Arritmias, Síncope e PCR

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Pediatria

Arritmias, Síncope e PCR

Pediatria

PEDIATRIA

ARRITMIAS, SÍNCOPE E
PCR
Pediatria
Arritmias, Síncope e PCR

ÍNDICE

PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA 5

- INTRODUÇÃO 5

- RECONHECIMENTO DA PCR 6

- PCR CONFIRMADA! E AGORA? 8

- CARRINHO DE PARADA CHEGOU, E AGORA? 18

- O PACIENTE VOLTOU, E AGORA? 24

- VIA AÉREA NO PALS E PRINCÍPIOS DE 25


VENTILAÇÃO MECÂNICA EM PEDIATRIA

BRADICARDIAS NA PEDIATRIA 28

- PACIENTE PEDIÁTRICO COM FC <60 BPM É 28


SEMPRE PCR?

TAQUICARDIA SUPRAVENTRICULAR 32

MORTE SÚBITA NA INFÂNCIA 34

- INTRODUÇÃO 35

BRUE/ALTE 35

- DEFINIÇÃO 35

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- DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS 36

- FATORES DE RISCO 37

- MANEJO 39

SÍNDROME DA MORTE SÚBITA DO LACTENTE 40

- FISIOPATOLOGIA 40

- FATORES DE RISCO 41

- RECOMENDAÇÕES 43

CRISE DE PERDA DE FÔLEGO 43

- CLASSIFICAÇÃO 44

- DIAGNÓSTICO 45

- TRATAMENTO 46

SÍNCOPE 47

- ETIOLOGIA 47

- DIAGNÓSTICO 49

- EXAMES COMPLEMENTARES 51

- TRATAMENTO 52

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ENGASGO / ASPIRAÇÃO DE CORPO ESTRANHO 53

- MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 53

- EXAMES COMPLEMENTARES 54

- TRATAMENTO 55

CONCLUSÃO 57

Bibliografia 58

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PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA

INTRODUÇÃO

Olá, pessoal! Sejam todos muito bem-vindos a um cenário em Pediatria


com o qual nunca esperamos nos deparar, mas para o qual precisamos
estar muito bem preparados a fim de atuarmos de forma correta e
assertiva: a criança gravemente doente com evolução para situações de
colapso. Vamos juntos descomplicar esse tema e sistematizar esse
atendimento para que tenhamos segurança e eficácia diante dessas
situações.

Desde o início da nossa graduação, somos introduzidos aos poucos a


situações de parada cardiorrespiratória (PCR), mesmo que de formas
muito distantes, como na fisiologia do sistema circulatório, farmacologia
de medicações que podem auxiliar na reanimação, bioquímica de
receptores que atuam nosso sistema nervoso e certas medicações, entre
outros.

Porém, é no internato que entraremos em contato realmente com a


prática da reanimação pediátrica e é fundamental que tenhamos preparo
para saber como agir, ocupar nosso espaço e, principalmente, termos
conhecimento para entendermos o que está acontecendo e
conseguirmos generalizar para outros momentos em que estaremos
expostos.

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Alguns cursos nos guiam para esse preparo de forma eficaz, como o ACLS
(Advanced Cardiac Life Support) na reanimação de adulto e o PALS
(Pediatric Advanced Life Support) na reanimação pediátrica.

A PCR na Pediatria tem suas particularidades tanto na sua instalação


quanto na sua condução. Seu estudo é importante para sistematizarmos
o atendimento e conseguirmos atuar imediatamente e
coordenadamente com toda a equipe de atendimento.

RECONHECIMENTO DA PCR

É importante nos lembrarmos de que a parada cardiorrespiratória pode


ocorrer em qualquer ambiente, tanto extra-hospitalar quanto intra-
hospitalar e ainda, dentro do hospital, em diversos cenários, como
enfermaria, pronto socorro, emergência e unidade de terapia intensiva.
Portanto, nosso treinamento é indispensável e uma equipe bem
preparada é fundamental.

1. Ao nos depararmos com uma possível PCR devemos garantir a


segurança da cena. Afastar possíveis causadores de lesões, assegurar
que o ambiente está adequado para realização de manobras de
reanimação, afastar o excesso de pessoas e também garantir a nossa
própria segurança.

1. O próximo passo é verificar a responsividade da criança. Para isso


fazemos um estímulo tátil e verbal chamando-a em voz alta e tocando
em seus ombros. Caso não haja resposta, devemos solicitar ajuda e,
caso julgue adequado, acionar a emergência pelo telefone.

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1. Imediatamente após, avaliamos respiração e pulso - tal verificação


não deve demorar mais do que 10 segundos para que a reanimação
não atrase e tais sinais devem ser vistos simultaneamente. Respiração:
observar a expansibilidade do tórax. Pulso: devemos nos atentar à
idade da criança para palpação do pulso. Veja:

Em bebês:

Figura: Verificação do pulso. Em bebês, procure o pulso braquial. Fonte: PALS 2020.

Em crianças maiores de 1 ano:

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Figura: Verificação do pulso. Em uma criança, procure o pulso carotídeo (imagem à

esquerda) ou o pulso femoral (imagem à direita). Fonte: PALS 2020.

Imagem 3. Formas de checar o pulso em crianças. Na imagem superior, checagem do

pulso central braquial, indicada para lactentes, Na imagem inferior, checagem do pulso

carotídeo. Fonte: Shutterstock.

PCR CONFIRMADA! E AGORA?

Reconhecida a PCR, iniciamos imediatamente o algoritmo da RCP. Na


faixa etária pediátrica, vale lembrar que a principal causa de parada

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cardiorrespiratória é a HIPÓXIA ainda assim, preconiza-se a sequência C-


A-B, dando ênfase às compressões torácicas.
Para o sucesso de uma reanimação, precisamos realizar uma RCP de alta
qualidade, certo? Para tal, devemos ter em mente alguns conceitos muito
importantes:

• Manter o paciente em uma superfície rígida e plana;

• Posicionamento adequado para a realização das compressões:

◦ Em crianças menores de 1 ano:

▪ 1 socorrista: usar técnica dos 2 dedos, no centro do tórax, logo abaixo da


linha mamilar na metade inferior do esterno

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Imagem 4. Técnica dos 2 dedos. Fonte: Shutterstock / PALS 2020.

▪ 2 socorristas: usar técnica dos 2 polegares, no centro do tórax,


logo abaixo da linha mamilar;

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Imagem 5. Técnica dos 2 polegares. Fonte: Shutterstock/PALS 2020.

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◦ Em crianças maiores de 1 ano:

▪ Utilizaremos a técnica convencional: duas mãos sobre a


metade inferior do esterno. Existe também a opção de
comprimir com apenas uma mão, também na metade inferior
do esterno.

Imagem 6. Técnica convencional de RCP. Fonte: Shutterstock.

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• Compressões efetivas

◦ Compressão de pelo menos ⅓ do diâmetro anteroposterior do tórax:

▪ Em média de 4 cm em menores de 1 ano e 5 cm em maiores de 1 ano;

◦ Frequência de 100-120 compressões por minuto;

◦ Permitir retorno total do tórax;

• Coordenação entre compressão e ventilação:

◦ Para lactentes e crianças até a puberdade

▪ 1 socorrista: 30 compressões para 2 ventilações;

▪ 2 socorristas: 15 compressões para 2 ventilações;

Atenção: Em adolescentes (após início da puberdade) e adultos: 30


compressões para 2 ventilações com 1 ou 2 socorristas.

• Minimizar as interrupções nas compressões por no máximo 10


segundos.

Além das compressões de qualidade, é necessário - enquanto essas são


realizadas - o fornecimento de oxigênio a 100% por meio do dispositivo
bolsa-válvula-máscara (mais conhecido como AMBU), monitorização
cardíaca, oxímetro de pulso e um acesso venoso periférico.

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Dando continuidade ao algoritmo, enquanto mantemos as compressões


(“C”), passamos para o “A”, que avalia as vias aéreas. Nesse momento,
devemos retificar a via aérea da criança com as manobras de elevação do
queixo e anteriorização da mandíbula. Além disso, devemos colocar um
coxim para facilitar o posicionamento. Em crianças menores de 1 ano,
deve ser colocado na região dos ombros e em crianças maiores de 1 ano,
na região occipital.

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Figura. Instalação do coxim na região dos ombros, para pacientes menores de 1 ano

(imagem à esquerda), e instalação do coxim sobre o occipício, para pacientes maiores de

1 ano (imagem à direita). Fonte: PALS 2020.

A assistência à ventilação, considerando que estamos em ambiente


hospitalar, deve ser realizada - inicialmente - com o dispositivo bolsa-
válvula-máscara, sendo ofertado oxigênio a 100% de FiO2. Para a
adequada oferta, devemos escolher uma máscara de tamanho adequado
para o paciente, cobrindo desde a ponte nasal até o queixo.

Uma vez com o dispositivo completo (AMBU + máscara adequada),


utilizamos a técnica do “C-E” para a correta vedação da máscara à face.
Nessa técnica, os dedos polegar e indicador foram o “C” sobre a máscara.
Os terceiro, quarto e quinto dedos foram o “E”, tracionando a mandíbula.
Na presença de 2 profissionais assistindo à ventilação, a vedação
completa da máscara deve ser realizada por um profissional, enquanto o
outro promove as ventilações, conforme as imagens abaixo.

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Imagem 8. Técnicas de ventilação com dispositivo bolsa-válvula-máscara (BVM) conforme

o número de profissionais assistindo a ventilação. (A): técnica do "C"e "E". (B): técnica de

ventilação com 2 profissionais (à esquerda) e com 1 profissional (à direita). Fonte:

Adaptado de: Tratado de Pediatria da SBP - 5a edição.

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Até esse momento, estamos oferecendo ao paciente a RCP de qualidade:


compressões torácicas efetivas e ininterruptas e ventilação adequada.
Mantemos esse fluxo até que o monitor cardíaco ou DEA seja instalado e -
com isso - possamos avaliar o ritmo cardíaco. A partir desse ponto, damos
início a uma nova etapa do fluxograma: a ressuscitação avançada.

RESUMINDO:

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CARRINHO DE PARADA CHEGOU, E AGORA?

A partir do momento em que o carrinho de parada está disponível,


interrompe-se as compressões e checa-se o pulso e o ritmo cardíaco no
monitor. Avaliamos - baseado no traçado cardíaco - se estamos lidando
com uma PCR por um ritmo chocável (fibrilação ventricular ou
taquicardia ventricular sem pulso) ou por um ritmo não chocáve l
(assistolia ou atividade elétrica sem pulso).

Imagem 9. Taquicardia ventricular sem pulso (TVSP). Fonte: PALS.

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Imagem 10. Fibrilação ventricular (FV). Fonte: PALS.

Imagem 11. Atividade elétrica sem pulso (AESP). Fonte: PALS.

Imagem 12. Assistolia. Fonte: PALS.

RITMO CHOCÁVEL

Frente a um ritmo chocável (FV ou TVSP), está indicada a desfibrilação


(choque NÃO SINCRONIZADO). A dose inicial da desfibrilação é de 2 J/
Kg. Caso não haja reversão, aumentamos a carga para 4 J/Kg na segunda
tentativa, até o máximo de 10 J/Kg.

Para a aplicação do choque, pode-se utilizar as pás autoadesivas


(preferíveis por serem fáceis de aplicar e reduzir o risco de faíscas de
corrente) ou as pás manuais. Quando forem utilizar essa última, devemos
escolher o tamanho da pá de acordo com o peso/idade da criança.

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Atenção: quando o desfibrilador manual não está disponível, pode-se


utilizar o DEA com pá pediátrica para crianças menores de 8 anos. Caso
não haja a pá pediátrica, utiliza-se a pá de adulto em menores de 8 anos
(exceto no período neonatal)

Aplique as pás de modo que o coração fique entre elas: uma pá no lado
superior direito do tórax (abaixo da clavícula direita) e a outra à esquerda
do mamilo esquerdo (na linha axilar anterior). As pás não podem se
tocar, ok? Deixe - pelo menos - 3 cm entre elas.

Após a aplicação do choque (lembre-se de avisar toda a equipe antes


de aplicá-lo!), as compressões torácicas devem ser reiniciadas
IMEDIATAMENTE e mantidas - junto com as ventilações - até completar
um ciclo de 2 minutos. Checa-se novamente o pulso e o ritmo. Se o
paciente retomar a circulação, indicaremos os cuidados pós-parada. Caso
ele continue em PCR e com ritmo chocável, indicaremos o segundo
choque com carga de 4 J/Kg.

Além da desfibrilação, a partir do segundo choque indica-se a adrenalina,


que pode ser realizada endotraqueal ou endovenosa.

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Após um novo ciclo de 2 minutos, checa-se pulso e ritmo. Caso haja


persistência da PCR e do ritmo chocável, indica-se o terceiro choque (6 J/
Kg) e a realização de um antiarrítmico: amiodarona ou lidocaína.

A partir desse momento, o algoritmo se repete até a retomada da


circulação OU a determinação da parada da RCP. Veja abaixo, até esse
momento, o fluxograma retirado do PALS:

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Imagem 13. Algoritmo de reanimação nos ritmos chocáveis. Fonte: Adaptado de: PALS

2020.

RITMO NÃO CHOCÁVEL

Vamos agora para os ritmos não chocáveis: atividade elétrica sem pulso
(AESP) e assistolia. Nesses ritmos não há indicação de desfibrilação.
Iremos realizar as compressões torácicas de alta qualidade, associadas à
ventilação, e administrar a adrenalina a cada 3-5 minutos. Diferentemente
dos ritmos chocáveis, aqui não realizaremos os antiarrítmicos
(amiodarona ou lidocaína).

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Frente a qualquer caso de parada cardiorespiratória, precisamos


investigar e tratar as principais causas reversíveis: os 6 Hs e 5 Ts.

O PACIENTE VOLTOU, E AGORA?

Após o retorno da circulação espontânea (RCE), é hora de darmos uma


ajeitada na situação. Os cuidados pós-parada são tão importantes quanto
os passos anteriores. Nesse momento iremos adotar uma abordagem
sistemática de avaliação, identificação e intervenção sobre os diversos
sistemas: respiratório, cardiovascular e neurológico.

De forma geral, iremos otimizar a oxigenação (mantendo saturação de


oxigênio acima de 94%) para reduzir o risco de lesão por reperfusão;
providenciaremos via aérea definitiva ou avaliaremos posicionamento do
tubo endotraqueal (se o paciente já estiver intubado); manteremos
suporte hemodinâmico (iniciar drogas vasoativas caso necessário);

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evitaremos hipotensão arterial; corrigiremos possíveis distúrbios


hidroeletrolíticos; manteremos normoglicemia e normotermia.

VIA AÉREA NO PALS E PRINCÍPIOS DE VENTILAÇÃO


MECÂNICA EM PEDIATRIA

Durante o atendimento do paciente com parada cardiorespiratória,


seguindo os algoritmos acima, a via aérea é uma questão de extrema
importância, principalmente na faixa etária pediátrica a qual a principal
causa de PCR é a hipóxia.

Existem diferentes dispositivos que podem ser utilizados na PCR para


garantir a via aérea: a cânula orofaríngea (o famoso Guedel - utilizada
apenas em pacientes inconscientes); a cânula nasofaríngea e a máscara
laríngea.

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Por fim, temos a intubação orotraqueal. Para a realização dessa, devemos


escolher adequadamente os materiais necessários. Em relação à lâmina
do laringoscópio, utilizamos a reta em menores de 4 anos (lembrem-se
que pinçamos a epiglote) e a curva em maiores de 4 anos.

Imagem 15. diferença de técnica para intubação orotraqueal com lâmina reta (Miller)

versus curva (Macintosh). Fonte: Szpilman, David: Via aérea básica e avançada - acesso,

permeabilização e cuidados. Protocolos do Centro de Terapia Intensiva; Hospital

Municipal Miguel Couto

Em relação ao tamanho do tubo endotraqueal, utilizaremos as seguintes


regrinhas para crianças de 2 a 10 anos:

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Uma vez realizada a intubação orotraqueal, precisamos avaliar se a cânula


está bem posicionada. Para isso podemos avaliar a expansibilidade
torácica (avaliar se está simétrica), auscultar os campos pulmonares e
estômago, avaliar a oximetria de pulso e - o padrão ouro - a capnografia
em forma de onda.

Em casos de deterioração aguda de um paciente ventilado


mecanicamente, lembre-se do mnemônico “DOPE”.

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BRADICARDIAS NA PEDIATRIA

PACIENTE PEDIÁTRICO COM FC <60 BPM É SEMPRE


PCR?

A definição de bradicardia é uma frequência abaixo do esperado para a


faixa etária. Confiram na tabela abaixo os valores de referência para o
paciente pediátrico, de acordo com a idade.

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Diante de um paciente pediátrico bradicárdico, a primeira coisa que a


gente precisa avaliar é se essa criança apresenta sinais de perfusão
deficiente apesar da ventilação e oxigenação adequadas. Tais sinais
incluem:

Existe uma máxima em Pediatria que fala que se o paciente tiver FC


abaixo de 60bpm, comece já a comprimir! Será que isso é verdade
mesmo? A resposta é simples: NÃO!

Caso esses sinais acima estejam presentes, aí sim estamos diante daquilo
que chamamos de bradicardia sintomática, que é aquela que merece a

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nossa atenção. Confira a imagem abaixo para não esquecer mais o que é
importante neste assunto

Mesmo após identificar esses sinais, a primeira conduta não vai ser a RCP!

A avaliação de uma criança em ambiente de urgência envolve a


impressão inicial de acordo com o triângulo da avaliação pediátrica que
inclui a APARÊNCIA, a RESPIRAÇÃO e a COR; um paciente com
bradicardia sintomática provavelmente vai se apresentar com uma
aparência letárgica ou desacordado, com sinaIs de taquidispneia e com
cianose ou palidez cutânea; e sempre que tivemos alterações nesses
parâmetros, o paciente deve ser levado à sala de emergência, instalado
em monitorização multiparamétrica e iniciado o atendimento seguindo a
sequência ABCDE:

Após a monitorização e avaliação do status da via aérea, nós iremos


avaliar a parte respiratória e oferecer O2 a 100% se o paciente apresentar
sinais de desconforto respiratório e, se sinais de insuficiência respiratória
ou respiração inefetiva, com pressão positiva (usando, por exemplo, o
dispositivo de bolsa-valvula-máscara).

Após isso, iremos avaliar todos os parâmetros hemodinâmicos, como


tempo de enchimento capilar, pulsos periféricos e centrais, pressão
arterial, ausculta cardíaca, frequência cardíaca e ritmo cardíaco. Devem
ser puncionados 2 acessos venosos periféricos calibrosos ou acesso
intraósseo na impossibilidade de um acesso venoso periférico rápido para
administração de drogas e fluídos

E após a estabilização inicial, devemos solicitar exames complementares


conforme a nossa hipótese diagnóstica - lembrando que a realização de
um ECG para identificação de potenciais bloqueios cardíacos é

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fundamental para a condução de um paciente bradicárdico! Além disso, a


triagem para intoxicações exógenas também é importante nestes casos.

Observe o fluxograma abaixo para a condução do nosso paciente:

Imagem. Fluxograma de atendimento de uma bradicardia sintomática. Fonte: PALS 2020.

Considere que estamos diante de um paciente bradicárdico com FC


menor que 60 bpm SEM sinais de comprometimento cardiopulmonar.
Seguimos o fluxograma da esquerda: avaliar na sequência ABC sempre,
oferta oxigênio a 100% e mantém em observação até avaliação de um
especialista. Agora, caso a criança apresente sinais de comprometimento
cardiopulmonar, ou seja, sinais de choque, vamos para o lado direito do

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fluxograma. Veja bem, só vamos iniciar a RCP se for uma bradicardia com
FC menor que 60 bpm e com sinais de perfusão inadequada APESAR DE
OXIGENAÇÃO E VENTILAÇÃO ADEQUADAS! O que isso quer dizer? Que a
primeira conduta em uma bradicardia sintomática é garantir oxigenação
e ventilação! Vamos fornecer ventilação de resgate, ou seja, 1 ventilação a
cada 2 a 3 segundos (20 a 30 ventilações/minuto), até que a respiração
espontânea seja restabelecida. E por que isso? Porque a principal causa
de bradicardia sinusal sintomática na pediatria é a hipóxia! Desta forma,
se resolvermos isso, é possível que a bradicardia seja revertida. Agora, se a
bradicardia persiste, com sinais de perfusão inadequada mesmo com
ventilação e oxigenação adequada, aí sim vamos iniciar a RCP.

Isso significa que FC <60bpm com sinais de comprometimento


cardiopulmonar é uma PCR? Ainda não, mas se nós não agirmos agora,
em breve vai ser. E aí o tratamento é o mesmo de uma PCR de ritmo não
chocável: compressões torácicas de alta qualidade, ventilação e
oxigenação e adrenalina; fazemos ciclos de reanimação de 2 minutos e
após cada ciclo checamos pulso e ritmo porque o paciente pode evoluir
tanto para o RCE quanto para uma PCR.

TAQUICARDIA SUPRAVENTRICULAR

Quando pensamos em suporte avançado de vida em pediatria, devemos


ter em mente os ritmos de parada e a condução adequada conforme o
fluxograma do PALS, o manejo adequado da bradicardia sintomática e,
por fim, as taquiarritmias.

Dentro das taquiarritmias, a taquicardia supraventricular (TSV) é uma das


mais importantes e presentes na faixa etária pediátrica. Trata-se de um

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ritmo anormalmente rápido com origem acima dos ventrículos (por isso
o nome SUPRAventricular). Nas crianças, a causa mais comum da TSV é
um mecanismo de reentrada por meio de uma via acessória ou dentro
do próprio nódulo atrioventricular.
Em bebês, os sinais e sintomas mais comuns são: irritabilidade,
inapetência, taquipneia, sonolência, palidez ou cianose. Já em crianças
mais velhas, palpitações, dispneia, dor torácica ou até síncope.

Em crianças hígidas, a TSV geralmente é bem tolerável, porém - em


crianças com a função miocárdica prejudicada - pode levar à insuficiência
cardíaca ou choque.

No eletrocardiograma, temos algumas particularidades:

Fonte: PALS

Fonte: PALS 2022

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Agora que sabemos reconhecer uma TSV no ECG, precisamos tratá-la,


certo?

Inicialmente, podemos realizar manobra vagal, o que provoca - por


estimulação do nervo vago, a redução da frequência cardíaca. Em recém-
nascidos e lactentes, podemos aplicar gelo na face. Já em crianças
maiores, compressão do seio carotídeo ou manobra de Valsalva (ex: soprar
um canudo obstruído).

No insucesso da manobra vagal, indicamos a adenosina, o fármaco de


escolha para o tratamento da TSV. Ela causa depressão do automatismo e
da condução nas células nodais, bloqueando temporariamente o
estímulo através do nó atrioventricular. A dose inicial é de 0,1 mg/kg
(máximo de 6mg) na forma de bolus endovenoso rápido (como a meia
vida da medicação é de 15 segundos, precisamos garantir que a infusão
seja rápida e eficiente), seguido de uma infusão rápida de soro fisiológico.
Se não houver efeito, a dose deverá ser dobrada: 0,2 mg/kg (máximo de 12
mg).

Um detalhe importante, o paciente deve estar com monitorização


contínua do ECG durante a infusão da medicação. Precisamos registrar
no ECG a resolução da arritmia, ok?

MORTE SÚBITA NA INFÂNCIA

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INTRODUÇÃO

Embora assustadores, os eventos de morte súbita ou similares na infância


são cada vez mais raros. Além disso, a constante atualização das equipes
de cardiologia, terapia intensiva e emergência pediátrica na identificação
de fatores associados e manejo precoce de tais eventos implica em
melhora do prognóstico global dos pacientes sujeitos a tais eventos. Bora
revisar quais são as principais etiologias de eventos de morte súbita na
infância?

BRUE/ALTE

Em 2016, a Academia Americana de Pediatria (AAP) criou o termo BRUE


(brief resolved unexplained event ou evento inexplicável breve resolvido)
para substituir o antigo ALTE (apparent life-threatening event ou evento
com risco aparente de morte). A grande motivação para a criação da
nova terminologia foi a imprecisão dos critérios diagnósticos de ALTE. Ou
seja, na prática era extremamente difícil fechar o diagnóstico.

DEFINIÇÃO

O termo BRUE é utilizado quando ocorre, em uma criança de até 1 ano,


um evento súbito, breve (até um minuto, mas geralmente em 20-30

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segundos) e já resolvido (ao chegar no hospital) com pelo menos uma


das seguintes características:

• Cianose ou palidez;

• Esforço respiratório ausente, diminuído ou irregular;

• Alteração do tônus muscular (hiper ou hipotonia);

• Alteração da responsividade.

O BRUE só pode ser classificado se não pudermos encontrar uma causa


para o evento após a anamnese e o exame físico muito detalhados.
Percebam que se trata de um diagnóstico de exclusão, ok?

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS

Como foi dito, precisamos - antes de caracterizar BRUE - excluir outras


causas que possam explicar o evento. Dessa forma, existem alguns
diagnósticos diferenciais muito importantes que devem ser pensados
antes de sairmos titulando as crianças como BRUE.

PED 36
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Tabela 1. Diagnósticos diferenciais de BRUE. Fonte: adaptado de: Brief Resolved

Unexplained Events (Formerly Apparent Life-Threatening Events) and Evaluation of

Lower-Risk Infants. Joel S. Tieder, Joshua L. Bonkowsky, Ruth A. Etzel, Wayne H. Franklin,

David A. Gremse, Bruce Herman, Eliot S. Katz, Leonard R. Krilov, J. Lawrence Merritt, Chuck

Norlin, Jack Percelay, Robert E. Sapién, Richard N. Shiffman, Michael B.H. Smith, for the

SUBCOMMITTEE ON APPARENT LIFE THREATENING EVENTS. Pediatrics May 2016, 137 (5)

e20160590; DOI: 10.1542/peds.2016-0590

Percebam quantos diagnósticos diferenciais podemos fazer com BRUE.


Por isso, a anamnese e o exame físico devem ser muito detalhados para
que possamos caracterizar qualquer outra doença antes de lançarmos o
diagnóstico de BRUE.

FATORES DE RISCO

PED 37
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Além da definição, a AAP identificou - em pacientes com BRUE - fatores


de risco para a presença de doença grave oculta ou recorrência do
episódio.

A literatura mostra que, para pacientes de baixo risco, a maior parte dos
exames complementares (laboratoriais ou de imagem) não é necessária.
Esses exames, além de encarecer o atendimento, geram ansiedade nos
pais e aumentam o risco de infecções associadas às hospitalizações.

PED 38
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MANEJO

Nos casos de BRUE de baixo risco, recomenda-se observação por um


período de até 4 horas, com oximetria de pulso contínua e exame físico e
sinais vitais seriados. Considera-se alta hospitalar se o paciente se
mantiver sem sintomas e se for possível uma reavaliação precoce.

Nos casos de BRUE de alto risco, apesar de não haver uma diretriz
sistematizada, recomenda-se:

• Observação em leito hospitalar por pelo menos 4 horas;

• Eletrocardiograma;

• Exames laboratoriais (hemograma, glicemia, gasometria);

• Pesquisa de vírus respiratórios (incluindo o VSR);

• Teste para coqueluche (Bordetella pertussis);

• Rastreio de maus-tratos;

• Rastreio de intoxicação.

Resumindo…

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Quadro 1. Resumo - BRUE. Fonte: Acervo Medway.

SÍNDROME DA MORTE SÚBITA DO


LACTENTE

A síndrome da morte súbita do lactente (SMSL) é definida como a morte


súbita de lactente com menos de 1 ano de idade, que permanece
inexplicada após investigação detalhada do caso (incluindo autópsia,
investigação do local da morte e revisão da história clínica).

FISIOPATOLOGIA

PED 40
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Apesar de muitos estudos nos últimos anos, a etiologia da SMSL ainda é


desconhecida. Existe um modelo denominado Risco Triplo que ajuda a
entender os diversos fatores causadores da síndrome. De acordo com
esse modelo (que ainda não é totalmente validado), a morte súbita ocorre
por combinação de 3 fatores:

Tabela 2. Modelo de risco triplo para a SMSL. Fonte: adaptado de: Síndrome da Morte

Súbita do Lactente - Sociedade Brasileira de Pediatria (https://www.sbp.com.br/fileadmin/

user_upload/20226d-DocCient_-_Sindrome_Morte_Subita_do_Lactente.pdf)

Ou seja, a morte ocorre por uma falha em mecanismos protetores contra


evento de risco durante o sono no lactente vulnerável, durante um
período de desenvolvimento crítico.

FATORES DE RISCO

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Arritmias, Síncope e PCR

Chegamos ao tema das principais questões de residência sobre a SMSL.


Existem diversos fatores de risco associados à síndrome, porém alguns
merecem destaque:

• DORMIR EM POSIÇÃO PRONA (barriga para baixo) ou LATERAL →


PRINCIPAL;

• Partilhar cama com os pais → principalmente em lactentes com < 12


semanas;

• Tabagismo → tanto pré-natal quanto pós-natal;

• Doença mental materna ou abuso de substâncias pela mãe.

Tabela 3. Fatores de risco para SMSL. Fonte: adaptado de: Síndrome da Morte Súbita do

Lactente - Sociedade Brasileira de Pediatria (https://www.sbp.com.br/fileadmin/

user_upload/20226d-DocCient_-_Sindrome_Morte_Subita_do_Lactente.pdf)

Uma curiosidade - ainda não muito bem explicada - é o fator protetor da


chupeta na SMSL.

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RECOMENDAÇÕES

Baseado na literatura, foi proposto pela American Academy of Pediatrics


uma série de recomendações para que a SMSL seja evitada:

Quadro 2. Recomendações para evitar a SMSL. Fonte: adaptado de: Síndrome da Morte

Súbita do Lactente - Sociedade Brasileira de Pediatria (https://www.sbp.com.br/fileadmin/

user_upload/20226d-DocCient_-_Sindrome_Morte_Subita_do_Lactente.pdf)

CRISE DE PERDA DE FÔLEGO

A crise de perda de fôlego é caracterizada por um episódio de apneia e


cianose que ocorre - involuntariamente - após choro intenso. Muitas vezes

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o gatilho para essa manifestação é uma situação de contrariedade, medo,


susto ou trauma leve.

Essas crises são consideradas como eventos paroxísticos, não epilépticos


e INVOLUNTÁRIOS que podem ocorrer durante a infância. Iniciam-se
mais frequentemente entre os 6 e 12 meses, podendo ocorrer até os 3-4
anos de idade.

CLASSIFICAÇÃO

Podemos classificar uma crise de fôlego em dois tipos: a forma


CIANÓTICA e a forma PÁLIDA.

A forma cianótica - a mais comum - sempre ocorre após um fator


desencadeante emocional, como frustração, medo ou raiva. Nesse tipo a
criança chora, prende a respiração (sem que necessariamente tenha
noção disso) até o surgimento da cianose, apneia e/ou perda da
consciência.

A forma pálida, por sua vez, ocorre de maneira súbita após um estímulo
desagradável, como um pequeno trauma. O estímulo vagal - causado
pelo estímulo - promove redução muito importante da frequência
cardíaca. A criança para de respirar, perde rapidamente a consciência, fica
pálida e hipotônica.

As duas formas podem evoluir com perda da consciência, hipotonia


global e movimentos clônicos, confundindo-as com uma crise convulsiva.

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DIAGNÓSTICO

Não há nenhum exame diagnóstico que confirme a crise de perda de


fôlego. O grande desafio desse diagnóstico é diferenciar o evento de uma
crise convulsiva. Por isso, deve-se realizar uma anamnese cuidadosa,
tentando explorar todos os detalhes da situação.

Além disso, devemos também - a depender do caso - considerar outras


causas de síncope e cianose, principalmente as causas cardíacas (ex: crise
hipoxêmica na tetralogia de Fallot, síndrome do QT Longo).

Como diagnóstico diferencial, destaca-se a crise hipoxêmica que ocorre


nos pacientes com cardiopatia congênita cianogênica por obstrução da
via de saída do ventrículo direito - com destaque para a famosa
Tetralogia de Fallot (T4F). Nos pacientes com T4F, essas crises são
caracterizadas como taquipneia, agitação (pela hipóxia) e agravamento
ou surgimento da cianose. Percebam que pode ser muito difícil
diferenciar essa situação de uma crise de perda de fôlego. A crise
hipoxêmica ocorre por um espasmo na musculatura infundibular, o que
piora a obstrução da via de saída do ventrículo direito, reduzindo o fluxo
de sangue pela artéria pulmonar. Para tratar a crise, a criança deve
assumir a posição genupeitoral (aumenta a resistência vascular sistêmica,
diminuindo a passagem de sangue do lado direito para o esquerdo,
melhorando a hipóxia). Em ambiente hospitalar, ofereceremos oxigênio,
morfina (relaxa o infundíbulo e melhora a obstrução) e betabloqueador
(aumenta o tempo diastólico, aumentando o débito cardíaco).

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TRATAMENTO

O prognóstico das crianças com crise de perda de fôlego é excelente, já


que geralmente as crises remitem por volta dos 4 anos de idade e o
desenvolvimento neurológico é normal.

Curiosamente, foi notado que há uma associação muito significativa


entre a anemia ferropriva e a crise de perda de fôlego. Por isso, é

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recomendável a suplementação com ferro sérico em pacientes com


anemia ferropriva e/ou deficiência de ferro.

Além disso, como as crises são consideradas como eventos NÃO


EPILÉPTICOS, não há indicação de medicamentos anticonvulsivantes.

O tratamento - então - baseia-se nas orientações adequadas aos pais e


suplementação de ferro (quando houver indícios de deficiência de ferro).
Alguns estudos indicam o uso do piracetam em pacientes com crises
generalizadas tônicas ou tônico-clônicas após episódios de perda de
fôlego.

SÍNCOPE

Síncope pode ser definida como a perda abrupta e breve da consciência e


do tônus postural com retorno espontâneo dos sintomas. Isso acontece
devido à uma hipoperfusão cerebral transitória (quando há queda do
fluxo cerebral maior que 30-50% do basal) que ocorre por redução do
débito cardíaco.

A síncope ocorre em até 15% das crianças e ocorre mais comumente no


sexo feminino e geralmente após os 6 anos de idade, com pico de
incidência entre 15 e 19 anos. É importante ressaltar que a grande
maioria das síncopes são benignas.

ETIOLOGIA

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Podemos dividir a causa da síncope em 3 grupos: as autonômicas (80%


das causas), cardiogênicas e outras causas.

Nas síncopes autonômicas ocorre - após um evento desencadeante - um


estímulo simpático seguido por sinais clínicos de hiperativação
parassimpática. Ou seja, depois de estímulo simpático (mudança de
decúbito, medo, ansiedade, dor) ocorre estímulo ainda mais acentuado
do sistema parassimpático, gerando hipotensão, bradicardia e
consequentemente hipoperfusão cerebral. Nesse subtipo de síncope, a
recuperação da consciência é rápida e podem ocorrer movimentos
tônico-clônicos e liberação esfincteriana, o que pode confundir com crise
convulsiva. Uma característica relevante é que há história familiar
presente em mais de 90% dos casos.

As síncopes cardiogênicas, apesar de pouco comuns, são as causas mais


graves, podendo ter a morte súbita como desfecho final. De forma geral,
esse tipo de síncope é causada ou por uma lesão estrutural cardíaca
(estenose aórtica grave e miocardiopatia hipertrófica como principais
exemplos) ou por arritmias (ex.: síndrome de Wolff-Parkinson-White,
síndrome do QT longo e síndrome de Brugada). Na faixa etária pediátrica
uma das principais arritmias associadas à síncope é a taquicardia
supraventricular.

Por fim, existem algumas outras causas de síncope que merecem ser
destacadas aqui:

• Hipotensão postural: queda da PA sistólica >= 20 mmHg ou a diastólica


>= 10 mmHg ao mudar da posição supina para a ortostase;

• Crise de perda de fôlego: pausa respiratória após uma crise de choro;

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• Hipoglicemia;

• Desordens conversíveis;

• Enxaqueca basilar: perda de consciência por espasmo vascular


vertebrobasilar;

• Intoxicação;

• Gravidez (mais comum no terceiro trimestre de gestação e pode estar


associada à gestação ectópica, embolia pulmonar e alterações
cardíacas relacionadas à gravidez);

• Narcolepsia: pode ocorrer cataplexia (perda súbita e reversível do tônus


muscular frequentemente desencadeada por emoções desagradáveis).

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da síncope - como vocês devem imaginar - não é tão fácil


de ser realizado. Para que possamos fechar o diagnóstico, precisamos de
anamnese e exame físico muito bem detalhados.

Na anamnese, alguns pontos precisam ser avaliados, sendo eles: detalhes


do ambiente, a posição do paciente no momento anterior à síncope,
presença de aura ou sinais neurológicos focais, prática de atividade física,
tempo de duração e se houve recuperação completa da consciência,
presença de pródromos ou gatilhos. Além disso devemos investigar
antecedentes de doenças cardíacas (sopros, cardiopatia congênita,
doenças cardíacas adquiridas ou arritmias), uso de medicações
(lembrando que a intoxicação pode provocar síncope) e antecedentes

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familiares (história familiar de morte súbita precoce ou síncope


autonômica, arritmias, cardiomiopatia familiar).

Já no exame físico, devemos avaliar a existência de hipotensão ortostática


(aferir pressão arterial com o paciente deitado e 3-5 minutos após se
levantar), alterações na ausculta cardíaca (sopros, atritos e outros
achados diferentes do habitual) e realizar exame neurológico completo.

O grande objetivo da anamnese e do exame físico é avaliarmos a


presença dos SINAIS DE ALERTA. A presença de algum desses sinais nos
direciona para causas de maior gravidade e que requerem maior cuidado
durante a condução do caso.

Quadro 2. Sinais de alerta na avaliação de um paciente com síncope. Fonte:

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Com uma boa anamnese e exame físico detalhado pode-se fechar o


diagnóstico em até 77% dos casos, sem a necessidade de exames
complementares.

EXAMES COMPLEMENTARES

Em relação aos exames complementares, devemos solicitá-los frente a


alguma suspeita específica. Não há indicação de exames sem uma causa
justificável. O único exame que deve ser solicitado - na avaliação inicial -
em todos os casos é o eletrocardiograma. Lembrem-se de que - apesar
de incomum - a síncope cardiogênica é a mais grave, motivo pela qual
devemos afastar essa possibilidade.

Frente à suspeita de síncope cardiogênica (presença dos sinais de alerta)


precisamos aprofundar a investigação. Por isso, o encaminhamento para
um especialista é essencial. Alguns exames que podem ser realizados
nesses casos são o ecocardiograma, teste ergométrico e o holter 24 horas.

Outro exame que pode ser solicitado para avaliação da síncope,


principalmente na suspeita de causa autonômica é o TILT TEST. Nesse
teste o paciente é submetido à manobras que estimulam reflexo
parassimpático (manobra de valsalva, gelo na face, respiração profunda) e
- a seguir - levantado pela mesa até a posição 70º, quando é realizado
ECG e aferido a pressão arterial. É considerado positivo se o paciente
apresentar sintomas ou se ocorrer queda da pressão arterial maior que
30% em relação ao nível basal. O retorno do paciente à posição supina
resolve a sintomatologia. Esse exame é indicado quando houver: síncope
recorrente, síncope única em ambiente de risco ou síncope associada a
exercício. É importante ressaltar que existem contraindicações para a

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realização do exame: estenose aórtica ou mitral graves, doença


coronariana ou cerebrovascular críticas.

Figura 1. Exemplificação do TILT TEST. Fonte: Shutterstock.

TRATAMENTO

O tratamento apropriado dos episódios de síncope requer


reconhecimento adequado sobre a causa da síncope.

O principal pilar para o tratamento das síncopes é a educação do paciente


e de seus familiares. Deve ser explicado sobre a benignidade dos eventos
(desde que tenhamos descartados as causas graves, certo?). Orientamos
ao paciente o reconhecimento dos estímulos desencadeantes e como
agir quando sentir os pródromos. Recomenda-se também o aumento da
ingesta hídrica (em torno de 2 litros/dia) e de sal (10 gramas/dia), técnicas
que aumentem o retorno venoso (tilt training) e a redução da ingesta de
bebidas com cafeína. Tais medidas resolvem até 90% dos casos.

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Em alguns casos de episódios recorrentes, pode-se indicar algumas


medicações: mineralocorticoides (aumentam a reabsorção de água e
sódio, aumentando com isso o volume intravascular) e agonistas alfa-
adrenérgicos (causam vasoconstrição periférica).

Nas síncopes de causa cardiogênicas, devemos encaminhar o paciente


para o especialista para a correta investigação e conduta.

ENGASGO / ASPIRAÇÃO DE CORPO


ESTRANHO

A aspiração de corpo estranho é um evento potencialmente grave e fatal,


exigindo tomada de conduta rápida e efetiva. A grande maioria dos
acidentes ocorre em pré-escolares, sendo o pico de incidência entre 1 e 3
anos. Os principais objetos envolvidos nos acidentes são alimentos e
objetos pequenos, como feijão, milho, amendoim, pipoca, botões e
brincos.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Dependendo do objeto e do local de impactação, a clínica da aspiração


de corpo estranho pode mudar. Os achados mais comuns são:

• Histórico de engasgo/aspiração;

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• Sibilância;

• Estridor;

• Tosse;

• Diminuição do murmúrio vesicular na ausculta respiratória;

• Rouquidão;

• Desconforto respiratório.

Pode parecer, mas nem sempre é fácil fazer o diagnóstico da aspiração de


corpo estranho, principalmente quando o episódio de aspiração não é
testemunhado ou quando o paciente possui sintomas muito
inespecíficos, como apenas tosse ou até assintomáticos.

O objeto aspirado pode se alojar em diferentes locais na via aérea. O local


mais comum é no ramo principal direito do brônquio e os mais
associados à mortalidade são a laringe e a traqueia.

Os principais diagnósticos diferenciais com aspiração de corpo estranho


são: laringites agudas, crupe viral, asma, bronquiolite, pneumonia e
pneumotórax espontâneo.

EXAMES COMPLEMENTARES

O primeiro exame a ser realizado – em pacientes estáveis - é a radiografia,

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mesmo que a sensibilidade e especificidade sejam baixas. Podemos


encontrar – quando o objeto é radiotransparente - hiperinsuflação,
atelectasia ou consolidação pulmonar. Em alguns casos duvidosos, a
tomografia pode ser realizada.

Quando estamos perante um caso de forte suspeita de aspiração -


mesmo sem confirmação com outros exames complementares,
podemos lançar mão da broncoscopia.

Imagem 1. Aspiração de corpo estranho radiopaco por uma criança de 1 ano. Fonte:

UpToDate.

TRATAMENTO

Quando o paciente estiver estável, devemos encaminhá-lo para a


realização de exames complementares. Na forte suspeita de CE, podemos
direcioná-lo diretamente para a broncoscopia.

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Nos casos de obstrução da via aérea, devemos agir imediatamente:

• se o paciente estiver CONSCIENTE, indicamos as manobras de


desobstrução;

• se o paciente estiver INCONSCIENTE, indicamos a RCP.

As manobras de desobstrução dependem da idade do paciente:

Tabela 3. Manobras de desobstrução. Fonte: Acervo Medway.

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Quadro 3. Como desengasgar um bebê até 1 ano. Fonte: Acervo Medway.

Quadro 4. Como desengasgar uma criança a partir de 1 ano. Fonte: Acervo Medway.

CONCLUSÃO

O conhecimento dos fatores associados aos eventos de morte súbita na


infância é de fundamental importância para uma prática clínica de
qualidade, além de um desempenho adequado nas provas de residência.
Bora pra trilha pós reforçar esses conceitos?

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Bibliografia

REFERÊNCIAS

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Tratado de pediatria / organização Sociedade Brasileira de Pediatria. - 5. ed. - Barue

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Síndrome da Morte Súbita do Lactente - Sociedade Brasileira de Pediatria (

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