-


clinging-coasts/>.
Obs.: Figura cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições
técnicas dos originais (nota do Editorial).

11
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Ambos os países construíram suas concentrações urbanas primordialmente partindo de áreas cos-
teiras, o que resultou em focos diferentes: o Brasil voltou-se para o oceano Atlântico e a bacia do Rio
da Prata, enquanto a Venezuela direcionou-se para o mar do Caribe e a região andina. Desse modo, os
estados venezuelanos mais populosos são voltados para a bacia do Caribe (Miranda, Zulia, Carabobo,
Aragua e Anzoátegui) ou situam-se nos Andes (Táchira e, em menor escala, Trujillo e Mérida). Já a por-
ção sul do país possui dificuldades de ocupação justamente pela presença da densa floresta amazônica
(Moreira, 2018, p. 154). Tal fenômeno é similar no Brasil, com ampla concentração populacional no Sul,
Sudeste e Nordeste e baixa ocupação na região central e Norte, especialmente no estado do Amazonas.

Outro fator importante são as dificuldades de interações fronteiriças16 (figura 2), que tiveram
um impacto importante na construção dos interesses das agendas bilaterais. Mesmo no auge
das relações políticas e comerciais, entre 2004 e 2013, no que se refere ao transporte aéreo, não
existem nem existiram de maneira regular voos diretos do Brasil para a Venezuela partindo de
Manaus; as passagens custam, pelo menos, o dobro da conexão direta a partir de São Paulo, com
um trajeto que varia entre sete a doze horas (Barros, Padula e Severo, 2011, p. 37). Na região
amazônica (equivalente aos estados brasileiros e venezuelano do Amazonas), o transporte é ba-
seado na navegação fluvial em uma área de baixíssima densidade populacional e difícil acesso.
É possível observar diversos desafios de navegação entre os dois países.17

O rio Orinoco apresenta limitações para o transporte de cargas geradas em


algumas épocas do ano entre Ciudad Guayana e o Norte do Brasil. O rio
Casiquiare tem uma navegação difícil e limitada por ter muitas pedras e
corredeiras, além de seu percurso sinuoso com curvas bastante fechadas (...).
Nas águas mais baixas, a navegação melhora bastante em função do maior
volume de água. Nas águas acima de Tupuruquara ou Santa Isabel até as
grandes cachoeiras de São Gabriel, o rio Negro tem muitas pedras, cachoeiras
e violentas corredeiras, com um desnível de 14,5 m em um trecho de quase
49 km, o que representa quase 0,3 m/km (...). Para evitá-las, de Camanaus se
pode ir a São Gabriel por uma estrada de cerca de 230 km. Para que este trecho
fosse navegável, seriam necessárias uma hidroelétrica perto de São Gabriel
e outra perto de Santa Isabel. Já na sua parte baixa, o declive do rio Negro,
desde sua desembocadura até a barra do rio Curicuari, por cerca de 995 km,
é muito baixo (3 cm/km). O rio Branco, principal afluente do rio Negro que
chega até Boa Vista, é navegável sobre uns 600 km desde Caracaraí até sua
desembocadura, necessitando de intervenções para melhor conexão hidroviária
ao extremo norte do Brasil (Barros, Padula e Severo, 2011, p. 36-37).

16. Para mais informações sobre as dificuldades na fronteira norte brasileira, ver Pêgo et al. (2018).
17. Para mais informações sobre a navegação no rio Casiquiare e as propostas para criação de um canal
fluvial na região, ver Barros e Córdova (2014).

12
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Na fronteira ocidental, o distrito brasileiro de Cucuí parte do município de São Gabriel da Ca-
choeira,18 e na tríplice fronteira com Colômbia e Venezuela localiza-se a 250 km da sede municipal
e a 850 km de Manaus. Com uma população de aproximadamente 2,5 mil habitantes, o acesso ao
distrito é difícil até mesmo partindo da sede municipal de São Gabriel da Cachoeira. A BR-307, única
rodovia que corta o distrito, não é asfaltada e constantemente torna-se intransponível por fortes chu-
vas e deslizamento de terras. O acesso também pode ser feito por via fluvial, pelo Rio Negro, ou aérea,
pelo pequeno aeroporto do distrito. Do lado venezuelano, a cidade mais próxima é a de San Carlos
de Río Negro (aproximadamente 3 mil habitantes) também com uma infraestrutura logística bastante
limitada. Localizada a 420 km da capital do estado venezuelano do Amazonas, Puerto Ayacucho (apro-
ximadamente 120 mil habitantes). As demais áreas de fronteira não têm concentrações urbanas e são
envoltas por densa floresta amazônica, parques nacionais, áreas de preservação e terras indígenas.

FIGURA 2
Fronteira Brasil-Venezuela

Fonte: Google Maps.


Obs.: Figura cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições
técnicas dos originais (nota do Editorial).

18. Município do estado do Amazonas com aproximadamente 45.560 habitantes e uma área de
109.184,896 km. Possui uma densidade populacional de 0,4 habitante/km2.

13
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

A fronteira oriental, divisa entre os estados de Roraima e Bolívar, é a área fronteiriça entre
os dois países de maior densidade urbana, muito embora seja ainda uma área pouco populosa
em comparação com o restante dos dois países. A interação entre os municípios de Pacaraima
(aproximadamente 14 mil habitantes), em Roraima, e Santa Elena de Uairén (aproximadamente
30 mil habitantes), centro do município de Gran Sabana, é bem mais intensa do que a obser-
vada na fronteira ocidental. Pacaraima, por exemplo, encontra-se mais próxima de Santa Elena
de Uairén (17 km) do que da capital roraimense, Boa Vista (213 km). Os dois municípios foram
interligados pela construção das rodovias BR-174 e Troncal 10. A BR-174 liga Manaus, Boa Vista
e Venezuela passando pelos estados de Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Roraima e teve
sua construção iniciada na década de 1970 (finalizada apenas em 1998), com uma extensão
de 1.902 km.19 Já a Troncal 10 interliga Santa Elena de Uiarén e Ciudad Guyana, no estado de
Bolívar, com entroncamento para a Troncal 15 que segue até a capital Caracas.

Outro fator importante desse eixo foi a interligação energética entre os dois países inicia-
da nos anos 1990. Após uma longa negociação (desde 1993) entre os partícipes, foi assinado
um acordo bilateral entre a Eletronorte e a Electricidad del Caribe (Edelca)20 para fornecimento
de energia elétrica venezuelana a fim de abastecer o estado de Roraima em 1997 (Aguiar,
2011, p. 60-61; Cervo, 2003, p. 174-175). O acordo resultou na linha de transmissão Guri-Boa
Vista com 676 km de extensão, dos quais 191 km no Brasil. Cabe destacar que a linha de trans-
missão possibilita o abastecimento de Roraima, desconectado do SIN (figura 3), e inexistem
gasodutos, oleodutos ou outras interconexões energéticas entre os dois países (Barros, Padula
e Severo, 2011, p. 37).

19. Do total previsto inicialmente de 3.319,90 km de extensão.


20. Empresa venezuelana responsável pela geração de energia elétrica.

14
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

FIGURA 3
SIN do Brasil

Fonte: Théry e Mello-Théry (2016).


Obs.: Figura reproduzida em baixa resolução e cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e
revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial).

Esse fator da interligação energética representa, portanto, apenas um pequeno resultado


de um amplo potencial inexplorado da região. O principal exemplo é o caso da consolidação da
infraestrutura na área da ilha das Guianas, que envolve Venezuela, Brasil, Guiana, Suriname e a
Guiana Francesa (território ultramarino da França), como mostra a figura 4. Uma região com apro-
ximadamente 1,7 milhão de quilômetros quadrados e quase 7 milhões de habitantes, que inclui
importantes cidades industriais como Manaus (na margem externa), Ciudad Guayana (Puerto Ordaz

15
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

e San Félix) e Linden, capitais nacionais como Georgetown e Paramaribo, e polos regionais como
Boa Vista, Macapá, Caiena, Puerto Ayacucho e São Gabriel da Cachoeira.

FIGURA 4
Ilha das Guianas

Fonte: Barros e Córdova (2014, p. 11).


Obs.: Figura cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições
técnicas dos originais (nota do Editorial).

Na área, há um importante potencial hidrelétrico, com incidência de chuvas em épocas comple-


mentares às da Calha Sul do rio Amazonas, que garantiria à região Norte do Brasil abastecimento
energético substantivo. Desse modo, o compartilhamento de energia elétrica, além de beneficiar o
abastecimento brasileiro, poderia garantir o financiamento da pavimentação de uma estrada ligando
o Brasil às Guianas e um porto de águas profundas, ainda inexistente. O conjunto dessas iniciativas
concretizaria o chamado “anel de infraestrutura do Arco Norte”, que envolveria interligação dos siste-
mas rodoviário e hidrelétrico de Brasil, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (Barros, 2017).

Por fim, outro condicionante importante das relações bilaterais entre Brasil e
Venezuela esteve presente no pensamento brasileiro sobre América do Sul. Diversos estudiosos
brasileiros das áreas de geopolítica e estratégia nacional contribuíram para a forma como as eli-
tes nacionais entendiam as relações com os países sul-americanos e amazônicos. As ideias sobre
os vizinhos estiveram influenciadas por elites nacionais, acadêmicos, militares e diplomatas e

16
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

podem ser divididas entre algumas linhas de pensamento – como americanistas e antiamericanistas,
nacionalistas, nacional-desenvolvimentistas, e pensamento militar e geopolítico (Cervo, 2008;
Garcia, 1997; Messias da Costa, 2017; Miyamoto, 1995; Vigevani e Ramanzini Junior, 2012). Tais
ideias também estiveram ligadas aos problemas do seu tempo, como a rivalidade com a Argentina, a
necessidade de desenvolver o país, a Guerra Fria e a preocupação com a Amazônia em fins dos anos
1970 e começo dos 1980 (Miyamoto, 1995). A despeito da ampla literatura sobre o papel do Brasil
na América do Sul e as estratégias de desenvolvimento nacional, poucos desses autores abordam de
modo profundo as relações com a América Latina – em especial, com a Venezuela. No geral, tanto o
país amazônico como o restante da região são tratados como instrumentais para o desenvolvimento
e projeção estratégica do Brasil (Vigevani e Ramanzini Junior, 2012, p. 148).

No campo dos autores clássicos da geopolítica, Mario Travassos, Carlos de Meira Mattos
e Golbery de Couto e Silva, há referências indiretas ao país. No caso de Travassos, em sua obra
A Projeção Continental do Brasil, publicada em 1935, a preocupação estava em balancear a in-
fluência da Argentina na região platina. Travassos interpretou o Brasil como composto por uma
vertente Amazônica e uma Platina – ambas com suficientes saídas para os oceanos. O problema,
em sua interpretação estaria em conectar e harmonizar esses dois “Brasis”. Esse desequilíbrio
aliado ao crescimento da influência argentina na região platina sustenta a ideia do autor de que
o país deveria construir uma política de aproximações com Peru, Bolívia e Equador (Travassos,
1935, p. 193-195). A região amazônica, que envolve Venezuela, Colômbia e parte do Equador,
apareceria mais como um potencial de instabilidade geográfica futura – dado interesse e penetra-
ção e influência norte-americana no petróleo da região, a recente abertura do canal do Panamá,
e a construção de um possível canal da Nicarágua – do que um problema contemporâneo para o
país (Neves, 2018, p. 90-95; Oliveira, 2018, p. 116-117; Travassos, 1935, p. 46-50).

Diferentemente de Travassos, Golbery tinha uma visão ainda mais instrumental da América
do Sul, entendendo-a como um campo de projeção global brasileiro. Para o autor, havia um vácuo
de poder e civilização na região amazônica que precisava ser foco de políticas públicas e integra-
ção ao restante do país (Barros, 2021, p. 87-89). Ainda assim, a prioridade de Couto e Silva era
a integração nacional, fronteiras ideológicas e guerras subversivas do que com cooperação com
os países sul-americanos (Da-Silva e Dal-Moro, 2017, p. 128-130; Vigevani e Ramanzini Junior,
2012, p. 144). Para o autor, um dos caminhos seria desenvolver uma aliança estratégica com os
Estados Unidos para, de um lado, evitar a penetração soviética em regiões como o Chaco e o
Centro-Oeste brasileiro e, de outro, possibilitar a ascensão do Brasil como potência continental
(Couto e Silva, 1981, 2003; Da-Silva e Dal-Moro, 2017).

Por fim, Carlos de Meira Mattos apresentou um maior interesse na cooperação amazônica
e, por consequência, nas relações com a Venezuela. Para o autor, a região pode ser entendida
como a Pan-Amazônia dado que a floresta, os rios e o relevo não pertencem apenas a um único
país e, portanto, o Brasil deveria trabalhar junto com seus vizinhos – como Colômbia, Equador,

17
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Venezuela e Peru – para desenvolver a região e reverter os problemas locais (Barros, 2021, p. 93;
Da-Silva e Dal-Moro, 2017, p. 140). Segundo o autor,

as palavras Amazônia e pan-amazônia deveriam simbolizar a mesma imagem


geográfica. Na realidade isso não acontece. Esta imensa região natural, portadora de
ecologia uniforme, abrangendo o território de seis países tributários, é enfocada por
seus condôminos sob uma visão particularizada. Assim é quando o brasileiro ou o
venezuelano, colombiano, peruano, equatoriano ou boliviano refere-se à Amazônia
está falando na sua Amazônia nacional. Visando a clareza das ideias, conceitos,
formulações e perspectivas deste estudo, utilizamos o vocábulo Pan-Amazônia toda
vez que nos referirmos ao conjunto desta região abrangente (Mattos, 1980, p. 146).

A figura 5 ilustra as ideias de integração de comunicações e infraestrutura da região, que fo-


ram consideradas pelo autor como “áreas interiores de intercâmbio fronteiriço”. Além da “frente
Atlântica” e da “frente do Planalto”, a área que mais diretamente refere-se às relações com a
Venezuela encontra-se na frente que envolve Colômbia, Guiana e Suriname.

FIGURA 5
Pan-Amazônia: áreas interiores de intercâmbio fronteiriço e sistema rodoviário
planejado para a vertebração da Pan-Amazônia

Fonte: Mattos (1980, p. 154; 2002, p. 89).


Obs.: Figura reproduzida em baixa resolução e cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e
revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial).

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2761
TEXTO para DISCUSSÃO

A partir de Meira Mattos, nas décadas de 1970 e 1980, nota-se uma disposição maior no
pensamento nacional a fortalecer as relações com os países amazônicos, entre eles a Venezuela.
Tal tendência fortalece-se a partir da democratização com os estudos de Bertha Becker e Darc
Costa, que, por exemplo, ilustram essa tendência. Darc Costa, em sua obra, aponta que a América
do Sul deve deter um papel fundamental na inserção geopolítica do Brasil. Para o autor, a região
possuiria espaços estratégicos centrais que precisariam ser integrados, a saber: i) litoral Atlântico;
ii) planalto brasileiro; iii) bacia do Prata; iv) cordilheira Andina; v) litoral do Pacífico; vi) planície
Amazônica; e vii) Orenoco/Caribe (Costa, 2003; 2009). Tais eixos apresentam uma estratégia
sul-americana como central para o projeto de inserção internacional do Brasil, como mostra
a figura 6. Por fim, Becker reforça essa nova tendência pós-democratização apresentando um
importante estudo que busca equilibrar uma análise de desafios geopolíticos contemporâneos,
demandas de desenvolvimento regional, integração com os vizinhos amazônicos e a preservação
das florestas (Alves, 2013; Becker, 2005; Candotti e Melo, 2019; Confins, 2013).

FIGURA 6
Conexões estratégicas sul-americanas de acordo com Darc Costa
6A – Principais cidades

19
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TEXTO para DISCUSSÃO

6B – Principais bacias hidrográficas e faixas litorâneas

Fonte: Costa (2009).


Obs.: Figura reproduzida em baixa resolução e cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e
revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial).

Desse modo, nota-se que, no âmbito do pensamento geopolítico nacional, a região do arco
fronteiriço norte da fronteira com a Venezuela e Colômbia gradualmente tornou-se uma preocu-
pação importante dos estudiosos. Tais apontamentos apresentam, portanto, que há fundamentos
relevantes para as relações bilaterais com a Venezuela que perpassam décadas de pensamento
nacional sobre o papel do Brasil na América do Sul e que, desde a redemocratização, passou a
reforçar a importância de uma integração de infraestrutura com os países da região amazônica.

3 HISTÓRICO DAS RELAÇÕES BILATERAIS (1958-1998)

As dificuldades de integração física entre Brasil e Venezuela também se refletiram em desa-


fios para as relações bilaterais ao longo do século XX. Do lado venezuelano, o país detinha uma
clara vocação geopolítica para o Caribe e uma política regional pouco engajada para a América
do Sul até meados dos anos 1970. Um dos principais condicionantes de sua política externa foi
a abundância de petróleo (Cervo, 2003; Severo, 2009; Colgan, 2013; Moreira, 2018). A vocação
caribenha e as grandes reservas petrolíferas possibilitaram um relacionamento econômico mais

20
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

próximo dos Estados Unidos, muito embora as relações político-diplomáticas variassem em nível
de aproximação e convergência. Ainda assim, a Venezuela convive com outras identidades polí-
ticas como um país também amazônico e sul-americano, elementos que afetam diretamente as
estratégias de política externa e de cooperação com os vizinhos, especialmente Brasil, Colômbia
e os países caribenhos (Saraiva e Briceño-Ruiz, 2009, p. 157).

Esses fatores também contribuíram com um engajamento oscilante – balizado pelas ca-
pacidades materiais venezuelanas – com a América Latina. Essa política variou entre interesses
hegemônicos na América do Sul e Caribe, objetivos de contrabalancear Argentina e Brasil, e
esforços para obter ganhos para seu desenvolvimento via substituição de importações. Após o
estabelecimento do Pacto de Punto Fijo, que garantiu a estabilidade democrática da Venezuela
entre 1960 e 1980, podemos identificar três fases das relações entre Brasil-Venezuela: i) entre
1958 e 1970, período caracterizado pelo distanciamento e a rigidez do postulado da Doutrina
Betancourt na Venezuela e distanciamento do Brasil; ii) entre 1970 e 1980, caracterizado por um
processo de aproximação cautelosa e convergência gradual de agendas; e iii) a década de 1990,
caracterizada pela construção das bases de uma agenda estruturada de cooperação regional.

3.1 O Pacto de Punto Fijo, distanciamento e excepcionalismo


venezuelano (1958-1970)

No caso específico de relações com o Brasil, a posição venezuelana inseria-se em um qua-


dro mais amplo de dificuldades de relacionamento e distanciamento de seus vizinhos, dessa vez
menos por questões geográficas e mais por posições político-ideológicas oriundas do processo in-
terno de democratização em 1958. Tal postura derivou de uma identidade internacional baseada
na noção de excepcionalidade. Essa visão partia da Doutrina Betancourt, uma leitura de mundo
consolidada pela política exterior do presidente Rómulo Betancourt (1959-1964) de apenas reco-
nhecer governos cujas eleições haviam sido realizadas em consonância com as constituições dos
países (Betancourt, 1979; Cervo, 2003, p. 157; Vizentini, 2003, p. 59).

No período, a Venezuela considerava-se um país que detinha uma “superioridade econômica


advinda do petróleo”, “uma superioridade política advinda da tradição democrática” e atuava
como defensora da democracia no continente, de forma até mais engajada do que os Estados
Unidos (Cervo, 2003, p. 157). No plano econômico, houve uma relação de proximidade com os
Estados Unidos, pelo fornecimento de petróleo, postura não necessariamente refletida em conver-
gência política em todos os momentos (Moreira, 2018, p. 20-21). Essa identidade emergiu como
resultado do Pacto de Punto Fijo, em 1958, definido como um acordo entre elites econômicas e
políticas para democratizar e sustentar a democracia venezuelana durante o século XX a partir da

21
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

alternância de poder entre dois principais partidos (Myers, 2004, p. 11-13). O resultado prático
foi a variação entre os partidos políticos Ação Democrática (AD), de postura social-democrata, e
o Comitê de Organização Política-Eleitoral Independente (Copei), de postura democrata-cristã.

A política externa, composta por um corpo diplomático permeável aos interesses partidários,
tornou-se parte do sistema puntofijista, sustentando-se em uma aliança entre grupos sociais
heterogêneos que atuavam para controlar as instituições de modo oligárquico e fornecer apenas
ganhos pontuais à população (Saraiva e Briceño-Ruiz, 2009, p. 150). Houve dois principais grupos
que influenciaram as decisões sobre política externa no país ao longo dos anos, mas que, embora
divergentes, atuavam nesse sistema de conciliação política.

Por um lado, estavam os ortodoxos, um grupo muito influente, próximo da


poderosa Fedecámaras, instituição guarda-chuva do setor privado venezuelano.
Este grupo sempre havia sido cético com as propostas de integração
latino-americana. Considerava que, devido às características peculiares da
economia do país, a integração com os países vizinhos não era a melhor opção e,
em vez disso, dever-se-ia optar pela consolidação das relações com os parceiros
extrarregionais tradicionais. Esse grupo era especialmente oposto à integração
com países vizinhos de maior desenvolvimento industrial que pudessem pôr
em risco o incipiente processo de industrialização que se estava promovendo
no país. Frente a esse setor, encontravam-se os heterodoxos, mais próximos às
ideias da Cepal, que consideravam a integração regional como um mecanismo
para promover a transformação produtiva na região. Esse grupo propunha um
tipo de integração com elementos de intervenção pública, que tomasse em conta
as assimetrias existentes entre os países da região devido aos diversos níveis de
desenvolvimento relativo de cada um (Saraiva e Briceño-Ruiz, 2009, p. 157-158).

Em suma, a Venezuela via-se, portanto, como uma democracia em meio a governos frágeis
e autoritários. O Pacto de Punto Fijo e sua Doutrina Betancourt contribuiriam para a autoimagem
venezuelana, de um país andino, caribenho e amazônico com uma política democrática, petrolei-
ra, caribenha, terceiro-mundista e ocidental (Saraiva e Briceño-Ruiz, 2009, p. 157; Serbin, 2011,
p. 13-14) – mas com relativo distanciamento de seus vizinhos. O isolamento político regional até
meados dos anos 1970 afetou a relação com os vizinhos, entre os quais o Brasil. Um exemplo
importante foi a suspensão das relações diplomáticas com o país após o golpe militar de 1964.
No período, além do rompimento, a Venezuela instou a OEA a adotar sanções contra o Brasil e
outros regimes militares instaurados na região (Cervo, 2003, p. 158-159).

22
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

3.2 Cooperação oscilante e gradual convergência de agendas: as


décadas de 1970 e 1980

Essa postura mais radical foi moderada a partir dos anos 1970. Com a alta do petróleo em
meados da década, a Venezuela logrou ampliar sua atuação regional em busca de uma posição de
liderança e catapultar seu projeto de desenvolvimento industrial (Vizentini, 2003, p. 60). A partir da
primeira gestão de Rafael Caldera (1969-1974), com a consolidação do processo democrático e
redução de uma ameaça de agressão externa, o país diminuiu seu isolacionismo, engajou-se regio-
nalmente e flexibilizou a Doutrina Betancourt em favor da tese de pluralismo ideológico – a partir
da qual seria possível convergir econômica e politicamente com regimes diversos na região (Romero,
2003, p. 325-326). A política externa venezuelana do período foi marcada pelo ativismo regional.

No campo bilateral, o país aproximou-se de países do Caribe; assinou um modus vivendi


com Cuba; firmou o Protocolo de Puerto España para congelar doze anos de controvérsia com a
Guiana; promoveu negociações com a Colômbia, bem como o diferendo territorial de áreas marinhas
e submarinas no golfo da Venezuela; e restabeleceu relações diplomáticas com governos autoritá-
rios, como o Brasil, em 1967 (Moreira, 2018, p. 168; Romero, 2003, p. 325). No âmbito multilateral,
há três importantes exemplos do período, que foram: i) a adesão à Associação Latino-Americana de
Livre Comércio (ALALC), em 1970; ii) a adesão ao Acordo de Cartagena, que dava origem ao Pacto
Andino (composto por Equador, Peru, Bolívia, Venezuela e Colômbia), em 1973; e iii) a assinatura do
Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), em 1978. Os esforços buscavam ampliar sua influência
entre os países do Caribe e liderar a América do Sul, postura que alguns críticos apontariam como
além das capacidades político-econômicas do país (Cervo, 2003, p. 159-160).

Cabe destacar, todavia, que nenhuma dessas iniciativas ocorreu sem atritos e dissonâncias,
dado que o interesse venezuelano de liderar encontrava-se em rota de colisão com as aspirações
regionais de Brasil e Argentina. No que concerne à ALALC, por exemplo, a Venezuela entrou em
contenciosos com os dois países por temores de que a adesão a vinculações tarifárias compro-
metesse seu projeto de industrialização em andamento (Cervo, 2003, p. 158-159; Galvão, 2011,
p. 259-262; Moreira, 2018, p. 159).21 Ao entrar na organização, o governo venezuelano acusou
os governos brasileiro e argentino de não levar em consideração as demandas dos países de
menor desenvolvimento. Como resultado, instaurou-se um contencioso com o Brasil até fins dos
anos 1970 (Galvão, 2011, p. 262-266).

21. O contencioso sobre a adesão da Venezuela à ALALC ocorreu de 1963 até 1967, quando o país foi
incorporado ao bloco.

23
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Já no que se refere ao TCA, o processo negociador refletia as dificuldades de relacionamento en-


tre Brasil e Venezuela. O acordo era percebido como uma iniciativa brasileira de cunho geopolítico para
contrabalancear a influência na região do Pacto Andino, organização vista pela Venezuela como
capaz de balancear a influência brasileira (Carrasco, 1978; Moreira, 2018, p. 165-167). Havia uma
ampla desconfiança com relação às intenções brasileiras, muito embora tais percepções não tenham
impedido a Venezuela de assinar o acordo. Em suma, pode-se dizer que,

não por acaso, a Venezuela se tornou o principal foco de resistência ao


Tratado de Cooperação Amazônica. Em momento de expansão da diplomacia
venezuelana na América do Sul, a iniciativa brasileira no norte da América do
Sul só poderia reanimar as desconfianças no vizinho. A “incursão” brasileira
no entorno amazônico ameaçava, do ponto de vista de Caracas, os interesses
da Venezuela em suas duas áreas de atuação prioritária: a bacia do Caribe e,
de importância relativa menor, a região andina. Naquele momento, as relações
bilaterais eram cordiais, mas o temor da dependência gerava dificuldades em
avançar em uma agenda comum de iniciativas. Os projetos propostos por ambos
os países eram esporádicos e não respondiam a uma estratégia coerente de
aproximação (Moreira, 2018, p. 167).

No concernente às relações bilaterais com o Brasil, a disputa por hegemonia regional também
compartilhava espaço com demandas de desenvolvimento local. Daí a característica oscilante da
relação entre os dois países. Sob os auspícios do regime militar, o Brasil visava a ampliar seu engaja-
mento com a Venezuela, também para ampliar suas importações de petróleo venezuelano, adensar
a integração da região amazônica ao restante do país e obter espaço para exportações de manufa-
turados (Cervo, 2003, p. 160). Essa dinâmica pendular fez-se presente no primeiro encontro bilateral
entre presidentes em 1973. A reunião entre Emílio Garrastazu Médici e seu homólogo venezuelano,
Rafael Caldera, teve como pano de fundo o interesse em integrar o território de Roraima ao restante
do país, sem, contudo, ceder a pressões de qualquer projeto de integração internacional. A preocu-
pação do governo brasileiro era finalizar a construção do trecho Caracaraí-Manaus da BR-174 antes
de aderir a propostas de cooperação energética, pois se temia perder os territórios desintegrados da
região Norte (Galvão, 2011, p. 320). Desse modo, o único resultado concreto do encontro foi o início
da construção das estradas (BR-174 e Troncal 10) que ligariam El Dorado, Santa Elena do Uairén,
Marco BV-822 e Boa Vista (Moreira, 2018, p. 160-161).

22. Ponto que representa a divisa fronteiriça entre Brasil e Venezuela.

24
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Ainda do lado brasileiro, a organização e a assinatura do TCA em 1978 também tinham obje-
tivos geopolíticos e econômicos para o país, que afetaram diretamente as relações bilaterais com a
Venezuela. Uma interpretação possível para a assinatura do TCA era a de que os signatários busca-
vam integrar ações dos governos em áreas como estudos hidrológicos e climatológicos, cooperação
técnica na área de saúde, transportes, comunicações e preservação do meio ambiente, mas também
tinham expectativas de longo prazo de que as iniciativas gerassem infraestrutura física e melho-
rias de vida da população local (Cervo, 2003, p. 161).

Uma interpretação adicional sobre o tratado entende-o como parte do esforço do período de in-
tegrar a região Amazônica ao restante do país. Havia uma preocupação geopolítica brasileira de coibir
a cobiça externa sobre a Amazônia, dado o crescimento de discursos sobre a proteção do meio
ambiente e “internacionalização da área”. Tal postura faz-se presente no texto do tratado, que
ressalta a necessidade de equilíbrio entre proteção do meio ambiente e desenvolvimento regional
e, principalmente, reforça a exclusiva soberania da região para os países amazônicos (Miyamoto,
2009, p. 83-84; 2013, p. 13). Em suma, o intuito brasileiro com o TCA era ampliar a integração do
norte ao restante do país, oferecer um guarda-chuva multilateral para a diplomacia amazônica sob
sua coordenação, dirimir as possibilidades de intervencionismo externo sobre a região e ampliar as
exportações para os demais países amazônicos, afetando assim as relações com a Venezuela.

A postura venezuelana de pouca disposição para negociar com o Brasil um acordo na região
amazônica foi mantida até a ascensão de Carlos Andrés Pérez (1974-1979) à presidência. No
período, a atuação bilateral de Pérez e seu homólogo brasileiro Ernesto Geisel (1974-1979) foi
fundamental para a consolidação do TCA. O acordo seria selado na III Reunião Preparatória de
Representantes Plenipotenciários, na capital venezuelana, em 1974 (Carrasco, 1978). Um traço
importante da relação no período foi a mudança de política externa dos dois países com relação
ao tema – o Brasil sob a ótica do “pragmatismo responsável” do chanceler Azeredo da Silveira,
e a Venezuela de Pérez com uma nova postura com relação ao governo brasileiro na região que,
mesmo com regimes diferentes (Venezuela democrática e o Brasil sob o regime militar), se apre-
sentava disposta a avançar substantivamente na cooperação bilateral.

Na década de 1980, a relação entre os dois países continuou em trajetória positiva, mas foi
foco de esfriamento devido às limitações do contexto. O período foi marcado por uma retração geral
da política externa venezuelana e dificuldades para a política externa brasileira. Globalmente, alguns
fatores como a desregulamentação do sistema financeiro internacional, os choques do petróleo,
as altas taxas de juros nos Estados Unidos e o protecionismo e os subsídios aos produtores inter-
nos por parte de países desenvolvidos desestabilizaram as economias emergentes e contribuíram
para as crises da dívida no período (Prado e Miyamoto, 2010, p. 67; Romero, 2003, p. 326). No

25
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

âmbito interno, o Brasil passou por uma transição de poder conturbada para a democracia, com
disputas por reformas entre vários grupos, bem como o recorrente fracasso dos diversos planos
de estabilização econômica e ampla pressão em virtude da crise da dívida externa, resultando,
inclusive, na declaração de moratória brasileira em 1987 (Cepaluni e Vigevani, 2009; Prado e
Miyamoto, 2010, p. 71).

O interesse brasileiro em contribuir com a cooperação, estabilidade e ausência de interven-


ção estrangeira na América Latina manifestou-se também em uma das mais inovadoras iniciativas
de mediação da política externa brasileira: a missão Venturini. Na época, o governo de Desiré
Delano Bouterse23 (1980-1987) realizou um massacre contra a oposição que, no período, aproxi-
mava-se do bloco socialista. Como resposta, os governos dos Países Baixos e dos Estados Unidos
optaram pelo isolamento regional. Tal postura era vista como perigosa pela diplomacia brasileira,
pois, na avaliação do chanceler brasileiro Saraiva Guerreiro, “pressões mal calculadas por parte
de Haia e Washington podem deixá-lo [Bouterse] sem opções senão a de aproximar-se de Fi-
del Castro” (Avila, 2011, p. 14-15). A opção do Brasil foi enviar, em 1983, o general Danilo
Venturini, então secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional (CSN), para aproximar-se do
Suriname, reconhecer a liderança brasileira e retirar o Arco Norte e as fronteiras do país da ór-
bita de grandes potências extrarregionais. Em troca do afastamento do país do bloco soviético,
o Brasil ofereceu: i) crédito para a compra de equipamento militares brasileiros; ii) aumento de
importações de arroz e alumina do país; iii) apoio técnico em pesquisa mineral, infraestrutura,
energia e comércio; e iv) bolsas de estudo (Avila, 2011, p. 15-17).

Similarmente ao Brasil, a Venezuela também mantinha um interesse em fortalecer a coopera-


ção regional. No período, o país propôs a primeira transnacional de petróleo entre o Terceiro Mundo,
a Petrolatina, e assinou um protocolo para iniciar as negociações com México e Brasil em 1981
(Cervo, 2003, p. 162). A Venezuela também se engajou com México, Colômbia e Panamá, criando
o Grupo de Contadora, em resposta à invasão dos Estados Unidos, em 1983, de Granada, e para
evitar conflitos regionais e intervenções externas. O contexto, todavia, foi bastante limitante. Fatores
como a crise da dívida externa entre os países latino-americanos, a queda dos preços do petróleo
(à exceção de 1981 e 1982), a desvalorização da moeda venezuelana e a emergência de tensões
políticas internas afetaram grandemente os projetos em andamento e o escopo dos esforços
venezuelanos (Moreira, 2018, p. 170; Romero, 2003, p. 312).

A Venezuela manteve seu interesse de melhorar as relações com o Brasil, muito embora
suas capacidades materiais não condissessem com o nível das ambições políticas. Os projetos de

23. O líder militar não esteve diretamente na presidência do país, mas as lideranças passavam pela
aceitação de seu regime. Bouterse tornou-se oficialmente presidente do Suriname em 2010.

26
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

cooperação mais substantivos encontraram dificuldades de se consolidar. De um lado, o projeto


da Petrolatina, por exemplo, não encontrou recursos econômicos para se consolidar. De outro,
a ação brasileira de criar um projeto de segurança e ocupação da região amazônica, o Projeto
Calha Norte, em 1985, foi percebido como uma resposta unilateral para o problema da Amazônia
e uma barreira para a consolidação do TCA (Cervo, 2003, p. 162-163; Prado e Miyamoto, 2010,
p. 77; Vizentini, 2003, p. 61-63).

A despeito de poucos resultados na cooperação, cabe destacar que houve, nesse período,
uma crescente convergência entre as agendas e os interesses das políticas externas de Venezuela
e Brasil. Destacam-se alguns eixos fundamentais, conforme descrito a seguir.

1) As preocupações comuns de que as crises no Caribe e no Suriname escalassem e fossem tragadas


pelo conflito Leste-Oeste, dada a intervenção dos Estados Unidos em Granada (com participação
do Brasil junto a Argentina, Peru e Uruguai como outros representantes da América do Sul em
suporte ao Grupo de Contadora).
2) As posições convergentes no G77 em defesa dos interesses dos países em desenvolvimento,
logrando ser identificados como lideranças do Terceiro Mundo24 (Cepaluni e Vigevani, 2009;
Moreira, 2018, p. 172; Vizentini, 2003, p. 62-63).
Uma interpretação para tais convergências diplomáticas foi a diminuição do “temor da de-
pendência brasileira” por parte da Venezuela, um maior ativismo venezuelano em busca de novos
mercados, e a atuação comum dos dois países nos processos de paz da América Central em rejei-
ção a uma intervenção militar norte-americana (Moreira, 2018, p. 172).

Outro elemento adicional para a convergência de agendas deriva também da nova con-
cepção de integração regional apresentada pelo governo brasileiro de José Sarney (1985-1989)
após o processo de redemocratização. No período, o Brasil buscou aproximar-se de seus vizinhos
latino-americanos de modo a fortalecer sua posição junto aos países em desenvolvimento e
contrapor-se a posturas desfavoráveis dos Estados Unidos em diversas áreas. Como resultado do

24. Cabe destacar que a Venezuela não aderiu ao Acordo Geral de Tarifas e Comércio (General Agreement
on Tariffs and Trade – GATT), um dos importantes âmbitos de luta política brasileira.

27
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

apoio ao Grupo de Contadora, outro esforço importante do Brasil foi a criação do Grupo do Rio,25
em 1986 (composto por Argentina, Colômbia, México, Panamá, Peru, Venezuela e Uruguai), como
forma de ampliar a atuação em bloco da América Latina em oposição às políticas norte-americanas
de intervenção militar, na área da dívida externa, bem como rejeitar medidas discriminatórias de
potências no plano multilateral26 (Cervo, 2003, p. 173; Prado e Miyamoto, 2010, p. 72).

Marcos adicionais dos esforços brasileiros de aproximação com a América Latina foram
os encontros do presidente brasileiro José Sarney com o presidente argentino Raúl Alfonsín
(1983-1989) e o venezuelano, Jaime Lusinchi (1984-1989). Sarney firmou, com a Argentina,
o Protocolo de Cooperação que daria início à cooperação no Cone Sul e, com a Venezuela, o
Compromisso de Caracas (1987), para catapultar um processo de integração na região Norte,
atuando, assim, de modo pendular com margem de manobra para dar prioridade ao projeto que
tivesse maior triunfo político (Cervo, 2003, p. 162-163).

3.3 Estruturando uma agenda de integração: a década de 1990

A despeito das crescentes convergências de agenda e da cooperação oscilante, o fim dos anos
1980 também abriu um corredor de tensões entre Brasil e Venezuela. Em 1989, um contencioso
foi catapultado ao serem identificados grupos de garimpeiros ilegais brasileiros ultrapassando as
fronteiras nacionais em busca de ouro em território venezuelano, com impactos na criminalidade
e no meio ambiente, além de desmatamento (Cervo, 2003, p. 174; Galvão, 2011, p. 423-424;
Vizentini, 2003, p. 66) – principalmente em áreas como Delta Amacuro (foz do rio Orinoco) e
no estado de Bolívar (fronteira com o estado de Roraima). O caso do garimpo ilegal despertava
antigas visões de grupos venezuelanos que viam um expansionismo brasileiro na América do
Sul (Briceño-Ruiz, 2016, p. 162). Tal situação atingiu o ápice de tensão entre os dois países em
1992, quando a Guarda Nacional venezuelana abateu um avião de garimpeiros brasileiros que

25. Também denominado Grupo dos Oito ou Grupo de Apoio a Contadora, oficialmente é denominado
Mecanismo Permanente de Consulta e Concertação Política da América Latina e do Caribe. O Grupo do Rio
emerge como uma iniciativa de ampliar e substituir o Grupo de Contadora, inicialmente composto pelos
membros do Grupo de Contadora (Colômbia, México, Panamá e Venezuela), com adição de Argentina,
Brasil, Peru e Uruguai. O grupo teve novas adesões em 1990 (Bolívia, Chile, Equador e Paraguai), em
2000 (Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, República Dominicana), em 2008 (Cuba,
Guiana, Haiti) e em 2009 (Jamaica e Suriname). Conta também com participações rotativas de membros
da América Central, participando como bloco em 1990, 1999 e 2000, e, atualmente, a Comunidade do
Caribe (Caribbean Community – Caricom) participa com representação rotativa.
26. No período, estavam em andamento as negociações em Montevidéu, denominada Rodada Uruguai
(1986-1994), que resultaria na criação da Organização Mundial do Comércio (OMC).

28
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

sobrevoava território venezuelano (Moreira, 2018, p. 171). Cabe destacar que esse problema
ainda persiste na região, em áreas similares, como pode ser observado na figura 7.

FIGURA 7
Áreas de garimpo ilegal nas fronteiras entre Brasil e Venezuela (2018)

Fonte: Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG).


Obs.: Figura cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições
técnicas dos originais (nota do Editorial).

A solução para a questão emergiu de um encontro diplomático entre os presidentes


Rafael Caldera (1994-1999) e Itamar Franco (1992-1994), que buscou dirimir a visão de imperia-
lismo do Brasil e construir as bases para uma relação bilateral mais profunda (Briceño-Ruiz, 2016,
p. 162-163; Cervo, 2003, p. 174; Moreira, 2018, p. 179-180). Parte da evolução nas relações bilate-
rais foi também estimulada pelo corpo diplomático brasileiro que, por meio da Fundação Alexandre
de Gusmão (Funag) e do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) do Itamaraty, reu-
niram em diversas ocasiões estudiosos dos dois países para construir conhecimento mútuo sobre
possibilidades de cooperação, até o momento bastante precário (Cervo, 2003, p. 175).

Tais esforços conjuntos resultaram no principal marco contemporâneo da cooperação bilate-


ral Brasil-Venezuela, o simbólico Protocolo de La Guzmanía, caracterizado como:

29
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

um documento de natureza política, que, em seus sete parágrafos declaratórios


e sete operativos, definiu a orientação da relação bilateral a partir daquele
momento. Na primeira parte, os chefes de Estado afirmaram o compromisso
de “atribuir alta prioridade às relações bilaterais, elevando-as a uma nova
dimensão, a fim de permitir o máximo aproveitamento das potencialidades
de cooperação e integração, em consonância com sua vocação amazônica,
sul-americana e latino-americana”, e manifestam a intenção de “realizar
encontros presidenciais frequentes”. Na parte operativa, os presidentes
estabelecem uma Comissão Binacional de Alto Nível [Coban], com mandato
amplo, presidida pelos ministros das Relações Exteriores e integrada por
ministros de outras pastas relevantes para a cooperação bilateral (Moreira,
2018, p. 179-180).

O protocolo ressalta a necessidade de consolidar a democracia na América Latina e no


Caribe, promover o desenvolvimento econômico ambientalmente sustentável com justiça social e
adotar medidas de combate à pobreza. A partir de então, a Coban, entre os chanceleres de Brasil
e Venezuela, focou em temas como acordos de complementação econômica, cooperação frontei-
riça, cooperação cultural, mineração, combate conjunto ao narcotráfico, demarcação de fronteiras,
levantamento cartográfico, cooperação ambiental, ligação hidrográfica no eixo Amazônia-Orinoco
e aumento do transporte terrestre de carga (Vizentini, 2003, p. 70). Em suma, abriu-se uma nova
agenda bilateral baseada em uma estratégia tríplice: i) desenvolver ações na zona fronteiriça;
ii) estimular o comércio e o investimento empresarial; e iii) buscar criar uma zona de livre-comér-
cio na América do Sul (Cervo, 2003, p. 175).

A agenda apresentada no Protocolo de La Guzmanía inseriu-se na reconfiguração mais ampla


de política externa dos países latino-americanos e da reestruturação das relações internacionais
no pós-Guerra Fria. A derrocada da União Soviética, o triunfo imediato de um modelo liberal de
organização econômica, a intensificação da globalização, a emergência de regionalismos e o fim
da paralisia de organismos multilaterais caracterizaram o novo momento político (Alves, 2001;
Buzan, 1997; Falk, 1999). Tal contexto inspirou líderes latino-americanos a realizarem reformas
econômicas liberais, baseadas na adoção de medidas de austeridade, ajustes fiscais, aumento de
impostos, aberturas comerciais e fim dos modelos de desenvolvimento baseados na substituição
de importações. No Brasil e na Venezuela, por exemplo, os governos de Fernando Collor de Mello
(1990-1992) e Carlos Andrés Pérez (1989-1993) adotaram estratégias similares de abertura em

30
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

sincronismo com o receituário liberal do Fundo Monetário Internacional (FMI).27 Ambos os países
também assistiram a desfechos semelhantes das suas experiências de reformas econômicas libe-
rais, com insatisfação popular, crises políticas e afastamento via impeachment28 – muito embora
os processos tenham sido diferentes e o nível de pressão social também.29 Governos posterio-
res – Itamar Franco (1992-1994) e Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), no Brasil; e Rafael
Caldera (1994-1999), na Venezuela – adotaram posturas mais brandas e ajustes de tom, mas
seguiram afetados pelo ambiente de reforma econômica e abertura comercial30 (Romero, 2003,
p. 326-327; Vigevani, Oliveira e Cintra, 2003).

No âmbito regional, a agenda de livre-cambismo, a negociação e criação do Acordo de Livre


Comércio da América do Norte (North America Free Trade Agreement – Nafta)31 e a proposta dos
Estados Unidos de criar uma Área de Livre-Comércio das Américas (Alca) balizaram e constrangeram
as políticas dos países latino-americanos. A Venezuela adotou uma postura de abertura comercial
e de busca de acordos de livre-comércio com os países da região. Em 1989, o país começou nego-
ciações com Colômbia e México para uma área de livre-comércio (Grupo dos Três – G3) – iniciativa
frustrada após o advento do Nafta – e, em 1992, assinou um acordo sobre comércio e investimento
com a Caricom, além de outras iniciativas de relação comercial com a América Latina32 (Vizentini,
2003, p. 65-66). Já o Brasil também teve que lidar com esse contexto. O Mercado Comum do Sul
(Mercosul) originou-se, em 1991, de estratégia brasileira conjugada com Argentina e Uruguai para
aproximar os países no momento de redemocratização política e abertura econômica, assim como
posicionar-se melhor para negociar as propostas hemisféricas dos Estados Unidos sob a égide do

27. Parte disso derivou da necessidade de adaptações devido ao empréstimo do FMI para a Venezuela
em 1989. Ainda que a política de abertura do governo Collor tenha sido realizada em consonância com
as orientações do FMI, o fundo não apoiou o principal plano para estabilização de preços desse governo
(Plano Collor, oficialmente chamado de Plano Brasil Novo) (Bacha et al., 2015, p. 141).
28. Enquanto no Brasil o afastamento ocorreu em linha com o processo de consolidação da transição
democrática, a Venezuela teve um processo altamente conturbado, palco de duas tentativas de golpe
de Estado, forte agitação social e gradual desagregação do Pacto de Punto Fijo, que regia a democracia
venezuelana desde 1958 (Vizentini, 2003, p. 64-65).
29. Em 27 de fevereiro de 1989, a Venezuela foi palco de largos protestos, depredações e mobilizações
sociais decorrentes da alta do preço do petróleo e da adoção de medidas de ajuste econômico. O episódio
ficou conhecido como Caracazo.
30. Serrafero (2007) apresenta uma interessante comparação dos impeachments na Venezuela e no Brasil.
31. Área de livre-comércio entre Canadá, Estados Unidos e México, estabelecida em 1994.
32. Destacam-se também: i) Compromisso de Caracas, que estabeleceu as bases para um processo de
cooperação entre o G3 e os países da América Central; e ii) a Declaração de Caracas, que garantiu as
bases para um acordo de livre-comércio entre Venezuela e Colômbia, de um lado, e Costa Rica, Nicarágua,
Honduras, El Salvador e Guatemala, de outro (Vizentini, 2003, p. 66).

31
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

regionalismo aberto.33 A opção de tornar o bloco uma união aduaneira,34 com uma Tarifa Externa
Comum (TEC) e uma posição conjunta em negociações hemisféricas e globais, foi fundamental nessa
postura de utilizar-se do Mercosul como plataforma para os interesses globais brasileiros, sendo
parte essencial da abordagem de negociações da Alca e do acordo com a UE (Cepaluni e Vigevani,
2009; Mello, 2002, p. 37-38).

Tal estratégia inseriu-se também em uma mudança de ênfase da política externa brasileira, sem
alterar sua essência de buscar autonomia e margens de manobra no sistema internacional (Pinheiro,
2000; Vigevani, Oliveira e Cintra, 2003; Vigevani e Ramanzini Júnior, 2014). O paradigma globalis-
ta35 foi adaptado para os novos tempos nos quais havia custos altos para manter-se a distância
de regimes e organismos internacionais – tal como era a estratégia brasileira até 1990 para
este último (Fonseca Júnior, 1998), e passou a integrá-los como forma de renovar as credenciais
democráticas do país e subsidiar o processo de modernização econômica (Cepaluni e Vigevani,
2009; Cervo, 2002, p. 30-31; Vigevani, Oliveira e Cintra, 2003). Um exemplo de adaptação foi a
substituição do conceito de “América Latina” pelo de “América do Sul”, ainda que mantendo as
estratégias de regionalismo aberto, negociações comerciais e adesão aos regimes globais (Couto,
2012, p. 24; Mariano, 2014; Mello, 2002, p. 38-39). O objetivo era não se vincular a nenhum pro-
cesso decisório externo e, nesse caso, afastar-se do México, que havia se vinculado aos Estados
Unidos pelo Nafta.

Desse modo, além de se utilizar do Mercosul como plataforma de inserção regional e global, o
Brasil também visou à construção de outras iniciativas de comércio e integração regional que afeta-
riam diretamente as relações bilaterais com a Venezuela. A primeira delas foi a proposta da Iniciativa
Amazônica (IA), em 1992, pelo presidente Itamar Franco. A proposta referia-se a um conjunto de
acordos de complementação econômica com os países do TCA, influenciada pela realização da
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92, Eco-92 ou
Cúpula da Terra) meses antes. Em 1994, o Brasil anunciou o projeto de criação de uma Área de Livre
Comércio Sul-Americana (Alcsa), que fosse capaz de unir o Mercosul, países andinos e o Chile, em

33. Na perspectiva do regionalismo aberto, definida pela Cepal da Organização das Nações Unidas
(ONU), na década de 1990, “a integração regional é entendida como um processo de liberalização
econômica intrarregional que trabalharia fundamentalmente como um alicerce e um estágio do processo
de liberalização econômica internacional – impulsionado por alguns países e pela Rodada Uruguai do
GATT, retomado na Rodada de Doha lançada no âmbito da OMC” (Padula, 2014, p. 311).
34. Decisão consubstanciada pelo Protocolo de Ouro Preto, em 1994.
35. Também referenciado na literatura como terceiro-mundismo, globalismo ou a tradição autonomista
derivada da Política Externa Independente, refere-se à busca de diversificação de parcerias. Trata-se do
oposto do foco no eixo de relações com os Estados Unidos, o paradigma americanista ou a tradição de
Rio Branco (Cepaluni e Vigevani, 2009; Lima, 1994).

32
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

contraposição ao Nafta e de coordenação sul-americana em resposta à agenda da Alca (Mello, 2002,


p. 38-39). A Venezuela manifestou-se positivamente tanto em relação à IA como à Alcsa. O país firmou
acordos de complementaridade econômica (ACE) em 1994 (ACE-27) e em 1999 (ACE-39) e demons-
trou interesse na criação de uma área de livre-comércio regional durante a II Reunião do Mecanismo
Político de Consulta (Moreira, 2018, p. 182-183). O governo venezuelano, por sua vez, também de-
monstrou interesse de primeiro consolidar uma área de livre-comércio sul-americana para somente,
em um segundo momento, já com os interesses dos países da América do Sul firmados, partir para
uma negociação com o Nafta visando à Alca (Vizentini, 2003, p. 67-69).

Além do âmbito econômico-comercial, outro dos novos eixos centrais dessa nova cooperação
Brasil-Venezuela foi o âmbito da infraestrutura energética. Nos anos 1990, Roraima enfrentava
diversos problemas de fornecimento energético que resultaram em desabastecimento elétrico
e racionamentos recorrentes. O custo da energia elétrica na região era alto devido ao uso de
termelétricas em vez das tradicionais fontes hidrelétricas, uma vez que o estado não estava co-
nectado ao SIN. As dificuldades de implantação de um projeto hidrelétrico na região, todavia,
reforçaram a proposta de uma conexão entre Boa Vista e a Venezuela pela linha de transmissão
de Guri, ideia que ganhou força após o Protocolo de La Guzmanía (Aguiar, 2011, p. 95-148). O
resultado foi a assinatura do acordo de cooperação em 1997 e a implantação do Sistema Hidrelé-
trico do Rio Caroní (conhecido como “linhão de Guri”) até 2001 (Aguiar, 2011; Barros, Padula e
Severo, 2011, p. 37; Cervo, 2003, p. 175).

4 CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS RELAÇÕES


BRASIL-VENEZUELA (1998-2020)

A emergência de Hugo Chávez ao poder, em 1999, ocorreu em um contexto de aprofun-


damento da agenda de cooperação bilateral, de tensão política na Venezuela e de estabilidade
política no Brasil. No período, representativo do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso
(1999-2002), o governo brasileiro passava a criticar os efeitos da globalização para os países em
desenvolvimento e a adotar uma nova concepção de integração regional focada em temas de
infraestrutura, ainda que sob a ótica do regionalismo aberto (Cervo, 2002, p. 26; Cervo e Bueno,
2008, p. 475; Lima e Coutinho, 2007, p. 130-134; Ramanzini Júnior, 2010, p. 20; Couto, 2012).

Os esforços de cooperação energética com a Venezuela ocorreram concomitantemente com


um processo de aproximação nos campos político e de infraestrutura do Brasil com a América do Sul.
No período, o governo brasileiro ampliava seu engajamento em temas de cooperação política – tais
como a I Reunião de Presidentes da América do Sul e a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura
Regional Sul-Americana (IIRSA), em 2000 – e gradualmente expandiu a atuação do Banco Nacional

33
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no financiamento a projetos de infraestrutura na


região, em parceria com outros organismos internacionais, como recursos da Corporação Andina de
Fomento (CAF), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Fundo Financeiro para o
Desenvolvimento dos Países da Bacia do Prata (Fonplata) (Valdez, 2011, p. 48-49; Vigevani, Oliveira
e Cintra, 2003, p. 48; Vigevani e Ramanzini Júnior, 2014, p. 536-537).

A transição política no Brasil para a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), que,
tal como Hugo Chávez, era identificado com o espectro político da esquerda, não apenas manteve
uma trajetória de aprofundamento, como também possibilitou convergência e posições em temas
centrais. A estratégia brasileira passou a basear-se na adesão às normas e aos regimes interna-
cionais, via coalizões Sul-Sul, em especial, com grande ênfase à América do Sul, e de acordos com
parceiros não tradicionais, por entender que tais iniciativas reduziriam assimetrias ante as grandes
potências e ampliariam a margem de manobra do Brasil (Ramanzini Júnior, 2010, p. 71-76; Vigevani
e Cepaluni, 2007, p. 283; Vigevani e Ramanzini Júnior, 2014, p. 536).

Houve alguns temas objeto de convergência de agendas entre Venezuela e Brasil, desde a
inflexão de política externa no segundo governo FHC, que beneficiaram as relações bilaterais.
Destacam-se, por exemplo: i) a noção de globalização assimétrica, em vez de benéfica a todos os
Estados; ii) a adoção de uma visão político-estratégica para a América do Sul; iii) as estratégias
de reforçar a economia nacional como condicionantes para qualquer interdependência global;
iv) a integração sul-americana como condição prévia às integrações mais amplas; v) a percepção
negativa do projeto da Alca, sem reciprocidade comercial efetiva; vi) as reservas ao aspecto mi-
litar do Plano Colômbia; vii) o repúdio à presença militar norte-americana na Amazônia; e viii) o
interesse de não privatizar o setor petroleiro (Cervo, 2003, p. 173).

Cabe destacar, todavia, que as visões de mundo se aproximaram somente nesses temas.
O fato é que os dois países detinham leituras bastante distintas sobre a estrutura do sistema
internacional, as relações com os Estados Unidos, o lugar da América do Sul e as estratégias a ser
adotadas. A Venezuela chavista adotou gradualmente uma postura retórica radical anti-Estados
Unidos, identificado como o principal inimigo da “Revolução Bolivariana”, e compreendia meca-
nismos de integração regional como forma de contrabalancear os governos norte-americanos e
construir alianças geoestratégicas (Briceño-Ruiz, 2016, p. 163-164; Moreira, 2018, p. 219-220).

Na visão dos formuladores da política externa chavista, deveria ser fortalecido o “eixo de
desenvolvimento progressista” da América do Sul (Argentina-Brasil-Venezuela), em oposição ao
eixo liberal (Chile-Colômbia-Peru), e, para tanto, seria necessário alterar a natureza comercialista
dos mecanismos regionais substituindo-as por uma de caráter geopolítica e anti-imperialista –
tal como evoluía a política comercial venezuelana e os esforços de integração do país no Caribe

34
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Moreira, 2018, p. 215-218; Saraiva e Briceño-Ruiz, 2009, p. 162-163). Daí emergiu o objetivo da
Venezuela ao deixar a Comunidade Andina de Nações (CAN), de foco mais liberal, e aproximar-se
do Mercosul, coordenado pelo grupo de países que, em sua perspectiva, representaria um “eixo
progressista” da integração sul-americana (Barros e Hitner, 2007).

Os processos de integração tiveram relevância para consolidação do bolivarianismo e estabi-


lidade política interna na Venezuela. A saída da Venezuela da CAN foi justificada pelos tratados de
livre-comércio negociados bilateralmente por Colômbia, Equador e Peru com os Estados Unidos.
Em suma, havia o interesse de criar um polo de poder em oposição aos Estados Unidos, estru-
turado no nível sub-regional, a fim de construir novos mecanismos de integração nos moldes
venezuelanos (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – Alba-TCP, Petrocaribe,
Petroamérica, Petrosul e Petroandina); regional, buscando alinhar-se ao “eixo progressista” e
influenciar o redirecionamento de sua agenda; e, por fim, latino-americano, logrando partici-
par ativamente de iniciativas de cooperação, como a Comunidade Sul-Americana de Nações
(CASA/Unasul) e Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) para projetar
a América Latina e Caribe (ALC) como polo de poder (Moreira, 2018, p. 235-236).

O Brasil, por sua vez, detinha uma posição bastante diferente da venezuelana. Muito embo-
ra desejasse construir um mundo multipolar e reformar os organismos internacionais, a postura
brasileira não era de confrontação direta com os Estados Unidos,36 anti-imperialista, ou antissiste-
ma; do contrário, mantinha uma relação positiva e cordial com a grande potência (Moreira, 2018,
p. 188; Pecequilo e Luque, 2016, p. 38; Ramanzini Júnior, 2010, p. 67). Se, de um lado, os Estados
Unidos buscavam “instrumentalizar” as relações com o Brasil, aproximando-se do país em questões
regionais-chave e apresentar o governo brasileiro como um “modelo de governo de esquerda
eficaz” em comparação às posições mais radicais de Equador, Bolívia e Venezuela; de outro, o
Brasil buscava manter relações positivas com o país para legitimar sua ascensão como potência
emergente, mas sem confrontar diretamente os governos mais radicais na região, uma vez que
poderia prejudicar o objetivo de construir o espaço regional (Carmo e Pecequilo, 2016, p. 56).

No concernente à América do Sul, o Brasil buscava construir um espaço político e econômico


sul-americano, que envolvesse diversos campos – político-diplomático, infraestrutura, defesa,
energia, saúde etc. Até meados de 2016, o Brasil priorizou iniciativas que envolviam a totalidade
geográfica dos países da América do Sul (como a expansão do Mercosul, construção da Unasul
e a Celac), uma posição bastante distinta do apoio às iniciativas fragmentárias sustentadas em
interesses ideológicos e geopolíticos da Venezuela (Barros e Gonçalves, 2019). Paralelamente, o

36. Muito embora alguns criticassem a ênfase maior da política externa brasileira em questões estratégicas
do que econômico-comerciais (Ricupero, 2010).

35
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Brasil detinha também interesse em oferecer oportunidades econômicas para a exportação de


produtos brasileiros, ampliar a fatia de mercado de grandes e médias empresas nacionais nos
países vizinhos e apoiar o projeto de construção de grandes conglomerados brasileiros com apoio
do BNDES (Burges, 2007, p. 1344; Souza, 2010, p. 49-50). Diferentemente de uma política indus-
trial socialista venezuelana, que intentava criar uma “nova classe empresarial que comungaria
os objetivos do governo”, o Brasil adotava política de induzir o desenvolvimento econômico por
meio do fomento às exportações industriais associadas a projetos de infraestrutura,37 com au-
mento de investimento público na internacionalização de empresas e na participação de alguns
setores-chave, sem, contudo, limitar o papel de grupos empresariais ou entrar em conflito com
eles (Berringer, 2014, p. 119-126; Cervo e Bueno, 2008, p. 492; Moreira, 2018, p. 219-220).

Desse modo, a postura brasileira para a América do Sul era de construir um entorno regional
que garantisse espaços de autonomia para o país e não limitasse a estratégia de inserção global
brasileira. Seja pelo fato de o Brasil não possuir recursos econômicos de países desenvolvidos,
seja por não desejar perder sua margem de manobra, o fato é que se adotou uma postura am-
bígua, relutante em assumir plenamente os custos políticos, econômicos e sociais da integração
regional – algo que, de maneira oposta, a Venezuela mostrava-se interessada em fazer com seus
altos gastos em novos mecanismos regionais baseados no petróleo (Saraiva e Briceño-Ruiz, 2009,
p. 161-162; Vigevani e Ramanzini Júnior, 2014, p. 542-544).

Destarte, de modo contraintuitivo ao discurso propalado nas disputas políticas internas,


houve tensões e disputas entre iniciativas e visões de mundo de Venezuela e Brasil ao longo
do período de Chávez (1999-2013), Nicolás Maduro (2013-2020), Lula da Silva (2003-2010) e
Dilma Rousseff (2011-2016). Além de posições diferentes sobre os Estados Unidos e a América
do Sul, temas como biocombustíveis, financiamento de infraestrutura e arquitetura de cooperação
em defesa geraram dissonâncias importantes. Essas divergências não impediram um processo de
cooperação bilateral sem precedentes.

Cabe também destacar que a escalada de autoritarismo, politização das forças armadas, vio-
lações de direitos humanos e limitação da liberdade dos meios de comunicação geraram tensões
diplomáticas com os vizinhos e outros países. Parte da sociedade venezuelana se apresentava
de forma crítica à relação bilateral com o governo brasileiro. As principais críticas eram de que
o Brasil adotava uma postura imperialista na Venezuela pelo engajamento de suas empresas

37. A adoção de um modelo amplo, que seria “dirigismo estatal”, é criticada por Lazzarini (2011) ao
cunhar o termo “capitalismo de laços”. O autor afirma que as relações entre os setores privado e público
possibilitam a criação de monopólios, que os tornam cada vez mais fortes e, por sua vez, fortalecem
também o poder do governo.

36
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Petrobras, empreiteiras) e de que os governos brasileiros eram cúmplices do regime venezuelano


por alinhamento ideológico – portanto, contribuíram para a legitimação de um chavismo crescen-
temente autoritário (Briceño-Ruiz, 2016, p. 167-169).

Ainda assim, o Brasil foi entendido pela Venezuela de Chávez como uma parceria fundamen-
tal para seu desenvolvimento, preferencial pela proximidade geográfica, aproximação cultural e
convergência de objetivos em torno da integração sul-americana (Moreira, 2018, p. 196). Logo
em 2003, por exemplo, o Brasil dispôs-se a ajudar a Venezuela a partir do Programa de Substitui-
ção Competitiva de Importações, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(PSCI/MDIC) a fim de identificar e aproveitar a complementaridade econômica entre os dois
países (Veiga, Pourchet e Markwald, 2005, p. 73). Em 2005, o governo brasileiro beneficiou-se
do personalismo do regime venezuelano para construir relações próximas com Chávez, ampliar
as exportações e os investimentos brasileiros no país e desenvolver uma parceria estratégica
(Galvão, 2010, p. 32).

Em termos do conteúdo da agenda de cooperação bilateral, pode-se dizer que, entre 2003
e 2012, houve um processo de consolidação e diversificação de agendas. Inicialmente, em uma
primeira etapa, entre 2003 e 2007, havia um foco de caráter mais diplomático, comercial e ener-
gético, com aumento substantivo do comércio bilateral, alinhamento nas críticas à Alca, grande
cooperação entre Petrobras e PDVSA, implementação de projetos de infraestrutura que permi-
tiram a atuação de grandes empresas brasileiras na Venezuela e um bom trânsito diplomático
entre Lula e Chávez, o que possibilitou a mediação de crises internas e regionais (Galvão, 2010,
p. 32-34; Moreira, 2018, p. 205).

A partir de 2007 e 2008, a parceria bilateral passa a adquirir contornos diferentes. Os


dois países decidem ampliar as áreas de cooperação para setores como desenvolvimen-
to industrial, agrícola e novas iniciativas. No período, a Venezuela tornou-se um importante
experimento de um novo modelo de atuação da política externa brasileira, com base na interna-
cionalização de agências nacionais para apoiar a cooperação internacional, e elevado ativismo
político-econômico nacional. O país andino ocupou lugar central em um novo modelo emergente
de relações bilaterais (que começara a ser desenhado em fins do governo FHC e adquiria novo
impulso) baseado na internacionalização de agências estatais, descentralização do Itamaraty no
processo de execução de política externa, ampla diplomacia presidencial (também referido como
“presidencialização”)38 e pluralização de atores engajados em temas, como áreas internacionais

38. Danese (1999, p. 51) define o conceito de diplomacia presidencial como “condução pessoal de
assuntos de política externa, fora da mera rotina ou das atribuições ex officio, pelo presidente, ou, no caso
de um regime parlamentarista, pelo chefe de Estado e/ou pelo chefe de governo”.

37
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

de ministérios, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a Caixa Econômica


Federal (Caixa), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Ipea (Amorim Neto,
2011, p. 125-130; Cason e Power, 2009, p. 134-135; Milani e Pinheiro, 2013, p. 25-26; Moreira,
2018, p. 197; Souza, 2001).

Cabe destacar, todavia, que esse ensaio de nova atuação externa foi breve, e as iniciativas
começaram a perder impulso entre 2012 e 2014, até cessarem de vez em 2015. Desde então,
as relações bilaterais entraram em uma espiral de paralisia e crise, até que as interações políti-
co-econômicas se retraíram a patamares anteriores ao processo catapultado pelo Protocolo de
La Guzmanía, em 1994. Do lado venezuelano, fatores domésticos e internacionais contribuíram
para isso. Elementos como a queda brusca dos preços do petróleo (2015-2018), o acirramento
da crise interna após o falecimento de Hugo Chávez (2012), o aumento da polarização doméstica
(2013-2015), a ampliação da crise econômica e fiscal do país (2013-2017), a crise migratória
venezuelana (2018-2020) e a crise de sucessão (2018-2019) reduziram drasticamente a capaci-
dade de realizar política externa ativa da Venezuela.

De modo similar, o Brasil também teve razões internas e conjunturais para a retração. A per-
da de fôlego político-econômico e o diagnóstico do próprio governo de que havia uma grave
crise fiscal também limitou a capacidade de realizar uma política externa ativa. Similarmente, a
polarização política doméstica catapultou um processo de cisão política do país e afetou várias
empresas nacionais. O avanço de investigações contra a corrupção no âmbito da Operação Lava
Jato – afetando as principais empresas engajadas na Venezuela, como as empreiteiras Construto-
ra Norberto Odebrecht S/A (CNO S/A), Andrade Gutierrez Engenharia S/A, e do setor energético,
como a Braskem e a Petrobras – e o impeachment de Dilma Rousseff, seguido de sua substitui-
ção pelo vice-presidente Michel Temer (2016-2018), explicam o ocorrido. Na gestão Temer, por
exemplo, o Brasil alterou significativamente sua postura com relação à Venezuela e ao modelo
econômico interno. O governo brasileiro adotou uma agenda econômica liberalizante, de controle
de gastos públicos e de redução do investimento estatal e do fomento às exportações, combi-
nada com menor engajamento presidencial em temas regionais. Desse modo, houve expressivas
mudanças tanto nas relações do ponto de vista diplomático como econômico-comercial, que se
estenderam até o momento atual (2021).

As mudanças no ambiente interno e externo foram, portanto, um fator de grande transição


para a mudança paradigmática de política externa brasileira a partir de 2016. Entre as inflexões,
destacam-se: i) a reconcentração da agenda do Mercosul em temas comerciais, especialmen-
te na negociação do bloco com a UE e das alternativas para a redução da TEC; ii) a ausência
de liderança em temas regionais sul-americanos (saída da Unasul e criação do Fórum para o

38
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Progresso e Desenvolvimento da América do Sul – Prosul), baixo protagonismo no Grupo de Lima e


autoisolamento na Celac; iii) tentativas de aproximação com os Estados Unidos; iv) redução da
ênfase em questões políticas com o BRICS;39 e v) prioridade à acessão à Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Essa inflexão começou no governo Temer
(Berringer e Forlini, 2018, p. 9-10) e foi intensificada no governo Bolsonaro (2019-2022).

Essa inflexão de política externa reforçou a tendência de retração do ensaio brasileiro de internacio-
nalização de agências nacionais e focou a agenda em renovar as credenciais econômico-comerciais
do país em busca de investimentos estrangeiros, para sustentar a agenda de reformas econômi-
cas liberalizantes do país. Tal virada comercialista, de maior acercamento dos Estados Unidos, e
de menor preocupação com o ambiente multilateral e com a construção de instituições regionais,
tornou-se latente no discurso de posse do chanceler José Serra, em maio de 2016, que organizou a
nova política externa brasileira em torno de dez diretrizes principais (box 1).

BOX 1
Diretrizes da política externa do governo Temer enunciadas no discurso de posse do
ministro das Relações Exteriores (maio/2016)
1. Redução de influência político-partidária na política externa brasileira.
2. Defesa da democracia, liberdades e direitos humanos em qualquer país, ainda que respeitando os princípios
da não intervenção em assuntos internos.
3. Responsabilidade em matéria ambiental, mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável.
4. Incentivar a intensificação do comércio internacional, que seguia em compasso de retração.
5. Redução do foco no multilateralismo comercial e busca de acordos comerciais nos âmbitos bilateral e plurirregional.
6. Maior atuação do Itamaraty na promoção comercial com a subordinação da Câmara de Comércio Exterior (Camex)
ao órgão e maior coordenação com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.1
7. Foco na América Latina em relações com Argentina, Chile, Colômbia, Peru e México, países com posições econômicas
liberais no período.
8. Ampliar intercâmbio comercial com Estados Unidos, Japão e Europa.
9. Foco com grandes países em desenvolvimento, China e Índia, e Ásia e África baseado no intercâmbio econômico
e não em cooperação Sul-Sul.
10. Atuação para aumento da produtividade do Brasil, redução de distorções tributárias e relação próxima
com setores produtivos nacionais.

Fonte: Brasil (2016a).


Elaboração dos autores.

A nova ênfase de política externa afetou diretamente as relações bilaterais entre Brasil e
Venezuela, especialmente considerando o fato de o regime de Nicolás Maduro ter penetrado
os discursos eleitorais e as disputas político-partidárias entre o governo de Dilma Rousseff e os

39. BRICS é a denominação do bloco de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

39
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

opositores entre 2014 e 2016. Algumas das principais mudanças foram a emissão de duras notas
do Itamaraty contra a Venezuela, a suspensão do país do Mercosul em fins de 2016, sob o argu-
mento da não internalização das normativas do bloco, e a adesão brasileira ao Grupo de Lima, em
2017. Esse conjunto de iniciativas configurou uma mudança substantiva nas relações bilaterais,
no marco de uma mais ampla inflexão de política externa.

Passado o período de transição do governo Temer, um rumo bastante distinto da política ex-
terna brasileira se iniciaria. Sob a presidência de Jair Bolsonaro (2019-2022) e com Ernesto Araújo
à frente do Ministério das Relações Exteriores (MRE) (2019-março de 2021), a posição brasileira
com relação à Venezuela distinguiu-se ainda mais de períodos anteriores. Se no início do governo
Temer houve uma postura crítica mais assertiva, seguida de ajuste retórico, com a emergência do
novo governo o Brasil retomou a trajetória de embate. Caracterizada como nova política externa, a
postura brasileira esteve organizada em torno de quatro eixos centrais, segundo o próprio chanceler:
i) democracia; ii) transformação econômica e do desenvolvimento; iii) soberania; e iv) valores (Brasil,
2020c). Entre esses eixos, as relações com a América Latina40 passariam pela exigência, defesa en-
fática e posicionamento duro pela democracia nos países da região.

As relações com a Venezuela foram diretamente afetadas pela nova perspectiva. O governo
brasileiro não apenas passou a considerar o vizinho como um regime autoritário, mas também
com qualificativos inéditos no discurso diplomático brasileiro tais como “totalitário” e associado
à “criminalidade”, ao “narcotráfico” e ao “terrorismo”. Essa mudança de tom é sumarizada nas
palavras do chanceler em fins de 2020, como se vê a seguir.

É impossível transformar, ajudar a transformar a região numa região como


pretendemos todos que seja, de paz e prosperidade, se não trabalharmos dia e
noite pela plena vigência da democracia em todos os países da região. Isso muito
especialmente hoje, porque regimes totalitários da região, particularmente
a Venezuela, não só negam a liberdade ao seu próprio povo, mas estão
intimamente associados à criminalidade, ao narcotráfico, ao terrorismo e
procuram espalhar esses malefícios, esses flagelos por todo o continente. (...)
Ambos esses princípios são, hoje, claramente, continuamente negados pelo
regime venezuelano ao seu próprio povo e, como dizia, com a perspectiva de
exportar essa negação dos direitos humanos e da autodeterminação para o
conjunto da região (Brasil, 2020c, grifo nosso).

40. Cabe destacar que o termo “América do Sul” não aparece mais com a ênfase de governos anteriores
no discurso diplomático brasileiro.

40
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Trata-se de componentes retóricos inéditos, que reforçam uma posição de críticas contun-
dentes e crescente pressão sob o regime venezuelano de Nicolás Maduro. A situação acirrou-se
com a autoproclamação como presidente do chefe da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, em
23 de janeiro de 2019. O Brasil prontamente reconheceu o novo governo e passou a tratar o
governo Maduro como ilegítimo, proibiu a entrada de representantes de seu governo no Brasil,
retirou as credenciais dos diplomatas da Venezuela em fins de 2019 e fechou a embaixada em
Caracas e os consulados em todo o país e retirou integralmente o corpo diplomático e de outras
agências brasileiras da Venezuela em 2020. Desse modo, além de acirrar o tom com relação ao
governo anterior, o Brasil também rompeu os contatos diplomáticos tradicionais tanto com o
regime chavista como perdeu o contato presencial com todos os demais atores nacionais e repre-
sentantes dos outros países que mantêm representação em Caracas.

Considerado o panorama das relações bilaterais, há cinco períodos fundamentais das rela-
ções entre Brasil e Venezuela:

• 1999 a 2007: construção de parceria estratégica;

• 2008 a 2012: tentativa de cooperação ampla;

• 2013 a 2015: retração e paralisia da cooperação;

• 2016 a 2018: mudança de estratégia e deterioração das relações bilaterais; e

• 2019 a 2021: rompimento e pressão pela mudança de regime.

Nas próximas seções, discute-se a evolução das relações entre Brasil e Venezuela à luz desses
cinco principais momentos identificados, sob as óticas político-diplomática, econômico-comercial
e de segurança e defesa. No primeiro eixo, debatem-se as iniciativas de caráter diplomático
entre os dois países, como acordos, viagens, reuniões e divergências de posições. No segundo,
são abordadas as interações econômico-comerciais, considerando os eixos comercial, de infra-
estrutura e energético. Por fim, no terceiro, são consideradas as questões relativas à segurança
internacional e regional e defesa, envolvendo elementos como relações militares, transferências
de armamentos e negociações em âmbito regional. Em todas essas dimensões são consideradas
as dinâmicas bilateral e multilateral.

41
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

5 DIMENSÃO POLÍTICO-DIPLOMÁTICA

No campo das interações político-diplomáticas, o Brasil foi palco da intensificação e deterio-


ração de uma parceria estratégica com a Venezuela, que caminhou em paralelo com o período de
ascensão e queda do engajamento regional brasileiro na América do Sul. Posteriormente, a partir
de 2015, houve uma inflexão tanto no modelo de inserção internacional como no posicionamento
brasileiro com relação à Venezuela, com gradual distanciamento e mudança nos principais eixos
de atuação.

5.1 Relações bilaterais

5.1.1 Estruturação da parceria estratégica e o processo de


ascensão e queda de um novo modelo de relações
bilaterais (1999-2015)

Um dos episódios mais marcantes do período ocorreu ainda na transição de governo de


Fernando Henrique Cardoso para o de Lula da Silva. Em dezembro de 2002, o emissário especial
do presidente eleito e futuro assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Marco
Aurélio Garcia, encontrou-se com Hugo Chávez, com o secretário-geral da OEA, César Gaviria,
e com representantes da oposição, a fim de contribuir com a mediação da crise (Cruz e Stuart,
2010, p. 71). O resultado desses encontros diplomáticos foi positivo para o desfecho da crise.
O Brasil acabou por contribuir com o envio de dois navios-tanque da Petrobras com 83 milhões
de litros de combustível para combater a situação de desabastecimento no país vizinho e com a
articulação do Grupo de Amigos do secretário-geral da OEA para a Venezuela (também conhe-
cido como Grupo de Amigos da Venezuela), composto por Estados Unidos, Brasil, Chile, México,
Portugal e Espanha, para mediar a crise (Galvão, 2011, p. 477; Pedroso, 2015).

A postura brasileira não foi vista como tradicional, principalmente pelo fato de ser conduzida
por um dirigente partidário com histórico de militância política de esquerda41 em um lugar cos-
tumeiramente exercido por diplomatas de carreira ou empresários (Cruz e Stuart, 2010, p. 72).

41. A questão foi foco de diversas críticas de acadêmicos, políticos e diplomatas sobre uma suposta
partidarização da política externa brasileira, entendida como excessivamente influenciada por visões
do Partido dos Trabalhadores (PT) sobre o Itamaraty (Almeida, 2010; Ricupero, 2010). Outros, porém,
argumentam que houve uma convergência de posições entre o pensamento preexistente em setores do
MRE e do PT (Cruz e Stuart, 2010; Lima, 2015; Pinheiro, 2000; Saraiva, 2010; Vigevani e Cepaluni, 2007).
Sobre a influência de partidos políticos na política externa brasileira do governo Cardoso (1995-2002) a
Lula da Silva (2003-2010), ver Mesquita (2012; 2013).

42
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Tal episódio destaca dois importantes traços das relações entre Brasil e Venezuela durante os go-
vernos Lula e Rousseff: um esforço de o governo brasileiro apresentar-se como mediador de crises
regionais e a existência de canais diplomáticos não tradicionais com o governo venezuelano. Ain-
da que não tenha havido convergência de agendas entre os dois governos em todas as áreas, os
contatos diplomáticos foram facilitados pelo histórico de proximidade ideológica entre os líderes.

Um termômetro representativo desse aumento de contatos diplomáticos são os esfor-


ços de diplomacia presidencial e de encontros dos dois países entre fins do governo FHC e o
período Lula da Silva. Uma análise do somatório dos encontros bilaterais e multilaterais (ta-
bela 1) ilustra claramente a intensificação das relações com o regime chavista no período Lula
(2000-2010). Comparativamente, a Venezuela foi o país sul-americano com que o Brasil mais teve
encontros bilaterais na gestão Lula. Cabe destacar também a significativa perda de impulso tanto
das relações bilaterais quanto com o restante da América do Sul a partir de 2011, reforçando a hi-
pótese de que o declínio na atuação regional se iniciou já no primeiro governo de Dilma Rousseff
(2011-2014) e não após a transição de governo em 2016 e 2019 (Cervo e Lessa, 2014;
Saraiva, 2014). A diplomacia presidencial, medida aqui em termos de viagens dos presidentes da Re-
pública, reforça essa tendência. Lula da Silva visitou a Venezuela seis vezes em seu primeiro mandato
(2003-2006) e sete vezes no segundo (2007-2010), enquanto Rousseff apenas visitou o país três vezes
em seu primeiro mandato (2011-2014)42 e nenhuma entre a sua reeleição e o impeachment, em 2016.

TABELA 1
Encontros bilaterais e multilaterais entre Brasil e demais países da América do Sul
Países 2000-2005 2006-2010 2011-2015 2016-2019
Argentina 7 12,0 9,0 4
Bolívia 1 8,0 4,0 3
Chile 0 4,0 4,0 5
Colômbia 6 7,0 5,0 2
Equador 3 5,0 1,0 1
Guiana 2 1,0 1,0 1
Paraguai 8 11,0 9,0 7
Peru 1 2,0 2,0 1
Suriname 3 5,0 3,0 1
Uruguai 2 11,0 18,0 6
Venezuela 15 20,0 10,0 0
Média por ano 8 17,2 15,2 7,75
Total 48 86,0 76,0 31
Fonte: MRE.
Elaboração dos autores.

42. Dados do MRE.

43
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Além do Protocolo de La Guzmanía, em 1994, outro importante marco das relações bilaterais
foi a elevação do status da Venezuela à condição de parceria estratégica, em 2005, que estabeleceu
as reuniões trimestrais entre os dois países (Briceño-Ruiz, 2016, p. 163; Moreira, 2018, p. 153). Muito
embora o termo seja utilizado de forma muito frágil e sem qualquer caracterização efetiva do que
representa para o Brasil, de 2005 em diante, a agenda de interações entre os dois países ampliou-se
substantivamente. A agenda era composta principalmente por uma cooperação no setor energético
entre 1998 e 2007 e evoluiria para uma parceria em vários setores entre 2008 e 2012. Até que, a
partir de 2013, as relações foram foco de gradual decadência. No campo energético, por exemplo, as
relações foram marcadas pelas interações entre a Petrobras e a PDVSA e promessas de projetos de
cooperação em diversas áreas – destaque para a iniciativa do projeto do Grande Gasoduto do Sul, que
ligaria a Venezuela até a Argentina (debatido em detalhe na seção 6). A partir de 2008 e 2009, o marco
central dessa cooperação foi a diversificação de atividades de cooperação com a instalação de diversas
agências estatais brasileiras no país andino, como a Caixa, ABDI, Ipea43 e Embrapa44 (quadro 1).

QUADRO 1
Agências estatais brasileiras instaladas na Venezuela (2008-2015)
Agência estatal Atividades Início Fim
Projeto piloto para urbanizar a favela de Catia.
Caixa Apoio ao Banco da Venezuela na área de serviços bancários para 2009 2015
populações de baixa renda.
Instalação de sete fábricas com tecnologia brasileira no marco do projeto de
instalação de 220 fábricas (Plan 200 Fábricas Socialistas).
Assessoria técnica para a elaboração e implementação do Plano Nacional
de Desenvolvimento Industrial da Venezuela.
ABDI Cooperação técnica com vias de produzir iniciativa semelhante ao Centro de 2008 2010
Biotecnologia da Amazônia 1 e ao desenvolvimento econômico-produtivo
do eixo Puerto Ordaz-Manaus.
Renovação da frota de ônibus venezuelana por veículos de transporte
coletivo movidos a gás fabricados no Brasil.
Facilitação do intercâmbio de informações e experiências adquiridas no
Brasil na área de pesquisa econômica enfocada no desenvolvimento.
Ênfase no aproveitamento dos estudos para as políticas públicas nacionais.
Ipea 2010 2015
Assessoramento dos governos por meio de estudos.
Organização de cursos e seminários de capacitação (PDVSA, Banco da
Venezuela, Ministério da Ciência e Tecnologia e outros).
Produção de sementes (com foco em feijão preto, soja e sorgo) e frango.
Embrapa Medidas para melhorar a sanidade animal. 2008 2013
Apoio à agricultura familiar e aperfeiçoamento da genética ovina, bovina e caprina.
Fonte: Moreira (2018).
Elaboração dos autores.

43. Para mais informações sobre a missão do Ipea na Venezuela, ver Barros (2011; 2012).
44. Sobre a cooperação agrícola Brasil-Venezuela e a atuação da Embrapa na transferência de tecnologia
para a construção de bancos de sementes, ver Hitner (2016).

44
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

O marco institucional dessa diversificação das iniciativas ocorreu durante o IX Encontro


Trimestral, em outubro de 2009, que desenvolveu uma agenda bilateral estruturada nos seguintes
eixos de cooperação: i) habitação, desenvolvida pela Caixa; ii) serviços bancários, a cargo da Caixa;
iii) indústria, efetivada pela ABDI; iv) pesquisa, a cargo do novo escritório do Ipea em Caracas;
v) infraestrutura sob responsabilidade do BNDES; vi) cooperação agrícola, a cargo da Embrapa;
vii) distribuição e fornecimento de energia; viii) desenvolvimento fronteiriço; ix) desenvolvimento
mineral; e x) novas áreas de cooperação com foco em temas sociais (Moreira, 2018, p. 205-206).
O encontro catapultou várias áreas de cooperação além do campo energético. Concomitantemente
à retração brasileira, houve aumento do engajamento de outros países, como China, Rússia, Irã
e, mais recentemente, Turquia.

A despeito dessas agendas de cooperação, houve também importantes contenciosos e divergên-


cias de posições entre Brasil e Venezuela no período. Os setores de finanças, defesa, biocombustíveis
e comunicações foram o foco dos principais atritos bilaterais. Adicionalmente, posições distintas
sobre a integração regional foram o principal foco de diferenças. Na área financeira, as diferenças
consolidaram-se em visões distintas sobre o papel e a forma de mecanismos de financiamento re-
gionais para a infraestrutura regional. Enquanto o Brasil buscava mecanismos que não se chocassem
ou substituíssem aqueles dos sistemas de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial) e interamericano
(BID), a Venezuela tinha o interesse de construir instituições financeiras autônomas para a região.
Na área de defesa, a Venezuela também tinha uma postura mais radical que a brasileira. A diplo-
macia brasileira buscava mecanismos para limitar a intervenção extrarregional na América do Sul,
garantir maior autonomia estratégica à região, mediar problemas regionais e coordenar posições em
outros fóruns. Já o regime chavista tinha interesse de unificar as forças armadas sul-americanas e
criar uma doutrina militar conjunta sob a ótica anti-imperialista, particularmente contra os Estados
Unidos. No Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) da Unasul, durante todo seu período ativo
(2008-2018), prevaleceu a visão brasileira.

O campo de energia e biocombustíveis constituiu-se outro ponto de importante divergência


entre os dois países. O governo da Venezuela apresentava o argumento de que a difusão global
de biocombustíveis afetaria a segurança global de alimentos em um contexto em que o Brasil
lograva ampliar a demanda internacional por biodiesel e etanol, uma agenda de cooperação
entre os governos brasileiro de Lula da Silva e norte-americano de George W. Bush. Tais diver-
gências foram levadas, inclusive para o plano multilateral, no contexto da I Cúpula Energética
Sul-Americana, em 2007 (Serbin, 2011, p. 148-149). No encontro – cujos eixos centrais foram
a integração da infraestrutura energética sul-americana, o tratamento das fontes energéticas e a
construção da ideia de segurança energética para a região –, o governo brasileiro defendeu que
não havia divergência, mas complementaridade entre as agendas de biocombustíveis e combus-
tíveis fósseis (Galvão, 2011, p. 493).

45
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Por fim, outra divergência diplomática importante no período referiu-se à postura venezuelana
sobre os esforços do país em influenciar regimes da região, difundindo uma imagem positiva do
regime no exterior e as limitações de liberdade dos meios de comunicação na Venezuela. Em 2006,
a PDVSA financiou a escola de samba Unidos de Vila Isabel em seu samba enredo Soy loco por ti
América, que tratou de Simón Bolívar e as ideias do bolivarianismo. A diplomacia brasileira enten-
deu a iniciativa da Venezuela não apenas como uma forma de divulgar os ideais chavistas, mas
também como uma incursão indireta pela sociedade brasileira (Galvão, 2011, p. 489). No mesmo
ano, o governo Chávez anunciou que cassaria os direitos de imagem da Radio Caracas Televisión
(RCTV), classificado como “um canal golpista” que não poderia ser inserido no novo marco legal do
setor. Tal situação gerou críticas no Congresso Nacional brasileiro e uma réplica de Chávez de que o
Senado Federal brasileiro era, nas palavras do chefe de Estado venezuelano, “papagaio dos Estados
Unidos”. O acirramento da crise produziu um incidente diplomático e levou o presidente brasileiro à
época, Lula da Silva, a convocar o embaixador venezuelano no Brasil para esclarecimentos (Galvão,
2011, p. 489-491). Ainda assim, o contencioso diplomático não impediu que o Senado aprovasse a
entrada da Venezuela no Mercosul, por 35 votos a 27, em dezembro de 2009.

As relações bilaterais foram marcadas por um conjunto de iniciativas frustradas entre os


dois países (Moreira, 2018, p. 206-209). No campo energético, além do já constituído sistema
hidrelétrico do rio Caroní (conhecido como “linhão de Guri”), nenhum dos principais projetos foi
adiante, tais como o Grande Gasoduto do Sul, a parceria para a construção e operação conjunta
da Refinaria Abreu e Lima e outras parcerias entre a PDVSA e a Petrobras. Outras iniciativas, como
a criação de um gabinete social entre os dois países, a cooperação em mineração e a integração
produtiva entre Venezuela e o estado de Roraima, também não ganharam ímpeto no período.

A partir de 2011, várias outras iniciativas bilaterais perderam força e, gradualmente, as agên-
cias estatais internacionalizadas foram fechando seus escritórios em Caracas (quadro 1). Em
2013, o Brasil havia perdido parte considerável do espaço político conquistado na década de
2000, em especial pelo ganho de espaço político-econômico da China e, em menor escala, da
Rússia na Venezuela.45 O fim do superciclo das commodities e a crise do modelo de desenvol-
vimento econômico-social induzido pelo Estado reforçaram a retração e o declínio na política

45. Em entrevista a Moreira (2018, p. 208-210), realizada em 2013, o então titular da missão do Ipea na
Venezuela, Pedro Silva Barros, já apontava que a China gradualmente substituía o espaço ocupado pelo
Brasil na Venezuela: “O vácuo deixado pelo Brasil havia sido ocupado pela China, na avaliação de Silva
Barros. De fato, se considerados (...) 2003, 2008 e 2012, há um aumento da presença comercial chinesa
na Venezuela e um recuo brasileiro. Em 2003, as importações venezuelanas da China eram de apenas 2%
(Brasil: 6%); em 2008, passaram a 7% (Brasil: 11%); e em 2012, atingiram 17% (Brasil recuou para 9%).
Já as exportações mantiveram comportamento semelhante: 1% em 2003 (Brasil mesmo percentual); 4%
em 2008 (Brasil: 0%); 14% em 2012 (Brasil: 1%)”.

46
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

externa brasileira em comparação ao ativismo da década anterior (Cervo e Lessa, 2014, p. 134;
Vaz, 2014, p. 137).

5.1.2 Mudança de estratégia e pressão pela mudança de


regime (2016-2021)

A conturbada transição política de Chávez para Nicolás Maduro, em 2013, o aumento da


polarização política interna e a crescente crise econômica e social também pressionaram o Brasil
para mudar de postura com relação à Venezuela. A mudança, todavia, apenas viria de forma mais
brusca após o impeachment de Dilma Rousseff, durante seu segundo mandato (2015-2016) e sua
consequente substituição por Michel Temer (2016-2018). Os dois chanceleres do governo Temer,
José Serra (2016-2017) e Aloysio Nunes (2017-2018), adotaram uma postura bastante distinta
da anterior. A despeito da transição pelo impeachment ter tido impactos mais imediatos sobre
as relações bilaterais, um esboço da inflexão já se desenhava no início de 2015. A polarização
política interna em função do resultado apertado das eleições de 2014 reforçaram a divisão social
e a polarização política no país.

Ainda assim, já havia um esboço dessa inflexão por ações da oposição em fins de 2014 e início
de 2016. O tema da política interna venezuelana havia penetrado o debate eleitoral brasileiro e, no
início do segundo mandato de Dilma Rousseff, também foi importante tema da polarização política
nacional. No início de 2015, por exemplo, o Itamaraty apoiou a visita da Comissão de Relações
Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado Federal brasileiro à Venezuela. A visita enfrentou
protestos de grupos hostis à sua presença em Caracas, o que ocasionou uma manifestação do
Itamaraty para solicitar ao governo venezuelano os “devidos esclarecimentos sobre o ocorrido”.46
Em fevereiro de 2016, ainda antes da consolidação do processo de impeachment no Brasil, o
chanceler e o parlamento brasileiros receberam a visita de uma delegação da Assembleia Nacional
venezuelana composta pelos deputados Luis Florido (presidente da Comissão Permanente de
Política Exterior, Soberania e Integração), e pelo deputado Williams Dávila Barrio (membro da
mesma comissão).47 O recebimento da visita denotou a continuidade do interesse brasileiro de
negociar com a oposição venezuelana, algo já iniciado em anos anteriores.

A principal mudança de postura foi iniciada, todavia, nas gestões dos chanceleres Serra e
Nunes. As tentativas de mediação dos anos anteriores deram lugar a um aumento da pressão
brasileira contra o regime venezuelano, adotando notas diplomáticas e agrupando-se a

46. Ver Brasil (2015).


47. Disponível em: <https://web.archive.org/web/20190118022213/http:/www.itamaraty.gov.br/pt-BR/
notas-a-imprensa/13246-visita-de-delegacao-parlamentar-venezuelana>.

47
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

países que emitiram posturas severas. A atuação brasileira teve quatro características centrais:
i) isolamento da Venezuela nos organismos regionais; ii) desvalorização de mecanismos regio-
nais recentes, como Unasul e Celac; iii) pressão contra o regime a partir de iniciativas regionais
fragmentadas, como o Grupo de Lima; e iv) criação de infraestrutura para recepção e interioriza-
ção de migrantes e refugiados venezuelanos.

O primeiro ponto a ser observado esteve no âmbito do Mercosul. A Venezuela foi suspensa
do bloco por duas vezes, uma sob a justificativa de não adequação às normas tarifárias do bloco
(2016) e outra por descumprir o Protocolo de Ushuaia do Mercosul (2017). A suspensão definitiva
ocorreu quando os países-membros reconheceram a ruptura da ordem democrática no país e de-
cidiram que, uma vez restabelecida a democracia na Venezuela, o país poderia ser reincorporado
ao grupo.48 Ambas as suspensões do país andino permitiram que o Brasil reforçasse sua nova
diretriz de política externa, qual seja, enfatizar a perspectiva econômico-comercial do Mercosul,
especialmente priorizar as negociações de um acordo de livre-comércio com a UE.

No que concerne ao segundo e ao terceiro pontos, o Brasil passou a rejeitar o uso das iniciati-
vas regionais instauradas em governos anteriores, como a Unasul e a Celac, em benefício de novas
iniciativas fragmentadas, no sentido de não incluírem todos os países da região. Já em junho de
2016, por exemplo, o governo brasileiro divulgou uma nota diplomática conjunta com Argentina,
Brasil, Chile e Uruguai “lamentando os atos de violência” e fomentando o “diálogo pacífico com
métodos democráticos”.49 Cabe destacar que essa posição foi muito diferente, por exemplo, do
tom da nota de encontro realizado entre chanceleres de Argentina, Brasil e Venezuela, pouco antes
dessa reunião, em setembro de 2015, na qual o Brasil defendia a negociação e solução pacífica
de controvérsias.50

A desvalorização dos mecanismos regionais que contavam com a totalidade dos países da
América do Sul (Unasul) e da ALC e a mudança de tom diplomático abriram precedentes para que,
em 2017, o Brasil se engajasse na proposta peruana de um agrupamento de países das Américas
para lidar com a crise da Venezuela à margem da OEA. A iniciativa foi estabelecida em 2017,
com a criação do Grupo de Lima51 e as seguidas notas diplomáticas conjuntas, com tons bastante

48. Ver Brasil (2016b).


49. Ver Mercosur (2017).
50. No encontro, a nota diplomática publicada apontava que “os ministros Mauro Vieira e Héctor
Timerman buscam promover e aprofundar o diálogo entre as partes, dada a importância que conferem à
unidade da região e à solução pacífica e negociada das controvérsias” (Brasil, 2016b).
51. Composto inicialmente por Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Canadá, Costa Rica, Guatemala,
Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru.

48
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

rígidos. No mesmo período, o Brasil subiu o tom em suas notas individuais. Em agos-
to de 2017, por exemplo, o governo brasileiro criticou em nota do MRE a destituição da
procuradora-geral da Venezuela, Luiza Ortega, apontando que foi “ilegal e arbitrária” e que confir-
mava a“instauração de um estado de exceção na Venezuela”.52 No mesmo mês, após a Assembleia
Nacional Constituinte (ANC) ser autorizada a assumir funções legislativas, reduzindo as atri-
buições da Assembleia Nacional, o Brasil e os países do Mercosul apontaram que houve uma
“usurpação das atribuições do Legislativo”.53 A despeito dessa postura, o Brasil ainda manteve
no período uma preocupação com evitar qualquer solução que se utilizasse da força como res-
posta para a crise venezuelana.54

Cabe destacar, todavia, que tais posturas mais vocais contra o regime venezuelano não con-
taram com um esforço concomitante de negociações bilaterais ou de mediação brasileira. Essa
atuação foi bastante diferente do histórico brasileiro em outras crises regionais e, até mesmo
com a Venezuela, durante a tentativa de golpe de 2002 e a posterior paralisação petroleira entre
dezembro de 2002 e janeiro de 2003 ou os protestos de 2014, quando o chanceler brasileiro
formou um grupo com seus homólogos da Colômbia e Equador para fomentar o diálogo entre
governo e oposição no âmbito da Unasul.

Diferentemente de períodos anteriores, entre 2016 e 2019, o governo brasileiro não se reu-
niu uma única vez com Nicolás Maduro ou com o chanceler venezuelano (tabela 1). A postura
brasileira de ampliar a pressão contra o governo venezuelano e pela suspensão da Venezuela do
Mercosul, as notas diplomáticas conflitivas e a participação na criação do Grupo de Lima leva-
ram, inclusive, à expulsão do embaixador brasileiro pela Venezuela em dezembro de 2017.55 Em
fevereiro de 2019, Jair Bolsonaro recebeu o autodeclarado presidente venezuelano Juan Guaidó,
que foi reconhecido por Brasil, Grupo de Lima, Estados Unidos e a maior parte dos países euro-
peus. Em 2020 e 2021, não houve encontros entre os presidentes de Brasil e Venezuela, seja com
Nicolás Maduro, seja com Juan Guaidó.

Cabe destacar, todavia, que houve uma singela mudança de tom entre a chancelaria de José
Serra (2016-2017) e a de Aloysio Nunes Ferreira (2017-2018) com relação à Venezuela. No iní-
cio do governo de Michel Temer, o Brasil utilizou-se de termos bastante contundentes para tratar
da crise venezuelana, como “usurpação”, algo pouco comum na tradição diplomática brasileira
em relação aos países vizinhos. Após ascensão de Aloysio Nunes, a crítica ao regime venezuelano

52. Ver Brasil (2017a).


53. Ver Brasil (2017c).
54. Ver Brasil (2017c).
55. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-42468776>.

49
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

seguiu. Seu tom, porém, foi ajustado com a preocupação de coordenar, nas palavras do chan-
celer, “o respeito aos direitos humanos” e “o respeito à soberania de cada um dos povos”.
O chanceler mostrou-se preocupado em como equilibrar a “pressão internacional” com “a
capacidade interna de formular uma visão e uma estratégia própria” das forças democráticas da
Venezuela, reforçando que o Brasil estava oferecendo o diálogo, “especialmente com as forças de
defesa e segurança da Venezuela” (Brasil, 2018a).

Ainda assim, a postura crítica do governo brasileiro afetou as relações bilaterais, que vinham
se deteriorando mais rapidamente desde a transição de governo. A escalada aumentou em de-
zembro de 2017. Após o resultado das eleições para a ANC e o início dos trabalhos, o governo
venezuelano declarou o embaixador brasileiro persona non grata, posição repetida pelo Brasil no
mesmo mês. Canais de diálogo entre os dois governos, porém, foram mantidos. Como aponta-
ria Nunes Ferreira na OEA, em junho de 2018, um dos eixos das relações bilaterais foi mantido
pela via das forças de segurança. Em setembro de 2018, o ministro da Defesa brasileiro, general
Joaquim Silva e Luna (2016-2018), realizou visita à Venezuela para tratar de diferentes pontos da
agenda bilateral e tentar diminuir a tensão entre os governos. O encontro não foi anunciado pre-
viamente nem incluído em sua agenda pública, para evitar problemas que uma divulgação prévia
pudesse gerar. Nas palavras de Silva e Luna: “Eu procurei esconder. Foi estratégia minha, mesmo.
Eu não sabia como ia ser essa recepção. As relações diplomáticas com a Venezuela estão rompidas.
Nosso embaixador foi expulso. Estamos há dez meses sem ter contato com a Venezuela. É o primei-
ro representante do governo que vai ao país desde o rompimento” (Sassini, 2018).

De acordo com informações oficiais, o encontro não foi necessariamente secreto e o objetivo
foi “estreitar relações entre as forças armadas dos dois países por intermédio de reuniões bilate-
rais de fronteiras, grupos de trabalho, do aumento do número de militares em cursos nas escolas
militares, e da criação de parcerias estratégicas na área de produtos de defesa” (Brasil, 2018a).
Tal tipo de relacionamento, a diplomacia de defesa ou diplomacia militar, também é fundamental
para o estreitamento de relações amistosas entre os dois países, pois permite adensamento de
relações bilaterais em vários outros âmbitos. No caso daquele período, havia o interesse de se
utilizar o recurso da defesa para evitar uma escalada de tensões entre os dois países e a inter-
rupção da transmissão de energia da Venezuela para o estado de Roraima. Uma crise energética
concomitante à tensão migratória poderia elevar a instabilidade fronteiriça.

Desse modo, as relações bilaterais no governo Michel Temer foram marcadas por uma pres-
são internacional do Brasil sob a Venezuela e uma escalada do discurso, mas, gradualmente, uma
tentativa de estabelecer o diálogo ao final do governo, durante a gestão de Aloysio Nunes Ferreira.
O objetivo brasileiro com essa inflexão entre chanceleres decorreu de uma dose de pragmatismo

50
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

para lidar com desafios concretos, como manter canais necessários de interlocução para reforçar
o bem-estar de brasileiros na Venezuela, evitar surtos epidemiológicos, manter o abastecimento
energético em Roraima e reforçar a segurança nas fronteiras entre os dois países (Brasil, 2019a).

No entanto, findo o governo de Michel Temer, a postura brasileira e as relações bilaterais re-
tomaram a direção combativa e atingiram um novo patamar de rompimento, dadas as mudanças
internas do Brasil e da Venezuela. O início da gestão de Jair Bolsonaro coincidiu com o aumen-
to das tensões no vizinho andino. Em 23 de janeiro de 2019, o então presidente da Assembleia
Nacional, Juan Guaidó, autoproclama-se presidente da República, sob alegação de que as eleições
de 2018 haviam sido fraudadas e, portanto, o novo mandato de Nicolás Maduro era ilegítimo.
Quando tal situação ocorre, de acordo com a Constituição da República Bolivariana da Venezuela, o
presidente da Assembleia Nacional assume temporariamente até que sejam convocadas novas elei-
ções. Guaidó teve o reconhecimento de diversos países, entre os quais o novo governo brasileiro.

O Brasil passou a relacionar-se somente com Guaidó e seus representantes, e a reforçar o


tom de confronto com o regime de Maduro. A diplomacia brasileira do período atuou em três
eixos centrais: i) subiu o tom de confronto com o regime venezuelano; ii) buscou ampla coope-
ração no Grupo de Lima e de outras organizações internacionais; e iii) atuou em parceria com
o governo dos Estados Unidos de Donald Trump para pressionar o regime. O alinhamento sem
precedentes com o governo estadunidense foi um dos principais fatores que alteraram as relações
bilaterais com a Venezuela (Vidigal e Bernal-Meza, 2020, p. 20-23).

A estratégia brasileira no período foi de reduzir os canais de comunicação com o governo


Maduro, ampliar a rede de suporte internacional a Guaidó e, principalmente, a pressão para a
mudança de regime. Diferentemente do governo anterior, não houve tanta preocupação em man-
ter os contatos com o governo Maduro, mas sim em tentar criar as condições para a transição de
governo. Tal postura esteve manifesta nos posicionamentos do país em notas oficiais e discursos.
Em 17 de janeiro de 2019, por exemplo, o ministro das Relações Exteriores brasileiro referiu-se
ao regime de Maduro como “um mecanismo de crime organizado”, “baseado na corrupção
generalizada, no narcotráfico, no tráfico de pessoas, na lavagem de dinheiro e no terrorismo
internacional” (Brasil, 2019b).

Um dos principais eventos dessa mudança de postura ocorreu em 23 de fevereiro de 2019.


Os governos brasileiro, colombiano e norte-americano, em coordenação com o Juan Guaidó, mo-
bilizaram um comboio de caminhões de ajuda humanitária para a Venezuela, saindo das cidades
de Pacaraima, na fronteira brasileira, e de Cúcuta, na fronteira colombiana. A Venezuela fechou as
fronteiras com os dois países, bloqueando a passagem dos comboios. Houve confrontos entre a
guarda nacional e colectivos (grupos políticos informais, frequentemente associados ao chavismo)

51
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

de um lado, e a população local, de outro, resultando na passagem de alguns poucos insumos hu-
manitários pela fronteira brasileira (Casey, Linares e Kurmanaev, 2019; Rahim, 2019). Tal postura de
alta pressão sob o governo vizinho foi um rompimento substantivo com a política externa do Brasil
de outros governos, e, principalmente, com a tentativa de moderação do governo anterior.

O governo brasileiro cogitava que haveria uma transição de regime em breve; porém, essa
era uma posição diferente da avaliação dos Estados Unidos. Em suas memórias, o assessor de
segurança nacional do governo Trump, John Bolton, descreveu a visão do ministro da Defesa do
Brasil, Fernando Azevedo Silva, como otimista, pois entendia que o fim do regime estaria próximo.
A visão brasileira, todavia, foi bastante distinta da visão do governo norte-americano que, mes-
mo tentando ampliar a pressão sobre Maduro para retirá-lo do poder e forçar uma transição de
regime, entendia que o papel de Rússia e China era ainda um fator de resistência (Bolton, 2020,
p. 116). Por exemplo, logo após esse evento, Rússia e China enviaram ajuda humanitária em
resposta ao movimento dos Estados Unidos, e o governo russo, em especial, encaminhou espe-
cialistas militares para a Venezuela (Lima, 2019).

A visão brasileira de que a transição estava próxima foi reforçada pelo apoio manifesto à
indicação do representante de Juan Guaidó, o economista Ricardo Hausmann, para o Conselho
do BID e na Corporação Interamericana de Investimentos (CII). Em nota, o Itamaraty reforçou
que a decisão “demonstra, uma vez mais, a rejeição internacional ao regime de Nicolás Maduro”
(Brasil, 2019c). Diferentemente do que o governo brasileiro esperava, não houve uma transição
no país e, até o momento, Nicolás Maduro permanece no poder. Ainda assim, o Brasil manteve a
pressão contra o regime.

Em agosto de 2019, o Brasil adotou as primeiras sanções unilaterais de sua história recente
contra um país vizinho, pela Portaria Interministerial no 7, do Ministério da Justiça e Segurança
Pública (MJSP) e do MRE. O documento teve a finalidade de efetivar o “impedimento do ingresso
no País de altos funcionários do regime venezuelano” por contrariarem “princípios e objetivos da
Constituição Federal, atentando contra a democracia, a dignidade da pessoa humana e a preva-
lência dos direitos humanos”; e indicou que o Itamaraty enviaria uma lista de nomes de pessoas
impedidas de entrar no Brasil para o MJSP (Brasil, 2019d).

Em março de 2020, o Brasil decidiu reforçar o rompimento diplomático com a Venezuela, data
em que removeu quatro diplomatas e outros onze funcionários da embaixada e do consulado-geral
do Brasil em Caracas, e dos consulados em Ciudad Guayana, Puerto Ayacucho e Santa Elena de

52
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Uairén56 (Brasil, 2020a; 2020b). O Brasil exigiu a saída dos representantes do regime de Maduro
da embaixada em Brasília. A pressão brasileira, todavia, não resultou na saída dos diplomatas
venezuelanos. Em fins de abril de 2020, por exemplo, o ministro das relações exteriores da Vene-
zuela, Jorge Arreaza, apresentou uma nota afirmando que o Brasil estaria violando a Convenção de
Viena e afirmou que o país não retiraria seus funcionários da embaixada (Gobierno Bolivariano
de Venezuela, 2020). Como resposta, meses depois, o governo brasileiro declarou, em setem-
bro de 2020, o corpo diplomático do governo Maduro como personae non gratae (Brasil, 2020e).

Essa situação anômala de ter dois corpos diplomáticos de um mesmo país em Brasília gerou
diversas tensões. Um exemplo ocorreu em novembro de 2019. Naquele mês, quando Brasília re-
cebia os chefes de Estado da África do Sul, China, Índia e Rússia por ocasião da Cúpula do BRICS,
houve uma tentativa de invasão da embaixada venezuelana por parte de apoiadores de Guaidó,
gerando instabilidade e insegurança no local. O governo brasileiro, por meio do Gabinete de Se-
gurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR), prontamente apresentou uma nota
à imprensa para apontar que não teve relação com o incidente e que atuaria para estabilizar a
segurança do local (Schreiber, 2019). Outro caso ocorreu no mês seguinte, quando cinco militares
desertores venezuelanos atacaram um quartel no estado de Bolívar e, logo após, fugiram para o
Brasil e pediram refúgio. O governo brasileiro optou por processar a solicitação e não responder
às demandas de Nicolás Maduro pela devolução dos militares. Tal situação levou, novamente, a
um ataque retórico do regime venezuelano ao Brasil em fevereiro de 2020. Segundo Maduro, o
governo brasileiro estaria “arrastando as forças militares do Brasil a um conflito armado com a
Venezuela” (Fernandes e Turollo Junior, 2019).57

Nota-se, portanto, que houve uma escalada retórica e de tensões diplomáticas sem prece-
dentes entre Brasil e Venezuela (quadro 2). Não houve, contudo, desestabilização concreta ou
transição política na Venezuela.

56. A posição de ampliar a pressão contra a Venezuela é similar àquela adotada por Estados Unidos e
Colômbia. Os Estados Unidos têm aplicado crescentes sanções contra o regime venezuelano desde 2017,
com foco especial em limitar os contatos internacionais do regime de Nicolás Maduro e enfraquecer o
setor petroleiro do país. No concernente aos contatos diplomáticos, os Estados Unidos suspenderam sua
embaixada em Caracas em 12 de março de 2019 e instalaram uma Unidade de Assuntos Venezuelanos
em Bogotá, na Colômbia. Disponível em: <https://www.state.gov/u-s-relations-with-venezuela/>.
57. Ver também: <https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/02/maduro-acusa-bolsonaro-de-arrastar-
brasil-a-conflito-armado.shtml>; e <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/02/14/maduro-acusa-
bolsonaro-de-arrastar-brasil-para-conflito-armado.ghtml>.

53
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

QUADRO 2
Resumo dos eventos e posições brasileiras em relação à Venezuela (2016-2020)
Decisão Data
Setembro
Criação do Grupo de Lima às margens das organizações multilaterais
de 2017
Dezembro
Suspensão da Venezuela do Mercosul
de 2017
Dezembro
Declaração do embaixador da Venezuela no Brasil como persona non grata
de 2017
Fevereiro
Instalação da Operação Acolhida na fronteira Brasil-Venezuela
de 2018
Setembro
Visita do ministro da Defesa brasileiro à Venezuela
de 2018
Janeiro
Reconhecimento de Juan Guaidó como o presidente oficial da Venezuela
de 2019
Fevereiro
Operação para envio de ajuda humanitária à Venezuela com Estados Unidos e Colômbia
de 2019
Março
Reconhecimento do representante de Juan Guaidó no BID e na CII
de 2019
Agosto
Impedimento unilateral da entrada de altos funcionários do regime Maduro no Brasil
de 2019
Novembro
Brasil nega participação na invasão da embaixada venezuelana por apoiadores de Juan Guaidó
de 2019
Retirada dos diplomatas e funcionários brasileiros da embaixada, do consulado-geral e dos demais Março
consulados na Venezuela de 2020
Março
Restrição temporária da entrada de venezuelanos no país devido à pandemia de covid-191
de 2020
Apoio à proposta de Moldura Institucional para a Transição Democrática na Venezuela sugerida pelos Abril
Estados Unidos de 2020
Setembro
Declaração do corpo diplomático do regime de Nicolás Maduro como personae non gratae
de 2020
Janeiro
Última manifestação do Grupo de Lima
de 2021
Setembro
Brasil não envia representantes para a Cúpula da Celac
de 2021
Fonte: Site do Ministério das Relações Exteriores (2022).
Elaboração dos autores.
Nota: 1 Portaria n o 159, de 31 de março de 2020. Disponível em: <https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-
n-158-de-31-de-marco-de-2020-250477893>.

O período imediatamente após a mudança de abordagem das relações bilaterais pode ser
observado também no gráfico 1. Nota-se, por exemplo, que os encontros bilaterais entre os dois
países desapareceram e a principal abordagem diplomática do Brasil tem sido a atuação via or-
ganismos multilaterais para ampliar a pressão ao regime.

54
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

GRÁFICO 1
Análise quantitativa das notas diplomáticas, reuniões bilaterais e declarações de
organizações multilaterais sobre a Venezuela por parte do MRE do Brasil1
60

50

40

30

20

10

Notas Reuniões Declarações de


organizações multilaterais
2011-2014 2015-2018 2019-2021

Fonte: MRE. Base de dados completa disponível no apêndice. A base de dados inclui notícias e discursos
que não foram incluídos na elaboração do gráfico.
Elaboração dos autores.
Nota: 1 Dados do site do MRE do Brasil até novembro de 2021.

A estratégia de isolar regionalmente o governo de Nicolás Maduro ao passo que os Estados Uni-
dos impunham sanções e o Grupo de Lima ampliava a pressão internacional ainda não surtiu os efeitos
desejados pelo governo brasileiro e tem impedido qualquer posição do Brasil como negociador e me-
diador da crise na região. A estratégia de pressão elevada contra o governo venezuelano foi, inclusive,
criticada pelo ACNUDH. Em 12 de junho de 2021, Michelle Bachelet, a alta comissária da ONU para
os Direitos Humanos, destacou o impacto negativo para os direitos humanos que sanções e pressões
unilaterais têm para a população venezuelana. De acordo com Bachelet, sanções unilaterais contra os
setores petroleiros, mineiros e outros setores econômicos constituem uma violação do direito interna-
cional, e a campanha de máxima pressão contra o regime venezuelano viola o princípio de soberania,
igualdade entre os estados e não intervenção em assuntos internos (OHCHR, 2021).

Com a proximidade do fim do mandato da Assembleia Nacional, em janeiro de 2021, e


a realização de novas eleições parlamentares, em dezembro de 2020, os governos de Brasil,
Estados Unidos e do Grupo de Lima buscaram novas estratégias para realizar a mudança de
regime. Ainda que o governo de Donald Trump apontasse para a ampliação das sanções econô-
micas sob o setor petroleiro venezuelano, no segundo semestre de 2020, a Secretaria de Estado
dos Estados Unidos, liderada por Mike Pompeo, propôs, em fins de março, o que chamou de uma
Moldura Institucional para a Transição na Venezuela (quadro 3).

55
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

QUADRO 3
Proposta dos Estados Unidos de nova moldura institucional para a transição
democrática na Venezuela
Etapas Medidas Contrapartidas
Retomada das atividades da Assembleia Nacional
Os Estados Unidos retirem suas sanções
1 sem interferência da Suprema Corte e
contra os membros da ANC.
dissolução da ANC.
2 Libertação de todos os presos políticos. -
Forças de segurança estrangeiras deveriam deixar
3 o país e apenas permanecer na Venezuela se
-
autorizadas por três quartos da Assembleia Nacional.
Eleição de um novo Conselho Nacional Eleitoral (CNE)
e indicação de novos membros da Suprema
Os Estados Unidos retirariam as sanções contra
4 Corte que sejam aceitos por todos os partidos ou
antigos membros do CNE e da Suprema Corte.
coalizões, que tenham ao menos 25% de seus
membros da Assembleia Nacional.
Aprovação de uma nova lei para criar um Conselho
-
5 de Estado que assumiria temporariamente
o Poder Executivo.
Conselho de Estado adquire todos os poderes Os Estados Unidos e a UE retiraram as sanções
6
constitucionais do presidente durante a transição. contra PDVSA e o setor petroleiro.
Os Estados Unidos retiram sanções contra membros
7 O Conselho de Estado nomeia um novo ministério.
do ministério anterior.
Os Estados Unidos retiram as sanções
Conselho de Estado é plenamente estabelecido e as
8 contra os membros das Forças Armadas
forças de segurança estrangeiras deixam o país.
Nacionais bolivarianas.
A comunidade internacional proporciona apoio
humanitário, eleitoral, econômico, para
Negociações e atuação de Banco
governança e desenvolvimento.
9 Mundial, FMI, BID e outros programas de
Programas de assistência social são suplementados
desenvolvimento internacional.
pelo apoio internacional e devem garantir acesso a
todos os cidadãos venezuelanos.
Estabelecimento de comissão da verdade e Argentina, Canadá, Colômbia, Chile, Paraguai e
10 reconciliação para investigar atos de violência e Peru retiram seu processo contra o país na Corte
violações de direitos humanos desde 1999. Internacional de Justiça (CIJ).
Conselho de Estado define uma data para eleições
11 -
presidenciais e parlamentares em seis a doze votos.
Eleições realizadas com apoio e consenso de
12 Estados Unidos retiram demais sanções.
observadores internacionais.
Comissão bipartidária no âmbito da Assembleia
13 Nacional é formada para criar soluções de longo prazo -
para reabilitar a economia e refinanciar a dívida.

Fonte: DOS (2020).


Elaboração dos autores.

56
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

A proposta previa a substituição dos governos Maduro e Guaidó por um Conselho de Estado
bipartidário, a retirada de todas as forças estrangeiras do território venezuelano (em referência à
Rússia e China), um processo de transição gradual acompanhado também pela eliminação das
sanções dos Estados Unidos, e continuidade dos atores atuais enquanto a transição ocorre. A pro-
posta foi prontamente apoiada pelo governo do Brasil, que se apresentou como país pronto para
apoiar a transição democrática do país (Brasil, 2020d). Desde então, as negociações e relações
bilaterais entre Brasil e Venezuela permanecem paralisadas.

5.1.3 Operação Acolhida e a recepção de migrantes e


refugiados venezuelanos (2018-2021)

Outro ponto importante das relações bilaterais deu-se pelo aumento dos fluxos de migrantes
da Venezuela e pelo acirramento da crise econômica e humanitária. A pressão sobre as fronteiras
brasileiras ocorreria, principalmente, entre fins de 2017 e início de 2018. Os números de migrantes do
país vizinho cresceriam tanto que, em janeiro de 2021, por exemplo, o número total de migrantes
e refugiados venezuelanos em todo o globo atingiu a marca inédita de 5.914.519 pessoas –
2.596.070 venezuelanos com autorização de residência no exterior, 850.119 com solicitações pen-
dentes de refúgio e um total de 258.824 refugiados oficialmente reconhecidos.58

O Brasil concedeu o status de refugiado a 46.923 venezuelanos, tem 144.996 venezuelanos


com visto de residência permanente e um total de 258.824 venezuelanos entre migrantes e refu-
giados no país.59 Trata-se da maior crise humanitária do hemisfério, com o potencial de superar o
número de refugiados e migrantes da Síria. De acordo com estudo de 2019, a crise venezuelana
é uma das crises humanitárias com menor volume de financiamento internacional.60 O gráfico 2
ilustra o acumulado do número de migrantes por país desde o acirramento das tensões entre
governo e oposição na Venezuela, de 2014 a agosto de 2021.

58. Dados da Plataforma de Coordinación Interagencial para Refugiados y Migrantes (R4V), de 22 de


novembro de 2021. Disponível em: <https://r4v.info/es/situations/platform>.
59. Dados da R4V, de 22 de novembro de 2021. Disponível em: <https://r4v.info/es/situations/platform>.
60. Disponível em: <https://www.brookings.edu/blog/up-front/2019/12/09/venezuela-refugee-crisis-to-
become-the-largest-and-most-underfunded-in-modern-history/>.

57
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

GRÁFICO 2
Total de migrantes da Venezuela por país, em estoques (2014-2021)1

Colômbia 1.742.927
Peru 1.286.464
Equador 482.897
Estados Unidos 465.200
Chile 448.138
Espanha 415.000
Brasil 261.441
Argentina 173.248
Panamá 121.598
República Dominicana 115.283
México 82.976
Itália 59.400
Costa Rica 29.900
Trinidade e Tobago 28.500
Canadá 22.400
Guiana 22.000
Aruba 17.000
Curaçao 16.500
Uruguai 15.200
Bolívia 11.000
Paraguai 5.100

Fonte: ACNUR (2020).


Elaboração dos autores.
Nota: 1 Dados da R4V. Disponível em: <https://r4v.info/es/situations/platform>. Última atualização em
novembro de 2021.

Ainda que o Brasil não seja o maior receptor de migrantes, houve fluxos muito intensos para
a infraestrutura da pequena cidade de Pacaraima, no estado de Roraima. Tal situação levou o
governo brasileiro a instar uma grande infraestrutura local para a recepção e o direcionamento
desses migrantes, denominada de Operação Acolhida,61 instalada no início de 2018, após o agra-
vamento da situação de segurança e infraestrutura em Roraima. A operação esteve estruturada
em três eixos centrais: i) ordenamento da fronteira, no qual são emitidos documentos e é realiza-
da a vacinação e a implementação da Operação de Controle do Exército; ii) acolhimento, no qual
são ofertados abrigo, alimentação e atenção de saúde para os migrantes; e iii) interiorização, no

61. Coordenada pela Casa Civil e executada por cooperação entre agências governamentais como
Polícia Federal (PF), Defensoria Pública da União (DPU), Ministério da Saúde (MS), Comitê Nacional
para Refugiados (Conare), MD. A operação construiu três infraestruturas centrais para a recepção dos
migrantes nas cidades de Pacaraima, Boa Vista e Manaus. O Exército é o responsável por coordenar a
Força-Tarefa Logística Humanitária (FTLogHum). Mais informações disponíveis em: <https://www.gov.br/
casacivil/pt-br/acolhida/sobre-a-operacao-acolhida-2>.

58
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

qual há o deslocamento voluntário de venezuelanos de Roraima para outras Unidades da Fede-


ração (UF) (tabela 2).62

TABELA 2
Distribuição geográfica do processo de interiorização dos imigrantes venezuelanos
no Brasil entre 2018 e outubro de 2021
UF Pessoas interiorizadas
Paraná 10.220
Santa Catarina 9.702
Rio Grande do Sul 9.101
São Paulo 9.040
Amazonas 5.107
Mato Grosso do Sul 4.035
Minas Gerais 3.916
Mato Grosso 2.027
Rio de Janeiro 1.861
Goiás 1.665
Distrito Federal 1.644
Paraíba 836
Pernambuco 815
Bahia 776
Rondônia 753
Ceará 382
Rio Grande do Norte 267
Espírito Santo 233
Pará 101
Sergipe 63
Acre 56
Maranhão 27
Tocantins 23
Piauí 15
Alagoas 9
Amapá 6
Fonte: Painel da Interiorização (Ministério da Cidadania – MDS). Para mais detalhes dos dados, ver a estratégia
de interiorização elaborada pelo MDS. Disponível em: <http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/painel-interiorizacao/>.
Elaboração dos autores.

62. Disponível em: <https://www.gov.br/casacivil/pt-br/acolhida/sobre-a-operacao-acolhida-2>.

59
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Tal situação refletiu também nas concessões de benefícios sociais para venezuelanos no
Brasil. Segundo o MDS, o número de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF),
por exemplo, passou de 758 em janeiro de 2018 para o valor recorde de 18.347, em janeiro de
2021.63 Os estados mais afetados com esse crescimento ao longo do tempo foram, respectiva-
mente, Roraima, Amazonas, Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais,
conforme ilustram o gráfico 3 e as tabelas 3 e 4.

GRÁFICO 3
Número de famílias beneficiárias do PBF nascidas na Venezuela (2013-2021)
25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

Maio/2021
Maio/2017
Maio/2013

Maio/2015

Maio/2019
Maio/2016
Maio/2014

Maio/2018

Maio/2020

Jan./2021
Jan./2013

Set./2013

Jan./2015

Set./2015

Jan./2017

Set./2017

Set./2019
Jan./2016

Set./2016

Jan./2019

Jan./2020
Jan./2014

Jan./2018
Set./2014

Set./2018

Set./2020

Fonte: MDS. Para mais detalhes dos dados, ver a estratégia de interiorização elaborada pelo MDS. Disponível
em: <http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/painel-interiorizacao/>.
Elaboração dos autores.

TABELA 3
Interiorização, população e famílias venezuelanas beneficiadas pelo PBF por
UF (jun./2021)
Rio Grande Santa
Amazonas Paraná Roraima São Paulo Brasil
do Sul Catarina
População total 4.269.995 11.597.484 11.466.630 652.713 7.338.473 46.649.132 213.317.639
População (%) 2,0 5,4 5,4 0,3 3,4 21,9 100
Número de
venezuelanos 5.107 10.220 9.101 - 9.702 9.040 62.680
interiorizados
Venezuelanos
8,1 16,3 14,5 - 15.5 14,4 100
interiorizados (%)
(Continua)

63. Dados do MDS obtidos pela Lei de Acesso à Informação.

60
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Rio Grande Santa
Amazonas Paraná Roraima São Paulo Brasil
do Sul Catarina
Total de famílias
beneficiadas 405.602 413.344 404.172 51.695 141.040 16.988.74 14.695.025
pelo PBF
Famílias
venezuelanas 2.705 1.790 1.058 8.745 1.093 1.734 20.592
no PBF
Famílias
venezuelanas 0,7 0,4 0,3 16,9 0,8 0,1 0,1
no PBF (%)

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e MDS, com dados de população obtidos pela
projeção da população do IBGE para 2021 com base nos dados produzidos em 2018. Os dados de famílias
venezuelanas beneficiadas pelo PBF foram obtidos por solicitação na Lei de Acesso à Informação, e os dados
gerais do PBF foram obtidos no Portal Brasileiro de Dados Abertos.
Elaboração dos autores.

TABELA 4
Evolução do número de famílias beneficiárias do PBF de origem venezuelana (2013-2021)
Janeiro Janeiro Janeiro Janeiro Janeiro Janeiro Janeiro Janeiro Janeiro Junho
UF
de 2013 de 2014 de 2015 de 2016 de 2017 de 2018 de 2019 de 2020 de 2021 de 2021
Acre 0 0 0 0 0 0 0 2 23 31
Alagoas 0 0 0 0 0 0 0 0 2 5
Amazonas 0 0 5 19 37 77 274 592 2.743 2.705
Amapá 0 0 0 0 0 0 0 2 3 4
Bahia 0 0 0 0 2 3 15 49 73 102
Ceará 0 0 1 2 3 4 15 35 83 93
Distrito
0 0 0 3 1 4 9 34 95 120
Federal
Espírito
0 0 0 0 2 3 6 18 43 52
Santo
Goiás 0 0 2 1 6 13 26 85 196 300
Maranhão 0 0 0 0 1 4 3 18 61 62
Minas Gerais 0 0 1 4 7 8 22 138 379 565
Mato Grosso
0 0 0 0 0 1 3 74 344 389
do Sul
Mato Grosso 0 0 1 2 1 3 62 90 340 412
Pará 0 0 2 4 5 9 23 71 180 204
Paraíba 0 0 0 0 0 0 22 55 130 143
Pernambuco 0 0 0 0 1 1 26 70 126 157
(Continua)

61
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Janeiro Janeiro Janeiro Janeiro Janeiro Janeiro Janeiro Janeiro Janeiro Junho
UF
de 2013 de 2014 de 2015 de 2016 de 2017 de 2018 de 2019 de 2020 de 2021 de 2021
Piauí 0 0 0 0 1 0 3 7 20 64
Paraná 0 0 2 7 11 19 104 407 1.163 1.790
Rio de
0 0 2 4 7 18 65 96 206 289
Janeiro
Rio Grande
0 0 0 0 1 2 10 13 45 57
do Norte
Rondônia 0 0 0 0 0 2 12 78 337 380
Roraima 0 0 33 95 127 508 3.075 4.133 8.883 8.745
Rio Grande
0 0 1 3 7 11 168 294 799 1.058
do Sul
Santa
0 0 2 3 3 11 34 233 726 1.093
Catarina
Sergipe 0 0 0 0 0 0 2 13 20 22
São Paulo 0 0 7 18 25 57 346 512 1.319 1.734
Tocantins 0 0 0 0 0 0 0 4 8 16

Fonte: MDS, com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação. Pedido de Informação n o 71003.083003/2021-21.
Elaboração dos autores.

5.2 Relações multilaterais

No campo multilateral, as relações entre Brasil e Venezuela, do início do chavismo até a con-
temporaneidade, ocorreram em cinco âmbitos principais: i) na IIRSA; ii) no âmbito das reuniões de
presidentes da América do Sul, que em 2004 consolidaram-se como Casa e, posteriormente, em
2008, foi reestruturada na Unasul; iii) na Cúpula da América Latina e do Caribe sobre Integração e
Desenvolvimento (CALC) de 2008, convertida em Celac, em 2011; iv) nos mecanismos de negocia-
ção multilateral para mediar a crise política venezuelana a partir de 2014 (Comissão de Chanceleres
da Unasul em 2014-2015 e mediação da Unasul e Santa Sé em 2016); e, posteriormente, v) na
postura de pressionar o regime venezuelano na OEA e no Grupo de Lima (2016-2021).

Desse modo, as relações no campo multilateral evoluíram paralelamente à projeção


brasileira na América do Sul, a deterioração da situação política interna na Venezuela e a posição
do país como mediador na crise venezuelana. Há, portanto, um processo de ascensão gradual
da liderança brasileira no campo multilateral sul-americano, inclusive com disputas de posições
geoestratégicas com o regime chavista, entre 1998 e 2012; declínio e paralisia da capacidade de
liderança brasileira, entre 2013 e 2016; e, por fim, retração e mudança da postura brasileira para
a região e para a Venezuela, de 2016 em diante. Para a análise do campo multilateral, divide-se a

62
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

seção em duas partes. Uma primeira na qual se abordam a evolução dos mecanismos de integra-
ção regional e a participação da Venezuela; e uma segunda na qual será debatido de que modo
as tentativas de mediação se inserem no contexto das relações bilaterais.

5.2.1 Brasil-Venezuela e os mecanismos de integração regional:


Mercosul, IIRSA, Unasul e Celac

O grande marco da integração sul-americana em nível presidencial foi a I Reunião de Presi-


dentes da América do Sul, em agosto de 2000, em Brasília. Pela primeira vez os chefes de Estado
dos doze países do subcontinente se reuniram sem presença extrarregional. Seu principal fruto foi
a IIRSA, sob gestão do BID, CAF e Fonplata (Padula, 2014, p. 291). A iniciativa foi organizada em
torno da orientação de se buscar investimentos privados para infraestrutura e possibilitar novas
opções de investimentos para a região em três eixos centrais: i) definição de um consenso político
em torno dos principais projetos a serem financiados; ii) envolvimento de instituições financeiras
internacionais reconhecidas pelo mercado, como BID e CAF, para estimular o investimento pri-
vado; e iii) harmonização regulatória que reduzisse os custos dos projetos de integração (Couto,
2012, p. 137; Padula, 2014, p. 312-313). Foram propostos dez Eixos de Integração e Desenvol-
vimento (EIDs) (figura 8) para a consecução dos projetos, focando na tentativa de atração do
setor privado. Os primeiros dois anos do projeto foram apenas de organização e priorização dos
435 projetos (Couto, 2012, p. 137-138).

O projeto é importante porque demonstra a gênese de um dos movimentos brasileiros


de integração regional que seriam expandidos e reestruturados em anos posteriores. A cartei-
ra de projetos da IIRSA apresentava grandes traços da agenda nacional de desenvolvimento
do Brasil no período64 (Padula, 2014, p. 312). Refletia, portanto, um grande esforço brasileiro
na construção de uma agenda regional de infraestrutura sob a ótica do regionalismo aberto.
O modus operandi de cooperação em infraestrutura iniciada nesse período seria replicado, apri-
morado e ampliado nos anos posteriores e representava a visão brasileira de uma cooperação
para toda a região, adaptada à institucionalidade da Unasul.

64. De acordo com Silva (1996), “a liderança brasileira na criação da IIRSA é revelada primeiramente em
seu surgimento a partir de iniciativa conjunta entre o ex-presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso,
e o ex-presidente do BID, Enrique Iglesias. Outros dois fatores reforçam a constatação do protagonismo
brasileiro na constituição da visão de planejamento da IIRSA: i) seu apoio na adoção da concepção de
Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento (ENIDs), propostos por Batista (1996) e presentes
desde os Planos Plurianuais (PPAs) do governo FHC, que influenciaram a concepção geoeconômica e
a análise técnica da iniciativa; e ii) seu apoio na adoção da filosofia de atração do capital privado para
projetos, presente principalmente nos processos de privatização e concessão no Brasil”.

63
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

FIGURA 8
EIDs do IIRSA/Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan)

Fonte: Hirt (2013).


Obs.: Figura reproduzida em baixa resolução e cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e
revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial).

Ao longo da existência da iniciativa, a Venezuela não teve o engajamento esperado. O eixo


do Escudo Guianense, que envolve Brasil e Venezuela, foi aquele com menor número de projetos
e de baixa participação do governo venezuelano, consolidado tanto no número de presentes nas
instâncias como no escalão do governo dos funcionários enviados (Barros, Padula e Severo, 2011,
p. 39). Tal postura denotou a preferência venezuelana por projetos de infraestrutura regional com
enfoque geopolítico mais explícito, como o Grande Gasoduto do Sul (Argentina, Brasil, Venezuela
e Uruguai), a Petrocaribe, a Petroandina (países da CAN) e Petrosul (Brasil e Argentina). O Brasil,
por sua vez, valorizava as iniciativas no âmbito da IIRSA, mas, especialmente durante o governo
Lula da Silva,65 impulsionou uma participação mais ativa do BNDES no equacionamento finan-

65. A partir de 2009, a IIRSA tornou-se parte da Unasul como o Cosiplan. O órgão passou a receber diretrizes
políticas dos governos de forma a reduzir a influência de BID, CAF e Fonplata (Padula, 2014, p. 191-192).

64
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

ceiro dos projetos de infraestrutura regional. O BNDES possuía capacidade de financiamento da


infraestrutura regional maior do que BID, CAF e Fonplata, porém ausente da estrutura da IIRSA
(Padula, 2014, p. 323-324).

Outras duas importantes iniciativas brasileiras que não enfrentaram grandes resistências da
Venezuela, dada a convergência de visões em torno de se criar um espaço político sul-americano,
foram a Unasul (antiga Casa, criada em 2004) e a Celac, havendo até entusiasmo por parte de
Caracas. Durante a I Cúpula Energética Sul-Americana, em 2007, os países-membros da Casa
aceitaram proposta de Hugo Chávez e alteraram o nome da organização para Unasul. Compro-
meteram-se também em dar personalidade jurídica internacional à organização por meio da
assinatura de um tratado constitutivo, que foi firmado em Brasília em maio de 2008 pelos doze
presidentes e ratificado pelos parlamentos dos doze países nos anos seguintes. A Unasul incluiu
pela primeira vez em uma organização sul-americana todos os países da região. Estruturou-se em
doze conselhos setoriais ministeriais. A proposta brasileira era ter um órgão que fosse capaz de
respeitar a autonomia da região, unindo governos com diferentes ideologias sob a preocupação
de estabilidade regional (Vigevani e Ramanzini Júnior, 2014, p. 541). Essa preocupação com a
estabilidade regional e com a criação de agendas comuns foi, inclusive, o que guiou a busca de
mediação das tensões entre Colômbia, Equador e Venezuela, em 2009, no âmbito da Unasul e do
CDS (Carmo e Pecequilo, 2016, p. 53).

A posição da Venezuela com relação à Unasul e às demais organizações regionais era, portan-
to, diferente da brasileira. A ótica geopolítica de contrabalanceamento de poder dos Estados Unidos
na região, a partir da unidade sul-americana, foi a tônica da posição chavista, que, ainda distante
da visão brasileira, entendia que se fazia necessária a criação de um espaço regional sul-americano.
Tal proposta guiou a posição da Venezuela em sua decisão de solicitar a entrada no Mercosul, em
2001. O Brasil era um firme defensor da entrada da Venezuela no bloco na década de 1990 (Galvão,
2011, p. 498). A decisão de solicitar a entrada no Mercosul também se baseava na deterioração das
relações da Venezuela chavista com os seus vizinhos andinos – Peru e Colômbia – que imprimiram
uma visão comercialista e liberal à CAN, antigo Pacto Andino, posição oposta ao que Chávez defen-
dia para cooperação regional (Moreira, 2018, p. 215-218). Havia, portanto, um projeto venezuelano
de aderir ao Mercosul e “reformulá-lo” por dentro, convertendo-o em um mecanismo “a serviço
dos povos” e de oposição às agendas norte-americanas, e não em um órgão “neoliberal” como o
governo chavista o via (Saraiva e Briceño-Ruiz, 2009, p. 162-163).

Ainda assim, as estruturas propostas pelo Brasil em órgãos regionais – como o CDS, a Escola
Sul-Americana de Defesa (Esude), o Cosiplan, o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde
(ISAGS) – foram as que tiveram maior grau de institucionalidade. Os temas priorizados pela

65
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Venezuela, em contraste, apresentaram participação fracionada, com recorte ideológico claro,


como a Alba-TCP, ou dificuldade de institucionalização. O Conselho Energético Sul-Americano
(CES) foi o único dos doze conselhos ministeriais da Unasul que não teve o seu estatuto aprovado
e a Venezuela foi reticente em transferir a presidência para o tempore desse conselho para os
países que exerciam a presidência da Unasul e de todas as suas instâncias.

A cerimônia de assinatura do Tratado de Assunção pela Venezuela ocorreu em dezembro


de 2005, durante a Cúpula do Mercosul de Montevidéu. Fazia-se necessário, contudo, a apro-
vação da entrada por todos os países-membros. Mesmo tendo assinado o tratado, a posição
venezuelana causava divergências com os demais países do bloco. Ainda que o Brasil tenha
imprimido nos anos 2000 novos direcionamentos ao Mercosul, a fim de ampliar os mecanismos
de integração (como a criação de um Fundo de Convergência Estrutural – Focem, para reduzir
as assimetrias entre membros do bloco, em 2004, e a instauração do Parlamento do Mercosul,
em 2006), o país não compartilhava com as leituras de mundo venezuelanas, nem de expec-
tativas para o bloco. Desse modo, a tentativa venezuelana de “albanizar” (adotar o mesmo
modelo de integração da Alba-TCP) para o Mercosul não constituiu uma ameaça efetiva ao
bloco, uma vez que as propostas de “refundação do bloco” apresentadas pela Venezuela, em
especial a de se criar um único projeto entre Mercosul, Petrocaribe, Alba-TCP e Caricom, foram
apresentadas em um período de perda de fôlego das iniciativas venezuelanas, entre 2012 e
2014 (Moreira, 2018, p. 227-228).

O controvertido processo de inclusão da Venezuela no Mercosul, em 2012, teria seu


custo no futuro do bloco. Apenas o parlamento do Paraguai não apoiava a entrada do
país andino. Naquele ano, o então presidente paraguaio, Fernando Lugo, sofreu um pro-
cesso de impeachment súbito, que foi entendido pelos demais membros do Mercosul
como uma ruptura da ordem democrática. Desse modo, o Paraguai foi suspenso do blo-
co pelo mecanismo da Cláusula Democrática, e a Venezuela pôde, assim, entrar no bloco
sem aprovação do Paraguai. Apenas após a eleição de Horácio Cartes, em 2013, que
o Paraguai retornaria ao bloco. Já em 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff e o
início da gestão de Michel Temer, houve uma inflexão do entendimento brasileiro sobre a
Venezuela. Em dezembro daquele ano, o país foi suspenso do Mercosul por não ter ado-
tado as normas técnicas do bloco no prazo estabelecido. Posteriormente, o precedente
aberto com a suspensão do Paraguai facilitou a adoção de medida similar após a eleição
para uma ANC e o decorrente acirramento da crise política interna no país andino, em
dezembro de 2017.

66
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

5.2.2 A postura brasileira frente à deterioração da crise


venezuelana no âmbito multilateral: Unasul, Grupo
de Lima e OEA

A partir do crescimento da polarização e aumento da violência política na Venezuela, a di-


plomacia brasileira logrou utilizar-se dos instrumentos construídos nas décadas anteriores para
mediar o avanço da crise venezuelana. Os principais processos de mediação podem ser divididos
das seguintes formas: i) Unasul, em 2014; ii) Unasul e Santa Sé, em 2016 e 2017; iii) República
Dominicana, entre 2017 e 2018; e iv) Noruega, em 2019. Somente os dois primeiros tiveram
engajamento do Brasil.

Comissão de Chanceleres da Unasul (2014-2015)

A primeira grande crise entre governo e oposição na Venezuela, após o falecimento de Hugo
Chávez, ocorreu em meados de 2014, com a eclosão de manifestações pelo país, confrontos
entre forças de segurança e manifestantes, e a prisão do líder da Mesa da Unidade Democrá-
tica (MUD),66 Leopoldo López. Em fevereiro, o governo de Nicolás Maduro rejeitou mediações
internacionais e anunciou a Conferência Nacional pela Paz em rede nacional para negociar com
a oposição, segundo o anúncio oficial, “pleno respeito à constituição, desmonte da violência e
rechaço à intervenção estrangeira”. Representantes da MUD, por sua vez, rejeitaram a proposta,
recusando-se a participar do que chamaram de “simulação de diálogo”.67

Na ocasião, países sul-americanos, como Colômbia e Uruguai, e organizações regionais,


como a OEA, apresentaram-se como opções para o processo de mediação, todas rejeitadas por
Maduro, que argumentou não haver necessidade de interferência externa no processo (Felipe,
2014; Scharfenberg, 2014).68 Em meados de março, o governo venezuelano passou a aceitar a
atuação da Unasul, que logo se reúne extraordinariamente e se coloca à disposição de mediar
a crise (Jardim, 2014; Brasil, 2014b).69 O processo de mediação foi, portanto, realizado pelos
chanceleres Luiz Alberto Figueiredo (Brasil), María Ángela Holguín (Colômbia) e Ricardo Patiño

66. Disponível em: <https://mobile.twitter.com/unidadvenezuela/status/901928275169161217?lang=en-GB>.


67. Disponível em: <https://m.folha.uol.com.br/mundo/2014/02/1416847-presidente-da-venezuela-convoca-
conferencia-nacional-de-paz.shtml/>; <https://www.dw.com/pt-br/maduro-convoca-confer%C3%AAncia-de-paz-
mas-oposi%C3%A7%C3%A3o-rejeita-participar/a-17460827>; e <https://www.telesurtv.net/news/Conferencia-
Nacional-de-Paz-avanza-en-mecanismos-de-dialogo-en-Venezuela-20140305-0064.html>.
68. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2014/02/27/governo-venezuelano-
recusa-mediacao-de-jose-mujica-nos-protestos.htm>.
69. Cabe destacar que a Unasul já vinha atuando na Venezuela desde meados de 2013, quando o órgão
enviou uma missão eleitoral para participar das eleições do país naquele ano.

67
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Equador), troica respaldada pela Unasul, e o monsenhor Aldo Giordani (núncio apostólico em
Caracas). O resultado foi um acordo para a rejeição da violência entre a MUD e o governo
venezuelano (Brasil, 2014a). A Comissão de Chanceleres da Unasul se reuniu novamente com
Maduro e a oposição em meados de 2015, por ocasião das eleições parlamentares no país, re-
forçando a importância de um pleito pacífico (Closa e Palestini, 2015; Meza, 2015). O Conselho
Eleitoral da Unasul enviou missão chefiada por Leonel Fernández, ex-presidente da República
Dominicana, para acompanhar o pleito de dezembro de 2015, que elegeu parlamentares para a
Assembleia Nacional venezuelana.

Unasul e Santa Sé (2016-2017)

A significativa vitória eleitoral da oposição nas eleições legislativas de 2015 possibilitou que
a MUD organizasse, em 2016, manifestações em prol da realização de um referendo revogatório.
Após o CNE cancelar o referendo, sob a alegação de suspeitas de irregularidades, as tensões
entre governo e oposição cresceram substancialmente, com aumento da violência nas ruas e da
pressão pela realização de uma grande manifestação no início de novembro.

Ainda que várias organizações internacionais clamassem pelo fim da violência, apenas com
a costura de uma mediação política com a Santa Sé, apoiada pela Unasul e Estados Unidos,
que foi possível a redução das tensões (DOS, 2016).70 A atuação do secretário-geral da Unasul,
Ernesto Samper, e dos ex-presidentes José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), Martín Torrijos
(Panamá) e Leonel Fernández (República Dominicana) como facilitadores da mediação foi funda-
mental. A coordenação desses atores permitiu que a Santa Sé adentrasse como uma mediadora
aceita tanto pelo governo de Nicolás Maduro como pela MUD. A visita do subsecretário de Estado
dos Estados Unidos, Thomas Shannon, em meados de novembro à Venezuela – encontrando-se
com Maduro, representantes da sociedade civil e da MUD – reforçou o apoio dos Estados Unidos
à iniciativa em curso (Koerner, 2016; Ellsworth, 2016; DOS, 2016).71

As rodadas de negociação foram divididas em quatro mesas temáticas: i) Paz, Respeito


ao Estado de Direito e à Soberania Nacional, coordenada por José Luis Zapatero; ii) Verdade,
Justiça, Direitos Humanos, Reparação de Vítimas e Reconciliação, sob coordenação do Vaticano;
iii) Econômico-Social, coordenada por Leonel Fernández; e iv) Geração de Confiança e Cronogra-
ma Eleitoral, sob coordenação de Martín Torrijos. A oposição foi representada por seus principais

70. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/06/unasul-pede-fim-da-violencia-politica-


na-venezuela.html>.
71. Disponível em: <https://www.efe.com/efe/english/portada/venezuela-s-maduro-receives-u-
envoy/50000260-3083893>.

68
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

partidos: Primero Justicia (PJ), Acción Democrática (AD) e Un Nuevo Tiempo (UNT). Comparece-
ram Jesús Torrealba (secretário-geral da MUD), Carlos Ocariz (PJ), Luis Aquiles Moreno (AD) e
Timoteo Zambrano (UNT). O governo foi representado por Jorge Rodríguez (prefeito de Caracas),
Delcy Rodríguez (ministra de Relações Exteriores), Elias Jauá (parlamentar do Bloco da Pátria) e
Roy Chaderton (diplomata). Cabe destacar que essas negociações não foram consenso entre a
oposição. Parte dela, encabeçada por Fred Guevara (Voluntad Popular), reforçou a necessidade de
realizar uma marcha para Miraflores, enquanto outra, sob liderança de Henrique Capriles, ressal-
tou ser difícil acreditar nas iniciativas do governo Maduro (Altman, 2016).

Essa tentativa de mediação, todavia, não durou muito. A primeira reunião entre governo e
oposição foi realizada em meados de novembro e facilitada pelo arcebispo Claudio María Celli.
Ainda que tenha contribuído para o cancelamento da Marcha para Miraflores, da oposição,72
que visava pressionar de vez o regime chavista, logo em novembro a Santa Sé foi acusada pelo
regime de Maduro de ter passado muito tempo em reuniões com a oposição, enquanto o regime
chavista foi questionado pela MUD por não ter se esforçado o suficiente pelo diálogo desde fins
de outubro (Pope still..., 2017; Montagna, 2017).73

Ainda que o diálogo tenha resultado em impasse político, em 21 de janeiro de 2017, a


Unasul e o Vaticano apresentaram ao governo e à oposição uma proposta de Acordo de Convivên-
cia Democrática.74 O texto foi fortemente rejeitado por todas as alas oposicionistas. Carlos Ocariz
(PJ) afirmou que os termos do documento eram inaceitáveis e que não assinariam o termo,75
enquanto outra ala da oposição oposta ao diálogo, representada por María Corina Machado,
argumentou que “a proposta dos mediadores havia sido redigida por Cuba” (Maier, 2017).
O documento pretendia realizar as eleições para governadores juntamente com a de prefeitos
naquele ano e debater o cronograma eleitoral de 2018. Desse modo, essa tentativa de diálogo
foi encerrada em fins de janeiro de 2017, coincidindo com o fim da gestão Ernesto Samper na
Secretaria-Geral da Unasul e a vacância do cargo até a paralisia total da organização.

72. A posição de negociação foi bastante criticada por representantes mais radicais da oposição, como
María Corina Machado (Koerner, 2016).
73. Disponível em: <https://www.dw.com/en/venezuelas-opposition-walks-away-from-vatican-backed-
talks/a-36672319>.
74. O acordo completo está disponível em: <https://www.aporrea.org/actualidad/n303332.html>.
75. Disponível em: <https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/46248/venezuela-oposicao-
rejeita-proposta-de-mediadores-para-retomar-dialogo-com-governo-maduro>.

69
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Grupo de Lima

O fracasso das tentativas de mediação e a transição política no Brasil com o impeachment


de Dilma Rousseff alteraram substantivamente a postura brasileira com relação ao processo de
mediação. Se até 2014-2016 o Brasil ainda atuava nas iniciativas regionais construídas na déca-
da anterior, em especial, a Unasul, do final de 2016, o país passou a empregar novas iniciativas
regionais fragmentadas para lidar com a crise. O primeiro indício dessa mudança de posição foi o
comunicado conjunto das chancelarias de Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, em 2016. Em 2017,
o governo brasileiro adotou com entusiasmo o convite do governo peruano para construir um
agrupamento regional a fim de lidar com a questão venezuelana. A Unasul encontrava-se em cri-
se progressiva entre 2017 e 2019. Primeiro, pela vacância do cargo de secretário-geral, o principal
da organização, a partir de fevereiro de 2017; depois, com a suspensão da participação de seis
países (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Paraguai e Peru) pelas disputas internas e falta de
consenso, em abril de 2018, e posterior saída não coordenada de vários países, culminando com
a criação, por parte de sete presidentes da região, do Prosul, em março de 2019. O Brasil não foi
protagonista desses dois últimos movimentos.

Também sem exercer sua liderança regional, o Brasil participou da criação do Grupo Lima,
um fórum de negociação ad hoc para encontrar solução para a crise na Venezuela, ocupando o
espaço deixado pela paralisia da Unasul e divisão sobre o tema na OEA. A Declaração de Lima,
em 2017, foi assinada por Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Canadá, Costa Rica, Guatemala,
Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru, e representou uma tentativa de aumentar a pressão
hemisférica sobre a Venezuela, inclusive para formar a maioria qualificada na OEA e aprovar re-
solução contra o governo venezuelano.

Tal posição representou uma mudança na trajetória da política externa brasileira de se uti-
lizar de mecanismos regionais e de mediação para a solução de controvérsias. Difere-se, assim,
da postura brasileira na Missão Venturini (1983), o Grupo de Contadora (1985), o Grupo do
Rio (1986), o Grupo de Amigos da Venezuela (2002) e da mediação via Unasul (2014), que
buscavam soluções coordenadas, pacíficas, sem intervenção estrangeira para os problemas
latino-americanos. A criação do Grupo de Lima representou uma iniciativa fragmentária da região
e uma mudança de posição substantiva da política externa brasileira (Barros e Gonçalves, 2019).

Inicialmente criado como um grupo para coordenar posições no âmbito da OEA, o Grupo de
Lima tornou-se o principal fórum de interesse do Brasil sobre a crise da Venezuela. A necessidade
de se criar um grupo para coordenar posições emergiu das sucessivas tentativas frustradas de se
adotar uma resolução condenando o governo da Venezuela no âmbito da organização, uma vez
que muitos dos países da América Central e do Caribe, especialmente os que mantêm relação

70
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

mais estreita com Cuba e os beneficiários dos recursos petroleiros da Petrocaribe, bloqueavam
qualquer iniciativa de tom condenatório.

A evolução de declarações e posicionamentos do Grupo de Lima caminharam concomitantemente


ao avanço dos acontecimentos internos na Venezuela. Se, por exemplo, antes do reconhecimento ao
governo Guaidó os termos “governo da Venezuela” e “governo venezuelano” eram utilizados para
tratar do regime de Nicolás Maduro, a partir de Guaidó os comunicados passaram a referir-se
ao regime Maduro como “governo ilegítimo” e à ANC como “assembleia ilegítima” (Barros e
Gonçalves, 2019, p. 19-20). Os quadros 4 e 5 ilustram essa diferença.

QUADRO 4
Tratamento dado aos termos do governo da Venezuela em declarações do
Grupo de Lima antes do reconhecimento de Guaidó
Data Contexto Termos de busca
venezuelanos, bem como a decisăo de
Dominicana de reunir o governo e a oposição
ambos os lados
20/9/2017
Venezuela, já que seu governo viola
se mantenha a ruptura da ordem democrática na
as normas constitucionais,
Processos Eleitorais daquele país. venezuelano e o Conselho Nacional Eleitoral
5/10/2017
Exortam o governo a agir no
Venezuela năo permita o acesso à ajuda
26/10/2017 4. Deploram que o governo da
internacional para
venezuelano a adotar medidas urgentes para
perda de vidas humanas, e instamos o governo
garantir o estado
Venezuela de convocar eleiçőes presidenciais
Venezuela: 1. Rejeitam a decisăo do governo da
para o primeiro
Venezuela, o governo venezuelano
de a situaçăo humanitária continuar a piorar na
permaneça relutante em
23/1/2018
humanitária continuar a piorar na Venezuela, venezuelano permaneça relutante em
o governo aceitar assistência
venezuelana. 5. Reiteram seu pleno apoio à
um diálogo entre o governo e a oposiçăo
Assembleia Nacio
Venezuela: 1. Rejeitam a decisăo do governo
2018, para continuar avaliando a situaçăo na
da Venezuela de
venezuelano, em vez de contribuir para
Panamá nos últimos dias. Lamentam que o governo
os esforços da
7/4/2018
Venezuela para que se comprometa
hub aéreo. Reiteram seu apelo ao governo da
na busca de uma
Fonte: Barros e Gonçalves (2019, p. 19).
Elaboração dos autores.

71
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

QUADRO 5
Tratamento dado aos termos do governo da Venezuela em declarações do Grupo de
Lima depois do reconhecimento de Guaidó1
Data Contexto Termos de busca
8/8/2017 emanen de ella, por su carácter ilegítimo. 3. Su pleno respaldo y solidaridad con
14/5/2018 han sido convocadas por una autoridad ilegítima, sin la participación de todos los
4/1/2019 inicio el 10 de enero de 2019 del ilegítimo periodo presidencial del régimen de Nic
de servir como instrumentos do regime ilegítimo de Nicolas Maduro para a opressăo
Condenam as ações deliberadas do regime ilegítimo de Nicolás Maduro que, sem considerar
nte a comunidade internacional o regime ilegítimo de Nicolás Maduro por estar intencional
25/2/2019
grupos armados a serviço do regime ilegítimo de Nicolás Maduro para obstar sua
laços de cooperação com o regime ilegítimo de Nicolás Maduro a promoverem a
Nicolás Maduro e de seu regime ilegítimo no poder representa uma ameaça sem
10/3/2019 responsabilizamos exclusivamente o regime ilegítimo de Maduro pelo colapso do sistema
21/3/2019 Grupo de Lima demanda al régimen ilegítimo y dictatorial de Nicolás Maduro la
que o seu apoio ao regime ilegítimo de exerce em nossa regiăo. 9. Convidam
o uso da força pelo regime ilegítimo de Maduro. 13. Concordam em solicitar
continue a impor sanções ao regime ilegítimo de Maduro e a instam a
15/4/2019 crimes de lesa-humanidade pelo regime ilegítimo de Nicolas Maduro. 7. Exortam as organ
nezuelanos. 3. Consideram que o regime ilegítimo de Nicolás Maduro năo demonstrou ter
direitos humanos cometidas pelo regime ilegítimo de Nicolás Maduro e exigem a
, econômica e moral causada pelo regime ilegítimo e ditatorial de Nicolás Maduro, que
liberdade, sem a opressão do regime ilegítimo e ditatorial de Nicolás Maduro. 7) Dec
30/4/2019 de servir como instrumentos do regime ilegítimo para a opressăo do povo venezuelano
inteligência a serviço de seu regime ilegítimo pelo uso indiscriminado da violência p
cessar seu apoio cúmplice ao regime ilegítimo; 5) Concordam em propor ao Grupo de
s, responsabilidade exclusiva do regime ilegítimo de Nicolás Maduro. 9) Exortam a comuni
países que ainda apoiam o regime ilegítimo de Nicolás Maduro a favorecer o
3/5/2019
por parte dos membros do regime ilegítimo de Nicolás Maduro, seus familiares e
a proteçăo, por parte do regime ilegítimo de Nicolás Maduro, a grupos terroristas
nam energicamente a repressăo do regime ilegítimo e ditatorial de Nicolás Maduro que
9/5/2019 expressam sua rejeição à decisão da ilegítima ANC de ret
Denunciam Nicolás Maduro e seu regime ilegítimo como os únicos responsáveis pelo agrava
ilegítimo de Nicolás Maduro, notadamente com
países que ainda apoiam o regime
Rúss
6/6/2019
de venezuelanos ocasionado pelo regime ilegítimo de Nicolás Maduro, que se converteu
nte do crescente envolvimento do regime ilegítimo de Nicolás Maduro em diversas formas
mente os sistemáticos ataques do regime ilegítimo e ditatorial de Nicolás Maduro contra
(Continua)

72
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Data Contexto Termos de busca
os humanos dos venezuelanos pelo regime ilegítimo de Nicolás Maduro. Eles exortaram a
30/6/2019
torturas a la que el régimen ilegítimo de Nicolás Maduro somete a quienes
del poder por parte del régimen ilegítimo y dictatorial de Nicolás Maduro. 2. Re
a candidatura presentada por el régimen ilegítimo de Maduro, a nombre de Venezuela,
23/7/2019 chos humanos perpetradas por el régimen ilegítimo de Nicolás Maduro, que incluyen ejecuc
funcionarios y testaferros del régimen ilegítimo de Nicolás Maduro que los vincule
uar en defensa del régimen dictatorial ilegítimo de Nicolás Maduro. Por eso, instan
provocativas e desesperadas do regime ilegítimo de Maduro.
15/8/2019 Nacional Constituinte e/ou pelo regime ilegítimo de Maduro contra a Assembleia Nacional
aça da ANC ilegítima do regime de Maduro de convocar
5/1/2020 condenan el uso de la fuerza por el régimen dictatorial de Nicolás Maduro
6/1/2020 condenan el uso de la fuerza por el régimen dictatorial de Nicolás Maduro
regime ilegítimo de Nicolás Maduro que
Rechaçam as manobras do
atentam contra
14/8/2020
violações sistemáticas dos direitos humanos
regime ilegítimo de Nicolás Maduro, documentadas
perpetradas
regime ilegítimo de Nicolás Maduro em
13/10/2020 Expressam seu firme rechaço à insistência do
celebrar eleições
5/1/2021 organizadas por el régimen ilegítimo de Nicolás Maduro

Fonte: Barros e Gonçalves (2019, p. 19).


Nota: 1 Atualização da tabela original.

Em suma, pode-se dizer que o Grupo de Lima, uma iniciativa de característica fragmentária na
região, se tornou um dos principais espaços da atuação da política externa brasileira para a Venezuela.
Se, inicialmente, havia uma perspectiva condenatória, a retórica tornou-se ainda mais inflamada com
o advento de Juan Guaidó e o aumento do reconhecimento internacional a ele.

Cabe destacar, todavia, que a atuação do Grupo de Lima não resultou na esperada transição
de regime na Venezuela. A proposta de ampliar a pressão sobre o regime não gerou ainda os re-
sultados visados e, diferentemente do início de 2019, em 2020, o agrupamento reduziu bastante
seu engajamento (quadro 6).

Dois fatores podem explicar essa situação, além da situação excepcional da pandemia de
covid-19: os baixos resultados apresentados no campo da mediação da crise venezuelana e um
suposto equilíbrio instável na situação do país, que tem reduzido as expectativas de atores inter-
nacionais sobre a transição do regime a curto prazo. Um exemplo da redução de expectativas é a
própria proposta dos Estados Unidos de mediação da crise venezuelana apresentada em abril de

73
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

2020, uma vez que o país substituiu a atuação de máxima pressão, para apresentar uma saída
negociada entre os regimes de Maduro e Guaidó.

QUADRO 6
Datas de comunicados e declarações do Grupo de Lima
Ano Data
14 de maio
18 de maio
2018 21 de maio
13 de agosto
15 de setembro
4 de janeiro
13 de janeiro
25 de janeiro
4 de fevereiro
24 de fevereiro
27 de fevereiro
10 de março
21 de março
9 de setembro
14 de setembro
16 de abril
2019
3 de maio
9 de maio
6 de junho
30 de junho
23 de julho
15 de agosto
29 de agosto
23 de setembro
27 de setembro
18 de outubro
8 de novembro
6 de janeiro
20 de fevereiro
1 de março
2020
2 de abril
14 de agosto
13 de outubro
2021 6 de janeiro
Fonte: Site do Ministério das Relações Exteriores (2022).
Elaboração dos autores.

74
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

A paralisia do Grupo de Lima é apenas mais um sintoma da dificuldade e da crise da go-


vernança regional na América do Sul que têm emergido desde meados da década de 2010.
A ausência de mecanismos regionais sul-americanos com capacidade de mediação vem difi-
cultando ainda mais a produção de respostas para a crise venezuelana. O Brasil reduziu seu
engajamento com a Celac a partir de 2018,76 denunciou o Tratado Constitutivo da Unasul77 em
abril de 2019 e suspendeu sua participação na Celac em janeiro de 2020. O país já vinha gradu-
almente reduzindo sua participação nesse espaço regional, mas o Itamaraty anunciou em nota
que “não considera estarem dadas as condições para a atuação da Celac no atual contexto de
crise regional” e afirmou que “qualquer documento, agenda ou proposta de trabalho que viesse
a ser adotado durante a reunião ministerial não se aplica ao Brasil”.78

Tal posição de crise regional tem reforçado a tendência anterior de aumento da presença de
atores extrarregionais na tentativa de mediação da situação da Venezuela e na defesa de seus
interesses em território sul-americano. China e Rússia já têm ampliado sua atuação na Venezuela,
com abordagens diferentes para suas relações bilaterais. A China, por exemplo, tornou-se uma das
principais credoras do governo Maduro e, durante o período de alta produção de petróleo pela
PDVSA, oferecia financiamentos lastreados em ativos da empresa em países terceiros. Atualmen-
te, o governo chinês tem reestruturado a dívida venezuelana (Pons, 2020),79 atuando com um
perfil mais baixo na crise e oferecendo apoio humanitário ao país, como foi o caso do envio de
material hospitalar para lidar com a pandemia do novo coronavírus (Nebehay, 2020).80 A Rússia,
por sua vez, também continua a atuar na Venezuela com ajuda militar, econômica e de supri-
mentos. Em maio de 2020, por exemplo, a Rússia enviou especialistas militares à Venezuela,
para ajudar a identificar os responsáveis pela invasão paramilitar do país, além de oferecer apoio
humanitário para enfrentar a pandemia da covid-19 (Lafuente e Sahuquillo, 2020).81

76. O último registro de reunião da Celac pelo Itamaraty é a II Reunião de Ministros das Relações Exteriores
Celac-UE, em 16 de julho de 2018. Mais informações disponíveis em: <https://www.gov.br/mre/pt-br/
canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/ii-reuniao-ministros-celac-ue>.
77. Disponível em: <https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/2019/
denuncia-do-tratado-constitutivo-da-uniao-de-nacoes-sul-americanas-unasul#:~:text=O%20governo%20
brasileiro%20denunciou%2C%20no,contar%20da%20data%20de%20hoje>.
78. Disponível em: <encurtador.com.br/anqxQ>.
79. A última reestruturação da dívida venezuelana ocorreu em agosto de 2020. A Venezuela renegociou
US$ 19 bilhões com os bancos chineses.
80. Disponível em: <https://www.caribbeannewsglobal.com/venezuela-receives-covid-19-supplies-from-
china/>; e <http://www.xinhuanet.com/english/2020-03/31/c_138934301.htm>.
81. Disponível em: <https://russkiymir.ru/en/news/276301/>; e <https://www.reuters.com/article/us-
venezuela-security-russia-idUSKBN22K2LZ>.

75
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

A crise venezuelana também tem sido central para a política dos Estados Unidos na
América Latina. A substantiva aproximação do Brasil, sob a gestão de Jair Bolsonaro, com o
governo norte-americano de Donald Trump, contribuiu para esse objetivo. O país tem tentado
responder aos avanços russos e chineses na região, liderando a resposta contra o regime de
Nicolás Maduro na Venezuela. O primeiro movimento recente nessa direção foi a eleição do
norte-americano Mauricio Claver-Carone, um importante representante do governo Trump, para
o BID. Trata-se da primeira vez, desde a criação do banco, em 1959, que um representante dos
Estados Unidos é indicado para a presidência. A agenda do novo presidente do BID, segundo
Trump e o próprio Claver-Carone, é suplantar a demanda de financiamento na América Latina que
vinha sendo suprida pelo Banco de Desenvolvimento da China e pelo China Export-Import Bank
(Bartensten, 2020).82 Em entrevista, no dia 16 de setembro de 2020, o novo presidente do BID
declarou que não foi um erro a China entrar no BID em 2008, mas que

foi um erro os Estados Unidos não prestarem atenção suficiente ao BID. A China
tem um papel importante no comércio internacional, mas é um país distante
das Américas e controlado totalmente pelo Estado. Então buscamos cumprir o
sonho do pan-americanismo, que existe desde antes da China ser um poder
econômico. A China nunca vai suplantar a relação que existe entre os países das
Américas, mas sim vai preencher espaços vazios existentes. E competitivamente
isso é válido. Não podemos nos incomodar com a China por isso, mas sim com
nós mesmos por ter deixado o espaço vazio.83

A trajetória de fazer-se mais presente na América Latina também se manifestou na agenda


contemporânea do governo de Donald Trump. Aproveitando-se da fragmentação na governança
regional da América do Sul (Barros, 2020; Barros e Gonçalves, 2019), os Estados Unidos também
fortaleceram a presença política na região. Em 17 setembro de 2020, Mike Pompeo, o secretário
de Estado do governo Trump, viajou para quatro países sul-americanos da região amazônica
(Guiana, Suriname, Colômbia e Brasil). No caso de Guiana e Suriname, tratou-se do primeiro alto
representante estadunidense a se fazer presente e, principalmente, a primeira vez que os Estados
Unidos reconheceram um novo governo nas Guianas antes mesmo de o Brasil fazê-lo (Charles,
2020). Trata-se, portanto, de um ato que demonstra o crescente interesse norte-americano na
região e reforça a tendência de fragmentação da governança regional.

82. Disponível em: <https://www.bloomberg.com/news/articles/2020-08-26/trump-candidate-for-latin-


bank-wants-to-counter-china-influence>.
83. Disponível em: <https://www.laprensa.com.ni/2020/09/16/economia/2721515-mauricio-claver-
carone-fue-un-error-que-estados-unidos-no-le-prestara-suficiente-atencion-al-bid>.

76
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Há também novos atores, como o Irã e a Turquia. O Irã, por exemplo, tem enviado
navios-tanque para a Venezuela, como forma de driblar as sanções dos Estados Unidos e aliviar a
demanda interna do país, especialmente, após as empresas russas Rosneft84 e TNK, e a mexicana
Libre Abordo venderem seus ativos no país desde março de 2020 (Kasai e Zerpa, 2020; Rendon,
Cruz e Fernandez, 2020). Os Estados Unidos bloquearam quatro navios-tanque do Irã para a
Venezuela em agosto de 2020.85

Outro ator importante que tem ampliado sua presença no país é a Turquia. Os dois países têm
se aproximado justamente no período de aumento da pressão internacional e dos Estados Unidos
via sanções contra o regime de Nicolás Maduro. O governo turco não tinha interesses prévios na re-
gião, e o movimento político de aproximação representa, segundo alguns analistas, uma aliança de
conveniência entre dois países que têm relações desgastadas com os Estados Unidos, um comércio
bilateral crescente e convergência de relações pessoais entre Maduro e o presidente turco Recep
Tayyip Erdoğan (Oner, 2020, p. 2). A Turquia tem contribuído para fornecer insumos básicos para a
Venezuela e crescido suas exportações (US$ 37,5 milhões em 2017; US$ 120,5 milhões em 2018
e US$ 132,2 milhões em 2019)86 para o país em um momento de queda das importações totais
venezuelanas (Oner, 2020, p. 7-8). Recentemente, em resposta ao bloqueio da liberação dos recur-
sos venezuelanos nos bancos britânicos, a Venezuela passou a realizar operações em ouro com a
Turquia. E, por fim, o governo turco também tem enviado recursos médicos e insumos básicos para
a resposta venezuelana à pandemia da covid-19.87

5.2.3 Outras tentativas de mediação sem a presença do Brasil

Como apontado anteriormente, o Brasil restringiu sua atuação na mediação da cri-


se venezuelana, alterando sua postura para uma de maior pressão contra o vizinho andino.

84. No caso específico da Rosneft, a empresa vendeu seus ativos na Venezuela para uma nova empresa
controlada totalmente pelo governo da Rússia (Kurmanaev, Krauss e Kramer, 2020). Não é, portanto, um
sinal de redução do interesse ou da atuação russa no país.
85. Disponível em: <https://www.bloomberg.com/news/articles/2020-08-14/u-s-seizes-four-tankers-
carrying-iranian-oil-to-venezuela>.
86. Até recentemente, a Turquia tinha poucos interesses na Venezuela, sobretudo no período anterior ao
acirramento da crise no país. O aumento do valor comercializado entre os países em um momento de grande
crise indica o estreitamento das relações por parte de ambos. Em 2018, por exemplo, as importações turcas
de origem venezuelana superaram US$ 1 bilhão (em 2019, foram de US$ 19,8 milhões). Dados anuais de
comércio entre Turquia e Venezuela disponíveis em: <https://comtrade.un.org/data/>.
87. Disponível em: <https://www.reuters.com/article/us-venezuela-turkey-aid-idUSKCN25E2Z0>.

77
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Houve, portanto, outras tentativas frustradas de mediar a crise venezuelana nas quais o governo
brasileiro não teve participação.

República Dominicana (2017-2018)

No segundo semestre de 2017, o Vaticano reduziu sua atuação como mediador enquanto a
Unasul enfrentava problemas internos referentes ao processo sucessório do secretário-geral do
órgão. Do processo anterior, restava apenas o interesse do ex-presidente espanhol, Rodríguez
Zapatero, e da presidência da República Dominicana, ocupada por Danilo Medina, de seguirem os
processos de mediação. Naquele momento, as tensões e os confrontos entre governo e oposição
ampliaram-se significativamente após a tentativa do regime chavista de reduzir a influência da
Assembleia Nacional. A decisão de garantir ao Tribunal Supremo de Justiça a capacidade legis-
lativa levou à expansão significativa da violência. Movimento similar ocorrera posteriormente
quando o governo propôs a criação de uma Assembleia Constituinte, garantindo-lhe temporaria-
mente o Poder Legislativo na Venezuela.

A crescente violência e tensão social e a crise das instituições de governança regional reforça-
ram o papel de mediadores externos. Em dezembro, reuniram-se em Santo Domingo representantes
do governo Maduro e da MUD, sob a mediação do ex-presidente espanhol Rodríguez Zapatero e do
presidente da República Dominicana, Danilo Medina. Chile, México e Paraguai foram observadores
indicados pela oposição, enquanto Bolívia e Nicarágua, pelo regime chavista (Rosas, 2017). Em 12
e 13 de setembro de 2017, os mediadores receberam, como representantes do governo Maduro,
Jorge Rodríguez (Partido Socialista Unido de Venezuela – PSUV), ministro da Comunicação e Cultu-
ra, e Delcy Rodríguez (PSUV), presidente da ANC, e Roy Chaderton, diplomata. Como representantes
da oposição, Julio Borges (Primeiro Justiça – PJ), presidente da Assembleia Nacional e os deputados
Luis Florido (Vontade Popular – VP) e Eudoro González (PJ), o ex-reitor do poder eleitoral Vicente
Díaz e, Gustavo Velásquez, um especialista em resolução de conflitos.88

A MUD declarou publicamente que os encontros com os mediadores não representavam a


retomada das negociações, pois havia a necessidade de que demandas mínimas fossem estabe-
lecidas, tais como: i) o restabelecimento do voto como principal frente de poder; ii) liberação de
presos políticos; e iii) reconhecimento da independência dos poderes da República e das com-
petências constitucionais da Assembleia Nacional (MUD, 2017). Desse modo, entendendo não
haver as condições mínimas para o diálogo, a MUD decide retirar-se da mesa de negociações em
outubro de 2017. No mês seguinte, porém, aceitou participar dos diálogos com o governo, na

88. Disponível em: <https://elcooperante.com/gustavo-velasquez-el-experto-en-negociaciones-en-


representa-a-la-oposicion-en-el-dialogo/>.

78
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

República Dominicana. Realizado entre 1 e 2 de dezembro de 2017, as negociações contaram


com as comitivas das duas partes, com a oposição liderada pelo deputado Julio Borges (PJ).
Findo o encontro, Maduro convidou os deputados Julio Borges (PJ), Luis Florido (VP) e Timoteo
Zambrano (Un Nuevo Tempo – UNT) e Aquiles Moreno (Acción Democrática – AD) para uma reu-
nião no Palácio Miraflores, mas formalmente rejeitou uma das principais propostas da oposição,
a criação de um canal humanitário na Venezuela.89 Tal proposta foi rejeitada pela oposição, que
reforçou apenas aceitar negociar na presença dos mediadores internacionais.90 Dias depois, a
MUD apontou que o governo havia desrespeitado o acordo firmado em dezembro pelos chance-
leres de Bolívia, Nicarágua, São Vicente, México e Chile.91

A mediação resultou na produção de um novo documento denominado Acuerdo de Convivên-


cia Democrática por Venezuela a ser assinado pelo governo e a oposição no início de fevereiro de
2018.92 O plano continha um cronograma para a realização de eleições legislativas, a demanda
de fortalecimento do Estado democrático de direito, um plano para melhorar a situação econômica
do país e a criação de uma Comissão da Verdade para reparar famílias e vítimas de abusos (Rey,
2019). A proposta, porém, fracassou. A MUD não aceitou o cronograma eleitoral para 22 de abril,
alegando que não haveria tempo suficiente para que as instituições venezuelanas, em especial a
CNE, fossem reformadas para garantir um processo limpo e democrático, que, segundo a MUD,
era um processo que levaria no mínimo dois anos (Rey, 2019; Rojas, 2018). Muito embora José
Luis Zapatero conclamasse a MUD a assinar o novo acordo, o presidente da Assembleia Nacional,
Júlio Borges, criticou fortemente sua postura, afirmando que “seu tempo havia passado” e que o

89. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/mundo/maduro-convida-negociadores-da-oposicao-para-


encontro-especial-22145264>.
90. Disponível em: <https://exame.com/mundo/oposicao-venezuelana-rejeita-convite-de-encontro-com-maduro/>.
91. Disponível em: <https://versionfinal.com.ve/politica-dinero/mud-expone-el-acuerdo-de-convivencia-
democratica-propuesto-durante-el-dialogo/>.
92. Documento completo disponível em: <https://www.telesurtv.net/news/Acuerdo-de-Convivencia-
Democratica-por-Venezuela-20180207-0058.html>.

79
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

representante exerceu pressões sobre a oposição em vez de atuar como o fiel da balança na me-
diação.93 Por fim, os esforços da Mesa de Diálogo da República Dominicana não foram adiante.94

Noruega (2019-2021)

Desde que o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou presidente da


Venezuela, alegando ilegalidade da eleição de Maduro, em 2018, a crise no país aprofundou-se
significativamente. O aumento da pressão por parte dos Estados Unidos, da OEA e do Grupo de
Lima, bem como o reconhecimento de Guaidó por mais de cinquenta países, radicalizou a atua-
ção internacional frente à crise na Venezuela.

A fragmentação interna do país também esteve refletida em divisões globais sobre a me-
lhor forma de lidar com a questão. Em fevereiro, por exemplo, os Estados Unidos propuseram
uma resolução no Conselho de Segurança da ONU condenando a Venezuela, mas foram vetados
por China e Rússia. Similarmente, os dois países produziram uma resolução paralela que tam-
bém foi vetada.95 Outro caso recente foi a criação do Grupo Internacional de Contato sobre a
Venezuela, ou o Mecanismo de Montevidéu, em oposição à radicalização disposta pelo Grupo
de Lima. Trata-se de um grupo conjunto da UE e alguns países da América Latina, que visava a
uma solução pacífica para a crise na Venezuela, composto por oito membros europeus (França,
Alemanha, Itália, Holanda, Portugal, Reino Unido, Suécia, Espanha) e quatro latino-americanos

93. Tal visão crítica de Zapatero também se manifestou ao longo de 2018, uma vez que o ex-
presidente espanhol ainda tentava se manter ativo na temática da crise venezuelana. O secretário-
geral da OEA, Luís Almagro, por exemplo, se referiu a ele como “o verdadeiro chanceler de
Maduro”, gerando uma crise diplomática entre Espanha e OEA (Lozano, 2018). Ver também:
<https://www.elmundo.es/internacional/2018/02/07/5a7b727bca4741e3018b4600.html>;
<https://www.cope.es/actualidad/internacional/noticias/zapatero-pide-oposicion-venezolana-que-suscriba-
acuerdo-con-gobierno-20180208_193897>; <https://www.infobae.com/america/venezuela/2018/02/24/
julio-borges-afirmo-que-jose-luis-rodriguez-zapatero-se-quemo-como-mediador-en-el-dialogo-entre-el-
regimen-de-nicolas-maduro-y-la-oposicion-venezolana/>; e <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/
efe/2018/09/24/espanha-envia-nota-de-protesto-a-oea-apos-ofensa-de-almagro-a-zapatero.htm>.
94. Julio Borges afirmou que o processo falhou por falta de comprometimento do governo. Após o
processo, alegou em entrevista ao Caracas Chronicles que a oposição tinha objetivos muito claros (eleições
com observação internacional com possibilidade de votação no exterior, retomada da autoridade da
Assembleia Nacional, e acesso igual à mídia para todas as partes), mas que o chavismo não estava aberto
a negociações. O objetivo do governo, segundo ele, era apenas retirar as sanções ao país. Borges apontou
que, quando era presidente da Assembleia Nacional, foi pessoalmente à Europa e aos Estados Unidos
solicitar sanções à Venezuela (Socorro, 2019).
95. Disponível em: <https://www.dw.com/en/venezuela-us-resolution-vetoed-by-russia-china-at-un-
security-council/a-47734238>; e <https://www.france24.com/en/20190228-venezuela-maduro-un-
russia-china-veto-us-resolution-urging-new-elections>.

80
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Costa Rica, Equador, Bolívia e Uruguai). Muito embora o grupo seja reconhecido por Maduro,
não é reconhecido como legítimo por Guaidó ou pelos Estados Unidos, dificultando a capacidade
de mediação.96

Desse modo, ainda que a crise tenha se acirrado substantivamente desde o início de 2019,
a fragmentação internacional em torno dela também cresceu. Ao longo do ano, houve apenas
uma iniciativa de diálogo que foi legitimada simultaneamente por governo e oposição: a me-
diação de Oslo. Coordenada pelo governo da Noruega, em maio, as negociações não atingiram
consenso, muito embora ambas as partes demonstrassem interesse em um acordo de paz.97
A segunda rodada de negociações mediada pelo governo norueguês ocorreria em Barbados,
em julho e agosto, mas o governo de Nicolás Maduro rejeitou participar em resposta à intensi-
ficação das sanções contra o regime.98 Em setembro, Juan Guaidó apontou que as negociações
de Oslo e Barbados estavam finalizadas pela falta de engajamento do regime de Maduro.99 Na
mesma semana, Nicolás Maduro apontou que havia obtido um acordo com um grupo minoritário
da oposição venezuelana, declarando que reformaria o CNE, e que políticos do PSUV retorna-
riam para a Assembleia Nacional. Mediadores noruegueses e representantes da equipe de Juan
Guaidó apontaram que não conheciam esse acordo (Pons e Armas, 2019).100 Mesmo assim, a
Noruega manteve-se aberta para futuras tentativas de mediação.

Em agosto de 2021, o governo Maduro e a oposição retomam uma nova rodada de nego-
ciações mediada pela Noruega, desta vez, com sede na Cidade do México. A nova tentativa de
mediação foi apoiada por diversos países que estiveram direta e indiretamente envolvidos com
a crise venezuelana, como Estados Unidos, Rússia, Turquia, China e diversos países europeus
(Penfold, 2021, p. 24). Diferentemente das anteriores, a nova rodada de negociações adotou três
novas estratégias: i) as negociações precisam incluir todos os pontos da agenda, mas podem
avançar nas negociações com consensos parciais; ii) os dois lados aceitaram manter o calendário
eleitoral presente na constituição de 1999 – com eleições locais em 2021; e iii) um referendo

96. Disponível em: <https://www.france24.com/en/20190228-venezuela-maduro-un-russia-china-


veto-us-resolution-urging-new-elections>; e <https://www.pressenza.com/pt-pt/2019/02/grupo-de-
montevideu-nao-tem-consenso-sobre-situacao-da-venezuela/>.
97. Disponível em: <https://www.dw.com/en/venezuela-representatives-of-maduro-and-guaido-to-
meet-in-norway/a-48880551>; e <https://www.dw.com/en/venezuela-talks-in-norway-end-without-
deal/a-48974073>.
98.Disponível em: <https://www.dw.com/en/venezuela-talks-in-norway-end-without-deal/a-48974073>.
99. Disponível em: <https://www.aljazeera.com/news/2019/9/16/venezuela-opposition-norway-
mediated-talks-with-maduro-are-over>.
100. Ver também: <https://www.aljazeera.com/news/2019/9/16/venezuela-opposition-norway-
mediated-talks-with-maduro-are-over>.

81
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

revocatório, em 2022, e eleições legislativas, em 2025 (Penfold, 2021, p. 25-26). Os Estados


Unidos, por exemplo, consideraram reduzir gradualmente as sanções ao passo que as negocia-
ções fossem avançando.

A deleção chavista foi presidida pelo plenipotenciário Jorge Rodríguez, enquanto a delega-
ção unificada da oposição foi liderada pelo autoproclamado presidente, Juan Guaidó. Após quatro
rodadas de negociações, entre setembro e outubro, as negociações foram suspensas novamente.
Em outubro, o governo de Cabo Verde extraditou para os Estados Unidos o empresário colombiano
Alex Saab, onde será julgado por diversos crimes financeiros. Saab possuía passaporte diplomático
venezuelano e relações próximas com o governo de Nicolás Maduro. A delegação venezuelana tra-
tou o episódio como um atentado dos Estados Unidos contra o corpo diplomático da Venezuela e
afirmou que não participaria da quarta rodada de negociações, suspendendo assim sua participação.
Em novembro, o regime chavista apontou, todavia, que estaria disposto a retomar as negociações a
despeito do episódio (Camhaji, 2021; Cuesta, 2021; Moleiro, 2021; Santaeulalia, 2021).

5.2.4 Possíveis caminhos para a governança regional e a


mediação da crise venezuelana
Conforme apresentado, o contexto atual é bastante frágil para o Brasil e os países da
América do Sul. Pela primeira vez, desde o final da Guerra Fria, uma crise regional tem atraído
cada vez mais o interesse de grandes potências e atores extrarregionais. Em paralelo, os principais
instrumentos regionais para lidar com a segurança e a cooperação regional estão paralisados ou
foram extintos. Mesmo assim, é preciso ponderar que o Brasil ainda possui espaços possíveis de
atuação em alguns organismos regionais e internacionais para a mediação da crise venezuelana,
caso seja de interesse da política externa brasileira.

Para efeitos de mediação, o Grupo de Lima não se apresenta como uma alternativa viá-
vel, uma vez que sua função principal é ampliar a pressão sobre o regime chavista de Maduro e
forçar uma transição de regime. Muito embora tenha seus canais diplomáticos com o regime de
Nicolás Maduro rompidos, o Brasil ainda permanece em instituições internacionais sediadas na
Venezuela que ainda não reconhecem o governo de Juan Guaidó. Dentre elas, destaca-se o Sis-
tema Econômico Latino-americano e do Caribe (Sela). Trata-se do primeiro organismo regional a
incluir quase todos os países da ALC sem a presença de países de fora da região, criado em 1975.

O intuito do órgão é promover a cooperação e criar um sistema permanente de consulta e co-


ordenação entre os países da região para depósito de posições e estratégias conjuntas em temas
econômicos e sociais, sendo, portanto, um dos precursores da Celac (Gonçalves, 2010, p. 53-54). Ainda
que tenha reduzido sua relevância ao longo das décadas e tenha passado por sucessivas reestrutura-
ções, o Sela mantém-se existindo com sua sede em Caracas. O Brasil, ainda na contemporaneidade,

82
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

mantém-se como membro da Sela.101 Desse modo, há um canal possível de estabelecer relações e
contatos com diferentes atores políticos venezuelanos, incluindo os do regime de Maduro, e com ou-
tros diplomatas de países com representação em Caracas, mesmo após o fechamento da embaixada
brasileira na Venezuela. No âmbito do Sela, por exemplo, o Brasil poderia se utilizar de sua membresia
na organização para ter contatos informais com o governo de Nicolás Maduro e aproximar-se tanto
dos atores políticos locais como das missões diplomáticas de diversos países que mantêm presença
na Venezuela e diálogo permanente tanto com Maduro quanto com Guaidó, recuperando parte de
sua capacidade de projeção na Venezuela e de contribuir com a mediação da crise regional. Trata-se,
de um organismo com a presença de um número substantivo de membros da Celac. No geral, apenas
pequenas economias latino-americanas não se encontram nas duas organizações. Atualmente, o Brasil
é a única grande economia da região que se autoisolou da instituição.

FIGURA 9
Países-membros do Sela e Celac

Países-membros das
duas organizações
Países-membros de
apenas uma organização

Elaboração dos autores.

101. Em dezembro de 2021, o governo brasileiro decidiu retirar-se da Sela. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/12/brasil-avalia-deixar-orgaos-multilaterais-de-
economia-por-falta-de-dinheiro.shtml>.

83
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

QUADRO 7
Relacionamento de organizações internacionais de que o Brasil faz parte e
autoridade venezuelana constituída reconhecida
Organizações Nicolás Maduro Juan Guaidó
Banco Mundial - Sim
BID - Sim
FMI - Sim
ONU Sim -
Organização do Tratado de Cooperação
Amazônica (OTCA)1 Sim -
Relações bilaterais - Sim
Sela Sim -

Elaboração dos autores.


Nota: 1 As duas principais instâncias decisórias na governança do Tratado de Cooperação Amazônica, a Reunião
de Ministros das Relações Exteriores e o Conselho de Cooperação Amazônica (CCA) reuniram-se pela
última vez no segundo semestre de 2017 e no segundo semestre de 2018, respectivamente. Nessas
ocasiões, não deliberaram sobre a representação venezuelana na OTCA. Por sua vez, a Comissão de
Coordenação do Conselho de Cooperação Amazônica (CCOOR), conformada pelos embaixadores dos
países-membros em Brasília, tratou do assunto em uma reunião extraordinária (virtual) no dia 22 de
outubro de 2020, convocada a pedido do governo brasileiro. Participaram representantes de Bolívia,
Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname. Foi decidido que a representação venezuelana
na CCOOR caberia à embaixadora María Teresa Belandria, por estar acreditada como tal junto ao
país-sede da OTCA – no caso, o Brasil. Ela participou apenas da 112 a Reunião da CCOOR (virtual),
realizada nos dias 3 e 13 de novembro de 2020.

Caracas também é sede de outras entidades internacionais que o Brasil faz parte. Brasília
poderia reforçar sua presença no país vizinho e restabelecer canais de comunicação com a co-
munidade diplomática de diferentes nações que atuam na Venezuela, sem a necessidade do
gesto político e do longo processo para a efetivação de indicação de embaixador. Bastaria que
o Brasil designasse representantes para atuar nas organizações que funcionam em Caracas, das
quais é membro. Além do Sela, destacam-se a Corporação Andina de Fomento (Banco de De-
senvolvimento da América Latina – CAF), o Centro Latino-Americano de Administração para o
Desenvolvimento (Clad) e o Instituto Internacional para a Educação Superior na América Latina
e Caribe (IESALC), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(United Nations Educational, Scientific and Cultural Organisation – Unesco).

Uma alternativa para uma agenda positiva com a Venezuela seria via fortaleci-
mento da OTCA. Sua agenda está focada no desenvolvimento e na proteção da região
Amazônica, cujos meios principais são construir aproximações entre atores nacionais, órgãos de
fomento, movimentos sociais, comunidades científicas, setores produtivos e sociedades desses

84
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

países. A instituição é composta por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e
Venezuela, e visa cumprir os objetivos do TCA. Os eixos estratégicos do órgão são: i) conservação
e uso sustentável dos recursos renováveis; e ii) desenvolvimento sustentado/sustentável (promo-
ção da qualidade de vida dos países da região Amazônica). A OTCA não vem tratando dos temas
de segurança e defesa, embora seu tratado ofereça essa possiblidade.

6 DIMENSÃO ECONÔMICO-COMERCIAL

No âmbito econômico-comercial, as relações entre Brasil e Venezuela foram estruturadas em


torno da intensificação do intercâmbio comercial, do financiamento da exportação de bens e servi-
ços de engenharia na modalidade pós-embarque, dos investimentos de infraestrutura e da parceria
energética entre os dois países. Desde a definição da Parceria Estratégica, em 2005, o Brasil passou
a ser considerado como um dos principais vetores do desenvolvimento venezuelano, cooperando
em áreas sensíveis como infraestrutura, energia, agricultura e desenvolvimento industrial (Galvão,
2010, p. 32; Moreira, 2018, p. 195). As relações entre Brasil e Venezuela devem ser entendidas a
partir do esforço brasileiro de coordenar e estimular a integração dos países sul-americanos, através
das orientações da política exterior brasileira, que se basearam, também, na internacionalização de
agências estatais brasileiras em apoio aos objetivos nacionais de inserção internacional.

6.1 Comércio bilateral Brasil-Venezuela

Ao longo de grande parte do regime chavista o Brasil foi altamente superavitário no co-
mércio bilateral com a Venezuela, baseando a maior parte de suas exportações em produtos
manufaturados de médio e alto valor agregado.102

Entre 2000 e 2021, o comércio bilateral entre Brasil e Venezuela apresentou consideráveis
oscilações, com destaque às exportações brasileiras com destino ao país vizinho, que experimen-
tou forte crescimento entre 2003 e 2006, passando de aproximadamente US$ 600 milhões para
US$ 3,55 bilhões. No quadriênio considerado (2003-2006), as vendas brasileiras para a Venezuela
multiplicaram-se em cerca de 5,9 vezes, em dólares nominais. O pico das exportações brasileiras
para esse país foi de US$ 5,13 bilhões em 2008, contudo, as exportações de origem brasileira se-
guiram sendo significativas – superando pelo menos US$ 1 bilhão – até 2016, ano que o país
vendeu US$ 1,28 bilhão para o vizinho caribenho.

102. Entre 2000 e 2021, o acumulado do saldo da balança comercial brasileira em relação à Venezuela
registrou um superávit de, aproximadamente, US$ 41,4 bilhões (em valores nominais). Nesse período, o
Brasil exportou US$ 54,3 bilhões e importou US$ 12,9 bilhões da Venezuela.

85
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Se o crescimento das vendas brasileiras destinadas à Venezuela se deu de maneira rápida


e expressiva, a queda também teve características semelhantes (gráfico 4). Entre os anos de
2014 e 2017, por exemplo, a queda das exportações brasileiras para o país vizinho foi bastante
acentuada, passando de US$ 4,56 bilhões para US$ 469 milhões. Ou seja, no quadriênio com-
preendido entre os anos de 2014 e 2017 as vendas brasileiras para a Venezuela decresceram
9,7 vezes, em dólares nominais.

GRÁFICO 4
Evolução do comércio bilateral Brasil-Venezuela (2000-2021)1
(Em US$ bilhões)
7

0
0,3 0,2 0,3 1,3 2 3 4,4 4,6 3 3 3,3 4 3,7 3,4 2,3 0,9 0,1 0,4 0,3 0,7
-0,6
-1
2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020
Saldo da balança comercial Exportação Importação Corrente de comércio

Fonte: Estatísticas de Comércio Exterior (Comex Stat)/MDIC.


Elaboração dos autores.
Nota: 1 Free On Board (FOB), em dólares nominais.

Segundo os dados do Comex Stat/MDIC, em 2017 foi registrado o menor superávit no sal-
do da balança comercial do Brasil para a Venezuela, entre 2000 e 2021.103 Nos anos mais
recentes, 2018, 2019 e 2020, o total das vendas brasileiras para o país foi de US$ 575 milhões,
US$ 420 milhões e US$ 782 milhões, respectivamente, valores bem mais modestos do que os
praticados em anos anteriores.

As importações brasileiras de origem venezuelana, ao longo das duas últimas décadas, regis-
traram valores bem inferiores ao das vendas brasileiras para o mesmo país. O pico das compras
brasileiras do país vizinho foi em 2000, ano em que o fluxo de importados totalizou cerca de
US$ 1,3 bilhão. Em todo período analisado (2000-2021), o único ano em que o Brasil registrou

103. O Brasil registrou, em 2017, um superávit de US$ 78 milhões na balança comercial com a Venezuela.

86
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

déficit na balança comercial com a Venezuela foi em 2000. Naquele ano, os intercâmbios bila-
terais foram favoráveis a Caracas em aproximadamente US$ 580 milhões. Entre 2011 e 2014,
as compras brasileiras da Venezuela foram próximas às cifras de US$ 1 bilhão. Em 2015 houve
o início de uma forte e contínua queda das importações brasileiras do país, que registrou, em
2020, modestos US$ 76 milhões em compras, menor valor registrado em mais de duas décadas
de intercâmbios comerciais bilaterais com a Venezuela.

Para além das duas décadas anteriormente analisadas (2000-2020), destaca-se que 2021
apresentou uma leve retomada do crescimento dos intercâmbios comerciais entre os dois países.
As exportações brasileiras para a Venezuela, em 2021, foram superiores aos valores alcançados
em 2017, 2018, 2019 e 2020. As vendas do Brasil destinadas à Venezuela, em 2020, totalizaram
US$ 782 milhões, enquanto em 2021 somaram US$ 1,09 bilhão. Os valores dos intercâmbios
mensais (janeiro a dezembro) de 2021 estão apresentados na tabela 5. A recuperação dos inter-
câmbios comerciais entre os países pode ser entendida, também, pela dinamização econômica
das regiões de fronteira – em especial, Roraima.

TABELA 5
Comércio bilateral Brasil-Venezuela, em 2021 (janeiro a dezembro), por mês1
(Em US$ milhões)
Exportações Importações Saldo da balança
Mês Corrente de comércio
Brasil-Venezuela Brasil-Venezuela comercial
Janeiro 47,8 16,8 64,6 31
Fevereiro 64,9 7,1 71,9 57,8
Março 85,3 21,1 106,3 64,2
Abril 73,9 3,4 77,3 70,5
Maio 100,5 9,8 110,4 90,7
Junho 80 9 89 71
Julho 102,7 9,3 112 93,3
Agosto 144,1 9,5 153,6 134,6
Setembro 95,6 16,7 112,3 78,9
Outubro 90,4 15,9 106,3 74,5
Novembro 91,3 21,4 112,7 69,9
Dezembro 113,5 22,5 136 91,1
Total 1.090 162,5 1.252,5 927,5

Fonte: Comex Stat/MDIC.


Nota: 1 FOB, em dólares nominais.

87
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

As expressivas mudanças no comércio bilateral podem ser explicadas, em boa parte, pela
estrutura do governo da Venezuela e ampla diplomacia presidencial empenhada entre Lula
da Silva e Chávez. O Brasil beneficiou-se amplamente da fragilidade institucional do regime
venezuelano, que, ao subordinar o comércio aos seus objetivos geopolíticos, centralizou a maior
parte das decisões da área sob Chávez. Desse modo, a boa interação político-diplomática entre
os dois países facilitou o amplo crescimento dos fluxos comerciais. Contudo, a baixa instituciona-
lização dos mecanismos de interação possibilitou uma abrupta queda a partir da desaceleração
em 2015 (Moreira, 2018, p. 202).

Com a mudança de governo no Brasil, em 2016, houve também alterações de entendimen-


tos bilaterais com a Venezuela, afetando diretamente os resultados comerciais. A primeira delas
foi a redução dos contatos bilaterais político-diplomáticos com o país. A segunda, derivada da an-
terior, foi a redução da complacência brasileira com relação às dívidas da Venezuela com o Brasil,
em especial por parte de autarquias, como o Banco Central do Brasil (BCB) e o BNDES. Em 2017,
por exemplo, o BCB suspendeu os registros de operações com a Venezuela no âmbito do Con-
vênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), da Aladi (BCB, 2017).104 A decisão ocorrera
no contexto de recorrentes atrasos no cumprimento do pagamento da dívida da Venezuela com
o Brasil. Entre 2017 e 2018, por exemplo, o Tesouro Nacional teve um déficit de R$ 1,38 bilhão
devido aos repasses do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) para importadores que deixaram
de pagar as parcelas de empréstimos (Prazeres, 2019).

Esse contexto levou a uma decisão de política externa sem precedentes na qual o BCB
decidiu, em abril de 2019, retirar-se unilateralmente do CCR. Entre os fatores presen-
tes na exposição de motivos, a Venezuela foi o motivo primordial. A Venezuela teve um
papel central nas operações do CCR, tendo, por vários anos, viabilizado 50% das exportações
brasileiras para o país (BCB, 2019, p. 17). O problema dos defaults venezuelanos foi um dos fato-
res essenciais para a decisão, uma vez que mostrou as fragilidades do sistema do CCR, de acordo
com o órgão, e, principalmente, a necessidade de o Brasil ter que renegociar a dívida com prazos
mais longos e descontos.

104. O CCR é um sistema de compensação de pagamentos operacionalizado pelos bancos centrais


de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela e República
Dominicana, concebido, originalmente, para facilitar o intercâmbio comercial em um contexto de escassez
de divisas da década de 1980. O CCR oferece, entre os bancos centrais, garantias de conversibilidade,
transferibilidade e reembolso. No caso de algum país deixar de honrar algum compromisso, o CCR
determina o acionamento do Programa Automático de Pagamento (PAP), que estabelece um parcelamento
do valor devido em quatro prestações mensais. A estrutura leva os bancos centrais a assumir riscos
que não são afetos a autoridades monetárias, como risco país e risco bancário. Disponível em:
<https://www.bcb.gov.br/rex/ccr/resumo_ccr.asp?frame=1>.

88
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

A situação de default da Venezuela se repetiu nos quadrimestres seguintes de


2017 e 2018, de modo que a dívida desse país com o Brasil no CCR alcançou
o valor de USD 567,9 milhões, não incluídos os juros de mora cabíveis. Porém,
a dívida atual com o BCB se reduziu para USD 403,6 milhões, pois do valor
inicial foram excluídos USD 131,3 milhões referentes a operações indenizadas
pelo FGE aos exportadores brasileiros. (...) Destaca-se que a Venezuela ainda
tem para com o Brasil um estoque a vencer de USD 661,6 milhões até 2024
(BCB, 2019, p. 18).

A novidade presente nessa decisão foi o fato de uma tomada de decisão de política externa
ter sido adotada pelo BCB, em vez do Itamaraty ou da presidência da República. Adicionalmente,
a Venezuela teve um papel central nessa decisão, pois, de acordo com o BCB (2019, p. 19), “os
eventos recentes evidenciam claramente os riscos do sistema e fortaleceram os argumentos em
favor de uma reavaliação da participação no convênio”. Em suma, a queda do comércio bilateral,
a crise venezuelana e a mudança de ênfase de política econômica brasileira afetaram a forma
como o Brasil passou a entender o endividamento com o vizinho e, principalmente, a compla-
cência das burocracias nacionais com a situação. Desse modo, notou-se uma decisão de política
externa tomada diretamente pelo BCB, focada em preservar os recursos do órgão em vez de
avaliar os efeitos mais profundos para a política comercial brasileira.

6.1.1 Análise da evolução do comércio bilateral por produto

As oscilações do comércio bilateral entre Brasil e Venezuela, nos dois últimos decênios, não
se restringiram, apenas, à ascensão e queda dos fluxos comerciais. Uma análise mais detalhada,
por exemplo, nos permite identificar consideráveis mudanças na pauta de exportação dos bens
brasileiros destinados à economia venezuelana.

Ao filtrar a evolução dos intercâmbios bilaterais entre Brasil e Venezuela e analisar as mu-
danças na participação relativa dos produtos que compuseram a pauta de exportação brasileira
destinada ao país vizinho, entre 2000 e 2021, segundo o capítulo do Sistema Harmonizado (SH2),
foi possível compreender os movimentos do comércio bilateral e identificar tendências.

Em 2000, os dez principais produtos exportados pelo Brasil para a Venezuela concen-
traram mais de 70% do total das vendas brasileiras para o país caribenho. Ou seja, dos cerca de
US$ 750 milhões vendidos pelo país aos venezuelanos, mais de US$ 550 milhões eram
compostos por esses dez produtos. Naquele ano, coube destaque aos seguintes bens: SH2 87 –
veículos automóveis, tratores, ciclos e outros veículos terrestres, suas partes e acessórios;

89
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

SH2 85 – máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e suas partes; aparelhos de gravação ou de re-
produção de som, aparelhos de gravação ou de reprodução de imagens e de som em televisão, e suas
partes e acessórios; e SH2 84 – reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos
mecânicos, e suas partes, que foram os três principais produtos vendidos pelo Brasil para a Venezuela
e que representaram, respectivamente, 18,9%, 17,5% e 13,2% do total das vendas em 2000.

A tabela 6 permite avaliar a composição da pauta de exportação brasileira para a Venezuela,


em 2000. É possível identificar, por exemplo, a predominância dos produtos industriais de alto
e médio valor agregado, como foram os casos dos bens manufaturados e semimanufaturados
destinados pelo Brasil à economia venezuelana.

TABELA 6
Exportações brasileiras para a Venezuela, em 2000, por principais produtos (SH2)1
SH2 Descrição US$ milhões %
Veículos automóveis, tratores, ciclos e outros veículos terrestres,
87 141,4 18,9
suas partes e acessórios
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e suas partes; aparelhos
85 de gravação ou de reprodução de som, aparelhos de gravação ou de 131,4 17,5
reprodução de imagens e de som em televisão, e suas partes e acessórios
Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos
84 99,1 13,2
mecânicos, e suas partes
40 Borracha e suas obras 33,8 4,5
21 Preparações alimentícias diversas 32,5 4,3
72 Ferro fundido, ferro e aço 28,9 3,8
73 Obras de ferro fundido, ferro ou aço 24,7 3,3
Sementes e frutos oleaginosos; grãos, sementes e frutos diversos; plantas
12 22,8 3,0
industriais ou medicinais; palhas e forragens
30 Produtos farmacêuticos 20,1 2,7
48 Papel e cartão; obras de pasta de celulose, de papel ou de cartão 19,1 2,5
Subtotal 553,8 73,9
Total 749,8 100

Fonte: Comex Stat/MDIC.


Nota: 1 FOB, em dólares nominais.

Em 2010, as dez principais categorias de bens vendidas pelo Brasil para a Venezuela concentra-
ram 73,7% do total das vendas brasileiras para o país vizinho. Ou seja, dos mais de US$ 3,8 bilhões
vendidos pelo Brasil à Venezuela, mais de US$ 2,8 bilhões eram compostos por esses dez produtos.
Naquele ano, destacaram-se como os três principais produtos na pauta de exportação brasileira
para a Venezuela: SH2 01 – animais vivos (16,4% das vendas, ou US$ 630,8 milhões), SH2 02 –

90
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

carnes e miudezas, comestíveis (12,6%, ou US$ 484,4 milhões); e SH2 17 – açúcares e produtos de
confeitaria (11,5% ou US$ 441 milhões).

A tabela 7 permite elencar os principais produtos exportados pelo Brasil para a Venezuela,
em 2010. A partir dela, já é possível identificar uma tendência de queda da participação de bens
manufaturados na pauta de exportação brasileira para o país vizinho, em detrimento do aumento
da participação de bens primários alimentícios.

TABELA 7
Exportações brasileiras para a Venezuela, em 2010, por principais produtos (SH2)1
SH2 Descrição US$ milhões %
01 Animais vivos 630,8 16,4
02 Carnes e miudezas, comestíveis 484,4 12,6
17 Açúcares e produtos de confeitaria 441,0 11,5
Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos
84 323,8 8,4
mecânicos, e suas partes
Veículos automóveis, tratores, ciclos e outros veículos terrestres, suas partes
87 281,7 7,3
e acessórios
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e suas partes; aparelhos
85 de gravação ou de reprodução de som, aparelhos de gravação ou de 176,0 4,6
reprodução de imagens e de som em televisão, e suas partes e acessórios
30 Produtos farmacêuticos 150,4 3,9
39 Plásticos e suas obras 133,2 3,5
40 Borracha e suas obras 127,7 3,3
48 Papel e cartão; obras de pasta de celulose, de papel ou de cartão 85,9 2,2
Subtotal 2.834,7 73,7
Total 3.848,1 100

Fonte: Comex Stat/MDIC.


Nota: 1 FOB, em dólares nominais.

Nos últimos vinte anos houve uma notada mudança na composição dos principais produtos
da pauta de exportação brasileira para a Venezuela. Em 2020, não mais figuram entre os princi-
pais itens vendidos pelo Brasil para o país vizinho os bens manufaturados ou semimanufaturados
de outrora, fato que pode ser conferido na tabela 8.

91
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

TABELA 8
Exportações brasileiras para a Venezuela, em 2020, por principais produtos (SH2)1
SH2 Descrição US$ milhões %
17 Açúcares e produtos de confeitaria 176,8 22,6
Gorduras e óleos animais ou vegetais; produtos da sua dissociação;
15 142,3 18,2
gorduras alimentares elaboradas; ceras de origem animal ou vegetal
10 Cereais 128,1 16,4
Preparações à base de cereais, farinhas, amidos, féculas ou leite;
19 90,3 11,5
produtos de pastelaria
Produtos da indústria de moagem; malte; amidos e féculas; inulina;
11 50,3 6,4
glúten de trigo
21 Preparações alimentícias diversas 29,7 3,8
Preparações de carne, de peixes ou de crustáceos, de moluscos
16 17,9 2,3
ou de outros invertebrados aquáticos
09 Café, chá, mate e especiarias 14,1 1,8
Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos
84 13,7 1,8
mecânicos, e suas partes
39 Plásticos e suas obras 12,4 1,6
Subtotal 675,6 86,4
Total 782,1 100

Fonte: Comex Stat/MDIC.


Nota: 1 FOB, em dólares nominais.

A partir da comparação entre as tabelas 6, 7 e 8, é possível dimensionar o ganho de partici-


pação de algumas commodities nas principais vendas brasileiras para a Venezuela. Tal fenômeno
pode ser entendido, sobretudo, em razão da forte queda da participação dos produtos de alto e
médio valor agregado, reflexo da instável relação entre ambos os países. Os três principais itens
vendidos pelo Brasil para o vizinho sul-americano, em 2020, foram: SH2 17 – açúcares e produ-
tos de confeitaria; SH2 15 – gorduras e óleos animais ou vegetais; produtos da sua dissociação;
gorduras alimentares elaboradas; ceras de origem animal ou vegetal; e SH2 10105 – cereais. Tais
produtos primários alcançaram, respectivamente, 22,6%, 18,2% e 16,4% da participação das
vendas brasileiras para a Venezuela, no ano considerado.

De maneira geral, foi possível identificar uma gradual substituição do comércio de bens indus-
trializados por gêneros alimentícios e derivados nas exportações brasileiras destinadas à Venezuela,
ao longo dos dois últimos decênios. O cenário na América do Sul igualmente é complexo. A região

105. Entre os cereais que o Brasil destinou à Venezuela, em 2020, destacaram-se o arroz (SH4 10.06), com
US$ 103,7 milhões; o milho (SH4 10.05), com US$ 24,4 milhões; e o sorgo de grão (SH4 10.07), com pouco
mais de US$ 47 mil.

92
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

que até pouco tempo era concebida com um destino estratégico para o setor industrial brasileiro vem
perdendo espaço para os intercâmbios extrarregionais, em especial para Ásia. O que se tem visto nos
últimos anos é o arrefecimento das relações entre os países sul-americanos, retroalimentado pela
fragmentação política e desintegração econômica regionais.106

TABELA 9
Exportações brasileiras para a Venezuela, em 2021, por principais produtos (SH2)1
SH2 Descrição US$ milhões %
Gorduras e óleos animais ou vegetais; produtos da sua dissociação;
15 244,4 22,4
gorduras alimentares elaboradas; ceras de origem animal ou vegetal
17 Açúcares e produtos de confeitaria 201,0 18,4
Preparações à base de cereais, farinhas, amidos, féculas ou leite;
19 162,0 14,9
produtos de pastelaria
10 Cereais 104,5 9,6
Preparações de carne, de peixes ou de crustáceos, de moluscos
16 65,7 6,0
ou de outros invertebrados aquáticos
Produtos da indústria de moagem; malte; amidos e féculas; inulina;
11 47,2 4,3
glúten de trigo
21 Preparações alimentícias diversas 45,5 4,2
39 Plásticos e suas obras 21,1 1,9
Sabões, agentes orgânicos de superfície, preparações para lavagem,
34 20,2 1,9
preparações lubrificantes, ceras artificiais, ceras preparadas, ...
Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos
84 17,4 1,6
mecânicos, e suas partes
Subtotal 928,9 85,2
Total 1.090 100,0

Fonte: Comex Stat/MDIC.


Nota: 1 FOB, em dólares nominais.

É importante destacar que, apesar de manter-se nove dos dez principais produtos exportados
pelo Brasil para a Venezuela, na comparação entre 2020 e 2021 (tabelas 8 e 9), houve significativa
alternância na posição dos produtos. Em 2021, as gorduras e os óleos animais e vegetais (SH2 15)
lideraram as exportações brasileiras para o vizinho sul-americano, totalizando US$ 244,4 milhões.
A comparação entre as tabelas 8 e 9 permite observar que entre os dez principais produtos expor-
tados pelo Brasil para a Venezuela, apenas o café (SH2 09) foi substituído pelas vendas de sabão e
preparações para lavagem (SH2 34). Os nove demais produtos permaneceram, apesar de algumas
oscilações de posição.

106. Ver Barros, Gonçalves e Samurio (2020).

93
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

6.2 Investimentos em infraestrutura

Outro eixo fundamental das relações econômico-comerciais com a Venezuela foi resultado do
financiamento do BNDES para a exportação de bens e serviços brasileiros para o país. Historicamente,
o banco teve um papel fundamental na internacionalização das empresas brasileiras a partir da criação
de linhas de crédito BNDES-exim e Pré-embarque Especial, em 1997, que possibilitaram o financia-
mento de outros produtos além de bens de capital (tais como serviços de engenharia, têxteis, calçados,
químicos, couros, alimentos e eletrônicos), resultando na ampliação substantiva do financiamento à
exportação de empresas brasileiras e na abertura de caminho para a utilização de bancos estrangei-
ros como garantidores (Além e Cavalcanti, 2005; Valdez, 2011, p. 48-50). A mudança do estatuto do
banco, em 2002,107 emergiu como forma de aprofundar esse processo, passando a autorizar o finan-
ciamento de infraestrutura interna em países vizinhos, desde que estivessem associados à contratação
de serviços, empresas e produtos brasileiros (Iglecias, 2013, p. 162).

Tal movimento permitiu desembolsos do BNDES para os países da América do Sul, seja apoiando
a formação de conglomerados brasileiros na região, com maior fatia de mercado, seja no financiamen-
to de infraestrutura em países vizinhos. Alguns exemplos foram: a compra pela Petrobras da petroleira
argentina, Pérez Companc; a aquisição pela Camargo Corrêa da maior fábrica de cimento argentina, a
Loma Negra; a aquisição do frigorífico Swift pela Friboi/JBS S/A; e as obras de linhas de metrô no Chile
e na Venezuela. O impacto do banco na atuação das empresas brasileiras no exterior foi grande em
diversas áreas. Em 2010, por exemplo, cerca de 70% do mercado de carnes uruguaio e 90% do mer-
cado de soja paraguaia passaram a ser controlados por empresas brasileiras (Souza, 2010, p. 49-50).

No que concerne à Venezuela, as operações do BNDES concentram-se, principalmente, na área


de infraestrutura e energia, com os maiores desembolsos destinados ao financiamento de ativida-
des de grandes empresas de construção civil brasileiras. No campo de bens de capital de alto valor
agregado, o BNDES também financiou a aquisição de equipamentos para a construção do metrô,
equipamentos do setor energético e a aquisição de aeronaves civis da Embraer S/A no modelo
ERJ-190, entregues em 2013.

A tabela 10 refere-se às operações do BNDES de apoio à exportação de bens do Brasil


para Venezuela. Figuraram entre as empresas apoiadas a Marcopolo Trading S/A, a Alstom Hydro
Energia Brasil ltda., a Cotia Trading S/A, Construtora Norberto Odebrecht S/A (CNO S/A), a Metso
Brasil Indústria e Comércio ltda., a PDL Sistemas ltda. e a Embraer S/A. Com exceção da CNO
S/A, que foi responsável por três operações, todas as demais tiveram apenas uma operação cada.
Destaca-se, também, que apenas a operação da Embraer S/A permanece com o status de ativa,
todas as demais constam como liquidadas.

107. Ver Decreto no 4.418, de 11 de outubro de 2018. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/


ccivil_03/decreto/2002/D4418.htm>.

94
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

TABELA 10
Operações do BNDES de apoio à exportação de bens do Brasil para a Venezuela
Data da Descrição da Situação da Tipo de
Exportador Setor/subsetor de atividade
contratação operação operação garantia
Seguro de
Marcopolo Exportação Comércio/Serviços/Comércio por atacado,
11/6/2002 Liquidada crédito/FGE/
Trading S.A. de bens exceto veículos automotores e motocicletas
Pessoal
Alstom Hydro
Exportação Seguro de
Energia 31/12/2003 Comércio/Serviços/Obras de infraestrutura Liquidada
de bens crédito/FGE
Brasil LTDA
Cotia Exportação Comércio/Serviços/Comércio por atacado, Seguro de
30/8/2005 Liquidada
Trading S.A. de bens exceto veículos automotores e motocicletas crédito/FGE
Exportação Comércio/Serviços/Serviços
CNO S.A. 26/3/2008 Liquidada Pessoal
de bens especializados para construção
Exportação Comércio/Serviços/Serviços
CNO S.A. 11/12/2008 Liquidada Pessoal
de bens especializados para construção
Exportação Comércio/Serviços/Serviços
CNO S.A. 27/3/2009 Liquidada Pessoal
de bens especializados para construção
Metso Brasil
Indústria e Exportação Indústria/Fabricação de máquinas e
26/12/2012 Liquidada Pessoal
Comércio de bens equipamentos
LTDA
PDL Sistemas Exportação Indústria/Fabricação de
17/1/2013 Liquidada Pessoal
LTDA de bens máquinas e equipamentos
Indústria/Fabricação de outros
Exportação Seguro de
Embraer S.A. 9/4/2013 equipamentos de transporte, Ativa
de bens crédito/FGE
exceto veículos automotores
Fonte: BNDES (dados atualizados até 30 de setembro de 2021).
Elaboração dos autores.

No tocante à tabela 11, que se refere às operações do BNDES de apoio à exportação de


serviços do Brasil para Venezuela, destacaram-se entre as empresas apoiadas: a CNO S/A, com
quatro operações relacionadas ao metrô de Caracas, entre 2001 e 2009; e a construtora Andrade
Gutierrez Engenharia S/A, com duas operações destinadas à construção de uma usina siderúr-
gica (2010) e a implementação de um estaleiro para construção e manutenção de embarcações
(2011). Todas as seis operações tiveram como tipo de garantia o seguro de crédito/FGE, e apenas
as duas últimas operações permanecem ativas; as demais foram todas liquidadas.

As indenizações do Seguro de Crédito à Exportação, segundo a Subsecretaria de Fi-


nanciamento ao Comércio Exterior, Secretaria-Executiva da Câmara de Comércio Exterior
(SE-Camex)/Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (Secint)/Ministério da
Economia (ME), atualizadas até 7 de maio de 2021, para a Venezuela somam US$ 829,9 milhões, dos
quais US$ 672 milhões tiveram o BNDES como financiador.

95
TABELA 11
Operações do BNDES de apoio à exportação de serviços do Brasil para a Venezuela
2761

Valor Juros
Data da Prazo total Situação da Tipo de
Exportador Descrição da operação desembolsado (taxa fixa em
contratação (meses) operação garantia
(US$) US$)
Seguro de
Construtora Norberto Exportação de bens e serviços para a
31/7/2001 107.500.000 5,56 150 Liquidada crédito/FGE/
Odebrecht S.A. C.A. Metro Caracas
Exportador
Exportação de bens e serviços para a construção
do trecho El Valle-La Rinconada, com 6,2 km de
Construtora Norberto Seguro de
31/12/2004 extensão, três estações e um intercâmbio intermodal, 78.000.000 6,00 102 Liquidada
Odebrecht S.A. crédito/FGE
integrante da linha 3 do metrô
de Caracas/Venezuela
Exportação de bens e serviços de engenharia
Construtora Norberto destinados à construção da linha 2 do Metro de los Seguro de
12/11/2009 492.975.887 4,63 108 Liquidada
Odebrecht S.A. Teques, na Venezuela, com 12 km de extensão e seis crédito/FGE
estações em seu percurso

96
Exportação de bens e serviços de engenharia
Construtora Norberto Seguro de
12/11/2009 destinados à construção da linha 5 do 197.749.330 4,63 114 Liquidada
Odebrecht S.A. crédito/FGE
metrô de Caracas, na Venezuela
Exportação de bens e serviços de engenharia,
Construtora Andrade Seguro de
30/12/2010 destinados à contrução de Usina Siderúrgica 390.544.042 4,45 144 Ativa
Gutierrez S.A. crédito/FGE
Nacional no estado de Bolívar, na Venezuela
Exportação de bens e serviços para a implantação de
Construtora Andrade Seguro de
20/9/2011 um estaleiro para construção, reparos e manutenção 240.152.573 3,45 144 Ativa
Gutierrez S.A. crédito/FGE
de embarcações, na Venezuela

Fonte: BNDES (dados atualizados até 30 de setembro de 2021).


Elaboração dos autores.
TEXTO para DISCUSSÃO
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Em relação aos desembolsos do BNDES (pós-embarque) por destino das exportações fi-
nanciadas, destaca-se que, para a Venezuela, as operações alcançaram seu maior montante em
2013, ano em que o país foi destino de US$ 571 milhões em desembolsos do banco. Esse valor
representou cerca de 23,3% do total de desembolso realizado pelo BNDES na época. O gráfico 5
permite avaliar a evolução dos desembolsos do BNDES para a Venezuela e para a ALC nos dois
decênios analisados.

GRÁFICO 5
Desembolsos do BNDES (pós-embarque) por destino das exportações
financiadas (2000-2020)1
(Em US$ 1 mil)

3.000.000

2.500.000

2.000.000

1.500.000

1.000.000

500.000

0
2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

Venezuela ALC Total

Fonte: BNDES, disponível em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia>.


Elaboração dos autores.
Nota: 1 Estatísticas operacionais de apoio à exportação: desembolso anual na modalidade pós-embarque
por destino das exportações.

Entre 2005 e 2015, apesar de algumas oscilações, o BNDES ampliou substantivamente a


fatia de desembolsos destinados ao país andino (tabela 12). Tais dados denotam a importância
que a Venezuela ocupou tanto no valor desembolsado para a ALC quanto no universo de investi-
mentos do banco. O fim dos desembolsos do BNDES para a Venezuela ocorreu em 2015, período
condizente com a crise política do regime chavista e a crise político-econômica brasileira.

97
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

TABELA 12
Participação da Venezuela como destino dos desembolsos do BNDES (pós-embarque):
exportações financiadas (2000-2020)
(Em %)
Ano Venezuela
2000 0,1
2001 1,0
2002 3,0
2003 2,7
2004 2,3
2005 1,0
2006 1,4
2007 10,1
2008 2,6
2009 2,2
2010 13,2
2011 14,6
2012 6,8
2013 23,3
2014 3,8
2015 13,5
2016 0,0
2017 0,0
2018 0,0
2019 0,0
2020 0,0

Fonte: BNDES.
Elaboração dos autores.

A postura brasileira de empregar o BNDES como recurso de política externa nas relações com a
ALC inspirou posições diplomáticas do Brasil no concernente à integração regional, entrando, muitas
vezes, em linha de choque com as posições venezuelanas sobre o tema. Durante as negociações para
a criação de um mecanismo de financiamento de infraestrutura regional – o Banco do Sul –, o governo
brasileiro apresentou uma postura diferente do regime chavista e pressionou durante as negociações
(Calixtre e Barros, 2010). O Brasil não tinha interesse em criar um sistema financeiro paralelo que
substituísse o FMI e o BID, tal como aspirava a Venezuela (Briceño-Ruiz, 2016, p. 166; Calixtre e Barros,
2010; Moreira, 2018, p. 240). Órgãos nacionais, como BCB e Ministério da Fazenda, adicionalmente,
também se preocupavam com a governança dos recursos e exigiam regras rigorosas para seu uso.

98
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

A posição brasileira era manter o BNDES como principal instrumento de financiamento re-
gional, garantindo ao Brasil poder decisório (Mariano, 2007, p. 130). As negociações levaram
a uma flexibilização da postura original brasileira e de adoção de regras mais rígidas para go-
vernança dos recursos para que fosse assinado o Convênio Constitutivo do Banco do Sul, com
sede em Caracas, contando com a adesão de Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e
Venezuela, em dezembro de 2009. Ao final, o Brasil cedeu em duas demandas da Venezuela e dos
demais países: i) ter um instrumento cuja influência dos países fosse baseada no valor total inves-
tido; e ii) utilizar somente o BNDES como financiador da infraestrutura regional (Pedroso, 2015,
p. 147-148; Vigevani e Ramanzini Júnior, 2014, p. 436-437).

Ainda assim, o banco jamais entrou em vigor e o BNDES manteve sua posição de financia-
dor regional durante os anos seguintes. A análise dos dados ilustra, por exemplo, que os maiores
financiamentos para a Venezuela ocorreram posteriormente à assinatura do Convênio Constitutivo
do Banco do Sul, em 2009, sinalização de uma posição ambígua do Brasil sobre o tema. O país
preferiu dar seguimento de modo mais substantivo a uma outra iniciativa, o New Development
Bank (NDB), do grupo do BRICS, acordado em 2013 e inaugurado oficialmente no ano seguinte.
Diferentemente do Convênio Constitutivo do Banco do Sul (que fora assinado em 2009 e pa-
rou na Comissão de Assuntos Econômicos do Congresso Nacional – CAE, jamais tendo ido a
plenário), o acordo do NDB foi assinado, em 2013, e rapidamente promulgado dois anos de-
pois,108 em dezembro de 2015.109 O Projeto de Decreto Legislativo no 548/2012, que aprovaria
o Banco do Sul, ainda tramita no Congresso Nacional e teve sua última apreciação em 2015,110
restando ainda a ratificação de Brasil e Paraguai.111

Cabe destacar, todavia, que mesmo com a resistência legislativa de aderir ao Banco do Sul,
o BNDES gradualmente perderia o seu espaço na política externa do Brasil para a Venezuela e
a América do Sul. Nos anos mais recentes, o banco ocupou importante parte no debate político
brasileiro e sofreu severas críticas públicas da oposição ao governo Rousseff e ao PT. Foi, inclusive,
foco de investigação durante a Operação Lava Jato e por uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) no Senado após o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. As principais construtoras
financiadas pelo banco, para obras de infraestrutura no exterior, foram indiciadas e consideradas

108. O tratado entrou em vigor em julho de 2015. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/


notas-a-imprensa/10391-conclusao-do-processo-de-ratificacao-do-tratado-para-o-estabelecimento-de-
um-arranjo-contingente-de-reservas-dos-brics-cra-e-entrada-em-vigor-do-acordo>.
109. Decreto no 8.624/2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/decreto/D8624.htm>.
110. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=538364>.
111. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2016/08/banco-do-sul-chama-brasil-e-
paraguai-para-ratificar-sua-fundacao-20160826200004399399.html>.

99
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

culpadas por esquemas de desvios de recursos públicos e financiamento de campanhas eleito-


rais para continuar a receber benefícios do governo de ocasião. Na CPI do BNDES, instalada em
2 de agosto de 2017, o relatório final da comissão do Senado Federal apresentou diversas críticas
aos financiamentos realizados à Venezuela. O relator da CPI, o senador pelo Maranhão Roberto
Rocha (Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB), por exemplo, criticou investimentos no
país andino sob a justificativa de que o Brasil estaria financiando países antidemocráticos.112

Nesse contexto, indagou ao interpelado, como se justificar, diante da carência de


infraestrutura no Brasil, o benefício ao exterior? Como defender investimentos
em obras como a do porto de Mariel em Cuba ou do metrô na Venezuela ou
a construção de usinas e rodovias em Angola, em países não democráticos,
deixando o BNDES de canalizar os recursos que deveriam estar financiando a
infraestrutura precária de nosso País? (Alcolumbre e Rocha, 2018).

Apesar das críticas em relação à atuação do BNDES, nos chamam atenção algu-
mas informações extraídas a partir da tabela 13, que traz o acumulado dos desembolsos
realizados pelo banco nos dois últimos decênios na modalidade pós-embarque, por destino das
exportações financiadas. Mesmo que alguns países sul-americanos tenham figurado entre os
principais destinos dos desembolsos do BNDES, a participação estadunidense representou, com
ampla margem em relação aos demais países, o principal destino do acumulado dos desembolsos
(pós-embarque) do BNDES, com cerca de 47,9% do total despendido pelo banco (US$ 18,8 bilhões).

TABELA 13
Acumulado dos desembolsos do BNDES (pós-embarque), por destino das exportações
financiadas (1998-2020)
(Em US$ mil)

Acumulado dos desembolsos do BNDES (pós-embarque)


Países %
por destino das exportações
Estados Unidos 18.817.110 47,9
Argentina 3.501.972 8,9
Angola 3.397.624 8,7
Venezuela 2.223.298 5,7
Países Baixos 1.468.402 3,7
(Continua)

112. O resultado das pressões políticas sobre o banco nas questões de Venezuela e Cuba foi um esforço maior
de transparência e a aprovação de um novo estatuto em 2017 (a maior reforma estatutária desde 2002),
adaptando-se à Nova Lei das Estatais (Lei no 13.303/2016) e buscando melhorar a governança do BNDES.

100
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Acumulado dos desembolsos do BNDES (pós-embarque)
Países %
por destino das exportações
República Dominicana 1.443.322 3,7
Equador 946.737 2,4
Cuba 882.801 2,2
Peru 653.321 1,7
Reino Unido 644.746 1,6
Polônia 548.830 1,4
Chile 511.729 1,3
México 456.818 1,2
Espanha 388.050 1,0
França 331.927 0,8
Itália 256.090 0,7
Canadá 254.514 0,6
Ilhas Cayman 243.385 0,6
Paraguai 242.598 0,6
Irlanda 205.432 0,5
Moçambique 188.332 0,5
Guatemala 167.895 0,4
Bolívia 154.876 0,4
Gana 153.606 0,4
El Salvador 153.041 0,4
Uruguai 111.786 0,3
China 106.505 0,3
Noruega 89.987 0,2
Japão 80.080 0,2
Colômbia 76.256 0,2
Bielorússia 72.132 0,2
Honduras 59.443 0,2
Panamá 55.023 0,14
África do Sul 52.061 0,13
Cazaquistão 50.552 0,13
Costa Rica 48.294 0,12
Suíça 39.108 0,10
Emirados Árabes Unidos 36.000 0,09
Portugal 32.856 0,08
Montenegro 32.443 0,08
Jamaica 23.903 0,06
(Continua)

101
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Acumulado dos desembolsos do BNDES (pós-embarque)
Países %
por destino das exportações
Nigéria 16.382 0,04
Guiné Equatorial 11.140 0,03
Nicarágua 6.453 0,02
Suécia 5.964 0,02
Zimbábue 1.251 0,003
Alemanha 483 0,001
Bahamas 217 0,001
Total 39.244.777 100

Fonte: BNDES.
Elaboração dos autores.

6.3 Excepcionalidades dos estados fronteiriços:


Amazonas e Roraima

Entre as hipóteses que podem explicar parte das mudanças ocorridas no perfil do comércio
entre Brasil e Venezuela, nos últimos anos, destacam-se o abandono da utilização de instrumen-
tos financeiros de compensação e de facilitação dos intercâmbios regionais. Entende-se que o
arrefecimento do uso desses mecanismos causou a diminuição do comércio geral entre Brasil e
Venezuela – em alguma medida – e o aumento da dinâmica comercial nas áreas de fronteira, em
especial no Amazonas e em Roraima.

É importante destacar que fatores externos também impulsionaram a dinâmica fronteiriça


entre o estado de Roraima e a Venezuela. As sanções econômicas sofridas pelo país andino, por
exemplo, tiveram um importante peso na reorganização do comércio entre o Brasil e a Venezuela,
cabendo ao estado de Roraima um inédito papel protagonista. Os últimos anos têm sido de fortes
transformações em Roraima. O estado tem experimentado um desempenho econômico robusto,
significativamente melhor que a média brasileira, registrando recordes em seu comércio exterior.
Roraima exportou, em 2021, US$ 336,6 milhões para o mundo, sendo mais de US$ 244 milhões
somente para a Venezuela. Em 2000, o montante vendido pelo estado para o exterior foi de pou-
co mais de US$ 2,5 milhões. Ou seja, as exportações roraimenses cresceram mais de 130 vezes
no período considerado, em dólares nominais. Roraima nunca vendeu tanto como vende hoje em
dia, e a Venezuela é a grande responsável por sustentar esse crescimento no período recente.
Outro elemento impulsionador do crescimento econômico do estado foram as transferências de
recursos, via programas sociais, para venezuelanos, em resposta à crise migratória sofrida pelo
país vizinho. Por mais que boa parte do comércio na fronteira entre Pacaraima, em Roraima, e

102
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Santa Elena do Uairén não tenha registro, o recebimento de recursos e benefícios sociais por parte
dos venezuelanos garante que se mantenha aquecido o fluxo de comércio informal. Na prática, é
provável que os benefícios sociais sejam gastos em alimentos e remédios do lado brasileiro.

A não utilização do CCR, por exemplo, permitiu uma reconfiguração do perfil das trocas
bilaterais entre os países. Antes, os intercâmbios comerciais entre Brasil e Venezuela tinham no
setor de manufaturados seu fator dinamizador. Contudo, mais recentemente, esse tipo de pro-
duto industrializado foi sendo gradativamente substituído por bens com menor valor agregado,
em especial gêneros alimentícios como carne e miudezas, arroz, açúcar, xarope, óleos, gorduras e
outras preparações alimentícias.

Nos últimos anos, os estados do Amazonas e Roraima vêm se destacando como os principais
abastecedores dos produtos brasileiros para a Venezuela. Ao considerar as vendas brasileiras des-
tinadas ao país vizinho, por UF, em 2021, tem-se que 37,9% do total das exportações realizadas
para a Venezuela tiveram como origem Roraima (22,4% ou US$ 244,6 milhões) e Amazonas
(15,5% ou US$ 169,5 milhões). Para a análise completa, referente a todos os estados da Fede-
ração, ver a tabela 14.

TABELA 14
Exportações brasileiras para a Venezuela, por UF, em 2021 (janeiro-outubro)1
UF do produto Destino US$ milhões %
Roraima 244,6 22,4
Amazonas 169,5 15,5
São Paulo 149,0 13,7
Mato Grosso 116,4 10,7
Mato Grosso do Sul 94,8 8,7
Goiás 75,9 7,0
Rio Grande do Sul 73,8 6,8
Paraná Venezuela 36,9 3,4
Pernambuco 21,6 2,0
Ceará 19,6 1,8
Rio de Janeiro 17,9 1,6
Santa Catarina 15,5 1,4
Minas Gerais 13,8 1,3
Pará 13,3 1,2
Não declarada 11,8 1,1
(Continua)

103
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
UF do produto Destino US$ milhões %
Alagoas 8,3 0,76
Espírito Santo 2,0 0,2
Bahia 1,9 0,17
Rondônia 1,8 0,16
Tocantins 0,9 0,1
Amapá Venezuela 0,5 0,04
Maranhão 0,4 0,04
Paraíba 0,09 0,01
Sergipe 0,08 0,01
Rio Grande do Norte 0,04 0,003
Distrito Federal 0,004 0,0003
Total 1.090 100
Fonte: Comex Stat/MDIC.
Nota: 1 FOB, em dólares nominais.

Os únicos estados brasileiros que fazem fronteira com a Venezuela são Amazonas e Roraima.
Segundo o IBGE, em 2021, o estado do Amazonas e de Roraima tinham uma população estimada
de 4,27 milhões e 652 mil habitantes, respectivamente. Enquanto o estado do Amazonas possui
62 municípios, Roraima possui apenas quinze cidades e, portanto, é o estado brasileiro com o
menor número de municípios.

As exportações do Amazonas e de Roraima para a Venezuela, entre 2000 e 2020,


fizeram registro quase que exclusivamente pela Unidade da Receita Federal (URF) da cidade
de Pacaraima, via BR-174, estrada que liga o estado à fronteira venezuelana, em Santa Elena de
Uairén, no estado amazônico de Bolívar. Em 2021, as exportações estaduais do Amazonas e
de Roraima destinadas à Venezuela totalizaram US$ 169,5 milhões e US$ 244,3 milhões, res-
pectivamente. A tabela 15 permite visualizar o valor mensal das vendas realizadas no ano por
ambos os estados para o país vizinho.

104
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

TABELA 15
Exportações do Amazonas e de Roraima para a Venezuela, em 2021 (janeiro-outubro)1
(Em US$ milhões)

UF do produto
Mês Destino
Amazonas Roraima
Janeiro 11,3 13,9
Fevereiro 16,4 20,8
Março 20,0 17,6
Abril 13,3 18,8
Maio 15,1 21,0
Junho 13,8 17,3
Venezuela
Julho 14,2 20,3
Agosto 11,3 23,4
Setembro 14,5 21,1
Outubro 12,2 19,6
Novembro 12,5 26,2
Dezembro 14,7 24,6
Total 169,5 244,6
Fonte: Comex Stat/MDIC.
Nota: 1 FOB, em dólares nominais.

Entre 2000 e 2020 o estado de Roraima experimentou um acentuado crescimento de


suas exportações. Em 2000, as vendas estaduais direcionadas ao mercado externo totalizaram
US$ 2,6 milhões; duas décadas depois, as exportações roraimenses foram de US$ 196,8 milhões,
um crescimento de mais de 75 vezes, em valores nominais. Em 2021, as exportações do estado
seguiram em ritmo acelerado, superando US$ 336 milhões. De igual maneira, o comércio entre o
estado e a Venezuela foi de US$ 2,1 milhões, em 2000, para US$ 150 milhões, em 2020 – um cres-
cimento de mais de setenta vezes, em valores nominais, em duas décadas de análise. Em 2021, as
vendas de Roraima para a Venezuela foram superiores a US$ 244 milhões.

A Venezuela vem sendo a principal responsável pela dinamização das exportações roraimen-
ses no período mais recente. Nos dois últimos decênios, o país andino manteve-se, salvo alguns
poucos anos atípicos, como o principal destino das vendas do estado. Em 2000, a participação da
Venezuela nas exportações de Roraima foi superior a 80%, totalizando cerca de US$ 2,1 milhões.
Em 2020, a participação venezuelana nas vendas do estado esteve acima dos 75%, algo próximo
a US$ 150 milhões. A tabela 16 permite observar a evolução da participação da Venezuela como
destino dos produtos exportados de acordo com os dados do Comex Stat/MDIC.

105
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

TABELA 16
Evolução da participação da Venezuela nas exportações de Roraima (2000-2021)1
(Em US$ milhões)
Participação da Venezuela nas
Ano Exportações totais de Roraima Exportações de Roraima para a Venezuela
exportações de Roraima
2000 2,6 2,1 81,2
2001 4,4 3,4 77,3
2002 6 4,3 71,5
2003 3,8 1,8 46,8
2004 5,3 2,4 46,4
2005 8,5 3,6 42,3
2006 15,4 5,5 35,6
2007 16,3 5,5 33,7
2008 15,6 5,2 33,2
2009 12,6 5,0 39,8
2010 11,3 2,1 19,0
2011 15,1 4,0 26,5
2012 14,9 6,3 42,4
2013 8,0 2,6 31,9
2014 19,2 0,3 1,6
2015 11,6 0,6 5,1
2016 15,0 2,2 14,9
2017 41,4 15,9 38,5
2018 15,9 8,4 52,9
2019 157,7 73,6 46,7
2020 196,8 150,0 76,2
2021 336,6 244,0 72,6
Fonte: Comex Stat/MDIC.
Nota: 1 FOB, em dólares nominais.

A tabela 17, a continuação, refere-se à evolução da participação da Venezuela como destino


das exportações do estado do Amazonas. Em 2000, a participação do país andino nas expor-
tações amazonenses foi de 6,5%, o equivalente a US$ 49,9 milhões. Duas décadas depois, a
participação venezuelana nas vendas do estado esteve próxima a 25%, totalizando US$ 194,2 milhões.
Em 2021, a participação da Venezuela como destino das exportações amazonenses foi equivalente
a 19,5% do total das exportações do estado.

106
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

TABELA 17
Evolução da participação da Venezuela nas exportações do Amazonas (2000-2021)1
(Em US$ milhões)
Exportações do Amazonas para a Participação da Venezuela nas
Ano Exportações totais do Amazonas
Venezuela exportações do Amazonas
2000 768,0 49,9 6,5
2001 847,1 56,5 6,7
2002 1.063,3 59,1 5,6
2003 1.299,3 28,9 2,2
2004 1.155,2 46,9 4,1
2005 2.143,7 138,6 6,5
2006 1.516,7 284,4 18,7
2007 1.098 207,5 18,9
2008 1.258,1 181,1 14,4
2009 871,7 105,8 12,1
2010 1.103,9 98,1 9,0
2011 890,7 86,2 9,7
2012 958,4 131,4 13,7
2013 1.027,7 197,7 19,2
2014 924,0 190,9 20,7
2015 770,7 196,3 25,5
2016 575,0 75,8 13,2
2017 673,0 31,9 4,7
2018 678,9 10,5 1,5
2019 731,1 82,4 11,3
2020 786,7 194,2 24,7
2021 867,9 169,5 19,5

Fonte: Comex Stat/MDIC.


Nota: 1 FOB, em dólares nominais.

107
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

As exportações de Amazonas e Roraima para a Venezuela, em 2021, segundo a posição do


Sistema Harmonizado (SH4), seguem sendo concentradas em produtos básicos e gêneros alimen-
tícios. É possível perceber tal fenômeno nas tabelas 18 e 19, de acordo com o tipo de produto.

TABELA 18
Exportações de Roraima para a Venezuela por principais produtos (SH4) (2021)
SH4 Descrição US$ milhões %
Enchidos e produtos semelhantes, de carne, de miudezas ou de sangue; preparações
16.01 45,1 18,4
alimentícias à base de tais produtos
Margarina; misturas ou preparações alimentícias de gorduras ou de óleos animais
15.17 ou vegetais ou de fracções das diferentes gorduras ou óleos do presente capítulo, 44,6 18,2
exceto as gorduras e óleos alimentícios, e respectivas fracções, da posição 1.516
17.01 Açúcares de cana ou de beterraba e sacarose quimicamente pura, no estado sólido 32,6 13,3
Óleo de soja e respectivas fracções, mesmo refinados, mas não
15.07 29,4 12,0
quimicamente modificados
Extractos de malte; preparações alimentícias de farinhas, grumos, sêmolas, amidos,
19.01 féculas ou extractos de malte, não contendo cacau ou contendo-o numa proporção 16,8 6,9
inferior a 40%, em peso, não especificadas nem compreendidas noutras posições
Subtotal 169,0 68,9
Total 244,6 100

Fonte: Comex Stat/MDIC.

TABELA 19
Exportações do Amazonas para a Venezuela por principais produtos (SH4) (2021)
SH4 Descrição US$ milhões %
Extractos de malte; preparações alimentícias de farinhas, grumos, sêmolas, amidos,
19.01 féculas ou extractos de malte, não contendo cacau ou contendo-o numa proporção 76,8 43,2
inferior a 40%, em peso, não especificadas nem compreendidas noutras posições
17.01 Açúcares de cana ou de beterraba e sacarose quimicamente pura, no estado sólido 29,0 12,5
21.06 Preparações alimentícias não especificadas nem compreendidas noutras posições 21,8 11,6
Óleo de soja e respectivas fracções, mesmo refinados, mas não
15.07 18,2 16,4
quimicamente modificados
Margarina; misturas ou preparações alimentícias de gorduras ou de óleos animais
15.17 ou vegetais ou de fracções das diferentes gorduras ou óleos do presente capítulo, 7,5 5,3
exceto as gorduras e óleos alimentícios, e respectivas fracções, da posição 1.516
Subtotal 153,3 90
Total 169,5 100

Fonte: Comex Stat/MDIC.

108
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

6.4 Energia

Outro importante eixo das relações econômico-comerciais entre Brasil e Venezuela foram os
projetos focados na construção de infraestrutura energética, em especial os baseados na relação
entre a Petrobras e a PDVSA. Em 2005, por exemplo, foram definidos quinze acordos na área
energética entre os dois países; onze deles foram assinados entre as duas petroleiras estatais.

O quadro 8 apresenta os acordos de cooperação na área de energia entre Brasil e Venezuela, e


seus respectivos setores de atuação. Cabe destacar, todavia, que entre os diversos projetos conjuntos, os
mais ambiciosos, em especial os que demandavam a criação de empresas binacionais, não foram con-
solidados ao longo dos anos, mantendo-se apenas as discussões no nível de cooperação diplomática.

QUADRO 8
Acordos de cooperação na área de energia Brasil-Venezuela envolvendo Petrobras e
PDVSA assinados (2005)
Setor Atividade Tipo de relação Região foco
Exploração de petróleo extrapesado no
campo Carabobo I, situado na Faixa
Participação Campo Carabobo I (Faixa
Petróleo Petrolífera do Orinoco, que seria processado
da Petrobras Petrolífera do Orinoco)
em refinaria conjunta a ser construída em
Pernambuco, no Brasil.
Associação para a construção de navios-
Associação
Construção naval tanques, navios de apoio e plataformas -
Petrobras-PDVSA
petroleiras, com transferência de tecnologia.
Projeto “Mariscal Sucre”, situado no Norte
do estado Sucre, região centro-oriental da
Venezuela, para o desenvolvimento de quatro
campos (Rio Caribe, Mejillones, Patao e Participação
Gás natural Estado de Sucre
Dragon), com uma estrutura única de da Petrobras
produção, gasoduto único e as unidades de
separação, compressão e liquefação em terra
(construção de usina para a liquefação do gás).
Exploração de petróleo e gás na
Plataforma Deltana, com o objetivo de
Criação de
Petróleo e gás natural criar uma empresa binacional (Petrobras- Plataforma Deltana
empresa binacional
PDVSA) para explorar petróleo e gás na
Plataforma Deltana, na Venezuela.
Criação de empresa binacional
Criação de
Gás natural (Petrobras-PDVSA) para exploração de Golfo da Venezuela
empresa binacional
petróleo e gás no golfo da Venezuela.
(Continua)

109
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Setor Atividade Tipo de relação Região foco
Construção, em associação da Petrobras
com a Pequiven (subsidiária da PDVSA
para a área petroquímica), de fábrica de Associação
Indústria petroquímica Centro-Oeste do Brasil
fertilizantes na fronteira Bolívia e Brasil, Petrobras-Pequiven
com o objetivo de abastecer o mercado
consumidor do Centro-Oeste brasileiro.
Recuperação de campos maduros Criação de
Petróleo Venezuela
na Venezuela. empresa binacional
Construção de fábrica de lubrificantes
Lubrificantes da Petrobras e da PDVSA em Cuba, para Fábrica binacional Cuba
distribuição no Caribe.
Cooperação para permitir que a Venezuela
substituísse por etanol o uso do chumbo
Etanol na mistura com a gasolina e se tornasse - Venezuela
autossuficiente na produção, logística e
tecnologia de uso do etanol em cinco anos .
Cooperação no desenvolvimento de biodiesel,
Biodiesel - -
valorizando a produção das comunidades rurais.
Cooperação nas áreas de comércio e
transporte marítimo: swap de cargas, acordo
pelo qual a Petrobras enviaria petróleo
contratado pela PDVSA para o sul do
Logística - América Latina e Caribe
continente e a PDVSA, petróleo contratado
pela Petrobras, na mesma quantidade, para o
norte do continente, o que reduziria os custos
de transporte.
Capacitação de pessoal e cooperação
técnica e científica, com a definição dos
seguintes projetos específicos: estudos
de Gas To Liquid Technology (GTL) com o
objetivo de desenvolver técnicas para gerar
derivados de petróleo, como gasolina e diesel,
a partir do gás natural; estudos sobre eficiência
Cooperação técnica
energética; estudos sobre a utilização de - -
e científica
hidratos de metano; estudos sobre técnicas
para a produção de hidrogênio a partir das mais
distintas origens, do coque de petróleo ao gás
natural e à biomassa; estudos sobre logística
de armazenamento e transporte de hidrogênio;
e intercâmbio tecnológico na produção e
exploração petróleo.

Fonte: Moreira (2018, p. 190-192).


Elaboração dos autores.

Além dos projetos mencionados, uma importante proposta foi do Grande Gasoduto do Sul,
que ligaria Güiria, no delta do rio Orinoco, até Recife, em Pernambuco, passando por Roraima e

110
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

Amazonas. A proposta seria criar um gasoduto que desembocaria na nova refinaria Abreu e Lima,
que seria operada conjuntamente pela PDVSA e pela Petrobras. Em 2005, a Petrobras já havia
iniciado os trabalhos iniciais, orçados em US$ 2,4 bilhões, saltando para US$ 13,4 bilhões em
2009 e US$ 18,5 bilhões em 2015 (Moreira, 2018, p. 206).

O gasoduto não foi adiante como planejado. Uma conjunção de fatores políticos, econômi-
cos e conjunturais explica tal fracasso: i) desentendimentos entre a PDVSA e a Petrobras, visto
que a última não tinha o mesmo grau de liberdade na definição de projetos alinhados ao governo,
tal qual a estatal venezuelana; ii) aumento substantivo dos custos do projeto, desde 2005, para a
PDVSA, que levaram ao abandono do projeto pela estatal venezuelana em 2011; iii) dificuldades
de manter os investimentos realizados pela Petrobras em várias frentes simultâneas, em especial
pela descoberta do pré-sal e consequente redução da dependência energética brasileira, seguida
de priorização dos investimentos no litoral brasileiro a partir de 2008; iv) mudanças na legislação
da PDVSA, reduzindo a participação de empresas estrangeiras no setor petroleiro venezuelano;
v) avanços das investigações contra a corrupção, especialmente no âmbito da Operação Lava Jato
a partir de 2014-2015; e, por fim, vi) pelas mudanças na legislação de exploração petrolífera no
Brasil e pela adoção de um amplo programa de desinvestimento pela estatal brasileira a partir
de 2015 (Barros e Pinto, 2012, p. 109-110; Briceño-Ruiz, 2016, p. 161-163; Mares e Trinkunas,
2016, p. 119; Moreira, 2018, p. 191-192).

Um ponto importante e recente da dimensão energética das relações entre Brasil e Venezuela é
que, uma vez que a crise no país vizinho se acirrou, o governo brasileiro tem buscado novas formas
de abastecer energeticamente o estado de Roraima. O chamado Linhão de Tucuruí é um empre-
endimento de mais de 700 km, que abasteceria o estado de Roraima, mas, para isso, atravessaria
120 km de terras indígenas Waimiri Atroari, necessitando, portanto, de licenças ambientais. Essa tem
sido uma das prioridades do governo de Jair Bolsonaro que, desde o início de 2019, tem tentado
acelerar a obra (Costa, 2020; Mazui, 2019), sem êxito até o momento.

Nota-se que, na dimensão econômico-comercial, a Venezuela representou para a inserção interna-


cional e as relações bilaterais brasileiras, um caso paradigmático, baseado na diplomacia presidencial,
com o objetivo de ampliar as oportunidades comerciais, respaldada pelo uso do BNDES para apoiar
a internacionalização de empresas brasileiras, especialmente relacionadas a obras de infraestrutura
em países vizinhos e, por fim, na cooperação energética baseada em grandes projetos binacionais.
Tal como em outros eixos das relações bilaterais, notou-se no período entre 2000 e 2020 a definição,
a ascensão, o ápice, e a deterioração e o fim desse modelo de inserção internacional brasileiro.

Segundo o relatório anual de administração da Roraima Energia (de 2019), o supri-


mento de energia no estado passou por grandes mudanças nos últimos anos. Em 2018, a

111
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

composição do abastecimento de energia em Roraima era a seguinte: 73,6% fornecidos pela Ve-
nezuela (908.027 MWh); 24,5% por termelétricas (301.666 MWh); e 1,9% pela Pequena Central
Hidrelétrica (PCH) de Jatapú (23.231 MWh). Em 2019, com a interrupção do fornecimento vene-
zuelano em março, houve uma forte mudança na composição da geração de energia roraimense,
sintetizada pelo ganho de participação das termelétricas do estado em detrimento da perda do for-
necimento de energia hidrelétrica venezuelana. Em 2019, 85,3% da energia do estado foi suprida
por termelétricas (883.841 MWh); 12,7% pela Venezuela (131.631 MWh), concentrados nos dois
primeiros meses do ano; e, por fim, 2% pela PCH Jatapú (20.259 MWh). Em 2020 e 2021, os custos
para garantir o fornecimento de energia elétrica em Roraima aumentaram significativamente. À me-
dida que a matriz energética se concentrou na produção de energia termelétrica, o estado passou
a ser fortemente impactado pelo contínuo aumento do preço dos combustíveis. As termelétricas
utilizam como insumo fundamental para a geração de energia o óleo diesel.

Atualmente, Roraima consome aproximadamente 365 milhões de litros por ano (ou 1 milhão
de litros por dia) de óleo diesel para a geração de energia termelétrica. Caso a Venezuela con-
tinuasse fornecendo energia hidroelétrica no mesmo nível de 2018, seriam necessários apenas
92 milhões de litros por ano.

Considerando o preço médio de mercado do óleo diesel, em Roraima, segundo a Agência Nacio-
nal do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em novembro de 2021 (R$ 5,612, equivalente a
US$ 1 na cotação de novembro de 2021) o estado gastou o equivalente a US$ 274 milhões para pro-
duzir, por meio de suas termelétricas, o que até 2018 importava da Venezuela. Pelo contrato anterior
(expirado em junho de 2021), Roraima pagava aproximadamente US$ 50 milhões anuais à Venezuela
para importar quantidade equivalente de energia. Dessa forma, o custo de oportunidade para o estado
de Roraima não importar energia da Venezuela é de US$ 224 milhões anuais.

7 DIMENSÃO DE SEGURANÇA E DEFESA

No âmbito da segurança regional, Brasil e Venezuela tiveram uma relação menos próxima
do que fora aventado por meios de comunicação e partidos de oposição do período desde o iní-
cio do chavismo até fins do governo Rousseff. Há três elementos centrais das relações entre os dois
países: i) percepções diferentes sobre o ambiente e a cooperação em segurança na América do Sul;
ii) intercâmbios militares refletem movimento de proximidade e distanciamento; e iii) ausência de
transferências de armamentos ou projetos militares conjuntos entre Brasil e Venezuela.

112
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

7.1 Arquitetura regional de segurança e defesa

O primeiro deles reflete-se na diferença de percepções sobre os desafios de segurança na


América do Sul e os mecanismos necessários para evitá-los. A visão do chavismo era a de que
se fazia necessário criar uma aliança geopolítica e militar sul-americana para fazer frente aos
Estados Unidos. Desse modo, entendia uma cooperação na área de segurança e defesa como
mecanismo anti-hegemônico e antissistêmico. A Venezuela defendeu, por exemplo, a criação de
uma academia de guerra latino-americana, uma universidade militar regional e uma aliança mili-
tar sul-americana como forma de unificar as doutrinas militares da região e contrapor os Estados
Unidos (Mijares, 2017, p. 236; Moreira, 2018, p. 241; Pádua e Mathias, 2010, p. 62). Em 2006,
às vésperas da assinatura do acordo de adesão ao Mercosul, Chávez propôs a construção de uma
aliança militar nos moldes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que se chamaria
Organização do Tratado do Atlântico Sul (Otas), algo que era rejeitado por Brasil e Argentina,
que desejavam apenas a construção de um órgão capaz de integrar as indústrias bélicas da re-
gião. Ainda assim, meses depois, o presidente venezuelano reforçaria essa posição defendendo a
“unificação das forças armadas sul-americanas” e a “criação de uma estratégia de segurança e
defesa comum para a região” (Otálvora, 2006, p. 15-16).

Tal postura divergiu significativamente da leitura brasileira. O Brasil havia construído histo-
ricamente uma postura diplomática de evitar imposições conceituais sobre segurança por parte
dos Estados Unidos, durante os anos 1990, ainda que sem propor movimentos mais densos de
cooperação. Em geral, a postura do país em negociações no âmbito da Organização dos Estados
Americanos (OEA), em especial das Conferências de Ministros da Defesa das Américas (CMDA),
era de “preservar a sua liberdade e evitar a contaminação de temas fundamentais – como a pre-
servação do Estado democrático de direito – por ações e interesses que refletem a impaciência
no combate à criminalidade e desejam resolver os seus problemas alhures” (Pinto, 2015, p. 149).
Essa visão foi mantida e, de certa forma, expandida durante a década de 2000.

Entre 2001 e 2003, o Brasil preparava-se para a Conferência Especial de Segurança Hemis-
férica,113 convocada pelos Estados Unidos, na OEA, no contexto do combate ao terrorismo global.
Diante de possíveis imposições conceituais norte-americanas, o governo brasileiro novamente
buscou apresentar resistência. Em abril de 2003, por exemplo, o Brasil coordenou a I Reunião de
Ministros da Defesa da América do Sul, que visava criar uma posição comum para a região para
a conferência vindoura. A postura de evitar uma concepção hemisférica que pudesse limitar

113. Reunião resultou na Declaração sobre Segurança nas Américas, de outubro de 2003, documento
que apresentou as principais ameaças de segurança do hemisfério e catapultou o conceito de Segurança
Multidimensional, empregado pela OEA (JID, 2018).

113
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

posições regionais ou sub-regionais de segurança e defesa foi mantida nesse período (Villa e
Viana, 2010, p. 93-94). Esse objetivo atingiu seu ápice quando, em 2007, o Brasil passou a lide-
rar o processo de construção do CDS, como fórum permanente para debater questões de defesa
nacional na América do Sul e no âmbito do novo mecanismo regional, a Unasul (Battaglino, 2009;
Medeiros Filho, 2010).

Além da preocupação com imposições políticas por parte dos Estados Unidos, havia ainda
questões adicionais para a agenda brasileira de construção do CDS. As relações com a Venezuela e
a contraposição das leituras antissistema do chavismo foram importantes nesse contexto. Pode-se
resumir o interesse brasileiro em: i) frear os ímpetos anti-Estados Unidos do chavismo; ii) mediar
os conflitos iminentes entre Colômbia e Equador; iii) evitar possíveis corridas armamentistas na
região; iv) resistir a uma agenda de militarização do Atlântico Sul com a reativação da IV Frota
do Comando Sul dos Estados Unidos (US SOUTHCOM); e v) contribuir com uma agenda comum
de segurança e defesa para a América do Sul (Fuccille e Rezende, 2013, p. 88). Desse modo, a
prevalência da agenda brasileira durante a materialização do Conselho de Defesa Sul-Americano,
em 2008, permitiu frear as visões regionais do chavismo e garantir maior pluralidade de posições
no mecanismo, em especial por também incluir a Colômbia no órgão, país que até então resistia
a aderir à iniciativa (Abdul-Hak, 2013, p. 148-151).

Ao longo da existência do Conselho de Defesa Sul-Americano, foram produzidos importan-


tes avanços, como a criação de um Centro de Estudos Estratégicos de Defesa (CEEED), sediado
em Buenos Aires, e uma ESUDE, sediada em Quito. O conselho, todavia, não foi capaz de avançar
o suficiente na cooperação regional em defesa e perdeu fôlego após sua criação na ausência de
uma direção política clara para suas atividades (Vaz, Fuccille e Rezende, 2017). Com a denúncia
brasileira do tratado constitutivo da Unasul, em 2019, o conselho também deixou de existir como
instância relevante. Todavia, com o acirramento da crise venezuelana, a perspectiva brasileira e
de outros países da região apontava para a necessidade de mais cooperação em vez de menos.

Em 2020, por exemplo, a publicação das novas Política Nacional de Defesa (PND) e da Estra-
tégia Nacional de Defesa (END) do Brasil reforça um cenário preocupante. O menor protagonismo
do Brasil em relação à governança regional em suas variadas temáticas tem aumentado a pre-
sença e o interesse de potências extrarregionais em diferentes áreas. Além de comércio e saúde,
a nova realidade de fragmentação política e desintegração econômica apresenta efeitos para a
defesa nacional. O conjunto dos documentos PND e END enviados para a apreciação do Congresso
Nacional em julho de 2020 destaca a emergência de novas ameaças no cenário internacional e
o aumento da presença de potências externas no entorno brasileiro e defende a importância da
integração e governança regional (Brasil, 2020f, p. 17).

114
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

A concepção da PND prevê privilegiar a cooperação no âmbito internacional e a inte-


gração com os países sul-americanos, a fim de encontrar soluções integradas para questões
de interesses comuns ou afins (Brasil, 2020f, p. 21), e a END tem como uma de suas metas
a “promoção da integração regional” (Estratégia de Defesa 15), e estabelece ações es-
tratégicas de defesa (AEDs) específicas para América do Sul. Trata, assim, de estimular o
desenvolvimento de uma identidade sul-americana de defesa (AED-76), intensificar as par-
cerias estratégicas, a cooperação e o intercâmbio militar com as forças armadas dos países
sul-americanos (AED-77) e incrementar a participação brasileira em organismos e fóruns
multilaterais de defesa regional (op. cit., p. 73).

Após ressaltar que no “âmbito regional, a convergência de interesses contribui para o


incremento da cooperação entre os países sul-americanos, o que poderá promover a conso-
lidação da confiança mútua e a execução de projetos de defesa, visando, entre outros, ao
desenvolvimento tecnológico e industrial, além de estratégias para a solução de problemas
comuns”, e pondera que “sob o ponto de vista da defesa, não se pode desconsiderar a
possibilidade da ocorrência de tensões e crises no entorno estratégico, com possíveis des-
dobramentos para o Brasil, de modo que o país poderá ver-se motivado a contribuir para a
solução de eventuais controvérsias ou mesmo para defender seus interesses”. É a primeira
vez que se menciona a possibilidade de um conflito regional em um documento dessa mag-
nitude desde a redemocratização.

7.2 Cooperação militar bilateral

O segundo ponto é a flutuação da cooperação bilateral em defesa em segurança de


acordo com a proximidade ou o distanciamento entre os países. O Brasil manteve substan-
tivo intercâmbio militar com militares venezuelanos, seja encaminhando militares brasileiros
para cursos na Venezuela, seja recebendo militares venezuelanos no país. A partir do acirra-
mento da crise na Venezuela, de 2015 em diante, o Brasil gradualmente passou a reduzir os
intercâmbios militares com o país vizinho. Um indicador desse movimento é observado pelo
gráfico 6, que compara o total de militares brasileiros na Venezuela e venezuelanos no Brasil
para a realização de cursos e estágios.

115
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

GRÁFICO 6
Militares venezuelanos em cursos no Brasil e militares brasileiros em cursos na
Venezuela (2002-2020)1
70

60

50

40

30

20

10

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Militares brasileiros na Venezuela Militares venezuelanos no Brasil

Fonte: Comando Aéreo Regional (Comar), Comando do Exército Brasileiro (CEX) e Comando da Aeronáutica
(Comaer), 2021.
Elaboração dos autores.
Nota: 1 Dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação. Para a Força Aérea Brasileira (FAB) foram
obtidos dados apenas a partir de 2002. Desse modo, manteve-se o corte em 2002 para a sincronia
dos dados.

Os dados fornecidos pelo Ministério da Defesa (MD) e os comandos militares indicam uma
média móvel em formato de parábola entre 2003 e 2017, com crescimento substantivo entre
2007-2009 e forte queda a partir de 2015. A partir de 2018, com o rompimento das relações di-
plomáticas entre Brasil e Venezuela essas interações bilaterais no campo militar também cessam.
Já o gráfico 7 indica a distribuição desses intercâmbios entre as forças singulares. Nota-se, por
exemplo, que o Exército teve uma contribuição muito maior ao longo do tempo. Todavia, entre
2010 e 2015, todas as forças tiveram aumento de contribuições nesses intercâmbios a partir de
2011 e, da mesma forma, apresentaram uma queda substantiva a partir de 2015.

Cabe destacar que esse movimento coincide também com o ápice das relações bilaterais
com a Venezuela em várias áreas, como a atuação do BNDES, financiamento de infraestrutura,
relações econômico-comerciais e, consequentemente, a queda marca a mesma dinâmica. Com
a retirada dos diplomatas brasileiros da Venezuela em 2020, o Brasil também retirou seus
adidos militares do país. Em fevereiro de 2019, o exército brasileiro havia nomeado um mi-
litar para ocupar o cargo de adido de defesa, mas logo em novembro tornou a portaria sem

116
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

efeito.114 Desde então, o Brasil apenas enviou um militar no posto de capitão para realizar um
curso superior de comando e logística na Venezuela. Até o término deste estudo, não houve
retomada dessas relações.

GRÁFICO 7
Militares brasileiros em cursos na Venezuela por força singular (2002-2020)
16

14

12

10

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Marinha do Brasil Exército Brasileiro Força Aérea Brasileira

Fonte: Comar, CEX e Comaer, 2021.


Elaboração dos autores.
Nota: 1 Dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação. Para a Força Aérea Brasileira (FAB) foram
obtidos dados apenas a partir de 2002. Desse modo, manteve-se o corte em 2002 para a sincronia
dos dados.

7.3 Comércio de armamentos

O terceiro ponto das relações bilaterais refere-se ao processo de rearmamento e militariza-


ção venezuelana durante a década de 2000 e 2010. No período, ainda que o Brasil insistisse em
um discurso de construção de uma “indústria de defesa sul-americana”, não houve, contudo,
exportações significativas de equipamentos militares do país.

Parte desse processo deveu-se ao embargo de armamentos dos Estados Unidos contra a
Venezuela, instituído em 2006. Naquele ano, o Brasil iria exportar 24 unidades do EMB-314,
aeronaves de treinamento militar da Embraer S/A (conhecida como Super Tucano) para a
Venezuela e o embargo norte-americano impediu que o país completasse a transação por depen-
der de tecnologia dos Estados Unidos (Pedraja, 2014, p. 102).

114. Ver Boletim do Exército no 48/2019.

117
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

GRÁFICO 8
Transferências de armamentos para a Venezuela (1998-2020)
1.000

900

800

700

600

500

400

300

200

100

0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Unknown supplier(s) 0
Iran 0 1
United Kingdom 4
Austria 1 1 1 1 1 5
Switzerland 4 4 16 4 4
Sweden 16 16
Italy 11 1 1 3 3 10 3 3
Israel 25 9 5 5
South Korea 45
Poland 0 11 28 11
United States 20 5 11 15 6
France 29 29 5 5
Germany 8 8 8 32 8 4 8
Ukraine 11 28 14 14 56 61
Netherlands 25 23 20 12 6 13 13 75 21 10 13
Spain 8 24 24 188 55 24
China 14 27 41 54 89 8 51 97 74 100 76
Russia 353 748 699 252 57 266 516 881 79

Fonte: SIPRI Arms Transfers Database.


Elaboração dos autores.
Obs.: Figura cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições
técnicas dos originais (nota do Editorial).

Telegramas diplomáticos vazados pelo site Wikileaks apontam que o Brasil tentou negociar
a posição com os Estados Unidos. Em 2009, no encontro de despedida do embaixador Clifford
Sobel, o presidente brasileiro argumentou com o representante norte-americano que a postura de
manter o embargo de armamentos contra a Venezuela abria espaço para a penetração e aumento

118
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

da influência de empresas extrarregionais de Rússia e China na região.115 Ainda assim, a postura


norte-americana não foi flexibilizada e o Brasil jamais conseguiu concluir suas operações com o
regime chavista. De fato, como ilustram os dados, a Venezuela diversificou suas parcerias na com-
pra de equipamento militar focando, principalmente, no fornecimento de Rússia e China (gráfico
8). Como resultado, o Brasil apenas realizou vendas e doações de armamentos significativas para
outros seis países sul-americanos (Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Uruguai) no período entre
2005 e 2012, uma vez que não foi capaz de realizar as transações com a Venezuela. Um traço
interessante desse engajamento brasileiro na região é que, como em outras áreas, a atividade
também perdeu impulso a partir da década de 2010.

GRÁFICO 9
Transferências de armamentos do Brasil para a América Latina (1998-2020)
140

120

100

80

60

40

20

0
1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

Argentina Bolívia Chile Colômbia República Dominicana


Equador México Paraguai Uruguai

Fonte: SIPRI Arms Transfers database.


Elaboração dos autores.

Parte disso dá-se em virtude do fim do ciclo de modernização armamentista na região,


que ocorrera entre as décadas de 2000 e 2010 (Panazzolo Neto e Okado, 2016; Silva, 2018;
Villa, 2018) e da gradual deterioração das economias latino-americanas a partir da déca-
da de 2010. Nota-se que, como ocorreu em várias outras áreas, a desaceleração da economia
brasileira, a crise econômica, a perda de impulso da política externa do país e a redução da demanda
sul-americana de produtos de defesa – consolidada pelos efeitos da queda do ciclo das
commodities nos países da região – também influenciaram as exportações de armamentos para
a região que estacionaram a partir de 2013.

115. Ver Farah (2010).

119
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste Texto para Discussão foi analisar as relações entre Brasil e Venezuela nas
perspectivas político-diplomático, econômico-comercial e de segurança e defesa entre 1999 e
2021. O período analisado foi foco de um processo de ascensão, queda e mudança substantiva
de estratégia nas relações bilaterais que afetou os três âmbitos analisados. As relações com a
Venezuela são um importante estudo de caso de êxitos e fracassos de novos mecanismos de co-
operação bilateral empregados pela política externa brasileira. A conclusão do nosso estudo está
dividida em quatro pontos centrais: i) espaço político-diplomático; ii) dívidas e comércio bilateral;
iii) caso de Roraima; e iv) migração.

No campo político-diplomático, o Brasil gradualmente perdeu espaço na mediação e como


ator regional na crise. As relações com a Venezuela representaram a construção de uma parceria
estratégica, a ascensão e queda de um novo modelo de relações bilaterais para a política externa
brasileira e uma brusca mudança de estratégia para lidar com uma crise regional. Ao longo da
construção e consolidação dessas relações, o Brasil utilizou-se da Venezuela como experimento
de um modelo de relações bilaterais baseado na internacionalização de agências governamentais
para apoiar objetivos de política externa, como a Caixa, o Ipea, a Embrapa e a ABDI. Da mesma
forma como esses órgãos instalaram escritórios exteriores também fecharam suas representações
a partir de 2014 e retraíram-se às suas atividades internas. A diminuição do ímpeto regional da
política externa brasileira e o agravamento da crise venezuelana alteraram substantivamente a
presença brasileira na Venezuela.

O país adotou um tom mais crítico à Venezuela, apoiou sua suspensão do Mercosul e, princi-
palmente, a partir de 2017, tornou-se parte de uma iniciativa regional crítica ao regime chavista,
o Grupo de Lima. Simultaneamente, o Brasil retirou-se das iniciativas que havia construído nas
décadas anteriores, como a Unasul, dado o fracasso dos movimentos de mediação regional mul-
tilateral. A opção brasileira de romper relações diplomáticas com a Venezuela e se distanciar do
país abriu mais espaço para as potências extrarregionais, como China, Rússia e Estados Unidos,
e para que os demais países médios extrarregionais (Turquia, Irã) e regionais (Colômbia, Peru)
aumentassem a sua presença relativa na Venezuela. Da mesma forma, a opção pelo isolamento
e o não diálogo com o regime venezuelano dificultou a posição do Brasil em se firmar como um
negociador privilegiado para a crise.

No campo econômico-comercial, a intensificação das relações bilaterais refletiu claramente


na balança comercial e, de modo similar, o distanciamento também afetou o intercâmbio co-
mercial, que passou a cair bruscamente a partir de 2013. O papel do BNDES como financiador
para a internacionalização de empresas brasileiras também seguiu atuação similar de ampliação

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TEXTO para DISCUSSÃO

significativa e queda substantiva a partir de 2014. Da mesma forma, as relações de cooperação


no campo energético, em especial entre a Petrobras e a PDVSA, cresceram muito no período, mas
não seguiram adiante. Posteriormente a 2015, as interações comerciais entre os dois países deca-
íram a níveis anteriores àqueles do início da parceria bilateral. Ao se afastar da Venezuela, o Brasil
perdeu boa parte do comércio que era realizado por regiões tradicionais (São Paulo, principal-
mente), mas os estados fronteiriços aumentaram as exportações para a Venezuela, aproveitando
oportunidades oferecidas pelas sanções impostas pelos Estados Unidos.

O Brasil tem uma dívida a receber, que pode ser renegociada e recuperada, tanto pelo envio
de energia elétrica como de produtos que o Brasil importava em momentos anteriores, como a
ureia e o coque. Os atrasos venezuelanos começaram em setembro de 2017, coincidentemente
um mês após a criação do Grupo de Lima. As indenizações do Seguro de Crédito à Exportação ao
BNDES e outros financiadores que não tiveram os pagamentos honrados por parte da Venezuela
somam aproximadamente US$ 830 milhões até o momento (dados de maio de 2021), e há um
montante próximo a esse por vencer nos próximos anos.

A dívida atual com o Brasil acumulada pela Venezuela equivale ao custo de oportunidade
da geração por termelétricas a diesel correspondente ao que a Venezuela exportava de energia
elétrica para Roraima, por um período de quatro anos. Ou seja, o que o Brasil economizaria em
diesel para gerar energia em Roraima se mantivesse as importações de energia elétrica ao preço
e quantidade que recebia e pagava ao país vizinho em 2018, cobriria em quatro anos o total da
dívida existente hoje.

No campo de segurança e defesa, nota-se também a ascensão e queda de um modelo de


interações diferente. Brasil e Venezuela tinham dois projetos diferentes para a cooperação em
segurança na América do Sul. Enquanto o governo brasileiro buscava mecanismos para ampliar
a cooperação, criar agendas conjuntas, reduzir a intervenção estrangeira e conter as posturas
anti-hegemônicas da Venezuela, o governo venezuelano visava à construção de uma aliança
geopolítica e militar para fazer frente aos Estados Unidos. A derrocada da Unasul, o fim dos
esforços brasileiros para consolidar a cooperação regional na área de segurança, a emergência
do Grupo de Lima e o aumento das tensões internas na Venezuela sagraram também o fim das
disputas bilaterais em torno da questão.

Se o Brasil perdeu espaço econômico, político e diplomático na Venezuela nos últi-


mos anos, o mesmo não ocorreu na faixa de fronteira, especialmente no estado de Roraima.
A Operação Acolhida tem se mostrado eficiente para garantir, receber e interiorizar os migrantes
venezuelanos. Os que permanecem no estado têm conseguido inserção em programas sociais e
serviços públicos brasileiros de forma muito mais satisfatória do que em outros países da região.

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TEXTO para DISCUSSÃO

Ao mesmo tempo, tanto as exportações formais para a Venezuela como o pequeno comércio de
fronteira têm crescido significativamente nos últimos três anos. As primeiras impulsionadas pelas
oportunidades geradas pelas limitações de importações da Venezuela de vários outros mercados
devido às sanções impostas pelos Estados Unidos e a segunda, principalmente, pelo acesso aos
recursos do PBF e do Programa de Auxílio Emergencial a que a migração pendular tem acesso.

Vários países da região que não têm nenhuma afinidade política com o regime chavista,
como Chile, Equador e Uruguai, mantêm atividades diplomáticas na Venezuela com embaixadas
e consulados abertos, tanto para garantir assistência aos seus nacionais como para ter acesso
às informações e comunicações necessárias para uma atuação adequada nesse cenário de crise.
A presença em Caracas e o diálogo com os diferentes atores internos e externos envolvidos na
crise venezuelana são condições para que o Brasil exerça sua liderança regional e evite que o país
vizinho se torne espaço de disputas extrarregionais.

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ZURITA, A. M. Venezuela-Brasil: la historia de sus relaciones desde sus inicios hasta el umbral
del Mercosur (1500-1997). Caracas: Universidad Central de Venezuela, 1999.

138
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

APÊNDICE

QUADRO A.1
Manifestações públicas do Brasil sobre a Venezuela disponíveis nos sites do governo
federal brasileiro (2011-2021)
Data Título Tipo
Janeiro Presidente Hugo Chávez comparece à cerimônia de posse da
Reunião
de 2011 presidente Dilma Rousseff
Janeiro Entrevista coletiva concedida pela presidente da República, Dilma Rousseff,
Entrevista
de 2011 aos jornais argentinos La Nación, Clarín e Página 12
Fevereiro Inaugurada a interconexão de fibra ótica entre Manaus e a cidade de
Reunião
de 2011 Santa Helena, na fronteira da Venezuela
Fevereiro Visita do ministro Antonio de Aguiar Patriota à Venezuela – Caracas,
Reunião
de 2011 7 de fevereiro de 2011
Fevereiro
Ministro Antonio de Aguiar Patriota visita Caracas Reunião
de 2011
Abril Reunião de chanceleres da Cúpula da América Latina e do Caribe sobre
Reunião
de 2011 Integração e Desenvolvimento (Calc) – Caracas, 26 de abril de 2011
Maio Visita ao Brasil do presidente da Venezuela, Hugo Chávez – Brasília,
Reunião
de 2011 10 de maio de 2011
Maio Adiamento da visita do presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo
Reunião
de 2011 Chávez, ao Brasil
Maio Declaração dos Estados Partes do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e Venezuela
Discurso
de 2011 sobre o Acordo de Cartagena das Índias sobre a situação em Honduras
Junho
Presidentes Dilma Rousseff e Hugo Chávez encontram-se em Brasília Reunião
de 2011
Junho Visita ao Brasil do presidente da República da Venezuela, Hugo Chávez – Brasília,
Reunião
de 2011 6 de junho de 2011 – Comunicado Conjunto
Junho Atos assinados por ocasião da visita ao Brasil do presidente da República da
Reunião
de 2011 Venezuela, Hugo Chávez – Brasília, 6 de junho de 2011
Junho Declaração à imprensa da Presidenta da República, Dilma Rousseff, em conjunto
Discurso
de 2011 com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez
Julho Visita do ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, a Caracas,
Reunião
de 2011 por ocasião do Bicentenário da Declaração de Independência da Venezuela
Novembro Visita à Venezuela do ministro das Relações Exteriores, Antonio
Reunião
de 2011 de Aguiar Patriota – Caracas, 7 de novembro
Dezembro
Presidentes Dilma Rousseff e Hugo Chávez encontram-se em Caracas Reunião
de 2011
Carta de Compromisso entre a República Federativa do Brasil e a República
Dezembro
Bolivariana da Venezuela no Marco do Gran Misión Venezuela para o Reunião
de 2011
Estabelecimento de Programa de Transformação Integral de Favelas
Junho Visita ao Brasil do chanceler da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás
Reunião
de 2012 Maduro Moros – Rio de Janeiro
(Continua)

139
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Data Título Tipo
Julho Presidentes Dilma Rousseff e Hugo Chávez encontram-se por ocasião
Reunião
de 2012 da Cúpula do Mercosul
Novembro Visita do ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, à
Reunião
de 2012 Venezuela – Caracas
Declaração da Associação
Dezembro Acuerdo de alcance parcial de complementación económica no 69 entre la
Latino-Americana de
de 2012 República Federativa del Brasil y la República Bolivariana de Venezuela
Integração (Aladi)
Fevereiro
Visita do ministro das Relações Exteriores à Venezuela – Caracas Reunião
de 2013
Março Presidente Dilma Rousseff comparece às exéquias do presidente
Reunião
de 2013 Hugo Chávez – Caracas
Abril Visita ao Brasil do chanceler da República Bolivariana da Venezuela,
Reunião
de 2013 Elías José Jaua Milano
Abril Presidente Dilma Rousseff comparece à posse do presidente
Reunião
de 2013 Nicolás Maduro – Caracas
Maio
Presidentes Dilma Rousseff e Maduro encontram-se em Brasília Reunião
de 2013
Maio
Concessão de agrément (concordância) ao embaixador do Brasil na Venezuela Reunião
de 2013
Dezembro Aprovação do Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul pelo Poder
Reunião
de 2013 Legislativo do Paraguai
Fevereiro Comunicado da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac)
Reunião
de 2014 sobre a situação na Venezuela
Fevereiro
Visita do chanceler da Venezuela, Elías Jaua, ao Brasil Reunião
de 2014
Março Conselho de chanceleres da União das Nações Sul-Americanas (Unasul)
Reunião
de 2014 aprova resolução sobre a Venezuela
Abril
Visita do ministro de Estado das Relações Exteriores à Venezuela Reunião
de 2014
Abril
Visita do ministro de Estado das Relações Exteriores à Venezuela Reunião
de 2014
Maio
Visita do ministro das Relações Exteriores a Caracas (18 e 19 de maio) Reunião
de 2014
Maio
Comunicado sobre o diálogo na Venezuela Reunião
de 2014
Visita do presidente Maduro à Brasília, por ocasião da Cúpula BRICS – países da
Julho
América do Sul e da Cúpula de Líderes da China e de países da América Latina e Reunião
de 2014
Caribe (ALC)
(Continua)

140
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Data Título Tipo
Julho Viagem da presidente Dilma Rousseff a Caracas, por ocasião da XLVI
Reunião
de 2014 Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados
Janeiro Visita do presidente Maduro à Brasília, por ocasião da posse da
Reunião
de 2015 presidente Dilma Rousseff
Fevereiro Reunião de chanceleres da Unasul sobre a situação na Venezuela –
Reunião
de 2015 Montevidéu, 9 de fevereiro de 2015
Fevereiro
Situação na Venezuela Discurso
de 2015
Março Viagem do ministro Mauro Vieira a Caracas, por ocasião da reunião da comissão
Reunião
de 2015 reduzida de chanceleres da Unasul sobre a situação política na Venezuela
Março Reunião do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da Unasul sobre a
Reunião
de 2015 situação na Venezuela – Quito, 14 de março de 2015
Março Comunicados emitidos por ocasião da Reunião do Conselho de Ministros das
Discurso
de 2015 Relações Exteriores da Unasul sobre a situação na Venezuela
Março
Reunião de Chanceleres da Unasul sobre a Venezuela Reunião
de 2015
Junho
Visita da Comissão Externa do Senado à Venezuela Reunião
de 2015
Junho
Eleições na Venezuela Discurso
de 2015
Julho Visita do presidente Maduro à Brasília, por ocasião da 48a Cúpula dos Chefes de
Reunião
de 2015 Estado do Mercosul e Estados Associados
Setembro
Viagem do ministro Mauro Vieira a Caracas Reunião
de 2015
Setembro Comunicado Conjunto Argentina, Brasil e Venezuela – Caracas,
Discurso
de 2015 5 de setembro de 2015
Sessions to Analyse the Situation in Venezuela
Setembro
Facilitated by Luis Moreno Ocampo, Special Advisor to the Secretary General of Reunião
de 2015
the Organization of American States for Crimes Against Humanity
Janeiro Visita a Brasília da ministra das Relações Exteriores, Delcy Rodríguez,
Reunião
de 2016 acompanhada do ministro da Economia, Luís Salas
Fevereiro
Visita de delegação parlamentar venezuelana Reunião
de 2016
Junho de
Governador do estado venezuelano de Miranda, Henrique Capriles, visita o Brasil Reunião
2016
Outubro
Ministros se reúnem para avaliar auxílio a Boa Vista Notícia/Casa Civil
de 2016
Proyecto de Declaración del Consejo Permanente en Apoyo al Proceso de Diálogo Declaração da
Novembro
Nacional en Venezuela (propuesto por Argentina, Brasil, Canadá, Honduras, Organização dos Estados
de 2016
Estados Unidos, México y Perú) Americanos (OEA)
(Continua)

141
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Data Título Tipo
Aprovada a Declaração Relativa ao Funcionamento do Mercosul e ao Protocolo
Dezembro de Adesão da República Bolivariana da Venezuela, em razão do descumprimento,
Reunião
de 2016 pela Venezuela, dos compromissos assumidos no Protocolo de Adesão ao
Mercosul, assinado em Caracas em 2006
Fevereiro
Visita ao Brasil do presidente da Assembleia Nacional venezuelana Reunião
de 2017
Março Informe del Secretario General de la OEA sobre la situacion en la
Declaração organização
de 2017 Republica Bolivariana de Venezuela
Note from the Permanent Missions of Antigua And Barbuda, Argentina, Brazil,
Março Canada, Chile, Colombia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Mexico, Paraguay,
Declaração organização
de 2017 Perú, and the United States Presenting a draft resolution on the recent
events in Venezuela
Nota de las Misiones Permanentes de la Argentina, Barbados, Brasil, Canadá, Chile,
Colombia, Costa Rica, Estados Unidos, Honduras, Jamaica, Guatemala, México,
Panamá, Paraguay, Perú y Uruguay por medio de la cual solicitan la convocatoria de
Abril
una sesión extraordinaria urgente del Consejo Permanente para el Miércoles Declaração organização
de 2017
26 de Abril de 2017, a las 2:00 p.m., a fin de tratar un Proyecto de Resolución sobre
la Convocatoria a una reunión de consulta de ministros de Relaciones Exteriores
para considerar la situación en la República Bolivariana de Venezuela
Tercer informe del secretario general de la OEA sobre la situación en la República
Julho
Bolivariana de Venezuela (documento presentado por el secretario general el Declaração organização
de 2017
19 de Julio de 2017
Julho
Brasil cria barreira de proteção sanitária na fronteira com a Venezuela Notícia
de 2017
Agosto
Suspensión de Venezuela en el Mercado Común del Sur (Mercosur) Declaração organização
de 2017
Agosto
Destituição da procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega Nota
de 2017
Agosto Reunião de chanceleres sobre a situação na Venezuela – Lima,
Reunião
de 2017 8 de agosto de 2017
Agosto Venezuela: o Mercosul rejeita o uso da força para
Nota
de 2017 restabelecer a ordem democrática
Agosto
Usurpação das atribuições do Legislativo na Venezuela Nota
de 2017
Agosto Comunicado do Grupo de Lima sobre a usurpação das competências funcionais
Nota
de 2017 da Assembleia Nacional da Venezuela
Setembro Declaração da segunda reunião do Grupo de Lima sobre a situação na Venezuela –
Declaração organização
de 2017 Nova York, 20 de setembro de 2017
Cuarto informe del secretario general de la OEA sobre la situación en la República
Setembro
Bolivariana de Venezuela (documento presentado por el secretario general el Declaração organização
de 2017
25 de septiembre de 2017)
Outubro Comunicado do Grupo de Lima sobre as eleições regionais na Venezuela –
Nota
de 2017 Brasília, 5 de outubro de 2017
(Continua)

142
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Data Título Tipo
Outubro Comunicado do Grupo de Lima sobre a realização das eleições
Nota
de 2017 regionais na Venezuela
Fevereiro
Situação na Venezuela Nota
de 2018
Fevereiro
Governo define ações para acolhimento de imigrantes venezuelanos Notícia
de 2018
Nota de la Misión Permanente de México mediante la cual solicita en nombre de
las misiones permanentes de Argentina, Brasil, Estados Unidos, México, Panamá y
Fevereiro
Santa Lucía, la convocatoria de una sesión extraordinaria del Consejo Permanente Declaração organização
de 2018
para el Viernes 23 de Febrero de 2018, a fin de considerar el proyecto de
resolución anexo sobre los últimos acontecimientos en Venezuela
Março
Incidente na penitenciária de Valência, na Venezuela Nota
de 2018
Abril Resposta humanitária no Brasil se intensifica diante da
Notícia
de 2018 crescente chegada de venezuelanos
Abril Declaração sobre a situação na Venezuela adotada na VIII Cúpula das Américas –
Nota
de 2018 Lima, 14 de abril de 2018
Abril
Panaftosa envia em maio missão à Venezuela para auxiliar combate à doença Notícia
de 2018
Maio
“Fechar fronteira não é hábito do Brasil”, reforça Temer Notícia
de 2018
Maio
Comitê Federal apresenta ações de acolhimento de venezuelanos Notícia
de 2018
Maio
Eleições na Venezuela Nota
de 2018
Junho Comunicado de Estados-parte do Mercosul sobre a situação humanitária e
Declaração organização
de 2018 migratória na Venezuela
Junho
Posto de triagem ampliado começa a funcionar na fronteira com a Venezuela Notícia
de 2018
Junho
Assédio do governo de Nicolás Maduro à oposição venezuelana Nota
de 2018
Junho
Sessão informativa sobre a assistência aos migrantes venezuelanos Nota
de 2018
Julho Países-membros da Comissão Sul-Americana para a Luta contra a Febre Aftosa
Notícia
de 2018 (Cosalfa) se unem para vacinar rebanhos da Venezuela
Agosto
Parlamentares venezuelanos Nota
de 2018
Agosto
Decisión sobre la suspensión de Venezuela en el Mercosur Declaração organização
de 2018
Setembro
Solidariedade com os venezuelanos Nota
de 2018
(Continua)

143
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Data Título Tipo
Setembro
Brasil continuará a receber e apoiar venezuelanos, afirma Temer Notícia
de 2018
Setembro Declaração de Quito sobre a mobilidade humana dos cidadãos venezuelanos
Nota
de 2018 na região – documento de trabalho – 4 de setembro de 2018
Setembro Autoridades brasileiras e venezuelanas tratam da erradicação
Notícia
de 2018 de aftosa no país vizinho
Setembro
Ação conjunta do Brasil e Venezuela visa erradicar a doença no país vizinho Notícia
de 2018
Outubro
Falecimento do vereador venezuelano Fernando Albán Nota
de 2018
Outubro
Brasil cria zona de proteção na fronteira ao sul da Venezuela Notícia
de 2018
Novembro
Brasil inicia operação conjunta para erradicar aftosa na Venezuela Notícia
de 2018
Dezembro
Comitê federal apresenta balanço de ações de acolhimento de venezuelanos Notícia
de 2018
Dezembro
Mais vacinas chegam à Venezuela para vacinação contra aftosa Notícia
de 2018
Versión revisada del proyecto de resolución sobre la situación en Venezuela,
presentado por las misiones permanentes de Argentina, Brasil, Chile, Colombia,
Janeiro
Costa Rica, Estados Unidos, Paraguay, y Perú, para ser puesto a consideración Declaração organização
de 2019
de los Estados Miembros de la OEA en la sesión extraordinaria que ha sido
convocada para el 10 de Enero de 2019
Janeiro
Situação na Venezuela Nota
de 2019
Janeiro
Evolução da situação na Venezuela Nota
de 2019
Janeiro
Diferendo Venezuela-Guiana Nota
de 2019
Janeiro
Governo brasileiro quer solução pacífica para disputa entre Venezuela e Guiana Notícia
de 2019
Janeiro
Reunião com forças políticas democráticas venezuelanas Nota
de 2019
Janeiro
Brasil reconhece Juan Guaidó como presidente da Venezuela Notícia
de 2019
Janeiro Bolsonaro recebe presidente encarregado da Venezuela, Juan Guaidó, em reunião
Notícia
de 2019 nesta quinta (28)
Fevereiro Encontro do ministro de Estado das Relações Exteriores com a representante
Nota
de 2019 diplomática da Venezuela no Brasil – 11 de fevereiro de 2019
Fevereiro
Força-tarefa do governo federal prestará ajuda humanitária à Venezuela Notícia
de 2019
(Continua)

144
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Data Título Tipo
Fevereiro Declaração do Grupo de Lima em apoio ao processo de transição democrática e à
Declaração Organização
de 2019 reconstrução da Venezuela – Bogotá, 25 de fevereiro de 2019
Fevereiro
Bolsonaro: não pouparemos esforços para restaurar a democracia na Venezuela Notícia
de 2019
Março
Retorno à Venezuela do presidente encarregado Juan Guaidó Nota
de 2019
Março
Situação na Venezuela – Comunicado do Grupo de Lima Declaração organização
de 2019
Março Governo brasileiro apoia o reconhecimento de indicado por Juan Guaidó ao
Notícia
de 2019 Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
Aprovação do nome do representante da Venezuela no BID e na Corporação
Março
Interamericana de Investimentos (CII) indicado pelo presidente encarregado Nota
de 2019
Juan Guaidó
Março
Venezuela é tema de encontro entre Bolsonaro e secretário-geral da OEA Notícia
de 2019
Março Ministro das Relações Exteriores – entrevistas: foco do Brasil na Venezuela se
Notícia
de 2019 concentra na atuação diplomática, diz chanceler
Nota de la Misión Permanente de Uruguay mediante la cual remite propuesta de
Março modificación al proyecto de resolución – Ayuda Humanitaria en Venezuela – a ser
Declaração organização
de 2019 considerado en la sesión extraordinaria del consejo permanente convocada para
el 27 de marzo de 2019
Março Ministro das Relações Exteriores – entrevistas: Brasil diz que militares russos
Entrevista
de 2019 devem deixar Venezuela se objetivo deles é manter Maduro no poder
Nota de la Misión Permanente de Colombia, en representación de las misiones
permanentes de Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Paraguay, Perú y Colombia,
Abril
mediante la que solicita que se convoque una sesión extraordinaria del consejo Declaração organização
de 2019
permanente para las 12h del día del Martes, 9 de Abril para considerar – la
situación en Venezuela – y el proyecto de resolución adjunto
Nota de la Misión Permanente de Colombia, en nombre de las misiones permanentes
de Argentina, Brasil, Chile, Estados Unidos, Guatemala, Paraguay y Perú y la suscrita
Maio
Misión Permanente de Colombia, presentando el proyecto de resolución – violación Declaração organização
de 2019
de la inmunidad parlamentaria en Venezuela – a ser considerado en la sesión
extraordinaria del consejo permanente a celebrarse el 13 de Mayo de 2019
Maio
Apoio à transição democrática venezuelana Nota
de 2019
Junho Integração energética e situação da Venezuela são pauta de encontro entre
Notícia
de 2019 Bolsonaro e Macri
Julho
Governo brasileiro acompanha situação na Venezuela Notícia
de 2019
Note by the permanent missions of Argentina, Brazil, Canada, Chile, Colombia,
Agosto Costa Rica, Guatemala, Paraguay, Peru, and the United States requesting that the
Declaração organização
de 2019 topic of the resolution on the human rights situation in Venezuela be included on
the order of business of the next meeting of the permanent council
(Continua)

145
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Data Título Tipo
Governo recebe alto comissário do Alto Comissariado das Nações Unidas para
Agosto
Refugiados (ACNUR) e cobra posicionamento da Organização das Nações Unidas Notícia
de 2019
(ONU) em relação à ditadura venezuelana
Setembro
Brasil aprova na ONU resolução sobre direitos humanos na Venezuela Nota
de 2019
Outubro Governo federal assina acordos para ampliar assistência humanitária aos
Notícia
de 2019 refugiados venezuelanos
Outubro Mapa realiza ações para prevenir a entrada de praga na fronteira
Notícia
de 2019 do Brasil com a Venezuela
Outubro Repúdio à eleição do regime ilegítimo venezuelano ao Conselho de Direitos
Declaração organização
de 2019 Humanos – comunicado do Grupo de Lima
Outubro
Assassinato do dirigente partidário venezuelano Edmundo Rada Nota
de 2019
Dezembro Governo brasileiro participa de Fórum Global de Refugiados e mostra o sucesso
Notícia
de 2019 da Operação Acolhida
Note from the delegations of Bolivia, Brazil, Canada, Chile, Colombia, Costa
Rica, El Salvador, United States, Guatemala, Haiti, Honduras, Paraguay, Peru,
Janeiro
and Venezuela enclosing a draft resolution entitled Regarding recent events in Declaração organização
de 2020
Venezuela, and requesting the convocation of a special meeting of the permanent
council to consider the topic “recent developments in Venezuela”
Janeiro
Evento no planalto marca troca de comando e nova fase da Operação Acolhida Notícia
de 2020
Janeiro Third Hemispheric Ministerial Conference to Combat Terrorism –
Declaração conferência
de 2020 joint communique
Janeiro Lima Group statement on the re-election of Juan Guaidó as
Declaração organização
de 2020 president of the National Assembly of Venezuela
Janeiro
Lima Group statement Declaração organização
de 2020
Fevereiro
Missão da OEA é impedida de entrar na Venezuela Nota
de 2020
Fevereiro
Joint Brazil-Poland declaration Declaração bilateral
de 2020
Fevereiro
Missão da OEA é impedida de entrar na Venezuela Nota
de 2020
Março
Declaração do Grupo de Lima Declaração organização
de 2020
Março Restrição excepcional e temporária de entrada no país de estrangeiros
Nota
de 2020 provenientes da República Bolivariana da Venezuela
Março
Programa Momento Acolhida: uma conexão Brasil-Venezuela Notícia
de 2020
Abril Prorrogada por mais trinta dias a restrição para entrada
Notícia
de 2020 de estrangeiros da Venezuela
(Continua)

146
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Data Título Tipo
Abril Ministro participa de lançamento da nova fase de acolhimento
Notícia
de 2020 humanitário de venezuelanos
Repatriation of members of the Brazilian diplomatic mission and consular offices
Abril
in Venezuela – joint note by the Ministry of Foreign Affairs and the Nota
de 2020
Ministry of Defense
Abril Ministro coloca Ministério da Educação (MEC) à disposição para alfabetizar
Notícia
de 2020 crianças venezuelanas refugiadas
Abril Discurso do vice-presidente da República na reunião do
Discurso
de 2020 Grupo de Lima, na Colômbia
Abril
Proposta de moldura institucional para a transição democrática na Venezuela Declaração bilateral
de 2020
Maio MEC atua para resolver situação das crianças venezuelanas para que possam
Notícia
de 2020 estudar no Brasil
Maio
Ministro da Educação visita abrigo de refugiados venezuelanos em Roraima Notícia
de 2020
Agosto
Declaração do Grupo de Lima Declaração organização
de 2020
Agosto
Joint Declaration of Support for Democratic Change in Venezuela Declaração bilateral
de 2020
Informe de la Misión Internacional de Determinación de los hechos
Setembro
sobre Venezuela, a cargo del Consejo de Derechos Humanos Nota
de 2020
de las Naciones Unidas
Setembro
Representatives of Venezuela’s illegitimate regime in Brazil Nota
de 2020
Setembro
Representantes del régimen ilegítimo de Venezuela en Brasil Nota
de 2020
Outubro
Declaração do Grupo de Lima Declaração organização
de 2020
Outubro
Fifth Brazil-United Kingdom High-Level Strategic Dialogue – joint communiqué Declaração bilateral
de 2020
Outubro Discurso do senhor ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, por ocasião
Discurso
de 2020 da quinquagésima assembleia-geral da OEA
1o de
Fórum de Ministros da Aliança Internacional para a Liberdade
novembro Discurso
de Religião e Crença
de 2020
Novembro Intervenção do ministro Ernesto Araújo na Reunião Extraordinária de Chanceleres
Discurso
de 2020 da Conferência Ibero-Americana
Dezembro
Declaración conjunta sobre Venezuela Declaração bilateral
de 2020
Dezembro Intervenção do ministro Ernesto Araújo na Cúpula Presidencial do
Discurso
de 2020 Fórum para o Progresso e Desenvolvimento da América do Sul (Prosul)
(Continua)

147
2761
TEXTO para DISCUSSÃO

(Continuação)
Data Título Tipo
Março
Declaração conjunta do presidente Jair Bolsonaro e do presidente Donald J. Trump Declaração bilateral
de 2020
Visita do secretário de Estado dos Estados Unidos Mike Pompeo e do ministro
Setembro
Ernesto Araújo à Operação Acolhida em Boa Vista, em Roraima: Nota
de 2020
comentários do ministro Ernesto Araújo
Dezembro
Intervenção do ministro Ernesto Araújo no Mercosul (segunda parte) Discurso
de 2020
Janeiro
Declaración del Grupo de Lima Declaração organização
de 2021
Março Remarks by minister Ernesto Araújo during the Atlantic Council webinar on
Discurso
de 2021 Mercosur’s thirtieth anniversary
Março
Relações Brasil-Estados Unidos: uma conversa com o ministro Ernesto Araújo Entrevista
de 2021
Julho
Assédio ao presidente Juan Guaidó Nota
de 2021
Agosto Intervenção do senhor ministro de Estado na Comissão de Relações Exteriores e
Discurso
de 2021 Defesa Nacional (CRE) do Senado Federal
Setembro Palavras do senhor presidente da República na abertura do Debate Geral da
Discurso
de 2021 76o sessão da assembleia-geral das Nações Unidas – 21 de setembro de 2021
Outubro Declaração conjunta Brasil-Colômbia por ocasião da visita de Estado do
Declaração bilateral
de 2021 presidente da República da Colômbia, Iván Duque Márquez, ao Brasil
Novembro
LI Asamblea General de la OEA Nota
de 2021

Fonte: Ministério das Relações Exteriores (MRE), Ministério da Educação (MEC), Casa Civil e Presidência
da República.
Elaboração dos autores.

148
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

EDITORIAL
Chefe do Editorial
Aeromilson Trajano de Mesquita

Assistentes da Chefia
Rafael Augusto Ferreira Cardoso
Samuel Elias de Souza

Supervisão
Aline Cristine Torres da Silva Martins

Revisão
Bruna Oliveira Ranquine da Rocha
Carlos Eduardo Gonçalves de Melo
Elaine Oliveira Couto
Lis Silva Hall
Mariana Silva de Lima
Marlon Magno Abreu de Carvalho
Vivian Barros Volotão Santos
Débora Mello Lopes (estagiária)
Rebeca Raimundo Cardoso dos Santos (estagiária)

Editoração
Aline Cristine Torres da Silva Martins
Mayana Mendes de Mattos
Mayara Barros da Mota (estagiária)

Capa
Aline Cristine Torres da Silva Martins

Projeto Gráfico
Aline Cristine Torres da Silva Martins

The manuscripts in languages other than Portuguese


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Missão do Ipea
Aprimorar as políticas públicas essenciais ao desenvolvimento brasileiro
por meio da produção e disseminação de conhecimentos e da assessoria
ao Estado nas suas decisões estratégicas.

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