Lição 1 - Doutrina Da Salvação
Lição 1 - Doutrina Da Salvação
Lição 1 - Doutrina Da Salvação
A PROVIDÊNCIA SALVADORA
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Esboço da Lição
1. O Pecado do Homem
2. A Graça de Deus
3. A Provisão de Cristo
4. A Extensão da Provisão Divina
Objetivos da Lição
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TEXTO 1
DEPRAVAÇÃO TOTAL O PECADO DO HOMEM
18 Doutrina da Salvação
essa natureza pecaminosa, colocando, assim, toda
a criação sob o julgamento de Deus. imagem de Deus, mas ele não pode ser
despertado, senão pela graça divina.
“... estando vós mortos em ofensas e
Adão, antes da Queda, detinha con-
pecados... fazendo a vontade da carne...
dição diferente, expressa por duas
éramos por natureza filhos da ira, como máximas, a saber, posse peccare e
os outros também”. (Ef 2.1-3) posse non peccare, que denotam,
respectivamente, a possibilidade
Esta natureza pecaminosa, que todos os
de pecar e a possibilidade de não
homens herdaram de Adão, é chamada “degene- pecar: como representante ancestral
ração completa”. Esta expressão não significa que da raça humana, o Primeiro Homem
o homem seja absolutamente mau em todas as foi dotado de liberdade plena asso-
situações da vida, mas que todas as áreas do seu ciada à responsabilidade moral, e sua
ser – corpo, alma e espírito – foram afetadas pela transgressão consistiu justamente
decaída “natureza adâmica”. em adotar uma ética emancipada,
independente, alienada de Deus, ao
comer do fruto da árvore do conhe-
A culpa universal
cimento do bem e do mal. Adão e Eva
Salomão observou não haver homem algum abusaram do livre-arbítrio.
que não necessitasse da salvação: “Não há homem Já o Senhor Jesus Cristo, o “último
justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque” Adão” (cf. 1 Co 15.45; ver também
(Ec 7.20). Em o Novo Testamento, o apóstolo Rm 5.12-21), ostenta a condição non
Paulo fez a mesma observação: “Não há um justo, posse peccare, que expressa sua
nem um sequer” (Rm 3.10). Muitos chamam a si impecabilidade.
mesmos justos, simplesmente porque vivem uma O que acontece ao homem rege-
vida melhor, mais aceitável do que a dos seus nerado é que ele passa ao estado de
vizinhos, porém trata-se de uma comparação com posse non peccare, ou seja, a possibi-
lidade de não pecar, prerrogativa esta
base no padrão humano de julgamento. Devemos
que lhe é conferida pelos méritos de
compreender que Deus não nos avalia comparan-
Cristo na Cruz e que se manifesta no
do-nos ao próximo, mas ao Seu padrão de justiça. processo de santificação diária. Na
E, diante do elevado padrão divino, “todos nós glorificação futura, o salvo passará à
somos como o imundo, e todas as nossas justiças condição non posse peccare, quando,
como trapo da imundícia...” (Is 64.6). “Porque enfim, estará livre da presença do
todos pecaram e destituídos estão da glória de pecado.
Deus” (Rm 3.23).
Na Lei divina registrada na Bíblia, Deus revelou-nos o Seu padrão
para vivermos de maneira justa. Porém, homem algum foi ou será capaz
de alcançá-lo perfeitamente. O padrão de vida exposto por Deus nunca
foi destinado a ser o caminho da salvação para ninguém; nem nos
tempos do Antigo Testamento, nem nos dias atuais.
A culpa pessoal
Embora herdeiros da natureza decaída de Adão, que nos torna incli-
nados ao erro, cada um de nós é responsável pelos próprios pecados. A
culpa universal não nos isenta da culpa pessoal. Cada ser humano, ao
ultrapassar a fase da inocência, passando a distinguir entre o bem e o
mal, o certo e o errado, torna-se responsável por seus atos perante Deus.
20 Doutrina da Salvação
A natureza pecaminosa não tirou do homem o livre arbítrio – dado por
Deus. Cada um tem a capacidade de escolher, por si mesmo, seguir ou
não o mau exemplo de Adão.
A Bíblia declara que o homem dará conta a Deus unicamente das
suas próprias culpas: “Os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos
pelos pais; cada um morrerá pelo seu pecado” (Dt 24.16).
O profeta Jeremias disse aos judeus que eles não deveriam culpar os
pais pelos pecados pessoais: “Mas cada um morrerá pela sua iniquidade”
(Jr 31.30). De igual modo, o profeta Ezequiel afirma que o filho não
pagará pelos pecados do pai.
“Eis que todas as almas são minhas; como o é
a alma do pai, assim também a alma do filho é
minha: a alma que pecar, essa morrerá... o tal não
morrerá pela iniquidade de seu pai; certamente
viverá”. (Ez 18.4,17)
Notemos o versículo de 1 Coríntios 15.22, que diz: “Porque, assim
como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados
em Cristo”. Este versículo diz, noutras palavras, o seguinte: “Assim como
Adão trouxe a possibilidade de morte para todos, Cristo trouxe também
a possibilidade da vida para todos”. É evidente que cada indivíduo tem de
tomar a decisão de aceitar ou rejeitar a Cristo e a vida eterna, ou, igual-
mente, a decisão de seguir o pecado e a consequente morte espiritual.
Esse fato é também apoiado por Romanos 5.12, que afirma que o
pecado “entrou” no mundo através de Adão e que a morte veio “porque
todos (cada um) pecaram (pessoalmente)”.
EXERCÍCIOS
Marque “C” para certo e “E” para errado.
___1.01 A Bíblia explica que, por si mesmo, o homem nada pode fazer
para obter a salvação.
___1.02 Desde que nasce, o homem é inclinado ao pecado, razão por
que é incapaz de agradar a Deus.
___1.03 “... em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5) deixa claro
que ela é responsável pelos pecados que eu cometer.
TEXTO 2
GRAÇA COMUM E GRAÇA ESPECIAL A GRAÇA DE DEUS
A graça de Deus pode ser definida A graça de Deus é um dos temas predomi-
como a disposição do Criador no sen- nantes em toda a Bíblia; aparece mais de 100 vezes
tido de abençoar a humanidade, evi- no Antigo Testamento e mais de 200 em o Novo.
denciando-se de várias maneiras a Além disso, ocorre dezenas de vezes mediante
Sua bondade e generosidade para com
palavras sinônimas, como o amor divino, a miseri-
a raça humana. A graça, na verdade,
é uma só, mas a teologia, por razões
córdia e a bondade de Deus.
didáticas, procura estabelecer uma
Nosso estudo mostra que a graça de Deus
classificação que consiga exprimir suas
envolve dois aspectos. O primeiro, o favor imerecido
diferentes atuações e implicações.
de Deus, por Ele expresso a todos os pecadores. O
Assim é que por “graça comum” se segundo se descreve melhor como o poder divino
reconhece a concessão de inúme-
que refreia o pecado, atrai os homens a Deus e
ros benefícios naturais a todos os
homens, independentemente de sua
regenera os crentes. Neste segundo aspecto, a graça
religião, com o intuito de refrear a de Deus opera juntamente com o Espírito Santo,
disseminação do mal, produzir bens levando o homem a viver nas regiões celestiais.
de interesse geral e propiciar a dis-
tribuição de uma justiça necessária à Graça por graça
convivência social. Além disso, a graça
comum torna os homens inescusáveis Não se deve confundir a graça de Deus com
diante de Deus, quando estes recusam uma obrigação divina. Nada nem ninguém pode
aproximar-se do Criador. obrigar ou exigir de Deus a redenção da humani-
É pela graça comum: que Deus “faz dade decaída. É somente o profundo e íntimo amor
que o seu sol se levante sobre maus de Deus que O constrange a providenciar a salvação
e bons, e a chuva desça sobre justos e até a convencer o homem a aceitá-la. Este conceito
e injustos” (cf. Mt 5.45); que as leis está registrado em João 1.16: “E todos nós recebemos
naturais cumprem a sua regularidade,
também da sua plenitude, e graça por graça”.
com sementeira e colheita, verão e
inverno, frio e calor, dia e noite (cf. O apóstolo João está explicando que a graça
Gn 8.22); que uma espécie de direito recebida é baseada somente na graça e mais nada.
Noutras palavras, a razão de Deus nos amar não
22 Doutrina da Salvação
partiu de alguma obrigação da Sua parte ou de
uma ação forçada sobre Ele. Deus expressou-nos o natural faz-se presente na consciên-
Seu amor porque nos amou. cia dos povos, incluindo os gentios
“que não têm lei” (cf. Rm 2.12-16); que
a própria natureza revela a glória, o
A graça comum
poder eterno e os atributos invisí-
Devido à sua natureza decaída, o homem é veis de Deus (cf. Sl 19.1-4; Rm 1.20); e
que poetas, intelectuais e filósofos
incapaz de, por si mesmo, procurar agradar a Deus,
podem escrever à luz da razão, como
que, por este motivo, concedeu a graça comum
os que provavelmente foram cita-
ou universal a todo homem. A graça comum é dos pelo apóstolo Paulo nas seguin-
vista em várias formas: nas bênçãos materiais da tes passagens: At 17.28 (Epimênides,
natureza; na maneira como Deus restringe o mal Cleantes e Arato); 1 Co 15.33 (Menan-
no mundo; e na conscientização do pecado dentro dro); e Tt 1.12 (Epimênides)*.
do coração humano (Rm 2.1-11). A seu turno, por “graça especial”
se compreende a atuação generosa
“...para que sejais filhos do vosso Pai
pela qual Deus possibilita ao crente o
que está nos céus; porque faz que o seu conhecimento de Sua natureza, caráter
sol se levante sobre maus e bons, e a e propósito, mediante a pregação da
chuva desça sobre justos e injustos.” Palavra, laborando a graça tanto para
(Mt 5.45) habilitar o pecador ao arrependimento
e à fé como para permitir, qualificar e
Esta graça comum não salva automaticamente confirmar seu crescimento espiritual
o homem, mas revela-lhe a bondade de Deus e (cf. Rm 4.16; Ef 2.1-10; Tt 2.11-14; 1 Pe 1.13).
restaura-lhe a capacidade de responder favoravel- A decisão de submeter-se a Cristo
mente ao amor divino. À luz desta graça comum, parte do próprio Homem, mas, em
compreendemos que nenhum homem pode se razão da depravação total, essa esco-
esconder atrás da desculpa de que não teve oportu- lha não seria possível se não lhe fosse
nidade de um encontro com Deus. dispensada a graça divina, que o
acompanhará em sua trajetória cristã
“Ou desprezas tu as riquezas da sua com vistas à santificação, frutificação,
benignidade, e paciência e longani- crescimento espiritual e serviço.
midade, ignorando que a benignidade
_______________
de Deus te leva ao arrependimento? ”
(Rm 2.4) *MARSHALL, I. Howard. Atos: Intro-
dução e Comentário. Série Cultura
“Porque as suas coisas invisíveis, Bíblica. São Paulo: Edições Vida Nova,
desde a criação do mundo, tanto o seu 1982, pp. 271,272.
eterno poder, como a sua divindade, se MORRIS, Leon. I Coríntios: Introdução e
entendem, e claramente se veem pelas Comentário. Série Cultura Bíblica. São
coisas que estão criadas, para que eles Paulo: Edições Vida Nova, 1981, p. 177.
fiquem inescusáveis.” (Rm 1.20)
Entretanto, devemos deixar claro que esta graça especial não garante
a decisão da parte do homem quanto à sua comunhão com Deus. Ao
aproximar-se de Deus, o homem recebe mais graça que o encoraja e o
incentiva a aceitar a salvação.
Uma experiência paralela temos na cura dos dez leprosos, mencio-
nada no Evangelho Segundo Lucas l7.14: “... indo eles, foram purifi-
cados”. Assim opera a graça. Porém, a qualquer momento, o homem
pode escolher resistir à Sua graça, o que naturalmente cancela a provisão
de mais graça (At 7.51).
Enquanto o homem continuar a responder afirmativamente à graça de
Deus, esta será o agente pelo qual ele receberá a justificação (Tt 3.7), a regene-
ração (Jo 3.3), a santificação (At 26.18) e a segurança em Deus (1 Pe 1.5).
A quantidade de graça que o homem recebe depende totalmente da
sua própria decisão e não do interesse ou da vontade de Deus (que já é
manifesta). Por esta razão, o apóstolo Pedro nos admoesta:
“Antes crescei na graça e no conhecimento de nosso
Senhor e Salvador, Jesus Cristo.” (2 Pe 3.18)
EXERCÍCIOS
Associe a coluna “A” à coluna “B”.
Coluna “A”
___1.06 Um dos temas predominantes em toda a Bíblia.
___1.07 Por este fator, o homem é convencido a aceitar a salvação.
24 Doutrina da Salvação
___1.08 Além de Sua plenitude, o que temos recebido do Pai,
segundo João.
___l.09 Não salva automaticamente o homem, mas revela-lhe a
bondade de Deus.
___1.10 Em correspondendo à graça comum, o homem está prestes
a, por meio dela, receber a salvação.
Coluna “B”
A. A graça comum.
B. O amor de Deus.
C. A graça especial.
D. A graça de Deus.
E. Graça sobre graça.
TEXTO 3
A PROVISÃO DE CRISTO
No Texto anterior, notamos que a fonte da nossa salvação é a graça de
Deus. Entretanto, não devemos confundir graça com tolerância. Apesar de nos
amar e querer nos salvar, Deus não pode simplesmente nos declarar inocentes,
pois Ele é não somente um Deus de amor, mas um Deus de justiça e santidade.
Declarar-nos inocentes sem a ocorrência da nossa conversão seria
uma ofensa à justiça de Deus. Entraria em conflito com a Sua santidade
e em contradição à Sua própria declaração de que “a alma que pecar,
essa morrerá” (Ez 18.4).
Então, como poderia Deus ser perfeitamente justo e ainda salvar
pecadores? A resposta está no fato de que Deus não desculpou o pecado;
antes, Ele o removeu. Para ajudar o homem a compreender o assombroso
alcance do Seu repúdio ao pecado, Deus nos deu a ilustração de um
Cordeiro expiatório. Esse cordeiro simboliza o verdadeiro Cordeiro de
Deus, o único que pode remover o pecado.
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo!” (Jo 1.29)
A imposição de mãos
26 Doutrina da Salvação
A morte
O terceiro passo dado nos antigos sacrifícios era a imolação
do cordeiro, representando que a sua vida era dada em substi-
tuição à vida do ofensor. Do mesmo modo, Cristo tornou-se
o sacrifício expiatório em favor do mundo: “... em que Cristo
morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).
“E ele morreu por todos, para que os que
vivem não vivam mais para si, mas para
aquele que por eles morreu e ressuscitou.”
(2 Co 5.15)
Comendo o sacrifício
Na oferta dos sacrifícios do Antigo Testamento, o passo final era
cozinhar parte da carne, que, então, era comida pelo ofensor. A parti-
cipação no sacrifício indicava que o ofensor tinha restabelecido a sua
comunhão com Deus.
Cristo falou sobre isso várias vezes. À multidão que O ouvia à
margem do Mar da Galileia, Ele declarou: “Quem come a minha carne e
bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”
(Jo 6.54). Para Seus discípulos, na última ceia, Ele afirmou: “Isto é o meu
corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim.” (1 Co 11.24).
Referindo-Se à parte simbólica do sacrifício do Antigo Testamento, Cristo
enfatiza a importante verdade: tão logo se identifique com o sacrifício pelos seus
pecados (que é Cristo), o pecador ou ofensor passa a ter comunhão com o Pai.
“Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no
santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo
caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela
sua carne.” (Hb 10.19,20)
EXERCÍCIOS
Associe a coluna “A” à coluna “B”.
Coluna “A”
___1.11 Mesmo amando-nos e desejando salvar-nos, Deus não pode
simplesmente declarar-nos como tal.
TEXTO 4
DEUS NÃO “PRECISA” SALVAR A EXTENSÃO DA PROVISÃO DIVINA
Conclusão
EXERCÍCIOS
Assinale com “x” a alternativa correta.
1.17 A Bíblia enfatiza que a redenção de Cristo é suficiente para
___a) todos os homens.
___b) o povo escolhido.
___c) os previamente escolhidos.
___d) Nenhuma das alternativas está correta.
30 Doutrina da Salvação
1.18 A Bíblia apresenta muitas promessas de que Cristo morreria por
todo o mundo. Esta salvação é aplicada
___a) a todos os homens, sem exceção.
___b) aos predestinados.
___c) somente àqueles que creem em Cristo.
___d) Todas as alternativas estão corretas.
1.19 Há os que creem que a propiciação efetuada por Cristo salve todos
os homens; a Bíblia declara existirem aqueles pelos quais Ele morreu,
___a) que lhe são especiais, e que serão salvos a qualquer custo.
___b) e que não obterão a vida eterna.
___c) que O rejeitam, portanto, estão condenados.
___d) Nenhuma das alternativas está correta.
32 Doutrina da Salvação