Projeto de Mestrado - Viviane OMM

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CAMPUS PONTAL DO PARANÁ


CENTRO DE ESTUDOS DO MAR
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMAS COSTEIROS E OCEÂNICOS
(NÍVEL MESTRADO)

VIVIANE OLIVEIRA MACHADO MUNARO

EVOLUÇÃO MORFOLÓGICA E VARIABILIDADE DE HABITATS NA


DESEMBOCADURA DO ARARAPIRA

PONTAL DO PARANÁ
2023
1. Título do projeto

Evolução morfológica e variabilidade de habitats na desembocadura do Ararapira.

2. Nome do candidato e orientador

Candidato: Viviane Oliveira Machado Munaro

Orientador: Prof. Dr. Maurício Almeida Noernberg

3. Linha de Pesquisa da PGSISCO

Processos naturais e antrópicos em sistemas costeiros e oceânicos

CORPO DO TEXTO

1. Introdução

O litoral global é altamente variável espacialmente e compreende vários tipos


diferentes de relevo costeiro, alguns exemplos são ilhas-barreira, falésias marinhas,
gorduras de maré e deltas de rios (LUIJENDIJK et al., 2018).

A faixa litorânea, corresponde a zona de transição entre o domínio continental


e o domínio marinho, e está sujeita a continua alterações morfodinâmicas originadas
de processos continentais, marinhos e antrópicos (BATISTA et al., 2004). O termo
morfodinâmica, é usado para indicar a união de uma série de processos mutuamente
interdependentes, envolvendo hidrodinâmica, morfologia do fundo e sequência de
alterações (WRIGHT, 1995).

Esses processos são determinantes na formação de distintos tipos de costas,


englobam oscilações do nível do mar e dinâmica erosiva e deposicional associada à
ação das ondas, marés, correntes e dinâmica eólica (BATISTA et al., 2004). Estes
interagem entre si modificando a morfologia, e esta, como em um processo de
resposta modifica os processos geomorfológicos, tornando-se assim um fator que
influencia mudanças subsequentes (BIRD, 2008). Sendo assim, constitui-se de um
ambiente altamente instável, apresentando grande variabilidade temporal e espacial.
(BATISTA et al., 2004).

Especificamente, os problemas de erosão na costa do Paraná estão


relacionados ao deslocamento natural da linha de costa induzido pela dinâmica do
delta de maré vazante. Nas entradas estuarinas, as correntes de maré interrompem
as correntes litorâneas e a areia é transportada para dentro e para fora da costa por
ondas e correntes de maré, com as correntes de maré segregadas em canais de maré
dominados por vazantes e cheias (ANGULO et al., 2016).

Uma linha de costa que apresenta grande instabilidade é localizada no extremo


norte da Ilha do Superagui, área de fronteira entre os litorais dos estados do Paraná
e de São Paulo. Esta região, conhecida como Barra do Ararapira apresenta grandes
mudanças morfológicas há muito tempo.

No Mar do Ararapira e na Ilha do Mel foram identificadas duas mudanças


centenárias a milenares na configuração costeira, mudanças que podem se repetir
nas próximas décadas a séculos (ANGULO et al., 2016).

Segundo Ângulo (et al., 2009) o Mar do Ararapira é um estuário de orientação


nordeste, entre as latitudes 25° 12’ O e 25° 19’ Sul, tem comprimento em torno de 16
km e largura média aproximada de 400 m. Comunica-se com a Baía de Trapandé por
meio do canal do Ararapira e com a Baía dos Pinheiros através do Canal da Draga ou
Canal do Varadouro, escavado na década de 1950.

As barras são ambientes complexos e dinâmicos associados a


estuários e lagunas costeiras. As principais variáveis que
controlam as mudanças são o prisma de maré, a geometria da
barra, a energia das ondas e das marés, o aporte sedimentar,
a configuração dos canais estuarinos ou lagunares, o
arcabouço geológico e o declive da face litorânea e da
plataforma interna (FITZGERALD1 et al. 2001, apud ÂNGULO
et al., 2009).

O canal do Ararapira apresenta uma configuração meandrante, com


profundidades maiores rente às margens côncavas e profundidades menores rente às
margens convexas. Sua desembocadura é bastante dinâmica e, em 2017,
apresentava dois canais principais e um delta de maré (ITALIANI, 2019).

Mihály & Angulo (2002) previram que uma nova barra do Mar do Ararapira iria
se formar no início da década de 2010, e que isso causaria importantes mudanças
nas características e dinâmica do estuário e na morfologia das costas próximas.
Angulo (et al., 2009) alertaram que a mudança da desembocadura deveria diminuir a

1
FitzGerald D.M., Kraus N.C., Hands E.B. 2001. Natural mechanisms of sediment bypassing at tidal inlets, ERDC/CHL CHETN-
IV-30, U.S. Army Engineer Research and Development Center, Vicksburg, MS. 10p. (http://chl.erdc.usace.army.mil)
energia da água circulante no mar de interior das proximidades da vila, de modo que
boa parte de seu território vire mangue.

[...] a barra prosseguiu em seu eterno movimento, em direção


ao sul. Periodicamente, a desembocadura se fechava, para
logo abrir em outro ponto mais adiante, com novo formato.
Nessa trajetória, tudo o que ficava para trás, antes praia, virava
mangue, enquanto aquilo que se encontrava à frente, de
mangue, passava à praia (BAZZO, 2011).

O processo de migração da desembocadura, no entanto, mostrou um padrão


muito mais dependente da orientação do canal em relação à costa e à ação das
correntes de maré em suas margens internas, com pouca influência dos processos de
corrente de deriva litorânea (ITALIANI, 2019).

Em geral, a foz dos rios e as entradas das lagoas migram a jusante, porém, em
alguns casos específicos, as enseadas migram na direção oposta à deriva litorânea
dominante, que é o caso da enseada de Ararapira a entrada migra para o sul, opondo-
se à deriva litorânea para o norte (ITALIANI et al., 2020).

Com o objetivo de acompanhar a evolução da linha de costa através de uma


série temporal, várias técnicas podem ser utilizadas, como a comparação de mapas e
cartas históricas, desde que estes fossem baseados em pesquisas precisas, com a
configuração mostrada em mapas modernos, fotografias aéreas ou imagens de
satélite (BIRD, 2008).

A crescente disponibilidade, resolução e cobertura espacial de imagens de


satélite nos últimos anos, fornecem uma alternativa poderosa para compilação de
dados confiáveis da linha costeira em escala global (LUIJENDIJK et al., 2018).

Assim, com a nova abertura da nova barra do Canal do Ararapira em agosto de


2018, surge a necessidade de se acompanhar, tanto a evolução morfológica causada
pela atuação de novas forçantes na barra, quanto o acompanhamento que esta nova
morfologia costeira influencia nos habitats e nas comunidades biológicas. Pois, esta
rotatividade de paisagens e suas fronteiras podem afetar a diversidade funcional,
fitogenética e a estrutura do tamanho de comunidades biológicas quando comparadas
aos mesmos habitats mais estáveis (O´GORMAN et al., 2017).
2. Objetivos e hipóteses

O principal objetivo desta pesquisa é a avaliação da evolução morfológica da


linha de costa da barra do Ararapira entre os períodos de 2016 (antes da abertura da
nova barra do Canal do Ararapira) a 2024, com base em produtos de sensoriamento
remoto (imagens digitais dos satélites LandSat 8 - OLI) classificando e quantificando
os habitats (manguezais, marismas, restinga e praia arenosa) e avaliando as
mudanças de paisagem que estão ocorrendo no Mar do Ararapira devido a abertura
da nova barra em agosto de 2018, além de realizar previsões quanto ao aumento e
contração em área de cobertura dos habitats, a partir de dados do local e pesquisas
bibliográficas sobre a região de interesse. Paralelamente a este, também avaliar
quantitativamente a diversidade e tamanho das comunidades biológicas da região
estudada.

Sendo uma continuação dos estudos apresentados por Italiani (et al., 2020) que
prevêem estudos sobre a evolução e mudanças induzidas no sistema estuarino e
costeiro devido a abertura da nova enseada do Ararapira.

Assim, como hipótese (H0) tem-se que por ser um ambiente altamente
dinâmico espera-se uma elevada variabilidade espacial na extensão e dominância de
habitats.

3. Breve descrição da área de estudo

Localizada no extremo norte da Ilha do Superagui, área de fronteira entre os


litorais dos estados do Paraná e de São Paulo, esta região conhecida como Mar do
Ararapira é um estuário de orientação nordeste, entre as latitudes 25° 12’ O e 25° 19’
Sul, tem comprimento em torno de 16 km e largura média aproximada de 400 m.
Comunica-se com a Baía de Trapandé por meio do Canal do Ararapira e com a Baía
dos Pinheiros através do Canal da Draga ou Canal do Varadouro, escavado na década
de 1950.

4. Materiais e métodos

Será utilizado técnicas de processamento digital em imagens dos satélites


LandSat 8 (OLI) ou Sentinel 2 com resolução espacial de 15m e 10m respectivamente,
considerando as séries temporais anteriores e posteriores ao evento de abertura da
nova barra do canal do Ararapira, tendo como resolução temporal uma escala anual.
Após o devido georreferenciamento das imagens, será utilizado o QGis 3.16.6 para o
processamento e vetorização. Assim, será usada uma classificação não
supervisionada para definição dos habitats.

5. Resultados esperados

Espera-se resultados documentando de forma científica a evolução morfológica


da costa na região estudada, bem como a alteração dos habitats e comunidades
biológicas, a fim de criar base científica e histórica para futuros estudos sobre a área,
assim como embasar ações de gestão e manejo sobre os impactos gerados na
mudança hidrodinâmica e morfológica nos habitats costeiros. De mesma forma,
espera-se a publicação de pelo menos um artigo científico em periódico de bom fator
de impacto.

6. Cronograma

ATIVIDADE Período (meses)


1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4
Pesquisa
Bibliográfica x x x x x x
Pesquisa em
fonte de
dados de x x x x x x x x x x x x x x x x x x x
imagens de
satélite
Processamen
to das x x x x x x x x x x x x x x x x
imagens
Pesquisa de
Campo x x x x
Apresentaçã
o escrita dos x x x x x x x x x x x x x
resultados
7. Infraestrutura logística e viabilidade

Este trabalho utilizará a infraestrutura instrumental e computacional do


Laboratório de Oceanografia Costeira e Geoprocessamento (LOCG) no Centro de
Estudos do Mar - UFPR. Caso haja necessidade de verificação de campo serão
utilizadas as embarcações do CEM para acessar a área de estudo.

8. Referências

ANGULO, R. J.; SOUZA, M. C.; MULLER, M. E. 2009. Previsão e consequências da


abertura de uma nova barra no Mar do Ararapira, Paraná-São Paulo, Brasil.
Quaternary and Environmentaln Geosciences, 01(2):67-75.

ANGULO, R. J.; BORZONE, C. A.; NOERNBERG, M. A.; QUADROS, C. J. P.; SOUZA,


M. C.; ROSA, L. C. 2016. The State of Paraná Beaches. In: Short, A., Klein, A. (eds)
Brazilian Beach Systems. Coastal Research Library, vol 17. Springer, Cham.

BATISTA NETO, J. A.; PONZI, V. R. A.; SICHEL, S. E. 2004. Introdução a Geologia


Marinha. 2. Ed. Rio de Janeiro: Interciência. 279p.

BAZZO, J. 2011. Mato que vira mar, mar que vira mato: o território em movimento na
vila de pescadores da Barra de Ararapira (Ilha do Superagüi, Guaraqueçaba, Paraná).
cadernos de campo, São Paulo, n. 20, p. 1-360.

BIRD, E. C. F. 2008. Coastal geomorphology : an introduction. 2 ed.

ITALIANI, D. M. 2019. Morfodinâmica da desembocadura do Ararapira SP/PR:


evolução, forçantes e previsões. PhD, Federal University of Paraná, Paraná.

ITALIANI, D., SIEGLE, E., & NOERNBERG, M. A. 2020. Tidal inlet migration and
formation: the case of the Ararapira inlet-Brazil. Ocean and Coastal Research, 68.

LUIJENDIJK, A.; HAGENAARS, G.; RANASINGHE, R.; BAART, F. DONCHYTS, G.;


ARNINKHOF, S. 2018. The State of the World’s Beaches. Scientific Reports. 8:6641.

MIHÁLY P., ANGULO R.J. 2002. Dinâmica da desembocadura do corpo lagunar do


Ararapira. Revista Brasileira de Geociências, 32, 217–222.

NOERNBERG, M. A. 2001. Processos morfodinâmicos no Complexo Estuarino de


Paranaguá: um estudo utilizando dados Landsat-TM e medições in situ. Curitiba – PR.
118 f. Dissertação (Doutorado em Geologia Ambiental – Departamento de Geologia),
Setor de Ciências da Terra da Universidade Federal do Paraná.

O’GORMAN, E.; ZHAO, L.; PICHLER, D. et al. 2017. Unexpected changes in


community size structure in a natural warming experiment. Nature Clim Change 7,
659–663.

WRIGHT, L. D. (1995). Morphodynamics of inner continental shelves. Boca Raton:


CRC Press. 241 p.

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