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INTRODUÇÃO
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Camila Machado Raimundo Brasília-DF, v. 8, n. 2, junho-dezembro 2019
melhoria da qualidade no atendimento e prestação de serviços ciedade em constante evolução, o que remete a uma mudan-
públicos demanda uma reflexão sobre a adoção de instrumen- ça de paradigma e provoca o repensar do modelo de gestão e
tos e indicadores que auxiliem na melhoria da performance e governo público. Como consequência, os governos têm como
otimização dos recursos nas organizações públicas, bem como preocupação elevar o nível de eficiência e desempenho da ges-
melhore as condições da tomada de decisões dos gestores pú- tão pública, além de dedicar atenção a questões que envolvam
blicos. Sob essa perspectiva, este estudo pretende responder valores e comportamentos éticos e transparentes na adminis-
a seguinte questão: Quais as contribuições da utilização do tração pública.
Modelo de Excelência em Gestão Pública para a melhoria da Tal desafio deriva da administração pública gerencial, que
gestão na administração pública? “emergiu como o modelo ideal para o gerenciamento do Estado
O objetivo do presente trabalho consiste em identificar reformado, tanto por sua adequação ao diagnóstico da crise
as contribuições da utilização do Modelo de Excelência em do Estado realizado pela aliança social-liberal, quanto pela sua
Gestão Pública que auxiliem a gestão na melhoria dos resulta- suposta ruptura com o modelo burocrático de administração”
dos da administração pública. (PAULA, 2007, p. 125). Na visão de Bresser-Pereira (1996, p.1)
O presente artigo se justifica na medida em que se propõe a primeira reforma da administração pública foi a burocrática,
a discutir sobre a importância de se estabelecer programas e em 1936. Por sua vez, no ano de 1967 viria acontecer a reforma
critérios de qualidade que auxiliem a gestão na melhoria da que foi um “ensaio de descentralização e de desburocratiza-
performance e resultados na administração pública trazendo ção”. A administração burocrática clássica estava baseada no
benefícios para a academia, para as empresas públicas e para a modelo desenvolvido de administração do exército prussiano,
sociedade. A melhoria nos resultados beneficia diretamente a implantada inicialmente nos países europeus e implementada
sociedade, porque os recursos públicos são arrecadados da po- no Brasil em 1936. Tal modelo de administração foi adotado
pulação e se espera que sejam empregados da forma mais oti- como superior, em virtude do modelo de administração patri-
mizada possível. Para a academia, este artigo pode trazer uma monialista que vigorava no país. No modelo patrimonialista
contribuição reflexiva, na medida em que os estudos nessa não havia clara distinção entre o patrimônio público e o priva-
área necessitam de aprimoramento e contribuições contínuas. do, pois nesta modalidade de administração o Estado era com-
Por fim, a contribuição para a gestão e administração pú- preendido como propriedade do rei. Dessa forma, esse modelo
blica baseia-se na compreensão de que este tipo de análise não poderia mais ser compatível com o capitalismo industrial
deve ser discutida, construída e implementada para que a ad- e o surgimento das democracias parlamentares que desponta-
ministração pública continue se profissionalizando e evitando ram no inicio do século XIX, no qual era essencial a separação
práticas antiéticas. Metodologicamente, quanto ao objetivo, a entre o Estado e mercado (BRESSER-PEREIRA, 1996).
pesquisa classifica-se como exploratória e descritiva. Quanto Entretanto, tal modelo não sustentou seu pressuposto de
ao objeto, classifica-se como pesquisa qualitativa. O procedi- eficiência, pois na medida em que o Estado migra de uma con-
mento de coleta de dados se dará por meio da pesquisa bi- dição de pequeno Estado liberal do século XIX para o grande
bliográfica e análise documental. Este artigo está subdividido Estado social e econômico do séc. XX, “verificou-se que não
em três tópicos, no primeiro será abordado um panorama da garantia nem rapidez, nem boa qualidade, nem custo baixo
discussão atual sobre a gestão na administração pública, no para os serviços prestados ao público”. Era, na verdade, lento
segundo será apresentado o Modelo de Excelência em Gestão e caro e pouco atendia as demandas dos cidadãos (BRESSER-
Pública e uma breve apresentação do Programa Nacional de PEREIRA, 1996, p.5).
Gestão Pública, e por fim, serão apresentadas as contribuições Bresser-Pereira (1996) aponta que no momento em que o
da utilização do Modelo de Excelência em Gestão Pública, en- Estado passa a assumir uma gama de serviços sociais, englo-
cerrando com as considerações finais. bando a educação, saúde, cultura, previdência e assistência so-
cial, bem como a regulação do sistema econômico e as relações
GESTÃO CONTEMPORÂNEA NA internacionais, a provisão de serviços públicos e infraestrutu-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ra, surge a necessidade de se desenvolver eficiência nos pro-
cessos da administração pública. Nesse sentido, nos anos 80
Um dos principais desafios da moderna administração pú- tem-se o surgimento de uma administração pública gerencial
blica, segundo Matias-Pereira (2012) é conseguir promover o proveniente do crescimento e da complexidade dos problemas
desenvolvimento econômico e social sustentável em uma so- a serem enfrentados, como também da influência da adminis-
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EXCELÊNCIA EM GESTÃO PÚBLICA
tração de empresas com ideias de descentralização e flexibili- passa a olhar para o usuário como ator principal. Ou seja, se
zação administrativa. Tal contexto histórico resultou em um antes existia um cenário em crise pelo atendimento deficiente
novo contorno para a administração pública: descentralização prestado ao cidadão, progressivamente se tem uma perspec-
do ponto de vista politico, descentralização administrativa, tiva de melhoria nesse serviço até pela adoção de inovações
organizações com poucos níveis hierárquicos, pressuposto tecnológicas que permitem a melhora no atendimento e a mu-
da confiança limitada ao invés da desconfiança total, controle dança no modelo administrativo.
por resultados e administração voltada para o atendimento ao Essa reforma sofrida pela administração pública pode ser
cidadão. observada por meio de alguns aspectos sob o ponto de vista de
Nesse sentido, Paula (2007) coloca que nesse contexto o Matias-Pereira (2012), tais como: as recentes reformas no setor
novo modelo de gestão deveria apresentar as seguintes carac- público que visam modificar procedimentos, os mecanismos
terísticas: administração profissional e organizada em carrei- adotados baseados no mercado, elevação da atenção aos ín-
ras, descentralização administrativa, disciplina na utilização dices de eficiência, a mudança na forma de enxergar os usu-
de recursos, indicadores de desempenho transparentes, maior ários com uma visão dos cidadãos como consumidores. Pode
controle de resultados, ênfase em práticas de gestão advindas se observar também que as modificações não se restringem
do setor privado tais como administração por objetivos, down- apenas ao aparato administrativo, mas exige que o “Estado se
sizing compreendido como uma reorganização planejada do torne mais inteligente, ou seja, cada vez mais eficiente, eficaz
trabalho em que cargos e funções são eliminados (SANTOS, e efetivo na prestação de serviços públicos, com qualidade e
1998), empowerment relacionado ao sentido de poder ou con- menores custos para a sociedade” (MATIAS-PEREIRA, 2012,
trole de um individuo ou unidade organizacional, em que o p. 72). Por esses aspectos, a formação de uma cultura empre-
poder ocorre como uma função de dependência entre os atores endedora é fundamental para a melhoria na administração
(CONGER, KANUNGO, 1988), remuneração por desempe- pública, em termos de resultados, eficiência e qualidade dos
nho, qualidade total, entre outros (MATIAS-PEREIRA, 2012). serviços prestados.
Nesse sentido, sob o ponto de vista de Matias-Pereira Uma vertente mais recente sobre a administração públi-
(2012) compreende-se que a gestão da administração pública ca é apresentada por Paula (2007, p.158), caracterizada como
deve levar em consideração as limitações de recursos públicos administração pública societal. Essa vertente social “enfatiza a
que são arrecadados da sociedade. Assim, há uma preocupa- qualidade de vida e a expansão das capacidades humanas” e a
ção em se definir de forma coerente os programas e projetos busca para a solução de problemas, como a escassez de recur-
a serem executados, bem como a transparência dos processos. sos, podem ser resolvidas por meio de ações que estimulem o
Esses programas devem refletir a orientação de governo, a dis- potencial produtivo e a participação cidadã. Ainda segundo
ponibilidade dos recursos, além de contemplar as necessida- Paula (2007, p.158), “essa noção de desenvolvimento se rela-
des da sociedade por meio de politicas públicas. ciona com uma visão da globalização que preserva o projeto
Sob essa perspectiva, o processo de modernização da nacional e se baseia nas tecnologias disponibilizadas pelo mer-
administração pública deve almejar de forma permanente cado para alcançar um novo patamar civilizatório”.
um modelo de gestão que alcance diversos objetivos como a O cerne dessa mobilização é a inclusão da participação po-
melhoria da qualidade dos serviços prestados a população, o pular na gestão pública que alcançou seu auge na década de 60,
aperfeiçoamento do sistema de controle social da adminis- quando a sociedade começou a se organizar pelas reformas no
tração pública, elevar de forma permanente os critérios de país. Logo após o golpe de 1964, essas mobilizações retorna-
transparência, combater a corrupção, entre outros. Essa nova ram na década de 70, quando a igreja católica catalisou a dis-
dinâmica apontada por Matias-Pereira (2012, p. 67) “exige que cussão dos problemas coletivos nas comunidades eclesiais de
tanto a instituição como o servidor tenham uma postura mais base estimulando a participação popular nos debates das difi-
flexível, criativa e empreendedora” e cabe valorizar as diferen- culdades do cotidiano, contribuindo assim, para a formação
ças de desempenho e de alcance de resultados na administra- de lideranças populares. Esse ambiente estimulou a formação
ção pública. de grupos em torno de questões que afetavam a qualidade de
Isso também se evidencia, conforme aponta Matias-Pereira vida individual e coletiva nas demandas por transporte, habi-
(2012), na mudança das relações entre o usuário e a adminis-
tração pública, no qual o enfoque principal passa a ser o cida-
dão, em função das expectativas crescentes da sociedade que
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tação, segurança, saúde etc., originando reivindicações popu- iniciativa para o desenvolvimento de programas de qualida-
lares junto ao poder público (PAULA, 2005). de no serviço público. Avançando para 1995 e culminando
Paralelamente, este cenário favoreceu o surgimento dos com a reforma do Estado, foi criado o Programa Qualidade e
centros populares criados por militantes políticos, movimen- Participação na Administração Pública – QPAP, com foco em
tos populares e sociais, movimento sindical, pastorais sociais, ferramentas e o discurso voltado para qualidade como instru-
partidos políticos de esquerda e as ONGs. Essa legitimação mento de modernização do aparato estatal.
foi encontrando espaço na década de 80, momento em que se Já em 1999, foi criado o Programa da Qualidade no Serviço
desenhava a Constituição de 1988 e quando diferentes agen- Público (PQSP), que focava no atendimento ao cidadão com
tes políticos ofertavam suas propostas para formular um novo a realização de pesquisas de satisfação dos usuários, a criação
referencial nas relações entre o Estado e a sociedade. “Apesar de padrões de atendimento ao cidadão e a implantação dos
de sua heterogeneidade, o campo movimentalista se centrava serviços de atendimento ao cidadão (SACs). Nesse sentido, no
na reivindicação da cidadania e no fortalecimento do papel ano de 2005 o Governo Federal lançou por meio do Decreto nº
da sociedade civil na condução da vida política do país, pois 5378, de 23/02/2005, o Programa Nacional de Gestão Pública
questionava o Estado como protagonista da gestão pública” e Desburocratização (GESPÚBLICA), unificando o Programa
(PAULA, 2005, p.39). Nesse contexto, diversas iniciativas se da Qualidade com o Programa Nacional de Desburocratização
multiplicaram pelo país com propostas inovadoras de gover- (FERREIRA, 2012).
no que abrigavam diversas experiências de participação social Nesse sentido, o Gespública se insere em um contexto am-
e a ampliação do campo movimentalista que passou a atuar plo de mudança de paradigma administrativo, se deslocando
nos governos municipais por meio dos conselhos de gestão, da administração burocrática para a administração gerencial
comissões de planejamento e outras formas de representação conforme aponta Ferreira (2012).
(PAULA, 2005).
Cabe ressaltar que a proposta de desse tópico de discussão A administração pública gerencial busca responder tanto
foi apresentar o contexto da administração pública sob a pers- às novas circunstâncias do mundo atual, em que estão sendo
pectiva gerencialista, sem esgotá-la, destacando que existem revistos os papéis e as formas de atuação do Estado, como
outras abordagens e perspectivas e cada uma possui sua con- atender às exigências das democracias de massa contempo-
tribuição para o contexto da gestão na administração pública râneas, em que a funcionalidade e o poder das burocracias
e que com o passar dos anos novas necessidades foram surgin- estatais têm sido crescentemente questionados. As diretrizes
do nos projetos políticos e formas de organização do Estado, principais da administração gerencial podem ser resumidas
bem como um maior direcionamento para a participação ci- da seguinte forma: descentralização política, transferindo re-
dadã tornando possível o surgimento de outras abordagens de cursos e atribuições para os níveis regionais e locais; descen-
gestão. tralização administrativa, por meio da delegação de autorida-
de aos administradores públicos, transformados em gerentes
MODELO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO PÚBLICA: crescentemente autônomos; adoção de formatos organizacio-
APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA NACIONAL nais com poucos níveis hierárquicos, ao invés das estruturas
DE GESTÃO PÚBLICA E DESBUROCRATIZAÇÃO piramidais; flexibilidade organizacional, em lugar de estrutu-
- GESPÚBLICA ras unitárias e monolíticas, compatível com a multiplicidade,
a competição administrada e o conflito; adoção do pressu-
Há algumas décadas iniciou-se um esforço, por parte do posto da confiança limitada em substituição à desconfiança
governo brasileiro em se desenvolver um método com foco em total em relação aos funcionários e dirigentes; controle por
resultados que fosse semelhante ao utilizado em organizações resultados, a posteriori, ao invés do controle rígido, passo a
privadas e que pudesse ser adotado nas organizações públicas. passo, dos processos administrativos; e administração volta-
No final da década de 80 com a maior abertura dos merca- da para o atendimento do cidadão e aberta ao controle social
dos, Ferreira (2012) observa que o governo brasileiro buscou (Ferreira, 2012 apud BRASIL, 1999, p. 10).
mecanismos que atualizasse as organizações públicas e seus
serviços com relação a critérios como qualidade e produtivi- Segundo Ferreira (2012) essa abordagem transformou o
dade. Dessa forma, em 1990 foi criado o Programa Brasileiro paradigma da gestão pública brasileira e, como consequência,
da Qualidade e Produtividade (PBQP), sendo uma primeira exigiu uma nova versão para as práticas e métodos de gestão
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na busca por um modelo pautado na qualidade do serviço pú- as organizações públicas nacionais e estrangeiras e também
blico com foco em resultados e no cidadão. demais organizações do setor privado (BRASIL, 2009).
Por definição, o texto do Decreto 5378/05 aponta como fi- O Modelo de Excelência em Gestão Pública está pauta-
nalidade do GESPÚBLICA a contribuição com a melhoria da do em uma base composta pelos princípios constitucionais
qualidade prestada no serviço público e o aumento da compe- da Administração Pública: Legalidade - obediência à Lei,
titividade no país. Nesse sentido, o programa deverá contem- Impessoalidade – não realizar acepção de pessoas, Moralidade
plar a consolidação de uma administração pública profissional – a gestão pública deve se pautar em um código moral,
voltada ao interesse do cidadão e a aplicação de instrumentos Publicidade – ser transparente e dar publicidade aos dados,
gerenciais que visem promover a governança e a capacidade de Eficiência – realizar as ações com máxima qualidade e míni-
formulação, implementação e avaliação de politicas públicas, mo custo. E tem como pilares os fundamentos da excelência
promover a eficiência e aproveitamento dos recursos decor- gerencial composto por: pensamento sistêmico, aprendizagem
rentes da ação pública, promover a gestão democrática, parti- organizacional, cultura da inovação, liderança e constância de
cipativa e transparente (JUSBRASIL, 2005). propósitos, orientação por processos e informações, visão de
Corroborando com a definição apresentada pelo futuro, geração de valor, comprometimento com as pessoas,
JUSBRASIL (2005), site oficial do GESPÚBLICA (2017) tam- foco no cidadão e na sociedade, desenvolvimento de parce-
bém apresenta uma definição na mesma linha, no qual o pro- rias, responsabilidade social, controle social, e por fim, gestão
grama objetiva mobilizar a administração pública brasileira participativa. Os princípios constitucionais e os fundamentos
na geração de resultados, fazendo voz nesse contexto para o compõem a estrutura de sustentação do MEGP, pois indicam
desenvolvimento e a implantação de soluções que permitam os valores e as diretrizes estruturais que devem orientar o fun-
um aperfeiçoamento contínuo dos sistemas de gestão da admi- cionamento do sistema de gestão das organizações públicas
nistração pública e as suas tratativas junto aos cidadãos. (BRASIL, 2009).
Nesse sentido, o GESPÚBLICA enquanto uma politica Em termos de composição, o documento de referência do
de gestão pública possui como principais características: a) Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão descreve o
ser essencialmente pública, sendo orientada para o cidadão e Modelo de Excelência em Gestão Pública como um sistema
desenvolver-se dentro do espaço constitucional alinhado aos gerencial constituído por oito critérios que orientam a adoção
princípios de impessoalidade, legalidade, moralidade, publici- de práticas de excelência em gestão com a finalidade de elevar
dade e eficiência; b) ser focada em resultados para o cidadão, o padrão de desempenho das organizações públicas brasileiras.
ou seja, ter seus esforços direcionados para o atendimento das São eles: 1) liderança, 2) estratégias e planos, 3) cidadãos, 4) so-
demandas da sociedade traduzidas pelos governos na forma ciedade, 5) informações e conhecimento, 6) pessoas, 7) proces-
de politicas públicas; c) ser federativa, no qual os instrumentos sos, 8) resultados. Por sua vez, esses critérios podem ser agru-
do programa se estendem a administração pública de forma pados em quatro blocos relacionados entre suas partes, sendo
completa, compreendendo todos os poderes e esferas de go- o primeiro bloco denominado de Planejamento, composto
verno (BRASIL, 2009). pelos critérios de Liderança, Estratégias e Planos, Cidadãos e
Sob essa perspectiva, a adoção de um modelo de excelência, Sociedade, no qual se focaliza as necessidades dos cidadãos-u-
segundo Ferreira (2012) se deu com o encontro do desenvolvi- suários e as ações são planejadas conforme os recursos dis-
mento do programa no setor público com as experiências bem poníveis. O segundo bloco denominado de Execução, engloba
sucedidas no setor privado. O programa foi elaborado com os critérios de Pessoas e Processos, no qual se concretizam as
critérios de excelência utilizados no Brasil e em outros países, ações que transformam os objetivos e metas em resultados. O
mas com as devidas adaptações para realidade do país. A es- terceiro bloco representa o Controle, e engloba o critério de
trutura adotada pelo GESPÚBLICA promoveu uma adaptação Resultado, no qual há o acompanhamento do atendimento à
da linguagem, de forma a respeitar a natureza pública das or- satisfação dos usuários dos serviços e da ação do Estado, bem
ganizações, mas também preservou as características dos mo- como o desempenho dos serviços e processos organizacionais.
delos analisados em torno da excelência em gestão. A adoção Por fim, o quarto bloco representa a Inteligência da organiza-
do Modelo de Excelência em Gestão Pública (MEGP) auxilia ção, contendo o critério de Informação e Conhecimento, onde
as organizações públicas na busca da excelência na gestão, bem são organizados os dados internos e externos a organização e
como permite avaliações comparativas de desempenho entre
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fornece a capacidade de correção ou melhoria em suas práticas to de qualificação do serviço público, não sendo pré-requisito
de gestão e desempenho (BRASIL, 2009). um alinhamento total com o modelo, podendo as organiza-
Já em termos de avaliação da gestão pública, as oito partes ções se adaptar de acordo com suas especificidades tendo, no
do Modelo de Excelência em Gestão Pública foram transfor- entanto, como principal desafio a adequação das métricas do
madas em Critérios para Avaliação da Gestão Pública com a GESPÚBLICA a cultura da organização.
definição de alguns itens principais de análise que percorre um Conforme observa Fernandes (2009) o Modelo de
ciclo de aprendizagem abarcando a definição das práticas de Excelência na Gestão Pública se apresenta como uma ferra-
gestão, a implementação, a avaliação das práticas e padrões, menta assertiva para auxiliar o gestor público na tomada de
a inovação e o refinamento da prática. Esse instrumento tam- decisões, que pautadas em fatos e objetivos, também possui
bém possui um sistema de pontuação que determina o estágio um conjunto organizado de indicadores que representam o
de maturidade da gestão da organização em duas dimensões, desempenho das práticas de gestão adotadas. Dessa forma, a
sendo processos gerenciais e resultados organizacionais, po- adoção do modelo possibilita ir além do simples monitora-
dendo ser a mensuração do desempenho realizada de forma mento, pois “pode encontrar eco na necessária revolução da
qualitativa ou quantitativa (SECRETARIA DE GESTÃO DO lógica da distribuição de recursos financeiros do governo”
MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, 2009). (FERNANDES, 2009, p.19). O modelo possibilita a transfor-
A Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento mação de uma lógica de distribuição de recursos pouco equili-
(2009) aponta que a adoção deste modelo possibilita que a brada, para uma adoção de parâmetros comparativos necessá-
ação estatal seja mais eficaz, pois é possível desenvolver meca- rios para o entendimento de resultados atingidos e os recursos
nismos próprios de gestão de resultados e de controle social, o utilizados, bem como propicie maior transparência e possibi-
compartilhamento de responsabilidades entre as três esferas de lite que a sociedade exerça o direito de monitorar o governo.
governo e a adoção de práticas representativas e participativas. Um estudo de caso realizado por Caberlon (2012) na
Câmara Municipal de Novo Hamburgo sobre a aplicação, aná-
CONTRIBUIÇÕES DO MODELO DE EXCELÊNCIA lise e avaliação sobre a implantação do Modelo de Excelência
EM GESTÃO NACIONAL em Gestão Pública apontou que o processo de autoavaliação
trouxe benefícios para a organização avaliada, pois identi-
Os impactos da atuação do GESPÚBLICA pode ser eviden- ficou aos gestores os problemas e desafios a serem enfrenta-
ciado nas organizações públicas que implementam práticas de dos. Assim, o compartilhamento das soluções incorporadas
gestão e que obtém resultados benéficos para os cidadãos e na aos planos de melhorias concebidos de forma participativa e
melhoria da competitividade do país (BRASIL, 2009). a busca por melhoria contínua pode promover o resultado de
Um estudo realizado por Filardi et al. (2016) buscou ana- qualidade e excelência almejado.
lisar os resultados da aplicação do Modelo de Excelência na Favero (2010) também colheu resultados semelhantes em
Gestão Pública (MEGP) na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pesquisa realizada em organizações militares, no qual foi fun-
no período de 2003 a 2011, e observou que as ações realizadas damental para a obtenção de sucesso do modelo de Excelência
na busca da excelência tiveram aderência aos valores institu- em Gestão Pública o apoio e participação das lideranças das
cionais da organização, visando qualidade e melhoria dos pro- organizações. Cabe ressaltar que em todas as organizações
cessos, ganhos de eficiência e eficácia, levou ao repensar das pesquisadas o modelo foi adotado de forma voluntária, consi-
práticas organizacionais, bem como o cumprimento de prazos derado por Favero como primordial para seu êxito. Percebeu-
e avanços na infraestrutura e gestão, tendo como principais se também pela pesquisa a relevância da adesão das pessoas e
influências a metodologia do programa, os indicadores de re- do aspecto motivacional para a quebra de resistências e barrei-
sultados, o aprendizado e a avaliação. Com relação ao com- ras que possam existir na implementação do modelo. O estudo
prometimento com a gestão pública por resultados, houve a apontou como fator limitador foi apontado a dificuldade de se
participação da alta direção na implementação do programa, institucionalizar o GESPÚBLICA, devido o fato característico
no qual houve maior esforço em aspectos como inovação, da administração pública da troca periódica das lideranças das
nos processos, controle social e gestão participativa visando organizações, o que pode remeter a uma priorização momen-
alcançar melhoria nos fundamentos da excelência em gestão tânea da gestão atual e com possíveis mudanças na direção,
pública. Os apontamentos realizados ressaltam que o modelo
de excelência se apresenta como um importante instrumen-
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EXCELÊNCIA EM GESTÃO PÚBLICA
pode acarretar a perda de recursos e a perda da relevância ne- lizada, promotora do controle social e orientada para resulta-
cessária para sua completa institucionalização. dos, entre outras ações gerenciais
Por sua vez, o cenário não é tão positivo quanto se tra-
ta da implementação em universidades federais. Em estudo REFERÊNCIAS
realizado por Enke, Souza e Pereira (2014) observou que nas
universidades federais brasileiras pesquisadas o que existe são BRASIL. MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E
ensaios aproximados ao programa, mas não sua adesão pro- GESTÃO. SECRETARIA DE GESTÃO. Programa Nacional de Gestão
priamente dita. O que pode estar relacionado a problemas re- Pública e Desburocratização – GesPública; Prêmio Nacional da
ferentes à descontinuidade dos processos em virtude da cons- Gestão Pública – PQGF; Documento de Referência; Fórum Nacional
tante troca de gestão nos órgãos públicos, bem como a falta 2008/2009 / Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão,
de informação relativa a ferramenta proposta como opção de Subsecretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão. - Brasília: MP,
aporte a gestão pública. Percebeu-se no estudo que há uma SEGES, 2009. Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br/
lacuna quanto a implementação de programas de qualidade secretarias/upload/Arquivos/seges/forum_nacional_gp/documento_
nas universidades federais. Fowler (2008 apud Enke, Souza e referencia2009_29abr.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2017.
Pereira, 2014) aponta como fatores associados a baixa adesão
aos programas de qualidade a burocracia, falta de comprome- BRESSER-PEREIRA, L. C. Da administração pública burocrática
timento dos gestores, o apego a regras e rotinas, entre outros à gerencial. Revista do Serviço Público. janeiro-abril. 1996.
fatores. Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/papers/1996/95.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
CABERLON, C. D. Busca de qualidade na prestação do serviço
O objetivo deste trabalho foi identificar as contribuições público: utilização do modelo de excelência em gestão pública. 2012.
da utilização do Modelo de Excelência em Gestão Pública que Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria – RS. Disponível
auxiliem a gestão na melhoria dos resultados da administra- em: <http://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/46/ARTIGO2_
ção pública. Nesse sentido, a adoção de modelos e programas Caberlon_Doris_Clea.pdf?sequence=1>. Acesso em: 20 ago. 2017.
de qualidade se apresenta como uma alternativa assertiva para
melhorar a qualidade dos bens e serviços prestados, subsidiar CONGER, J. A.; KANUNGO, R. N. The empowerment process:
a tomada de decisão do gestor público, bem como de se reali- integrating theory and practice. Academy of Management Review,
zar uma avaliação continua e elevar o desempenho e qualida- 1988, Vol. 13, No. 3, 471-482. Disponível em: <http://www.
de das organizações públicas. Todavia, esse é um processo em cassandrathinktank.org/yahoo_site_admin/assets/docs/women_
construção que deve servir de ferramenta de análise para os empowerment_theory_and_practice.28121515.pdf>. Acesso em: 10
resultados da administração publica, lembrando que não deve ago. 2017.
ser realizado de forma isolada, mas munido de informações e
aperfeiçoamentos contínuos. ENKE, E. J. F. L.; SOUZA, I. M.; PEREIRA, M. F. Modelo de Excelência
Segundo documento de referência do Ministério do em Gestão Pública e o critério definido como estratégias e planos:
Planejamento, Orçamento e Gestão (2009) ainda há um cami- uma breve análise no âmbito das Universidades Federais. XIV
nho a ser percorrido na transformação do paradigma centra- Colóquio Internacional de Gestão Universitária – CIGU. Florianópolis
do no Estado para outro centrado no cidadão, o que torna a – Santa Catarina – Brasil. 3, 4 e 5 de dezembro de 2014. Disponível
tarefa da gestão pública mais complexa do que a realizada por em: <https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/131999> .
empresas privadas, pois é necessário atender a diferentes di- Acesso em: 22 ago. 2017.
mensões da cidadania no qual transcende a condição de clien-
te. Nesse sentido, o Programa Nacional da Gestão Pública e FAVERO, C. G. Avaliação de programas públicos. Sistema
Desburocratização é um poderoso instrumento de cidadania, de avaliação do Programa Nacional de Gestão Pública e
conduzindo cidadãos e agentes públicos ao exercício prático Desburocratização aplicado na Marinha do Brasil – o caso do
de uma administração pública ética, participativa, descentra- Programa Netuno. 2010. Dissertação de Mestrado. Fundação Getúlio
Vargas. Rio de Janeiro. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.
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