Cultivar 304
Cultivar 304
Cultivar 304
outubro 2024
Expediente Editorial
Grupo Cultivar de Publicações Ltda.
CNPJ: 02783227/0001-86
Insc. Est. 093/0309480
Nesta edição, destacamos trabalho sobre a mistura de fungicidas mul-
Rua Sete de Setembro, 160 tissítios. O uso de fungicidas com múltiplos pontos de ação, quando com-
Pelotas – RS • 96015-300
binados de maneira estratégica, tem mostrado resultados promissores no
revistacultivar.com.br
[email protected] controle de patógenos. Este é o foco do artigo de capa. A importância desse
estudo se reflete diretamente no campo, onde a pressão por alternativas
Assinatura anual (11 edições*): R$ 289,90
(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) mais eficazes e sustentáveis no controle de doenças continua a crescer.
Números atrasados: R$ 28,00
Assinatura Internacional:
US$ 150,00
€ 130,00
Outro tema que preocupa e deve ser monitorado de perto é a expansão
da cigarrinha sogata nas lavouras de arroz. Esse inseto, até então pouco
FUNDADORES
Milton de Sousa Guerra (in memoriam)
conhecido em certas regiões do Brasil, vem se tornando praga séria, cau-
Newton Peter sando danos significativos.
Schubert Peter
• Diretor
Newton Peter A resistência de cultivares de cafeeiro a Fusarium spp. desperta interes-
REDAÇÃO se. Instituições de pesquisa têm concentrado esforços para desenvolver so-
luções que possam mitigar os efeitos da doença causada por esses fungos.
• Editor
Schubert Peter
• Redação Por sua vez, a nutrição recebe abordagem nas culturas de feijão e milho.
Rocheli Wachholz No caso do feijão, o artigo destaca práticas de manejo nutricional e fisio-
Miriam Portugal
Nathianni Gomes lógico fundamentais para otimizar o crescimento e a produtividade. Já no
• Redator cultivo de milho, a questão tratada envolve a essencialidade de fertilizan-
Rogério Nascente tes nitrogenados. O conhecimento técnico sobre esses fatores pode fazer a
• Design Gráfico e Diagramação diferença entre uma colheita satisfatória e uma com baixa produtividade.
Cristiano Ceia
• Revisão Tratamos ainda de agentes biológicos no controle de pragas no milho,
Aline Partzsch de Almeida
de monitoramento regional para manejo integrado de pragas em soja e
COMERCIAL
muito mais. Tudo nas próximas páginas. Boa leitura!
• Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Vendas Índice
Sedeli Feijó
José Geraldo Caetano 04 Diretas Nossas
Franciele Ávila
05 Mundo Agro capas
CIRCULAÇÃO 06 Coluna ANPII
• Coordenação 08 Sogata em arroz
Simone Mendes
12 Resistência de clones de café a Fusarium
• Assinaturas
Natália Rodrigues 15 Calcário em excesso em café
FMC
A FMC Corporation anun-
ciou acordo com a Ballagro
Agro Tecnologia Ltda para
ofertar produtos biológicos
diferenciadas para os agri-
cultores brasileiros. "Essa
parceria com a Ballagro re-
força nossa estratégia, tra-
zendo soluções inovadoras
que atendem às necessida-
des dos produtores", disse
K+S Brasil
A K+S Brasil co-
municou a chegada
de Flávio Barcellos
Gênica Cardoso para o car-
go de gerente técni-
A Gênica nomeou Fábio Forli como co. Com mais de 20
"head" de marketing. O executivo terá anos de experiência
também sob sua responsabilidade as no setor agrícola, ele
áreas de portfólio, inteligência e aces- possui histórico de
so a mercado, excelência comercial, atuação em grandes
desenvolvimento de mercado e comu- companhias do ra-
nicação. mo.
H
á algum tempo escreve- qualidade dos produtos oferecidos no processo de registro, bem como
mos nesta mesma colu- aos agricultores. atuam nos órgãos legislativos, buscan-
na sobre a importância Por outro lado, a ANPII Bio vem do motivá-los para que apresentem
da união de empresas desenvolvendo novos produtos de leis cada vez mais adaptadas às ne-
em associações de classe, visando uma forma praticamente inédita no cessidades dos agricultores e às pos-
à conjugação de forças em torno de mercado brasileiro: uma aliança tec- sibilidades tecnológicas das indústrias.
objetivos comuns, fortalecendo os nológica entre as empresas associa- A ANPII Bio também está desenvol-
pleitos que levem ao desenvolvimen- das. Após a prospecção de novos co- vendo um programa interlaboratorial,
to do setor no qual atuam, com con- nhecimentos gerados pelos órgãos de juntamente com um laboratório de
sequente fortalecimento individual pesquisa, as empresas reúnem seus ponta na área de controle de quali-
de cada um dos participantes. departamentos de P&D e regulató- dade, visando avaliar os padrões de
Muitas vezes interpretadas como rios no desenvolvimento conjunto qualidade que o produto coloca no ró-
entidades que somente defendem de um produto, bem como iniciam os tulo. Os resultados são confidenciais,
assuntos menores, que fortaleçam contatos com o Ministério da Agricul- mas aquelas empresas cujo sistema
as empresas, mas que levam à dimi- tura e Pecuária (Mapa) para estudar a de contagem não esteja dentro das
nuição dos deveres com os órgãos melhor forma de registrá-lo. Uma vez exigências terão que melhorar seus
controladores e com os clientes ou registrado, cessa a aliança e cada em- processos, visando dar plena confia-
usuários dos produtos, as verdadei- presa coloca no mercado sua marca bilidade a seu sistema de controle da
ras associações de classe defendem e poderá adicionar as melhorias que qualidade.
o setor como um todo. julgar importantes para tornar seu Assim, essas ações desenvolvidas
A colaboração, e não o conflito, produto cada vez mais eficiente. em conjunto apresentam uma redu-
rege as diretrizes regulatórias, no Além disso, a associação contrata ção significativa de custos para cada
âmbito puramente colaborativo, especialistas na área regulatória, que empresa - pois os valores aportados
visando, muitas vezes, a fortalecer consolidam os pleitos das indústrias são divididos entre todos os partici-
o poder regulatório para preservar participantes e os levam para discus- pantes dos programas -, além de faci-
as boas empresas da concorrência sões junto aos ministérios envolvidos litarem a interlocução com os órgãos
desleal de empresas menos com- de pesquisa, com as entidades regu-
prometidas com a qualidade dos latórias e com a área política.
produtos. A ANPII Bio se orgulha de ser a
No caso da ANPII Bio, agora de- primeira associação do Brasil voltada
Os resultados são
nominada ANPII Bio - Associação exclusivamente para a área de bioin-
Nacional de Promoção e Inovação confidenciais, mas sumos, com 34 anos de atuação inin-
da Indústria de Biológicos, ampliando aquelas empresas terrupta, acompanhando todas as
seu espectro de uma entidade volta- cujo sistema de grandes modificações ocorridas neste
da unicamente para o setor de inocu- contagem não tempo no campo dos produtos bioló-
lantes para abranger todo o campo esteja dentro das gicos para a agricultura. As empresas
dos bioinsumos, a linha de conduta exigências, terão associadas desfrutam de um ambien-
tem sido, desde sua fundação, em te proativo, moderno e, sobretudo,
que melhorar
1990, a de estreita colaboração com democrático, com as diretorias que
os órgãos regulatórios, em um diá- seus processos, se sucedem ao longo do tempo repre-
logo frutífero, cordial, colaborativo. visando dar plena sentando não a ideias dos diretores,
Em muitas ocasiões, a entidade tem confiabilidade a seu mas sim uma síntese dos desejos das
estado mesmo na vanguarda dos sistema de controle empresas associadas. C
Cigarrinha sogata
torna-se problema
É preciso que o produtor esteja atento a essa espécie relativamente recente como
praga nas lavouras de arroz no país, a fim de realizar o manejo correto e minimizar
os danos decorrentes de sua infestação
A
sogata, Tagosodes orizicolus
(Hemiptera: Delphacidae), co-
mo praga, é relativamente re-
cente nas lavouras de arroz no
Brasil. Essa espécie é importante praga do
arroz na América Tropical (Colômbia, Vene-
zuela, Equador e Peru) e no Caribe (Cuba),
mas por aqui não causava danos. Sujeita à
forte pressão de controle biológico natural
e a outros condicionantes ecológicos, a
sogata não formava altas populações nas
áreas cultivadas. Porém, a situação mudou
e agora é preciso estar atento à ocorrência
dessa nova praga do arroz.
Conhecendo
a praga
Os adultos da sogata são pequenas ci-
garrinhas, com acentuada diferença entre
os sexos, parecendo até espécies distintas
numa primeira impressão. As fêmeas me-
dem de 3 mm a 4 mm de comprimento e
são de coloração castanho-amarelada. Os
machos são menores (2 mm a 3 mm de
comprimento) e de coloração preta. Em
ambos os sexos, uma faixa mediana de cor
clara percorre o dorso, da cabeça ao final
do abdome.
Um aspecto muito peculiar da sogata
é a existência de fêmeas aladas e fêmeas
com asas rudimentares. As fêmeas aladas
possibilitam a dispersão da espécie, porém
A B
Folhas de arroz com fumagina (esquerda) e sogatas na plataforma de corte da colheitadeira (direita)
Cultivares resistentes
A preocupação com a disseminação e o potencial de danos causados por Fusarium spp.
concentra esforços de instituições de pesquisa no desenvolvimento de soluções que
contribuam para a sua mitigação
A
produção de café Coni- pesquisadores no estado do Espírito apical, perda de vigor, curvatura das
lon/Robusta represen- Santo. Foi descrita pela primeira vez folhas, murcha, amarelecimento,
ta a principal fonte de no Brasil em 2018, por estudantes formação de cancros, progredindo
renda para milhares de e pesquisadores do Laboratório de para a seca e morte de ramos orto-
pequenos, médios e grandes produ- Epidemiologia e Manejo de Doen- trópicos e plagiotrópicos (Figura 1).
tores, principalmente para o estado ças em Plantas (Lemp), localizado A ocorrência do cancro dos ra-
do Espírito Santo, que se posiciona no Centro de Ciências Agrárias e En- mos do cafeeiro em Coffea cane-
como o maior produtor da commo- genharias da Universidade Federal phora é relatada de norte a sul do
dity no país. O potencial produtivo do Espírito Santo (CCAE-Ufes). Nos- estado do Espírito Santo, sendo ain-
do Conilon/Robusta é afetado pela sa equipe encontrou três diferentes da relatada em regiões produtoras
constante interação com fitopató- espécies patogênicas de Fusarium, de Conilon/Robusta localizadas em
genos em lavouras, a qual, em asso- sendo elas F. solani, F. decemcellu- Minas Gerais, Bahia e Rondônia. A
ciação com um ambiente favorável, lare e F. lateritium, que induz sin- preocupação com a disseminação
resulta na ocorrência de doenças, tomas como perda de dominância e o potencial de danos causados
reduzindo a produtividade e a qua- pela doença concentra esforços de
lidade do fruto. instituições de pesquisa e do gover-
A ocorrência de Fusarium spp. no do Espírito Santo no desenvolvi-
em cafeeiros Conilon/Robusta preo- mento de pesquisas aplicadas à ca-
cupa cafeicultores, extensionistas e
Figura 1 - perda de dominância apical, perda de vigor, curvatura das folhas, murcha, amarelecimento (a e b),
formação de cancros (c), progredindo para a seca e morte de ramos ortotrópicos e plagiotrópicos (b e c)
experimento, todos os genótipos/ geno nos tecidos internos do hos- L33, VR4, R22, G40, 07, AS2, LB80,
clones avaliados desenvolveram sin- pedeiro, enquanto os genótipos/ R110 e 08 foram aqueles que se
tomas de murcha, amarelecimento, clones Imbigudinho, Bamburral, apresentaram mais resistentes, de-
lesões internas e externas na região Bicudo, P2, AD1, A1, AP e Peneirão vido a uma menor área colonizada
inoculada e redução de altura e nú- foram aqueles que se apresenta- por F. solani.
mero de folhas. Diferentes níveis de ram mais resistentes à doença, de-
resistências foram caracterizados, vido a uma menor área colonizada Considerações
não sendo, portanto, constatada por F. solani. fitossanitárias
resistência total à doença entre os Para o grupo varietal Robusta O grupo de fungos fitopatogêni-
materiais em estudo. os genótipos/clones RMD, 03, cos do gênero Fusarium representa
Os genótipos/clones do grupo R04, 06, 65, 25, G8, 102, 41 e 88 uma das maiores preocupações
varietal Conilon Valcir P, Beira Rio 8, foram descritos como mais sus- para a fitossanidade agrícola, devi-
Verdim R, Graudão HP, Pirata, L80, cetíveis, devido a uma maior área do à dificuldade de controle. Esses
Clementino e LB1 foram descritos colonizada do patógeno nos teci- resultados são importantes para
como mais suscetíveis, devido a dos internos do hospedeiro, en- implementação de medidas de mi-
uma maior área colonizada do pató- quanto os genótipos/clones G20, tigação da doença. Nosso grupo de
pesquisa está conduzindo diversos
trabalhos quanto a epidemiologia
e medidas de manejo (químico,
biológico e genético) para o cancro
dos ramos do cafeeiro (Coffea ca-
nephora), com o objetivo de propor
soluções para o setor da cafeicultu-
ra. Estamos à disposição para parce-
rias, para juntos enfrentarmos este
desafio da cafeicultura. C
C
uidados especiais de- No plantio do cafeeiro são im- mento do cálcio e magnésio devem
vem ser tomados no portantes os nutrientes que tra- ocorrer pelo uso de calcário, sendo
uso de corretivos na zem maior influência na formação a dose aplicada em área total, incor-
implantação de lavou- do sistema radicular e na estrutu- porada com aração ou gradagem,
ras de café, para evitar falta ou ra da planta. O cálcio, o magnésio e mais uma quantidade do calcário
excesso de correção, igualmente e o fósforo são essenciais. junto ao sulco ou cova de plantio,
prejudiciais. A correção do solo e o supri- misturado com a terra de reenchi-
calcário em área total fica pratica- B Boro (Água Quente) mg/dm3 0,65 0,6
dem ser adotados dois caminhos Ca/Mg Relação Ca/Mg - 3,3 3,1
complementares. Aplicar adubos Ca/K Relação Ca/K - 17,6 31,3
acidificantes, como os nitrogena- Mg/K Relação Mg/K - 5,4 10
dos, em cobertura, os quais, re-
duzindo gradativamente o pH do
solo, voltam a aumentar a disponi- Conclusão pulverização; ou seja, via foliar
bilidade do ferro e do manganês. Por fim, pode-se resumir a com sais ou outras formulações
Indica-se, ainda, pulverizações com indicação para a correção do pro- de adubos foliares. No caso do
sulfato ferroso e sulfato de man- blema de deficiência de micronu- boro, aplicação via solo é a mais
ganês a 0,5-1,0%, para acelerar a trientes por excesso de correção. eficiente. Com o tempo, o uso
correção das deficiências. O uso de Através da diagnose foliar, ou, de adubos acidificantes - como
adubos orgânicos, ricos em ferro e existindo dúvidas, por meio de ureia, sulfato de amônia e outros
manganês, também ajuda na cor- análise foliar, identifica-se qual - utilizados na adubação normal
reção. O uso de fontes de ferro ou ou quais os micronutrientes es- da lavoura vai diminuindo o pH
manganês no solo, em cobertura, tão em falta nas plantas. Para do solo e, assim, torna os micro-
não tem resultado positivo pela di- aqueles que pouco se aprofun- nutrientes mais disponíveis. C
Monitoramento
sem uma estratégia apropriada de
manejo de resistência pode levar à
seleção de indivíduos resistentes e,
consequentemente, à perda da tec-
regional
nologia de manejo utilizada.
Pressão de seleção
e manejo integrado
Essa sequência de acontecimen-
As análises para o manejo integrado de pragas devem tos dentro do processo evolutivo
ter enfoque localizado, pois podem ocorrer variações de é conhecida como “pressão de se-
suscetibilidade a determinada tática de controle entre leção”. A evolução é discutida no
meio científico desde o século XVIII
populações relativamente próximas
e nada mais é do que um processo
A
de mudança e adaptação dos seres
resistência de insetos- víduos resistentes é muito baixo na vivos ao ambiente em que vivem,
-praga aos inseticidas população, não impactando no ma- com o passar das gerações. Por-
é um problema global nejo. Por isso, no estágio inicial não tanto, reduzir a pressão de seleção
que afeta a agricultura, há impacto na produtividade e, por- de insetos resistentes, seja para
a saúde pública e o meio ambiente. tanto, acabam passando desperce- determinado grupo químico ou
Ao sobreviverem às táticas de ma- bidos pelos agricultores. Entretanto, para qualquer tática de controle,
nejo empregadas, as populações das com o uso repetido do mesmo deve ser a primeira estratégia a ser
pragas crescem acima dos níveis de grupo químico, esses indivíduos re- adotada; e isso pode ser alcançado
dano econômico, causando redu- sistentes são os únicos sobreviven- com o Manejo Integrado de Pragas
ções significativas de produtividade. tes após a pulverização, e, assim, (MIP), pois, ao utilizarmos um cor-
Esse problema é mais comum do se acasalarão entre si (Figura 1). reto monitoramento de pragas e
que os produtores podem imaginar, Quando isso ocorre, a característica respeitarmos os níveis de controle
visto que a resistência é uma carac- de resistência, que era a minoria na preconizados pela pesquisa, natu-
terística genética que ocorre natu- população no início do manejo, pas- ralmente o número de pulveriza-
ralmente nas populações de insetos, sa a ser a maioria, e, então, deter- ções de inseticidas será menor do
permitindo que alguns indivíduos minado inseticida passa a não mais que o utilizado atualmente e, con-
dessas populações, que apresentam funcionar. Assim, o uso de qualquer sequentemente, a intensificação do
esses genes, tolerem doses que se- tática de manejo de pragas, sejam processo de seleção de indivíduos
riam letais para a maioria. elas moléculas inseticidas ou plan- resistentes será reduzida. Ou seja,
Inicialmente, o número de indi- tas geneticamente modificadas, antes de se pensar em estratégias
Embrapa Soja
Tabela 1 - comparação da eficiência e das vantagens na utilização do MIP-Soja no Paraná
Variável Comparação 2013/14 2014/15 2015/16 2016/17 2017/18 2018/19 2019/20 2020/21 2021/22
Dias até a primeira Com MIP 57,50 66,00 66,80 70,80 78,70 74,00 75,00 76,00 85,00
aplicação de inseticida Sem MIP 33,00 34,00 36,00 40,50 43,60 40,30 56,00 59,00 57,00
Custo de controle de Com MIP 144,60 120,00 120,00 138,00 84,60 126,00 108,00 60,00 18,00
pragas (kg/ha) Sem MIP 301,80 246,00 120,00 96,00
300,00 240,00 246,00 196,20 180,00
Produtividade Com MIP 2.953,80 3.612,00 3.426,00 3.870,00 3.702,00 3.006,00 3.864,00 3.654,00 1.752,00
(kg/ha) Sem MIP 2.920,20 3.516,00 3.282,00 3.828,00 3.624,00 2.916,00 3.804,00 3.618,00 1.740,00
de manejo da resistência, é funda- dade em mais de nove anos do pro- estarmos cientes de seus impactos
mental a implementação do MIP, o jeto (Tabela 1). na comunidade de inimigos naturais,
que, além de reduzir a intensidade caso contenham na mistura algum
do processo de seleção, proporcio- Modos de ação inseticida de largo espectro. Nesse
na um eficiente manejo de pragas; dos inseticidas caso, é desejável que esses insetici-
ao mesmo tempo em que mantém Aliado à menor intensidade de das não sejam utilizados logo no iní-
o potencial produtivo das culturas, uso de inseticidas proporcionada pe- cio da cultura, justamente para pre-
maximizando, então, a margem de lo MIP deve-se rotacionar os modos servar os inimigos naturais que estão
lucro do produtor. Essa afirmação fi- de ação dos inseticidas (biológicos iniciando seu estabelecimento na
ca bem evidente ao analisarmos os ou químicos), como exemplificado lavoura e contribuem para a redução
resultados obtidos no Paraná, em na Figura 2. É possível, também, a do número de insetos resistentes
um programa de estado de manejo utilização de mais de um grupo quí- em uma população.
de pragas conduzido em parceria mico, com modos de ação distintos,
com o IDR-Paraná e a Embrapa So- na mesma pulverização. Dessa for- Monitoramento
ja. Notoriamente, os produtores ma, a chance de sobrevivência dos constante
que adotaram o MIP-Soja utilizaram insetos é reduzida, uma vez que o Um dos objetivos de um progra-
inseticidas na hora certa, reduziram indivíduo necessitará ser resistente a ma de manejo da resistência é man-
o número de aplicações e, conse- dois modos de ação para sobreviver. ter, o máximo possível, a proporção
quentemente, o gasto de produção Vários produtos já são comercializa- de indivíduos suscetíveis de uma po-
- sem qualquer perda de produtivi- dos misturados, porém é necessário pulação a determinada estratégia de
Figura 1 - representação do processo de seleção de insetos Figura 2 - ilustração da rotação de inseticidas com dife-
resistentes devido à aplicação sucessiva do mesmo inseticida rentes modos de ação e sua função na preservação da
ou de inseticidas com mesmo modo de ação eficácia dos ingredientes ativos
Multissítios
severa e pode causar reduções de
até 80% da produtividade.
Fungicidas multissítios afetam
diferentes pontos metabólicos do
misturados
fungo e apresentam baixo risco de
resistência, tendo um papel impor-
tante no manejo antirresistência
para os fungicidas sítio-específicos.
Em razão da menor sensibilidade de
Aplicações conjuntas de fungicidas que afetam diferentes fungos aos fungicidas sítio-especí-
pontos metabólicos dos fungos são objeto de estudo; ficos na cultura da soja, fungicidas
entenda a razão de os resultados sugerirem a medida multissítios têm sido reavaliados
para aumentar as opções de con-
A
trole de doenças na cultura.
s doenças de plantas dimentos em qualquer cultivar. A Sabe-se que a grande dificul-
estão entre os principais ferrugem-asiática da soja, causada dade no controle da maioria das
fatores que limitam a pelo fungo (Phakopsora pachyrhizi doenças é devido à ampla variabili-
obtenção de altos ren- Sydow & P. Sydow), é a doença mais dade genética do patógeno; isso faz
Marcelo Madalosso
Figura 1 - produtividade e eficácia de controle dos tratamentos multissítios
em misturas e isoladamente (1 kg/ha) + Cl. (1,5 l/ha), T5 Mz. (1,5
kg/ha) + Cl. (0,7 l/ha), T6 Mz. (1,5
kg/ha) + Cl. (1 l/ha), T7 Mz. (1,5 kg/
ha) + Cl. (1,5 l/ha), T8 Mz. (2 kg/ha)
+ Cl. (0,7 l/ha), T9 Mz. (2 kg/ha) + Cl.
(1 l/ha), T10 Mz. (2 kg/ha) + Cl. (1,5
l/ha), T11 Mz. (1,5 kg/ha), T12 Cl.
(1,5 l/ha), T13 Oxicloreto de Cobre
(Oxic.) (0,7 l/ha), T14 Mz. (1 kg/ha)
+ Oxic. (0,5 l/ha) e T15 Cl. (1 l/ha) +
Oxic. (0,5 l/ha).
O ensaio foi conduzido no mu-
Figura 2 - multissítios isolados versus misturas de multissítios com Man- nicípio de Santo Ângelo, Rio Grande
cozebe 1 kg/ha do Sul, na área experimental da
Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai - URI/SA, que possui
uma altitude de 286 m. O ensaio
foi distribuído em blocos ao acaso,
com quatro repetições. O manejo
da área seguiu as recomendações
agrícolas para que nenhuma praga
interferisse no resultado do estu-
do. As aplicações do ensaio foram
realizadas com pulverizador costal
pressurizado a CO2, dotado de cinco
com que as fontes de resistência se- produtores usassem doses baixas pontas Teejet XR 11002 submetidas
jam suplantadas facilmente. Assim, ou nem usassem, visto o cenário de a uma pressão de 2,3 bar, pulveri-
o controle químico com fungicidas escassez. zando 130 l/ha de calda. Em cada
tem sido o método mais utilizado aplicação, foram observadas a velo-
no combate às doenças, pois, além Ensaio sobre cidade do vento, a umidade relativa
da facilidade de aplicação, é possí- multissítios do ar e a temperatura ambiente pe-
vel observar os resultados a curto Partindo do ponto que cada lo termo-higroanemômetro digital
prazo. multissítio atua sobre pontos me- - AK821.
Para que o controle químico seja tabólicos diferentes uns dos outros, A colheita foi realizada no dia 25
feito de forma eficiente é essencial foi desenhado um ensaio com o de abril de 2024, com uma colhe-
que a aplicação ocorra preventiva- objetivo de verificar qual o melhor dora automotriz Wintersteiger, com
mente. Dessa forma, o monitora- multissítio ou a melhor combina- a qual foram cortadas três linhas
mento da doença e sua identifica- ção, e a variação de doses dentre por quatro metros. Os grãos foram
ção devem ser realizados nos está- os multissítios, para o controle de pesados por uma balança quanta
dios iniciais de seu desenvolvimen- ferrugem em soja. (QTBD250) e foi observada a umi-
to, a partir de vistorias frequentes Os tratamentos foram disper- dade pelo medidor portátil MT-Pro.
na lavoura. sados em 15, com o T1 sendo a Por fim, os dados foram analisa-
Somado a isso, a safra de soja testemunha absoluta sem nenhu- dos estatisticamente no software
23/24 apresentou um fato histórico ma aplicação; os demais trata- SASM-Agri (3.2.4).
pela severidade e taxa de progresso mentos receberam quatro aplica- Todos os tratamentos químicos
da ferrugem-asiática. Foram situ- ções, começando no estádio de foram superiores à testemunha
ações de grandes dificuldades no V6>R1>14daa>14daa. sem aplicação (Figura 1). De acordo
controle da doença, inclusive pela No T2 Mancozebe (Mz.) (1 kg/ com a análise de médias pelo Scott-
falta de multissítios disponíveis no ha) + Clorotalonil (Cl.) (0,7 l/ha), T3 -Knott, o tratamento mais eficaz
mercado. Isso fez com que muitos Mz. (1 kg/ha) + Cl. (1 l/ha), T4 Mz. e que conferiu maior incremento
isolados. C
Leonardo Gollo,
Madalosso Pesquisas;
Marcelo Gripa Madalosso,
URI,
Madalosso Pesquisas;
Nei Wesz,
Madalosso Pesquisas;
Ivan Piveta,
Fungicidas multissítios afetam diferentes pontos metabólicos do fungo
Manuela Heinzmann,
e apresentam baixo risco de resistência, tendo um papel importante no Marcos Vinicius Contessa de Souza,
manejo antirresistência para os fungicidas sítio-específicos URI
Contra fungos,
oomicetos e nematoides
Controle biológico é importante estratégia a ser incorporada aos programas
de manejo integrado de problemas radiculares, de haste e foliares
O
mercado de controle o banimento de alguns produtos incognita e M. javanica), o nema-
biológico tem apresen- químicos; o potencial efeito adverso toide das lesões radiculares (Praty-
tado um crescimento desses produtos a organismos não lenchus brachyurus), o nematoide
anual de 15% a 30% alvos e ao meio ambiente; o seu do cisto (Heterodera glycines) e o
nos últimos anos, e atualmente já so- custo, além da demanda dos mer- nematoide reniforme (Rotylenchu-
ma mais de R$ 4 bilhões. Estimativas cados consumidores por produtos lus reniformis). Atualmente, os ne-
recentes apontam que, por volta de isentos ou com uma menor carga maticidas biológicos constituem a
2050, o valor de mercado dos biopes- de produtos químicos. principal estratégia de controle de
ticidas ultrapassará aquele dos pro- nematoides. Os fungos Pochonia
dutos químicos convencionais. Controle biológico chlamydosporia e Purpureocillium
Vários fatores contribuem para a de nematoides lilacinum, que são capazes de para-
expansão do mercado dos biopesti- Os principais nematoides que sitar ovos e fêmeas de nematoides,
cidas, incluindo a resistência de pató- acometem a cultura da soja são o têm sido usados com sucesso no
genos e pragas a produtos químicos; nematoide de galhas (Meloidogyne controle de nematoides, especial-
Controle biológico de
fungos e oomicetos
O controle biológico tem sido
uma das ferramentas mais impor-
Nutrição equilibrada
Práticas de manejo fisiológico e nutricional do feijoeiro otimizam
crescimento, desenvolvimento e produtividade da cultura
A
cultura do feijão irri- de inverno, os investimentos são al- via foliares, se tornam práticas que
gado tem elevada im- tos e a obtenção de rendimentos é garantem o bom rendimento.
portância econômica acima de 4 mil kg/ha. A nutri-fisiologia estuda a rela-
e social. É a fonte mais Para altos rendimentos, as bo- ção da nutrição com os componen-
acessível de proteína, energia e mi- as práticas de manejo nutricional tes fisiológicos da planta. O feijão
nerais na alimentação humana. A e fisiológico são essenciais, pois a irrigado leva à produtividade média
culinária brasileira explora este grão cultura do feijoeiro tem resposta de acima de 4 mil kg/ha. No entanto,
essencial em diversos pratos regio- acordo com o nível de investimento os novos cultivares de feijão de-
nais. proposto. O manejo do feijão envol- senvolvidos elevaram a exigência
O Instituto Brasileiro de Geogra- ve uma série de práticas agrícolas nutricional. Os macronutrientes (N,
fia e Estatística (IBGE) relatou, em que visam otimizar o crescimento, o P, K, Ca, Mg e S), normalmente for-
2023, que o Brasil colheu 2,465 mi- desenvolvimento e a produtividade necidos em maiores quantidades,
lhões de hectares de feijão duran- da cultura. têm sua importância incrementada.
te as três safras, com rendimento O manejo nutricional equilibra- O nitrogênio (N), o potássio (K) e
médio de 1.176 kg/ha. Em algumas do, fornecendo macro e micronu- o enxofre (S) participam de todo
regiões, o plantio é feito para a sub- trientes, possibilita altos rendimen- o processo metabólico da planta
sistência, ao passo que em outras, tos do feijoeiro. Entretanto, usar para a composição das proteínas;
como Noroeste de Minas Gerais, fontes solúveis de nutrição e com- devem ser fornecidos na ordem de
Leste de Goiás e Oeste do Paraná, plementação com corretores de N = 180 a 200; K = 120 e S = 30 a 40
na terceira safra, denominada safra carência, bem como fornecimento kg/ha, respectivamente. O cálcio
Laurício Moraes
Fotos Laurício Moraes
Biológicos N
as últimas safras, al-
gumas pragas têm le-
vado os produtores a
adotarem estratégias,
no manejo
até então não empregadas, em fun-
ção das dificuldades e dos prejuízos.
São grandes as perdas nas culturas
de pragas
de soja, milho e algodão no Brasil,
causadas pelas pragas. Os desafios
são frequentes com as novas pra-
gas, desde desconhecimento da
biologia, identificação, problemas
de alternativas de controle até mes-
mo a desgaste de algumas estraté-
gias.
Este último problema tem le-
vado à necessidade da integração
de mais métodos de controle. O
agroecossistema utilizado nos mais
de 40 milhões de hectares de soja
do Brasil apresenta várias caracte-
rísticas favoráveis à multiplicação
de pragas. É que prevalece um sis-
Apesar do uso consagrado desse modelo, tema de produção em que a soja
ainda se tem muita desinformação no é a principal cultura a se estabele-
campo, o que leva o produtor a buscar cer, na grande maioria das áreas,
todas as alternativas possíveis podendo ser rotacionada ou não
com culturas como milho e algo-
dão, sendo, após a colheita, esta-
belecida uma cultura na sucessão
ou mesmo ficando em “pousio”,
proporcionando alimento para os
insetos. Pode se afirmar que a po-
pulação de pragas é maior quando
se compara com os sistemas de
produção anteriormente adotados.
A presença dos hospedeiros o
ano todo, plantas “tigueras”, re-
manescentes de safras anteriores,
aliado a outros fatores, como condi-
ções climáticas favoráveis, de altas
temperaturas e de inverno ameno,
torna-se ideal para a multiplicação
dos insetos.
Apesar de algumas culturas es-
tarem sujeitas a leis que fazem com
que o produtor destrua as plantas nuo de velhos inseticidas e à entrada Devido a esse cenário, eleva-se
remanescentes, outras são difíceis de vários inseticidas biológicos possí- também o custo de produção, levan-
de serem realizadas, como no caso veis de serem empregados no país. do os produtores a buscar alternati-
do milho. A presença de “tigueras” A produtividade tem se eleva- vas para conter esse avanço. O uso
no campo tem proporcionado ali- do em soja, milho e algodoeiro nos de ferramentas de controle biológico
mento o ano todo para as pragas, últimos anos, em função das tec- tem aumentado nas diversas lavou-
aumentando suas populações. nologias. No entanto, a agricultura ras do Brasil, sendo considerado por
tropical é desafiadora e o uso inade- muitos produtores como uma fun-
Desafios quado de alguns inseticidas químicos ção de “equilíbrio” nas populações,
ao produtor e biotecnologias levou a natureza a não levando à utilização de insetici-
Essa maior quantidade de insetos nos dar uma resposta. Pragas antes das “premium”.
é um grande desafio para o produ- tratadas como secundárias passaram
tor que busca o aumento em pro- a causar danos significativas às la- Exemplo da
dutividade-rentabilidade por área vouras (“pest shift”), além daquelas cigarrinha-do-milho
nos últimos anos. Além deste fator, que já demonstravam alto potencial Um exemplo nas últimas safras
a questão de sistemas produtivos destrutivo, passando pelo processo de avanço, com a integração das
“sustentáveis” tem sido colocada à de resistência, inviabilizando e au- “novas” ferramentas no manejo, é a
prova, desafiando a capacidade dos mentando ainda mais a necessidade cigarrinha-do-milho (Dalbulus mai-
produtores de se adaptarem a um de controle. dis Heteroptera: Cicadellidae). Praga
mercado cada vez mais exigente. Os
termos do tipo de agricultura se con-
Fotos Germison Tomquelski
Nitrogênio no cultivo
Diversos fatores interferem na receptividade do milho aos fertilizantes
nitrogenados; é preciso levá-los em conta no momento das aplicações
C
erca de dois terços do O nitrogênio tem função es- ao longo do dia favorece a fo-
nitrogênio absorvido trutural nas plantas, fazendo tossíntese e a baixa temperatu-
pelas plantas de mi- parte dos aminoácidos, clorofi- ra noturna reduz a respiração,
lho são enviados para la, ácidos nucleicos e estruturas contribuindo para o acúmulo de
os grãos, sendo necessários por energéticas, como a ATP. Dessa fotoassimilados que serão utili-
volta de 22 kg de N por tonelada maneira, plantas bem supridas zados no desenvolvimento e en-
de grão produzido. A absorção de nitrogênio têm maior capa- chimento dos grãos.
pode ser feita na forma de amô- cidade de produzir carboidratos
nio (NH3⁺) ou de nitrato (NO3-), durante a fotossíntese, acumu- Aumento linear
porém a maior quantidade de lando biomassa e contribuindo de produtividade
nitrogênio está disponibilizada com a manutenção dela até final Um trabalho conduzido por
na sua forma orgânica no solo, do ciclo. Marques (2024) mostrou que,
sendo necessário mineralizar o O milho é uma planta que mesmo em solos com alta ferti-
elemento ou ser feita a aplicação prefere maiores amplitudes tér- lidade, a aplicação de adubação
na forma mineral, através de fer- micas ao longo do seu desen- nitrogenada aumentou a produ-
tilizantes nitrogenados. volvimento. A alta temperatura tividade linearmente (Figura 1).
Divulgação
Figura 1 - variação da produtividade de grãos (PG) do Figura 2 - população de plantas por hectare e estimativa
milho em função das doses de N em cobertura. Fonte: de rendimento de híbridos de milho da empresa Agroceres
Marques, 2024 cultivados na sede do IFC Campus Rio do Sul (SC), safra
2022/23, com diferentes níveis de adubação nitrogenada.
Fonte: Gralick et al., 2023
Divulgação
nitrogênio na forma de amônia a
partir da aplicação do adubo ni-
trogenado. A umidade é necessá-
ria para que a planta consiga ab-
sorver esse elemento que estará
disponível no solo. Em condições
de seca e estresse a planta não
conseguirá absorver o nutriente
que poderá ser perdido, causan-
do prejuízos tanto pelo investi-
mento quanto pela redução da
produtividade.
Nitrogênio
em cobertura
Independentemente do hí- Entre os aspectos que devem ser considerados no momento de realizar a adubação nitrogenada
brido escolhido, a aplicação de estão a rotação de culturas e o sistema de cultivo, se plantio direto ou convencional
O
uso de plásticos não glicerol. Portanto, as matérias- O estudo desenvolvido pela
degradáveis é uma -primas básicas para produção de equipe da professora Valentina
das principais cau- plásticos biodegradáveis - celulo- Beghetto (bit.ly/3Shev45) utilizou
sas de poluição am- se, quitina e glicerol - são abun- a carboximetilcelulose (CMC) e um
biental no planeta, urgindo subs- dantes em nosso país, descorti- derivado da quitina, a quitosana
tituir os atuais materiais plásticos, nando uma enorme oportunidade (CS), para desenvolver formula-
derivados da petroquímica. Em comercial, lastreada em uma de- ções de filmes plásticos ecossus-
2023, o mercado global de em- manda global por maior susten- tentáveis, com adição de agentes
balagens sustentáveis alcançou tabilidade. plastificantes e reticulantes, ge-
US$ 51,2 bilhões. Os biopolímeros rando materiais adequados para
atuais, embora biodegradáveis, Desenvolvimento embalagens.
apresentam algumas restrições tecnológico A substância DMTMM, deriva-
para substituir os plásticos con- Investigadores da Universidade da de triazina orgânica, foi utiliza-
vencionais. Ca' Foscari (unive.it/pag/13526) da como agente reticulador para
desenvolveram uma embalagem o desenvolvimento da CMC. A
Oportunidade para biodegradável, sendo o primeiro presença de DMTMM melhorou
a agroindústria material ativo do mundo que con- o teor e a absorção de umidade,
O Brasil possui 10 Mha de flo- tém um composto antibacteriano a permeabilidade ao vapor de
restas cultivadas. Desde 2022, o incorporado à embalagem. Re- água, a solubilidade dos filmes em
Brasil é o maior produtor e expor- duzir o crescimento bacteriano e água, e a resistência ao óleo jun-
tador de celulose no mundo, com prolongar a vida útil dos produtos tamente com alta biodegradabili-
receita anual de R$ 250 bilhões. sem uso de aditivos nos alimen- dade. Todos os filmes preparados
Naquele ano, a produção de fibra tos, melhora a sustentabilidade e apresentaram baixa opacidade
de madeira do país atingiu 25 Mt, a segurança dos alimentos e das e altas transparências. O melhor
10,9% a mais do que em 2021. As embalagens. compromisso entre alta resistên-
exportações aumentaram 22%, cia à água, permeabilidade ao va-
atingindo 19,1 Mt. Portanto, dis- por e propriedades mecânicas foi
pomos de material celulósico em alcançado com 5% em peso de
abundância e temos potencial de DMTMM e 50% em peso de glice-
continuar a expansão da produção rol, proporcionando resistência à
nos anos vindouros, se o mercado tração e alongamento na ruptura.
assim exigir. Dispomos de Os testes de biodegradabilidade
De outra parte, o Brasil é pro- material celulósico mostraram degradação completa
dutor de biodiesel. Em 2023, esti- em abundância e de todos os filmes em, no máximo,
ma-se que 7,3 Mm3 de biodiesel temos potencial de três semanas.
tenham sido produzidos, o que continuar a expansão As matérias-primas e a tecno-
gera um volume superior a 0,75 da produção nos logia estão disponíveis no Brasil,
Mm3 de glicerol. A atual taxa de falta apenas o fator empreende-
mistura ao petrodiesel (14%) será
anos vindouros, se o dorismo para capturar a oportu-
incrementada nos próximos anos, mercado assim exigir nidade. C
Curtas e boas
TRIGO - o ano não foi bom para o He- EUA - colheita segue forte e adiantada, milho com perdas de mais de cinco milhões
misfério Norte, com perdas na Rússia e devendo ter safra de milho na faixa das de t, passando para a faixa das 46,5 milhões
na Ucrânia. Foi complicado também em 385 milhões de t e de soja na faixa das 125 de t, em função da cigarrinha. Tudo aponta
países como Alemanha e França, gran- milhões de t, com o setor temendo que a para que parte das áreas de milho irá para
des da União Europeia. Além de perdas guerra comercial entre EUA e China venha a soja nesta nova temporada, que começa
na Ásia. Assim, a oferta e a demanda a cair no colo do agro estadunidense, o que no meio de outubro. A maior parte da soja
mundiais também serão apertadas, pode deixar grandes os estoques internos. deve ser plantada nos meses de novembro
com menor volume de colheita do que CHINA - está em níveis recordes de e dezembro. Estima-se que o milho poderá
irá ser consumido e argumento positivo compras do agro brasileiro. Tudo isso po- perder até dois milhões de hectares e a soja
às cotações à frente. No Brasil, a safra derá crescer se a guerra comercial entre ganhar mais da metade desta área. C
gaúcha mostra sinais de que deve ser os chineses e os EUA ganhar mais corpo
muito melhor em qualidade do que foi no ano que vem. Vlamir Brandalizze
no ano passado, lembrando que teve ARGENTINA - safra regular neste ano, Brandalizze Consulting
queda de área. com a soja perto das 50 milhões de t e o Instagram: @brandalizzeconsulting
A
sojicultura brasileira é um ro e único, até então, campeão nacio- de grande sucesso, de um cenário que
dos pilares do agronegócio nal Cesb vindo da categoria irrigada, mostra que é possível atingir as altas
nacional, desempenhando com 123,88 sc/ha. produtividades de forma sustentável.
um papel estratégico tanto no merca- 6) Desde a safra 2011/2012, a mé- A integração de práticas ESG na
do interno quanto no externo. Nesse dia do Top10 melhores áreas é o dobro sojicultura brasileira, liderada por ini-
cenário, o Comitê Estratégico Soja Brasil da média Conab. ciativas do Cesb, estimula um círculo
(Cesb) tem sido um agente transforma- 7) Também se destaca o crescimen- virtuoso de aumento de produtividade,
dor, incentivando a adoção de práticas to exponencial de participantes no De- responsabilidade social e preservação
que maximizam a produtividade e pro- safio, desde a sua criação em 2008, que ambiental. O cenário global atual exige
movem a sustentabilidade. demonstra o grande interesse dos pro- que a produção agrícola seja, ao mes-
Desde sua criação na safra 2008/ dutores e consultores em participar do mo tempo, competitiva e sustentável.
2009, o Desafio Nacional de Máxima concurso e se desafiarem a melhorar a Nesse contexto, o Cesb tem a oportu-
Produtividade de Soja promovido pelo sua produtividade a cada safra. nidade de fortalecer, ainda mais, seu
Cesb tem progredido em números não 8) Ao longo das edições do Desa- papel como protagonista na sojicultura
apenas em suas dez primeiras posições fio, a diferença média entre a média nacional, promovendo uma produção
(Top10 Cesb), mas em todas as áreas produtiva Cesb e a média Conab é de, de soja que não apenas atenda às de-
auditadas no âmbito do concurso na- aproximadamente, 26 sc/ha. mandas de mercado, mas que também
cional. 9) No último ano, na safra 2023/ garanta um futuro mais próspero para
Quando observamos melhor a tabe- 2024, nove áreas do Top10 alcançaram o setor.
la anterior, destacamos alguns pontos produtividades superiores a 120 sc/ha. Ao fomentar práticas que equili-
de relevância que demonstram a evo- 10) Além disso, nessa safra, aproxi- bram o crescimento econômico com
lução de alguns produtores no cultivo madamente 50% das áreas auditadas a responsabilidade socioambiental, o
da soja: no Desafio estão com níveis produtivos Cesb contribui para que o Brasil man-
1) No ano de início do Desafio (safra acima de 90 sc/ha. tenha sua liderança no cenário mundial
2008/2009), a média brasileira dada pe- O principal objetivo do Desafio Cesb da produção de soja, pavimentando o
la Conab era de, aproximadamente, 44 é contribuir no incremento da produti- caminho para um agronegócio mais
sc/ha, tendo aumentado 10 sc/ha, na vidade média da soja. O que vem sen- sustentável e produtivo. C