Lição 1 - Doutrina Da Salvação

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Lição 1

A PROVIDÊNCIA SALVADORA

A Bíblia diz que Cristo é tanto o “Autor” como o “Consumador” da


nossa fé (Hb 12.2). O título “Autor” refere-se à provisão da salvação por
Cristo; “Consumador” refere-se à aplicação desta salvação.
Através da Sua vida imaculada e de Sua morte expiatória, Cristo já
consumou a Sua obra, e a aplicação da salvação é obra do Espírito Santo.
Nesta Lição, estudaremos a providência salvadora de Cristo, tendo
em mente três alvos específicos.
O primeiro alvo mostra a necessidade de salvação do homem e sua
incapacidade de adquiri-la através dos próprios esforços.
O segundo alvo é compreender a graça de Deus como a causa
primária da salvação; graça esta que não se baseia nem na obrigação divina
nem no mérito humano. Foi o constrangimento íntimo do amor divino
que levou Deus a providenciar os meios para a salvação do homem.
Nosso terceiro alvo tem como objetivo mostrar por que a encar-
nação e a morte de Cristo são elementos essenciais e absolutos para a
salvação. Somente através de Cristo, Deus poderia remover o pecado do
homem sem fazer distorção à Sua divina justiça e santidade.

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Esboço da Lição

1. O Pecado do Homem
2. A Graça de Deus
3. A Provisão de Cristo
4. A Extensão da Provisão Divina

Objetivos da Lição

Ao concluir o estudo desta Lição, você deverá ser capaz de:


1. Definir a expressão degeneração completa do homem;
2. Diferenciar a graça comum da graça especial divinas;
3. Alistar os quatro passos na oferta de um sacrifício pelo
pecado;
4. Explicar porque a provisão para a salvação é para todos,
embora só alguns a aceitem.

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TEXTO 1
DEPRAVAÇÃO TOTAL O PECADO DO HOMEM

Na expressão “depravação total”, o Nosso estudo sobre o que a Bíblia ensina


adjetivo “total” não indica a intensi- a respeito da salvação deve começar explicando
dade da degeneração, mas, sim, sua quem necessita da salvação e por quê. A Bíblia
extensão: isto significa que, embora claramente nos ensina que, perante Deus, todos
as pessoas não alcancem necessaria- os homens pecaram, estando, assim, alienados da
mente todo o índice de maldade possí- Sua glória e destinados a sofrerem as consequên-
vel, elas foram atingidas pelo Pecado
cias da Sua ira.
Original em todas as áreas de suas
vidas, havendo consequências físicas, Além disso, a Bíblia explica que o homem, por
intelectuais e emocionais decorrentes si mesmo, nada pode fazer para merecer a salvação.
do deplorável estado moral e espiri-
Cada homem pode ser descrito como um paralí-
tual advindo da Queda (cf. Rm 3.9-24).
tico espiritual, aguardando que o braço salvador do
Para os prejuízos que se abateram Senhor o levante da miséria do pecado (Is 59.l6).
sobre a mente humana, há uma cate-
goria específica, denominada “efei-
A degeneração completa
tos noéticos do pecado” (do grego
nous, “mente”), que provoca estrei- A raiz do problema que cada homem
tamento e corrupção das faculdades confronta é a própria natureza pecaminosa. Desde
relacionadas à inteligência, memória,
que nasce, o homem é inclinado ao pecado e, por
criatividade e emoções. Mas não se
isso, incapaz de agradar a Deus. Notemos alguns
deve supor que, no tocante à parte
imaterial, somente a alma tenha sido
versículos que apresentam este problema:
degenerada, pois também o espírito “... em pecado me concebeu minha
foi afetado. O Homem, em seu estado
mãe”. (Sl 51.5)
natural, não é um espírito bom apri-
sionado num corpo ruim, mas, sim, “Enganoso é o coração, mais do que
uma criatura totalmente decaída e todas as coisas.” (Jr 17.9)
afastada de Deus.

Todo homem é necessariamente


“Porque eu sei que em mim, isto é, na
pecador, e ninguém pode escolher o minha carne, não habita bem algum...”
bem por iniciativa própria, tampouco (Rm 7.18)
por méritos, qualidades ou virtudes
pessoais – a esta condição se deno-
Esta natureza pecaminosa é uma terrível herança
mina non posse non peccare, ou seja, que todos os homens receberam de Adão, cujo
a impossibilidade de não pecar, haja pecado intro-
vista a debilitação da liberdade indi- duziu a morte
vidual. O livre-arbítrio remanesce, no mundo e
dada a natureza do Homem criado à implantou no
ser humano

18 Doutrina da Salvação
essa natureza pecaminosa, colocando, assim, toda
a criação sob o julgamento de Deus. imagem de Deus, mas ele não pode ser
despertado, senão pela graça divina.
“... estando vós mortos em ofensas e
Adão, antes da Queda, detinha con-
pecados... fazendo a vontade da carne...
dição diferente, expressa por duas
éramos por natureza filhos da ira, como máximas, a saber, posse peccare e
os outros também”. (Ef 2.1-3) posse non peccare, que denotam,
respectivamente, a possibilidade
Esta natureza pecaminosa, que todos os
de pecar e a possibilidade de não
homens herdaram de Adão, é chamada “degene- pecar: como representante ancestral
ração completa”. Esta expressão não significa que da raça humana, o Primeiro Homem
o homem seja absolutamente mau em todas as foi dotado de liberdade plena asso-
situações da vida, mas que todas as áreas do seu ciada à responsabilidade moral, e sua
ser – corpo, alma e espírito – foram afetadas pela transgressão consistiu justamente
decaída “natureza adâmica”. em adotar uma ética emancipada,
independente, alienada de Deus, ao
comer do fruto da árvore do conhe-
A culpa universal
cimento do bem e do mal. Adão e Eva
Salomão observou não haver homem algum abusaram do livre-arbítrio.
que não necessitasse da salvação: “Não há homem Já o Senhor Jesus Cristo, o “último
justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque” Adão” (cf. 1 Co 15.45; ver também
(Ec 7.20). Em o Novo Testamento, o apóstolo Rm 5.12-21), ostenta a condição non
Paulo fez a mesma observação: “Não há um justo, posse peccare, que expressa sua
nem um sequer” (Rm 3.10). Muitos chamam a si impecabilidade.

mesmos justos, simplesmente porque vivem uma O que acontece ao homem rege-
vida melhor, mais aceitável do que a dos seus nerado é que ele passa ao estado de
vizinhos, porém trata-se de uma comparação com posse non peccare, ou seja, a possibi-
lidade de não pecar, prerrogativa esta
base no padrão humano de julgamento. Devemos
que lhe é conferida pelos méritos de
compreender que Deus não nos avalia comparan-
Cristo na Cruz e que se manifesta no
do-nos ao próximo, mas ao Seu padrão de justiça. processo de santificação diária. Na
E, diante do elevado padrão divino, “todos nós glorificação futura, o salvo passará à
somos como o imundo, e todas as nossas justiças condição non posse peccare, quando,
como trapo da imundícia...” (Is 64.6). “Porque enfim, estará livre da presença do
todos pecaram e destituídos estão da glória de pecado.
Deus” (Rm 3.23).
Na Lei divina registrada na Bíblia, Deus revelou-nos o Seu padrão
para vivermos de maneira justa. Porém, homem algum foi ou será capaz
de alcançá-lo perfeitamente. O padrão de vida exposto por Deus nunca
foi destinado a ser o caminho da salvação para ninguém; nem nos
tempos do Antigo Testamento, nem nos dias atuais.

Lição 1 - A Providência Salvadora 19


Teoricamente, uma pessoa poderia obter salvação através da sua
perfeita obediência à Lei durante toda a vida; porém ninguém, exceto
Cristo, foi capaz de guardar toda a Lei.
Podemos compreender com mais clareza o propósito de Deus em
conceder a Lei ao homem, se pensarmos nela como um espelho capaz
de refletir um rosto sujo, mas sem poder limpá-lo. Igualmente, a Lei
pode mostrar ao homem quão pecaminoso ele é, mas não pode salvá-lo
do pecado: “E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de
Deus...” (Gl 3.11). A Lei simplesmente mostra a incapacidade do homem
de salvar a si mesmo, uma vez que ele é incapaz de guardá-la.
“Culpa, falta, ou pecado universal é a transgressão
comum a todos os homens em consequência do pecado
cometido por nossos progenitores. Paulo sintetizou-a
desta forma: “Porque todos pecaram e destituídos estão
da glória de Deus” (Rm 3.23). (Claudionor de Andrade,
Dicionário Teológico, CPAD).

“Sendo Adão o pai de toda a raça humana, o seu pecado acabou


por alcançar a todos os homens (Rm 3.23; 5.12). Aquilo que chamamos
de “pecado original” contaminou universalmente a humanidade. Até
mesmo o recém-nascido já traz consigo essa semente (Sl 51.5). Embora
a criança, na fase da inocência, não tenha a experiência do pecado, a
iniquidade adâmica acha-se impregnada, em seu interior, prestes a ser
despertada. Somente em Cristo podemos vencer tanto o pecado original
como o experimental (1 Jo 1.7).
“Lembramos, outrossim, que muitas crianças são recolhidas
por Deus na fase de inocência, isto é, antes que experi-
mentem o pecado, e vão para o céu, apesar da iniqui-
dade dos pais (1 Rs 14.12,13). Entre os que morreram sem a
experiência do pecado acham-se os inocentes assassinados
por Herodes (Mt 2.16).” (Claudionor de Andrade).

A culpa pessoal
Embora herdeiros da natureza decaída de Adão, que nos torna incli-
nados ao erro, cada um de nós é responsável pelos próprios pecados. A
culpa universal não nos isenta da culpa pessoal. Cada ser humano, ao
ultrapassar a fase da inocência, passando a distinguir entre o bem e o
mal, o certo e o errado, torna-se responsável por seus atos perante Deus.

20 Doutrina da Salvação
A natureza pecaminosa não tirou do homem o livre arbítrio – dado por
Deus. Cada um tem a capacidade de escolher, por si mesmo, seguir ou
não o mau exemplo de Adão.
A Bíblia declara que o homem dará conta a Deus unicamente das
suas próprias culpas: “Os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos
pelos pais; cada um morrerá pelo seu pecado” (Dt 24.16).
O profeta Jeremias disse aos judeus que eles não deveriam culpar os
pais pelos pecados pessoais: “Mas cada um morrerá pela sua iniquidade”
(Jr 31.30). De igual modo, o profeta Ezequiel afirma que o filho não
pagará pelos pecados do pai.
“Eis que todas as almas são minhas; como o é
a alma do pai, assim também a alma do filho é
minha: a alma que pecar, essa morrerá... o tal não
morrerá pela iniquidade de seu pai; certamente
viverá”. (Ez 18.4,17)
Notemos o versículo de 1 Coríntios 15.22, que diz: “Porque, assim
como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados
em Cristo”. Este versículo diz, noutras palavras, o seguinte: “Assim como
Adão trouxe a possibilidade de morte para todos, Cristo trouxe também
a possibilidade da vida para todos”. É evidente que cada indivíduo tem de
tomar a decisão de aceitar ou rejeitar a Cristo e a vida eterna, ou, igual-
mente, a decisão de seguir o pecado e a consequente morte espiritual.
Esse fato é também apoiado por Romanos 5.12, que afirma que o
pecado “entrou” no mundo através de Adão e que a morte veio “porque
todos (cada um) pecaram (pessoalmente)”.

EXERCÍCIOS
Marque “C” para certo e “E” para errado.
___1.01 A Bíblia explica que, por si mesmo, o homem nada pode fazer
para obter a salvação.
___1.02 Desde que nasce, o homem é inclinado ao pecado, razão por
que é incapaz de agradar a Deus.
___1.03 “... em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5) deixa claro
que ela é responsável pelos pecados que eu cometer.

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___1.04 O padrão de vida exposto por Deus nunca foi destinado a ser
o caminho da salvação para ninguém.
___1.05 A Bíblia declara que o homem dará conta a Deus unicamente
das suas próprias culpas.

TEXTO 2
GRAÇA COMUM E GRAÇA ESPECIAL A GRAÇA DE DEUS

A graça de Deus pode ser definida A graça de Deus é um dos temas predomi-
como a disposição do Criador no sen- nantes em toda a Bíblia; aparece mais de 100 vezes
tido de abençoar a humanidade, evi- no Antigo Testamento e mais de 200 em o Novo.
denciando-se de várias maneiras a Além disso, ocorre dezenas de vezes mediante
Sua bondade e generosidade para com
palavras sinônimas, como o amor divino, a miseri-
a raça humana. A graça, na verdade,
é uma só, mas a teologia, por razões
córdia e a bondade de Deus.
didáticas, procura estabelecer uma
Nosso estudo mostra que a graça de Deus
classificação que consiga exprimir suas
envolve dois aspectos. O primeiro, o favor imerecido
diferentes atuações e implicações.
de Deus, por Ele expresso a todos os pecadores. O
Assim é que por “graça comum” se segundo se descreve melhor como o poder divino
reconhece a concessão de inúme-
que refreia o pecado, atrai os homens a Deus e
ros benefícios naturais a todos os
homens, independentemente de sua
regenera os crentes. Neste segundo aspecto, a graça
religião, com o intuito de refrear a de Deus opera juntamente com o Espírito Santo,
disseminação do mal, produzir bens levando o homem a viver nas regiões celestiais.
de interesse geral e propiciar a dis-
tribuição de uma justiça necessária à Graça por graça
convivência social. Além disso, a graça
comum torna os homens inescusáveis Não se deve confundir a graça de Deus com
diante de Deus, quando estes recusam uma obrigação divina. Nada nem ninguém pode
aproximar-se do Criador. obrigar ou exigir de Deus a redenção da humani-
É pela graça comum: que Deus “faz dade decaída. É somente o profundo e íntimo amor
que o seu sol se levante sobre maus de Deus que O constrange a providenciar a salvação
e bons, e a chuva desça sobre justos e até a convencer o homem a aceitá-la. Este conceito
e injustos” (cf. Mt 5.45); que as leis está registrado em João 1.16: “E todos nós recebemos
naturais cumprem a sua regularidade,
também da sua plenitude, e graça por graça”.
com sementeira e colheita, verão e
inverno, frio e calor, dia e noite (cf. O apóstolo João está explicando que a graça
Gn 8.22); que uma espécie de direito recebida é baseada somente na graça e mais nada.
Noutras palavras, a razão de Deus nos amar não

22 Doutrina da Salvação
partiu de alguma obrigação da Sua parte ou de
uma ação forçada sobre Ele. Deus expressou-nos o natural faz-se presente na consciên-
Seu amor porque nos amou. cia dos povos, incluindo os gentios
“que não têm lei” (cf. Rm 2.12-16); que
a própria natureza revela a glória, o
A graça comum
poder eterno e os atributos invisí-
Devido à sua natureza decaída, o homem é veis de Deus (cf. Sl 19.1-4; Rm 1.20); e
que poetas, intelectuais e filósofos
incapaz de, por si mesmo, procurar agradar a Deus,
podem escrever à luz da razão, como
que, por este motivo, concedeu a graça comum
os que provavelmente foram cita-
ou universal a todo homem. A graça comum é dos pelo apóstolo Paulo nas seguin-
vista em várias formas: nas bênçãos materiais da tes passagens: At 17.28 (Epimênides,
natureza; na maneira como Deus restringe o mal Cleantes e Arato); 1 Co 15.33 (Menan-
no mundo; e na conscientização do pecado dentro dro); e Tt 1.12 (Epimênides)*.
do coração humano (Rm 2.1-11). A seu turno, por “graça especial”
se compreende a atuação generosa
“...para que sejais filhos do vosso Pai
pela qual Deus possibilita ao crente o
que está nos céus; porque faz que o seu conhecimento de Sua natureza, caráter
sol se levante sobre maus e bons, e a e propósito, mediante a pregação da
chuva desça sobre justos e injustos.” Palavra, laborando a graça tanto para
(Mt 5.45) habilitar o pecador ao arrependimento
e à fé como para permitir, qualificar e
Esta graça comum não salva automaticamente confirmar seu crescimento espiritual
o homem, mas revela-lhe a bondade de Deus e (cf. Rm 4.16; Ef 2.1-10; Tt 2.11-14; 1 Pe 1.13).
restaura-lhe a capacidade de responder favoravel- A decisão de submeter-se a Cristo
mente ao amor divino. À luz desta graça comum, parte do próprio Homem, mas, em
compreendemos que nenhum homem pode se razão da depravação total, essa esco-
esconder atrás da desculpa de que não teve oportu- lha não seria possível se não lhe fosse
nidade de um encontro com Deus. dispensada a graça divina, que o
acompanhará em sua trajetória cristã
“Ou desprezas tu as riquezas da sua com vistas à santificação, frutificação,
benignidade, e paciência e longani- crescimento espiritual e serviço.
midade, ignorando que a benignidade
_______________
de Deus te leva ao arrependimento? ”
(Rm 2.4) *MARSHALL, I. Howard. Atos: Intro-
dução e Comentário. Série Cultura
“Porque as suas coisas invisíveis, Bíblica. São Paulo: Edições Vida Nova,
desde a criação do mundo, tanto o seu 1982, pp. 271,272.
eterno poder, como a sua divindade, se MORRIS, Leon. I Coríntios: Introdução e
entendem, e claramente se veem pelas Comentário. Série Cultura Bíblica. São
coisas que estão criadas, para que eles Paulo: Edições Vida Nova, 1981, p. 177.
fiquem inescusáveis.” (Rm 1.20)

Lição 1 - A Providência Salvadora 23


A Graça Especial

A “graça comum” concede a cada homem a capacidade de buscar


a Cristo. À medida que responder afirmativamente à graça que o atrai
a Deus, o homem é beneficiado por uma “graça especial”, que o ajuda
a chegar cada vez mais perto Dele. É certo dizer que nenhuma pessoa
pode vir ao Pai sem este poder adicional (esta graça especial), que vence
a escravidão decorrente da sua natureza humana decaída.
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou
o não trouxer...” (Jo 6.44)

Entretanto, devemos deixar claro que esta graça especial não garante
a decisão da parte do homem quanto à sua comunhão com Deus. Ao
aproximar-se de Deus, o homem recebe mais graça que o encoraja e o
incentiva a aceitar a salvação.
Uma experiência paralela temos na cura dos dez leprosos, mencio-
nada no Evangelho Segundo Lucas l7.14: “... indo eles, foram purifi-
cados”. Assim opera a graça. Porém, a qualquer momento, o homem
pode escolher resistir à Sua graça, o que naturalmente cancela a provisão
de mais graça (At 7.51).
Enquanto o homem continuar a responder afirmativamente à graça de
Deus, esta será o agente pelo qual ele receberá a justificação (Tt 3.7), a regene-
ração (Jo 3.3), a santificação (At 26.18) e a segurança em Deus (1 Pe 1.5).
A quantidade de graça que o homem recebe depende totalmente da
sua própria decisão e não do interesse ou da vontade de Deus (que já é
manifesta). Por esta razão, o apóstolo Pedro nos admoesta:
“Antes crescei na graça e no conhecimento de nosso
Senhor e Salvador, Jesus Cristo.” (2 Pe 3.18)

EXERCÍCIOS
Associe a coluna “A” à coluna “B”.

Coluna “A”
___1.06 Um dos temas predominantes em toda a Bíblia.
___1.07 Por este fator, o homem é convencido a aceitar a salvação.

24 Doutrina da Salvação
___1.08 Além de Sua plenitude, o que temos recebido do Pai,
segundo João.
___l.09 Não salva automaticamente o homem, mas revela-lhe a
bondade de Deus.
___1.10 Em correspondendo à graça comum, o homem está prestes
a, por meio dela, receber a salvação.
Coluna “B”
A. A graça comum.
B. O amor de Deus.
C. A graça especial.
D. A graça de Deus.
E. Graça sobre graça.

TEXTO 3
A PROVISÃO DE CRISTO
No Texto anterior, notamos que a fonte da nossa salvação é a graça de
Deus. Entretanto, não devemos confundir graça com tolerância. Apesar de nos
amar e querer nos salvar, Deus não pode simplesmente nos declarar inocentes,
pois Ele é não somente um Deus de amor, mas um Deus de justiça e santidade.
Declarar-nos inocentes sem a ocorrência da nossa conversão seria
uma ofensa à justiça de Deus. Entraria em conflito com a Sua santidade
e em contradição à Sua própria declaração de que “a alma que pecar,
essa morrerá” (Ez 18.4).
Então, como poderia Deus ser perfeitamente justo e ainda salvar
pecadores? A resposta está no fato de que Deus não desculpou o pecado;
antes, Ele o removeu. Para ajudar o homem a compreender o assombroso
alcance do Seu repúdio ao pecado, Deus nos deu a ilustração de um
Cordeiro expiatório. Esse cordeiro simboliza o verdadeiro Cordeiro de
Deus, o único que pode remover o pecado.
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo!” (Jo 1.29)

Lição 1 - A Providência Salvadora 25


Um cordeiro imaculado

O simbolismo do sacrifício no Antigo Testamento começa com


a escolha de um cordeiro, que tinha de ser sem mancha alguma.
Somente um cordeiro perfeito poderia ser usado no simbólico ritual
do sacrifício.
Do mesmo modo, o perfeito sacrifício pelo pecado somente
poderia ser feito por um homem que fosse perfeito. Um pecador
não poderia morrer por outro pecador. O resultado disso seria
martírio e não redenção. Somente Cristo satisfez os requisitos de
um cordeiro perfeito para, suficientemente, realizar um sacrifício
perfeito pelo pecado.
“Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito
eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus,
purificará as vossas consciências das obras mortas,
para servirdes ao Deus vivo!” (Hb 9.14)

A imposição de mãos

Ao oferecer um sacrifício por seu pecado, o crente do Antigo Testa-


mento colocava as mãos sobre a cabeça da vítima, transferindo, simbo-
licamente, seus pecados ao animal substituto.
Semelhantemente, Cristo carregou o fardo do pecado de todos
aqueles que se achegam a Ele para remoção dos seus pecados. “Todavia,
ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se
puser por expiação do pecado... porque as iniquidades deles levará sobre
si” (Is 53.10,11).
Esse antigo ritual de sacrifício tinha de ser repetido continuamente,
à medida que o povo pecava. O sacrifício único de Cristo, porém, foi
suficiente não só para todos os pecados do passado, como também para
qualquer pecado futuro que possa atingir a vida do crente.
“Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação
pelo pecado”. (Hb 10.18)

“E, se alguém pecar, temos um Advogado para com


o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação
pelos nossos pecados”. (1 Jo 2.1,2)

26 Doutrina da Salvação
A morte
O terceiro passo dado nos antigos sacrifícios era a imolação
do cordeiro, representando que a sua vida era dada em substi-
tuição à vida do ofensor. Do mesmo modo, Cristo tornou-se
o sacrifício expiatório em favor do mundo: “... em que Cristo
morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).
“E ele morreu por todos, para que os que
vivem não vivam mais para si, mas para
aquele que por eles morreu e ressuscitou.”
(2 Co 5.15)

Comendo o sacrifício
Na oferta dos sacrifícios do Antigo Testamento, o passo final era
cozinhar parte da carne, que, então, era comida pelo ofensor. A parti-
cipação no sacrifício indicava que o ofensor tinha restabelecido a sua
comunhão com Deus.
Cristo falou sobre isso várias vezes. À multidão que O ouvia à
margem do Mar da Galileia, Ele declarou: “Quem come a minha carne e
bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”
(Jo 6.54). Para Seus discípulos, na última ceia, Ele afirmou: “Isto é o meu
corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim.” (1 Co 11.24).
Referindo-Se à parte simbólica do sacrifício do Antigo Testamento, Cristo
enfatiza a importante verdade: tão logo se identifique com o sacrifício pelos seus
pecados (que é Cristo), o pecador ou ofensor passa a ter comunhão com o Pai.
“Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no
santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo
caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela
sua carne.” (Hb 10.19,20)

EXERCÍCIOS
Associe a coluna “A” à coluna “B”.
Coluna “A”
___1.11 Mesmo amando-nos e desejando salvar-nos, Deus não pode
simplesmente declarar-nos como tal.

Lição 1 - A Providência Salvadora 27


___1.12 Além de ter amor por nós, Deus é um Deus de justiça e
também deste fator.
___1.13 O simbolismo do sacrifício, no AT, começa com a escolha
deste elemento do ritual.
___1.14 O único sacrifício capaz de removê-los, no passado ou no
futuro, é o de Cristo.
___1.15 Ressurgindo, Jesus substituiu-a pela promessa da vida eterna.
___1.16 O que o pecador passa a ter quando se identifica com o sacri-
fício pelos pecados (Cristo),
Coluna “B”
A. Os pecados do homem.
B. Cordeiro.
C. Inocentes.
D. Comunhão com o Pai.
E. Santidade.
F. Sentença da morte.

TEXTO 4
DEUS NÃO “PRECISA” SALVAR A EXTENSÃO DA PROVISÃO DIVINA

A salvação é um benefício espiri-


Há séculos a Igreja tem argumentado sobre a
tual concebido pelo Pai, realizado por pergunta: “Por quem Cristo morreu?” Se alguém
Cristo e aplicado pelo Espírito Santo responde: “Pelo mundo inteiro”, outro pode objetar:
ao coração do pecador que, pela graça, “Então, por que todos os homens não são salvos?”
mediante a fé, aceita a Cristo como seu Se alguém responde: “Ele morreu somente pelos
Único e Suficiente Salvador. É importante eleitos, os quais Deus sabe que crerão”, alguém
anotar, porém, que a salvação procede alegará que Deus, por esta razão, não é justo, uma
da vontade soberana de Deus, e não de vez que nem todos os homens têm, obviamente,
uma suposta necessidade do Ser Divino. possibilidade de serem salvos.
Com efeito, se Deus necessitasse
salvar o pecador, Ele não poderia ser
Vamos agora examinar como as Escrituras
Autossuficiente, o que representaria
respondem a este questionamento.
uma contradição absoluta quanto à
natureza divina. Em nenhum lugar das
28 Doutrina da Salvação
Escrituras está escrito que Deus pre-
cisou enviar Seu Filho, ou que Ele pre-
A provisão divina pelo mundo cisa de nós, muito menos que Ele pre-
cisasse salvar um povo para adorá-lO.
A Bíblia ensina enfaticamente que a redenção Ao plano de salvação estão relacio-
de Cristo é suficiente para todos os homens. Através nados os conceitos de vontade, con-
de um sacrifício perfeito, bilhões de vidas pecami- selho, desígnio e beneplácito (con-
nosas foram representadas em Cristo, e pecados sentimento, aprovação).
sem conta foram potencialmente perdoados. Na realidade, o Deus Trino basta-
-se a Si mesmo, não sente solidão, não
“E ele é a propiciação pelos nossos necessitou de auxílio na Criação, não
pecados, e não somente pelos nossos, Se apaixonou por supostas qualidades
mas também pelos de todo o mundo.” humanas e não recorreu a terceiros para
planejar, executar ou aplicar os benefí-
(1 Jo 2.2)
cios da Cruz: em todas as coisas o Senhor
“Po rq u e o a m o r d e C r i s t o n o s é Autossuficiente. Bem por isso, é teolo-
gicamente equivocado afirmar que Deus
constrange, julgando nós assim: que,
seria injusto se deixasse a humanidade
se um morreu por todos, logo todos perecer, pois sobre Ele não pesa obriga-
morreram.” (2 Co 5.14) ção de nenhuma espécie. Correto é afir-
mar que a salvação é um ato volitivo de
“... pela graça de Deus, provasse a Deus, e não um ato necessário.
morte por todos.” (Hb 2.9)
Diante disso, como conciliar tal pre-
missa com o fato de que “Deus é amor”,
A provisão divina especial pelos que creem conforme 1 João 4.8? Dito de outro
modo, como a salvação pode não ser
Apesar das múltiplas promessas mostrando um ato necessário de Deus, se o amor
que Cristo morreu pelo mundo inteiro, há um constitui a Sua essência? Pode-se afir-
sentido em que a expiação é uma provisão divina mar que a resposta se encontra na
feita especialmente por aqueles que creem em própria pergunta: foi o amor de Deus
Cristo: “Salvador de todos os homens, especial- que concebeu o plano de salvação, e
não um fator externo; “porque Deus
mente dos fiéis” (1 Tm 4.10). Neste versículo, amou o mundo de tal maneira que deu
vemos a extensão total da obra redentora no o Seu Filho unigênito, para que todo
Calvário: Cristo é a provisão de Deus para a aquele que nele crê não pereça, mas
salvação de todos os homens, mas esta salvação é tenha a vida eterna” (cf. Jo 3.16).
aplicada somente aos que creem Nele. As perfeições e excelências de Deus
(os atributos divinos) encontram-se eter-
Tudo aquilo que Cristo realizou e sofreu na namente equilibrados, inexistindo qual-
cruz é suficiente para salvar todo pecador. Todavia, quer lapso ou incongruência, de modo
tudo o que consumou na cruz não pode salvar que amor e justiça se acham em abso-
nenhum pecador que se recuse a crer Nele e a ser luta harmonia. Eis o paradoxo essencial
do Evangelho: na Cruz, “a misericórdia e
reconciliado com Deus (2 Co 5.18-20).
a verdade se encontraram; a justiça e a
À luz desta explicação, podemos entender por paz se beijaram” (cf. Sl 85.10). De acordo
com a justiça, alguém teria de sofrer a
que a Bíblia, às vezes, fala da provisão divina como
condenação por causa do pecado; em
virtude do amor, Deus enviou um Subs-
tituto Penal para a humanidade.
Lição 1 - A Providência Salvadora 29
sendo limitada a “muitos” (Mt 20.28), “amigos” (Jo 15.13), “filhos de
Deus” (Jo 11.51-52), ou “por nós” (Tt 2.14). Estes versículos não negam a
provisão da salvação para todos os homens, mas ressaltam o fato de que,
embora a salvação esteja ao alcance de todos, poucos se apossam dela.
Equivale a um grande banquete onde há alimento para todos,
porém, se alguém se recusa a comer, o dono não vai forçá-lo a tal.

Alguns, pelos quais Cristo morreu, perecerão

Em resposta àqueles que creem que a propiciação efetuada por


Cristo salva todos os homens, basta observar que a Bíblia declara
existirem aqueles pelos quais Cristo morreu e que não obterão a vida
eterna. Entre estes estão os que aceitam a expiação, mas depois a rejeitam,
e também aqueles que se recusam a aceitá-la. Observemos esses dois
grupos nestes versículos:
“... perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu.”
(1 Co 8.11)
“... e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo
sobre si mesmos repentina perdição.” (2 Pe 2.1)

Conclusão

A provisão que Cristo efetuou na cruz pode ser comparada a


certos bilhetes de ônibus ou trem, composto de duas partes. Numa
parte está escrito: “Não vale se destacada”, e na outra: “Não válida
como passagem”. Assim, a provisão salvífica sozinha, sem fé, não pode
garantir a chegada de ninguém ao céu. Por outro lado, fé, sem propi-
ciação, não tem efeito algum.

EXERCÍCIOS
Assinale com “x” a alternativa correta.
1.17 A Bíblia enfatiza que a redenção de Cristo é suficiente para
___a) todos os homens.
___b) o povo escolhido.
___c) os previamente escolhidos.
___d) Nenhuma das alternativas está correta.

30 Doutrina da Salvação
1.18 A Bíblia apresenta muitas promessas de que Cristo morreria por
todo o mundo. Esta salvação é aplicada
___a) a todos os homens, sem exceção.
___b) aos predestinados.
___c) somente àqueles que creem em Cristo.
___d) Todas as alternativas estão corretas.

1.19 Há os que creem que a propiciação efetuada por Cristo salve todos
os homens; a Bíblia declara existirem aqueles pelos quais Ele morreu,
___a) que lhe são especiais, e que serão salvos a qualquer custo.
___b) e que não obterão a vida eterna.
___c) que O rejeitam, portanto, estão condenados.
___d) Nenhuma das alternativas está correta.

Lição 1 - A Providência Salvadora 31


REVISÃO DA LIÇÃO
Assinale com “x” a alternativa correta.
1.20 Salomão observou não haver homem algum que não necessitasse
da salvação, afirmativa posteriormente confirmada em o Novo
Testamento, por
___a) João Batista.
___b) Paulo.
___c) Pedro.
___d) Filemom.

1.21 O homem que sempre responder afirmativamente à graça de Deus


terá Nele segurança e receberá a
___a) justificação.
___b) regeneração.
___c) santificação.
___d) Todas as alternativas estão corretas.

1.22 Para ajudar o homem a compreender o assombroso alcance do


Seu repúdio ao pecado, Deus nos deu a ilustração
___a) de um Cordeiro expiatório.
___b) do rico e Lázaro.
___c) do encontro de Nicodemos com Jesus.
___d) Nenhuma das alternativas está correta.

1.23 Timóteo, em sua primeira carta, revela que a obra redentora de


Cristo no Calvário é privilégio daqueles que
___a) forem batizados em água.
___b) forem ativos na igreja.
___c) creem em Cristo Jesus.
___d) se mostrarem temerosos por seus pecados.

32 Doutrina da Salvação

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