Veloso Joao 2020 Conhecimento Ortografic
Veloso Joao 2020 Conhecimento Ortografic
Veloso Joao 2020 Conhecimento Ortografic
a cura di
Sonia Netto Salomão
Direttore scientifico
Sonia Netto Salomão, Sapienza Università di Roma
Volume pubblicato con il contributo della Cattedra “Antonio Vieira” della Sapienza
Università di Roma (Dipartimento di Studi Europei, Americani e Interculturali) e
dell’Instituto Camões di Lisbona.
I lavori sono stati visti da revisori anonimi.
Os autores ...................................................................................................257
INTRODUÇÃO
Sonia Netto Salomão
Este volume integra uma série destinada aos estudos da língua portu-
guesa e foi idealizado no âmbito das comemorações pelos vinte anos de
fundação da cátedra de língua portuguesa na Sapienza Universidade de
Roma, a primeira na Itália com uma docência estruturada. Nele encon-
tram-se alguns temas que ocupam a agenda dos linguistas envolvidos
também com o ensino do Português, tanto como língua materna ou
oficial, quanto como língua estrangeira (PL1 e PL2). As propostas vão
das questões históricas e geográficas referentes ao nascimento e à ex-
pansão da língua aos aspectos sociolinguísticos ligados às variedades
e às variantes do português, em Portugal, Brasil, Angola, Moçambique
e Timor-Leste, principalmente, e a questões metodológicas do ensino.
Algumas considerações mereceram o fenômeno hoje central da tradu-
ção e a quase esquecida língua literária, considerada do ponto de vista
funcional. Como se sabe, a natureza formal da língua, com o seu con-
junto de elementos lexicais e de regras de combinação que realizam a fa-
culdade da linguagem humana, esteve no centro da reflexão linguística
da hermenêutica de Aristóteles até a linguística estruturalista e a gramá-
tica gerativa do século XX. Nas décadas de 1960 e 1970, com trabalhos
como os de Austin e Searle, o foco da questão modificou-se. A partir
das coordenadas linguísticas então desenvolvidas, não se indaga mais
como é feita a língua, mas sim, o que faz a língua e para que serve.1 Em
1967, alunos de Austin lançam o Modern Language Project que está na
1
No seu How to do things with words?, de 1962, John Austin teorizou sobre a
finalidade pragmática da língua, conceito logo a seguir reforçado e ligeiramente mo-
dificado por John Searle nos seus Speech Acts, de 1969, aos quais podemos somar
as noções de competência comunicativa desenvolvidas pela etnolinguística de Dell
Hymes (1962: 13-53; 1974) a partir de 1962.
8 Introdução
2
Como se sabe, a perspectiva sociolinguística, nas suas diversas ramificações,
parte daquela asserção de Labov (1972) que estabelece a competência sociolinguís-
tica como um saber, interiorizado pelos falantes, das regras invariantes e variantes
da sua língua. De um lado, a língua padrão, na verdade um sistema ideal e sem re-
alizações sociais frequentes e, de outro, as suas variedades geográficas, de registro,
meio, gênero e idade.
Introdução 9
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5. CONHECIMENTO ORTOGRÁFICO E REPRESENTAÇÕES
FONOLÓGICAS EM PORTUGUÊS
João Veloso
Universidade do Porto
1. Introdução
Um tema normalmente excluído da investigação linguística é o da relação
entre a representação gráfica e as representações fonológicas da língua.
Coulmas (2003) afirma que tal exclusão faz parte da “ortodoxia linguísti-
ca” e atribui-a ao pensamento de Saussure (1916), segundo o qual a única
realização verdadeiramente linguística é a oral, como pode ser compro-
vado pela precedência histórica da modalidade oral sobre a escrita, pela
existência de línguas ágrafas e de sujeitos que não dominam as represen-
tações escritas. Para os linguistas da escola estruturalista, como Jespersen
(1924), Bloomfield (1933), Gleason Jr. (1955) ou Martinet (1960), entre
outros, este é um ponto de partida teórico muito importante.
Neste trabalho, pretendemos demonstrar que, não estando em causa
o primado da representação oral das línguas, existem aspetos da reali-
zação gráfica que podem condicionar alguns aspetos das representações
fonológicas.
Assim, compararemos, na secção 2, os argumentos que consideram
os dois «sistemas» como impermeáveis e independentes com os que
defendem o ponto de vista contrário, admitindo que o conhecimento
fonológico (CF) possa ser parcialmente determinado pelo conhecimento
ortográfico (CO).
Na secção 3 do estudo, recuperando dados de estudos anteriores,
tentaremos exemplificar de que forma o CO pode determinar o CF, con-
tradizendo o ponto de vista “ortodoxo” a que Coulmas (2003) se refere.
A secção 4 do capítulo será reservada a algumas observações finais.
92 João Veloso
- INVESTIGAÇÃO PSICOLINGUÍSTICA
As representações fonológicas e as represen- As representações fonológicas e as representações
tações gráficas são completamente indepen- gráficas relacionam-se mutuamente e ambas têm
dentes entre si e as únicas com interesse para a interesse para a investigação linguística.
investigação linguística são as primeiras.
Quadro 1 – Palavras do teste de divisão silábica explícita, com sequência /SC/ medial
N % N % N
102 53,1 90 46,9 192
N % N % N
35 17,5 165 82,5 200
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