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Suporte Avançado
de Vida em Obstetrícia
ALSO – SUPORTE AVANÇADO DE VIDA EM OBSTETRÍCIA
Revisão
Maria Ofélia da Costa
Capa
Dinamika Comunicação e Design
Impressão e Acabamento
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Direitos Reservados
Parte integrante do Curso ALSO BRASIL. Nenhuma parte pode ser
duplicada, comercializada ou reproduzida sem expressa autorização de
ALSO BRASIL Cursos na Área de Saúde Ltda.
Edição
v
Prefácio – 9a Edição
vii
Copyright
O ALSO Brasil Cursos na Área de saúde Ltda. e a American Academy of Family Physi-
cians (AAFP) possuem os direitos autorais e a marca registrada de todos os materiais
do curso ALSO versão em português, incluindo o Manual do Profissional, conjuntos
de slides e exames escritos e práticos. O uso de partes dos materiais fora de um curso
ALSO versão em português autorizado é estritamente proibido sem a aprovação pré-
via por escrito do ALSO Brasil Cursos na Área de Saúde Ltda.
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ALSO, originalmente idealizado por James R. Damos, MD, foi desenvolvido sob
a liderança do Dr. Damos e John W. Beasley, MD. A AAFP adquiriu o Programa
ALSO em 1993.
A versão brasileira do curso teve início em 1999, sendo traduzido o manual em
2000. Os direitos de reprodução do curso em todo o território nacional são conferi-
dos pela AAFP exclusivamente ao ALSO Brasil, não podendo ser o curso ALSO ou
qualquer uma de suas modalidades (ALSO para profissionais de Saúde, ALSO para a
formação de Instrutores, GLOBALSO, BLSO, Qualidade e segurança na Assistência
Materno-Infantil) reproduzidos sem a prévia e oficial autorização pelo ALSO Brasil.
A liderança do curso no Brasil iniciou-se com Marcos Roberto Ymayo e Monique
Marie Marthé Bourget, médico obstetra e médica de família, respectivamente, que
trouxeram para o Brasil os conceitos e os direitos de realização do curso. Em 1999,
fundou-se o ALSO Brasil, com gerência nacional conferida à Mitsue Kuroki, obste-
triz, permanecendo sediado em São Paulo. A exclusividade do curso e a centralização
das atividades são exclusivamente coordenadas pelo ALSO Brasil, não podendo ser
repassadas para outros sítios ou instituições (norma em vigor desde 2015).
O currículo demonstra a evidência e sua qualidade, na qual quaisquer recomen-
dações de assistência são baseadas.
O atual Manual continua sendo um processo contínuo e é revisado a cada 3 anos.
ix
Suporte Avançado de Vida
em Obstetrícia (ALSO®)
Índice
Capítulo 1 Segurança na Assistência Obstétrica................................ 1
Capítulo 2 Vigilância Fetal Intraparto.............................................. 31
Capítulo 3 Trabalho de Parto Prematuro e Ruptura
Prematura de Membranas............................................... 68
Capítulo 4 Síndromes Hipertensivas da Gestação............................. 106
Capítulo 5 Hemorragia no Final da Gestação................................... 142
Capítulo 6 Distocia......................................................................... 165
Capítulo 7 Apresentações Anômalas e Gestação Múltipla................. 194
Capítulo 8 Distocia de Ombro........................................................ 236
Capítulo 9 Parto Vaginal Assistido.................................................... 264
Capítulo 10 Hemorragia Pós-Parto................................................... 286
Capítulo 11 Reanimação Materna e Trauma...................................... 318
Capítulo 12 Complicações Cardíacas da Gravidez.............................. 357
Capítulo 13 Tromboembolismo Venoso na Gravidez.......................... 394
Capítulo 14 Sepse Materna................................................................. 429
Capítulo 15 Lacerações Perineais de Terceiro e Quarto Graus............ 467
Capítulo 16 Ultrassom Diagnóstico no Trabalho de Parto e Parto...... 484
Capítulo 17 Complicações do PrimeiroTrimestre da Gestação........... 509
Capítulo 18 Parto Cesáreo................................................................. 537
Capítulo 19 Crise no Nascimento..................................................... 591
xi
Editores
Lawrence Leeman, MD, MPH Jennifer Head
Editor médico ALSO Program Specialist, Continuing
Professional Development Division
Lee Dresang, MD
Jeffrey D. Quinlan, MD, FAAFP Elaine Kierl Gangel
Susanna R. Magee, MD, MPH Managing Editor, Journal Media Division
Editores médicos associados Brandon Nelson
Associate Editor, Journal Media Division
Staff da AAFP
Sarah Meyers, MHA Stacey Herrmann
CME Maternity Care Manager, Continuing Production Design Manager, Journal Media
Professional Development Division Division
Autores
Janice M. Anderson, MD, FAAFP Mark Deutchman, MD, FAAFP
Hemorragia Pós-Parto Ultrassom diagnóstico no trabalho de parto e
parto, Complicações do primeiro trimestre
R. Eugene Bailey, MD, FAAFP
Vigilância Fetal Intraparto Lee Dresang, MD
Segurança na assistência obstétrica,
Melissa Beagle, MD
Tromboembolismo venoso na gestação
Complicações do primeiro trimestre
Ann E. Evensen, MD, FAAFP
Rebecca L. Benko, MD, FAAFP
Hemorragia pós-parto
Trabalho de parto prematuro e ruptura
prematura de membranas Robert W. Gobbo, MD, FAAFP
Distocia de ombro
Timothy Canavan, MD, MSc
Lacerações perineais de terceiro e quarto Jessica T. Goldstein, MD, FAAFP
graus Complicações cardíacas na gestação
Brendon Cullinan, MD Gretchen Heinrichs, MD, OB/GYN
Reanimação materna e trauma Hemorragia do final da gestação
xiii
Kim Hinshaw, MBBS, FRCOG Stephen Ratcliffe, MD, MSPH
Distocia de ombro Distocia
xiv
Edição ALSO BRASIL
A atual edição ALSO 2022 é a tradução e adaptação do ALSO 9a edição, mais recente,
sendo incluídos capítulos atualizados em 2017, 2018, 2019 e 2020. Também foram
realizadas adaptações para a língua portuguesa e para a assistência materna em vigor
no Brasil e nos países de língua portuguesa. O Curso ALSO BRASIL é mantido e
desenvolvido pelo ALSO BRASIL Cursos na Área de Saúde Ltda. A Edição 2022
foi realizada com a coordenação do ALSO BRASIL e a participação voluntária dos
Instrutores e Professores abaixo listados, que cederam os direitos autorais ao ALSO
BRASIL Cursos na Área de Saúde Ltda. Também participaram colaboradores volun-
tários não instrutores do ALSO BRASIL. A qualidade desta edição deve-se ao empe-
nho e à competência de todos.
xv
Maria Aparecida Chiea Mitsue Kuroki
Médica Ginecologista e Obstetra, Professora Obstetriz, Diretora Executiva e Professora do
do ALSO Brasil. ALSO Brasil.
Maria Aparecida dos Santos Traverzim Pablo de Queiroz Santos
Médica Ginecologista e Obstetra, Doutora em Médico Ginecologista e Obstetra, Professor
Ciências da Saúde, Conselheira Científica e do ALSO Brasil.
Professora do ALSO Brasil.
Rodrigo Cerqueira de Souza
Maria Lúcia Mendonça Escorcio Ymayo Médico Ginecologista e Obstetra, Mestre
Mestre em Sociologia e Saúde Pública, em Ginecologia, Conselheiro Científico e
Consultora Técnica do ALSO Brasil Professor do ALSO Brasil.
Milber Fernandes Guedes Junior Tania Luisa Navega Abreu
Médico Ginecologista e Obstetra, Mestre Médica Ginecologista e Obstetra,
em Obstetrícia, Conselheiro Científico e Colaboradora do ALSO Brasil.
Professor do ALSO Brasil.
xvi
Segurança na
Assistência Obstétrica
OBJETIVOS
Introdução
Em 15 de janeiro de 2009, o voo 1549 da US Airways perdeu o impulso em
ambos os motores. O avião pousou no rio Hudson, perto de Nova York, e todas
as 155 pessoas a bordo sobreviveram. O time de trabalho (composto pelos pi-
lotos, membros da tripulação, passageiros, equipe de terra e equipes de socorro)
e a forma de comunicação foram apontados como fatores fundamentais para o
excelente desfecho. O treinamento antes do voo e as simulações prepararam os
tripulantes da companhia aérea em seus papéis quando o acidente ocorreu. A
comunicação foi eficaz entre pilotos, membros da tripulação, passageiros, con-
trole de terra e socorristas. Todos contribuíram para o desfecho bem-sucedido.
A probabilidade de perder a vida em um acidente aéreo diminuiu para
apenas 1 em 4,7 milhões de voos.1 Muito desse sucesso foi atribuído ao pro-
grama Gerenciamento de Recursos de Tripulação (CRM), que se concentra na
segurança, protocolos, excelente comunicação, listas de verificação e outras fer-
ramentas.1 Um workshop de 1979 da National Aeronautics and Space Administration
introduziu o CRM à aviação em resposta ao acidente de 1978 de um DC-8 da
United Airlines na cidade de Portland, em que o piloto foi incapaz de manter
a percepção dos principais fatores críticos do voo sob condições estressantes.2
Estratégias bem-sucedidas de segurança aérea, tais como CRM, podem
ser aplicadas ao atendimento médico. O objetivo de salvar vidas e melhorar os
resultados por meio do trabalho em equipe, comunicação e melhoria do sis-
tema é referido como segurança do paciente. O Instituto de Medicina define
a segurança como “a prevenção de danos às pacientes”3.
1
O ALSO e a Segurança das Pacientes
A missão do Advanced Life Support in Obstetrics (ALSO) está fortemente voltada para a
segurança das mulheres. Desde sua criação em 1991, os cursos ALSO promoveram o
trabalho em equipe interdisciplinar e reuniram profissionais de cuidados maternos nos
EUA e em mais de 60 outros países, incluindo o Brasil, cujo programa teve início em
1999. Os cursos idealmente incluem participantes de diferentes disciplinas e ambientes,
o que pode proporcionar uma abordagem mais realista para o treinamento baseado em
times de trabalho. Médicos (medicina familiar, obstetrícia/ginecologia e medicina de
emergência, ou outras especialidades), obstetrizes, enfermeiras, residentes e estudantes
participam dos cursos. Profissionais de programas rurais e urbanos e programas acadêmi-
cos e comunitários podem aprender com as experiências e perspectivas uns dos outros.
O Curso ALSO acrescentou ao seu currículo, em 2002, o capítulo Segurança na
Assistência Obstétrica destacando a importância de tratar assuntos de trabalho em
equipe e sistemas na prestação de serviços médicos de qualidade. Em 2017 foi imple-
mentado o modelo de sala de aula invertido com eliminação da maioria das palestras
presenciais, exceto Segurança na Assistência Obstétrica. Mesmo antes da transição, os
cursos começavam com Segurança Obstétrica para enfatizar a importância do time de
trabalho, comunicação e operacionalidade dos serviços.
O ALSO promove a segurança, ensinando a padronização da abordagem a situ-
ações de emergência obstétrica. A padronização é elemento-chave para a segurança
da paciente, reduzindo a possibilidade de variabilidade na prática e a duplicação do
tempo e dos recursos, além de proporcionar credibilidade aos processos de cuidados
ao cliente. O conhecimento do conteúdo, a prática de habilidades manuais e o uso de
mnemônicos reduzem a possibilidade de erro, bem como a incidência de morbidade
e mortalidade materna e fetal.
2 ALSO
Entretanto, como será discutido mais adiante neste capítulo, a mortalidade mater-
na aumentou nos Estados Unidos, apesar de ter diminuído na maioria dos países desde
1990.6 Uma exceção é a Califórnia, onde a mortalidade materna diminuiu durante
esse período. O sucesso da Califórnia é frequentemente atribuído a seus bundles de
segurança dos pacientes, que estão sendo implementados em todo o país com a espe-
rança de alcançar resultados similares.6,7
Segundo a The Joint Commission, entre 2004 e 2014, a comunicação foi a causa-
-raiz em 48% dos eventos sentinela maternos e 70% dos eventos sentinela perinatais.8
Uma causa-raiz é a justificativa fundamental para a ocorrência de um evento adverso
e um aspecto em que uma intervenção poderia ter evitado o resultado adverso. A
tecnologia e o conhecimento médico continuam a avançar, mas as mulheres e os be-
bês continuam a morrer ou a experimentar os efeitos adversos. Quando isso ocorre,
a má comunicação é frequentemente a causa principal. Se a comunicação e as ações
dos profissionais da atenção obstétrica puderem ser melhoradas, vidas poderão ser
salvas. As habilidades de comunicação e o trabalho em equipe são ensinadas no início
do curso ALSO presencial e praticadas nas estações de trabalho pertinentes, onde os
profissionais de saúde abordam as emergências obstétricas como equipes coesas em
ambiente semelhante ao do atendimento real in situ.
Mesmo profissionais de saúde altamente treinados e dedicados cometem erros.
Felizmente, a maioria dos erros não resulta em danos, e erros fatais são relativamente
raros.9 No entanto, estima-se que 44.000 a 98.000 americanos morrem a cada ano
devido a erros médicos evitáveis.10,11 Estudo de 2013 mostrou que esse número se si-
tua entre 210.000 e 400.000, com erros não letais sendo 10 a 20 vezes mais comuns.12
Isso significa que os erros médicos evitáveis são a terceira principal causa de morte
nos Estados Unidos, depois das doenças cardíacas e do câncer.13 Sete por cento dos
pacientes hospitalares são vítimas de erros médicos graves; mais norte-americanos
morrem a cada ano devido a erros médicos do que devido ao câncer de mama, AIDS
ou colisões de veículos.11 O custo associado aos erros médicos é estimado em US$ 17
bilhões a US$ 29 bilhões anualmente.11
“Não podemos mudar a condição humana, mas podemos mudar as condições sob as quais
os seres humanos trabalham”.14
A avaliação dos fatores humanos tornou-se um processo central na revisão dos
erros evitáveis. Segundo a Comissão Conjunta, as falhas humanas causam 80 a 90%
dos erros.15 A capacidade de reconhecer as conexões integrais que os procedimentos,
a tecnologia e os seres humanos formam dentro dos cuidados de saúde é essencial na
redução dos erros evitáveis. Um componente dessa estratégia é o uso de simulação e
treinamento baseado em equipe.
O treinamento em equipe tem sido uma exigência da The Joint Commission desde
que as Metas Norte-Americanas de Segurança do Paciente se tornaram efetivas em
2003; estas metas exigem que os hospitais “incorporem métodos de treinamento em
4 ALSO
de trabalho em equipe, mostrou que os indivíduos que passaram por treinamento
padronizado de trabalho em equipe em conjunto com o curso demonstraram melhor
comportamento dos times de trabalho ao final do curso.23
No entanto, o treinamento padronizado do time pode não ser suficiente. “O me-
lhor treinamento em equipe do mundo não produzirá os resultados desejados, a me-
nos que a organização esteja alinhada para apoiá-lo”. A próxima fronteira está em
tornar o trabalho em equipe eficaz, como visto em equipes de alto desempenho, um
elemento essencial em organizações de alta confiabilidade”24.
6 ALSO
Consciência Situacional
Em uma emergência, é fácil se fixar em uma tarefa específica e perder de vista a si-
tuação geral. Por exemplo, um profissional pode se fixar em desacelerações do ritmo
cardíaco fetal e ignorar níveis elevados de pressão arterial materna, cefaleia e hiper-
-reflexia antes de uma convulsão eclâmptica. Outro profissional pode concentrar-se
em inibir as contrações uterinas prematuras, mas perder sinais e sintomas de um des-
colamento de placenta, piorando as condições clínicas com o uso de tocolíticos. Um
profissional pode concentrar-se na difícil dinâmica familiar e não conseguir preparar
o time para conduzir uma distocia do ombro, apesar da estimativa de peso fetal e do
segundo período prolongado do trabalho de parto.
Os membros do time podem ajudar uns aos outros a permanecerem conscientes
sobre questões ativas e potenciais complicações através do monitoramento cruzado.
Reuniões iniciais de análise do caso, seguidas de reuniões de reavaliação quando sur-
gem novas questões, podem garantir que todos os membros do time tenham a mesma
compreensão da situação. O monitoramento situacional é uma ferramenta importante
para a segurança da paciente que facilita a conscientização situacional.
O acrônimo STEP (situação da paciente, membros do time, ambiente envolvido,
progresso em direção ao objetivo) pode ser usado para lembrar componentes impor-
tantes do monitoramento situacional.
Linguagem Padronizada
Comunicação em circuito fechado significa que o indivíduo que recebe uma men-
sagem confirma ou repete o que ouviu do indivíduo que enviou a mensagem, para
que ele possa afirmar que a mensagem está correta ou oferecer uma correção. Esse é
um processo de três etapas que garante clareza e responsabilidade. A comunicação em
circuito fechado também permite um modelo mental claro e compartilhado do plano
de atendimento e a garantia de que alguém está tratando do solicitado.
Por exemplo, um médico pode solicitar 10 unidades de oxitocina por via in-
tramuscular após a saída do ombro anterior. A enfermeira repetiria que o médico
solicitou 10 unidades de oxitocina por via intramuscular após a liberação do ombro
anterior como confirmação de que a mensagem foi entendida. O médico então fe-
cha o circuito, confirmando que, sim, foi isto que eles solicitaram. Sem comunicação
em circuito fechado, as mensagens podem ser perdidas ou mal interpretadas. Neste
exemplo, a oxitocina pode não ter sido administrada ou uma dose incorreta pode ter
sido administrada.
8 ALSO
Modelo Mental Compartilhado
A consciência situacional, a linguagem padronizada e a comunicação em circuito fe-
chado favorecem que todos tenham um modelo mental compartilhado. Sem um mo-
delo mental compartilhado, o trabalho em equipe e a segurança da paciente podem
ser comprometidos. Por exemplo, o mnemônico ALEERTA para distocia de ombro,
ministrado no curso ALSO pode criar um modelo mental compartilhado, em que
enfermeiros e médicos trabalham juntos por meio da manobra McRoberts, pressão
suprapúbica e outras intervenções para evitar lesões ou mortalidade fetal.
O ALEERTA é um acrônimo para chamar Ajuda, Levantar a perna, pressão Ex-
terna, avaliar Episiotomia, Remover o braço posterior, manobras de Toque e Alterar
a posição da paciente.
Respeito Mútuo
A capacidade de se comunicar clara e efetivamente é um elemento essencial do tra-
balho em equipe. As circunstâncias podem exigir estratégias de cuidado mais severas
para garantir os melhores resultados para a mulher, o bebê e o time de atendimento. A
capacidade de declarar uma preocupação, oferecer uma solução e acordar os próximos
passos no plano de cuidados é um componente crítico da segurança da paciente. Uma
atitude arrogante, rude, intimidante e perturbadora por parte de membros do time de
trabalho prejudica a segurança da paciente e não deve ser tolerado.35
O Princípio dos Dois Desafios e o lema CUS são duas estratégias de comunicação
destinadas a dar voz a todos os membros do time.
O princípio dos dois desafios. O Princípio dos Dois Desafios36 permite que um
membro do time articule claramente uma preocupação com relação a uma falha de
segurança percebida ou real da paciente. O primeiro desafio é feito sob a forma de
uma pergunta. O segundo desafio é feito na forma de uma afirmação e pode ser feito
pelo mesmo profissional clínico ou por outro membro do time de atendimento. O
segundo desafio é focado na defesa das necessidades da mulher.
Por exemplo, um residente experiente pode estar se preparando para realizar ex-
tração manual de uma placenta em mulher sem analgesia epidural. Um estudante de
medicina que acompanha a paciente pode dizer: “Não acho que a paciente tenha
anestesia adequada”. Se o residente continuar, uma segunda afirmação do estudante
de medicina a respeito da necessidade de melhor controle da dor deve sinalizar ao
residente mais velho e à equipe de atendimento para suspender o procedimento e
administrar anestesia adicional ou explicar ao estudante por que a anestesia adicional
não é indicada ou viável.
Lema CUS (em inglês, concerned, unconfortable, safety). O Lema CUS é uma
estratégia de comunicação, onde cada indivíduo em uma unidade de atendimento é
10 ALSO
A discussão pode naturalmente derivar em direção ao gerenciamento da assistên-
cia. Os líderes dos times podem orientar a discussão de volta ao trabalho e às questões
do serviço. Os debriefings podem permitir que o time realize melhorias no processo.
O debriefing pode incluir a análise da causa raiz após um evento sentinela. De-
claração de 2015 da The Joint Commission define um evento sentinela como “um
evento de segurança da paciente (não relacionado com o curso natural da doença
da paciente ou condição subjacente) que atinge uma paciente e resulta em qual-
quer um dos seguintes: morte, danos permanentes, danos temporários graves”. Em
obstetrícia, o dano temporário grave é definido como receber 4 ou mais unidades
de concentrado de hemácias e/ou admissão em uma unidade de terapia intensiva.37
Cansaço
O cansaço pode afetar a segurança da paciente, incluindo memória, velocidade e hu-
mor.39 A fadiga do profissional tem sido citada como a causa principal de lesões ma-
ternas e neonatais.8 Com testes padronizados, adultos com menos de 5 horas de sono
por noite têm dificuldade com memória de curto prazo, retenção e concentração.39
Dados da Administração Ferroviária Federal dos Estados Unidos indicam que o cansa-
ço causa aproximadamente 29% dos acidentes de trem.40 A regulação das horas de tra-
balho dos residentes é uma tentativa de evitar erros médicos relacionados ao cansaço.
Os profissionais podem garantir sua aptidão para o trabalho revendo a lista de
verificação I’M SAFE (Doença, Medicação, Estresse, Álcool e Drogas, Fadiga, Alimen-
tação e Necessidades Fisiológicas).28
Erros de Medicação
Em média, os pacientes americanos experimentam um erro de medicação por paciente
por dia de internação.42 Alguns podem resultar em óbitos. Em 2006, uma jovem sau-
dável, de 16 anos, que estava em trabalho de parto ativo, foi internada em um hospital
na cidade de Madison,Wisconsin.43 Ela testou positivo para estreptococo do grupo B e
solicitou analgesia epidural. O anestesista colocou a bolsa de infusão epidural no balcão
e deixou a sala. Uma enfermeira entrou na sala e instalou na veia da paciente a bolsa de
infusão anestésica, pensando que continha penicilina.Apesar dos esforços para ressuscitá-
-la, a jovem morreu. Sua criança sobreviveu após uma histerotomia de reanimação.
Os prontuários eletrônicos (EMRs) são úteis para reduzir erros devido à má legi-
bilidade e podem identificar alergias a drogas e interações medicamentosas. A prescri-
ção equivocada pode ser reduzida evitando abreviações não padronizadas e usando a
regra “sempre liderar, nunca seguir” de colocar um zero antes de números inferiores
a um e não colocar um zero após um ponto decimal.42 Os alertas no prontuário
eletrônico podem evitar erros como interações medicamentosas não reconhecidas.
Entretanto, demasiados alertas podem levar à dessensibilização: 49 a 96% dos alertas
são anulados.44
Erros de medicação são comuns em casos de transferência da assistência. Esses
erros podem ser reduzidos por meio de uma reconciliação sistemática e cuidadosa dos
medicamentos na admissão, transferência e alta.
Distração pode levar a erros. Zonas livres de ruídos e de distrações podem ser
instituídas nos serviços com a finalidade de servirem para o preparo e administração
de medicações.
Como em outros aspectos da segurança da paciente, os problemas de comunica-
ção muitas vezes estão na raiz dos erros. O uso de comunicação em circuito fechado
pode salvar vidas.
12 ALSO
facilitar a comunicação entre os profissionais, rastrear e relatar dados, fornecer material
de leitura do ponto de assistência, promover a adesão às diretrizes práticas e aumentar
o envolvimento da paciente.45 O uso do prontuário eletrônico pode melhorar a assis-
tência ao alertar os profissionais da atenção primária sobre condições como sindromes
hipertensivas da gravidez e diabetes gestacional, que colocam a mulher em maior risco
de hipertensão e diabetes, respectivamente.
Para que os dados sejam úteis, eles devem ser interpretados e tratados de forma
apropriada. O uso de TI em saúde tem riscos, incluindo o possível comprometimento
da privacidade da paciente, bem como o uso de modelos de documentação que po-
dem introduzir e duplicar informações que são imprecisas ou não revistas.
Bases de dados maiores podem produzir pesquisas e recomendações mais pode-
rosas. Duas organizações que promovem a segurança na maternidade usando TI são a
California Maternal Quality Care Collaborative (CMQCC) (https://www.cmqcc.org) e
o Family Medicine Education Consortium (FMEC) IMPLICIT: Interventions to Minimize
Preterm and Low birth weight Infants through Continuous Improvement Techniques network
(https://fmec.memberclicks.net/implicit).
Nascimento em Casa
Um exemplo onde são necessárias intervenções nos serviços para melhorar a segu-
rança da paciente é o parto na comunidade, incluindo partos em casa e em centros
de parto independentes. Revisão da Cochrane de 2012 mostrou que não há fortes
evidências de estudos randomizados para favorecer o nascimento planejado em hos-
pital ou o nascimento planejado em casa para grávidas de baixo risco; entretanto, esse
observa que estudos sugerem cada vez mais que, em países onde é integrado ao sis-
tema de saúde, o nascimento em casa para mulheres de baixo risco resulta em menos
intervenções e complicações.52 A falta de clareza dos papéis e a má comunicação são
os maiores preditores de resultados maternos e neonatais evitáveis, incluindo a morte.
Coordenação perfeita dos cuidados e da comunicação interprofissional resulta em
melhores resultados maternos e infantis.53
14 ALSO
Mortalidade Materna
Como mencionado anteriormente, embora a mortalidade materna tenha diminu-
ído na maioria dos países desde que os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
das Nações Unidas de 1990 foram emitidos, a mortalidade materna nos Estados
Unidos aumentou.56 De 1990 a 2015, a razão de morte materna (MMR) mundial
diminuiu de 385 para 216 por 100.000 nascidos vivos. Nos países com menos
recursos, a razão diminuiu de 903 para 436.54 Em contraste, entre 2000 e 2014, a
MMR dos EUA para 48 estados (excluindo Califórnia e Texas) e Washington, DC,
aumentou de 18,8 para 23,8.6
As razões para o aumento são complexas e incluem muitos fatores, um dos quais
é aperfeiçoamento nas estratégias para a elaboração de relatórios. Em 2003, uma per-
gunta sobre gravidez foi acrescentada ao certificado de óbito padrão dos EUA. Os es-
tados americanos adotaram gradualmente o certificado revisado e até 2014, 44 estados
e Washington, DC, estavam usando.6 Essa pergunta verifica se a mortalidade materna
ocorreu em 42 dias após o parto, o que é consistente com a definição de mortalidade
materna da Organização Mundial da Saúde; muitos estados não relataram anterior-
mente mortes após o parto.6
O aumento da MMR nos EUA não se deve apenas ao aumento de relatórios, pois
alguns estados tiveram aumentos na MMR durante períodos em que não foram feitas
mudanças nos sistemas de notificação. Acesso, pobreza, imigração, parto cesáreo, obesi-
dade, diabetes, idade materna avançada, uso de drogas, condições cardíacas e disparidades
raciais são outras possíveis causas do aumento da MMR nos EUA.55-57 A diminuição
de recursos financeiros na saúde da mulher também tem sido associada ao aumento da
mortalidade materna em certos estados, incluindo Indiana, Alabama, Arkansas, Arizona,
Flórida, Louisiana, Kansas, Missouri, Oklahoma, Texas e Wisconsin.58
Apesar do aumento da MMR americana, a taxa da Califórnia diminuiu de 21,5
para 15,1 de 2003 para 2014.6 Alguns atribuíram a melhoria dos resultados na Cali-
fórnia às mudanças nos sistemas introduzidas pelos bundles (pacotes) de segurança das
pacientes CMQCC.7 Estudo de 2017 de 99 hospitais (256.541 nascimentos anuais)
mostrou que o uso de um bundle de hemorragia pós-parto (HPP) resultou em di-
minuição de 20,8% na morbidade materna grave em comparação com 48 hospitais
(81.089 nascimentos anuais), com redução de 1,2% (p < 0,0001).59 Hospitais com
um protocolo de HPP anterior tiveram redução maior na morbidade materna grave
(17,5% contra 11,7%).59
16 ALSO
O custo do seguro por negligência pode afetar a capacidade de prestar serviços
à maternidade e a satisfação dos médicos que pagam caro pelos seguros. Estudo com
obstetras e ginecologistas praticantes em Michigan, com 365 entrevistados, mostrou
que pagar mais de US$ 50.000 por ano pelo seguro de responsabilidade civil estava
associado à menor satisfação na carreira (risco relativo = 0,35; intervalo de confiança
de 95% = 0,13 a 0,93) em comparação com a cobertura de seguro fornecida por um
empregador.64
A gravidez é única do ponto de vista jurídico de diversas maneiras: 1. dois pacien-
tes estão envolvidos: a mulher e seu bebê; 2. a mulher geralmente é saudável quando
procura assistência; e 3. ela e sua família frequentemente têm expectativas de um bebê
perfeito e de uma boa experiência de nascimento.
Paciente infeliz geralmente é o gatilho para uma ação judicial.65 Isso pode refletir
os sentimentos de desapontamento da paciente ou de sua família com o resultado, o
tipo ou custo dos cuidados que ela recebeu, ou o custo de cuidar de uma criança com
uma deficiência.
O litígio por má prática tem custo significativo para todos os indivíduos envolvi-
dos. As ações judiciais geralmente levam muitos anos para serem resolvidas. Há custos
não contados, incluindo a diminuição do número de profissionais em exercício. Prá-
ticas médicas defensivas, tempo perdido em atividades litigiosas, maior cuidado com
as pacientes e tumulto emocional são resultados caros de litígio. A perda do acesso à
maternidade também é exacerbada, especialmente nas áreas rurais.66
O litígio por má prática é comum. Setenta e três por cento dos entrevistados de
uma pesquisa de 2015 com profissionais do Colégio Americano de Obstetras e Gine-
cologistas indicaram que foram processados com uma média de 2,59 reclamações por
obstetra.67 Os custos de litígio e prêmios continuam a aumentar nos Estados Unidos
e no Canadá. A probabilidade de uma ação judicial parece estar diretamente relacio-
nada com o número de partos que um profissional realiza e não com a qualidade ou
especialidade. Os médicos de família não estão isentos. É mito que as pessoas de baixa
renda processam com mais frequência.68
As alegações primárias mais comuns de reclamações obstétricas são um bebê neu-
rologicamente deficiente (27,4%) e natimorto ou morte neonatal (15%).67 Entre as
reclamações neurologicamente deficientes, o parto foi por cesárea (55,2%), parto por
via vaginal (40,5%) e parto por via vaginal após cesárea (LAC) (2,0%).67 Outros fato-
res associados a processos judiciais incluem monitoramento fetal eletrônico (22,1%),
distocia de ombro/lesão do plexo braquial (14,2%), ações de residentes (10,6%) e falta
de comunicação entre os profissionais de saúde (10,5%).67
O gerenciamento de risco é uma estratégia que tenta prevenir ou minimizar as
lesões da paciente, diminui a probabilidade de litígio por negligência médica quando
uma lesão ocorre e tenta reduzir o valor da indenização em uma reclamação bem-
Compaixão. Toda ação judicial começa com uma paciente insatisfeita. Essa insatis-
fação muitas vezes começa antes do evento que leva à ação judicial. Para a paciente,
é mais difícil processar alguém de quem ela gosta e quem ela acha que se impor-
ta com ela. Perguntas abertas que podem melhorar a empatia incluem “Diga-me
mais”, “Como você se sentiu?”, “Mais alguma coisa?”, e “Que preocupações você
tem?”71
Comunicação. Passar mais tempo com as pacientes pode resultar em menos ações
judiciais. As pacientes não querem se sentir pressionadas. As pacientes que recebem
explicações adequadas sobre suas condições e resultados de exames estão mais satis-
feitas. As pacientes não querem sentir que um profissional ignorou suas preocupações.
O simples ato de sentar em vez de ficar em pé quando se conversa com as pacien-
tes melhora a percepção das mesmas sobre as habilidades de comunicação do prove-
dor.72 Quando os profissionais se sentam em vez de ficar em pé, as pacientes relatam
que mais tempo foi gasto à cabeceira do leito, maior satisfação e melhor compreensão
de sua própria condição de saúde.73
18 ALSO
A comunicação implica estar disponível para a paciente e para o time. Mulher em
trabalho de parto tem essencialmente prioridade sobre qualquer outra paciente.
O consentimento informado é ferramenta importante para ajudar as mulheres e
as famílias a compreender e compartilhar algumas das incertezas e riscos inerentes à
gravidez. O consentimento livre e esclarecido é por natureza insuficiente: “depende
de existir uma compreensão compartilhada da linguagem utilizada para descrever os
riscos e os benefícios das opções apropriadas disponíveis”.74 A comunicação em cir-
cuito fechado e a combinação de descrição verbal, dados numéricos e representação
gráfica podem facilitar a compreensão coletiva dos riscos e benefícios.
As estratégias para facilitar a comunicação incluem:75
Falar devagar e usar uma linguagem simples e não médica.
Limitar a quantidade de informações fornecidas e repetir as informações.
Usar técnicas de feedback ou show-me (pedindo à paciente para repetir as ins-
truções dadas) para confirmar que a paciente entende o que foi explicado.
Estimular as pacientes a fazerem perguntas.
Fornecer materiais escritos para reforçar as explicações orais.
Competência. O médico deve conhecer sua habilidade em cada situação. Hones-
tidade e garantia de que as intervenções sejam solidamente indicadas são caracte-
rísticas-chave de competência. O profissional deve possuir habilidade, treinamento,
experiência e capacidade de oferecer condições de conforto para prestar assistência
adequada. Recomenda-se encaminhar e documentar adequadamente quando esses
critérios não forem atendidos.
Caracterizar. Muitas ações judiciais são ajuizadas contra profissionais de maternidade
e perdidas devido a registros médicos inadequados.76 O registro médico serve como
a principal testemunha quando uma ação judicial é ajuizada. Uma ação geralmente
é litigada anos após o processo ser iniciado e as memórias se apagam. Os registros
devem ser datados, cronometrados, completos, contemporâneos, precisos e objetivos.
Os erros de registro devem ser tratados, corrigidos e explicados; eles nunca devem ser
ignorados ou encobertos. Mesmo um parto por via vaginal sem complicações deve ter
um registro completo e legível. Os relatórios ditados devem ser lidos, corrigidos e as-
sinados. Evite termos exagerados, incorretos e vagos, tais como angústia fetal e asfixia.
Em estudo com 54% dos processos por má prática envolvendo distocia de ombro,
o fator que influenciou as indenizações foi a falta de documentação clara dos eventos
que envolveram o tratamento da distocia.76 Os danos foram concedidos em apenas
25% dos processos por causa do desvio do padrão de atendimento.76
Confissão. No passado, a discussão de erros com a paciente era ativamente desencoraja-
da. Entretanto, muitos estudos confirmam que uma das razões mais comuns para entrar
Simulações
As simulações podem ser realizadas nas estações do ALSO ou in situ nos serviços. As
simulações in situ replicam os problemas dos serviços, que podem não se apresentar
em um local externo.19
As simulações podem ser usadas para praticar os conceitos de comunicação e time
de trabalho ensinados neste capítulo no contexto do gerenciamento de emergências
obstétricas. As simulações podem ser executadas com igual eficácia usando pacientes
voluntárias ou manequins. O curso ALSO integra simulações nas estações de reani-
mação materna e demais cenários.
As simulações permitem que times de trabalho multidisciplinares pratiquem a
condução de emergências obstétricas, já que não há risco para a paciente. Em um es-
tudo, simulações in situ envolvendo todo o pessoal e profissionais que foram realizadas
2 a 3 vezes por ano em um hospital levaram à redução significativa e persistente de
37% na morbidade perinatal em comparação com hospitais com treinamento didático
apenas ou sem treinamento.21 Com as simulações, os times de trabalho têm um briefing
(sessão de balanço inicial) para discutir papéis antes de controlar um trabalho de parto.
O time então assume a condução de uma emergência. Finalmente, o time faz o balan-
ço, concentrando-se no que correu bem e por que, o que não correu bem e por que
e o que pode ser feito para tornar as coisas melhores no futuro. A gravação em vídeo
de toda a simulação pode fornecer uma ferramenta poderosa para uso nas sessões de
debriefing (sessões de balanço final). Os profissionais podem ver a si mesmos e a outros
de forma bem diferente ao rever a condução das gravações de vídeo. As simulações in
situ permitem identificar e corrigir os erros latentes do serviço antes que se tornem
erros ativos, levando a danos à paciente.
20 ALSO
Segurança da Paciente em Locais com Poucos Recursos
Resumo
Mulheres e/ou seus bebês morrem ou sofrem lesões permanentes por causa de erros
evitáveis. O uso rotineiro de briefings, huddles e debriefings pode ajudar a evitar erros de
comunicação, que são responsáveis por mais de 70% dos erros médicos. As ferramen-
tas para o time de trabalho incluem consciência situacional, linguagem padronizada,
comunicação em circuito fechado e desenvolvimento de modelos mentais compar-
tilhados. Ferramentas como o Princípio dos Dois Desafios e o Lema CUS capacitam
todos os indivíduos envolvidos no atendimento à paciente a fazer o melhor possível.
O ALSO ajuda os membros do time de trabalho a abordar a situação de forma se-
melhante quando surgem emergências. Seguir os Cinco Cs pode reduzir o risco de
litígio por má prática por meio de melhor atendimento à paciente.
Agradecimentos
Este capítulo é uma modificação da versão anterior da Safety in Maternity Care escrita por
Lee T. Dresang, MD, Stan Davis, MD, Kristi K. Miller, MS, RN, e Lesley Atwood, MD.
Considerações de enfermagem:
segurança na assistência obstétrica
Defender e ouvir a paciente, lembrando aos outros que ela é parte do time
Identificar estratégias que você pode usar para a resolução de conflitos
Implementar em sua instituição briefings, huddles, debriefings, treinamento dos times,
exercícios in situ e cursos ALSO
Esteja atento ao processo de sua instituição para o debriefing após near misses,
morbidade materna/neonatal grave, mortalidade materna/neonatal (análise da
causa-raiz) e recursos de gerenciamento de risco
Utilizar ferramentas de trabalho em equipe para melhorar a segurança: princípio dos dois
desafios, lema CUS, chamada, SBAR, handoff, comunicação em circuito fechado, os Cinco Cs
Assistência Obstétrica
Segurança na
RESPOSTA IMEDIATA/PRONTIDÃO
Todos os serviços de saúde
Estabelecer sistemas para documentar com precisão raça, etnia e linguagem
primária autoidentificadas.
• Fornecer educação e treinamento sobre como fazer perguntas referentes
ao aporte demográfico.
• Assegurar que as pacientes entendam porque dados sobre raça, etnia e
idioma estão sendo coletados.
• Assegurar que os dados de raça, etnia e idioma estejam acessíveis no
prontuário médico eletrônico.
• Avaliar a proficiência no idioma (por exemplo, proficiência em espanhol)
para profissionais que se comunicam com as pacientes em outros idiomas
que não o português.
• Educar todo o time (por exemplo, internado, ambulatorial, comunitário)
sobre os serviços de intérprete disponíveis dentro do sistema de saúde.
Assegurar a Educação do time de trabalho:
As disparidades raciais e étnicas do periparto e suas causas profundas.
As melhores práticas para a tomada de decisões compartilhadas.
Envolver pacientes, familiares e líderes comunitários que possam representar
importantes parcerias comunitárias nos times de liderança de qualidade e
segurança.
RECONHECIMENTO
Paciente, família e membros do time
Fornecer educação sobre o viés implícito.
Fornecer acesso conveniente aos registros de saúde sem demora (em papel
ou eletrônico), a custo mínimo ou gratuito para a paciente, em um formato
claro e simples que resuma as informações mais pertinentes aos cuidados
perinatais e ao bem-estar.
RESPOSTA
Todos os membros
Envolver-se nas melhores práticas para a tomada de decisões compartilhadas.
Assegurar uma resposta oportuna e personalizada a cada relatório de
iniquidade ou desrespeito.
Abordar o plano de vida reprodutiva e opções contraceptivas não apenas
durante ou imediatamente após a gravidez, mas em intervalos regulares ao
longo da vida reprodutiva da mulher.
(Continua)
22 ALSO
PATIENT
SAFETY
BUNDLE
Assistência Obstétrica
Segurança na
RESPOSTA (Continuação)
Todos os membros
Estabelecer sistemas de referência e coordenação de alta após o parto
para assegurar que as mulheres tenham acompanhamento adequado e
compreendam quando é necessário retornar ao seu profissional de saúde.
• Fornecer resumos de alta que incluam informações sobre sinais de alerta
a serem observados, a quem chamar e para onde ir se tiverem alguma
dúvida ou preocupação.
• Projetar materiais de alta que atendam as necessidades de saúde, idioma
e cultura das pacientes.
RELATÓRIOS E APRENDIZAGEM
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30 ALSO
Vigilância Fetal Intraparto
OBJETIVOS
Introdução
A monitorização fetal é essencial durante o processo de trabalho de parto e
parto. O uso da monitorização eletrônica fetal contínua (MFEC) continua
sendo a principal técnica utilizada durante o trabalho de parto e parto,1 mas a
ausculta fetal intermitente estruturada (AFI) pode ser aplicada a gestações de
baixo risco. De maneira geral, a MFEC resultou em redução nas perturbações
neonatais, mas não houve redução significativa na paralisia cerebral, na morta-
lidade infantil ou em outras medidas padrão de bem-estar infantil.2 A MFEC
resultou no aumento de parto cesáreo e partos vaginais operatórios.2
O uso da MFEC é limitado pela variação na interpretação do examina-
dor, principalmente como resultado da falta de padronização.3 As diretrizes
de gerenciamento baseadas na interpretação padronizada foram recentemente
desenvolvidas para fornecer uma estrutura para a aplicação na prática clínica
das informações obtidas por meio da cardiotocografia fetal. Isso inclui uma
classificação em cinco níveis de traçados e um algoritmo separado para inter-
pretar traçados de categoria II.4,5
31
terno (eletrodo espiral craniofetal [FSE]). Ambas as técnicas têm vantagens e desvan-
tagens, e os profissionais devem estar cientes disso.
A ausculta intermitente estruturada é uma técnica não invasiva. Embora essa téc-
nica pareça simples, os profissionais precisam ter certeza de que estão obtendo a FCF e
não a frequência cardíaca materna.6-8 Isso pode ser feito palpando-se simultaneamente
ou lendo eletronicamente o pulso radial materno e ouvindo a FCF. A ausculta tam-
bém pode ser uma técnica difícil de executar em obesas.
A monitorização eletrônica fetal contínua pode ser externa ou interna. A MFEC
externa consiste em um sonar Doppler que captura a FCF e um tocotransdutor (to-
codinamometro) para detectar a atividade uterina. Os monitores externos requerem
reajuste frequente para obter rastreamento e qualidade de sinal adequados, e podem
ser difíceis de usar em obesas, de ambulantes, ativas na cama ou que adotem posições
variadas para o parto.
A MFEC interna consiste em um FSE e um cateter de pressão intrauterino (IUPC)
para registrar contrações. Ruptura de membranas e dilatação cervical são necessárias
para a colocação. A morbidade, embora incomum, inclui lesões nos tecidos moles ma-
ternos e fetais e infecções intrauterinas. As contraindicações relativas incluem herpes
genital ativo, infecção pelo HIV, infecção pelo vírus da hepatite C e qualquer situação
em que a colocação não seja possível, como placenta prévia.9 Além disso, os FSEs não
devem ser colocados na presença de sangramento vaginal até que placenta prévia seja
descartada pelo ultrassom. O eletrodo pode ser colocado nas nádegas fetais nas apresen-
tações pélvicas; no entanto, deve-se tomar cuidado para evitar a colocação na genitália
fetal. O FSE captura a FCF usando um sinal de eletrocardiograma. O IUPC permite a
calibração precisa da atividade uterina usando unidades Montevideo (UM), medidas em
mmHg. A atividade uterina adequada é geralmente de 180 a 240mmHg, com 91% das
mulheres parindo com sucesso em 200 a 224mmHg.10
32 ALSO
Disponibilidade de Pessoal e Nível de Conforto
Nos Estados Unidos, a maioria, se não todas, das mulheres em trabalho de parto admitidas
em maternidades terão MFEC instalada continuamente por pelo menos 20 minutos. O
método de monitorização fetal subsequente será determinado com base na interpretação
desse rastreamento de 20 minutos e outros fatores, incluindo fatores de risco, políticas
institucionais e preferências de pacientes e profissionais. Em alguns casos, as mulheres
permanecerão no monitor fetal por mais tempo se o rastreamento for suspeito. Uma re-
visão sistemática de 2012 de mais de 13.000 mulheres demonstrou que, em comparação
com a AFI, rastreamento de MFEC na triagem para mulheres de baixo risco não mostrou
benefício e, na verdade, aumentou o risco de parto cesáreo em aproximadamente 20%.11
Em outra revisão sistemática de três ensaios clínicos em pacientes randomizadas e contro-
ladas, incluindo 11.259 mulheres e 11 estudos observacionais, incluindo 5.831 mulheres,
nenhuma diferença significativa foi encontrada nos resultados ao comparar mulheres
submetidas à MFEC na admissão e as que não fizeram.12
Resultados da MFEC
34 ALSO
TABELA 1 Recomendações das associações de classe para a AFI
Fase latente Primeiro período Segundo período
ACOG13 Cada 15 min Cada 5 min
Diretrizes ACOG/AAP para Cada 15 min Cada 5 min
cuidados perinatais14
ACNM15 Cada 15 a 30 min Cada 15 min, cada 5 min
com o início dos puxos
AWHONN9 Cada 15 a 30 min Cada 5 a 15 min
RCOG 16
Cada 15 min Cada 5 min
SOGC17 No momento Cada 15 a 30 min Cada 5 min
da avaliação
AAP = American Academy of Pediatrics; ACNM = American College of Nurse-Midwives; ACOG = American College of
Obstetricians and Gynecologists; AWHONN = Association of Women’s Health, Neonatal and Obstetric Nurses; RCOG
= Royal College of Obstetricians and Gynaecologists; SOGC = Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada.
36 ALSO
DR CONIVADO
O mnemônico DR CoNiVADO – DR = determinar o risco, Co = contrações,
Ni = nível ou linha de base fetal,V = variabilidade, A = acelerações, D = desacele-
rações e O = opinião (avaliação geral). Uma abordagem sistemática à interpretação
dos traçados foi desenvolvida especificamente para o ALSO. Ao usar esse mnemô-
nico, o traçado deve ter qualidade adequada para interpretação visual; se estiver
usando AFI, é necessária uma qualidade adequada da avaliação dos sons da FCF
ou de um composto de ausculta intermitente entre as contrações (linha de base) e
durante intervalos de 6 a 10 segundos por 60 segundos durante e após contrações
palpadas.9 Aplicam-se definições para desacelerações e variabilidade. para monito-
rização interna ou externa.19 Definições para desacelerações tardias, desacelerações
precoces, desacelerações variáveis e variabilidade são reservadas apenas para a mo-
nitorização eletrônica e não devem ser usadas na AFI.6,9 No entanto, os aumentos
e diminuições em relação à linha de base podem ser determinados com precisão
usando a AFI.6,9
DR = Determinar o Risco
Co = Contrações
A frequência cardíaca basal é calculada pela média da frequência arredondada para in-
tervalos de 5 batimentos por minuto (bpm) durante segmento de 10 minutos. Os seg-
mentos que devem ser excluídos são aqueles que apresentam variabilidade acentuada
(mais de 25bpm), são maiores ou iguais a 25bpm acima ou abaixo da linha de base ou
contêm acelerações ou desacelerações. Deve haver pelo menos um segmento identifi-
cável de 2 minutos em qualquer período de 10 minutos. Este segmento de 2 minutos
não precisa ser contíguo. O intervalo normal é de 110 a 160bpm.19 Ao realizar a AFI,
a taxa média da linha de base deve ser determinada entre contrações. As causas de uma
mudança na taxa basal podem incluir alterações no status fetal, corioamnionite, drogas,
febre materna, posição e prematuridade.9,20,24
Bradicardia
A bradicardia é definida como frequência cardíaca basal inferior a 110bpm por mais
de ou igual a 10 minutos.19 A bradicardia leve (90 a 110bpm) com variabilidade mo-
derada pode representar variação fisiológica normal com aumento do tônus vagal
e normalmente não está associada com hipoxemia.9,23 Podem ser observadas taxas
inferiores a 70bpm em fetos com cardiopatia congênita ou defeitos de condução
miocárdica.24 As causas maternas de bradicardia fetal incluem posição supina, hipo-
tensão, hipoglicemia, taquissistolia ou hipotermia. As causas fetais incluem oclusão
prolongada do cordão umbilical, prolapso de cordão, descida rápida ou sofrimento
fetal.9,20,24
Taquicardia
A taquicardia é definida como frequência cardíaca basal superior a 160bpm por mais
de 10 minutos.13,19,20 Movimento fetal e ansiedade materna, febre, desidratação, cetose
e uso de agentes beta-adrenérgicos podem causar taquicardia fetal não associada com
38 ALSO
hipóxia.9,20 A imaturidade fetal, a tireotoxicose e a anemia também podem causar
taquicardia fetal.9,20 A taquicardia fetal também pode ser causada pelo uso de drogas
ilícitas9,20 e, em algumas situações, o rastreamento é indicado. Taquicardia persistente
superior a 180bpm, especialmente se houver febre materna, sugere corioamnionite.25
Uma linha de base da FCF superior a 200bpm é frequentemente devida a arritmia
fetal ou outra anomalia congênita.20 “Isoladamente, a taquicardia fetal é pouco predi-
tiva para hipoxemia ou acidemia fetais, a menos que acompanhadas de variabilidade
mínima ou ausente da FCF ou desacelerações recorrentes ou ambas.”20 Se a taqui-
cardia persistir no feto prematuro, são necessários vigilância e avaliação rigorosas de
outras causas.24
Variabilidade
O grau de variabilidade da FCF é afetado pelo estado fetal e por várias causas além
da insuficiência ou acidose uteroplacentária. Fetos normais podem ter variabilidade
reduzida sem causa conhecida. Ciclos de sono de 20 a 40 minutos ou mais podem
causar diminuição normal da variabilidade.20 Drogas, incluindo analgésicos, anesté-
sicos, barbitúricos, tranquilizantes, atropina e sulfato de magnésio também podem
induzir períodos calmos no rastreamento da FCF sem comprometimento fetal. Além
disso, a administração de esteroides para induzir a maturação pulmonar fetal pode
reduzir a variabilidade.13
Acelerações
As acelerações são visualmente aparentes, aumentos abruptos da FCF acima da linha
de base mais recente, com um pico de menos de 30 segundos. O pico da aceleração
é de 15bpm ou mais (10bpm ou mais se for menor que 32 semanas de gestação)
e dura 15 segundos ou mais (10 segundos ou mais se for menor que 32 semanas
de gestação).13,19 O retorno a linha de base ocorre em 2 minutos. Se a aceleração
dura 2 minutos ou mais, mas menos de 10 minutos, é definida como aceleração
prolongada. A ausência de acelerações não indica necessariamente acidemia fetal,
mas pode justificar a necessidade de avaliação adicional. Quando usado no teste
pré-natal, um teste de estresse por contração (TCE) ou perfil biofísico (PBF) pode
ser utilizado para avaliar o status fetal na presença de um traçado não tranquilizador
(ou seja, menos de duas acelerações da FCF em 20 minutos, não atender 15bpm
em 15 segundos ou 10bpm em 10 segundos, de acordo com os critérios acima). A
presença de acelerações espontâneas ou estimuladas é altamente preditiva de feto
não acidótico.13,19
A presença de acelerações, espontâneas ou estimuladas, é fortemente preditiva do
status ácido-base normal no momento da observação.13,19 Quando as acelerações são
vistas em associação com contrações e desacelerações variáveis, estas geralmente indi-
cam compressão parcial do cordão e podem ser chamadas ombros. Isso ocorre quando
a veia é comprimida no cordão umbilical, mas as artérias de parede mais espessa per-
manecem abertas. Essas acelerações fazem parte da desaceleração variável e não devem
ser usadas para avaliar o status ácido-base fetal.
40 ALSO
Embora a presença de acelerações garanta ao feto o status normal, o desapareci-
mento das acelerações da FCF não significa necessariamente que o feto seja hipóxico.19
Drogas e ciclos de sono podem fazer com que as acelerações desapareçam. Portanto,
se as acelerações desaparecerem, os profissionais devem procurar outros indicadores
de comprometimento, como desacelerações mais profundas, duração ou frequência,
variabilidade basal reduzida ou taquicardia basal ou bradicardia. Além disso, os profis-
sionais podem tentar obter acelerações usando a estimulação do couro cabeludo ou
do tônus. É importante ressaltar que as acelerações da FCF não devem ser provocadas
durante desacelerações ou bradicardia (isto é, uso de estimulação do couro cabeludo).9
Tais ações apenas atrasam o início de medidas adequadas de reanimação intrauterina
e comprometem ainda mais o estado fetal.
Desacelerações
Desacelerações precoces
As desacelerações precoces são diminuições graduais visivelmente aparentes na FCF
com retorno à linha de base e em associação com uma contração uterina. O início
do nadir é de 30 segundos ou mais, e o nadir ocorre ao mesmo tempo que o pico
da contração.13,19 São quase sempre benignas se não forem observadas outras anor-
malidades no traçado da FCF e representam alterações locais transitórias no fluxo de
sangue como resultado do estímulo dos centros nervosos vagais devido à compressão
da cabeça.
Desacelerações variáveis
As desacelerações variáveis são diminuições abruptas visualmente aparentes da FCF
abaixo da linha de base, com início do nadir em 30 segundos ou menos. A diminuição
da FCF é de 15bpm ou mais a partir da linha de base, com duração de 15 segundos ou
mais, mas menos de 2 minutos, e pode ou não estar associada a contrações.13,19 As de-
sacelerações variáveis são geralmente o resultado da compressão do cordão, resultando
em aumento da resistência periférica. Isso causa hipertensão fetal súbita, aumento do
Desacelerações tardias
As desacelerações tardias são diminuições graduais visualmente aparentes na FCF, com
retorno à linha de base com o início do nadir em 30 segundos ou mais. O início, o na-
dir e a recuperação da desaceleração geralmente ocorrem após o início, pico e término
da contração, respectivamente.19 As desacelerações tardias estão associadas à insuficiên-
cia uteroplacentária e à hipoxemia fetal. Se não corrigidas, podem causar acidemia e
depressão do miocárdio. Quando combinado com variabilidade ausente ou mínima
ou outras anormalidades na FCF, há grande probabilidade de comprometimento fetal
significativo; avaliação e intervenção imediatas são indicadas. As desacelerações tardias
sutis e superficiais são facilmente perdidas, mas clinicamente significativas. Elas podem
ser detectadas mantendo uma linha reta ao longo da linha de base.
Desacelerações prolongadas
Desacelerações prolongadas são diminuições visualmente aparentes na linha de base
da FCF de 15bpm ou mais, com duração de 2 minutos ou mais, durando menos de
10 minutos.19
Uma deterioração súbita no traçado da FCF pode ser observada após exame va-
ginal, colocação de eletrodo espiral fetal, amniotomia, taquissistolia uterina secundá-
ria à administração de ocitocina ou agente de amadurecimento cervical, hipotensão
materna (por exemplo, secundária à anestesia regional), convulsões maternas ou mo-
vimento fetal que produz compressão transitória do cordão umbilical. Se o feto não
42 ALSO
tiver sido comprometido anteriormente, a recuperação normalmente ocorrerá com
a descontinuação do evento ou agente incitante, mudança de posição, aumento de
fluidos intravenosos, suplementação materna de oxigênio ou uma combinação dessas
medidas. Quando acompanhadas por mudanças na variabilidade ou na linha de base,
as desacelerações têm maior probabilidade de estar associadas a anormalidades na base
de ácido fetal. Fatores conhecidos por causar essas alterações devem ser identificados
e corrigidos.
Traçados de Categoria II
Os traçados de categoria II são traçados indeterminados não preditivos do status áci-
do-base fetal, também não podem ser classificados como categoria I ou categoria
III. A presença de variabilidade e/ou acelerações moderadas é altamente preditiva
do status normal ácido-base fetal.13,19,20 Esses traçados requerem avaliação imediata e
implementação de intervenções para abordá-los. Os traçados de categoria II ocorrem
na maioria dos fetos durante o trabalho de parto.13,19 Alguns exemplos de causas dos
traçados de categoria II incluem:
Taquicardia.
Bradicardia não acompanhada de ausência de variabilidade.
Linha de base com variabilidade mínima.
Linha de base com variabilidade ausente, não acompanhada de desacelerações
recorrentes.
Desacelerações variáveis recorrentes com variabilidade mínima a moderada.
Desacelerações tardias recorrentes com variabilidade moderada.
Desacelerações variáveis com retorno lento, ultrapassagem ou ombros.
Desaceleração prolongada, com duração superior a 2 minutos, mas inferior a
10 minutos.
Ausência de aceleração após estimulação fetal.
Os traçados de categoria III são preditivos de status fetal ácido-base anormal no mo-
mento em que são observados. Estes requerem avaliação imediata e intervenções con-
venientes para abordar o achado. Intervenções podem incluir, conforme apropriado,
administração de oxigênio, administração de bolus de líquido intravenoso, reposiciona-
44 ALSO
mento da gestante, descontinuação de ocitócicos e tratamento da hipotensão materna.
Se estes falharem, o parto imediato deve ser considerado.
Os traçados de categoria III incluem:
Padrão sinusoidal.
ou
Ausência de variabilidade com qualquer dos seguintes:
- Desacelerações tardias recorrentes.
- Desacelerações variáveis recorrentes.
- Bradicardia.
Conduta
O Boletim ACOG 2010 sobre conduta diante dos´traçados intraparto apresenta uma
abordagem padronizada para o manejo da FCF.20 Isso foi baseado em parte na estru-
tura desenvolvida por Parer e colegas que analisaram estudos sobre traçados FCF para
desenvolver quatro hipóteses:28,29
1. A variabilidade moderada, mesmo na presença de desacelerações, está forte-
mente associada à ausência de acidemia (pH maior que 7,15) e a um feto não
deprimido (Apgar de 5 minutos maior ou igual a 7).
2. A variabilidade mínima ou ausente (indetectável) na presença de desacelera-
ções tardias ou variáveis está associada à acidemia (pH menor que 7,15) e a um
feto deprimido (Apgar de 5 minutos menor que 7).
3. A profundidade da desaceleração ou bradicardia é diretamente proporcional
à depressão e acidemia fetais, principalmente com desacelerações tardias e em
traçados com variabilidade mínima ou ausente.
46 ALSO
4. Após traçado normal inicial da FCF, as desacelerações progressivas, na ausência
de eventos catastróficos, resultam em acidemia que se desenvolve ao longo de
período significativo, geralmente 1 hora.
Parer e colegas concluíram que a presença de variabilidade moderada teve valor pre-
ditivo negativo de 98% para acidose fetal ou índice de Apgar menor que 7.28,29 A variabi-
lidade mínima ou ausente com desacelerações tardias ou variáveis foi
preditiva de acidose
neonatal ou depressão neonatal, com 23% dos fetos com esses achados adversos; havia al-
guma evidência de que variabilidade ausente é mais preditiva. A profundidade das desace-
lerações tem associação mais forte com acidose fetal nas desacelerações tardias do que nas
desacelerações variáveis. No feto com variabilidade e desacelerações diminuídas, a acidose
mostrou-se lenta ao longo do tempo, exceto no cenário de bradicardia súbita, como pode
ocorrer com o descolamento prematuro da placenta ou prolapso do cordão.28,29
Traçados de Categoria I
Os traçados de categoria I são considerados normais e não estão associados à acidemia
fetal.13,19,20 As recomendações devem continuar o monitoramento atual (AFI ou MFEC);
avaliar e documentar periodicamente o estado clínico, fatores de risco subjacentes e tra-
çados; e alterar a estratégia somente se o traçado for alterado para categoria II ou III.
Traçados de Categoria II
Os traçados de categoria II incluem todos os traçados que não são classificados como
categoria I ou III; eles ocorrem em mais de 80% dos trabalhos de parto.31 Como
esses traçados podem representar comprometimento fetal, as recomendações são ava-
48 ALSO
Variabilidade moderada ou acelerações
Não Sim
50 ALSO
TABELA 6 Classificação em cinco níveis
Risco de
Categoria Risco de acidemia Ação
evolução
Verde Cat I Nenhum Muito baixo Nenhuma
Azul Cat II Sem acidemia fetal central Baixo Técnicas
conservadoras,
prontidão para
resolução obstétrica
Amarelo Cat II Sem acidemia fetal central, Moderado Técnicas
mas FCF sugestiva de reduções conservadoras e
intermitentes na oferta de aumento da vigilância
oxigênio que podem resultar
na falta de oxigênio para o feto
Laranja Cat II Borderline/aceitavelmente Alto Técnicas
baixo; feto potencialmente no conservadoras
limite da descompensação e preparar para
resolução imediata
Vermelho Cat III Inaceitável, com alta evidência Já houve Resolução obstétrica
de asfixia fetal ou lesão fetal evolução
52
DV DV DV DT DT DT DP DP DP
Variável N P
leve moderada grave leve moderada grave leve moderada grave
ALSO
Variabilidade moderada (normal)
Taquicardia B B B Y O Y Y O Y Y Y
Normal G G G B Y B Y Y Y Y O
Bradicardia leve Y Y Y Y O Y Y O Y Y O
Bradicardia moderada Y Y O O O O
Bradicardia grave O O O O O
Variabilidade mínima
Taquicardia B Y Y O O O O R O O O
Normal B B Y O O O O R O O R
Bradicardia leve O O R R R R R R R R R
Bradicardia moderada O O R R R R
Bradicardia grave R R R R R
Variabilidade ausente
Taquicardia R R R R R R R R R R R
Normal O R R R R R R R R R R
Bradicardia leve R R R R R R R R R R R
Bradicardia moderada R R R R R R
Bradicardia grave R R R R R
Ritmo sinusoidal R
Variabilidade acentuada Y
N = não; P = precoce; B = azul; G = verde; DT = desaceleração tardia; O = laranja; DP = desaceleração prolongada; R = vermelha; DV = desacelerações variáveis; Y = amarela.
Traduzido de Parer JT, Ikeda T. A framework for standardized management of intrapartum fetal heart rate patterns. Am J Obstet Gynecol. 2007;197(1):26.e1-26.e6.
nio.32 A complexidade desse sistema de cinco níveis dificultou a aplicação prática; no
entanto, isso mudou recentemente devido à disponibilidade de um aplicativo móvel
(disponível em http://www.obapps.org/), tornando a aplicação no ambiente clínico
mais fácil de usar.33 A Sociedade Japonesa de Obstetras e Ginecologistas também re-
comendou o uso desse sistema com base em sua validade com o equilíbrio ácido-base
fetal.34,35 No entanto, outro estudo relata não haver diferença entre traçados muito
normais ou muito anormais usando esse sistema. Eles concluem que ainda é preciso
determinar se um sistema é superior ao outro na previsão da acidemia fetal.36
54 ALSO
nação materna e fetal37,45-47 com um aumento na gravidade das desacelerações.46,48
Uma medida preventiva seria evitar fazer força até que a mulher sinta vontade de
empurrar, minimizando assim a duração da fase ativa e a exposição fetal ao estresse
hipóxico do puxo. A modificação dos esforços de puxo inclui interrompê-lo tem-
porariamente para permitir que o feto se recupere ou fazer força a cada segunda ou
terceira contração.9,37,45,49,50
Amnioinfusão
A amnioinfusão deve ser considerada quando se suspeita de compressão medular, a
fim de reduzir a ocorrência de desacelerações variáveis recorrentes no primeiro está-
gio do trabalho de parto e diminuir os partos cesáreos.52 A amnioinfusão está associada
a uma redução nas taxas de parto cesáreo, nas desacelerações da FCF, no índice de
Apgar menor que 7 aos 5 minutos, na endometrite pós-parto e na permanência hos-
pitalar neonatal e materna.53 Além disso, indica um aumento médio do pH do cordão
umbilical. Nenhuma melhora nos resultados neonatais em longo prazo foi detectada.
Embora tipicamente considerada segura, a amnioinfusão traz algumas precauções
e possíveis complicações. A amnioinfusão é indicada apenas para desacelerações vari-
áveis recorrentes e não para desacelerações tardias, bradicardia fetal, mecônio espesso
ou oligoidrâmnio com traçado normal.20,52-54
A amnioinfusão também não deve ser tentada quando o parto cesáreo é indica-
do, como em apresentação transversa ou placenta prévia. Nunca deve ser realizada
quando resultar em atraso de decisão. Com apresentação pélvica, gestação múltipla ou
quando houver suspeita de descolamento da placenta, deve-se tomar cuidado ao rea-
Conduta na Taquissistolia
As contrações uterinas causam a interrupção do fluxo de sangue uterino e, portan-
to, de oxigênio ao feto. Na maioria dos fetos saudáveis, esse declínio temporário é
bem tolerado. No entanto, foi demonstrado que a taquissistolia uterina causa declínio
progressivo da oxigenação fetal e dos gases sanguíneos no nascimento56-60, aumento
56 ALSO
do risco de parto, menores índices de Apgar e aumento das admissões na UTIN.59 A
tocólise deve ser considerada, especialmente no cenário de taquissistolia associado aos
traçados de categoria II ou III, quando as medidas padrão de reanimação intrauterina
não são bem-sucedidas.20,60 Revisão recente da Cochrane demonstrou que a terapia
betamimética reduziu o número de anormalidades na FCF.61 Se a taquissistolia é indu-
zida e traçado de categoria II ou III está presente, uterotônicos também devem ser di-
minuídos ou descontinuados.20 Outras intervenções para taquissistolia podem incluir
reposicionamento materno e infusão de volume.9,20,60 A avaliação do descolamento
prematuro de placenta deve ser feita; a tocólise é contraindicada quando há suspeita
de descolamento, pois pode piorar o descolamento.39
Algoritmo para o manejo da taquissistolia uterina é mostrado na Figura 2.20
Taquissistolia uterina
Se não melhorar,
considerar tocólise
Tradução de ACOG practice bulletin No. 116: Management of intrapartum fetal heart rate tracings. Obstet
Gynecol. 2010;116(5):1232-1240.
Contexto Internacional
Em muitos ambientes com poucos recursos, a MFEC não é uma opção. A AFI é feita
com um estetoscópio de Pinard e não com um sonar Doppler. Embora a amnioin-
fusão não seja mais indicada para mecônio em ambientes ricos em recursos, onde a
MFEC está disponível, ela parece ser indicada para mecônio em ambiente com pou-
cos recursos, onde as capacidades de monitoramento são limitadas.73
Resumo
O início da monitorização fetal começa com a avaliação do risco materno e fetal.
Como a MFEC tem valor preditivo positivo baixo e pode resultar em aumento das ta-
xas de cesarianas, recomenda-se a ausculta intermitente para gestações de baixo risco.
No entanto, a política hospitalar, a disponibilidade e a experiência da equipe devem
ser consideradas antes de se decidir pela AFI. Os médicos devem estar prontos para
mudar para a MFEC se uma situação de alto risco se desenvolver ou se o profissional
não conseguir avaliar adequadamente a FCF.
58 ALSO
Se a MFEC for selecionada para vigilância fetal, a interpretação precisa ser feita
levando em consideração o contexto clínico, o traçado inteiro e o estágio do trabalho
de parto, e em conjunto com a estimulação mecânica. Os resultados ainda podem
não ser afetados com esta técnica, mesmo em gestações de alto risco. Recentemente,
foram empreendidos esforços para padronizar definições, interpretações e gerencia-
mento geral dos traçados. DR CONIVADO é um mnemônico útil para definir risco
e interpretação da MFEC. É fundamental que instituições e hospitais garantam que
todo o pessoal obstétrico seja treinado em vigilância e interpretação da MFEC, e no
gerenciamento das descobertas. A comunicação entre os membros da equipe é crítica,
e ferramentas ou estratégias para maximizar a precisão e a integridade da transferência
de informações devem ser usadas (por exemplo, SBAR) para minimizar erros médicos
e maximizar a segurança da paciente.
Independentemente da tecnologia utilizada, a relação paciente/suporte é funda-
mental durante o processo do trabalho de parto. Os profissionais não devem permitir
que nenhuma abordagem de monitorização substitua a atenção pessoal à mulher du-
rante o parto.
Se uma instituição possui um comitê de gerenciamento de riscos ou de segurança
da paciente, deve-se monitorizar e cumprir regularmente todos os aspectos da vigi-
lância fetal. O comitê deve ser composto por médicos, enfermeiros, administradores e
outras equipes pertinentes para uma implementação bem-sucedida.
Nível de
Recomendação clínica Referências
evidência
Força da recomendação
A) Recomendação baseada em evidências consistentes e de boa qualidade orientadas ao
paciente.
B) Recomendação baseada em evidências inconsistentes ou de qualidade limitada
orientadas ao paciente.
C) Recomendação baseada em consenso, prática usual, opinião, evidência orientada para
a doença ou série de casos para estudos de diagnóstico, tratamento, prevenção ou
triagem.
60 ALSO
A evidência orientada ao paciente mede os resultados que são importantes para
ele: morbidade, mortalidade, melhora dos sintomas, redução de custos e qualidade
de vida. As evidências orientadas a doenças medem os desfechos intermediários,
fisiológicos ou substitutos que podem não refletir a melhora nos resultados do
paciente (por exemplo, pressão arterial, exames de sangue, função fisiológica, achados
patológicos).
MFEC = monitorização eletrônica fetal contínua; FCF = frequência cardíaca fetal; IV =
intravenoso; NNT = número necessário para tratar.
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O ALSO Internacional agradece e reconhece Mr. Kim Hinshaw, MB, BS, FRCOB
pela criação do mnemônico DR C BRAVADO. Mr. Hinshaw é obstetra e ex-chefe
do ALSO Reino Unido. O ALSO Brasil Cursos na Área de Saúde adaptou o mne-
mônico original para DR CONIVADO (versão em Português), com a ajuda dos
professores, instrutores e consultores do ALSO Brasil.
OBJETIVOS
Introdução
O parto prematuro prévio (PPP) é o fator de risco mais importante para
o TPP subsequente. Outros importantes fatores de risco incluem gestação
múltipla, vaginose bacteriana (VB) e comprimento cervical (CC) uterino
curto ao ultrassom. A progesterona pode ser utilizada para diminuir a pro-
babilidade de TPP em pacientes com PPP ou com colo curto. Em paciente
que apresenta contrações prematuras, tanto o CC à ultrassonografia trans-
vaginal quanto o teste de fibronectina fetal (fFN) podem ser usados para
ajudar a avaliar o risco de TPP. A administração de corticosteroides pré-
-natais (CPN) continua sendo a intervenção mais importante para melhorar
os resultados neonatais em gestantes em TPP. O uso de agentes tocolíticos
pode retardar o parto, dando tempo para administrar CPN ou transferir para
um centro com unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN). O manejo
da ruptura prematura de membranas (RPM) pode incluir a administração
de antibióticos ou CPN ou a indução do parto com base na idade gesta-
cional. O manejo da RPM a termo inclui a indução/condução precoce do
trabalho de parto.
68
Epidemiologia
A incidência de TPP, definido como ocorrendo antes de 37 semanas de gestação, foi
de 11,4% em 2013 nos EUA.1 Aproximadamente 40 a 45% dos TPPs são resultado
de TPP espontâneo com membranas intactas. Outros 25 a 30% estão associados à
RPM. Os 30 a 35% restantes de TPP são resultado de indução do parto ou parto
cesáreo por indicações médicas, como pré-eclâmpsia com sinais de gravidade, desco-
lamento de placenta ou restrição de crescimento intrauterino.2
De 1981 a 2006, a incidência de TPP nos EUA aumentou mais de 30% e atingiu
um pico de 12,80% em 2006.1 A taxa de TPP vem diminuindo gradualmente a cada
ano. A taxa de TPP precoce (parto antes de 34 semanas) diminuiu 3,7%, e a taxa de
TPP tardia (parto entre 34 e 36 semanas), 9,2% desde 2006.3 A taxa decrescente de
TPP pode ser atribuída a vários fatores. Desde 2006, tanto a taxa de gravidez em ado-
lescentes quanto a de gestação múltipla (trigêmeos ou mais) diminuíram.4 Esses grupos
têm maior risco de TPP. Há alguma evidência de que as políticas públicas para reduzir
as cesáreas eletivas a termo (37 a 38 semanas) também diminuíram os TPP.4,5 Finalmente,
intervenções como uso de progesterona vaginal, 17 caproato de alfa-hidroxiprogestero-
na (17P) por via intramuscular e e a cerclagem cerclagem em populações selecionadas
provavelmente contribuem para a diminuição da taxa de TPP.4
A taxa de TPP nos Estados Unidos ainda permanece entre as mais altas do mundo
desenvolvido e existem disparidades significativas nas taxas entre grupos étnicos e ra-
ciais. Em 2012, a taxa de TPP para neonatos brancos não hispânicos foi de 10,3%, em
comparação com 16,5% para negros não hispânicos e 11,6% para bebês hispânicos.6
de TPP anteriores múltiplos aumenta ainda mais o risco. As mulheres com PPP por
interrupção médica apresentam risco aumentado para TPP subsequente por indicação
médica e também correm o risco de TPP subsequente espontâneo.12
A gestação múltipla é forte preditor de TPP, com a maioria das gestações ge-
melares terminando com menos de 37 semanas devido a TPP espontâneo ou por
interrupção médica.13 Gestações múltiplas aumentam ainda mais o risco de TPP. Em
2011, 11% dos gêmeos, 36% dos trigêmeos e mais de 67% das gestações quádruplas
nasceram antes de 32 semanas.14
O colo curto no segundo trimestre está associado a risco aumentado de TPP.15
Na medida do comprimento cervical (CC) deve-se usar o ultrassom transvaginal
(UTV), pois o ultrassom transabdominal pode não diagnosticar até 57% dos colos
do útero com menos de 25mm.16 Pelo UTV a medida do CC, na qual a idade ges-
tacional é mais preditiva de nascimento prematuro, é em 14 a 34 semanas,17,18 com a
maioria dos UTV para medida do CC sendo realizada em 18 a 24 semanas. O ponto
de corte para definir colo curto varia entre os estudos, sendo os de 20 a 25mm os
mais utilizados. Quanto mais curto o colo do útero e mais cedo na gestação o en-
curtamento for detectado, maior o risco de TPP.19 Em mulheres sem sangramento
vaginal, a taxa de alteração do encurtamento cervical quando medida por UTV
CC sequencial está associada ao aumento do risco de TPP (risco relativo [RR] =
1,2; IC 95% = 1,1-1,4).20
70 ALSO
Adotar como rotina a UTV CC em mulheres com gestação única e sem TPP
prévio é objeto de debate. Dois grandes estudos controlados randomizados (RCT)
mostraram que a triagem universal de CC e o tratamento com progesterona vaginal
em mulheres com CC reduz a ocorrência de parto prematuro e melhora os resultados
neonatais.21,22 Calcula-se que o rastreio com 18 a 24 semanas necessitaria de 400 a 600
exames para evitar um nascimento prematuro em gestação inferior a 34 semanas.23 A
Sociedade de Medicina Materno-Fetal em 2012 concluiu que a medida do CC como
exame de triagem é razoável mas não pode ser universalmente recomendada nesse
momento, e os serviços que optarem por implementar a triagem universal com me-
dida do CC devem seguir as diretrizes publicadas.24
A infecção geniturinária é um fator de risco para TPP. A VB aumenta o risco de
TPP (RR = 2,19; IC 95% = 1,54-3,12) e o aborto espontâneo (RR = 9,91; IC 95%
= 1,9 9-49,34).21,25 As mulheres com resultado positivo para VB com menos de 16
semanas de gestação apresentaram probabilidade ainda maior de TPP (RR = 7,55;
IC 95% = 1,80-31,65).25 Outras infecções, tais como tricomoníase, clamídia e/ou
gonorreia, também estão associadas a risco aumentado para TPP, apesar da evidência
conflitante sobre a redução do risco de TPP e o tratamento para essas infecções.26 Pie-
lonefrite, infecção sintomática do trato urinário inferior e bacteriúria assintomática
têm sido associadas ao aumento do risco de TPD.26
Entre as mulheres com TPP, as espécies Mycoplasma e Ureaplasma urealyticum são
os microrganismos mais comumente identificados na cavidade amniótica.2 Esses pro-
vavelmente ascendem da vagina e têm sido relacionados com corioamnionite, TPP e
RPM.27 Os mediadores inflamatórios (tais como citocinas e TNF-alfa) e de ativação
celular provavelmente atuam no início do trabalho de parto e são as principais áreas
de investigação em curso. Infecções não geniturinárias, como pneumonia, também
foram associadas ao TPP. Infecção periodontal dobra o risco para TPP, no entanto o
tratamento no pré-natal não parece alterar os resultados finais.28
A presença de contrações uterinas está associada à maior probabilidade de TPP. Em
estudo com 306 mulheres durante 34.908 horas de monitorização, o aumento das
contrações uterinas foi associado ao TPP; no entanto, não havia uma frequência limiar
de contrações que identificasse efetivamente um grupo de alto risco.29
Outras características maternas estão associadas à TPP. A raça negra não latina nos
EUA está significativamente associada ao aumento do risco de TPP.6 Um intervalo
entre gestações menor que 6 meses aumenta o risco de TPP em 1,4 (IC 95% = 1,24-
-1,58).30 O estado nutricional materno e, em particular, o índice de massa corporal
pré-gestacional inferior a 19kg/m2 aumentam os riscos de TPP em 3,96.31 Procedi-
mentos de excisão cervical, como conização, aumentam o risco de TPP mas perma-
nece um assunto em debate. Metanálise recente demonstrou que mulheres que se
submeteram a uma excisão eletrocirúrgica em alça (LEEP) têm risco semelhante para
Prevenção do TPP
A prevenção do TPP tem sido foco de intensa pesquisa nas últimas décadas. A progeste-
rona pré-natal mostrou-se promissora em ensaios recentes. Rastreio e tratamento da VB
tem sido menos bem-sucedidos historicamente, embora melhores resultados são obtidos
com triagem prévia, foco em mulheres de alto risco e escolha adequada de antibióti-
cos. Além disso, a cerclagem cervical continua sendo usada para indicações específicas.
Progesterona Pré-natal
Os mecanismos pelos quais a progesterona impede o TPP incluem redução da forma-
ção de junções celulares conhecidas como gap, antgonismo da ocitocina, manutenção
da integridade cervical e ação anti-inflamatória.38
A 17P por via intramuscular deve ser usada para tratar mulheres com histórico de
TPP espontâneo (Tabela 2).24,39,40 Mulheres com histórico de parto prematuro trata-
das com injeções semanais de 17P apresentam menor incidência de mortalidade pe-
rinatal, TPP antes das 34 e 37 semanas de gestação.41 Em contraste, o maior estudo de
progesterona vaginal em mulheres com PPP não registrou melhora nas taxas de TPP
em 32 semanas ou menos em comparação ao placebo. Por conseguinte, a progesterona
vaginal não é recomendada neste grupo demográfico.42 Após iniciada a 17P, ela não
deve ser descontinuada, pois aumenta o risco de TPP recorrente.43
O comprimento do colo do útero deve ser avaliado pelo UTV a cada 2 semanas,
de 16 a 24 semanas de gestação em mulheres com histórico de TPP (que também es-
tão sendo tratadas com 17P). Se o CC for inferior a 25mm, deve-se indicar cerclagem
cervical.24,39,40 Embora a alteração cervical prematura possa ser o resultado da estrutura
enfraquecida cervical, o encurtamento pode também ser o resultado de processos infla-
matórios.38 Por exemplo, a infecção está associada com até 51% das pacientes com insu-
ficiência cervical.44 A cerclagem trata especificamente os déficits estruturais no colo do
72 ALSO
TABELA 2 Formulação e dosagem de progesterona para prevenção de TPP24,39,40
Indicação Progestogênio Dosagem
TPP anterior Caproato de 17-alfa- 250mg, IM, semanalmente,
hidroxiprogesterona de 16 a 36 semanas
Nenhum PPP, CC < 20mm Gel de progesterona por Diariamente desde o
em < 24 semanas via vaginal 90mg diagnóstico de CC até 36
Cápsula de progesterona semanas
por via vaginal 200mg
CC = comprimento cervical; IM = via intramuscular; TPP = trabalho de parto prematuro, PPP = parto prematuro prévio.
útero e não seria necessariamente tão eficaz para outros processos, como infecção. Me-
tanálise de cinco ensaios de cerclagem cervical para CC inferior a 25mm demonstrou
diminuição de TPP, morbidade e mortalidade perinatais.45 Grande estudo com 1.014
pacientes demonstrou redução de TPP, mortalidade perinatal e incidência de parto em
cerclagens realizadas com menos de 35 semanas e CC inferior a 15mm.46 Em metanálise
indireta ajustada de 9 estudos, a progesterona e a cerclagem vaginal reduziram a incidência
de TPP em menos de 32 semanas, bem como a morbimortalidade perinatal composta.47
Mulheres sem histórico de TPP, mas com colo curto (menos de 20mm) deve-
riam receber progesterona vaginal desde o momento do diagnóstico até 36 sema-
nas.39,40 Dois grandes estudos21,22 e três metanálises demonstraram menor incidência
de TPP e morbimortalidade neonatal com esta intervenção (Tabela 3).41,47,48 Em con-
traste, grande estudo aleatório de 17P por via intramuscular em mulheres com CC
inferior a 30mm não demonstrou redução na frequência de TPP ou melhora do re-
sultado neonatal.49 As indicações e benefícios para cerclagem em mulheres sem PPP e
colo uterino curto em ultrassonografia endovaginal não são claros.39,50
No caso especial de gestação múltipla, nem a progesterona nem a cerclagem me-
lhoram os resultados.41,51,52
Manejo da Infecção
A inflamação induzida por microrganismos está associada ao TPP.56 A doença perio-
dontal está associada com TPP, mas o tratamento pré-natal não afeta o resultado da
gravidez.57 Triagem para o tratamento de bacteriúria assintomática, possivelmente por
meio da prevenção, está associada com redução na incidência de recém-nascidos de
baixo peso ao nascer, mas não na prevenção de TPP.58
A VB assintomática está associada a TPP (menos de 33 semanas [RR = 1,9; IC
95% = 0,94-3,84]) e aborto tardio (RR = 2,77; IC 95% = 0,94-8,16).59 Três estudos
examinaram mulheres assintomáticas e de baixo risco para VB no início do segun-
do trimestre e tratadas com clindamicina (por via vaginal em dois e por via oral em
um). Nos três estudos, as mulheres tratadas apresentaram taxas mais baixas de TPP
e poucos abortos tardios no segundo trimestre.60-62 Mesmo assim, a metanálise de
estudos de triagem e gerenciamento da VB na gravidez não mostrou melhores resul-
tados.63 A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA recomenda a triagem para
VB em mulheres de baixo risco e conclui que as evidências são insuficientes para
recomendar a favor ou contra a triagem e gerenciamento da VB em pacientes de alto
risco.64 Atenção específica a rastreio e conduta antes de 22 semanas e uso de clin-
damicina, em vez de metronidazol, parecem ser associados com melhores resultados
na gravidez.65 Embora a maioria dos estudos use critérios baseados na coloração de
Gram, a maioria dos clínicos se baseará nos critérios de Amsel para o diagnóstico de
VB (Tabela 4).66
74 ALSO
A clindamicina foi usada para o manejo da VB nos três estudos citados acima,
com 300mg por via oral duas vezes ao dia durante 5 a 7 dias ou 2% de creme vagi-
nal noturno durante 3 a 6 dias.60-62 Os esquemas de tratamento recomendados estão
listados na tabela 5.
76 ALSO
Infecção Está Presente?
Manejo do TPP
Depois de diagnosticado, intervenções devem ser implementadas para melhorar os
resultados neonatais, incluindo transferência para um local especializado, administra-
52,0
Risco de nascer em 7 dias (%)
27,0
14,0
3,2 2,6
0,0
FIGURA 1 Estratificação de risco para parto prematuro usando fibronectina fetal e comprimento
cervical
78 ALSO
ção de corticosteroides, profilaxia com antibióticos para infecção por GBS, considerar
o sulfato de magnésio para neuroproteção e se preparar para um parto prematu-
ro. Cada uma das intervenções é discutida em mais detalhes a seguir.
Tocólise
Drogas tocolíticas são usadas para o prolongamento da gravidez de curto prazo (até
48 horas), com o objetivo de dar tempo para administrar CCA, sulfato de magnésio
para a neuroprotecção, antibióticos para GBS profilaxia e transferência materna se
necessário. Elas podem ser úteis em gestações entre a viabilidade e a idade gestacional
estimada em 34 semanas com TPP estabelecido e na ausência de evidências de com-
prometimento materno ou fetal (isto é, corioamnionite, pré-eclâmpsia com sinais de
gravidade, instabilidade materna, morte fetal ou anomalia letal, bem-estar fetal preo-
cupante). Após a interrupção do trabalho de parto, não há evidências de benefício da
tocólise em longo prazo para o prolongamento da gravidez.85 As opções de tratamen-
to farmacêutico estão listadas na tabela 10.
80 ALSO
TABELA 9 Sulfato de magnésio para neuroproteção91,93
Dose de ataque de
Dose de manutenção Repetir o tratamento
sulfato de magnésio
4g durante 20 a 30 1g/hora contínua Sem doses repetidas imediatas
minutos até o nascimento ou
durante 24 horas
6g durante 20 a 30 2g/hora contínuas Se tiverem decorrido menos de
minutos até o nascimento ou 6 horas desde a interrupção,
durante 12 horas reinicie a dose de manutenção. Se
tiverem decorrido mais de 6 horas,
refaça o bolus e inicie a dose de
manutenção
82 ALSO
Contraindicações e efeitos
Droga (classe) Dosagem Comentários
adversos
Terbutalina A terbutalina injetável Hiperglicemia,
(betamimético) pode ter um papel hiperinsulinemia,
(Continuação) estreito no tratamento hipocalemia, antidiurese,
da taquissistolia ou em função tireoidiana
situações emergentes alterada
Aviso do FDA dos EUA Tremor fisiológico,
contra uso oral ou em palpitações,
longo prazo devido irritabillidade, náuseas/
a eventos adversos vômitos, febre,
maternos e falta de alucinações
eficácia Efeitos adversos fetais e
neonatais: taquicardia,
hipoglicemia, hipocalcemia,
hiperbilirrubinemia,
hipotensão, hemorragia
intraventricular
Indometacina Dose de ataque: AINH teoricamente Contraindicações:
(AINH) 50mg por via intervêm mais insuficiência renal ou
retal ou precocemente hepática materna, úlcera
50-100mg por na cascata do trabalho péptica ativa, oligoidrâmnio
via oral de parto do que os Efeitos adversos maternos:
Dose de outros agentes. A náuseas, azia
manutenção: eficácia parece Efeitos adversos fetais:
25-50mg por via semelhante a outros fechamento do canal
oral a cada agentes arterial (não recomendado
4 horas durante O perfil de efeitos após 32 semanas de
48 horas adversos materno é gestação), hipertensão
favorável pulmonar, diminuição
Outros AINH (sulindac, reversível da função
cetorolac) podem ser renal com oligoidrâmnio,
usados hemorragia intraventricular,
hiperbilirrubinemia,
enterocolite necrotizante
FDA = Administração de Alimentos e Medicamentos; AINH = anti-inflamatório não hormonal.
Não foi demonstrado que o sulfato de magnésio usado para tocólise prolonga
a gravidez ou melhora os resultados neonatais quando comparado com placebo ou
outros tocolíticos.102.103 Além disso, metanálise da Cochrane mostrou risco aumentado
de mortalidade fetal e neonatal de significância limítrofe (RR = 4,56; IC 95% = 1,00-
20,86) e aumento na permanência em UTI quando comparado com bloqueadores
dos canais de cálcio (mas não em comparação com os AINH).102.103
84 ALSO
Suspeita de trabalho
de parto prematuro
Paciente está
em TPP?
Sim Não
Resultado da
cultura GBS
Positivo ou cultura
Negativo
não disponível
FIGURA 2 Algoritmo para triagem de colonização por estreptococos do grupo B (GBS) e profila-
xia intraparto no trabalho de parto prematuro (TPP)75
Não: cefazolina 2g, IV, seguidos de 1g, IV, Sim: tem isolada susceptibilidade
a cada 8 horas até o parto à clindamicina e eritromicina?
Não: vancomicina,
1g, IV, a cada 12 horas até o parto
Sim: clindamicina,
900mg, IV, a cada 8 horas até o parto
FIGURA 3 Regimes recomendados para profilaxia antibiótica intraparto para prevenção GB.
TPP com membranas intactas.108 O parto é provável dentro de uma semana após a rup-
tura. No entanto, quanto mais cedo na gravidez ocorre a ruptura, maior o período de
latência.109 Clinicamente evidente, infecção intra-amniótica irá desenvolver-se em 13 a
60% dos casos, havendo a probabilidade de risco aumentado por exame de toque.72.110
As principais ameaças ao feto são complicações da prematuridade. Complicações intrau-
terinas incluem compressão do cordão umbilical, descolamento da placenta, infecção e
anormalidades do desenvolvimento pulmonar.111 A infecção pode levar à morbidade
materna e provavelmente desempenha seu papel no início do trabalho de parto.
86 ALSO
Avaliação por ultrassom: o oligoidrâmnio suporta o diagnóstico de rup-
tura da membrana. Os oligoidrâmnios também diminuirão a precisão do peso
fetal e a avaliação gestacional. Volume amniótico baixo aumenta a probabili-
dade de compressão de cordão e outras complicações.
Avaliação da maturidade pulmonar fetal: fluido amniótico vaginal pode
ser testado para a contagem de corpos lamelares e fosfaditilglicerol para avaliar
a maturidade pulmonar fetal em gestação de 32 e 34 semanas.112,113 A amnio-
centese permite a coleta de líquido para teste de maturidade pulmonar fetal e
avaliação de infecção.108
Triagem para infecção: a infecção está associada à RPM. Se o status GBS
é desconhecido, então a cultura deve ser feita. Considere o rastreamento de
infecções sexualmente transmissíveis.
Monitorização fetal: monitorização eletrônica da frequência cardíaca fetal
e contração uterina durante a avaliação inicial pode identificar comprometi-
mento fetal.
Manejo da RPM
Como no caso do TPP com membranas intactas, o manejo da RPM exige equilíbrio
entre as vantagens de postergar o parto e os riscos de prolongar a exposição fetal a
um ambiente potencialmente hostil. O potencial de desenvolvimento de infecção e a
probabilidade decrescente de morbidade neonatal são anúncios da prática padrão atual
de indução do trabalho de parto com 34 semanas.114 Além desse padrão, os ensaios
clínicos não demonstraram vantagens claras no parto eletivo.115.116
Monitorizar a infecção clínica: febre materna, sensibilidade uterina e ta-
quicardia fetal são indicadores de infecção.
Avaliação do bem-estar fetal pré-parto: as recomendações para vigi-
lância fetal pré-natal são baseadas principalmente na opinião de especialistas,
como o teste sem estresse e o perfil biofísico fetal.108.117
Terapia com antibióticos: nas gestações entre 24 e 32 semanas, a admi-
nistração de antibióticos prolonga a fase de latência e diminui a morbidade
fetal, corioamnionite e infecção materna.118 Os regimes de antibióticos que
incluem a ampicilina 1g por via intravenosa a cada 6 horas são adequados
para a profilaxia de GBS, apesar de um intervalo de dosagem de 4 horas ser
típico para profilaxia GBS intraparto.75 A dose oral de 1g de azitromicina tem
sido substituída, em alguns protocolos, para eritromicina sem alteração apa-
rente nos resultados.119,120 Os antibióticos e respectivas dosagens usados em um
grande estudo do National Institute of Child and Human Development (NICHD)
estão listados na tabela 11.121
88 ALSO
mais baixas de desconforto respiratório, ventilação mecânica, permanência em
UTI e parto cesáreo, mas significativamente maior nas taxas de hemorragia
pré-parto ou intraparto, febre intraparto, uso de antibióticos pós-parto e maior
permanência hospitalar.125 Os autores concluíram que é razoável indicar trata-
mento expectante para mulheres com TPP tardio.125
24 0/7 a 33 6/7 semanas: administre antibióticos e corticosteroides. Adi-
cione sulfato de magnésio para neuroproteção quando estiver em trabalho de
parto se tiver menos de 32 semanas de idade gestacional. Monitorizar infec-
ções e outras complicações fetais intrauterinas. Se não houver evidência de
comprometimento fetal e o trabalho de parto não começar espontaneamente,
essas gestações são gerenciadas com expectativa até atingir 34 semanas.
23 0/7 a 23 6/7 semanas: considere administrar antibióticos e corticosteroi-
des com base na escolha dos pais somente após aconselhamento com a neona-
tologia e com a medicina fetal quanto aos resultados das intervenções, incluindo
o parto cesáreo e a reanimação para prematuridade extrema. Adicione sulfato de
magnésio para neuroproteção quando estiver em trabalho de parto.86
RPM no Termo
A ruptura das membranas antes do início do trabalho de parto ocorre em 8% das
gestações após as 37 semanas de gestação. Na maioria das mulheres, a RPM a termo
é seguida rapidamente pelo trabalho de parto espontâneo. Noventa e cinco por cento
irá nascer em 28 horas após RPM.72,126
A infecção materna e neonatal são as principais preocupações quando a RPM
não é seguida rapidamente pelo trabalho de parto espontâneo. A profilaxia antibiótica
e a indução precoce mostraram benefícios na redução da infecção em bebês de mães
com RPM e colonizadas com GBS.127 A conduta de indução (em comparação com a
expectante) mostra uma redução na corioamnionite e endometrite sem afetar o risco
de parto cirúrgico. Indução planejada não teve efeito sobre o número de infecções
neonatais, mas fez reduzir o número de admissões em UTIN.128 A administração
rotineira de antibióticos na RPM não reduz a sepse neonatal, infecções maternas,
natimortos ou mortalidade neonatal, embora a qualidade dos estudos incluídos seja
considerada baixa.129
Via de Parto
90 ALSO
de intolerância fetal ao trabalho de parto. A episiotomia profilática ou a aplicação de
fórceps não têm nenhum benefício para o feto prematuro. O parto assistido a vácuo
não deve ser realizado em menos de 34 semanas devido ao risco de hemorragia
intracraniana.135.136
Implicações Globais
Os países de baixa renda geralmente não possuem os recursos necessários para a pre-
venção e gestão do TPP. Bebês nascidos com 32 semanas, que podem ter tido uma
vida normal em outras partes do mundo, podem morrer de insuficiência respiratória
porque não estão disponíveis respirador e surfactante, assim como infraestrutura para
o transporte rápido a uma facilidade terciária. Em 2012, foi lançado “Born Too Soon:
O Relatório de Ação Global sobre nascimento prematuro”. Ele lista as primeiras es-
timativas em âmbito mundial de nascimento prematuro e revelou que existem cerca
de 15 milhões de nascimentos prematuros por ano137, com mais de 85% ocorrendo
na Ásia e na África.138 Em 2014, as partes interessadas que criaram esse relatório
também divulgaram “Todos os recém-nascidos: um plano de ação para evitar mortes
evitáveis”. Os componentes do plano de ação para o nascimento prematuro incluíam
acesso mundial à reanimação do recém-nascido, corticosteroides de baixo custo,139 e
cuidados como o método mãe-canguru, em que o cuidado materno pele-a-pele é
usado no lugar de uma incubadora. Outros pediram cautela com a introdução de
corticosteroides até que haja evidências que sustentem os benefícios em ambientes
com poucos recursos.140 Um ECR sobre o tratamento com CCA foi realizado em
seis países: Argentina, Guatemala, Índia, Quênia, Paquistão e Zâmbia.141 O estudo não
mostrou benefício do tratamento com CCA e aumento das taxas de infecção mater-
na. Pesquisas adicionais são necessárias para esclarecer o papel do tratamento da CCA
em ambientes com poucos recursos.
Classificação
Recomendação clínica Referências
da evidência
92 ALSO
Força das recomendações taxonômicas (SORT)
Força da recomendação
A) Recomendação baseada em evidências consistentes e de boa qualidade orientadas ao
paciente.
B) Recomendação baseada em evidências inconsistentes ou de qualidade limitada,
orientadas ao paciente.
C) Recomendação baseada em consenso, prática usual, opinião, evidência orientada para a
doença ou série de casos para estudos de diagnóstico, tratamento, prevenção ou triagem.
A evidência orientada ao paciente mede os resultados que são importantes para os
pacientes: morbidade, mortalidade, melhora dos sintomas, redução de custos e qualidade
de vida. As evidências orientadas a doenças medem os desfechos intermediários,
fisiológicos ou substitutos que podem não refletir a melhora nos resultados do paciente
(por exemplo, pressão arterial, química do sangue, função fisiológica, achados patológicos).
UTIN = unidade de terapia intensiva neonatal; RPM = ruptura prematura de membranas.
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OBJETIVOS
Introdução
A gravidez compromete muitas condições médicas por causa das complexas
interações entre a mulher, a patologia e o tratamento. A compreensão dessas
interações é crucial para otimizar os resultados para a mulher e para o bebê. A
mulher é a prioridade em qualquer emergência médica, pois o feto depende
dela para suporte fisiológico. Por exemplo, ao se controlar uma convulsão
eclâmptica, todo esforço é direcionado para apoiar as funções vitais maternas
e utilizando as medidas de tratamento crítico requeridas.1,2 A preocupação
com o feto é evidenciada pela escolha da conduta expectante para o trata-
mento da pré-eclâmpsia sem sinais de deterioração quando a idade gestacional
fetal é inferior a 37 semanas de gestação,3-6 administração de corticosteroides
pré-natais quando o parto é indicado antes das 37 semanas de gestação7,8 e
cuidadoso controle da pressão arterial (PA) para evitar a insuficiência utero-
placentária iatrogênica devido à hipotensão.9 Este capítulo se concentra em
quatro complicações médicas potencialmente fatais: pré-eclâmpsia com sinais
de deterioração, eclâmpsia, síndrome HELLP e fígado gorduroso agudo da
gravidez (FGAG). As síndromes hipertensivas são as complicações médicas
mais comuns da gravidez, enquanto o FGAG é um distúrbio incomum exclu-
sivo da gravidez que causa morbidade e mortalidade significativas.10,11
106
durante a gravidez é diferenciar as doenças que antecedem a concepção daquelas
específicas da gravidez. O relatório de 2013 do American College of Obstetrics and Gyne-
cologists (ACOG) Task Force on Hypertension in Pregnancy modificou alguns aspectos das
síndromes hipertensivas da gestação classificadas anteriormente. Entretanto, o relató-
rio manteve um sistema de classificação preciso e prático que considera a hipertensão
durante a gravidez em apenas quatro categorias: hipertensão crônica (de qualquer
causa), hipertensão crônica com pré-eclâmpsia sobreposta, pré-eclâmpsia-eclâmpsia e
hipertensão gestacional.10
Hipertensão Crônica
Durante a gravidez, a hipertensão crônica é definida por pressão arterial elevada pre-
viamente à concepção ou detectada antes das 20 semanas de gestação.10,13 Os critérios
incluem PA acima ou igual a 140/90mmHg medida em duas ocasiões e com no
mínimo 4 horas de intervalo, antes da gravidez ou até 20 semanas de gestação, ou
que persiste além das 12 semanas de pós-parto. A hipertensão crônica está associada
a resultados perinatais adversos, incluindo pré-eclâmpsia, restrição de crescimento
intrauterino (RCIU) e descolamento da placenta. A gravidade da PA materna na 20a
semana de gestação associa-se com resultados piores.14
A farmacoterapia para hipertensão crônica leve a moderada na gravidez não
apresenta benefício fetal comprovado e não demonstrou ser capaz de evitar a pré-
-eclâmpsia.9,15 A redução excessiva da PA pode teoricamente resultar em diminuição
da perfusão placentária e resultados perinatais adversos. Entretanto, o Estudo de Con-
trole da Hipertensão na Gravidez, que randomizou as mulheres entre controle rigo-
roso (meta de PA diastólica [DBP] de 85mmHg) ou um controle menos rígido (meta
de DBP de 100mmHg), não mostrou resultados adversos com o controle rigoroso.15
Quando a PA é maior que 160/105mmHg, de acordo com a ACOG,10 o tratamento
medicamentoso é indicado para prevenir danos aos órgãos terminais maternos.10,16 É
apropriado um limiar mais baixo de PA para tratar mulheres que já apresentam danos
aos órgãos-alvo, tais como insuficiência renal e hipertrofia ventricular esquerda.10
Metildopa, labetalol e nifedipina são as drogas orais mais comumente usadas para
hipertensão grave e crônica na gravidez, conforme relatório de 2013 da ACOG Task
Force on Hypertension in Pregnancy.10 Ensaio controlado randomizado (ECR) com mé-
todo aberto comparando esses três agentes mostrou que a nifedipina é mais eficaz,
com nifedipina e labetalol mais eficazes do que a metildopa; entretanto, todas as três
permanecem opções aceitáveis.17 Os inibidores da enzima conversora da angiotensi-
na (ECA) e os antagonistas dos receptores da angiotensina II não devem ser usados
devido à associação com RCIU, insuficiência renal neonatal, oligoidrâmnios, efeitos
dos oligoidrâmnios (por exemplo, malformações de membros, defeitos de ossifica-
ção craniana, hiperplasia pulmonar) e morte neonatal.10 O betabloqueador atenololol
108 ALSO
Embora não haja evidência de um intervalo ideal para avaliações ultrassonográfi-
cas do crescimento fetal, a cada 4 semanas é uma opção razoável se não houver evi-
dência de RCIU ou pré-eclâmpsia sobreposta. A vigilância pré-natal (por exemplo,
biofísica modificada – teste de não estresse com índice de líquido amniótico – ou
perfil biofísico) é recomendada para mulheres com hipertensão crônica que requerem
drogas anti-hipertensivas ou que têm RCIU ou pré-eclâmpsia sobreposta.13
Hipertensão Gestacional
O Grupo de Trabalho sobre Hipertensão Arterial na Gravidez do Programa Norte-
-Americano de Educação para Hipertensão Arterial recomendou que o termo hi-
pertensão gestacional substitua o termo hipertensão induzida pela gravidez.10 As
mulheres que desenvolvem hipertensão após 20 semanas de gestação e não têm pro-
teinúria significativa ou outros critérios para pré-eclâmpsia devem ser diagnosticadas
com hipertensão gestacional. A hipertensão gestacional é um diagnóstico provisório
usado para um grupo heterogêneo de mulheres incluindo: aquelas que eventualmente
desenvolverão proteinúria ou outros critérios de pré-eclâmpsia e serão diagnosticadas
com pré-eclâmpsia durante a gravidez ou pós-parto, aquelas que terão hipertensão
persistente após 12 semanas e serão diagnosticadas com hipertensão crônica e aquelas
que não desenvolvem pré-eclâmpsia cuja PA se normaliza no período pós-parto. As
mulheres do último grupo acabam sendo diagnosticadas com hipertensão transitória
de gravidez.10
A hipertensão gestacional não é uma categoria benigna. Aproximadamente 50%
das mulheres diagnosticadas com hipertensão gestacional entre 24 e 35 semanas de
gestação desenvolvem pré-eclâmpsia.22 O controle correto da hipertensão gestacional
pode reduzir o aumento da taxa de parto cesáreo.23 Se os níveis de PA progridem
para a faixa de gravidade (PAS superior a 160mmHg ou PAD superior a 110mmHg),
então é necessário um controle semelhante à pré-eclâmpsia com características graves,
mesmo que a paciente não tenha proteinúria. Isso porque as mulheres com hiper-
tensão gestacional grave têm resultados perinatais piores do que as mulheres com
pré-eclâmpsia sem sinais graves.24 O ACOG recomenda a indução na 37a semana de
gestação.19 Análise retrospectiva comparando mulheres com hipertensão gestacional,
pré-eclâmpsia sem sinais de deterioração e hipertensão crônica leve mostrou taxas
mais altas de admissão materna em unidades de terapia intensiva, hemorragia pós-
-parto e transfusão de sangue no grupo de hipertensão gestacional.25
110 ALSO
níveis de creatinina sérica a partir da linha de base (se conhecida) sem outra etiologia,
edema pulmonar ou elevação dos níveis de transaminase para o dobro do nível nor-
mal. A presença de sintomas cerebrais ou de visão recentes ou dor persistente grave no
quadrante superior direito ou epigástrica persistente que não responde às medicações
e que não é justificada por nenhum diagnóstico diferencial também é suficiente para
o diagnóstico de pré-eclâmpsia no quadro de PA elevada.10
A etiologia da pré-eclâmpsia permanece desconhecida e nenhum fator causal
único associa todas as teorias (Tabela 1).
Evidências crescentes sugerem que a doença é uma doença multiorgânica e não é
somente hipertensão arterial e proteinúria. É evidente que a placenta tem um papel
central na pré-eclâmpsia.10 Apesar da identificação de muitos biomarcadores e fatores
de risco clínicos (Tabela 2), em estudo com mulheres nulíparas, o benefício preditivo
desses fatores foi reduzido e nenhum deles é rotineiramente identificado.31-33 Uma
taxa de FMS-like tirosina quinase-1 em relação ao fator de crescimento da placenta
de 38 tem um valor preditivo negativo de 99,3% (95% CI = 97,9-99,9).32 Seu uso
para excluir a pré-eclâmpsia é recomendado pelo National Institute for Health and Care
Excellence (NICE) no Reino Unido, mas apenas para o valor preditivo negativo.33 O
teste está atualmente disponível em muitos países.
112 ALSO
semanas de gestação. O estudo do tratamento versus placebo mostrou taxa menor
de pré-eclâmpsia no pré-termo de 1,6% versus 4,3% (risco relativo 0,38; 95% CI =
0,20-0,74). Análise secundária do ensaio ASPRE em 2017 mostrou que a eficácia da
aspirina de baixa dose para prevenir a pré-eclâmpsia pré-termo dependia de alto nível
de conformidade, já que 0,9% das mulheres com mais de 90% de compatibilidade de-
senvolveram pré-eclâmpsia pré-termo em comparação com 3,3% no grupo com menos
de 90% de compatibilidade consistente com um efeito dose-resposta. Metanálise de
45 ECRs mostrou uma relação dose-resposta baseada na dose de aspirina (100mg
versus 60mg) e tempo de início (antes ou após 16 semanas de gestação).42,43 Com base
nesses estudos, o uso de 100 a 150mg pode ser preferível aos 81mg recomendados
pela USPSTF em 2014.
Os controles esperados de mulheres com pré-eclâmpsia sem características graves
podem incluir o exame da PA duas vezes por semana, exames laboratoriais semanais
(hemograma completo, alanina aminotransferase [AST], aspartato transaminase [ALT]
e creatinina), exames de nonstress duas vezes por semana (NST), avaliação semanal
do líquido amniótico ou perfis biofísicos semanais e ultrassonografia para controle
do crescimento fetal a cada 3 a 4 semanas.10 Embora o ácido úrico e desidrogenase
láctica (DHL) sejam comumente avaliados em mulheres com possível pré-eclâmpsia,
esses testes não fazem parte dos critérios para diagnóstico de pré-eclâmpsia com ca-
racterísticas graves. Estudos de Doppler da artéria umbilical fetal são recomendados
como parte da vigilância pré-natal para mulheres com pré-eclâmpsia quando houver
RCIU.10 A decisão de induzir trabalho de parto ou fazer parto cesáreo envolve o
alinhamento dos riscos relacionados à pré-eclâmpsia com o risco de agravamento da
pré-eclâmpsia. O parto é normalmente indicado para mulheres com pré-eclâmpsia
ou hipertensão gestacional na 37a semana de gestação (Figura 1). Essa recomendação
é baseada no ensaio de hipertensão e pré-eclâmpsia no termo (HYPITAT) e nas
recomendações do workshop de 2011 patrocinado pela Sociedade de Medicina Ma-
terno-Fetal (SMFM) e pelo Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento
Humano.44,45 O parto é normalmente indicado para mulheres com pré-eclâmpsia ou
hipertensão gestacional na 37a semana de gestação (Figura 1).
Essa recomendação é baseada no ensaio de hipertensão e pré-eclâmpsia no termo
(HYPITAT) e as recomendações do workshop de 2011 patrocinado pela Sociedade
de Medicina Materno-Fetal (SMFM) e pelo Instituto Nacional de Saúde Infantil
e Desenvolvimento Humano.44,45 Análise secundária do HYPITAT mostrou maior
benefício da indução do parto na prevenção de situações maternas de alto risco e
na redução da taxa de parto cesáreo em mulheres com exame cervical desfavorável,
presumivelmente porque há possibilidade remota do trabalho de parto espontâneo.46
Análise econômica do HYPITAT mostrou economia de custos com a indução de
parto em comparação com o monitoramento expectante.47 A revisão Cochrane de
2017 do parto em comparação com a conduta expectante de 34 semanas até o termo
Não Sim
114 ALSO
Os critérios diagnósticos para pré-eclâmpsia com sinais de deterioração estão lis-
tados na tabela 3.27
A pré-eclâmpsia com sinais de deterioração pode resultar na deterioração de
vários sistemas, podendo ser gradual ou repentina. Cefaleia intensa, distúrbios de
visão e hiper-reflexia progressiva podem anunciar iminência de convulsões gene-
ralizadas (eclâmpsia). O aumento da resistência vascular periférica sobrecarrega o
sistema cardiovascular e pode resultar em edema pulmonar. A diminuição da taxa
de filtração glomerular pode progredir para oligúria e insuficiência renal aguda. Em
geral, a hemodiluição e o aumento da depuração de creatinina reduzem os níveis
de creatinina na gravidez; níveis acima de 0,9mg/dl na gravidez são anormais.49
As manifestações hepáticas incluem níveis elevados de transaminase, hemorragia
subcapsular com dor no quadrante superior direito e ruptura capsular com ris-
co de sangramento intra-abdominal. As coagulopatias relacionadas à pré-eclâmpsia
incluem a síndrome HELLP e a coagulação intravascular disseminada (CIVD). As
complicações obstétricas incluem RCIU, descolamento prematuro da placenta e
morte fetal ou materna.6
A progressão da pré-eclâmpsia só é revertida pelo parto. Pacientes com pré-
-eclâmpsia com sinais de deterioração devem ser internadas, colocadas em repouso
no leito e cuidadosamente monitoradas.10 Os objetivos gerais do tratamento proposto
são prevenção de convulsões, redução da PA para evitar hemorragia cerebral materna
e infarto do miocárdio e agilização do parto com base em decisão que considere a
gravidade da doença e a maturidade fetal. Na tabela 4 são apresentados exemplos de
exames de admissão de pré-eclâmpsia com sinais de deterioração.
O controle da administração de líquidos requer cuidados especiais. A adminis-
tração excessiva de líquidos pode resultar em edema pulmonar, ascite e sobrecarga
cardiopulmonar, enquanto a insuficiência de líquidos pode piorar consideravelmente
o volume intravascular já limitado e levar à maior isquemia dos órgãos terminais. Se o
débito urinário cair abaixo de 25 a 30ml/h, deve ser administrada solução de Ringer-
-lactato ou soro fisiológico normal.50 O líquido por via intravenosa deve ser adminis-
trado na dosagem de 100 a 125ml/h,50,51 e a ingestão total de líquido por via oral e
intravenosa não deve exceder 150ml/h.51 A sondagem vesical de demora com Foley
permite o monitoramento preciso do débito urinário. Com o uso de um cateter de
116 ALSO
Swan-Ganz é possível otimizar o manejo do líquido se houver edema pulmonar e
insuficiência renal, mas não há necessidade de ser usado rotineiramente. A avaliação
por um clínico intensivista é recomendada se o cateter de Swan-Ganz estiver sendo
considerado.50
O volume plasmático é reduzido nas mulheres com pré-eclâmpsia, o que sugere
que o aumento do volume plasmático com solução coloidal pode melhorar a circu-
lação uteroplacentária e os resultados perinatais. Entretanto, faltam dados de risco-
-benefício relativos a essa prática.52
Além da investigação laboratorial básica para pré-eclâmpsia, mulheres com sinais
e sintomas de doença grave podem ser avaliadas com DHL, hemograma e exames
laboratoriais para evidências de hemólise e CIVD, dependendo do quadro clínico.
118 ALSO
A tentativa de parto por via vaginal é recomendada para mulheres que têm pré-
-eclâmpsia com características graves se não houver evidência de comprometimento
materno ou fetal ou outras contraindicações obstétricas.10 As indicações potenciais
para parto cesáreo podem incluir estado de epilepsia, variações graves da PA resis-
tentes ao tratamento medicamentoso ou outras situações indicando piora do estado
materno que se mantém distante do parto (por exemplo, edema pulmonar, trombo-
citopenia grave). Alguns especialistas recomendam o parto cesáreo em mulheres com
fetos com menos de 30 semanas de gestação quando o colo do útero não está maduro,
mas um teste de indução pode ser considerado.10,27
Vigilância Fetal
A avaliação da insuficiência uteroplacentária pode ser obtida usando NSTs, medidas de
fluido amniótico e perfis biofísicos. A razão sistólica e diastólica de Doppler da artéria
umbilical pode detectar a insuficiência uteroplacentária precoce, e este exame é indi-
cado para o feto com RCIU. A presença de fluxo diastólico final da artéria umbilical
é uma indicação para o parto após a administração de corticosteroides, se inferior a 34
semanas de gestação.10 A frequência de monitoramento fetal varia de acordo com o con-
texto clínico. Uma estratégia comum para pré-eclâmpsia sem características graves com
menos de 37 semanas de gestação inclui a realização de NSTs duas vezes por semana e
uma medição semanal do índice de líquido amniótico (ILA) com perfil biofísico para
acompanhamento de NSTs não reativas.10 Aquelas diagnosticadas com pré-eclâmpsia
com características graves devem ser internadas em hospital para observação cuidadosa e
submetidas ao monitoramento fetal diário. Mulheres com hipertensão gestacional com
menos de 37 semanas de gestação podem receber NST e ILA semanais.10 A ultrassono-
grafia para avaliação do crescimento fetal deve ser repetida a cada 3 a 4 semanas.10
Corticosteroides são administrados para acelerar a maturidade pulmonar de fetos
entre 24 e 34 semanas de gestação, seja betametasona (duas doses de 12mg administra-
das por via intramuscular com 24 horas de intervalo) ou dexametasona (quatro doses
de 6mg administradas por via intramuscular com 12 horas de intervalo).56
Eclâmpsia
As convulsões generalizadas da eclâmpsia representam uma emergência obstétrica
com risco de morte que requer atenção imediata e, ao mesmo tempo, respeita o con-
ceito de primum non nocere, ou seja, primeiro não prejudicar.
Fisiopatologia
Eclâmpsia é definida como o aparecimento de convulsões em grávidas com hiperten-
são. O mecanismo preciso que leva às convulsões é desconhecido, mas pode abranger
edema cerebral, vasoconstrição transitória, isquemia ou microinfartos.1
Conduta
Uma convulsão eclâmptica pode ser dramática e perturbadora. O médico é desafia-
do a permanecer calmo e evitar intervenções desnecessárias que podem resultar em
complicações iatrogênicas.1,2
1. Não tente encurtar ou abolir a convulsão inicial usando drogas como
o diazepam ou a fenitoína. Essas drogas podem levar a depressão respi-
ratória, aspiração ou franca parada respiratória, particularmente quando são
administradas repetidamente ou usadas em combinação com o MgSO4. Além
disso, a fenitoína é menos eficaz que o MgSO4 na prevenção de convulsões
eclâmpticas recorrentes.59
2. Proteger as vias aéreas e minimizar o risco de aspiração colocando a
mulher do lado esquerdo e aspirando a boca. Solicite um médico capa-
citado em entubação para estar imediatamente disponível.2 A posição de recu-
peração da reanimação cardiopulmonar do adulto envolve o posicionamento
da paciente o mais lateralmente possível. Permitir a observação da respiração e
evitar qualquer pressão no peito.60 Essa posição ajuda a pessoa semiconsciente
ou inconsciente a respirar e permite a drenagem de fluidos do nariz e da gar-
ganta para evitar aspiração; além disso, maximiza o retorno venoso. Administre
oxigênio suplementar a 10 litros via máscara facial sem respirador durante a
convulsão.
3. Prevenir lesões maternas. Quedas da cama podem resultar em contusões
ou fraturas, e lesões na cabeça podem ser resultado de convulsões violentas.
A observação atenta, o acolchoamento suave e o uso de grades de cama de
hospital podem ajudar a evitar essas complicações.
120 ALSO
4. Administrar o MgSO4 para controlar as convulsões. Se a paciente com
pré-eclâmpsia já tiver recebido uma dose profilática de ataque de MgSO4 e
estiver recebendo infusão de manutenção contínua quando a convulsão ocor-
rer, uma dose adicional de 2g por via IV deve ser administrada durante 15
a 20 minutos. Caso contrário, uma dose de ataque de 6g de MgSO4 deve ser
administrada durante 15 a 20 minutos, seguida por uma dose de manutenção de
2g/h. Não mais que 8g devem ser infundidos durante o período de 1 hora.1,2 O
nível sérico de magnésio pode ser verificado 4 a 6 horas após a dose de ataque e
a dose de manutenção deve ser ajustada de acordo para obter uma faixa terapêu-
tica de 4,8 a 9,6mg/dl, embora haja poucas evidências quanto à faixa terapêutica
ideal.27 Examine o paciente de hora em hora para verificar a presença de refle-
xos tendíneos profundos (RTPs) e o débito urinário adequado.
tação. Se necessário, labetalol ou hidralazina intraparto pode ser usado como descrito
para o tratamento intraparto.18 Os pacientes devem ser avaliados no consultório 7 a
10 dias após a alta hospitalar ou mais cedo se forem sintomáticos.10
Síndrome HELLP
A sigla HELLP descreve uma variante de pré-eclâmpsia com sinais de deterioração
caracterizada por hemólise, enzimas hepáticas elevadas e plaquetas baixas.71 A sín-
122 ALSO
drome HELLP representa desafios significativos para as maternidades. Primeiro, eles
devem manter alto índice de desconfiança para o diagnóstico, particularmente em
pacientes grávidas que estão fora do termo e podem não estar hipertensas; e segundo,
eles devem controlar as complicações do sistema multiorgânico, que ameaçam a vida.
A ciência ainda não explicou por que um pequeno subconjunto de mulheres com
pré-eclâmpsia com características graves desenvolve a síndrome HELLP.
Um dos desafios mais difíceis colocados pela síndrome HELLP é seu extenso diag-
nóstico diferencial. O diagnóstico diferencial da dor no quadrante superior direito
inclui colecistite, hepatite, FGAG, refluxo gastroesofágico, gastroenterite e pancreatite.
Anomalias na urinálise ou na função renal podem sugerir pielonefrite, síndrome he-
molítico-urêmica ou cálculos ureterais. Outras causas de trombocitopenia na gravidez
incluem trombocitopenia gestacional, pseudotrombocitopenia, HIV, púrpura trom-
bocitopênica imunológica, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome antifosfolipídica,
hiperesplenismo, CIVD, púrpura trombocitopênica trombótica, síndrome hemolítico-
-urêmica, trombocitopenia congênita e uso de álcool e outras drogas.74 Alto índice
de suspeita é a chave para o diagnóstico da síndrome HELLP. Qualquer paciente
com relatos de dor no quadrante superior direito ou epigástrica, náuseas, vômitos ou
quaisquer sinais de pré-eclâmpsia deve ser avaliada com hemograma, contagem de
plaquetas e níveis de enzimas hepáticas.75
124 ALSO
com o uso de altas doses de esteroides,73 uma revisão da Cochrane não mos-
trou melhora nos resultados maternos ou fetais além dos benefícios conheci-
dos dos corticosteroides em fetos com menos de 34 semanas de gestação.76 O
único ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo não
mostrou resultados maternos melhorados com o uso de dexametasona anteparto
ou pós-parto, exceto por um tempo reduzido de recuperação da contagem de
plaquetas em mulheres com contagem de plaquetas abaixo de 50.000/mcl.77 O
aumento da contagem de plaquetas pode permitir o uso de anestesia regional.78
Corticosteroides em altas doses não são recomendados para uso rotineiro em
mulheres com mais de 34 semanas de gestação ou durante o período pós-parto.
2. Produtos sanguíneos. Plasma fresco congelado, plaquetas e glóbulos ver-
melhos embalados podem ser necessários para corrigir defeitos de coagula-
ção ou hemorragia aguda. Mulheres com contagem de plaquetas maior que
50.000/mcl provavelmente não terão sangramento excessivo.74 Transfusões
intraparto de plaquetas são indicadas na presença de sangramento significativo
(por exemplo equimose, sangramento de locais de punção, sangramento gen-
gival) ou antes de um parto cesáreo se a contagem de plaquetas for inferior a
50.000/mcl.74 Os médicos podem considerar a transfusão de plaquetas antes
de um parto vaginal quando a contagem de plaquetas for inferior a 10.000 a
20.000/mcl. Entretanto, faltam diretrizes baseadas em evidências, e o momen-
to imprevisível do nascimento pode impedir isso na prática. A anestesia regio-
nal é geralmente considerada segura em mulheres com contagem de plaquetas
acima de 70.000/mcl e pode ser razoável em patamares mais baixos.74
3. Ruptura espontânea de hematoma hepático subcapsular. Essa é uma
complicação com risco de morte que deve ser suspeitada em qualquer paciente
com síndrome HELLP que desenvolva choque e ascite maciça. A laparotomia
emergente pode salvar vidas. Hematoma subcapsular pode ser sugerido pelo qua-
drante superior direito, dor epigástrica ou dor no ombro. O diagnóstico é confir-
mado por tomografia computadorizada (TC) ou ultrassonografia. Se não estiver
falido, o hematoma pode ser monitorado com ultrassonografia ou tomografia
computadorizada em uma instalação com um cirurgião vascular ou geral pron-
tamente disponível e um banco de sangue preparado para transfusões maciças.75
126 ALSO
mulheres com pré-eclâmpsia que não são sintomáticas e têm níveis de PA inferiores a
160/110mmHg não deveriam receber universalmente o MgSO4 para a profilaxia de
convulsões; entretanto, essa recomendação é baseada em evidências de baixa qualidade
e alguns médicos e hospitais podem optar pelo uso do MgSO4 como profilaxia de
convulsões em mulheres com pré-eclâmpsia sem características graves.27 Quando o
MgSO4 não é usado, é importante permanecer vigilante, porque os níveis de PA só
estão ligeiramente elevados em 30 a 60% das mulheres que desenvolvem eclâmpsia.1
A introdução do MgSO4 após o parto pode ser necessária em mulheres que não ne-
cessitaram de MgSO4 intraparto e naquelas com hipertensão arterial com sintomas
cerebrais (por exemplo, cefaleia, visão embaçada), pré-eclâmpsia nova com níveis de
PA gravemente elevados (maior que 160/110mmHg) ou eclâmpsia.
O sulfato de magnésio funciona retardando a condução neuromuscular e depri-
mindo a irritabilidade do sistema nervoso central. Ele não afeta significativamente os
níveis de PA. Um quarto das mulheres tem efeitos adversos, mais comumente rubo-
rização.86 A tabela 5 apresenta um regime de dosagem padrão.
O sulfato de magnésio é excretado pelos rins. Mulheres com função renal normal
não requerem o monitoramento rotineiro dos níveis séricos de magnésio. Entretanto,
mulheres com ausência de reflexos, níveis elevados de creatinina sérica ou diminuição
do débito urinário (menos de 30ml/h) devem ter os níveis de magnésio testados a
cada 6 horas após a administração da dose de ataque para determinar se são necessários
ajustes na taxa de infusão de manutenção.1,88 Um nível terapêutico de magnésio é de
4,8 a 9,6mg/dl. A perda dos reflexos patelares ocorre quando o nível atinge 8 a 10mg/
dl, a sonolência ocorre a 10 a 12mg/dl e a depressão respiratória a 12 a 17mg/dl.89
A toxicidade do magnésio pode levar a paralisia respiratória, depressão do sistema
nervoso central e parada cardíaca. Com a overdose de magnésio, as funções vitais são
perdidas em uma sequência previsível. Se os RTPs estiverem presentes, as concentra-
ções de magnésio raramente são tóxicas.88 A infusão de MgSO4 deve ser interrompi-
da e os níveis de magnésio testados imediatamente se os RTP estiverem ausentes, a
frequência respiratória for inferior a 12 respirações/minuto, ou a produção de urina
for inferior a 30ml/h.1,88 As mortes maternas resultaram de overdose devido à admi-
nistração de soluções mal preparadas.90 O antídoto para a overdose de MgSO4 é 1g
de gluconato de cálcio (10ml de uma solução a 10%) infundido por via intravenosa
durante 2 minutos.50 Evitar administração intravenosa rápida ou extravasamento. Usar
gluconato de cálcio com cautela em mulheres com insuficiência renal, hipofosfatemia
grave ou acidose.
Drogas Anti-Hipertensivas
128 ALSO
Padronização da Conduta dos Síndromes
Hipertensivas Graves Durante a Gravidez
Em 2017, a Parceria Nacional para a Segurança Materna publicou o pacote de segu-
rança para pacientes grávidas com hipertensão grave. O pacote tem quatro campos de
ação para padronizar a conduta: prontidão, reconhecimento e prevenção, resposta e
relatórios e sistemas de aprendizagem. Estudo de 23 hospitais da Califórnia mostrou
o benefício da padronização da conduta na hipertensão grave. Usando o Conjunto de
Ferramentas de Assistência para a Pré-eclâmpsia de Qualidade Materna da Califórnia,
os hospitais conseguiram redução de 42,6% na incidência de eclâmpsia e de 16,7% na
morbidade materna grave.96
O FGAG é uma condição rara que ocorre no terceiro trimestre e pode ser ini-
cialmente diagnosticado como síndrome HELLP devido às semelhanças em achados
clínicos e laboratoriais. A incidência de FGAG é de aproximadamente 1 em 7.000 a
15.000 gestações. Na década de 1980, a mortalidade materna chegou a 85%, mas o
reconhecimento precoce e o parto imediato reduziram a taxa de mortalidade para o
nível atual de 10 a 15% até a década de 2000.11
A fisiopatologia do FGAG envolve função mitocondrial hepática anormal que
leva ao acúmulo de gotículas de gordura em hepatócitos e culmina em falência he-
pática súbita se não for tratada. A etiologia é desconhecida. Grávidas que têm fetos
com deficiência de L-3-hidroxiacil-CoA desidrogenase (LCHAD) de cadeia longa,
uma mutação que afeta a oxidação dos ácidos graxos, têm incidência maior de FGAG.
Recém-nascidos de mulheres com FGAG deveriam ser testados para a deficiência de
LCHAD porque os afetados têm uma taxa de mortalidade de 75 a 90%, que pode ser
reduzida significativamente por meio de tratamento dietético.97
O FGAG apresenta, no terceiro trimestre, sintomas que incluem náuseas e vômi-
tos (71 a 75%), dor na parte superior do abdome (4 a 50%), mal-estar (31%) e icterícia
(29 a 37%).98,99 Os resultados do exame físico são inespecíficos, e o tamanho do fígado
é normal ou pequeno. Com a progressão da doença, a insuficiência hepática se desen-
volve com sinais de coagulopatia, desordens motoras de extremidades, encefalopatia e
coma. Ascite (devido à hipertensão portal), pancreatite e sangramento gastrointestinal
secundário a vômitos graves, esofagite e distúrbios de coagulação associados podem
estar presentes.
Diagnóstico Diferencial
A maioria das mulheres com FGAG são diagnosticadas erroneamente à admissão ini-
cial no hospital.A pré-eclâmpsia e a hepatite são os diagnósticos iniciais mais comuns.98
Tratamento
O tratamento mais importante para o FGAG é o parto, pois a doença não se resolve
enquanto a paciente ainda está grávida e complicações graves podem se desenvolver se
o parto for atrasado. Como no caso da pré-eclâmpsia e da síndrome HELLP, a escolha
entre parto por via vaginal e cesárea deve ser baseada em fatores obstétricos, matu-
ridade fetal e gravidade das complicações clínicas.98 Anestésicos gerais hepatotóxicos
devem ser evitados. A coagulopatia deve ser corrigida, mas a infusão de antitrombina
não demonstrou melhorar os resultados clínicos.98 A hipoglicemia pode ser corrigida
com infusões de 10% de dextrose suplementadas por bolus de 50% de dextrose.98 Se
o diagnóstico e o parto forem realizados precocemente, a melhora pós-parto é tipi-
camente rápida. O estudo do Parkland Hospital mostrou que a resolução da necrose
hepática contínua que ocorre em poucos dias após o parto e a melhora clínica são
comuns em 3 a 4 dias pós-parto. Entretanto, as evidências laboratoriais do FGAG po-
dem persistir por 7 a 10 dias ou mais.101 Raramente o transplante de fígado tem sido
necessário para uma falha de múltiplos sistemas que não melhora com o parto.102 Se
130 ALSO
o FGAG continua a piorar após o parto, a plasmaférese pode ser usada e mostrou re-
sultados promissores em uma série de casos chineses de 39 mulheres.103 A raridade do
FGAG e a melhora clínica pós-parto habitual tornam os ensaios clínicos improváveis.
Resumo
Múltiplas complicações clínicas podem progredir durante a gravidez. O objetivo deste
capítulo foi ter o melhor entendimento clínico dos fatores de risco, diagnóstico e ma-
nejo dos síndromes hipertensivas da gravidez, eclâmpsia, síndrome HELLP e FGAG.
A chave para o diagnóstico dessas condições é a vigilância clínica aliada a exames
laboratoriais ou de imagem apropriados. Um desafio clínico comum é equilibrar o
bem-estar materno e fetal nas decisões de diagnóstico e tratamento.
Considerações na assistência:
síndromes hipertensivas da gestação
Alerta aos sinais e sintomas
Manter a vigilância da qualidade: tamanho adequado da braçadeira, precauções para
convulsões, controle do débito urinário, efeitos adversos das medicações e antídoto
para o sulfato de magnésio
Promover a integração de ações para pacientes de alto risco e revisões pós-evento
Promover a segurança da paciente, incluindo simulações in situ
Protagonizar o conjunto de ações para garantir a segurança materna na hipertensão
com sinais de deterioração na instituição
FCF = frequencia cardíaca fetal.
da Gestação
Síndromes Hipertensivas
ESTEJA PRONTO
Em cada unidade da instituição
Padrão para os sinais de alerta precoces, critérios diagnósticos, monitorização
e tratamento da pré-eclâmpsia grave/eclâmpsia (incluir os algoritmos)
Educação dos protocolos, simulações com base nas condições das unidades
(revisões pós-simulação)
Processo para triagem e avaliação oportunas da gestação e da mulher com
hipertensão no pós-parto
Acesso rápido às medicações para hipertensão grave/eclâmpsia: deve haver
estoque das medicações para uso imediato no pré-parto e parto e em
qualquer outra área onde a mulher possa estar. Incluir orientações rápidas
para administração e dosagem
Sistema planejado dentro das necessidades para escalas de plantão,
solicitação de avaliações e interconsultas, necessidade de transporte materno
RECONHECIMENTO E PROMOÇÃO
Para todas as pacientes
Protocolo padrão para medida e avaliação da PA e proteinúria para todas as
gestantes e puérperas no pós-parto
Resposta padrão para os sinais precoces de alerta maternos, incluindo
queixas e relatos de sintomas e os exames de laboratório (hemograma com
plaquetas, AST, ALT)
Padronização da educação pré-natal e pós-parto, para toda a Instituição, dos
sinais e sintomas de hipertensão e pré-eclâmpsia
132 ALSO
PATIENT
SAFETY
BUNDLE
da Gestação
Síndromes Hipertensivas
RESPOSTA
Para cada caso de hipertensão grave/pré-eclâmpsia
Protocolos institucionais com checklists e políticas de escalonamento para
conduta e tratamento de:
• Hipertensão grave
• Eclâmpsia, profilaxia de convulsões e intoxicação por magnésio
• Hipertensão grave/pré-eclâmpsia no pós-parto
Requerimentos mínimos para o protocolo:
• Chamar o médico ou enfermeiro responsável de PAS =/> 160 ou
PAD =/> 110 em 2 medidas com 15 minutos de intervalo
• O quanto antes, o tratamento deve ser iniciado após a segunda leitura
alterada (de preferência na primeira hora da medição)
• Incluir a dose de ataque e duração do tratamento com sulfato de magnésio
• Incluir medidas de escalonamento caso não haja resposta ao tratamento padrão
• Descrever a conduta e seguimento em 7 a 14 dias pós-parto
• Descrever as orientações e educação pós-parto para as mulheres com
pré- eclâmpsia
Plano de apoio para as mulheres, familiares e profissionais nos casos da
admissão em UTI
RELATÓRIOS/LIÇÕES APRENDIDAS
Em cada unidade de assistência
Estabelecer uma cultura de huddles (pacotes) para as pacientes de alto
risco e revisão e análise de casos pós-eventos com a finalidade de identificar
sucessos e oportunidades
Revisão e análise multidisciplinar de todos os casos admitidos em UTI para
identificar desafios no sistema institucional e oportunidades de melhoras
Monitorar resultados e processar os dados
Nota: As “Unidades ” referem-se a todas as áreas onde a gestante ou puérpera
é assistida. (Unidades de trabalho de parto e parto, cuidados puerperais,
emergência, pronto-socorro...).
© 2015 American College of Obstetricians and Gynecologists. Permission is hereby granted for duplication and distribution of this document, in its entirety and
without modification, for solely non-commercial activities that are for educational, quality improvement, and patient safety purposes. All other uses require
written permission from ACOG.
Standardization of health care processes and reduced variation has been shown to improve outcomes and quality of care. The Council on Patient Safety in Women’s
Health Care disseminates patient safety bundles to help facilitate the standardization process. This bundle reflects emerging clinical, scientific, and patient safety
advances as of the date issued and is subject to change. The information should not be construed as dictating an exclusive course of treatment or procedure to
be followed. Although the components of a particular bundle may be adapted to local resources, standardization within an institution is strongly encouraged.
The Council on Patient Safety in Women’s Health Care is a broad consortium of organizations across the spectrum of women’s health for the promotion of safe
health care for every woman.
Traduzida de Council on Patient Safety in Women’s Health Care. AIM-Supported Patient Safety Bundles. Severe Hypertension in Preg-
nancy. Disponível em https://safehealthcareforeverywoman.org/.
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OBJETIVOS
Introdução
Uma paciente de 22 anos, 3G2PC, procura a maternidade na 28a semana
de gestação após episódio de sangramento vaginal. Inicialmente, ela perdeu
muco com manchas de sangue, mas 1 hora antes da admissão apresentou san-
gramento vermelho vivo em grande quantidade. O primeiro parto foi cesáreo
por distocia, e o segundo, cesárea eletiva com 38 semanas.
Outra paciente, primigesta de 30 anos de idade, está sob indução com
ocitocina na 36a semana por pré-eclâmpsia. Sua pressão arterial tem-se manti-
do em 170/110 e ela está recebendo sulfato de magnésio. Está com dilatação
cervical de 6cm por 1 hora e apresenta dor entre as contrações. Grande quan-
tidade de sangramento vaginal ocorreu após o exame cervical.
Qual é a causa do sangramento vaginal nesses casos? Quão agudo ou
perigoso é?
Quais passos devem ser tomados para o diagnóstico e tratamento?
O sangramento vaginal na segunda metade da gestação está associado a
riscos maternos e fetais. Além da morbidade materna secundária à hemorragia
aguda e parto operatório, o feto pode ser comprometido por insuficiência
uteroplacentária, parto prematuro e morte perinatal.1,2
O manejo otimizado do sangramento no final da gravidez depende da
exatidão na identificação da causa e pronta intervenção específica para sua
gravidade.
142
Causas de Sangramento no Final da Gestação
As quatro condições que respondem pela maioria dos casos de hemorragia grave ou
com risco de morte são placenta prévia, descolamento prematuro de placenta, ruptura
de cicatriz uterina e vasa prévia. Causas não emergenciais de sangramento incluem
dilatação cervical durante o trabalho de parto normal, geralmente acompanhado de
pequena quantidade de sangue ou muco tingido de sangue (sinal do parto). Muitas
gestantes apresentam spotting ou pequeno sangramento após relação sexual ou exame
vaginal digital. Cervicite, ectrópio cervical, pólipo cervical e câncer de colo do útero
são outras possíveis causas de pequeno sangramento.
A história, o exame físico, a ultrassonografia para localização placentária e breve
período de observação geralmente diferenciam sangramento discreto de causas graves
de hemorragia vaginal. O exame especular pode ser realizado com segurança antes da
avaliação ultrassonográfica; entretanto, o exame de toque digital não deve ser realizado
até que a ultrassonografia exclua placenta prévia.2
144 ALSO
Placenta Prévia
Definições e Fisiopatologia
A placenta prévia ocorre quando a placenta recobre ou está em proximidade ao orifí-
cio interno do colo.8 A fisiopatologia da placenta prévia não é totalmente entendida.
Normalmente, a implantação placentária favorece a localização no fundo uterino.
Conforme a gestação progride, a aparente “migração” da placenta se distanciando do
segmento inferior é causada pelo crescimento do trofoblasto em direção ao fundo,
com seu suprimento sanguíneo abundante, e pelo desenvolvimento ou estiramento
do segmento uterino inferior. A implantação anormal da placenta pode ocorrer quan-
do existe alteração ou cicatriz na cavidade uterina.
A ultrassonografia transvaginal permite avaliar precisamente a distância entre o
orifício interno do colo e a borda placentária. A placenta é descrita como completa
ou centrototal quando recobre o orifício interno do colo e como marginal quando
sua borda atinge até 2cm do orifício interno. Quando a borda está entre 2 e 3,5cm
(1,4 polegada) do orifício interno, a placenta pode ser descrita como de inserção
baixa.9
Epidemiologia
A placenta prévia é um achado comum na ultrassonografia de segundo trimestre, pre-
sente em aproximadamente 4% dos exames realizados entre 20 e 25 semanas, porém em
apenas 0,4% das gestações a termo.10 A probabilidade de uma placenta prévia persistir
até o termo aumenta quando se tratar de prévia completa, se está presente em idade
gestacional mais avançada ou quando existe antecedente de parto cesáreo.11-12
A extensão da placenta que recobre o orifício interno do colo entre 18 e 23 sema-
nas é altamente preditiva para a persistência da placenta prévia.13,14 Se esta extensão for
menor que 1,5cm (0,6 polegada) entre 18 e 23 semanas, a placenta prévia geralmente
se resolve14; se a extensão for de 2,5cm (1 polegada) ou mais de 20 a 23 semanas, a
persistência no termo é provável.13 Avaliação ultrassonográfica de rotina no final da
gestação em pacientes de baixo risco ou na população não traz benefícios à mãe ou
feto e pode aumentar os índices de cesárea.15
Os fatores de risco associados com a placenta prévia incluem hipertensão crônica,
multiparidade, gestação múltipla, idade materna avançada, cesárea anterior, curetagem
uterina, pré-natal inadequado e feto do sexo masculino.2,10,12,16 A incidência de pla-
centa prévia em mulheres em sua terceira cesárea é de 2,3%.17
Morbidade
A morbidade materna associada com a placenta prévia pode ser causada por hemor-
ragia materna, parto cesáreo ou inserção placentária anormal, especificamente, pla-
Quadro Clínico
A placenta prévia sintomática geralmente se manifesta como sangramento no final do
segundo ou terceiro trimestre, frequentemente após relação sexual. O sangramento é
indolor, a não ser que aconteça trabalho de parto ou descolamento de placenta. Uma
placenta com grande área central tipicamente poderá apresentar sangramento entre
26 e 28 semanas, o chamado “sangramento sentinela”. O sangramento sentinela ini-
cial geralmente é insuficiente para gerar instabilidade hemodinâmica ou trazer risco
ao feto, desde que na ausência de manipulação cervical ou exame digital.
Diagnóstico
146 ALSO
transabdominal, a ultrassonografia transvaginal deve ser realizada. A via transvaginal
é segura e mais acurada que a ultrassonografia transbadominal na localização da
borda placentária e do orifício interno do colo. Essas estruturas sofrem sobreposição
de sombra acústica da sínfise ou do feto em até 50% dos exames transabdominais,
enquanto a adição da ultrassonografia transvaginal esclarece o diagnóstico em 26%
dos casos.2
O conhecimento da situação fetal e a posição da placenta são importantes antes
do parto operatório,10 já que podem afetar a decisão de incisão uterina. A inserção
gentil de um espéculo para visualizar o fundo vaginal e o colo não deve resultar em
descolamento de placenta prévia.2
Manejo
Fisiopatologia
O descolamento prematuro da placenta pode ser devido a causas variáveis. Em alguns
casos, anormalidades do desenvolvimento e implantação placentárias que se iniciam
no primeiro trimestre levam a alterações patológicas específicas que, por sua vez,
provocam descolamento.38 No trauma abdominal fechado, a lesão da interface utero-
placentária pode levar à separação da placenta e hemorragia que pode ser sobre ou
148 ALSO
retroplacentária.44 Em grande estudo retrospectivo sobre todas as mulheres feridas
em unidades de trauma níveis I e II, 84% sofreram trauma fechado e 16% lesões pe-
netrantes. O descolamento prematuro da placenta foi a complicação mais comum,
ocorrendo em 3,5% das mulheres feridas e com mais de 50% de óbito fetal intrau-
terino.45 Outras etiologias de descolamento incluem vasoconstrição associada ao uso
de cocaína e súbita descompressão uterina após a ruptura de membranas ou parto de
primeiro gemelar.38,46
Prevenção
A incidência do descolamento prematuro da placenta pode ser reduzida pela inter-
rupção do tabagismo, do uso de cocaína ou anfetamina e pelo cuidado apropriado
das doenças hipertensivas da gravidez.38,47 Estudo demonstrou a redução na incidência
de descolamento prematuro da placenta intraparto no tratamento da pré-eclâmpsia
utilizando sulfato de magnésio (risco relativo 0,64; IC 95% = 0,5 a 0,83).47
Gestantes envolvidas em acidentes automobilísticos graves têm risco aumentado
de descolamento prematuro da placenta e o uso apropriado do cinto de segurança fre-
quentemente não é evitado devido ao desconforto.48 Esforços para desenvolver novos
sistemas de cintos de segurança para gestantes devem ser encorajados.
Quadro Clínico
O descolamento prematuro da placenta tipicamente se manifesta como sangramen-
to vaginal associado à dor abdominal, que pode variar de cólicas leves a dor intensa.
Pacientes com descolamento de placenta posterior podem queixar-se de dor lombar
em vez de abdominal e aquelas com descolamento devido a trauma podem referir
dor sem sangramento (hemorragia oculta). Tem sido relatado que o descolamento
prematuro da placenta oculto ocorre em 20 a 63% dos casos.49-52 Embora as taxas de
hemorragia oculta variem muito e não tenham sido estudadas em grande número de
mulheres, é importante que o clínico esteja ciente da possibilidade de descolamento
significante na ausência de sangramento vaginal.53
A história da paciente deve incluir questões relacionadas a trauma (inclusive vio-
lência doméstica), presença de dor e contrações, ruptura de membranas, avaliação
de fatores de risco, incluindo história de hipertensão (ou sinais e sintomas de pré-
-eclâmpsia) e uso de estimulantes (cocaína, anfetaminas).
O sangramento pode ser vivo, escuro ou misturado ao líquido amniótico. O san-
gue de hemorragia oculta é geralmente escuro, tendo sido coletado atrás das membra-
nas. A quantidade de sangramento não é indicativa da gravidade do descolamento.38
Pode ser difícil determinar se o sangramento representa um sangramento de trabalho
de parto exuberante ou descolamento. Se o sangramento é percebido no momento
da ruptura das membranas, deve-se considerar também vasa prévia.
Os batimentos cardíacos fetais e a atividade uterina devem ser documentados por mo-
nitorização contínua.7 Contrações “tetânicas” podem estar presentes e, se verificadas por
um cateter de pressão intrauterina, são geralmente registradas como tônus basal alto com
pequenas contrações sobrepostas e frequentes. A presença desse achado é significativa,
como será frequentemente acompanhada de um traçado fetal de categoria II ou III.
O exame ultrassonográfico pode demonstrar a presença de coágulo retroplacen-
tário ou hemorragia; entretanto, coágulos sanguíneos agudos e placenta são hipere-
coicos ao ultrassom, podendo ser de difícil diferenciação.54 Assim o diagnóstico do
descolamento é iminentemente clínico e o manejo de urgência nunca deverá ser
retardado por uma confirmação ultrassonográfica se mãe e feto se encontram estáveis.
A localização e aparência placentárias, situação fetal e estimativa de peso podem ser
importantes no planejamento do cuidado. Achados ultrassonográficos, se presentes,
podem incluir ecoluscência retroplacentária, espessamento anormal da placenta ou
imagem de “borda rasgada” da placenta.
A tomografia computadorizada é capaz de identificar o descolamento prematuro
da placenta em gestantes após trauma.55
Manejo
Descolamento Leve
Uma paciente estável, com pequeno descolamento parcial e feto pré-termo, pode ser
conduzida com sucesso de modo conservador. A tocólise geralmente é contraindica-
da, exceto no descolamento leve, antes de 34 semanas de gravidez, quando pode ser
utilizada para permitir a administração de corticosteroides.57 É importante lembrar
que o sulfato de magnésio pode estar indicado antes das 32 semanas, não como to-
colítico, mas para neuroproteção fetal, reduzindo a incidência de paralisia cerebral em
prematuros.
Mulheres apresentando sangramento recorrente atribuído à separação placentária
podem ser diagnosticadas como portadoras de descolamento crônico. A conduta será
baseada no grau de sangramento e na idade gestacional. Quando a conduta expec-
150 ALSO
tante é realizada no caso de descolamento crônico, ultrassonografias seriadas para
crescimento fetal e vigilância anteparto são indicadas no terceiro trimestre devido ao
potencial de insuficiência uteroplacentária.39
Descolamento Grave
Ruptura Uterina
Epidemiologia e Fisiopatologia
152 ALSO
Quadro Clínico
Manejo
Vasa Prévia
Vasa prévia é a inserção velamentosa do cordão umbilical nas membranas no segmen-
to uterino inferior, resultando na presença de vasos fetais entre o colo e a apresentação
fetal. Embora seja incomum (a incidência é de 1 em 1.275 a 5.000 nascidos vivos), é
importante que os profissionais estejam familiarizados com a vasa prévia, pois a pronta
intervenção é essencial para a sobrevivência fetal.10,78
154 ALSO
Manejo
O parto não deve ser postergado para confirmação de sangue fetal em mulheres com hemorra-
gia grave ou quando a frequência cardíaca fetal não é tranquilizadora. Se o surgimento do
sangramento vaginal ocorreu com a ruptura das membranas e a frequência cardíaca
fetal não é tranquilizadora, a cesárea deve ser realizada imediatamente. Como a exsan-
guinação fetal é causa de mortalidade nessa desordem, a preparação para reanimação
no parto inclui solução salina de 10 a 20ml/kg em bolus para administrar se o recém-
-nascido estiver em choque.78
As taxas de sobrevivência neonatal com diagnóstico antenatal são de 97% compa-
radas com uma taxa de sobrevivência neonatal de 44% sem o diagnóstico prévio. Na
presença de diagnóstico antenatal de vasa prévia, ultrassonografias seriadas são reco-
mendadas para avaliar regressão dos vasos, o que pode acontecer em aproximadamen-
te 15% das mulheres.78,82 Na persistência de vasa prévia, hospitalização entre 30 e 32
semanas deve ser considerada, o que permite a administração de corticosteroides para
promover maturidade pulmonar fetal e proximidade para parto operatório caso as
membranas se rompam. O manejo ambulatorial pode ser considerado para pacientes
assintomáticas, sem atividade uterina e colo longo e fechado à ultrassonografia trans-
vaginal.14 A idade gestacional ideal para a resolução não é determinada, mas o parto
cesáreo entre 35 e 36 semanas tem sido recomendado para balancear o risco da sín-
drome de angústia respiratória e de ruptura de membranas e exsanguinação fetal.10,78,82
Prevenção
Não existem estratégias para a prevenção primária da vasa prévia; entretanto, a hemor-
ragia é teoricamente prevenida com rastreamento antenatal para mulheres de alto risco
e parto cesáreo entre 35 e 36 semanas quando a vasa prévia estiver presente. O rastrea-
mento é realizado com ultrassonografia transvaginal Doppler colorido para identificar a
presença de vasos fetais nas membranas. Rastreamento na população geral não tem sido
recomendado, visto que a condição é rara (um diagnóstico a cada 5.215 rastreamentos).85
O rastreamento é recomendado em mulheres de alto risco78, incluindo seguimen-
to após a detecção de placenta baixa, bilobada ou sucenturiada em exame de rotina
ou em mulheres que engravidaram por FIV.10,79 Avaliação cuidadosa da placenta, in-
cluindo o local de inserção do cordão umbilical na ultrassonografia de rotina, pode
identificar mulheres de maior risco para vasa prévia.78
Resumo
O sangramento vaginal no final da gestação pode ocorrer devido a condições de
potencial risco à vida para a mãe e o recém-nascido. Os profissionais de saúde de-
156 ALSO
SORT: PONTOS ESSENCIAIS PARA A PRÁTICA
Grau de
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164 ALSO
Distocia
OBJETIVOS
Introdução
Cuidar das mulheres com distocia, literalmente significando trabalho de parto
difícil, é um dos maiores desafios da assistência materna. Embora esta condição
possa não precisar do mesmo tratamento de emergência que outros cenários
clínicos do Curso ALSO, a distocia é comum, e cuidados apropriados basea-
dos em evidências podem melhorar os resultados clínicos. Este capítulo revisa
conceitos importantes no diagnóstico, tratamento e prevenção da distocia.
Distocia refere-se ao trabalho de parto prolongado ou de progressão lenta,
que é comum em mulheres nulíparas, medido pelo número de mulheres que re-
querem condução, parto vaginal assistido ou parto cesáreo. Em 2017, 21,3% das
mulheres nos Estados Unidos receberam condução do trabalho de parto1 e a taxa
primária de cesárea (parto cesáreo em mulheres sem cesárea prévia) nos estados
declarantes foi de 21,9%.1 Em 30 a 50% desses partos, a distocia do trabalho de
parto é citada como indicação para o procedimento.2,3 Embora a taxa geral de
parto cesáreo nos Estados Unidos tenha diminuído ligeiramente nos últimos
anos, ela permanece alta em aproximadamente 32% (Figura 1),1 e, portanto, a
atenção está se concentrando nas duas causas principais da taxa de parto cesáreo
– a distocia do trabalho de parto e a frequência cardíaca fetal (FCF).2 A ampla
variação nas taxas de parto cesáreo por distocia do trabalho de parto sugere que
há necessidade de uma assistência mais cuidadosa e baseada em evidências.2,4-6
A atenção obstétrica deve incluir excelente habilidade em lidar com a distocia.
165
Total de cesáreas Primeira cesárea VBAC
Taxa por 100.000 nascidos vivos
Ano
FIGURA 1 Taxa de primeira cesárea e taxa total de cesáreas e parto vaginal após cesárea
(VBAC) por 100.000 nascidos vivos. Estados Unidos, 1989-2015
Nota: A linha preta indica a taxa de parto cesáreo primário com base em dados nacionais incompletos para nascimentos
nos EUA em 2007 (53%) até 2015 (97%).
Informações da National Partnership for Women & Families. Cesarean Birth Trends in the United States, 1989–2015. 2017.
Disponível em http://www.nationalpartnership.org/research-library/maternal-health/cesarean-section-trends-1989-
2014.pdf; Martin JA, Hamilton BE, Osterman MJK, Driscoll AK, Drake P. Births: Final data for 2016. Natl Vital Stat Rep. 2018;
67(1): 1-55; National Center for Health Statistics. The public use natality file – 2015 update. 2015. Disponível em ftp: //ftp.
cdc.gov/pub/Health_Statistics/NCHS/Dataset_Documentation/DVS/natality/UserGuide2015.pdf.
lho de parto ativo. Durante a fase latente do trabalho de parto, contrações regulares e
dolorosas resultam em mudanças mínimas ou lentas no colo do útero. A fase latente
do trabalho de parto começa com a percepção materna de contrações regulares e do-
lorosas e termina quando a velocidade da dilatação começa a se acelerar.7
Estudos recentes mostram que o trabalho de parto normal pode incluir uma fase
latente mais longa e, portanto, um período de tempo mais longo e uma transição menos
clara para o trabalho de parto ativo do que se pensava anteriormente.8 A reanálise dos
dados do National Collaborative Perinatal Project dos anos 1960, quando menos interven-
ções obstétricas eram praticadas, permitiu que o curso normal do trabalho de parto
espontâneo natural fosse definido com mais precisão. Esta reanálise mostrou que a fase
ativa do trabalho de parto, o início da dilatação rápida, pode não começar para mulheres
multíparas até pelo menos 5cm de dilatação, e pode não começar para mulheres nulí-
paras até uma dilatação ainda maior que seja mais difícil de definir.9 Dados similares de
estudos contemporâneos (Consortium on Safe Labor) sugerem que a fase ativa do trabalho
de parto pode não ocorrer em mulheres multíparas até uma dilatação de 6cm.9,10
166 ALSO
Cuidados com a Mulher na Fase Latente
Distocia 167
uterina, a intolerância fetal ao trabalho de parto e o aumento das taxas de intervenção
operatória.7,21 O parto cesáreo deve ser evitado na fase latente, a menos que certos
critérios sejam atendidos (Tabela 1).2
A fase latente do trabalho de parto pode durar mais tempo em mulheres submetidas
à indução do que em mulheres em trabalho de parto espontâneo.22 Vários estudos
confirmam a segurança clínica de permitir que as mulheres submetidas à indução te-
nham uma fase latente de pelo menos 12 horas após a ruptura de membranas (RM).23
O trabalho de parto induzido demora mais do que o trabalho de parto espontâneo,
particularmente para mulheres nulíparas com menos de 6cm de dilatação. Estudo re-
trospectivo mostrou que cada centímetro de dilatação antes de 6cm poderia durar 2 a
5,5 horas a mais em mulheres sob indução.22 Estudos também mostram que mulheres
com obesidade levam mais tempo para atingir a fase ativa.24,25
Diagnóstico de Distocia
Estudos contemporâneos levaram a novas definições para o trabalho de parto moro-
so.4,9,15 Assim, a questão chave no diagnóstico da distocia é não aplicar os critérios da
fase ativa para a velocidade de dilatação antes de atingir os 6cm de dilatação. Além
disso, os profissionais precisam entender que a dilatação cervical não é linear, particu-
168 ALSO
larmente em mulheres nulíparas em fase inicial do trabalho de parto.9 A implicação
clínica de usar uma curva de trabalho de parto imprecisa é que muitas mulheres são
admitidas antes do início do trabalho de parto ativo, mas ainda assim mantidas às ex-
pectativas tradicionais da taxa de progresso do trabalho de parto ativo.26 Isso resulta
em diagnósticos errôneos de distocia do trabalho de parto seguidos por uma cascata
de intervenções que aumenta o risco de parto cesáreo. Estudo de 2013 mostrou que
mais de 40% das mulheres primíparas e mais de 30% das multíparas que se submetem
ao parto cesáreo por distocia apresentam menos de 5cm de dilatação e não estão em
trabalho de parto ativo.4 Análise dos dados do Consortium on Safe Labor mostrou que
aproximadamente metade dos partos cesáreos realizados por distocia em mulheres
admitidas em trabalho de parto ativo ocorreu quando a dilatação cervical estava fisio-
logicamente correta.15
Não só o início do trabalho de parto ativo é mais tardio e mais difícil de definir
do que se pensava anteriormente, como a velocidade normal da alteração cervical
no trabalho de parto ativo é mais lenta. A tabela 2 lista durações mais precisas do
período do trabalho de parto. Estudo de coorte retrospectivo mostrou que, após
uma dilatação de 6cm, as mulheres nulíparas precisavam em média de 2,2 horas
para atingir a dilatação total (desvio-padrão do percentil 95 = 10 horas, menos de
0,5cm/hora).10
Após uma mulher ter entrado em trabalho de parto ativo (dilatação de 6cm), a
velocidade da dilatação cervical pode acelerar, mas a paciência em relação à veloci-
dade de dilatação permanece importante (Tabela 3).2,9 Na primeira fase do trabalho
de parto, a parada acontece quando uma mulher com pelo menos 6cm de dilatação
e RM não tem nenhuma alteração cervical durante 4 horas ou mais de contrações
adequadas (por exemplo, mais de 200 unidades de Montevidéu [MVUs]) ou 6 horas
ou mais com a administração de oxitocina se as contrações forem inadequadas.2
Distocia 169
TABELA 3 Progresso espontâneo do trabalho de parto de acordo com a dilatação cervical e
paridade
Paridade 0 Paridade 1 Paridade 2 ou maior
Dilatação (cm)
(percentil 95) (percentil 95) (percentil 95)
3-4 1,8 (8,1) – –
4-5 1,3 (6,4) 1,4 (7,3) 1,4 (7,0)
5-6 0,8 (3,2) 0,8 (3,4) 0,8 (3,4)
6-7 0,6 (2,2) 0,5 (1,9) 0,5 (1,8)
7-8 0,5 (1,6) 0,4 (1,3) 0,4 (1,2)
8-9 0,5 (1,4) 0,3 (1,0) 0,3 (0,9)
9-10 0,5 (1,8) 0,3 (0,9) 0,3 (0,8)
Fonte: American College of Obstetricians and Gynecologists; Society for Maternal-Fetal Medicine. Obstetric care con-
sensus no. 1: safe prevention of the primary cesarean delivery. Obstet Gynecol. 2014;123(3):693-711.
170 ALSO
Conduta na Fase Ativa
As estratégias de tratamento em mulheres em fase ativa lenta incluem amniotomia e
condução com oxitocina, ou ambas.
Amniotomia. metanálise mostrou que parturientes submetidas à amniotomia foram
menos propensas à distocia88; da mesma forma, era menos provável o uso de oxitocina
em mulheres que se submeteram a amniotomia rotineiramente (RR 0,73; 95% CI
= 0,57-0,95).27 As nulíparas que se submeteram à amniotomia tiveram um segundo
período de trabalho de parto ligeiramente mais curto (1 a 10 minutos) do que as que
não se submeteram. Entretanto, a amniotomia de rotina por si só no trabalho de parto
espontâneo não teve efeito na duração total da primeira fase do trabalho de parto ou
nas taxas de parto cesáreo.27
Condução. A oxitocina é a base da farmacoterapia para a progressão lenta da primeira
fase do trabalho de parto e diminui a duração total do trabalho de parto. Entretanto,
em estudos randomizados e metanálises que abordam as taxas de parto cesáreo como
resultado, a oxitocina por si só não melhorou as taxas de parto vaginal.28
Amniotomia e uso de oxitocina. Embora a combinação de amniotomia com oxito-
cina possa parecer a estratégia de condução mais eficaz para prevenir a distocia, não há
evidência para o uso combinado no tratamento da distocia. Em ensaios de estratégias
de prevenção da distocia, a condução precoce com amniotomia e oxitocina foi asso-
ciada a uma leve redução no número de partos cesáreos (RR 0,87; 95% CI = 0,77-
0,99) e a uma duração reduzida do trabalho de parto (diferença média = –1,28 hora;
95% CI = –1,97- - -0,59), mas não houve mudança nos resultados neonatais ou mor-
bidade ou satisfação materna (número necessário para tratar [NNT] = 65).29 Apenas
três estudos nessa metanálise foram para o tratamento da distocia, com a combinação
de amniotomia e o uso de oxitocina mostrando não haver redução nas taxas de partos
cesáreos em mulheres com progresso lento no trabalho de parto.
Para parturientes com trabalho de parto prolongado ou em fase ativa morosa, o
profissional pode avaliar a força e frequência das contrações uterinas por palpação ab-
dominal ou por um cateter de pressão intrauterina (IUPC), o que permite o cálculo
das Unidades Montevidéu (UM) (Figura 2). Duzentas UMs ou mais em 10 minutos
é considerada evidência de contrações adequadas.30 O uso de IUPC pode ser mais
benéfico se as contrações parecerem ter frequência e duração suficientes, mas não es-
tiverem produzindo a mudança cervical esperada. Entretanto, uma metanálise mostrou
que o uso de IUPC não parece afetar a duração do trabalho de parto ou as taxas de
parto cesáreo.31 O uso de IUPC pode aumentar o risco de infecção materna e não
deve ser usado rotineiramente.32
Se as contrações forem inadequadas, a administração de oxitocina intravenosa (IV)
aumenta a frequência, duração e força da contração.33 Há inúmeras abordagens para
Distocia 171
FIGURA 2 Medida da intensidade da contração uterina em Unidades Montevidéu (UM)
172 ALSO
corioamnionite associada à febre ou os traçados de FCF de categorias II e III.38 De
fato, na prática clínica, às vezes é difícil determinar se um parto cesáreo está sendo re-
alizado devido à falta de progresso do trabalho de parto ou devido à intolerância fetal
à oxitocina necessária para modificar o progresso do trabalho de parto.39
Posição materna. A posição de uma mulher sem analgesia epidural durante o se-
gundo período do trabalho de parto pode afetar a duração do trabalho de parto em
poucos minutos, mas não as taxas de parto cesáreo.47 O posicionamento da mulher
Distocia 173
em posição vertical pode reduzir o risco de traçados anormais de FCF (RR 0,46; 95%
CI = 0,22-0,93) e parto vaginal assistido em comparação com a posição dorsal hori-
zontal ou de litotomia (RR 0,78; 95% CI = 0,68-0,90), mas pode aumentar o risco
de hemorragia pós-parto (RR 1,65; 95% CI = 1,32-2,60).47 Estudos dos efeitos do
posicionamento vertical no trabalho de parto em mulheres com analgesia epidural são
inconclusivos.48 As mulheres no segundo período do trabalho de parto com ou sem
analgesia epidural devem ser encorajadas a assumir qualquer posição que lhes pareça
mais confortável.
174 ALSO
Prevenção
Os profissionais podem tentar diminuir o risco de distocia com as seguintes estratégias
anteparto e intraparto: realizar intervenções pré-natais para diminuir a incidência de
macrossomia fetal, fornecer suporte emocional contínuo e hidratação, evitar indução
eletiva de parto com colo uterino não maduro, usar analgesia epidural judiciosamen-
te e prevenir a corioamnionite. O American College of Obstetricians and Gynecologists
(ACOG) Committee on Obstetric Practice publicou métodos adicionais para limitar in-
tervenções no parto normal.12
Obesidade
A obesidade materna, particularmente associada ao ganho excessivo de peso materno
durante a gravidez ou diabetes gestacional, aumenta o risco de macrossomia fetal, que
pode predispor as mulheres ao trabalho de parto prolongado e ao parto operatório.54,55
O aconselhamento dietético durante o pré-concepção, interconcepção e assistência
pré-natal pode ajudar as obesas e aquelas com sobrepeso a limitar seu ganho de peso,
o que demonstrou diminuir o risco de distocia do ombro.56 Uma metanálise que tam-
bém incluiu mulheres com peso normal mostrou que essas intervenções no estilo de
vida, incluindo o aconselhamento de atividade física, reduzem o risco de parto cesáreo
(RR 0,91; 95% CI = 0,83-0,9).57,58
A condução de suspeitas de macrossomia permanece controversa. Um TCR mos-
trou menor risco de parto cesáreo e lesão congênita em trabalhos de parto induzidos
entre 37 e 39 semanas de gestação com estimativa de peso fetal superior ao percentil
95,59 enquanto metanálise não mostrou redução geral no parto cesáreo e risco reduzi-
do de distocia do ombro e lesão congênita.60
Nas obesas, os profissionais devem seguir as mesmas diretrizes iniciais para o reco-
nhecimento e tratamento do trabalho de parto disfuncional que para as mulheres sem
obesidade. Entretanto, a paciência com o progresso mais lento do trabalho de parto
em obesas é importante na fase latente, como discutido anteriormente, e no trabalho
de parto ativo. Estudo mostrou que mulheres com sobrepeso ou obesas tiveram fases
ativas de trabalho de parto significativamente mais longas, em comparação com mu-
lheres com peso normal.61 A indução com prostaglandinas parece demorar mais em
obesas;62 estudo retrospectivo também sugere que o misoprostol em vez da dinopros-
tona pode melhorar a probabilidade de parto vaginal em obesas.63 Finalmente, obesas
podem precisar de doses mais altas de oxitocina do que mulheres com peso normal
para atingir contrações adequadas.64
Distocia 1 7 5
cesáreos, particularmente em primíparas.65 O maior efeito sobre o trabalho de parto
ocorre quando são utilizados indivíduos leigos treinados e não clínicos, quando a
analgesia epidural não é utilizada rotineiramente e quando o apoio emocional come-
ça no início do trabalho de parto e é contínuo.65 Uma alternativa potencial de baixo
custo é que a gestante selecione um amigo ou membro da família para receber trei-
namento específico de apoio emocional ao trabalho de parto e parto como parte dos
cuidados pré-natais e para acompanhá-la durante o parto; em estudo, essa estratégia
levou à redução geral na duração do trabalho de parto, mas sem diferença nas taxas
de parto cesáreo.66 Ver Apêndice B para informações adicionais sobre os programas de
doulas nos EUA.67
Hidratação
As taxas de indução nos Estados Unidos, após um declínio,70 aumentaram para 25,7%
em 2017.1 Resultados de estudos recentes mostram que, ao contrário do que se pen-
sava anteriormente, a indução não aumenta e pode até diminuir o risco de parto
cesáreo em comparação com a conduta expectante, embora persistam questões me-
todológicas.71-74 Revisões da Cochrane dos métodos mecânicos de amadurecimento
cervical, misoprostol vaginal e prostaglandina vaginal, mostraram que esses agentes
diminuem a duração do parto, mas não alteram a taxa geral de cesárea para distocia do
parto;71-73 entretanto, o misoprostol oral para indução em comparação com a dino-
prostona vaginal ou a oxitocina pode levar a menos partos cesáreos.74
Em mulheres que recebem oxitocina para indução do parto antes da dilatação de
6cm, alguns resultados de estudos mostram que a taxa de partos cesáreos pode ser re-
duzida interrompendo a infusão com aproximadamente 5cm de dilatação,75 enquan-
to uma metanálise não encontrou nenhum benefício para esta prática.76 Metanálise
mostrou que uma abordagem ao tratamento de pacientes que utiliza indução seletiva
em mulheres que estão no termo ou em curto prazo com fatores de risco específicos
176 ALSO
pode reduzir as taxas de parto cesáreo.77 Análise retrospectiva dos dados transversais
do Consortium on Safe Labor mostrou que a indução eletiva de termo apresentava risco
menor de parto cesáreo do que a conduta expectante, independentemente da parida-
de ou da resposta cervical.78
Em estudo controlado randomizado de 2016 de indução na 39a semana de gesta-
ção em gestantes com mais de 35 anos de idade mostrou altas taxas de parto operató-
rio, mas nenhuma diferença nas taxas de parto cesáreo quando se comparou o parto
induzido com o parto espontâneo.79 Metanálise de seis estudos de coorte comparando
a indução na 39a semana de gestação com a conduta expectante mostrou que a indu-
ção estava associada a risco significativamente menor de parto cesáreo, infecção peri-
parto materna e resultados adversos perinatais (por exemplo, morbidade respiratória,
admissão na unidade de terapia intensiva, mortalidade).80
Finalmente, o estudo Randomized Trial of Induction Versus Expectant Management
(ARRIVE) de 2018 mostrou que, em nulíparas de baixo risco, a indução na 39a sema-
na de gestação reduziu a taxa de parto cesáreo de 22,2% para 18,6% (NNT = 28).81
O que ainda não está claro é como esses resultados são aplicáveis além das mulheres
de baixo risco no estudo e nos hospitais com taxas de parto cesáreo inferior a 18%.81
Embora o estudo tenha incluído mulheres recebendo cuidados em hospitais comuni-
tários, bem como em centros universitários, também permanece incerto se tais resul-
tados podem ser replicados na prática real, em que as pressões em torno da duração da
indução e da capacidade hospitalar/de pessoal podem dificultar a paciência necessária
para a indução.81
Oferecer indução de parto às 39 semanas de gestação deve ser conduzido no con-
texto da tomada de decisão compartilhada.82 Pode ser necessário treinamento para
melhor implementar a tomada de decisão compartilhada na maternidade. Resultados
de estudos recentes mostram que os verdadeiros princípios de tomada de decisão
compartilhada não são utilizados de forma confiável83,84 e as mulheres de grupos so-
ciais marginalizados, particularmente, podem ter risco maior de serem excluídas do
processo de tomada de decisão.85 Além disso, os profissionais e hospitais que oferecem
indução eletiva de parto também devem oferecer apoio ao parto (doulas), o que tam-
bém demonstrou ser eficaz na redução das taxas de parto cesáreo em primíparas.65
Seguir as diretrizes contemporâneas de progresso do trabalho, incluindo o entendi-
mento de que o trabalho de parto induzido leva mais tempo do que o trabalho de
parto espontâneo, também é fundamental ao implementar um protocolo de indução
de parto (ver item Melhoria da Qualidade deste capítulo). A indução eletiva sem in-
dicação obstétrica absoluta só deve ser realizada após 39 semanas de gestação.2
A indução do trabalho de parto com o objetivo de parto vaginal requer paciência
ao permitir tempo adequado para o progresso no trabalho de parto latente e ativo. O
diagnóstico de falha na indução só deve ser feito quando a gestante não tiver contra-
ções regulares (a cada 3 minutos) com alteração do colo do útero após pelo menos 24
Distocia 177
horas de administração de oxitocina, assumindo o bem-estar fetal durante esse tempo.
Se a parturiente tem as membranas intactas, o monitoramento fetal não é relevante
e não há outras preocupações médicas (por exemplo, hipertensão), pode ser possível
interromper os esforços de indução de parto e dar alta à mulher em vez de realizar um
parto cesáreo quando a alteração cervical não estiver ocorrendo.2
Anestesia Epidural
178 ALSO
não aliviar esse desconforto, outra opção para alívio da dor antes de tentar a anestesia
regional é um ensaio de injeções de água destilada (Apêndice C). A eficácia dessas
injeções na redução da dor ou nas taxas de parto cesáreo é discutível. Uma revisão
mostrou que os estudos são inconclusivos.96 Outra revisão, que incluiu testes ligeira-
mente diferentes, mostrou que as injeções de água destilada para dor lombar no parto
a reduziram por até 2 horas e diminuíram o risco de parto cesáreo (RR 0,51; 95% CI
= 0,30-0,87), em comparação com as terapias alternativas; entretanto, a taxa geral de
parto cesáreo foi inferior a 10% no grupo de terapia de comparação.94
Infecção
Melhoria da Qualidade
Certos aspectos dos estilos de atendimento clínico e dos sistemas de saúde podem pre-
venir a distocia do trabalho de parto e o parto cesáreo resultante. Esses incluem a con-
tinuidade do cuidador durante a avaliação do trabalho de parto precoce, incentivando
uma atitude cultural pronatalista em relação ao parto natural,101,102 exigindo uma se-
gunda opinião clínica antes do parto cesáreo não urgente por distocia101 e fornecendo
feedback regular aos profissionais de saúde sobre as taxas de parto cesáreo.103,104
Estudo de menor porte mostrou diminuição da taxa de parto cesáreo na primeira
fase do trabalho de parto, quando as mulheres recebem cuidados de seu profissional
primário de saúde pré-natal em vez de um plantonista.105 A melhoria da qualidade dos
cuidados como parte da segurança geral da maternidade levou a um platô de taxas de
Distocia 179
parto cesáreo.106,107 Finalmente, reduções nas taxas de parto cesáreo foram demons-
tradas em estudos recentes de vários sistemas hospitalares que adotaram o Council on
Patient Safety in Women’s Health Care Safe Reduction of Primary Cesarean Births Patient
Safety Bundle e as diretrizes de consenso da ACOG e Society for Maternal-Fetal Medi-
cine para prevenir o parto cesáreo com segurança.106,107 O recente parecer do Comitê
ACOG sobre estratégias para limitar a intervenção no parto e apoiar o parto vaginal
está alinhado com outras recomendações sobre como evitar a distocia iatrogênica do
parto e partos cesáreos desnecessários.6,12
Resumo
A distocia é comum e requer que os profissionais tenham excelentes habilidades de
avaliação clínica e profundo conhecimento de estratégias não farmacológicas e farma-
cológicas para prevenir e tratar o trabalho de parto não progressivo.
180 ALSO
PATIENT
SAFETY
BUNDLE
Distocia
APOIO À PROPOSTA DE PARTO VAGINAL
PRONTIDÃO, RESPOSTA IMEDIATA
Para pacientes, profissionais e serviços
Construir uma cultura de prestação de serviços e de saúde materna que
valorize, promova e apoie o início espontâneo e o progresso do trabalho de
parto e do parto vaginal e compreenda os riscos de gestações atuais e futuras
da cesárea sem indicação médica.
Otimizar o envolvimento da paciente e da família na educação, no
consentimento informado e na tomada de decisões compartilhadas sobre o
trabalho de parto normal e saudável e o nascimento ao longo de todo o ciclo
de assistência à maternidade.
Adotar técnicas de educação e treinamento de profissionais que
desenvolvam conhecimento e habilidades sobre abordagens que maximizem
a probabilidade de nascimento vaginal, incluindo avaliação do trabalho de
parto, métodos para promover o progresso do trabalho de parto, suporte
ao trabalho de parto, controle da dor (tanto farmacológico quanto não
farmacológico) e tomada de decisão compartilhada.
DIAGNÓSTICO E PREVENÇÃO
Para pacientes
Implementar critérios padronizados de admissão, gestão da triagem,
educação e apoio às mulheres que se apresentam em trabalho de parto
espontâneo.
Oferecer técnicas padronizadas de controle da dor e medidas de conforto
que promovam o progresso do trabalho de parto e previnam o trabalho de
parto disfuncional.
Utilizar métodos padronizados na avaliação do estado do ritmo cardíaco
fetal, incluindo interpretação, documentação usando terminologia NICHD, e
incentivar métodos que promovam a liberdade de movimento.
Adotar protocolos para identificação oportuna de problemas específicos, tais
como herpes e apresentação pélvica, para pacientes que podem se beneficiar
de intervenção proativa antes do parto para reduzir o risco de parto cesáreo.
Distocia 181
PATIENT
SAFETY
BUNDLE
Distocia
RESPOSTA
Para cada trabalho de parto desafiador
Ter disponível um profissional ou cobertura alternativa que garanta respostas
rápidas e eficazes aos problemas do trabalho de parto.
Adotar uma programação padronizada de indução para garantir uma seleção
e preparação adequada das mulheres submetidas à indução.
Utilizar algoritmos, políticas e técnicas padronizadas de trabalho baseadas
em evidências, que permitam o pronto reconhecimento e tratamento da
distocia.
Adotar políticas que esbocem respostas padronizadas a padrões anormais de
frequência cardíaca fetal e atividade uterina.
Disponibilizar conhecimentos e técnicas especiais para diminuir a
necessidade de parto abdominal, tais como a versão pélvica, parto
instrumentado, e protocolos de parto para gemelares.
RELATÓRIOS/SISTEMAS
Para os serviços
Rastrear e relatar os dados e estatísticas de trabalho de parto e cesárea com
detalhes suficientes para: 1. comparar com instituições similares; 2. realizar
análise de casos e sistema para impulsionar a melhoria do atendimento; e 3.
avaliar o desempenho individual do prestador de serviços.
Rastrear os dados e indicadores de desempenho apropriados, que avaliam os
resultados maternos e neonatais resultantes de mudanças nas estratégias de
controle do trabalho de parto para garantir a segurança.
© 2015 American College of Obstetricians and Gynecologists. É concedida permissão para duplicação e distribuição deste documento, em sua totalidade e sem
modificações, apenas para atividades não comerciais que sejam para fins educacionais, de melhoria da qualidade e de segurança do paciente. Todos os outros
usos requerem permissão por escrito da ACOG.
A padronização dos processos de assistência à saúde e a redução das variações têm mostrado melhorar os resultados e a qualidade da assistência. O Council
on Patient Safety in Women’s Health Care dissemina os pacotes de segurança dos pacientes para ajudar a facilitar o processo de padronização. Este pacote
reflete os avanços clínicos, científicos e de segurança do paciente emergentes a partir da data de emissão e está sujeito a mudanças. A informação não deve
ser interpretada como ditando um curso exclusivo de tratamento ou procedimento a ser seguido. Embora os componentes de um pacote particular possam ser
adaptados aos recursos locais, a padronização dentro de uma instituição é fortemente encorajada.
O Council on Patient Safety in Women’s Health Care é um amplo consórcio de organizações em todo o espectro da saúde da mulher para a promoção de
cuidados de saúde seguros para cada mulher.October 2015
Fonte: Council on Patient Safety in Women’s Health Care. AIM-Supported Patient Safety Bundles. Safe Reduction of Primary Cesarean
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190 ALSO
Anexo A
Distocia 191
c) Ocorrem contrações tetânicas (contrações que duram mais de 2 minutos)
d) Desacelerações graves variáveis ou tardias, bradicardia ou taquicardia
ocorrem
e) Padrões de frequência cardíaca fetal menos intensos podem ser controla-
dos por meio da administração de volume em bolus, mudança de posição
e oxigênio a 10 litros/min por máscara expiratória
f) Intervenções como essas devem ser documentadas no prontuário médico
11. Considerar a condução como malsucedida se:
a) A parturiente estiver pelo menos 6cm dilatada com as membranas rom-
pidas e não tiver apresentado nenhuma alteração cervical após 4 horas de
contrações adequadas (definidas como mais de 200UMs em 30 minutos)
por cateter de pressão intrauterina ou 6 horas de contrações inadequadas
sem cateter de pressão intrauterina
b) Sem contrações regulares (a cada 3 minutos) após 24 horas de administra-
ção de oxitocina, de preferência com ruptura de membranas
Informações de várias fontes.
Anexo B
192 ALSO
Anexo C
Distocia 193
Apresentações Anômalas
e Gestação Múltipla
OBJETIVOS
Definições
As definições a seguir são importantes para a discussão sobre apresentações
anômalas (Tabela 1).
A situação refere-se à relação entre o maior eixo fetal e o maior eixo ma-
terno – pode ser longitudinal, transversa ou oblíqua (também referida como
instável).
194
A apresentação refere-se à porção do feto que ocupa a área do estreito superior
ou “que se apresenta” no canal de parto. O feto pode se apresentar pelo occipício (ce-
fálica fletida), face e fronte (cefálicas defletidas), pelve (pélvica) ou ombro (córmica).
A posição é definida a partir de um ponto de referência da apresentação em
relação à pelve materna. Por exemplo, o ponto de referência na cefálica fletida é o
occipital. Quando o occipício fetal aponta para a sínfise púbica materna, ou ante-
riormente, o feto está em posição occipitoanterior (OA – em português, também
conhecida como occipitopúbica – OP). Quando o occipício aponta para a coluna
vertebral materna, a posição fetal é occipitoposterior (OP – em português, também
conhecida como occipitossacra – OS). Posições intermediárias são: occipitoanterior
esquerda (OEA) e direita (ODA); occipitotransversa esquerda (OTE) e direita (OTD);
e occipitoposterior esquerda (OEP) e direita (ODP).
Métodos de Diagnóstico
Existem três métodos para determinar a situação, apresentação e posição fetais. O pri-
meiro método é a manobra de Leopold ou palpação abdominal; o segundo, o exame
vaginal; e o terceiro, um exame de imagem. O ultrassom é o método de imagem prefe-
rido. O exame ultrassonográfico é amplamente utilizado em hospitais e os profissionais
devem ter familiaridade com ele, sabendo ao menos determinar situação, apresentação e
posição fetais. Os raios X são ocasionalmente úteis, particularmente quando é necessário
refinar detalhes, tal como a posição dos membros de uma apresentação pélvica.
Sutura coronária
Fontanela
posterior
Diâmetro
mento-occipital:
12,5cm
Diâmetro
suboccipito-bregmático:
9,5cm
feto pode mesmo se mover para a frente e para trás a partir de assinclitismo anterior
para posterior, conforme a cabeça se acomoda mais profundamente na pelve. Graus
extremos de assinclitismo podem impedir a progressão do trabalho de parto. Assincli-
tismo torna-se fator importante na aplicação adequada do fórceps.
A pelve materna também desempenha papel importante na gênese de várias
apresentações anômalas e no prognóstico do parto. Há quatro tipos “puros” de pel-
ve (Figura 2). A maioria das mulheres tem o tipo ginecoide ou algum tipo inter-
mediário:
Ginecoide (redondo).
Antropoide (oval, com o maior eixo no plano anteroposterior).
Platipeloide (oval, com o maior eixo no plano transversal).
Androide (triangular ou em forma de coração, com o vértice do triângulo
anterior).
Embora uma discussão completa dos tipos de pelve e de pelvimetria seja de uti-
lidade clínica limitada, pode-se admitir que uma pelve estreita como a antropoide
pode causar occipitoposterior persistente; a pelve platipeloide pode provocar parada
em transversa; a pelve androide é prejudicial para o parto com todas as apresentações
anômalas. Pelve inadequada ou pequena pode ser associada com a maioria das apre-
sentações anômalas, baseada principalmente na incapacidade da cabeça para descer,
insinuar ou girar.
196 ALSO
Ginecoide Antropoide Platipeloide Androide
Estreito interno Estreito interno oval (AP) Estreito interno Estreito interno triangular.
circular normal Espinhas proeminentes oval (transverso) Espinhas proeminentes,
Espinhas quase planas pelve anterior estreita
Posição Occipitoposterior
Na posição occipitoposterior (occipitossacra – OS), o feto encontra-se com o occipí-
cio voltado para a coluna vertebral da mãe e sua face para a sínfise e abdome mater-
nos. Em outras palavras, o feto está voltado para cima quando a mãe está em posição
supina ou de litotomia. Normalmente, o feto em posição OS gira espontaneamente
para occipitoanterior e nasce sem necessidade de manobras. Rotação espontânea não
ocorre em 5 a 10% dos casos, nos quais o feto permanece na posição occipitoposterior
persistente.
A causa exata da OS persistente é desconhecida, mas o estreitamento transversal
da pelve pode influenciar a variedade de posição anômala. Todos os occipitoposterio-
res são um pouco defletidos porque o occipício cai de volta para preencher o espaço
à frente do sacro. A combinação de deflexão e apresentação posterior leva a mais diâ-
metros desfavoráveis da cabeça do feto se apresentarem à pelve do que quando o feto
está na posição occipitoanterior.
O diagnóstico das occipitoposteriores é baseado na observação da paciente e no
exame físico. A ultrassonografia pode ser útil, mas às vezes é confusa.
A palpação fácil da fontanela anterior no exame vaginal auxilia o diagnóstico
de posição OS. Isso é verdade porque a fontanela anterior é mais facilmente sentida
quando a cabeça está um pouco defletida. Se a fontanela anterior é palpada, então é
preciso identificar a sutura sagital. Isso pode ser realizado seguindo cada sutura com
o dedo examinador até encontrar a fontanela posterior. Ocasionalmente, uma ore-
lha pode ser palpada, revelando a posição fetal. O exame pode ser confuso devido a
moldagem, sobreposição de suturas, edema e assinclitismo. A dilatação é muitas vezes
198 ALSO
cipício. A mão reproduz e aumenta essencialmente o efeito do levantador do
ânus, agindo como um anteparo para fletir a cabeça. Então uma força rotatória
é aplicada à cabeça, usando como referência qualquer fontanela ou sutura que
possam ser sentidas com o dedo examinador. Alguns profissionais também
rodam a cabeça com o polegar colocado na região temporal. A rotação deve
ser tentada ao mesmo tempo com uma contração, com a mãe fazendo o puxo
para forçar a cabeça para baixo sobre o levantador do ânus (e sobre a mão),
que é o mecanismo natural de flexão e rotação. Um assistente experiente pode
empurrar o ombro fetal no sentido da rotação com pressão suprapúbica. Ro-
tação manual pode ser tentada com a paciente em posição de litotomia, ou na
posição lateral de Sims, ou em quatro apoios.
Uma pergunta comumente feita refere-se a qual mão deve ser usada para
rodar o feto. Se o feto estiver em OS, o profissional naturalmente usa sua mão
dominante. Mas se o feto já estiver um pouco rodado, quer em ODP, quer
em OEP, então a rotação deve ir “para a distância mais curta”. Portanto, uma
ODP deve ser rodada no sentido horário, e uma OEP, no sentido anti-horário.
A mão que deve ser usada é a que faz a pronação durante a rotação: a mão
esquerda para ODP e a mão direita para OEP (categoria C).7 Rotação manual
é parte da “arte suave” de obstetrícia. É uma habilidade negligenciada, mas
que não requer nenhuma tecnologia ou instrumentação. O risco é mínimo.
Com prática, confiança e habilidade, ela vai melhorando. Uma rotação manual
bem-sucedida pode encurtar o segundo período do trabalho de parto e evita
a instrumentação, ou até mesmo um parto cesáreo.
Apresentação Pélvica
A apresentação pélvica ocorre quando a pelve ou nádegas fetais se apresentam no ca-
nal do parto, com a cabeça subsequente no fundo uterino. As apresentações pélvicas
podem ser classificadas como:
Pélvica franca – os quadris estão flexionados e os membros inferiores esten-
didos sobre a superfície anterior do corpo.
Pélvica completa – os quadris e os membros inferiores estão fletidos (sen-
tado ou agachado).
Modo de pés – um ou ambos os membros inferiores são estendidos, com
um ou ambos os pés. Um ou ambos os pés podem ser palpados no toque
200 ALSO
vaginal de uma apresentação pélvica completa, mas a apresentação não é
considerada modo de pé se os joelhos estão fletidos e as nádegas estão mais
baixas do que os pés.
A apresentação pélvica tem muitos fatores predisponentes. A prematuridade é
comumente associada à apresentação pélvica. À medida que o feto se aproxima do
termo, a incidência de apresentação pélvica cai para 3 a 4%.
Outros fatores predisponentes para a apresentação pélvica incluem alta paridade
e relaxamento das paredes uterina e abdominal; anomalias uterinas (incluindo mio-
mas); tumores pélvicos; polidrâmnio; oligodrâmnio; várias anomalias fetais, incluindo
hidrocefalia, anencefalia e síndrome de Down; macrossomia; gravidez múltipla; pla-
centa prévia; desproporção cefalopélvica verdadeira; e parto pélvico anterior. O exa-
me ultrassonográfico morfológico é indicado quando o diagnóstico de apresentação
pélvica é feito no meio do terceiro trimestre ou mais tarde, mas a causa geralmente
não é encontrada.
Diagnóstico
O diagnóstico da apresentação pélvica geralmente pode ser feito por palpação ab-
dominal e exame vaginal. Nas manobras de Leopold, a cabeça firme e arredondada
é sentida no fundo. Infelizmente, é comum não diagnosticar a apresentação pélvica
nas manobras de Leopold durante os exames pré-natais e o diagnóstico não é feito
até que a paciente se apresente em trabalho de parto ou com ruptura da membrana
a termo. Estudo sobre a detecção pré-natal da apresentação pélvica em uma grande
maternidade no Reino Unido mostrou que 27,9% das apresentações pélvicas não
foram detectadas durante o pré-natal e que o percentual subiu de 23,2% para 32,5%
entre 1999 e 2009 respectivamente.13
Ao exame de toque vaginal na apresentação pélvica, pequenas partes ou a pelve
podem ser detectadas. Se pequenas partes são palpadas, é essencial distinguir entre mão
e pé. A pelve em si é lisa e arredondada e pode parecer uma cabeça. A maioria dos
obstetras já teve a experiência de não diagnosticar apresentação pélvica. O segredo é
encontrar fontanelas e suturas com o dedo examinador, o que sempre significa polo
cefálico.
A pelve pode ser confundida com a apresentação do rosto. Na apresentação pélvi-
ca, as tuberosidades isquiáticas e o ânus formam linha reta, enquanto as proeminências
malares e a boca formam um triângulo. Além disso, a pele da nádega fetal é lisa. O pro-
fissional experiente pode identificar a sensação peluda do couro cabeludo. Esse sinal
sutil pode aumentar o índice de suspeita. Ao romper as membranas, se o examinador
encontrar um orifício poderá inserir delicadamente o dedo no mesmo. Se for boca
(significando apresentação de rosto), o feto chupará o dedo. Se for ânus (significando
pelve), o dedo será coberto com mecônio quando retirado.
202 ALSO
Posição genupeitoral
Trendelenburg acentuada
204 ALSO
Posição: supina, leve inclinação lateral esquerda, Trendelenburg, joelhos leve-
mente dobrados.
Abdome com gel de ultrassom (opcional).
Se estiver usando anestesia regional, esperar até que o anestesista confirme que
a pressão arterial é estável porque pode ser difícil distinguir uma bradicardia
fetal de hipotensão em relação ao procedimento da versão em si.
A via de parto ideal para fetos pélvicos tem sido objeto de controvérsia. A maioria
dos fetos pélvicos nos Estados Unidos nasce por cesariana. Em 2003, 85% dos pélvi-
cos foram por cesariana e a taxa atual é superior a 95% em muitas áreas.36,37 A prática
de cesariana de rotina para pélvico foi adotada sem evidências de alto nível que
206 ALSO
apoiem essa intervenção. Cesariana não impede a morbidade infantil, que em alguns
casos podem surgir a partir dos mesmos problemas que causaram a apresentação
pélvica (por exemplo, doença neuromuscular, oligodramnia ou polidrâmnio).38 En-
saio clínico controlado e randomizado, multicêntrico internacional – Term Breech
Trial (TBT) – comparou o parto cesáreo eletivo ao parto vaginal para apresentações
pélvicas com as seguintes características: mais de 37 semanas de gestação, pélvica
franca ou completa e menos de 4.000g de peso fetal estimado.39 Esse ensaio foi fi-
nalizado no início de 2000, após a análise dos resultados de curto prazo, e mostrou
significante redução da mortalidade perinatal e morbidade e nenhum aumento em
complicações graves maternas no grupo de cesariana eletiva.39 Os resultados de
curto prazo do TBT mostraram que a incidência de mortalidade perinatal, mor-
talidade neonatal ou morbidade neonatal grave foi de 1,6% no grupo de parto
cesáreo planejado, em comparação com 5% no grupo de parto vaginal planejado
(risco relativo [RR] = 0,33; intervalo de confiança de 95% [IC] = 0,19-0,56; p <
0,0001). As diretrizes americanas após o TBT sugeriram que parto pélvico vaginal
planejado pode já não ser uma opção aceitável, exceto quando uma mulher recusou
a cesariana recomendada.4,16,40
Após a publicação do TBT, dois estudos adicionais foram publicados que levaram
a uma reconsideração das recomendações que foram feitas após o TBT. Os resultados
neonatais de 2 anos do TBT foram publicados em 2003 e não mostraram diferença
nos resultados de neurodesenvolvimento em 79,6% das crianças que foram acompa-
nhadas por 2 anos.41 Os resultados de 2 anos foram seguidos apenas em centros que
poderiam conseguir mais que 80% em 2 anos de follow-up. A longo prazo demons-
traram que a diminuição do tônus neuromuscular
em 2 horas e outros achados a
curto prazo eram pouco preditivos sobre o desenvolvimento da criança. No subgrupo
seguido por 2 anos, não houve diferença na mortalidade perinatal e resultado neuro-
lógico anormal: 3,1% no grupo de cesariana planejada e de 2,8% no ensaio de grupo
de trabalho (TOL). Dezessete dos 18 bebês com grave morbidade neonatal foram
saudáveis em termos de desenvolvimento aos 2 anos.
O estudo observacional PREMODA ocorreu em 174 centros na França e na
Bélgica.42 Protocolos estritos foram usados e 8.105 mulheres foram seguidas, re-
presentando 4 vezes o número do TBT. Não houve diferença na mortalidade fetal
(0,08% versus 0,15%; RR = 0,64; 95% IC = 0,13-3,06) ou mortalidade fetal/neo-
natal combinada e morbidade neonatal grave (1,6% versus 1,4%; RR = 1,10; 95%
IC = 0,75-1,61) entre os grupos parto vaginal e parto cesáreo planejados. O estudo
PREMODA diferiu do TBT ao exigir ultrassom obstétrico, ter acesso rápido ao
parto cesáreo de emergência e converter-se em cesariana mais cedo quando o tra-
balho de parto foi prolongado.39,42
Após a publicação dos resultados neonatais de 2 anos do TBT e do estudo
PREMODA, o ACOG, RCOG e a Sociedade de Obstetras e Ginecologistas do
208 ALSO
TABELA 2 Contraindicações ao parto pélvico vaginal planejado
Peso fetal estimado < 2.500g ou > 4.000g
Falta de médico obstetra com experiência em parto pélvico vaginal
Apresentação com prolapso de cordão
Restrição de crescimento intrauterino
Falta de instalações e pessoal para converter rapidamente em parto cesáreo
Anomalias fetais que impedem o parto vaginal
Evidência clínica ou radiológica de pelve inadequada
Cabeça defletida no exame de ultrassom
210 ALSO
Mnemônico do pélvico: ACUDAREM
Ajuda – solicitar ajuda, não assistir ao parto pélvico sozinho.
Colo – verificar se o colo está dilatado, verificar a apresentação e se há presença
de prolapsos (membros ou cordão umbilical).
Umbigo – esperar o umbigo sair.
Dorso Anterior – manter o Dorso fetal em posição Anterior.
Rotação – Rodar o dorso do bebê para liberar os abraços.
Elevar – Elevar o bebê na altura da mãe.
Manobras – realizar a Manobra de Mauriceau (MSV) Modificada e Manter a
flexão da cabeça fetal.
Após a saída do umbigo, leve tração para baixo pode ser aplicada para a saída do
tronco fetal. O feto pode ser agarrado pelos dedos do profissional na pelve fetal, com
os polegares na região sacroilíaca. Isso evita colocar as mãos muito altas no feto e lesar
órgãos abdominais, como o baço ou o fígado. A tração deve ser feita em um eixo des-
cendente de 45 graus, em direção ao chão. É útil para o obstetra se posicionar abaixo
do feto.
212 ALSO
Rodar para Liberar os Braços
O tronco fetal pode liberar rapidamente e sem esforço clínico ou ser necessário
um esforço considerável. A rotação do dorso de uma posição oblíqua anterior para
outra oblíqua anterior pode ser útil na extração do tronco e também promove os
braços fetais a se reunirem em uma posição fletida sobre o tórax. Essa manobra ro-
tacional às vezes é chamada de manobra de Løvset. Manter o apoio durante o parto
é extremamente importante, pois permite que a cabeça do feto entre em variedade
de posição OA na pelve. Se o feto rodar com o abdome para cima, a cabeça do feto
apresentará diâmetros desfavoráveis à pelve materna, comprometendo gravemente
um parto seguro.
A liberação dos braços é realizada rodando o corpo fetal para posição oblíqua. A
ponta da escápula fetal se apresenta, geralmente sendo fácil de identificar porque
é alada. O braço anterior pode então ser arrastado para baixo através do tórax fetal
e para fora do introito. Se possível, o úmero deve ser abordado com dois dedos, em
vez de simplesmente tracionar a fossa antecubital com um dedo. A rotação do feto
na apresentação oblíqua oposta permite a liberação do braço contralateral de maneira
semelhante.
Relembrando
O parto pélvico é quase sempre acompanhado de rotação para a posição anterior do
sacro à medida que o tronco sai, após a saída da pelve fetal. Na situação em que o feto
tenta rodar para posição sacroposterior, o profissional deve direcionar suavemente e
rodá-lo para a posição de sacroanterior antes da saída dos braços.
214 ALSO
Fórceps de Piper
O fórceps de Piper é projetado especificamente para retirar a cabeça posterior de um
feto pélvico. Eles são longos e têm uma curva incorporada de tração do eixo. É im-
possível determinar se uma aplicação de Piper é apropriada visualizando a colocação
do Piper na cabeça fetal, para que seja sempre aplicada da mesma maneira diretamente
para a pelve materna, como se a posição fosse em OA. As lâminas agarram a cabeça do
feto em um invólucro imaginário que tem se mostrado seguro e efetivo.
Os fórceps são indicados quando a manobra MSV falha. O Piper deve ser conside-
rado se 2 ou 3 minutos se passaram sem progresso ao tentar a manobra MSV. O Piper
também pode ser aplicado profilaticamente se o feto parecer frágil, como um feto
prematuro. É prudente ter o fórceps de Piper prontamente disponível para qualquer
parto pélvico vaginal, mas, em caso de emergência, o fórceps de Simpson ou outros
podem ser usados.
Para aplicar o fórceps de Piper, o feto (incluindo os braços) é enrolado em uma
tipoia e gentilmente sustentado à esquerda do obstetra. A lâmina esquerda é sempre
aplicada primeiro. É segurada na mão esquerda do obstetra e aplicada no lado esquer-
do da pelve da mulher (mas no lado direito do feto). Diferentemente de outras aplica-
ções de fórceps, o médico mantém o ramo na posição horizontal e abaixo do feto. A
mão direita é colocada na vagina ao lado da cabeça do feto para proteger as paredes
laterais da vagina. Em seguida, a lâmina do fórceps é inserida entre a mão direita e a
cabeça do feto, seguindo a curva cefálica da lâmina ao redor da cabeça. Após a inser-
ção, o ramo pode ficar pendurado ou ser apoiado por um assistente.
A lâmina direita é então inserida de maneira semelhante, segurando o ramo com
a mão direita e deslizando a lâmina na vagina ao lado da cabeça enquanto protege a
parede lateral com a mão esquerda. O fórceps deve então ser travado. Quando a lâmi-
na direita é aplicada sobre a lâmina esquerda, a trava será articulada normalmente. As
alças são normalmente separadas um pouco da trava e não devem ser apertadas. Como
o médico obstetra não pode determinar como a lâmina é aplicada ao crânio e rosto
fetais, não é necessário nenhum esforço.
A saída da cabeça pode começar quando a aplicação estiver completa. Aplica-se
uma pequena tração no fórceps. Como as hastes têm uma grande curva de tração no
eixo, não são necessárias manobras especiais para garantir que a tração esteja no vetor
correto. O movimento principal da pinça é elevar as alças em um arco grande, come-
çando aproximadamente na horizontal e terminando na vertical ou depois dela. Esse
arco flexionará a cabeça através da pelve com exatamente a mesma geometria da
manobra do MSV, mas com uma alavancagem muito maior devido ao comprimento
do Piper. Nenhuma das manobras de flexão da manobra MSV é necessária quando o
fórceps de Piper é usado. O feto pode ser mantido na tipoia ou colocado nas hastes
do fórceps durante o parto.
O braço nucal ocorre quando um ou ambos os braços são estendidos para cima atrás
do pescoço e podem impedir a saída da cabeça. Existem três opções de parto neste
evento. Se o feto é pequeno ou a pelve é grande, a cabeça e o braço estendido podem
sair juntos. Como alternativa, o obstetra pode tentar fletir o braço e abaixá-lo sobre
o rosto e o peito. Como manobra de último recurso, pode-se rodar o feto 90 a 180
graus na direção da mão para varrer o braço para fora de sua posição nucal (no sentido
horário para um braço nucal esquerdo, no sentido anti-horário para um braço nucal
direito).
FIGURA 6 Sinfisiotomia
216 ALSO
O tratamento médico do encarceramento cervical pode ser tentado usando ni-
troglicerina para causar relaxamento rápido, mas transitório, do útero. A nitroglicerina
por via intravenosa pode ser administrada por um anestesista ou spray sublingual, se
disponível.50 Devido à natureza rara e emergente do encarceramento durante o parto
vaginal, não existem estudos publicados sobre tratamento médico.
A resolução sem tração excessiva pode exigir o corte do colo do útero, um pro-
cedimento conhecido como incisões de Dührssen. Pinças de Koch são colocadas em
pares, paralelas umas às outras em 02h00, 10h00 e 06h00, se possível, que se estende de
3 a 4cm no colo do útero. É feita uma incisão radial entre as pinças de cada par. Anes-
tesia e exposição são grandes problemas técnicos e a hemorragia é uma complicação
potencial importante. Este procedimento é recomendado apenas nas circunstâncias
mais extremas que ameaçam a vida.
A hidrocefalia pode se apresentar com a cabeça aprisionada. O aparecimento de
uma meningomielocele ou espinha bífida pode anunciar hidrocefalia, ocorrendo em
aproximadamente um terço desses casos. Embora o diagnóstico pré-natal irá chamar
a atenção para o manejo altamente individualizado e provável parto cesárea, o diag-
nóstico inesperado no parto apresenta um dilema significativo. Se a cesariana estiver
disponível, será necessária uma cesariana de urgência. A descompressão dos ventrí-
culos fetais ou cefalocentese pode ser prejudicial ao feto, mas é a única maneira de o
parto ser concluído se o feto estiver vivo e a cesariana imediata não for uma opção
disponível. Este procedimento pode ser um feito com agulha longa transvaginal ou
transabdominal.
Diagnóstico
Apresentação de Rosto
Em uma apresentação de rosto, a cabeça é hiperestendida ou defletida, assim o occipital
está em contato com o dorso fetal e o rosto é a parte fetal apresentada. O diâmetro
do crânio fetal que se apresenta à pelve é o submentobregmático, o queixo (mento)
é anterior, tal variedade é favorável ao parto na maioria dos casos. A apresentação do
rosto ocorre em 0,2 a 0,3% das gestações e partos únicos.2
As causas da apresentação do rosto são numerosas e muitas vezes obscuras. Quan-
do o feto é grande ou a pelve é contraída, existe predisposição para a extensão da
cabeça do feto. O abdome pendular de uma grande multípara também promove a
extensão da cabeça fetal. Em casos excepcionais, o aumento do pescoço por causa de
bócio ou higroma cístico ou numerosas alças de cordão ao redor do pescoço pode
causar extensão. Fetos anencefálicos frequentemente se apresentam com a face devido
ao desenvolvimento ausente do crânio.
Diagnóstico
O diagnóstico clínico de uma apresentação facial depende principalmente do exame
vaginal. A boca, o nariz e as proeminências malares podem ser palpadas. Como dis-
218 ALSO
cutido anteriormente, uma apresentação de face pode ser confundida com uma apre-
sentação pélvica, particularmente porque a pélvica é 20 vezes mais comum. A boca
pode ser confundida com o ânus, e as proeminências malares, com as tuberosidades
isquiáticas.
A chave para o parto bem-sucedido de face é que o queixo termine sob a sínfise pú-
bica ou esteja na posição anterior do mento. Em seguida, com mais descida do feto, a
abóbada craniana pode varrer através da pelve posterior e a cabeça pode ser liberada
por flexão com a conversão para OP.
Embora esse mecanismo não apresente o diâmetro mais favorável da cabeça fetal
para a pelve, se o feto não for muito grande e a pelve for adequada, pode ocorrer o
parto espontâneo. Se o queixo gira ou permanece posteriormente (mento poste-
rior), então não existe nenhum mecanismo que permita que o feto utilize o espa-
ço sacroposterior pélvico, impedindo o parto. Fórceps ou rotação manual de uma
apresentação mentoposterior não deve ser tentado devido ao risco de lesão medular
fetal.52
Manejo do Parto
O parto vaginal espontâneo pode ocorrer algumas vezes com uma facilidade sur-
preendente. O feto deve rodar para uma posição mentoanterior. Um mentoposterior
persistente exige parto cesáreo. Fórceps pode ser aplicado de forma segura e com su-
cesso a uma posição mentoanterior. O vácuo-extrator é absolutamente contraindica-
do. Há aumento da incidência de desacelerações variáveis, e condução com ocitocina
deve ser evitada. Os pais devem ser preparados para a face significativamente ferida e
edemaciada do bebê, mas a recuperação ocorre em 24 a 48 horas.
Apresentação de Fronte
Na apresentação de fronte, a porção da cabeça fetal entre a crista orbital e a fontanela
anterior se apresenta na entrada pélvica. A cabeça do feto está em uma atitude entre a
flexão total (ou occipital) e a extensão total (ou face). O diâmetro presente do crânio
fetal é o mento-occipital, desfavorável ao parto. O parto de fronte persistente normal-
mente não ocorre, a menos que o feto seja pequeno ou a pelve grande.
A apresentação de fronte é encontrada em 0,007% dos partos simples.2,53 As causas
dessa rara apresentação são semelhantes às da apresentação facial. Uma apresentação
de fronte é normalmente instável e geralmente se converte em uma apresentação de
face ou cefálica fletida.
Apresentação Composta
Em uma apresentação composta, uma extremidade, tipicamente uma mão, prolapsa ao
lado da parte principal apresentada, tipicamente a cabeça. Muitas vezes, nenhuma
causa é encontrada. É mais comum em bebês prematuros e quando a parte da apre-
sentação fetal não oclui completamente a entrada pélvica.
Diagnóstico
Manejo do Parto
220 ALSO
a 0,6% em apresentações cefálicas54 e aproximadamente 1% em apresentações pélvicas
com maior incidência em modo de pés (aproximadamente 10%) e pélvicas completas
do que na apresentação pélvica franca (menos de 1%).43 O prolapso do cordão é mais
comum quando o feto não oclui bem a entrada pélvica, como é o caso de uma apre-
sentação modo de pés. Outros fatores que podem contribuir para o prolapso do cordão
umbilical são os prematuros, os polidrâmnios, apresentação alta e o cordão longo. Apro-
ximadamente 50% dos casos de prolapso do cordão umbilical seguem sem intervenções
obstétricas,55 tal como quando as membranas se rompem com a parte que se apresenta
elevada para fora da pelve. Um jato de líquido pode então lavar o cordão na vagina. Por
outro lado, o cordão já pode ter sido enrolado sob a parte da apresentação fetal (prolapso
do cordão oculto), de tal forma que a ruptura das membranas apenas revelou o prolap-
so, mas não o causou. A proporção de casos iatrogênicos parece estar diminuindo, mas
a utilização de cateter com balão para o amadurecimento cervical é uma intervenção
moderna que pode levar ao prolapso, elevando a parte que se apresenta.56.
A rápida identificação e resposta podem salvar a vida do feto. As etapas de manejo são:
1. Diagnosticar o prolapso por inspeção visual ou palpação no exame vaginal
imediato. O cordão pode ser encontrado exteriorizado para fora da vagina,
enrolado dentro da vagina ou enrolado na parte da apresentação. A única dica
pode ser uma desaceleração variável grave ou bradicardia após a ruptura das
membranas.
2. Avaliar rapidamente o status fetal por meio de monitorização da frequência
cardíaca fetal ou ultrassom.
3. Avaliar a dilatação e o status do trabalho de parto. Na situação incomum em
que o feto pode nascer de maneira mais rápida e segura por via vaginal do que
por cesariana, prossiga imediatamente usando um fórceps ou vácuo ou, no
caso do segundo gêmeo, extração total pélvica, quando apropriado.
4. Se o parto vaginal imediato não for viável, preparar-se para o parto cesá-
reo. Elevar a parte que se apresenta para fora da pelve, em um esforço para
proteger o cordão contra a oclusão. Isso pode ser realizado colocando uma
mão na vagina e forçando-a, elevando cuidadosamente a parte que se apre-
senta para cima. Alternativamente, pode-se encher a bexiga rapidamente com
500 a 700ml de solução salina e, em seguida, prender o cateter. A ocitocina
deve ser descontinuada. A tocólise (por exemplo, terbutalina 0,25mg por via
subcutânea) é útil se a paciente estiver em trabalho de parto e houver desa-
celeração recorrente da frequência cardíaca fetal.54 Posição de Trendelenburg
também é útil para adicionar gravidade a outros esforços para elevar o feto e
descomprimir o cordão umbilical. A eficácia dessas manobras pode ser medida
monitorizando o feto ou palpando o cordão.
5. Não tentar restituir o cordão ao útero.
Gestação Múltipla
Gestação múltipla ocorreu em 3,4% dos nascimentos nos Estados Unidos em 2013.57 A
taxa de gemelaridade subiu 76% de 1980 para 2009, com o aumento atribuído ao
uso de terapias de fertilidade e da proporção de mulheres com companheiro de idade
avançada.57 As gestações com gêmeos têm 7 vezes mais probabilidade de resultar no
parto com menos de 32 semanas de idade gestacional estimada e as gestações multife-
tais têm 5 vezes o risco de natimortos em comparação às gestações únicas.58 Anomalias
congênitas, restrição de crescimento intrauterino (CIUR) e complicações intraparto
também podem contribuir. A dizigose (geminação fraterna) ocorre em aproximadamente
dois terços das gestações gemelares e aumenta com a idade, paridade e certas circuns-
tâncias familiares e raciais. A monozigose (geminação idêntica) ocorre em um terço das
gestações múltiplas e não está relacionada a nenhum fator predisponente. Morbidade
e mortalidade são mais elevadas em gêmeos monozigóticos.
As complicações maternas são comuns na gestação múltipla. Essas incluem hiper-
tensão gestacional, diabetes gestacional, anemia, hiperemese, descolamento de placen-
ta, placenta prévia, hemorragia pós-parto e aumento do parto operatório.
Diagnóstico
222 ALSO
são: útero maior do que as datas, hiperemese gravídica, pré-eclâmpsia precoce, níveis
maternos elevados de alfafetoproteína, palpação sugestiva ou ausculta sugestiva, poli-
drâmnio, indução da ovulação e história familiar.
Manejo Pré-natal
Conduta Intraparto
224 ALSO
TABELA 3 Apresentação de gêmeos72
A B % Ocorrência
Cefálico Cefálico 40
Cefálico Não cefálico 40 (30% pélvico/10% transverso)
Pélvico Cefálico/não cefálico 20
Quando se tenta o parto vaginal, o momento de maior risco ocorre após o parto
do gêmeo A, quando o obstetra deve determinar a apresentação do gêmeo B, que
pode ser diferente da apresentação antes do parto do gêmeo A. Supondo que o gêmeo
B seja pélvico ou transverso, deve-se tomar uma decisão sobre tentar uma versão exter-
na, deixar nascer o gêmeo B como pélvico ou executar uma cesariana e um parto. As
circunstâncias obstétricas exatas, a experiência do obstetra, a condição do feto, o estado
de espírito da mulher e os recursos disponíveis são todos fatores na decisão. O gêmeo B
deve ser monitorizado com cuidado, pois o descolamento da placenta e o prolapso do
cordão umbilical são duas emergências obstétricas que podem ocorrer entre o parto do
gêmeo A e o gêmeo B. Se a monitorização fetal exigir um parto rápido do gêmeo B,
pode ser um parto vaginal assistido alto no plano 0 ou +1, é uma opção razoável, desde
que o peso fetal estimado do gêmeo B não seja consideravelmente maior que o gêmeo
A.76 O parto de gêmeos é mais bem realizado na sala de cirurgia no caso de ser neces-
sária uma cesariana rápida. A anestesia deve estar em modo de espera.
Quando o gêmeo A é cefálico, mas o gêmeo B não, existe controvérsia quanto ao
melhor modo de parto.75
Quando o gêmeo B está transverso ou oblíquo ou pélvico modo de pés, um parto
pélvico pode ser realizado.77 O médico identificará e agarrará os pés sem romper o
226 ALSO
potenciais complicações de gestação múltipla. Não incomum, dois bebês e a mãe
precisam de atenção simultaneamente. Pessoal e equipamento adequados devem
estar disponíveis.
Resumo
Existem seis tipos de posições anômalas. Algumas são comuns (posição OP, apresen-
tação pélvica) e outras são raras (apresentação transversa, apresentação da fronte, apre-
sentação da face, apresentação composta). O diagnóstico é feito por uma combinação
de exame físico e imagem. Alto índice de suspeita é útil no diagnóstico. Cada variação
na posição ou apresentação tem suas próprias complicações potenciais. Os médicos
devem estar atentos não apenas às complicações resultantes do trabalho de parto e
parto, mas também aos problemas que podem ser etiológicos para a má apresentação
em primeiro lugar.
O parto vaginal pode ser considerado em quatro dessas apresentações: OP, pélvica
franca, posição anterior do mento e composto. Com a posição de OP, o obstetra tem
várias opções de manejo do parto. Na apresentação pélvica, os critérios complexos
determinam se o parto vaginal pode ocorrer de forma segura. A VCE deve ser ofere-
cida para apresentação não cefálica com 36 ou mais semanas de gestação. É necessário
alto grau de habilidade técnica e julgamento para o parto de fetos em apresentações
anômalas. A gestação múltipla apresenta grande variedade de desafios especiais para o
profissional.
228 ALSO
Referências
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OBJETIVOS
Introdução
São 2 horas da madrugada, sua paciente, 22 anos, primigesta, diabetes mellitus
(DM) gestacional com peso fetal estimado de 3.800g, está em trabalho de
parto, parecendo uma eternidade. Ela apresenta puxos por 2 horas e está
exausta. Ela te diz que não aguenta mais. O bebê está no plano +3 e você
propõe a ela o parto vaginal assistido a vácuo. Após o consentimento, a ven-
tosa do vácuo-extrator está bem acoplada e a cabeça fetal se desprende após
três contrações. Você quase respira aliviado, mas a cabeça retorna, o ombro
anterior não sai. Para facilitar o desprendimento do ombro anterior, usa-se
uma tração gentil, sem sucesso. Cabeça e face da criança são forçadas con-
tra o períneo. O ombro anterior está preso, impedido pelo osso púbico da
pelve materna. Você percebe que está diante de uma distocia de ombro e a
atmosfera na sala muda para ansiedade e medo. Abordagem focada e calma
é necessária para resolver essa emergência obstétrica. É essencial que você
esteja apto em executar, habilmente, as manobras para desimpactar o ombro
e tenha cuidados efetivos.
Definição e Etiologia
A distocia de ombro (DO) é a falha da liberação do ombro fetal, após o des-
prendimento do polo cefálico, exercendo-se gentil tração para baixo. É precedi-
da pelo clássico “sinal da tartaruga” (cabeça e face do neonato retraem-se contra
236
o períneo materno). Na tentativa de padronizar uma definição de distocia de ombro,
incluem-se como critério diagnóstico intervalo de tempo maior ou igual a 60 segundos,
para o parto cabeça-corpo, ou uso de qualquer procedimento auxiliar para realização
do parto.1
A distocia de ombro ocorre frequentemente quando o diâmetro bisacromial (lar-
gura dos ombros) excede o diâmetro pélvico.2 Isso resulta em impactação óssea entre
o ombro anterior fetal contra a sínfise púbica materna. Outro mecanismo de distocia
de ombro pode acontecer, devido à pelve materna estreita, levando à persistência na
orientação anteroposterior dos ombros do bebê, dificultando sua rotação (como nos
casos de partos taquitócicos ou parto vaginal assistido), e impactação do ombro pos-
terior no promontório materno em posições oblíquas.2
Incidência
Geralmente a incidência de distocia de ombro está entre 0,2 e 3% dos partos. A inci-
dência varia de acordo com o peso fetal, ocorrendo em 0,3 a 1% dos recém-nascidos
(RN) pesando 2.500 a 4.000g, em 5,0 a 7,0% dos RN pesando 4.000 a 4.500g,
em 14,3% dos RN pesando 4.500 a 4.750g e em 21,1% dos RN pesando 4.750 a
5.000g.3-5 Quando o diagnóstico de distocia de ombro ocorrer pelo intervalo do
parto cabeça-corpo maior que 60 segundos, a incidência passa para 10% (reportada
somente em 25 a 45% dos casos pelos parteiros).1 Embora haja risco adicional pela
macrossomia fetal, mais de 50% dos casos de distocia de ombro ocorrem em RN de
peso normal e não pode ser prevista.
Diabetes Gestacional
Diabetes gestacional está presente em 3 a 6% de todas as gestações.15 Diabetes au-
menta a incidência de distocia de ombro, acima de 70%. Macrossômicos de mães
diabéticas têm ombros largos, grandes circunferências e maior porcentagem de gor-
dura corporal do que o demonstrado na curva de referência de não diabéticas, au-
mentando a incidência de distocia de ombro e paralisia de plexo braquial.3 Estudo
de coorte retrospectivo, de 36.241 de gestações únicas com diabetes gestacional,
mostrou que RN de mães com DM gestacional e peso > 4.000g tiveram maior
incidência de distocia de ombro (10,5% vs. 1,6%, p < 0,001) e de paralisia de Erb
(2,6% vs. 0,2%, p < 0,001).16
Revisão da Cochrane, em 2009, demonstrou que o tratamento do diabetes na
gestação com agentes por via oral ou insulina reduziu significativamente o risco de
macrossomia. Com relação à distocia de ombro, reduziu-se o risco com o tratamento
adequado do diabetes com dieta e insulina. Revisão sistemática e de metanálise em
200917 confirmou que o tratamento da DM gestacional reduz o risco de distocia de
ombro (dois grupos, 1.961 RN, RR = 0,40, 95% CI = 0,21-0,75).18
Acredita-se que a indução de trabalho de parto a termo versus conduta expectante,
na suspeita de macrossomia em gestante com DM gestacional, possa prevenir percentis
> 90, e com isso diminuir a distocia de ombro. Revisão sistemática, em 2009, mostrou
aumento significante na porcentagem de crianças com peso acima do percentil 90 no
grupo controle (23% vs. 10%, p = 0,02), mas não houve diferença com a distocia de
ombro. São necessários mais estudos nesta área.19
Intraparto
Trabalho de parto
Embora dois estudos mais recentes não achassem diferença significativa entre distocia
de ombro com fase ativa distociada e grupos controles,20,21 grande estudo de coorte
retrospectivo, com gestações a termo, única, cefálica, apresentando parada de fase ativa
(sem mudança cervical por duas horas mesmo com contrações adequadas), revelou
238 ALSO
que, naquelas que apresentaram parto vaginal distociado, o RR ajustado de distocia de
ombro foi de 2,37 (95% CI = 1,33-4,25). Apesar desse aumento na taxa, não houve
diferenças nos resultados neonatais de acidose, admissão em UTI neonatal, sepse ou
paralisia de Erb.22
Morbidade e Mortalidade
Tocotraumas materno ou fetal podem produzir sérias consequências em curto e lon-
go prazo. Medidas preventivas, manejo adequado e treinamento reduzem tais com-
plicações. A lesão de tecidos moles é a complicação materna mais comum, com taxas
maiores de lacerações de terceiro e quarto graus e subsequente potencial de formação
Neonatal
Hipóxia Fetal
A hipóxia fetal e a encefalopatia neonatal, devido a parto prolongado, são outras le-
sões neonatais associadas com distocia de ombro. O intervalo de tempo considerado
seguro desde o desprendimento cefálico, resolução da distocia de ombro e ultima-
ção do parto não está claro. Depois que a cabeça do feto foi exteriorizada, supõe-se
que o cordão umbilical esteja comprimido entre o corpo do feto e a pelve materna,
levando a hipoxemia fetal, acidose metabólica, dano neurológico permanente ou
até à morte.36
Um pesquisador encontrou que a distocia de ombro resulta em reduções estatis-
ticamente significantes, mas clinicamente insignificantes, na média dos parâmetros das
gasometrias do sangue arterial do cordão umbilical, quando comparada com a média
do pH arterial de todos os outros partos vaginais de sua instituição (7,23G 0,080 vs.
6.27G 0,069, p = 0,001). Surpreendentemente, entre os 44 grupos de distocia de om-
bro com intervalos registrados, incluindo intervalo do parto cabeça-corpo (HBDI),
não houve correlação com pH baixo (p = 0,9), nem aumento na pCO2 (p = 0,496),
ou BE (p = 0,618), nem correlação do tempo da resolução da distocia de ombro com
valor de Apgar baixo aos 5 minutos.37 Quando se comparam os casos de distocia de
240 ALSO
ombros separados pelo número de manobras (variando de 1 a 3), não houve diferença
significativa no pH do sangue arterial do cordão umbilical, usualmente com limiar de
7,10 e 7,00. Valores de pH do cordão < 7,20 foram 25,6%, 28,6% e 25% para o nú-
mero de manobras de 1 a 3, respectivamente. A pO2, pCO2 e base excess (BE) também
foram comparadas entre os grupos.38
Nos estudos envolvendo especialmente a lesão cerebral neonatal, com medidas
dos resultados, Ouzounian mostrou que os casos de lesão cerebral estavam associados
com intervalo cabeça-ombro prolongado (10,6 < 3min vs. 4,3 < 0,7min, p = 0,03)
e que o intervalo cabeça-ombro com limiar de 7 minutos teve sensibilidade e espe-
cificidade de 67% e 74%, respectivamente, na predisposição de lesão cerebral.39 Dois
recentes estudos revelaram que a respectiva incidência de acidose grave (pH < 7,0) e
encefalopatia hipóxico-isquêmica com HBDI de < 5 minutos e + 5 minutos foram
0,5 e 0.5 vs. 5,9 e 23,5%40 e que a maioria dos RN com depressão (57%) teve inter-
valo parto cabeça-corpo maior que 4 minutos.41
Durante a distocia de ombro acredita-se, empiricamente, que a acidose fetal re-
sulta da compressão do cordão, compressão do pescoço fetal, levando à obstrução
venosa cerebral; o reflexo vagal e a bradicardia fetal também podem contribuir para a
deterioração grave e agravamento da hipóxia.27
Diante das evidências do impacto da distocia de ombro no pH fetal, não existe
fator desencadeante previsível, bem estabelecido, para a lesão cerebral irreversível.
Mas o ponto clínico importante é que os fetos podem resistir um tempo suficiente
para as manobras, as quais devem ser executadas com calma, ordenadas e com segu-
rança. É razoável que o risco de disfunção central permanente possa estar associado
com o intervalo do parto cabeça-ombro prolongado, maior que 5 a 7 minutos.
Quando o pH do cordão é menor que 7,0, a asfixia e as lesões neurológicas no
cérebro fetal serão mais evidentes. Na maioria dos casos de distocia de ombro, esse
intervalo de tempo é mais que suficiente para executar as manobras que serão refe-
ridas, com raras exceções.
Prevenção
Pouco se pode fazer para prevenir a distocia de ombro. Duas revisões da Cochra-
ne42,43 concluíram que não há evidência benéfica suficiente relacionada entre indu-
ção de trabalho de parto e prevenção de distocia de ombro. Prever uma macrossomia
fetal usando a biometria fetal ultrassonográfica em gestações normais é modesto na
melhor das hipóteses. Uma biometria ultrassonográfica fetal varia de 7 a 15%, não
sendo melhor que a avaliação de peso fetal na palpação abdominal,44 e em 12 a 37%
das vezes é diferente.25 Crianças de mães diabéticas apresentam maior distribuição
de gordura corporal no dorso superior, sendo consideradas de maior risco para dis-
tocia de ombro do que crianças de mesmo peso, de gestantes não diabéticas.44,45 Os
242 ALSO
plexo braquial. Enquanto o parto vaginal assistido for uma técnica aplicada em pa-
cientes com indicação apropriada, o uso imprudente desses instrumentos predisporá a
gestante e suas crianças a risco de lesão.57
Em revisão recente da Cochrane, foi indicada, em todos os partos, a utilização
combinada da manobra de McRoberts com a pressão suprapúbica como medidas
profiláticas para prevenir a distocia de ombro. Embora estudo prospectivo não en-
contrasse redução de distocia de ombro no grupo com medidas profiláticas (RR
= 0,44), alta taxa de parto cesáreo no grupo de tratamento poderia distorcer os
dados.58 Um segundo estudo, utilizando somente a manobra de McRoberts, mos-
trou diferença estatisticamente insignificante na tendência de mais manobras em
gestantes que estavam no grupo controle (RR = 0,31; 95% CI = 0,09-1,02).58,59
Embora esses resultados sejam intrigantes, o tamanho da amostra desses estudos é
efetivamente pequeno, sendo necessário mais estudos para determinar se essas in-
tervenções são efetivas.
Conduta
Medidas Preventivas
Assistência no Local
Apoio Adicional
Um plano prévio deve identificar membros da equipe preparados para atender essa
emergência. Essa equipe deve incluir um médico de família, uma obstetriz ou um
obstetra, um pediatra ou neonatologista, uma ou duas obstetrizes para auxiliar nas ma-
nobras e uma enfermeira de berçário treinada para cuidados especiais. Pelo menos um
ou mais profissionais treinados para cuidados obstétricos ou neonatais devem ser cha-
mados imediatamente quando ocorrer distocia de ombro. Em grandes hospitais, esse
profissional pode ser um neonatologista, enquanto em hospitais menores pode ser um
médico de família, um pediatra ou um obstetra. Em algumas áreas rurais, pode ser um
médico de pronto-socorro ou um médico assistente que pode ser chamado em sua
casa ou em seu consultório. O anestesista deve ser chamado para fazer a administração
de medicações, se necessário. Uma secretária deve estar disponível e preparada para
contatar os profissionais apropriados solicitados. Isso pode implicar a elaboração de
uma lista de pessoas que devem ser contatadas prioritariamente e podem ser avisadas
por mensagem, do tipo: “Código D: Trabalho de Parto e Parto”, ou outra notificação
que indique a ocorrência de emergência obstétrica.
244 ALSO
Manobras de Redução e o Mnemônico “ALEERTA”
Distocia de Ombro 2 4 5
de ombro; anotações pós-parto deveriam incluir que a pressão no fundo uterino não
foi utilizada no parto.
Não há evidências que diga que uma manobra seja superior a outra em liberar o
ombro impactado ou na diminuição de riscos de lesão.49,64 A persistência em utilizar
somente uma manobra ineficaz ou manobra difícil tem sido associada com o aumento
na incidência de paralisia de plexo braquial.65
A – Alerta, Ajuda
Um assistente deve tentar fazer pressão manual externa suprapúbica, durante aproxi-
madamente 30 segundos, enquanto o obstetra imprime uma tração gentil e contínua
246 ALSO
no polo cefálico. A mão suprapúbica dever ser colocada sobre o ombro anterior do
feto, aplicando uma pressão no estilo “reanimação cardiopulmonar”, de tal forma que
o ombro irá pôr-se em adução ou realizar um movimento descendente anterior e pas-
sar sob a sínfise. A pressão deve ser aplicada do lado da mãe que permita que a região
hipotenar da mão do assistente se mova em direção lateral e para baixo, na face pos-
terior do ombro do feto. O obstetra deve orientar o assistente para a direção correta,
a fim de aumentar a eficácia da ação. Inicialmente, a pressão pode ser contínua, mas,
se o parto não acontecer, iniciar a pressão intermitente para deslocar o ombro atrás
da sínfise púbica. Se esse procedimento falhar após 30 segundos, o próximo deverá
ser imediatamente iniciado. A pressão no fundo uterino nunca é recomendada e serve
apenas para piorar a impactação, podendo lesar o feto ou a mãe.
A episiotomia deve ser considerada, ainda que não solucione a distocia de ombro.
A distocia de ombro é uma impactação óssea, assim, simplesmente a realização da
episiotomia não vai fazer com que o ombro seja liberado. Uma vez que a maioria
dos casos de distocia de ombro possa ser aliviada pela manobra de McRoberts e pela
pressão suprapúbica, muitas mulheres podem ser poupadas de uma incisão cirúrgica,
a não ser que essa seja necessária para que o médico possa introduzir a mão na vagina
e realizar manobras internas. No entanto, como é muito difícil realizar a episiotomia
quando a cabeça do feto está comprimida contra o períneo, um julgamento crítico
pode determinar a realização de episiotomia antes do parto, caso haja fortes indícios
de ocorrência de distocia de ombro, como em primíparas com o períneo resistente e
uma criança com suspeita de macrossomia.
Nessa manobra, o braço posterior é retirado do canal de parto, o que diminui em 20%
o diâmetro bisacromial.74 Isso permite que o ombro anterior desça quando o feto cai
na concavidade pélvica, liberando a impactação. Para realizar essa manobra, o médico
deve inserir a mão profundamente na vagina e tentar localizar o braço posterior. Se o
dorso fetal está à direita da mãe, o operador insere a mão direita na vagina pela frente
do peito fetal. A mão do médico deve estar lubrificada e bem fechada para a inserção
de toda a mão na vagina posterior. Croft et al. (2008) explicaram isso, descrevendo
como a mão pode ser inserida dentro de uma “lata de batatas Pringles” (Figura 1).75
Uma vez dentro da vagina, a dica é localizar e pressionar a fossa antecubital fetal
para fletir o antebraço, assim será liberado com um movimento de oscilação sobre a
parte anterior do peito do feto e fora, em direção à face fetal. A rotação do tronco
fetal para trazer o braço posterior para a porção anterior muitas vezes é necessária. O
braço nunca deve ser agarrado e puxado diretamente, pois isso pode fraturar o úmero.
Se essa manobra for feita corretamente, primeiro a mão posterior, depois o braço e
depois o ombro serão removidos, facilitando o parto. Frequentemente, o feto gira
como um “saca-rolhas” quando o braço é retirado. O ombro anterior então gira para
trás sob a sínfise púbica e liberta-se.
Todas estas manobras internas são perfeitamente aceitas e o médico deve usar a ma-
nobra que ele está mais habituado e familiarizado. Contudo, há alguma controvérsia
entre os praticantes e a ausência de uma literatura mostrando a manobra mais efetiva.
Há alguma evidência que sugere que a remoção do braço posterior, como uma ma-
nobra interna inicial, seria mais efetiva na redução do alongamento do plexo braquial
e consequentemente menos traumática para o feto.70
Essas manobras objetivam manipular o feto para girar o ombro anterior em plano
oblíquo e sob a sínfise púbica. Isso pode ser realizado por meio da manobra de Ru-
248 ALSO
bin ou da manobra de Wood Screw, também chamada “de parafuso”. Muitos estudos
acharam que cerca de um terço das pacientes requer mais do que duas manobras. Essas
manobras são frequentemente as mais difíceis de entender e podem levar a alguma
confusão, mas, com a prática nas estações, elas podem ser aprendidas efetivamente.
Para obter acesso e melhor execução, essas manobras são mais bem executadas usando
uma abordagem posterior, utilizando-se do espaço sacral. Isso permitirá que o médico
execute as manobras internas, usando dois dedos ou, em alguns casos, a mão inteira
(Figura 2).
3 4
250 ALSO
pode dar melhor resultado que a manobra de Woods sozinha. Com esse movi-
mento, os ombros do feto giram e exteriorizam-se de forma parecida ao giro de
um parafuso. A manobra de Woods frequentemente exige grande episiotomia
ou episiotomia mediana, a fim de abrir espaço para a manipulação posterior,
enquanto a manobra de Rubin II geralmente não tem essas exigências.73
3. Se as manobras de Rubin II e Woods falharem, pode-se tentar a manobra de
Woods reversa.
Os dedos da mão introduzida no ombro posterior durante a manobra de
Woods devem ser removidos da vagina. Os dedos da mão oposta, no ombro
anterior, são deslizados para baixo até a região escapular do ombro. Uma vez
locados na região posterior do ombro posterior, o objetivo é girar o feto na
direção oposta à da manobra convencional de Woods. Essa rotação dos ombros
fetal os retira da impactação, pondo-os em um plano oblíquo, no qual podem
ser exteriorizados (Figura 4).
Houve muita confusão em relação a essas manobras e muitos textos obstétricos
importantes as descreveram de formas diferentes.74 Sua realização pode ser muito difí-
cil, principalmente quando o ombro anterior está em parte preso sob a sínfise púbica.
1 2
3 4
Distocia de Ombro 2 5 1
Algumas vezes, vê-se a necessidade de empurrar levemente o ombro posterior (ou
às vezes o ombro anterior), novamente para dentro da pelve, para conseguir realizar
corretamente as manobras.
Muitos investigadores têm experimentado, com modelos de simulação mecânica,
para quantificar o grau de rotação do pescoço fetal, a distensão do plexo braquial e
a força envolvida em partos difíceis. Em modelos de laboratório, para iniciar uma
manobra para distocia de ombro, manobra de Rubin II, requer menos tração para
o parto e produz menos tensão no plexo braquial. Ambas as manobras, Rubin II e
Woods (aplicando pressão no ombro anterior e posterior), requeriam menos tração
de força do que a manobra de McRoberts (p < 0,0001), e extensão do plexo braquial
foram significantemente menores após a manobra de Rubin comparada com a de
McRoberts ou manobras de Rubin posteriores.59 Mais estudos são necessários para
validar esses resultados; ainda esses resultados salientam a importância de se evitar a
força de tração excessiva no pescoço fetal e que a rotação do corpo fetal causa menos
distensão no plexo braquial.
A posição “sobre quatro apoios” ou de Gaskin é segura, rápida e efetiva para a redução
da distocia de ombro. A sra. Gaskin é uma pessoa renomada entre as parteiras nos Es-
tados Unidos, mais bem conhecida pelo seu livro Spiritual Midwifery. A paciente deve
realizar um giro, saindo da posição em que se encontra e passando a apoiar-se sobre
os quatro membros. O mecanismo preciso pelo qual a manobra de Gaskin age para
aliviar a distocia de ombro é desconhecido. Os diâmetros pélvicos aumentam quando
a paciente, em trabalho de parto, sai do decúbito dorsal.78
Estudos radiológicos indicam que os diâmetros pélvicos são menos favoráveis para
o parto na posição dorsal de litotomia. Com essa manobra, o conjugado obstétrico
aumenta mais de 10mm, e o diâmetro sagital da via de saída da pelve, até 20mm.79 O
ombro fetal frequentemente se desprende durante o ato da mudança da posição supi-
na para a indicada pela manobra de Gaskin, mostrando que esse movimento, de per si,
pode bastar para permitir uma alteração pélvica suficiente para liberar a impactação.
Além disso, completada a mudança de posição, as forças gravitacionais podem ajudar
na liberação dos ombros do feto.
A manobra de “quatro apoios” pode ser difícil para a gestante que esteja cansada
ou que tenha movimentos limitados pelos acessos por via IV, por monitores fetais,
por anestesia peridural ou cateter de Foley. Muitas vezes, devido a esses impedimen-
tos, a paciente precisa de ajuda para a mudança de posição. Em alguns serviços, todas
as pacientes que receberão anestesia peridural são instruídas a fazer um treinamento
para distocia de parto, praticando a mudança de posição, se caso seja necessária pos-
teriormente.80,81 Deve-se considerar a possibilidade de fazer esse treinamento como
252 ALSO
parte do processo de educação pré-natal. Essa posição pode desorientar os médicos
que não estiverem familiarizados com ela. Realizando ligeira tração descendente, o
médico pode exteriorizar o ombro posterior primeiro, com a ajuda da gravidade, na
mesma direção como se a paciente estivesse na posição de litotomia. A posição sobre
quatro apoios é compatível com todas as manipulações intravaginais para a distocia
de ombro, mas é incompatível com a pressão suprapúbica. A dica para lembrar é para
sempre seguir a gravidade primeiro, então fazer uma gentil tração para baixo, para li-
berar o ombro preso no teto primeiramente (nesse caso, o ombro posterior em vez do
anterior). O médico deve fazer alguns partos “normais” ou simular alguns partos nessa
posição, antes de encontrar uma situação que a exija, isso pode ajudá-lo a preparar-se
para situações de emergência.
A ordem na qual essas manobras são realizadas é flexível. No entanto, é
essencial a progressão lógica dos vários esforços, de tal modo que cada uma
delas seja realizada em tempo adequado para levar ao nascimento. O tem-
po sugerido para cada manobra serve apenas como diretriz. O julgamento
clínico deve sempre guiar a progressão dos procedimentos utilizados.
Pode ser tentada uma segunda tentativa de todas as manobras descritas acima;
muitas vezes há mudança de alguma posição ou local do ombro e a repetição de ten-
tativas pode ser efetiva. Se a segunda tentativa não der certo, as técnicas de seguimento
têm sido descritas como manobras de “último recurso” ou “de salvamento”.
Distocia de Ombro 2 5 3
técnica pressupõe que o ombro posterior esteja acessível. Se o ombro anterior estiver
impactado pela sínfise púbica e o ombro posterior está acima do promontório, em
outras palavras, se nenhum ombro estiver na pelve, somente uma reposição cefálica ou
sinfisiotomia serão capazes de resolver esse problema.
Manobra de Zavanelli
Cirurgia e Sinfisiotomia
1. Sinfisiotomia
A divisão intencional da cartilagem fibrosa da sínfise púbica com anestesia local foi
mais usada em países em desenvolvimento do que nos EUA e Europa. Relatórios nos
EUA são descritos, isto é, usados depois que a manobra de Zavanelli tiver falhado.87
Como o procedimento leva pelo menos 2 minutos para ser realizado, após a tomada
de decisão, deve ser iniciado 5 a 6 minutos após a exteriorização da cabeça fetal e só
deve ser utilizada quando todas as outras manobras tiverem malogrado e não houver
possibilidade de se fazer cesárea.88,89 Muitas mulheres com esse procedimento podem
ficar com dor crônica na sínfise ou apresentar trauma uretral.
Essa técnica foi relatada como facilitadora do parto vaginal do feto em casos de dis-
tocia de ombro, que não se resolveram com todas as manobras citadas acima. Em pe-
quena série de relatos de casos de distocia de ombro grave, induziu-se anestesia geral
e o útero foi aberto como em um parto cesáreo. O cirurgião deve girar o feto por via
transabdominal, através da incisão uterina, permitindo a rotação dos ombros, como
na manobra de Wood. O parto é então realizado por via vaginal, por outro médico.90
254 ALSO
3. Fratura Proposital de Clavícula
Uma pressão ascendente na porção média da clavícula do feto provocará sua fratura
e redução do diâmetro bisacromial. Livros didáticos antigos descreveram essa técnica,
mas ela não tem sido descrita na literatura recente, porque apresenta dificuldades e
sérios riscos de lesão vascular ou estruturas pulmonares do recém-nascido.27
Contudo, cleidotomia formal (fratura cirúrgica de uma ou ambas as clavículas
com tesoura cirúrgica forte) pode ser considerada em casos de distocia de ombro
quando o feto está morto e as técnicas padrões das manobras falharam. Obviamente,
há um potencial de trauma materno, a menos que tenha sido tomado grande cuidado,
com os procedimentos.
Documentação
Documentação no prontuário médico, após o término do parto, é uma
ferramenta essencial de gestão e vários estudos apontam a falta de padro-
nização e conformidade nesse problema. O uso de descrição compreensiva
e padronizada, nos casos de distocia de ombro, tem sido preconizado.
Na documentação é importante relatar o tempo decorrido da distocia de ombro, as
manobras empregadas e a condição materna e do recém-nascido após o parto.93 Termos
como distocia de ombro leve, moderada ou grave fornecem poucas informações sobre os
cuidados que foram dispensados e principalmente eventuais futuras averiguações legais.
A documentação também deve incluir a presença de outros membros da equipe e o pH
venoso e arterial do cordão umbilical, se foi colhido. Em caso de futuro desenvolvimento
de paralisia do nervo, é útil documentar qual braço que estava impactado contra a púbis
e em qual braço foram realizadas as manobras para a retirada do bebê.63
Estudo observacional retrospectivo na Inglaterra comparou a documentação de
distocia de ombro de três modos de documentações institucionais: não padronizado,
anotações por escrito do parto, anotações padronizadas do parto após implementação
de gravação médica eletrônica e anotações padronizadas do parto no prontuário ele-
trônico seguindo uma simulação de distocia de ombro padrão. Anotações padroniza-
das eletrônicas melhoraram a documentação, mas, com a adição de práticas de distocia
de ombro, incrementaram a documentação.9
Distocia de Ombro 2 5 5
O estudo SaFE na Inglaterra documentou que um programa de treinamento
padrão, com partos simulados envolvendo 450 participantes, resultou em aumento
na taxa de partos com sucesso e redução na intensidade de força exercida pelos
médicos.70
Treinos pélvicos de alta fidelidade (modelos com circuitos eletrônicos e computa-
dorizados, tais com o NoelleTM) têm mostrado aumento na habilidade de médicos em
usar mínima força de tração e redução na incidência de lesões fetais. Contudo, os mo-
delos de baixa fidelidade (modelos usados no curso do ALSO – como SimulaidsTM)
podem aumentar a comunicação e a percepção exigida para manejar, com sucesso,
um parto com distocia de ombro e menores problemas psicológicos e médico-legais.
Programas de treinamento devem considerar a inclusão de atores com manequins para
aumentar a fidelidade dos exercícios de simulação. Mais estudos avaliando a efetivida-
de do treinamento do ALSO são necessários para documentar a efetividade em prover
médicos com melhor manejo em distocia de ombro.62,94-98
Resumo
A distocia de ombro é uma entidade relativamente comum e perigosa, mas difícil de
prever. Quase 50% das distocias de ombro não têm fatores antecedentes. A tomada de
medidas prévias e a preparação são as chaves para o sucesso da conduta.
Um plano institucional é altamente recomendado, no qual cada membro da equi-
pe tenha um dever atribuído. O manejo recomendado na distocia de ombro é base-
ado no mnemônico ALEERTA, que auxilia na memorização dos procedimentos e
apresenta um guia estruturado de ação, de grande utilidade nessas ocorrências. Os
elementos do mnemônico ALEERTA são todos eficazes e devem ser executados
em sequência lógica e calma. A prática no manequim é uma ajuda essencial, pois
sempre existe a probabilidade de se deparar com essa emergência obstétrica. O tem-
po determinado para cada manobra e a exata sequência são bem determinados em
cada circunstância clínica e pelo discernimento médico, ainda incorporando diretrizes
sugeridas.
256 ALSO
Categoria B
Indução de parto em gestantes não diabéticas com suspeita de macrossomia fetal não
previne distocia de ombro.3,43,44,49
Suspeita de macrossomia fetal não é indicação para indução de parto ou primeiro
parto cesáreo em gestações de não diabéticas, não complicadas, exceto se o peso fetal
for > 5.000g.42-45
A distocia de ombro está associada com parto vaginal assistido3,25,54,57 e, em vácuo-
-extração, excedendo 10min ou mais que cinco trações deve ser conduzido com cuida-
do, pois é um fator de risco proeminente para a paralisia do plexo braquial neonatal.57
Episiotomia feita durante o parto assistido não reduz a incidência de distocia de
ombro.66,67
Treinamento simulado, com ambos os modelos de baixa e alta fidelidade, demons-
trou benefício no nível de habilidade dos médicos, reduzindo a força requerida para
um parto com distocia de ombro simulada. No cenário clínico, o treinamento simu-
lado mostrou reduzir a incidência de paralisia de plexo braquial.62,94-98
Categoria C
Um plano institucional para antecipar e manusear as distocias de ombro é recomen-
dado, no qual cada membro da equipe tem uma função definida.
Os elementos do mnemônico ALEERTA são eficazes. Eles deveriam ser aplicados
em sequência lógica e calma.73
A metade das distocias de ombro pode ser aliviada pela manobra de McRoberts e
pressão suprapúbica,27,68 e essas manobras não invasivas são recomendadas para manejo
inicial.
Manobras de rotação e remoção do braço posterior têm demonstrado menor força
de tração e compressão, na simulação e modelos animados computadorizados.61,62,70,76,94-98
O uso de um relatório compreensível e padronizado, nos casos de distocia de om-
bro, é fortemente recomendado.91-94
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OBJETIVOS
Introdução
O parto vaginal assistido, extração a vácuo ou fórceps, é uma habilidade
importante para o manejo do segundo período do trabalho de parto. Cada
trabalho de parto é evento dinâmico e pode necessitar de parto vaginal
assistido de urgência ou até mesmo com indicação eletiva, incluindo as rela-
tivas aos batimentos cardíacos fetais, segundo estágio prolongado e exaustão
materna. Situações que requerem imediato e competente uso do vácuo ou
fórceps podem surgir rapidamente, mesmo em trabalhos de parto de risco
habitual.
A taxa de parto vaginal operatório vem diminuindo nos Estados Unidos,
de 9% dos nascidos vivos em 1990 para 3,3% em 2013.1 Os partos vagi-
nais assistidos por vácuo agora compreendem 2,7% dos nascidos vivos, e os
0,6% restantes são de fórceps.1 A diminuição do parto vaginal operatório
diminuiu significativamente as oportunidades de treinamento para médicos
obstetras. Uma pesquisa realizada em 2007 com os principais residentes em
residências de obstetrícia e ginecologia nos Estados Unidos constatou que
apenas 50% dos residentes de último ano se sentiam competentes no uso
de fórceps, mas mais de 90% eram competentes em partos assistidos por vá-
cuo.2 Um estudo de 2014 de hospitais que ensinavam obstetrícia mostrou
que 3,7% não realizavam extrações a vácuo e 38,3% não realizavam partos
fórceps.3
À medida que o número de partos vaginais assistidos diminuiu nos Esta-
dos Unidos, a taxa de cesariana tem subido, aumentando de 24% dos partos
em 1996 para 34% em 2006.4 Diferenças regionais são significativas, varian-
do entre 1% e 23% de nascimentos, sugerindo decisões um tanto arbitrá-
rias.5 Realizar partos vaginais assistidos por vácuo pode ser significativo na
264
prevenção de um parto cesáreo.4 Menos de 3% das tentativas de parto vaginal assistido
por vácuo resultam em parto cesáreo.6 Programas de simulação podem ajudar no de-
senvolvimento e manutenção das habilidades manuais necessárias para realizar partos
vaginais assistidos.7
Prevenção
O parto vaginal assistido é procedimento com taxa de complicações inerente; por
conseguinte, é preferível utilizar condutas e abordagens durante o trabalho de parto
que minimizam a necessidade de parto vaginal assistido. Fatores que podem contri-
buir para a necessidade de parto vaginal assistido incluem o uso de anestesia peridural
e posição de litotomia dorsal no segundo período. A analgesia peridural aumenta a
taxa de parto vaginal assistido.8 No entanto, o risco de parto vaginal assistido pode
ser neutralizado com a utilização de qualquer posição vertical ou lateral, em vez de
supino ou posições de litotomia.9 Posição vertical ou lateral diminui a duração da
segunda fase do trabalho de parto, mas diminui ligeiramente as taxas de laceração
do períneo.9,10 A presença de apoio emocional contínuo no trabalho de parto está
associada à diminuição da duração e à probabilidade menor de parto vaginal opera-
tório.11 O uso de técnicas de segundo período para aumentar a eficácia dos esforços
maternos, como o uso de um lençol segurado pela parturiente em uma extremidade
e o profissional por outro lado, pode ser útil, especialmente em mulheres que relatam
exaustão (Figura 1).12
O uso de ocitocina, na segunda fase do trabalho de parto, está associada com dimi-
nuição da necessidade de parto vaginal assistido (número necessário para tratar = 12)
e diminuiu cesarianas (número necessário para tratar = 65).13 A colocação de limites
arbitrários na duração apropriada do segundo estágio do trabalho de parto pode au-
mentar a taxa de partos vaginais assistidos.14 Os médicos podem até optar por exceder
essas diretrizes e continuar o segundo período enquanto o trabalho de parto está pro-
gredindo e não há evidências de comprometimento fetal.15
Instrumentos
Originalmente, os dispositivos a vácuo tinham um copo de metal rígido com um
cateter de sucção separado preso lateralmente e conectado a um pedal acionado pelo
pé. As ventosas de hoje podem ser macias ou rígidas e estão disponíveis em diversos
formatos e tamanhos. Os copos posteriores de plástico rígido (por exemplo, copos
Kiwi OmniCup – Figura 2A, Mityvac M-cup e Bird ou O'Neil) foram projeta-
dos para partos em occipitoposteriores (OP) e assincrônicos.16,17 O copo mais plano
permite melhor colocação no ponto de flexão na cabeça do feto, que geralmente
fica muito mais atrás na pelve materna durante a apresentação em OP, com o copo
266 ALSO
FIGURA 2 Tipos de vácuo-extratores
Indicações Maternas
268 ALSO
1. Apresentação em cefálica fletida.
2. Dilatação cervical completa.
3. Ruptura da membrana amniótica.
4. Ausência de desproporção cefalopélvica.
5. Disposição de abandonar o procedimento se ocorrerem dificuldades, incluin-
do um plano para proceder ao parto cesáreo, se necessário.
Definições
A insinuação é definida como a passagem do diâmetro biparietal da cabeça fetal atra-
vés do plano da pelve. Por definição, a evidência clínica é quando a plano anterior do
crânio fetal é igual ou inferior ao plano das espinhas isquiáticas. Pensa-se que a distân-
cia entre as espinhas isquiáticas e a entrada pélvica seja maior que a distância entre a
borda anterior do crânio fetal e o diâmetro biparietal. No entanto, o crânio fetal pode
ser alongado e moldado.
O plano zero não comprova a insinuação, especialmente com uma apresentação
posterior ou um grande grau de moldagem.23 Os obstetras podem melhorar a sua
estimativa clínica da insinuação ao sentir o quanto da cabeça do feto está acima
do nível superior da sínfise púbica com a mão abdominal. Quando a cabeça do
feto está apenas insinuada, a cabeça pode ser palpada apenas com os dedos de um
lado. O occipital não pode ser palpado acima da borda superior da sínfise púbica. A
cabeça fica profundamente insinuada quando o occipício é palpável acima da borda
superior da sínfise púbica. Devido às dificuldades de determinar clinicamente e a
confusão em torno da terminologia da altura da apresentação, o Congresso Ameri-
cano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) reclassificou os partos instrumentados
da seguinte forma:16
1. Fórceps ou vácuo de alívio: a cabeça fetal atingiu o assoalho pélvico. O
couro cabeludo é visível entre as contrações. A sutura sagital está no diâmetro
anteroposterior ou na posição occipital anterior direita ou esquerda (OA) ou
OP, mas não a mais de 45 graus da linha média.
2. Fórceps ou vácuo baixo: a borda principal do crânio fetal está além do pla-
no +2 (em 5). A cabeça não está no assoalho pélvico. As rotações são divididas
em 45 graus ou menos e mais de 45 graus.
3. Fórceps ou vácuo médio: a cabeça está insinuada, mas a borda principal do
crânio está acima do plano +2. De maneira geral, não recomendamos o uso
de instrumental. A exceção é o parto do segundo gemelar no plano 0 ou +1,
desde que o profissional tenha grande habilidade.
Aplicação do Vácuo
O acrônimo ABCDEFGHIJ pode ser útil para iniciantes e fornece uma abordagem
sistemática para todos:29
A = Ajuda solicite ajuda, Avisar a paciente e Anestesia é adequada?
Muitas pacientes estarão sob peridural. Se o tempo permitir, um bloqueio pu-
dendo pode ser considerado em mulheres sem analgesia. Todas as pacientes devem
consentir verbalmente com o procedimento, conforme o tempo necessário. O obste-
tra deve discutir a necessidade potencial de um parto vaginal assistido antes do parto,
como parte do pré-natal de rotina, e documentar a discussão. Isso permitirá um con-
sentimento imediato da paciente se for necessário.
B = Bexiga vazia.
C = Colo deve estar completamente dilatado.
270 ALSO
D = Determinar a variedade de posição. Considerar a possibilidade de distocia de
ombro. Revisar o mnemônico ALEERTA.
A posição da cabeça fetal deve ser avaliada continuamente durante todo o pri-
meiro estágio do trabalho de parto. Ao determinar a variedade de posição, o obstetra
deve se lembrar de que:
1. A fontanela anterior é maior e forma uma cruz ou um diamante.
2. A fontanela posterior é menor e forma um Y ou triângulo.
3. Sentir a orelha e avaliar em que direção ela se curva.
4. O molde deve ser avaliado ao considerar a distocia. É frequentemente uma indi-
cação da extensão da compressão da cabeça fetal. A moldagem pode ser dividida
em categorias leves, moderadas e graves. Se os ossos parietais estão tocando, mas
não se sobrepõem na linha de sutura sagital, a moldagem é leve. Se os ossos
parietais estão sobrepostos, mas podem ser facilmente reduzidos à posição nor-
mal, por pressão de um dedo, a moldagem é moderada. A grave existe quando a
sobreposição de ossos não pode ser reduzida.30 A moldagem grave, como é fre-
quentemente encontrada nas cabeças defletidas e em assinclitismo, geralmente
leva ao deslocamento do copo e pode aumentar o risco de lesão intracraniana.31
Ao considerar a distocia de ombro, o parto vaginal assistido não deve ser tentado
se o risco parecer muito alto. Por exemplo, uma diabética com um bebê grande e
um trabalho de parto prolongado provavelmente não deve ter uma tentativa de parto
vaginal assistido por causa do risco de distocia de ombro. Se for tomada a decisão de
prosseguir com o parto vaginal assistido, é possível planejar o manejo da distocia de
ombro, se ela ocorrer. A paciente pode ser avisada do que precisará acontecer. Alguém
pode ser designado para aplicar pressão suprapúbica. A direção da pressão pode ser
planejada e, se necessário, pode-se obter uma escadinha.
E = Equipamento pronto. O dispositivo deve estar preparado e um assistente
deve estar disponível.
F = Aplicar o copo sobre o ponto de flexão e verificar a presença de tecido materno
antes e após a aplicação de sucção. O centro da ventosa deve ser aplicado a 3cm
anterior a Fontanela posterior, centrando a sutura sagital, sob o vácuo. A bor-
da da ventosa estará sobre a fontanela posterior (a maioria dos copos tem um
diâmetro de 5 a 7cm). Este ponto, localizado na linha média ao longo da sutura
sagital, cerca de 3cm em frente do fontanela posterior e 6cm da fontanela ante-
rior, chama ponto de flexão. O ponto de flexão é importante para maximizar a
tração, minimizando a perda de pressão.Verificar a colocação do copo usando a
fontanela anterior como o ponto de referência. O risco de hemorragia subgale-
al aumenta se a borda do copo for colocada na sutura sagital.32 O erro no local
de aplicação da ventosa parece ser comum33 e avalia-se como fator principal
272 ALSO
I = Avaliar Incisão.
A episiotomia de rotina como em todo parto vaginal não é indicada e está asso-
ciada ao aumento do trauma materno. Em comparação com mulheres que têm parto
vaginal espontâneo sem episiotomia, os riscos de laceração perineal grave (terceiro ou
quarto grau) aumentam no parto assistido por vácuo, mesmo sem episiotomia (risco
relativo [RR] = 3,1; 95% intervalo de confiança [IC] = 1,9 a 4,3). O uso de episio-
tomia no vácuo está associado ao aumento do risco de laceração perineal grave (RR
= 13,7; IC 95% = 10,1 a 17,3).42
J = Remova a ventosa do vácuo quando Já saiu a mandíbula.
Desvantagens do Vácuo
Existem várias desvantagens do uso de dispositivos a vácuo:
1. O parto é acelerado em situações de emergência somente quando há coope-
ração da paciente com a pressão e/ou há desproporção cefalopélvica mínima.
2. A tração adequada em ângulo reto com o plano da ventosa é necessária para
evitar a perda de sucção.
3. Há um pequeno aumento na incidência de céfalo-hematoma. Fatores de risco
pré-parto para céfalo-hematoma neonatal incluem o aumento do assinclitis-
mo e tempo de aplicação do vácuo superior a 10 minutos.3,6
Parto Fórceps
O fórceps de Simpson consiste de duas partes entrelaçadas, nomeadas ramo direito e es-
querdo, de acordo com o lado da pelve da mulher em que se encontram quando apli-
cados (Figura 3). Cada conjunto de fórceps possui uma alça, uma haste, uma fenestra
e uma lâmina. As lâminas são curvas no lado interomedial, como a curva cefálica
em conformidade com a cabeça do feto. As bordas superior e inferior das lâminas se
unem de maneira a reproduzir a curva pélvica, que se encaixa na cavidade do sacro e
se conforma à pelve materna.
274 ALSO
TABELA 2 Descrição cirúrgica – vácuo
Diagnóstico pré-operatório – Segunda período prolongado do trabalho de parto com
exaustão materna.
Procedimento – Não foi utilizada anestesia regional. A bexiga foi esvaziada com sonda
de alívio. No exame, o colo do útero estava completamente dilatado e a posição do
feto era OA direita, plano +3. A ventosa do vácuo foi aplicada com o centro sobre o
ponto de flexão e a borda sobre a fontanela posterior. Uma varredura de dedo garantiu
que nenhum tecido materno estivesse preso sob a ventosa. A pressão foi aplicada
à zona verde e, novamente, uma varredura do dedo não detectou tecido materno
preso. Durante uma contração, foi aplicada tração moderada em linha com o eixo
pélvico. Com dois impulsos, o parto de um recém-nascido masculino de 3,8kg ocorreu
com escores de Apgar de 9 em 1 minuto e 9 em 5 minutos. Não houve descolamento
da ventosa. Sem episiotomia, não foi necessária.
Ponta
276 ALSO
O ramo é aplicado no lado esquerdo da cabeça fetal (em posições occipitais an-
teriores). Normalmente dois dedos da mão direita estão inseridos profundamente na
região posterolateral da vagina para proteger os tecidos vaginais e para guiar a colher.
O polegar direito na base da colher é usado para aplicar a força na lâmina esquerda,
em vez de a força ser feita pela mão esquerda no cabo do fórceps. Na verdade, o ramo
do fórceps desliza quase sem esforço no lugar, e o cabo faz um grande arco lateral-
mente, próximo à perna direita da mãe.
O ramo direito do fórceps é então pego com a mão direita e é aplicado do lado
direito da cabeça do feto no lado direito da mãe, com a mão esquerda protegendo a
pelve materna à direita e orientando a colher. Os ramos devem se articular se estive-
rem corretamente aplicados.
Abaixar os cabos ligeiramente pode às vezes ser útil. A seguir estão referências para
verificar se a pega está correta:
a) A fontanela posterior deve estar no meio dos cabos e um centímetro acima
do plano dos cabos. Isto assegura a flexão apropriada da cabeça, para que o
menor diâmetro da cabeça fetal se apresente à pelve. Se a fontanela posterior
estiver mais do que 1cm acima do plano dos cabos, então a tração provocará
a extensão da cabeça, e os maiores diâmetros fetais se apresentarão à pelve – o
parto se torna mais difícil.
b) As fenestras não devem ser palpáveis, não devem admitir mais do que uma
polpa digital. Se couber mais de um dedo dentro da fenestra, as colheres não
estão inseridas o suficiente para estarem abaixo da eminência malar fetal e vão
atingir as bochechas fetais, com potenciais lesões.
c) As suturas lambdoides devem estar acima e equidistantes da superfície supe-
rior de cada colher. Isto assegura que a sutura sagital está linha média, entre as
colheres, o que confirma que a aplicação está correta.
Para resumir, certifique-se de que os ramos estão aplicados corretamente, pensan-
do em “posição do fórceps seguro” – PFS (“P” fontanela Posterior, “F” Fenestras, “S”
Suturas: lambdoide e sagital).
G=G
entil tração (manobra de Pajot). O canal do parto faz uma curva através
da pelve desde o estreito superior até o períneo. Esta curva é frequentemente
descrita como um arco ou “J” quando vista de uma projeção sagital. Para o
operador, durante um parto com fórceps, a curva começa no sentido des-
cendente, em seguida move-se em um grande arco na direção do operador,
e quase completa uma volta de 180 graus, dependendo da altura inicial da
cabeça. A direção de tração do fórceps deve estar sempre no mesmo eixo da
curvatura pélvica, em qualquer plano no qual a cabeça esteja. Este é o con-
ceito de eixo de tração.
278 ALSO
o parto vaginal enquanto causa mínimo trauma perineal sob a forma de lacerações
de terceiro e quarto graus, baixas taxas de hemorragia pós-parto e incontinência
urinaria.17,47
Resumo
Embora a incidência de parto vaginal assistido continue diminuindo, todos os obs-
tetras que oferecem assistência ao parto e parto devem estar familiarizados com os
280 ALSO
Classificação
Recomendação clínica Referências
da evidência
O parto vaginal operatório com uso sequencial de vácuo e
fórceps tem sido associado a piores resultados neonatais do
que o uso de um único instrumento. A morbidade aumenta B 41
com a falha no parto vaginal operatório seguido de parto
cesáreo no cenário de sofrimento fetal.
Força da recomendação
A) R ecomendação baseada em evidências consistentes e de boa qualidade orientadas ao
paciente.
B) Recomendação baseada em evidências inconsistentes ou de qualidade limitada
orientadas ao paciente.
C) Recomendação baseada em consenso, prática usual, opinião, evidência orientada
para a doença ou série de casos para estudos de diagnóstico, tratamento, prevenção ou
triagem.
A evidência orientada ao paciente mede os resultados que são importantes para os
pacientes: morbidade, mortalidade, melhora dos sintomas, redução de custos e qualidade
de vida. As evidências orientadas a doenças medem os desfechos intermediários,
fisiológicos ou substitutos que podem não refletir a melhora nos resultados do paciente
(por exemplo, pressão arterial, exames de sangue, função fisiológica, achados patológicos).
De Ebell MH, Siwek J, Weiss BD, et al. Força da taxonomia de recomendação (SORT): uma
abordagem centrada no paciente para classificar evidências na literatura médica. Sou
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OBJETIVOS
Introdução
A hemorragia pós-parto (HPP) é um sangramento excessivo após o parto
e pode ocorrer antes ou após expulsão da placenta. Os profissionais devem
aprender a reconhecer o sangramento excessivo e intervir de preferência an-
tes que outros sinais e sintomas de HPP se desenvolvam (Tabela 1).
286
Aproximadamente 5% das pacientes obstétricas terão HPP.3-5 A HPP é a principal
causa de mortalidade materna em países subdesenvolvidos e é a causa de 19,7% da
mortalidade materna em todo o mundo.6 Embora a proporção de mortes relaciona-
das à gravidez devido à hemorragia tenha diminuído nos Estados Unidos, 11,4% das
mortes relacionadas à gravidez entre 2006 e 2010 foram devidas à HPP.7
Sequelas potenciais de HPP incluem hipotensão postural, anemia e fadiga, o que
pode tornar a amamentação e o cuidado materno do recém-nascido mais difíceis.8
A HPP pode aumentar o risco de depressão pós-parto e reações agudas de estresse.8,9
A transfusão de sangue pode ser necessária, e os riscos associados incluem infecção e
reação transfusional.10 Em casos graves, a coagulopatia diluída ou a coagulação intra-
vascular disseminada (CIVD) deve ser antecipada.
O choque hemorrágico pode levar à síndrome de Sheehan (isquemia pituitária
posterior com atraso ou falha na lactação), isquemia miocárdica oculta, falência de
órgãos ou morte.3
Fatores de Risco
Os fatores de risco da HPP estão listados na Tabela 2 e incluem as condições anteparto
e intraparto. Entretanto, 22% das mulheres que desenvolvem HPP não têm fatores de
risco, portanto, os profissionais devem estar preparados para agir a cada parto.4
288 ALSO
FIGURA 1 Manobra de Brandt
290 ALSO
te disponíveis nas salas de parto e cirurgia. Como as estimativas visuais de perda de
sangue são muitas vezes falsamente estimadas, a perda de sangue quantificada (QBL)
deve ser usada para determinar o volume de perda de sangue.39 Na Tabela 3 são apre-
sentadas as sugestões sobre como calcular com precisão a QBL. Os sinais vitais devem
ser avaliados e os lóquios quantificados com frequência para detectar perdas de sangue
lentas, mas significativas.
Para mulheres com alto risco de HPP, concentrados de hemácias (PRBCs) e ou-
tros produtos sanguíneos devem estar prontamente disponíveis na sala de parto ou de
cirurgia. Mulheres com anemia devem receber prevenção e tratamento agressivo da
HPP porque podem ocorrer complicações com volumes menores de perda de sangue.
Diagnóstico
Preparação, reconhecimento precoce e resposta rápida à perda excessiva de sangue
reduzirão à morbidade associada à HPP primária e secundária.40 O diagnóstico de
Tratamento
As grávidas têm aumento do volume plasmático e da massa de eritrócitos.2 Elas são
tipicamente saudáveis e podem acomodar perdas de sangue leves a moderadas sem
ter sinais ou sintomas como hipotensão, taquicardia, náuseas, dispneia, oligúria ou
dor no peito. A QBL deve ser realizada em cada parto, e devem ser tomadas medidas
antes que a mulher desenvolva sintomas. Após a perda excessiva de sangue (1.000ml
ou mais) ser quantificada, o tratamento deve ser iniciado rapidamente por meio do
mnemônico dos quatro Ts.41 Muitas das etapas de diagnóstico e tratamento devem ser
realizadas simultaneamente (Figura 2).
Independentemente da provável causa do sangramento, será necessário pessoal
médico adicional para ajudar o profissional de parto. Os assistentes devem ser orienta-
dos para que dois acessos venosos de grande calibre (calibre 16 a 18) sejam iniciados.
Quando o sangramento ocorre antes do parto da placenta, a atenção é direcionada
para sua remoção e inspeção. A remoção manual pode ser necessária se houver atraso
na retirada da placenta ou se essa não estiver intacta. A dificuldade de localizar um
plano entre a placenta e o útero pode indicar placenta invasiva.41
Após a expulsão da placenta, o sangramento vaginal excessivo ocorre com mais
frequência devido à atonia uterina (70% dos casos). A primeira manobra para re-
duzir o sangramento é a massagem uterina transabdominal (fúndica). A oxitocina
pode ser administrada em seguida através da via IM ou IV (igualmente eficaz).1,3
Se o tônus uterino não melhorar com compressão, massagem transabdominal (e se
necessário, massagem bimanual) e oxitocina, agentes uterotônicos adicionais podem
292 ALSO
Manejo ativo do terceiro período
Ocitocina (10UI, IM, ou 5-10UI, IV, em bolus em 1-2 minutos)
após a saída do ombro anterior.
Clampeamento tardio do cordão: 1 a 3 minutos
Tração gentil e controlada do cordão
Massagem uterina após a saída da placenta
294 ALSO
A hipotermia agrava a coagulopatia e aumenta a vasoconstrição periférica, o que
pode diminuir a eficácia das drogas administradas por via intravenosa periférica. Po-
dem ser usados cobertores extras, aquecidos ou um aquecedor de líquidos para pre-
venir a hipotermia.45
Se disponível, instituir um protocolo de transfusão maciça para qualquer hemor-
ragia superior a 1.500ml ou perda de sangue sintomática contínua.46 Intervenções
adicionais podem ser necessárias (ver os itens Protocolos de Transfusão Massiva e
Intervenções para Hemorragia Pós-Parto Intrarrápida deste capítulo).
Na HPP secundária (ocorre 24 horas a 12 semanas após o parto), a atonia ainda é
a causa mais provável de hemorragia. A hemorragia pode ocorrer a um ritmo lento,
obscurecendo o volume total da perda de sangue. A endometrite pode complicar o
diagnóstico e o manejo. Podem ser realizados exames de ultrassonografia pélvica ou
Doppler, mas os achados não diagnósticos são comuns. Pode ser necessário curetagem
cuidadosa para remover o tecido retido.1
Ver o capítulo Ressuscitação Materna e Trauma para recomendações sobre o ma-
nejo de hemorragia e emergências relacionadas.
Hemorragia Pós-Parto 2 9 5
Intervenções Para Hemorragia Pós-Parto Persistente
Hemorragia intrauterina pode requerer empacotamento uterino (gaze simples ou
embebida em vasopressina ou carboprost), colocação de um dispositivo de tampo-
namento intrauterino, embolização angiográfica, drogas hemostáticas (por exemplo,
fator VIIa recombinante) ou cirurgia.50-52 A compressão aórtica pode ser realizada ou
roupas antichoque podem ser usadas como medidas temporizantes.53,54
Os dispositivos de tamponamento uterino podem ser usados para tratar a HPP
persistente devido à atonia uterina, ou minimizar o sangramento uterino enquanto o
tratamento ou transporte definitivo é arranjado. Um balão de tamponamento uterino é
colocado através do colo uterino após o parto vaginal ou da incisão uterina após o parto
cesáreo (Figura 3). O balão pressiona a superfície endometrial hemorrágica com uma
força que excede as pressões arterial e venosa uterina. Após a colocação de um balão,
a mulher deve ser frequentemente avaliada pela perda contínua de sangue da porta de
saída e pelo aumento da altura do fundo do útero (sugerindo o acúmulo de sangue).
Esses dispositivos estão contraindicados em mulheres com infecção do trato
genital, câncer cervical, gravidez, anomalias que distorcem a cavidade uterina (por
exemplo, leiomioma grande, anomalias congênitas) e naquelas que requerem outro
tratamento (por exemplo, embolização arterial, exploração cirúrgica, histerectomia).
Estudos de caso de balões de tamponamento uterino para HPP foram publicados e
296 ALSO
seu uso é recomendado em diretrizes amplamente reconhecidas.12,51,55,56 O perigo po-
tencial da HPP torna improvável o desenho de um ensaio controlado aleatório para
avaliar balões de tamponamento. Os fabricantes de balões de tamponamento uterino
publicaram instruções para o uso seguro de seus dispositivos.
Os profissionais devem estar familiarizados com o dispositivo que está disponível.
Como o balão é um dispositivo temporário e pode falhar ou requerer tratamento
definitivo, um médico cirurgião que consiga realizar uma histerectomia deve ser no-
tificado no momento da colocação.
As opções cirúrgicas incluem sutura uterina B-Lynch (Figura 4), sutura hemos-
tática quadrada múltipla, ligadura cirúrgica das artérias uterinas, ou histerectomia.1,12
Suturas de compressão uterina, embolização da artéria uterina e ligadura podem
preservar a fertilidade.57 Em mulheres com hemorragia contínua, apesar do uso de
massagem bimanual, agentes uterotônicos e outros métodos cirúrgicos, um plano de
histerectomia rápida deve ser iniciado porque tentativas contínuas de conservação
uterina podem aumentar o risco de mortalidade materna.1,12
298 ALSO
TABELA 5 Medicação para prevenção e tratamento da HPP
Droga Dose Prevenção Tratamento Contraindicações/cuidados
Primeira linha
Oxitocina MATP: 10UI, IM ou IV em + + Overdose ou uso prolongado pode causar
10 minutos intoxicação hídrica
Tratamento da HPP: 20UI em Possível hipotensão com uso intravenoso
1.000ml, SF, infundir 500ml em após parto cesáreo
10 minutos seguidos de
250ml/hora
Pode aumentar até 80UI/l s/n
Segunda linha
Metilergonovina 0,2mg, IM, repetir a cada 2-4 horas – + Evitar em doenças hipertensivas da
gravidez, incluindo hipertensão crônica
Misoprostola Prevenção: 600μg VO +b + Cuidado em pacientes com doenças
Tratamento VO: 600μg, cardiovasculares
SL (preferencialmente) ou 800VR
Ácido 1g, IV, diluído em 10ml SN – + Administrar em 3 horas após o início
tranexamicoa administrado durante do sangramento. Pode aumentar o
10 minutos (se nas primeiras risco de trombose. Uso com cautela
3 horas após a hemorragia) na insuficiência renal e com outros
fatores de coagulação (por exemplo,
concentrado de complexo de
protrombina)
Carboprost 0,25mg, IM (ou injetado – + Contraindicação relativa em pacientes com
diretamente no miométrio asma ou doenças renal, hepática ou
durante a cirurgia) cardíaca significativa
a
Misoprostol e ácido tranexâmico não são aprovados pela US Food and Drug Administration para uso na prevenção ou tratamento de hemorragia pós-parto.
Hemorragia Pós-Parto
b
Utilizar somente quando a oxitocina não estiver disponível. Utilizar a via SL para o início mais rápido da ação.
MATP = manejo ativo do terceiro estágio do trabalho de parto; PA = pressão arterial; IM = via intramuscular; IV = via intravenosa; SN = salina normal; VO = via oral; VR = via
retal; SL = via sublingual.
299
Informações de várias fontes.
500ml pode ser administrado por via intravenosa durante 10 minutos sem compli-
cações. Após essa infusão inicial, a solução de oxitocina pode ser infundida por via
intravenosa a 250ml/hora. Se a hemorragia atônica continuar, a taxa de infusão ou
concentração de oxitocina pode ser aumentada (por exemplo, 40 a 80 unidades de
oxitocina em 1 litro de soro fisiológico normal).56
Se a oxitocina sozinha for insuficiente para melhorar a atonia uterina e a hemor-
ragia, a escolha do agente de segunda linha deve ser baseada nos fatores de risco da
mulher (por exemplo, a presença de hipertensão ou asma) e nas práticas locais de aten-
dimento à maternidade. Estudo de 2015 sobre mulheres com atonia uterina refratária
após o parto cesáreo mostrou maior morbidade relacionada à hemorragia com o uso
de carboprost, em comparação com a metilergonovina como agente uterotônico de
segunda linha.59
A metilergonovina e a ergometrina (esta última não disponível nos Estados Uni-
dos) são alcaloides do ergot que estimulam a contração do músculo uterino.58 Uma
dose típica de metilergonovina é 0,2mg por via IM, repetida a cada 2 a 4 horas se
necessário.1,56 Como os agentes alcaloides do ergot causam vasoconstrição e elevam
os níveis de PA, eles são contraindicados em mulheres com pré-eclâmpsia, hipertensão
gestacional ou hipertensão crônica. Outros efeitos adversos incluem náuseas e vômi-
tos. Há muitas possíveis interações medicamentosas sérias com ergots, incluindo va-
soconstritores, inibidores de protease, antifúngicos e tratamentos para a hepatite C.60.
O carboprost (15-metilprostaglandina F2-alfa) é um potente agente uterotônico e
pode ser usado quando o tônus adequado não é obtido com oxitocina.27 O carboprost
é administrado por via IM na dose de 0,25mg e pode ser repetido a cada 15 minutos
para uma dose total de 2mg. O carboprost pode ser injetado no miométrio na mesma
dose, normalmente durante o parto cesáreo ou um procedimento cirúrgico pós-parto
para tratar a HPP grave. O carboprost demonstrou controlar a hemorragia em até 88%
das pacientes.61 Em pacientes que não se beneficiaram, a corioamnionite ou outros fa-
tores de risco de hemorragia estavam frequentemente presentes.61 A hipersensibilida-
de é a única contraindicação absoluta, mas o carboprost deve ser evitado tipicamente
em pacientes com asma, ou doença cardíaca, hepática ou renal significativa. Os efeitos
adversos comuns incluem náuseas, vômitos e diarreia.27
O uso do misoprostol, além da oxitocina, não melhora significativamente o tra-
tamento da HPP, em comparação com a oxitocina isoladamente, especialmente se a
oxitocina profilática já foi administrada como parte MATP.58,62,63 O misoprostol não
foi aprovado pela Food and Drug Administration para o tratamento da HPP; entretanto,
é recomendado pela ACOG.56 O oisoprostol pode ser administrado por via sublin-
gual, oral, vaginal ou retal, às vezes em combinação.26,28,64 A dosagem oral e sublingual
permite início de ação mais rápido, mas a dosagem retal permite maior duração de
ação e menos efeitos adversos gastrointestinais. Dosagens aceitáveis são 600µg por via
sublingual (preferencialmente) ou 800µg por via retal ou oral.12,56 Níveis mais altos e
300 ALSO
doses maiores estão associados a mais efeitos adversos, incluindo tremores, pirexia e
diarreia.28,58 Mesmo em doses baixas, o misoprostol está associado a mais efeitos ad-
versos do que a oxitocina.28,62
Após a estabilização inicial de uma mulher com atonia, é necessário monitora-
mento contínuo, incluindo a verificação de sinais vitais e a avaliação de qualquer
sangramento contínuo ou recorrente. Embora falte pesquisa, uma abordagem comum
para manter o tônus uterino é administrar metilergonovina (0,2mg por via IM a cada
4 horas para quatro doses) ou oxitocina (20 a 40UI em 1 litro de soro fisiológico nor-
mal, infundindo 500ml durante 10 minutos e depois 250ml/hora).41
Trauma
Ruptura uterina. Embora rara em um útero sem cicatrizes, a ruptura uterina clinica-
mente significativa complica aproximadamente 0,8% dos trabalhos de termo após o
parto cesáreo (LAC).71 O risco é significativamente aumentado em mulheres com in-
cisão uterina clássica anterior ou miomectomia; essas mulheres não devem submeter-
-se a uma prova de trabalho de parto e recomenda-se que devam dar à luz via cesárea
eletiva com 36 a 37 semanas de gestação.72
O risco de ruptura uterina é aumentado em menor grau em mulheres com his-
tórico de múltiplos partos cesáreos, particularmente aquelas sem parto vaginal pré-
vio.73,74 Em comparação com o parto espontâneo, a indução em uma mulher com
cicatriz uterina aumenta a taxa de ruptura uterina para 1 a 2%.71,73-75 O uso de pros-
taglandinas para amadurecimento cervical parece estar associado a aumento do risco
de ruptura uterina.75 Embora as evidências em relação a prostaglandinas específicas se-
jam limitadas, o misoprostol (PGE1) é contraindicado e a colocação de dinoprostona
(PGE2) permanece controversa.73,75,76 A colocação de dinoprostona tem a vantagem
de ser facilmente removida se ocorrer taquissístole ou em relação a desacelerações do
ritmo cardíaco fetal.
Sonda de Foley ou balão duplo pode ser considerado para a maturação cervical se a
indução for indicada em mulher que gostaria de parto via vaginal após cesárea prévia.73
Durante o parto, o primeiro sinal de ruptura uterina é tipicamente alterações da
frequência cardíaca fetal, como bradicardia fetal.73,77 Outros sinais e sintomas incluem
sangramento vaginal, sensibilidade abdominal, aumento da circunferência abdominal,
perda de contrações uterinas, elevação da apresentação da parte fetal, taquicardia ma-
terna ou colapso circulatório.73
A ruptura uterina pode prejudicar o feto e a mulher. A ruptura uterina pode
exigir a reparação cirúrgica do trauma, transfusão de sangue ou histerectomia. Trau-
302 ALSO
mas pequenos e assintomáticos do segmento uterino inferior, acidentalmente ob-
servados ao exame uterino pós-parto, podem ser monitorados com expectativa.73
Metanálise de estudos avaliando a morbidade e mortalidade associada a parto vagi-
nal após cesárea prévia e parto cesáreo repetido eletivo (ERCD) em gestações de
termo constatou que a mortalidade materna total foi de 9,6/100.000 partos (95%
CI = 2,1-43,2 por 100.000 partos) para ERCD e 1,9/100.000 partos para LAC
(95% CI = 0,4-9,5 por 100.000 partos). As taxas de histerectomia, hemorragia e
transfusões não diferiram significativamente entre parto vaginal após cesárea prévia
(PVACP) e ERCD.75
Embora a mortalidade materna seja reduzida pela escolha do PVACP em vez do
ERCD, essa escolha está associada ao aumento da mortalidade fetal. O ERCD está
associado a 0,5 mortalidade perinatal por 1.000 partos em comparação com 1,3 mor-
talidade perinatal por 1.000 PVACP.75 Essa taxa de mortalidade perinatal do PVAC é
comparável à taxa de mortalidade perinatal de nulíparas trabalhadoras.71 A encefalo-
patia isquêmica hipóxica também é mais elevada para o PVAC em comparação com
o ERCD, mas “não é possível conhecer a verdadeira relação devido à baixa força da
evidência geral”.75
Tecido
Trombina
304 ALSO
coagulação podem causar e/ou resultar de hemorragia devido à diluição iatrogênica
de líquidos intravenosos ou ressuscitação somente por papa de hemácias. A coagu-
lopatia deve ser suspeitada em mulheres que não se beneficiaram das medidas usuais
para tratar a HPP, não estão formando coágulos de sangue ou apresentam sangramen-
to nos locais de punção.41
Antes do parto, muitas mulheres que usam drogas, como heparina ou aspirina,
ou com coagulopatias crônicas (por exemplo, púrpura trombocitopênica idiopáti-
ca, púrpura trombocitopênica trombótica, doença de von Willebrand, hemofilia) são
identificadas, o que permite um planejamento avançado para prevenir a HPP. O san-
gramento coagulopático antes ou durante o parto pode ser o resultado da síndrome
HELLP (hemólise, enzimas hepáticas elevadas e baixa contagem de plaquetas) ou da
CIVD.41 Condições obstétricas que podem causar CIVD incluem as síndromes hiper-
tensivas com sinais de deterioração.
Como a CIVD é caracterizada pela diminuição dos níveis de plaquetas e fibri-
nogênio e aumento dos produtos de degradação do fibrinogênio (FDPs), a avaliação
deve incluir contagem de plaquetas, tempo de protrombina, tempo parcial de trombo-
plastina, nível de fibrinogênio e produtos de fibrin split (D-dímero). Entretanto, testes
laboratoriais rápidos podem não estar disponíveis e os níveis de FDP normalmente
aumentam em curto prazo, portanto a suspeita clínica é fundamental em situações
agudas porque não há um limite padrão para o diagnóstico de CIVD usando re-
sultados de testes em pacientes com HPP.84 Um tubo de sangue total vazio (tampa
vermelha) pode ser enchido com sangue materno. O sangue deve coagular em 5 a 10
minutos.
O manejo da coagulopatia consiste em tratar o processo da doença de base, avaliar
em série o estado da coagulação, substituir os componentes apropriados do sangue
(guiados por um protocolo de transfusão maciça para hemorragia grave) e manter o
volume intravascular.84,85
O ácido tranexâmico pode reduzir as complicações da hemorragia e ser conside-
rado uma terapia adjuvante aos agentes uterotônicos quando a mulher teve mais de
500ml de perda de sangue após o parto vaginal, mais de 1.000ml de perda de sangue
após o parto cesáreo, ou quando esteve hemodinamicamente instável e sangrando
por menos de 3 horas. O ácido tranexâmico reduz a perda de sangue, diminuindo a
quebra de fibrina e fibrinogênio. Uma dose aceitável é por via IV 1g.44 Estudo com
20.060 mulheres com HPP após o parto vaginal ou cesárea mostrou que a mortalida-
de por hemorragia foi reduzida em mulheres tratadas com ácido tranexâmico (risco
relativo [RR] 0,81; 95% CI = 0,65-1,00; NNT = 250).42 Os resultados do estudo não
mostraram aumento nos eventos trombóticos,42 embora os eventos trombóticos asso-
ciados ao uso de ácido tranexâmico no manejo da hemorragia não obstétrica tenham
sido uma preocupação.30
Hemorragia Pós-Parto 3 0 5
Cuidados Pós-Estabilização e Debriefing
A hemorragia pós-parto pode ser assustadora para a mulher, sua família e profissio-
nais de saúde. Nove por cento das mulheres apresentam transtorno de estresse pós-
-traumático (TEPT) devido ao parto traumático.86 O tratamento de uma mulher com
HPP não termina com controle de sangramento e estabilização de seus sinais vitais.
Triagem, diagnóstico e tratamento do transtorno de estresse agudo (que ocorre no
primeiro mês pós-traumático) ou TEPT são garantidos para evitar sequelas emocio-
nais em longo prazo. Além do apoio da equipe de saúde, as mulheres com sintomas
de estresse agudo se beneficiam da terapia cognitiva comportamental.87
306 ALSO
Perspectiva Global
Embora haja risco de HPP em cada parto, complicações graves de HPP, incluindo
mortalidade materna, são mais comuns em países com poucos recursos.12,96 Alguns
fatores de risco de HPP podem ser mais significativos em países pobres (por exemplo,
trabalho de parto prolongado e anemia crônica por desnutrição ou malária). A falta de
profissionais qualificados, a falta de acesso a medicamentos para prevenir e tratar he-
morragias e as grandes distâncias dos centros médicos capazes de fornecer transfusões
de sangue e cirurgia aumentam ainda mais o risco de morbidade e mortalidade por
HPP.96,97 A atonia uterina é responsável pela maioria da HPP em todos os ambientes.
Também é importante considerar causas que são mais comuns em áreas de poucos
recursos, como ruptura uterina após trabalhos de parto prolongados e lacerações do
trato genital em mulheres com mutilação genital feminina.96,98
Se usado a cada parto, MATP reduziria a HPP em aproximadamente 30 a 50%.11,96
A oxitocina é o medicamento preferido para a prevenção e tratamento da HPP; en-
tretanto, requer temperaturas controladas e uso de frascos e agulhas.99 Uma seringa
de dose única e pré-carregada foi desenvolvida para diminuir a complexidade de
uso.100 Se um centro de saúde não puder usar ou armazenar oxitocina com segurança,
o misoprostol pode ser o medicamento preferido para prevenção e tratamento da
HPP.12,96,99 A disponibilidade do misoprostol em alguns países pode ser limitada devi-
do a preocupações legais ou políticas relacionadas ao potencial desvio do misoprostol
para a interrupção da gravidez. A carbetocina (estável ao calor) na dose de 100µg por
via IM é uma opção razoável para prevenir a HPP em ambientes onde o armazena-
mento a frio de oxitocina não é possível.101
Outras estratégias de prevenção incluem detecção e correção da anemia materna
antes do parto e evitar partos instrumentais desnecessários, bem como a realização de
episiotomia de rotina.34,36,37,102 As possibilidades de tratamento que estão sendo avalia-
das para uso em países subdesenvolvidos incluem o uso de roupas antichoque e tam-
ponamento uterino com um cateter de preservativo hidrostático (cateter de borracha
estéril equipado com preservativo, colocado no útero através da vagina e inflado com
250 a 500ml de soro fisiológico).53-55,96 Os dispositivos patenteados são eficazes para a
atonia uterina, mas podem não estar prontamente disponíveis devido a preocupações
financeiras e logísticas.
Resumo
A hemorragia pós-parto é imprevisível e pode ocorrer em mulheres sem fatores de
risco. MATP e QBL devem ser usados rotineiramente. MATP inclui oxitocina após
a saída do ombro anterior do feto e tração controlada do cordão com a manobra de
Brandt. A massagem uterina após a saída da placenta é uma abordagem razoável e está
308 ALSO
PATIENT
SAFETY
BUNDLE
Hemorragia Pós-Parto
PRONTIDÃO
Todos os serviços
Carrinho de hemorragia com suprimentos, lista de verificação e cartões de
instruções para balões intrauterinos e pontos de compressões
Acesso imediato a medicamentos para hemorragia (kit ou equivalente)
Estabelecer um time de resposta rápida – a quem chamar quando a ajuda for
necessária (banco de sangue, cirurgia ginecológica avançada, outros serviços
de apoio e terciário)
Estabelecer protocolos de transfusão maciça e de emergência
(tipo O negativo/não cruzado)
Educação sobre protocolos, simulações e debriefings
DIAGNÓSTICO E PREVENÇÃO
Todas as pacientes
Avaliação do risco de hemorragia (pré-natal, na admissão e outros momentos)
Medir a perda de sangue (formal, quantitativa)
Manejo ativo do terceiro período (protocolo para todos os partos)
RESPOSTA
Todos os quadros de hemorragia
Padrão para todas as unidades, de acordo com os períodos do parto, plano
de abordagem para hemorragia obstétrica com checklists
Oferecer um programa de suporte para as pacientes, famílias e profissionais
RELATÓRIOS/LIÇÕES APRENDIDAS
Todos os serviços
Estabelecer a cultura de huddles para pacientes de alto risco e debriefings
pós-eventos
Revisão multidisciplinar dos casos graves de hemorragia para identificar as
dificuldades dos serviços
Monitorar os resultados e processor os dados em comitês de melhoria da
qualidade perinatal
© 2015 American College of Obstetricians and Gynecologists. É concedida permissão para duplicação e distribuição deste documento, em sua totalidade e sem
modificações, apenas para atividades não comerciais que sejam para fins educacionais, de melhoria da qualidade e de segurança do paciente. Todos os outros
usos requerem permissão por escrito da ACOG.
A padronização dos processos de assistência à saúde e a redução das variações têm mostrado melhorar os resultados e a qualidade da assistência. O Council on
Patient Safety in Women’s Health Care dissemina os pacotes de segurança dos pacientes para ajudar a facilitar o processo de padronização. Este pacote reflete
os avanços clínicos, científicos e de segurança do paciente emergentes a partir da data de emissão e está sujeito a mudanças. As informações não devem ser
interpretadas como ditando um curso exclusivo de tratamento ou procedimento a ser seguido. Embora os componentes de um pacote particular possam ser
adaptados aos recursos locais, a padronização dentro de uma instituição é fortemente encorajada.
O Council on Patient Safety in Women’s Health Care é um amplo consórcio de organizações em todo o espectro da saúde da mulher para a promoção de
cuidados de saúde seguros para cada mulher.
Fonte: Council on Patient Safety in Women’s Health Care. AIM-Supported Patient Safety Bundles. Patient, Family, and Staff Support after
a Severe Maternal Event. Available at https://safehealthcareforeverywoman.org.
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OBJETIVOS
Introdução e Epidemiologia
A parada cardíaca é a última etapa de muitas doenças que ameaçam a vida.
Muito embora 475.000 pessoas morram a cada ano de parada cardíaca nos
Estados Unidos, ela ainda é rara durante a gravidez.1 A taxa de parada car-
díaca na gravidez está crescendo nos Estados Unidos e estima-se agora que
ocorra em 1 a cada 12.000 parturientes.2 A sobrevivência materna varia de 17
a 59%,2,3 e a sobrevivência fetal, de 61 a 80%.4,5 De 1990 a 2013, a razão de
morte materna nos Estados Unidos dobrou, enquanto a taxa no mundo em
desenvolvimento diminuiu em 44%.6 A Figura 1 mostra as taxas de mortali-
dade relacionadas à gravidez para 1987-2016. Entre os recém-nascidos sobre-
viventes, 88 a 100% permanecem neurologicamente íntegros.7
Aproximadamente 50% da mortalidade materna é potencialmente evi-
tável por meio de uma melhoria do sistema de saúde.8 Embora essa não seja
uma ocorrência diária, o profissional competente é qualificado nas técnicas
de reanimação cardiopulmonar (RCP), incluindo suporte básico de vida e
suporte avançado de vida. Os profissionais devem estar familiarizados com
as causas básicas da parada, incluindo aquelas exclusivas da gravidez e aquelas
presentes na população geral. Além disso, têm que compreender os detalhes
da fisiologia materna que influenciam os esforços de reanimação e a avaliação
e condução do trauma na gravidez (ver item Trauma, abaixo). Os resultados
fetais estão diretamente relacionados com o bem-estar da mulher.
318
FIGURA 1 Evolução das mortes relacionadas à gestação nos EUA: 1987-2016
*Nota: Número de mortes relacionadas à gestação por 100.000 nascidos vivos por ano.
Traduzido e copiado de: Centers for Disease Control and Prevention. Pregnancy Mortality Surveillance System. 2020. Dispo-
nível em https://www.cdc.gov/reproductivehealth/maternalinfanthealth/pregnancy-mortality-surveillance- system.htm.
320 ALSO
de múltiplos órgãos. Se não for tratada, pode ter como consequência a morbidade e
mortalidade materna e fetal. O espectro das doenças hipertensivas na gravidez é abor-
dado no capítulo Síndromes Hipertensivas da Gravidez.
Pulmonar
322 ALSO
TABELA 2 Alterações fisiológicas da gestação que afetam a reanimação
Cardiovascular Efeito
Volume de plasma Anemia dilucional resulta na
diminuição da capacidade de
carregar O2
Volume de glóbulos vermelhos Aumento da demanda na RC
Débito cardíaco em 50% Aumento da demanda na RCP
Aumento
Frequência cardíaca em 15 a 20bpm Aumento do do eixo esquerdo do ECG
Fatores de coagulação Arritmias supraventriculares
Dextrorrotação do coração
Efeito estrogênico nos receptores
miocárdicos
PA em posição supina e retorno Diminuição do débito cardíaco em
venoso (compressão aortocava) 30%
PA em 10 a 15mmHg Possível lesão cardiovascular
Diminuição Resistência vascular periférica Sequestro sanguíneo durante a RCP
Pressão coloidal osmótica Possível sequestro para terceiro
espaço e edema pulmonar
Pressão capilar pulmonar
Respiratório Efeito
Frequência respiratória Diminuição da capacidade de
(progesterona-dependente) tamponamento
Consumo de O2 em 20% Diminuição rápida da PaO2 em hipóxia
Volume corrente (mediação Diminuição da capacidade de
progesterona) tamponamento
Aumento
Ventilação minuto Alcalose respiratória compensada
Ângulo laríngeo Entubação fracassada
Edema faringeal Entubação nasal difícil
Edema nasal Reduz a capacidade ventilatória
Capacidade residual funcional em Reduz a capacidade de
25% tamponamento
Diminuição
PCO2 arterial Alcalose respiratória compensada
Bicarbonato sérico
324 ALSO
Grávidas têm capacidade residual funcional e volume residual funcional diminuí-
do, mas apresentam volume corrente e ventilação aumentados. Será necessário adaptar
o suporte ventilatório devido a alterações metabólicas relacionadas à gravidez.
Dadas essas mudanças fisiológicas maternas e as restrições cardiovasculares da pre-
sença intra-abdominal do feto, os esforços maternos de reanimação ficam muito com-
prometidos. Embora a RCP em adultas não grávidas tem como resultado atingir até
30% do débito cardíaco normal, a RCP durante a gravidez pode estar mais próxima
de apenas 10%.36
Exigências de oxigênio fetal. O feto de uma mulher com apneia e sem pulso tem 2
minutos ou menos de reserva de oxigênio em decorrência de a tensão de oxigênio na
veia umbilical ser sempre menor do que na veia uterina. A probabilidade de reanima-
ção bem-sucedida da gestante e/ou do feto diminui após 4 minutos de parada cardía-
ca. Portanto, o profissional tem apenas 4 minutos para efetuar o restabelecimento da
circulação espontânea (RCE) antes de recorrer a intervenções mais drásticas, tal fato
confere muita importância à regra dos 4 minutos.5,37
O esvaziamento do útero gravídico alivia a compressão aortocava e pode melho-
rar os esforços de reanimação aumentando rapidamente o débito cardíaco alcançado
por meio da RCP.3 A melhor taxa de sobrevida fetal ocorre quando o feto é retira-
do não mais que 5 minutos após o coração da mulher parar de bater, e em nenhum
caso de histerotomia de reanimação foi mostrado agravamento do estado materno.5,37
O objetivo da American Heart Association (AHA) de indicar a retirada do feto em 5
minutos28 requer tipicamente que o profissional inicie histerotomia de reanimação
(anteriormente referida como parto cesáreo perimortem) aproximadamente 4 minutos
após o início da parada cardíaca materna.28
Reanimação na Gravidez
A discussão a seguir inclui uma visão geral dos princípios do BLS e ACLS, mas pres-
supõe uma familiaridade com os algoritmos AHA e CPR (Figuras 2 e 3).28,30 Em
2010, o AHA alterou a sequência de passos do BLS, de via aérea-respiração-circulação
(A-B-C) para circulação-aérea-respiração (C-A-B). Na gravidez, a sequência deve ser:
compressões torácicas/vias aéreas-respiração-deslocamento uterino (C-A-B-U).28 Os
profissionais devem adaptar a sequência das ações de resgate à causa mais provável
da parada. Recomendam-se modificar as técnicas devido às mudanças na fisiologia
materna (Tabela 3).28,30
As compressões torácicas devem ser realizadas com uma taxa de compressão de
pelo menos 100 por minuto e profundidade de pelo menos 2 polegadas, permitindo
o recuo do tórax entre as compressões.28 Se disponível, a ventilação por máscara com
Ritmo chocável?
Sim Não
2 9
FV/TVSP Assistolia/AESP
3
Choque
4
RCP 2 minutos
Acesso IV/IO 10
RCP 2 minutos
Acesso IV/IO
Epinefrina a cada 3 a 5min
Ritmo chocável?
Considerar via aérea
avançada, capnografia
Sim Não
5
Choque Ritmo chocável?
6
Não Sim
RCP 2 minutos
Epinefrina a cada 3 a 5min 11
RCP 2 minutos Ir para 5 ou 7
Considerar via aérea
Amiodarona
avançada, capnografia
Tratar causas reversíveis
7 12
Choque Sem RCE, ir para 10 ou 11 Ir para 5 ou 7
Com RCE, vá para cuidados
8
pós-parada cardíaca
RCP 2 minutos
Tratar causas reversíveis
326 ALSO
Não responsiva
Sem respiração ou sem respiração normal
O útero está no umbigo ou acima dele
Registrar a hora
Começar massagem cardíaca
de alto desempenho
Compressões no tórax durante a gravidez: Manejo adequado das vias aéreas para a gravidez:
Usar uma prancha de PCR firme Vias aéreas abertas utilizando a manobra de elevação da cabeça
Colocar a paciente em posição supina (se não for trauma). Administrar 100% de O2 em ≥ 15 litros/min.
Colocar as mãos no centro do peito (como em não grávidas) Quando disponível, realizar a ventilação com máscara e ambu
Comprimir a uma velocidade de pelo menos 100/min Vedar a máscara, garantir que não haja vazamento ao seu redor; 2 mãos
Comprimir a uma profundidade de pelo menos 5cm Técnica preferida
(2 polegadas) Faça cada respiração de resgate durante 1 segundo
Pausa de perichoque < 10 segundos Fazer 2 respirações para cada 30 compressões
Permitir um recuo completo do tórax após cada compressão Dar volume corrente suficiente para que o tórax seja exibido
Diminuir ao mínimo as interrupções Expansão da máscara ou embaçamento. Se não for visto, reabrir
Lateralizar o útero as vias aéreas e melhorar a vedação
Considerar o uso de via aérea oral. Evitar a ventilação excessiva
Sem alteração
328 ALSO
balão deve ser realizada. Use 100% de oxigênio e administre 2 respirações a cada 30
compressões.28 A ventilação com máscara deve ser administrada por dois membros
do time de atendimento com 100% de oxigênio.38,39 Indica-se a aplicação da máscara
com uma manobra de levantamento usando duas mãos para a via aérea oral ou para
as duas vias aéreas nasais, usando oxigenação de alto fluxo.38,39
Histerotomia de Reanimação
Apesar de todas as manobras apropriadas, incluindo o DUE contínuo, a capaci-
dade de fazer compressões de alta qualidade é muito limitada na gravidez. A RCP
em grávidas nunca deve ser considerada circulação eficaz. Portanto, a histerotomia de
reanimação pode ser necessária para aliviar a compressão aortocava causada pelo feto
e restaurar a circulação materna (Tabelas 4 e 5).46
Poucos casos publicados descrevem o parto vaginal durante uma parada cardíaca
na gravidez.4 Os profissionais de saúde materna envolvidos em reanimação intra-
parto podem conduzir um exame vaginal, desde que a RCP esteja sendo realizada
330 ALSO
TABELA 4 Conduta na PCR na gestante
Ativar a equipe de parada cardíaca (código azul)
Colocar a mulher na posição supina em um encosto e deslocar manualmente o útero à
esquerda
Usar 100% de oxigênio ao ventilar. Proteção avançada das vias aéreas no início da
reanimação
Remover monitores fetais e/ou uterinos
Administrar medicamentos e doses habituais do ACLS
Toda a equipe deve se preparar para uma possível histerotomia de reanimação
Se não houver RCE até 4 minutos de reanimação, prepare-se para histerotomia de
reanimação
A equipe não deve esperar pelo material cirúrgico para iniciar o procedimento; só é
necessário um bisturi
A equipe não deve gastar tempo com procedimentos antissépticos demorados
Realizar antissepsia rápida ou esta etapa deve ser totalmente excluída
Realizar histerotomia de reanimação no local da parada. Não há necessidade de
transferência de sala
O parto deve ocorrer dentro de 5 minutos após o início da parada cardíaca, se a RCP
não é eficaz
Manter a lateralização uterina durante toda a cesárea até a retirada do feto
Se não há viabilidade materna (lesão fatal ou ausência prolongada de pulso), a equipe
não precisa esperar para iniciar a histerotomia de reanimação. O parto vaginal assistido
deve ser considerado se o colo uterino estiver totalmente dilatado e a cabeça fetal baixa
ACLS = advanced cardiac life support; RCP = reanimação cardiopulmonar; RCE = restabelecimento da circulação
espontânea.
Fonte: Jeejeebhoy FM, Zelop CM, Lipman S, et al; American Heart Association Emergency Cardiovascular Care Commit-
tee, Council on Cardiopulmonary, Critical Care, Perioperative and Resuscitation, Council on Cardiovascular Diseases in
the Young, and Council on Clinical Cardiology. Cardiac arrest in pregnancy: a scientific statement from the American
Heart Association. Circulation. 2015;132(18):1747-1773.
A mulher está com 20 semanas de gestação ou mais ou tem um útero que está
no nível do umbigo ou superior.28,48
Estão disponíveis instalações apropriadas e pessoal especializado para realizar
o procedimento e para cuidar da mulher e do recém-nascido após o procedi-
mento (Tabela 6).
A equipe de maternidade deve permanecer calma e evitar o caos. Isso pode ser
mais bem alcançado por meio da realização de simulações práticas in situ com todo
o pessoal clínico relevante presente.3,49 As melhores taxas de sobrevivência fetal são
alcançadas quando a histerotomia de reanimação é realizada em 5 minutos da PCR.5,37
Em uma coorte de 45 recém-nascidos sobreviventes que nasceram em 5 minutos da
morte materna, houve um estado neurológico íntegro de 98%. Esse status diminuiu
para 33% para 9 bebês sobreviventes de um parto que ocorreu 16 a 25 minutos após
a morte materna.50
Em revisão sistemática de 94 casos de paradas cardíacas maternas publicadas em
2012, 54% das mulheres sobreviveram à alta hospitalar. A histerotomia de reanimação
foi realizada em 76 (87%) gestações viáveis.51 Embora aproximadamente dois terços
das paradas ocorreram em áreas altamente monitoradas do hospital e 89% das paradas
332 ALSO
TABELA 6 Considerações para a histerotomia de reanimação na PCR materna
Fatores chave
Resposta Comunicação imediata e eficaz de que uma emergência está ocorrendo
da equipe Cientes das rotas mais rápidas para a unidade de trabalho de parto e
parto, serviço de emergência e todas as unidades de terapia intensiva
Comunicação em circuito fechado durante a reanimação
Atribuição de papéis, transcrição detalhada com os tempos. O líder deve
ser um indivíduo com conhecimento do tratamento de grávidas que não
está saturado de tarefas, pode se comunicar efetivamente e reavaliar
periodicamente os objetivos e resultados da abordagem
Fatores A histerotomia ressuscitativa está dentro do conjunto de habilidades do
maternos socorrista?
Considerar se os esforços de RCP são eficazes:
Avaliar se a mulher se beneficiou das intervenções da parada
Fatores Considerar se existem causas reversíveis para a parada
fetais Estimar a idade gestacional e considerar a taxa de sobrevivência. O
aumento da viabilidade fetal é estimado em 23 a 24 semanas de gestação
Considerar o estado do feto no momento da parada
Principais intervenções
Resposta Assegurar que equipamentos e suprimentos adequados estejam disponíveis
da equipe O item mais importante é o bisturi; a histerotomia de reanimação não
deve ser retardada enquanto se espera por uma bandeja de cesárea
Notificar o pessoal de apoio neonatal
Preparar-se imediatamente para uma histerotomia de reanimação no
início da parada maternal
Lateralização contínua do útero para aliviar a compressão aortocava.
Profundidade de compressão RCP de pelo menos 2 polegadas; 100
compressões/minuto, trocando os massageadores a cada 2 minutos (não
interromper a compressão torácica, exceto durante a desfibrilação)
Fatores Realizar a entubação precocemente, administrar oxigênio a 100%
maternos Considerar o aumento do risco de complicações relacionadas à gravidez no
manejo das vias aéreas
Desfibrilar de acordo com as diretrizes da AHA
Administrar medicamentos IV acima do diafragma
Continuar a RCP durante todo o tempo e fazer uma histerotomia em 4
minutos após o início da parada materna para retirar o feto em 5 minutos
após o início da parada cardíaca
Fatores A sobrevivência neonatal pode ser maior (se for ultrapassada as 23 a 24
fetais semanas de gestação) quando o feto é retirado em 5 minutos
AHA = American Health Association; RCP = reanimação cardiopulmonar; IV = via intravenosa.
Obtida de várias fontes.
334 ALSO
Parto cesáreo imediato é a melhor maneira de otimizar a condição da mulher e do
feto, portanto o procedimento deve ocorrer no local da parada. Gestante com parada
cardíaca intra-hospitalar não deve ser transportada para o centro cirúrgico para parto
cesáreo.28
O consentimento dos familiares antes de realizar o procedimento é útil, mas não
necessário. É de responsabilidade do profissional de saúde realizar histerotomia de
reanimação se os critérios acima forem atendidos. Já em 1931, concluiu-se que “uma
ação civil por danos poderia seguir-se pela negligência ou pela má prática do cirur-
gião ou obstetra ao não seguir a prática usual e habitual” em relação à histerotomia
de reanimação.56 Os atuais profissionais e as instalações de saúde devem permanecer
cientes das consequências médico-legais da reanimação tardia.57 A equipe cirúrgica
deve estar preparada para cuidar do recém-nascido. Um recém-nascido pode perder
30% das reservas de energia disponíveis nos primeiros 5 minutos em ambiente frio e
úmido, portanto, a secagem e o aquecimento imediatos são indicados.
Os instrumentos úteis para realizar histerotomia de reanimação estão listados na
Tabela 7. Se tais instrumentos não estiverem disponíveis, um bisturi para realizar o
parto e um cobertor para o bebê são os itens imediatamente necessários. Antibióticos
e suturas serão necessários se a mulher sobreviver.
Algumas condições clínicas indicam a necessidade de RCP e histerotomia de
reanimação simultânea (por exemplo, estenoses mitral e aórtica, miocardiopatia,
doença pericárdica, temperatura central inferior a 34oC [93,2oF], lesão ou doença
pulmonar/cardíaca, envenenamento por monóxido de carbono).23 Se o estado he-
Materiais pediátricos
Cobertores neonatais
Saco de reanimação autoinflável (bebê, criança)
Máscaras de reanimação DeLee (bebê, criança)
Material de sucção DeLee
Seringa com êmbolo
Intervenções Alternativas
A massagem cardíaca direta realizada por meio de uma extensão da linha média ver-
tical da incisão abdominal pode proporcionar melhor perfusão dos órgãos.6 Revisões
sistemáticas do suporte de vida extracorporal mostraram taxas de sobrevivência ma-
terna de 77,8 a 80% e taxas de sobrevivência fetal de 65,1 a 70%.58,59
Trauma na Gravidez
O trauma pode complicar de 6 a 7% de todas as gestações e é a principal causa
não obstétrica de morte entre as grávidas.10,60 As lesões traumáticas mais comuns
em grávidas são: colisões de veículos motorizados (MVCs) (48 a 55%), quedas
(22 a 25%), agressão (17 a 22%), suicídio (3,3%), violência doméstica, homicídio e
ferimentos de bala (4%), intoxicação e queimaduras (1%).61,62 Nove em cada 10 le-
sões traumáticas durante a gravidez são leves; no entanto, 60 a 70% das perdas fetais
são devido a lesões menores.61 O trauma também pode ser dividido em menor e
maior.
As grávidas comparecem frequentemente aos serviços de emergência, atendimen-
to de urgência ou de atenção primária com traumas menores (por exemplo, acidentes,
cortes, torção). Mulheres com trauma menor não relatam dor abdominal, sangramen-
to vaginal ou perda de líquidos e referem movimento fetal satisfatório.63 Entretanto,
mesmo trauma menor pode estar associado à morte fetal.64 Trauma maior pode incluir
MVCs ou quedas nas quais houve compressão rápida, desaceleração ou forças de
ruptura aplicadas de alguma forma ao abdome/útero. Mulheres com trauma maior
podem relatar dor abdominal, sangramento vaginal ou perda de líquido e diminuição
do movimento fetal. Trauma grave está associado a resultados adversos da gravidez de
médio e longo prazo, incluindo parto prematuro, descolamento prematuro da placen-
ta (DPP) e morbidade perinatal.64
Este capítulo inclui uma revisão das mudanças anatômicas e fisiológicas da gravi-
dez importantes na abordagem de gestantes com trauma. A avaliação e o tratamento
de traumas graves são revistos e é apresentado um protocolo de avaliação para grávidas
que sofrem traumas abdominais fechados e quedas. Finalizando, há uma revisão das
lesões sofridas por gestantes em MVC e vítimas de agressões físicas.
336 ALSO
Anatomia e Fisiologia Relacionada ao Trauma
Muitas mudanças anatômicas e fisiológicas da gravidez estão relacionadas a ocorrên-
cia, diagnóstico e conduta no trauma.31,62,65 Durante o primeiro trimestre, o útero de
parede espessa é bem protegido do trauma pela parede pélvica. No segundo trimestre,
o volume uterino relativamente abundante de líquido amniótico protege o feto. Ape-
sar disso, as taxas de lesão fetal aumentam após 24 semanas de gestação à medida que
o útero se eleva para fora da pélvis.4 No terceiro trimestre, o útero, agora de parede
fina e proeminente, está sujeito a possíveis golpes, penetração ou ruptura. À medida
que a gravidez se aproxima do termo, o volume relativo de líquido é reduzido, o que
diminui o efeito de amortecimento ao redor do feto. A cabeça do feto nesse ponto da
gestação é normalmente protegida pela bacia óssea.
A placenta é um órgão inelástico ligado a um órgão elástico (o útero). Forças de
aceleração ou desaceleração podem deformar o útero e separar a placenta de seu local
de implantação, o que cria um descolamento prematuro da placenta (DPP). O risco
de DPP é independente da localização da placenta. A ruptura uterina também pode
ocorrer e está associada a trauma de fundo por lesão direta. A ruptura uterina frequen-
temente resulta em morte fetal.66,67
Gastrointestinal. O tempo de esvaziamento gástrico é mais prolongado durante a
gravidez, portanto o profissional deve sempre considerar estômago cheio na grávida.
A descompressão precoce do tubo gástrico deve ser considerada. Os intestinos são
deslocados para a parte superior do abdome e podem ser protegidos pelo útero. Sinais
de irritação peritoneal (por exemplo, distensão, sensibilidade de rebote, guarda, rigi-
dez) são frequentemente detectados no exame após o trauma, mas podem ser menos
pronunciados durante a gravidez.
Urinário. O fluxo sanguíneo renal e a taxa de filtração glomerular aumentam durante
a gravidez. Os níveis de ureia no sangue, nitrogênio e creatinina sérica diminuem. A
glicosúria é comum por causa de um limite de excreção mais baixo. Pode haver hi-
dronefrose bilateral ou unilateral com dilatação ureteral. Essas mudanças podem afetar
a interpretação dos estudos laboratoriais e radiológicos quando ocorre trauma.
338 ALSO
TABELA 8 Avaliação materna e fetal na PCR
Avaliação materna primária
Via aérea protegida
Ventilação e oxigenação adequadas
Entubação precoce
Manter a PCO2 apropriada
Volume circulatório efetivo
• Suporte de volume
• Transfusão de sangue
Diminuir a compressão uterina na veia cava inferior
• Deslocamento uterino esquerdo manual
Avaliação laboratorial de base
• Adicionar fibrinogênio
Suplementos
• Manter a hipervolemia relativa
• Oximetria de pulso
• Gases sanguíneos arteriais
Avaliação secundária materna
Raios x
Avaliação ultrassonográfica focada em trauma
Diagnóstico de lavagem peritoneal
Monitorar as contrações uterinas
Avaliar descolamento prematuro de placenta
• Avaliação para sangramento vaginal
• Avaliação para membranas rompidas
• Avaliar o colo uterino para dilatação e esvaecimento
Pressão venosa central
Débito de urina
Testes laboratoriais de base
• Bicarbonato de soro
• Fator Rh
• Teste Kleihauer-Betke
• Fatores de coagulação
• Avaliar para admissão
• Hemograma completo
• Tipo e tela
Avaliação fetal primária
Exame abdominal materno
• Avaliar para descolamento
• Avaliação para ruptura uterina
• Altura do fundo
Palpar
• Atividade uterina
Frequência cardíaca e movimentos fetais
Ajustes
• Raios X para avaliar possibilidade de ruptura uterina
• Internação
Fonte: Jeejeebhoy FM, Zelop CM, Lipman S, et al; American Heart Association Emergency Cardiovascular Care Commit-
tee, Council on Cardiopulmonary, Critical Care, Perioperative and Resuscitation, Council on Cardiovascular Diseases in
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340 ALSO
das facadas ou ferimentos de bala no abdome materno resultam em lesão fetal ou
morte.73 A exploração cirúrgica do abdome materno é quase sempre indispensável em
casos de lesão abdominal penetrante.
A administração de rotina da imunoglobulina Rh(D) é indicada em mulheres com
trauma abdominal significativo que são Rh negativas não sensibilizadas. A incidência
registrada de hemorragia feto-materna após trauma é de 8 a 30% (com uma faixa de
2,5 a 115ml de sangue).74 Indicações para a profilaxia do tétano não mudam na gra-
videz e pacientes elegíveis devem ser vacinadas.
O teste Kleihauer-Betke (KB) deve ser avaliado para mulheres com trauma ute-
rino fechado significativo para determinar o grau de hemorragia feto-materna, inde-
pendentemente de seu status Rh.75-77 Quando grávidas com trauma têm um escore
de gravidade da lesão superior a 2 (Anexo), o teste KB positivo é um preditor eficaz
de resultados perinatais desfavoráveis, particularmente em mulheres com trauma mais
grave.64,78
A média estimada do volume sanguíneo do sangue fetal injetado é tipicamente
inferior a 15ml; e para mais de 90% das mulheres, inferior a 30ml. A administração de
300µg de imunoglobulina Rh(D) tratará uma hemorragia de 15ml de perda de gló-
bulos vermelhos, ou uma hemorragia de 30ml do volume total de sangue. Os exames
em série podem ser apropriados para avaliar a hemorragia em andamento.79,80
Infelizmente, o teste KB muitas vezes não está prontamente disponível para
o controle clínico imediato. O monitoramento cardíaco fetal, o monitoramento
uterino ou a avaliação por ultrassonografia podem ser mais úteis no quadro agudo.
Uma abordagem alternativa de cálculo do volume total de sangue de um feto tem
sido recomendada para acelerar a terapêutica.81 Primeiro, estimar o peso fetal por
ultrassonografia, depois multiplicar o peso fetal estimado em quilogramas pelo vo-
lume total de sangue de um feto (aproximadamente 100ml/kg) para determinar a
dose máxima total de imunoglobulina Rh(D).81 Uma ampola de 300µg tratará 30ml
de perda total de sangue, portanto duas ampolas tratariam a perda total de sangue
fetal de um feto de 600g. No caso de um feto de 3,5kg, 3,5kg multiplicados por
100ml/kg produziriam um volume total estimado de sangue fetal de 350ml. Esta
abordagem sobrevalorizará a exposição materna ao sangue fetal porque apenas uma
quantidade limitada de sangue fetal entrará normalmente na circulação materna,
mesmo em traumas graves.81
A histerotomia de reanimação pode ser necessária por várias razões: pode ser
difícil tratar a condição materna traumática ao redor do útero gravídico, a doença
obstétrica contribui para o agravamento da condição da mulher (como em casos
de coagulopatia abrupta) ou o feto é acidótico. A histerotomia de reanimação pode
melhorar o estado da mulher, mas pode aumentar seu risco de hipovolemia. Após 23
a 24 semanas de gestação, a histerotomia de reanimação também pode salvar o feto.54
A ocorrência mais comum entre grávidas é um trauma menor (por exemplo, queda,
pequena MVC, trauma abdominal fechado), que causa pouco ou nenhum dano ma-
terno. Em casos menores, o profissional frequentemente deve julgar se é necessário
um exame ou monitoramento. É recomendável ser cauteloso e meticuloso porque
um trauma aparentemente insignificante pode resultar em lesão fetal ou morte.64,82
O DPP normalmente se torna aparente logo após a lesão. O monitoramento fetal de
gestantes que sofrem trauma além das 20 semanas de gestação deve ser iniciado assim
que a mulher estiver estabilizada. O monitoramento via cardiotocografia deve ocorrer
por um mínimo de 4 a 6 horas.31,75 Em um estudo, todas as mulheres que desenvol-
veram posteriormente DPP experimentaram oito ou mais contrações por hora nas
primeiras 4 horas de monitoramento.83
O acompanhamento deve ser continuado por um mínimo de 24 horas se houver
a presença de seis contrações uterinas por hora,62 padrões anormais de frequência
cardíaca fetal, sangramento vaginal, sensibilidade uterina significativa, lesão materna
séria ou ruptura de membranas que ocorrem durante o período inicial de 4 a 6 horas
de monitoramento. Se nenhum desses achados estiver presente, então a mulher pode
ter alta com instruções para retornar se apresentar sangramento vaginal, vazamento
de líquido, diminuição do movimento fetal ou dor abdominal grave.31,65 Uma diretriz
para o tratamento de traumas menores é apresentada na Tabela 9.
A presença de seis contrações uterinas por hora62 e glóbulos vermelhos fetais na
circulação materna são bons indicadores de risco fetal por DPP. A ultrassonografia
tem pouca sensibilidade (24%) para a detecção de DPP, mas é altamente específica (96%).
Isso resulta em um valor preditivo positivo de 88% se o DPP for observado durante a
ultrassonografia e um valor preditivo negativo de 53% se o DPP não for observado.84
Se a mulher for hospitalizada, então a terapia com betametasona deve ser conside-
rada se ela estiver entre 24 e 36 6/7 semanas de gestação e parto provável. A vacinação
contra o tétano é segura na gravidez. Deve-se tomar cuidado para evitar complicações
de tromboembolismo (por exemplo, considere a heparina de baixo peso molecular ou
dispositivos de compressão sequencial).72
342 ALSO
TABELA 9 Trauma menor: conduta na gestação
Intervenções Fatores de risco Critérios de alta
Avaliação materno e fetal Frequência cardíaca Resolução de
primárias materna > 110bpm contrações
Testes de laboratório: tipo Índice de gravidade Avaliação cardíaca
sanguíneo, Rh, da lesão > 9 (Anexo) fetal normal
Hematócrito, teste Evidência de DPP Membranas intactas
Kleihauer-Betke, coagulação Frequência cardíaca Sem sensibilidade
Considerar a ultrassonografia fetal > 160bpm ou uterina
obstétrica < 110bpm Sem sangramento
Se a gestação for superior a Ejeção durante vaginal
20 semanas, monitorar por colisão de veículos Todas as mulheres
contrações e batimentos motorizados que são
cardíacos fetais Colisão de Rh-negativas
Se < 6 contrações/hora e sem motocicletas ou recebem
fatores de risco, monitorar por pedestres 300mg de Rh(D)
4 horas, depois liberar imunoglobulina
Se > 6 contrações/hora ou (principalmente se
fatores de risco, monitorar por indicado pelo teste
pelo menos 24 horas Kleihauer-Betke)
Bpm = batimentos por minuto.
Fonte: American College of Surgeons. Chapter 12: Trauma in Pregnancy and Intimate Partner Violence. In: American
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durante a gravidez porque algumas mulheres pensam que esse prejudicará o feto e
porque pode ser desconfortável.82,85-88 Com 6, 7, 8 e 9 meses de gestação, 53%, 60%,
66% e 56% das grávidas, respectivamente, relataram desconforto ao usar o cinto de
segurança.82 A mama e o fundo do útero devem estar a 10 polegadas da cobertura
do airbag.89 Durante a gravidez, a distância até o lado inferior do volante de direção
diminui de 3,07 a 6,52cm em 6 a 9 meses de gestação.82 O uso do cinto de segurança
deve ser uma questão importante de aconselhamento pré-natal em cada gravidez.
O uso adequado dos cintos de segurança durante MVC pode ser o melhor pre-
ditor de resultados maternos e fetais. Mulheres que usaram corretamente o cinto de
segurança durante MVC sofreram lesões menores, em comparação com lesões graves
e morte naquelas que não o usaram corretamente.85,86 A falta de uso do cinto de se-
gurança durante a gravidez está associada a risco maior de morte fetal.90 Há redução
de 84% nos resultados fetais adversos em mulheres que usam cinto de segurança.91
O uso incorreto do cinto de segurança pode contribuir para lesões intrauterinas.73 O
cinto de segurança deve ser colocado o mais baixo possível no abdome, sob a porção
protuberante, e posicionado no ombro para o lado do útero entre as mamas e sobre a
porção média da clavícula. A colocação do cinto no abdome sobre o domo do útero
344 ALSO
unidades de terapia intensiva, os dados baseados na população mostram agora que a
taxa de fatalidade e mortalidade perinatal associada à ELA é de 13 a 30% na América
do Norte e 9 a 44% na Europa.101
A embolia amniótica continua a ser uma das condições mais catastróficas que
podem ocorrer em grávidas. A ELA também é catastrófica para o feto, com taxa de
sobrevivência neurologicamente intacta de apenas 39%.102 Estudo descritivo de 2015
baseado na população da Austrália/Nova Zelândia mostrou 33 casos de ELA de uma
coorte estimada em 613.731 parturientes; a incidência estimada foi de 5,4/100.000
parturientes. Cinco mulheres morreram (taxa de 15% de casos fatais) e a taxa estimada
de mortalidade materna devido à ELA foi de 0,8/100.000 parturientes. Dois dos 36
bebês morreram.103
Fatores de risco associados a risco aumentado de ELA incluem idade materna avança-
da, anormalidades placentárias, partos operatórios, eclâmpsia, polidrâmnios, lacerações
cervicais e ruptura uterina.101 Na época da descrição inicial da ELA em 1941, ela foi
pensada como um evento mecânico no qual um bolus de líquido amniótico entra na
circulação sistêmica devido a uma contração tetânica, move-se através do circuito
pulmonar e produz falha de perfusão maciça, broncoespasmo e choque.104
O número de casos que não se encaixam nesse quadro levou a uma reconsidera-
ção da fisiopatologia, o que sugere que a síndrome pode ocorrer com simples expo-
sição a pequenas quantidades de líquido amniótico. Deve haver um bom argumento
para incluir a ELA em um grupo de síndromes anafilactoides que ocorrem no final da
gravidez ou no parto. Estudos fisiopatológicos mostram que a insuficiência cardíaca
esquerda e o vasoespasmo pulmonar são os principais fatores etiológicos no colapso
cardiovascular, mas o mecanismo subjacente pode ser um evento anafilático com in-
cidência associada de 41% de atopia ou alergia.102 Os achados histológicos mostram a
presença de células inflamatórias pós-parto, bem como mastócitos dentro do miomé-
trio ou miometrite aguda pós-parto. Esse conceito sugere uma resposta inflamatória e
uma reação anafilactoide mediada por mastócitos, independente da anafilaxia clássica
mediada por antígenos-anticorpos na ELA.105 A resposta hemodinâmica na ELA é
bifásica, com hipertensão pulmonar inicial e insuficiência ventricular direita seguida
de insuficiência ventricular esquerda.101 A CIVD é a complicação mais comum, possi-
velmente devido à grande quantidade de fator tecidual no líquido amniótico.106
Quadro Clínico
Diagnóstico
Conduta
346 ALSO
crioprecipitado. Os ensaios hemostáticos viscoelásticos (ou seja, tromboelastografia,
tromboelastometria) estão sendo cada vez mais usados para o tratamento de CIVD no
contexto de trauma e podem ser úteis para CIVD secundária a ELA.108,109
Dada a possível natureza anafilactoide da condição, o uso de epinefrina deve ser
considerado.110 Pressão expiratória final positiva é normalmente necessária para evitar
o colapso alveolar e para recrutar alvéolos atelectásicos.Volume, dopamina e furosemi-
da devem ser administrados com base em parâmetros hemodinâmicos.19
Resumo
Com aproximadamente metade das mortes maternas sendo evitáveis,8 o próxi-
mo desafio será melhorar a mortalidade materna, com o lema de uma mulher de
cada vez. RCP e ACLS modificados para fisiologia materna, diagnóstico imediato
e histerotomia de reanimação fornecem importantes recursos para enfrentar esse
desafio.28,30
Independentemente da causa do colapso materno, os serviços devem realizar si-
mulações regulares in situ para garantir que todo o pessoal de assistência ao trabalho
de parto e parto estejam atuando com o mesmo conjunto de premissas.30 A docu-
mentação deve ser minuciosa, mas centrada em fatos e não especulativa em situações
emotivas e com consequência médico-legal.81
348 ALSO
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356 ALSO
Complicações Cardíacas
da Gravidez
OBJETIVOS
Antecedentes e Epidemiologia
As doenças cardiovasculares (DCV) complicam aproximadamente 0,2 a 4%
das gestações.1,2 A gravidade da DCV na gravidez aumentou e as hospitali-
zações pós-parto relacionadas à DCV triplicaram.3 Nos Estados Unidos, mais
gestações são afetadas por condições crônicas como hipertensão, diabetes,
obesidade e uso de substâncias que estão associadas a doenças cardíacas is-
quêmicas e miocardiopatia periparto. Além disso, mais mulheres com doenças
cardíacas congênitas (CHD) sobrevivem até a idade reprodutiva.4
Entre 2011 e 2014, mais de 33% das mortes relacionadas à gravidez nos
Estados Unidos foram atribuídas à DCV, incluindo a miocardiopatia,5 que
superou a infecção, a hemorragia e a trombose. A maioria das mulheres que
morrem de DCV no período pré-parto não são identificadas, mas 70% mor-
rem nas primeiras 6 semanas pós-parto, e 29%, entre 6 semanas e 1 ano pós-
-parto.4 Revisão das mortes por DCV relacionadas à gravidez na Califórnia
constatou que aproximadamente 25% dessas mortes eram potencialmente
evitáveis.4 Fatores relacionados ao profissional incluem resposta retardada,
357
cuidados ineficazes, diagnóstico errôneo, falha na consulta e falta de continuidade da
assistência. Fatores relacionados às pacientes incluem doenças de base, obesidade, uso
de drogas e demora na busca de atendimento.4
A proporção de mortes maternas atribuídas a causas cardíacas nos Estados Unidos
aumentou de 4,2 mortes maternas por 100.000 nascidos vivos entre 2006 e 2010 para
4,8 por 100.000 entre 2011 e 2016 (Figuras 1 e 2).6
358 ALSO
Porcentagem de mortes relacionadas com à gestação
LA
P
gia
ão
são
tia
CV
cul as
esi
s
TE
AV
pa
vas oenç
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Em
Hip
He
Ou
Mio
dio
car
FIGURA 2 Causas de mortes relacionadas com a gestação nos EUA, 2011-2016
Nota: Número de mortes relacionadas à gestação por 100.000 nascidos vivos por ano.
Traduzido de Centers for Disease Control and Prevention. Pregnancy Mortality Surveillance System. 2020. Available at
https://www.cdc.gov/reproductivehealth/maternalinfanthealth/pmss.html.
Aconselhamento Pré-Concepção
A Academia Americana de Médicos de Família (AAFP) 2016 defendeu a abordagem
dos cuidados pré-concepção em todas as visitas de rotina à atenção primária.10 Mu-
lheres em idade reprodutiva com obesidade, hipertensão, diabetes, distúrbios de saúde
mental ou distúrbios de abuso de substâncias (incluindo álcool e tabaco) devem ser
apoiadas na obtenção de tratamento e na realização de mudanças no estilo de vida. Se
indicado, devem ser usadas drogas com o menor perfil de risco teratogênico. Usando
a tomada de decisão compartilhada, as mulheres devem ser encorajadas a usar métodos
contraceptivos altamente eficazes, tais como métodos de ação prolongada e reversível,
até que a saúde seja otimizada para a gravidez.
Uma abordagem multidisciplinar de aconselhamento pré-concepcional para pes-
soas com doenças cardíacas é ideal para discutir os riscos e benefícios da gravidez e
otimizar o prognóstico para futuras gestações.11
360 ALSO
cada (Tabela 2) e realizar exame físico. A gravidez e a DCV geralmente causam fadiga,
edema, dispneia e redução da tolerância ao exercício, tornando difícil diferenciar os
sintomas normais da gravidez de DCV que ameaçam a vida. Consequentemente, é
importante que os profissionais de saúde reconheçam os achados do exame físico e os
sinais e sintomas de alerta vermelho sugestivos de DCV (Figura 3).13,14
Exames
O eletrocardiograma (ECG) é um teste de primeira linha se houver suspeita de isque-
mia ou arritmia.
Estudo de 1981 que avaliou 157 mulheres longitudinalmente durante a gravidez e
no período pós-parto descreveu as mudanças associadas à gravidez normal da seguinte
forma:
Aumento gradual na frequência cardíaca que no terceiro trimestre foi 32%
maior do que a linha de base.
Mudança no eixo QRS, que pode ser para a esquerda ou para a direita.
Sem mudanças significativas nos intervalos elétricos ou amplitudes de onda.18
362 ALSO
Sintomas (classe NYHA > II) Sinais vitais Fatores de risco Exame físico
Sugestão de insuficiência cardíaca: • Descanso FC ≥ 110bpm • Idade ≥ 40 anos Descobertas anormais
• Dispneia • PA sistólica ≥ 140mmHg • Afro-americana Coração: murmúrio alto ou
• Ortopneia leve • RR ≥ 24 • Obesidade pré-gestacional Pulmão: crepitação em base
• Taquipneia • Sat. de oxigênio ≤ 96% ( IMC ≥ 35)
• A asma não responde à terapia • Diabetes preexistente
• Dor torácica
• Dispneia
Sim Não
ECG e BNP
• Ecocardiograma +/– CXR se houver suspeita de IC ou doença valvar, ou se os níveis de
BNP estiverem elevados
• Monitoramento Holter 24 horas, se houver suspeita de arritmia Resultados de DCV
• Encaminhamento ao cardiologista para possível eco de esteira vs. CTA vs. testes alternativos se anormais altamente
pós-parto suspeitos
Considere: RSC, hemograma, perfil metabólico abrangente, gasometria arterial, triagem de
drogas, TSH etc.
Acompanhamento dentro de uma semana
Resultados negativos
Sinais e sintomas resolvidos
Tranquilidade e acompanhamento de rotina
364 ALSO
reçam estar abaixo de 20pg/ml na maioria dos casos.24 O BNP aumenta entre o final
da gravidez e o puerpério precoce; até 6% das mulheres saudáveis têm valores acima
de 100pg/ml no período pós-parto precoce. A pré-eclâmpsia também eleva os níveis
de BNP, às vezes para níveis superiores a 150pg/ml. As troponinas I e T aumentam um
pouco durante a gravidez, mas normalmente permanecem abaixo do limite superior
da faixa normal de não gravidez. A creatinina quinase MB, embora permaneça dentro
da faixa normal de não gravidez durante o curso da gravidez, tipicamente aumenta
dentro das primeiras 24 horas pós-parto e pode exceder o limite normal.24
366 ALSO
TABELA 5 Classificação modificada da Organização Mundial da Saúde para o risco cardiovas-
cular materno
Categoria I de risco na gravidez da OMS
Sem aumento detectável da mortalidade materna; leve ou sem risco de morbidade
Estenose pulmonar discreta e sem complicações; prolapso da valva mitral; CIA,
CIV, PCA ou drenagem venosa pulmonar anômala; batimentos atriais ou ectópicos
ventriculares isolados
Categoria II de risco na gravidez da OMS
Pequeno aumento no risco de mortalidade materna; aumento moderado no risco de
morbidade materna
Se de outra forma bem e sem complicações: ASD ou VSD não reparado; tetralogia de
Fallot reparada; arritmias
Categoria II-III de risco na gravidez da OMS
Aumento moderado da mortalidade e morbidade maternas
Disfunção leve do VE; miocardiopatia hipertrófica; doença de válvula endógena
ou tecidual que não se enquadra na categoria I ou IV; síndrome de Marfan na
ausência de dilatação aórtica; válvula aórtica bicúspide com dilatação da raiz
aórtica < 4,5cm
Categoria III de risco na gravidez da OMS
Aumento significativo do risco de mortalidade materna ou morbidade grave
Válvula mecânica; ventrículo direito sistêmico; circulação de Fontan; cardiopatia
congênita cianótica não reparada; outras cardiopatias congênitas complexas;
síndrome de Marfan com dilatação aórtica de 4-4,5cm; válvula aórtica bicúspide com
dilatação aórtica de 4,5-5cm
É necessário aconselhamento de especialistas. Em caso de gravidez,
recomenda-se o encaminhamento imediato para especialistas e o cuidado contínuo
de outros especialistas (cardiologia, obstetrícia, medicina materno-fetal)
Categoria IV de risco na gravidez da OMS
Alto risco de mortalidade materna ou morbidade grave
Hipertensão arterial pulmonar, qualquer causa; disfunção grave do VE (EF <
30%, NYHA classe III ou IV); miocardiopatia periparto anterior com qualquer
comprometimento residual do VE; estenose mitral grave; estenose aórtica grave;
coarctação aórtica grave; síndrome de Marfan com dilatação aórtica > 4,5cm; válvula
aórtica bicúspide com dilatação aórtica > 5cm
A gravidez é desaconselhável. Se a gravidez ocorrer, avaliar a possibilidade
de interrupção da gravidez de acordo com a legislação e recomendações do
país. Em caso de gravidez, é necessário cuidado subespecializado contínuo e o
encaminhamento imediato para especialistas (ver III, acima)
ASD = defeito do septo atrial; EF = fração de ejeção; VE = ventrículo esquerdo; NYHA = New York Heart Association; PCA
= persistência do canal arterial; VSD = defeito do septo ventricular; OMS = Organização Mundial da Saúde.
Adaptado de Canobbio MM, Warnes CA, Aboulhosn J, et al. Management of Pregnancy in Patients with Complex Con-
genital Heart Disease: A Scientific Statement for Healthcare Professionais From the American Heart Association. Circu-
lation. 2017;135(8):e50-e87.
Condições Específicas
Congênita
368 ALSO
TABELA 7 Diretrizes atuais para a contracepção sugeridas em pacientes com distúrbios cardiovasculares
Miocardiopatia Doença valvular sem Doença valvular com Defeito cardíaco
periparto anticoagulação anticoagulação congênito
Contraceptivos hormonais combinados: Com base no perfil Com base no perfil Evitar Com base no perfil
pílula, adesivo, anel individual da paciente individual da paciente individual da paciente
Os riscos incluem: tromboembolismo, em consulta com o em consulta com o em consulta com o
derrame, infarto do miocárdio, cardiologista cardiologista cardiologista
anormalidades lipídicas
Risco de gravidez não intencional:
dependente do usuário até 9/100
Somente progestina Recomendado Recomendado Recomendado Com base no perfil
Risco de gravidez não intencional: individual da paciente
dependente do usuário até 9/100 em consulta com o
cardiologista
Injeção de progestina Recomendado Recomendado Recomendado Com base no perfil
Os riscos incluem: sobrecarga de fluidos individual da paciente
Risco de gravidez não intencional: 6/100 em consulta com o
cardiologista
Implante de progestina Recomendado Recomendado se Recomendado se válvula Com base no perfil
Risco de gravidez não intencional: menos válvula mecânica, mecânica, profilaxia individual da paciente
de 1/100 profilaxia antibiótica antibiótica em consulta com o
cardiologista
DIU de cobre Recomendado Recomendado Recomendado se válvula Com base no perfil
Contraindicado em: alergia à doença de mecânica, profilaxia individual da paciente
Wilson do cobre antibiótica em consulta com o
Risco de gravidez não intencional: menos cardiologista
de 1/100
DIU Levonorgestrel Recomendado Recomendado Recomendado se válvula Com base no perfil
Risco de gravidez não intencional: menos mecânica, profilaxia individual da paciente
de 1/100 antibiótica em consulta com o
cardiologista
369
cdph.ca.gov/Programs/CFH/DMCAH/RPPC/CDPH%20Document%20Library/CMQCC_CVD_Toolkit.pdf.
As mulheres com doenças cardiovasculares frequentemente apresentam comor-
bidades. Condições neurológicas, de desenvolvimento, de saúde mental, pulmonares,
hepáticas, renais, hematológicas e endocrinológicas são comuns.33 O risco de acidente
vascular cerebral é significativamente maior do que na população geral.
O atraso no desenvolvimento neurológico é comum nas doenças cardiovascula-
res pediátricas, variando entre 20 e 70%, dependendo da lesão específica. Embora as
informações sobre as preocupações de neurodesenvolvimento de adultos com doen-
ças cardiovasculares sejam limitadas, é provável que sejam prevalentes e possam estar
relacionadas ao desenvolvimento fetal (o fluxo sanguíneo cerebral é frequentemente
anormal em fetos e recém-nascidos quando há doenças cardiovasculares complexas)
ou seguir a circulação extracorporal, ou ambos. Deve-se contar com um tempo adi-
cional para a elaboração da história e aconselhamento.
Depressão e ansiedade são comuns em adultos com doenças cardiovasculares, e
esses pacientes devem ser submetidos a triagem e tratamento, se necessário. A função
pulmonar pode ser comprometida pelo desenvolvimento anormal dos pulmões ou
brônquios relacionado à anatomia cardíaca aumentada ou distorcida, ou como resul-
tado de toracotomia. A doença pulmonar restritiva pode ser identificada por testes de
função pulmonar em mais de 40% dos adultos com insuficiência cardíaca. A circula-
ção hepática pode ser prejudicada por congestão e hipertensão portal, resultando em
atrofia ou fibrose celular, ou por isquemia e hipoperfusão, levando à necrose hepá-
tica. A fibrose hepática está presente em praticamente todos os pacientes que foram
submetidos ao procedimento de Fontan. A prevalência de comprometimento renal é
estimada em 50% em adultos com doenças cardiovasculares, embora a etiologia seja
desconhecida; as doenças cardiovasculares cianóticas são especialmente preditivas de
doenças renais crônicas, talvez relacionadas à hipóxia renal e à eritrocitose.
Anormalidades endocrinológicas são comuns nas doenças cardiovasculares. O hipo-
tireoidismo se manifesta em aproximadamente 10% dos pacientes com doenças cardio-
vasculares, com grandes associações com síndrome de Down, doenças cardiovasculares
cianóticas e um histórico de uso de amiodarona. As anormalidades do metabolismo
ósseo, do cálcio e da vitamina D afetam a saúde óssea e aumentam o risco de fraturas nas
cardiopatias espongiformes adultas. A prevalência de deficiência de tolerância à glicose e
diabetes explícito está aumentada nessa população, com taxa de risco entre 1,35 e 2,85.34
As comorbidades não cardíacas entre adultos cardiopatas aumentam o risco de
complicações perioperatórias em cirurgia não cardíaca em geral. As especificidades
não são conhecidas para a cirurgia obstétrica, mas as mudanças fisiológicas adicionais
da gravidez também são passíveis de aumentar a possibilidade de complicações. A
American Heart Association (AHA) recomenda que a cirurgia não cardíaca eletiva, que
inclui o potencial de parto cesáreo inerente a todos os trabalhos, deve “ocorrer em um
centro regional de Doença Cardíaca Congênita de Adultos (ACHD) com especialistas
familiarizados e experientes no manejo das pessoas com doença cardíaca congênita”.34
370 ALSO
Lesões Congênitas Específicas
372 ALSO
duta clínica e a intervenção percutânea deve ser tomada por um especialista em car-
diologia. A ICP é tipicamente recomendada na presença de IAM com ST prolongado
(STEMI) e em pacientes instáveis com IAM sem ST prolongado (NSTEMI) que não
estão grávidas, e não há uma razão clara para tratar as mulheres que estão grávidas de
forma diferente.2,38 A cirurgia de revascularização miocárdica de emergência carrega-
va alto risco de perda fetal na literatura mais antiga, mas faltam dados contemporâneos
sobre o risco fetal.
As mulheres que estão grávidas parecem ser vulneráveis à dissecção coronariana
espontânea (SCAD), que se manifesta de forma mais grave do que nas mulheres que
não estão grávidas.39 A SCAD ocorre tipicamente no terceiro trimestre, embora al-
guns casos tenham sido relatados no segundo trimestre e no período pós-parto. Quase
todas as pacientes apresentam dor torácica, 75% têm alterações do ECG de infarto
do miocárdio por supradesnivelamento do segmento ST40 e a função do VE está
significativamente prejudicada. Na maior série de casos, 44% das pacientes tiveram
uma fração de ejeção inferior a 40% na apresentação e 24% desenvolveram choque
cardiogênico.39
O tratamento do SCAD na gravidez é mais complicado do que em pacientes que
não estão grávidas. Em um estudo, das 54 pacientes com SCAD que receberam trata-
mento médico conservador (por exemplo, aspirina, medicamentos antiplaquetários ou
anticoagulantes, betabloqueadores e/ou nitratos), um grande número necessitou de
intervenção adicional. Das pacientes que receberam ICP (44 pacientes), apenas 50%
tiveram um procedimento completamente bem-sucedido, enquanto 25% tiveram ex-
tensão da dissecção. Finalmente, 54 pacientes foram tratadas com revascularização do
miocárdio. Dados o alto risco e a necessidade de intervenção cirúrgica, pacientes com
suspeita de SCAD devem ser tratadas em uma instalação terciária que possa conduzir
a complexidade dessa condição.41
Valvular
374 ALSO
mecânica, as discussões sobre anticoagulação devem preceder a concepção, e o manejo
durante a gravidez deve ter um esforço conjunto entre os médicos cardiologistas e os
profissionais da área de maternidade.
Hipertensão Pulmonar
Miocardiopatias
376 ALSO
Para o profissional, pode ser mais útil considerar essas doenças por sua funcionali-
dade ou controle. A HCM e a DCM serão discutidas aqui.
A miocardiopatia hipertrófica é diagnosticada pela medida ecocardiográfica da
espessura da parede do VE sem dilatação desse e é caracterizada por disfunção dias-
tólica.46,47 Alguns pacientes têm obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo
(VSVE), que, se presente, é agravada pela taquicardia e pela diminuição do volume
de enchimento. Os pacientes podem estar assintomáticos ou desenvolver insuficiên-
cia cardíaca e/ou arritmias. Como a CMH é uma condição autossômica dominante,
há risco de 50% de uma mulher com CMH (HCM) parir uma criança com CMH
(HCM), portanto, o aconselhamento genético é importante. A gravidez normalmente
não piora o estado cardíaco, a menos que a mulher já seja sintomática ou tenha obs-
trução significativa da VSVE. O aumento do volume cardíaco é mais bem tolerado do
que a desidratação. A taquicardia será problemática na presença de obstrução da VSVE
porque diminui a pré-carga e o enchimento do VE e piora a obstrução da via de saída.
Os betabloqueadores são a base da terapia de HCM e não devem ser descontinu-
ados durante a gravidez. Diminuições agudas na pré-carga, como pode ser visto na
simpatectomia que acompanha a analgesia neuroaxial para o parto, devem ser evitadas,
mas a analgesia regional é importante no parto porque limita a resposta das cateco-
laminas e taquicardia relacionada à dor. As prostaglandinas da série E (ou seja, dino-
prostona, misoprostol) têm um efeito vasodilatador e só devem ser usadas com cautela.
Deve-se evitar o esforço no segundo período do trabalho de parto, de modo que o
parto vaginal seja tipicamente assistido com vácuo ou fórceps.47 Em revisão de 408 ca-
sos abrangendo 40 anos e uma ampla gama de gravidade da doença, 62% das mulheres
com CMH que estavam grávidas tiveram um parto vaginal, 29% tiveram uma com-
plicação cardíaca ou um agravamento dos sintomas (sendo a dispneia o resultado mais
comum) e houve 1 morte materna.48 A taxa de nascimento pré-termo foi de 26%,
não houve excesso de natimorto ou restrição de crescimento em comparação com a
população geral, mas houve risco de 3% do que foi descrito como bradicardia fetal.48
No conjunto de dados do ROPAC europeu, uma coorte contemporânea de 60 mu-
lheres com CMH apresentou incidência de 23% de complicações cardíacas graves (in-
suficiência cardíaca ou arritmia), 5% de mortes fetais e nenhuma morte materna.49 A
bradicardia fetal não foi mencionada, 47% dos recém-nascidos eram prematuros, 32%
eram pequenos para a idade gestacional e apenas 40% tiveram parto por via vaginal.
Em contraste, a DCM é um distúrbio da função sistólica do VE, em que a con-
tratilidade é diminuída e o VE é dilatado. Com exceção da miocardiopatia periparto,
a DCM é incomum entre as mulheres em idade reprodutiva, portanto os dados são
limitados. A taxa de complicações cardíacas na DCM durante a gravidez tem sido
relatada entre 39 e 60%,50,51 com resultados piores entre as mulheres com doença de
classificação mais alta da NYHA. No geral da coorte, o baixo peso ao nascer ocor-
reu em 40% dos nascimentos e o parto prematuro em 23%, e para as mulheres com
378 ALSO
60% das mulheres com diagnóstico de PPCM recuperam a função VE normal em 6
meses após o diagnóstico,56 embora a recuperação seja muito menos provável quando
a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) inicial for inferior a 30%. A recupe-
ração clínica da função ventricular, entretanto, pode não se sustentar em uma gravidez
subsequente. Os dados, embora limitados, sugerem que aproximadamente 20% das
mulheres com FEVE que normalizaram após uma gravidez com PPCM, no entanto,
tiveram disfunção significativa do VE com uma gravidez subsequente.57
A pré-eclâmpsia e a hipertensão frequentemente estão presentes em pacientes
com PPCM. Em metaanálise recente de 22 estudos e 979 casos, a prevalência de
pré-eclâmpsia entre mulheres com PPCM foi de 22%, mais de 4 vezes a prevalência
norte-americana.58 Das diagnosticadas com PPCM, 37% tiveram algum tipo de hi-
pertensão durante a gravidez (ou seja, pré-eclâmpsia, hipertensão gestacional, hiper-
tensão crônica). Entretanto, isso é provavelmente uma subestimação, pois os distúrbios
hipertensos são frequentemente usados como critérios de exclusão ao diagnosticar a
PPCM.
As síndromes hipertensivas relacionadas à gravidez (por exemplo, pré-eclâmpsia,
hipertensão gestacional, hipertensão crônica com pré-eclâmpsia sobreposta) podem
levar à sobrecarga de líquidos, mesmo sem PPCM. Estudo recente de 30 casos de
PPCM e 53 casos de insuficiência cardíaca associados à hipertensão mostrou que a
insuficiência cardíaca se apresentava tipicamente antes do parto e estava associada à
hipertrofia cardíaca com fração de ejeção preservada e melhor prognóstico em com-
paração com a PPCM.59
As diferenças raciais devem ser observadas nos casos de PPCM. As mulheres negras
tendem a ser significativamente mais jovens que as brancas (idade média de 26 anos
versus 30 anos no momento do diagnóstico), são mais propensas a serem diagnosticadas
no período pós-parto e tendem a aumentar a mortalidade e diminuir a recuperação da
fração de ejeção.60 Embora essas condições de pré-eclâmpsia e PPCM estejam associadas
e possam coexistir, elas são consideradas condições separadas, e o diagnóstico de pré-
-eclâmpsia no estabelecimento da PPCM não deve atrasar o tratamento.61
Arritmia
Batimentos ectópicos ocasionais na gravidez são comuns e não são motivo de alarme.
As arritmias novas e constantes são incomuns em um coração estruturalmente nor-
mal, embora mulheres com histórico de arritmias ou uma anomalia cardíaca estrutural
frequentemente exibam arritmias durante a gravidez. Grávidas que são encaminhadas
para avaliação cardíaca ambulatorial por causa de relatos de palpitações têm, na maio-
ria das vezes, contrações atriais prematuras isoladas (PAC) ou contrações ventriculares
prematuras (PVC).62 Em uma série de casos de 100.000 grávidas hospitalizadas por
arritmias, 104 pacientes apresentavam arritmia sinusal, taquicardia sinusal ou bradi-
380 ALSO
Mulheres com arritmias (além de eventuais batimentos ectópicos benignos) de-
vem ser submetidas ao monitoramento cardíaco durante o parto.22 Drogas com po-
tencial arritmogênico, como a terbutalina, devem ser evitadas se possível.
382 ALSO
preocupações com doenças cardíacas mesma anestesia geral, o procedimento
são mínimas. Em alguns casos, deve deve ser feito na sala de cirurgia
ser procurada experiência adicional cardíaca.
de enfermagem. Não é incomum para 13. Qual é o plano pós-parto? O puerpério
uma mulher com doença cardíaca que imediato é o período de maior risco
está em trabalho de parto requerer em muitas mulheres com condições
uma obstetriz e uma enfermeira cardíacas (por exemplo, estenose
especializada em cardiologia. mitral), por causa do aumento do
10. Se a mulher está em trabalho de parto volume efetivo de circulação. Onde a
e o parto vaginal está planejado, paciente deve ser tratada durante as
como deve ser conduzido o segundo primeiras 24-48 horas pós-parto? Qual
período do trabalho de parto? As deve ser a relação enfermeira/paciente?
recomendações comuns para o Existem terapias específicas que devem
gerenciamento do trabalho de parto ser implementadas?
em mulheres com condições cardíacas 14. Ela planeja amamentar? A maioria das
incluem a limitação dos esforços mulheres com doenças cardíacas pode
expulsivos maternos e o uso de fórceps amamentar; muitos medicamentos são
ou parto assistido por vácuo para compatíveis com a amamentação, e
encurtar a segunda etapa do trabalho aqueles que não são conhecidos como
de parto. seguros podem ser substituídos com
11. Como será conduzido o terceiro frequência.
período? A hemorragia é 15. Qual é o plano para a contracepção?
desestabilizadora para a maioria das 16. Finalmente, qual é o plano de
mulheres, mas unicamente para as acompanhamento depois que ela tiver
mulheres com débito cardíaco fixo (ou alta do hospital? As mulheres com
seja, estenose aórtica). doença cardíaca não podem esperar
12. Se o parto cesáreo for preferido, deve até 6 semanas pós-parto para serem
ser realizado na unidade de parto onde atendidas. Elas podem precisar ser
normalmente são realizados outros vistas mais cedo por um cardiologista
partos cesáreos, ou é necessário o bloco ou cirurgião cardiotorácico ou precisar
operatório central? Em alguns casos, reexaminar os sintomas com um
por exemplo, se o parto cesáreo e a profissional de saúde materna em
troca de válvulas forem realizados sob a ambiente ambulatorial ou em casa.
Anticoagulação
Condições cardíacas que podem exigir anticoagulação na gravidez e no período pós-
-parto incluem eventos tromboembólicos recentes, presença de válvulas cardíacas me-
cânicas, fibrilação atrial, miocardiopatia periparto e HP.72
Para minimizar o risco de hematoma peridural, anestesia epidural ou espinhal (ou
seja, anestesia neuroaxial) é adiada 12 horas após a última dose de enoxaparina profi-
lática e 24 horas após a última dose de enoxaparina terapêutica.77,78 Antes de colocar
a anestesia neuroaxial, a Sociedade de Anestesia Obstétrica e Perinatologia (SOAP)
de 2018 recomenda esperar pelo menos 4 a 6 horas após a administração de baixa
dose de heparina não fracionada (UFH) (até 5.000 unidades 3 vezes/dia), pelo me-
nos 12 horas após a administração de UFH de dose intermediária (7.500 ou 10.000
unidades 2 vezes/dia), e 24 horas ou mais após a administração de UFH de alta dose
(uma dose individual maior que 10.000 unidades ou uma dose diária total maior que
20.000 unidades). Se o nível de aPTT é normal ou o antifator Xa é indetectável, a
diretriz SOAP afirma que tais pacientes estão com baixo risco de complicações de
analgesia neuroaxial, mesmo quando esses tempos de espera não são atingidos após
a UFH.77,79,80 Aspirina de baixa dose (por exemplo, 81mg/dia) não representa risco
substancial e não precisa ser interrompida antes do início do trabalho de parto.81
384 ALSO
-parto.82 O débito cardíaco e o volume cardíaco nem sempre retornam à linha de base e
mulheres com distúrbios hipertensos, lesões cardíacas, miocardiopatia ou HP têm risco
de morte pós-parto maior do que a média. O acompanhamento próximo pela obstetrí-
cia de alto risco e especialistas em cardiologia é imperativo para pacientes de alto risco.
A hemorragia pós-parto apresenta desafios para as mulheres com DCV. Aquelas
cujo débito cardíaco é altamente dependente da pré-carga podem descompensar-se
rapidamente, mesmo com modesta perda de sangue. A taquicardia é perigosa para as
mulheres com lesões valvulares estenóticas. Mulheres que tomam betabloqueadores
normalmente não apresentam taquicardia compensatória em resposta à hipovolemia,
portanto o diagnóstico de hemorragia pode ser retardado. Os shunts intracardíacos
comportam-se de forma imprevisível com vasoconstrição sistêmica, uma resposta
compensatória à perda de volume. Finalmente, drogas usadas para tratar a atonia ute-
rina podem ter efeitos cardíacos ou adversos.
As mulheres que apresentam pós-parto com tosse, fadiga ou dispneia devem ser
tratadas como tendo uma possível DCV, resultando em insuficiência cardíaca. Avalia-
ção cardíaca adicional no período pós-parto pode ser justificada.
Considerações de enfermagem:
complicações cardíacas da gravidez
Conhecer os fatores de risco e compreender as disparidades raciais
O reconhecimento precoce é fundamental
Considerar o uso de filtro intravenoso, o controle rigoroso de infusão de volume e de
perdas durante a hospitalização
A rápida descompensação do estado cardíaco pode ocorrer; avaliação frequente é
essencial, especialmente no período pós-parto inicial
Defender um plano contraceptivo pós-parto antes da alta para todas as mulheres, mas
especificamente para mulheres com doenças cardíacas que possam colocar em risco
futuras gestações
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OBJETIVOS
394
pós-parto.7 A hipercoagulabilidade da gravidez resulta do aumento da concentração
de fibrinogênio, fator VII, fator VIII, fator X, fator de von Willebrand, inibidor do
ativador plasminogênio-1 e inibidor do ativador plasminogênio-2, combinados com
a diminuição da proteína S.1 Não há alteração nos fatores II, V e IX, nem nos antico-
agulantes proteína C e antitrombina.1
A estase resulta do aumento da distensão venosa e da obstrução da veia cava inferior
pelo útero gravídico. A redução no fluxo venoso é evidente nas 13 semanas de gestação,
atinge um nadir com 36 semanas de gestação e retorna a níveis não grávidos aproxi-
madamente 6 semanas pós-parto.8 Danos vasculares podem ocorrer durante a cesárea
ou parto vaginal, mas o risco de TEV é maior após o parto cesáreo (OR 3,7; 95% CI
= 3,0-4,6).9 Fatores de risco adicionais para TEV na gravidez estão listados na Tabela 1.
O fator de risco mais importante para TEV é sua história prévia; 15 a 25% dos TEV na
gravidez são eventos recorrentes.1,10 Em geral, o risco de TEV é 3 a 4 vezes maior para a
grávida do que para uma mulher da mesma idade que não está grávida.1
Transtornos Trombofílicos
396 ALSO
Os critérios clínicos incluem:
Trombose arterial, venosa ou de pequenos vasos de qualquer tecido ou órgão.
Morte fetal inexplicada após 10 semanas de gestação.
Nascimento antes das 34 semanas de gestação de um feto aparentemente sau-
dável devido a pré-eclâmpsia/eclâmpsia ou insuficiência placentária.
Três ou mais abortos espontâneos inexplicáveis e consecutivos antes de 10
semanas de gestação.
Os critérios de laboratório incluem:
Anticoagulante lúpico.
Anticorpo anticardiolipina.
Anti-b2-glicoproteína I em pelo menos duas ocasiões com 12 ou mais sema-
nas de intervalo.16
O anticoagulante lúpico é mais específico, mas menos sensível do que os outros
dois critérios de laboratório.16
Exames Diagnósticos
Quando houver forte suspeita clínica de TVP, a anticoagulação deve ser adminis-
trada de imediato, até que os resultados dos exames estejam prontos.1,12,15 O exame
diagnóstico de primeira linha para TVP é o ultrassom com Doppler (Figura 1).1,12,15
O estudo com Doppler mostrando TVP na perna afetada é suficiente para indicar
anticoagulação terapêutica.1,12,15 Resultados negativos de Doppler com baixa suspeita
clínica não requerem anticoagulação. Se houver suspeita de trombose da veia ilíaca e
os resultados de Doppler forem negativos, é indicada ressonância magnética (RM) ou
anticoagulação.1,21 Se a anticoagulação for escolhida apesar dos resultados negativos do
Doppler inicial, o Doppler venoso deve ser repetido aos 3 e 7 dias.1
Devido à sua alta taxa de falso-positivos na gravidez, o dímero D não é recomen-
dado na avaliação para TEV agudo na gravidez.1,15 Entretanto, nível baixo de dímero
D torna o TEV improvável.1,15,22
Tratamento
Ultrassonografia
398 ALSO
Embolia Pulmonar (EP)
Sinais e Sintomas Clínicos
Em contraste com a TVP, que é igualmente comum durante a gravidez e pós-parto,
pelo menos dois terços das EP relacionadas à gravidez ocorrem pós-parto.2 Dispneia
e taquipneia são os sintomas mais comuns de EP. O quadro clínico pode variar de
leve dispneia e taquipneia acompanhadas de dor torácica até um dramático colapso
cardiopulmonar.
As avaliações clínicas de probabilidade pré-teste, como o escore Wells, não foram
validadas para uso durante a gravidez.23
Testes Diagnósticos
Uma abordagem para o diagnóstico de suspeita de EP usando testes não invasivos é
delineada na Figura 2.1,15
Quando uma mulher apresenta possível EP, a estabilização deve ser a prioridade.
Ver o capítulo Reanimação Materna e Trauma para mais detalhes sobre estabiliza-
ção. Deve-se considerar a anticoagulação até que um diagnóstico mais definitivo
seja feito.15
Alguns especialistas recomendam a ultrassonografia com Doppler venoso antes
de indicar um exame de ventilação/perfusão (V/Q) ou uma angiografia pulmonar
por tomografia computadorizada (CTPA), a fim de evitar a radiação causada por estes
exames.15 Se a TVP for diagnosticada, recomenda-se a anticoagulação independente-
mente da presença de EP.15
Radiografia de tórax pode ajudar a decidir se é necessário obter tomografia V/Q
ou CTPA. Estudo de coorte mostrou que a varredura V/Q é preferível ao CTPA para
o diagnóstico de EP em mulheres com resultados negativos à radiografia de tórax; o
CTPA apresentou maior probabilidade de ser diagnosticado em mulheres com resul-
tados anormais à radiografia de tórax.24 A varredura V/Q tem menor probabilidade
de não identificar a EP em grávidas porque as pacientes são tipicamente mulheres
jovens com menos comorbidades associadas.25 A escolha entre a varredura V/Q e o
CTPA está sujeita à disponibilidade.1 Revisão da Cochrane em 2017 descobriu que
evidências de baixo nível sustentam a indicação de uma varredura V/Q ou um CTPA
para o diagnóstico de EP na gravidez.26
A exposição à radiação fetal com CTPA é inferior a 10% quando comparada à
varredura V/Q, mas o risco fetal absoluto de ambos é baixo. A dose de radiação fetal
para CTPA é equivalente a menos de 1 em 1 milhão de risco de câncer aos 15 anos
de idade, comparado com 1 em 280.000 risco com varredura V/Q.27
A exposição da mama à radiação é uma preocupação com CTPA.1 CTPA e varre-
duras V/Q envolvem 20 a 44 e 0,20 a 0,28mGy de radiação absorvida pela mama ma-
Normal ou
Anormal
suspeita de EP
400 ALSO
A sensibilidade da CTPA tem aumentado com os avanços tecnológicos. Os to-
mógrafos de primeira geração de tomografia computadorizada (TC) de uma única
fileira de detectores tiveram valor preditivo positivo de apenas 85%32 e são apenas 30%
sensíveis a defeitos subsegmentares, que respondem por 20% da EP sintomática.32 Os
novos tomógrafos multidetectores de linha permitem melhor visualização das arté-
rias pulmonares segmentares e subsegmentares; eles têm valor preditivo positivo de
96% quando a suspeita clínica é alta e valor preditivo negativo de 99%, comparável à
angiografia pulmonar, que agora é raramente usada.33,34 Os tomógrafos lineares mul-
tidetectores permitem uma varredura mais rápida do pulmão, evitando movimentos
respiratórios e artefatos. A tomografia computadorizada de 16 cortes pode fazer a
imagem de todo o tórax com resolução submilimétrica em menos de 10 segundos.35
A CTPA pode fazer um diagnóstico alternativo em aproximadamente dois terços dos
casos em que a EP não está presente; no entanto, pode detectar anomalias suspeitas,
porém benignas, que suscitam avaliações adicionais, incluindo biópsia.36
A ressonância magnética para o diagnóstico de EP é uma opção atraente porque
não expõe o feto à radiação ionizante e é tão sensível e específica quanto a CTPA no
diagnóstico de EP.4,37 As desvantagens da ressonância magnética incluem o alto custo
do exame, acessibilidade e o fato de que ela não tem estudos na gravidez.4,36
A determinação dos gases arteriais no sangue e o eletrocardiograma podem ajudar
a determinar a probabilidade clínica de EP ou sugerir outras condições.15
Quando há alta suspeita de EP e varredura V/Q ou CTPA são negativos ou de
baixa probabilidade/equívoco, deve ser considerada a anticoagulação contínua e re-
petir os exames de imagens.15
Tratamento
Anticoagulação na Gravidez
402 ALSO
do parto.12 Apesar desses riscos, o RCOG e o Colégio Americano de Cardiologia
recomendam a terapia com baixa dose de warfarina (5mg/dia ou menos) durante a
gravidez ou UFH no primeiro trimestre, seguida da terapia com warfarina no segun-
do e terceiro trimestres para tratar mulheres de alto risco que têm válvulas cardíacas
mecânicas.13,51 A warfarina é segura para a amamentação.15,52,53
Há poucas evidências sobre a eficácia do inibidor direto de trombina (por exem-
plo, argatroban, bivalirudina, dabigatran, lepirudina) e do inibidor de fator Xa (por
exemplo, apixaban, rivaroxaban, fondaparinux) utilizado durante a gravidez e a ama-
mentação. Revisão Cochrane de 2015 de 11 TCR envolvendo 27.945 pacientes que
não estavam grávidas mostrou que a trombina direta e os inibidores de fator Xa foram
tão eficazes quanto a HBPM na prevenção de TVP e EP e tiveram menos complica-
ções hemorrágicas.54 Revisão Cochrane de 2016 de cinco TCRs envolvendo 7.897
pacientes que não estavam grávidas mostrou que a trombina direta e os inibidores de
fator Xa foram tão eficazes quanto a HBPM na prevenção da EP recorrente e equi-
valentes em complicações hemorrágicas maiores.55
As diretrizes da ACCP de 2012 não recomendam o uso de trombina direta e
inibidores do fator Xa na gravidez.12 As diretrizes da Society of Obstetricians and Gy-
naecologists of Canada (SOGC) também não recomendam o uso da trombina direta e
inibidores do fator Xa na gravidez.56 As exceções incluem mulheres com alergia grave
à heparina ou trombocitopenia induzida pela heparina.1,12 Estudo de coorte prospec-
tivo de 12 gestações em 10 mulheres que receberam tromboprofilaxia fondaparinux
(Arixta) devido à alergia à HBPM não mostrou complicações maternas ou fetais.57 A
avaliação laboratorial de base que deve ser considerada antes de iniciar a anticoagula-
ção está listada na Tabela 2.
A anticoagulação terapêutica é recomendada para TEV na gravidez, devendo con-
tinuar por pelo menos 3 meses a partir do diagnóstico.12,15,56 Após 3 meses de dose
404 ALSO
terapêutica, a anticoagulação pode ser reduzida para dose intermediária ou profilática
até pelo menos 6 semanas pós-parto.15 As doses terapêuticas aceitáveis para a HBPM
estão listadas na Tabela 3. Revisão Cochrane de 2013 de cinco ensaios envolvendo
1.508 participantes mostrou que a LMWH uma vez por dia era tão eficaz quanto
duas vezes ao dia em pacientes que não estão grávidas.58 Nenhum RCT avaliou a
dosagem uma vez versus duas vezes por dia na gravidez. Alguns estudos de menor
qualidade apoiam a dosagem única diária na gravidez, enquanto outros não.1 Em
estudo observacional prospectivo de 126 mulheres com TPM pré-natal que estavam
grávidas, 66% das que receberam TPM única diária não mostraram TPM recorrente
em nenhum dos grupos.59 Estudo retrospectivo de tinzaparina única diária em 37
grávidas mostrou dois eventos trombóticos.60 As doses de TPM devem ser ajustadas
para insuficiência renal, particularmente em mulheres que têm pré-eclâmpsia com
características graves.47
A hospitalização pode ser necessária para anticoagulação inicial, especialmente se
há instabilidade clínica, na presença de trombo extenso ou comorbidades.1 A UFH
inicial intravenosa (IV) pode ser preferida quando o parto é iminente, ou cirurgia ou
trombólise são previstos.1 Embora a gravidez seja contraindicação relativa para a trom-
bólise, existem indicações clínicas quando a trombólise na gravidez é justificada.22
Ainda não há um protocolo ideal estabelecido para monitorar o tratamento com
LMWHs. Não é necessário monitorar o aPTT como com a UFH.61 Os níveis anti-Xa
não são normalmente monitorados, exceto em mulheres que pesam menos de 50kg
ou mais de 90kg, têm insuficiência renal ou fatores de risco significativos (por exem-
plo,TEV recorrente).15 Nessas mulheres, o nível alvo anti-Xa é de 0,6 a 1 unidade/ml
com HBPM terapêutica bidiária; o alvo deve ser ligeiramente mais alto em mulheres
que recebem dose única diária.1 A contagem de plaquetas é monitorada inicialmente
após a injeção em mulheres que estejam tomando UFH; se ocorrer trombocitope-
nia, essa é tipicamente entre 7 e 14 dias após o início da terapia.62 As recomendações
variam quanto à necessidade de reavaliar a contagem de plaquetas após o início da
LMWH; a SOGC recomenda a verificação da contagem de plaquetas 1 semana após
o início da LMWH, enquanto as diretrizes da RCOG declaram que essa prática não
é rotineiramente necessária.15,56
As formas intravenosas e/ou subcutâneas (SC) de UFH podem ser usadas em vez
de LMWH para o tratamento inicial de DVT ou EP na gravidez. A UFH pode ser
escolhida em vez da LMWH em alguns ambientes devido ao custo ou disponibilida-
de. As dosagens e monitoramento recomendados para LMWH e IV e SC UFH estão
listados na Tabela 3.
Após o parto, deve ser dada às mulheres a escolha de LMWH versus anticoagula-
ção do warfarin.15 Ao causar diminuição inicial nos níveis de proteínas C e S, a war-
farina pode causar um estado hipercoagulável nos primeiros dias de terapia.63 Com o
início da warfarina, a LMWH ou UFH deve continuar até que a relação normalizada
406 ALSO
A Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada recomenda que a analgesia
epidural não seja interrompida até 10 a 12 horas após a última dose profilática de
LMWH e pelo menos 24 horas após a última dose terapêutica de LMWH.56 As dire-
trizes da SOGC também recomendam o reinício da dosagem profilática de LMWH
6 a 8 horas após o início da analgesia neuroaxial, aguardando mais de 24 horas se
ocorrer sangramento durante o bloqueio neuroaxial e aguardando mais de 4 horas
após a remoção do cateter neuroaxial. Ao reiniciar a dosagem terapêutica LMWH, é
recomendado esperar mais de 24 horas após o início da analgesia neuroaxial e mais de
4 horas após a remoção do cateter neuroaxial.56
Profilaxia
A profilaxia contra TEV na gravidez pode ser necessária no período antenatal para
mulheres com histórico de TEV ou EP e para aquelas com histórico de trombofilia.
Embora sejam necessários mais estudos, a LMWH parece ser a forma mais segura e
eficaz de tromboprofilaxia na gravidez.44,46,68 As doses profiláticas de LMWH estão
listadas na Tabela 3. O UFH SC pode ser usado como uma alternativa de menor
custo ao LMWH; as doses de UFH SC também estão listadas na Tabela 3. Alguns
especialistas recomendam o ajuste da dosagem profilática de LMWH em mulheres
com obesidade, mas não há diretrizes baseadas em evidências para essa prática.7 As
recomendações SOGC para dosagem em mulheres com obesidade estão incluídas na
Tabela 3.56
Aspirina pré-natal de baixa dose (75 a 100mg) é recomendada em combinação
com LMWH ou UFH para mulheres com síndrome dos anticorpos antifosfolípides
e um histórico de três ou mais perdas de gestações.12 A adição de aspirina também é
recomendada em mulheres com válvulas cardíacas protéticas que estão em alto risco
de tromboembolismo.12
Análise da Força Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA de 19 RCTs (12 de boa
qualidade) e dois estudos observacionais de boa qualidade mostraram que a aspirina
de baixa dose parece ser segura na gravidez.69 A data mais comum de descontinuação
foi no parto; entretanto, seis testes interromperam o uso da aspirina antes do parto,
já nas 35 semanas de gestação, ou quando se desenvolveu a pré-eclâmpsia. Onze
RCTs (23.332 mulheres) mostraram que a aspirina não causa DPP (RR 1,17; 95%
CI = 0,93-1,48).69 Catorze RCTs (14 estudos; n = 22.848) não mostraram nenhum
efeito sobre a mortalidade perinatal (RR 0,92; 95% CI = 0,76-1,11).69 Nove estudos
(22.760 mulheres) não mostraram nenhum aumento na hemorragia pós-parto.69
As indicações clínicas para profilaxia anticoagulante e as recomendações para quan-
do iniciar e interromper a terapia estão resumidas nas Tabelas 4 (ACCP), 5 (ACOG), 6
(RCOG) e 7 (SOGC). As recomendações ACCP têm sido criticadas por ter uma lista
mais restrita de cenários para os quais a profilaxia pré e pós-natal é recomendada em
408 ALSO
4D. Trombofilia além de homozigotos para o fator V de Leiden ou a mutação protrombina
G20210A e nenhum histórico familiar de TEV
Antenatal: sem profilaxia
Pós-parto: sem profilaxia
4E. Síndrome dos anticorpos antifosfolípides por critérios laboratoriais e clínicos
Antenatal: LWMH profilático e aspirina de baixa dose (75 a 100mg/dia)
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina
LMWH = heparina de baixo peso molecular; EP = embolia pulmonar; TEV = tromboembolismo venoso.
Informações de Bates S, Greer I, Middeldorp S, et al. VTE, thrombophilia, antithrombotic therapy, and pregnancy: An-
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TABELA 5 Indicações clínicas para profilaxia anticoagulante pelo American College of Obstetri-
cians and Gynecologists 2018 Practice Bulletin
Indicação 1: Sem histórico de TEV, sem trombofilia
Pré-natal: vigilância (avaliação de risco de TEV antes ou no início da gravidez e repetir se
surgirem novos fatores de risco, como imobilização/hospitalização)
Pós-parto: vigilância; nenhuma profilaxia, a menos que haja múltiplos fatores de risco
(incluindo parente de primeiro grau com histórico de episódio trombótico, ou outro fator
de risco importante, como obesidade, imobilidade prolongada ou parto cesáreo)
Indicação 2: TEV diagnosticado durante a gravidez
Antenatal: dose ajustada LMWH ou UFH
Pós-parto: dose ajustada LMWH ou UFH por pelo menos 6 semanas; terapia mais longa e
anticoagulante oral podem ser indicados
Indicação 3: Histórico pessoal de TVP ou EP simples, sem trombofilia conhecida
3A. TVP única ou EP com evento trombogênico (por exemplo, cirurgia, trauma,
imobilidade) não relacionado à gravidez ou estrógeno
Antenatal: vigilância
Pós-parto: vigilância; nenhuma profilaxia, a menos que fatores de risco adicionais
(incluindo parente de primeiro grau com histórico de episódio trombótico, ou outro
fator de risco importante, como obesidade, imobilidade prolongada ou parto cesáreo)
3B. TVP única ou EP sem evento trombogênico (idiopático) relacionada à gravidez ou
estrógeno
Antenatal: profilático, intermediário, ou dose ajustada de LMWH ou UFH
Pós-parto: profilático, intermediário ou dose ajustada de LMWH ou UFH por 6 semanas
Indicação 4: H
istória pessoal de TVP ou EP simples, trombofilia conhecida – não em
anticoagulação crônica
4A. TVP única ou EP com trombofilia de baixo risco (fator V de Leiden heterozigoto; protrombina
G20210A heterozigoto; deficiência de proteínas C ou S, anticorpo antifosfolípide)
Antenatal: dose profilática ou intermediária de LMWH ou UFH
Pós-parto: profilaxia ou dose intermediária de LMWH ou UFH
410 ALSO
TABELA 6 Indicações clínicas para a profilaxia de anticoagulantes pelo Royal College of Obste-
tricians and Gynaecologists Guidelines
Indicação 1: T EV prévio único relacionado a grandes cirurgias e nenhum outro fator de
risco
Antenatal: dose profilática de LMWH a partir da 28ª semana de gestação
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina (ou outro comprimento por avaliação de risco
pós-natal)
Indicação 2: T EV anterior único (exceto aqueles com TEV relacionados a grandes cirurgias
e nenhum outro fator de risco)
Antenatal: dose profilática de LMWH
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina (ou outro comprimento por avaliação de risco
pós-natal)
Indicação 3: TEV anterior único associado à trombofilia
3A. TEV prévio único associado a deficiência de antitrombina ou síndrome antifosfolipídica
Antenatal: dosagem LMWH de dose mais alta (50%, 75%, ou dose de tratamento completo)
Pós-parto: 6 meses de LMWH ou warfarina (ou até retornar à anticoagulação oral de
longa duração)
3B. TEV prévio único associado a trombofilias que não a deficiência de antitrombina ou
síndrome antifosfolipídica
Antenatal: dose profilática de LMWH
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina (ou outro comprimento por avaliação de
risco pós-natal)
Indicação 4: TEV recorrente
Antenatal: dosagem LMWH de dose mais alta (50%, 75%, ou dose de tratamento completo)
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina (ou até retornar ao anticoagulante oral de
longa duração)
Indicação 5: Trombofilia sem histórico de TEV
5A. Antitrombina, deficiência de proteína C ou S ou aqueles com mais de um defeito
trombofílico (incluindo o fator V homozigoto de Leiden, mutação do gene da
protrombina homozigotos e heterozigotos compostos)
Antenatal: LMWH considerado
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina
5B. Heterozigosidade para mutação do gene do fator V de Leiden ou protrombina ou
anticorpos antifosfolípidese três fatores de risco
Antenatal: dose profilática de LMWH
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina
5C. Heterozigosidade para a mutação do gene do fator V de Leiden ou protrombina ou
anticorpos antifosfolípides e dois fatores de risco
Antenatal: dose profilática de LMWH a partir de 28 semanas de gestação
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina
412 ALSO
TABELA 7 Indicações clínicas para profilaxia anticoagulante pela Society of Obstetricians and
Gynecologists of Canada Guidelies
Indicação 1: Histórico pessoal de TEVs não induzido
Antenatal: dose profilática de LMWH ou UFH
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina
Indicação 2: Histórico pessoal de TEV relacionado à gravidez ou contracepção
Antenatal: dose profilática de LMWH ou UFH
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina
Indicação 3: H
istórico pessoal de um TEV induzido anteriormente e de qualquer
trombofilia de baixo risco
Antenatal: dose profilática de LMWH ou UFH
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina
Indicação 4: F ator V homozigoto assintomático de Leiden, mutação do gene da
protrombina homozigoto 20210A, trombofilia combinada ou deficiência de
antitrombina
Antenatal: dose profilática de LMWH ou UFH
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina
Indicação 5: Cirurgia não obstetrícia durante a gravidez
Pré-natal: dependente do procedimento e do paciente
Pós-parto: dependente do procedimento e do paciente
Indicação 6: R
epouso absoluto no leito durante ≥ 7 dias em uma mulher com IMC > 25kg/
m2 na primeira visita pré-natal
Antenatal: dose profilática de LMWH ou UFH
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina
Indicação 7: Múltiplos fatores de risco relacionados à gravidez, em que o risco de TEV é
considerado > 1%, especialmente para mulheres admitidas para o repouso no leito
Antenatal: dose profilática de LMWH ou UFH
Pós-parto: pelo menos 1 a 2 semanas pós-parto
Indicação 8: Tecnologia reprodutiva assistida
Antenatal: dose profilática de LMWH ou UFH
Pós-parto: 6 semanas de LMWH ou warfarina
Fatores de risco: Obesidade (IMC > 30kg/m2); idade > 35 anos; paridade ≥ 3; uso de tabaco; varizes acentuadas; pré-e-
clâmpsia atual; imobilidade (por exemplo, paraplegia, dor na cintura pélvica com mobilidade reduzida); histórico fami-
liar de TEV não induzido ou provocado por estrógeno em parente de primeiro grau; trombofilia de baixo risco; gravidez
múltipla; fertilização in vitro/tecnologia reprodutiva assistida.
IMC = índice de massa corporal; LMWH = heparina de baixo peso molecular; UHF = heparina não fracionada; TEV =
tromboembolismo venoso.
Informações de Chan WS, Rey E, Kent NE, et al; VTE in Pregnancy Guideline Working Group. Society of Obstetricians
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Can. 2014;36(6):527-553.
414 ALSO
TABELA 8 Comparação das recomendações para profilaxia farmacoterapêutica de tromboembolismo pós-cesariana
Organização Indicação para profilaxia farmacoterapêutica
ACCP Critérios: um fator de risco maior ou dois ou mais fatores de risco
menores
Principais fatores de risco (um necessário para a profilaxia) Fatores de risco menores (dois necessários
Imobilidade para a profilaxia)
HPP 1.000ml com cirurgia IMC > 30kg/m2
TEV anterior Gravidez múltipla
Pré-eclâmpsia com restrição do crescimento fetal Parto cesáreo de emergência
Trombofilia Tabagismo > 10 cigarros/dia
Deficiência de antitrombina Restrição do crescimento fetal
Fator V de Leiden (homozigotos ou heterozigotos) Trombofilia
Protrombina G20210A (homozigotos ou heterozigotos) Deficiência de proteína C
Condições médicas Deficiência de proteína S
LES Pré-eclâmpsia
Doença cardíaca
Doença falciforme
Transfusão de sangue
Infecção pós-parto
ACOG Critérios:
Cada instituição deve adotar um protocolo de avaliação de risco e implementá-lo de forma sistemática
RCOG Critérios:
Alto risco (pelo menos 6 semanas de LMWH profilático pós-natal) Dois ou mais dos seguintes (considere uma
Qualquer TEV anterior profilaxia mais longa se > 3 fatores de risco):
Qualquer pessoa que necessite de LMWH pré-natal Idade > 35 anos
Trombofilia de alto risco Pré-eclâmpsia atual
Trombofilia de baixo risco + histórico familiar Infecção sistêmica atual
416 ALSO
Qualquer pessoa que necessite de LMWH pré-natal Veias varicosas grosseiras
Trombofilia de alto risco Imobilidade (por exemplo, paraplegia, dor na
Trombofilia de baixo risco + histórico familiar cintura pélvica com mobilidade reduzida,
Risco intermediário (pelo menos 10 dias de profilaxia pós-natal viagens de longa distância)
LMWH) Trombofilia de baixo risco
Qualquer procedimento cirúrgico no período pós-parto, exceto Parto vaginal assistido
reparo imediato do períneo Gravidez múltipla
IMC ≥ 40kg/m2 Obesidade (IMC ≥ 30kg/m2)
Parto cesáreo Paridade ≥ 3
Comorbidades clínicas (por exemplo, câncer, insuficiência cardíaca, HPP > 1 litro ou transfusão de sangue
LES ativo, DII ou poliartropatia inflamatória, síndrome nefrótica, Parto prematuro nesta gravidez
diabetes tipo 1 com nefropatia, doença falciforme, usuário (< 37 semanas de gestação)
dependente de drogas intravenosas) Trabalho de parto prolongado (> 24 horas)
Readmissão ou internação prolongada (≥ 3 dias) no período pós- Uso do tabaco
parto Natimorto nesta gravidez
SOGC Critérios:
Pelo menos um fator de risco Pelo menos três fatores de risco
Histórico de qualquer TEV anterior Idade > 35 anos
Qualquer trombofilia de alto risco: síndrome antifosfolipídica, Paridade ≥ 2
deficiência de antitrombina, fator V homozigoto de Leiden Qualquer tecnologia reprodutiva assistida
ou mutação do gene da protrombina 20210A, trombofilia Gravidez múltipla
combinada DPP
Repouso rigoroso antes do parto por 7 dias ou mais Ruptura prematura de membranas
Perda de sangue periparto ou pós-parto > 1 litro ou reposição de Parto eletivo por cesárea
hemoderivados e cirurgias pós-parto simultâneas Câncer materno
Infecção periparto/pós-parto
SOGC Pelo menos dois fatores de risco
(continuação) IMC ≥ 30kg/m2 na primeira visita anteparto
Tabagismo (> 10 cigarros/dia anteparto)
Pré-eclâmpsia
Restrição do crescimento intrauterino
Placenta prévia
Parto cesáreo de emergência
Perda de sangue periparto ou pós-parto de > 1 litro ou substituição
de produto sanguíneo
Qualquer trombofilia de baixo risco (deficiência de proteína C
ou S, fator V heterozigoto de Leiden, ou mutação do gene da
protrombina 20210A)
Doença cardíaca materna, LES, doença falciforme, DII, varizes,
diabetes gestacional
Parto prematuro
Natimorto
ACCP = American College of Chest Physicians; ACOG = American College of Obstetricians and Gynecologists; BMI = índice de massa corporal; IBD = doença inflamatória in-
testinal; IV = intravenoso; LMWH = heparina de baixo peso molecular; HPP = hemorragia pós-parto; RCOG = Royal College of Obstetricians and Gynaecologists; LES = lúpus
eritematoso sistêmico; TEV = tromboembolismo venoso.
Informações de Palmerola KL, D’Alton ME, Brock CO, Friedman AM. A comparison of recommendation for pharmacologic thromboembolism prophylaxis after caesarean de-
livery from three major guidelines. BJOG. 2016;123(13):2157-2162; Chan WS, Rey E, Kent NE, et al; VTE in Pregnancy Guideline Working Group; Society of Obstetricians and
Gynecologists of Canada. Venous thromboembolism and antithrombotic therapy in pregnancy. J Obstet Gynaecol Can. 2014;36(6):527-553.
418 ALSO
bundle que se concentra na identificação de grávidas que podem se beneficiar da
profilaxia farmacológica para TEV.80 Esse pacote classifica as gestantes como baixo,
médio ou alto risco para TEV e dá recomendações baseadas nas diretrizes ACOG
e ACCP.80
Resumo
Este capítulo visa melhorar a compreensão dos fatores de risco, diagnóstico e geren-
ciamento do TEV por parte dos participantes. A gravidez é um estado relativamente
favorável à trombose, mas a triagem rotineira para trombofilia não é recomendada.
Os profissionais devem manter alto nível de suspeita nas mulheres que apresentam
sintomas sugestivos de TEV em qualquer trimestre. A ultrassonografia com Doppler
é o exame inicial de escolha para TVP ou EP em gestantes estáveis, e o tratamento
para TVP ou suspeita de EP deve ser iniciado com resultados positivos ao ultrassom.
Alta suspeita clínica na ausência de estudos diagnósticos positivos não deve atrasar o
tratamento, e o teste de acompanhamento pode ser prosseguido mesmo após o início
da terapia. Deve ser dada prioridade à estabilização dos casos instáveis. A LMWH é o
agente de escolha para o tratamento e profilaxia.
As diretrizes do American College of Chest Physicians, ACOG, SOGC e RCOG for-
necem recomendações para o tratamento e prevenção do TEV; a prática local deve ser
bem estabelecida com base nas melhores evidências disponíveis. A anestesia regional
não é contraindicada em gestantes que recebem anticoagulação profilática ou tera-
pêutica; entretanto, as diretrizes devem ser seguidas em relação ao momento seguro.
As recomendações sobre a profilaxia pós-parto cesáreo e TEV variam. A chave para
diagnosticar essas condições é a vigilância clínica aliada a estudos laboratoriais ou de
imagem apropriados, enquanto se equilibra o bem-estar materno e fetal nas decisões
de diagnóstico e tratamento.
Considerações de enfermagem:
tromboembolismo venoso na gravidez
Identificar mulheres com fatores de risco para TEV, incluindo gravidez/pós-parto, modo
de parto e antecedentes
Estar familiarizado com sinais e sintomas e testes diagnósticos de TVP e EP
Promover a rápida deambulação após o parto
Defender iniciativas para implementar o bundle de prevenção do tromboembolismo
venoso materno para a segurança dos pacientes
TVP = trombose venosa profunda; EP = embolia pulmonar; TEV = tromboembolismo venoso.
420 ALSO
PATIENT
SAFETY
BUNDLE
na Gravidez
Tromboembolismo Venoso
PRONTIDÃO
Todos os setores
Use uma ferramenta padronizada de avaliação de risco de tromboembolismo
para TEV durante:
• Pré-natal
• Internação
• Internação após parto cesáreo ou vaginal
• Pós-parto (até 6 semanas após o parto)
RECONHECIMENTO E PREVENÇÃO
Para toda paciente
Aplicar ferramenta padronizada a todas as pacientes para avaliar o risco de
TEV no momento previsto na “Precaução”.
Aplicar ferramenta padronizada para identificar pacientes adequados para
tromboprofilaxia
Fornecer informação à paciente
Fornecer a todos os prestadores de assistência médico-hospitalar educação
sobre as ferramentas de avaliação de risco e sobre a tromboprofilaxia
recomendada
RESPOSTA
Todos os setores
Utilizar recomendações padronizadas para tromboprofilaxia mecânica
Usar recomendações padronizadas para dosagem de anticoagulação
farmacológica profilática e terapêutica
Utilizar recomendações padronizadas para o momento apropriado de
profilaxia farmacológica com anestesia neuroaxial
RELATÓRIOS/APRENDIZAGEM
Todos os setores
Analisar todos os eventos de tromboembolismo para dificuldades do sistema
e conformidade com protocolos
Monitorar dados do processo e resultados de forma padronizada
Avaliação de complicações de tromboprofilaxia farmacológica
© 2015 American College of Obstetricians and Gynecologists. É concedida permissão para duplicação e distribuição deste documento, em sua totalidade e sem
modificações, apenas para atividades não comerciais que sejam para fins educacionais, de melhoria da qualidade e de segurança do paciente. Todos os outros
usos requerem permissão por escrito da ACOG.
A padronização dos processos de assistência à saúde e a redução das variações têm mostrado melhorar os resultados e a qualidade da assistência. O Council on
Patient Safety in Women’s Health Care dissemina os pacotes de segurança dos pacientes para ajudar a facilitar o processo de padronização. Este pacote reflete
os avanços clínicos, científicos e de segurança do paciente emergentes a partir da data de emissão e está sujeito a mudanças. As informações não devem ser
interpretadas como ditando um curso exclusivo de tratamento ou procedimento a ser seguido. Embora os componentes de um pacote particular possam ser
adaptados aos recursos locais, a padronização dentro de uma instituição é fortemente encorajada.
O Council on Patient Safety in Women’s Health Care é um amplo consórcio de organizações em todo o espectro da Saúde da mulher para a promoção de
cuidados de saúde seguros para cada mulher.
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428 ALSO
Sepse Materna
OBJETIVOS
Introdução
A infecção, ou sepse, foi a terceira principal causa de mortalidade materna
(12,8%) nos Estados Unidos entre 2011 e 2014.1 A Declaração da Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS) sobre Sepse Materna de 2017 reconhece que,
nos últimos 15 anos, os esforços globais de saúde para reduzir a mortalidade
materna se concentraram principalmente nas duas principais causas de mor-
talidade materna: hemorragia pós-parto e distúrbios hipertensivos da gravi-
dez. A declaração apela para uma melhor prevenção e tratamento da sepse
materna, que também é a terceira causa principal de mortalidade materna
direta internacionalmente.2 O início do quadro de sepse na gravidez pode ser
insidioso antes da rápida deterioração com o início do choque séptico, dis-
função de múltiplos órgãos ou morte.3 Os resultados para grávidas com sepse
ou choque séptico na gravidez podem ser melhorados pela detecção precoce,
identificação da fonte da infecção e administração de terapia apropriada.4
Em 2011, a OMS propôs critérios denominados near miss que incluem
a disfunção orgânica e o diagnóstico de sepse.5 Elevada suspeita e detecção
precoce de infecção grave são fundamentais no tratamento da sepse, e o uso
de diretrizes padronizadas melhoram a condução dos casos de sepse.6 Este ca-
pítulo revisa as evidências mais recentes e recomenda uma abordagem prática
para o tratamento da sepse materna.
Definições
A diretriz Sepsis-3 de 2016 definiu a sepse como uma “disfunção orgânica que
ameaça a vida, causada por uma resposta desregulada do organismo hospedeiro
à infecção”. O choque séptico é um subgrupo da sepse caracterizado por dis-
função circulatória, celular e metabólica associada a maior risco de mortalidade.7
429
Esta classificação substituiu os conceitos de 2001 da síndrome da resposta inflama-
tória sistêmica (SIRS) e sepse grave (Tabela 1).8 Estes critérios foram desenvolvidos
para uma população não grávida, para prever mortalidade e morbidade, determinando
a necessidade de encaminhamento para uma unidade de tratamento intensivo (UTI)
de nível superior. Em 2017, a OMS definiu a sepse materna como “uma condição
de risco de morte definida como disfunção orgânica resultante de infecção durante a
gravidez, parto, pós-aborto ou puerpério”.2
A maioria das evidências relativas à sepse materna é baseada em pequenos estudos
retrospectivos. A identificação precisa de grávidas em risco de deterioração é difícil,
devido a mudanças fisiológicas e incidência relativamente baixa de sepse e choque
séptico na gravidez. Uma metanálise e revisão sistemática de 87 estudos envolvendo
8.834 mulheres constataram que os critérios SIRS frequentemente se sobrepõem às
430 ALSO
mudanças fisiológicas normais da gravidez, levando alguns especialistas a recomendar
critérios alternativos para o diagnóstico de sepse materna.9 Uma nova definição é
baseada em dois desvios-padrão acima da média de temperatura, frequência respira-
tória e frequência cardíaca (38,1oC [100,6oF], 25 respirações por minuto e 107 bati-
mentos por minuto [bpm], respectivamente) que podem ajudar nas decisões clínicas.
Essas descobertas são consistentes com a definição de febre puerperal superior a 38oC
(100,4oF) e com duração superior a 1 hora justifica uma avaliação e intervenção apro-
priadas. A febre está presente em 95 a 100% dos casos de infecção intra-amniótica
(corioamnionite) e outras infecções uterinas.9
Fardo da Doença
Prevenção
As ações de prevenção da sepse podem ocorrer durante e após a gravidez, inclusive
durante o trabalho de parto e o parto.
Durante a Gravidez
Puerpério
432 ALSO
Custo financeiro, morbidade infecciosa grave e satisfação da paciente não foram abor-
dados nestes estudos.22 Uma revisão da Cochrane não encontrou evidências de que os
antibióticos previnam a endometrite após a remoção manual da placenta; assim, eles
não são recomendados.23 Isto também se aplica ao reparo da episiotomia após o parto
vaginal normal.24 Uma revisão da Cochrane que incluiu apenas um estudo contro-
lado randomizado de 147 mulheres encontrou diminuição da taxa de complicações
da ferida em 2 semanas pós-parto, mas sem diferença antes da alta hospitalar ou em 6
semanas pós-parto.25 Um ciclo de 48 horas de cefalexina por via oral e metronidazol
após a cesariana, além da profilaxia pré-operatória padrão de cefalosporina para mu-
lheres com obesidade, mostrou benefícios em um único ensaio clínico de um único
centro participante. É necessário pesquisa adicional sobre o assunto.26
Endometrite Pós-Parto
A endometrite pós-parto inclui infecções do endométrio, do miométrio e do para-
métrio.29 A gravidade é proporcional à profundidade da parede uterina; entretanto,
todas as infecções uterinas devem ser consideradas infecções graves. A maioria dessas
infecções são secundárias às Enterobacteriaceae (50%), cocos gram-negativos (45%)
e/ou anaeróbios (23%).30 As infecções causadas por Streptococcus pyogenes (Streptococcus
Epidemiologia
O fator de risco mais importante para infecção materna pós-parto é o parto cesáreo.17
Mulheres submetidas a parto cesáreo primário com prova de trabalho de parto têm
risco 21,2 vezes maior de endometrite (95% CI = 15,4-29,1) em comparação com o
434 ALSO
parto vaginal espontâneo. Mulheres submetidas a parto cesáreo primário sem prova de
trabalho de parto têm probabilidade 10,3 vezes maior de endometrite (95% CI = 5,9-
17,9) em comparação com o parto vaginal espontâneo.32 Após a ocorrência da RM, as
bactérias vaginais podem ascender até o útero. A RPM prolongada duplica o risco de
endometrite.32 Em algumas mulheres, a RM pode não ser óbvia e pode parecer que
a infecção precedeu a ruptura quando uma ruptura sutil ocorreu primeiro. Os fatores
de risco associados com o desenvolvimento de endometrite pós-parto são:
Trabalho de parto prolongado com a RM.
Falta de pré-natal.
Parto cesáreo após trabalho de parto prolongado com ROM.
Parto cesáreo em uma mulher com índice de massa corporal maior ou igual
a 25kg/m2.
Exames vaginais múltiplos após a RM. Entretanto, após o início do trabalho
de parto espontâneo, a pontuação do Bishop, a RM à admissão e o número de
exames digitais não resultaram em aumento significativo de infecção.
Sepse Materna 4 3 5
minhada, tromboembolismo venoso). Em cenários pós-peratórios, considere a febre
pós-operatória/pós-parto ou útero (para endometrite) como a primeira causa mais
comum.35
Mulheres com suspeita de sepse puerperal devem ser avaliadas.
Análise completa dos medicamentos em uso, especialmente aqueles com ativi-
dade serotonérgica (ou seja, tramadol, metoclopramida, ondansetron).
Exame físico completo. Determinar se há achados físicos de infecção (ou seja,
pneumonia, pielonefrite, endometrite, infecção da ferida cirúrgica).
Hemograma completo.
Exame pélvico e culturas. A importância das culturas endometriais é limitada,
pois a maioria das mulheres se beneficia do tratamento com antibióticos empí-
ricos. Além disso, é difícil obter uma cultura endometrial sem causar contami-
nação. Entretanto, é sugerido que a identificação da infecção por Streptococcus
do grupo A em culturas endometriais e cervicais requer exames adicionais,
incluindo a necessidade de alertar os pediatras e indicar isolamento36.
Dosagem de eletrólitos, nitrogênio ureico, creatinina e glicose.
Análise e cultura de urina.
Gasometria arterial.
Radiografia do tórax (se houver sintomas respiratórios).
Outros estudos de imagem, se indicados.
Em mulheres diagnosticadas com sepse devido à endometrite, indicam-se colher
hemoculturas antes de iniciar a antibioticoterapia com a finalidade de otimizar o
tratamento.37 No entanto, a administração de antibióticos não deve ser atrasada para
obter hemoculturas.37,38 Se a mulher já recebeu antibióticos, é fundamental usar um
sistema de meios de cultura que neutralize efetivamente os antibióticos, aumentando
as chances de identificação de agentes patogênicos. Dois conjuntos de hemoculturas
devem ser colhidos idealmente:39 1. um frasco aeróbio, permitindo o crescimento
preferencial de microrganismos aeróbios e anaeróbios facultativos, e 2. um frasco ana-
eróbio, permitindo o crescimento preferencial de bactérias anaeróbias estritas. Estas
devem ser avaliadas a cada 12 horas para verificar o crescimento de microrganismos.
As hemoculturas não demonstraram ser benéficas para a endometrite sem sepse.37
Manejo de Antibióticos
436 ALSO
Piperacilina/tazobactam 4,5g por via IV a cada 6 horas. Esta opção oferece
excelente cobertura para anaeróbios gram-positivos e gram-negativos faculta-
tivos, assim como anaeróbios gram-positivos e gram-negativos.
Ampicilina/sulbactam 3g por via IV a cada 6 horas, acompanhada de genta-
micina, 5mg/kg de peso corporal a cada 24 horas.
Clindamicina 900mg por via IV a cada 8 horas, que é ativa contra 80% de
GBS, Staphylococcus aureus, incluindo S. aureus resistente à meticilina (MRSA)
e anaeróbios, acompanhados de gentamicina 5mg/kg de peso corporal a cada
24 horas, que fornece excelente cobertura contra anaeróbios facultativos
gram-negativos e fornece atividade contra MRSA.
Metronidazol, 500mg a cada 8 horas, proporciona boa atividade contra os
anaeróbios facultativos gram-negativos, acompanhado de gentamicina, 5mg/
kg de peso corporal a cada 24 horas.40,41
A combinação de clindamicina e gentamicina é geralmente indicada para o tra-
tamento da endometrite.34 Após a melhora clínica da endometrite não complicada
que foi tratada com antibioticoterapia intravenosa, a antibioticoterapia oral adicional
não foi comprovada como benéfica.34 Além disso, a antibioticoterapia administrada
precocemente na infecção geralmente produz uma resposta positiva em 48 horas após
o início da infecção. Possíveis razões para o fracasso da terapia antibiótica incluem:
Resistência antibiótica.
Presença de abscesso pélvico que requer drenagem cirúrgica.
Dose inadequada de antibióticos.
Início tardio da antibioticoterapia.
Erro de diagnóstico.
Trombose venosa profunda.
Trombose venosa pélvica séptica.
Trombose da microvasculatura miometrial.
Necrose miometrial.
Febre induzida por drogas.
Se os resultados da cultura identificarem a etiologia bacteriana, o tratamento com
antibióticos pode ser dimensionado e readequado. A febre persistente pode sugerir
complicações: um útero aumentado e sensível sugere microabscessos miométricos, e
gás subcutâneo ou gás nas paredes uterinas à radiografia sugere gangrena gasosa. Nes-
sas situações, pode ser necessária uma intervenção cirúrgica, incluindo histerectomia.
Fatores de risco para tromboflebite séptica pélvica (SPT) incluem corioamnionite,
síndromes hipertensivas da gravidez e parto cesáreo.42 A suspeita de SPT é justificada
em mulheres com febre pós-parto persistente e inexplicada, apesar da terapia antibi-
Aborto Séptico
A OMS define o aborto inseguro como procedimento para interromper uma gravi-
dez indesejada que é realizada por indivíduos sem as habilidades necessárias ou em um
ambiente que não atende aos padrões médicos mínimos, ou ambos.46 Estima-se que
o aborto inseguro é responsável por aproximadamente 13% das mortes maternas em
todo o mundo, secundárias ao choque séptico com falência de múltiplos órgãos com
ou sem hemorragia.47 Onde o aborto é ilegal, a mortalidade materna é frequentemen-
te alta. Por exemplo, no Uruguai, onde a maioria dos abortos é ilegal desde 1939, o
aborto inseguro foi responsável por 28% das mortes maternas entre 1995 e 1999. De
1996-2000, o aborto inseguro foi responsável por 47% das mortes maternas em um
grande hospital de referência.48
A sepse após o aborto é geralmente causada por infecção ascendente produzindo
endometrite ou parametrite e pode ocorrer após abortos espontâneo, cirúrgico ou
inseguro. Embora a incidência tenha diminuído com a legalização do aborto em mui-
tos países, o aborto séptico é responsável pela metade das mortes maternas em outros
países.49 As mulheres de maior risco são aquelas com gestação avançada, retenção de
produtos de concepção e trauma. A maioria dos choques sépticos e mortes relaciona-
das são devidas à demora no atendimento médico.
Critérios Clínicos
Os sinais e sintomas de sepse incluem febre, dor abdominal, sangramento vaginal, cor-
rimento purulento e sensibilidade do útero e anexos. Sintomas de peritonite podem
indicar perfuração uterina.3
Critérios Laboratoriais
438 ALSO
Administração de Antibióticos
Corioamnionite
A infecção intra-amniótica, ou corioamnionite, envolve o líquido amniótico, as mem-
branas e a placenta e geralmente ocorre no ambiente de RM e/ou trabalho de parto.
Os fatores de risco incluem baixa paridade, múltiplos exames digitais, uso de monito-
res internos uterinos/fetais e presença de mecônio.53
Critérios Clínicos
Normalmente, o diagnóstico clínico é feito com base na presença de febre materna e
taquicardia fetal e não há necessidade de culturas uterinas ou exames de sangue.
Historicamente, a corioamnionite tem sido definida como febre materna de
38 C (100,4oF) acompanhada de qualquer um destes critérios: leucocitose materna
o
Administração de Antibióticos
440 ALSO
óticos terminando 24 horas após o parto pode ser adequado porque o parto propor-
ciona o controle da fonte da infecção.58 Em casos de febre persistente ou sepse após o
parto, os antibióticos devem continuar com o diagnóstico mudando para endometrite
ou sepse. A febre persistente, apesar do tratamento com antibióticos, pode indicar
complicações, incluindo miometrite necrotizante e abscesso pélvico.
Pielonefrite
A pielonefrite aguda ocorre em 0,5% das gestações.59 É causa comum de sepse ma-
terna,59 e o microrganismo mais frequente é a E. coli. Deve ser investigada bacteriú-
ria assintomática em todas gestantes porque o tratamento antimicrobiano durante a
gravidez diminui o risco de pielonefrite (média RR 0,23; 95% CI = 0,13-0,41; 11
estudos, 1.932 mulheres; evidência de muito baixa qualidade), bebês com baixo peso
ao nascer (média RR 0,64; 95% CI = 0,45-0,93; seis estudos, 1.437 recém-nascidos;
evidência de baixa qualidade) e nascimento pré-termo (RR 0,27; 95% CI = 0,11-
0,62; dois estudos, 242 mulheres; evidência de baixa qualidade).60 Não há evidência
suficiente para o uso de antibióticos profiláticos para prevenir infecções recorrentes
após pielonefrite ou ITU recorrente.61
Fatores que predispõem à pielonefrite na gravidez incluem a dilatação ureteral
mediada por progesterona e secundária ao relaxamento muscular suave e compressão
dos ureteres pelo útero grávido. Além da E. coli, outras bactérias envolvidas incluem
Klebsiella spp., Enterobacter spp., Pseudomonas aeruginosa, Serratia spp. e Citrobacter spp., e
anaeróbios como Clostridium, Bacteroides spp. e Actinomyces spp. 59
Critérios Clínicos
Critérios Laboratoriais
Uso de Antibióticos
A ITU aguda deve ser administrada com antibioticoterapia empírica. O tratamento
pode variar de acordo com o local da infecção (ITU alta versus ITU baixa) e a idade
gestacional. Não há dados suficientes para determinar o melhor regime de antibióti-
cos para a pielonefrite durante a gravidez. As opções incluem ampicilina acompanha-
da de gentamicina, ou um único agente, como a cefazolina. Estes regimes geralmente
são eficazes nas primeiras 72 horas.65,66
A cistite, ou bacteriúria assintomática, pode ser tratada com cefalexina, ampi-
cilina ou nitrofurantoína.14 Entretanto, estudo de 2009 de controle de casos basea-
do na população descobriu que a nitrofurantoína administrada durante o primeiro
trimestre estava associada a maior risco de má-formação, incluindo anoftalmias (ou
microftalmos), síndrome hipoplásica cardíaca esquerda, defeitos do septo atrial e lábio
leporino com fissura palatina. Este estudo também incluiu o uso de trimetoprima/
sulfametoxazol. No final da gravidez, nitrofurantoína e trimetoprima/sulfametoxazol
podem causar hiperbilirrubinemia no recém-nascido. Quinolonas e tetraciclinas estão
contraindicadas na gravidez por causa da teratogenicidade.67
Ao avaliar a pielonefrite, considere a possibilidade de urolitíase. Esta combinação
pode ter efeitos adversos devastadores para a mulher. A urolitíase na gravidez pode ser
tratada de forma conservadora; entretanto, o tratamento invasivo pode ser necessário
em casos de dor persistente, febre que não responde aos antibióticos, piora da função
renal ou sinais de septicemia. O desvio urinário pode ser realizado com um stent duplo
J ou por meio da realização de nefrostomia percutânea sob orientação de ultrassom,
sem risco de radiação.68 A descompressão oportuna do rim preservará a função renal e
ajudará a controlar a sepse. A pionefrose é a combinação de infecção e obstrução (pus
sob pressão) com uma coleção de material purulento preso no sistema de coleta renal
por uma pedra (cálculo), massa ou outra obstrução. Nessas situações, além da terapia
antimicrobiana e do tratamento de suporte para sepse, pode ser indicada a radiologia
intervencionista ou urológica com nefrostomia percutânea emergente ou a colocação
de um stent ureteral.69
442 ALSO
O abscesso perineal pode manifestar-se com febre e dor no flanco, especialmente
se for persistente, ou pode ser diagnosticado por acaso. A acumulação de material pu-
rulento ao redor dos rins ocorre frequentemente secundária à urosepse do trato supe-
rior, classicamente em associação com a urolitíase. Para abscesso perirrenal ou abscesso
intrarrenal maior que 3cm, a drenagem percutânea é amplamente recomendada após
estabilização clínica e antibioticoterapia. Entretanto, existem vários abscessos de me-
nor tamanho que também requerem drenagem.70
Pneumonia
A pneumonia afeta 0,5 a 1,5 das grávidas por 1.000 e é a causa não obstétrica mais
comum de mortalidade materna nos Estados Unidos.71 A morbidade e a mortalida-
de por pneumonia são mais elevadas em grávidas devido à diminuição do volume
pulmonar residual, aumento das necessidades de oxigênio e diminuição do tônus
esofágico.33
Gestantes com pneumonia têm maior risco de parto prematuro, parto cesáreo,
pré-eclâmpsia/eclâmpsia e bebês com baixo peso ao nascer e escores de APGAR mais
baixos.71
Critérios Clínicos
A pneumonia pode manifestar-se com tosse, febre e falta de ar. Na presença de sin-
tomas respiratórios significativos, deve-se observar a saturação de oxigênio. Quando
indicada, solicitar radiografia de tórax. O abdômen da gestante deve ser protegido
para minimizar a exposição à radiação. Ao considerar um diagnóstico de pneumonia,
deve-se incluir a embolia pulmonar no diagnóstico diferencial.
Critérios Laboratoriais
Administração de Antibióticos
Hora 0
a 12
Hor
Hor
a1
Ho 3
ra ra
6 Ho
444 ALSO
danças influenciam a perda de sangue durante o parto; desenvolvimento de infecções
como corioamnionite, endometrite, pneumonia e pielonefrite; necessidade de infusão
de volume intravenoso, dosagem de drogas, tipo de parto e anestesia. A fisiologia ma-
terna também afeta sinais vitais e parâmetros laboratoriais, tornando o diagnóstico de
sepse e choque séptico mais difícil em grávidas.76
Os critérios de estratificação de risco também são incorporados na definição de
sepse. Os dois critérios mais comumente usados são os critérios SIRS e os escores
Quick Sequential Organ Failure Assessment (qSOFA) e Sequential Organ Failure Assess-
ment (SOFA).
Os critérios SIRS definem a suspeita de sepse com a presença de dois ou mais
dos seguintes:74
Temperatura maior que 38oC (100,4oF) ou menor que 36oC (96,8oF).
Ritmo cardíaco superior a 90bpm.
Taxa respiratória maior que 20 respirações por minuto ou PaCO2 menor que
32mmHg.
Leucocitose maior que 12.000/mm3 ou menor que 4.000/mm3 ou maior que
10% de faixas imaturas.
No consenso Sepsis-3, o uso do critério SIRS foi considerado inespecífico e seu
uso não é mais recomendado.7 Em lugar do critério SIRS, uma nova abordagem clí-
nica foi proposta para a triagem inicial de pacientes com infecção, conhecida como
escore qSOFA, incluindo o seguinte:
Frequência respiratória 22 respirações por minuto ou mais.
Alteração do estado mental.
Pressão arterial sistólica 100mmHg ou menos.
A suspeita de sepse é feita quando dois ou mais desses critérios estiverem presen-
tes, e a avaliação da disfunção orgânica é necessária para diagnosticar a sepse. Para isso,
o escore SOFA completo é atualmente o próximo passo no diagnóstico da sepse.76,77
Valores de 2 ou mais nesses resultados definem o diagnóstico de sepse (Tabela 3). Em-
bora apenas 24% das pacientes com infecção que não estão grávidas tenham qSOFA
de 2 ou 3, eles são responsáveis por 70% das mortes por causa da sepse.7
Apesar das mudanças feitas na nova proposta do consenso, uma meta-análise re-
cente recomendou SIRS e qSOFA como alternativas aceitáveis para pacientes com
sepse. Além disso, o SIRS foi significativamente superior em termos de sensibilidade
ao qSOFA para o diagnóstico de sepse (RR 1,32; IC 95% = 0,40-2,24), e o qSOFA
foi ligeiramente melhor na previsão da mortalidade hospitalar, assim, a associação de
ambos os critérios poderia fornecer um modelo melhor para iniciar ou intensificar a
terapia em pacientes com sepse.78
Sepse Materna 4 4 5
TABELA 3 SOFA Sequential Organ Failure Assessment Score
1 2 3 4
Respiração
PaO2/FiO2 < 400 < 300 < 200 < 100
(com suporte (com suporte
respiratório) respiratório)
Coagulação
Plaquetas × 103/mm3 < 150 < 100 < 50 < 20
Fígado
Bilirrubina, mg/dl 1,2-1,9 2,0-5,9 6,0-11,9 > 12
(20-32) (33-101) (102-204) (> 204)
Cardiovascular
Hipotensão MAP Dopamina < 5 Dopamina > 5 Dopamina > 15
< 70mmHg ou dobutamina ou epinefrina ou epinefrina
(qualquer dose) < 0,1 ou < 0,1 ou
norepinefrina norepinefrina
< 0,1 < 0,1
Sistema nervoso
central
Escore de coma 13-14 10-12 6-9 <6
de Glasgow
Renal
Creatinina, 1,2-1,9 2,0-3,4 3,5-4,9 > 5,0
mg/dl ou débito (110-170) (171-299) (300-440) ou (> 440) ou
urinário < 500ml/dia < 200ml/dia
MAP = mean arterial pressure.
Fonte: Vincent JL, Moreno R, Takala J, et al. The SOFA (Sepsis-related Organ Failure Assessment) score to describe organ
dysfunction/failure. On behalf of the Working Group on Sepsis-Related Problems of the European Society of Intensive
Care Medicine. Intensive Care Med. 1996;22(7):707-710.
A disfunção orgânica induzida pela sepse poderá ser sutil; portanto, ela deve ser
considerada em qualquer paciente que apresente infecção. Neste cenário, também é
obrigatório excluir o choque séptico (ou seja, a presença de hipotensão associada ao
uso de vasopressores e/ou um nível de lactato maior que 18mg/dl [2mmol/l] após
o manejo adequado do líquido) em qualquer paciente com suspeita ou confirmação
de infecção. Além disso, mesmo na ausência de hipotensão, níveis elevados de lactato
devem ser considerados evidência de choque séptico.79 O lactato sérico está disponí-
vel na maior parte dos serviços, mas não universalmente, podendo estar indisponível
especialmente em ambientes de poucos recursos.
446 ALSO
Sistemas de Alerta Precoce e Aplicabilidade
no Diagnóstico da Sepse Materna
Sistema de Alerta Obstétrico Antecipado Modificado
O Sistema de Alerta Obstétrico Precoce Modificado (MEOWS) é uma ferramenta de
avaliação à beira do leito projetada para identificar mulheres com maior risco de com-
plicações graves, nas quais os sinais vitais maternos (temperatura, pressão arterial, frequ-
ência cardíaca, saturação de oxigênio), nível de consciência e dor são registrados a cada
12 horas. Foi desenvolvido como uma resposta à necessidade urgente de um sistema de
alerta precoce ajustado para as adaptações fisiológicas da gravidez (ver Tabela 4).53
O MEOWS foi recomendado como uma ferramenta de triagem à beira do leito
pelo relatório trienal de 2003-2005 Confidential Enquiry into Maternal and Child Health
(CEMACH) para o reconhecimento precoce de complicações obstétricas graves e
registro periódico de parâmetros fisiológicos.80,81
TABELA 4 Critérios de alerta amarelo e vermelho para Maternal Early Obstetric Warning System
(MEOWS)
Gatilho amarelo Gatilho vermelho
Frequência respiratória 21-30 < 10 ou > 30
(respirações/minuto)
Saturação de oxigênio (%) < 90
Frequência cardíaca (bpm) 100-120 ou 30-40 < 30 ou > 120
Pressão arterial sistólica (mmHg) 80-90 ou 150-160 < 80 ou > 160
Pressão arterial diastólica (mmHg) 80-90 > 90
Lóquios Cheiro forte/fétido
Proteinúria > +2
Cor do liquor Verde
Não responsivo Voz Indiferente, dor
Condição geral Não parece bem
bpm = batimentos por minuto.
Fonte: Singh S, McGlennan A, England A, Simons R. A validation study of the CEMACH recommended modified early
obstetric warning system (MEOWS).
Anaesthesia. 2012;67(1):12-18.
448 ALSO
TABELA 6 Critério de alerta materno precoce (MEWC)
Pressão arterial sistólica; mmHg < 90 ou > 160
Pressão arterial diastólica; mmHg > 100
< 50 ou > 120
Ritmo cardíaco; bpm < 10 ou > 30
Frequência respiratória; respirações/minuto < 95
Saturação de oxigênio; % de ar ambiente, nível do mar < 30ml/hora
por 2 horas
Oligúria
Agitação materna, confusão, ou ausência de resposta
Paciente com hipertensão arterial relatando cefaleia
não remitente ou falta de ar
bpm = batimentos por minuto.
Traduzida e adaptada de Mhyre JM, D’Oria R, Hameed AB, et al. The maternal early warning criteria: a proposal from the
national partnership for maternal safety. J Obstet Gyne-col Neonatal Nurs. 2014;43(6):771-777.
A terapia precoce orientada por metas (EGDT) tem sido recomendada na diretriz
internacional para a reanimação de pacientes que apresentam choque séptico precoce.
Entretanto, evidências recentes de RCTs multicêntricos nos Estados Unidos, Oceania
e Inglaterra indicam que a EGDT não é superior às medidas típicas de reanimação
(ou seja, tratamento baseado no julgamento clínico).86
A detecção precoce e a intervenção podem melhorar os resultados e a sobrevivência
em mulheres com sepse e choque séptico. O início urgente da terapia de acordo com
protocolos padronizados demonstrou reduzir a mortalidade, os custos hospitalares e o
tempo de internação em estudos randomizados que não incluíam grávidas.87 Uma tera-
pia rápida e apropriada requer a coordenação de uma equipe multidisciplinar, incluindo
450 ALSO
médicos, enfermeiros e pessoal administrativo e farmacêutico. Muitas mulheres com
sepse e choque séptico podem precisar de internação na UTI.
Sepse Materna 4 5 1
hipoperfusão. Entretanto, a sobrecarga de fluido pode levar a edema pulmonar.74 A
maioria das mulheres jovens saudáveis pode suportar bolus de volume intravenoso,
mas o risco de edema pulmonar com reanimação volêmica será maior no cenário
de pré-eclâmpsia.93
Em pacientes com sepse e hipotensão e/ou hipoperfusão, recomenda-se a reani-
mação com infusões rápidas aquecidas (4ml/kg em bolus a cada 15 minutos com uma
meta de 30ml/kg durante as primeiras 3 horas de tratamento) para melhorar a pré-
-carga cardíaca, pós-carga e contratilidade.94
O ensaio Protocolized Care for Early Septic Shock (ProCESS) não encontrou nenhu-
ma diferença nos resultados com protocolos.95
Uma checklist deve ser realizada nas primeiras 3 horas de manejo (fase inicial de
reanimação).74 Esta checklist inclui:
1. Medir o nível de lactato.
2. Obter hemoculturas antes da administração de antibióticos.
3. Administrar antibióticos de amplo espectro.
4. Administrar 30ml/kg de cristaloide se a hipotensão ou nível de lactato for
36mg/dl (4mmol/l) ou maior (18mg/dl [2mmol/l] de acordo com as reco-
mendações atuais).
Administração de fluidos, conforme proposto pelas recomendações da Sepsis Six,
só deve ser considerada para pacientes com hipotensão além das evidências clínicas ou
subclínicas de hipoperfusão. A hipotensão pode estar presente no cenário da sepse sem
outros sinais clínicos ou laboratoriais sugerindo hipoperfusão.96 Estudos em modelos
humanos e animais não grávidos associaram a administração liberal de volume na
sepse com resultados piores.97 Resultados melhores foram observados quando a ad-
ministração de volume é conservadora, em vez de liberal.98 Evidências de reanimação
volêmica na população geral também se aplicam a grávidas.
Uma abordagem prática da reanimação volêmica na sepse é o protocolo Rescue,
Optimization, Stabilization, and Deescalation (ROS-D).99 Este protocolo recomenda a
administração de um bolus de 4ml/kg durante 15 minutos para o manejo imediato
de condições de risco de morte associadas com a perfusão de tecidos comprometidos.
Durante a fase de Resgate, a monitorização hemodinâmica é baseada em parâmetros
clínicos, usando sinais vitais e oximetria de pulso, sem avaliação hemodinâmica com-
plexa. Durante a fase de Otimização, a paciente não está mais em perigo de morte
imediato, mas em uma fase de choque compensado (mas com alto risco de descom-
pensação), portanto, é necessário observar e monitorar de perto o estado hemodinâ-
mico da paciente para evitar o sobre ou subtratamento com risco de morte.99 Durante
essa fase, os fluidos devem ser monitorados usando métodos dinâmicos não invasivos,
tais como ecocardiografia, ultrassom cardiovascular à beira do leito e monitoramento
452 ALSO
do débito cardíaco por biorreatividade.100 Após a otimização, a fase de Estabilização
propõe manutenção de 1-2ml/kg/hora para a manutenção contínua em um cenário
de perdas normais de volume. A principal diferença dessa fase em relação às duas an-
teriores é a ausência de choque. Por fim, durante a fase de desaceleração, os fluidos
serão descontinuados e o objetivo normalmente é promover um balanço negativo de
líquidos.
Sepse Materna 4 5 3
Variação da pressão de pulso (pacientes que recebem ventilação).
Avaliação dinâmica da capacidade de resposta a fluidos com o aumento passivo
dos membros inferiores ou edemas.102
O objetivo dessa terapia é restaurar a perfusão efetiva dos tecidos e normalizar o
metabolismo celular. Norepinefrina é a droga vasoativa de primeira linha usada para
o choque séptico e age para aumentar a MAP. Embora a norepinefrina possa reduzir
o fluxo sanguíneo uterino, em choque séptico com hipotensão não respondendo aos
esforços iniciais de reanimação, os benefícios superam os riscos.102
Uma preocupação comum durante o tratamento desses pacientes é a administra-
ção desses medicamentos por uma via periférica. Entretanto, recente revisão sistemá-
tica constatou que, se necessário, o uso de uma via periférica utilizando acesso venoso
na fossa antecubital, com agulhas maiores que 20G (ou seja, 16-18G) e avaliação do
local da punção a cada 2 horas, minimiza o risco de complicações maiores, como
necrose da pele. No entanto, a administração periférica de drogas vasoativas não é
recomendada por um período prolongado.103
Após a pressão arterial, frequência cardíaca, débito urinário e níveis de lactato vol-
tarem ao normal após a reanimação volêmica, um plano de manutenção deve ser
devidamente fundamentado, incluindo cronogramas de revisão clínica planejada e
critérios de agravamento. A atenção deve concentrar-se na reanimação contínua ur-
gente e no controle mais amplo, incluindo o controle de qualquer fonte passível de
drenagem ou remoção em 12 horas.
Muitas mulheres com sepse que estão recebendo cuidados maternos terão múl-
tiplas disfunções orgânicas ou alta OEWS. Nesses casos, a elevação da assistência para
cuidados intermediários (se um único sistema de órgãos exigir suporte) ou mesmo
unidades de terapia intensiva (se for necessário suporte respiratório invasivo ou supor-
te para mais de um sistema de órgãos) deve ser conduzida em âmbito especializado de
enfermagem e médico em consulta com a mulher e sua família, conforme apropriado.
Sempre que possível, essas decisões devem ser tomadas e documentadas antes da de-
terioração da condição da mulher.
454 ALSO
Pacote de Segurança do Paciente: Prevenção
de Corpo Estranho Vaginal Após o Nascimento
Em 2017, o Conselho de Segurança da Paciente na Saúde da Mulher publicou o
pacote de Prevenção de Corpo Estranho Vaginal (esquecidos após o nascimento). O
pacote tem quatro áreas de ação para a padronização da conduta: Prontidão, Reco-
nhecimento, Resposta e Relatórios, que podem ser aplicados a cada paciente e setor
de assistência à gestante.
Perspectiva Global
Fardo da Doença
Embora a mortalidade materna relacionada à sepse e outras taxas de infecção materna
tenham diminuído nos últimos 25 anos, estas continuam a ser um importante proble-
ma de saúde pública em muitos países de baixa e média renda (LMIC).105
Sepse Materna 4 5 5
em ambientes de poucos recursos. Estudos recentes mostraram que a revascularização
capilar e áreas de pele com manchas são expressão clínica de hipoperfusão cutânea e
estão estreitamente correlacionadas com choque séptico e maus resultados.107,108
Como justificativa do Pacote Hora 0, se não houver recursos laboratoriais, gasome-
tria arterial e/ou teste de nível de lactato disponíveis, a infecção com um SIRS de 2 ou
maior ou uma pontuação qSOFA de 2 ou maior além de uma OEWS com alto risco
de deterioração (ou seja, OEWS de 6 ou maior) é fortemente sugestiva de sepse.4
Muitas mulheres com sepse que estão recebendo cuidados de maternidade pre-
cisarão de uma ampliação da assistência para cuidados intermediários ou mesmo in-
tensivos. Estas decisões devem ser tomadas e fundamentadas antes que a condição da
mulher se deteriore; no entanto, isto raramente é viável em LMIC.
456 ALSO
PATIENT
SAFETY
BUNDLE
Sepse Materna
DISPONIBILIDADE
Todas as unidades
Educar todos os membros da equipe de saúde sobre a importância de
prevenir o esquecimento de compressas e tampões vaginais.
Educar todos os membros da equipe de saúde sobre as técnicas adequadas
de contagem e registro.
Estabelecer um processo de prevenção de esquecimento de compressas
vaginais em cada local de parto, incluindo a atribuição de funções para
todos os membros da equipe de saúde. Usar sistema de rastreio de
compressas (por exemplo, radiografia pélvica com compressas radiopacas ou
identificação por radiofrequência) quando disponível.
IDENTIFICAÇÃO E PREVENÇÃO
Para todas as pacientes
Realizar a contagem inicial de todas as compressas e registrar a contagem
no prontuário de nascimento e em um local visível por todos os membros da
equipe de saúde.*
Colocar todas as compressas usadas em um recipiente separado ou bancada
para facilitar a coleta durante a contagem de fechamento.
Fazer a contagem de fechamento de todas as compressas vaginais e registrar
a contagem no prontuário de nascimento.
Confirmar a ausência de compressas na vagina por meio da validação da
contagem de fechamento correta e exame/inspeção visual da vagina e
registro no prontuário de nascimento.
Sepse Materna 4 5 7
PATIENT
SAFETY
BUNDLE
Sepse Materna
RESPOSTA
No caso de contagem incorreta
Realizar recontagem de compressas usadas, procurá-las cuidadosamente
na sala (todas as cortinas, baldes, campos e rampers) e explorar a vagina,
prestando atenção aos fórnices vaginais para identificar compressas ausentes.
• Se a compressa faltante for localizada, registrar a contagem de fechamento
correta no prontuário de nascimento.
• Se a compressa permanecer ausente, utilizar o sistema de detecção de
compressas para descartar esquecimento dessas.
• Se a compressa ausente for localizada, registrar a contagem correta de
fechamento no prontuário de nascimento.
• Se a compressa ausente não está localizada, ou em locais onde os
sistemas de detecção de compressas não estão disponíveis, registrar a
contagem de fechamento como incorreta no prontuário de nascimento e
informar ao paciente sobre discrepâncias na contagem.
RELATÓRIOS/LIÇÕES APRENDIDAS
Todas as unidades
Estabelecer uma cultura de segurança e responsabilidade em cada ambiente
do nascimento.
Desenvolver um processo para documentar efetivamente a contagem de
compressas para cada nascimento e informar a paciente sobre discrepâncias
na contagem.
Realizar uma revisão multidisciplinar dos casos de esquecimento de
compressas no campo.
Monitorar os resultados e indicadores.
Este bundle não se destina a pacientes que são transferidas para a sala
de cirurgia nem a pacientes que têm compressas ou tampões vaginais
intencionais e comprovadamente documentados que foram deixados
no local. As instituições são encorajadas a ter políticas institucionais de
monitoramento, documentação e prestação de contas para estas situações
© 2015 American College of Obstetricians and Gynecologists. Permission is hereby granted for duplication and distribution of this document, in its entirety and
without modification, for solely non-commercial activities that are for educational, quality improvement, and patient safety purposes. All other uses require
written permission from ACOG.
Standardization of health care processes and reduced variation has been shown to improve outcomes and quality of care. The Council on Patient Safety in Women’s
Health Care disseminates patient safety bundles to help facilitate the standardization process. This bundle reflects emerging clinical, scientific, and patient safety
advances as of the date issued and is subject to change. The information should not be construed as dictating an exclusive course of treatment or procedure to
be followed. Although the components of a particular bundle may be adapted to local resources, standardization within an institution is strongly encouraged.
The Council on Patient Safety in Women’s Health Care is a broad consortium of organizations across the spectrum of women’s health for the promotion of safe
health care for every woman.
Traduzido de Council on Patient Safety in Women’s Health Care. AIM-Supported Patient Safety Bundles. Severe Hypertension in Preg-
nancy. Disponível em https://safehealthcareforeverywoman.org/.
458 ALSO
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lance System. 2018. Available at https://www.cdc.gov/reproductivehealth/
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466 ALSO
Lacerações Perineais de
Terceiro e Quarto Graus
OBJETIVOS
Introdução
Lacerações perineais de terceiro e quarto graus são uma complicação comum
do parto vaginal, especialmente com a episiotomia mediana ou parto opera-
tório. A avaliação e reparação corretas são necessárias para evitar complica-
ções. O grau de laceração deve ser estabelecido, o que vai indicar o método
de reparação.
Epidemiologia
Lacerações de terceiro e quarto grau podem ocorrer após qualquer tipo de
parto vaginal. Muitos estudos mostram que a episiotomia é o fator mais for-
temente associado às lacerações de terceiro e quarto graus.1 A episiotomia
restritiva parece ter uma série de benefícios em comparação com a episio-
tomia de rotina. Há menos traumas perineais posteriores, menos suturas e
menos dor, mas há risco aumentado para trauma perineal anterior com a
episiotomia restritiva2. Este trauma anterior não tem efeito na continência
urinária em até 12 semanas pós-parto, mas os efeitos a longo prazo perma-
necem incertos3.
Outros fatores predispõem a estas lacerações (Tabela 1). Revisão da Cochra-
ne com 10 ensaios4 descobriu que, em comparação com o fórceps, o vácuo-
-extrator é associado com menos trauma materno e, por conseguinte, é menos
467
suscetível às lacerações de terceiro ou quarto grau. Fatores não associados a estas lace-
rações incluem: índice de massa corporal (IMC), idade gestacional, estado civil, peso
pré-gestacional, ganho de peso na gravidez, altura, escolaridade, tempo de nascimento
ou aptidão física.3,7
Anatomia
O períneo é composto por várias camadas, incluindo um epitélio e várias camadas
de fáscia e de músculo, que se rompem em uma laceração de terceiro ou quarto
grau. A compreensão detalhada da anatomia do períneo é essencial para a reparação
apropriada.
A laceração envolve, da camada superficial para a profunda, o epitélio escamoso do
períneo e a mucosa vaginal. Logo abaixo, na borda posterior do introito, está o corpo
perineal. O corpo perineal é o tendão central do períneo, onde os músculos bulbo-
cavernoso (ou bulboesponjoso), transverso superficial do períneo e esfíncter externo
do ânus se fixam. O corpo perineal é um triângulo, quando visto do plano sagital.
A base é o corpo perineal, e o vértice é a vagina superior. Em posição superficial e
profunda em relação a estes músculos estão as camadas de fáscias. Visto de cima para
baixo, imediatamente abaixo da fáscia profunda estão o músculo transverso profundo
do períneo e o levantador do ânus. Posterior e inferiormente ao levantador do ânus
está o esfíncter interno do ânus, e logo abaixo dele está a mucosa retal.
O esfíncter interno do ânus pode não ser uma estrutura anatômica familiar para
muitos médicos e enfermeiras, pois não é bem descrito em textos obstétricos mais
antigos. É um músculo liso e provê a maior parte do tônus de repouso do esfíncter
anal e a continência. Há evidência de que uma paciente com laceração envolvendo
ambos os esfíncteres anais interno e externo tem grande probabilidade de desenvolver
incontinência fecal pós-parto. A presença de um defeito de esfíncter anal interno visto
em ultrassom endoanal é associada com incontinência anal em alguns, mas não em
todos os estudos.10,11
468 ALSO
Classificação
Um sistema de classificação fornece um quadro de referência para avaliação, pesquisa
e discussão do grau de lesão, assim como meios adequados de reparo. Nos EUA um
sistema de classificação de 4 níveis é usado, na Europa utiliza-se um de 3 níveis (sendo
o terceiro grau europeu equivalente ao quarto grau americano).Ver Tabela 2.
TABELA 2 Classificação1
Prevenção
Evitar um parto operatório ou uma episiotomia é a melhor maneira de prevenir uma
laceração de terceiro ou quarto grau. Se for necessário um parto vaginal assistido,
preferir o vácuo-extrator ao fórceps, pois parece haver menor morbidade materna
com o vácuo.4 Há vários estudos avaliando outras estratégias de prevenção, com re-
sultados variados. Uma revisão sistemática mostrou que massagem perineal iniciada
semanas antes do parto aumenta a chance de períneo íntegro em primíparas, mas não
em mulheres com parto vaginal prévio.5 Um estudo randomizado controlado (ERC)
concluiu que compressas quentes no períneo não reduzem a probabilidade de as pri-
míparas requererem sutura, mas diminuem significativamente a dor e as lacerações de
terceiro e quarto graus durante o parto.6 Outro ERC12 não encontrou diferença no
risco de trauma genital com as compressas quentes, massagens com lubrificante ou
não tocar no períneo. A literatura é controversa quanto à melhor posição de parto, mas
a posição lateral tem a melhor evidência para maior probabilidade de períneo íntegro
no pós-parto, principalmente se houver anestesia regional.13,14 Um ERC15 mostrou
que o suporte perineal não diminuiu a frequência ou o grau de lacerações perineais
comparado com não tocar o períneo, mas outro ERC utilizando o suporte perineal
Reparo Cirúrgico
Avaliação
470 ALSO
TABELA 4 Materiais de sutura18,19
Material de Nome
Composição Qualidades Duração
sutura comercial
Ácido Vicryl Trançado Força tênsil Absorção previsível por
poliglicólico Vicryl sintético de melhor e de hidrólise
Rapide homopolímero maior duração Absorvido totalmente
Dexon de ácido que o cromado. em 60-90 dias
poliglicólico Resposta
tecidual leve
Diminui dor a
curto prazo
Ácido Maxon Monofilamento Excelente força Absorvido totalmente
poliglicólico composto tênsil. Leve e por hidrólise em
e trimetalene de 1:3 dos resistente 180 dias
polímeros
Sulfato de PDS Monofilamento Excelente força Absorvido totalmente
polidioxianona Duracryl de longa tênsil. Leve e por hidrólise em
duração, flexível 180 dias
absorção lenta
Categute Catgut Fios trançados Boa força tênsil. Absorção por
cromado cromado de proteína Intensa fagocitose, que é
intestinal de resposta imprevisível. Mantém
ovelha ou boi inflamatória a força tênsil por
7 a 10 dias. Rápida
absorção em tecidos
infectados
Analgesia
O bloqueio pudendo com ou sem anestesia local deve promover analgesia adequada
para a maioria dos procedimentos. Pode ser realizado antes de se fazer uma episioto-
mia ou após o parto, antes do reparo. A escolha do anestésico pode ser a critério do
cirurgião, mas a maioria usa lidocaína, cloroprocaína ou bupivacaína com epinefrina.
A lidocaína passa rapidamente para o feto e deve ser usada moderadamente.21 Clo-
roprocaína é rapidamente metabolizada na mãe e no feto e tem pouca passagem pela
placenta. Bupivacaína liga-se mais às proteínas e tem pouca passagem para o feto, mas
tem potencial toxicidade cardíaca para a mãe.
A anestesia pudenda é um bloqueio regional ideal para a reparação de uma lace-
ração de terceiro ou quarto grau quando não há analgesia epidural. Ela oferece exce-
lente anestesia do períneo e do terço inferior da vagina através do bloqueio do nervo
dorsal do clitóris, dos nervos labiais e dos nervos retais inferiores.21 Pacientes que são
incapazes de tolerar o reparo com um bloqueio pudendo adequado podem receber
analgesia inalatória ou por via intravenosa. As pacientes com epidural contínua podem
precisar de complementação para fornecer a analgesia necessária. A raquianestesia
pós-parto é outra opção, uma vez que uma paciente cooperativa e confortável é fun-
damental para uma boa exposição e reparação adequada.
O bloqueio pudendo pode ser realizado via transvaginal com a ajuda de uma
cânula através da qual passa uma agulha espinhal 20G.21 Cinco a 10 mililitros de um
anestésico local são injetados bilateralmente logo abaixo das espinhas isquiáticas.21
O nervo pudendo está próximo à artéria e veia pudenda. Isto aumenta o risco de
injeção dentro dos vasos, de lesões vasculares e de rápida absorção do anestésico
pelo sistema circulatório. Assim que a agulha estiver na posição, o operador deve as-
pirar a seringa antes de injetar o anestésico para verificar se a agulha não está dentro
de um vaso.
Uma analgesia adequada também pode ser obtida usando infiltração local com um
anestésico. Infundir um anestésico local na mucosa vaginal, no períneo e no esfíncter
retal pode proporcionar analgesia suficiente para concluir o reparo. Deve-se assegurar
que o esfíncter retal está adequadamente anestesiado antes de se iniciar a cirurgia.
472 ALSO
Reparo da Laceração
Uma vez que há uma analgesia adequada, o reparo pode ser iniciado. A seguir descre-
vemos o reparo de uma laceração de quarto grau, mas note-se que o reparo de uma
laceração de terceiro grau começa após o fechamento da mucosa retal.
A exposição adequada e a visualização da laceração são os passos mais importantes
antes de se iniciar o reparo. Muitos cirurgiões são auxiliados por um ou dois assistentes
para proporcionar a exposição, e colocam um tampão vaginal (um chumaço de gaze
com uma fita colorida para remoção) na parte superior da vagina para impedir que
o fluxo de sangue pós-parto escorra para o campo cirúrgico. Alguns médicos usam
compressas quando um tampão vaginal não está disponível. Quando o médico não
tem assistentes, um afastador pode ser utilizado (afastador de Gelpi). O Gelpi é um
afastador ajustável, autoestático, usado para afastar as paredes vaginais.
Depois que uma boa exposição é obtida, reaproxima-se a mucosa retal com fio
sintético 3,1 ou 4,0 e agulha atraumática pequena, utilizando padrão de sutura com
imbricação das margens. Um ponto âncora deve ser colocado pelo menos 0,5cm
acima do ângulo da incisão e realizada sutura contínua simples com intervalo de apro-
ximadamente 0,5cm de distância. Esta sutura deve continuar para além da margem
anal, e fixada no períneo por um ponto. Alguns médicos usam pontos separados.1
A maioria dos médicos usam um método de imbricação para evitar a exposição do
fio na luz retal, e nós não recomendamos retirar o fio se este for palpado no lúmen
retal após o reparo estar concluído. Não há dados que mostrem superioridade de um
método sobre outro.1 Antes do fechamento do esfíncter anal externo, o esfíncter anal
interno deve ser identificado e reaproximado. É geralmente visto como uma faixa
longitudinal fibrosa, de coloração pálida para branca, localizada entre a mucosa retal e
o esfíncter anal externo. Ele pode variar em espessura e pode ser difícil de ser distin-
guido da mucosa retal. Uma vez identificado, deve ser reaproximado com uma sutura
contínua simples ou interrompida, e fio absorvível sintético 2,0.
As extremidades do esfíncter anal externo devem ser claramente identificadas. Elas
geralmente se retraem para dentro da cápsula lateralmente, e devem ser apreendidas e
trazidas para uma posição anterior e medial. Isto pode ser feito usando pinças de Allis.
O Allis é usado para pegar o músculo com suas cápsulas anterior e posterior. Histo-
ricamente, há duas técnicas recomendadas para reaproximar o esfíncter: a reparação
ponta a ponta e a reparação por sobreposição. Revisão da Cochrane22 de 3 ensaios
clínicos randomizados verificou que a técnica de sobreposição foi associada com ris-
cos menores para urgência fecal e sintomas de incontinência anal. No entanto, houve
considerável heterogeneidade entre os estudos e a experiência do cirurgião não foi
considerada nestes ensaios. A revisão foi incapaz de recomendar uma técnica ou ou-
tra. Um estudo randomizado11 publicado após a revisão da Cochrane descobriu que
a reparação ponta a ponta foi associada com taxas mais baixas de incontinência anal
474 ALSO
incorporar o septo retovaginal, mas não pode ser profunda o suficiente para entrar no
reto. A sutura pode então ser estendida para o corpo perineal, e fechá-lo, se necessário.
Alternativamente, a sutura contínua pode ser encerrada dentro da vagina proximal, no
anel himenal, caso em que corpo perineal é reparado com suturas interrompidas junto
aos músculos bulbocavernoso e transverso superficial do períneo. Se a profundidade
for maior que 1 a 1,5cm, profundos pontos separados podem ser necessários para
fechar o espaço morto e restaurar a anatomia do períneo, se tiver sido usada sutura
contínua.
Se pontos interrompidos forem o método utilizado para reparar o corpo peri-
neal, não serão necessários pontos mais profundos. Se uma sutura contínua foi utili-
zada, pode ser necessário um ponto para reaproximar o corpo perineal do músculo
bulboesponjoso, com fio absorvível sintético 2,0 (“ponto do marido”). Destina-se à
restauração do introito e reaproximar os lábios. Cuidados devem ser tomados para
não restringir excessivamente ou apertar o introito vaginal, pois isto pode levar à
dispareunia.
O fio do fechamento da mucosa vaginal ou o do ponto no corpo perineal pode
ser usado para fechar a pele perineal com técnica intradérmica. Nova sutura com
fios absorvíveis sintéticos 3,0 ou 4,0 podem também ser utilizada. Uma revisão da
Cochrane21 avaliando sutura contínua versus sutura interrompida para reparo perineal
descobriu que a técnica intradérmica contínua foi associada a menor dor em até 10
dias pós-parto, redução de analgesia, diminuição da dispareunia e menor necessidade
de remoção da sutura. Não houve diferenças na necessidade de ressuturar a ferida
operatória, ou na dor a longo prazo. Houve uma maior redução da dor quando a
sutura contínua foi utilizada em todas as camadas.
Vários estudos investigaram o quanto a sutura da pele e/ou músculos do períneo
faz diferença na cicatrização e na dor pós-parto. O estudo SUNS24 avaliou os resul-
tados de primíparas com lacerações perineais de primeiro e segundo graus, compa-
rando as que tiveram reparo do músculo e pele com as que não tiveram. O estudo foi
limitado pelo pequeno tamanho da amostra, mas não encontrou nenhuma diferença
entre os dois grupos em relação à dor. Houve diferença estatisticamente significante
no fechamento da ferida em seis semanas, com 84% do grupo suturado mostrando
aproximação completa, contra 44% para o grupo não suturado (p = 0,001), porém
não se sabe se isso tem alguma relevância clínica. Os Ipswich Childbirth Studies25,26
compararam o fechamento em 2 camadas (deixando as bordas da pele por suturar)
com o fechamento em 3 camadas. Eles encontraram tendência para diminuição da
dor e diminuição da dispareunia em três meses e menor alteração da sensação perineal
em um ano no grupo de 2 camadas, quando comparado com o grupo de 3 camadas.
Oboro27 comparou fechamento em duas camadas com fechamento em 3 camadas e
encontrou que pacientes com 2 camadas tinham menos dor perineal em 48 horas
(57% contra 65%, RR = 0,87, IC = 0,78, 0,97) e 14 dias (22% versus 28%, RR = 0,77,
Reparo Complicado
Não há duas lacerações exatamente iguais. Algumas têm extensões laterais e algumas
têm extensões multidirecionais. Outras podem se estender para os feixes vasculares
laterais e dão origem a sangramentos intensos.
Algumas pacientes podem ter tanta dor que são incapazes de tolerar a cirurgia sob
anestesia local ou regional. O cirurgião deve estar preparado para chamar ajuda caso
esteja tendo dificuldades ou sinta que não tem a experiência necessária.
A ajuda no tempo certo é extremamente importante, especialmente em pacien-
tes com sangramento excessivo. As pacientes podem perder rapidamente grandes
volumes de sangue através dessas lacerações e é difícil medir essa perda. O médico
deve primeiro expor a laceração e fazer a hemostasia. Ligaduras com fio sintético
absorvível 3,1 são adequadas para isso. Se o limite superior de uma laceração não
pode ser visto, então suturar a vagina tão alto quanto possível e tracionar para bai-
xo depois. Uma vez que a hemostasia é obtida, o reparo pode ser concluído como
descrito acima.
Para aquelas lacerações que se estendem em várias direções, o cirurgião deve concen-
trar-se primeiro naquelas que estão sangrando. As lacerações devem ser fechadas, sendo as
mais profundas fechadas em primeiro lugar e as superficiais deixadas para o final. O mé-
476 ALSO
dico deve tentar fechar a mucosa retal e o esfíncter anal logo que seja obtida a hemostasia
e as lacerações profundas estejam fechadas. Cuidados devem ser tomados para não fechar
as lacerações e restringir a exposição da mucosa retal e/ou do esfíncter anal.
Antibióticos
O uso de uma dose profilática única de antibióticos no momento de um reparo de
laceração de terceiro ou quarto grau é recomendada por muitos clínicos. Revisão da
Cochrane de profilaxia antibiótica28 revelou um estudo e descobriu que uma única
dose intravenosa de uma cefalosporina de segunda geração ajudou a prevenir compli-
cações de feridas perineais. No entanto, a avaliação indicou que os resultados devem
ser interpretados com cautela, porque os resultados são baseados em um ensaio com
uma grande perda de acompanhamento.
Complicações
É difícil quantificar as taxas de complicação de lacerações de terceiro e quarto graus
devido à falta de uniformidade na literatura descrevendo complicações.Vários estudos
fornecem taxas individuais que, quando combinadas, estimam em aproximadamente
15% a taxa de complicação de reparos de lacerações de terceira e quarto graus.1 As
complicações mais comuns estão listadas na Tabela 6.
Os fatores que levam a complicações são numerosos, mas o mais comum é a deis-
cência secundária a infecção.30 Aproximações ruins devido à técnica cirúrgica inade-
quada ou hematoma pós-operatório também podem resultar em complicações graves.
A Tabela 7 lista muitos dos fatores que contribuem para as complicações de reparação.
Embora rara, a fasciite necrotizante do períneo tem uma alta taxa de morbidade
e mortalidade, e merece atenção especial. Ocorre frequentemente em pacientes dia-
béticas insulinodependentes, com câncer ou com uma doença imunossupressora. A
fasciíte necrotizante é uma infecção grave multibacteriana, especialmente anaeróbios.
Resumo
Lacerações perineais de terceiro e quarto graus são complicações comuns de todos
os tipos de parto vaginal, mas são dramaticamente aumentadas se houver episiotomia
mediana. Estas lacerações geralmente evoluem bem quando apropriadamente repara-
das na ausência de infecção. No entanto, uma proporção substancial dos pacientes tem
sintomas de incontinência anal a longo prazo (deve ser mencionado e referenciado
mais cedo). Complicações podem ocorrer, sendo as mais graves a fístula retovaginal e
a fasciíte necrotizante. Pacientes que apresentam essas lacerações requerem observação
mais atenta e tratamento mais agressivo das infecções das feridas. A maior parte do
tratamento é baseada na opinião de especialistas; no entanto, há alguma evidência para
guiar a avaliação e tratamento dessas lacerações (Tabela 8).
Lesão materna
9,8% 20,3% 0,41 [0,33, 0,50] 10
significativa4
Sintético Categute
478 ALSO
Uso de analgésicos 18,4% 24,2% 0,63 (0,52, 0,77) 17
Contínua Interrompida
Duas
Três camadas
camadas***
Dor perineal em
61,6% 64,0% 0,96 (0,90, 1,03) *
24-48h25
Dor perineal em
24,9% 27,6% 0,90 (0,77, 1,06) *
10 dias25
Dor perineal em
7,7% 10,4% 0,74 (0,55, 1,01) *
1 ano25
Deiscência em
25,6% 16,4% 1,56 (1,30, 1,88) 11
10 dias25
Dispareunia em
15,4% 19,4% 0,80 (0,65, 0,99) 25
3 meses25
Sensibilidade
29,6% 39,6% 0,75 (0,61, 0,91) 10
alterada26
*Se o intervalo de confiança 95% incluir 1,00; o resultado não é significante e o NNH não é calculado.
**NNT é o número necessário para tratar; NNH é o número necessário para prejudicar.
***A sutura em 2 camadas deixa a pele sem suturar.
Pérolas
Evite episiotomia a menos que seja absolutamente necessário.
A aplicação de uma compressa quente (38oC a 44oC) no períneo pode ser
considerada durante a segunda fase do trabalho de parto.
Considere instruir pacientes nulíparas para realizar a massagem perineal co-
meçando com 36 semanas de gestação. Proteger o períneo, especialmente em
pacientes com alto risco de laceração.
Se um parto cirúrgico é necessário, o vácuo-extrator está associado com me-
nos morbidade materna que o fórceps.
Força da Recomendação
Categoria A
Categoria B
Parto vaginal assistido (fórceps mais que vácuo) aumenta o risco de lacerações de
terceiro e quarto graus.8,9
Posição lateral de parto tem a maior associação com períneo íntegro ao nasci-
mento.13,14
Anestesia (local ou epidural), segundo período do parto prolongado, primiparida-
de, posições occipitotransversas ou posteriores, uso da ocitocina, paciente com menos
de 21 anos – fatores de risco para lacerações de terceiro e quarto graus.8-9,19,21
480 ALSO
Uma dose única, intravenosa de cefalosporina de segunda geração pode ajudar a
prevenir complicações de feridas perineais.29
Categoria C
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OBJETIVOS
Introdução
A ultrassonografia diagnóstica é ferramenta essencial para condução da ges-
tação. Todo profissional de saúde que cuida de gestantes pode se beneficiar
da familiaridade com o ultrassom, particularmente durante emergências no
parto e no trabalho de parto, para as quais é preciso determinar a posição
fetal, avaliar a localização da placenta ou determinar se houve óbito fetal. As
habilidades básicas na realização do ultrassom ajudam no acompanhamento
clínico da gestação. Essas aplicações incluem determinar vitalidade fetal,
número de fetos, posição fetal, condições do líquido amniótico e localiza-
ção placentária. Aqueles que desejarem utilizar o ultrassom disponível nas
salas de parto devem se familiarizar com o equipamento antes de utilizá-lo
durante o atendimento à paciente. Com treinamento e prática avançados
adicionais, a biometria básica pode ser verificada para determinar a idade
gestacional. Trata-se de habilidade muito útil quando uma paciente sem
pré-natal entra em trabalho de parto. O uso avançado demanda considerável
treinamento prático adicional.
484
Indicações
A maioria das gestantes desenvolverá uma ou mais indicações de ultrassonografia
diagnóstica durante a sua gestação. A lista de indicações apresentadas na tabela 1 foi
desenvolvida pelo National Institute of Health (NIH) no Consenso durante conferên-
cia em 1984 e resiste ao tempo.1 Essas indicações foram reafirmadas por organiza-
ções profissionais incluindo o American Institute of Ultrasound in Medicine (AIUM), o
Americam College of Radiology (ACR) e o American College of Obstetrics and Ginecology
(ACOG).2-4 Muitas dessas indicações surgem durante o trabalho de parto e também
durante o parto, incluindo o diagnóstico de vitalidade fetal, o número de fetos, posi-
ção, avaliação do líquido amniótico e localização placentária.
Responsabilidade Legal
Os profissionais, para os quais a informação ultrassonográfica é urgente e necessária
numa situação intraparto, devem se preocupar que a inabilidade em realizar um exa-
me padrão pode resultar em litígio médico-legal, mesmo que um exame limitado
possa prontamente responder uma questão clínica. Em adição, exames realizados
durante o trabalho de parto e parto podem apresentar limitações técnicas, tais como
oligoidrâmnio ou insinuação da apresentação fetal, a qual impede a realização de
um exame padrão. Em urgências, exames limitados podem oferecer as respostas
necessárias para guiar condutas clínicas, melhora na assistência e diminuição do
risco de processos litigiosos. Os achados devem ser documentados e incluídos no
planejamento clínico.
486 ALSO
TABELA 2 Tipos de exames de ultrassom2-4
O ultrassom padrão do primeiro trimestre inclui completa avaliação do embrião, útero e
seus anexos
O ultrassom padrão do segundo ou terceiro semestres inclui uma avaliação completa da
apresentação fetal, volume do líquido amniótico, atividade cardíaca, localização placentária,
biometria fetal e número de fetos, além da ultrassonografia morfológica. O anexo uterino e
a cérvice são examinados para avaliar sua viabilidade clínica quando tecnicamente possível.
Todos os exames padrão incluem esses componentes. A terminologia que descreve os
exames como “Nível 1” ou “Nível 2”, dentre outros, está obsoleta
Investigações limitadas são realizadas para responder a uma pergunta clínica específica
como, por exemplo, para confirmar atividade cardíaca fetal numa paciente com
hemorragia, para verificar a apresentação fetal numa paciente em trabalho de parto ou
avaliar o volume do líquido amniótico
Exames especializados incluem avaliações anatômicas detalhadas quando há suspeita
de anomalia, seja por histórico, seja por anormalidades bioquímicas ou pelo resultado
de escaneamento tanto limitado quanto padrão. Outros exames especializados podem
incluir Doppler do feto ou ecocardiografia fetal
Considerações Técnicas
Profissionais de assistência materna devem se familiarizar com o equipamento da
maternidade onde trabalham. Funções como seleção do transdutor, informação de
identificação da paciente, ganho e controle de profundidade, congelamento da ima-
gem, medidores eletrônicos e armazenamento de imagens são as mais importantes. A
tabela 3 define alguns dos termos e conceitos básicos ultrassonográficos para revi-
são. A documentação escrita deve incluir a indicação e as limitações do exame, acha-
dos e conduta. O encaminhamento para outro profissional deveria acontecer sempre
que os achados estejam fora das habilidades do profissional para firmar o diagnóstico
e estabelecer a condução do caso. Um exemplo de formulário para documentação
dos achados do exame de ultrassom no trabalho de parto e parto é apresentado no
Apêndice 1.
Técnicas de Escaneamento
Este capítulo fornece um histórico de informações sobre aplicações usuais da ultrasso-
nografia diagnóstica no parto e trabalho de parto. As aplicações avançadas demandam
treinamento adicional, técnico e prático. Usar o equipamento disponível na unidade
de parto e trabalho de parto com vários pacientes é necessário para desenvolver ha-
488 ALSO
Modo M – esse modo apresenta uma única linha de imagem no eixo vertical e o tempo
no eixo horizontal. É útil para documentar movimentos, especificamente o ciclo cardíaco
fetal
Velocimetria Doppler – essa modalidade mede a velocidade do fluxo sanguíneo e a
representa em forma de onda. É útil para a medição do fluxo sanguíneo nos vasos
sanguíneos fetais e uterinos, incluindo o cordão umbilical. O uso do ultrassom Doppler
em gravidez de alto risco parece melhorar vários efeitos do atendimento obstétrico e
parece promissor no que tange à redução de mortes perinatais
Ultrassonografia com Doppler colorido – essa modalidade mostra a velocidade e
a direção do fluxo sanguíneo como cores na imagem. Um importante exemplo da
aplicação dessa técnica é a detecção de deficiência cardíaca no feto
Untrassonografia com Power Doppler – essa modalidade mostra o volume do fluxo
sanguíneo com cores na imagem, desconsiderando sua direção e velocidade. Essa
técnica é útil para distinguir um tecido do outro e, por exemplo, distinguir o cordão
umbilical dentro do líquido amniótico
bilidades. Os procedimentos sugeridos descritos aqui podem ser usados para orientar
a realização das aplicações básicas no parto e trabalho de parto, tanto para a prática
clínica quanto para o treinamento.
A ultrassonografia transabdominal pode ser feita em qualquer semestre e durante
o trabalho de parto. As limitações incluem posição fetal, redução do líquido amniótico
(oligoidrâmnio) com perda da janela acústica, excesso de tecido fetal em idade gesta-
cional avançada, insinuação fetal ou constituição física materna.
1. Posicione a paciente confortavelmente; uma inclinação lateral à direita pode
diminuir a incidência de hipotensão supina. Converse sobre os motivos e o
escopo do exame.
2. Ligue o equipamento de ultrassom e preencha o nome da paciente, data e
outras informações para identificação.
3. Aplique o gel na superfície de escaneamento do transdutor e/ou no abdome
da paciente e segure o transdutor de forma que a imagem fique corretamente
posicionada no monitor. Por convenção, o exame é realizado com o examinador
do lado direito da paciente. A posição do transdutor e a orientação da imagem
devem se basear no corpo da mãe, não no corpo do feto. Enquanto se escaneia
em plano sagital, a cabeça da mãe está fora da tela pelo lado esquerdo e seus pés
estão fora da tela pelo lado direito. Ao escanear em plano transverso, o ombro
direto da mãe está fora pelo lado esquerdo da tela, e o esquerdo, fora pelo lado
direito, visto como se estivesse de pé aos pés dela e olhando pra cima, em direção
à cabeça dela. Essa convenção é a mesma usada para imagens transversais como
na tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM).
490 ALSO
O escaneamento por via transperineal é uma alternativa útil à transvaginal durante
o segundo e terceiro semestres para visualização do colo e da região endocervical.
Pode ser particularmente útil nos casos de trabalho de parto pré-termo, incompe-
tência istmocervical e suspeita de placenta prévia, uma vez que o transdutor não é
introduzido. Ainda que o mesmo transdutor seja usado tanto no exame transperi-
neal quanto no transabdominal, a visão obtida é mais ampla quando comparado ao
transdutor transvaginal. Uma desvantagem em potencial é que a resolução é menos
detalhada que no exame transvaginal. A habilidade para o exame transperineal NÃO
é considerada aprendizagem básica.
Os pontos abaixo se aplicam ao escaneamento transperineal:
1. Após discutir com a paciente sobre os motivos e o escopo do exame, ela deve
ser colocada em posição de litotomia (ginecológica).
2. O gel é aplicado na superfície de escaneamento do transdutor transabdomi-
nal, o qual, em seguida, é coberto com luva limpa ou estéril. O lubrificante é
aplicado sobre a luva e a superfície do transdutor é então posicionada contra
o introito vaginal e o períneo.
3. Os controles de ganho e profundidade são ajustados e o transdutor é posi-
cionado para obter a visão desejada, seja sagital, seja coronal ou oblíqua, de
forma a visualizar as áreas de interesse. Durante o escaneamento transperineal,
a vagina aparece como uma linha brilhante que normalmente encontra o colo
em ângulo de 90 graus. A distância do períneo ao colo usualmente coloca-o
na distância ideal da superfície de escaneamento do transdutor.
4. Imagens transperineais têm a mesma orientação das transvaginais.
Aplicações Básicas
As aplicações básicas são rapidamente assimiladas pelos profissionais e viabilizam a
reunião de informações importantes sobre o bem-estar do feto. Isso inclui determinar
se o feto está vivo por meio da visualização do batimento cardíaco, determinando o
número de fetos, verificando a vitalidade fetal, apresentação, fazendo avaliações quan-
titativas sobre o volume do líquido amniótico e determinando a posição placentária
básica.
Vitalidade Fetal
Número de Fetos
A presença surpresa e inesperada de um segundo bebê, gêmeo, durante o parto deve
ser evento de rara ocorrência. Ainda que pareça simples determinar o número de fetos
com o ultrassom, não é incomum que não se perceba um dos gêmeos. O sonógrafo
deve ter uma abordagem estruturada ao escanear todos os quatro quadrantes nos pla-
nos sagital e longitudinal. Antes de determinar que uma gravidez é gemelar, é preciso
ver duas cabeças separadas assim como duas espinhas dorsais e ouvir dois batimentos
cardíacos. A espinha do feto deve seguir da cabeça ao sacro. O falso diagnóstico de
gêmeos pode ser igualmente problemático. Isso pode acontecer quando a mesma
estutura, como a cabeça ou o batimento cardíaco, é vista por dois ângulos diferen-
tes. Quando houver dúvida quanto ao número de fetos, um processo de consulta se
faz necessário. Se mais de um feto é visto, certifique-se de ampliar a busca de modo
exaustivo para não deixar de ver múltiplos em maior número.
Apresentação, situação e posição fetal anormal são comuns no trabalho de parto (ver
Capítulo Apresentações Anômalas e Gestação múltipla). A manobra de Leopold e a
492 ALSO
palpação vaginal normalmente confirmam o achado (porém nem sempre). O ultras-
som pode ser definitivo para determinar a apresentação e orientar a tomada de decisão
clínica. A tabela 5 define os termos relacionados à orientação fetal.
494 ALSO
A medição do bolsão mais profundo é feita quando for identificado o maior
bolsão de líquido livre do cordão ou partes do feto. O diâmetro vertical relativo ao
transdutor deve medir, no mínimo, 2cm. O transdutor deve ser girado em 90 graus
no mesmo eixo para confirmar um bolsão tridimensional válido antes da medição. A
medição do bolsão mais profundo tornou-se a técnica preferida, pois é mais precisa
que o ILA.
O oligoidrâmnio em gravidez pós-termo é uma indicação para mais exames ou
para a resolução. O polidrâmnio leve a moderado é comum, normalmente idiopático,
e fortemente associado a diabetes gestacional. O polidrâmnio mais grave é um po-
tente indicador de anomalias fetais, incluindo problemas no sistema nervoso central,
deficiências gastrointestinais e displasias esqueléticas.
Aplicações Avançadas
Avaliação Biofísica9,10
O PBFM é um TNE (indicador do status fetal imediato) junto com uma avaliação do
líquido amniótico (indicador do status fetal cronicamente). Um TNE reativo com-
binado a uma medição de bolsão profundo do líquido amniótico de 2cm ou mais é
muito confiável quanto ao bem-estar fetal e se compara favoravelmente com o perfil
biofísico completo. No entanto, se o NTE não está dentro dos critérios para reativo
e/ou o oligoidrâmnio se faz presente, mais testes fetais são indicados e o parto deve
ser considerado, especialmente se estiver a termo.
Perfil Biofísico
O perfil biofísico (PBF) é outro método para prever a acidemia fetal pré-termo. Ainda
que o teste possa ser usado como um método primário de monitorização fetal, ele
pode ser especialmente útil em casos nos quais o TNE não é reativo. Existem algumas
evidências de que o PBF pode ser útil até mesmo durante o trabalho de parto como
um complemento para a monitorização da frequência cardíaca.13 Os cinco compo-
nentes do PBF são: atividade cardíaca fetal, avaliação do líquido amniótico, respiração
fetal, movimentação fetal e tono fetal. Cada componente recebe 2 pontos se está pre-
sente e é confiável e 0 se for anormal. Respiração fetal é provavelmente tão confiável
quanto o TNE em prever a acidose fetal inicial. O PBF pode ser realizado entre a 26a
e 28a semana de gestação. O teste pode ser feito em menos de cinco minutos se o feto
está ativo e acordado ou pode chegar a 30 minutos. A estimulação acústica é apropria-
da para abreviar o tempo do exame.
A tabela 8 inclui os critérios de cada componente do PBF.
496 ALSO
TABELA 8 Perfil biofísico
Parâmetro Pontos
TESTE DE NÃO ESTRESSE (TNE)
Duas ou mais acelerações com movimento fetal em 30 minutos 2
< 2 acelerações em 30 minutos 0
VOLUME DO LÍQUIDO AMNIÓTICO
Maior bolsão > 2cm em diâmetro vertical 2
Maior bolsão > 2cm em diâmetro vertical, com pequenas partes do feto 0
RESPIRAÇÃO FETAL
> 1 episódio de respiração fetal durando > 30 segundos dentro de 30 2
minutos ou soluços
Nenhum, respiração fetal durando < 30 segundos 0
MOVIMENTAÇÃO FETAL
> 3 movimentos (troncos e membros) em 30 minutos 2
Nenhum ou < 3 movimentos em 30 minutos 0
TONO FETAL
Um episódio de extensão de extremidade ou espinha com retorno à flexão 2
Extensão apenas ou movimento não seguido de retorno à flexão ou abrir a
0
mão
Velocimetria Doppler
Uma paciente que está no primeiro trimestre e apresenta sangramento vaginal, cóli-
cas, batimentos cardíacos fetais indetectáveis no Doppler, apesar da idade gestacional
estimada > 12 semanas considerando a última menstruação, ou outras discrepâncias
entre tamanho e período gestacional se beneficiará de um exame de ultrassom para
estimar a idade gestacional. A determinação da idade gestacional mais precisa feita por
ultrassom se dá no primeiro semestre e essa datação com ultrassom é mais assertiva
quanto à verdadeira idade gestacional do que a referência da data da última menstrua-
ção. A medição do caso gestacional e do embrião são discutidas no Capítulo Compli-
cações Clínicas no Primeiro Trimestre.
Essa medição vai estimar a idade gestacional com diferença de, no máximo, uma
semana quando realizada entre a 7a e a 13a semana de gestação. Depois da 14a semana
de gestação, a idade fetal é mais bem determinada por uma combinação de parâme-
tros biométricos, incluindo diâmetro biparietal, circunferência cefálica, circunferência
abdominal e comprimento femoral. No início do segundo trimestre, a biometria tem
precisão de duas semanas, mas os limites dessa precisão se ampliam significantemente
no terceiro trimestre devido às variações individuais normais. Os limites da precisão na
avaliação da idade gestacional no decorrer do terceiro trimestre são de cerca de quatro
semanas, ainda que continue útil ao se lidar com uma paciente que está em trabalho de
parto sem nenhum cuidado pré-natal. Para ser preciso, todas as medidas fetais precisam
ser feitas apropriadamente de acordo com dois critérios. Primeiro, é preciso identificar
o correto plano anatômico. Segundo, as medidas precisam ser feitas dentro das áreas
demarcadas apropriadas desse plano. O plano e as áreas apropriadas estão demonstrados
nas imagens e diagramas que compõem o conjunto de slides deste capítulo. O excesso de
tecido fetal, oligoidrâmnio e encaixe baixo do feto podem transformar o recolhimento
de informações precisas muito difícil na paciente em trabalho de parto ativo. A maioria
dos aparelhos de ultrassom está programada para calcular a idade gestacional com base
em medidas. Tabelas biométricas padrão publicadas também podem ser usadas, como
aquelas apresentadas na tabela 9, na segunda metade da gravidez.
498 ALSO
TABELA 9 Medições biométricas do segundo e terceiro trimestres
Idade gestacional
DBP (mm) CF (mm) CC (mm) AC (mm)
(semanas)
24 59 43 220 195
25 61 45 230 205
26 64 48 240 215
27 67 50 250 225
28 70 53 258 235
29 72 55 265 248
30 75 57 275 258
31 77 60 283 270
32 80 62 290 280
33 82 64 298 290
34 85 66 305 300
35 87 68 313 310
36 89 70 320 320
37 91 72 326 330
38 93 74 333 340
39 96 76 340 350
40 98 78 345 360
DBP = Diâmetro biparietal; CF = comprimento femoral; CC = circunferência craniana; CA = circunferência abdominal
(Adaptada de A Ultrassonografia na Ginecologia e Obstetrícia, 5ª edição, 2007, Peter Callen; Filadélfia, PA: Elsevier
Saunders).
cer.16 A taxa de valor preditivo positivo para diagnósticos de macrossomia fetal na gra-
videz pós-termo utilizando equações é de cerca de 50%.17 A estimativa do peso fetal
é mais crítica em gestações com ocorrência de diabetes, acometidas por taxa maior de
distocia de ombro em todos os nascimentos cujo peso do feto exceda 3.000 gramas.
Mesmo no diabetes gestacional, a capacidade de detectar a macrossomia é limitada,
com melhores resultados obtidos com métodos que usam a circunferência abdominal
e o comprimento do fêmur. Desde que o valor preditivo do ultrassom é baixo em
detectar a macrossomia, este deveria ter seu uso desencorajado como meio de deter-
minar a via e o momento do parto para mulheres sem diabetes com partos a termo
O escaneamento por via transvaginal ou transperineal pode ser útil para avaliar o
comprimento cervical, para detectar afunilamento e dilatação do colo e para de-
tectar membranas salientes em pacientes com suspeita de parto pré-termo ou in-
competência cervical. A medição ultrassonográfica do comprimento cervical por via
transvaginal (em inglês, TVU CL) pode ser uma previsão confiável do parto espon-
tâneo pré-termo.24-26 No entanto, uma análise da Cochrane de cinco experimentos
controlados aleatórios verificou a eficácia da triagem por TVU CL e concluiu que
não há evidências suficientes para recomendar triagem rotineira tanto para mulheres
sintomáticas quanto para as assintomáticas de forma a prevenir o parto pré-termo.27
Pequeno experimento aleatório com 100 mulheres sob ameaça de parto pré-termo
descobriu que informações do comprimento cervical > 3,0 permitiram avaliação e
atuação mais rápidas, no entanto mais estudos são necessários.28
500 ALSO
mais baixa do útero pode ser comprimida, criando falsa impressão de placenta prévia.
A avaliação por ultrassom da porção mais baixa do útero na possibilidade de placenta
prévia é mais bem realizada primeiro com a bexiga parcialmente cheia e depois com
a bexiga vazia. Se possível, o exame deveria ser realizado durante o intervalo das con-
trações uterinas. A porção mais baixa do útero pode ser eficazmente visualizada por
via transperineal utilizando transdutor de 3 ou 3,5MHz, coberto com uma luva, po-
sicionado no introito vaginal ou no períneo. O escaneamento vaginal cuidadoso com
transdutor de 5,0 ou 7,5MHz pode ser feito. Os aspectos técnicos do escaneamento
transvaginal e transperineal são discutidos no item “Técnicas de escaneamento” des-
crita anteriormente.
Este capítulo tratou de indicações e técnicas mais específicas para exames ultrassono-
gráficos básicos e limitados em sua maioria durante gestação pós-termo e partos. Ele
não abordou a questão do valor do escaneamento de rotina para todas as pacientes
grávidas. Uma exposição detalhada deste tópico está fora do escopo deste capítulo.
Essa questão continua a ser debatida e é complexa por conta de diferenças regionais
e internacionais significativas no que tange ao padrão das práticas e da população de
pacientes. Uma variedade de benefícios clínicos foi atribuída ao exame de ultrassom
de rotina de todas as pacientes, alguns dos quais são apoiados por evidências de alta
qualidade. O exame ultrassonográfico de rotina no início da gravidez, antes de 24 se-
manas, e o subsequente ajuste da data provável do parto parecem reduzir a incidência
de gestação e indução pós-termo.30 A datação mais precisa da gestação pode facilitar
a indução de rotina do parto com 41 semanas, o que parece reduzir a mortalidade
perinatal.31 O ultrassom realizado no início da gravidez antes de 24 semanas parece
proporcionar melhor avaliação da idade gestacional e a detecção precoce de gestação
502 ALSO
múltipla.30 Examinar gestações depois de 24 semanas em populações não selecionadas
e que representam baixo risco não reduz a mortalidade perinatal nem confere outros
benefícios.32
A ultrassonografia morfológica de rotina no segundo trimestre, apesar de usual-
mente realizada em países desenvolvidos, não tem demonstrado melhoras nos resul-
tados perinatais. A ultrassonografia morfológica pode ser indicada devido à dosagem
sérica anormal, idade materna avançada, histórico de anomalias fetais ou exposição a
agentes teratogênicos. A detecção de anomalias ou condições genéticas mais relevan-
tes pode ajudar pacientes e familiares a estarem emocionalmente preparados e facilitar
a escolha pelo melhor local para o parto. A identificação de anomalias e condições
genéticas no segundo trimestre permitem a opção de interrupção da gestação.
O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) e a AAFP reconhe-
cem a importância da datação precisa da gestação e da ultrassonografia morfológica
ainda que não cheguem a recomendar ultrassom de rotina para triagem em todas as
pacientes.
Sumário
Todos os médicos que fazem partos podem se beneficiar do aprendizado das aplica-
ções básicas do ultrassom diagnóstico no parto e no trabalho de parto. A capacidade
de poder rapidamente avaliar a vitalidade fetal, o número de fetos, a apresentação fetal,
a quantidade de líquido amniótico e a localização placentária básica pode ser rapi-
damente adquirida e ter significante influência no gerenciamento clínico. Aplicações
avançadas demandam treinamento e prática adicionais. O uso frequente das aplicações
básicas irá ajudar a manter a proficiência e também lembrar das falhas, dos complica-
dores e potenciais armadilhas do uso do ultrassom no parto.
Tabela de Recomendações
Categoria A
Categoria B
A estimativa em ultrassonografia do peso fetal não deve ser usada para determinar a
via de parto em gestações não diabéticas.19-21
O perfil biofísico fetal modificado (PBFM) e o perfil biofísico fetal (PBF) juntos
com o TNE e TEC são métodos apropriados de monitorização fetal pré-termo em
pacientes de alto risco.10,12
Um resultado anormal no TNE ou no PBFM deve ser posteriormente avaliado
com um TEC ou PBF completo.10,12
Categoria C
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Apêndice 1
Documentação do Ultrassom de Parto e Trabalho de Parto
Nome da paciente:
Data: / / RG:
Médico:
Outro Médico:
Dados da Gravidez:
Idade Materna: G: P: Ab:
Idade Gestacional Atual: semanas (aprox.) semanas
Baseada em:
DUM: e/ou último ultrassom: (data)
Conclusões do rastreio da frequência cardíaca fetal na data de hoje:
Informações biofísicas:
ILA: + + + = cm ou medição de bolsão
profundo vertical: cm
Respiração: ( ) sim ( ) não Tônus: ( ) sim ( ) não
Movimentação fetal: ( ) sim ( ) não
Pontuação Biofísica: pontos de pontos possíveis
Biometria fetal:
DBP = cm = semamas + ou – semanas
CF = cm = semanas + ou – semanas
CC = = semanas + ou – semanas
CA = = semanas + ou – semanas
Idade Gestacional Composta = = semanas + ou – semanas
DPP: + ou – semanas
Peso Fetal Estimado: gramas.
Descrever qualquer anormalidade percebida:
Plano de tratamento:
508 ALSO
Complicações do Primeiro
Trimestre da Gestação
OBJETIVOS
Introdução
As complicações durante o primeiro trimestre da gravidez são comuns. Apro-
ximadamente 15% das gestações clinicamente identificadas resultam em
aborto espontâneo, e as estimativas de abortamento espontâneo antes do
diagnóstico clínico chegam a 50%.1 Além do aborto, o sangramento vaginal
pode estar associado a gravidez ectópica, doença trofoblástica ou sangramento
cervical por causas não relacionadas à gravidez.Também pode ocorrer sangra-
mento em gestações sem intercorrências.
509
25mUI/ml, o que pode permitir a detecção da gravidez antes do atraso.2,3 Os testes
séricos podem detectar hCG tão baixa quanto 5mUI/ml. A taxa de aumento nos ní-
veis quantitativos de hCG no soro pode ser usada para monitorizar pacientes com dor
ou sangramento, cujo exame ultrassonográfico inicial não foi conclusivo. Um grande
estudo com pacientes antes das 10 semanas de gestação mostrou que na gestação
intrauterina viável, com níveis de hCG acima de 5.000mUI/ml, houve aumento de
53% na hCG em 48 horas. No entanto, mulheres com aborto espontâneo ou gravidez
ectópica também podem ter um aumento dentro desse intervalo. Portanto, o aumento
adequado da hCG não exclui a gestação inviável.3,5,6
O saco gestacional se torna visível ao ultrassom transvaginal na 5a semana com
embrião de 2 a 5mm. Este saco gestacional inicial só é visível usando um transdutor
transvaginal de alta frequência (5MHz ou superior). Uma pequena coleção líquida
sonoluscente, ou pseudossaco, também pode estar presente em casos de gravidez ec-
tópica, desse modo as características adicionais de um saco gestacional normal podem
ser procuradas, particularmente a localização excêntrica do saco gestacional, indican-
do que está implantado dentro do endométrio. O saco vitelínico aparece durante a
visualização transvaginal na 6a semana e oferece evidência clara de gravidez intraute-
rina. No final da sexta semana, o polo fetal torna-se visível (2 a 8mm), com atividade
cardíaca. Estes achados ultrassonográficos são visíveis por via transabdominal aproxi-
madamente 1 semana mais tarde do que por via transvaginal.7
Os achados embriológicos, clínicos, hCG e ultrassonográficos estão intimamente
correlacionados e são mostrados na tabela 1.8,9 O ultrassom de primeiro trimestre pre-
coce parece oferecer melhor avaliação da idade gestacional e detecção precoce de ges-
tação múltipla. No entanto, os benefícios para outros diagnósticos são menos claros.10
510 ALSO
Uma vez que o embrião se torna visível, a idade gestacional no primeiro trimestre
menstrual é calculada pelo comprimento cabeça-nádega, pelos parâmetros expostos
na tabela 2. Entre 8 e 13 semanas, a idade gestacional pode ser calculada conforme a
seguinte fórmula: idade gestacional (semanas) = comprimento cabeça-nádega (CCN)
em centímetros (cm) mais 6,5 ou idade gestacional (dias) = CCN em milímetros
(mm) mais 42.
Aborto Espontâneo
A tabela 3 define os diversos termos comumente aplicados à perda gestacional
precoce.11,13
Abortamento: Fisiopatologia, Quadro Clínico e Diagnóstico
Gestação anembrionada: presença de saco gestacional > 25mm sem evidência de tecido
embrionário (vesícula vitelínica ou embrião). Este termo é preferível ao antigo e inexato
“ovo cego”
Aborto espontâneo: perda gestacional espontânea antes da 20a semana de gravidez. Pode
ser mais bem descrito como:
Incompleto: ocorre quando há retenção parcial dos tecidos ovulares
Completo: eliminação completa dos tecidos ovulares
Séptico: aborto incompleto associado a infecção ascendente do endométrio,
paramétrio anexos ou peritônio
Inevitável: sangramento na presença de dilatação cervical, indicando que a
eliminação do concepto não pode ser evitada
Retido: o feto ou embrião está morto há semanas, mas não houve
eliminação de produtos de concepção. O colo está fechado. Estas pacientes
geralmente apresentam parada do crescimento uterino ou batimentos cardíacos
inaudíveis
Gravidez ectópica: gestação fora da cavidade uterina, mais comumente na tuba uterina,
mas pode acontecer no ligamento largo, ovários, colo uterino ou intra-abdominal
Morte unifetal (vanishing twin): uma gestação múltipla é detectada e um ou mais fetos
desaparecem. Se ocorrer no início da gestação, o embrião é geralmente reabsorvido; mais
tardiamente, resulta em fetos com compressão ou mumificados ou material amorfo
512 ALSO
TABELA 4 Fatores associados ao aborto espontâneo
Anomalias uterinas
Leiomiomas
Incompetência cervical
Tabaco, álcool ou cocaína
Deficiência de progesterona devido à insuficiência de fase lútea
Irradiação
Exposição materna ao dietilestilbestrol (DES)
Idade materna avançada
Infecções
Exposição ocupacional a produtos químicos
514 ALSO
mento é completo. Quando a paciente tem uma história de eliminação de tecidos ou
coágulo, esse achado pode auxiliar no diagnóstico de aborto completo. Na presença
de material ecogênico na cavidade endometrial com linha endometrial > 15mm,
segue-se tratamento para perda gestacional precoce.15
Aborto séptico deve ser aventado quando a paciente apresenta febre ou sensibili-
dade dolorosa excessiva uterina ou anexial ou sinais de peritonite. História prévia de
tentativa de aborto terapêutico ou ilegal que possa ter resultado em restos ovulares
ou perfuração uterina deve ser investigada. O abortamento infectado é uma condição
que coloca em risco a vida da mulher, se evoluir para sepse ou choque séptico ne-
cessita de imediata reanimação, esvaziamento uterino e antibioticoterapia de amplo
espectro.16,17
Na hemorragia subcoriônica, um saco gestacional e embrião estarão presentes,
porém a ultrassonografia apresenta hematoma entre o cório e a parede uterina. Quan-
do a hemorragia subcoriônica é vista ao ultrassom, a probabilidade de abortamento
é em média de 10%, mesmo quando é detectada atividade cardíaca, e varia por idade
materna, tamanho do hematoma e idade gestacional.18 Portanto, a paciente deve ser
avisada sobre a possibilidade de sangramento.
A quantidade de sangramento apenas prevê a perda gestacional quando é volumo-
so. Estudo prospectivo que analisou 4.510 mulheres acompanhadas desde o início do
primeiro trimestre demonstrou que 1.204 (27%) apresentaram algum grau de sangra-
mento ou spotting. Não houve aumento no risco de abortamento no início da gravi-
dez quando ocorreu sangramento leve ou spotting. Entretanto, o risco de abortamento
aumentou significativamente em 8% das mulheres, que apresentaram sangramento
importante. Este foi o único grupo que apresentou risco aumentado de abortamento
(correção RR = 2,84; 95% IC = 1,82-4,43).19
Abortamento: Conduta
Se o ultrassom demonstra gravidez tópica, com atividade cardíaca, a paciente pode
ser acompanhada com otimismo cauteloso e explica-se que não existem intervenções
conhecidas para a prevenção do aborto.
Quando o exame físico revela aborto incompleto, a paciente deverá escolher entre
conduta expectante, tratamento medicamentoso ou cirúrgico. A maioria dos abor-
tamentos de primeiro trimestre acontece de forma espontânea e completa, sem in-
tervenções.11 Embora a intervenção cirúrgica sob a forma de dilatação e curetagem
instrumental ou por sucção seja tradicional e liberalmente usada, a conduta expectan-
te e o tratamento medicamentoso são opções válidas.20-22 Mulheres que apresentam
sangramento excessivo, dor ou infecção beneficiam-se do tratamento medicamentoso
e cirúrgico.20,21 Em estudo observacional,22 casos em conduta expectante evoluíram
para a eliminação espontânea e completa em 91% dos casos de aborto incompleto,
516 ALSO
abortamento em mulheres com intervalos entre gestações menores que 6 meses com-
paradas às que tiveram maiores intervalos.28 Para pacientes desejosas de contracepção
em longo prazo, a inserção do dispositivo intrauterino (DIU) logo após aborto de
primeiro trimestre espontâneo ou induzido é seguro e efetivo.29
Com o diagnóstico precoce, o manejo da gravidez ectópica ocorre com maior fre-
quência em ambulatório por um clínico com experiência e confiança. As opções
518 ALSO
TABELA 7 Diagnóstico e conduta na possibilidade de gestação viável em paciente com gestação
de local desconhecido*
Achados Pontos-chave
Ausência de coleção Uma única medida de hCG, independentemente de seu valor,
líquida intrauterina não distingue de maneira confiável entre gravidez ectópica e
e anexos normais intrauterina (viável ou não viável)
(ou quase Se uma única medida de hCG for < 3.000mUI/ml, o tratamento
normais) na presuntivo para gravidez ectópica com o uso de metotrexato
ultrassonografia** ou outros meios farmacológicos ou cirúrgicos não deve ser
realizado, a fim de evitar o risco de interromper uma gravidez
intrauterina viável
Se uma única medida de hCG for > 3.000mUI/ml, uma gravidez
intrauterina viável é possível, mas improvável. No entanto, o
diagnóstico mais provável é uma gravidez intrauterina inviável,
portanto, geralmente é apropriado obter pelo menos uma medida
de hCG de acompanhamento e um ultrassom de acompanhamento
antes de iniciar o tratamento para a gravidez ectópica
Ultrassonografia Os níveis de hCG em mulheres com gravidez ectópica são
ainda não realizada altamente variáveis, geralmente < 1.000mUI/ml, e o nível
de hCG não prediz a probabilidade de ruptura da gravidez
ectópica. Assim, quando os achados clínicos são suspeitos para
gravidez ectópica, a ultrassonografia transvaginal é indicada
mesmo quando o nível de hCG é baixo
* Os critérios são da Sociedade de Radiologistas da Conferência de Consenso Multiespecialista em Ultrassom sobre
Diagnóstico no Primeiro Trimestre do Abortamento e Exclusão de uma Gravidez Intrauterina Viável, outubro de
2012.
** (isto é, inconsequentes) descobertas anexiais quase normal incluem corpo lúteo, uma pequena quantidade de líqui-
do livre, e cisto salpíngeo.
hCG = gonadotrofina coriônica humana.
Reproduzido de Doubilet PM, Benson CB, Bourne T, et al.; Sociedade de Radiologistas do Painel Multiespecialista em
Ultrassom no Diagnóstico do Primeiro Trimestre do Abortamento e Exclusão de uma Gravidez Intrauterina Viável. Cri-
térios de diagnóstico para gravidez inviável no início do primeiro trimestre. N Engl J Med. 2013;369(15):1443-51.
520 ALSO
O tratamento expectante é usado com mais frequência quando a localização da
gravidez não pode ser determinada. O tratamento medicamentoso com metotrexato,
um antagonista do ácido fólico, é apropriado para as pacientes adequadamente sele-
cionadas e tem sido demonstrado em ensaios clínicos por ser seguro e eficaz; também
pode ser menos oneroso e resultar em fertilidade subsequente igual ou melhor que o
tratamento cirúrgico conservador.38-40
A tabela 11 apresenta regimes de dose única e múltiplas doses no tratamento da
gravidez ectópica.
TABELA 11 Protocolos de tratamento para gravidez ectópica utilizando metotrexato (MTX). Suplemen-
to de: Barnhart KT. Ectopic Pregnancy. N Engl J Med. 2009;361:379-87
Tratamento Dose única46 Duas doses47 Múltiplas doses48
Pré-tratamento hCG, creatinina, hCG, creatinina, função hCG, creatinina,
Descartar função hepática, hepática, hemograma função hepática,
aborto hemograma completo completo hemograma completo
espontâneo
Dia 1 Dosar hCG, Dosar hCG, administrar Dosar hCG, administrar
administrar primeira primeira dose de MTX primeira dose de
dose de MTX 50mg/ 50mg/m2, IM MTX 50mg/m2,
m2, IM IM, seguida de
leucovorina 0,1mg/kg,
IM, no dia 2
Dosar hCG no dia 2
Dia 4 Dosar hCG Dosar hCG, administrar Administrar segunda
segunda dose de MTX dose de MTX (dia 3)
50mg/m2 e leucovorina (dia 4),
respectivamente
Dosar hCG no dia 4
(Continua)
522 ALSO
TABELA 12 Sinais e sintomas da doença trofoblástica
Útero maior que o esperado para a idade gestacional
Ausência de batimentos cardíacos fetais
Níveis elevados de hCG, acima do esperado
Hiperêmese, hipertensão induzida pela gestação em idade gestacional precoce e/ou
tireotoxicose
Aumento do volume ovariano causado por cistos tecaluteínicos, resultantes do
hiperestímulo ovariano pelos níveis elevados de hCG
Sangramento vaginal no primeiro trimestre ou início do segundo trimestre,
frequentemente escuro, que pode causar anemia
Eliminação de vesículas em casos que a gestação progride ao segundo trimestre
O aborto representa grande perda para a grávida e sua família. A reação de luto que
geralmente se segue é semelhante em intensidade à experimentada após outras gran-
des perdas, embora as mulheres a vivenciem e descrevam de várias maneiras. Embora
a cura aconteça, o tempo para a recuperação também varia. Os sentimentos de perda
podem ser mais fortes nos primeiros 6 meses após o aborto, mas podem persistir o
suficiente para causar sintomas de longo prazo ou até mesmo afetar a próxima gesta-
ção. Mulheres em risco de reação de luto mais forte incluem aquelas que experimen-
tam aborto, idade gestacional mais avançada, com tempo maior para a concepção de
sua próxima gravidez e com autopercepção crítica.
Reconhecer e tentar dissipar a culpa. Muitas mulheres pensam que alguma ação
da sua parte causou ou contribuiu para o aborto. Essa culpa pode girar em torno de
atividade sexual, comida, trauma menor, atividade física ou estresse emocional. Mu-
lheres cujas perdas podem ser atribuídas a uma causa definida têm níveis mais baixos
de ansiedade e tristeza. Portanto, a avaliação da causa é recomendável, quando possível
investigar as anomalias cromossômicas. Mesmo quando uma causa definida não pode
ser determinada, sempre se assegura que a paciente não fez nada para causar a per-
da. Essa afirmação pode precisar ser repetida várias vezes. As mulheres devem ser avi-
sadas de que os erros genéticos ou de desenvolvimento provavelmente ocorreram no
início da gravidez e não havia possibilidade de a gravidez progredir para produzir um
bebê vivo. A visita de acompanhamento pós-perda não é a hora de focar nos fatores
de risco modificáveis que podem ter contribuído para a perda (ou seja, uso de álcool
ou tabaco). É indicado abordar essas questões antes de futuras gestações, mas é melhor
fazê-lo após o desaparecimento do trauma agudo da perda. As crenças religiosas da
paciente podem ser abordadas durante esse aconselhamento.
Tranquilizar sobre o futuro. A dor desaparecerá com o tempo. A maioria das pacien-
tes tem excelente probabilidade de uma gravidez normal subsequente. Com menos
524 ALSO
de três abortos, o risco de aborto em futuras gestações não é maior que o normal. É
importante explicar que a próxima gravidez não precisará ser acompanhada de ma-
neira diferente por causa do aborto.
Resumo
As complicações do primeiro trimestre da gestação são comuns e o diagnóstico di-
ferencial inclui condições com risco de morte, como gravidez ectópica. O conheci-
mento e a aplicação de critérios discriminatórios podem ajudar significativamente na
distinção entre gravidez precoce normal, aborto espontâneo e gravidez ectópica. O
tratamento medicamentoso da gravidez ectópica é possível em casos adequadamente
selecionados. Em aborto incompleto, o tratamento não cirúrgico tem alta probabi-
lidade de sucesso, dependendo do diagnóstico. Na morte embrionária ou gravidez
anembrionada, o misoprostol ou tratamento cirúrgico são significativamente mais
eficazes do que o tratamento expectante.
Como há falta de clara superioridade do tratamento expectante em relação ao tra-
tamento cirúrgico do aborto, a preferência da mulher deve desempenhar papel domi-
nante na tomada de decisões.48 Quando é feita a escolha de tratar a perda da gravidez
por outros meios que não sejam os esperados, o misoprostol vaginal é altamente eficaz,
seguro e bem aceito pelas mulheres, com menos efeitos adversos gastrointestinais do
que a via oral. Não há evidências que apoiam o uso de antibióticos em todas as mu-
lheres com aborto incompleto. Após qualquer tipo de perda de gravidez no primeiro
trimestre, as mulheres Rh negativo devem receber 50µg de imunoglobulina anti-D. O
reconhecimento do luto e as demonstrações de empatia e segurança são técnicas úteis
para aconselhar as mulheres após o aborto.
Seção Opcional
526 ALSO
intrauterina. Muito raramente, uma gravidez intrauterina e uma gravidez ec-
tópica podem coexistir (gravidez heterotópica), criando uma situação clínica
confusa e perigosa.
Como realizar uma aspiração uterina (dilatação e curetagem por sucção) sob anes-
tesia local:
1. Instale um acesso venoso (IV) se a paciente apresentar sangramento abundante
ou se medicações intravenosas serão utilizadas.
2. Dosagem do hematócrito ou hemoglobina e tipagem Rh devem ser realiza-
das. Leucograma, tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial,
produtos de degradação da fibrina, tipo sanguíneo e prova cruzada podem ser
obtidos dependendo das circunstâncias clínicas (p. ex., sangramento importan-
te, aborto retido).
3. Sedação e anestesia devem ser administradas. Midazolam, 2 a 5mg IV e 50 a
100μg de fentanil IV são comumente usados. Alternativamente, 25 a 50mg de
meperidina e/ou 5 a 10mg de diazepam podem ser usados. Em muitas situa-
ções, o companheiro ou outro acompanhante pode estar com ela durante o
procedimento.
4. O tamanho e a posição do útero devem ser identificados pelo exame bima-
nual. Se as medidas fetais e o tamanho uterino são compatíveis com mais de 14
semanas, o procedimento de dilatação e extração envolve treinamento avança-
528 ALSO
11. Com a sucção ligada, a cânula é rodada diversas vezes em uma direção, depois
diversas vezes na direção contrária, com leves movimentos de entrada e saída.
A maior pressão deve ser exercida lateralmente e manobras intempestivas com
força excessiva no fundo do útero devem ser evitadas, já que a perfuração é um
risco. A quantidade e a natureza do tecido que se observam na cânula plástica
devem ser avaliadas cuidadosamente. Produtos de concepção geralmente se
aparentam acastanhados ou acinzentados, em meio a sangue e coágulos. Se-
creção fluida amarelada pode estar presente. A cânula deve ser retirada vagaro-
samente, evitando-se as paredes vaginais enquanto o vácuo está funcionando.
12. A sequência de sucção e rotação pode ser repetida após nova inserção da câ-
nula no útero.
13. Uma alternativa à curetagem por vácuo elétrico é a aspiração manual intraute-
rina ou AMIU. Esta é realizada com uma seringa plástica que gera sua própria
sucção de forma mecânica. Esse dispositivo é de baixo custo, fácil manejo e
não necessita de eletricidade. É particularmente apropriado para esvaziamento
de gestações precoces (p. ex.: inferior a 8 a 10 semanas de gestação). Pode ser
realizada em ambulatório, onde o dispositivo a vácuo não está presente. Tam-
bém é apropriado para os países em desenvolvimento onde a eletricidade não
é acessível.
14. Leve curetagem do útero pode ser realizada para determinar que o esvazia-
mento foi realmente completo, seguida por mais uma introdução da cânula de
aspiração. Este procedimento não é indicado rotineiramente devido à maior
dor e ao uso cada vez mais frequente da ultrassonografia transvaginal após o
procedimento para confirmar o esvaziamento associada ao exame do material
retirado.
15. Após o exame do material, este deve ser encaminhado para análise anatomo-
patológica para confirmação diagnóstica. Para confirmar gravidez intrauterina,
vilosidades coriônicas devem ser identificadas.
16. Após a aspiração uterina ser completada, a paciente deve ser monitorizada para
sangramento excessivo. Misoprostol pode ser administrado por via retal, oral
ou sublingual na dose de 400 a 800μg. Ocitócicos podem ser administrados se
for apropriado (ocitocina 20UI diluídas em 1.000ml de solução salina por via
IV ou 10UI por via intramuscular ou 0,2mg por via IM ou oral (VO). Trans-
fusões são raramente necessárias.
17. Se a paciente for Rh negativo, 50μg (minidose) de imunoglobulina anti-D
deve ser administrada.56
18. Doxiciclina 100 mg por via oral duas vezes ao dia por três dias deve ser pres-
crita rotineiramente após aspiração uterina para diminuir a probabilidade de
endometrite.
530 ALSO
talização, cefalosporina por via intravenosa ou esquema tríplice (ampicilina,
gentamicina e clindamicina ou metronidazol) podem ser necessários. Pacien-
tes em melhor estado podem ser tratadas em ambulatório. Não há protocolos
claros para os regimes de antibióticos. Se houver a presença de restos, pode ser
necessário novo esvaziamento uterino. Ocitócicos devem ser administrados
como descrito no item 2 acima. Raramente, em pacientes extremamente gra-
ves, hospitalização e histerectomia podem ser necessários.
5. Sequelas tardias – sinéquias intrauterinas (síndrome de Asherman) são fre-
quentemente discutidas, mas raramente vistas. É mais provável quando uma
curetagem por sucção é realizada na presença de infecção, um aborto retido
por longo período, ou no pós-parto. Raramente pode ocorrer incompetência
cervical devido a trauma cervical. As sequelas tardias mais comuns após o pro-
cedimento são depressão e reações à perda gestacional.
Nível de
Recomendações clínicas Referências
evidência
(Continua)
Nível
Recomendações clínicas Referências
evidência
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536 ALSO
Parto Cesáreo
OBJETIVOS
Introdução
Este capítulo reverá a cesariana dentro dos contextos das sociedades de es-
pecialidades médicas, serviços de residência, times de assistência obstétrica e
ações interdisciplinares, indicações e novos desafios, de acordo com as reco-
mendações do Colegiado Americano de Obstetrícia e Ginecologia em co-
mum acordo com a Academia Americana de Médicos de Família.1,2
História
537
Epidemiologia
Frequência
A taxa de parto cesáreo foi de 32,2% dos nascimentos nos EUA em 2014.4 A taxa de
parto cesáreo nos Estados Unidos aumentou de 4,5% em 1965 para uma alta histórica
de 32,9% em 2009.4,5 Isso representa um aumento de 56% a partir da taxa de 20,7%
em 19965. O crescimento é o resultado da taxa aumentada de cesariana primária e a
diminuição da taxa de parto vaginal após cesárea (VBAC).
538 ALSO
Grau de
Recomendações
recomendações
O parto cesáreo para parada da fase ativa no primeiro período do 1B
trabalho de parto deve ser reservado para mulheres com dilatação Recomendação
igual ou superior a 6cm com membranas rompidas que não forte, evidência de
progridem apesar de atividade uterina adequada ou pelo menos 6 qualidade moderada
horas de administração de ocitocina com atividade inadequada e
nenhuma alteração cervical
Segundo período do trabalho de parto
Não foi identificado um período máximo absoluto específico de 1C
tempo gasto no segundo período do trabalho de parto, além do qual Recomendação
todas as mulheres devem passar por parto operatório forte, evidência de
baixa qualidade
Antes de diagnosticar a interrupção do trabalho de parto no 1B
segundo período, permita: Recomendação
•P elo menos 2 horas de puxo em mulheres multíparas forte, evidência de
• Pelo menos 3 horas de puxo em mulheres nulíparas. Durações qualidade moderada
mais longas podem ser apropriadas de forma individualizada
(por exemplo, com o uso de analgesia peridural ou com posição
anômala fetal), desde que o progresso esteja sendo documentado
O parto vaginal operatório no segundo período do trabalho de parto 1B
por médicos experientes e bem treinados deve ser considerado uma Recomendação
alternativa segura e aceitável ao parto cesáreo. O treinamento e a forte, evidência de
manutenção contínua de habilidades práticas relacionadas ao parto qualidade moderada
vaginal operatório devem ser incentivados
A rotação manual do occipício fetal no cenário de posição anômala 1B
fetal no segundo período do trabalho de parto é uma intervenção Recomendação
razoável a ser considerada antes de passar para o parto vaginal forte, evidência de
operatório ou parto cesáreo. Para evitar com segurança o parto qualidade moderada
cesáreo no cenário de má posição, é importante avaliar a posição
fetal no segundo período do trabalho de parto, particularmente no
cenário de descida fetal anormal
Monitorização da frequência cardíaca fetal
A amnioinfusão para desacelerações variáveis repetitivas
da 1A
frequência cardíaca fetal pode reduzir com segurança a taxa de Recomendação
cesariana forte, evidência de
alta qualidade
A estimulação fetal pode ser usada como um meio de avaliar o 1C
status fetal acidobásico quando padrões cardíacos fetais anormais ou Recomendação
indeterminados (por exemplo, variabilidade mínima) estão presentes forte, evidência de
e são uma alternativa segura para a cesariana nesse ambiente baixa qualidade
(Continua)
540 ALSO
Gestações múltiplas
Os resultados perinatais para gestações gemelares em que 1B
o primeiro gêmeo está em apresentação cefálica não são Recomendação
melhores com o parto cesáreo. Assim, mulheres com gêmeos forte, evidência de
em apresentação cefálica/cefálica ou gêmeos em apresentação qualidade moderada
cefálica/não cefálica devem ser aconselhadas a tentar o parto
vaginal
Outros
Indivíduos, organizações e órgãos governamentais devem trabalhar 1C
para garantir que a pesquisa seja conduzida para fornecer melhor Recomendação
base de conhecimento para orientar as decisões sobre parto cesáreo forte, evidência de
e incentivar mudanças nas políticas que reduzam com segurança a baixa qualidade
taxa de primeira cesárea
Reproduzida do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas; Sociedade de Medicina Materno-Fetal. Consenso em
assistência obstétrica no 1: prevenção segura do parto cesáreo primário. Obstet Gynecol. 2014;123(3):693-711.
Morbidade e Mortalidade
A taxa de mortalidade materna por parto cesáreo repetido eletivo é de 13,4/100.000
nascimentos nos Estados Unidos.7 Metade dessa mortalidade está relacionada a com-
plicações intraoperatórias, e a outra está relacionada a complicações anestésicas e pós
-operatórias. Nos últimos anos, houve mudança na etiologia das mortalidades por
hemorragia e infecção para eventos tromboembólicos.7
Indicações
A indicação mais comum para cesariana geral é um processo de repetição (segunda cesá-
rea e iteratividade), enquanto as indicações mais comuns para cesariana primária incluem,
em ordem de frequência, distocia de trabalho de parto (34%), traçado fetal anormal ou
indeterminado (23%), apresentação anômala fetal (17%), gestação múltipla (7%) e sus-
peita de macrossomia fetal (4%).6 Outras indicações estão listadas na Tabela 2. Muitas
indicações são dependentes de outros fatores clínicos, tais como a carga viral de HIV, não
atender aos critérios de parto pélvico vaginal e status atual das condições médicas.
Contraindicações
Existem poucas contraindicações para o parto cesáreo. Um princípio norteador é o
melhor para a mãe e melhor para o feto. Se a mãe é medicamente instável e o feto é inviá-
vel, então se recomenda que a condição materna seja privilegiada independentemente
542 ALSO
Anatomia e Fisiologia
Muitas alterações na fisiologia cardiovascular materna durante a gravidez são relevan-
tes para o parto cesáreo. Mais informações estão disponíveis no Capítulo Reanimação
Materna e Trauma. Essas alterações fisiológicas aumentam o volume e o fluxo sanguí-
neo materno nos órgãos pélvicos, tornando a mulher mais suscetível a hemorragias
graves durante o parto cesáreo. A anatomia cirúrgica é descrita neste capítulo com
cada aspecto do procedimento. A compreensão do suprimento sanguíneo pélvico é
essencial para os médicos que fazem cesariana.
Artéria Uterina
A aorta bifurca-se em artérias ilíacas comuns bilaterais no nível da quarta vértebra
lombar. O ilíaco comum se divide em artérias ilíacas externa e interna. A artéria ilíaca
interna ou hipogástrica desce mediana e inferiormente ao longo da borda do músculo
psoas e se divide em anterior e posterior. A divisão anterior possui ramos parietais e
viscerais de origem variável.
A artéria uterina, um ramo visceral principal da divisão anterior da artéria hipogás-
trica, desce por uma curta distância, entra na base do ligamento largo e gira medialmente
para a face lateral do útero. A relação entre a artéria uterina e o ureter é cirurgicamente
significativa. Aproximadamente 2cm lateral ao colo do útero, a artéria uterina cruza
o ureter. O ureter pode ser lesionado no processo de pinçamento e ligação dos vasos
uterinos na hemorragia pós-parto ou durante a histerectomia. Uma maneira comum de
lembrar isso é que os vasos uterinos formam uma ponte sobre a água corrente.
O ramo inferior da artéria uterina irriga a vagina superior e o colo inferior, e o
ramo marginal atravessa a face lateral do útero antes de se dividir em três ramos termi-
nais: ovariano, tubário e fundal. Perto da porção superior lateral do útero, encontra-se
a anastomose da artéria do ovário com o ramo ovariano da artéria uterina. Em todo
o seu comprimento, o ramo marginal é um vaso complicado, com numerosos ramos
que penetram no corpo do útero, incluindo um ramo grande que se estende até a
porção superior do colo do útero.
Artéria Ovariana
A artéria ovariana é um ramo direto da aorta e entra no ligamento largo através do li-
gamento infundibulopélvico. No hilo ovariano, a artéria ovariana se divide em ramos
ovarianos e um ramo principal que atravessa o ligamento largo.
A vagina recebe sangue da extensão inferior da artéria uterina ao longo dos sulcos
laterais da vagina e de um ramo vaginal da artéria hipogástrica. Esses formam uma
arcada de anastomoses ao longo da estrutura lateral da vagina nas posições de 3:00 e
9:00h. Os ramos desses vasos também se fundem ao longo das paredes vaginais ante-
rior e posterior.
História obtida deve ser pertinente a iminente cirurgia, incluindo médica, cirúrgica,
obstétrica, ginecológica, familiar, hábitos de tabagismo e uso de drogas, transfusão,
medicamentos, alergias, tromboses e complicações anestésicas. Informações sobre a
indicação obstétrica atual é necessária (por exemplo, tempo de trabalho de parto e
duração da ruptura de membranas, dia da operação e horário da última refeição).
Exame Físico
O exame físico para parto cesáreo deve abordar as principais preocupações médicas,
obstétricas e anestésicas. A equipe cirúrgica deve estar ciente que a anestesia regional
pode ser convertida para anestesia geral a qualquer momento durante o procedimen-
to. Exame vaginal deve ser realizado pouco antes para garantir que o progresso do tra-
balho de parto não ocorreu, o que permitiria o parto vaginal. Pacientes com histórico
de herpes devem fazer exame cuidadoso quanto a lesões ativas.
Testes Auxiliares
544 ALSO
adicionais podem ser indicados devido à alta taxa de testes falso-positivos com mo-
nitorização fetal eletrônica (MFE). Mais informações estão disponíveis no Capítulo
Vigilância Fetal Intraparto. Evidência de curto prazo da reserva fetal pode ser docu-
mentada pela aceleração da FCF em resposta à estimulação da cabeça ou acústica.
Procedimento
Considerações Pré-operatórias e Não Cirúrgicas
A paciente deve ser preparada da mesma maneira que qualquer outro procedimento
abdominal importante (Tabela 3). Infusão por via intravenosa (IV) adicional é neces-
sária devido a vasodilatação periférica causada pela anestesia regional, aumento da
perda insensível pelo trabalho de parto, perda de sangue e perda intraoperatória de
1.000ml/h devido às vísceras expostas.
A administração de fluidos antes da anestesia peridural ou raquidiana em pacientes
normotensas geralmente envolve um bolus de 1.000ml de fluidos isotônicos. Os líqui-
dos isotônicos são bons agentes de primeira linha em caso de sangramento excessivo,
mas a reposição de hemoderivados é frequentemente necessária para uma perda de
sangue superior a 1.000ml. O uso de antibióticos profiláticos tem sido recomendado
para diminuir a incidência de febre, endometrite, infecção da ferida, infecção do trato
urinário, infecção pós-operatória grave.9 Ampicilina e cefalosporinas de primeira ge-
ração têm eficácia semelhante na redução da endometrite pós-operatória. Não parece
haver benefício adicional no uso de um agente de espectro mais amplo ou em regime
de doses múltiplas.10 Todas as pacientes devem receber antibióticos por via IV antes da
incisão da pele, a menos que a paciente já esteja a receber os antibióticos apropriados
Parto Cesáreo 5 4 5
(por exemplo, para corioamniotite) ou não há tempo suficiente devido a um aciden-
te.11,12 A profilaxia pré-incisão é vantajosa para a mãe e não prejudicial para o recém-
nascido, apesar de o uso de antibióticos após clampear o cordão ter sido abandonado.13
Considere clindamicina em pacientes alérgicas à penicilina com história de anafilaxia,
urticária ou reação ameaçadora à vida. Se um procedimento excede 4 horas, em se-
guida, redosagem deve ser considerada. Além disso, dados recentes sugerem que em
mulheres obesas a dose de cefazolina deve ser aumentada de uma dose de 1 ou 2g por
via IV para uma dose de 3g por via IV.14
A profilaxia da endocardite infecciosa não é mais recomendada para parto vaginal
ou cesariana na ausência de infecção, independentemente do tipo de lesão cardíaca
materna.15 A tricotomia não é necessária, caso o seja deve ser realizada na sala cirúrgica
e não na noite anterior ao procedimento. O pelo deve ser cortado e não raspado para
diminuir o risco de infecção.
Consentimento Informado
546 ALSO
TABELA 4 Técnicas de parto cesáreo
Preparar o paciente Incisão peritoneal Fechamento uterino
Consentimento informado Parietal: Pinçar os ápices da incisão
Jejum, exceto antiácido longitudinal, transversal uterina (opcional)
não particulado (Joel-Cohen) Externalizar o útero
Anestesia Visceral: vesicouterina (opcional)
transversal Inspecionar possíveis
Cateterizar bexiga
Incisão uterina extensões
Pele limpa, decúbito lateral
esquerdo Segmentar Duas camadas de sutura
absorvível
Clorexidina alcoólica como Clássica
antisséptico da pele Inspecione os conteúdos
Baixa vertical
pélvico e abdominal
Cefazolina por via
Elevar a apresentação fetal Remova material estranho
intravenosa em 60
minutos antes da incisão Eleve a parte fetal que da cavidade peritoneal
na pele apresenta, mantenha a Esponja e contagem de
flexão cefálica agulhas
Dispositivos de
compressão sequencial O assistente retira a parte
Fechamento peritoneal
nas extremidades vaginal, se profundamente
(opcional)
inferiores insinuada
Visceral (retalho da
Incisão na parede Aplique pressão no fundo bexiga)
abdominal Administrar ocitocina após Parietal
Joel-Cohen (modificação o nascimento
Fechamento fascial
de Misgav Ladach) Clampeie e corte o cordão
Pontos simples
Pfannenstiel umbilical
Duas linhas de sutura
Linha média vertical Obtenha sangue do
reunidas na
Outros: Maylard, Cherney cordão umbilical para:
linha média, sem
Tipagem e Coombs direto, ancoragem (opcional)
Incisão fascial
se clinicamente indicado
Joel-Cohen: pequena Subcutâneo
pH do cordão umbilical (se tecido > 2cm)
incisão fascial na linha
obtido antes da
média, tecido elástico Fechar espaço morto se
amostra de sangue, se
Pfannenstiel: incisão > 2cm
clinicamente indicado
transversal longa, músculo Irrigar tecido subcutâneo
reto/bainha separados, Retirada da placenta
Fechamento da pele:
distensão dos músculos Assistência espontânea
subcuticular, grampos,
retos Manual suturas amplamente
Limpar a cavidade uterina espaçadas
Aplique curativo estéril
Pfannenstiel
548 ALSO
TABELA 5 Método de parto cesáreo por Misgav Ladach
1. R ealize uma incisão abdominal utilizando uma abordagem Joel-Cohen
modificada
2. Use os dedos indicadores para abrir transversalmente o peritônio parietal
3. Use uma pequena incisão transversa uterina inferior e estenda lateralmente usando
os dedos indicadores
4. Feche o útero com uma única camada contínua não bloqueada de fio monofilamentoso
absorvível
5. Não feche o peritônio visceral ou parietal
6. Feche a fáscia com um único fechamento contínuo
7. A pele é fechada com vários pontos espaçados e as margens entre as suturas são
aproximadas com as pinças Allis durante 5 minutos
A incisão na pele na linha média vertical estende-se da sínfise púbica até 2cm do um-
bigo. A fáscia é elevada e fortemente dissecada do púbis para o umbigo. Essa incisão
na linha média abdominal vertical pode ser realizada rapidamente e fornece excelente
exposição da pelve e paredes laterais.
A incisão transversal de Maylard com corte do reto começa com uma incisão cutânea
curvilínea que se estende de 18 a 19cm entre as cristas ilíacas anterossuperiores. O
Maylard oferece exposição máxima para apresentações anormais, gestação múltipla ou
macrossomia. Na incisão transversal de Cherney, os músculos retos são destacados de
sua inserção na sínfise púbica.
Incisão Peritoneal
Peritônio Parietal
O peritônio parietal deve ser aberto o mais alto possível para evitar lesões da bexi-
ga inadvertida, especialmente na repetição de procedimentos. O peritônio parietal é
fortemente incisado ou inserido com dissecção digital contundente e depois esticado.
Bexiga Urinária
A bexiga urinária pode ser dividida em duas porções: a cúpula e a base. A base da
bexiga, que repousa na parte superior da vagina e no colo do útero, contém o trígono
e é contígua ao músculo do pescoço vesical e da uretra. A cúpula muscular da bexiga
é relativamente fina quando distendida. A base da bexiga é mais espessa e varia menos
com a distensão. A bexiga é visualizada duas vezes antes do parto. Inicialmente, o ci-
rurgião visualiza a bexiga ao abrir o peritônio e é encontrada novamente ao dissecar
a aba da bexiga no segmento uterino inferior. A extensão da bexiga pode ser confir-
mada por palpação da sonda.
Peritônio Visceral
A omissão da aba da bexiga proporciona vantagens de curto prazo, tais como redução
do tempo de operação e incisão, diminui a perda de sangue e a necessidade de anal-
gésicos.18 Os efeitos a longo prazo ainda precisam ser avaliados.
Se considerado necessário, o peritônio vesicouterino é elevado e aberto transver-
salmente 1cm acima da reflexão da bexiga no segmento uterino inferior. O retalho da
bexiga é desenvolvido de forma abrupta e acentuado transversalmente de 10 a 12cm,
depois inferior ao nível de aposição da bexiga no colo do útero. Se uma aba da bexiga
for desenvolvida, o afastador é reposicionado para abaixar e proteger a bexiga.
Incisão Uterina
O parto cesáreo é realizado por meio de uma das várias incisões uterinas. O mais
comum é uma incisão transversal ou Kerr baixa. Uma abordagem cirúrgica menos
550 ALSO
comum é a incisão uterina clássica ou vertical. Ambas podem ser realizadas por meio
de qualquer incisão abdominal.
Útero
À medida que o útero aumenta, atinge quase o fígado e desloca os intestinos lateral e
superiormente. A musculatura uterina está disposta em três camadas. As células muscula-
res da camada intermediária são entrelaçadas de modo que, quando se contraem após o
parto, contraem os vasos sanguíneos perfurantes. Quando uma grávida está em decúbito
dorsal, seu útero volta a descansar na coluna vertebral e nos grandes vasos, especialmente
na aorta e na veia cava inferior. Com a subida da pelve na progressão da gravidez, o útero
sofre dextrorrotação, resultando na margem esquerda virada anteriormente.
Incisão Clássica/Vertical
A incisão uterina clássica é feita verticalmente no miométrio ativo. A incisão clássica
é indicada em prematuridade significativa com segmento uterino estreito inferior
pouco desenvolvido, aderências densas ou anormalidades uterinas estruturais (por
Parto Cesáreo 5 5 1
exemplo, mioma no segmento uterino inferior ou anel uterino contrátil de Bandl). A
incisão clássica pode ser usada em alguns casos de placenta prévia anterior e apresen-
tação anômala (por exemplo, transversa, pélvica pré-termo e gêmeos impactados).
A baixa incisão vertical começa da maneira mais inferior possível para evitar o segmento
uterino ativo. A incisão é tipicamente feita aproximadamente 2cm acima da bexiga.21
A principal desvantagem da incisão vertical baixa é a possibilidade de extensão
cefálica para o fundo do útero ou lesão da bexiga, colo do útero ou vagina. Também
é difícil de determinar se a incisão vertical baixa é realmente baixa, já que a separação
entre os segmentos superiores e inferiores uterinos não é facilmente identificável.
Se uma placenta anterior estiver presente, ela deve ser dissecada ou separada da parede
uterina, facilitando a exposição do feto. Existe risco de curto prazo de hemorragia
fetal, a menos que o parto seja rápido. Se a placenta estiver lacerada, o operador deve
cortar o restante da placenta e retirar rapidamente o bebê e prender o cordão. Uma
incisão vertical pode ser necessária. Ultrassom pré-operatório para a localização da
placenta pode ser útil. Além disso, se a paciente teve uma cesariana anterior, a possi-
bilidade de acretismo deve ser considerada e a equipe cirúrgica deve estar preparada
para hemorragia e necessidade de histerectomia.
Retirada do Feto
Apresentação Cefálica
Para retirar uma criança a partir de uma apresentação cefálica, remova os afastadores
e eleve a parte da apresentação com a mão; em seguida, o assistente aplica pressão
transabdominal no fundo uterino. Se a apresentação está profundamente no colo do
útero ou na vagina, insinue suavemente a mão no útero com movimentos de um lado
para o outro e como uma alavanca para elevar a apresentação. O cirurgião deve evitar
o uso da incisão uterina como um ponto de apoio para a elevação da apresentação
para evitar a extensão da incisão uterina. O assistente aplica pressão uterina quando
o operador elevar a apresentação o suficiente para que a força empurre para cima e
para fora da incisão. A flexão é desejável nas posições occipital posterior ou anterior. A
manipulação excessiva de um segmento uterino inferior fino pode levar a uma lace-
ração cervical profunda. Se a parte que se apresenta está profundamente na pelve, o
assistente pode precisar ir sob os campos e elevar a apresentação via vaginal.
552 ALSO
Se a apresentação estiver alta, um ramo de fórceps poderá ser útil. Retire o tronco,
trabalhando suavemente os ombros, um de cada vez, com pressão contínua no fun-
do. Alternativamente, os pés fetais podem ser retirados primeiro.
Apresentação Pélvica
A parte fetal deve ser confirmada no pré-operatório com ultrassom. Uma apresentação
pélvica pode exigir incisão na parede abdominal ligeiramente maior e incisão uterina
para exposição adequada. Uma incisão uterina vertical pode ser necessária se o segmento
uterino inferior não estiver bem desenvolvido (por exemplo, muito prematuro). As téc-
nicas para um parto cesáreo de pélvico são semelhantes às usadas em um parto vaginal
pélvico. Informações adicionais sobre partos de pélvicos estão disponíveis no Capítulo
Apresentações Anômalas e Gestações Múltiplas. As incisões abdominais e uterinas podem
ser estendidas se a retirada da cabeça do feto for difícil. A incisão uterina pode ser esten-
dida verticalmente para o miométrio ativo, perpendicular à incisão uterina transversa em
forma de T invertida ou estendida perpendicularmente aos vasos uterinos em forma de
J. Essas extensões devem ser documentadas e a paciente informada, pois o parto cesáreo
é recomendado em gestações futuras pelo risco de ruptura uterina.
Parto Cesáreo 5 5 3
Reparo do Útero
O útero pode ser reparado dentro da cavidade peritoneal ou enquanto é exteriori-
zado. Não há evidências de uma revisão da Cochrane de 2004 para tirar conclusões
definitivas sobre qual método de fechamento uterino oferece maiores vantagens.25
Não foram demonstradas diferenças nas taxas de complicações entre reparo extra-
-abdominal e intra-abdominal no parto cesáreo.26 Além disso, não houve diferença nas
taxas de náuseas/vômitos intraoperatórios entre os que foram submetidos a parto ce-
sáreo sob anestesia regional.26 Metanálise de 2015 de estudos randomizados de reparo
extra-abdominal (exteriorizado) versus intra-abdominal (in situ) não mostrou diferen-
ças clinicamente significativas na perda de sangue, náuseas intraoperatórias, vômitos
ou dor entre as duas abordagens.27 O reparo uterino por exteriorização pode reduzir
a perda de sangue e a diminuição associada da hemoglobina, mas a diferença pode não
ser clinicamente relevante. O reparo in situ pode estar associado a um retorno mais
rápido da função intestinal.27,28
Vasos sangrantes devem ser pinçados e o fundo do útero coberto com uma com-
pressa úmida. As margens da incisão uterina devem ser identificadas. A incisão uteri-
na é inicialmente fechada com uma única camada de sutura contínua ancorada com
fio absorvível no 0 ou 1.
O cirurgião tradicionalmente costura para sua direção. Para garantir que cada
canto esteja fechado, uma sutura deve ser colocada logo além de cada lado da incisão,
tendo o cuidado de evitar vasos laterais. Uma segunda camada de sutura é indicada
se desejar nova gestação, mas não é necessária se optar por ligadura tubária, a menos
que seja realizada para hemostasia. Há evidências conflitantes quanto à vantagem da
segunda sutura.29,30 As evidências baseadas na revisão sistemática de ensaios clínicos
randomizados não suportam um tipo específico de fechamento uterino para obter
resultados maternos ideais e são insuficientes para concluir sobre o risco de rup-
tura uterina.31 O fechamento de camada única e a primeira camada ancorada são
possivelmente acoplados a uma espessura residual mais fina do miométrio.31 Para as
mulheres que considerariam uma tentativa de parto após cesariana anterior, reco-
menda-se um fechamento uterino de duas camadas, embora os dados para apoiar essa
recomendação sejam inconclusivos.29 O fechamento de uma incisão vertical requer
um fechamento de duas ou três camadas, usando fio absorvível no 0 ou 1.
554 ALSO
uso de narcóticos, uso de antibióticos e tempo de permanência no hospital. Houve
melhora no resultado pós-operatório de curto prazo se o peritônio não foi fechado.32
A fáscia é fechada com fio absorvível no 0 ou 1 em pontos contínuos (por exem-
plo,Vicryl). As suturas devem ser colocadas em intervalos de 1cm, aproximadamente a
1,5cm da margem da fáscia cortada. Alguns cirurgiões fecham a fáscia com duas linhas
de sutura que se encontram na linha média. Muitos cirurgiões realizam um fecha-
mento em massa de Smead-Jones com fio não absorvível no 1 para incisões verticais
com alto risco de deiscência.
O fechamento da sutura da gordura subcutânea durante o parto cesáreo resulta
em redução de 34% no risco de rompimento da ferida em mulheres com espes-
sura de gordura superior a 2cm.33,34 A pele pode ser fechada com grampos, sutu-
ras intradérmicas com fios absorvíveis 4-0, adesivo cutâneo ou suturas amplamente
espaçadas. Metanálise de 2015 dos ensaios clínicos randomizados mostrou que o
fechamento da incisão transversal da pele com sutura subcutânea diminui significa-
tivamente a morbidade da ferida, especificamente a deiscência da ferida, sem dife-
renças significativas na dor, satisfação da paciente ou cosmética.35 A sutura levou 7
minutos a mais que os grampos.
Dificuldades Técnicas
Fechando a Incisão Uterina
Um erro comum é a colocação de suturas além da incisão uterina. Isso pode resultar
em elevação do sangramento dos vasos uterinos laterais e aumento da lesão ureteral. A
borda do útero, a incisão uterina e todas as extensões devem ser cuidadosamente iden-
tificadas antes da sutura.
Cuidados Pós-operatórios
Embora seja habitual, não há evidências de estudos randomizados revisados para jus-
tificar uma política de jejum após cesariana.36
Escolha do Procedimento
556 ALSO
Embora não tenham sido demonstrados benefícios claros de um método sobre
outro, a escolha pode ter sido influenciada pelo cenário clínico.16
Complicações Intraoperatórias
Lesões intraoperatórias são incomuns, mas ainda podem ocorrer apesar da cuidadosa
atenção da equipe técnica.
Hemorragia
Parto Cesáreo 5 5 7
na F2 0,25mg por via intramuscular ou intramiometrial. A 15-metilprostaglandina
F2 pode ser repetida a cada 15 minutos, dose máxima de 2mg. Mais informações
sobre hemorragia estão disponíveis no Capítulo Hemorragia Pós-Parto. O miso-
prostol pode ser usado como uma alternativa à 15-metilprostaglandina F2, 400µg
podem ser administrados por via sublingual.40,41 Os níveis máximos de misoprostol
por via oral são mais baixos do que com a administração sublingual e diminuem ra-
pidamente ao longo de 2 horas devido ao metabolismo hepático.40 A administração
retal (800μg) leva mais tempo para atingir a concentração de pico comparada com
a via oral ou via sublingual, mas tem uma duração de ação mais prolongada (4 horas
contra 2 a 3 horas).40
O tratamento cirúrgico da hemorragia deve ser realizado passo a passo, depen-
dendo do estado hemodinâmico da paciente. O primeiro passo são as suturas O'Leary
unilaterais ou bilaterais das artérias uterinas. Essas suturas com fios absorvíveis no 0 ou
1 são na face lateral do útero, cefálicas ao ureter. Um segundo passo para diminuir o
sangramento uterino se as suturas de O'Leary não forem suficientes é a ligação bila-
teral dos vasos uterinos apenas medialmente aos ovários.
Em seguida, as suturas de compressão uterinas são um método eficaz para a redu-
ção da hemorragia pós-parto e evitando a histerectomia. O acompanhamento limitado
de mulheres que fizeram uma sutura de compressão uterina sugere que não há efeitos
adversos em futuras gestações. A sutura de B-Lynch envolve e comprime o útero,
semelhante ao resultado obtido com compressão manual.42,43 Em relatos de casos e
pequenas séries, tem sido muito bem-sucedido no controle do sangramento uterino
por atonia quando outros métodos falharam.44
Ligação bilateral das artérias ilíacas internas (artérias hipogástricas) foi muitas ve-
zes utilizada no passado. A técnica é difícil, especialmente com um útero grande, uma
pequena incisão transversal, uma pelve cheia de sangue e um cirurgião que raramente
opera no espaço retroperitoneal pélvico. Uma série de casos de 19 pacientes mostrou
que a maioria (58%) ainda continuava com histerectomia apesar da ligação das hipo-
gástricas.45 Por esses motivos, a ligação da artéria uterina e o uso de suturas uterinas
compressivas substituíram amplamente esse procedimento.46
Se a hemorragia continuar depois que a atonia for resolvida e a paciente estiver
hemodinamicamente estável, a colocação de um ou mais cateteres de Foley no 30 com
balão cheio na cavidade uterina pode tamponar o sangramento. O balão de tampo-
namento de Bakri foi projetado especificamente para tamponamento uterino para
controlar o sangramento pós-parto.47 É um balão de silicone com capacidade para
500ml de solução salina e força para suportar uma pressão interna e externa máxima
de 300mmHg. O balão é preenchido até que o sangramento seja controlado ou de
300 a 500ml.
Essas medidas podem ganhar tempo para a correção de condições reversíveis,
como coagulopatia ou trombocitopenia.
558 ALSO
Outra modalidade para parar o sangramento uterino é a embolização arterial
seletiva.
Se esses esforços falharem, histerectomia pode ser necessária. No cenário de he-
morragia pós-parto grave, os cirurgiões obstétricos devem equilibrar os riscos mater-
nos de tentar evitar a histerectomia (incluindo transfusão maciça e até mortalidade)
em comparação com a perda da fertilidade desejada.
As indicações para histerectomia puerperal são hemorragia uterina que não responde
ao tratamento, laceração uterina que resultaria em reparo instável, placenta acreta,
laceração dos principais vasos pélvicos e carcinoma cervical avançado. Complicações
de histerectomia na cesariana são mais comuns durante os procedimentos de emer-
gência e incluem aumento da perda de sangue e tempo de anestesia, além de infecção,
transfusão de sangue e efeitos psicológicos da esterilidade inesperada.
Parto Cesáreo 5 5 9
Lesão Gastrointestinal
As lesões gastrointestinais ocorrem em 0,04 a 0,08% dos partos cesáreos e são mais
comuns quando as pacientes apresentam aderências de procedimentos cirúrgicos an-
teriores.52,53 O risco de lesão do intestino pode ser minimizado por meio da limitação
da dissecção por instrumentos cortantes do peritônio, lise de aderências e dissecção
cortante com tesoura. As lesões longitudinais de espessura total da parede intestinal
com menos de 1cm devem ser reparadas em sutura de dupla camada transversal para
evitar o estreitamento da luz intestinal. A mucosa é reparada com pontos separados
com fio absorvível 3-0. As camadas musculares e serosas são fechadas com pontos
separados com fio de seda 3-0. Lacerações maiores e complexas podem exigir a ha-
bilidade e o conhecimento de cirurgião colorretal ou geral. Se ocorrer contaminação
com fezes do campo operatório, serão necessárias irrigação abundante e antibiotico-
terapia de amplo espectro com cobertura aeróbia e anaeróbia gram-negativa. Os an-
tibióticos apropriados incluem: cefoxitina 1 a 2g por via IV a cada 6 horas, cefotetano
1 a 2g por via IV a cada 12 horas e sulfato de gentamicina 1,5mg/kg a cada 8 horas.54
A drenagem profilática de feridas raramente é necessária na ausência de obesidade
mórbida ou ferida úmida. Contaminação significativa pode requerer fechamento por
segunda intenção, especialmente em obesas.
Complicações Anestésicas
Apesar dos avanços na anestesia e do aumento do uso da anestesia regional, a morta-
lidade de causa anestésica não diminuiu,55 frequentemente atribuída à incapacidade
de intubar ou ventilar a paciente, principalmente obesas. Outras complicações são
aspiração, ventilação inadequada, insuficiência respiratória, parada cardíaca, toxicida-
de anestésica local, hipotensão e cefaleia.56 Curiosamente, revisão da Cochrane não
mostrou evidência para apoiar que a anestesia regional é superior à anestesia geral.57
Embora bastante seguras, as técnicas anestésicas estão associadas a vários efeitos
indesejados. Os efeitos adversos, como toxicidade sistêmica do anestésico local ou
cefaleia pós-anestésica, são causados por
fatores técnicos como injeção por via IV
inadvertida ou punção dural acidental. O hematoma espinhal é uma complicação rara
e é mais provável em pacientes que recebem anticoagulantes. A realização cuidadosa
da técnica adequada reduz o risco dessas complicações. Caso ocorram, é indicado
tratamento imediato.
Outros efeitos adversos comuns são causados por efeitos farmacológicos conhe-
cidos dos medicamentos analgésicos, como hipotensão, prurido, náuseas, vômitos e
depressão respiratória. A hipotensão pode ser tratada pela administração de fluidos
e/ou um vasopressor. Os efeitos adversos induzidos por opioides são tratados por
pequenas doses de antagonista dos opioides. O prurido da raquianestesia opioide
responde melhor à naloxona do que aos anti-histamínicos.58
560 ALSO
Vários outros efeitos adversos foram atribuídos a técnicas analgésicas regionais, como
dores nas costas a longo prazo, efeitos no progresso e no resultado do trabalho de parto
e efeitos no sucesso da amamentação. Embora uma associação entre analgesia regional
e esses efeitos adversos possa existir, a relação de causa-efeito não foi ainda estabelecida.
Estudos demonstraram que mulheres que recebem anestesia regional para cesariana
apresentaram menos hemorragia e menor queda do hematócrito, em comparação com
aquelas que receberam anestesia geral.57
Cuidados Pós-operatórios
O atendimento à paciente no pós-operatório de cesariana é semelhante ao previsto
para qualquer cirurgia abdominal de grande porte (Tabela 7).
O curativo deve ser removido em 24 horas e monitorizado diariamente. Os gram-
pos, quando usados, podem ser removidos em 3 dias para incisões transversais da pele
e em 7 a 10 dias para incisões verticais. A amamentação imediata e por livre demanda
562 ALSO
entre 39 e 160 por 1.000 partos e complicações infecciosas maternas graves ocorrem em
25 por 1.000 partos sem o uso de antibiótico profilático. A dose única de cefalosporina
de primeira geração ou ampicilina é tão eficaz quanto outros regimes, incluindo a admi-
nistração de doses múltiplas que reduzem o risco de infecção da ferida materna em 60%
dos casos, endometrite materna em 62% e graves complicações infecciosas maternas em
69%.9,10 Atelectasia é uma fonte comum de febre e pode levar à pneumonite. Choque
séptico, abscesso pélvico e tromboflebite séptica ocorrem em menos de 2% dos casos.
Endomiometrite
564
Conselho Evidência Nossas recomendações Pesquisa futura
ALSO
Levantar A ação de levantar pesos 1. As pacientes devem continuar levantando pesos 1. Estudo de coorte prospectivo
pesos aumenta a pressão como antes da cirurgia de pacientes incentivadas
intra-abdominal muito 2. As pacientes precisam de analgesia pós-operatória a retomar atividades físicas
menos do que a manobra adequada cotidianas
de Valsalva, tosse forte ou 3. As recomendações de pré-procedimento e 2. Ensaio em que as
ascensão da posição supina pós-procedimento devem ser consistentes mulheres são designadas
para a posição ereta aleatoriamente para levantar
pesos mais leves do que antes
da cirurgia ou levantar os
mesmos pesos que antes da
cirurgia
Subir escadas Subir escadas aumenta a 1. As pacientes devem continuar subindo escadas Estudo de coorte prospectivo
pressão intra-abdominal como antes da cirurgia de pacientes incentivadas
muito menos do que a 2. As pacientes precisam de analgesia pós-operatória a retomar atividades físicas
manobra de Valsalva, tosse adequada cotidianas, incluindo subir
forte ou posição supina 3. As recomendações de pré-procedimento e escadas
para a posição ereta pós-procedimento devem ser consistentes
Dirigir veículos Nenhuma evidência 1. As pacientes precisam de um regime analgésico Estudo prospectivo de coorte
retrospectiva ou pós-operatório adequado que não altere ou cause de mulheres incentivadas a
prospectiva perda sensorial ao dirigir retomar as atividades normais,
2. As pacientes podem dirigir quando se sentirem incluindo dirigir
confortáveis com os movimentos das mãos e pés
necessários para dirigir
3. As recomendações de pré-procedimento e
pós-procedimento devem ser consistentes
Exercício Evidência retrospectiva 1. As pacientes precisam de um regime analgésico Estudos prospectivos de
e prospectiva limitada. A pós-operatório adequado intervenção para incentivar
tosse forte aumenta a 2. As pacientes podem retomar o nível de exercício as mulheres a retomar os
pressão intra-abdominal, pré-procedimento programas de exercícios, bem
tanto quanto os 3. O programa de exercícios pode precisar ser como aumentar a força e a
polichinelos adaptado para mulheres após o parto saúde cardiovascular
4. As recomendações de pré-procedimento e
pós-procedimento devem ser consistentes
Atividade Nenhuma evidência 1. As mulheres e parceiros/parceiras devem tomar a Estudos prospectivos de
sexual vaginal retrospectiva decisão de retomar a relação mutuamente intervenção com o objetivo de
consistente; nenhuma 2. As mulheres devem usar lubrificantes vaginais ajudar as mulheres a retomar a
evidência prospectiva e posições sexuais, permitindo que a mulher intimidade sexual após cirurgia
controle a profundidade da penetração vaginal ginecológica; esses estudos
3. As mulheres devem usar métodos contraceptivos devem capturar dados sobre a
adequados após o parto incidência de deiscência vaginal
4. As recomendações de pré-procedimento e e seus fatores associados
pós-procedimento devem ser consistentes
Retornar às Nenhuma evidência 1. As mulheres devem ser incentivadas a voltar ao Estudos prospectivos avaliando
atividades prospectiva ou trabalho relativamente cedo após o procedimento as estratégias ideais para
profissionais retrospectiva consistente 2. Considere o retorno gradual ao trabalho permitir que as mulheres
3. As recomendações de pré-procedimento e retornem ao trabalho de
pós-procedimento devem ser consistentes maneira eficaz
Reproduzida de Minig L, Trimble EL, Sarsotti C, Sebastiani MM, Spong CY. Construir a base de evidências para aconselhamento pós-operatório e pós-parto. Obstet Gyne-
col. 2009;114(4):892-900.
Parto Cesáreo 5 6 5
Infecção do Trato Urinário
Complicações Gastrointestinais
Íleo apresentando distensão abdominal, náuseas, vômitos e falha na passagem do fla-
to. O exame físico pode revelar a ausência de sons intestinais. Estudos radiográficos
mostram alças distendidas do intestino delgado e grosso, com gás tipicamente presen-
te no cólon. O tratamento envolve jejum, aguardar o retorno da função intestinal e
hidratar.
Em contraste, a obstrução apresenta sons intestinais agudos e movimentos pe-
ristálticos. Estudos radiográficos mostram uma ou múltiplas alças distendidas, tipica-
mente intestino delgado, com níveis hidroaéreos. A paciente pode precisar de sonda
nasogástrica para descompressão ou um tubo duodenal/jejunal. A consulta cirúrgica e
a possível lise de aderências podem ser necessárias se a obstrução persistir.
Complicações Tromboembólicas
A trombose venosa profunda (TVP) é duas vezes mais comum após o parto cesáreo
do que no parto vaginal.64 TVP pode progredir para embolia pulmonar (EP), se não
tratada. A frequência de embolia pulmonar é 2,5 para 20 vezes aumentada em parto
cesáreo. A TVP geralmente cursa com sensibilidade nos membros inferiores, edema
ou cordão palpável. Informações adicionais estão disponíveis no Capítulo Complica-
ções Cardíacas da Gravidez.
As diretrizes do American College of Chest Physicians recomendam a mobilização
precoce em puérperas sem fatores de risco para TVP.65 Para as mulheres com, pelo
menos, um fator de risco, eles sugerem tromboprofilaxia farmacológica (heparina
de baixo peso molecular profilática ou heparina não fracionada) ou profilaxia me-
cânica, enquanto a paciente está no hospital. Para as mulheres com múltiplos fato-
res de risco para tromboembolismo, eles sugerem tromboprofilaxia farmacológica
combinada com meia elástica de compressão graduada e/ou compressão intermi-
tente pneumática. ACOG recomenda tromboprofilaxia mecânica antes e depois
da cesariana.66,67 O ACOG recomenda que a dosagem baseada no peso para trom-
boprofilaxia é mais eficaz do que as estratégias de dosagem baseadas no índice de
massa corporal em obesas classe III após parto cesáreo.66,67 Consulte a Tabela 9 para
obter uma abordagem de estratificação de risco para a profilaxia do tromboembo-
lismo venoso.68
566 ALSO
TABELA 9 Avaliação de risco para tromboembolismo em pacientes submetidas a parto cesáreo
Baixo risco: deambulação precoce
Parto cesáreo para gravidez sem complicações, sem outros fatores de risco
Risco moderado: heparina de baixo peso molecular ou meias de compressão
Idade > 35 anos
Obesidade (IMC > 30)
Paridade > 3
Varizes de grosso calibre
Infecção atual
Pré-eclâmpsia
Imobilidade por mais de 4 dias antes da operação
Doença atual grave
Cesariana de emergência durante o parto
Alto risco: meias de compressão e heparina de baixo peso molecular
Presença de mais do que dois fatores de risco moderado
Cesárea puerperal
Trombose venosa profunda prévia ou trombofilia conhecida
IMC indica o índice de massa corporal (o peso em quilogramas dividido pelo quadrado da altura em metros).
Reproduzida de Marik PE, Plante LA. Trombo venoso m doença biliar e gravidez. N Engl J Med. 2008;359(19):2025-33.
Tromboflebite Séptica
O diagnóstico de tromboflebite séptica é de exclusão. A febre persistente e inexpli-
cável é com frequência o único sintoma de tromboflebite séptica, embora algumas
pacientes relatem dor pélvica. O exame físico, a ultrassonografia e a tomografia com-
putadorizada são frequentemente negativos. A febre continuada sem origem conheci-
da, apesar de vários dias de antibioticoterapia, sugere tromboflebite séptica. A terapia
com heparina fornece tratamento eficaz e confirma o diagnóstico.
Placenta Acreta
Ocorrência de placenta prévia e parto cesáreo anterior, o risco de placenta acreta é de
24%; esse risco continua a aumentar para aproximadamente 67% com placenta prévia
Histerectomia Puerperal
Indicações para histerectomia puerperal são hemorragia uterina rebelde ao tratamen-
to, laceração uterina que resulte em reparação instável, placenta acreta, lesão dos prin-
cipais vasos pélvicos, grandes miomas e carcinoma avançado de colo. Complicações de
histerectomia puerperal são mais comuns nos procedimentos de urgência e incluem
hemorragia e tempo de anestesia, acrescidas de infecção, transfusão de sangue e efei-
tos psicológicos da infertilidade imprevista. Obstetras que não realizam histerectomia
devem ter um profissional de referência para casos de urgência.
Controvérsias
Monitorização Fetal Eletrônica (MFE)
O uso generalizado de MFE e o aumento da taxa de parto cesáreo em resposta
aos padrões cardíacos fetais detectados com MFE não diminuíram a morbidade do
recém-nascido relacionada à acidose, nem reduziram a incidência de paralisia cere-
bral. Informações adicionais estão disponíveis no Capítulo Vigilância Fetal Intraparto.
Apresentação Pélvica
O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas recomenda que a decisão sobre
o modo de parto dependa da experiência do médico. Parto por cesariana será o modo
568 ALSO
preferido para a maioria dos médicos por causa da menor habilidade para partos va-
ginais pélvicos.74,75
Mulheres com apresentação fetal pélvica com 37 semanas de gestação devem ser
encorajadas a se submeter à versão cefálica externa se não tiverem contraindicação.76,77
Informações adicionais estão disponíveis no Capítulo Apresentações Anômalas e Ges-
tações Múltiplas.
Alguns médicos optam por realizar uma cesariana em pacientes com outra indica-
ção para cirurgia (por exemplo, desejar esterilização). Vários métodos simples que
resultam em oclusão tubária estão disponíveis. O parto cesáreo por causa do segundo
procedimento cirúrgico deve ser desencorajado por causa do aumento da morbidade
e permanência hospitalar.
A responsabilidade primária do cirurgião é o parto operatório seguro, mesmo
quando a patologia é encontrada. A remoção de anexos deverá ser reservada para casos
de óbvia malignidade ou possibilidade de torção. A maioria dos miomas regride após
a gestação e são altamente vascularizados, portanto, a remoção não deve ser tentada, a
menos que tenha pedículo e é prevista a possibilidade de torção. O risco de apendicite
aguda em uma mulher é de aproximadamente 6,7%.78 Portanto, a remoção eletiva de
rotina do apêndice no momento do parto cesáreo não é indicada.
Macrossomia
Litígio
As preocupações com o risco de responsabilidade têm efeito importante na disposição
dos médicos e das instituições de saúde em oferecer uma prova ou teste de trabalho
de parto.7 Essas preocupações decorrem da percepção de que eventos catastróficos as-
sociados à prova de trabalho de parto poderiam levar a reivindicações compensatórias
com vereditos desfavoráveis à medicina e sujeitos à subjetividade e à falta de conhe-
cimento especializado de quem julga, mesmo quando baseados na opinião de peritos
e independentemente da adequação do consentimento informado. Claramente, essas
questões de negligência médica afetam os padrões de prática entre os profissionais
médicos e as instituições e elas desempenharam um papel importante na gênese das
diretrizes de 1999 do ACOG.
Estudos tentaram modelar o efeito da jurisprudência nos Estados Unidos nas ta-
xas de primeiro parto cesáreo e parto cesáreo subsequente, mostrando que melhorias
modestas no clima médico-legal podem resultar em aumentos na frequência de parto
vaginal após parto cesáreo e reduções na incidência de parto cesáreo.7 Essas análises
sugerem que o limite de danos não econômicos e reduções nos custos de seguros
profissionais por negligência médica resultariam em menos cesarianas.
Muitos profissionais de saúde assumem incorretamente que a realização de uma
cesariana ajuda a evitar litígios por negligência. O desempenho de um parto cesáreo
não oferece proteção contra alegações de negligência médica se um bebê tiver pro-
blemas. A equipe de advogados da paciente pode mudar o foco para outros problemas,
como o parto cesáreo que não é realizado mais cedo ou a falta de exames pré-natais.
570 ALSO
muito apropriada para cesáreas de emergência que ocorrem para indicações tais como
sofrimento fetal, prolapso de cordão, descolamento da placenta ou requerendo anes-
tesia geral. Embora os ensaios clínicos randomizados ou de coorte não tenham sido
realizados, uma série de casos de 144 partos de parto cesáreo centrado na mulher e
criança mostrou bons resultados.86 Há evidências que não suportam a necessidade da
presença de um pediatra em um parto cesáreo de termo, ocorrendo por indicações
maternas. As evidências apoiam os benefícios do contato imediato pele a pele e do
clampeamento tardio do cordão umbilical para partos vaginais.87-89
Histerotomia de Reanimação
A cesariana na sua origem é descrita como um procedimento post-mortem para en-
terrar a mãe e o bebê separadamente. Houve mudança total e radical no objetivo
da cesariana, especificamente na parada cardiorrespiratória para reanimação materna,
com a recomendação atual que todos os médicos devidamente qualificados devam ser
capazes de executar uma histerotomia de reanimação que poderia salvar duas vidas.90
Desde 1990, a American Heart Association recomenda em mulheres grávidas que não
respondem aos esforços de reanimação.91 Se prontamente realizado, a histerotomia
de reanimação melhora a sobrevida infantil e materna. As melhores taxas de sobrevi-
vência são obtidas quando o procedimento é realizado em 4 minutos após ineficaz
circulação materna. Ainda vale a pena prosseguir o parto após 4 minutos, porque a
mortalidade fetal é de 100% se nenhuma ação for tomada. Para os Estados Unidos
da América, não é necessário obter o consentimento dos membros da família antes
de executar o procedimento. Informações adicionais estão disponíveis no Capítulo
Reanimação Materna e Trauma.
A histerotomia de emergência é indicada quando todos esses requisitos são aten-
didos:
Profissionais com habilidade e equipamentos adequados para executar o pro-
cedimento.
A mãe não responde com retorno da circulação espontânea em 4 minutos.
Gestação única de 20 semanas ou mais.
Instalações e pessoal adequados estão disponíveis para cuidar da mãe e do bebê
após o procedimento.
Embora não haja nenhuma diferença entre o parto cesáreo planejado e o vaginal,
existe aumento significativo do risco de placenta prévia, placenta acreta, placenta
prévia com acretismo e necessidade de histerectomia puerperal após o segundo parto
cesáreo.71 Enfatiza-se a necessidade de considerar o número total de gestações pla-
nejadas ou esperadas pela mãe, bem como se a cesariana sob solicitação materna foi
discutida durante a primeira gravidez, com o alerta de que muitas gestações não são
planejadas.93 Esses também são fatores que podem ser influenciados pela paridade e
pelo tamanho planejado da família. Cicatrizes uterinas colocam as mulheres em risco
aumentado de ruptura uterina em gestações subsequentes.92,94
Para aqueles que consideram famílias maiores, TOLAC pode evitar futuras conse-
quências maternas93, tais como histerectomia, lesão intestinal ou lesão da bexiga, trans-
fusão, infecção95 e placentação anormal, como placenta prévia e placenta invasiva.72
572 ALSO
O uso das calculadoras VBAC atualmente disponíveis não é recomendado. Elas
geralmente subestimam a probabilidade de sucesso do VBAC.99 Na realidade, a su-
bestimação do sucesso será ainda maior, pois a definição de trabalho ativo mudou
de 4cm para 6cm desde a conclusão desse estudo de validação.99-102
Preocupações de Segurança
Sessenta por cento a 80% das mulheres com cesariana anterior podem experimentar
um parto vaginal bem-sucedido com cesariana anterior.92 A vantagem disso é a dimi-
nuição do risco materno para mortalidade, perda de sangue, risco de transfusão, risco
de tromboembolismo e risco de infecção e período de recuperação mais rápido com a
diminuição da permanência hospitalar.
O parto cesáreo eletivo repetido e o vaginal planejado após o parto para mulheres
com cesariana prévia estão associados a benefícios e malefícios. Os dois principais
riscos de TOLAC são deiscência uterina e/ou ruptura.103
Ruptura
Em contraste com deiscência, ruptura uterina é uma separação através da cicatriz,
clinicamente sintomática e requer intervenção cirúrgica. A ruptura uterina ocorre em
aproximadamente 0,7% das mulheres com cesariana prévia.94
O risco de mortalidade perinatal ou encefalopatia hipóxico-isquêmica durante o
TOLAC é de aproximadamente 1 em 2.000.105 Esse risco é semelhante ao risco para
bebês de mulheres durante o primeiro parto.106
A bradicardia fetal é a manifestação clínica mais comum e característica de ruptura
uterina, ocorrendo em 33 a 70% dos casos sintomáticos.107 Desacelerações variáveis po-
dem preceder a bradicardia, mas não há um padrão de FCF de ruptura. A mortalidade/
morbidade é maior em fetos que sofrem extrusão completa para o abdome materno.108
As evidências sugerem que a maioria das mulheres com um parto cesáreo anterior
com incisão transversal baixa são candidatas e devem ser aconselhadas sobre o VBAC
e receber o TOLAC.
Estudo de 2006 não mostrou aumento do risco de ruptura uterina (0,7% versus
0,9%; p = 0,37) em mulheres com parto cesáreo anterior.109 Além disso, a probabilida-
de de alcançar o VBAC parece ser semelhante para mulheres com um ou mais partos
cesáreos.93
Mulheres com alto risco de complicações (por exemplo, incisão clássica ou em T
prévia, ruptura uterina prévia ou cirurgia uterina transfundal extensa) e aquelas em
quem o parto vaginal é contraindicado (por exemplo, placenta prévia) não são nor-
malmente candidatas a TOLAC planejado.93
Indução
574 ALSO
Analgesia Regional
A analgesia peridural para o trabalho de parto pode ser usada como parte do TOLAC
e o alívio adequado da dor pode incentivar mais mulheres a escolher o TOLAC.93,111
Nenhuma evidência de alta qualidade sugere que a analgesia peridural seja fator
de risco causal para um TOLAC malsucedido.112 Além disso, não se deve esperar
que a analgesia regional eficaz oculte sinais e sintomas de ruptura uterina, principal-
mente porque o sinal mais comum de ruptura são as alterações do traçado cardíaco fetal.
Nível de Cuidado
Após a consideração dos dados da Conferência dos Institutos Nacionais de Desenvol-
vimento de Consenso em Saúde sobre Parto Vaginal Após Cesariana, o ACOG decla-
rou que um teste de parto após cesariana anterior deve ser realizado em instalações
capazes de partos de emergência.93
Parto Cesáreo 5 7 5
TABELA 10 Fatores que influenciam o risco de ruptura uterina
Diminuição do risco de ruptura uterina (< 1%)
Parto vaginal prévio
Incisão baixa no segmento uterino de parto cesáreo anterior
Parto prematuro
Fechamento em duas camadas da incisão uterina (dados sugestivos, mas não
conclusivos)
Cicatriz uterina desconhecida sem alto risco de incisão clássica prévia
576 ALSO
Além disso, o ACOG afirmou que, após o aconselhamento, a decisão final de se
submeter ao TOLAC ou a uma cesariana repetida deve ser tomada pela paciente em
consulta com seu médico.93 Os riscos e os benefícios potenciais do TOLAC e da ce-
sariana eletiva devem ser discutidos. A documentação do aconselhamento e o plano
de manejo devem ser incluídos no prontuário médico.
A diretriz da AAFP sobre o planejamento para o parto vaginal após cesariana
declara que “Todas as mulheres que desejam TOLAC/VBAC devem ser aconselhadas
sobre as capacidades de seu ambiente de parto específico e as mulheres consideradas
com alto risco de complicações com o parto e o parto vaginal após cesariana ou ce-
sariana repetida devem ser encaminhadas para serviços capazes de tratar efetivamente
os problemas à medida que se desenvolvem.”
As Diretrizes VBAC da Rede Perinatal de Melhoria da Qualidade do Norte da
Nova Inglaterra (NNEPQIN) ofereceram um sistema baseado em risco em três níveis
com sugestões de manejo (Tabela 11).115 Este sistema teria de ser modificado local-
mente, de acordo com o nível de recursos e à medida que surgem novos dados.
Classificação
Condição/complicações Abordagem
da paciente
Baixo risco Um ou 2 partos cesáreos Sem intervenções adicionais
transversais baixos anteriores
Trabalho de parto espontâneo
Não há necessidade de
condução
Sem anormalidades repetitivas
na FCF
Pacientes com VBAC prévio
bem-sucedido apresentam
risco especialmente baixo. No
entanto, seu status de risco
aumenta da mesma forma que
outras pacientes de baixo risco
Risco médio Indução do parto Parto cesáreo disponível no
Aumento da ocitocina hospital durante a fase ativa do
< 18 meses entre parto cesáreo trabalho de parto
anterior e parto atual Uma sala de operações e equipe
3 ou mais partos cesáreos está disponível ou existe um plano,
transversais anteriores se o parto imediato for necessário
A equipe de anestesia está
presente nas instalações durante a
fase ativa do trabalho de parto
Existe um protocolo estabelecido
para serviços de anestesia durante
horários de pico
Alto risco Desaceleração clinicamente Obstetra disponível e exclusivo
significativa recorrente para a paciente
(desacelerações variáveis, tardias A equipe de anestesia está
ou prolongadas da FCF) que não presente e disponível
responde à intervenção clínica Sala e equipe disponíveis
Sangramento significativo de
origem uterina
Novo início de intensa dor
uterina
2 horas sem alteração cervical na
fase ativa, apesar do trabalho de
parto adequado
FCF = frequência cardíaca fetal; VBAC = parto vaginal após cesariana.
Informações da Rede Perinatal de Melhoria da Qualidade do Norte da Nova Inglaterra. Diretrizes VBAC. Atualizado em
2011. Disponível em http://www.nnepqin.org/documentUpload/NNEPQIN_VBAC_Guideline_revised_2011.docx.
578 ALSO
Resumo
O parto cesáreo é o procedimento operatório mais comum nos Estados Unidos e
foi responsável por aproximadamente um terço de todos os partos. O parto cesáreo
pode envolver morbimortalidade significativa, a qual pode ser minimizada por cui-
dados pré-operatórios, intraoperatórios, pós-operatórios e cuidadosa seleção das pa-
cientes. Todos os médicos devem estar familiarizados com o diagnóstico e tratamento
das complicações pós-cesárea. Esforços para reduzir a taxa de parto cesáreo primário
e aumentar o acesso ao TOLAC são importantes para a saúde pública devido ao au-
mento da morbimortalidade do parto cesáreo de repetição.
A aplicação de práticas baseadas em evidências ao parto cesáreo e apoio à se-
gurança do paciente na sala de cirurgia e no pós-parto pode diminuir a morbidade
operatória.
Classificação
Recomendação clínica Referências
da evidência
Classificação
Recomendação clínica Referências
da evidência
580 ALSO
C) R ecomendação baseada em consenso, prática usual, opinião, evidência orientada para
a doença ou série de casos para estudos de diagnóstico, tratamento, prevenção ou
triagem.
A evidência orientada à paciente mede os resultados que são importantes para os
pacientes: morbidade, mortalidade, melhora dos sintomas, redução de custos e qualidade
de vida. As evidências orientadas a doenças medem os desfechos intermediários,
fisiológicos ou substitutos que podem não refletir a melhora nos resultados da
paciente (por exemplo, pressão arterial, exames de sangue, função fisiológica, achados
patológicos).
TOLAC = tentativa de parto após cesariana; VBAC = parto vaginal após cesariana.
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590 ALSO
Crise no Nascimento
OBJETIVOS
Fundamentos
A crise no nascimento inclui, mas não se limita a:
Perda espontânea da gestação no primeiro e segundo trimestres.
Natimortos.
Morte neonatal (óbito do bebê nas primeiras quatro semanas de vida).
Diagnóstico de anormalidade compatível com a vida.
Diagnóstico de anormalidade incompatível com a vida.
Doença crítica materna ou morte durante o período periparto.
591
A crise no nascimento também afeta aqueles que oferecem cuidados para estas
mulheres e seus familiares.
Profissionais de saúde podem experimentar significante trauma emocional.7,8 En-
quanto a profundidade e o nível da perda geralmente não são tão profundos como os
da família, a situação pode ter um impacto significante no bem-estar do profissional
de saúde, especialmente se perdas múltiplas são vivenciadas ao mesmo tempo.
Nos cuidados para mulheres e suas famílias que vivenciem uma crise no nasci-
mento, os profissionais de saúde devem procurar oferecer muita atenção, compaixão e
empatia ao cuidar. Acusações e culpa nunca ajudam e de fato evitam ou atrasam uma
resolução positiva do processo de lidar com o luto e a perda. Compaixão, condução
humanística psicossocial dos resultados adversos do nascimento são imperativos para
todos os profissionais de assistência maternos.9
A habilidade do profissional de saúde em oferecer este cuidado pode ser prejudi-
cada pelo desapego clínico com frequência requerido na prática diária e na ausência
de suporte emocional por colegas.8,10 Não é infrequente para um médico atarefado
ou uma obstetriz ajudar no nascimento de um natimorto e então correr para outro
nascimento de um bebê saudável ou retornar ao consultório para atender a agenda
lotada, sem tempo para processar o luto e a perda vivenciados por eles.
Este capítulo irá abordar as necessidades dos pais e membros da família após uma
crise no nascimento e recomendará meios nos quais os profissionais podem ajudar os
pais e oferecer cuidados efetivos. Recursos para os profissionais também serão abor-
dados e sugestões de como oferecer o melhor suporte entre eles durante e após a crise
no nascimento.
592 ALSO
circunstâncias, contexto e necessidades demonstradas pela família. Todavia, mesmo
após o aconselhamento, algumas famílias relatam que receberam o apoio emocional
inadequado do seu profissional de saúde.12,13 Nas diretrizes para natimorto e morte
fetal intrauterina tardia (IUFD, do inglês intrauterine fetal birth), o The Royal College of
Obstetrics and Gynecology, no Reino Unido, reconhece que muitas estratégias têm sido
descritas para abordar más notícias, e que um componente crucial é determinar os
sentimentos emocionais e necessidades da mãe e de seu time de apoio.14 A abordagem
empática procura identificar os pensamentos das mulheres e os desejos, porém ten-
tando evitar manipulá-los.15
Mulheres e parceiros(as) geralmente desejam apoio dos seus profissionais de saúde.
Em um estudo sobre morte neonatal, as mulheres se sentiram tristes quando elas per-
ceberam que receberam pouco apoio dos profissionais, particularmente relacionado
ao período que poderiam ter ficado com seus bebês. Ficaram também desapontadas
quando não tiveram reconhecidas nem validadas suas condições de mães. Essas mu-
lheres também se sentiram magoadas quando os profissionais de saúde faltaram com
respeito ou quando elas se sentiram abandonadas por aqueles que eram entendidos
como sendo os profissionais de cuidados. Estes sentimentos transformaram-se em
raiva quando elas eram tratadas com indiferença ou os profissionais eram insensíveis
diante das suas perdas.7
Pode ser útil para os profissionais de saúde entender como os pais processam
e manifestam seu luto. Drotar, Baskiewicz e Irvin16 criaram um modelo que ajuda
a descrever a adaptação dos pais ao nascimento de uma criança com malformação
congênita. Os principais sentimentos no modelo vivenciado pelos pais são: choque,
negação, tristeza, raiva, equilíbrio e reorganização.16 A maior parte dos pais irá expe-
rimentar estes sentimentos, em diferentes períodos de tempo, em seguida à crise no
nascimento, mas o tempo que levarão navegando pelo complexo processo de luto irá
diferir em cada caso.4 Muitas das dificuldades deste modelo serão úteis também na
abordagem da morte neonatal.
Existe também o que pode ser discordante no enlutamento onde o luto dos pais é
igual, mas também diferente. Isto pode criar tensão e disruptura na relação em seguida
à crise no nascimento. Isso é importante porque a habilidade da mãe em conversar
com o pai sobre o bebê natimorto ainda no período pós-parto tem demonstrado re-
sultados na redução do risco de depressão materna.17
É frequentemente difícil para os pais saberem como ajudar seus filhos a lidar
com a morte de um irmão. Os pais com frequência tentam manter o equilíbrio en-
tre o luto pela perda de sua criança, tentando manter a normalidade de vida diária
para os outros irmãos.18 O profundo luto dos pais pode causar negligência não in-
tencional dos outros irmãos e falhar para dar atenção e conforto adequadamente.19
Pode causar sentimentos de culpa na(s) criança(s) de mais idade. A criança talvez,
mesmo em idades mais novas, sinta a mudança na dinâmica familiar, o que pode
Crise no Nascimento 5 9 3
causar confusão e sentimentos de insegurança.20 O luto que um irmão experimenta
pode ser tão intenso quanto o dos pais e ainda muitos pais estão completamente
despreparados e não têm recursos que os auxiliem.21 O luto não resolvido pode
durar por muitos anos.21
Outros membros da família, incluindo avós, também podem sofrer com a aflição
e o luto após uma perda gestacional.20 Os avós lamentam não apenas a perda de seu
neto, mas também podem sentir tristeza e sensação de impotência com a intensidade
da tristeza dos seus filhos.22 Os avós podem ter ideias diferentes dos filhos adultos de
como processar a dor e acreditam que falar com as crianças sobre morte seja prejudi-
cial. Pais e seus parentes podem estar um pouco perdidos a respeito de como ajudar
uns aos outros, resultando em perturbações em suas relações.23
Estudo realizado por Roose e Blanford em 201120 demonstrou evidência que pro-
gramas de apoio à perda perinatal pode ajudar todos os membros da família, incluindo
irmãos e avós, a entender o processo de luto e lidar melhor com a perda da gravidez.
A orientação e o apoio oferecidos por uma equipe de profissionais são positivamente
aceitos pelos avós.
O capítulo do ALSO sobre Assistência Obstétrica Segura descreve os quatro “Cs”
que compreende compaixão, competência, confissão e caracterização (charting em
inglês) utilizados quando um resultado adverso ou um erro médico ocorre. Com
base nesta abordagem, as ações do profissional à paciente e sua família poderiam ser
descritas para o atendimento de mulheres e famílias após uma crise no nascimento:
594 ALSO
Diretrizes para o manejo inicial dos resultados adversos
Reunir-se com a mulher e seu parceiro o mais rápido possível.
Compartilhe as informações com ambos os pais juntos, se possível.
Expressar sentimentos para a perda – por exemplo, “Eu sinto muito pela perda de seu bebê”.
Lembre-se que dizendo “Lamento que isso aconteceu” no caso de asfixia neonatal ou nascimento
traumático não são considerados confissões de culpa.
Envolver os membros da família como apropriado para apoio psicossocial e partilha de
informações.
Sente-se ao nível dos olhos.
Não tenha medo de contato fisico, se aceito pelo(s) pai(s).
Não se preocupe em exibir um pouco da emoção que você está enfrentando.
Evitar jargão médico.
Capacitar e apoiar os pais para expressar seus sentimentos.
Reconhecer que a culpa e autoculpa são comuns.
Rever os fatos, mas reconhecer seus limites (não tenha medo de dizer “eu não sei por que”).
Evitar atribuir a culpa e/ou rótulos a diagnósticos prematuros.
Reconhecer que a maioria dos pais tem que se apegar antes de deixar ir e que luto paterno
pode ser igual, mas expressado de forma diferente (reações maternas são baseadas em
grau de vinculação pré-natal, reações paternas são baseadas em conexão com a gravidez, uma
sensação de paternidade e da imagem da criança).
Incentivar os pais a ver e segurar a criança. No caso de um lactente gravemente deformado
segurando o bebê completamente enrolado em um cobertor e expondo um pé ou mão pode
ser suficiente.
Falar sobre, e valorizar os aspectos normais da criança.
Permitir que o(s) pai(s) demore(m) o quanto precisarem neste processo.
Oferecer lembranças, como pegadas, cabelos, fotografias (se inicialmente os pais rejeitarem, eles
podem retornar em uma data posterior para solicitarem. Um processo de armazenamento seguro é
necessário). Isto é importante para tirar fotografias que são lisonjeiras – fotos em preto e branco
muitas vezes funcionam bem. Fotos de mãos e pés do bebê ou dos pais que o seguram
envolto são frequentemente estimadas pela família.
Planejar o tempo de reuniões de acompanhamento e permitir que os membros da família
participem se os pais assim o desejarem.
Realizar avaliações contínuas sobre as necessidades da família.
Estar disponível à paciente e às preocupações emocionais da família.
Envolver os assistentes sociais/conselheiros especializados em luto com as crianças para ajudar
a apoiar os pais e outros irmãos.
Dar recursos e orientação para preparar o funeral/planos de serviço memorial.
Monitorar a saúde fisica, social e emocional materna e referir a outros profissionais se
necessários.
Tratar de questões financeiras e referir aos serviços sociais, se possível.
Antecipar o sofrimento no fenômeno do aniversário e explicar para as famílias que este é provável
que ocorra
Crise no Nascimento 5 9 5
Uma lista institucional de verificação padronizada deve ser utilizada para garan-
tir que todos os aspectos dos cuidados sejam consistentes e adequadamente geridos,
incluindo lembranças para uma caixa de memórias, fotografias, certidões de óbito,
arranjos do funeral e testes apropriados feitos para tentar esclarecer a perda perinatal.25
Perda neonatal
A perda neonatal é definida como a morte de um bebê após o nascimento vivo nos
primeiros 28 dias (quatro semanas) de vida.29 As respostas emocionais dos profissionais
à morte neonatal que ocorre logo após o nascimento, bem como as etiologias da per-
da e avaliação médica têm muitas semelhanças.
O óbito neonatal precoce (nos primeiros sete dias) pode refletir um resultado
imprevisto do processo do nascimento (por exemplo, a encefalopatia neonatal), acon-
tecimentos pós-natal (por exemplo, sepse) ou a ocorrência de anomalias secundárias e
letais que podem ou não ter sido conhecidos antes do nascimento.
Prevenção
É essencial que comecemos a compreender melhor as causas subjacentes de natimor-
to. Causas médicas, tais como diabetes, infecções, anomalias congênitas, obesidade,
tabagismo, idade materna avançada, disfunção placentária, pré-eclâmpsia, ou outras
condições que inibem o crescimento fetal, estão ligadas a perda de gravidez precoce,
596 ALSO
aborto e natimorto.14 Mulheres com história de nascimento prematuro e/ou restrição
de crescimento intrauterino têm maior risco de morte fetal em subsequentes gravi-
dezes.30,31 Mulheres que vivem à margem da sociedade ou de determinados grupos
étnicos também estão em maior risco.32 O risco deve ser discutido com os pais no
período de preconcepção e continuamente durante o período pré-natal.
Os prestadores de serviços e instituições precisam avaliar e auditar os cuidados
prestados, documentar e pesquisar resultados e alternativas, para que, no futuro, os
riscos possam ser facilmente identificados e medidas preventivas desenvolvidas.
Crise no Nascimento 5 9 7
prostaglandinas para o amadurecimento cervical e indução após o aconselhamento
cuidadoso em relação ao risco materno.35 A continuidade dos cuidados durante este
período é muito importante para a maioria das famílias.
A morte neonatal devido à asfixia durante o parto ou doença neonatal imprevista
provavelmente será precedida por cuidados urgentes e emergentes para o bebê. Neste
cenário, os progenitores podem assistir a uma tentativa de reanimação ou ser excluídos
enquanto o bebê é levado para uma sala de tratamento ou de uma unidade de terapia
intensiva para tratamento. Na ausência de um diagnóstico pré-natal das anormalida-
des, esta morte frequentemente virá como completa surpresa e, como no caso de um
natimorto, compaixão, tempo e compreensão adequados são os principais componen-
tes de cuidados imediatos.
A comunicação com todo time de assistência, incluindo obstetrizes, enfermei-
ros, apoio religioso, médicos (incluindo os residentes), assistentes sociais e demais
profissionais, é importante para que informações oferecidas à família sejam consis-
tentes e precisas. Um protocolo padronizado para fornecer tratamento consistente,
especialmente em unidades que raramente lidam com casos de natimortos, é be-
néfico.30 Identificar o caso de perda por meio de marcação na porta do quarto da
mulher com um sistema padronizado vai ajudar toda a equipe de cuidados de saúde,
incluindo pessoal auxiliar, para terem consciência da necessidade de sensibilidade ao
entrar no quarto.38
Ter tempo suficiente para segurar e ficar com o bebê é benéfico na recuperação
emocional após a morte fetal, após 37 semanas. O benefício de segurar um natimorto
entre 28 e 37 semanas é incerto e exige mais estudo, embora a experiência demonstre
que a maioria dos pais se beneficia deste ato, se for realizado com sensibilidade e de
forma solidária.39
598 ALSO
Estudos fetais
Análise do líquido amniótico
Necropsia (com autorização dos pais)
Fotografias do feto
Análise do cariótipo fetal (sangue do cordão umbilical, placenta e tecido fetal)
Espécime fetal interno: (bloco 1cm x 1cm da placenta tomada abaixo do local de inserção do
cordão). Segmento de 1,5cm do cordão umbilical
Amostra de tecido interno, tais como junção costocondral ou patela
Amostras para serem colocadas em tubo estéril
Estudos maternos
Avaliação genética pré-natal (amniocentese no momento do diagnóstico de anormalidades
ou natimorto)
Bateria de exames para a trombofilia
Exame da placenta
Crise no Nascimento 5 9 9
risco de morte fetal em uma gravidez subsequente, após a 20a semana, varia entre 7,8
e 10,5 em cada 1.000.34
Os riscos de indução precoce de trabalho de parto para uma mulher com uma
gravidez subsequente sem complicações, na sequência de um natimorto inexplicável
antes de 39 semanas completas de gestação, devem ser ponderados contra os riscos
reais de um nascimento prematuro antecipado ou tardio.44 Embora tenha sido uma
prática comum induzir antes de 39 semanas, não é mais recomendado com base em
workshop realizado em 2011 e patrocinado pelo Instituto Nacional de Saúde Infantil e
Desenvolvimento Humano e da Sociedade de Medicina Materno-Fetal.45
É razoável considerar ultrassons seriados de crescimento, com início em 28
semanas se houver discrepância na altura uterina ou outra preocupação sobre o
crescimento fetal, pois a restrição de crescimento intrauterino está associada a um
risco de morte fetal de 21,8 por 1,000.48 ACOG recomenda iniciar a vigilância fetal
a partir das 32 semanas de gestação ou uma a duas semanas mais cedo antes da morte
fetal anterior.23 Há uma estimativa de 1,5% da taxa de prematuridade iatrogênica
para uma intervenção baseada em um resultado falso-positivo durante a vigilância
pré-natal.47
A amniocentese para avaliar a maturidade pulmonar fetal para permitir o parto
antes das 39 semanas não é abordagem recomendada, uma vez que existem outros
sistemas de órgãos a serem considerados antes de iniciar uma indução, no entanto, se
um prestador de cuidados de maternidade e sua paciente optarem por fazer parto <
39 semanas, ela pode ser considerada.45,46
Há evidências de que a diminuição dos movimentos fetais estão associados a con-
sequências adversas, por conseguinte, é necessário educar a mulher para estar ciente
dos movimentos fetais e envolvê-la na monitorização de seu bebê.
Infelizmente, não há boas evidências que demonstrem que a monitorização ma-
terna dos chutes fetais impeça um natimorto.48 O apoio emocional será um com-
ponente essencial de qualquer cuidado. Consultas pré-natais mais frequentes, não
obstando necessariamente recidivas, podem oferecer garantias. É importante ouvir
as preocupações e ajudar as mulheres a direcionar suas ansiedades, especialmente no
final da gravidez.
600 ALSO
das interrupções de segundo trimestre são terminações completadas por D&E, no
entanto, no final do segundo trimestre a indução médica torna-se o procedimento
mais comum para anomalias fetais.49 Os benefícios da indução do parto são a ca-
pacidade de avaliar melhor a anomalia fetal e a habilidade para o(s) progenitor(es)
ver(em) e segurar(em) o bebê. A análise cromossômica pode ser feita em produtos
obtidos a partir de D&E.49
O misoprostol, como um único agente administrado por via vaginal ou por via
sublingual, é uma forma de indução eficaz de trabalho de parto após perda no segun-
do trimestre.50,52 O uso de misoprostol para induzir o parto é considerado seguro em
pacientes com uma cesariana prévia com cicatriz segmentar antes de 28 semanas de
gestação.11 A partir de 13 a 17 semanas use 200µg a cada 6 a 12 horas com o potencial
para dobrar a dose de 400µg a cada 6 a 12 horas, se a primeira dose não resultar em
contrações adequadas. Para 18 a 26 semanas começar com100µg a cada 6 a 12 horas
e considerar dobrar para 200µg a cada 6 a 12 horas, se a primeira dose não produzir
contrações adequadas. Em mulheres com cicatriz uterina anterior considerar uma
dose inicial mais baixa e não duplicar após a primeira dose ser administrada.50,52
Embora tenha havido aumento na quantidade de pesquisas sobre os efeitos nos pais
e famílias que enfrentam uma perda perinatal, ainda há poucas pesquisas disponíveis
sobre os efeitos psicológicos do diagnóstico de uma anormalidade e a decisão de in-
terromper a gravidez como resultado. Sem “a divulgação completa” e transparência,
os pais são mal preparados para fazer uma escolha informada sobre a possibilidade
de testar ou não. Antes de prosseguir com o teste, os pais precisam ser cuidadosa-
mente orientados quanto aos limites dos testes e às potenciais escolhas que podem
enfrentar.
O mesmo apoio emocional e aconselhamento devem ser disponibilizados para os
pais que optam por terminar uma gravidez como para aqueles que experimentam a
perda espontânea de um bebê.
602 ALSO
Profissionais de Saúde
Os profissionais de saúde lutam com seus próprios medos que tenham perdido algo
que poderia evitar esse desfecho ou contribuíram diretamente para o resultado. O
montante do apoio que os profissionais precisam para lidar com sua própria dor ou
medos não deve ser subestimado.
Uma série de experiências dos profissionais de saúde, na maior parte de estudos
qualitativos, tem explorado experiências relacionadas com a perda perinatal. Um tema
comum desses estudos é que o pessoal muitas vezes experimenta a culpa, como eles
sentem que seu papel é de salvar vidas.44 A culpa também é interligada e, às vezes,
culpa-se um ao outro por não fazer o suficiente para dar apoio emocional para a
mulher e famílias.62-64 A tristeza foi vista como sendo comum em obstetras após um
natimorto. Incerteza, autoculpa e depressão também foram reações frequentes sofridas
pelo médico.8
Outra resposta comum é a racionalização, em que os colaboradores compartimen-
tam os aspectos difíceis e tristes de seu papel, a fim de gerir mais tarde.44 Este é especial-
mente o caso quando se trabalha em ambientes com muito trabalho. Nesses ambientes,
muitas vezes há pouco tempo para lamentar, reconhecer o evento e avaliar como eles
podem ser afetados.63 Questões pessoais não resolvidas também afetam a maneira dos
profissionais de saúde de lidar consigo próprio e estas precisam ser abordadas.63
Há uma série de estratégias que são úteis para o bem-estar dos profissionais de
saúde. Estas incluem reflexão e revisão; apoio emocional e prático; acesso a servi-
ços de aconselhamento; educação inicial e formação contínua; políticas e diretrizes
institucionais.62
Reflexão e Avaliação
Procurar pessoas para discutir a tragédia e seu impacto pessoal pode ser útil. Reflexão
formal sobre os cuidados da mulher durante a gravidez com os colegas também é
muito importante. Muitos hospitais ou estabelecimentos de saúde terão reuniões de
mortalidade perinatal regular em que o atendimento de mulheres que tiveram uma
morte fetal ou neonatal será discutido. Essas reuniões devem proporcionar um am-
biente seguro e confidencial para o profissional refletir sobre a assistência prestada e
para determinar se algum fator poderia ter sido feito de forma diferente. Mudanças na
política e prática para reduzir o risco de eventos semelhantes que ocorram no futuro
devem ser abordadas.42
O medo de litígios tem sido identificado como uma preocupação dos profissio-
nais de saúde envolvidos nesta área,64 a qual tem de ser reconhecida de modo que não
afete de forma adversa a prática futura.
Os profissionais mais novos podem precisar de orientação para cuidar de famílias que
sofreram uma perda perinatal.59 As famílias que experimentaram a perda perinatal de-
vem ser incluídas na educação e programas de treinamento para a equipe de cuidados
maternos.62,63,66 Isso também inclui treinamento de comunicação e o role playing de
como anunciar a má notícia e expressar condolências adequadamente às famílias pas-
sando pela perda perinatal.67 Deve ser incluído nos programas de treinamento o saber
o que dizer e o ser corajoso o suficiente para falar.65
Há necessidade de dar ênfase aos aspectos emocionais e psicológicos da perda
perinatal e dor, bem como sobre os conhecimentos teóricos de dor.63 Os alunos são
muitas vezes “protegidos” de trabalhar com famílias em situação de perda perinatal; e,
enquanto possa ser útil, por vezes, também significa que esses estudantes têm poucas
habilidades nesta área quando se formam. Os alunos devem ter a oportunidade de
desenvolver a experiência clínica de cuidar do luto dos casais sob supervisão e com
apoio compassivo.62
604 ALSO
Políticas e Diretrizes
Resumo
Crise no nascimento afeta as mulheres e suas famílias, profissionais e equipe obstétri-
ca. Providenciar o manejo destas crises é de grande importância e muitas vezes é um
desafio por causa do trauma emocional, responsabilidade pessoal e medo de litígio. Ao
cuidar de mulheres e suas famílias que experimentam crise no nascimento, os pro-
fissionais de saúde devem procurar fornecer cuidados conscientes, compassivos e de
empatia. Acusações e culpa nunca são úteis e, na verdade, podem impedir ou atrasar
uma resolução positiva no processo de lidar com a dor e a perda.
Os casos associados a este capítulo podem ajudar os profissionais na preparação
para lidar com uma crise de nascimento em seu sistema de saúde.
Crise no Nascimento 6 0 5
O apoio social, como acima mencionado, continua a ser um elemento-chave para
cuidar de uma mulher e sua família passando por uma crise no nascimento. Quando
a crise ocorre fora do ambiente hospitalar, a base deste apoio pode ser da família e da
comunidade. No ambiente hospitalar, os profissionais devem estar cientes de valores
morais, culturais e religiosos, e como eles se aplicam à prestação de empatia e simpatia.
Quando possível, tradutores devem ser utilizados para evitar barreiras na comunicação
e mal-entendidos.
606 ALSO
PATIENT
SAFETY
BUNDLE
Crise no Nascimento
PRONTIDÃO
Para os serviços
Desenvolver um protocolo baseado no serviço que inclua recursos para
apoiar as pacientes, suas famílias (incluindo apoio não familiar) e staff após
um evento materno grave
Estabelecer um time de resposta rápida multidisciplinar do serviço que
integre profissionais de saúde mental e equipe clínica
Educar e treinar os protocolos e realizar simulações nos serviços sobre apoio
a paciente, família e pessoal após um evento materno grave
Desenvolver uma cultura institucional onde pacientes, famílias e equipe são
informados sobre fatores potenciais de risco e encorajados a se manifestar
quando sentem preocupação com o bem-estar e a segurança da paciente
DIAGNÓSTICO
Para a paciente, familiares e profissionais
Realizar uma avaliação oportuna do estado de saúde emocional e mental das
pacientes, seus familiares e profissionais durante e após um evento materno
grave
Desenvolver autonomia e competência entre os profissionais para
reconhecer sinais de distúrbio agudo de estresse em pacientes, seus
familiares e profissionais após um evento materno grave
RESPOSTA
Para todos os eventos maternos graves
Proporcionar oportunamente intervenções eficazes às pacientes, seus
familiares e funcionários durante e após um evento materno grave
Comunicar a condição clínica da mulher para ela própria e sua família,
quando apropriado, após um evento materno grave
Oferecer apoio e recursos às pacientes, seus familiares e profissionais após
um evento materno grave
Crise no Nascimento
RELATÓRIOS/SISTEMA
Para os serviços
Estabelecer uma cultura de huddles para pacientes de alto risco e debriefs
pós-evento para identificar sucessos e oportunidades de melhoria
Realizar uma avaliação multidisciplinar de eventos de morbidade materna
grave para analisar os problemas dos serviços, incluindo as perspectivas das
pacientes sempre que possível
Monitorar resultados e indicadores de processo no comitê de melhoria da
qualidade perinatal (QI)
© 2015 American College of Obstetricians and Gynecologists. É concedida permissão para duplicação e distribuição deste documento, em sua totalidade e sem
modificações, apenas para atividades não comerciais que sejam para fins educacionais, de melhoria da qualidade e de segurança da paciente. Todos os outros usos
requerem permissão por escrito da ACOG.
A padronização dos processos de assistência à saúde e a redução das variações têm mostrado melhorar os resultados e a qualidade da assistência. O Council on
Patient Safety in Women’s Health Care dissemina os pacotes de segurança dos pacientes para ajudar a facilitar o processo de padronização. Este pacote reflete
os avanços clínicos, científicos e de segurança da paciente emergentes a partir da data de emissão e está sujeito a mudanças. As informações não devem ser
interpretadas como ditando um curso exclusivo de tratamento ou procedimento a ser seguido. Embora os componentes de um pacote particular possam ser
adaptados aos recursos locais, a padronização dentro de uma instituição é fortemente encorajada.
O Council on Patient Safety in Women’s Health Care é um amplo consórcio de organizações em todo o espectro da saúde da mulher para a promoção de
cuidados de saúde seguros para cada mulher.
Fonte: Council on Patient Safety in Women’s Health Care. AIM-Supported Patient Safety Bundles. Patient, Family, and Staff Support after
a Severe Maternal Event. Available at https://safehealthcareforeverywoman.org.
608 ALSO
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