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Revista GeSec

São Paulo, SP, Brasil v. 14,


n. 12, p. 21285-21303,2023

ISSN: 2178-9010

DOI: http://doi.org/10.7769/gesec.v14i12.3251

Inteligência emocional e gestão do conhecimento: uma análise de


literatura

Emotional intelligence and knowledge management: a literature review

Natalie Jacinto Borba1


Maria Ligia Ganacim Granado Rodrigues Elias2
Nelson Nunes Tenório Júnior3

Resumo
A Inteligência Emocional (IE) é um conceito crescente no âmbito organizacional e está
voltada para a capacidade do ser humano em gerir as emoções tanto pessoais como alheias,
criando relacionamentos harmoniosos e sustentáveis. A IE é, pois, uma estratégia
organizacional na contemporaneidade, relacionando-se à Gestão do Conhecimento (GC) na
coordenação de pessoas, na tecnologia, nos processos das distintas estruturas organizacionais.
Nesse contexto, o objetivo geral desta pesquisa é compreender e sistematizar como a literatura
acadêmica tem articulado a Inteligência Emocional e a Gestão do Conhecimento nas
Organizações. Metodologicamente, o artigo consiste em uma revisão bibliográfica, resultante
da seleção de quinze artigos, disponíveis no banco de dados Scopus, publicados entre os anos
de 2010 e 2020, encontrados a partir das palavras “emotional intelligence” e “knowledge
managament”. Como resultado, o presente trabalho destaca como as ideias de IE e GC têm
sido mobilizadas na literatura acadêmica, oferecendo um panorama sobre os termos e
apontando para o fato de que a relação entre inteligência emocional e gestão do conhecimento

1
Mestre em Gestão do Conhecimento nas Organizações, Universidade Cesumar (UNICESUMAR), Av.
Guedner, 1610, Jardim Aclimacao, Maringá - PR, CEP: 87050-900. E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8986-0856
2
Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade Cesumar (UNICESUMAR),
Av. Guedner, 1610, Jardim Aclimacao, Maringá - PR, CEP: 87050-900. E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3645-9131
3
Doutor em Ciência da Computação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Universidade
Cesumar (UNICESUMAR), Av. Guedner, 1610, Jardim Aclimacao, Maringá - PR, CEP: 87050-900.
E-mail: [email protected] Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7339-013X
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contribuem para o sucesso organizacional.


Palavras-chave: Emoções. Organizações. Comportamento.

Abstract
Emotional Intelligence (EI) is a growing concept in the organizational field and is focused on
the human being's ability to manage emotions, both personal and others, creating harmonious
and sustainable relationships. IE is, therefore, an organizational strategy in contemporary
times, relating to Knowledge Management (KM) in the coordination of people, in technology,
in the processes of the different organizational structures. In this context, the overall objective
of this research is to understand and systematize how the academic literature has articulated
Emotional Intelligence and Knowledge Management in Organizations. Methodologically, the
article consists of a literature review, resulting from the selection of fifteen articles, available
in the Scopus database, published between the years 2010 and 2020, found as from the words
"emotional intelligence" and "knowledge management". As a result, this paper highlights how
the ideas of EI and KM have been mobilized in academic literature, offering an overview of
the terms and pointing to the fact that the relationship between emotional intelligence and
knowledge management contribute to organizational success.
Keywords: Emotions. Organizations. Behavior.

Introdução

Esta pesquisa tem como objetivo analisar a relação entre a Inteligência Emocional (IE)
e a Gestão do Conhecimento (GC) segundo a bibliografia acadêmica. Inicialmente, cumpre
destacar que o termo Inteligência Emocional é considerado por Goleman (2000, p. 323) como
“a capacidade de reconhecer os nossos sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de
gerirmos bem as emoções em nós e nas nossas relações”. Foi introduzido na literatura
científica em 1990 e, desde então, as pesquisas e o desenvolvimento de modelos da
Inteligência Emocional nessa área tiveram um aumento substancial. Atualmente, as
organizações possuem interesse não só pela inteligência e pelas habilitações do capital
humano, mas pela forma como esse capital humano gere a si próprio e aos outros, visando à
obtenção de relacionamentos saudáveis que contribuem para os objetivos organizacionais
(TORRES, 2004).

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Para o alcance desses objetivos, Drucker (1993) afirma que o conhecimento é o


principal fator de diferenciação competitiva. Corroborando essa tese, Uriarte (2008) defende
que o conhecimento é um bem essencial dentro das organizações e que influencia diretamente
em seu sucesso. Assim, a Gestão do Conhecimento insere-se nesse contexto por ser um
processo dinâmico, em que o conhecimento deve “fluir” de uma etapa para a outra de forma
intermitente e, sobretudo, gerando valor (ORTIZ LA VERDE et al., 2003). Nesse aspecto,
observa-se uma ligação em relação à definição de Gestão do Conhecimento como um processo
ativo orientado por meio de ciclos a fim de criar, compartilhar e aplicar o conhecimento.
No que tange à Inteligência Emocional, sabe-se que se tornou um fator reconhecido
no estabelecimento da Gestão do Conhecimento; e sua força humana é comprometida com
capacidades únicas, como o domínio de tecnologias, as tomadas de decisão, o autocontrole e
a autodireção (NIAZ-AZARI; AMECIATION, 2007). Para Rodriguez et al. (2013), a
sincronização no âmbito organizacional é capaz de movimentar todos os seus componentes e
fazer com que eles estejam em harmonia uns com os outros, de modo a obter a sinergia
máxima em uma totalidade organizacional.
Um dos ciclos da Gestão do Conhecimento apreciado na literatura e que possui
significativo desempenho nas organizações é o compartilhamento de conhecimento,
reconhecido como um fator importante para os benefícios da aprendizagem organizacional
(BARTOL; SRIVASTAVA, 2002). Setiawan (2020) identifica que a qualidade e os benefícios
do compartilhamento de conhecimento dependem da Inteligência Emocional de cada
indivíduo, passando a se tornar uma cultura colaborativa entre equipe e organização.

Fundamentação Teórica: Inteligência Emocional e Gestão do Conhecimento nas


Organizações

A Inteligência Emocional (IE) é um campo novo em investigação, cuja proposta é


compreender e ampliar o conceito de inteligência, assim como entender os domínios da
inteligência a partir das emoções e dos sentimentos (WOYCIEKOSKI; HUTZ; 2009). Nesse
sentido, é válido ressaltar o conceito de ambas as nomenclaturas para entender como estão
interligadas.
É importante mencionar que o conceito de inteligência se origina do latim,
intelligentia, que significa a capacidade de aprender, compreender e adaptar-se facilmente
(FERREIRA, 2010, p. 432). Já o conceito de emoção origina-se do francês, émotion, cujo
significado é o ato de movimentar-se moralmente, desordem da alma provocada por muitas

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situações, manifestadas através de tristeza, alegria, raiva etc. (FERREIRA, 2010, p. 278).
Batista (2020) afirma que, mesmo diante de palavras distintas, os estudos estão direcionados
e geram conexão entre ambas as definições, originando o conceito de Inteligência Emocional.
Mayer e Salovey (1997) consideram que a Inteligência Emocional não se opõe à inteligência,
mas que existe uma intersecção entre esta e a emoção.
O termo Inteligência Emocional é empregado em 1990, pelos psicólogos Peter Salovey
e John Mayer, (NETA; GARCIA; GARGALLO, 2008), que reconhecem a Inteligência
Emocional como “a capacidade de perceber acuradamente, de avaliar e de expressar emoções;
a capacidade de perceber e/ou gerar sentimentos quando eles facilitam o pensamento; a
capacidade de compreender a emoção e o conhecimento emocional; e a capacidade de
controlar emoções para promover o crescimento emocional e intelectual”. (MAYER;
SALOVERY, 1997, p. 10)
O conceito de IE ganhou notoriedade a partir da publicação do livro de Daniel
Goleman, no ano de 1995, intitulado “Emotional intelligence”, obra que se tornou um best
seller mundial (NETA; GARCIA; GARGALLO, 2008) e que posteriormente passou a ser
assunto de interesse no âmbito organizacional (WOYCIEKOSKI; HUTZ, 2009, p. 3).
Goleman (1995) considera a Inteligência Emocional como sendo a habilidade que cada
ser humano possui em gerir de forma eficaz as suas próprias emoções e o relacionamento que
possui com outras pessoas. As habilidades dessa Inteligência originam-se do funcionamento
apropriado do circuito do cérebro límbico pré-frontal, que é responsável por conectar as
emoções e o intelecto, permitindo que o ser humano consiga lidar com os desafios e obtenham
um desempenho satisfatório no âmbito profissional (GOLEMAN et al, 2002).
Existem duas correntes teóricas que definem a Inteligência Emocional: alguns autores
entendem-na como sendo uma capacidade de compreensão e raciocínio; em contrapartida,
outros descrevem-na como a possibilidade de envolver diversas capacidades mentais
independentes uma das outras (WOYCIEKOSKI; HUTZ; 2009). Para Guisande e Ferreira
(2009), existem modelos distintos de Inteligência Emocional que foram divididos em dois
grupos: os modelos mistos ou de traços, que observam outros fatores para o sucesso; e os
modelos de habilidades, que a evidenciam como ações fundamentais para a produção de
emoção e solução de problemas (SALOVEY; MAYER, 1990).
Com a popularização do termo em questão, Goleman (1995) propôs uma abordagem
conceitual, intitulando as habilidades e competências em um modelo misto, o qual
compreende quatro dimensões que servem de sustentação para o desenvolvimento das
competências emocionais e que são necessárias para o desempenho, considerando que esse

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modelo foi desenvolvido com foco e aplicabilidade apenas no ambiente organizacional


(FERNANDEZ-BERROCAL; EXTREMERA, 2006).
Essas quatro dimensões de Inteligência Emocional estão subdivididas em:
autoconsciência, autogestão, empatia/consciência social e gestão de relacionamentos,
compreendendo dezoito competências distribuídas nesses aspectos propostos por Goleman
(GEOFROY; EVANS, 2017), sintetizadas na figura 1.

Figura 1 – Competências e dimensões da Inteligência Emocional


Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Goleman (2002).

Goleman (1995) apresenta as dimensões divididas em duas competências principais: a


pessoal, que engloba a autoconsciência e a autogestão; e a social, que abrange a consciência
social e a gestão de relacionamentos.
Considerando as competências pessoais, em um primeiro momento, surge a
autoconsciência, que é a capacidade de reconhecer um sentimento quando ele ocorre. O
referido autor assegura que “a incapacidade de observar nossos verdadeiros sentimentos nos
deixa à mercê deles. As pessoas mais seguras acerca de seus próprios sentimentos são
melhores pilotos de suas vidas, tendo maior consciência de como se sentem em relação às
decisões pessoais” (GOLEMAN, 2012, p. 67). Como segunda competência pessoal, a
autogestão é apresentada por Goleman (2012) como a capacidade de lidar com os sentimentos
para que sejam congruentes, sendo esta uma aptidão que se desenvolve na autoconsciência.
Já a competência social está relacionada à consciência social/empatia, considerada
uma aptidão pessoal, sendo que “as pessoas empáticas estão mais sintonizadas com os sutis

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sinais do mundo externo que indicam o que os outros precisam ou desejam” (GOLEMAN,
2012, p.67). Levando-se em conta a última dimensão da competência social, tem-se que a
gestão de relacionamentos é a capacidade de lidar com a emoção alheia, sendo essa aptidão
capaz de implicar bons e harmoniosos relacionamentos, principalmente no âmbito
organizacional (GOLEMAN, 2012).
Assim, conclui-se que, enquanto a inteligência emocional determina o potencial para
aprender os fundamentos do autodomínio e afins, a competência emocional mostra o quanto
desse potencial é dominado, de maneira que se traduza em capacidades profissionais
(GOLEMAN, 2017).
Nesse sentido, a Gestão do Conhecimento passa a ser uma fonte para aquisição dessas
capacidades, considerando que, para Dalkir, (2017, p. 14), “a gestão do conhecimento é a
coordenação deliberada e sistemática das pessoas, tecnologia, processos e estrutura
organizacional”. Uma vez que a GC entende o conhecimento como um ativo da organização
promovendo a criação, o compartilhamento e a aplicação do conhecimento visando o
aprendizado e o crescimento organizacional.
Dentre as diversas definições de GC, destaca-se as elaborações de Servin (2005) para
quem as dimensões da Gestão do Conhecimento, envolve três componentes fundamentais,
apresentados no Quadro 1.

Dimensão Definição
Pessoas Carregam uma história de vida, com valores e comportamentos decorrentes, e são
afetadas pela cultura organizacional.
Processos Onde as organizações são estruturadas de forma a abrigar processos inerentes a
sua gestão, o que pode favorecer ou prejudicar a Gestão do Conhecimento.
Tecnologia É o meio para conectar as pessoas ao processo organizacional, atuando como
“ponte” e favorecendo a Gestão do Conhecimento.
Quadro 1 – Dimensões da Gestão do Conhecimento
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Servin (2005).

Nessas dimensões (pessoas, processos e tecnologias), há uma relação que compõe


elementos voltados para a ação de promover a criação, o compartilhamento e a disseminação
do conhecimento.
Diante dessa importância, as organizações investem em Gestão do Conhecimento,
pois consideram-nas como “práticas e processos, envolvendo sistemas e pessoas, para
organizar, desenvolver, gerenciar e compartilhar o conhecimento tácito e explícito entre
organizações, grupos e pessoas” (RECHBERG; SYED, 2012, p. 35). A literatura difere o
conhecimento organizacional em conhecimento tácito e explícito, considerando que o
primeiro está na mente das pessoas e é altamente pessoal, por vezes, difícil de ser acessado,

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formalizado e compartilhado; enquanto o segundo pode ser expresso de diversas formas, como
através de palavras, números, linguagem formal e/ou sistemática (DALKIR, 2005; NONAKA
et al, 2006).
Os dois tipos citados são integrantes do conhecimento organizacional, uma vez que o
tácito passa a ser primordial para que o explícito seja entendido, devido à interação dinâmica
entre as partes (URIARTE, 2008). Nesse sentido, a Inteligência Emocional permite que as
pessoas tenham consciência de seus próprios sentimentos e das emoções dos outros,
discernindo-os para que utilizem o conhecimento adquirido em prol do crescimento emocional
e intelectual (RECHEBERG, 2019).
Por possuir diversas pessoas que se relacionam internamente e devido a esse convívio,
alcançam a flexibilidade organizacional, promovem ajustes, gerenciam mudanças e visam a
soluções eficazes (NANAYAKKARA; WICKRAMASINGHE; SAMARASINGHE, 2019).
Hansen et al. (1999) defendem que a estratégia da Gestão do Conhecimento a ser praticada
por uma organização deve estar em concordância com a estratégia empresarial, alinhada ao
grau de maturidade e competências que a organização possui.

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica conduzida na base de dados acadêmica Scopus.


As palavras-chave utilizadas para a busca foram “emotional intelligence” e “knowledge
management”, termos em língua inglesa para “inteligência emocional” e “gestão do
conhecimento”. A escolha pela língua inglesa vem da constatação de que esse é o idioma
predominante em publicações da área de Gestão do Conhecimento (RAMY et al., 2018).
O objetivo da pesquisa foi identificar artigos publicados e avaliados por pares, entre
2010 e 2020, que mobilizassem Gestão do Conhecimento e Inteligência Emocional em suas
discussões. Os títulos, resumos e palavras-chave dos artigos foram lidos levando em conta o
objetivo geral deste estudo. Nessa busca, foram selecionados quinze artigos que apresentavam
os termos “emotional intelligence” e “knowledge management”, seja no título, no resumo ou
nas palavras-chave.
Os quinze artigos encontrados foram lidos em profundidade, uma vez que sua análise
consiste em um esforço qualitativo de sistematizar seus principais achados e de descrever
como as ideias de Gestão do Conhecimento e Inteligência Emocional têm sido discutidas e
mobilizadas pela bibliografia.

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Análise e Discussão dos Resultados

Os quinze artigos são apresentados no Quadro 2, em que, a partir dos títulos, já se


observa uma multidisciplinariedade dos estudos que abordam conjuntamente a temática da
Inteligência Emocional e da Gestão do Conhecimento.

Ref. Título do Artigo Autores Ano


Executives’ knowledge management and emotional Puerta, C.D.B.; González, G.B.; 2021
01 intelligence role: Dynamizing factor towards open Soler García I.P.
innovation

Emotional intelligence, knowledge management Shafait, Z.; Yuming, Z.; Meyer, 2021
processes and creative performance: modelling the N., Sroka, W.
02 mediating role of self-directed learning in higher
education

Emotional intelligence & knowledge management Ashok, J. 2020


03
Emotional intelligence and knowledge management: Rechberg, I.D.W. 2020
04 A necessary link?

The effect of emotional intelligence, organizational Setiawan, L. 2020


commitment on the team performance of hospital
05 officers in South Sulawesi and Central Sulawesi
province, Indonesia

The Effective Factors on Knowledge Management Shafiee, S.; Eskandaripour, M.; 2020
06 in Universities from Physical Education Instructors' Soltani, S.
Viewpoints
A study on the impact of emotional intelligence and John, S.; Niyogi, S. 2019
07 knowledge management on leadership parameters in
multiple contexts: Literature review approach
Impact of Emotional Intelligence on Strategic Nanayakkara, S.; 2019
08 Management of Technology and Organizational Wickramasinghe, V.;
Performance in the Banking Sector in Sri Lanka Samarasinghe, D.

Millennials and political savvy – the mediating role Priyadarshi, P.; Premchandran, R. 2019
of political skill linking core self-evaluation,
09
emotional intelligence and knowledge sharing
behaviour
Role of strategic emotional intelligence on Nanayakkara, S.M.; 2018
10 technological capability, technological knowledge Wickramasinghe, V.;
management and organisational learning growth Samarasinghe, G.D.
Are Emotionally Intelligent Employees Less Likely de Geofroy, Z.; Evans, M.M. 2017
11 to Hide Their Knowledge?
Overcoming emotional barriers for tacit knowledge Magyar-Stifter, V. 2017
12 sharing

Toward a knowledge-based model for real-time Alsuwaidan, L.; Zemirli, N. 2015


13 business intelligence
Emotional knowledge: The hidden part of the Bratianu, C.; Orzea, I. 2013
14 knowledge iceberg

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The power generation organization competences and Rodriguez, G.; Hernandez, Y., 2013
15 the satisfaction of the electricity customers Paredes I.

Quadro 2 – Artigos que abordam IE e GC


Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

Ao analisar a metodologia dos artigos citados, observou-se que oito deles são descritos
como estudos de caso (SHAFAIT, YUMING, MEYER, SROKA, 2021; ASHOK, 2020;
SETIAWAN, 2020; SHAFIEE, ESKANDARIPOUR, SOLTANI, 2020; NANAVAKKARA,
WICKRAMASINGHE, SAMARASINGHE, 2019; PRIYADARSHI, PREMCHANDRAN,
2019; BRATIANU, ORZEA, 2013; RODRIGUEZ, HERNANDEZ, PAREDES, 2013). Três
estudos estabelecem em suas metodologias que consistem em revisão de literatura (JOHN,
NIYOGI, 2019; GEOFROY, EVANS, 2017; ALSUWAIDAN, ZEMIRLI, 2015). Os demais
(PUERTA, GONZÁLEZ, SOLER GARCIA, 2021; NANAVAKKARA,
WICKRAMASINGHE, SAMARASINGHE, 2018) descrevem-se como artigos empíricos; há
ainda uma pesquisa apresentada como exploratória (MAGVAR-STIFTER, 2017) e outra
como sendo teórica (RECHEBERG, 2020).
Desses quinze artigos, envolvendo Inteligência Emocional e Gestão do Conhecimento,
destaca-se a interdisciplinaridade dos temas, identificando-se discussões: no âmbito da saúde,
considerando o ambiente hospitalar; no contexto organizacional, direcionado para líderes;
além de conhecimento, habilidades e impactos da Inteligência Emocional na Gestão do
Conhecimento em universidades e empresa fornecedora de energia. Mediante essa variedade,
é notável a importância desse tema tanto para a sociedade quanto para a literatura específica.
Puerta et al. (2021) apresentam como objetivo em sua pesquisa obter uma taxonomia
dos executivos nas empresas espanholas, dando enfoque a dois fatores-chave da inovação:
Inteligência Emocional e Gestão do Conhecimento. Os autores relatam que cada executivo
possui sua singularidade e diferentes recursos pessoais, com habilidades únicas em Gestão do
Conhecimento e Inteligência Emocional e, quanto maior o nível de desenvoltura nessas
habilidades, maior a capacidade de inovação desse executivo no âmbito organizacional. Nessa
pesquisa, concluiu-se que existem perfis de líderes nas organizações espanholas, sendo
classificados como agile, retardatário(a), solista e cooperador(a); ademais, em cada grupo,
existe um nível de capacidade em relação a Inteligência Emocional e Gestão do Conhecimento
que integram a razão e emoção nas tomadas de decisão e servem de estratégia de inovação
para potencializar o perfil desses(as) executivos(as).
Shafait et al. (2021) buscaram, em sua pesquisa, investigar a influência de um(a)
facilitador(a) de Gestão do Conhecimento, considerando a Inteligência Emocional em relação

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a criação, aquisição, armazenamento, compartilhamento e utilização do conhecimento no


desempenho criativo. O desempenho criativo, para os autores, retrata a autoeficácia criativa,
a liderança e o apoio da supervisão juntamente com a aprendizagem autodirigida, a qual
engloba a autonomia, a responsabilidade e o crescimento do indivíduo. Partindo desse
pressuposto, o estudioso afirma que a Inteligência Emocional atua como uma força central
para o sucesso da implantação de processos de Gestão de Conhecimento, levando, assim, ao
desempenho criativo de sua equipe acadêmica e administrativa do Paquistão.
O impacto da Inteligência Emocional sobre a Gestão do Conhecimento foi o objetivo
pesquisado por Ashok (2020), considerando que o sucesso está na disponibilidade e na
utilização efetiva de ativos considerados intangíveis, tendo em vista que a Gestão do
Conhecimento passa a ser o principal ativo estudado. O autor propôs, em sua pesquisa, uma
análise das quatro dimensões apresentadas por Goleman (2002), considerando o impacto da
autoconsciência, da autogestão, da consciência social e da gestão de relacionamentos na
Gestão do Conhecimento. A partir de observações e questionário aplicado, concluiu-se que a
consciência social e a gestão de relacionamentos da Inteligência Emocional impactam
positivamente a Gestão do Conhecimento, enquanto a autogestão e a autoconsciência não
tiveram um impacto relativo.
O artigo teórico de Rechberg (2020) visou analisar o efeito da Inteligência Emocional
nas práticas da Gestão do Conhecimento entre os indivíduos. A pesquisadora considera que a
criação do conhecimento através da autoconsciência apresenta um impacto consideravelmente
positivo no que diz respeito às relações, ao trabalho em equipe e à comunicação, assim como
ao compromisso organizacional, à adaptabilidade e à satisfação no trabalho. De certa forma,
esses comportamentos contribuem para o compartilhamento de conhecimento e retenção de
conhecimento. Em seu estudo, a Inteligência Emocional é considerada como um ativo valioso
por mediar a participação dos indivíduos no processo de conhecimento organizacional.
Setiawan (2020) explora a relação entre os fatores compartilhamento de conhecimento,
inteligência emocional e conflito no desempenho da equipe de hospitais na Indonésia, durante
o processo de trabalho de colaboração interinstitucionalizada. Mediante questionário para
obtenção dos dados, o estudioso afirma que houve um efeito significativo entre o
Compartilhamento do Conhecimento e a Inteligência Emocional, considerando que, quanto
maior for o primeiro, maior será o segundo. Além disso, a Inteligência Emocional, de forma
empírica, afeta no que diz respeito ao conflito com a equipe e, partindo dessa afirmação, essa
inteligência pode criar autogerenciamento contra conflitos no contexto organizacional.

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Shafiee et al. (2020) investigam em sua pesquisa a relação de tecnologia, cultura


organizacional e inteligência emocional com gestão do conhecimento utilizando mediadores
da estrutura organizacional e empoderamento frente aos professores de educação física da
Universidade Zanjan. Nesse estudo, é proposto um modelo de Gestão do Conhecimento que
analisa essa variável de gestão considerando a criação, manutenção, transferência e aplicação
do conhecimento. Para os autores, os(as) líderes que conseguem ter um relacionamento
harmonioso com o capital humano nas organizações tornam-se bem-sucedidos, pois a força
humana é considerada uma capacidade única e fator determinante na relação com a Gestão do
Conhecimento (NIAZ-AZARI; AMECIATION, 2007).
Para John e Niyogi (2019), uma das qualidades de liderança que geram impacto no
desenvolvimento individual é a Inteligência Emocional, pois esta permite fazer construções
substanciais entre a equipe, gerando comprometimento e pertencimento. Os autores afirmam
que uma organização rende exponencialmente e gera lucros efetivos ao implementar a
Inteligência Emocional na Gestão do Conhecimento e, ainda, quando associadas, contribuem
para o desenvolvimento dos(as) colaboradores(as) para que estes(as) desenvolvam e
potencializem suas competências de liderança, que podem ser aplicadas em várias áreas na
organização. Nesse sentido, o objetivo do estudo de John e Niyogi (2009) foi alinhar um
escopo das práticas de liderança que utilizam da Inteligência Emocional, fortalecendo as
relações e a lealdade dos(as) funcionários(as). Como resultado, identificaram que a liderança
compreende as facetas da Inteligência Emocional e que líderes se sobressaem quando esses
aspectos são utilizados em treinamentos, visando obter habilidades que lhe permitem um
gerenciamento mais eficaz.
Após identificar uma lacuna teórica na literatura, Nanayakkara et al. (2018) buscam
examinar e investigar em seus estudos se a Inteligência Emocional estratégica modera a
relação entre capacidade tecnológica, gestão do conhecimento, aprendizagem e crescimento
organizacional. Foi identificado por eles que a Inteligência Emocional pode ser melhorada
através do coaching, garantindo melhor desempenho junto à equipe. Além disso, comprovou-
se que a Capacidade Tecnológica, a Gestão do Conhecimento e a Inteligência Emocional estão
relacionadas com aprendizado, crescimento organizacional e sucesso corporativo.
Geofroy e Evans (2017) apontam a relevância da Gestão do Conhecimento como uma
estratégia no âmbito organizacional e implementam práticas de compartilhamento de
conhecimento no intuito de manter a competitividade, contudo identificam que, por ser
gerenciado individualmente, o conhecimento pode ser prejudicado quando associado à sua
disseminação. Além de pesquisas teóricas, o artigo expõe instrumentos de medição da

Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 12, 2023, p. 21285-21303.
Inteligência emocional e gestão do conhecimento: uma análise de literatura 21296

Inteligência Emocional que contribuem para treinamentos de competências emocionais e os


consideram relevantes, uma vez que necessitam de uma avaliação mais precisa da Inteligência
Emocional em relação a cada componente da equipe. Considerando esse aspecto,
funcionários(as) com um nível inferior de Inteligência Emocional podem não se sentir
seguros(as) ao compartilhar o conhecimento e, muitas vezes, passam a ocultá-lo. Cumpre
destacar que a base da confiança está relacionada a três competências (empatia, autogestão,
autoconsciência e gestão de relacionamentos), definidas por Goleman et al. (2013) como
sendo determinantes no ambiente organizacional.
No quadro a seguir, procura-se sistematizar como cada um dos artigos estudados
definiu Inteligência Emocional e Gestão do Conhecimento, de modo a oferecer um panorama
sobre como os termos têm sido tratados na bibliografia encontrada.

Ano Autores Inteligência Emocional (IE) Gestão do Conhecimento (GC)


Puerta, C.D.B.; É a capacidade de monitorar os É um processo de captura de habilidades
González, G.B.; sentimentos e emoções próprios e dos coletivas organizacionais, onde quer que o
Soler García, I.P. outros, discriminar entre eles e usar conhecimento esteja, seja em bancos de
(2021) essas informações para orientar o dados, em documentos ou na cabeça das
pensamento e a ação. IE é a pessoas, e, então, esse conhecimento pode
2021 capacidade de unificar emoções e ser distribuído onde quer que possa
raciocínio, usar emoções para facilitar produzir a maior conquista.
um raciocínio mais eficaz e pensar de
maneira mais inteligente em relação a
uma vida emocional.
Shafait, Z.; Yuming, É a capacidade de estar ciente de suas É a capacidade de nutrir o potencial
Z.; Meyer, N.; próprias emoções e negociar com as racional e lógico por meio de uma gestão
2021 Sroka, W. dos outros. eficaz e eficiente dos recursos
organizacionais disponíveis.
Ashok, J. É uma capacidade organizacional de É definido por fatores com especial
lidar com as questões com empatia e atenção à competitividade, crescimento e
2020 sabedoria. sustentabilidade.

Rechberg, I.D.W. A IE permite que os indivíduos São práticas e processos, envolvendo


tomem consciência dos sentimentos e sistemas e indivíduos, para organizar,
emoções dos outros e aprendam a desenvolver, gerenciar e compartilhar o
2020 discriminar as emoções e a usar esse conhecimento explícito e tácito dentro de
conhecimento para crescer emocional e entre organizações, grupos e indivíduos.
e intelectualmente.
Setiawan, L. A inteligência emocional é uma Não apresenta definição específica.
habilidade ou capacidade
autopercebida para identificar, avaliar
2020
e controlar as emoções de si mesmo,
dos outros e dos grupos.
Shafiee, S.; A inteligência emocional é um tipo de A GC refere-se ao processo sistemático e
Eskandaripour, M.; inteligência que envolve uma consistente de coordenar as vastas
Soltani, S. compreensão precisa das emoções de atividades organizacionais, como
uma pessoa e a interpretação precisa aquisição, criação, manutenção,
2020
das emoções dos outros. compartilhamento e uso do conhecimento
pelos indivíduos e grupos para realizar os
objetivos organizacionais

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John, S.; Niyogi, S. A Inteligência Emocional está A GC é uma parte importante da


relacionada a compreender a si sociedade, baseada no conhecimento.
mesmo para lidar com os outros e
2019
ajustar-se para lidar com o ambiente
externo.
Nanayakkara, S.; A inteligência emocional (IE) é a Não apresenta definição específica para
Wickramasinghe, capacidade de reconhecer, entender, GC, apenas para Gestão de Desempenho,
V.; Samarasinghe, usar e gerenciar as emoções para que é uma filosofia para gerenciar o
D. entender os outros. desempenho dos indivíduos dentro de um
2019 contexto que facilita e apoia o alinhamento
dos objetivos individuais com os objetivos
da empresa, a fim de alcançar o
desempenho desta.
Priyadarshi, P.; A Inteligência Emocional é definida Não apresenta definição específica.
Premchandran, R. como a capacidade de compreender e
2019 gerir emoções.

Nanayakkara, S.M.; A Inteligência Emocional é uma área Não apresenta definição específica para
Wickramasinghe, estratégica que avalia o grau em que GC, apenas para a Gestão do
V.; Samarasinghe, um indivíduo pode entender e Conhecimento Tecnológico, que é uma
2018
G.D. gerenciar emoções em si mesmo e nos ferramenta competitiva crucial e de
outros. melhoria de desempenho organizacional.
de Geofroy, Z.; Utiliza o conceito de Goleman (2006, É uma parte importante de sua estratégia
Evans, M.M. p.317), o qual se refere à capacidade geral, citando o compartilhamento de
de reconhecer nossos próprios conhecimento como sendo o processo
sentimentos e os dos outros, de nos mais importante da GC.
motivar e de gerenciar bem as
emoções em nós mesmos e em nossos
relacionamentos.
Utiliza também o conceito de Mayer
2017 & Salovey (1997, p. 10), que se trata
da capacidade de perceber emoções,
acessar e gerar emoções de modo a
auxiliar o pensamento, entender
emoções e conhecimento emocional e
regular reflexivamente emoções de
modo a promover o crescimento
emocional e intelectual.
Magyar-Stifter, V. Não apresenta definição específica. Não apresenta definição específica.

2017

Alsuwaidan, L.; Não apresenta definição específica. Não apresenta definição específica, mas
Zemirli, N. sinaliza que a gestão do conhecimento tem
um impacto significativo em muitas
disciplinas, incluindo negócios. Baseia-se
em processos como captura, codificação,
compartilhamento e reutilização. Destaca
que a gestão do conhecimento tem duas
formas de conhecimento: tácito e
2015
explícito. Ambos os tipos têm suas
limitações e benefícios. Tem-se que o
principal objetivo da gestão do
conhecimento é traduzir o conhecimento
de tácito para explícito porque a maior
parte do conhecimento tácito reside na
cabeça dos especialistas.
Bratianu, C.; Orzea, O conhecimento emocional é criado Não apresenta definição específica, mas
I. pelas emoções e integrado ao sinaliza que Gestão do Conhecimento
2013 conhecimento cognitivo em nossa encontra três abordagens principais: (1) o
representação mental do mundo. conhecimento é basicamente cognitivo e é

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Inteligência emocional e gestão do conhecimento: uma análise de literatura 21298

gerado no domínio da racionalidade; (2)


pensamentos e ideias são entidades
diferentes e não há interação entre eles; (3)
pensamentos e ideias refletem a mesma
realidade complexa e interagem na tomada
de decisão.
Rodriguez, G., A inteligência emocional, ou IE, Não apresenta definição específica.
Hernandez, Y., inclui autoconsciência, controle de
Paredes, I. impulsos, persistência, zelo,
2013
automotivação, empatia e habilidade
social.
Quadro 3 – Conceitos de IE e GC
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

No quadro apresentado, observa-se que, dos quinze artigos citados, somente dois não
possuem um conceito específico sobre Inteligência Emocional. Os demais, de forma geral,
conceituam Inteligência Emocional como a capacidade de reconhecer nossos próprios
sentimentos e compreender o sentimento dos outros contribuindo para a melhoria dos nossos
relacionamentos. Dessa forma, os estudiosos indicam que gerir a emoção torna-se uma
estratégia para o crescimento emocional e intelectual.
Geofroy (2017) foi o único pesquisador a citar especificamente os termos usados pelos
precursores do conceito de Inteligência Emocional, citando Mayer e Salovey (1997) e
Goleman (2006). Os demais artigos trouxeram conceitos não estabelecidos na literatura, mas
que estão ligados a uma visão de que inteligência emocional contribui para orientar nossos
pensamentos e ações.
O artigo de Rodriguez, Hernandez e Paredes (2013) apresentou com maior
proximidade as quatro principais dimensões da Inteligência Emocional, considerando a
autoconsciência, a autogestão (citando controle de impulsos, persistência e zelo), a
consciência social (citando a empatia) e a gestão de relacionamentos como sendo uma
habilidade social.
Em relação à Gestão do Conhecimento, alguns estudos não trazem um conceito
específico, mas Rechberg (2020) conceitua a Gestão do Conhecimento de forma teórica como
sendo práticas e processos que envolvem sistemas e indivíduos, visando a organização,
desenvolvimento, gerenciamento e compartilhamento de conhecimento de forma tácita e
explícita entre as organizações, bem como dentro e fora destas, assim como entre grupos e
indivíduos.
Os autores Nanayakkara, Wickramasinghe e Samarasinghe (2018) não expõem
especificamente um conceito de Gestão do Conhecimento, mas apresentaram o conceito de
Gestão do Conhecimento Tecnológico, uma ferramenta competitiva para o âmbito
organizacional. Nanayakkara, Wickramasinghe e Samarasinghe (2019) trouxeram a ideia da

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Gestão de Desempenho, a qual se trata de uma filosofia para gerenciar o desempenho dos
indivíduos dentro de um contexto que facilita e apoia o alinhamento dos objetivos individuais
com os objetivos organizacionais.
No artigo de Magvar-Stifter (2017), intitulado “Superando barreiras emocionais para
o compartilhamento de conhecimento tácito”, mesmo não apresentando definições específicas
sobre IE e GC, explora-se em sua essência a investigação perante os processos de transferência
de conhecimento de empresas emocionalmente inteligentes, identificando, assim,
competências emocionais em empresas no Norte da Transdanúbia com métodos empíricos,
quantitativos e qualitativos.
A síntese apresentada no Quadro 3 reforça a característica interdisciplinar dos estudos
de GC já encontrados em mapeamentos anteriores sobre o campo (ELIAS, MACHADO,
2020). De um modo geral, não há uma definição única de GC ou IE mobilizadas nos artigos
analisados. Uma vez que a Inteligência Emocional é compreendida como uma habilidade de
gerenciar as próprias emoções, ela se relaciona com a Gestão do Conhecimento no sentido de
gerir melhor os processos e relacionamentos organizacionais.

Conclusões

Este estudo buscou analisar a relação entre a Inteligência Emocional e a Gestão do


Conhecimento nas organizações. Para tanto, apresentaram-se as quatro dimensões da
Inteligência Emocional (autoconsciência, autogestão, consciência social e gestão de
relacionamentos), confrontando-as com a Gestão do Conhecimento. Tendo em vista o
conjunto de artigos analisados, observou-se que a liderança possui um papel significativo
dentro da organização, já que os(as) líderes são fundamentais para a Gestão do Conhecimento
nesses ambientes, porém, para realizá-la de forma eficaz e sustentável, aponta-se para a
necessidade de que o(a) líder tenha Inteligência Emocional, uma vez que a Gestão do
Conhecimento envolve processos, tecnologias e, principalmente, pessoas.
O manual de Gestão do Conhecimento da Organização Asiática de Produtividade
(APO, 2020, p. XI) apresenta práticas e ferramentas para os processos da Gestão do
Conhecimento de identificação, criação, armazenamento, compartilhamento e aplicação do
conhecimento. O Manual traz 26 práticas e ferramentas que podem ser utilizadas visando às
etapas anteriormente relacionadas. Assistência dos pares, revisão da aprendizagem, criação de
narrativas (storytelling), espaços físicos de trabalho colaborativos, comunidades de prática
são algumas práticas e ferramentas de GC que se destacam no manual. Todas elas envolvem

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Inteligência emocional e gestão do conhecimento: uma análise de literatura 21300

pessoas e, na medida em que os ambientes sejam favoráveis e seguros para a troca, aumentam
as possibilidades de sua implementação com maior adesão e, consequentemente, sucesso.
Nesse sentido, a GC pode sofrer efeitos positivos ou negativos devido a questões como
liderança, cultura, reciprocidade, comunicação, entre outros, de modo que líderes e
funcionários(as) que tenham Inteligência Emocional contribuem para um ambiente em que as
dinâmicas organizacionais ocorrem de forma satisfatória.
O artigo, pois, apresentou uma visão geral das dinâmicas da Inteligência Emocional
em relação a Gestão do Conhecimento, trazendo como contribuição a sistematização de como
a literatura acadêmica tem mobilizado os dois temas e, ainda, apontando para o fato de que a
literatura vê uma confluência positiva entre GC e IE, na qual a gestão das emoções é aliada
das ferramentas e dos processos de GC, contribuindo para o sucesso das organizações.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal


de Nível Superior – Brasil (CAPES) e Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação
ICETI.

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Submetido em: 10.11.2023


Aceito em: 11.12.2023

Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 12, 2023, p. 21285-21303.

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