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ABRÃO MANUEL ANTÓNIO GOTINE

RESILIÊNCIA HABITACIONAL: FATORES ASSOCIADOS À VULNERABILIDADE


A DESASTRES NATURAIS NA CIDADE DE NAMPULA, MOÇAMBIQUE

Dissertação apresentada à Universidade


Federal de Viçosa, como parte das exigências
do Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo, para obtenção do
título de Magister Scientiae.

Orientador: Túlio Márcio de Salles Tibúrcio.

VIÇOSA - MINAS GERAIS


2022
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade
Federal de Viçosa - Campus Viçosa

T
Gotine, Abrão Manuel António, 1991-
G684r Resiliência habitacional: fatores associados à
2022 vulnerabilidade a desastres naturais na cidade de Nampula,
Moçambique / Abrão Manuel António Gotine. – Viçosa,
MG, 2022.
1 dissertação eletrônica (91 f.): il. (algumas color.).

Inclui apêndices.
Orientador: Túlio Márcio de Salles Tibúrcio.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de
Viçosa,
Departamento de Arquitetura e Urbanismo, 2022.
Referências bibliográficas: f. 81-84.
DOI: https://doi.org/10.47328/ufvbbt.2022.758
Modo de acesso: World Wide Web.

1. Desmoronamento de edifícios - Nampula (Moçambique).


2. Catástrofes naturais. 3. Estabilidade estrutural. 4. Mudanças
climáticas. 5. Desenvolvimento urbano sustentável - Fatores
climáticos. I. Tibúrcio, Túlio Márcio de Salles, 1965-.
II. Universidade Federal de Viçosa. Departamento de
Arquitetura e Urbanismo. Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo. III. Título.

CDD 22. ed. 690.2

Bibliotecário(a) rensponsável: Bruna Silva CRB-6/2552


Dedico esta dissertação à minha esposa Ana Raquel Ernesto Manuel Gotine, a
minha filha Graciana Abrão Gotine e aos meus pais Manuel António V. Gotine e
Graça Armando Vilanculo.
AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos se direcionam à aqueles que estiveram presentes


durante este período de mestrado, em especial ao meu fiel Senhor Jesus Cristo, meu
guia, meu maior arquiteto, minha inspiração e proteção. Sou grato a minha querida
esposa Ana Raquel Gotine, companheira que sempre esteve ao meu lado em todos
os momentos me apoiando, e foi quem me influenciou para iniciar esta jornada, e
juntamente com nossa filha Graciana Gotine tornaram os dias de mestrado muito
felizes, bem acompanhado, e aproveitados com muito aprendizado, muito obrigado.
Agradeço à aqueles que me apoiaram de forma incondicional com muito amor,
compreensão, sempre me encorajando a seguir meus sonhos que também se
tornaram deles, especialmente aos meus pais Manuel Gotine e Graça Vilanculos, aos
meus irmãos Gledes Gotine, Armando Gotine, e Jerson Gotine. Estendo também a
gratidão aos demais parentes da família Gotine, em especial ao meu querido primo e
companheiro Suriano Gotine e sua esposa Érica Cardoso, pois sempre estiveram
comigo em muitos desafios e vitórias que temos alcançado, aos meus sogros Rede
Manuel (em memória) e Filomena Cadeira, e aos meus cunhados Cláudia, Pinheiro,
Israel, e Pimentel.

Sou grato ao meu pastor Américo Assane e sua esposa Deolinda Assane pelas
orações e instrução espiritual pela palavra de Deus. Aos meus irmãos em Cristo
Brasileiros que me acolheram como família em Viçosa, em especial ao irmão Emídio
e sua esposa Missionária Rosilda.

À Universidade Federal de Viçosa, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e


Urbanismo pela oportunidade de realizar a pós-graduação, especialmente ao
Professor Túlio Márcio de Salles Tibúrcio pelo acolhimento, apoio, excelente
orientação e por me confiar a realização deste trabalho. Aos colegas do Grupo de
Pesquisa INOVA, todos foram fundamentais no meu desenvolvimento técnico
científico durante a pesquisa.
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de
Financiamento 001, e à Universidade Lúrio em Moçambique por me autorizar a
continuação dos estudos.
““Deleita-te
também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração.
Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará”.

(Salmos 37:4-5)
RESUMO

GOTINE, Abrão Manuel António, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, julho de


2022. Resiliência habitacional: Fatores associados à vulnerabilidade a desastres
naturais na cidade de Nampula, Moçambique. Orientador: Túlio Márcio de Salles
Tibúrcio.

Em Moçambique a visão de tornar os assentamentos humanos inclusivos, seguros,


resilientes e sustentáveis tem sido prioridade. A cidade de Nampula tem sido fustigada
por desastres naturais caracterizados por desabamento de edificações com maior
foco em zonas com assentamentos informais.Este estudo buscou analisar a influência
dos fatores associados à resiliência habitacional em tempos chuvosos nas zonas de
risco a desastres. Teve uma abordagem quali quantitativa com um caso estudo em
campo, onde foram aplicadas as técnicas de avaliação pós ocupação para o
levantamento urbano e arquitetónico, e ferramenta IBM SPSS versão 21 para o
processamento e análise de dados, antecedido por busca documental local para a
caracterização urbana. Foram incluídas casas vulneráveis a desabamento e
localizados nas zonas consideradas de risco a desastres na cidade de Nampula, onde
destacou-se o bairro de Murrapaniua. Contou-se com 98 participantes que foram
submetidos a um questionário e a uma entrevista semiestruturada. Foram
identificados e categorizados 4 principais fatores associados à resiliência habitacional
face aos desastres naturais, a saber: Naturais climáticos; Humanos; Estrutural
edificado, e institucionais. Avaliada a influência de fatores associados à resiliência
habitacional face às catástrofes, observou-se maior frequência de desabamento de
casa de adobe com cobertura de capim, por apresentar maior fragilidade estrutural.
Aliado a isso, a erosão dos solos foi o perigo que mais expos a casa ao risco no tempo
chuvoso; Por sua vez, a ausência da assistência técnica e apoio financeiro por parte
do governo local para com os moradores das zonas consideradas de risco a
desastres, contribuiu significativamente para o desabamento das casas.

Palavras-chave: Desmoronamento de edifícios. Catástrofes naturais. Estabilidade


estrutural. Desenvolvimento urbano sustentável.
ABSTRACT

GOTINE, Abrão Manuel António, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa julay, 2022.
Housing resilience: Factors associated with vulnerability to natural disasters in
the city of Nampula, Mozambique. Adviser: Túlio Márcio de Salles Tibúrcio.

In Mozambique, the vision of making human settlements inclusive, safe, resilient and
sustainable has been a priority. The city of Nampula has been plagued by natural
disasters characterized by building collapses, with a greater focus on areas with
informal settlements. This study sought to analyze the influence of factors associated
with housing resilience in rainy weather in disaster risk areas. It had a qualitative and
quantitative approach with a case study in the field, where post occupation evaluation
techniques were applied for the urban and architectural survey, and the IBM SPSS
version 21 tool for data processing and analysis, preceded by a local document search
for characterization. urban. Houses vulnerable to collapse and located in areas
considered at risk of disasters in the city of Nampula were included, in which the
neighborhood of Murrapaniua stood out. There were 98 participants who were
submitted to a questionnaire and a semi-structured interview. Four main factors
associated with housing resilience in the face of natural disasters were identified and
categorized, namely: Natural climate; Humans; Structural built, and institutional. After
assessing the influence of factors associated with housing resilience in the face of
catastrophes, a higher frequency of landslides was observed in adobe houses covered
with grass, due to their greater structural fragility. Allied to this, soil erosion was the
danger that most exposed the house to risk in rainy weather; In turn, the lack of
technical assistance and financial support from the local government towards residents
of areas considered at risk of disasters, contributed significantly to the collapse of
houses.

Keywords: Collapse of buildings. Natural disasters. Structural stability. Sustainable


urban development.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Catástrofe, consequência das mudanças ............................................... 18


Figura 2 - Problemas na qualidade das habitações .................................................. 29
Figura 3 - Casa com fraca resiliência a fenômenos climáticos, em Moçambique ..... 31
Figura 4 - Atributos da resiliência habitacional e seus indicadores ........................... 32
Figura 5 - Abrigo resistente a ciclones, construído com materiais tradicionais ......... 36
Figura 6 - Casa resistente a sismos construída com materiais convencionais ......... 36
Figura 7 - Edifícios habitacionais em zonas de risco a desastres ............................. 40
Figura 8 - Localização de Moçambique ..................................................................... 44
Figura 9 - Mapa de localização geográfica da Província de Nampula, em
Moçambique .............................................................................................................. 45
Figura 10 - Mapa de localização geográfica da Província de Nampula ..................... 46
Figura 11 - Mapa de enquadramento do Distrito de Nampula ................................... 47
Figura 12 - Divisão administrativa do Município de Nampula .................................... 49
Figura 13 - Níveis de intensidade de ciclones, e a exposição da cidade de Nampula
.................................................................................................................................. 51
Figura 14 -Topografia e relevo da Cidade de Nampula ............................................. 52
Figura 15 - Recursos hídricos da Cidade de Nampula .............................................. 53
Figura 16 - Zonas de inundação na Unidade Comunal Namuatho B, rio com regime
temporário. ................................................................................................................ 53
Figura 17 - Albufeira da barragem do Rio Monapo em Napipine, regime permanente
.................................................................................................................................. 54
Figura 18 - Enquadramento do Bairro de Murrapaniua ............................................. 55
Figura 19 - Mapa cognitivo do perfil do Bairro de Murrapaniua ................................. 56
Figura - 20 Descrição da casa pau-a-pique .............................................................. 58
Figura 21 - Descrição construtiva e tecnológica da casa pau-a-pique ...................... 59
Figura 22 - Processo de desabamento da casa em tempo chuvoso ......................... 73
Figura 23 - Ciclo do fenômeno de desabamento de moradias, e seus efeitos. ......... 74
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

Tabela 1 - Limites do Distrito de Nampula ................................................................ 47


Tabela 2 - Superfície em km por Postos Administrativos .......................................... 48
Tabela 3 - Organização administrativa do Bairro de Murrapaniua ............................ 54
Tabela 4 - Caracterização das casas na área em estudo ......................................... 57
Tabela 5 - Caracterização sociodemográfica da amostra (n = 96). ........................... 60
Tabela 6 - Relação do morador com o edifício e sua visão de risco a desastres
naturais ..................................................................................................................... 62
Tabela 7 - Associação entre problemas no edifício habitacional que acontecem com
frequência no tempo chuvoso, e os fatores de resiliência aos desastres (n = 96). ... 70

Gráfico 1 - Temperatura e precipitação a média anual do Município de Nampula....50


Gráfico 2 - Problemas no edifício habitacional que acontecem com frequência no
tempo chuvoso...........................................................................................................70
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas.


ONU Organização das Nações Unidas.
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
FAPF Faculdade de Arquitetura e Planeamento Físico
IEADAO Igreja Evangélica Assembleia de Deus Alfa e Ômega
INGC Instituto Nacional de Gestão de Calamidades
SPSS Statistical Package for the Social Science
UNFCCC Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações
Climáticas
UN-HABITAT Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13
1.1. Justificativa ............................................................................................... 14
1.2. Objetivos ................................................................................................... 16
1.2.1. Objetivo geral ..................................................................................... 16
1.2.2. Objetivos especificos .......................................................................... 16
2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 17
2.1. Mudanças climáticas ...................................................................................... 17
2.1.1 Entendendo os fenômenos naturais climáticos e suas tendências ........ 17
2.1.2. Desastres naturais ................................................................................ 18
2.1.3. Vulnerabilidade aos desastres naturais ................................................ 21
2.1.4. Riscos aos desastres naturais .............................................................. 23
2.2. Resiliência ...................................................................................................... 24
2.2.1 Resiliência Urbana ................................................................................. 25
2.2.2. Desabamento de edifícios em tempos chuvosos .................................. 26
2.2.3. Fatores responsáveis pelo colapso dos edifícios .................................. 27
2.2.4. Resiliência habitacional ........................................................................ 30
2.3. Influências de fenômenos climáticos na arquitetura ....................................... 32
2.3.1. Adaptação de edificações na natureza e no ambiente construído ........ 33
2.3.2. A sustentabilidade na arquitetura.......................................................... 37
3. METODOLOGIA.................................................................................................... 39
3.1. Delineamento e amostragem da pesquisa ..................................................... 39
3.1.1. Critérios de elegibilidade ....................................................................... 40
3.1.2. Coleta de Dados ................................................................................... 41
3.1.3. Processamento e análise de dados ...................................................... 42
3.1.4. Aspetos éticos e riscos ......................................................................... 43
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 44
4.1. Enquadramento territorial da área de estudo ................................................. 44
4.1.1. Nível Nacional ....................................................................................... 44
4.1.2. Nível Provincial ..................................................................................... 45
4.1.3. Nível Distrital ......................................................................................... 47
4.1.4. Nível municipal...................................................................................... 48
4.2. Fatores naturais climáticos, topográfico e hidrológicos .................................. 49
4.2.1. Clima..................................................................................................... 49
4.2.2. Ciclones na Cidade de Nampula........................................................... 50
4.2.3. Topografia na cidade de Nampula ........................................................ 51
4.2.4. Hidrologia na cidade de Nampula ......................................................... 52
4.3. Fatores estruturais ......................................................................................... 54
4.3.1. Enquadramento e caracterização do Bairro de Murrapaniua ................ 54
Fonte: Autor, (2022) ........................................................................................ 56
4.3.2. Caracterização de tipologias de casas no Bairro de Murrapaniua ........ 56
4.4. Fatores humanos ........................................................................................... 59
4.4.1. Dados sociodemográficos ..................................................................... 60
4.4.2. Construção, qualidade, patologias e reformas em zonas de risco ........ 62
4.5. Fator institucional ........................................................................................... 64
4.5.1. Entrevista ao técnico da instituição privada de gestão urbana ............. 64
4.5.2. Entrevista ao técnico da instituição pública de gestão urbana .............. 66
4.5.2.1. Constatações sobre o fator institucional ............................................ 69
4.6. Análises de significância associativa entres variáveis ................................... 69
4.6.1. Constatações sobre as variáveis com associação................................ 72
5. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 75
5.1. Constatações sobre os objetivos da pesquisa ............................................... 75
5.1.1. Caracterizar zonas de risco a catástrofes, e casas vulneráveis ao
desabamento. ................................................................................................. 75
5.1.2. Identificar os fatores associados à resiliência habitacional e aos
desastres no tempo chuvoso. ......................................................................... 76
5.1.3. Estudar o fenômeno de desabamento a partir dos moradores e gestores
urbanos locais................................................................................................. 76
5.1.4. Avaliar a influência de fatores associados à resiliência habitacional face
às catástrofes ................................................................................................. 77
5.2. Respostas à pergunta de pesquisa ........................................................... 78
5.2.1. Limitações da pesquisa ........................................................................ 78
5.3. Contribuições e recomendações da pesquisa para estudos adicionais ... 79
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 81
APÊNDICE A - Roteiro de questionário .................................................................... 85
APÊNDICE B- Roteiro de entrevista ......................................................................... 89
13

1. INTRODUÇÃO

O estudo da vulnerabilidade aos desastres é um aspecto da avaliação do risco,


que pode ser produto da suscetibilidade a um fenômeno perigoso específico,
associado à vulnerabilidade local, e tratando de ambientes urbanos ressalta-se que
cada local da cidade possui suas próprias características, que vão determinar sua
vulnerabilidade e guiar as respostas de prevenção dos perigos (MENDONÇA, 2008).

Moçambique é um país que faz parte da África Austral junto ao Oceano Índico.
O seu clima é influenciado pelo sistema de Zona de Convergência Intertropical,
ciclones e frentes frias. A cidade de Nampula, capital da província de Nampula no
norte de Moçambique, pela sua localização geográfica e pela informalidade no uso do
solo urbano, característico das cidades capitais das províncias do país, tem
contribuído para a vulnerabilidade urbana face aos fenômenos naturais aliado às
mudanças climáticas.

A cidade de Nampula, tem sido fustigada por desastres naturais, marcada pela
degradação ambiental, das infraestruturas e edificações, com destaque para
habitações localizadas nos bairros periféricos da cidade, uma vez que os mesmos
ainda apresentam características informais, fator este que pode estar a contribuir no
alastramento dos desabamentos. Para Rosa e Cortez, (2010) os deslizamentos de
encostas têm aumentado consideravelmente nas últimas décadas, principalmente nos
centros urbanos dos países denominados emergentes, onde esses movimentos
gravitacionais de massa são agravados em função da urbanização intensa e da
construção de residências em encostas acentuadas.

Dados colhidos na INGC-Delegação Nampula, dizem que o Balanço de


Emergência 2014 / 2015, indica que a época chuvosa, ciclónica e hidrológica em
Moçambique tem início em outubro de cada ano e tem seu término em abril, e neste
período afetou maior parte dos distritos da província incluindo a cidade de Nampula,
e as causas foram as fortes chuvas acompanhadas por ventos fortes e passagens de
sistemas de baixas pressões, e houve ocorrência de chuvas intensas com 200
milímetros em 24 horas, o que provocou inundações e destruição de um total de 320
edifícios habitacionais.
14

As Obras Públicas e a UN-Habitat Moçambique tem-se dedicado em estudos


referente a esta problemática, em que já foram elaborados material de apoio de
construção para as comunidades afetadas, e com a cooperação Brasileira em parceria
com o Centro de estudos de Namialo também tem produzido estes materiais, mas até
então a publicação e a implementação nas comunidades não tem sido abrangente.
Apesar dos esforços que têm vindo a ser exercidos, a situação prevalece, suscitando
a seguinte questão: Como os fatores associados a desastres naturais interferem na
resiliência habitacional na cidade de Nampula, Moçambique?

O trabalho está organizado em quatro capítulos correlacionados. O Capítulo 1,


Introdução, apresentou por meio de sua contextualização o tema proposto neste
trabalho. Da mesma forma, foram estabelecidos os resultados esperados por meio da
definição de seus objetivos, relevância da pesquisa e seus procedimentos
metodológicos.

O Capítulo 2 apresenta a revisão bibliográfica, fundamental para o sustento


teórico da pesquisa, e inicia com abordagens sobre mudanças climáticas no mundo
com vista a entender seus conceitos, dinâmicas, assim como sua influência na
arquitetura, e também discute-se a relação do Homem com a edificação num contexto
urbano e em assentamentos informais.

O Capítulo 3 é dos resultados e discussões referente ao caso em estudo na


Cidade de Nampula, onde são apresentados os dados levantados no campo. E no
Capítulo 4, são tecidas as conclusões do trabalho, relacionando os objetivos
identificados inicialmente com os resultados alcançados. São ainda propostas
possibilidades de continuação da pesquisa desenvolvida a partir das experiências
adquiridas com a execução do trabalho.

1.1. Justificativa

No âmbito acadêmico, na Cidade de Nampula por dez anos consecutivos o


pesquisador vivenciou o cenário de colapsos habitacionais em tempos chuvosos,
onde sentiu-se compungido a realizar a presente pesquisa pelo desejo de contribuir
na resolução do problema, reconhecendo a sensibilidade de estudos sobre habitação
num contexto de assentamentos informais. A agenda 2030 no objetivo 11 de
desenvolvimento sustentável, estabelece como meta até o ano de 2030 reduzir
15

significativamente o número de mortes e de pessoas afetadas por catástrofes,


incluindo os desastres relacionados à água, com o foco em proteger os pobres e as
pessoas em situação de vulnerabilidade, em particular nos países menos
desenvolvidos, por meio de assistência técnica e financeira para construções
sustentáveis e resilientes.

Entretanto, em Moçambique o melhoramento e prevenção dos assentamentos


informais tem sido prioridade e integra-se nos objetivos de desenvolvimento, com a
visão de tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros,
resilientes e sustentáveis. Neste contexto, deve-se também tomar medidas urgentes
para combater a mudança do clima e seus impactos, assim como reforçar a
capacidade de adaptação a riscos relacionados às catástrofes naturais em todos os
países, integrando medidas da mudança do clima nas políticas, estratégias e
planejamentos nacionais.

Esta pesquisa pode contribuir para a consciencialização das autoridades


governamentais, comunidade académica e a sociedade em geral, sobre a
necessidade de se pensar cada vez mais sobre os desastres naturais sob o ponto de
vista de habilitações das populações urbana com baixa renda, que são as mais
afetadas por este fenómeno, exigindo maior cuidado no processo de planejamento e
gestão das cidades, desenhando mais estratégias concretas para as zonas em causa,
reconhecendo a sensibilidade e importância social de estudos sobre habitação.

Estudos que abordam sobre a resiliência habitacional aos desastres naturais


num contexto urbano com assentamento informal são escassos, como o caso
específico das cidades moçambicanas, em que a informalidade é uma das principais
características da ocupação do solo urbano. Pesquisas com esta temática podem
contribuir no fortalecimento social e técnico nas comunidades vulneráveis a desastres
naturais, assim como influenciar nas tomadas de decisões de políticas de gestão
urbana.
16

1.2. Objetivos

1.2.1. Objetivo geral

Analisar o fenômeno de desabamento habitacional em períodos chuvosos na


Cidade de Nampula, a partir dos fatores associados a sua resiliência.

1.2.2. Objetivos especificos

• Caracterizar zonas de risco a catástrofes, e casas vulneráveis ao desabamento;

• Identificar os fatores associados à resiliência habitacional aos desastres no tempo


chuvoso;

• Estudar o fenómeno de desabamento a partir dos moradores e gestores urbanos


locais;

• Avaliar a influência de fatores associados à resiliência habitacional face às


catástrofes.
17

2. REVISÃO DE LITERATURA

Neste capítulo pretendeu-se entender a dinâmica tecnológica e construtiva nos


espaços urbanos, onde aborda as questões da sustentabilidade e adaptação das
edificações face aos desastres naturais, com o foco no fenômeno desabamento
habitacional. Com as abordagens sobre resiliência, ou seja, a capacidade de resposta
das habitações face às catástrofes, nos faculta a identificar e avaliar os fatores
envolvidos nesta problemática.

2.1. Mudanças climáticas

Mudanças climáticas é um dos principais assuntos da atualidade que preocupa


a mundo, pela dimensão dos seus efeitos e implicações em diversificadas áreas,
sejam elas do âmbito científico acadêmico, político, social, cultural, econômico,
ambiental etc., cujo impacto ou consequências vem comprometendo a presente
geração assim como a futura. As mudanças climáticas nos levaram a uma era em que
a guerra e o conflito são endêmicos, a extinção de espécies alcança proporções
catastróficas, regiões e países inteiros serão perdidos devido o aumento do nível dos
mares e a expansão dos desertos como consequência de um rápido aquecimento
global.

Portanto, de acordo com IPCC (2014), a convenção quadro das Nações Unidas
para as alterações climáticas (UNFCCC), no seu Artigo 1, define alteração climática
como: “uma alteração no clima que é atribuída, direta ou indiretamente, à atividade
humana que altera a composição da atmosfera global e que é, além da variabilidade
natural do clima, observada ao longo de períodos comparáveis.”

2.1.1 Entendendo os fenômenos naturais climáticos e suas tendências

A expressão aquecimento global sugere um aquecimento uniforme do planeta,


mas na verdade o que está ocorrendo é uma mudança climática e uma grande
instabilidade regional, como por exemplo o aumento da intensidade das tempestades,
com fortes precipitações e ventos, dificultando sua previsão em países próximos a
oceanos (EDWARDS, 2005). A Figura 1 ilustra um cenário de seca extrema resultante
das mudanças climáticas, e seus efeitos têm sido catastróficos.
18

Figura 1 – Catástrofe, consequência das mudanças

Fonte: Lutho Siganagana (2017)

Entretanto, as evidências das mudanças climáticas aumentam de forma


alarmante ano após ano. No início da década 1970, vários outros problemas de grande
escala na atmosfera chamaram a atenção do público, entre eles a chuva ácida,
problemas de poluição na atmosfera superior devido ao transporte supersônico e a
diminuição da camada de ozônio (ROAF, et al. 2006).

2.1.2. Desastres naturais

Para Farber et al. (2010), a expressão “desastres naturais” tem sido


considerada imprópria porque quase todos os desastres apresentam alguma
contribuição humana, por ação ou omissão.

Neste contexto, as mudanças climáticas como fatores de desastres ambientais


precisam ser compreendidas num contexto social e sob os olhares de uma visão
sistêmica, de maneira que as consequências advindas de um evento climático
extremo oriundo das mudanças climáticas poderão variar de acordo com as condições
do ambiente no qual impactarem (CARVALHO; DAMACENA, 2012).
19

Desastres naturais como resultado do impacto de um fenômeno natural


extremo ou intenso sobre um sistema social, e que causa sérios danos e prejuízos
que excedam a capacidade dos afetados em conviver com o impacto (SAITO, 2015).

Castro, (2003) faz uma classificação dos desastres naturais quanto origem que
podem estar relacionados com:

● A geodinâmica terrestre externa, com a geodinâmica terrestre externa onde se


destacam desastres naturais de causa eólica como vendavais ou
tempestades, vendavais muito intensos ou ciclones extratropicais, vendavais
extremamente intensos, furacões, tufões ou ciclones tropicais, tornados e
trombas de água;

● Podem estar relacionados com temperaturas extremas;

● Podem estar relacionados com o incremento das precipitações hídricas e com


as inundações;

● Desastres naturais relacionados com a intensa redução das precipitações


hídricas;

● Desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre interna como a


sismologia, vulcanologia;

● Desastres naturais relacionados com a geomorfologia, o intemperismo, a


erosão e a acomodação do solo, com destaque dos escorregamentos ou
deslizamentos, corridas de massa, rastejos, quedas, tombamentos e ou
rolamentos;

● Desastres naturais relacionados com desequilíbrios na biocenose, pois aqui


encontram-se as pragas animais assim como vegetais.

Portanto, eles podem ser resultados de eventos naturais sobre um ecossistema


vulnerável, causando danos humanos, materiais e ou ambientais e consequentes
prejuízos econômicos e sociais. A intensidade de um desastre depende da interação
entre a magnitude do evento adverso e o grau de vulnerabilidade do sistema receptor
afetado (MENDONÇA; LEITÃO, 2008).
20

Para Fragoso e Silva (2019) o aumento do risco de enchentes na cidade resulta


da confluência de dimensões sociais, políticas e econômicas que condicionam a
ocupação irregular das margens do rio, as condições de habitação, de saúde, de
educação, de destruição ambiental e das condições socioeconômicas dos moradores
ribeirinhos. Acrescenta-se também a carência de políticas públicas, componentes que
tornam a população vulnerável a esses acontecimentos.

Em teoria, os perigos naturais ameaçam igualmente qualquer pessoa, mas na


prática, proporcionalmente, atingem os mais desfavorecidos, devido a uma conjunção
de fatores: há um número muito maior de população de baixa renda, vivendo em
moradias mais frágeis, em áreas mais densamente povoadas e em terrenos de maior
suscetibilidade aos perigos. Assim, a estratégia de redução de desastres precisa ser
acompanhada do desenvolvimento social e econômico e de um criterioso
gerenciamento ambiental (TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2009)

Todavia, para o crescimento das cidades sem planejamento, o aumento de


populações suscetíveis e predispostas a riscos, devido à infraestrutura insuficiente ou
inadequada, e a industrialização, provocaram profundas alterações na relação do
homem com o ambiente contribuindo para a degradação ambiental, a escassez de
recursos, assim como a poluição do ambiente.

Entretanto, importa destacar as enxurradas ou inundações bruscas, que são


provocadas por chuvas intensas e concentradas, em regiões de relevo acidentado,
caracterizando-se por produzirem súbitas e violentas elevações dos caudais, os quais
escoam-se de forma rápida e intensa, e esse fenômeno costuma surpreender por sua
violência e menor previsibilidade, exigindo uma monitorização complexa (CASTRO,
2003).

O processo erosivo causado pela água das chuvas ocorre na maior parte da
superfície da terra, principalmente, nas regiões de clima tropical, onde as chuvas
atingem índices pluviométricos elevados. A erosão é agravada pela concentração das
chuvas num determinado período do ano (TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2009).

Neste contexto, Bertoni & Lombardi Neto (1990) citados por Tominaga;
Santoro; Amaral, (2009) sustentam que a cobertura vegetal é a defesa natural de um
21

terreno contra os processos erosivos e entre os principais dos seus efeitos na proteção
do solo, destacam os seguintes:

● Proteção do solo contra o impacto das gotas de chuva;

● Dispersão e interceptação das gotas de água antes que esta atinja o solo;

● Ação das raízes das plantas, formando poros e canais que aumentam a
infiltração da água;

● Ação da matéria orgânica que incorporada ao solo melhora sua estrutura e


aumenta sua capacidade de retenção de água;

● Diminuição da energia do escoamento superficial devido ao atrito na


superfície.

2.1.3. Vulnerabilidade aos desastres naturais

De acordo com Dubois-Maury e Chaline (2004), citados por Mendonça e Leitão


(2008) a vulnerabilidade urbana aos riscos é uma noção complexa, cada local da
cidade possui suas próprias características, que vão determinar sua vulnerabilidade e
guiar as respostas de prevenção em face dos perigos.

Informações sobre riscos, incluindo dados sobre vulnerabilidade e exposição a


ameaças e impactos são essenciais para construir resiliência. Perdas em desastres,
análises de riscos e projeções das mudanças climáticas, por exemplo, são
ferramentas fundamentais para guiar planos e investimentos e identificar
oportunidades para uma ação transformadora, (HABITAT, 2015).

Tominaga; Santoro; Amaral, (2009) definem a vulnerabilidade como conjunto


de processos e condições resultantes de fatores ambientais, aspectos físicos
(resistência de construções e proteções da infraestrutura) como fatores humanos
(econômicos, sociais, políticos, técnicos, culturais, educacionais e institucionais), o
qual aumenta a susceptibilidade de uma comunidade (elemento em risco) ao impacto
dos perigos.

Os fatores que potencializam a vulnerabilidade aos desastres, a saber:


Aspectos socioeconômicos, que envolve a densidade populacional, a distribuição de
22

renda e a educação; Aspectos estruturais, que envolvem redes de infraestrutura,


tipologia das edificações, falta de planejamento e uso e ocupação do solo, e a questão
da percepção do risco (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006) apud (SAITO, 2013)

Segundo Rosa Filho, A.;Cortez, A.T.C.(2010), fenômeno parte do pressuposto


de que as pessoas, sem opções na escolha do local de moradia, acabam tendo que
morar em áreas de risco, ficando vulneráveis aos deslizamentos de encostas e
colocando-se à mercê do acaso. Não sabendo quando irá acontecer um deslizamento,
ficam despreparadas para a ocorrência do fato.

As dificuldades estendem-se a vários níveis, partindo de uma frágil situação


socioeconómica: a escassez de recursos financeiros, materiais e técnicos, a falta de
preparação especializada e de meios, a pluralidade de agentes de intervenção e de
decisão, e a dificuldade em assegurar a continuidade e sustentabilidade dos esforços
e investimentos introduzidos, constituem alguns dos fatores mais relevantes
(FERNANDES ET AL. 2011).

A gestão dos problemas apresentados necessita de adaptação do país aos


efeitos adversos e ater-se aos processos que levem em conta a resiliência das
comunidades envolvidas para a prevenção e redução do impacto dos desastres
naturais, assim como uma componente educacional para entender melhor os avisos
de alerta. O resultado desta gestão proporciona melhor qualidade de vida da
população (NOTICE, etal., 2015).

De acordo com Fernandes et al., (2011), as dificuldades estendem-se a vários


níveis, partindo de uma frágil situação socioeconômica: a escassez de recursos
financeiros, materiais e técnicos, a falta de preparação especializada e de meios, a
pluralidade de agentes de intervenção e de decisão, e a dificuldade em assegurar a
continuidade e sustentabilidade dos esforços e investimentos introduzidos, constituem
alguns dos fatores mais relevantes.

Todavia, estudos desta temática propõem analisar de modo coletivo a


vulnerabilidade sócio ambiental, seja ela, de modo local ou regional e, assim apontar
contribuições na inesgotável discussão sobre riscos, fragilidades, susceptibilidade na
África tropical sob a ótica da prevenção (LIMA, 2020).
23

2.1.4. Riscos aos desastres naturais

Os riscos aos desastres ambientais têm crescido e as cidades expõem as


dificuldades de urbanização através da inadequação aos sistemas naturais, que vão
desde as áreas de preservação até ciclos regionais de chuva, vento e biodiversidade
(TAVARES. et al. 2019).

As populações em risco têm apresentado um crescimento anual em torno de


setenta a oitenta milhões de pessoas, sendo que, mais de noventa por cento dessa
população encontra-se nos países em desenvolvimento, com as menores
participações dos recursos econômicos e maior carga de exposição ao desastre
(TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2009).

Os riscos devem ser analisados sob o ponto de vista de segurança, saúde e


meio ambiente ou ecologia. Pode-se evitar o risco retirando as populações das zonas
propensas a inundações ou ciclones e ao mesmo tempo impedir que as populações
se instalem nessas zonas (LIMA, 2020).

O mesmo autor sustenta ainda que, mantendo-se as populações em zonas de


risco deve-se fazer um monitoramento do nível do risco de uma forma permanente,
traçando medidas de minimização dos efeitos através de planos de contingência, e as
decisões devem ser tomadas tendo em conta o grau do risco, que podem ser
catastróficos, grave, significativo, leve e inexpressivo.

Entretanto, Tominaga; Santoro; Amaral, (2009) por sua vez levantam uma série
de medidas preventivas a saber:

● Evitar construir em encostas muito íngremes e próximos de cursos de


água;

● Não realizar cortes em encostas sem licença da Prefeitura, pois isto


aumenta a declividade e contribui para a instabilização do talude;

● Buscar informações junto a órgãos municipais, estaduais e federais,


sobre ocorrências de escorregamentos na sua região, lembrando que os
técnicos locais são os mais indicados para avaliar o perigo potencial;
24

● Solicitar às prefeituras estudos sobre a região, além de planos de


controle e de monitoramento das áreas de risco;

● Promover junto à comunidade, ações preventivas para aumento da


segurança em relação a escorregamentos;

● Não desmatar as encostas dos morros;

● Não lançar lixo ou entulho nas encostas e drenagens, pois eles retêm a
água das chuvas aumentando o peso e causando instabilizações no
terreno;

● Verificar a estrutura de sua casa, muros e terrenos, observando se


aparecerem rachaduras e fissuras que podem ser indicativos de
movimentações do terreno com possibilidade de evoluir para a ruptura e
queda da moradia. Neste caso deve-se procurar um técnico competente
ou a defesa civil local para fazer uma avaliação urgente;

● Acompanhar os boletins meteorológicos e as notícias de rádio e outros


meios de comunicação. Em geral, os escorregamentos são
desencadeados por chuvas intensas.

A UN-HABITAT – Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos


traz princípios para reduzir os efeitos das catástrofes ambientais, o primeiro consiste
na prevenção, com a adoção de um sistema de alerta e de um planejamento do uso
do solo e normas de construção mais adequados; e o segundo visa em reconstruir
melhor, evitando os erros do passado (UN- HABITAT, 2006).

2.2. Resiliência

Resiliência é definida pela quantidade de distúrbio que esse sistema pode


absorver antes de transformar sua própria estrutura e ser capaz de lidar com a nova
situação colocada, (BORTOLI; VILLA, 2020).

O conceito de resiliência tem evoluído de forma constante ao longo dos anos.


O estudo da ecologia e as análises sobre como os impactos e perturbações afetam
25

ecossistemas têm guiado a aplicação dos princípios da resiliência em outros sistemas,


(HABITAT, 2015).

Entretanto, Bortoli; Villa, (2020), abordam sobre resiliência como estabilidade,


que define a quantidade de perturbação que um sistema urbano é capaz de absorver
antes de se alterar; Também definem a resiliência como restabelecimento,
relacionado à capacidade de se recuperar, mensurada em termos de tempo
necessário à recuperação após impacto. Finalmente abordam a resiliência como
transformação, onde se refere à capacidade de uma comunidade responder à
mudança de forma adaptativa.

Nos últimos anos, a resiliência emergiu como um tema central do


desenvolvimento urbano, sendo usada como base para intervenções e investimentos
estratégicos de desenvolvimento do mundo. Ela foca não apenas na forma como
comunidades e negócios agem face aos diversos impactos, como também na forma
que eles identificam oportunidades para um desenvolvimento transformacional.
(HABITAT, 2015).

2.2.1 Resiliência Urbana

Os estudos de resiliência regional captam o modo como as comunidades


reagem e recuperam-se de disrupções que interferem com o seu processo de
desenvolvimento, e identificam-se três tipologias de resiliência regional: pela
resistência, pela reposição e pela superação (GONÇALVES, 2017).

A resiliência urbana, tanto na prevenção quanto na reação aos desastres


socioambientais, depende da integração de quatro sistemas (RESILIENCE
ALLIANCE, 2007):

● Fluxos Metabólicos – produção, suprimentos e cadeias de consumo;

● Redes Governamentais – estruturas institucionais e organizações;

● Dinâmicas Sociais – demografia, capital humano e equidade;

● Ambiente Construído – sistemas na paisagem urbana.

São atributos da resiliência urbana, segundo Applegath (2012): flexibilidade;


redundância; diversidade; decomposição em módulos; descentralização; integração
26

ambiental. E são princípios da resiliência urbana: densidade, diversidade e mistura de


usos; prioridade aos pedestres; transporte coletivo; identidade e comunidade;
integração de sistemas naturais; integração técnica e industrial; fontes locais
(alimentos, energia, materiais); engajamento comunitário; infraestrutura redundante e
durável; desenho urbano compacto.

A adaptação é o ajuste dos sistemas antrópicos para a convivência com os


sistemas naturais, como por exemplo o uso de palafitas ou pilotis em áreas inundáveis
(IPCC, 2007). A reconstrução, que poderia ser uma oportunidade para corrigir as
falhas de planejamento que levaram ao desastre, muitas vezes conduz a um aumento
do risco (UN-HABITAT, 2006).

Muitas cidades ao redor do mundo têm empregado estratégias de resiliência


para reparar desequilíbrios socioeconômicos e ambientais que são legado de um
conflito do passado ou resultado de uma situação atual (HABITAT, 2015).

Portanto, algumas medidas urbanísticas podem contribuir na resiliência local, a


saber:

● Aumentar a superfície ocupada por vegetação (sobretudo arbórea);

● Aumentar as superfícies permeáveis;

● Criar sistemas de armazenamento de água;

● Naturalizar os rios para melhorar a retenção de água e evitar cheias;

● Adequar a ocupação do solo e as infraestruturas a fenômenos


hidrológicos extremos;

● Aumentar e melhorar os espaços públicos abertos;

● Utilizar materiais de construção de baixa condutividade.

2.2.2. Desabamento de edifícios em tempos chuvosos

Os deslizamentos de encostas também têm aumentado, consideravelmente


nas últimas décadas, principalmente, nos centros urbanos dos países denominados
emergentes, onde esses movimentos gravitacionais de massa são agravados em
27

função da urbanização intensa e da construção de residências em encostas


acentuadas. (ROSA; CORTEZ, 2010).

As regiões tropicais apresentam condições ideais para o desenvolvimento de


solos colapsáveis, principalmente em locais onde se alternam estações de relativa
seca e de precipitações intensas ou em regiões áridas e semiáridas (Vilar et al., 1981),
apud (TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2009). A figura 2 ilustra a origem do
processo de tombamento da edificação quando exposto a chuvas e, aliada a
debilidade dos sistemas estruturais.

Portanto, os solos susceptíveis ao colapso apresentam sensibilidade à ação da


água, ou seja, o aumento do teor de umidade partir de água da chuva, tubulação
rompida, etc., ou grau de saturação do solo pela atuação de solicitações externas de
uma construção residencial, por exemplo, representada pela carga ou carregamento
de colapso (TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2009).

A ação do homem é vista por diversos autores como importante agente


modificador da dinâmica natural do relevo e, por conseguinte, da estabilidade das
vertentes, e a ocupação desordenada tem sido um dos fenômenos humanos ou
consequência da má gestão territorial que proporciona a dano ambiental.
(TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2009).

2.2.3. Fatores responsáveis pelo colapso dos edifícios

Villa et al. (2017), apud Bortoli; Villa, (2020) salientam que as habitações podem
estar sujeitos a impactos adversos, onde estes podem ser categorizados em quatro
diferentes tipos:

● De ordem natural climática - chuvas muito fortes que podem causar danos
nas casas ou mesmo inundações, seca por períodos longos;

● De ordem física-arquitetônica – nas casas a precariedade dos materiais


de construção empregados, assim como sua padronização de programas e
sua limitada área útil, a ausência de equipamentos adequados para controle
e estanqueidade, a precariedade das instalações elétricas e
hidrossanitárias;
28

● De ordem física-urbanística – a baixa densidade, a monotonia tipológica,


a ausência de infraestrutura adequada dos conjuntos habitacionais
implantados, a ausência de equipamentos adequados de lazer, cultura,
educação, saúde e segurança para seus moradores, a limitação dos
transportes públicos;

● De ordem socioeconômica – a falta de oportunidades no bairro de


emprego e serviços, em geral.

Portanto, importa aqui realçar sobre os impactos de ordem natural climática,


assim como as de ordem física-arquitetônica, pelo destaque que estes têm tido como
mostram resultados de uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União
(TCU) em Habitações de interesse social do Programa Minha Casa Minha Vida,
apontaram baixa qualidade técnica e material dos edifícios, conforme a Figura 3 ilustra
problemas associados à baixa qualidade das habitações entregues. (BORTOLI;
VILLA, 2020).

Neste contexto, de acordo com os resultados acima, dois fatores mais


contribuem como vulneráveis ao colapso das habitações, sendo defeitos ou vícios
construtivos, e inadequações nas dimensões, nas instalações e materiais empregados
na residência.
29

Figura 2 - Problemas na qualidade das habitações

Fonte: Bortoli; Villa, (2020)

OSEGHALE, G.E et al. (2015) numa pesquisa sobre causas e efeitos do


colapso de edifícios no Estado de Lagos, Nigéria, levanta uma série de fatores
associados ao colapso de edifícios, a saber:

● O uso de mão-de-obra não qualificada;


● Posse de desenhos não aprovados;
● Má qualidade dos materiais;
● Mau acabamento;
● Erro no design do projeto;
● Falta de cultura de manutenção;
● Não determinação da capacidade de carga do solo antes dos projetos;
● Supervisão inadequada;
● Não foi realizada investigação do local.
30

2.2.4. Resiliência habitacional

Historicamente, as cidades não foram construídas para serem resilientes, nem


adequadas à ideia de desenvolvimento sustentável e ao buscar princípios ecológicos,
apresentam fraquezas como: a inaptidão de reduzir a contundência humana e
ecológica em cidades sustentáveis, e a imperícia de equilibrar adequadamente a
desigualdade social disposta na fragilidade da população urbana (PELLING, 2003).

Em grande medida, os riscos de calamidades e seu impacto sobre o ambiente


construído podem ser mitigados através de uma abordagem sensível a calamidades
para a construção, planificação de aglomerados populacionais, manutenção e
reconstrução, a abordagem que gravita em torno da noção de melhor construção
(SANZ; BRIEN, 2014).

A construção da resiliência exige não somente que haja compreensão dos


riscos e impactos imediatos de um desastre na área afetada, mas também das
consequências que vêm a reboque e que têm efeitos profundos e prolongados sobre
comunidades, sistemas financeiros e fronteiras geográficas. (HABITAT, 2015).

A Figura 3 ilustra um cenário de baixa resiliência da edificação perante a


exposição a uma tempestade ciclónica que tem sido frequente ano após ano em
Moçambique, num intervalo cíclico de outubro a abril, de acordo com o Instituto
Nacional de Gestão de Calamidades, entidade local responsável pela gestão
interventiva quando se trata de catástrofes naturais.
31

Figura 3 - Casa com fraca resiliência a fenômenos climáticos, em Moçambique

Fonte: Autor, (2022)

Nesse sentido, para maximizar a resiliência na habitação assim como satisfazer


as necessidades funcionais e de bem-estar dos usuários, Bortoli; Villa, (2020)
destacam atributos para a resiliência habitacional e seus indicadores, capazes de
nortear a observação da resiliência bem como os ajustes necessários ao seu
desenvolvimento no ambiente construído. São eles: bem-estar, engajamento,
flexibilidade, adequação climática e adequação ambiental.

Segundo os mesmos autores, estes, são requisitos fundamentais para


sustentar as primeiras decisões de projeto, visando oferecer um edifício sustentável,
quando atendidos os seus indicadores, como ilustra a Figura 4, pois estes podem ser
estratégicos para o melhoramento da capacidade adaptativa do ambiente construído.
32

Figura 4 - Atributos da resiliência habitacional e seus indicadores

Fonte: Bortoli; Villa, (2020)

2.3. Influências de fenômenos climáticos na arquitetura

É importante considerar períodos climáticos futuros durante o desenvolvimento


de projetos de eficiência energética em edificações, pois deste modo é possível prever
comportamentos, estratégias e soluções que contemplem toda a vida útil do edifício.
(NUNES e GIGLIO, 2019).

A arquitetura enfrenta um importante desafio, pois muitas das edificações foram


projetadas quando a energia era abundante e a ciência do aquecimento global ainda
não havia sido desenvolvida. Seus arquitetos e engenheiros confiavam na limitada
disponibilidade da energia para o aquecimento, iluminação e a ventilação dos
elevadores (EDWARDS, 2005).

Para Roaf (2009), a razão fundamental para a existência de qualquer edificação é


fornecer abrigo contra o clima, as edificações amenizam o clima de assentamentos
33

ocupados de formas tradicionais para ficarem adequados aos ocupantes e para trazer
conforto dentro das normas culturais.

Portanto, atualmente as edificações projetadas e construídas ainda existirão


quando as transformações climáticas se intensificarem, e serão afetados pelos seus
impactos, aliás isso já vem acontecendo. Essa pressão climática acaba influenciando
a arquitetura para optar por soluções sustentáveis ou ecológicas para minimizar os
seus efeitos (ROAF, 2009).

2.3.1. Adaptação de edificações na natureza e no ambiente construído

A natureza constitui a diretriz da sustentabilidade sendo aplicado em várias


dimensões, e vários arquitetos já desenvolveram suas linhas de projetos tendo a
natureza como primícias, para trazer soluções referente ao conforto térmico natural,
porém, projetos norteados pela natureza não estão isentos de problemas, pois
precisam da base tecnológica e ecológica (EDWARDS, 2005).

Portanto, o mesmo autor acima sustenta que a natureza pode direcionar a


arquitetura de acordo com as seguintes perspectivas:

● Aprendendo com a natureza: A análise do ciclo de vida permite com que


a edificação adquira as características dos sistemas naturais, e aprender
com a natureza incentiva a observação da interação em termos de recursos
como energia, água, materiais que são consumidos, e de resíduos, e
poluição que são produzidos;
● Usando modelos naturais para se comunicar: As formas, composições,
configurações e materiais utilizados com conceitos da natureza são
resistentes e sustentáveis e com resultados estéticos elegantes;
● Explicando a natureza: A natureza tem sido adicionada em projetos
arquitetônicos como referência para o conforto, por exemplo a utilização de
pátios internos nas edificações vem contribuindo para a introdução da
vegetação no seu interior, e em estabelecimentos comerciais, assim como
em residenciais, a natureza converteu-se em um bem de consumo;
● Utilizando a natureza como quantificador ecológico: Todos os sistemas
de certificação e de análise ambiental possuem uma base ecológica, e a
34

quantificação baseados na natureza servem como guias para a boa prática


arquitetónica, colaborando para a saúde da edificação.
Os impactos das alterações no clima já caracterizam um grande desafio para a
humanidade, indicando a necessidade de se encontrar estratégias de adaptação às
condições climáticas futuras (NUNES; GIGLIO, 2019).

De acordo com Edwards (2005), para as edificações se adaptarem às


mudanças climáticas, para além de evitar implantações em terrenos aluviais, deve
considerar os três seguintes princípios:

● O volume da edificação e a superfície por ela ocupada são fundamentais para


a sua sobrevivência, adaptabilidade e eficiência energética a longo do prazo;
● O padrão construtivo deve ser superior à média, contendo maior isolamento,
maior qualidade dos materiais;
● Os sistemas da instalação da edificação devem ser atualizados facilmente
em especial referente ao condicionamento de ar e a provisão de energias
renováveis.
Segundo Wines (2000) citada por Goulart, (2008), as edificações são uma
grande consumidora dos recursos naturais, consumindo, 16% do fornecimento
mundial de água pura, 25% da colheita de madeira, e 40% de seus combustíveis
fósseis e materiais manufaturados.

Projetar com a natureza, implica procurar soluções com base nas condições
climáticas locais e nas características do meio ambiente imediato para criar edifícios
que estejam em harmonia com o que os rodeia. Isto implica também uma estratégia
integrada a todos os níveis do processo de conceção do edifício, uso de materiais
locais e soluções energeticamente eficientes (KOCH-NIELSEN et al, 1999).

Na escolha do local para conceção de um novo edifício, o projetista deve


recolher e analisar os dados relativos ao clima da região, considerando a frequência
e a natureza de qualquer fenômeno climático, mesmo que raro ou de curta duração,
uma vez que este pode vir a ter impacto na segurança estrutural do edifício (KOCH-
NIELSEN et al, 1999).

Entretanto, os sistemas de certificação de edifícios sustentáveis estabelecem


primícias para alocação de um projeto, em que os projetistas devem também analisar
35

na localização de um local, os impactos que a construção terá no ambiente e na


sociedade próximos antes de ser construída e durante sua operação.

Deve-se projetar o ambiente construído aproveitando os aspectos climáticos


benéficos e modificando aqueles que forem desfavoráveis. Isto aplica-se não só ao
melhoramento do meio ambiente interior, mas também à criação de condições de
conforto nos espaços exteriores à volta dos edifícios (KOCH-NIELSEN et al, 1999).

Segundo Sanz; Brien, (2014) é necessário reintroduzir os conceitos básicos de


adaptação por um lado e de disseminação de soluções economicamente viáveis,
utilizando material local ou convencional e a arquitetura adaptativa pode contribuir
para:

● Proteger diretamente vidas através da provisão de habitações mais seguras


e fiáveis, nos casos de habitações não planejadas, por exemplo;
● Proteger diretamente vidas durante e depois da emergência, através da
transformação das infra-estruturas básicas (nomeadamente escolas e
jardim-de-infância) em locais seguros;
● Poupar os ativos físicos e econômicos dos efeitos das calamidades;
● Poupar indiretamente os bens econômicos através de uma melhor
reconstrução depois de catástrofe com vista a mitigar a ocorrência de riscos
no futuro;
● Sustentar indiretamente os esforços de desenvolvimento sustentável,
prevenindo a interrupção das atividades socioeconômicas, culturais e
educacionais da sociedade.
Neste contexto, quando conciliadas estes princípios de arquitetura adaptativa
num contexto em que se vivem estes fenômenos naturais, os resultados podem trazer
uma melhoria na resiliência do edificado, como se pode ver nas Figuras 5, 6 que
mostram alguns exemplos com diferentes abordagens construtivas.
36

Figura 5 - Abrigo resistente a ciclones, construído com materiais tradicionais

Fonte: Alvarez e Brien, (2014)

Figura 6 - Casa resistente a sismos construída com materiais convencionais

Fonte: Alvarez e Brien, (2014)


37

2.3.2. A sustentabilidade na arquitetura

A sustentabilidade é a situação desejável que permite a continuidade da


existência, do ser humano e da nossa sociedade, é o objetivo máximo do processo do
desenvolvimento sustentável, pois ela busca integrar aspectos econômicos, sociais,
culturais e ambientais da sociedade humana com a preocupação principal de
preservá-los, para que os limites do planeta, a habilidade e a capacidade das gerações
futuras não sejam comprometidas (CÂMARA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO,
2008).

Entretanto, Edwards (2005) fundamenta que para uma compreensão da


sustentabilidade por meio da transculturação, deve-se procurar perceber as
diferenças entre as ideologias referente a sustentabilidade nas diversas regiões do
planeta, pois falar de sustentabilidade nos países do ocidente pode ser diferente
quanto a sua aplicabilidade nos países pobres e ou em via de desenvolvimento, pois
existem fatores como a cultura e o nível de desenvolvimento local que podem
influenciar na forma de abordagem.

Na Arquitetura Segundo Goulart, (2008) um projeto sustentável deve ser


ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável, envolvendo com
isto muitas variáveis, entre as quais o uso racional da energia se destaca como uma
das principais premissas. Por sua vez, Edwards, (2005) levanta uma série de ações
para um projeto sustentável, são regras que quando seguidas podem otimizar e
flexibilizar a nova geração de edifícios:

● Aplicar princípios ecológicos desde o início, isso implica que devem ser incluído
no projeto desde a fase inicial para evitar o aumento de custos;
● Projetar visando a simplicidade operacional, pois as edificações complexas não
funcionam a longo prazo, mesmo que sejam eficientes a curto prazo. A
simplicidade das instalações e dos sistemas construtivos permitem atualizações
periódicas, e isso permite uma boa relação do usuário com o edifício;
● Projetar visando a durabilidade, As edificações duráveis e de baixo custo de
manutenção podem ter um custo inicial mais alto, porém ao longo da sua vida
útil economizam a energia e reduzem os resíduos;
38

● Maximizar o uso de energias renováveis, para isso os edifícios devem ser


orientadas corretamente, ter uma inclinação adequada, e estar suficientemente
afastada de outras construções para a incidência de iluminação solar;
● Possibilitar a substituição de partes, pois métodos construtivos desmontáveis e
flexíveis simplificam muito o processo de renovação necessário. É necessário
desde o início na fase de projeto prever diferentes ciclos de vida da estrutura
dos componentes e das instalações de uma edificação.
39

3. METODOLOGIA

3.1. Delineamento e amostragem da pesquisa

Trata-se de uma pesquisa do tipo explicativa, pois analisou as casas que são
frequentemente vulneráveis ao desabamento em tempos chuvosos a partir dos fatores
da sua resiliência face aos desastres naturais. A abordagem foi quali-quantitativa para
mensurar a influência de cada fator na resiliência da casa, assim como estudar o
problema a partir da percepção dos moradores e dos gestores urbanos.

A zona de estudo delimita-se bairro de Murrapaniua, identificado por ser que


mais apresenta problemas ambientais e de saneamento, deficiências nas
infraestruturas e frequentes casos de desabamento de casas em tempos chuvosos na
Cidade de Nampula, e o bairro apresentou no ano de 2018 cerca de 15490 edificações
habitacionais, dentre eles 4257 estão localizados nas áreas consideradas de risco aos
desastres naturais.

A amostragem foi por conveniência com 95% de nível de confiança e 10 de


margem de erro, e a amostra estudada compreendeu em 96 moradores em que cada
um representa uma casa como ilustra a Figura 7, mais 2 técnicos de gestão urbana,
e todos preencheram os critérios de elegibilidade.
40

Figura 7 - Edifícios habitacionais em zonas de risco a desastres

Fonte: Autor, (2022)

3.1.1. Critérios de elegibilidade

Neste estudo foram incluidos edifícios habitacionais localizados nas zonas


consideradas de risco a desastres naturais no bairro de Murrapaniua na Cidade de
Nampula, por ser o que apresenta mais casos de desabamentos habitacionais no
tempo chuvoso, de acordo com as autoridades urbanas locais.

Segundo as Posturas urbanas da Cidade de Nampula, dispositivo legal que


orienta a gestão urbana consideram zonas de risco os espaços territoriais
correspondentes a 100 metros de afastamento a partir da margem do leito do rio, e
zonas alagáveis.

Foram também envolvidos na pesquisa técnicos de instituições de gestão


territorial local, assim como os moradores das áreas consideradas de risco no bairro
em estudo.
41

Foram excluidas casas localizadas fora das zonas consideradas de risco e com
frequência de desastres naturais, e do limite administrativo do bairro de Murrapaniua
na cidade de Nampula.

3.1.2. Coleta de Dados

A pesquisa teve uma intervenção de campo para observar e coletar os dados


no bairro de Murrapaniua na Cidade de Nampula, onde ocorre o fenômeno com maior
frequência. Para melhor compreensão foi feita uma busca documental para descrição
da área em estudo, e revisão de literatura para a identificação e descrição dos fatores
de resiliência habitacional. Por sua vez, segundo Bortoli; Villa, (2020); Fragoso; Silva
(2019); Saito, (2013); e Tominaga; Santoro; Amaral, (2009) estabelecem quatro
principais fatores que podem estar associados a resiliência habitacional face aos
desastres naturais, a saber:

● Fatores naturais climáticos (ciclone, inundação, chuvas, erosão);

● Fatores humano (socioeconômicos e percepção do risco pelo habitante);

● Fatores estruturais (tipologia de construção, arquitetura, técnica construtiva,


materiais, patologias);

● Fatores institucionais (ações e políticas públicas sobre gestão de zonas de


riscos a desastres naturais).

Uma das variáveis que condicionam resiliência habitacional é o fator climático,


que foi levantado a partir da pesquisa documental, através da seleção de informações
como relatório preliminar de diagnóstico da Cidade de Nampula, onde está feita a
cateterização geral da cidade;

Fatores estruturais foram levantados a partir do método da Avaliação Pós-


Ocupação (APO), pela observação direta do fenômeno mediante visita no campo. Os
dados relativos à leitura espacial foram obtidos mediante observação, contagem e
medição na imagem satélite georreferenciada.
42

Foram utilizadas máquinas fotográficas para fotografar os atributos físicos das


habitações e sua envolvente urbana, instrumentos de representação gráfica, e um
questionário de roteiro do pesquisador para direcionar o levantamento arquitetônico.

Os fatores humano e institucional foram submetidos a questionário e entrevista


semiestruturada, na qual foi possível para o entrevistador seguir um roteiro
previamente definido. Foram submetidos ao questionário os moradores das
habitações vulneráveis com vista a entender a perceção do risco usuário e sua relação
com a edificação e o espaço envolvente;

Nesta etapa, o trabalho foi desenvolvido em parceria em convênio com equipe


da Universidade de Lúrio em Nampula, Moçambique, composta por um grupo de
professores e alunos da mesma instituição de ensino superior, gerenciados pelo
pesquisador e orientador da pesquisa.

3.1.3. Processamento e análise de dados

Na avaliação da influência de fatores associados à resiliência habitacional, foi


usado o programa Microsoft Excel 2013 para a elaboração de tabelas e gráficos
descritivos, ferramenta SAS Planet, para a obtenção de imagens satélite com vista a
localizar geograficamente a cidade de Nampula, bairros e habitações em estudo, que
posteriormente foi georreferenciada e processada no programa ARCGIS 10.7 para
produção de mapas e análise de dados físico espaciais selecionados em categorias e
codificados.

Foram também utilizadas ferramentas de localização das casas em áreas que


são consideradas de risco a desastres naturais, ferramentas buffers para a interseção
entre os edifícios e recursos hídricos e zonas alagáveis. Os modelos das casas foram
representados graficamente no programa BIM Archicad 21.

Todavia, para avaliar e mensurar os dados do questionário dos gestores


públicos sobre gestão perceção de gestão de risco, foi aplicada a escala de Likert,
que permite descobrir níveis de opinião, em que converte-se numericamente as
respostas para facilitar na sua classificação.
43

Para avaliar a influência de fatores associados à resiliência habitacional na


cidade de Nampula, foram utilizados teste Qui-quadrado de Pearson para verificar a
associação entre variáveis categóricas ou qualitativas na ferramenta IBM SPSS
versão 21, e para todas as análises foi considerado o intervalo de confiança de 95%.

3.1.4. Aspetos éticos e riscos

Por envolver seres humanos, o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de


Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa, também
foi aplicado o termo de consentimento livre esclarecido aos participantes, e os
resultados irão observar as normas éticas como a confidencialidade, e a não
divulgação da identidade dos participantes com vista a manter a integridade pessoal.

A pesquisa utilizou um formulário eletrônico e físico (Apêndice de questionário


e entrevista), onde foram utilizadas chamadas telefônicas ao inquirir os moradores, e
as entrevistas foram realizadas de forma remota para evitar o contato físico devido a
pandemia de covid-19.

Os riscos que ocorreram nesta pesquisa, possivelmente estão relacionados aos


desconfortos psicológicos por tomar o tempo do sujeito ao responder ao questionário,
também às informações pessoais fornecidas no formulário, assim como pela invasão
de privacidade por meio do registro fotográficos externo da moradia, mas estes dados
serão mantidos em sigilo na divulgação de seus resultados.

Caso ocorresse alguma situação desconfortável, o voluntário poderia


interromper ou até mesmo não participar da pesquisa sem que a mesma fosse
prejudicada ou punida. Portanto, todos os procedimentos adotados pela pesquisa
seguiram as recomendações éticas propostas na Resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde no intuito de evitar ou solucionar tais sensações.
44

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo é dedicado à apresentação e à discussão de resultados da


pesquisa, de modo a permitir que se possa avaliar a contribuição do trabalho, o
alcance dos seus objetivos. Neste contexto, os seus resultados foram apresentados e
discutidos, e foram utilizados tabelas, gráficos e mapas, sendo que a análise foi feita
de forma textual, conduzindo a discussão da pesquisa.

4.1. Enquadramento territorial da área de estudo

4.1.1. Nível Nacional

Moçambique está localizado a sudoeste da África, e é um país da costa oriental


da África Austral limitado a norte pela Tanzânia, Malawi e Zâmbia. A leste banhado
pelo Oceano Índico e canal de Moçambique, e possui uma área de 800.000 km 2.
Moçambique está dividido em 11 províncias: Niassa, Cabo Delgado, Nampula,
Zambézia, Tete, Manica, Sofala, Gaza, Inhambane, Maputo e o Município de Maputo.
(INDE, 2009) apud (LÚRIO, 2018), como ilustram as Figuras 8 e 9.

Figura 8 - Localização de Moçambique

Fonte: Adaptado pelo autor, (2022)


45

Figura 9 - Mapa de localização geográfica da Província de Nampula, em


Moçambique

Fonte: Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (2019)

4.1.2. Nível Provincial

Nampula é uma província situada na região norte de Moçambique. A sua capital


é a cidade de Nampula, localizada a cerca de 2150 km a norte da cidade de Maputo,
a capital do país. Com uma área de 81,606 km² e uma população de 6.102,867
habitantes em 2017.
46

Limites: Nampula é limitada a Este pelo Oceano Índico, ao Sul pela província da
Zambézia, ao Norte pela província de Cabo Delgado e a Oeste pela província de
Niassa. Na figura 11, Segundo LÚRIO (2018) administrativamente a província de
Nampula está dividida em 23 distritos e possui sete municípios. Portanto, em Março
de 2013 foi aprovada e submetida à Assembleia da República, pelo Conselho de
Ministros, a proposta de lei que cria novos distritos e municípios. Assim sendo, para a
província de Nampula foram criados 3 novos distritos, nomeadamente: Nampula (ex-
Nampula-Rapale), Ilha de Moçambique, Larde e Liúpo, estes dois últimos antigos
Postos Administrativos dos distritos de Moma e Mogincual respetivamente e o
município de Malema.

Figura 10 - Mapa de localização geográfica da Província de Nampula

Fonte: Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (2019)


47

4.1.3. Nível Distrital

O Distrito de Nampula está localizado no interior da Província de Nampula, com


uma superfície de 120400 ha. O Distrito tem como coordenadas geográficas Latitude
15° 45 '00" e Longitude 38° 35' 00" Este e Latitude 15° 23’ 00”e Longitude 39 33' 00".
O distrito de Nampula conforme a Figura 11 está localizado no centro da província de
Nampula, possui cerca de 1222Km2. Encontra-se limitado à:

Tabela 1 - Limites do Distrito de Nampula


Norte Sul Oeste Este

Distrito de Rapale e Distrito de Mogovolas Distrito de Distrito de Murrupula


Muecate através do rio pelo Rio Mululi. Meconta. através do rio Namaita.
Monapo.

Fonte: Lúrio, (2018)

Figura 11 - Mapa de enquadramento do Distrito de Nampula

Fonte: Lúrio, (2018)


48

O Distrito de Nampula compreende 7 Postos Administrativos nomeadamente:


Anchilo, Muatala, Muhala, Napipine, Natikiri, Namicopo e Central, conforme indica a
Tabela 2, com a respectiva superfície por Posto Administrativo e localidades.

4.1.4. Nível municipal

Cidade de Nampula, considerada a capital do Norte e é o terceiro maior centro


urbano de Moçambique. Situa-se a cerca de 200 km do litoral e 350 metros acima do
nível médio das águas do mar, e como ilustra a Figura 12, a cidade possui uma área
de 42804 ha com 18 bairros distribuídos por 6 Postos Administrativos e tem uma
população aproximada a 480.000 habitantes (Estatística, Instituto Nacional de, 2012),
como ilustra a Tabela 2.

Tabela 2 - Superfície em km por Postos Administrativos


N.º Postos Superfície Km2 Bairros/ Localidades
Administrativos

01 Natikiri 102 Natikiri, Marrere e Murrapaniua

02 Napipine 49 Napipine e Carrupeia

03 Namicopo 139 Namicopo e Mutava-Rex

04 Muhala 68 Muhala, Namutequeliua e Muahivire

05 Muatala 61 Muatala e Mutauanha

06 Central 3 Bombeiros, 25 de Setembro, 1º de Maio, Limoeiros,


Liberdade e Militar.

07 Anchilo 800 Anchilo – Sede, Namachilo, Namigonha, Napuri


Saua-saua.

Total 1222

Fonte: Adaptado do perfil do Distrito de Nampula (2018).

Situa-se no centro da província de Nampula, entre 15° 01 '35 `` e 15° 13' 15" de
latitude Sul e entre 39° 10' 00" e 39° 23' 28" de Longitude Este. A divisão administrativa
é feita de forma radial, e cada bairro estende-se do limite do Posto Administrativo
Central, até o limite com o Distrito de Nampula (CMCN, 2011).
49

Figura 12 - Divisão administrativa do Município de Nampula

Fonte: Lúrio, (2018)

4.2. Fatores naturais climáticos, topográfico e hidrológicos

4.2.1. Clima

A região da Cidade de Nampula tem clima tropical de savana. Segundo a


classificação de Koppen, o clima é do tipo tropical húmido, por ter pluviosidade acima
de 1000 mm/ano (Consultec , 2005).

Porém outros autores consideram-no sub húmido, porque a pluviosidade média


se situa muito pouco acima dos 1000 mm, com duas estações: uma chuvosa e quente
que normalmente começa em Novembro e termina em Abril, caracterizado por
aguaceiros e trovoadas frequentes; a outra, seca e menos quente, que se estende de
Maio até Outubro.

O valor máximo absoluto da temperatura do ar situa-se nos 33,9ºC e o mínimo


nos 19ºC. As regiões de maior elevação apresentam-se com temperaturas mais
50

suaves em relação às outras zonas. Quanto à precipitação, a média anual é de 1045


mm. Os valores de precipitação anual indicam.

Gráfico 1 - Temperatura e precipitação a média anual do Município de Nampula

Fonte: Relatório do estado do Ambiente da cidade de Nampula, (2011).

4.2.2. Ciclones na Cidade de Nampula

Os ventos mais intensos sopram geralmente entre os meses de Agosto e


Novembro, predominantemente do quadrante norte e este. No restante do ano,
predominam os ventos de sul, sudeste e leste.

Em termos de velocidade, são geralmente classificados na escala de Beaufort


como brisas muito fracas à fracas (6 e 13 km/h.), assim contribuindo para as condições
microclimáticas geralmente amenas na Cidade de Nampula, mais especificamente
nas zonas mais elevadas. A Figura 13 indica os níveis de riscos de acordo com a
escala dos ventos, onde a cidade de Nampula encontra-se localizada entre os níveis
de risco 2 e 3.
51

Figura 13 - Níveis de intensidade de ciclones, e a exposição da cidade de Nampula

Fonte: Relatório do estado do Ambiente da cidade de Nampula, (2011)

4.2.3. Topografia na cidade de Nampula

Os solos da cidade são majoritariamente arenosos, vulneráveis para a


ocorrência de erosão e uma alta capacidade de filtração da água. Por isso, os
poluentes facilmente infiltram-se nos solos e atingem o lençol freático, poluindo assim
a água subterrânea. (CDS – ZU, 2009).

A cidade de Nampula situa-se cerca de 400 a 600 metros acima do nível do


mar na região plantáltica do Norte de Moçambique, que separa a planície litoral da
região montanhosa do interior. A topografia é fortemente ondulada, com declives de
4-16%, a profundidade das valas variam entre 50 e 150 cm e a drenagem é
ligeiramente excessiva a boa, apresentando riscos de erosão moderados e altos.
(CMCN, 2011).

A Figura 14 apresenta a configuração topográfica da cidade de Nampula, onde


em particular o bairro de Murrapaniua zona em estudo, localizada no sentido noroeste
e uma dos com extensão territorial mais elevadas da cidade, 400 a 500 metros acima
do nível do mar, com maior tendência a erosão dos solos devido a sua declividade
acentuada.
52

Figura 14 -Topografia e relevo da Cidade de Nampula

Fonte: Relatório do estado do Ambiente da cidade de Nampula, (2011).

4.2.4. Hidrologia na cidade de Nampula

A cidade localiza-se na divisão das águas entre as bacias hidrográficas dos


Rios Monapo e Meluli, e é atravessada por uma quantidade considerável de cursos e
lençóis de água de regime temporário. Parte dos pequenos cursos de água é formada
por riachos temporários como na Figura 16 e afluentes de maiores dimensões, que
são de regime permanente como ilustram as Figuras 17.

Dentro da área municipal, as principais águas superficiais são os rios Muhala,


Muatala, Karrupeia, Mutauanha, Muepelume, Mutomote, Namicopo, Napipine e
Nikutha (CMCN, 2011), como representado na Figura 15, onde ilustra o mapeamento
dos principais rios dentro da cidade.
53

Figura 15 - Recursos hídricos da Cidade de Nampula

Fonte: (LÚRIO, 2018)

Figura 16 - Zonas de inundação na Unidade Comunal Namuatho B, rio com regime


temporário.

Fonte: (LÚRIO, 2018)


54

Figura 17 - Albufeira da barragem do Rio Monapo em Napipine, regime permanente

Fonte: LÚRIO, (2018)

4.3. Fatores estruturais

4.3.1. Enquadramento e caracterização do Bairro de Murrapaniua

O Bairro de Murrapaniua teve início a partir do processo de ocupação


desordenada do solo, resultante de um planejamento urbano não abrangente, e pela
falta de continuidade dos planos. A guerra de desestabilização acelerou o crescimento
dos assentamentos informais com êxodo rural das populações, procurando maior
segurança nos centros urbanos, onde assim surgiram aglomerados periurbanos
informais, como o caso do Bairro de Murrapaniua, que situa-se a norte do Posto de
Natikiri, e administrativamente está composto por treze (13) Unidades Comunais como
indica a Tabela 3 e ilustra a Figura 18.

Tabela 3 - Organização administrativa do Bairro de Murrapaniua


Posto
Bairro Unidade Comunal Área
Administrativo
P.S Khamkhomba 31.81 ha
Francisco Manyanga 62.71 ha
Josina Machel 48.95 ha
Filipe S. Magaya 40.54 ha
Natikiri Murrapaniua
Samora Machel 36.06 ha
10192.69 ha 3026.53 ha
Agostinho Neto 39.54 ha
Eduardo Mondlane 24.65 ha
Sansão Mutemba 7.72 ha
Mutimacanha A 49.69 ha
55

Continuação

Mutimacanha B 38.77 ha
Ratane 522.62 ha
Terrene 795.26 ha
Nairuco 1328.21 ha

Fonte: Adaptado do perfil do Distrito de Nampula (2018).

Figura 18 - Enquadramento do Bairro de Murrapaniua

Fonte: Autor, (2022)

Urbanisticamente o bairro de Murrapaniua apresenta zonas não planejadas


com assentamentos dispersos nas unidades comunais com maior extensão territorial,
ocupações com Densidade de menos de 15 habitações por hectare e de forma
irregular que se consolidam espontaneamente. Por sua vez, as unidades comunais
menores localizadas mais próximas do centro urbano apresentam ocupação de alta
densidade, com 60 hab/ha, como ilustram a Figura 20 com as suas principais
caraterísticas:
56

● Ocupação do solo de forma desordenada sem regularização fundiária;


● Quarteirões e parcelas não definidas com predominância de habitações
precárias.
● Dificuldade de acessibilidade, mobilidade, com vias obstruídas por
construções;
● Erosão do solo com destaque nas vias de acesso e rios.

Figura 19 - Mapa cognitivo do perfil do Bairro de Murrapaniua

Fonte: Autor, (2022)

4.3.2. Caracterização de tipologias de casas no Bairro de Murrapaniua

Os moradores erguem suas casas de forma autoconstruída onde são


responsáveis pelo planejamento e construção de suas habitações, e a assistência
57

técnica e laboral é feita através de pedreiros, geralmente contratados informalmente,


e que normalmente não possuem qualificações formais na construção. (HABITA,
[s.d.]).

A Tabela 4 abaixo descreve as principais tipologias construtivas localizadas nas


áreas consideradas de risco a desastres.

Tabela 4 - Caracterização das casas na área em estudo


Tipo de Construção Descrição Imagem

Materiais Natural - 1 Cobertura de capim,


naturais paredes de bloco de
adobe, piso de
cimento ou areia

Natural - 2 Cobertura de capim,


paredes de pau a
pique, piso de
cimento ou areia

Materiais Misto – 1 Cobertura de chapa


mistos de zinco, paredes de
adobe, piso de
cimento ou areia

Misto – 2 Cobertura de chapa


de zinco, paredes de
pau a pique, piso de
cimento ou areia
58

Continuação

Convencional Cobertura de chapa de


zinco, paredes de bloco
de cimento, piso de
cimento

Fonte: Autor, (2022).

Entretanto, das cinco tipologias de casas identificadas no Bairro de


Murrapaniua, a que mais apresenta frequência patológica no período chuvoso é a
casa de adobe (natural 1) com 38,5%, e seguidamente a de pau-a-pique (natural 2)
com menor frequência de desabamentos com 5,2%, e as Figuras 20 e 21 descrevem
a composição construtiva do modelo.

Figura - 20 Descrição da casa pau-a-pique

Fonte: Autor, (2022)


59

Figura 21 - Descrição construtiva e tecnológica da casa pau-a-pique

Fonte: Janeiro, (2014)

4.4. Fatores humanos

A ação do homem é vista por diversos autores como importante agente


modificador da dinâmica natural do relevo e, por conseguinte, da estabilidade das
vertentes, e a ocupação desordenada tem sido um dos fenômenos humanos ou
consequência da má gestão territorial que proporciona a dano ambiental.
(TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2009).

Assim, o desdobramento deste estudo faz referência relação humana com o


ambiente construído, e sendo a ação do homem um dos principais fatores do problema
de desabamento habitacional no tempo chuvoso. Para isso, é importante conhecer
seu perfil, assim como perceção sobre sua relação com o meio envolvente, assim
como com a problemática em estudo.
60

4.4.1. Dados sociodemográficos

Quanto às questões sociodemográfica no Bairro de Murrapaniua, foram


levantadas variáveis expressas na Tabela 4 para perceber o perfil do morador, e
relacionar com o modelo tipológico da sua casa, com vista a analisar a influência
destas variáveis na capacidade de resposta e adaptação da moradia aos desastres
naturais. Da amostra estudada 74% dos moradores são do género masculino, uma
faixa etária de 18 a 35 anos de idade (72,9%), e destacam-se 91,6 % dos moradores
com uma renda mensal que varia de 433,51 a 866,85 reais, e com escolaridade do
nível médio (74%).

A maioria dos moradores residem na Unidade Comunal de Terrene (26%) e a


casa de adobe com cobertura de capim tem sido a opção com 38,5%, e a maioria
constroem suas casas nas zonas consideradas de risco a desastre por falta de
condições financeiras para morar em outro local seguro (65,3%), com a declaração
emitida pelo secretário do bairro para a titularidade de uso e aproveitamento de terra
(86,5%), sem nenhum apoio financeiro para habitação condigna da parte do governo
(100%), e edificam suas casas com custos próprios (91,7%), como descreve a Tabela
5.

Tabela 5 - Caracterização sociodemográfica da amostra (n = 96).


Variáveis Frequência n (%)

Feminino 25 (26,0)
Género
Masculino 71 (74,0)

18-35 70 (72,9)
Idade
36-60 26 (27,1)

Menos de 86,68 20 (20,8)

86,85 - 433,42 27 (28,2)


Renda Mensal (Reais)
433,51 - 866,85 41 (42,7)

Mais de 866,85 8 (8,3)

Graduação 2 (2,1)

Nível escolar Médio 71 (74,0)


61

Continuação

Mestrado 1 (1,0)

Não estudou 1 (1,0)

Primário 21 (21,9)

Agostinho Neto 16 (16,7)

Eduardo Mondlane 2 (2,1)

Josina Machel 9 (9,4)

Júlios Nherere 2 (2,1)


Unidade Comunal em que
Mutimacanha – A 16 (16,7)
está localizada a
Mutimacanha – B 15 (15,6)
residência
Ratane 3 (3,1)

Samora Machel 4 (4,2)

Samuel Magaia 4 (4,2)

Terrene 25 (26,0)

Convencional 34 (35,4)

Misto – 1 18 (18,8)

Caraterísticas do edifício Misto – 2 2 (2,0)

Natural – 1 37 (38,6)

Natural – 2 5 (5,2)

Falta de condições financeiras para morar em 63 (65,3)


outro local seguro

Outros 2 (2,1)
Quais os motivos o para
morar neste local Proximidade com a família 16 (16,7)

Proximidade com o centro da cidade 3 (3,1)

Proximidade com o local de trabalho 12 (12,5)


62

Continuação

Não tem documentos 9 (9,4)

Legalização do edifício Tem declaração do Bairro 83 (86,5)

Tem licença de construção 4 (4,2)

Tem recebido apoio


financeiro do governo Nunca 96 (100)
local para construção

Proveniência de recursos Custos próprios 88 (91,7)

para construção do Empréstimo em famílias ou amigos 4 (4,2)

edifício Empréstimo bancário 4 (4,2)

Valores apresentados por frequências absolutas relativas.

Fonte: Autor, (2022)

4.4.2. Construção, qualidade, patologias e reformas em zonas de risco

Um número não considerável dos moradores tem se prevenido sempre das


ações climáticas fazendo reformas nas casas (29,2%), e o aumento ou troca de
cobertura é o que mais tem motivado a reforma (52,1%), a maioria causado pela
umidade nas paredes (33,3%), os moradores avaliaram a qualidade das casas sendo
média segundo o conforto, funcionalidade e segurança quanto ao risco a desastre, e
a maioria (56,3) optou pela auto construção.

Dos possíveis desastres no tempo chuvoso, 44,8% indicam a erosão como um


dos principais perigos, 65,6% previnem e minimizam os efeitos da erosão através da
contenção de terra, e quanto disponibilidade para morar em outro local seguro, em
caso de um possível reassentamento 25% estão muito disponível.

Tabela 6 - Relação do morador com o edifício e sua visão de risco a desastres naturais
Variáveis Frequência n (%)

Tem feito reformas antes ou Metade das vezes 16 (16,7)


depois do tempo chuvoso?
Na maioria das vezes 8 (8,3)

Nunca 26 (27,1)
63

Continuação 18 (18,8)

Poucas vezes

Sempre 28 (29,2)

O que tem motivado a Aumento ou troca de cobertura 50 (52,1)


reforma?
Colocação ou troca de acabamentos 11 (11,5)

Nenhum motivo 23 (24,0)

Remoção ou acréscimo de paredes 11 (11,5)

Substituição de esquadria de portas e janelas 1 (1,0)

Qual problema acontece com Desabamento de paredes 9 (9,4)

Erosão 16 (16,7)

Fissuras e rachaduras nas paredes 12 (12,5)

Humidade nas paredes 32 (33,3)

frequência no edifício no Infiltração no teto 15 (15,6)


tempo chuvoso?
Nenhum 3 (3,1)

Todos 9 (9,4)

Alta qualidade 7 (7,3)

Baixa qualidade 24 (25,0)


Como avalia a qualidade dos
Boa qualidade 14 (14,6)
materiais do edifício?
Qualidade média 47 (49,0)

Sem qualidade 4 (4,2)

Construtor local 38 (39,6)


Quem fez o projeto e
Equipe de profissionais 4 (4,2)
construiu o edifício?
Próprio morador 54 (56,3)

Cheias 7 (7,3)

Desabamento do edifício 28 (29,2)


Dos possíveis desastres no
tempo chuvoso, qual dos Deslizamento de terra 11 (11,5)

perigos o edifício está mais Erosão 43 (44,8)


exposto?
Nenhuma 2 (2,1)

Todos 5 (5,2)
64

Continuação

Combate a erosão por contenção de terra 63 (65,6)


O que tem feito para
minimizar o risco de desastre Nenhuma intervenção 7 (7,3)
no tempo chuvoso?
Procura outro abrigo seguro 2 (2,1)

Reforça a resistência do edifício 24 (25,0)

Disponível 20 (20,8)

Extremamente disponível 15 (15,6)


Qual sua disponibilidade
para morar em outro local Moderadamente disponível 17 (17,7)

seguro, em caso de um Muito disponível 24 (25,0)


possível reassentamento?
Pouco disponível 8 (8,3)

Sem disponibilidade 12 (12,5)

Governo local 20 (20,8)


Na sua opinião, quem mais
contribui para o aumento de Mudanças climáticas 30 (39,6)

desabamento de edifícios em Próprio morador 20 (20,8)


tempo chuvoso?
Tipo de construção 12 (12,5)

Fonte: Autor, (2022). Valores apresentados por frequências absolutas e relativas.

4.5. Fator institucional

Neste estudo constatou-se alguns aspetos institucionais referente gestão


urbana, que de acordo com os entrevistados têm contribuído no aumento de casos de
desabamento de moradias no tempo chuvoso na cidade de Nampula, com destaque
para as zonas consideradas de risco a desastre, onde tem mais se concentrado a
problemática particularmente no Bairro de Murrapaniua.

4.5.1. Entrevista ao técnico da instituição privada de gestão urbana

a) Gestão da terra e infraestrutura

Como avalia as políticas existentes de gestão da terra, em relação às práticas


reais dos cidadãos em zonas de risco na cidade de Nampula?

Resposta: As políticas para gestão de terras a nível da cidade de Nampula,


ainda é um instrumento pouco divulgado entre os munícipes, isto torna este
65

instrumento quase ineficiente no regimento do processo de desenvolvimento espacial


do município, pois se fossem amplamente divulgado, teríamos menos construções
licenciadas a ocorrer onde por lei, são zonas de proteção parcial de infraestruturas,
ex: linhas de transporte ferroviário ou para transporte de energia.

Os municípios são os principais responsáveis pela alocação de terras, Neste


contexto, como avalia sua capacidade institucional para aplicação de políticas e
planos existentes nas zonas de risco a desastres, na cidade de Nampula?

Resposta: A capacidade institucional é fraca, pois os planos são considerados


após as zonas previstas serem ocupadas pelos munícipes.

b) Acesso a financiamento habitacional

Como avalia o acesso a talhões infraestrutura dos formais, vão de acordo com
os rendimentos populacionais?

Resposta: Atualmente o método de aquisição de lotes para construção não é


liderado pelas autoridades municipais, então fica difícil fazer uma avaliação sobre o
poder de aquisição, no entanto avaliando o processo atual, a aquisição dos lotes não
obedece a hierarquia de rendimento nas zonas circundantes ao núcleo da cidade.

Quanto ao financiamento bancário, existe microcrédito com produtos focados


no desenvolvimento da habitação, particularmente associados à assistência técnica?
Se existe como avaliar o seu acesso, visto que poucas famílias têm rendas estáveis e
as garantias exigidas.

Resposta: Não tenho muita informação a respeito, mas já pude ver/acompanhar


algumas facilidades disponibilizadas pelas agências bancárias.

A maioria da população nas zonas de risco a desastres naturais, recorre às


economias próprias para construção habitacional, na sua opinião será que o baixo
grau de instrução financeira pode estar a influenciar na ocupação desses locais
inseguros?

Resposta: Não exatamente, porque para contornar a baixa capacidade


financeira, eles recorrem a prática da agricultura, e esta atividade tem maior
66

rendimento junto aos cursos de água (para culturas que necessitam de água e tem
um período curto entre o plantio e a colheita).

c) Construção e materiais de construção

.Qual sua opinião quanto aos fornecedores informais de materiais de


construção, acha que têm padronização dos preços e de qualidade dos materiais?

Resposta: Não há padronização, este grupo de fornecedores preferem recorrer


aos grandes fornecedores mais acessíveis possível para poder ter maior lucro, e o
valor varia em função da distância do centro de aquisição.

Como avalia os preços dos materiais em mercados formais, em comparação


ao rendimento da população em zonas de risco a desastres? No mesmo contexto,
como avalia a acessibilidade a construção formal por parte da mesma população?

Resposta: Acessíveis de acordo com a condição financeira.

d) Construções resilientes a desastres naturais

Como avalia a coordenação entre instituições de gestão de terra na


implementação de estratégias para habitações resilientes a desastres naturais na
cidade de Nampula?

Resposta: Umas e outras até abraçam a ideia de habitação resiliente, mas


pouco investem para que isso saia do projeto para execução, pois as medidas de
resiliência por mais básicas que sejam alteram o custo de construção.

Na sua opinião, acha que o mercado informal tem sido assistido


adequadamente na utilização de materiais e técnicas de construção melhorados?

Resposta: Não recebem nenhuma assistência.

4.5.2. Entrevista ao técnico da instituição pública de gestão urbana

a) Gestão da terra e infraestrutura

Como avalia as políticas existentes de gestão da terra, em relação às práticas


reais dos cidadãos em zonas de risco na cidade de Nampula?
67

Resposta: As políticas existentes vão de acordo com os pressupostos do meio


ambiente, mas na sua implementação encontra obstáculos por parte da população
local que por sua vez pelas condições socioeconômicas acabam ocupando áreas de
risco a desastres, e também aliado à fraca sensibilização e fiscalização por parte dos
gestores urbanos.

Os municípios são os principais responsáveis pela alocação de terras, neste


contexto, como avalia sua capacidade institucional para aplicação de políticas e
planos existentes nas zonas de risco a desastres, na cidade de Nampula?

Resposta: A falta ou insuficiência de técnicos capacitados para implementação


de políticas e planos urbanos, principalmente para as zonas de risco a desastres, e
isso também tem contribuído na evolução dos problemas urbanos.

b) Acesso a financiamento habitacional

Como avalia o acesso a talhões infraestrutura dos formais, vão de acordo com
os rendimentos populacionais?

Resposta: Há uma discrepância entre o valor de aquisição do direito do uso de


terra pela renda da maior parte da população. Não existe transparência nos critérios
de distribuição de terra por parte dos gestores.

Quanto ao financiamento bancário, existe microcrédito com produtos focados


no desenvolvimento da habitação, particularmente associados à assistência técnica?
Se existe como avaliar o seu acesso, visto que poucas famílias têm rendas estáveis e
as garantias exigidas?

Resposta: Os bancos e microcrédito tem taxas de juro muito altas que não são
compatíveis e nem inclusivamente a renda da maioria da população da cidade de
Nampula.

A maioria da população nas zonas de risco a desastres naturais, recorre às


economias próprias para construção habitacional, na sua opinião será que o baixo
grau de instrução financeira pode estar a influenciar na ocupação desses locais
inseguros?
68

Resposta: A questão financeira tem sido o principal fator de permanência


populacional nas zonas de risco, e a ausência do conhecimento ou auxílio financeiro
contribui nessa tomada de decisão.

Acha que existem arranjos institucionais locais apropriados para auxiliar a


autoconstrução na cidade de Nampula, seja tecnicamente ou financeiramente?

Resposta: O governo não incentiva o financiamento populacional a aderir a


construção formal, por isso a população opta pela autoconstrução e com qualidade
técnica baixa. O Estado tem feito habitações sociais mas a qualidade e os critérios de
acesso não são compatíveis com a realidade.

c) Construção e materiais de construção

Qual sua opinião em relação aos requisitos do Código de construção em


Nampula, correspondem a realidade da maioria da construção local?

Resposta: Os instrumentos são poucos usados pela população, e os fiscais


deveriam ser mais rígidos quanto à implementação dos mesmos.

Qual sua opinião quanto aos fornecedores informais de materiais de


construção, acha que têm padronização dos preços e de qualidade dos materiais?

Resposta: No mercado informal tem mais revendedores de materiais


provenientes do mercado formal e na maioria sem qualidade, e no informal há
acessibilidade do preço para a maioria da população.

d) Construções resilientes a desastres naturais

Como avalia a coordenação entre instituições de gestão de terra na


implementação de estratégias para habitações resilientes a desastres naturais na
cidade de Nampula?

Resposta: Geralmente não tem tido parcerias entres as instituições de gestão


urbana, cada uma atua de forma isolada e até no mesmo espaço geográfico, e um
plano colaborativo pode ser fundamental.
69

Na sua opinião, acha que o mercado informal tem sido assistido


adequadamente na utilização de materiais e técnicas de construção melhoradas?

Resposta: O Governo local não faz assistência aos mercados informais, e estes
acabam funcionando com suas próprias leis e sem fiscalização técnica sobre a
qualidade dos materiais comercializados.

4.5.2.1. Constatações sobre o fator institucional

As instituições de gestão urbana desempenham um papel fundamental para o


desenvolvimento local, principalmente a governamental que regula, assiste e ou
implementa os dispositivos legais estabelecidos. Neste caso, a deficiente observância
das suas responsabilidades pode provocar um desequilíbrio na gestão urbana e
trazendo prejuízos coletivos, principalmente aos moradores mais vulneráveis a
diversos riscos como desastres climáticos.

Os dados apresentados acima corroboram com as ilações feitas pela UN-Habitat


sobre o perfil de habitação em Moçambique, onde salienta que uma coordenação
institucional apropriada, tanto horizontal quanto verticalmente, especialmente entre
órgãos governamentais, é essencial (MOÇAMBIQUE, 2018)

Entretanto, a falta de harmonização dos planos de expansão, por exemplo, não só


atrasa a preparação e entrega de terras para o desenvolvimento, como também
aumenta substancialmente seus custos. No fim das contas, essas despesas são
transferidas para o final da cadeia – as famílias, reduzindo a acessibilidade da
habitação. Para esse efeito, a capacidade institucional, tanto no plano nacional como
local, deve ser fortalecida (MOÇAMBIQUE, 2018).

4.6. Análises de significância associativa entres variáveis

Para esta análise estatística foi identificada a variável principal do estudo, que
são os problemas no edifício habitacional que acontecem com frequência no tempo
chuvoso, onde foram agrupados de acordo com a natureza de incidência.

Feita a análise descritiva de 96 edifícios, identificou-se maior frequência de


presença de infiltração no teto e umidade nas paredes, que correspondem 47,9%
como ilustra o Gráfico 2.
70

Gráfico 2 - Problemas no edifício habitacional que acontecem com frequência no


tempo chuvoso

Fonte: Autor, (2022)

Após a identificação da variável principal, foi analisada a relação com as


variáveis dos fatores de resiliência habitacional, isto é associação entre problemas no
edifício habitacional que acontecem com frequência no tempo chuvoso, e os fatores
de resiliência aos desastres, como descreve a Tabela 6, onde foi constatada
probabilidade com significância (P menor ou igual a 0,05), o que significa
estatisticamente haver relação de dependência ou associação entre os problemas que
surgem na casa no tempo chuvoso, com as seguintes variáveis: Características do
edifício, tipo de risco a desastre no tempo chuvoso, e apoio técnico e financeiro do
governo local.

Tabela 7 - Associação entre problemas no edifício habitacional que acontecem com


frequência no tempo chuvoso, e os fatores de resiliência aos desastres (n = 96).
Problemas na Habitação no tempo chuvoso
Valor
Frequência n (%) (P)
VARIÁVEIS
Desabamento Humidade Todos Nenhum

Menos de 86,68 5 (25) 10 (50) 4 (20) 1 (5)

Renda Mensal 86,85 - 433,42 11 (40,7) 12 (44,4) 2 (7,4) 2 (7,4)


0,485
(Reais) 433,51 - 866,85 19 (46,3) 20 (48,8) 2 (4,9) 0 (0)

Mais de 866,85 3 (37,5) 4 (50) 1 (12,5) 0 (0)

Convencional 12 (35,3) 20 (58,8) 0 (0) 2 (5,9)


0,006
Caraterísticas Misto – 1 8 (44,4) 9 (50) 1 (5,6) 0 (0)
71

Continuação
do edifício Misto – 2 1 (50)
0 (0) 0 (0) 1 (50)

Natural – 1 15 (50,5) 14 (37,8) 8 (21,6) 0 (0)

Natural – 2 2 (40) 3 (60) 0 (0) 0 (0)

Metade das vezes 9 (56,3) 5 (31,3) 2 (12,5) 0 (0)

Na maioria das vezes 4 (50) 4 (50) 0 (0) 0 (0)


Reformas antes
ou depois do Nunca 9 (34,6) 15 (57,7) 0 (0) 2 (7,7) 0,104
tempo chuvoso
Poucas vezes 2 (11,1) 12 (66,7) 3 (16,7) 1 (5,6)

Sempre 14 (50) 10 (35,7) 4 (14,3) 0 (0)

Aumento ou troca de 20 (40) 22 (44) 8 (16) 0 (0)


cobertura

Colocação ou troca de 4 (6,4) 5 (45,5) 1 (9,1) 1 (9,1)


acabamentos

Motivação da Nenhum motivo 8 (34,8) 13 (56,5) 0 (0) 2 (8,7)


0,341
reforma
Remoção ou 6 (54,5) 5 (45,5) 0 (0) 0 (0)
acréscimo de paredes

Substituição de 0 (0) 1 (100) 0 (0) 0 (0)


esquadria de portas e
janelas

Alta qualidade 3 (42,9) 4 (57,1) 0 (0) 0 (0)

Avaliação da Baixa qualidade 7 (29,2) 12 (50) 5 (20,8) 0 (0)


qualidade dos
Boa qualidade 3 (21,4) 8 (57,1) 1 (7,1) 2 (14,2) 0,173
materiais do
edifício Qualidade média 22 (46,8) 21 (44,7) 3 (6,4) 1 (2,1)

Sem qualidade 3 (75) 1 (25) 0 (0) 0 (0)

Apoio técnico e
financeiro do Nunca 38 (39,6) 46 (47,9) 9 (9,4) 3 (3,1) 0,001
governo local

Cheias 2 (28,6) 4 (57,1) 0 (0) 1 (14,3)

Desabamento do 12 (42,9) 14 (50) 1 (3,6) 1 (3,6)


Tipo de risco a edifício
desastre no 0,001
Deslizamento de terra 3 (27,3) 6 (54,5) 1 (9,1) 1 (9,1)
tempo chuvoso
Erosão 21 (48,8) 19 (44,2) 3 (7) 0 (0)

Nenhuma 0 (0) 2 (100) 0 (0) 0 (0)


72

Continuação
Todos 0 (0) 1 (20) 4 (80) 0 (0)

Combate a erosão por 22 (34,9) 34 (54) 6 (9,5) 1 (1,6)


Intervenções contenção de terra
locais para Nenhuma intervenção 5 (71,4) 1 (14,3) 0 (0) 1 (14,3)
minimizar o
Procura outro abrigo 0 (0) 2 (100) 0 (0) 0 (0) 0,244
risco a
desastre no seguro

tempo chuvoso Reforça a resistência 11 (45,8) 9 (37,5) 3 (12,5) 1 (4,2)


do edifício

Dados são frequência absoluta (%). * Valores de P obtidos a partir do teste qui-quadrado de Pearson
ou Exato de Fisher.

Fonte: Autor, (2022).

4.6.1. Constatações sobre as variáveis com associação

As variáveis que apresentaram probabilidade com significância associativa (P


menor ou igual a 0,05) com os problemas que surgem nas moradias no tempo
chuvoso, podem ser entendidas de seguinte maneira:

● Apoio técnico por parte dos gestores urbanos locais: A participação pública
no processo de urbanização tem sido deficiente, aliado a isso a assistência
técnica e financeira às comunidades locais tem sido ausente principalmente em
zonas de risco a desastres.

Devido a baixa renda para a maioria dos moradores (91,7% com abaixo de 866,85
reais mensais), optam pela auto construção das suas casas ou assistidos por
pedreiros locais, e este processo tem sido caracterizado por empregar mão-de-obra
não qualificada e com conhecimento técnico popular, que por sua vez não
acompanham as dinâmicas dos eventos climáticos;

● Caraterísticas do edifício: As tipologias de casas construídas em materiais


naturais e tecnologias locais (natural 1 e 2) apresentaram tendência a desabar
pela exposição a humidade, pela sua precariedade aliado a qualidade do
material, limitações no conhecimento técnico construtiva, e pela localização
que é considerada de risco a enchente.
73

● Tipo de risco a desastre no tempo chuvoso: A erosão dos solos é o risco a


desastre que mais chama a atenção, pois as moradias estão localizadas nas
margens dos rios e expostas ao escoamento de águas pluviais, ao lençol
freático elevado que fragiliza as fundações da casa, e pelo processo diário de
umedecimento da base das paredes do edifício, através das águas residuais
resultantes das atividades domésticas, como ilustra as Figuras 22 e 23.

Figura 22 - Processo de desabamento da casa em tempo chuvoso

Fonte: Autor, (2022)


74

Figura 23 - Ciclo do fenômeno de desabamento de moradias, e seus efeitos.

Fonte: Autor, (2022)

Os resultados desta pesquisa indicam que a informalidade é um dos principais


fatores que aumenta a vulnerabilidade a desastres, e corrobora com a pesquisa da
UN-Habitat, (2018) onde destaca que populações que vivem em assentamentos
informais não só têm acesso a serviços e habitações de baixa qualidade, mas também
têm mais dificuldade de serem incluídas em programas de conscientização.

Entretanto, para Sanz; Brien, (2014), arquitetura adaptativa é uma das soluções
e é parte integrante da abordagem aprender a viver com os riscos que inclui,
nomeadamente:
● Compreender os riscos e vulnerabilidades, e fazer um planejamento dos
aglomerados populacionais de forma participativa e resiliente;
● Adoção da provisão de serviços básicos resilientes em termos de saneamento
urbano, gestão de resíduos sólidos e gestão das águas, e construir de maneira
segura;
● Reconstrução de estruturas melhoradas após as calamidades, introduzir
medidas preventivas e de prontidão nas escolas, nos centros comunitários e
na família.
75

5. CONCLUSÕES

Este capítulo apresenta uma síntese sobre o trabalho desenvolvido, realizando


uma análise a respeito do cumprimento dos objetivos estabelecidos e especula-se
também outros estudos que possam advir deste trabalho, assim como algumas
recomendações.

5.1. Constatações sobre os objetivos da pesquisa

O objetivo principal deste estudo foi analisar o fenômeno de desabamento


habitacional em períodos chuvosos na Cidade de Nampula, a partir da fatores
associados sua resiliência. Entretanto, o experimento desenhado para a pesquisa
permitiu que o objetivo fosse alcançado por meio do cumprimento dos seus objetivos
específicos ou secundários descritos abaixo:

5.1.1. Caracterizar zonas de risco a catástrofes, e casas vulneráveis ao


desabamento.

Este objetivo foi alcançado por meio de busca documental que legisla e regula
a Cidade de Nampula especificamente sobre as questões de edificações urbanas, e
mediante um levantamento de campo para a descrição arquitetônica e geográfica da
área delimitada como amostra para a pesquisa.

Diante dos resultados apresentados, foi possível verificar que as zonas de risco
a catástrofes com habitações vulneráveis ao desabamento são regiões que se
estendem na margem dos rios, zonas alagáveis suscetíveis a enchentes, e áreas cujo
terrenos apresentam declividades acentuadas, na sua maioria com ocupação irregular
sem observância do afastamento estabelecido de 100 metros da margem dos rios.

As moradias vulneráveis ao desabamento no tempo chuvoso, são na sua


maioria de materiais não convencionais, que se encontram localizadas dentro dos
limites considerados de risco. Elas apresentam precariedade nas tecnologias
construtivas, assim como os respetivos materiais com qualidade média baixa, o que
influencia na capacidade de resposta do edifício aos riscos a desastres.
76

5.1.2. Identificar os fatores associados à resiliência habitacional e aos desastres


no tempo chuvoso.

A identificação dos principais fatores associados à resiliência habitacional faces


aos desastres naturais, foi realizada por meio da revisão de literatura onde se
destacaram três principais autores, Bortoli e Villa, (2020); Fragoso e Silva (2019);
Saito, (2013); e Tominaga; Santoro; Amaral, (2009), que levantam um conjunto de
fatores associados à capacidade de resposta habitacional face aos desastres naturais,
a saber:

1. Fatores ambientais (chuvas, inundação, erosão);

2. Fatores humanos (socioeconômicos e percepção do risco pelo habitante);

3. Fatores estruturais (localização, técnica construtiva, materiais, e patologias);

4. Fatores institucionais (ações e políticas públicas sobre gestão de zonas de


riscos a desastres naturais).

Após a caracterização das zonas consideradas de risco a desastres, constatou-


se que os fatores apresentados acima também se fazem presente na Cidade de
Nampula, e que interferem em níveis e formas diferenciadas na capacidade de
resposta dos edifícios habitacionais face às catástrofes no período chuvoso.

5.1.3. Estudar o fenômeno de desabamento a partir dos moradores e gestores


urbanos locais.

Neste trabalho foi fundamental estudar o fenômeno de desabamento a partir


dos moradores das casas localizadas nas zonas consideradas de risco a desastre,
assim também como através gestores urbanos locais, e este objetivo foi alcançado
por meio de um questionário e entrevista.

Entretanto, constatou-se que para os moradores a pobreza e falta de


oportunidades para a construção de uma moradia condigna em um lugar seguro aos
desastres tem contribuído no aumento de casos de desabamentos, também pelas
limitações no conhecimento técnico dos moradores e associado ao abandono pelo
estado ou governo local nas suas responsabilidades quanto a assistência técnica,
financeira para o construção de casas mais resilientes nas comunidades.
77

A perceção dos gestores urbanos locais quanto ao fenômeno de desabamento,


para além das limitações na capacidade institucional local para a gestão das zonas
de risco a desastres, também da qualificação do pessoal técnico, destacou-se a
ausência de implementação de planos urbanísticos com foco nestas zonas, isto é
observou-se um descumprimento da lei referente ao direito humano ao acesso à
habitação condigna.

5.1.4. Avaliar a influência de fatores associados à resiliência habitacional face


às catástrofes

Avaliada a influência de fatores associados à resiliência habitacional face às


catástrofes, observou-se maior frequência de desabamento de casa de adobe com
cobertura de capim (natural-1), por apresentar maior fragilidade estrutural e localizado
nas proximidades dos rios, com terreno apresentando alto teor de umidade devido ao
nível alto do lençol freático, e também aliado a erosão dos solos que é o perigo que
mais tem exposto as moradias ao risco de desabamento no tempo chuvoso.

Por sua vez, a pesquisa constatou que a gênese do problema em estudo pode
estar associada ao fator institucional, pela ausência da assistência técnica e apoio
financeiro por parte do governo local para com os moradores das zonas consideradas
de risco a desastres, oque contribuiu significativamente para o desabamento das
casas.

Além disso, aplicação de planos urbanísticos tem sido limitada, principalmente


para a prevenção de construções em áreas de risco, assim como a assistência local
para práticas de construção resiliente, e aliado a isso tem sido fraca a coordenação
institucional na implementação de estratégias para a construção de habitações
resilientes a catástrofes.

Entretanto, o código de construção em Moçambique não tem sido dinâmico e


realista a novas demandas das construções, pois apresenta requisitos não acessíveis
para a maioria da população que opta pela autoconstrução, e não há arranjos
institucionais para auxiliar essa tendência, seja tecnicamente ou financeiramente, isto
é para obtenção de licença de construção os critérios não são inclusivos.
78

Os possíveis financiadores como microcrédito focados no desenvolvimento da


habitação são escassos, especificamente associados à assistência técnica, porque
poucas famílias têm rendimentos estáveis e as garantias exigidas, e não há apoio
político para reduzir riscos para instituições financeiras. Assim, essas limitações
permitem que as construções formais tenham custos proibitivos, o que resulta no uso
de mercado informal como alternativa da maioria, geralmente com baixa qualidade
dos materiais de construção, e não há estratégias de padronização e inclusão de
fornecedores informais.

Portanto, os resultados deste estudo reforçam a necessidade de inclusão nos


planos urbanos, de modelos habitacionais resilientes a desastres, de forma
sustentável e adequadas à realidade cultural, social e econômica dos moradores
locais, através de ações que visam prevenir e reduzir riscos, por meio de assistência
aos moradores por uma equipe multidisciplinar, tendo como objetivo proporcionar uma
habitação condigna, resiliente e de baixo custo.

5.2. Respostas à pergunta de pesquisa

Perante o problema em estudo descrito no primeiro capítulo suscitou-se a


questão da pesquisa, onde se pretendeu saber como os fatores associados a
desastres naturais interferem na resiliência habitacional na cidade de Nampula,
Moçambique?

A pesquisa constatou que estes fatores são diferenciados no tempo e forma de


atuação, isto é, cada um tem sua particularidade caraterística mas todos interferem
na resiliência das moradias. Neste estudo não se chegou a mensurar o nível de
interferência de cada fator, mas sim percebeu-se o desdobramento de cada um deles
até culminar no desabamento das casas.

5.2.1. Limitações da pesquisa

Toda pesquisa tem limitações e situações específicas podem limitar o


andamento da pesquisa, e está específica reconhece suas próprias limitações e são
apresentadas abaixo:

● Escassez de referências bibliográficas sobre resiliência habitacional face às


catástrofes no contexto informal, pois pesquisas voltadas para a análise da
79

resiliência no contexto do ambiente construído em particular em edifícios ou


moradias em assentamentos informais têm sido escassos, o que cria lacunas e
limitações para pesquisas nesta área de estudo;

● O estudo de caso foi limitado a um bairro na cidade de Nampula, uma vez que
a extensão territorial da cidade não foi proporcional ao tempo estipulado para
esta pesquisa, o que fez com que se escolhesse um bairro cujo perfil atendia os
fatores e serem estudados, e que o mesmo poderia se enquadrar na amostra e
cronograma da pesquisa;

● O desenho dos questionários também teve limitações para coleta de dados, pois
uma vez que o campo da pesquisa foi em Moçambique e houve a necessidade
de se adaptar os questionários a realidade local para melhor compreensão e
participação dos moradores no estudo;

● A pandemia do Covid-19 também constituiu uma limitação pois interferiu no


calendário da pesquisa, e também influenciou na estrutura metodológica para a
coleta de dados para atender a medidas de prevenção sanitárias. Para isso,
para a coleta de dados por meio de questionários e entrevistas, foram
adaptadas para o contexto da pandemia.

5.3. Contribuições e recomendações da pesquisa para estudos adicionais

Esta pesquisa para além das áreas de arquitetura e urbanismo, também tem
contribuições com um alcance multidisciplinar, e os procedimentos metodológicos
neles aplicados podem ser replicados ou adaptados para estudos com temáticas
urbanas com foco na questão da habitação.

Assim, especificamente neste estudo pode-se ainda dar mais amplitude e


profundidade sobre a resiliência habitacional, como por exemplo a mensuração
quantitativa dos fatores associados à vulnerabilidade de moradias face a catástrofes,
para avaliar o nível de interferência de cada um deles no desabamento das casas nos
tempos chuvosos, e assim poderá se desenhar estratégias e medidas intervenção
local de forma estratificada, dando prioridade ao fator que mais tem influência no
crescimento do problema.
80

A partir dos resultados obtidos, pode-se desenvolver um estudo com maior


amplitude, ou replicar para outras cidades para também se entender a problemática
de desabamento habitacional em nível macro, para se ter uma intervenção ampla com
planos, políticas, estratégias e projetos abrangentes.

Portanto, através desta pesquisa o autor recomenda medidas que podem ser
fundamentais na redução de casos de desabamento habitacional, para contribuir na
inclusão das tipologias construtivas mais acessíveis à maioria da população local, e
aumentando a resiliência das casas aos desastres, a saber:

● Revisão do código de construção para refletir as práticas atuais de construção


Melhorar a emissão de licenças de construção.

● Fornecer treinamento técnico para mão-de-obra local promovendo a produção


doméstica de materiais, e local para práticas resilientes de construção.

● Desenvolver e implementar políticas claras e específicas para a assistência à


autoconstrução. Atribuir responsabilidades de execução a diferentes níveis
governamentais, e executar planos, particularmente na prevenção de
construção em áreas de risco, e fortalecer a capacidade das instituições
governamentais para prestar assistência técnica.
81

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85

APÊNDICE A - Roteiro de questionário


UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

RESILIÊNCIA HABITACIONAL: FATORES ASSOCIADOS A VUNERABILIDADE A DESASTRES


NATURAIS NA CIDADE DE NAMPULA, MOÇAMBIQUE
QUESTIONÁRIO: Morador

Data: _____/_____/ 2021 Horário: ________:________ Bairro de Murrapaniua

A) Termo de consentimento livre e esclarecido l


O(a) Sr.(a) está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa “Resiliência habitacional:
Fatores associados à vulnerabilidade a desastres naturais na Cidade de Nampula, Moçambique.” Nesta pesquisa
pretendemos analisar o fenômeno de desabamento habitacional em períodos chuvosos na Cidade de Nampula, a
partir dos fatores associados à capacidade de resposta a catástrofes. O motivo que nos leva a estudar este tema
é para contribuir na tomada de medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos, assim como
reforçar a capacidade de adaptação a riscos relacionados às catástrofes naturais em todos os países, integrando
medidas da mudança do clima nas políticas, estratégias e planejamentos nacionais.

Para esta pesquisa adotaremos os seguintes procedimentos: Terá uma intervenção de campo para observar
e coletar os dados no bairro de Murrapaniua na Cidade de Nampula, onde ocorre o fenômeno com maior
frequência, e este levantamento será por meio de um questionário para o levantamento de dados, onde o
participante será submetido por chamada telefónica para evitar o contato físico com vista a respeitar as medidas
sanitárias devido a pandemia de Covid-19. Para melhor compreensão será feita uma busca documental para
descrição da área em estudo, e revisão de literatura para a identificação e descrição dos fatores de resiliência
habitacional.

Os riscos envolvidos na pesquisa consistem em A pesquisa utilizará um formulário eletrônico ou físico de


pesquisa para a coleta dos dados sobre a percepção de risco ao desabamento habitacional no tempo chuvoso na
Cidade de Nampula. Os riscos que se podem ocorrer nesta pesquisa, possivelmente estão relacionados aos
desconfortos psicológicos por tomar o tempo do participante ao responder ao questionário, também às informações
pessoais fornecidas no formulário de pesquisa, mas estes dados serão mantidos em sigilo na divulgação de seus
resultados. Caso ocorra alguma situação desconfortável, o voluntário poderá interromper ou até mesmo não
participar da pesquisa sem que a mesma seja prejudicada ou punida.

Portanto, todos os procedimentos adotados pela pesquisa seguirão as recomendações éticas propostas na
Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde no intuito de evitar ou solucionar tais sensações. Para tal, a
participação será realizada remotamente no horário escolhido pelo voluntário, para que se sinta confortável e à
vontade para participar, propiciando assim o bem estar do sujeito de pesquisa. A pesquisa contribui no
fortalecimento social e técnico nas comunidades vulneráveis a desastres naturais, assim como influencia nas
tomadas de decisões de políticas de gestão urbana.

Para participar deste estudo o Sr.(a) não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira.
Apesar disso, diante de eventuais danos, identificados e comprovados, decorrentes da pesquisa, o Sr.(a) tem
assegurado o direito à indenização. O Sr.(a) tem garantida plena liberdade de recusar-se a participar ou retirar seu
consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem necessidade de comunicado prévio. A sua participação é
voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em que o Sr.(a)
é atendido(a) pelo pesquisador. Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada.

O(A) Sr.(a) não será identificado(a) em nenhuma publicação que possa resultar. Seu nome ou o material que
indique sua participação não serão liberados, os pesquisadores tratarão a sua identidade com padrões
profissionais de sigilo e confidencialidade, atendendo à legislação brasileira, e utilizarão as informações somente
para fins acadêmicos e científicos, e os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados. Este termo
de consentimento encontra-se impresso em duas vias originais, sendo que uma será arquivada pelo pesquisador
responsável, no “INFORMAR O LOCAL DA PESQUISA” e a outra será fornecida ao Sr.(a).
86

B) Dados demográficos l
C)

● Gênero? Feminino [ ], Masculino [ ]


● Qual é a idade? De 18 a 35 anos [ ], de 35 a 60 anos [ ], Mais de 60 anos [ ]

● Qual é sua renda mensal atualmente


Abaixo de 86.68 Reais [ ], de 86.85 - 433,42 Reais [ ], de 433,51 - 866,85 Reais [ ], Mais de 866,85 Reais [ ]

● Qual é o seu nível de escolaridade?


Não estudou [ ], Primário [ ], Médio [ ], Graduação ou Licenciatura [ ], Mestrado [ ], Doutorado[ ]

D) Gestão da terra ____ _


1. No Bairro de Murrapaniua, em qual Unidade Comunal está localizada sua residência?
Nairucu [ ], Terrene [ ], Ratane [ ], Mutimacanha A [ ], Mutimacanha B [ ], Eduardo Mondlane [ ],
Sansão Muthemba [ ], Agostinho Neto [ ], Samora Machel [ ], Paulo Samuel Kankhomba [ ], Filipe Samuel
Magaia [ ], Josina Machel [ ].

2. Quais são as caraterísticas da sua habitação?


A. Natural (1) Cobertura de capim, paredes de bloco de adobe, piso de cimento ou areia [ ];
B. Natural (2) Cobertura de capim, paredes de pau a pique, piso de cimento ou areia [ ];
C. Misto (1) Cobertura de chapa de zinco, paredes de adobe, piso de cimento ou areia [ ];
D. Misto (2) Cobertura de chapa de zinco, paredes de pau a pique, piso de cimento ou areia [ ];
E. Convencional Cobertura de chapa de zinco, paredes de bloco de cimento, piso de cimento [ ];

3. Como adquiriu sua residência?


4. Comprou [ ], Herdou [ ], Aluguer [ ], Emprestado [ ], Outros [ ].

5. Qual é o seu nível de conforto na sua residência em tempos chuvosos?


Muito confortável [ ], Confortável [ ], Moderadamente confortável [ ], Desconfortável [ ], Muito
desconfortável [ ].
6. Quais os motivos que o(a) levaram a morar neste local?
Proximidade com a família [ ], Proximidade com o local de trabalho [ ], Proximidade com o centro da
cidade [ ], Falta de condições financeiras para morar em outro local [ ].

7. Como está legalizada sua residência?


Tem DUAT (Direito de Uso e Aproveitamento de Terra) [ ], Tem Licença de construção [ ],
Tem Declaração do Bairro de compra venda [ ], Não tem documentos [ ].

E) Acesso a financiamento habitacional____ _


8. Tem recebido apoio financeiro do governo local para a construção ou manutenção da sua residência?
Sempre [ ], Na maioria das vezes [ ], Metade das vezes [ ], Pouca vezes [ ], Nunca [ ].

9. De onde vieram os recursos financeiros para a construção da residência?


87

Custos próprios [ ], Empréstimo com família ou amigos [ ], Empréstimo em banco [ ].

10. Na sua opinião, como deve ser o acesso ao empréstimo bancário para construção habitacional?
Muito acessível [ ], Acessível [ ], Moderadamente acessível [ ],
Pouco acessível [ ], Não acessível [ ]

F) Construção, Materiais e Qualidade l


11. Tem feito reformas ou manutenção na sua habitação antes ou depois do tempo chuvoso?
Sempre [ ], Na maioria das vezes [ ], Metade das vezes [ ], Pouca vezes [ ], Nunca [ ]

12. O que tem motivado a reforma ou manutenção de sua habitação?


Aumento ou troca de cobertura [ ], Remoção ou acréscimo de paredes [ ], Colocação ou troca de
acabamentos [ ], Substituição de esquadrias de portas e janelas [ ], Criação de cômodo para comércio [ ].
Nenhum motivo [ ].

13. Qual o problema de construção acontece com mais frequência na sua habitação tempo chuvoso?
Desabamento de paredes [ ], humidade nas paredes [ ], fissuras e rachadura nas paredes [ ],
Erosão [ ], infiltração no teto [ ], Todos [ ], Nenhum [ ].

14. Onde tem adquirido os materiais para a construção da sua habitação?


Loja de construção [ ], Mercado informal [ ], Doação [ ], Extrai da natureza [ ].

15. Na sua opinião, como avalia os preços dos materiais utilizados na sua habitação?
Acessível e inclusivo [ ], Moderadamente acessível e inclusivo [ ], Não acessível e nem inclusivo [ ]

16. Como avalia a qualidade dos materiais usados na sua habitação?


Alta qualidade [ ], Boa qualidade [ ], Qualidade média [ ], Baixa qualidade [ ], Sem qualidade [ ].

17. Quem fez o projeto (planta) para construção da sua habitação?


Próprio Morador , Construtor Local , Equipe de Profissionais [ ], Apoio do Governo [ ].

18. Quem construiu sua habitação?


Próprio Morador , Construtor Local , Equipe de Profissionais , Apoio do Governo [ ].

19. Teve apoio técnico do município para construção da sua residência?


Sempre [ ], Na maioria das vezes [ ], Metade das vezes [ ], Pouca vezes [ ], Nunca [ ]

G) Zonas de risco a desastres l


20. Sabe que vive na zona de risco de desastres?
Sim [ ], Não [ ], Não sabe [ ].

21. Dos possíveis desastres no tempo chuvoso, em qual dos perigos sua habitação está mais exposta?
Desabamento do edifício [ ], Erosão dos solos [ ], Deslizamento de terra [ ], Cheias [ ], Todos [ ].

22. Como avalia sua preocupação e segurança na sua habitação em tempo chuvoso?
Preocupação extrema [ ], Muita preocupação [ ], Preocupação moderada [ ], Pouca preocupação [ ],
Nenhuma preocupação [ ].

23. O que tem feito para minimizar o risco a desastre da sua habitação no tempo chuvoso?
Combate a erosão por meio de contenção de terra [ ], Reforçar a resistência do edifício [ ], Procurar outro
abrigo temporário e seguro [ ], Nenhuma intervenção [ ].
88

24. Qual é seu conhecimento sobre construções de casas resistentes a desastres?


Conhecimento científico [ ], Conhecimento popular [ ], Desconhece totalmente [ ].

25. Em caso de um possível reassentamento de pessoas localizadas nas zonas de risco, estaria
disponível morar em outro local seguro?
Muito disponível [ ], Disponível [ ], Moderadamente disponível [ ], Pouco disponível [ ],
Sem disponibilidade [ ].

26. Na sua opinião, quem mais contribui para aumento de desastres habitacionais nesta zona nos
tempos chuvosos?
Mudanças climáticas [ ], Tipo de construção [ ], Próprio morador [ ], Governo local [ ].
89

APÊNDICE B- Roteiro de entrevista


UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

RESILIÊNCIA HABITACIONAL: FATORES ASSOCIADOS A VUNERABILIDADE A DESASTRES NATURAIS


NA CIDADE DE NAMPULA, MOÇAMBIQUE
ENTREVISTA: Gestão Urbana

Data: _____/_____/ 2021 Horário: ________:________

Termo de consentimento livre e esclarecido _

O(a) Sr.(a) está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa “Resiliência habitacional:
Fatores associados à vulnerabilidade a desastres naturais na Cidade de Nampula, Moçambique.” Nesta pesquisa
pretendemos analisar o fenômeno de desabamento habitacional em períodos chuvosos na Cidade de Nampula, a
partir dos fatores associados à capacidade de resposta a catástrofes.

O motivo que nos leva a estudar este tema é para contribuir na tomada de medidas urgentes para combater
a mudança do clima e seus impactos, assim como reforçar a capacidade de adaptação a riscos relacionados às
catástrofes naturais em todos os países, integrando medidas da mudança do clima nas políticas, estratégias e
planejamentos nacionais.

Para esta pesquisa adotaremos os seguintes procedimentos: Terá uma intervenção de campo para observar
e coletar os dados no bairro de Murrapaniua na Cidade de Nampula, onde ocorre o fenômeno com maior
frequência, e este levantamento será por meio de um questionário para o levantamento de dados, onde o
participante será submetido por chamada telefónica para evitar o contato físico com vista a respeitar as medidas
sanitárias devido a pandemia de Covid-19. Para melhor compreensão será feita uma busca documental para
descrição da área em estudo, e revisão de literatura para a identificação e descrição dos fatores de resiliência
habitacional.

Os riscos envolvidos na pesquisa consistem em A pesquisa utilizará um formulário eletrônico ou físico de


pesquisa para a coleta dos dados sobre a percepção de risco ao desabamento habitacional no tempo chuvoso na
Cidade de Nampula. Os riscos que se podem ocorrer nesta pesquisa, possivelmente estão relacionados aos
desconfortos psicológicos por tomar o tempo do participante ao responder ao questionário, também às informações
pessoais fornecidas no formulário de pesquisa, mas estes dados serão mantidos em sigilo na divulgação de seus
resultados.

Caso ocorra alguma situação desconfortável, o voluntário poderá interromper ou até mesmo não participar da
pesquisa sem que a mesma seja prejudicada ou punida. Portanto, todos os procedimentos adotados pela pesquisa
seguirão as recomendações éticas propostas na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde no intuito de
evitar ou solucionar tais sensações.

Para tal, a participação será realizada remotamente no horário escolhido pelo voluntário, para que se sinta
confortável e à vontade para participar, propiciando assim o bem estar do sujeito de pesquisa. A pesquisa contribui
no fortalecimento social e técnico nas comunidades vulneráveis a desastres naturais, assim como influencia nas
tomadas de decisões de políticas de gestão urbana.

Para participar deste estudo o Sr.(a) não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira.
Apesar disso, diante de eventuais danos, identificados e comprovados, decorrentes da pesquisa, o Sr.(a) tem
assegurado o direito à indenização. O Sr.(a) tem garantida plena liberdade de recusar-se a participar ou retirar seu
consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem necessidade de comunicado prévio.

A sua participação é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação
na forma em que o Sr.(a) é atendido(a) pelo pesquisador. Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição
quando finalizada. O(A) Sr.(a) não será identificado(a) em nenhuma publicação que possa resultar. Seu nome ou
o material que indique sua participação não serão liberados, os pesquisadores tratarão a sua identidade com
padrões profissionais de sigilo e confidencialidade, atendendo à legislação brasileira, e utilizarão as informações
somente para fins acadêmicos e científicos, e os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados.
90

Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias originais, sendo que uma será arquivada
pelo pesquisador responsável, no “INFORMAR O LOCAL DA PESQUISA” e a outra será fornecida ao Sr.(a).

A) Gestão da terra e infraestrutura l

1. Como avalia as políticas existentes de gestão da terra, em relação às práticas reais dos cidadãos em zonas
de risco na cidade de Nampula?

2. Os municípios são os principais responsáveis pela alocação de terras, Neste contexto, como avalia sua
capacidade institucional para aplicação de políticas e planos existentes nas zonas de risco a desastres, na
cidade de Nampula?

B) Acesso a financiamento habitacional l


3. Como avalia o acesso a talhões infraestruturados formais, vão de acordo com os rendimentos populacionais?

4. Quanto ao financiamento bancário, existe microcrédito com produtos focados no desenvolvimento da


habitação, particularmente associados à assistência técnica? Se existe como avalia o seu acesso, visto que
poucas famílias têm rendas estáveis e as garantias exigidas.

5. A maioria da população nas zonas de risco a desastres naturais, recorre às economias próprias para
construção habitacional, na sua opinião será que o baixo grau de instrução financeira pode estar a influenciar
na ocupação desses locais inseguros?

6. Necessidade de propriedade como de garantia para ter acesso ao financiamento bancário, acha este ser um
requisito acessível e inclusivo para a população na cidade de Nampula?

C) Construção e materiais de construção i


7. Qual sua opinião em relação aos requisitos do Código de construção em Nampula, correspondem a realidade
da maioria da construção local?

8. Quando as Licenças de construção, achas que os custos são acessíveis? E como avalia o tempo de emissão?

9. Na sua opinião, quais os possíveis motivos levam os residentes nas zonas de risco a desastres naturais,
optarem ao mercado informal para aquisição de materiais de construção?

10. Qual sua opinião quanto aos fornecedores informais de materiais de construção, acha que têm padronização
dos preços e de qualidade dos materiais?

11. Como avalia os preços dos materiais em mercados formais, em comparação ao rendimento da população em
zonas de risco a desastres? No mesmo contexto, como avalia a acessibilidade a construção formal por parte
da mesma população?
91

12. Acha que existem arranjos institucionais locais apropriados para auxiliar a autoconstrução na cidade de
Nampula, seja tecnicamente ou financeiramente?

D) Construções resilientes a desastres naturais _


13. Como avalia a coordenação entre instituições de gestão de terra na implementação de estratégias para
habitações resilientes a desastres naturais na cidade de Nampula?

14. Na sua opinião, acha que que o mercado informal tem sido assistido adequadamente na utilização de materiais
e técnicas de construção melhorados

15. A falta de conhecimento sobre as práticas de construção resiliente por parte dos construtores locais, reduz a
demanda por serviços melhorados provenientes do mercado formal. Concorda com esta afirmação?

16. Na cidade de Nampula existem políticas específicas de habitação resiliente? Se existe, há assistência local
para práticas de construção resiliente.

17. Tem conhecimento de plano de urbanização ou documento normativo local, em que especifica áreas de risco
a desastres naturais?

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