Cultivar 304

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XXVI • Nº 304 • ISSN - 1516-358X

outubro 2024

Expediente Editorial
Grupo Cultivar de Publicações Ltda.
CNPJ: 02783227/0001-86
Insc. Est. 093/0309480
Nesta edição, destacamos trabalho sobre a mistura de fungicidas mul-
Rua Sete de Setembro, 160 tissítios. O uso de fungicidas com múltiplos pontos de ação, quando com-
Pelotas – RS • 96015-300
binados de maneira estratégica, tem mostrado resultados promissores no
revistacultivar.com.br
[email protected] controle de patógenos. Este é o foco do artigo de capa. A importância desse
estudo se reflete diretamente no campo, onde a pressão por alternativas
Assinatura anual (11 edições*): R$ 289,90
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) mais eficazes e sustentáveis no controle de doenças continua a crescer.
Números atrasados: R$ 28,00
Assinatura Internacional:
US$ 150,00
€ 130,00
Outro tema que preocupa e deve ser monitorado de perto é a expansão
da cigarrinha sogata nas lavouras de arroz. Esse inseto, até então pouco
FUNDADORES
Milton de Sousa Guerra (in memoriam)
conhecido em certas regiões do Brasil, vem se tornando praga séria, cau-
Newton Peter sando danos significativos.
Schubert Peter
• Diretor
Newton Peter A resistência de cultivares de cafeeiro a Fusarium spp. desperta interes-
REDAÇÃO se. Instituições de pesquisa têm concentrado esforços para desenvolver so-
luções que possam mitigar os efeitos da doença causada por esses fungos.
• Editor
Schubert Peter
• Redação Por sua vez, a nutrição recebe abordagem nas culturas de feijão e milho.
Rocheli Wachholz No caso do feijão, o artigo destaca práticas de manejo nutricional e fisio-
Miriam Portugal
Nathianni Gomes lógico fundamentais para otimizar o crescimento e a produtividade. Já no
• Redator cultivo de milho, a questão tratada envolve a essencialidade de fertilizan-
Rogério Nascente tes nitrogenados. O conhecimento técnico sobre esses fatores pode fazer a
• Design Gráfico e Diagramação diferença entre uma colheita satisfatória e uma com baixa produtividade.
Cristiano Ceia
• Revisão Tratamos ainda de agentes biológicos no controle de pragas no milho,
Aline Partzsch de Almeida
de monitoramento regional para manejo integrado de pragas em soja e
COMERCIAL
muito mais. Tudo nas próximas páginas. Boa leitura!
• Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Vendas Índice
Sedeli Feijó
José Geraldo Caetano 04 Diretas Nossas
Franciele Ávila
05 Mundo Agro capas
CIRCULAÇÃO 06 Coluna ANPII
• Coordenação 08 Sogata em arroz
Simone Mendes
12 Resistência de clones de café a Fusarium
• Assinaturas
Natália Rodrigues 15 Calcário em excesso em café

• Expedição 18 Manejo da resistência


Edson Krause 21 Capa - Mistura de multissítios
26 Controle biológico para doenças em soja
Nossos Telefones: (53)
• Assinaturas • Comercial e Redação 29 Manejo fisiológico e nutricional do feijoeiro
3048.2000 3048.2075 32 Biológicos no controle de fungos Foto - Marcelo Gripa Madalosso

37 Aplicação nitrogenada de milho


revistacultivar.com.br Aplicações conjuntas de
instagram.com/revistacultivar 40 Coluna Agronegócios fungicidas que afetam diferentes
facebook.com/revistacultivar
pontos metabólicos dos fungos
41 Coluna Mercado Agrícola são objeto de estudo
youtube.com/revistacultivar

x.com/revistacultivar 42 Coluna Cesb


DIRETAS

FMC
A FMC Corporation anun-
ciou acordo com a Ballagro
Agro Tecnologia Ltda para
ofertar produtos biológicos
diferenciadas para os agri-
cultores brasileiros. "Essa
parceria com a Ballagro re-
força nossa estratégia, tra-
zendo soluções inovadoras
que atendem às necessida-
des dos produtores", disse

BASF Renato Guimarães, vice-pre-


sidente e presidente da FMC
América Latina.
Priscila Camara Leal Carvalho de
Souza assumiu o cargo de vice-presi-
dente sênior da BASF na América do
Sul. "Seguiremos como protagonistas
em inovação e sustentabilidade no se-
tor químico, com o objetivo de tornar
a BASF a empresa química preferida
Morgan
de nossos clientes em sua transfor-
A Morgan, uma das
mação sustentável", comentou.
marcas da LongPing
High-Tech, nomeou
Rodrigo Roman como
seu novo gerente nacio-
nal de marketing. Ele,
que atuava regional-
mente, assume a res-
ponsabilidade de liderar
a marca.

K+S Brasil
A K+S Brasil co-
municou a chegada
de Flávio Barcellos
Gênica Cardoso para o car-
go de gerente técni-
A Gênica nomeou Fábio Forli como co. Com mais de 20
"head" de marketing. O executivo terá anos de experiência
também sob sua responsabilidade as no setor agrícola, ele
áreas de portfólio, inteligência e aces- possui histórico de
so a mercado, excelência comercial, atuação em grandes
desenvolvimento de mercado e comu- companhias do ra-
nicação. mo.

04 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 304


MUNDO AGRO

Tropical Melhoramento e Genética Syngenta


A brasileira Tropical Melhora- "O milho, além de alimentar
mento e Genética (TMG) planeja animais e de gerar energia, é
ingressar no mercado de milho. muito interessante no processo
Deve lançar dois híbridos em 2025 produtivo. Falando-se em cresci-
e aumentar a oferta para quatro mento futuro, vejo-o com poten-
a cinco lançamentos por ano a cial muito grande. Igual ou maior
partir daí. Esses cultivares serão que a soja", explicou Francisco
voltados para a safrinha, no Cer- Soares, diretor-presidente da
rado, e contarão também com TMG.
tecnologias fornecidas por outras Mas, por enquanto, a em-
empresas, como a Syngenta. presa segue pensando em soja.
Trata-se da principal aposta para
aumentar sua participação de
mercado nos próximos anos. A
ideia consiste em consolidar sua No dia 23 de outubro, será inau-
posição no setor por meio de gurado, em Paulínia (SP), o maior
investimentos em pesquisa, de- centro de tecnologia de formula-
senvolvimento e inovação tecno- ções de produtos da Syngenta no
lógica. mundo. O novo centro de tecnolo-
Já em termos de algodão, a gia e engenharia de produtos para
TMG possui posição destacada a América Latina recebeu um in-
no mercado. Seu foco está em vestimento de R$ 65 milhões e le-
melhorar ainda mais a qualidade vou 18 meses para ser construído.
da fibra e a resistência a doen- O empreendimento faz parte
ças, especialmente a ramulária de um plano global da empresa,
(causada por Ramularia areola). que conta com outros seis polos
tecnológicos espalhados por paí-

BASF ses como Estados Unidos, Suíça e


China. No pipeline de investimen-
tos da empresa para este novo
A BASF lançará, até 2030, um
centro, estão previstos ainda R$
total de 25 inovações, incluindo seis
40 milhões nos próximos cinco
princípios ativos e seis novas carac-
anos (a partir de 2025).
terísticas genéticas para sementes.
O espaço fica próximo à fábrica
Após essa data, há previsão de pelo
da Syngenta, que opera na cida-
menos outras sete inovações adicio-
de desde 1978. Segundo Rodrigo
nais. Entre os novos produtos, foram
Marques, diretor de engenharia e
indicados os herbicidas Tirexor, Sur-
tecnologia de produtos da empresa,
tain e Luximo; os fungicidas Pavecto
a decisão de trazer o desenvolvi-
e Revysol; os inseticidas Axalion e
mento de produtos para o Brasil visa
Prexio; e um bioinseticida. As infor-
aproximar a inovação dos clientes
mações foram transmitidas por
locais, tornando o país um ponto es-
Michael Heinz, membro do conse-
tratégico.
lho executivo da empresa.

Cultivar Grandes Culturas 304 • revistacultivar.com.br • 05


Coluna ANPII

A importância das associações de empresas

H
á algum tempo escreve- qualidade dos produtos oferecidos no processo de registro, bem como
mos nesta mesma colu- aos agricultores. atuam nos órgãos legislativos, buscan-
na sobre a importância Por outro lado, a ANPII Bio vem do motivá-los para que apresentem
da união de empresas desenvolvendo novos produtos de leis cada vez mais adaptadas às ne-
em associações de classe, visando uma forma praticamente inédita no cessidades dos agricultores e às pos-
à conjugação de forças em torno de mercado brasileiro: uma aliança tec- sibilidades tecnológicas das indústrias.
objetivos comuns, fortalecendo os nológica entre as empresas associa- A ANPII Bio também está desenvol-
pleitos que levem ao desenvolvimen- das. Após a prospecção de novos co- vendo um programa interlaboratorial,
to do setor no qual atuam, com con- nhecimentos gerados pelos órgãos de juntamente com um laboratório de
sequente fortalecimento individual pesquisa, as empresas reúnem seus ponta na área de controle de quali-
de cada um dos participantes. departamentos de P&D e regulató- dade, visando avaliar os padrões de
Muitas vezes interpretadas como rios no desenvolvimento conjunto qualidade que o produto coloca no ró-
entidades que somente defendem de um produto, bem como iniciam os tulo. Os resultados são confidenciais,
assuntos menores, que fortaleçam contatos com o Ministério da Agricul- mas aquelas empresas cujo sistema
as empresas, mas que levam à dimi- tura e Pecuária (Mapa) para estudar a de contagem não esteja dentro das
nuição dos deveres com os órgãos melhor forma de registrá-lo. Uma vez exigências terão que melhorar seus
controladores e com os clientes ou registrado, cessa a aliança e cada em- processos, visando dar plena confia-
usuários dos produtos, as verdadei- presa coloca no mercado sua marca bilidade a seu sistema de controle da
ras associações de classe defendem e poderá adicionar as melhorias que qualidade.
o setor como um todo. julgar importantes para tornar seu Assim, essas ações desenvolvidas
A colaboração, e não o conflito, produto cada vez mais eficiente. em conjunto apresentam uma redu-
rege as diretrizes regulatórias, no Além disso, a associação contrata ção significativa de custos para cada
âmbito puramente colaborativo, especialistas na área regulatória, que empresa - pois os valores aportados
visando, muitas vezes, a fortalecer consolidam os pleitos das indústrias são divididos entre todos os partici-
o poder regulatório para preservar participantes e os levam para discus- pantes dos programas -, além de faci-
as boas empresas da concorrência sões junto aos ministérios envolvidos litarem a interlocução com os órgãos
desleal de empresas menos com- de pesquisa, com as entidades regu-
prometidas com a qualidade dos latórias e com a área política.
produtos. A ANPII Bio se orgulha de ser a
No caso da ANPII Bio, agora de- primeira associação do Brasil voltada
Os resultados são
nominada ANPII Bio - Associação exclusivamente para a área de bioin-
Nacional de Promoção e Inovação confidenciais, mas sumos, com 34 anos de atuação inin-
da Indústria de Biológicos, ampliando aquelas empresas terrupta, acompanhando todas as
seu espectro de uma entidade volta- cujo sistema de grandes modificações ocorridas neste
da unicamente para o setor de inocu- contagem não tempo no campo dos produtos bioló-
lantes para abranger todo o campo esteja dentro das gicos para a agricultura. As empresas
dos bioinsumos, a linha de conduta exigências, terão associadas desfrutam de um ambien-
tem sido, desde sua fundação, em te proativo, moderno e, sobretudo,
que melhorar
1990, a de estreita colaboração com democrático, com as diretorias que
os órgãos regulatórios, em um diá- seus processos, se sucedem ao longo do tempo repre-
logo frutífero, cordial, colaborativo. visando dar plena sentando não a ideias dos diretores,
Em muitas ocasiões, a entidade tem confiabilidade a seu mas sim uma síntese dos desejos das
estado mesmo na vanguarda dos sistema de controle empresas associadas. C

avanços tecnológicos, propondo no- da qualidade


vos parâmetros, mais rigorosos, na Solon Araujo,
Conselheiro da ANPII
06 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 304
ARROZ

Cigarrinha sogata
torna-se problema
É preciso que o produtor esteja atento a essa espécie relativamente recente como
praga nas lavouras de arroz no país, a fim de realizar o manejo correto e minimizar
os danos decorrentes de sua infestação

A
sogata, Tagosodes orizicolus
(Hemiptera: Delphacidae), co-
mo praga, é relativamente re-
cente nas lavouras de arroz no
Brasil. Essa espécie é importante praga do
arroz na América Tropical (Colômbia, Vene-
zuela, Equador e Peru) e no Caribe (Cuba),
mas por aqui não causava danos. Sujeita à
forte pressão de controle biológico natural
e a outros condicionantes ecológicos, a
sogata não formava altas populações nas
áreas cultivadas. Porém, a situação mudou
e agora é preciso estar atento à ocorrência
dessa nova praga do arroz.

Conhecendo
a praga
Os adultos da sogata são pequenas ci-
garrinhas, com acentuada diferença entre
os sexos, parecendo até espécies distintas
numa primeira impressão. As fêmeas me-
dem de 3 mm a 4 mm de comprimento e
são de coloração castanho-amarelada. Os
machos são menores (2 mm a 3 mm de
comprimento) e de coloração preta. Em
ambos os sexos, uma faixa mediana de cor
clara percorre o dorso, da cabeça ao final
do abdome.
Um aspecto muito peculiar da sogata
é a existência de fêmeas aladas e fêmeas
com asas rudimentares. As fêmeas aladas
possibilitam a dispersão da espécie, porém

08 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 304


Ciat e Epagri Fotos Epagri

Adultos (esquerda) e ninfas (direita)


de sogata em folhas de arroz

ao custo de uma taxa reprodutiva


menor (160 ovos/fêmea). Já as fê-
meas com asas rudimentares são as
“parideiras”, que muito contribuem Lavouras de arroz com reboleiras de ataque de sogata
para o aumento da população. Essas
fêmeas, por não voarem, põem duas
vezes mais ovos que as fêmeas ala-
das (até 350 ovos/fêmea). ras, onde surgem depois os sinto- deiro preferido, a sogata pode se
Os ovos são postos em grupos de mas. desenvolver em vários outros ca-
sete a 21, dentro da nervura princi- A população da sogata aumenta pins, especialmente naqueles dos
pal da folha, e incubam por quatro a com a idade das plantas e atinge o gêneros Echinochloa (capim-arroz),
oito dias. As ninfas são branco-ama- máximo durante o período de for- Leptochloa, Digitaria, Panicum,
reladas, sem asas e com duas faixas mação dos grãos. Porém o ataque Paspalum e Leercia. Gramíneas cul-
escuras no dorso. A fase de ninfa só é crítico do emborrachamento tivadas, como milho, aveia, trigo,
varia de 15 a 18 dias, sucedendo-se ao estágio de grão leitoso. Em Santa cevada, centeio, sorgo, teosinto, ce-
as gerações em cerca de 20 dias. Os Catarina, as maiores populações de vadilha e azevém, também podem
adultos vivem por 20 a 30 dias. sogata têm ocorrido entre feverei- servir de hospedeiros para a sogata.
Com um ciclo de vida completan- ro e março. Na região arrozeira do
do-se em menos de um mês, duas a Vale do Paraíba, em São Paulo, o Danos
três gerações se sucedem numa la- pico populacional ocorre um pouco da praga
voura de arroz. O eventual cultivo da mais cedo, entre janeiro e fevereiro. A sogata suga a seiva do arroz,
soca possibilita mais gerações e um Já em Santo Antônio de Goiás, GO, nas folhas, nos talos e nas panícu-
aumento ainda maior da população adultos e ninfas ocorrem em maior las. Isso causa o amarelecimento e
de sogata. número de janeiro a março. Os pe- a posterior seca das partes verdes
ríodos de estiagem e alta tempera- da planta, com perdas significati-
Ocorrência tura são favoráveis ao aumento da vas na produção em caso de alta
nas lavouras população da sogata. infestação. Lavouras muito infesta-
As sogatas podem surgir nas la- Durante a entressafra, a sogata das podem resultar em colheitas
vouras a partir do perfilhamento, permanece nas áreas cultivadas, es- inferiores a 100 sc/ha. A excreção
atingindo altas populações no verão. pecialmente se houver rebrote do do excesso de seiva sugada leva ao
Os adultos chegam voando de áreas arroz. Parte da população migra pa- desenvolvimento de fumagina nas
vizinhas e se instalam, inicialmente, ra as pastagens próximas às lavou- folhas e atrai muitas mosquinhas
nas bordas das lavouras. Com o au- ras, ou para outras áreas vizinhas para a lavoura.
mento da população, adentram as que tenham muitas gramíneas. A importância da sogata não re-
lavouras e formam grandes rebolei- Embora o arroz seja o hospe- side apenas no dano direto que o

Cultivar Grandes Culturas 304 • revistacultivar.com.br • 09


Fotos Epagri

A B

Folhas de arroz com fumagina (esquerda) e sogatas na plataforma de corte da colheitadeira (direita)

inseto pode causar, mas também na pulverizações desnecessárias de fun- Últimas


transmissão do vírus da folha bran- gicidas e inseticidas. Considerações
ca (HBV), doença que ainda não foi • Destruição de restos culturais Várias cigarrinhas podem apare-
encontrada no Brasil. Incidindo nos após a colheita, evitando o cultivo cer nas lavouras de arroz, pois inúme-
estágios iniciais da lavoura, o vírus da soca em áreas previamente infes- ras são as espécies na fauna nativa e
da folha branca compromete grave- tadas. muitas delas adaptadas às gramíne-
mente o desenvolvimento e a pos- Embora a sogata já esteja prevista as. Contudo, apenas a sogata tem in-
terior floração das plantas atacadas. como praga do arroz no Agrofit do cidido recentemente de forma avas-
Ministério da Agricultura e Pecuária saladora, causando grandes prejuízos
Manejo (delfacídeo-do-arroz), ainda não há e preocupação entre os produtores.
integrado inseticidas registrados para seu con- Dada a situação inédita da ocorrência
A principal medida de manejo trole no Brasil. Isso advém da irrele- da sogata no Brasil, os produtores
da sogata é o plantio de cultivares vância que o inseto tinha até então e devem ficar atentos e empregar cor-
resistentes, tanto ao vírus quanto à deverá ser revisto em breve. retamente as medidas de manejo in-
cigarrinha. Porém devido à inexis- Nos países da América Tropical, tegrado para manter sob controle as
tência de cultivares resistentes e à o controle químico é feito com in- populações dessa cigarrinha.
não ocorrência do HBV no Brasil, o seticidas sistêmicos ou de contato, Nesse sentido é fundamental
manejo integrado deve visar à su- procurando selecionar aqueles in- implementar um bom manejo de
pressão das infestações de sogata, gredientes ativos menos tóxicos aos entressafra, com o tombamento e a
com as seguintes medidas: inimigos naturais. Ainda assim, este incorporação da palha do arroz e a
• Realizar vistorias periódicas na controle é adotado com extrema uniformização da superfície do solo.
lavoura a partir do perfilhamento, cautela, pois tem grande chance de Áreas de lavoura onde vegetam re-
intensificando-as de dezembro em promover ciclos de ressurgência da brotes de arroz ou com abundância
diante, para constatar os primeiros praga, especialmente se realizado de gramíneas fornecem abrigo e ali-
focos de ocorrência. A sogata fica na com produtos de largo espectro de mento às cigarrinhas até o próximo
parte baixa das plantas e é preciso ação. ciclo de cultivo. Nessas áreas, são
afastar os colmos com uma taquara Nos casos de alta infestação, grandes as chances de o produtor de
ao fazer essas inspeções. que venha a ser controlada com arroz ter problemas de ataque de so-
• Empregar inseticidas micro- inseticidas, normalmente são ne- gata, especialmente se isso já se ve-
biológicos, formulados com bovéria cessárias duas aplicações sequen- rificou na safra anterior. Estar atento
e metarrízio, no início das infesta- ciais, espaçadas de 12 a 15 dias. ao correto manejo da praga é crucial
ções. Sob condições propícias de Essa sequência deve ser adota- para diminuir a incidência de sogata
umidade, o controle com fungos da, pois muitos ovos, protegidos nas lavouras de arroz. C

pode chegar a 80% de eficácia em dentro das nervuras das folhas,


12 dias. permitem a reinfestação por nin-
• Preservação e incremento do fas após o período residual dos Eduardo Rodrigues Hickel,
controle biológico natural, evitando produtos. Epagri - Estação Experimental de Itajaí

10 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 304


CAFÉ

Cultivares resistentes
A preocupação com a disseminação e o potencial de danos causados por Fusarium spp.
concentra esforços de instituições de pesquisa no desenvolvimento de soluções que
contribuam para a sua mitigação

A
produção de café Coni- pesquisadores no estado do Espírito apical, perda de vigor, curvatura das
lon/Robusta represen- Santo. Foi descrita pela primeira vez folhas, murcha, amarelecimento,
ta a principal fonte de no Brasil em 2018, por estudantes formação de cancros, progredindo
renda para milhares de e pesquisadores do Laboratório de para a seca e morte de ramos orto-
pequenos, médios e grandes produ- Epidemiologia e Manejo de Doen- trópicos e plagiotrópicos (Figura 1).
tores, principalmente para o estado ças em Plantas (Lemp), localizado A ocorrência do cancro dos ra-
do Espírito Santo, que se posiciona no Centro de Ciências Agrárias e En- mos do cafeeiro em Coffea cane-
como o maior produtor da commo- genharias da Universidade Federal phora é relatada de norte a sul do
dity no país. O potencial produtivo do Espírito Santo (CCAE-Ufes). Nos- estado do Espírito Santo, sendo ain-
do Conilon/Robusta é afetado pela sa equipe encontrou três diferentes da relatada em regiões produtoras
constante interação com fitopató- espécies patogênicas de Fusarium, de Conilon/Robusta localizadas em
genos em lavouras, a qual, em asso- sendo elas F. solani, F. decemcellu- Minas Gerais, Bahia e Rondônia. A
ciação com um ambiente favorável, lare e F. lateritium, que induz sin- preocupação com a disseminação
resulta na ocorrência de doenças, tomas como perda de dominância e o potencial de danos causados
reduzindo a produtividade e a qua- pela doença concentra esforços de
lidade do fruto. instituições de pesquisa e do gover-
A ocorrência de Fusarium spp. no do Espírito Santo no desenvolvi-
em cafeeiros Conilon/Robusta preo- mento de pesquisas aplicadas à ca-
cupa cafeicultores, extensionistas e

12 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 304


Fotos Fábio Luiz Partelli

Figura 1 - perda de dominância apical, perda de vigor, curvatura das folhas, murcha, amarelecimento (a e b),
formação de cancros (c), progredindo para a seca e morte de ramos ortotrópicos e plagiotrópicos (b e c)

racterização de métodos que contri- em casas-de-vegetação localizadas avaliadas, semanalmente, quanto


buam com a mitigação da doença, a no distrito de Rive, do município de ao surgimento de sintomas associa-
curto, médio e longo prazo. Dentre Alegre-ES. Mudas de C. canephora, dos àqueles que ocorrem em nível
os métodos de controle inseridos do grupo varietal Conilon (Valcir P, de campo para a doença (Figura
em planos de manejo para patossis- Beira Rio 8, Verdim R, Graudão HP, 2). Amostras de cada tratamento
temas associados a Fusarium spp., Pirata, L80, Clementino, LB1, Penei- inoculado foram utilizadas para
o controle genético com a utilização rão, AP, A1, AD1, P2, Bicudo, Bam- reisolamento do agente etiológico
de materiais resistentes é uma ex- burral, Imbigudinho) e do grupo e conclusão do postulado de Koch,
celente ferramenta. varietal Robusta (RMD, 03, R04, 06, confirmando a patogenicidade.
65, 25, G8, 102, 417, G20, L33, VR4,
Forma de R22, G40, 07, AS2, LB80, R110 e Resultados
experimentação 08), foram inoculadas com F. solani. da pesquisa
Visto o potencial do método de As plantas foram inoculadas e Ao término da condução do
controle genético na redução da in-
tensidade de doenças causadas por
Fusarium, estudantes de graduação
e pós-graduação, técnicos e docen-
tes da Ufes, investigaram, a partir
de estandes de genótipos/clones de
C. canephora, fontes de resistência
à doença. Entre os genótipos/clo-
nes avaliados, materiais do grupo
Robusta e Conilon estão inseridos,
representando genótipos/clones
comercialmente distribuídos em la-
vouras de cafeeiros Conilon/Robus-
ta de regiões produtoras.
Os experimentos para caracte-
rização da resistência de clones de Dentre os métodos de controle inseridos em planos de manejo para patossistemas associados a
C. canephora à F. solani ocorreram Fusarium spp., o controle genético com a utilização de materiais resistentes é uma excelente ferramenta

Cultivar Grandes Culturas 304 • revistacultivar.com.br • 13


Fotos Fábio Luiz Partelli

Figura 2 - sintomas avaliados em casa-de-vegetação para testes de resistência de clones de C. canephora


a F. solani: a - tratamento controle, ausência do patógeno no protocolo de inoculação; b - necrose da região
inoculada; c – anelamento do caule da muda; d - murcha, seca e morte do ramo a partir da região inoculada

experimento, todos os genótipos/ geno nos tecidos internos do hos- L33, VR4, R22, G40, 07, AS2, LB80,
clones avaliados desenvolveram sin- pedeiro, enquanto os genótipos/ R110 e 08 foram aqueles que se
tomas de murcha, amarelecimento, clones Imbigudinho, Bamburral, apresentaram mais resistentes, de-
lesões internas e externas na região Bicudo, P2, AD1, A1, AP e Peneirão vido a uma menor área colonizada
inoculada e redução de altura e nú- foram aqueles que se apresenta- por F. solani.
mero de folhas. Diferentes níveis de ram mais resistentes à doença, de-
resistências foram caracterizados, vido a uma menor área colonizada Considerações
não sendo, portanto, constatada por F. solani. fitossanitárias
resistência total à doença entre os Para o grupo varietal Robusta O grupo de fungos fitopatogêni-
materiais em estudo. os genótipos/clones RMD, 03, cos do gênero Fusarium representa
Os genótipos/clones do grupo R04, 06, 65, 25, G8, 102, 41 e 88 uma das maiores preocupações
varietal Conilon Valcir P, Beira Rio 8, foram descritos como mais sus- para a fitossanidade agrícola, devi-
Verdim R, Graudão HP, Pirata, L80, cetíveis, devido a uma maior área do à dificuldade de controle. Esses
Clementino e LB1 foram descritos colonizada do patógeno nos teci- resultados são importantes para
como mais suscetíveis, devido a dos internos do hospedeiro, en- implementação de medidas de mi-
uma maior área colonizada do pató- quanto os genótipos/clones G20, tigação da doença. Nosso grupo de
pesquisa está conduzindo diversos
trabalhos quanto a epidemiologia
e medidas de manejo (químico,
biológico e genético) para o cancro
dos ramos do cafeeiro (Coffea ca-
nephora), com o objetivo de propor
soluções para o setor da cafeicultu-
ra. Estamos à disposição para parce-
rias, para juntos enfrentarmos este
desafio da cafeicultura. C

Willian Bucker Moraes,


Matheus Ricardo da Rocha,
Fábio Luiz Partelli,
André da Silva Xavier,
O grupo de fungos fitopatogênicos do gênero Fusarium representa uma das maiores Fábio Ramos Alves,
preocupações para a fitossanidade agrícola devido à dificuldade de controle
Ufes

14 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 304


CAFÉ

O extra que atrapalha


Correção excessiva no sulco de plantio de café pode causar problemas nutricionais

C
uidados especiais de- No plantio do cafeeiro são im- mento do cálcio e magnésio devem
vem ser tomados no portantes os nutrientes que tra- ocorrer pelo uso de calcário, sendo
uso de corretivos na zem maior influência na formação a dose aplicada em área total, incor-
implantação de lavou- do sistema radicular e na estrutu- porada com aração ou gradagem,
ras de café, para evitar falta ou ra da planta. O cálcio, o magnésio e mais uma quantidade do calcário
excesso de correção, igualmente e o fósforo são essenciais. junto ao sulco ou cova de plantio,
prejudiciais. A correção do solo e o supri- misturado com a terra de reenchi-

Cultivar Grandes Culturas 304 • revistacultivar.com.br • 15

Fotos José Braz Mattielo


Fotos José Braz Mattielo

Figura 1 - disponibilidade de nutrientes conforme o pH no solo

Plantas amarelecidas mostrando sintomas de deficiência de


manganês (esq.) ao lado de planta normal (à direita), em área
com solo já corrigido por plantio anterior de soja/milho

mento. A dose de calcário depende Excesso tes de acordo com o pH do solo.


da condição de disponibilidade de de correção Verifica-se que os micronutrientes
cálcio e de magnésio, e do pH do Tem sido comum a verificação ferro (Fe), cobre (Cu), magnésio
solo, avaliados pela análise quími- de carências de micronutrientes (Mn) e zinco (Zn) ficam muito re-
ca. Quando o plantio é previsto quando o solo fica muito corrigi- duzidos com a elevação do pH.
sobre área antes com cafezal (er- do, com pH elevado. É frequente o Um bom exemplo do problema
radicado ou com dobra), ou sobre amarelecimento de plantas jovens de pH elevado causando deficiência
cultura anual anterior, o uso de por correção excessiva. Este ama- de micronutrientes foi observado,
corretivos deve levar em conta a relecimento da folhagem decorre recentemente, em lavoura no sul
condição do solo em função de cor- da deficiência de manganês, po- de Minas Gerais. A dose de calcário
reções já realizadas nessas culturas dendo, também, vir associada com utilizada e mais a dose de um ter-
e do consequente acúmulo de nu- deficiência de ferro e de outros mofosfato foram as normais, na ba-
trientes (por resíduos de corretivos micronutrientes. A Figura 1 ilustra se de 300-400 gramas (g) por metro
e adubos da cultura anterior). bem a disponibilidade de nutrien- de sulco. As plantas se encontravam
com cerca de dez meses de campo
e muitas delas se mostraram com
amarelecimento, conforme pode
ser observado na Figura 1.
Levantando o histórico do ter-
reno, verificou-se que o plantio do
café foi feito numa área que vinha
sendo cultivada, por alguns anos,
com soja e milho; e, deste modo, o
solo vinha sendo corrigido. As do-
ses adicionais de corretivos, aplica-
das no sulco de plantio, excederam
em correção, conforme pode ser
observado da análise de solo efe-
tuada recentemente (Tabela 1).
Observando-se os resultados
Cuidados especiais devem ser tomados no uso de corretivos na implantação de das análises de solo em duas áre-
lavouras de café para evitar falta ou excesso de correção, igualmente prejudiciais as com cafeeiros amarelados po-

16 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 304


Tabela 1 - resultados de análise de solo em duas amostras em área com cafeeiros jovens
amarelados
de-se observar que o pH está alto;
o V% muito alto e os teores de Mn DETERMINAÇÕES 54332 54333
e Fe do solo muito baixos. pH pH (CaCl2 0,01 mol/L-1) - 7,1 7,2
Diante do que foi observado,
M.O. Matéria Orgânica g/dm3 23 18
onde houve correção excessiva,
o procedimento indicado é o de Carb. Total Carbono Total g/dm3 13 10

utilizar uma dose menor (tipo P Fósforo (Resina) mg/dm3 76 55


meia-dose) de calcário, em função K Potássio (NH4Ci) mmolc/dm3 3,7 1,6
de que ele vai ser colocado em ca- Ca Cálcio (NH4Ci) mmolc/dm3 65 50
mada um pouco mais profunda do
Mg Magnésio (NH4Ci) mmolc/dm3 20 16
que aquela corrigida pelo cultivo
anual de cereais. Onde o sulco de H+Al Hidrogênio + Alumínio mmolc/dm3 10 10

plantio vai ser bem profundo, o Al Alumínio (NH4Ci) mmolc/dm3 0 0


que poderia exigir mais calcário, H Hidrogênio mmolc/dm3 10 10
ou em caso de dúvida, indica-se S.B. Soma de bases mmolc/dm3 88,7 67,6
avaliar melhor a situação, através
C.T.C. Cap. Troca Catiônica mmolc/dm3 98,7 77,6
de análise de solo em profundida-
de de 20 a 40 cm. A aplicação do V% Saturação de Bases % 90 87

calcário em área total fica pratica- B Boro (Água Quente) mg/dm3 0,65 0,6

mente eliminada nessa condição. Cu Cobre (DTPA) mg/dm3 1,7 1

Fe Ferro (DTPA) mg/dm3 12 14


Ferro e Mn Manganês (DTPA) mg/dm3 3,2 1,8
manganês
É bem conhecido que, nas la- Zn Zinco (DTPA) mg/dm3 4,6 2,9

vouras novas de café, três condi- S Enxofre (Fósf. Cálcio) mg/dm3 1 4


ções do solo afetam a disponibili- K na CTC % de Potássio na C.T.C. % 3,7 2,1
dade de ferro e manganês para as Ca na CTC % de Cálcio na C.T.C. % 65,9 64,4
plantas: pH muito alto, excesso de Mg na CTC % de Magnésio na C.T.C. % 20,3 20,6
fósforo e eventual falta de areja-
Al na CTC % de Alumínio na C.T.C. % 0 0
mento. Para a correção das defi-
ciências de ferro e manganês, po- H na CTC % de Hidrogênio na C.T.C. % 10,1 12,9

dem ser adotados dois caminhos Ca/Mg Relação Ca/Mg - 3,3 3,1
complementares. Aplicar adubos Ca/K Relação Ca/K - 17,6 31,3
acidificantes, como os nitrogena- Mg/K Relação Mg/K - 5,4 10
dos, em cobertura, os quais, re-
duzindo gradativamente o pH do
solo, voltam a aumentar a disponi- Conclusão pulverização; ou seja, via foliar
bilidade do ferro e do manganês. Por fim, pode-se resumir a com sais ou outras formulações
Indica-se, ainda, pulverizações com indicação para a correção do pro- de adubos foliares. No caso do
sulfato ferroso e sulfato de man- blema de deficiência de micronu- boro, aplicação via solo é a mais
ganês a 0,5-1,0%, para acelerar a trientes por excesso de correção. eficiente. Com o tempo, o uso
correção das deficiências. O uso de Através da diagnose foliar, ou, de adubos acidificantes - como
adubos orgânicos, ricos em ferro e existindo dúvidas, por meio de ureia, sulfato de amônia e outros
manganês, também ajuda na cor- análise foliar, identifica-se qual - utilizados na adubação normal
reção. O uso de fontes de ferro ou ou quais os micronutrientes es- da lavoura vai diminuindo o pH
manganês no solo, em cobertura, tão em falta nas plantas. Para do solo e, assim, torna os micro-
não tem resultado positivo pela di- aqueles que pouco se aprofun- nutrientes mais disponíveis. C

ficuldade do ferro e do manganês dam no solo - como manganês,


(como zinco e cobre) deslocarem- ferro, cobre e zinco -, deve-se José Braz Matiello,
-se em profundidade. proceder o seu suprimento por Fundação Procafé

Cultivar Grandes Culturas 304 • revistacultivar.com.br • 17


SOJA

Monitoramento
sem uma estratégia apropriada de
manejo de resistência pode levar à
seleção de indivíduos resistentes e,
consequentemente, à perda da tec-

regional
nologia de manejo utilizada.

Pressão de seleção
e manejo integrado
Essa sequência de acontecimen-
As análises para o manejo integrado de pragas devem tos dentro do processo evolutivo
ter enfoque localizado, pois podem ocorrer variações de é conhecida como “pressão de se-
suscetibilidade a determinada tática de controle entre leção”. A evolução é discutida no
meio científico desde o século XVIII
populações relativamente próximas
e nada mais é do que um processo

A
de mudança e adaptação dos seres
resistência de insetos- víduos resistentes é muito baixo na vivos ao ambiente em que vivem,
-praga aos inseticidas população, não impactando no ma- com o passar das gerações. Por-
é um problema global nejo. Por isso, no estágio inicial não tanto, reduzir a pressão de seleção
que afeta a agricultura, há impacto na produtividade e, por- de insetos resistentes, seja para
a saúde pública e o meio ambiente. tanto, acabam passando desperce- determinado grupo químico ou
Ao sobreviverem às táticas de ma- bidos pelos agricultores. Entretanto, para qualquer tática de controle,
nejo empregadas, as populações das com o uso repetido do mesmo deve ser a primeira estratégia a ser
pragas crescem acima dos níveis de grupo químico, esses indivíduos re- adotada; e isso pode ser alcançado
dano econômico, causando redu- sistentes são os únicos sobreviven- com o Manejo Integrado de Pragas
ções significativas de produtividade. tes após a pulverização, e, assim, (MIP), pois, ao utilizarmos um cor-
Esse problema é mais comum do se acasalarão entre si (Figura 1). reto monitoramento de pragas e
que os produtores podem imaginar, Quando isso ocorre, a característica respeitarmos os níveis de controle
visto que a resistência é uma carac- de resistência, que era a minoria na preconizados pela pesquisa, natu-
terística genética que ocorre natu- população no início do manejo, pas- ralmente o número de pulveriza-
ralmente nas populações de insetos, sa a ser a maioria, e, então, deter- ções de inseticidas será menor do
permitindo que alguns indivíduos minado inseticida passa a não mais que o utilizado atualmente e, con-
dessas populações, que apresentam funcionar. Assim, o uso de qualquer sequentemente, a intensificação do
esses genes, tolerem doses que se- tática de manejo de pragas, sejam processo de seleção de indivíduos
riam letais para a maioria. elas moléculas inseticidas ou plan- resistentes será reduzida. Ou seja,
Inicialmente, o número de indi- tas geneticamente modificadas, antes de se pensar em estratégias

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Embrapa Soja
Tabela 1 - comparação da eficiência e das vantagens na utilização do MIP-Soja no Paraná

Variável Comparação 2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22

2,30 2,10 2,10 2,00 1,50 1,70 1,65 1,72 0,83


Com MIP
Número de aplicações 46 produtores 106 produtores 123 produtores 141 produtores 196 produtores 241 produtores 255 produtores 191 produtores 175 produtores
de inseticidas/safra
5,00 4,70 3,80 3,70 3,40 3,40 3,02 3,41 2,59
Sem MIP
333 produtores 330 produtores 314 produtores 390 produtores 615 produtores 773 produtores 553 produtores 518 produtores 522 produtores

Dias até a primeira Com MIP 57,50 66,00 66,80 70,80 78,70 74,00 75,00 76,00 85,00
aplicação de inseticida Sem MIP 33,00 34,00 36,00 40,50 43,60 40,30 56,00 59,00 57,00

Custo de controle de Com MIP 144,60 120,00 120,00 138,00 84,60 126,00 108,00 60,00 18,00
pragas (kg/ha) Sem MIP 301,80 246,00 120,00 96,00
300,00 240,00 246,00 196,20 180,00

Produtividade Com MIP 2.953,80 3.612,00 3.426,00 3.870,00 3.702,00 3.006,00 3.864,00 3.654,00 1.752,00
(kg/ha) Sem MIP 2.920,20 3.516,00 3.282,00 3.828,00 3.624,00 2.916,00 3.804,00 3.618,00 1.740,00

de manejo da resistência, é funda- dade em mais de nove anos do pro- estarmos cientes de seus impactos
mental a implementação do MIP, o jeto (Tabela 1). na comunidade de inimigos naturais,
que, além de reduzir a intensidade caso contenham na mistura algum
do processo de seleção, proporcio- Modos de ação inseticida de largo espectro. Nesse
na um eficiente manejo de pragas; dos inseticidas caso, é desejável que esses insetici-
ao mesmo tempo em que mantém Aliado à menor intensidade de das não sejam utilizados logo no iní-
o potencial produtivo das culturas, uso de inseticidas proporcionada pe- cio da cultura, justamente para pre-
maximizando, então, a margem de lo MIP deve-se rotacionar os modos servar os inimigos naturais que estão
lucro do produtor. Essa afirmação fi- de ação dos inseticidas (biológicos iniciando seu estabelecimento na
ca bem evidente ao analisarmos os ou químicos), como exemplificado lavoura e contribuem para a redução
resultados obtidos no Paraná, em na Figura 2. É possível, também, a do número de insetos resistentes
um programa de estado de manejo utilização de mais de um grupo quí- em uma população.
de pragas conduzido em parceria mico, com modos de ação distintos,
com o IDR-Paraná e a Embrapa So- na mesma pulverização. Dessa for- Monitoramento
ja. Notoriamente, os produtores ma, a chance de sobrevivência dos constante
que adotaram o MIP-Soja utilizaram insetos é reduzida, uma vez que o Um dos objetivos de um progra-
inseticidas na hora certa, reduziram indivíduo necessitará ser resistente a ma de manejo da resistência é man-
o número de aplicações e, conse- dois modos de ação para sobreviver. ter, o máximo possível, a proporção
quentemente, o gasto de produção Vários produtos já são comercializa- de indivíduos suscetíveis de uma po-
- sem qualquer perda de produtivi- dos misturados, porém é necessário pulação a determinada estratégia de

Figura 1 - representação do processo de seleção de insetos Figura 2 - ilustração da rotação de inseticidas com dife-
resistentes devido à aplicação sucessiva do mesmo inseticida rentes modos de ação e sua função na preservação da
ou de inseticidas com mesmo modo de ação eficácia dos ingredientes ativos

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Figura 3 - concentração letal média (CL50 ± IC95%) de teflubenzuron (µg/cm²)
em populações de C. includens coletadas em Mato Grosso, na safra 2016/17.
Método do bioensaio: aplicação da suspensão do inseticida na superfície da dieta

Autores recomendam medidas


para evitar a resistência de pragas

uma população constatada como


resistente volta ao status de susce-
tibilidade a determinado inseticida,
permitindo, então, que este volte a
controle. Para isso, o monitoramen- valores de CL50 foram provenientes fazer parte do programa de rotação
to da suscetibilidade de populações de lavouras em Campo Verde e Alto de modos de ação dos inseticidas
da espécie-alvo deve ser realizado Garças. As populações de Rondonó- naquela localidade.
constantemente e, de preferência, polis, Diamantino e Canarana foram Mesmo sendo C. includens uma
antes do início da implantação de as que obtiveram maiores valores de espécie com elevada capacidade mi-
determinada estratégia de controle. CL50, com destaque para Rondonó- gratória, o manejo da praga em cada
Tal monitoramento deve ter um en- polis que necessitou de uma concen- local influenciou na resposta (mor-
foque regional, pois, mesmo em es- tração 72 vezes maior, quando com- talidade), pois entre as populações
pécies com capacidade de dispersão parada com a população suscetível de Campo Verde e Rondonópolis a
elevada podem ocorrer variações de de laboratório. Importante destacar distância em linha reta é de 170 km.
suscetibilidade a determinada tática que os dados de monitoramento Isso demonstra a necessidade de um
de controle entre populações rela- não podem ser extrapolados para o monitoramento de resistência em
tivamente próximas. Apenas para uso do inseticida em campo, pois a âmbito regional e que inferências
exemplificar, utilizaremos os dados forma de exposição ao inseticida em para o manejo adequado da resis-
do monitoramento da suscetibilida- um ensaio de suscetibilidade é mui- tência não devem ser extrapoladas
de de populações de C. includens ao to diferente do que ocorre no campo para diversas regiões.
inseticida teflubenzuron, em Mato e, por isso, esses estudos são para
Grosso, na safra 2016/17 (Figura 3). detectar a variabilidade da suscetibi- Conclusão e
lidade nas populações da espécie e recomendação
Métodos se está ocorrendo alguma evolução A resistência de pragas às táticas
do estudo da resistência a determinada tática de controle é um problema bem evi-
No estudo, foram realizadas cur- de controle, para implementarmos dente em nossa agricultura moder-
vas de dose-resposta (mortalidade) alguma estratégia mitigadora. No na; no entanto, quando aplicamos os
com esse inseticida em cinco popu- entanto, com um valor de 72x a preceitos das boas práticas agrícolas
lações e comparadas essas curvas CL50, podemos inferir que falhas preconizadas pelo MIP, assim como
com uma população mantida em de controle ocorreram em campo, a adoção de táticas antirresistência,
laboratório por diversas gerações, quando utilizado teflubenzuron nes- preferencialmente baseadas em mo-
sem contato com inseticidas. Como sa população de Rondonópolis. nitoramentos de suscetibilidade em
parâmetro de comparação entre Isso não quer dizer que essa ca- escala regional, podemos conviver
as populações, utilizou-se a quanti- racterística se fixará na população, com a resistência de uma maneira
dade de ingrediente ativo (µg/cm²) pois a frequência de indivíduos resis- menos impactante. C

dispensada sobre a dieta artificial tentes tende a diminuir, caso se evite


dos insetos, que proporcionasse a o grupo químico com problema de Rafael Major Pitta,
mortalidade de 50% dos indivíduos resistência. Por isso, a importância Embrapa Agrossilvipastoril;
avaliados (CL50). de um monitoramento contínuo, Adeney de Freitas Bueno,
As populações com os menores pois possibilita detectar quando Embrapa Soja

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CAPA

Multissítios
severa e pode causar reduções de
até 80% da produtividade.
Fungicidas multissítios afetam
diferentes pontos metabólicos do

misturados
fungo e apresentam baixo risco de
resistência, tendo um papel impor-
tante no manejo antirresistência
para os fungicidas sítio-específicos.
Em razão da menor sensibilidade de
Aplicações conjuntas de fungicidas que afetam diferentes fungos aos fungicidas sítio-especí-
pontos metabólicos dos fungos são objeto de estudo; ficos na cultura da soja, fungicidas
entenda a razão de os resultados sugerirem a medida multissítios têm sido reavaliados
para aumentar as opções de con-

A
trole de doenças na cultura.
s doenças de plantas dimentos em qualquer cultivar. A Sabe-se que a grande dificul-
estão entre os principais ferrugem-asiática da soja, causada dade no controle da maioria das
fatores que limitam a pelo fungo (Phakopsora pachyrhizi doenças é devido à ampla variabili-
obtenção de altos ren- Sydow & P. Sydow), é a doença mais dade genética do patógeno; isso faz

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Marcelo Madalosso
Figura 1 - produtividade e eficácia de controle dos tratamentos multissítios
em misturas e isoladamente (1 kg/ha) + Cl. (1,5 l/ha), T5 Mz. (1,5
kg/ha) + Cl. (0,7 l/ha), T6 Mz. (1,5
kg/ha) + Cl. (1 l/ha), T7 Mz. (1,5 kg/
ha) + Cl. (1,5 l/ha), T8 Mz. (2 kg/ha)
+ Cl. (0,7 l/ha), T9 Mz. (2 kg/ha) + Cl.
(1 l/ha), T10 Mz. (2 kg/ha) + Cl. (1,5
l/ha), T11 Mz. (1,5 kg/ha), T12 Cl.
(1,5 l/ha), T13 Oxicloreto de Cobre
(Oxic.) (0,7 l/ha), T14 Mz. (1 kg/ha)
+ Oxic. (0,5 l/ha) e T15 Cl. (1 l/ha) +
Oxic. (0,5 l/ha).
O ensaio foi conduzido no mu-
Figura 2 - multissítios isolados versus misturas de multissítios com Man- nicípio de Santo Ângelo, Rio Grande
cozebe 1 kg/ha do Sul, na área experimental da
Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai - URI/SA, que possui
uma altitude de 286 m. O ensaio
foi distribuído em blocos ao acaso,
com quatro repetições. O manejo
da área seguiu as recomendações
agrícolas para que nenhuma praga
interferisse no resultado do estu-
do. As aplicações do ensaio foram
realizadas com pulverizador costal
pressurizado a CO2, dotado de cinco
com que as fontes de resistência se- produtores usassem doses baixas pontas Teejet XR 11002 submetidas
jam suplantadas facilmente. Assim, ou nem usassem, visto o cenário de a uma pressão de 2,3 bar, pulveri-
o controle químico com fungicidas escassez. zando 130 l/ha de calda. Em cada
tem sido o método mais utilizado aplicação, foram observadas a velo-
no combate às doenças, pois, além Ensaio sobre cidade do vento, a umidade relativa
da facilidade de aplicação, é possí- multissítios do ar e a temperatura ambiente pe-
vel observar os resultados a curto Partindo do ponto que cada lo termo-higroanemômetro digital
prazo. multissítio atua sobre pontos me- - AK821.
Para que o controle químico seja tabólicos diferentes uns dos outros, A colheita foi realizada no dia 25
feito de forma eficiente é essencial foi desenhado um ensaio com o de abril de 2024, com uma colhe-
que a aplicação ocorra preventiva- objetivo de verificar qual o melhor dora automotriz Wintersteiger, com
mente. Dessa forma, o monitora- multissítio ou a melhor combina- a qual foram cortadas três linhas
mento da doença e sua identifica- ção, e a variação de doses dentre por quatro metros. Os grãos foram
ção devem ser realizados nos está- os multissítios, para o controle de pesados por uma balança quanta
dios iniciais de seu desenvolvimen- ferrugem em soja. (QTBD250) e foi observada a umi-
to, a partir de vistorias frequentes Os tratamentos foram disper- dade pelo medidor portátil MT-Pro.
na lavoura. sados em 15, com o T1 sendo a Por fim, os dados foram analisa-
Somado a isso, a safra de soja testemunha absoluta sem nenhu- dos estatisticamente no software
23/24 apresentou um fato histórico ma aplicação; os demais trata- SASM-Agri (3.2.4).
pela severidade e taxa de progresso mentos receberam quatro aplica- Todos os tratamentos químicos
da ferrugem-asiática. Foram situ- ções, começando no estádio de foram superiores à testemunha
ações de grandes dificuldades no V6>R1>14daa>14daa. sem aplicação (Figura 1). De acordo
controle da doença, inclusive pela No T2 Mancozebe (Mz.) (1 kg/ com a análise de médias pelo Scott-
falta de multissítios disponíveis no ha) + Clorotalonil (Cl.) (0,7 l/ha), T3 -Knott, o tratamento mais eficaz
mercado. Isso fez com que muitos Mz. (1 kg/ha) + Cl. (1 l/ha), T4 Mz. e que conferiu maior incremento

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Figura 3 - multissítios isolados versus misturas de multissítios com Mancozebe
produtivo foi o T10, com as maiores 1,5 kg/ha
doses de Mz. e Cl. somadas. Verifi-
cando todas as combinações quími-
cas estudadas em uma análise com
todos os tratamentos, as menores
eficácias foram encontradas onde
cada multissítio entrou isoladamen-
te no manejo (T11, T12 e T13).
Já a Figura 2 mostra a análise
estatística comparando somente os
multissítios isolados e as misturas
correspondentes com a dose de 1
kg/ha de Mz. Foi possível verificar Figura 4 - multissítios isolados versus misturas de multissítios com Mancozebe
que é fundamental a leitura estatís- 2 kg/ha
tica em uma gama menor de dados
do que com todos os tratamentos
juntos.
Dessa forma, as doses isoladas
de Mz. (T11) e Cl (T12) obtiveram
eficácias de controle mais seme-
lhantes estatisticamente que as
mesclas com Mz a 1 kg/ha nos T2,
T3 e T4. O único tratamento com a
eficácia abaixo foi a aplicação isola-
da de Oxic. (T13). No entanto, quan-
do foi observada a produtividade Figura 5 - multissítios isolados versus misturas de multissítios com Oxicloreto
final, os T2 e T3 atingiram estatisti-
camente os maiores incrementos.
Portanto, as misturas com Mz. a 1
kg/ha somadas a Cl. 0,7 ou 1 l/ha
foram mais produtivas nesta análise
em particular.
Quando foi comparado o T2
com Mz. 1 kg/ha associado ao Cl.
0,7 l/ha, atingiu um ganho de 7 sc/
ha sobre o T11 com Mz. a 1,5 kg/ha
isolado. Quando foi elevada a dose
de Cl. para 1 l/ha e foi mantido Mz.
a 1 kg/ha T3 obteve-se um ganho que o aumento de dose de Mz. de de Cl. na mescla com ele, ocorreu
de 1,2 sc/ha, quando comparado ao 1 kg/ha para 1,5 kg/ha nas misturas queda nos parâmetros estudados.
T2. O T4 com Cl. a 1,5 l/ha associa- promoveu efeito diferente da Figura Essa queda chega ao ponto de com-
do a Mz. 1 kg/ha foi possível anali- 2. Houve um incremento crescen- paração com o Mz. isolado (T11) e o
sar a perda de produtividade, quan- te linear de eficácia de controle e, Cl. isolado (T12).
do comparado ao T3, alcançando consequentemente, produtividade Quando foi mantido Mz. a 1,5
uma perda de 6,3 sc/ha, resultando final, com o aumento da dose de Cl. kg/ha e reduzimos a dose de Cl., foi
num sinergismo negativo da mistu- dentro da mescla (T5, T6 e T7). possível analisar a queda da produ-
ra, mas estatisticamente superior Estatisticamente, o melhor resul- tividade, chegando a uma perda de
aos tratamentos com multissítios tado desta análise em particular foi 9 sc/ha, somente por reduzir a do-
isolados, T11, T12 e T13. o T7, com Mz. 1,5 kg/ha + Cl. 1,5 l/ se de 1,5 l/ha (T7) para 1 l/ha (T6).
Na Figura 3, é possível observar ha. À medida que reduzimos a dose Reduzindo a dose de Cl. para 0,7 l/

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ha (T5), seguimos perdendo produ-
tividade, alcançando uma perda de
7,1 sc/há, quando foi comparado
ao Cl. 1 l/ha (T6). Não ocorrendo
diferenciação estatística entre o T5
com a menor dose de Cl. 0,7 l/ha Autores estudam as aplicações conjuntas de fungicidas que afetam
associado a Mz. 1,5 kg/ha, para os diferentes pontos metabólicos dos fungos na cultura de soja
multissítios isolados T11 e T12.
A Figura 4 mostra o resultado
estatístico em particular da mis-
tura com o Mz. a 2 kg/ha. Nes- Quando analisadas as perfor- Conclusões
te caso, encontramos o melhor mances dos tratamentos com ba- do estudo
resultado do estudo, inclusive se nas misturas com Oxic., foram De posse dessas informações, foi
observado no primeiro gráfico, encontrados resultados expres- possível traçar algumas considera-
o T10 com a mescla das maiores sivos, especialmente no T14 (Fi- ções finais sobre este estudo, que
doses de Mz. e Cl. gura 5). Essa mescla de Mz. 1 kg/ podem ser úteis para os futuros
A redução na dose de Cl. den- ha com Oxic. 0,5 l/ha alcançou a manejos.
tro da mistura, reduziu a perfor- segunda melhor performance do A mistura de multissítios é uma
mance dos T8 e T9, porém ainda estudo, conforme observado no opção viável para os produtores. A
se mantiveram melhores que os primeiro gráfico. combinação de dois multissítios,
tratamentos deles mesmos, isola- Quando foi mantido o Oxic. e ferramentas que agem em diversos
dos (T11 e T12). adicionado o Cl. na mistura (T15), o sítios de ação do patógeno, atua de
As perdas de produtividade resultado ficou estatisticamente in- forma preventiva no controle de
correlacionaram com a Figura 3, as ferior ao melhor tratamento (T14), doenças, entregando um espectro
doses inferiores a 1,5 l/ha de Cl., mas ainda superior ao demais. Com de controle positivo.
começamos a ter perda de pro- isso, comparando as misturas com O uso de multissítios isolados
dutividade; quando foi analisado o Oxic. isolado, foi possível observar em doses abaixo das recomenda-
o T10 com Cl. 1,5 l/ha e o T9 com que as mesclas foram muito supe- das são ineficientes, tanto que nem
Cl. 1 l/ha, chegamos a 9,1 sc/ha de riores ao Oxic. isolado na dose de fizeram parte do estudo. No entan-
perda, somente por baixar a dose 0,7 l/ha (T13). to, a mistura entre multissítios com
de Cl. Quando trabalhado com do- Analisando a mescla de Oxic. ao doses menores pode ser uma alter-
se de Cl. 1 l/ha (T9) e foi compara- Mz. (T14), alcançamos um ganho de nativa de manejo.
do com Cl. a 0,7 l/ha (T8), a perda até 2,9 sc/ha, quando comparado Todas as combinações entre
é de apenas 0,6 sc/ha. ao mescla de Oxic. ao Cl. (T15). os multissítios com variações de
doses ficaram iguais ou supe-
riores à entrada dos multissítios
Marcelo Madalosso

isolados. C

Leonardo Gollo,
Madalosso Pesquisas;
Marcelo Gripa Madalosso,
URI,
Madalosso Pesquisas;
Nei Wesz,
Madalosso Pesquisas;
Ivan Piveta,
Fungicidas multissítios afetam diferentes pontos metabólicos do fungo
Manuela Heinzmann,
e apresentam baixo risco de resistência, tendo um papel importante no Marcos Vinicius Contessa de Souza,
manejo antirresistência para os fungicidas sítio-específicos URI

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SOJA

Contra fungos,
oomicetos e nematoides
Controle biológico é importante estratégia a ser incorporada aos programas
de manejo integrado de problemas radiculares, de haste e foliares

O
mercado de controle o banimento de alguns produtos incognita e M. javanica), o nema-
biológico tem apresen- químicos; o potencial efeito adverso toide das lesões radiculares (Praty-
tado um crescimento desses produtos a organismos não lenchus brachyurus), o nematoide
anual de 15% a 30% alvos e ao meio ambiente; o seu do cisto (Heterodera glycines) e o
nos últimos anos, e atualmente já so- custo, além da demanda dos mer- nematoide reniforme (Rotylenchu-
ma mais de R$ 4 bilhões. Estimativas cados consumidores por produtos lus reniformis). Atualmente, os ne-
recentes apontam que, por volta de isentos ou com uma menor carga maticidas biológicos constituem a
2050, o valor de mercado dos biopes- de produtos químicos. principal estratégia de controle de
ticidas ultrapassará aquele dos pro- nematoides. Os fungos Pochonia
dutos químicos convencionais. Controle biológico chlamydosporia e Purpureocillium
Vários fatores contribuem para a de nematoides lilacinum, que são capazes de para-
expansão do mercado dos biopesti- Os principais nematoides que sitar ovos e fêmeas de nematoides,
cidas, incluindo a resistência de pató- acometem a cultura da soja são o têm sido usados com sucesso no
genos e pragas a produtos químicos; nematoide de galhas (Meloidogyne controle de nematoides, especial-

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Fotos Daniel Debona

mente daqueles sedentários, como


é o caso do nematoide de galhas.
No entanto, as bactérias não
parasíticas do gênero Bacillus cons-
tituem o grupo mais importante de
bionematicidas. Novos produtos,
com a combinação de bactérias e Figura 1 - efeito de promoção do crescimento de plantas de soja devido ao
fungos, foram lançados recente- tratamento de sementes com um bionematicida à base da bactéria Bacillus firmus

mente. A aplicação de Bacillus pode


ser realizada nas sementes ou no
sulco de semeadura. Considerando tantes no controle de fungos e controle biológico por Trichoder-
a grande capacidade de sobrevi- oomicetos de solo. O fungo Tricho- ma. Nesse caso, o produto biológi-
vência desta bactéria, na forma de derma spp. representa o principal co pode ser aplicado na entressa-
endósporos, existe a possibilidade agente de controle biológico de do- fra ou no início da fase vegetativa
de o produtor adquirir sementes de enças radiculares e de haste. Para o (V2-V4) da soja. A aplicação tem
soja com o tratamento de sementes controle de damping off (Pythium como objetivo a redução do inó-
industrial (TSI), contendo Bacillus. spp., Phytophthora sojae, Rhizocto- culo primário do fungo fitopatogê-
Diferentes mecanismos de ação nia solani), de podridões radiculares nico, visto que Trichoderma tem a
estão envolvidos no controle de ne- (Fusarium spp., R. solani) e da po- capacidade de colonizar as estru-
matoides por Bacillus. dridão cinzenta do caule (Macro- turas de resistência (escleródios)
Quando a semente germina, phomina phaseolina), produtos à de S. sclerotiorum. O aumento na
Bacillus se multiplica junto da raiz, base de Trichoderma foram utiliza- quantidade de gramíneas, a exem-
formando uma barreira biológica dos via tratamento de sementes e plo de braquiária, potencializa a
ao redor das raízes, chamada de sulco de semeadura. Com relação ação de Trichoderma, pois aumen-
biofilme. A seguir, Bacillus produz ao uso no tratamento de sementes, ta a disponibilidade de nutrientes
e secreta antibióticos que impe- deve-se atentar, principalmente, e a umidade no solo, além de dimi-
dem o desenvolvimento embrio- para a sua compatibilidade com nuir a temperatura, favorecendo o
nário, a eclosão ou a movimenta- produtos químicos e realizar o trata- agente de biocontrole. Além disso,
ção do nematoide. Consequente- mento no momento da semeadura, a palha atua como uma barreira
mente, Bacillus altera a exsudação depois do tratamento químico. para que o escleródio de S. sclero-
radicular, dificultando a localiza- O mofo branco, causado por tiorum germine e consiga liberar
ção da planta hospedeira pelo Sclerotinia sclerotiorum, represen- os esporos (ascósporos) que irão
nematoide. Por fim, os mecanis- ta o principal case de sucesso do infectar as plantas de soja.
mos de defesa latentes da planta
podem ser ativados por Bacillus,
tornando a planta mais resistente Figura 2 - mecanismos de ação do fungo Trichoderma spp. no controle de doenças
aos nematoides.
Pesquisas realizadas na Universi-
dade Tecnológica Federal do Paraná
- Campus Santa Helena, revelaram
que o tratamento de sementes
com um bionematicida à base de
Bacillus firmus aumentou o cresci-
mento da parte aérea e de raízes de
plantas de soja (Figura 1).

Controle biológico de
fungos e oomicetos
O controle biológico tem sido
uma das ferramentas mais impor-

Cultivar Grandes Culturas 304 • revistacultivar.com.br • 27


Figura 3 - severidade da ferrugem asiática e produtividade (sc/ha) nos tratamentos
sem a aplicação de fungicidas (testemunha), sem a aplicação antecipada (V4, abaixo da curva de progresso da
“zero”) e com a aplicação antecipada de um fungicida químico (“zero” com triazol) doença (AACPD) ferrugem asiática,
ou Bacillus (“zero” com Bacillus)
comparado à testemunha. Os trata-
mentos BS-FS e BS+FS também re-
duziram em mais de 60% a AACPD
da mancha alvo, da mancha parda
e do míldio, em relação à testemu-
nha. Além disso, houve redução na
desfolha e aumento de 25% na pro-
dutividade nos tratamentos BS-FS e
BS+FS, comparado à testemunha.
Em outro estudo, realizado no
Centro de Pesquisa da Agrícola An-
dreis, em Corbélia (PR), observamos
que a aplicação antecipada (apli-
cação “zero”) de Bacillus amyloli-
quefaciens reduziu a severidade da
ferrugem asiática, aumentando a
produtividade em 4,6 sc/ha, com-
Os mecanismos empregados cassiicola), a mancha parda (Septo- parado à testemunha (Figura 3). De
pelo Trichoderma no controle de ria glycines) e o oídio (Microsphae- modo geral, os produtos biológicos
patógenos de solo incluem o para- ra diffusa) estão entre as principais têm apresentado maior performan-
sitismo, a competição por espaço e doenças foliares que acometem a ce quando utilizados nas primeiras
nutrientes, a antibiose e a indução cultura da soja. Embora a aplicação aplicações e em combinação com
de defesa (Figura 2). Estudos reali- de fungicidas represente a principal os produtos químicos.
zados por nosso grupo de pesquisa estratégia de controle de doenças
também demonstram aumentos foliares, a sua eficiência tem di- Conclusão
significativos no volume e na mas- minuído ao longo das safras. Isso Em suma, o controle biológico
sa seca de raízes, na estatura, na ocorre em virtude da presença de constitui uma importante estratégia
massa seca da parte aérea e na mutantes com reduzida sensibilida- a ser incorporada aos programas
área foliar de plantas de soja cujas de aos principais grupos químicos de manejo integrado de doenças
sementes foram tratadas com Tri- de fungicidas sítio-específicos (car- radiculares, de haste e foliares, com
choderma, evidenciando seu efeito boxamidas, estrobilurinas e triazois/ efeitos benéficos que vão muito
promotor de crescimento, por au- triazolintiona) utilizados no controle além do controle de doenças. Al-
mentar a produção de alguns hor- de doenças. Embora a adição de guns fatores, incluindo a escolha da
mônios, como auxinas. Trichoder- fungicidas multissítios seja impor- cepa do microrganismo adequada
ma também pode aumentar a tole- tante na recuperação do controle, a ao alvo presente na área, a concen-
rância à seca, visto que aumento na inclusão de produtos biológicos tem tração do microrganismo no produ-
concentração de ácido abscísico e proporcionado ganhos significativos to, a viabilidade do microrganismo
redução na condutância estomática na eficiência de controle e na pro- aplicado, a sua formulação, a com-
são observados após a aplicação do dutividade. patibilidade com os outros produ-
microrganismo. Estudos recentes (Santos et al., tos da calda e os cuidados durante a
Pest Manag Sci 2022; 78: 4832- aplicação (temperatura e umidade)
Controle biológico de 4840) mostraram que a aplicação são determinantes no sucesso do
doenças da parte aérea de um biofungicida à base de Ba- controle biológico. C

A antracnose (Colletotrichum cillus subtilis, seguida pela aplicação


spp.), o crestamento foliar por Cer- de fungicidas sítio-específicos (BS- Daniel Debona,
cospora (Cercospora spp.), a ferru- -FS) ou do biofungicida combinado Universidade Tecnológica Federal do Paraná;
gem asiática (Phakopsora pachyrhi- com fungicidas sítio-específicos Bruna Cristina de Andrade,
zi), a mancha-alvo (Corynespora (BS+FS), reduziu em 82% a área Agrícola Andreis

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FEIJÃO

Nutrição equilibrada
Práticas de manejo fisiológico e nutricional do feijoeiro otimizam
crescimento, desenvolvimento e produtividade da cultura

A
cultura do feijão irri- de inverno, os investimentos são al- via foliares, se tornam práticas que
gado tem elevada im- tos e a obtenção de rendimentos é garantem o bom rendimento.
portância econômica acima de 4 mil kg/ha. A nutri-fisiologia estuda a rela-
e social. É a fonte mais Para altos rendimentos, as bo- ção da nutrição com os componen-
acessível de proteína, energia e mi- as práticas de manejo nutricional tes fisiológicos da planta. O feijão
nerais na alimentação humana. A e fisiológico são essenciais, pois a irrigado leva à produtividade média
culinária brasileira explora este grão cultura do feijoeiro tem resposta de acima de 4 mil kg/ha. No entanto,
essencial em diversos pratos regio- acordo com o nível de investimento os novos cultivares de feijão de-
nais. proposto. O manejo do feijão envol- senvolvidos elevaram a exigência
O Instituto Brasileiro de Geogra- ve uma série de práticas agrícolas nutricional. Os macronutrientes (N,
fia e Estatística (IBGE) relatou, em que visam otimizar o crescimento, o P, K, Ca, Mg e S), normalmente for-
2023, que o Brasil colheu 2,465 mi- desenvolvimento e a produtividade necidos em maiores quantidades,
lhões de hectares de feijão duran- da cultura. têm sua importância incrementada.
te as três safras, com rendimento O manejo nutricional equilibra- O nitrogênio (N), o potássio (K) e
médio de 1.176 kg/ha. Em algumas do, fornecendo macro e micronu- o enxofre (S) participam de todo
regiões, o plantio é feito para a sub- trientes, possibilita altos rendimen- o processo metabólico da planta
sistência, ao passo que em outras, tos do feijoeiro. Entretanto, usar para a composição das proteínas;
como Noroeste de Minas Gerais, fontes solúveis de nutrição e com- devem ser fornecidos na ordem de
Leste de Goiás e Oeste do Paraná, plementação com corretores de N = 180 a 200; K = 120 e S = 30 a 40
na terceira safra, denominada safra carência, bem como fornecimento kg/ha, respectivamente. O cálcio

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Laurício Moraes
Fotos Laurício Moraes

sementes e aplicações foliares, pois


aumenta a disponibilidade do nitro-
gênio na folha do feijoeiro. A reco-
mendação deste nutriente via folha
varia de 80 g/ha a 90 g/ha entre os
dias 14 e 28 após a germinação. O
cobre (Cu) e o zinco (Zn) atuam de
forma conjunta nos tecidos foliares,
conferindo resistência a doenças.
Os micronutrientes ferro (Fe) e
manganês (Mn), em muitos casos,
são pouco explorados; os solos bra-
sileiros são ricos por sua formação
natural no mineral hematita. Entre-
tando, aos solos com característica
Na cultura do feijoeiro os micronutrientes são essenciais, pois se sabe que
mais amarelados ou acinzentados
a planta tem o sistema radicular pouco definido e a suplementação foliar
faz toda a diferença em patamares elevados de produtividade
pressupõe-se abundância do mine-
ral goethita, carecendo de cuidados
em solos sob irrigação e com pouca
drenagem natural. Há necessida-
(Ca) e o fósforo (P) são absorvidos faz a conversão do nitrato a nitrito de de reposição nestes casos. A
por interceptação radicular em sua e, posteriormente, no amônio, que extração do ferro (Fe) é de 300 g/t
maior quantidade e são elementos é a fonte assimilável do nitrogênio. a 500 g/t de grãos, bem como sua
químicos que se complementam na Este é um processo fisiológico irre- exportação de 40 g/t a 200 g/t; a
formação celular e no crescimento versível que ocorre naturalmente extração de manganês (Mn) é de 60
das plantas. Sobre a quantidade a nas plantas. g/t a 350 g/t e sua exportação é de
fornecer do elemento fósforo (P), O nitrogênio é o elemento quí- 12 g/t a 140 g/t, respectivamente
deve-se levar em consideração o mico de maior demanda no ciclo da (Embrapa, 2023).
teor de matéria orgânica do solo, cultura e pode ser fornecido desde O micronutriente boro (Bo) atua
a cultura anterior e a sua extração. a fixação biológica do nitrogênio em diversos processos, como divi-
Em algumas situações, a adubação (FBN), com a adoção da prática da são celular, transporte de açúcares
com fósforo (P) tem sua variação inoculação das sementes com as e metabolismo de carboidratos,
entre 80 kg/ha e 100 kg/ha. Outros- bactérias específicas do gênero Rhi- formação de novos tecidos, absor-
sim, publicações recentes sugerem zobium tropici, até a adubação em ção de água, crescimento do tubo
maior demanda do macronutriente cobertura. polínico e até mesmo na germina-
magnésio (Mg) em aplicações fo- ção do pólen. Sua disponibilidade
liares, desde a fase vegetativa, para Micronutrientes e para as plantas está relacionada ao
maior ativação do pigmento clorofi- sua importância pH do solo. Os solos agricultáveis
la e da fotossíntese. Na cultura do feijoeiro os micro- do Brasil geralmente são pobres
O fornecimento da nutrição de nutrientes são essenciais, pois sabe- no elemento boro, carecendo de
acordo com o estádio da cultura é -se que a planta tem o sistema radi- suplementação com aplicações via
o diferencial para obtenção de altos cular pouco definido (8 cm a 15 cm) solo e via folha. A exigência nutricio-
rendimentos. A interpretação dos e a suplementação foliar faz toda a nal varia de 0,5 kg/ha a 1,5 kg/ha.
fatores ambientais, com a demanda diferença em patamares elevados
e o ciclo, gera acertos no manejo de produtividade. Entretanto, o uso Manejo
nutricional. Há picos de absorção de racional destes elementos quími- nutri-fisiológico
todos os macros e micronutrientes. cos fracionados requer cuidados e O feijão comum é uma planta de
O primeiro na assimilação do nitro- conhecimento dos produtores. O ciclo C3. Estas espécies são plantas
gênio ocorre até o V4 da cultura, molibdênio (Mo) é fundamental mais eficientes em condições de cli-
quando a enzima nitrato redutase nas aplicações via tratamento de ma temperado, principalmente sob

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temperaturas amenas, em que as nárias da decomposição da matéria (SOD) e ascorbato peroxidase (APX),
perdas por fotorrespiração são mi- orgânica. além de compostos secundários
nimizadas. Consomem menos ATP Por esse motivo, o funcionamento (polifenóis e poliaminas).
por molécula de CO2 fixado. Natu- dos ácidos húmicos se baseia na pre- Essas enzimas e moléculas pro-
ralmente são plantas responsivas sença desses grupos funcionais, tais duzidas pelas plantas são responsá-
bioquimicamente, com excelente como carboxilas, hidroxilas fenólicas veis pelo combate e equilíbrio em
conversão na produção de prote- e carbonilas, permitindo maior reati- momentos de estresses (ataque de
ínas. As variações dos ambientes vidade com outras substâncias, prin- pragas, patógenos, entre outros).
regionais de produção interferem cipalmente pela função das fortes Os ácidos húmicos ativam o sistema
diretamente na fisiologia da plan- pontes de hidrogênio com a água. bioquímico de proteção das plan-
ta. O plantio em todas as latitudes, Com a presença desses grupos, os tas, aumentando a defesa e dimi-
em diferentes épocas do ano, é um ácidos húmicos atuam como agentes nuindo as perdas - causando efeito
grande desafio. O manejo fisiológi- complexantes de vários íons metá- sinérgico de ação entre eles.
co desta cultura se inicia no trata- licos (Pb, Cu, Ni, Co, Zn, Cd, Fe, Mn, Além da vantagem de prote-
mento de sementes, germinação e Mg) e diversas substâncias orgânicas ção das plantas, os ácidos húmicos
emergência. As sementes de boa poluentes, como agroquímicos, agin- apresentam outros benefícios,
procedência garantem ganhos fisio- do de forma redutora das concentra- como: aumento da germinação e
lógicos imediatos. ções dessas moléculas no ambiente. desenvolvimento das raízes; maior
biomassa e produtividade da plan-
Efeitos Sob estresse ta; aeração do solo; alta capacidade
fisiológicos fisiológico de retenção de água; redução nas
As plantas necessitam, para Em relação ao estresse em plan- variações de pH; maiores CTC e
o seu metabolismo, cerca de 20 tas, a aplicação de ácidos húmicos matéria orgânica; maior eficiência
aminoácidos. A partir deles, são pode ser uma alternativa para au- e menor fitotoxidade na aplicação
sintetizadas proteínas e enzimas mentar a tolerância e, ainda mais, de agroquímicos, nutrientes e ami-
necessárias para o crescimento e potencializar produtos biológicos. noácidos; e defesa contra estresses
desenvolvimento dos vegetais. O Precisamente, os ácidos húmicos es- (abióticos e bióticos). Os ácidos hú-
ácido glutâmico é um aminoácido timulam a síntese proteica em vários micos já foram aplicados em gran-
básico que tem grande importância, órgãos da planta e a síntese enzimá- des culturas, com boa resposta à
pois pode ser transformado em ou- tica, induzindo a geração de espécies aplicação via foliar. C

tros aminoácidos essenciais para o reativas de oxigênio (ROS), juntamen-


metabolismo das plantas. te com a atividade de enzimas co-
Além de suprir a necessidade mo: fenilalanina amônia-liase (PAL), Laurício R. Moraes,
de outros aminoácidos, o ácido catalase (CAT), superóxido dismutase Agropecuária HCL Ltda.
glutâmico auxilia na assimilação do
nitrogênio, o nutriente de maior
demanda na cultura, e participa do
processo de formação da clorofila.
Entre os principais efeitos apresen-
tados devido a sua aplicação, estão
a economia de energia das plantas,
o estímulo para recuperação de es-
tresses, a melhoria da eficiência da
adubação nitrogenada e o aumento
da taxa fotossintética, resultando
em ganhos de desenvolvimento e
produtividade.
As substâncias húmicas (ácido
húmico, ácido fúlvico, huminas e O manejo fisiológico desta cultura se inicia no tratamento de sementes, na germinação e
ácidos himatomelânicos) são origi- na emergência; as sementes de boa procedência garantem ganhos fisiológicos imediatos

Cultivar Grandes Culturas 304 • revistacultivar.com.br • 31


MILHO

Biológicos N
as últimas safras, al-
gumas pragas têm le-
vado os produtores a
adotarem estratégias,

no manejo
até então não empregadas, em fun-
ção das dificuldades e dos prejuízos.
São grandes as perdas nas culturas

de pragas
de soja, milho e algodão no Brasil,
causadas pelas pragas. Os desafios
são frequentes com as novas pra-
gas, desde desconhecimento da
biologia, identificação, problemas
de alternativas de controle até mes-
mo a desgaste de algumas estraté-
gias.
Este último problema tem le-
vado à necessidade da integração
de mais métodos de controle. O
agroecossistema utilizado nos mais
de 40 milhões de hectares de soja
do Brasil apresenta várias caracte-
rísticas favoráveis à multiplicação
de pragas. É que prevalece um sis-
Apesar do uso consagrado desse modelo, tema de produção em que a soja
ainda se tem muita desinformação no é a principal cultura a se estabele-
campo, o que leva o produtor a buscar cer, na grande maioria das áreas,
todas as alternativas possíveis podendo ser rotacionada ou não
com culturas como milho e algo-
dão, sendo, após a colheita, esta-
belecida uma cultura na sucessão
ou mesmo ficando em “pousio”,
proporcionando alimento para os
insetos. Pode se afirmar que a po-
pulação de pragas é maior quando
se compara com os sistemas de
produção anteriormente adotados.
A presença dos hospedeiros o
ano todo, plantas “tigueras”, re-
manescentes de safras anteriores,
aliado a outros fatores, como condi-
ções climáticas favoráveis, de altas
temperaturas e de inverno ameno,
torna-se ideal para a multiplicação
dos insetos.
Apesar de algumas culturas es-
tarem sujeitas a leis que fazem com

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Figura 1 - efeito de alguns inseticidas isoladamente e em Figura 2 - efeito do tratamento químico e biológico isolada-
programas de manejo de Dalbulus maidis em milho. Efi- mente e em associações no manejo de Dalbulus maidis em
ciência média nas diferentes datas, após três aplicações. milho. Eficiência média nas diferentes datas, após quatro
Paraíso das Águas (MS). Desafios Agro 2021 aplicações (coluna), e porcentagem de plantas com sintomas
de viroses - enfezamentos (linha), em função dos diferentes
tratamentos. Paraíso das Águas (MS). Desafios Agro 2021

que o produtor destrua as plantas nuo de velhos inseticidas e à entrada Devido a esse cenário, eleva-se
remanescentes, outras são difíceis de vários inseticidas biológicos possí- também o custo de produção, levan-
de serem realizadas, como no caso veis de serem empregados no país. do os produtores a buscar alternati-
do milho. A presença de “tigueras” A produtividade tem se eleva- vas para conter esse avanço. O uso
no campo tem proporcionado ali- do em soja, milho e algodoeiro nos de ferramentas de controle biológico
mento o ano todo para as pragas, últimos anos, em função das tec- tem aumentado nas diversas lavou-
aumentando suas populações. nologias. No entanto, a agricultura ras do Brasil, sendo considerado por
tropical é desafiadora e o uso inade- muitos produtores como uma fun-
Desafios quado de alguns inseticidas químicos ção de “equilíbrio” nas populações,
ao produtor e biotecnologias levou a natureza a não levando à utilização de insetici-
Essa maior quantidade de insetos nos dar uma resposta. Pragas antes das “premium”.
é um grande desafio para o produ- tratadas como secundárias passaram
tor que busca o aumento em pro- a causar danos significativas às la- Exemplo da
dutividade-rentabilidade por área vouras (“pest shift”), além daquelas cigarrinha-do-milho
nos últimos anos. Além deste fator, que já demonstravam alto potencial Um exemplo nas últimas safras
a questão de sistemas produtivos destrutivo, passando pelo processo de avanço, com a integração das
“sustentáveis” tem sido colocada à de resistência, inviabilizando e au- “novas” ferramentas no manejo, é a
prova, desafiando a capacidade dos mentando ainda mais a necessidade cigarrinha-do-milho (Dalbulus mai-
produtores de se adaptarem a um de controle. dis Heteroptera: Cicadellidae). Praga
mercado cada vez mais exigente. Os
termos do tipo de agricultura se con-
Fotos Germison Tomquelski

fundem na cabeça do consumidor


final: regenerativa, sustentável, eco-
lógica, entre outras, acabam sendo
muito empregados. Nesse ponto, é
de se salientar que nos últimos anos
o consumidor final tem recebido
um alimento com maior “crivo” de
fiscalização, com inseticidas cada vez
mais “seletivos”, tanto para o consu-
midor como para o meio ambiente.
Bom exemplo disso são as avaliações
realizadas pelo Ministério da Agricul- Os danos da cigarrinha-do-milho estão relacionados com o aparecimento da fumagina, em
tura e Pecuária, levando ao descontí- função do processo de alimentação e exsudados que caem nas folhas inferiores

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Figura 3 - efeito de estratégias de biológicos no controle de Euschistus heros
na cultura da soja. Desafios Agro. Paraíso das Águas (MS). Safra 2021/2022 controle, principalmente em áreas
com escalonamento da semeadura
(“janelas longas”). Isso permite que
os molicutes sejam transmitidos
com eficiência a plantas mais jovens
em uma rápida velocidade.
Nesse âmbito, o controle bioló-
gico tem sido integrado como uma
ferramenta que proporciona perí-
odo maior de controle, diminuindo
a população final na cultura. Nesse
caso, muitas das vezes indivíduos
infectados levam ao processo de
epizootia, infectando novos indi-
vetora de quatro doenças na cultura res de seiva. O ciclo destas doenças víduos migrantes na cultura. Em
do milho, faz com que seja maior necessita especificamente da planta trabalhos de casa de vegetação e
a dificuldade no manejo, além do de milho, onde Dalbulus maidis irá laboratório, os inseticidas químicos
desconhecimento de danos, índices se alimentar de indivíduos doentes, têm levado a eficiências superiores
e estratégias de manejo. adquirindo os patógenos, passando a 80%, no entanto sua reinfestação
Os danos dessa praga estão re- por um período latente, que varia de no campo é alta, necessitando ado-
lacionados com o aparecimento da duas a quatro semanas, e após infec- tar mais estratégias para o manejo.
fumagina, em função do processo tar plantas sadias (Cruz 2012). Uma delas que tem se integrado é
de alimentação e exsudados que ca- O manejo é difícil em função o controle biológico, por vezes le-
em nas folhas inferiores, e também da fenologia do milho, pois a cada vando a acréscimos de 10% a 30%
à transmissão de doenças - enfeza- três/quatro dias sai uma folha nova, nos programas com químicos.
mentos (dois) e viroses (duas). Estas fazendo com que táticas como o
doenças são transmitidas por esse controle químico não alcancem con- Exemplo dos
vetor ao se alimentar, alcançando o trole satisfatório, em condições de percevejos
floema das plantas. Os molicutes- campo. Atrelado a esse problema, Além desse exemplo, outra pra-
-virus no interior da planta se mul- é comum ocorrer a migração das ga migratória de destaque são os
tiplicam nos tecidos, levando ao cigarrinhas, após um período de ata- percevejos fitófagos, que atuam no
bloqueamento dos canais conduto- que, dificultando ainda mais o seu sistema de produção das grandes
áreas de Cerrado, envolvendo as
Figura 4 - porcentagem de eficiência de diferentes inseticidas e associações culturas de soja, milho e algodoeiro.
em duas aplicações no controle de lagartas de S. frugiperda. Chapadão do Ano a ano observa-se a chegada
Sul (MS). Desafios Agro, safra 2020/2021 mais cedo, necessitando interven-
ções para o seu controle.
De modo geral, ao longo dos
anos os percevejos se adaptaram às
diversas plantas daninhas, algumas
delas de maior ocorrência atual-
mente, em função da seleção dos
herbicidas utilizados. Entre as plan-
tas daninhas de destaque na região
central do Brasil, estão trapoeraba
(Commelina benghalensis), capim-
-amargoso (Digitaria insularis), buva
(Conyza bonariensis) e, por último,
com presença marcante nos es-
tados da Bahia, do Mato Grosso,

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Germison Tomquelski

Piauí, Maranhão e Tocantins, a vas- Com as mudanças no sistema de


sourinha-de-botão (Spermacocea produção, o manejo em soja com a
verticillata). cultura “aberta” tem ganhado desta-
O percevejo-marrom, Euschistus que nestes últimos anos. Além de as-
heros (Heteroptera: Pentatomidae), pectos como a introdução de novos
apresenta ampla distribuição nas la- cultivares com hábito de crescimento
vouras da região do Cerrado. No en- indeterminado, florescendo com
tanto, outras espécies de percevejos 28-35 dias, tem levado à formação
estão ingressando no agroecossiste- de vagens mais cedo, e, consequen-
ma, como o percevejo barriga-verde temente, o terço inferior “baixeiro”
(Dichelops (Diceraeus) melacanthus tem ganhado maior importância na
e D.furcatus), ocorrendo em deter- produtividade.
minadas áreas, com grandes pre- O controle dessa praga, em fun-
juízos. Estas espécies apresentam ção das dificuldades, tem sido feito
ciclo menor, maior capacidade de com a utilização dos biológicos, em
reprodução, além de permanece- manejo integrado às principais molé-
rem mais tempo no solo, atacando culas químicas, provendo acréscimos
as culturas após a emergência. no controle. Estudos têm evidencia-
De modo geral, os danos dos do efeitos positivos na utilização de
percevejos na cultura da soja ocor- fungos entomopatogênicos para o
rem na fase reprodutiva, a partir controle dos percevejos fitófagos, em
da formação das vagens, também especial com produtos à base dos gê-
comumente chamada da formação neros Beauveria e Metarhizium. Ou-
dos “canivetinhos”, levando à queda tras ações de grande valia estão nos
e à má-formação dos grãos. Nesta parasitoides de ovos, como Trissolcus
fase, os percevejos se concentram basalis (Hymenoptera: Scelionidae)
nestas partes, tanto em ninfas como e Telenomus podisi (Hymenoptera:
em adultos. Scelionidae)
Em milho, o ponto de cresci-
mento das plantas é o alvo na fase Situação
inicial, sendo os percevejos do gê- das lagartas
nero Diceraeus sp. os que levam aos As lagartas no Brasil são pragas de O manejo é difícil em função da fenologia
maiores prejuízos. Seu estilete con- destaque, sendo a espécie Spodop- do milho, no qual a cada três/quatro dias
segue atingir o meristema das plan- tera frugiperda um grande desafio sai uma folha nova, fazendo com que táticas
como o controle químico não alcancem
tas, levando à deformação, com- na agricultura tropical, exigindo vá-
controle satisfatório, em condições de campo
prometendo o desenvolvimento rias ações para o seu manejo. Apre-
e, consequentemente, causando a sentam algumas características no
ocorrência de plantas “dominadas” seu ciclo que podem desfavorecer
que não produzem espigas. a ação dos inimigos naturais, entre alcançado supressão na ordem de
Os percevejos após a colheita elas a massa de ovos, em camadas 70% das posturas realizadas.
podem ainda ficar na área - na pa- que levam à necessidade de fluxos Essa praga é uma boa desfo-
lhada e em outros hospedeiros, ou de inimigos naturais. As lagartas, lhadora em diversas culturas, no
mesmo saindo para áreas adjacen- por se alojarem em algumas regiões entanto as mudanças ao longo dos
tes. Esse comportamento tem leva- das plantas, necessitam de horários anos têm levado a intervenções no
do à implementação de técnicas do diferentes do que comumente o pro- início do desenvolvimento das cul-
manejo dessa praga após a retirada dutor tem utilizado para as demais turas, quando do ataque com há-
da cultura, ou mesmo na fase vege- práticas na lavoura. Trabalhos com bito de “rosca”. Nestes momentos,
tativa, proporcionando diminuição micro-himenopteros, como Tricho- normalmente as lagartas se encon-
na população e garantindo produti- grama pretiosum, em liberações tram bem desenvolvidas, podendo
vidade. programadas (monitoramento), tem medir mais 5 cm de comprimento.

Cultivar Grandes Culturas 304 • revistacultivar.com.br • 35


Fotos Germison Tomquelski

ga como o funcionamento de outras


ferramentas, como, por exemplo, o
controle químico.
O sucesso da utilização das táti-
cas de biológicos faz necessário uma
boa base do MIP, com destaque para
amostragem de praga e equipe bem
treinada, além de outros fatores.
Mesmo uma tática de contro-
le já estudada há alguns anos tem
avançado, com destaque para o pro-
gresso da identificação taxonômica,
A cigarrinha-do-milho, praga vetora de quatro doenças na cultura novas cepas de microrganismos,
do milho, faz com que seja maior a dificuldade no manejo assim como análises moleculares
que facilitam o entendimento dos
mecanismos de ação e a interação
Os danos ao final das culturas, principalmente em função do ope- entre as espécies, além de aumentar
como a perfuração de estrutu- racional. as informações quanto à biologia e à
ras, no caso espigas em milho, Outro importante fator da uti- ecologia dos insetos-praga.
estruturas florais em algodoei- lização do controle biológico são Com esse avanço da estratégia do
ro, vagens - grãos - em soja, são os resultados em produtividade, controle biológico é importante des-
confundidos com outras pragas, muitas vezes, semelhantes a trata- tacar o bom exemplo, como do re-
como ocorre com Helicoverpa ar- mentos de alta eficácia (Tomquelski gistro de novos produtos concedidos
migera. et al., 2015), além de promoverem, pelo Ministério da Agricultura e Pe-
Trabalhos realizados com fun- por vezes, diminuição nos custos na cuária A lista cresce ano a ano, tanto
gos, bactérias e mesmo vírus têm ordem de 15%. em novos isolados e misturas reco-
auxiliado na diminuição de estrutu- Algumas vezes o controle mendadas para grandes culturas,
ras reprodutivas atacadas, evitando biológico não avança, apesar de como cana-de-açúcar, soja, milho e
danos significativos às culturas. É eficiente, sendo um exemplo a algodão. Como novos exemplos, po-
importante destacar a dificuldade utilização dos parasitoides Tris- demos citar as misturas de Pseudo-
de atingir o alvo nestes casos, pois solcus basalis e Telenomus podisi, monas chlororaphis com Pseudomo-
somente alguns agentes como fun- por não apresentar empresas que nas fluorescens, além de produtos
gos e vírus, em função do processo consigam atender à demanda de microbiológicos com a mistura de
de epizootia, levam à diminuição da área e mesmo à aplicação, hoje Bacillus amyloliquefaciens, Bacillus
praga - e danos. comumente com a utilização de velezensis e Bacillus thuringiensis.
drones/vants, o que facilita o tra- Sem dúvida, diante dos cenários
Alternativas para balho para o produtor. cada vez mais desafiadores, tanto
controle de pragas Os estudos trazem a vertente da em populações como em falta de
A dificuldade no controle das necessidade de comprovação de agentes de controle, o resgate do
diversas pragas tem levado o pro- eficácia dos produtos biológicos, Manejo Integrado de Pragas, com
dutor a buscar todas as alternativas entretanto faltam discussões sobre melhor conhecimento da biologia,
possíveis, no entanto, mesmo com a criação, a formulação, o transpor- boa amostragem e integração das di-
uma ferramenta como o controle te e o armazenamento, fatores que versas estratégias de controle, levará
biológico, ainda se tem muita de- influenciam no resultado. Outros o produtor a vencer as batalhas, pro-
sinformação no campo. Os avanços fatores, como o posicionamento vendo produtividade e rentabilidade
nas formulações levaram à maior em função das condições climáticas ao seu negócio. C

utilização, e, logicamente, propor- - “janelas de aplicação” - podem ser


cionando compatibilidade ao quí- impeditivos para o produtor. Vale Germison Tomquelski,
mico. Mas são encontrados vários ressaltar que o clima vai também Mariana Vale,
erros de compatibilidade no campo, influenciar tanto a dinâmica da pra- Desafios Agro

36 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 304


MILHO

Nitrogênio no cultivo
Diversos fatores interferem na receptividade do milho aos fertilizantes
nitrogenados; é preciso levá-los em conta no momento das aplicações

C
erca de dois terços do O nitrogênio tem função es- ao longo do dia favorece a fo-
nitrogênio absorvido trutural nas plantas, fazendo tossíntese e a baixa temperatu-
pelas plantas de mi- parte dos aminoácidos, clorofi- ra noturna reduz a respiração,
lho são enviados para la, ácidos nucleicos e estruturas contribuindo para o acúmulo de
os grãos, sendo necessários por energéticas, como a ATP. Dessa fotoassimilados que serão utili-
volta de 22 kg de N por tonelada maneira, plantas bem supridas zados no desenvolvimento e en-
de grão produzido. A absorção de nitrogênio têm maior capa- chimento dos grãos.
pode ser feita na forma de amô- cidade de produzir carboidratos
nio (NH3⁺) ou de nitrato (NO3-), durante a fotossíntese, acumu- Aumento linear
porém a maior quantidade de lando biomassa e contribuindo de produtividade
nitrogênio está disponibilizada com a manutenção dela até final Um trabalho conduzido por
na sua forma orgânica no solo, do ciclo. Marques (2024) mostrou que,
sendo necessário mineralizar o O milho é uma planta que mesmo em solos com alta ferti-
elemento ou ser feita a aplicação prefere maiores amplitudes tér- lidade, a aplicação de adubação
na forma mineral, através de fer- micas ao longo do seu desen- nitrogenada aumentou a produ-
tilizantes nitrogenados. volvimento. A alta temperatura tividade linearmente (Figura 1).

Cultivar Grandes Culturas 304 • revistacultivar.com.br • 37

Divulgação
Figura 1 - variação da produtividade de grãos (PG) do Figura 2 - população de plantas por hectare e estimativa
milho em função das doses de N em cobertura. Fonte: de rendimento de híbridos de milho da empresa Agroceres
Marques, 2024 cultivados na sede do IFC Campus Rio do Sul (SC), safra
2022/23, com diferentes níveis de adubação nitrogenada.
Fonte: Gralick et al., 2023

A cada 10 kg/ha de N em cober- o parcelamento da mesma apli- nado em cobertura, é possível


tura, a produtividade de grãos do cação de nitrogênio em duas ou analisar o maior incremento na
milho aumentou em 62 kg/ha, três vezes e a aplicação única produtividade com o uso da cro-
como mostra a figura abaixo. A não apresentaram diferenças talária e a necessidade da corre-
dose de 80 kg/ha foi feita numa na produtividade do milho para ção do solo com calcário e gesso
aplicação única e as doses de 160 doses entre 60 e 120 kg/ha em para contribuir com a expressão
e 240 kg/ha foram parceladas em solos de textura média e argilosa da ciclagem de nutrientes pela
duas parcelas iguais, nos estádios (Coelho, 2006). cultura (Sanches, 2024).
de três e quatro folhas. Com a intenção de ter siste-
A recomendação de aplicação Variação de mas mais sustentáveis através
do adubo nitrogenado é entre os produtividade do uso de culturas de cobertura,
estádios V3 e V6, em que a plan- O trabalho realizado por San- rotação de culturas e a adoção
ta de milho tem maior necessi- ches (2024) mostrou que a com- do sistema de plantio direto, é
dade de absorção do elemento. binação de adubação nitrogena- possível otimizar a eficiência da
Após esse período, o nitrogênio da com a cultura de cobertura adubação nitrogenada, reduzin-
pode ser perdido no solo, porque tem resposta no incremento na do suas perdas para o solo, seja
a planta não irá absorver e, de- massa de 100 grãos. Quando a por volatilização ou lixiviação (Ta-
pendendo do volume aplicado, cobertura utilizada foi milho, teve bela 1).
pode favorecer a ocorrência de um efeito quadrático no incre-
doenças. mento de produtividade, tendo Utilização
O parcelamento das doses maior desempenho na dose de de calcário
é indicado em áreas arenosas 126 kg/ha; isso significa que o Um trabalho feito por Castro
que precisam de um tratamento milho respondeu em produtivi- Júnior (2024) mostra a importân-
mais especial, áreas com previ- dade até essa dose. A partir de- cia de realizar a correção do solo
são de chuvas com alta intensi- la, manteve a resposta ou teve com calcário para a produtivida-
dade e quando os volumes de redução na produção. Enquanto de de milho. Também observou
adubação de cobertura são mui- a crotalária teve resposta linear, que, em solos corrigidos, a crota-
to altos, entre 120 e 160 kg/ha. ou seja, com o aumento da dose lária tem menor possibilidade de
Essas doses em áreas irrigadas aplicada, maior foi a produtivida- produzir substâncias que podem
podem ser parceladas em várias de da lavoura. ser prejudiciais ao milho, além de
vezes, através do sistema de irri- Além disso, quando se com- favorecer a fixação de nitrogênio
gação, não sendo viável, porém, para as respostas do milho sem no solo para disponibilizar à cul-
em áreas de sequeiro. Contudo, aplicação de fertilizante nitroge- tura.

38 • revistacultivar.com.br • Cultivar Grandes Culturas 304


Tabela 1 - desdobramento da interação
entre cultura de cobertura (CC) e dose
Rotação de N (N) significativa para massa de 100 milho, muitas vezes, pode ser o
de culturas grãos (M100) em Selvíria (MS), 2023 nitrogênio.
Entre os aspectos que devem
ser considerados no momento Cultura de Cobertura (CC) Azospirillum brasilense
de realizar a adubação nitroge- Dose N Milheto Crotalaria DMS como alternativa
nada estão a rotação de culturas g
A aquisição de adubo nitroge-
e o sistema de cultivo, se plantio nado para suprir o elemento para
0 30,23 B 32,97 A
direto ou convencional. Isso por- o milho pode ter custos elevados,
que, essas condições interferem 90 34,93 34,30 1,34 mas uma alternativa é a inocula-
diretamente na disponibilidade 180 34,47 35,09 ção com Azospirillum brasilense
de nitrogênio na forma mineral RL 39,95** 10,05**² que apresentou a mesma res-
para o milho, sendo uma fonte RQ 19,72**¹ 0,21
posta de produtividade, quando
importante e podendo, em al- comparada à aplicação do adubo
guns casos, reduzir a adubação Nota: ¹ y = 30,23333+0,080889x-0,000319x²
R²=100%; ² y=33,05666+0,011815x R²=97,90%;
nitrogenado em cobertura. O
nitrogenada em cobertura. Médias seguidas por letras distintas maiúsculas na incremento na produtividade é
linha, diferem entre si pelo Teste de Tukey, em nível
de 5% de probabilidade. Fonte: Sanches, 2024 observado mesmo em condições
Condições de déficit hídrico, mostrando o
ambientais potencial dessa espécie de bacté-
Comparando os resultados nitrogênio em cobertura incre- ria em melhorar a produtividade
entre a safra 21/22 e a 22/23 ob- menta a produtividade do milho, das culturas, promovendo o cres-
servou-se que a segunda teve res- como mostra o trabalho realiza- cimento radicular que melhora a
posta mais expressiva no aumento do por Gralick et al. (2023). Esse absorção de água e nutrientes e
da produtividade pela aplicação de trabalho (Figura 2) reforça a ne- aumenta a tolerância aos estres-
adubo nitrogenado, já que tinha cessidade de realizar a adubação ses, reduzindo efeitos deletérios
melhores condições ambientais, nitrogenada no milho para que por estresse hídrico e salino (Oli-
favorecendo o desenvolvimento expresse seu máximo potencial veira, 2024). C

da cultura e sua resposta aos trata- produtivo. Devemos nos lembrar


mentos (Sanches, 2024). sempre da lei do mínimo, em que
É importante que no momen- um nutriente pode ser o limitan- Emelin Baum Krüger,
to da aplicação as condições te da produtividade e, no caso do agrônoma e agricultora
ambientais sejam ideais, com
umidade e temperaturas ame-
nas, para evitar a volatilização do

Divulgação
nitrogênio na forma de amônia a
partir da aplicação do adubo ni-
trogenado. A umidade é necessá-
ria para que a planta consiga ab-
sorver esse elemento que estará
disponível no solo. Em condições
de seca e estresse a planta não
conseguirá absorver o nutriente
que poderá ser perdido, causan-
do prejuízos tanto pelo investi-
mento quanto pela redução da
produtividade.

Nitrogênio
em cobertura
Independentemente do hí- Entre os aspectos que devem ser considerados no momento de realizar a adubação nitrogenada
brido escolhido, a aplicação de estão a rotação de culturas e o sistema de cultivo, se plantio direto ou convencional

Cultivar Grandes Culturas 304 • revistacultivar.com.br • 39


Coluna Agronegócios

Embalagens plásticas biodegradáveis

O
uso de plásticos não glicerol. Portanto, as matérias- O estudo desenvolvido pela
degradáveis é uma -primas básicas para produção de equipe da professora Valentina
das principais cau- plásticos biodegradáveis - celulo- Beghetto (bit.ly/3Shev45) utilizou
sas de poluição am- se, quitina e glicerol - são abun- a carboximetilcelulose (CMC) e um
biental no planeta, urgindo subs- dantes em nosso país, descorti- derivado da quitina, a quitosana
tituir os atuais materiais plásticos, nando uma enorme oportunidade (CS), para desenvolver formula-
derivados da petroquímica. Em comercial, lastreada em uma de- ções de filmes plásticos ecossus-
2023, o mercado global de em- manda global por maior susten- tentáveis, com adição de agentes
balagens sustentáveis alcançou tabilidade. plastificantes e reticulantes, ge-
US$ 51,2 bilhões. Os biopolímeros rando materiais adequados para
atuais, embora biodegradáveis, Desenvolvimento embalagens.
apresentam algumas restrições tecnológico A substância DMTMM, deriva-
para substituir os plásticos con- Investigadores da Universidade da de triazina orgânica, foi utiliza-
vencionais. Ca' Foscari (unive.it/pag/13526) da como agente reticulador para
desenvolveram uma embalagem o desenvolvimento da CMC. A
Oportunidade para biodegradável, sendo o primeiro presença de DMTMM melhorou
a agroindústria material ativo do mundo que con- o teor e a absorção de umidade,
O Brasil possui 10 Mha de flo- tém um composto antibacteriano a permeabilidade ao vapor de
restas cultivadas. Desde 2022, o incorporado à embalagem. Re- água, a solubilidade dos filmes em
Brasil é o maior produtor e expor- duzir o crescimento bacteriano e água, e a resistência ao óleo jun-
tador de celulose no mundo, com prolongar a vida útil dos produtos tamente com alta biodegradabili-
receita anual de R$ 250 bilhões. sem uso de aditivos nos alimen- dade. Todos os filmes preparados
Naquele ano, a produção de fibra tos, melhora a sustentabilidade e apresentaram baixa opacidade
de madeira do país atingiu 25 Mt, a segurança dos alimentos e das e altas transparências. O melhor
10,9% a mais do que em 2021. As embalagens. compromisso entre alta resistên-
exportações aumentaram 22%, cia à água, permeabilidade ao va-
atingindo 19,1 Mt. Portanto, dis- por e propriedades mecânicas foi
pomos de material celulósico em alcançado com 5% em peso de
abundância e temos potencial de DMTMM e 50% em peso de glice-
continuar a expansão da produção rol, proporcionando resistência à
nos anos vindouros, se o mercado tração e alongamento na ruptura.
assim exigir. Dispomos de Os testes de biodegradabilidade
De outra parte, o Brasil é pro- material celulósico mostraram degradação completa
dutor de biodiesel. Em 2023, esti- em abundância e de todos os filmes em, no máximo,
ma-se que 7,3 Mm3 de biodiesel temos potencial de três semanas.
tenham sido produzidos, o que continuar a expansão As matérias-primas e a tecno-
gera um volume superior a 0,75 da produção nos logia estão disponíveis no Brasil,
Mm3 de glicerol. A atual taxa de falta apenas o fator empreende-
mistura ao petrodiesel (14%) será
anos vindouros, se o dorismo para capturar a oportu-
incrementada nos próximos anos, mercado assim exigir nidade. C

o que, juntamente com o cresci-


mento da demanda de combus- Décio Luiz Gazzoni,
tível, aumentará a produção de Embrapa Soja

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Coluna Mercado Agrícola

Brasil bate recorde de exportações do agro em 2024


A safra brasileira de grãos desta temporada de
2023/24 não foi recorde como a do ano anterior.
Tivemos queda no volume da soja, que desceu das 156 mi-
serão menores. Mas não cairão no mesmo ritmo porque,
até agora, já foram embarcadas 21,5 milhões de toneladas,
frente às 29,5 milhões do ano passado.
lhões de toneladas para 148 milhões. Mas as exportações Um fator importante para o agro é que seguimos batendo
que de janeiro a setembro do ano passado tinham sido de recorde de exportações no setor da carne, mesmo sofrendo
102,3 milhões de toneladas (soja, farelo e óleo), agora estão uma pressão negativa que veio da Doença de New Castle, a
com 105,2 milhões de toneladas, e continuam em acelera- qual afetou uma propriedade no Rio Grande do Sul. O foco foi
ção. Isso deve deixar o mercado interno com pouca oferta eliminado rapidamente, mas houve pressão negativa. Os seto-
do grão nos próximos meses e dar fôlego aos indicativos res das carnes bovina e suína também têm apresentado ótimo
regionalizados que vão pagar mais do que consegue pagar desempenho. O Brasil seguirá como líder mundial na exporta-
a exportação. O milho também teve queda forte na produ- ção de alimentos e, mesmo assim, manterá bom abastecimento
ção em mais de 20 milhões de toneladas e as exportações interno e os preços mais baixos do mundo no setor.

Milho avanço no plantio e saltará dos 46 milhões de hectares para algo


acima dos 47 milhões, podendo até bater os 48 milhões.
Com clima favorável às lavouras do Sul, a safra de verão do
milho no Brasil em sua maior parte já está plantada. Nas últi-
Feijão
mas semanas, o clima apresentou boas chuvas e neste ano as
condições estão regulares. As lavouras estão produzindo bem. O mercado está no vazio de oferta e de safra desde o meio de
Mesmo com o decréscimo da área (quase um milhão a menos setembro. Passará este outubro e até parte de novembro sem
de hectares plantados), a colheita deve assemelhar-se à do ano colheitas. Isso dará fôlego para as cotações que já reagiram em
passado. Há expectativa de colher 25 milhões de toneladas, re- setembro e mostram que podem seguir firmes ainda em outubro
petindo a colheita do último ano. e começo de novembro. As ofertas maiores deverão vir somente
no começo de 2025. Continuará favorável aos produtores.
Soja
Os produtores deram a largada forte no Paraná, que, em Arroz
setembro, já mostrava ritmo acelerado e mais de 50% da área O mercado do arroz teve um ano com pressão do go-
plantada. As lavouras do Mato Grosso recém começaram a ser verno, depois passou e os leilões foram cancelados. Mostra
plantadas. As chuvas no centro do país estavam atrasadas e o bom abastecimento do varejo, mas não se pode deixar de
mesmo ocorreu com o plantio. O período da soja vai até dezem- olhar para o mercado internacional, que segue firme. Temos
bro para o plantio dentro de condições normais para a colheita produção mundial menor do que a demanda. Assim, há pos-
regular. O atraso normalmente prejudica o plantio do milho da sibilidade de alguns ajustes positivos até a chegada da nova
safrinha. Não são esperados problemas para a soja, a qual terá safra, lá no final de janeiro.

Curtas e boas
TRIGO - o ano não foi bom para o He- EUA - colheita segue forte e adiantada, milho com perdas de mais de cinco milhões
misfério Norte, com perdas na Rússia e devendo ter safra de milho na faixa das de t, passando para a faixa das 46,5 milhões
na Ucrânia. Foi complicado também em 385 milhões de t e de soja na faixa das 125 de t, em função da cigarrinha. Tudo aponta
países como Alemanha e França, gran- milhões de t, com o setor temendo que a para que parte das áreas de milho irá para
des da União Europeia. Além de perdas guerra comercial entre EUA e China venha a soja nesta nova temporada, que começa
na Ásia. Assim, a oferta e a demanda a cair no colo do agro estadunidense, o que no meio de outubro. A maior parte da soja
mundiais também serão apertadas, pode deixar grandes os estoques internos. deve ser plantada nos meses de novembro
com menor volume de colheita do que CHINA - está em níveis recordes de e dezembro. Estima-se que o milho poderá
irá ser consumido e argumento positivo compras do agro brasileiro. Tudo isso po- perder até dois milhões de hectares e a soja
às cotações à frente. No Brasil, a safra derá crescer se a guerra comercial entre ganhar mais da metade desta área. C

gaúcha mostra sinais de que deve ser os chineses e os EUA ganhar mais corpo
muito melhor em qualidade do que foi no ano que vem. Vlamir Brandalizze
no ano passado, lembrando que teve ARGENTINA - safra regular neste ano, Brandalizze Consulting
queda de área. com a soja perto das 50 milhões de t e o Instagram: @brandalizzeconsulting

Cultivar Grandes Culturas 304 • revistacultivar.com.br • 41


Coluna Cesb

Evolução do Desafio Cesb e as


Top10 áreas mais produtivas

A
sojicultura brasileira é um ro e único, até então, campeão nacio- de grande sucesso, de um cenário que
dos pilares do agronegócio nal Cesb vindo da categoria irrigada, mostra que é possível atingir as altas
nacional, desempenhando com 123,88 sc/ha. produtividades de forma sustentável.
um papel estratégico tanto no merca- 6) Desde a safra 2011/2012, a mé- A integração de práticas ESG na
do interno quanto no externo. Nesse dia do Top10 melhores áreas é o dobro sojicultura brasileira, liderada por ini-
cenário, o Comitê Estratégico Soja Brasil da média Conab. ciativas do Cesb, estimula um círculo
(Cesb) tem sido um agente transforma- 7) Também se destaca o crescimen- virtuoso de aumento de produtividade,
dor, incentivando a adoção de práticas to exponencial de participantes no De- responsabilidade social e preservação
que maximizam a produtividade e pro- safio, desde a sua criação em 2008, que ambiental. O cenário global atual exige
movem a sustentabilidade. demonstra o grande interesse dos pro- que a produção agrícola seja, ao mes-
Desde sua criação na safra 2008/ dutores e consultores em participar do mo tempo, competitiva e sustentável.
2009, o Desafio Nacional de Máxima concurso e se desafiarem a melhorar a Nesse contexto, o Cesb tem a oportu-
Produtividade de Soja promovido pelo sua produtividade a cada safra. nidade de fortalecer, ainda mais, seu
Cesb tem progredido em números não 8) Ao longo das edições do Desa- papel como protagonista na sojicultura
apenas em suas dez primeiras posições fio, a diferença média entre a média nacional, promovendo uma produção
(Top10 Cesb), mas em todas as áreas produtiva Cesb e a média Conab é de, de soja que não apenas atenda às de-
auditadas no âmbito do concurso na- aproximadamente, 26 sc/ha. mandas de mercado, mas que também
cional. 9) No último ano, na safra 2023/ garanta um futuro mais próspero para
Quando observamos melhor a tabe- 2024, nove áreas do Top10 alcançaram o setor.
la anterior, destacamos alguns pontos produtividades superiores a 120 sc/ha. Ao fomentar práticas que equili-
de relevância que demonstram a evo- 10) Além disso, nessa safra, aproxi- bram o crescimento econômico com
lução de alguns produtores no cultivo madamente 50% das áreas auditadas a responsabilidade socioambiental, o
da soja: no Desafio estão com níveis produtivos Cesb contribui para que o Brasil man-
1) No ano de início do Desafio (safra acima de 90 sc/ha. tenha sua liderança no cenário mundial
2008/2009), a média brasileira dada pe- O principal objetivo do Desafio Cesb da produção de soja, pavimentando o
la Conab era de, aproximadamente, 44 é contribuir no incremento da produti- caminho para um agronegócio mais
sc/ha, tendo aumentado 10 sc/ha, na vidade média da soja. O que vem sen- sustentável e produtivo. C

média, até a última safra. Enquanto a do evidenciado pelo número de áreas


média das áreas auditadas do Cesb teve que estão produzindo acima de 90 sc/
um aumento de, aproximadamente, 24 ha, por exemplo, ao longo do tempo. Luiz Antonio da Silva,
sc/ha, nesse mesmo prazo. O evento vem sendo uma vitrine Cesb
2) Logo na segunda edição do Desa-
fio (safra 2009/2010), duas áreas rom-
peram a barreira dos 90 sc/ha, sendo
que uma delas ultrapassou a barreira
dos 100 sc/ha.
3) Desde a safra 2013/2014, todas
as áreas do Top10 estão acima de 100
sc/ha.
4) Na safra 2014/2015, tivemos o
primeiro número acima de 140 sc/ha,
situação que voltou a se repetir na sa-
fra 2016/2017.
5) Em 2018/2019, tivemos o primei-

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