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Ciência dos

Materiais
Oliveira, Tatiane Gabi de
Ciência dos Materiais / Tatiane Gabi de Oliveira
Delinea, 2024.
nº de p. 24

Copyright © 2024 Delinea EdTech


Ciência dos Materiais

Apresentação da disciplina

A Ciência dos Materiais é uma disciplina em que se estudam as propriedades dos


materiais sólidos, influenciadas pela composição e pela estrutura dos materiais.

Com a compreensão da origem de tais propriedades, é possível selecionar


ou projetar materiais para uma variedade de aplicações, por exemplo,
para a fabricação de aços estruturais e para a produção de microchips de
computador. Assim, a Ciência dos Materiais tem um papel de destaque nas
atividades de engenharia em diversos setores, incluindo eletrônica, aeroespacial,
telecomunicações, processamento de informações, energia nuclear e conversão
de energia. Nesta disciplina, iremos estudar os principais materiais, que são os
metálicos, os poliméricos e os cerâmicos, de forma a entender as propriedades
dos materiais e relacioná-las com suas estruturas. Serão estudados, ainda,
os diferentes mecanismos de aumento ou de diminuição de resistência nos
materiais metálicos, bem como os principais fenômenos de tratamentos
térmicos e termoquímicos aplicados aos diferentes tipos de materiais.

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Ciência dos Materiais

Unidade 1

Estrutura dos materiais

Compreender a estrutura dos materiais é importante para desvendar suas


propriedades e seu comportamento. Uma forma comum de classificação se
baseia na regularidade do arranjo dos átomos ou íons dentro do material. Nos
materiais cristalinos, os átomos ou íons seguem um padrão tridimensional
repetitivo e organizado ao longo de grandes distâncias atômicas.

Essa organização resulta em um ordenamento de longo alcance, em que cada


átomo está ligado aos seus vizinhos mais próximos, de forma definida. Tal
estrutura cristalina é observada em muitos metais, cerâmicas e alguns polímeros
durante o processo normal de solidificação. Já os materiais amorfos ou não
cristalinos não exibem esse tipo de ordenamento estendido. Nesta unidade,
vamos estudar a microestrutura e a morfologia dos materiais de maneira a
compreender as estruturas de metais, cerâmicas e polímeros.

Objetivos específicos de aprendizagem


• Entender quais são os tipos de estrutura dos materiais.
• Conhecer as morfologias mais comuns para os materiais.
• Relacionar cada um dos materiais às suas respectivas estruturas.

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Ciência dos Materiais

Microestrutura e morfologia
dos materiais
Os materiais sólidos podem ser agrupados conforme a regularidade na
disposição de seus átomos ou íons em relação uns aos outros (Callister
Jr.; Rethwisch, 2021). Quando os átomos seguem um arranjo periódico ou
repetitivo ao longo de grandes distâncias atômicas, o material é considerado
cristalino. Isso implica uma ordem de longo alcance, na qual, durante o processo
de solidificação, os átomos adotam um padrão tridimensional repetitivo e
estabelecem ligações com seus vizinhos mais próximos.

CÉLULA CRISTALINA
FONTE: CALLISTER JR.; RETHWISCH (2021, P. 43).
#pratodosverem: agregado de esferas verdes, representando átomos, e um cubo com arestas
pretas, marcando um conjunto de átomos, simbolizando uma estrutura cristalina.

Células cristalinas

Sob condições normais de solidificação, a maioria dos materiais, como os metais,


os polímeros e os cerâmicos, apresenta estruturas cristalinas. Por outro lado,
materiais que não exibem essa ordem atômica de longo alcance são classificados
como não cristalinos ou amorfos.

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Ciência dos Materiais

§ Materiais cristalinos

São constituídos por átomos, moléculas ou íons dispostos de forma


periódica em três dimensões, seguindo uma simetria translacional. Suas
posições ocupadas obedecem a uma ordem que se repete ao longo de
muitas distâncias atômicas, caracterizando uma estrutura de longo alcance.

§ Materiais amorfos

São compostos por átomos, moléculas ou íons que não exibem uma
ordenação de longo alcance, não possuindo simetria translacional. Embora
não haja essa ordem estendida, podem apresentar uma ordenação de
curto alcance. Exemplos incluem líquidos e sólidos vítreos.

As propriedades dos sólidos cristalinos quase sempre são influenciadas pela


estrutura cristalina do material, ou seja, pela maneira como os átomos, íons ou
moléculas estão organizados no espaço.

Saiba mais
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a
agregação de átomos, você pode acessar o conteúdo
clicando aqui.

A organização dos átomos nos sólidos cristalinos revela que pequenos grupos de
átomos formam padrões repetitivos. Para descrever essas estruturas cristalinas,
é comum subdividi-las em unidades repetitivas menores, denominadas
células unitárias. Na maioria das estruturas cristalinas, as células unitárias são
paralelepípedos ou prismas com três conjuntos de faces paralelas.

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Ciência dos Materiais

CÉLULA UNITÁRIA
FONTE: CALLISTER JR.; RETHWISCH (2021, P. 43).
#pratodosverem: células unitárias representadas, no conjunto de esferas verdes, em forma de cubo.

Alguns metais, bem como alguns ametais, podem existir em diferentes


estruturas cristalinas. Trata-se de um fenômeno conhecido como polimorfismo.
Quando essa variação ocorre em sólidos elementares, é comumente chamada
de alotropia. É importante saber que a temperatura e a pressão externas são
fatores determinantes para a formação da estrutura cristalina.

Saiba mais
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a
alotropia, você pode acessar o conteúdo disponível,
clicando aqui.

Imperfeições e defeitos cristalinos

Defeitos cristalinos são irregularidades na estrutura da rede cristalina que


afetam uma ou mais dimensões na escala do diâmetro atômico. Esses defeitos
são classificados com base em sua geometria ou dimensionalidade. No geral,

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Ciência dos Materiais

há três categorias principais de defeitos cristalinos: defeitos pontuais, defeitos


lineares (ou unidimensionais) e defeitos interfaciais, também conhecidos como
contornos, que são bidimensionais (Callister Jr.; Rethwisch, 2021).

Um defeito pontual é a lacuna, que representa um local vazio na estrutura


cristalina onde normalmente um átomo deveria estar localizado. Essa ausência
de átomos cria uma irregularidade na rede cristalina. Mesmo em materiais
cristalinos altamente purificados, é impossível eliminar por completo essas
lacunas, pois são uma consequência natural da estrutura cristalina e da
movimentação térmica dos átomos.

Um autointersticial, também um defeito pontual, ocorre quando um átomo


do cristal se aloja em um sítio intersticial, que é um pequeno espaço vazio na
estrutura cristalina o qual, normalmente, não estaria ocupado.

DEFEITOS PONTUAIS
FONTE: CALLISTER JR.; RETHWISCH (2021, P. 81).
#pratodosverem: representação bidimensional de lacuna (vazios) e de autointersticial em uma
rede de átomos em azul.

Uma discordância é um tipo de defeito linear ou unidimensional que ocorre


quando alguns átomos na estrutura cristalina estão desalinhados. Na região
ao redor da linha da discordância, ocorre uma distorção localizada da rede
cristalina. Os átomos acima da linha da discordância são comprimidos, enquanto
os átomos abaixo dela são afastados, o que resulta em uma leve curvatura
dos planos atômicos conforme eles se dobram ao redor do semiplano extra de
átomos (Callister Jr.; Rethwisch, 2021).

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Ciência dos Materiais

Tipo de discordância Descrição


Uma porção adicional de um plano de átomos (semiplano) é
Discordância em aresta inserida na estrutura cristalina, resultando em uma distorção
linear ao longo de uma linha centralizada.

Resulta da aplicação de tensão cisalhante na estrutura


Discordância em espiral cristalina, em que a região superior anterior do cristal é
deslocada em relação à porção inferior.

Combinação de componentes em aresta e em espiral, exibindo


Discordância mista
uma distorção variável da rede cristalina ao longo da estrutura.
DIFERENTES TIPOS DE DISCORDÂNCIAS
FONTE: ELABORADO PELA AUTORA (2024).

Os defeitos interfaciais são regiões de interface que possuem duas dimensões e


geralmente dividem áreas de materiais que têm estruturas cristalinas distintas e/
ou orientações cristalográficas diferentes.

Análise morfológica por auxílio de microscópios


A análise em microscópico é uma ferramenta importante no estudo e na
caracterização dos materiais. Ela ajuda a compreender as relações entre as
propriedades e a estrutura dos materiais, prever suas propriedades com base
nessas relações, projetar ligas com combinações específicas de propriedades,
verificar o tratamento térmico adequado de um material, bem como identificar o
tipo de uma fratura mecânica, entre outras aplicações importantes.

MICROESTRUTURA DO COBRE
FONTE: CALLISTER JR.; RETHWISCH (2021, P. 96).
#pratodosverem: representação de uma análise microscópica de um lingote de cobre em que vê
grãos no formato de agulhas, expostos de maneira radial, do centro para a borda.

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Ciência dos Materiais

Cada tipo de microscópio oferece modalidades de transmissão e de reflexão, e


a escolha entre elas depende da natureza da amostra, bem como do elemento
estrutural ou do defeito a ser examinado.

Os dois principais tipos de microscópios eletrônicos são o de transmissão (MET)


e o de varredura (MEV). No MET, uma imagem é formada a partir de um feixe de
elétrons que atravessa a amostra, sendo espalhado e/ou difratado no processo.
Por outro lado, o MEV utiliza um feixe de elétrons para escanear a superfície da
amostra, e a imagem é gerada a partir dos elétrons retroespalhados ou refletidos.

Saiba mais
Para aprofundar seus conhecimentos sobre a
análise morfológica, você pode acessar o conteúdo
disponível, clicando aqui.

Estrutura dos metais


Devido à natureza não direcional da ligação metálica, não há limitações quanto
ao número ou à posição dos vizinhos mais próximos. Isso resulta em uma alta
densidade de vizinhos e em um empacotamento atômico elevado nas estruturas
cristalinas dos metais. As três estruturas cristalinas mais frequentes em metais
são: cúbica de corpo centrado, cúbica de face centrada e hexagonal compacta
(Smith; Hashemi, 2012).

Células cristalinas dos materiais metálicos

Na estrutura cúbica de corpo centrado (CCC), cada átomo nos vértices do cubo
compartilha sua posição com oito células unitárias. Enquanto isso, o átomo no
centro pertence, exclusivamente, à sua célula unitária. A estrutura CCC contém
dois átomos por célula unitária. Metais como ferro (Fe), cromo (Cr) e tungstênio
(W) cristalizam nesse padrão de estrutura (Smith; Hashemi, 2012).

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Ciência dos Materiais

A imagem a seguir ilustra os diagramas das células unitárias CCC. Nos diagramas,
os átomos são representados por modelos de esferas rígidas e esferas reduzidas,
respectivamente. Os átomos nos vértices e no centro da célula unitária tocam
uns aos outros ao longo das diagonais do cubo.

ESTRUTURA CÚBICA DE CORPO CENTRADO


FONTE: CALLISTER JR.; RETHWISCH (2021, P. 46).
#pratodosverem: para a estrutura cristalina cúbica de corpo centrado, há a representação da
célula unitária utilizando esferas rígidas em azul, uma célula unitária utilizando esferas reduzidas
(nesse caso, as arestas do cubo em preto) e as esferas em azul nos vértices de cada aresta.

Para as estruturas cristalinas, é importante determinar quantos átomos estão


associados a cada célula unitária. Isso depende da posição do átomo, que pode
ser compartilhado por células unitárias adjacentes, o que significa que apenas
uma parte do átomo pertence a uma célula específica.

O número de átomos presentes em uma célula unitária cúbica é dado por N e


pode ser calculado da seguinte maneira:

= + +
2 8

Em que Ni corresponde ao número de átomos no interior da célula; Nf


representa o número de átomos nas faces da célula; e Nv corresponde ao
número de átomos nos vértices da célula (Smith; Hashemi, 2012).

No caso de estruturas CCC, temos que em cada célula unitária há oito átomos
localizados nos vértices e um único átomo no centro, que está contido, por
completo, dentro da célula. Consequentemente, utilizando a equação
= + + , o número total de átomos por célula unitária CCC pode ser
2 8
determinado conforme:

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Ciência dos Materiais

= +
+
2 8
0 8
=1+ +
2 8
= 2 átomos.

Existe, ainda, um parâmetro importante denominado número de coordenação


(NC), que indica a quantidade de átomos vizinhos mais próximos a um
determinado átomo em uma estrutura cristalina. Na estrutura cúbica de corpo
centrado (CCC), o número de coordenação é 8.

Na célula unitária CCC, os átomos se tocam ao longo da diagonal do cubo, como


demonstrado na figura a seguir. Isso implica uma relação entre o comprimento
da aresta do cubo, representado por “a”, e o raio atômico, denotado por “R”. Essa
relação é fundamental para compreender a disposição dos átomos e a estrutura
cristalina do material.

CÉLULA CÚBICA DE CORPO CENTRADA


FONTE: SMITH; HASHIMI (2012, P. 63).
#pratodosverem: a célula unitária ilustra a relação entre o parâmetro de rede “a” e o raio atômico
“R”. Essa representação é essencial para visualizar como os átomos estão arranjados dentro da
estrutura cristalina e como o tamanho dos átomos influencia as dimensões da célula unitária.

De acordo com a figura, temos a diagonal (d) de uma das faces:

2 2 2
+ = ,e = √2 2 = √2 .

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Ciência dos Materiais

Agora, utilizando a diagonal que intercepta os raios dos átomos, teremos que:

( √2)2 + 2
= (4 )2
2 2
16 =3
4
=
√3

Considerando os átomos da célula unitária CCC como esferas rígidas, é possível


calcular o fator de empacotamento atômico (FEA) utilizando a equação:

4
volume dos átomos da célula unitária n∗Volume de uma esfera n∗ πR 3
FEA= = = 3
volume da célula unitária volume do cubo a3

Em que R é o raio do átomo, n é o número de átomos dentro de uma célula


unitária (nesse caso, CCC) e a o parâmetro de rede.

Com essa equação, podemos calcular o FEA da célula unitária CCC, obtendo-se
68%. Esse valor indica que 68% do volume da célula unitária CCC é ocupado pelos
átomos, enquanto os restantes 32% representam o espaço vazio. Vale ressaltar
que a estrutura cristalina CCC não é considerada compacta, uma vez que os
átomos poderiam estar dispostos mais próximos uns dos outros. À temperatura
ambiente, diversos metais, como ferro, cromo, tungstênio, molibdênio e vanádio,
apresentam essa estrutura cristalina (Smith; Hashemi, 2012).

Na estrutura cúbica de face centrada (CFC), cada átomo localizado nos vértices
do cubo compartilha sua posição com oito células unitárias, enquanto os
átomos localizados nas faces pertencem a apenas duas células unitárias. Nessa
estrutura, há quatro átomos por célula unitária. O número de coordenação para
a estrutura CFC é 12 (Smith; Hashemi, 2012).

Além disso, há o equivalente a quatro átomos por célula unitária. Cada um dos
oito octantes dos vértices contribui com um átomo (8 * 1/8 = 1), enquanto os seis
meios-átomos nas faces do cubo somam mais três átomos, totalizando quatro
átomos por célula unitária. Portanto, na célula unitária CFC, os átomos se tocam
ao longo das diagonais das faces do cubo, o que estabelece a relação entre o
comprimento da aresta do cubo “a” e o raio atômico “R”.

A análise da célula unitária da rede CFC, conforme representada na figura a


seguir, revela que, na estrutura cristalina CFC, os átomos estão dispostos da
maneira mais compacta possível. O Fator de Empacotamento Atômico (FEA)
dessa estrutura compacta é de 0,74, superando o valor de 0,68 obtido para a
estrutura CCC, a qual não é considerada compacta.

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Ciência dos Materiais

ESTRUTURA CFC
FONTE: SMITH; HASHEMI (2012, P. 65).
#pratodosverem: a célula unitária ilustra a relação entre o parâmetro de rede “a” e o raio atômico
“R”. Essa representação é essencial para visualizar como os átomos estão arranjados dentro da
estrutura cristalina e como o tamanho dos átomos influencia as dimensões da célula unitária.

A terceira estrutura cristalina mais prevalente em materiais metálicos é a


estrutura HC (hexagonal compacta), conforme ilustrado nas figuras seguintes. Os
metais não adotam a estrutura hexagonal simples, devido ao seu baixo Fator de
Empacotamento Atômico (FEA). Para alcançar uma energia mais baixa e um estado
mais estável, os átomos tendem a formar a estrutura HC. O FEA da estrutura
cristalina HC é de 0,74, o mesmo que o da estrutura cristalina CFC, pois, em ambas
as estruturas, os átomos estão dispostos da forma mais compacta possível.

ESTRUTURA HEXAGONAL
FONTE: SMITH; HASHEMI (2012, P. 66).
#pratodosverem: células unitárias HC, em que a primeira apresenta as posições atômicas na célula
unitária; a segunda exibe a célula unitária com esferas rígidas; enquanto a terceira representa a
célula unitária isolada.

Tanto na estrutura cristalina HC quanto na estrutura cristalina CFC, cada átomo


está rodeado por outros 12 átomos, resultando em um número de coordenação
de 12 para ambas as estruturas.

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Ciência dos Materiais

Metalografia de metais (aço)

As técnicas de metalografia óptica são utilizadas para examinar as características e


a composição interna dos materiais em um nível micrométrico, o que corresponde
a um aumento de aproximadamente 2.000 vezes. Essa abordagem permite a
obtenção de informações qualitativas e quantitativas acerca de diversos aspectos
dos materiais, como o tamanho e o contorno dos grãos, a presença de diferentes
fases, danos internos e alguns tipos de defeitos (Smith; Hashemi, 2012).

O processo de metalografia óptica começa com a preparação da superfície


de uma pequena amostra do material a ser analisada. Esse procedimento é
bastante específico e pode ser demorado. A preparação da amostra, em geral,
envolve vários estágios de lixamento, seguidos por uma sequência de polimento.
Durante o lixamento, arranhões grandes e camadas finas de deformação plástica
são removidos da superfície da amostra. Já o polimento é realizado para remover
os riscos finos que podem ter se formado durante o lixamento. É importante
obter uma superfície lisa e livre de riscos, semelhante a um espelho, ao final do
processo de preparação.

A superfície, após ser polida, é atacada com reagentes químicos, que devem ser
escolhidos de acordo com o tipo de material a ser analisado.

EFEITO DE ATAQUE QUÍMICO


FONTE: SMITH; HASHEMI (2012, P. 115).
#pratodosverem: efeito do ataque químico na microestrutura da superfície polida de uma amos-
tra de aço observado por meio de microscopia óptica. (a) Após a polimento, não são perceptíveis
detalhes microestruturais. (b) Após a aplicação de um reagente em um aço com baixo teor de
carbono, apenas os contornos de grão são fortemente atacados quimicamente, evidenciando-se
como linhas escuras na microestrutura. (c) Após o tratamento similar em uma amostra de aço com
teor médio de carbono, é possível distinguir, na microestrutura, áreas escuras (perlita) e áreas cla-
ras (ferrita). As regiões mais escuras de perlita foram mais intensamente atacadas pelo reagente,
refletindo menos luz.

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Ciência dos Materiais

Além das observações qualitativas obtidas a partir das microfotografias, também


é possível determinar o tamanho dos grãos e calcular a média do diâmetro dos
grãos do material.

Saiba mais
Para aprofundar seus conhecimentos sobre
metalografia, você pode acessar o conteúdo
disponível, clicando aqui.

Estrutura das cerâmicas


Os materiais cerâmicos abrangem uma gama de compostos caracterizados,
principalmente, por sua estrutura cristalina e propriedades específicas. Podem
ser divididos em duas categorias principais: as cerâmicas tradicionais e as
cerâmicas de engenharia. As cerâmicas tradicionais incluem materiais como
argilas, porcelanas e vidros, amplamente utilizados em várias aplicações, como
utensílios de cozinha, materiais de construção e isolantes elétricos. Por outro
lado, as cerâmicas de engenharia são materiais mais avançados, projetados
para aplicações específicas que requerem propriedades mecânicas, térmicas
ou elétricas excepcionais. Exemplos desses materiais incluem cerâmicas à
base de alumina, carbeto de silício e nitreto de silício, utilizadas em turbinas,
componentes de motores, ferramentas de corte de alta performance e
eletrônicos de potência (Smith; Hashemi, 2012).

Cerâmicas cristalinas

A estrutura cristalina dos materiais cerâmicos pode variar dependendo do


composto. Por exemplo, o cloreto de cálcio possui uma estrutura cúbica de
faces centradas, enquanto certos óxidos cerâmicos podem apresentar uma
estrutura hexagonal compacta. Cada uma dessas estruturas cristalinas confere
propriedades específicas aos materiais cerâmicos, por exemplo, resistência
mecânica, condutividade térmica e estabilidade química.

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Ciência dos Materiais

ESTRUTURA CRISTALINA DO CLORETO DE SÓDIO


FONTE: SMITH; HASHEMI (2012, P. 405).
#pratodosverem: estrutura cristalina do cloreto de sódio (NaCl), em que os círculos de cor clara
são os íons de sódio, e os de cor escura são íons de cloreto.

Nas cerâmicas cristalinas, assim como ocorre nos metais, a deformação plástica
se dá pelo movimento das discordâncias. Uma das razões que contribuem
para a dureza e a fragilidade desses materiais está relacionada à dificuldade de
escorregamento das discordâncias.

Nos materiais cerâmicos cristalinos, cuja ligação é predominantemente iônica,


há uma escassez de sistemas de escorregamento disponíveis (isto é, planos
e direções cristalográficas dentro desses planos) nos quais as discordâncias
podem se mover. Isso decorre da natureza eletricamente carregada dos íons
presentes. Em certas direções de escorregamento, os íons de mesma carga se
posicionam próximos uns aos outros, resultando em uma repulsão eletrostática
que restringe, de modo significativo, o movimento das discordâncias. Por
conseguinte, a deformação plástica em materiais cerâmicos é raramente
observada à temperatura ambiente (Callister Jr.; Rethwisch, 2021).

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Ciência dos Materiais

Saiba mais
Para aprofundar seus conhecimentos sobre as
estruturas das cerâmicas, você pode acessar os
seguintes materiais:

• Metalografia: preparação de amostras,


clicando aqui.

• Cristais Iônicos I, clicando aqui.

• Cristais Iônicos II, clicando aqui.

Cerâmicas amorfas

Alguns materiais são classificados como amorfos ou não cristalinos devido à


ausência de uma regularidade de longo alcance em sua estrutura atômica, ou
seja, os átomos estão dispostos de maneira desordenada por conta de fatores
que impedem a formação de um arranjo periódico. Consequentemente, os
átomos nesses materiais ocupam posições espaciais aleatórias em oposição às
posições específicas encontradas em sólidos cristalinos (Smith; Hashemi, 2012).

Cerâmicas amorfas são materiais nos quais não há uma estrutura cristalina
regular, ou seja, os átomos não estão dispostos de forma periódica, com uma
ordem de longo alcance. Em vez disso, eles exibem uma ordem de curto alcance,
cuja disposição dos átomos é regular em pequenas regiões, mas não mantém
essa regularidade em distâncias maiores. A distância dessa ordem de curto
alcance depende da estrutura química específica do material.

Ao contrário das cerâmicas cristalinas, as cerâmicas amorfas não apresentam


simetria translacional, o que significa que não há uma repetição regular e
ordenada da estrutura em todas as direções. Isso resulta em propriedades
diferentes das cerâmicas cristalinas.

Os principais representantes dessa categoria são os vidros, que podem ser


obtidos por diferentes processos, como resfriamento rápido de líquidos ou
por meio de métodos de fusão e solidificação controlada. Os vidros têm uma
ampla variedade de aplicações devido às suas propriedades únicas, como
transparência, resistência e capacidade de serem moldados em diversas formas.

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Ciência dos Materiais

Estruturas dos polímeros


Os polímeros são macromoléculas formadas pela repetição de unidades
estruturais chamadas monômeros. Eles podem ser classificados em três categorias
principais: termofixos, termoplásticos e elastômeros. Os termofixos são polímeros
que, uma vez moldados e curados, não podem ser derretidos ou remodelados
sem sofrerem degradação. Eles têm uma rede tridimensional de ligações cruzadas
que conferem resistência e rigidez ao material (Callister Jr.; Rethwisch, 2021).

Os termoplásticos são polímeros que podem ser derretidos repetidamente


quando aquecidos, e solidificados quando resfriados, sem perder suas
propriedades físicas. Eles são bastante utilizados em uma variedade de
aplicações devido à maleabilidade e à facilidade de processamento.

Por fim, os elastômeros são polímeros que exibem comportamento elástico, isto
é, retornam à sua forma original após serem esticados. São caracterizados por
cadeias moleculares longas e flexíveis, que permitem a deformação reversível
(Callister Jr.; Rethwisch, 2021).

1 2

3 4

ESTRUTURAS POLIMÉRICAS
FONTE: CALLISTER JR.; RETHWISCH (2021, P. 438).
#pratodosverem: ilustrações esquemáticas de configurações moleculares (a) linear, (b) ramificada,
(c) com interconexões e (d) tridimensionalmente em rede. As formas circulares denotam unidades
repetitivas individuais.

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Ciência dos Materiais

§ 1 – Estrutura linear

Na estrutura linear, os monômeros se ligam em uma cadeia linear,


formando uma estrutura longa e reta. Exemplos de polímeros com
estrutura linear incluem o polietileno (PE) e o polipropileno (PP).

§ 2 – Estrutura ramificada

Na estrutura ramificada, cadeias laterais (ou ramificações) se conectam


à cadeia principal, formando uma estrutura tridimensional. O polietileno
de baixa densidade (PEBD) é um exemplo de polímero com estrutura
ramificada.

§ 3 – Estrutura reticulada (ou tridimensional)

Na estrutura reticulada, as cadeias poliméricas estão interligadas por


ligações covalentes adicionais, formando uma rede tridimensional.
Exemplos incluem o polietileno de alta densidade (PEAD) e o poliuretano.

§ 4 – Estrutura de rede

A estrutura de rede é uma forma especializada de estrutura reticulada


em que as ligações cruzadas são suficientes para formar uma rede
tridimensional contínua. O poliisopreno (borracha natural) e o
polibutadieno são exemplos de polímeros com estrutura de rede.

Estrutura amorfa dos polímeros

A maioria dos polímeros, vidros e alguns metais pertence à classe dos materiais
amorfos. Nos polímeros, as ligações secundárias entre as moléculas não
permitem a formação de cadeias paralelas e fechadas durante a solidificação.
Como resultado, os polímeros, como o cloreto de polivinil, consistem em longas
cadeias moleculares torcidas que se entrelaçam para formar um sólido com
estrutura amorfa.

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Ciência dos Materiais

GRAU DE ORDENAMENTO DOS MATERIAIS


FONTE: SMITH; HASHEMI (2012, P. 89).
#pratodosverem: um diagrama ilustrando vários graus de ordem em materiais: (a) sílica cristalina
com uma estrutura completamente ordenada, (b) vidro de sílica sem ordenação em toda a exten-
são e (c) estrutura amorfa encontrada em polímeros.

Polímeros semicristalinos

O estado cristalino dos polímeros é caracterizado por um ordenamento


tridimensional de, pelo menos, parte das cadeias, em que as moléculas se
alinham paralelamente umas às outras. Independentemente dos detalhes
da estrutura, as moléculas podem se cristalizar sob certas condições de
temperatura, pressão, tensão ou influência do meio. Elas podem adotar
conformações totalmente estendidas ou alguma das muitas conformações
helicoidais conhecidas. Esse alinhamento e ordenamento das moléculas é o que
confere propriedades específicas aos polímeros cristalinos (Ashby, 2019).

Uma estrutura comum que explica a semicristalinidade dos polímeros são os


esferulitos, que são cristalitos intercalados com cadeias poliméricas dobradas e
regiões amorfas.

Quando um polímero que pode cristalizar é resfriado a partir do estado fundido,


a cristalização começa em núcleos individuais e se espalha radialmente,
formando os esferulitos. Estes apresentam certas características, como
estruturas de diferentes tamanhos, graus de perfeição variados e diversas
morfologias, todas elas com um impacto distinto nas propriedades do material.

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Ciência dos Materiais

Conclusão

1 2

3 4

ESTRUTURA CRISTALINA
FONTE: CALLISTER JR.; RETHWISCH (2021, P. 360; P. 427; P. 427).
#pratodosverem: (1) Ilustração de uma célula unitária do quartzo, com vários tetraedros de SiO44– in-
terconectados. Há esferas brancas e vermelhas dispostas em uma estrutura cúbica. (2) Ilustração de
uma região cristalina do polietileno. (3) Arranjo atômico de sílica, em que as esferas azuis representam
o silício; e as esferas vermelhas, o oxigênio. (4) Estrutura cristalina cúbica de face centrada, com um
cubo com esferas verdes nos vértices e, no centro de cada uma das seis faces, os átomos da estrutura.

§ 1 – Célula unitária

É a unidade estrutural fundamental, que define a geometria e a disposição


dos átomos dentro de uma estrutura cristalina.

§ 2 – Materiais poliméricos

Compostos por cadeias moleculares extensas, que geralmente possuem


grupos laterais formados por múltiplos átomos, tais como oxigênio (O),
cloro (Cl), ou grupos orgânicos, por exemplo, metil, etil ou fenil. Existem
quatro estruturas moleculares possíveis para os polímeros: linear,
ramificada, com ligações cruzadas e em rede.

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Ciência dos Materiais

§ 3 – Materiais cerâmicos

A natureza das ligações interatômicas em materiais cerâmicos varia de


puramente iônica a totalmente covalente. Em ligações predominantemente
iônicas, os cátions metálicos têm carga positiva, enquanto os íons
não metálicos têm carga negativa. A estrutura cristalina resultante é
determinada pela magnitude da carga em cada íon e pelo seu raio. Muitas
das estruturas cristalinas mais simples de materiais cerâmicos podem ser
descritas em termos de células unitárias, como sal-gema, cloreto de césio,
blenda de zinco, fluorita e perovskita.

§ 4 – Materiais metálicos

Compostos por elementos metálicos, exibem propriedades como


condutividade elétrica e térmica. Na estrutura cristalina cúbica de face
centrada (CFC), os átomos metálicos estão organizados em uma rede
tridimensional de alta densidade de empacotamento. Isso confere
resistência, ductilidade e facilidade de deformação plástica ao material,
sendo úteis em diversas aplicações industriais, por exemplo, na construção
de aeronaves e estruturas metálicas, como alumínio, ouro e cobre.

Resumo da Unidade

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resumo da unidade.

Vídeo
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Materiais - Unidade 1". Disponível em: https://
vimeo.com/882241646/b3eaf4a4f7.

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Ciência dos Materiais

Referências

ASHBY, M. F. Seleção de materiais no projeto. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.

CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D.G. Ciência e engenharia de materiais: uma


introdução. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2021.

SMITH, W. F.; HASHEMI, J. Fundamentos de engenharia e ciência dos


materiais. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012.

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