3251 GeSec
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ISSN: 2178-9010
DOI: http://doi.org/10.7769/gesec.v14i12.3251
Resumo
A Inteligência Emocional (IE) é um conceito crescente no âmbito organizacional e está
voltada para a capacidade do ser humano em gerir as emoções tanto pessoais como alheias,
criando relacionamentos harmoniosos e sustentáveis. A IE é, pois, uma estratégia
organizacional na contemporaneidade, relacionando-se à Gestão do Conhecimento (GC) na
coordenação de pessoas, na tecnologia, nos processos das distintas estruturas organizacionais.
Nesse contexto, o objetivo geral desta pesquisa é compreender e sistematizar como a literatura
acadêmica tem articulado a Inteligência Emocional e a Gestão do Conhecimento nas
Organizações. Metodologicamente, o artigo consiste em uma revisão bibliográfica, resultante
da seleção de quinze artigos, disponíveis no banco de dados Scopus, publicados entre os anos
de 2010 e 2020, encontrados a partir das palavras “emotional intelligence” e “knowledge
managament”. Como resultado, o presente trabalho destaca como as ideias de IE e GC têm
sido mobilizadas na literatura acadêmica, oferecendo um panorama sobre os termos e
apontando para o fato de que a relação entre inteligência emocional e gestão do conhecimento
1
Mestre em Gestão do Conhecimento nas Organizações, Universidade Cesumar (UNICESUMAR), Av.
Guedner, 1610, Jardim Aclimacao, Maringá - PR, CEP: 87050-900. E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8986-0856
2
Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade Cesumar (UNICESUMAR),
Av. Guedner, 1610, Jardim Aclimacao, Maringá - PR, CEP: 87050-900. E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3645-9131
3
Doutor em Ciência da Computação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Universidade
Cesumar (UNICESUMAR), Av. Guedner, 1610, Jardim Aclimacao, Maringá - PR, CEP: 87050-900.
E-mail: [email protected] Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7339-013X
Inteligência emocional e gestão do conhecimento: uma análise de literatura 21286
Abstract
Emotional Intelligence (EI) is a growing concept in the organizational field and is focused on
the human being's ability to manage emotions, both personal and others, creating harmonious
and sustainable relationships. IE is, therefore, an organizational strategy in contemporary
times, relating to Knowledge Management (KM) in the coordination of people, in technology,
in the processes of the different organizational structures. In this context, the overall objective
of this research is to understand and systematize how the academic literature has articulated
Emotional Intelligence and Knowledge Management in Organizations. Methodologically, the
article consists of a literature review, resulting from the selection of fifteen articles, available
in the Scopus database, published between the years 2010 and 2020, found as from the words
"emotional intelligence" and "knowledge management". As a result, this paper highlights how
the ideas of EI and KM have been mobilized in academic literature, offering an overview of
the terms and pointing to the fact that the relationship between emotional intelligence and
knowledge management contribute to organizational success.
Keywords: Emotions. Organizations. Behavior.
Introdução
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a relação entre a Inteligência Emocional (IE)
e a Gestão do Conhecimento (GC) segundo a bibliografia acadêmica. Inicialmente, cumpre
destacar que o termo Inteligência Emocional é considerado por Goleman (2000, p. 323) como
“a capacidade de reconhecer os nossos sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de
gerirmos bem as emoções em nós e nas nossas relações”. Foi introduzido na literatura
científica em 1990 e, desde então, as pesquisas e o desenvolvimento de modelos da
Inteligência Emocional nessa área tiveram um aumento substancial. Atualmente, as
organizações possuem interesse não só pela inteligência e pelas habilitações do capital
humano, mas pela forma como esse capital humano gere a si próprio e aos outros, visando à
obtenção de relacionamentos saudáveis que contribuem para os objetivos organizacionais
(TORRES, 2004).
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situações, manifestadas através de tristeza, alegria, raiva etc. (FERREIRA, 2010, p. 278).
Batista (2020) afirma que, mesmo diante de palavras distintas, os estudos estão direcionados
e geram conexão entre ambas as definições, originando o conceito de Inteligência Emocional.
Mayer e Salovey (1997) consideram que a Inteligência Emocional não se opõe à inteligência,
mas que existe uma intersecção entre esta e a emoção.
O termo Inteligência Emocional é empregado em 1990, pelos psicólogos Peter Salovey
e John Mayer, (NETA; GARCIA; GARGALLO, 2008), que reconhecem a Inteligência
Emocional como “a capacidade de perceber acuradamente, de avaliar e de expressar emoções;
a capacidade de perceber e/ou gerar sentimentos quando eles facilitam o pensamento; a
capacidade de compreender a emoção e o conhecimento emocional; e a capacidade de
controlar emoções para promover o crescimento emocional e intelectual”. (MAYER;
SALOVERY, 1997, p. 10)
O conceito de IE ganhou notoriedade a partir da publicação do livro de Daniel
Goleman, no ano de 1995, intitulado “Emotional intelligence”, obra que se tornou um best
seller mundial (NETA; GARCIA; GARGALLO, 2008) e que posteriormente passou a ser
assunto de interesse no âmbito organizacional (WOYCIEKOSKI; HUTZ, 2009, p. 3).
Goleman (1995) considera a Inteligência Emocional como sendo a habilidade que cada
ser humano possui em gerir de forma eficaz as suas próprias emoções e o relacionamento que
possui com outras pessoas. As habilidades dessa Inteligência originam-se do funcionamento
apropriado do circuito do cérebro límbico pré-frontal, que é responsável por conectar as
emoções e o intelecto, permitindo que o ser humano consiga lidar com os desafios e obtenham
um desempenho satisfatório no âmbito profissional (GOLEMAN et al, 2002).
Existem duas correntes teóricas que definem a Inteligência Emocional: alguns autores
entendem-na como sendo uma capacidade de compreensão e raciocínio; em contrapartida,
outros descrevem-na como a possibilidade de envolver diversas capacidades mentais
independentes uma das outras (WOYCIEKOSKI; HUTZ; 2009). Para Guisande e Ferreira
(2009), existem modelos distintos de Inteligência Emocional que foram divididos em dois
grupos: os modelos mistos ou de traços, que observam outros fatores para o sucesso; e os
modelos de habilidades, que a evidenciam como ações fundamentais para a produção de
emoção e solução de problemas (SALOVEY; MAYER, 1990).
Com a popularização do termo em questão, Goleman (1995) propôs uma abordagem
conceitual, intitulando as habilidades e competências em um modelo misto, o qual
compreende quatro dimensões que servem de sustentação para o desenvolvimento das
competências emocionais e que são necessárias para o desempenho, considerando que esse
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sinais do mundo externo que indicam o que os outros precisam ou desejam” (GOLEMAN,
2012, p.67). Levando-se em conta a última dimensão da competência social, tem-se que a
gestão de relacionamentos é a capacidade de lidar com a emoção alheia, sendo essa aptidão
capaz de implicar bons e harmoniosos relacionamentos, principalmente no âmbito
organizacional (GOLEMAN, 2012).
Assim, conclui-se que, enquanto a inteligência emocional determina o potencial para
aprender os fundamentos do autodomínio e afins, a competência emocional mostra o quanto
desse potencial é dominado, de maneira que se traduza em capacidades profissionais
(GOLEMAN, 2017).
Nesse sentido, a Gestão do Conhecimento passa a ser uma fonte para aquisição dessas
capacidades, considerando que, para Dalkir, (2017, p. 14), “a gestão do conhecimento é a
coordenação deliberada e sistemática das pessoas, tecnologia, processos e estrutura
organizacional”. Uma vez que a GC entende o conhecimento como um ativo da organização
promovendo a criação, o compartilhamento e a aplicação do conhecimento visando o
aprendizado e o crescimento organizacional.
Dentre as diversas definições de GC, destaca-se as elaborações de Servin (2005) para
quem as dimensões da Gestão do Conhecimento, envolve três componentes fundamentais,
apresentados no Quadro 1.
Dimensão Definição
Pessoas Carregam uma história de vida, com valores e comportamentos decorrentes, e são
afetadas pela cultura organizacional.
Processos Onde as organizações são estruturadas de forma a abrigar processos inerentes a
sua gestão, o que pode favorecer ou prejudicar a Gestão do Conhecimento.
Tecnologia É o meio para conectar as pessoas ao processo organizacional, atuando como
“ponte” e favorecendo a Gestão do Conhecimento.
Quadro 1 – Dimensões da Gestão do Conhecimento
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Servin (2005).
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formalizado e compartilhado; enquanto o segundo pode ser expresso de diversas formas, como
através de palavras, números, linguagem formal e/ou sistemática (DALKIR, 2005; NONAKA
et al, 2006).
Os dois tipos citados são integrantes do conhecimento organizacional, uma vez que o
tácito passa a ser primordial para que o explícito seja entendido, devido à interação dinâmica
entre as partes (URIARTE, 2008). Nesse sentido, a Inteligência Emocional permite que as
pessoas tenham consciência de seus próprios sentimentos e das emoções dos outros,
discernindo-os para que utilizem o conhecimento adquirido em prol do crescimento emocional
e intelectual (RECHEBERG, 2019).
Por possuir diversas pessoas que se relacionam internamente e devido a esse convívio,
alcançam a flexibilidade organizacional, promovem ajustes, gerenciam mudanças e visam a
soluções eficazes (NANAYAKKARA; WICKRAMASINGHE; SAMARASINGHE, 2019).
Hansen et al. (1999) defendem que a estratégia da Gestão do Conhecimento a ser praticada
por uma organização deve estar em concordância com a estratégia empresarial, alinhada ao
grau de maturidade e competências que a organização possui.
Metodologia
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Emotional intelligence, knowledge management Shafait, Z.; Yuming, Z.; Meyer, 2021
processes and creative performance: modelling the N., Sroka, W.
02 mediating role of self-directed learning in higher
education
The Effective Factors on Knowledge Management Shafiee, S.; Eskandaripour, M.; 2020
06 in Universities from Physical Education Instructors' Soltani, S.
Viewpoints
A study on the impact of emotional intelligence and John, S.; Niyogi, S. 2019
07 knowledge management on leadership parameters in
multiple contexts: Literature review approach
Impact of Emotional Intelligence on Strategic Nanayakkara, S.; 2019
08 Management of Technology and Organizational Wickramasinghe, V.;
Performance in the Banking Sector in Sri Lanka Samarasinghe, D.
Millennials and political savvy – the mediating role Priyadarshi, P.; Premchandran, R. 2019
of political skill linking core self-evaluation,
09
emotional intelligence and knowledge sharing
behaviour
Role of strategic emotional intelligence on Nanayakkara, S.M.; 2018
10 technological capability, technological knowledge Wickramasinghe, V.;
management and organisational learning growth Samarasinghe, G.D.
Are Emotionally Intelligent Employees Less Likely de Geofroy, Z.; Evans, M.M. 2017
11 to Hide Their Knowledge?
Overcoming emotional barriers for tacit knowledge Magyar-Stifter, V. 2017
12 sharing
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The power generation organization competences and Rodriguez, G.; Hernandez, Y., 2013
15 the satisfaction of the electricity customers Paredes I.
Ao analisar a metodologia dos artigos citados, observou-se que oito deles são descritos
como estudos de caso (SHAFAIT, YUMING, MEYER, SROKA, 2021; ASHOK, 2020;
SETIAWAN, 2020; SHAFIEE, ESKANDARIPOUR, SOLTANI, 2020; NANAVAKKARA,
WICKRAMASINGHE, SAMARASINGHE, 2019; PRIYADARSHI, PREMCHANDRAN,
2019; BRATIANU, ORZEA, 2013; RODRIGUEZ, HERNANDEZ, PAREDES, 2013). Três
estudos estabelecem em suas metodologias que consistem em revisão de literatura (JOHN,
NIYOGI, 2019; GEOFROY, EVANS, 2017; ALSUWAIDAN, ZEMIRLI, 2015). Os demais
(PUERTA, GONZÁLEZ, SOLER GARCIA, 2021; NANAVAKKARA,
WICKRAMASINGHE, SAMARASINGHE, 2018) descrevem-se como artigos empíricos; há
ainda uma pesquisa apresentada como exploratória (MAGVAR-STIFTER, 2017) e outra
como sendo teórica (RECHEBERG, 2020).
Desses quinze artigos, envolvendo Inteligência Emocional e Gestão do Conhecimento,
destaca-se a interdisciplinaridade dos temas, identificando-se discussões: no âmbito da saúde,
considerando o ambiente hospitalar; no contexto organizacional, direcionado para líderes;
além de conhecimento, habilidades e impactos da Inteligência Emocional na Gestão do
Conhecimento em universidades e empresa fornecedora de energia. Mediante essa variedade,
é notável a importância desse tema tanto para a sociedade quanto para a literatura específica.
Puerta et al. (2021) apresentam como objetivo em sua pesquisa obter uma taxonomia
dos executivos nas empresas espanholas, dando enfoque a dois fatores-chave da inovação:
Inteligência Emocional e Gestão do Conhecimento. Os autores relatam que cada executivo
possui sua singularidade e diferentes recursos pessoais, com habilidades únicas em Gestão do
Conhecimento e Inteligência Emocional e, quanto maior o nível de desenvoltura nessas
habilidades, maior a capacidade de inovação desse executivo no âmbito organizacional. Nessa
pesquisa, concluiu-se que existem perfis de líderes nas organizações espanholas, sendo
classificados como agile, retardatário(a), solista e cooperador(a); ademais, em cada grupo,
existe um nível de capacidade em relação a Inteligência Emocional e Gestão do Conhecimento
que integram a razão e emoção nas tomadas de decisão e servem de estratégia de inovação
para potencializar o perfil desses(as) executivos(as).
Shafait et al. (2021) buscaram, em sua pesquisa, investigar a influência de um(a)
facilitador(a) de Gestão do Conhecimento, considerando a Inteligência Emocional em relação
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Nanayakkara, S.M.; A Inteligência Emocional é uma área Não apresenta definição específica para
Wickramasinghe, estratégica que avalia o grau em que GC, apenas para a Gestão do
V.; Samarasinghe, um indivíduo pode entender e Conhecimento Tecnológico, que é uma
2018
G.D. gerenciar emoções em si mesmo e nos ferramenta competitiva crucial e de
outros. melhoria de desempenho organizacional.
de Geofroy, Z.; Utiliza o conceito de Goleman (2006, É uma parte importante de sua estratégia
Evans, M.M. p.317), o qual se refere à capacidade geral, citando o compartilhamento de
de reconhecer nossos próprios conhecimento como sendo o processo
sentimentos e os dos outros, de nos mais importante da GC.
motivar e de gerenciar bem as
emoções em nós mesmos e em nossos
relacionamentos.
Utiliza também o conceito de Mayer
2017 & Salovey (1997, p. 10), que se trata
da capacidade de perceber emoções,
acessar e gerar emoções de modo a
auxiliar o pensamento, entender
emoções e conhecimento emocional e
regular reflexivamente emoções de
modo a promover o crescimento
emocional e intelectual.
Magyar-Stifter, V. Não apresenta definição específica. Não apresenta definição específica.
2017
Alsuwaidan, L.; Não apresenta definição específica. Não apresenta definição específica, mas
Zemirli, N. sinaliza que a gestão do conhecimento tem
um impacto significativo em muitas
disciplinas, incluindo negócios. Baseia-se
em processos como captura, codificação,
compartilhamento e reutilização. Destaca
que a gestão do conhecimento tem duas
formas de conhecimento: tácito e
2015
explícito. Ambos os tipos têm suas
limitações e benefícios. Tem-se que o
principal objetivo da gestão do
conhecimento é traduzir o conhecimento
de tácito para explícito porque a maior
parte do conhecimento tácito reside na
cabeça dos especialistas.
Bratianu, C.; Orzea, O conhecimento emocional é criado Não apresenta definição específica, mas
I. pelas emoções e integrado ao sinaliza que Gestão do Conhecimento
2013 conhecimento cognitivo em nossa encontra três abordagens principais: (1) o
representação mental do mundo. conhecimento é basicamente cognitivo e é
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No quadro apresentado, observa-se que, dos quinze artigos citados, somente dois não
possuem um conceito específico sobre Inteligência Emocional. Os demais, de forma geral,
conceituam Inteligência Emocional como a capacidade de reconhecer nossos próprios
sentimentos e compreender o sentimento dos outros contribuindo para a melhoria dos nossos
relacionamentos. Dessa forma, os estudiosos indicam que gerir a emoção torna-se uma
estratégia para o crescimento emocional e intelectual.
Geofroy (2017) foi o único pesquisador a citar especificamente os termos usados pelos
precursores do conceito de Inteligência Emocional, citando Mayer e Salovey (1997) e
Goleman (2006). Os demais artigos trouxeram conceitos não estabelecidos na literatura, mas
que estão ligados a uma visão de que inteligência emocional contribui para orientar nossos
pensamentos e ações.
O artigo de Rodriguez, Hernandez e Paredes (2013) apresentou com maior
proximidade as quatro principais dimensões da Inteligência Emocional, considerando a
autoconsciência, a autogestão (citando controle de impulsos, persistência e zelo), a
consciência social (citando a empatia) e a gestão de relacionamentos como sendo uma
habilidade social.
Em relação à Gestão do Conhecimento, alguns estudos não trazem um conceito
específico, mas Rechberg (2020) conceitua a Gestão do Conhecimento de forma teórica como
sendo práticas e processos que envolvem sistemas e indivíduos, visando a organização,
desenvolvimento, gerenciamento e compartilhamento de conhecimento de forma tácita e
explícita entre as organizações, bem como dentro e fora destas, assim como entre grupos e
indivíduos.
Os autores Nanayakkara, Wickramasinghe e Samarasinghe (2018) não expõem
especificamente um conceito de Gestão do Conhecimento, mas apresentaram o conceito de
Gestão do Conhecimento Tecnológico, uma ferramenta competitiva para o âmbito
organizacional. Nanayakkara, Wickramasinghe e Samarasinghe (2019) trouxeram a ideia da
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Gestão de Desempenho, a qual se trata de uma filosofia para gerenciar o desempenho dos
indivíduos dentro de um contexto que facilita e apoia o alinhamento dos objetivos individuais
com os objetivos organizacionais.
No artigo de Magvar-Stifter (2017), intitulado “Superando barreiras emocionais para
o compartilhamento de conhecimento tácito”, mesmo não apresentando definições específicas
sobre IE e GC, explora-se em sua essência a investigação perante os processos de transferência
de conhecimento de empresas emocionalmente inteligentes, identificando, assim,
competências emocionais em empresas no Norte da Transdanúbia com métodos empíricos,
quantitativos e qualitativos.
A síntese apresentada no Quadro 3 reforça a característica interdisciplinar dos estudos
de GC já encontrados em mapeamentos anteriores sobre o campo (ELIAS, MACHADO,
2020). De um modo geral, não há uma definição única de GC ou IE mobilizadas nos artigos
analisados. Uma vez que a Inteligência Emocional é compreendida como uma habilidade de
gerenciar as próprias emoções, ela se relaciona com a Gestão do Conhecimento no sentido de
gerir melhor os processos e relacionamentos organizacionais.
Conclusões
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Inteligência emocional e gestão do conhecimento: uma análise de literatura 21300
pessoas e, na medida em que os ambientes sejam favoráveis e seguros para a troca, aumentam
as possibilidades de sua implementação com maior adesão e, consequentemente, sucesso.
Nesse sentido, a GC pode sofrer efeitos positivos ou negativos devido a questões como
liderança, cultura, reciprocidade, comunicação, entre outros, de modo que líderes e
funcionários(as) que tenham Inteligência Emocional contribuem para um ambiente em que as
dinâmicas organizacionais ocorrem de forma satisfatória.
O artigo, pois, apresentou uma visão geral das dinâmicas da Inteligência Emocional
em relação a Gestão do Conhecimento, trazendo como contribuição a sistematização de como
a literatura acadêmica tem mobilizado os dois temas e, ainda, apontando para o fato de que a
literatura vê uma confluência positiva entre GC e IE, na qual a gestão das emoções é aliada
das ferramentas e dos processos de GC, contribuindo para o sucesso das organizações.
Agradecimentos
Referências
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Inteligência emocional e gestão do conhecimento: uma análise de literatura 21301
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 12, 2023, p. 21285-21303.
Inteligência emocional e gestão do conhecimento: uma análise de literatura 21302
Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 12, 2023, p. 21285-21303.
Inteligência emocional e gestão do conhecimento: uma análise de literatura 21303
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