Unidade B - A Comunicação Educativa A Distância3

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Unidade B

A Comunicação Educativa a
Distância
Introdução
Na Unidade B, apresentaremos reflexões sobre o processo comu-
nicacional com o uso de múltiplas tecnologias, que se estabelece entre
os envolvidos na construção do conhecimento a distância. Para tanto,
dividimos o seu estudo em três capítulos.

No primeiro capítulo, você conhecerá algumas experiências nacio-


nais de utilização de diferentes mídias e tecnologias no processo edu-
cativo, como: o cinema, o rádio, a televisão, o computador, a teleconfe-
rência, a videoconferência e a webconferência. Tal leitura servirá como
uma preparação para as reflexões que se seguirão sobre:

• a construção do conhecimento a distância – que ocorre com a


utilização crítica e criativa das tecnologias disponíveis;

• a comunicação dialógica – que deve ser a base do processo de


ensino e aprendizagem em um sistema de EaD que pretende
promover a emancipação dos estudantes.

Então, prepare-se para entender outras facetas que envolvem esse


universo do qual você passa a fazer parte ao ingressar em um curso na
modalidade a distância. Antes de iniciar a leitura da segunda Unidade
do livro Introdução à Educação a Distância, queremos lembrá-lo, con-
tudo, de que a interatividade é importantíssima no estudo autônomo.
Sempre que surgir alguma dúvida entre em contato com a equipe do-
cente (professor e tutores) através do ambiente virtual ou procure o polo
de apoio presencial. Converse com seus colegas e organize grupos de
estudo, pois sempre é uma motivação a mais.

Bom estudo!
Múltiplas Tecnologias em Processos Educativos CAPÍTULO 04
4 Múltiplas Tecnologias em
Processos Educativos
O desenvolvimento das mídias criou o contexto da “historicidade
Se você não lembra mais
mediada”, que, para Thompson (1998), torna o passado dependente do significado da palavra
das formas simbólicas mediadas existentes e em crescente expansão. mídia, volte à Unidade A.
Vamos explicar com outras palavras: o autor quer dizer que as pessoas
estão cada vez mais chegando ao sentido dos principais acontecimen-
tos através de livros, revistas, jornais, filmes, programas televisivos e
recentemente pela internet, entre outras tantas possibilidades que
Midiatização
avultam cotidianamente.
Para esclarecer o con-
ceito de midiatização,
você precisa compre-
Mesmo que a tradição oral e a interação face a face continuem a
ender que uma pessoa
desempenhar um papel importante na elaboração da compreensão midiatiza o conheci-
do passado, a compreensão pessoal do mundo parece ser constru- mento ao codificar as
ída cada vez mais por conteúdos midiatizados. Tais conteúdos dila- mensagens e traduzi-
las sob diversas formas,
tam os horizontes espaciais, pois não é mais preciso estar presente conforme a mídia esco-
fisicamente aos lugares onde os fenômenos observados ocorrem. lhida. Um exemplo são
os materiais didáticos
elaborados por uma
equipe multidisciplinar
Em nossa interpretação, o desenvolvimento das mídias modificou para cursos de EaD, que
o sentido de pertencimento dos indivíduos, pois eles passaram a ser são disponibilizados
aos alunos em múlti-
cosmopolitas – ou cidadãos do mundo. Países, cidades e pessoas que
plas mídias.
anteriormente pareciam tão remotos, estão agora ligados a redes globais
que podem ser acessadas em “um clique” e com velocidades cada vez
mais rápidas. Contudo, também é certo que muitas dessas pessoas que
passaram a ser cosmopolitas estão ao mesmo tempo isoladas em seus
Ser cidadão do mundo e
quartos, talvez até mesmo se sentindo sozinhas. ao mesmo tempo estar
isolado em seu quarto ou
Se revisarmos historicamente a evolução da tecnologia, verificare- em sua casa parece um
paradoxo, não é mesmo?
mos que essa mudança toda teve início com a revolução eletromecânica, Você já pensou sobre isso?
que possibilitou a produção e reprodução de linguagens – com destaque Reflita sobre sua lida co-
tidiana com a tecnologia.
para a impressão, a fotografia e o cinema – e ampliou exponencialmente Quem domina: você ou a
o crescimento da complexidade da midiatização do conhecimento. Tal tecnologia? Ainda apro-
fundaremos esse assunto
crescimento ficou mais acentuado ainda com as tecnologias da revolução em outros momentos da
eletrônica – como o rádio e a televisão –, capazes de uma potência de nossa disciplina.

49
Introdução à Educação a Distância

difusão muito maior. No contexto atual, quando se vivencia a passagem


da revolução eletrônica para a revolução digital a exponenciação da com-
As tecnologias digitais plexidade da midiatização do conhecimento atinge múltiplas tecnologias
aliam as tecnologias da
informática com as tele- ao mesmo tempo e em proporções globais (SANTAELLA, 2001).
comunicações e possibi-
litam o armazenamento Em síntese, a revolução digital modificou a vida em geral: até mes-
e a transmissão de texto,
áudio, vídeo, etc., através mo as populações mais carentes precisam aprender a lidar, por exemplo,
de computadores, redes com máquinas de autoatendimento bancário para, com seu cartão mag-
e múltiplos acessórios,
como o CD, DVD, pen-dri- nético, retirar os benefícios que recebem mensalmente. Com a educação
ve, telefone celular, etc. não foi diferente: a rede de computadores subverteu a clássica noção
da comunicação de massa em que há um emissor da mensagem e um
receptor apenas e ampliou as possibilidades de comunicação midiati-
zada do conhecimento. Através da internet, o processo de construção
do conhecimento entrou em um sistema de trocas em que as pessoas
aprendem entre si e produzem uma concorrência dos diferentes pontos
de vista (LÉVY 1993, 2001). A utilização de recursos didáticos e tecno-
lógicos variados – que vão desde o ensino por correspondência, progra-
mas de rádio e TV até a divulgação de cursos interativos pela internet
– permite a construção do conhecimento a distância.
Quantas informações
em poucas linhas, não é
mesmo?
Então, faça uma pausa em
4.1 Reflexões sobre diferentes tecnologias
sua leitura e pesquise na
internet sobre o assunto.
no contexto educacional brasileiro
Você pode buscar artigos
e livros no site da Biblio- Desde o início do século XX a mídia tem sido alvo de estudo de
teca Universitária da UFSC diferenciadas correntes de análise que, em sua maioria, entendem o pro-
(www.bu.ufsc.br), onde
você também encontrará cesso comunicacional como integrador das sociedades humanas e como
o acesso ao site Periódicos o fator que possibilitará a gestão das multidões humanas (MATELLART;
e outros que permitem o
contato com textos acadê- MATELLART, 1999; BERLO, 1999). Assim, o estudo dos meios de co-
micos. Depois, partilhe o municação social passou a ocorrer sob diversos prismas: tecnológico,
resultado de seu aprofun-
damento com os colegas linguístico, histórico, educacional, entre outros. Na retrospectiva históri-
e tutores. ca sobre a introdução da mídia nos processos educativos em nosso país
(HACK, 2009, 2010), fica notório que o método que se utiliza da cor-
respondência assincrônica precedeu a forma sincrônica conseguida por
Se você não lembra mais o
meio do surgimento e da utilização de mídias, como a televisão e o rádio.
conceito de sincronismo e
o de assincronismo, volte Entretanto, é certo que atualmente tanto a sincronia quanto a assincronia
à Unidade A.
nos estudos via tecnologia são permitidas com o computador.

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Múltiplas Tecnologias em Processos Educativos CAPÍTULO 04
Então, motivados pela discussão sobre a introdução das mídias
contemporâneas no processo de ensino e aprendizagem, apresentamos
a seguir alguns exemplos do uso do cinema, do rádio, da televisão, do
computador, da teleconferência, da videoconferência e da webconferên-
cia no contexto educacional brasileiro.

4.1.1 Cinema

A relação entre cinema e educação no Brasil ganha intensidade no


início do século XX, quando diversos segmentos sociais passam a defen-
der este vínculo, como: os regimes nacionalistas, setores da Igreja Ca-
tólica e os educadores da Escola Nova. A ideia de cinema educativo era
defendida em publicações da imprensa diária, artigos de revistas especia- A Escola Nova foi um
movimento de renovação
lizadas de cinema, como também em alguns livros, como a obra de Joa- do ensino na Europa e
quim Canuto de Almeida, Cinema contra Cinema, publicada em 1931. na América, na primeira
metade do século XX. No
Brasil, o movimento era
Quando Getúlio Vargas assume o poder em 1930, ele logo percebe visto como a alternativa
a ascensão e a corrente popularização de meios de comunicação social, que possibilitaria ao país
acompanhar o desenvol-
como o rádio e o cinema. Assim, ele inicia um intenso contato com or- vimento industrial. Em
ganizações que obtiveram enorme sucesso na produção de filmes edu- obras sobre didática, você
poderá encontrar mais
cativos de caráter nacionalista na Itália (L’Unione Cinematografica Edu- informação sobre a Escola
cativa –LUCE –, criada por Mussolini com o intuito de se transformar Nova.
em um Instituto Internacional de Cinema Educativo) e na Alemanha
(Universum Film Aktien Gesellschaft – UFA –, que produzia os Kultur-
films, filmes documentais e didáticos). No início da década de 1930, os
produtores cobravam do governo brasileiro uma postura semelhante à
adotada por países europeus que priorizavam a produção nacional em
detrimento do cinema estrangeiro. Era comum encontrar elogios à po-
lítica audiovisual nacionalista de Hitler e Goebbels como uma forma de
Joseph Goebbels assumiu
legitimar algo do mesmo gênero no Brasil (HACK, 2010). o Ministério do Povo e da
Propaganda no governo
O primeiro incentivo à produção privada de filmes educativos no nazista de Adolf Hitler.
Brasil veio através do Decreto nº 21.240, de 1932. Mas a questão tomou
força em 1936, momento em que o governo de Vargas cria o Institu-
to Nacional de Cinema Educativo (INCE). O INCE foi presidido por
Edgar Roquette Pinto, que convidou o cineasta Humberto Mauro para
dirigir grande parte dos filmes produzidos pelo instituto. Para Schvarz-

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Introdução à Educação a Distância

man (2004), a filmografia de Mauro no INCE, que totalizou 357 filmes


entre 1936 e 1964, pode ser dividida em dois momentos:

• Primeiro momento – de 1936 a 1947: período que coincide


quase em sua totalidade com o Estado Novo de Getúlio Vargas,
quando o INCE estava sob a tutela de Roquette Pinto, que era a
pessoa que definia os temas. São realizados 239 filmes;

• Segundo momento – de 1947 a 1964: são produzidos 118 fil-


mes, não mais sob a influência de Roquette Pinto. A partir de
1950, o INCE perde força no cenário educativo e no próprio
governo.

Durante o período em que o INCE esteve sob a coordenação de Ro-


quette Pinto, de 1936 a 1947, os temas eram selecionados ou por deman-
da externa ou pela necessidade do governo. Segundo Schvarzman (2004),
as gravações eram feitas com o apoio de especialistas e personalidades de
destaque do estado getulista: Affonso de Taunay (Museu Paulista), Ag-
naldo Alves Filho (Instituto Pasteur), Vital Brasil, Carlos Chagas Filho e
Heitor Villa-Lobos. A autora identificou quinze categorias na produção
do INCE: 1) divulgação técnica e científica; 2) preventivo-sanitário; 3)
escolar; 4) reportagem; 5) oficial; 6) educação física; 7) vultos nacionais;
8) cultura popular e folclore; 9) riquezas naturais; 10) locais de interesse;
11) pesquisa científica; 12) artes aplicadas; 13) meio rural; 14) atividades
econômicas; 15) outros. Os filmes eram pensados para uso educacional,
mas não mostravam ligações com programas pedagógicos.

O cineasta Humberto Mauro comungava dos princípios orientado-


res da criação do INCE, que privilegiavam a necessidade de edu-
car o povo. Segundo o cineasta, o filme deveria transportar para a
tela o ambiente brasileiro, para assim disseminar os fundamentos
da nacionalidade em toda a nação, pois pelo cinema seria possível
conhecer os costumes, as riquezas e possibilidades econômicas das
diferentes regiões do Brasil. Para ele, o documentário seria o melhor
caminho para alcançar tal objetivo, já que poderia proporcionar um
intercâmbio cultural. Mauro defendia o filme educativo com arte,

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Múltiplas Tecnologias em Processos Educativos CAPÍTULO 04
sem amadorismo. Durante o período em que Humberto Mauro per-
maneceu no INCE, suas produções não foram exclusivamente de ca-
ráter pedagógico, já que defendia a produção de filmes industriais
de qualidade que poderiam ter grande alcance sobre o público e
servir à educação do povo.

No ano de 1961, o INCE passa à direção de Flávio Tambellini, que,


segundo Schvarzman (2004), remove o caráter educativo do instituto
para transformá-lo em Instituto Nacional de Cinema, em 1966, abando-
nando definitivamente a realização de filmes educativos.

4.1.2 Rádio e dispositivos de áudio

A mídia radiofônica oferece as seguintes vantagens: a) cobre uma


vasta região geográfica; b) é de fácil transporte; c) não depende da
existência de instalações de energia elétrica. Geralmente os automó-
veis possuem aparelhos de rádio que nos fazem companhia quando
ficamos algumas horas em viagens ou nos congestionamentos das
zonas urbanas. Além disso, a dona de casa, a criança, o adolescente,
a faxineira, o pedreiro; enfim, quem quiser, pode ter ao seu lado o
“radinho” como companhia em suas atividades. Afinal, o rádio está
disponível em dispositivos cada vez menores, inclusive em celulares
(HACK, 2009).

O rádio passou a ser largamente empregado no processo educativo


a distância devido à sua versatilidade e ao seu alcance. O Brasil deu seus
primeiros passos em direção à radiodifusão com finalidades educativas
em 1923, quando Edgard Roquette Pinto e um grupo de amigos fun-
daram a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. A emissora era operada
pelo Departamento de Correios e Telégrafos, que transmitia programas
de: 1) literatura; 2) radiotelegrafia e telefonia; 3) línguas; 4) literatura
infantil; 5) outras temáticas de interesse comunitário. No ano de 1936, a
emissora foi doada ao Ministério da Educação pelo seu fundador.

53
Introdução à Educação a Distância

Nas décadas de 1950 e 1960, também foram feitas experiências com


radiodifusão educativa, mas os projetos naquele período não tinham
continuidade e foram interrompidos por motivos como a falta de infra-
estrutura financeira ou administrativa e a ausência de avaliações siste-
máticas das propostas (NISKIER, 1993). Ao historiar a radiodifusão no
Brasil, Piovesan (1986) observa que a opção da erradicação do analfabe-
tismo via rádio foi tomada várias vezes no decorrer da história brasilei-
ra, como se verifica nas seguintes experiências de caráter regional:

• o Movimento de Educação de Base (MEB), em 1961;

• a Fundação Educacional Padre Landell (FEPLAN), em 1967;

• a Fundação Padre Anchieta (FPA), em 1967;

• o Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB), em


1969.

Na década de 1970, tivemos um projeto de iniciativa da Rádio


MEC, o Projeto Minerva, que tinha o intuito de proporcionar a interio-
rização da educação básica, buscando suprir as deficiências que existiam
na educação formal em regiões onde o número de escolas e professores
era escasso. Pelo projeto, pretendia-se preparar os radiouvintes para
provas de exames supletivos como os antigos “exames de madureza”. A
proposta do Projeto Minerva teve alguns resultados negativos, como: a)
a flutuação de matrícula; b) a evasão; c) a impossibilidade de avaliar o
rendimento dos alunos (HACK, 2009).

Hoje em dia, o rádio dificilmente é a mídia exclusiva de um curso


a distância, mas, indiscutivelmente, pode ser um dos elementos de um
conjunto de alternativas que permitirão ao aluno variadas formas de
acesso ao conhecimento midiatizado. Em alguns momentos de nossa
experiência com a EaD, tivemos a oportunidade de produzir programas
exclusivamente para áudio, e o planejamento de radionovelas com con-
teúdos didáticos deu bons resultados.

Por fim, antes de encerrar o capítulo, queremos ressaltar que a di-


minuição do tamanho dos dispositivos de acesso ao rádio ou a arquivos
em áudio tem facilitado seu transporte aos mais diversos ambientes. É
possível acessar o rádio ou os arquivos de áudio em aparelhos específicos

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Múltiplas Tecnologias em Processos Educativos CAPÍTULO 04
pelo computador ou por tantos outros dispositivos portáteis que podem
inclusive nos acompanhar em nossos exercícios físicos diários. Por isso,
entendemos que o uso de arquivos de áudio na EaD pode ser um bom
diferencial em determinados cursos, dependendo do público-alvo que
se pretende atingir: um aluno que precisa ficar muitas horas em trânsito
para o trabalho pode ouvir aulas, depoimentos e outras exemplificações
em áudio enquanto se desloca. Como você observou nes-
te capítulo, o uso do rádio
como ferramenta didática
4.1.3 Televisão não é uma prática recente
em nosso país, e a análise
São muitos os brasileiros que possuem familiaridade com a televi- dos exemplos expostos é
importante como pon-
são desde que nasceram. Em muitos ambientes, o espaço físico onde a to de partida à reflexão
televisão está instalada é privilegiado, e algumas famílias possuem vários sobre o uso de múltiplas
tecnologias em proces-
aparelhos distribuídos pelos cômodos da casa. Alguns telespectadores sos educativos. Agora,
gostam tanto de assistir à televisão que são capazes de interromper con- você pode aprofundar
seu estudo sobre rádio e
versas com amigos e familiares ou até mesmo cancelar passeios para dar produtos de áudio na EaD
atenção ao seu programa predileto. Enfim, a televisão está efetivamente fazendo uma pesquisa nos
projetos governamentais
inserida em nossos lares e por tal motivo pode ser empregada com su- e privados que utilizam
cesso na EaD, desde que utilizada de forma adequada. mídias sonoras. Assim,
sugiro que você inicie
pelo site do Ministério da
Educação (www.mec.gov.
• Como é o hábito de assistir à televisão em sua casa? br). Boa navegação!

• Onde o equipamento está instalado?

• Quanto tempo você e seus familiares dedicam às programa-


ções televisivas?

• Mais uma pergunta: da totalidade do tempo dedicado à televi-


são, quanto é dedicado a programas com cunho educativo?

Responda às perguntas anteriores como um estímulo à reflexão pes-


soal sobre a temática!

Em nossa interpretação, a utilização da televisão no processo educa-


tivo, privado ou público, precisa estar envolvida em um ambiente crí-
tico e criativo para que resulte em experiências construtivas (HACK,
2009). Para Litto (1986), a televisão educativa deveria envolver o

55
Introdução à Educação a Distância

desenvolvimento da mente e do poder imaginativo do espectador.


Segundo o autor, existe uma diferença entre a televisão educativa
e a não educativa: a primeira tem o direito de transmitir apenas os
conteúdos que representam um passo à frente para o espectador,
enquanto a segunda reforça aquilo que é banal, de conhecimento
público e consequentemente não obriga a mente a trabalhar.

Ao fazer uma breve retrospectiva do uso da televisão em proces-


sos educativos em nosso país, chegamos à experiência iniciada em 1962
para preparar jovens e adultos para as provas do exame supletivo do
antigo primeiro grau, conhecidas como “exames de madureza”. Tal pro-
jeto, denominado Universidade de Cultura Popular, produzia videoau-
las na extinta TV Tupi, com o patrocínio da Shell. Ainda na década de
1960, foi implantada a primeira emissora de TV educativa: a Televisão
Universitária do Recife, administrada pela Universidade Federal de Per-
nambuco. Em 1967, surge a Fundação Centro Brasileiro de Televisão
Educativa, que em 1973 recebe a outorga do canal, denominando-se a
partir de então de Televisão Educativa (TVE).

Um exemplo bem conhecido sobre a utilização da televisão como


recurso educacional a distância em nosso país são os Telecursos, parce-
ria entre a Fundação Roberto Marinho e a Fundação Padre Anchieta. O
A Fundação Padre Anchie- primeiro Telecurso da Fundação Roberto Marinho foi lançado em 1978
ta é composta por Rádio
e TV Educativas, instituído e sofreu importantes remodelações em dois momentos: 1) em 1994 e
pelo governo do Estado 1995, passando a se chamar Telecurso 2000; 2) em 2006, passando a se
de São Paulo em 1967.
Para saber mais, acesse o chamar Novo Telecurso. O público-alvo dos programas são os milhões
site: www2.tvcultura.com. de brasileiros acima de 15 anos que por algum motivo foram excluí-
br/fpa/.
dos do sistema regular de ensino fundamental e médio (HACK, 2009).
A proposta sistematiza o ensino produzindo e distribuindo fascículos
semanais, com o intuito de preparar o aluno especialmente para os exa-
mes supletivos oficiais. A primeira versão do Telecurso foi lançada no
estado de São Paulo, em janeiro de 1978, mas a experiência assumiu ca-
ráter nacional, com o envolvimento de emissoras de televisão educativas
e comerciais (NISKIER, 1993).

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Múltiplas Tecnologias em Processos Educativos CAPÍTULO 04
Agora, queremos chamar sua atenção a uma proposta que faz uso
de um canal de televisão exclusivo para atividades educacionais em nos-
so país: a TV Escola. O projeto foi implantado no segundo semestre
de 1995, quando foram distribuídos os kits tecnológicos (um televisor,
uma antena parabólica, um videocassete e fitas) para cada escola públi-
ca, com mais de 100 alunos. Inicialmente, previa-se que as programa-
ções iriam partir de um canal de televisão em circuito fechado, voltado
para a escola brasileira. O intuito era que cada instituição de ensino pú-
blico, dotada do kit tecnológico, gravaria os programas repassados pela
TV Escola e utilizaria esse material como uma biblioteca audiovisual.
Entretanto, em matéria publicada pela Folha de S. Paulo no dia 23 de
fevereiro de 1997, o então secretário de Educação a Distância do MEC,
Pedro Paulo Poppovic, reconheceu que o projeto TV Escola cometeu al-
guns equívocos. O principal deles foi o envio dos kits tecnológicos antes
mesmo de preparar os professores e sem ter informações precisas sobre
as condições das escolas para adequar o projeto às realidades específi-
cas (HACK, 2009). Desde 2006, existe um projeto do MEC denominado
DVD Escola, que visa incrementar a utilização da TV Escola; para tanto,
oferece às instituições públicas de educação básica: 1) um aparelho re- Até o momento da es-
crita do presente livro,
produtor de DVD; 2) uma caixa com 50 mídias DVD, que apresentam em 2010, mais de 75 mil
alguns excertos da programação produzida pela TV Escola. escolas haviam recebido o
kit do projeto DVD Escola,
com aproximadamente
Poderíamos continuar citando outros exemplos nacionais de uso da 150 horas de programas
televisão no processo educativo, como: 1) o sistema nacional de emis- educativos.
soras educativas, a TV Educativa do governo, que opera em rede nacio-
nal há anos; 2) o Canal Futura, criado em 1997 e financiado pela inicia-
tiva privada. Nosso objetivo, contudo, é encerrar a explanação sobre a
televisão no contexto educacional apontando que a introdução da mídia
no processo de ensino e aprendizagem é imperativa devido à inserção
do veículo em nosso cotidiano, porém é imprescindível discutir e ava-
liar a melhor maneira de realizar essa tarefa desafiadora.

4.1.4 Computador

A utilização do computador como recurso tecnológico no processo


educativo encontra força em sua flexibilidade e amplitude de recur-
sos. A possibilidade de agregar múltiplas mídias e periféricos em um

57
Introdução à Educação a Distância

mesmo equipamento torna o computador um grande aliado do do-


cente e do estudante da EaD. Assim, é possível difundir mensagens
e aulas completas aos alunos que residem longe das instituições de
ensino, seja através de CD, DVD, internet ou em ambientes virtuais
de ensino e aprendizagem, criados exclusivamente para o acesso a
atividades de formação. Atualmente, existem cursos de extensão
em que o estudante nunca precisa se deslocar à instituição que está
promovendo sua capacitação. Basta adquirir o material, ter a tecno-
logia em sua casa para operar as atividades e, naturalmente, investir
no aprendizado.

No Brasil, a primeira tentativa de adaptar a informática na educa-


ção de crianças partiu da Universidade Estadual de Campinas (UNI-
CAMP). O projeto iniciou logo após a visita de Seymour Papert, cria-
dor da linguagem Logo, à UNICAMP, na década de 1970. No ano de
1975, o professor Armando Valente, da Faculdade de Educação da
Linguagem Logo
A linguagem Logo é UNICAMP, foi ao Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Es-
uma linguagem de pro- tados Unidos, com o intuito de pesquisar o uso de computadores com
gramação computacio- a linguagem Logo na educação infantil, experiência que trouxe poste-
nal voltada explicita-
mente ao processo de riormente ao nosso país.
ensino e aprendizagem.
Motivado pelo movimento que ocorria em alguns países, princi-
Seymour Papert, cocria-
dor da linguagem Logo palmente nos Estados Unidos, de inclusão do computador no contexto
junto com Wally Feur- educacional, o governo brasileiro criou, no ano de 1979, a Secretaria
zeig, trabalhou com
Especial de Informática. O organismo visava não apenas debater, mas
Jean Piaget (lembre-se
de que Piaget é um dos também viabilizar a informatização das escolas brasileiras com o apoio
estudiosos que funda- do MEC, do CNPq e da FINEP. Outro intuito era desenvolver a pesqui-
menta o construtivis- sa em hardware e software através da Política Nacional de Informática.
mo), por isso a lingua-
Como resultado dos encontros promovidos pela Secretaria Especial de
gem Logo possui certas
características do pen- Informática, o governo brasileiro desenvolveu uma política de informa-
samento construtivista. tização na educação.
Para relembrar algumas
informações sobre o
construtivismo, volte à É importante assinalarmos que o Conselho Nacional de Desenvolvi-
Unidade A. mento Científico e Tecnológico (CNPq) é uma agência do Ministério
da Ciência e Tecnologia que financia pesquisas e oferece bolsas de

58
Múltiplas Tecnologias em Processos Educativos CAPÍTULO 04
estudos. Os recursos do CNPq são distribuídos por editais e contem-
plam desde a iniciação científica até o pós-doutorado. O site do CNPq
é: www.cnpq.br. Já a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) é uma
empresa pública, também vinculada ao Ministério da Ciência e Tecno-
logia, que surgiu para institucionalizar o Fundo de Financiamento de
Estudos e Projetos. A empresa financia projetos ligados à ciência, tec-
nologia e inovação através de chamadas públicas voltadas a empresas,
universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou
privadas. O site da FINEP é: www.finep.gov.br.

O primeiro projeto oficial que visava à informatização da educa-


ção no Brasil surgiu em 1984 e foi denominado EDUCOM. A inicia-
tiva partiu do MEC e outros órgãos federais, que tinham o intuito de
fomentar a pesquisa e a formação de recursos humanos para a futura
implantação de computadores nas escolas da rede pública de ensino.
No ano de 1986, o MEC criou um programa para capacitar professores
através do EDUCOM: o FORMAR I, sediado na UNICAMP. A capa-
citação pretendia dar suporte técnico às secretarias estaduais de edu-
cação, escolas técnicas e universidades. A repercussão desse primeiro
curso oficial foi boa e resultou na criação de centros de informática em
diversos estados brasileiros.

Em 1996, o MEC anunciou o Projeto Especial de Informática, que


Como você pode perce-
pretendia disponibilizar ao menos 10 computadores em cada escola
ber, historicamente, a uti-
com mais de 300 alunos. O projeto foi alvo de críticas da imprensa e de lização do computador na
educação recebeu impul-
especialistas, levando-o a várias revisões, principalmente porque previa
sos governamentais e aqui
a compra e distribuição dos computadores antes do treinamento dos destacamos alguns proje-
tos. Sugerimos que você
professores. Em 1997, o Programa Nacional de Informática na Educa-
acesse o site do Ministério
ção (PROINFO), da Secretaria de Educação a Distância do MEC, esta- da Educação (www.mec.
gov.br) para conhecer
beleceu diretrizes para iniciar o processo de universalização do uso de
outras propostas.
tecnologia de ponta no sistema público de ensino. Para tanto, enfatizou
a capacitação dos docentes que utilizariam os recursos e propôs a imple-
mentação descentralizada do programa, para evitar riscos por ignorar
peculiaridades locais (HACK, 2009).

59
Introdução à Educação a Distância

4.1.5 Teleconferência, Videoconferência e Webconferência

Até aqui destacamos algumas experiências brasileiras de uso do cine-


ma, do rádio, da televisão e do computador no processo educativo. Agora,
queremos apresentar a definição de três tecnologias que são largamente
utilizadas na EaD em todo o mundo e das quais o sistema UAB também
faz uso: a teleconferência, a videoconferência e a webconferência.

Antes de expormos as particularidades de cada tecnologia, quere-


mos destacar que, independentemente do formato do produto audiovi-
sual, alguns cuidados serão sempre indispensáveis àqueles que se pro-
põem a tal produção, quais sejam:

• planejar o momento audiovisual com antecedência elaborando


um roteiro para potencializar o tempo disponível e organizar
as estratégias a serem empreendidas;

• respeitar os direitos autorais de imagens, sons, vídeos e outros


recursos que serão utilizados e porventura possam ter restrição
de uso;

• visitar, com antecedência, a sala onde será a gravação de áudio


e vídeo para conhecer o local e se ambientar, aproveitando para
pegar dicas sobre vestuário e maquiagem com os técnicos;

• testar na sala de gravação apresentações, esquemas, tabelas,


imagens e demais ilustrações, para verificar como será a recep-
ção na tela, observando aspectos como cores, tamanho de fon-
te, quantidade de informação, entre outros (HACK, 2010).

Existem relatos sobre o uso da teleconferência, videoconferência e


webconferência em experiências nacionais de EaD na obra organizada
por Litto e Formiga (2008).

Teleconferência

A teleconferência possui algumas peculiaridades e sua estrutura de


produção e difusão geralmente envolve três momentos distintos: a)
a gravação da conferência ao vivo em um estúdio de televisão; b) a
transmissão, em sua maioria via satélite; c) a recepção, geralmente

60
Múltiplas Tecnologias em Processos Educativos CAPÍTULO 04
via rede aberta de televisão ou por antena parabólica, podendo
ocorrer em telecentros, com a presença de tutores que mediarão a
discussão da temática. Em termos de organização de tempo e es-
trutura de execução, as teleconferências geralmente seguem um
padrão: a) iniciam com uma palestra, entrevista ou debate entre
um grupo de preletores; b) na sequência, cria-se a possibilidade de
participação da audiência, com perguntas ou opiniões, por meio de
telefone, fax ou e-mail (HACK, 2010).

Com o surgimento da videoconferência, a teleconferência acabou


perdendo parte de seu espaço, pois é uma via de mão única, ou seja, a au-
diência assiste ao conferencista, mas o conferencista não vê a audiência.
Contudo, a teleconferência continua sendo utilizada em nosso país por
várias instituições (ministérios, bancos, universidades, etc.) para fazer o
lançamento de novas propostas, projetos, bem como para palestras em
lugares remotos, sem a necessidade de deslocamento do palestrante.

Videoconferência

Como destacado anteriormente, a diferença entre a teleconferência


e a videoconferência é que a segunda possibilita a conversa em duas
vias. Assim, as pessoas que participam de uma videoconferência con-
seguem ver-se e ouvir-se simultaneamente. Tal benefício cria a pos-
sibilidade de tirar as dúvidas da audiência em tempo real. A videocon-
ferência foi amplamente utilizada por grande parte das instituições
do sistema UAB nos primeiros anos de implementação do projeto.

Existem basicamente duas formas de realizar uma videoconferên-


cia: 1) ela pode ser ponto a ponto, quando liga apenas duas salas; 2)
ela pode ser multiponto, quando há três ou mais salas interligadas. Na
transmissão multiponto, é preferível que haja o gerenciamento da vi-
deoconferência no local onde se encontra o professor. Assim, mesmo
que todos os demais locais possam enviar som e imagem para os outros

61
Introdução à Educação a Distância

polos integrantes, haverá uma ordenação gerencial. Se uma videocon-


ferência é realizada com muitos polos ao mesmo tempo, o professor ou
gerenciador precisará interagir de maneira dinâmica com todos os lo-
cais, para que se mantenha a motivação (HACK, 2010).

Webconferência

A webconferência tem algumas semelhanças com a videoconferên-


cia, pois permite que todas as pessoas envolvidas se vejam e se ou-
çam. Como o próprio nome indica, a webconferência é transmitida
pela web e pode ser acessada pelo aluno de qualquer computador
ligado à internet. É necessário que os computadores tenham câme-
ra e microfone para que todos possam utilizar tais recursos, mas o
aluno que não possui essas ferramentas poderá interagir com a tur-
ma utilizando ferramentas de mensagens de texto, disponibilizadas
no próprio ambiente da webconferência, semelhantes a uma sala de
bate-papo da internet.

Em uma sala de webconferência existe sempre a figura do geren-


ciador. Tal pessoa consegue habilitar ou desabilitar o vídeo, o áudio e as
mensagens de texto de todos os participantes. O gerenciador também
tem a possibilidade de utilizar e habilitar o uso aos demais participantes
de múltiplas ferramentas, à semelhança de uma lousa digital, que permi-
te projetar documentos, imagens, apresentações, vídeos, sites ou até mes-
mo a tela do computador de quem está no comando da aula. O próprio
professor da disciplina pode ser o gerenciador da sala de webconferência,
pois a maioria dos recursos utilizados pode ser aprendida facilmente por
aqueles que possuem certa familiaridade com um AVEA. O sistema UAB
também utiliza a webconferência em algumas experiências nacionais.

4.1.6 Tantas outras coisas e-mais

O título acima é uma brincadeira com as palavras que apareceram


na atualidade, antecedidas pelo “e”, de “eletrônico”. Palavras como: e-
mail, e-learning, e-messenger, e-gov, etc. Isso é apenas uma provocação
à reflexão sobre as possibilidades de utilização de recursos tecnológicos
no processo de ensino e aprendizagem. Tais possibilidades são múlti-

62
Múltiplas Tecnologias em Processos Educativos CAPÍTULO 04
plas e certamente continuarão em constante avanço, pois a cada instante
as empresas de tecnologia nos surpreendem com novas ferramentas e
dispositivos. Contudo, o uso eficiente de múltiplas tecnologias e seus
recursos no processo educativo é um aspecto que deve ser discutido
intensamente pelas equipes que os produzirão.

Como vimos até aqui, o cinema, o rádio, a TV, o computador, a tele-


conferência, a videoconferência, a webconferência e tantas outras tecnolo-
gias podem dinamizar o processo de ensino e aprendizagem na EaD, pois

• quebram a monotonia;

• exemplificam a temática com recursos diferentes (texto, áudio,


imagem, etc.) e tornam mais claros os objetivos de aprendiza-
gem propostos pelo docente;

• motivam os estudantes a dar continuidade aos estudos, pois os


estimulam a ampliar as reflexões em outros materiais;

• ampliam e amplificam as possibilidades de comunicação


Queremos lembrá-lo de
(HACK, 2010). que os textos didáticos na
EaD podem ser impressos,
O primordial é a maneira como se combinam as funções do co- em áudio, vídeo ou outros
municar, do explicar e do orientar nos textos didáticos. Por isso, eles suportes.
precisam estar estruturados adequadamente, com vistas às necessidades
cognitivas dos estudantes (PETERS, 2001). Para tanto, entram em cena
aspectos como:

• a necessidade de todos os envolvidos dominarem a tecnologia,


sujeitando-a aos objetivos pessoais ou coletivos, sem se deixar
escravizar;

• a importância do uso crítico, criativo e contextualizado das


múltiplas tecnologias que nos cercam (HACK, 2009).

A tecnologia precisa ajudar o aluno a desenvolver suas próprias es-


tratégias de estudo, levando-o a conhecer sua estrutura e suas habi-
lidades cognitivas, ou seja, como ele aprende melhor. A tecnologia
deverá sempre ser um meio e não o fim do processo de construção
do conhecimento a distância.

63
A construção do conhecimento a distância CAPÍTULO 05
5 A construção do
conhecimento a distância
No capítulo anterior, foi possível verificar que existem múltiplas
tecnologias disponíveis à EaD, e elas estão sendo cada vez mais utili-
zadas de forma integrada. Os materiais impressos, os produtos audio-
visuais e os ambientes virtuais têm liberado as pessoas da frequência
cotidiana e presencial a uma sala de aula, pois a educação tem chegado
aonde o aluno quiser estudar e quando lhe for mais conveniente. Se-
gundo Rumble (2000), a pressão para a adoção de múltiplas tecnologias
no processo de construção do conhecimento a distância surge de três
fatores intimamente ligados à comunicação necessária entre os interlo-
cutores, quais sejam:

• proporcionar diálogo interativo com a maior rapidez possível;

• criar oportunidades para a interlocução e a interatividade;

• ampliar cada vez mais a velocidade na comunicação educativa


a distância.

Vale lembrar que os fundamentos da interatividade, segundo Silva


(2003, p. 58), podem ser encontrados em sua complexidade na in-
formática, no ciberespaço, na teoria da comunicação e em outros
espaços. Para o autor, é possível identificar três facetas na interativi-
dade: 1) a participação-intervenção, em que participar não é apenas
responder “sim” ou “não”, mas significa modificar a mensagem; 2) a
bidirecionalidade-hibridação, que entende o processo comunica-
cional como produção conjunta e cocriação entre emissor e recep-
tor; 3) permutabilidade-potencialidade, que aponta para a comuni-
cação em múltiplas redes articulatórias de conexões, com liberdade
de troca, associação e significação.

Assim, um cenário comunicacional diferenciado ganha centralida-


de, e passa a ocorrer aquilo que Silva (2003) descreve como a transição
da lógica da distribuição, baseada na transmissão, para a lógica da co-

65
Introdução à Educação a Distância

municação, baseada na interatividade. Tal transição provoca a busca por


estratégias diferenciadas daquelas utilizadas outrora por mídias, como o
rádio e a televisão, em seu planejamento e organização, que geralmente
apontavam para a transmissão unidirecional, não dialógica.
A televisão que conhe-
cemos até o momento A busca por tecnologias que promovessem a interlocução entre os
da escrita do presente envolvidos na EaD passou por algumas fases.
livro, 2010, é um exemplo
de mídia unidirecional e
não dialógica, afinal nós
• 1ª fase – Segundo Rumble (2000), é o período em que o pro-
somos apenas receptores cesso comunicacional entre as partes acontecia via material im-
das mensagens e não
podemos interagir com
presso ou escrito à mão. Tal fase distinguia-se principalmente
os conteúdos. No entanto, pelo termo educação por correspondência e dispunha de uma
as tecnologias evoluem!
É possível que dentro de
indústria gráfica relativamente barata, mas apenas pôde se de-
algum tempo as pessoas senvolver após o barateamento dos serviços postais, principal-
efetivamente possam
interagir com os conteú-
mente a partir de 1840, momento em que o transporte ferrovi-
dos veiculados por mídias ário trouxe confiabilidade e agilidade ao correio. A 1ª fase da
que hoje consideramos
unidirecionais.
EaD recebeu um incremento no século XX com a utilização
do transporte rodoviário e aéreo, bem como com a revolução
causada pela informatização da indústria gráfica. Para o futu-
ro, o aumento de tecnologias de impressão nas residências dos
usuários e a criação de dispositivos que facilitem a leitura em
tela podem servir de estímulo à substituição de determinados
produtos impressos.

• 2ª fase – Para Rumble (2000), é a fase em que o processo co-


A amplitude de cober-
tura das redes terrestres municacional tem seu suporte principal na tecnologia da rádio
de transmissão de rádio e teledifusão. Tudo começou com a captação e transmissão via
e televisão dependia de
fatores como: potência rádio e televisão de leituras ao vivo, na sala de aula onde se
dos transmissores; núme- encontrava o professor, a grupos de alunos em salas de aula
ro e alcance das estações
de repetição. A existência distantes. Em alguns casos, existiam linhas telefônicas à dispo-
de barreiras físicas, como, sição do aluno para este se comunicar com o professor durante
por exemplo, montanhas,
causava problemas de o momento da aula. A 2ª fase foi impulsionada quando as re-
recepção. des de transmissão terrestres começaram a ser substituídas ou
amparadas por sistemas de transmissão por satélite. As trans-
missões radiofônicas e televisivas por satélite proporcionaram
uma cobertura geográfica mais ampla e trouxeram a possibili-
dade de criação de sistemas internacionais de EaD.

66
A construção do conhecimento a distância CAPÍTULO 05
• 3ª fase – É quando, segundo Rumble (2000), o processo comu-
nicacional começa a utilizar tecnologias multimídia: com texto,
áudio e vídeo ao mesmo tempo. Em suma, ela junta a primeira
e a segunda fase da EaD, e a transmissão audiovisual tende a ser
usada como um meio de apoio ao material impresso. Existem
contatos presenciais, mas o ensino é predominantemente via mí-
dias. Os sistemas da terceira fase da EaD evoluem conforme a
evolução da informática e contam com toda uma gama de tecno-
logias – das mais baratas às mais dispendiosas. A utilização das
tecnologias é geralmente flexível, e o que pode ser feito com uma
tecnologia também pode ser obtido pelo uso de outra mídia.

• 4ª fase – É aquela que se baseia na comunicação mediada por


computador (RUMBLE, 2000). A quarta fase da EaD é caracte-
rizada pela utilização de conferência por computador, correio
eletrônico, acesso a bancos de dados, pesquisas em bibliotecas
eletrônicas, utilização de ambientes virtuais, entre outras coi-
sas. A quarta fase da EaD ganha impulso na década de 1990, e
inicialmente os custos para a sua adoção eram elevados, já que
demandava a compra de computador, softwares específicos e
conexão com a internet. No ano de 2010, a velocidade da rede
para processar as transações ainda é um grande problema em
determinados locais, mas, indiscutivelmente, a quarta fase da
EaD é verdadeiramente global.

• 5ª fase – É o momento em que a EaD começa a utilizar pro-


cessos comunicacionais envolvendo agentes e sistemas de res-
postas inteligentes, baseados em pesquisa no campo da inteli-
gência artificial (TAYLOR, 2001). A quinta fase da EaD precisa
de equipamentos sofisticados e linhas de transmissão eficientes
para funcionar adequadamente, mas a disseminação e o bara-
teamento dessa tecnologia ocorrerão com o tempo. O uso de
agentes inteligentes na EaD proporciona ao aluno a interação
com personagens virtuais que respondem às suas questões de
forma personalizada e contextualizada, agindo como um tu-
tor virtual. Tais personagens virtuais podem assumir múltiplas
formas: homem, mulher, animal ou qualquer outra mascote.

67
Introdução à Educação a Distância

Os agentes e sistemas de respostas inteligentes abordam os usu-


ários chamando-os pelo nome e identificam quais os caminhos
trilhados no ambiente virtual antes da dúvida se estabelecer.
Assim, utiliza um processo de comparação para identificar a
estratégia que levará o aluno a resolver o impasse pelo qual está
passando. As mascotes virtuais podem ser acessadas sempre
que necessário, criando inclusive rotinas de abordagem pelas
quais o usuário pode definir os momentos em que não quer ser
interpelado pelo agente virtual (HACK, 2010).

A ordem das fases da EaD que apresentamos anteriormente de-


termina as mudanças a partir das tecnologias utilizadas no processo de
construção do conhecimento a distância. Como o acesso a múltiplas
tecnologias acontece paulatinamente, sem seguir um padrão rígido e
conforme cada contexto, a possibilidade de que todas as fases da EaD
coexistam é real. Em alguns momentos, podem ocorrer situações em
que se desenvolva um curso multimídia para algumas localidades, en-
quanto em outras realidades o mesmo curso precise ser aplicado apenas
com ênfase no material impresso.

Perceba, então, que a adoção de múltiplas tecnologias permite que


o processo de construção do conhecimento a distância seja particulari-
zado e personalizado. Por isso, é necessário que as ferramentas tecno-
lógicas estejam adaptadas a cada contexto e permitam que docentes e
discentes utilizem-nas de forma otimizada no ensino e aprendizagem.
Se o ambiente de estudo dos alunos a distância estiver equipado com as
No próximo capítulo, tecnologias necessárias e uma conexão rápida para a comunicação edu-
aprofundaremos a discus-
são teórica sobre a impor- cativa, a distância será apenas física, pois alunos, tutores, professores,
tância da comunicação enfim, toda a comunidade acadêmica virtual estará conectada e cons-
educativa dialógica na
EaD. truirá um processo comunicacional dialógico.

Como visto, é certo que as tecnologias inovadoras podem trazer


possibilidades de mediação cada vez mais imediatas da informação,
mas ao mesmo tempo adicionam complexidade ao processo, pois há
dificuldades a serem vencidas para uma utilização de múltiplas mídias
como potencializadoras do processo de construção do conhecimen-
to. Para Peters (2001), muitos anos se passarão até que alcancemos o

68
A construção do conhecimento a distância CAPÍTULO 05
domínio das possibilidades tecnológicas na EaD e muitos empecilhos
precisarão ser vencidos.

Durante o tempo de escrita do presente livro, o segundo semes-


tre de 2010, a internet ainda era considerada como o prático caminho
que levaria à informação e à comunicação, pois ela integra telefonia,
radiodifusão, sistemas televisivos, mídia impressa, bem como possibilita
a manifestação daqueles que outrora apenas recebiam a comunicação
emitida pela mídia. Contudo, como se trata de uma área em que a evo-
lução tecnológica é constante, a forma de ensinar e aprender a distância
poderá ganhar, em breve, contornos e dimensões nunca antes imagina-
das. Se bem aplicadas, tais características tornarão a aprendizagem mais
atraente e eficiente para o estudante, enquanto ao docente se apresenta-
rá a possibilidade de ampliação do espaço de escolha e gestão de novas
práticas didáticas (HACK, 2010).

Cabe ressaltar que a rapidez nas transformações e atualizações das ino-


vações tecnológicas traz a obsolescência quase imediata de determi-
nados equipamentos que, consequentemente, deixam de ser “novos”
logo que os compramos e levamos para nossas casas. Além disso, para
algumas pessoas, certas tecnologias ainda são “novas”, enquanto para
outras já se tornaram ultrapassadas: para um adolescente, a televisão
analógica pode ser ultrapassada, enquanto uma pessoa de 60 anos,
que acompanhou a introdução da televisão na sociedade brasileira,
pode considerá-la como uma nova tecnologia. No entanto, indepen-
dentemente de ser “nova” ou não, na maioria dos lares, algumas tecno-
logias, como a TV digital, estão em vários cômodos, e em certas casas o
computador já habita mais de um lugar.

Reflita um pouco sobre sua própria experiência. Esse é um bom exercí-


cio de aprendizagem.

Em suma, devido às suas características técnicas, as tecnologias


digitais oferecem cada vez maiores possibilidades de interação midia-
tizada entre as partes envolvidas no processo de ensino e aprendiza-
gem, bem como permitem a interatividade com materiais de boa e má

69
Introdução à Educação a Distância

qualidade, em grande variedade. As técnicas de interação midiatizada


(e-mail, listas, grupos de discussão, sites, ambientes virtuais de ensino
e aprendizagem, entre outros) apresentam grandes vantagens no geren-
ciamento do processo de construção do conhecimento a distância, pois
permitem combinar a flexibilidade da interação humana com a inde-
pendência no tempo e no espaço.

Mesmo que o uso de ferramentas como o computador represente


saltos significativos na gestão do processo educacional, o ser humano
precisa sentir-se sujeito das mudanças, pois a tecnologia é apenas um
impulso para a humanidade empreender mudanças que objetivem a
ampliação da qualidade de vida de todas as pessoas (HACK, 2009).

Na discussão do papel das múltiplas tecnologias e também nas


muitas tentativas de experimentá-las, está em jogo sua utilização como
potencializadora da construção do conhecimento na EaD. Ninguém
sabe ao certo o que poderá ser realizado no futuro, seja por motivos
financeiros, logísticos, pragmáticos ou também pedagógicos. Todavia,
são prementes algumas providências técnicas, às vezes financeiramente
dispendiosas, aos que pretendem possibilitar a realização de determi-
nadas midiatizações de processos educativos a distância. Assim como
A importância do senso
crítico, da percepção cria- existem outros tantos questionamentos no que tange ao tempo que os
tiva, da autonomia e da envolvidos com o conhecimento midiatizado precisarão para se acostu-
cooperação na EaD será
abordada em mais deta- mar à experiência. Por isso, destacamos a importância que o senso críti-
lhes na Unidade C. co e a percepção criativa para o desenvolvimento de uma compreensão
equilibrada têm sobre as mudanças advindas ao processo de construção
do conhecimento a distância com o uso de múltiplas tecnologias.

70
Comunicação dialógica na EaD CAPÍTULO 06
6 Comunicação dialógica na
EaD
As mudanças no processo comunicacional devido ao uso de múlti-
plas tecnologias alcançaram a educação e trouxeram importantes desa-
fios à prática dentro e fora da sala de aula. Algumas literaturas sobre EaD
(PRETI, 2000; PETERS, 2001; MOORE; KEARSLEY, 2007) apontam que
a comunicação dialógica é a tônica das boas propostas de construção do
conhecimento a distância. Isso significa que a simples difusão de concei-
tos não é suficiente para se instaurar o processo de ensino e aprendiza-
gem. Então, vamos entender o que é comunicação dialógica na EaD, par-
tindo da compreensão de como funciona o processo comunicacional.

Nossa concepção parte do entendimento proposto por Bordenave


(1998) para a comunicação: um processo natural, uma arte, uma tec-
nologia, um sistema e uma ciência social. Para o autor, a comunicação
pode tanto ser o instrumento legitimador das estruturas sociais como
também pode ser a força contestadora e transformadora. Segundo Bor-
denave, o processo comunicacional pode ser instrumento de autoex-
pressão e de relacionamento pacífico entre as pessoas, ao mesmo tem-
po em que pode ser um recurso de opressão psicológica e moral. Em
suma, através do processo comunicacional as pessoas dialogam, lutam,
sonham, choram, amam e constroem o conhecimento a distância.

Após as palavras introdutórias de Bordenave, queremos acrescen-


tar à nossa definição de processo comunicacional o ingrediente da inte-
ração (feedback), que para Berlo (1999) é um “bom” efeito na comuni-
cação humana, pois, ao se comunicar, a pessoa constantemente procura
o feedback. Em outras palavras, o feedback é um processo de conferência
da informação: o emissor busca certificar-se de que conseguiu codificar
corretamente a mensagem e que o interlocutor decodificou-a da forma
desejada pelo emissor.

Prosseguindo em nossa conceituação de processo comunicacional,


além da significação dada por Bordenave (1998) e por Berlo (1999), adi-
cionamos o pensamento de Freire (1997). Para o autor, o termo comu-
nicar assume o entendimento de uma filosofia voltada à troca entre as

71
Introdução à Educação a Distância

pessoas envolvidas no processo educacional, inspirada nas experiências


culturais. O pensamento do educador brasileiro Paulo Freire obteve di-
Além de Paulo Freire, esta- fusão e repercussão mundial, pois abriga a proposta de que a educação
mos apresentando, desde
o início da Unidade A, deve ser um processo revelador e habilitador, ou seja, uma permanente
vários autores. Aos poucos descoberta, um movimento para e pela liberdade, no qual o processo co-
você está construindo sua
própria concepção sobre municacional é imprescindível e inseparável. Acrescentar o pensamento
o processo de ensino e de Freire em nossa definição significa colocar subjacente a perspectiva
aprendizagem na EaD.
Uma dica: a leitura de de uma prática comunicacional educativa voltada ao gerenciamento do
alguma obra completa processo de ensino e aprendizagem de forma crítica e criativa, na trans-
ou de capítulos de textos
sugeridos aqui é uma boa formação social (HACK, 2009).
estratégia para ampliar
suas reflexões sobre o Após entendermos como funciona o processo comunicacional, fica
assunto. patente que: falar sobre comunicação dialógica na EaD significa falar
da potencialização das estratégias comunicacionais com múltiplas tec-
nologias para a construção do conhecimento. A questão não é inteira-
mente nova, pois de certa forma o professor presencial já midiatiza o
O docente midiatiza o conhecimento ao preparar aulas e materiais, por exemplo, ao preparar
conhecimento ao codificar
as mensagens educativas os tópicos de sua exposição oral, organizá-los no computador, em slides
e traduzi-las sob diversas com imagens estáticas ou em movimento e depois projetá-los em uma
formas, conforme a mídia
escolhida, em colaboração tela, durante a aula presencial. O que muda é a quantidade de mídias
com uma equipe multi- disponíveis, renovadas cotidianamente, que acarretam uma crescente
disciplinar. Além disso,
ele também comunica o exigência de conhecimentos técnicos da parte dos docentes e discentes,
conhecimento midiatiza- bem como a capacidade de gerenciar de forma dialógica tal processo
do utilizando ferramentas
síncronas e assíncronas, (HACK, 2009).
tarefa que também é
chamada de mediação do
conhecimento. Sabemos que a comunicação dialógica na EaD não é uma tarefa fácil,
porque um número significativo de docentes e discentes ainda não
dispõe das competências necessárias. O processo comunicacional
no ensino presencial está tão alicerçado na aula expositiva que mui-
tos professores e alunos avaliam com certa descrença a utilização de
múltiplas tecnologias em contextos educativos. Por isso, aquele que
pretende assumir uma postura interativa na EaD precisará desenvol-
ver habilidades como:

t identificar quais tecnologias são indispensáveis levando em


conta o contexto onde serão utilizadas;

72
Comunicação dialógica na EaD CAPÍTULO 06
t dominar as ferramentas tecnológicas envolvidas no processo de
ensino e aprendizagem a distância do qual está participando;

t fomentar estratégias que potencializem a aprendizagem com


múltiplos recursos tecnológicos (HACK, 2009).

Aqui é importante destacarmos a necessidade de valorizar cada vez


mais o lado humano para não cair no risco de conotar as tecnologias
como substitutas da comunicação dialógica entre os envolvidos no pro-
cesso de ensino e aprendizagem a distância. Afinal, mesmo com a rare-
fação do contato presencial, o processo de obtenção do conhecimento
não deixa de ser uma via de mão dupla em que o aluno aprende com o
docente e vice-versa. O suporte da comunicação educativa na EaD será o A educação sempre foi e
continua a ser um proces-
estudo sistemático, por intermédio de materiais midiatizados, facilitado so complexo que utiliza
pela interação do aluno com docentes e especialistas, em que o processo meios de comunicação
para fundamentar, com-
comunicacional é repensado continuamente para a potencialização dos plementar ou apoiar a
momentos de troca dialógica entre os envolvidos. ação do docente em sua
interação com os estudan-
tes. Na educação presen-
cial, o quadro negro, o giz,
Neste capítulo da Unidade B, trataremos de vários aspectos relaciona- o livro, entre outros, são
dos ao processo comunicacional dialógico na EaD, com ênfase no pa- instrumentos pedagógi-
cos que fazem a ponte
pel do docente. Na Unidade C, você encontrará as reflexões referentes entre o conhecimento e o
ao papel do aluno e a importância da autonomia na construção do aluno. Na EaD, a interação
com o docente passa a ser
conhecimento a distância. Agora, antes de continuar sua leitura, temos indireta, por isso torna-se
uma pergunta: você já parou para pensar que redimensionar o seu pro- necessária a comunica-
ção dialógica por uma
cesso comunicacional para adequá-lo à EaD exigirá um bom tempo de combinação de diferentes
dedicação de sua parte? Afinal, é uma forma de pensar a educação com tecnologias.
a qual você pode não estar habituado. Então, reflita sobre o assunto.
Depois, volte ao estudo.

No contexto apresentado, o conhecimento é construído coletiva-


mente, e o docente precisa repensar seu papel na gestão comunicacio-
nal. Nossa experiência com a EaD, que iniciou em 1997, demonstra que
as mudanças no processo comunicacional docente devido à introdu-
ção das tecnologias ocorrem tanto na EaD quanto no ensino presen-

73
Introdução à Educação a Distância

cial. Através de alguns instrumentos de comunicação e interação, por


exemplo, o e-mail, o estudante pode, agora, receber com antecedência o
roteiro da aula, as apostilas, os vídeos digitalizados, os sons, entre outros
recursos que subsidiarão seu estudo para o encontro pessoal. Caso o
aluno não possa comparecer, terá material para estudar, e as dúvidas que
surgirem serão esclarecidas no contato com a comunidade virtual de
interlocutores, formada pelos colegas, tutores e professores que se reu-
nirão virtualmente utilizando ferramentas do AVEA, como o fórum ou
a sala de bate-papo, e também interagirão por e-mail (HACK, 2009).

Como tantos outros recursos educacionais (livros, apostilas, etc.)


constituem-se em instrumentos de auxílio no processo de construção
do conhecimento a distância, as múltiplas tecnologias servirão para mo-
tivar, ilustrar e reforçar as atividades ou torná-las mais interativas. Por
isso, o papel do docente na EaD é redimensionado, e ele passará a:

• validar, mais do que anunciar, a informação;

• proporcionar momentos de triagem das informações, para a


reflexão crítica, o debate e a identificação da qualidade do que
é oferecido pelas múltiplas mídias;

• orientar e promover a discussão sobre as informações selecio-


nadas e validadas;

• auxiliar na compreensão, utilização, aplicação e avaliação críti-


ca das inovações;

• possibilitar a análise de situações complexas e inesperadas;

• permitir a utilização de outros tipos de “racionalidade”: a ima-


ginação criadora, a sensibilidade táctil, visual e auditiva, entre
outras (KENSKI, 2003).

Ao mediar o conhecimento, sem muitas vezes poder visualizar, ouvir


as palavras nem perceber as reações imediatas do aluno, o docente
buscará potencializar o processo comunicacional para que se esta-
beleça uma relação dialógica que incentive o estudante na cons-
trução do conhecimento a distância. Essas formas diferenciadas de

74
Comunicação dialógica na EaD CAPÍTULO 06
lidar com a construção do conhecimento e seus desdobramentos
exigirão metodologias e ações diferenciadas, pois em ambientes
virtuais de ensino e aprendizagem a aquisição de conhecimentos
deixa de se fazer exclusivamente por meio de leituras de textos para
se transformar em experimentos com múltiplas percepções e sen-
sibilidades. Para tanto, será indispensável priorizar a comunicação
fluida, constante e bidirecional.

Sedimenta-se, então, a necessidade de repensar as nuances da co-


municação educativa no processo de ensino e aprendizagem a distân-
cia, afinal, o conhecimento será construído coletivamente e coopera-
tivamente, com a participação de todos. Algo que exigirá de docentes
e discentes a criação de um ambiente, mesmo que virtual, propício ao
diálogo e que:

• incremente a utilização de ferramentas de comunicação, ins-


tantâneas ou não, para contato entre todos em um processo
mais objetivo, pontual e planejado, com feedback rápido;

• melhore a interação pelo uso de múltiplas tecnologias, com o


aumento das possibilidades de discussão a distância de algumas
temáticas em busca de uma comunicação dialógica constante;

• entenda a prática docente como articuladora, orientadora e


auxiliadora na construção do conhecimento através do proces-
so de comunicação de mão dupla, em contraposição à antiga
visão do docente detentor do conhecimento, que repassava os
conteúdos exclusivamente de forma expositiva;

• abra novos horizontes, ao buscar a familiaridade e depois a


criatividade na utilização de múltiplas tecnologias na EaD, sem
modismos e rotinas descontextualizadas;

• mude a postura paternalista, tão comum no ensino presencial,


substituindo-a pelo incentivo ao estudo autônomo e coope-
rativo, com base na pesquisa e na mediação multimidiática
(HACK, 2009).

75
Introdução à Educação a Distância

Enfim, ao assumirmos uma proposta de comunicação dialógica na


EaD, estamos aceitando a proposta de que o conhecimento é um cons-
truto que resulta da ação de todos e precisa ser gerido. Nessa visão, o
processo de ensino e aprendizagem a distância passa a ser caracterizado
não pelo discurso expositivo, da distribuição, mas pela perspectiva de
participação e cooperação, na qual o estudante contribui como um coau-
tor ativo. A comunicação educativa deixa de ser voltada especificamente
para a oratória quase exclusiva do “professor repassador de informações”
e passa a ser guiado pelo diálogo interativo entre as partes. O docente
torna-se o agente organizador, dinamizador e orientador da construção
do conhecimento através do auxílio crítico e criativo na seleção das inú-
meras informações às quais o aluno é submetido cotidianamente.

É uma reorientação dos papéis do docente e do discente, aos quais


são acrescidas funções relacionadas com a busca, seleção e exploração de
informações existentes nas múltiplas tecnologias disponíveis. Em outras
palavras, na caminhada educacional, docente e discente estabelecem um
diálogo constante de cooperação mútua na construção do conhecimento.

Quantos autores nós apresentamos e quantos conceitos nós definimos


nessa Unidade, não é mesmo?

Inúmeras informações foram expostas e agora precisamos de um tem-


po para processá-las da forma devida! Então, antes de fazer a leitura da
última Unidade do livro de Introdução à EaD, realize alguma atividade
diferente: pratique algum esporte, vá ao cinema, vá ao teatro ou até
mesmo prepare uma xícara de chá ou café para um gostoso bate-papo
com amigos ou familiares. O descanso sempre é bem-vindo depois de
longos períodos de estudo!

Depois de descansar, leia a próxima Unidade. Lá, você encontrará o apro-


fundamento sobre algumas características importantes ao aluno da EaD,
como: a autonomia, a cooperação, a criticidade, a criatividade, etc.

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Comunicação dialógica na EaD CAPÍTULO 06
Leia mais!
Para aprofundar seu estudo sobre as temáticas abordadas na Unidade B,
sugerimos as seguintes obras:

• BERLO, D. K. O processo da comunicação: introdução à teo-


ria e à prática. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

• LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensa-


mento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 1993.

• MARTIN-BARBERO, J. Dos meios às mediações: comunica-


ção, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.

• THOMPSON, J. A mídia e a modernidade. Petrópolis: Vozes,


1998.

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