Tema 7-Empresas Familiares
Tema 7-Empresas Familiares
Tema 7-Empresas Familiares
moldado por fatores econômicos e culturais. Autores como Morgan e Engels contribuíram
para a teoria evolutiva da família, enquanto a escola sociológica francesa, influenciada por
Durkheim, a analisou sob a ótica de tabus sociais, como o incesto.
"A Família e o Industrialismo" examina como a família, ao longo da industrialização, perdeu
sua função produtiva, transformando-se em um espaço moral e emocional. Isso resultou na
ascensão do modelo de família nuclear, que separou trabalho e vida doméstica, alterando a
percepção do trabalho em relação ao consumo e ao projeto de vida familiar.
No subtópico "A Família como Princípio Moralizador e Instrumento de Controle Social", é
discutido como a família, especialmente durante a industrialização, se tornou um meio de
moralização e controle social. A relação entre ética protestante e capitalismo, segundo Max
Weber, evidencia como valores religiosos sustentam a moralidade do trabalho, transformando
o familismo em uma “tecnologia política”.
No segmento "A Família como Princípio de Socialização", a família é vista como essencial na
socialização primária e na estabilização da personalidade, conforme a perspectiva
estruturalista. Autores como Parsons consideram a família nuclear um "tipo ideal" para a
sociedade industrial, que promove um individualismo e uma competição necessários para a
dinâmica de mercado.
"A Família como Princípio Emocional e Afetivo" analisa a família como um espaço de
afetividade, contrastando com a despersonalização da vida pública. Embora ofereça
estabilidade, também pode ocultar tensões e conflitos internos, conforme a teoria crítica.
Por fim, em "A Família e a Cultura Empresarial", o artigo explora como a cultura familiar
influencia a moral do trabalho e as identidades profissionais nas organizações. O "familismo"
se reflete em práticas de gestão, como o paternalismo, onde empresas contemporâneas
buscam promover laços afetivos, embora possam ocultar desigualdades nas relações de
mercado.
O capítulo "A Contribuição das Abordagens Administrativas" analisa as diferentes abordagens
nos estudos sobre organizações familiares, dividindo-as em duas vertentes: uma voltada para a
gestão de empresas familiares e outra para ciências sociais e humanas. Autores como Déry et
al. e Stafford et al. destacam a influência das teorias familiares nessas pesquisas.
Em "A Empresa Familiar", é apresentado um histórico da pesquisa sobre o tema, que
começou na década de 1950 com Carl Roland Christensen, focando na sucessão. O campo se
expandiu nas décadas seguintes, ganhando destaque na década de 1980 com a criação de
associações e publicações relevantes. O interesse por empresas familiares aumentou,
especialmente na literatura anglo-saxônica, com mais de 60 universidades nos EUA
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oferecendo programas sobre o tema. No entanto, ainda falta um corpo teórico unificado, com
mais de 34 definições, sendo a mais aceita a de Donnelley, que relaciona a família e a empresa
ao longo das gerações.
O controle na gestão familiar é um tema central, com fundadores frequentemente mantendo
controle centralizado. Goffee identifica 4 tipos de desenvolvimento organizacional com base
na orientação de mercado e controle. Stafford et al. propõem um modelo de sustentabilidade
que enfatiza a gestão de conflitos para garantir a continuidade da família e da empresa.
O artigo também discute as forças e fraquezas das empresas familiares. As forças incluem
lealdade, responsabilidade social e uma visão de longo prazo, enquanto as fraquezas
abrangem dificuldades em atrair talentos e resistência a mudanças. A relação entre forças e
fraquezas é complexa e deve ser gerida para maximizar os aspectos positivos.
Sobre cultura e confiança, Davel & Colbati (2000) afirmam que a cultura nas empresas
familiares é moldada pelo fundador, refletindo relações baseadas na confiança, que muitas
vezes substituem contratos formais. Dyer (1988) identifica padrões culturais distintos, desde
paternalistas até laissez-faire e participativas, cada um com diferentes visões sobre a natureza
humana. A confiança, fundamentada em uma história comum e laços emocionais, se torna um
elemento crucial, funcionando como um substituto para acordos explícitos.
O texto discute "A Questão da Mudança, do Desenvolvimento e da Profissionalização" nas
empresas familiares, enfatizando uma visão evolucionista que analisa como as famílias
passam por estágios ao longo do ciclo de vida, influenciados por eventos como casamento e
divórcio. Pesquisadores como Kepner e Gersick destacam a interdependência entre os ciclos
de vida familiar e empresarial, com o modelo tridimensional de Gersick mostrando como os
subsistemas de família, empresa e propriedade estão interconectados.
A profissionalização é vista como um estágio inevitável para as empresas familiares, que, ao
enfrentar desafios como a sucessão, tendem a passar de uma gestão pessoal para uma
administração mais racional e planejada. A temática da sucessão envolve múltiplos
stakeholders, e Handler (1991) identifica 3 estágios críticos: desenvolvimento do herdeiro,
seu envolvimento com a empresa e sucessão da liderança. O relacionamento entre o atual
dirigente e o sucessor é vital, sendo o treinamento mais pessoal do que formal. O processo de
sucessão se divide em 3 áreas principais: planejamento das atividades de sucessão,
relacionamentos pessoais que enfatizam confiança e comunicação e preparação dos herdeiros
em habilidades administrativas e conhecimento do negócio.
O artigo também aborda "Flexibilidade, Inovação e Mudança" nas organizações familiares,
sugerindo que aquelas que buscam crescimento rápido e são menos burocratizadas se adaptam
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Os três artigos seguintes são estudos de caso em empresas familiares e todos utilizaram o
modelo tridimensional proposto por Gersick et al. (1997, 2006): família, propriedade e gestão,
sendo que o artigo Silva Júnior et al. (2013) adaptou tal modelo ao incluir aspectos como
características, histórias e valores familiares.
O artigo de Davel et al. (2000) teve por objetivo compreender como a Organização Odebrecht
evoluiu da condição de empresa familiar para um tipo de empresa familiar profissionalizada.
Como comentado acima o artigo foca na teoria do desenvolvimento das empresas familiares,
especialmente no modelo de desenvolvimento tridimensional de Gersick et al. (1997), que
sugere que essas empresas passam por diversas etapas de transformação e explora, em seu
referencial, a Teoria de Ciclo de Vida.
Três grupos principais de pesquisa sobre empresas familiares são destacados: a relação entre
estágios de desenvolvimento e transições geracionais; a interação das necessidades
empresariais com as dos indivíduos-chave, e os fatores externos que influenciam o equilíbrio
entre necessidades familiares e de negócios.
O modelo tridimensional de Gersick et al. (1997) considera três subsistemas inter-
relacionados: família, propriedade e empresa, cada um passando por estágios distintos. A
propriedade tende a se diluir ao longo das gerações, enquanto o desenvolvimento familiar é
influenciado pelo envelhecimento dos membros. O eixo da gestão abrange transições que
podem ser abruptas ou graduais, refletindo mudanças na profissionalização. Gersick et al.
identificam quatro combinações típicas de desenvolvimento das empresas familiares: (1)
primeira geração, (2) sociedades entre irmãos, (3) consórcios de irmãos complexos e (4)
empresas em transição.
Capítulo “ O desenvolvimento tridimensional da organização Odebrecht” apresenta o
contexto histórico da organização e a metodologia da pesquisa. Trata-se de uma pesquisa de
campo, com abordagem qualitativa, realizada em 1998, utilizando documentos internos e
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Já o artigo e Silva Júnior & Muniz (2006) apresenta o seguinte problema de pesquisa: “como
as relações de poder e de confiança entre familiares, proprietários e gestores de uma empresa
familiar interferem no processo sucessório e impactam a sobrevivência do empreendimento?”
(Silva Júnior & Muniz, 2006, p. 108). A teoria e literatura de base são o Modelo de Três
Círculos (M3C), ciclo de vida e evolução da empresa familiar, sucessão da direção da
empresa familiar, poder, autoridade e relações de confiança nas organizações, bem como a
sobrevivência do empreendimento familiar.
Quanto à metodologia o artigo é um estudo de caso aplicado em uma empresa capixaba. A
coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com membros da
família proprietária e funcionários da empresa. A empresa Alpha, uma grande indústria de
alimentos localizada em Vila Velha/ES, exemplifica a dinâmica de empresas familiares,
conforme o modelo de Gersick. Fundada em 1929 por Manfred Kaltz, a Alpha passou por
duas sucessões (1973 e 1999) e foi vendida para uma transnacional em 2002, encerrando o
controle familiar.
Por ponto forte, o artigo traz foco em relações de poder e confiança, onde podemos perceber
que em empresas familiares, onde há conflitos de interesses, tais conflitos podem levar ao
insucesso e descontinuidade da gestão e/ou propriedade familiar. Assim o artigo dialoga com
a literatura existente sobre administração familiar, aprofundando a compreensão sobre os
fatores que impactam a sucessão.
Mas, ao se concentrar apenas nas relações internas da família, pode ter deixado de lado
influências externas, como o mercado ou a concorrência, que também afetam a sucessão.
Mesmo isso não desabona o artigo que contribui e traz aprendizados para a compreensão das
complexidades da sucessão em empresas familiares, oferecendo uma visão que pode ser
aplicada em contextos semelhantes, destacando a importância das relações de confiança e
poder, sugerindo que o sucesso da sucessão vai além de questões financeiras ou
administrativas.
O terceiro e último estudo de caso, elaborado por Silva Júnior et al. (2013) explora como os
sistemas de valores intrínsecos nas empresas familiares influenciam a governança corporativa,
abordando a interseção entre governança corporativa e organizações familiares, destacando a
necessidade de uma análise mais integrada entre esses campos. Assim, a questão de pesquisa
é: como o contexto familiar e o sistema de valores influenciam na governança corporativa e
no desenvolvimento de um grupo empresarial familiar? E teve por objetivo descrever e
analisar as implicações do contexto familiar e do sistema de valores na governança
corporativa em um grupo empresarial familiar.
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Para alcançar esse objetivo foram articuladas 4 dimensões analíticas: família, propriedade,
gestão e sistemas de valores, uma vez que os autores argumentam que as particularidades das
famílias proprietárias, como laços afetivos, tradições e visões compartilhadas, moldam as
práticas de governança, diferentemente de empresas não familiares.
A pesquisa fundamenta-se em teorias de governança corporativa, cultura e valores no contexto
dos empreendimentos familiares e amplia o Modelo de Três Círculos de Gersick (2006), que
categoriza gestão, propriedade e família, para compreender de forma mais profunda as
dinâmicas familiares e empresariais, considerando a perspectiva de valores culturais e sociais,
e como esses fatores moldam o comportamento organizacional.
Após as discussões teóricas, os ‘Aspectos metodológicos’, trata-se de uma pesquisa
qualitativa, de caráter descritivo-analítico, conduzida como um estudo de caso em um grande
grupo empresarial familiar, localizado na Região Sudeste e identificado como Grupo
Empresarial Alpha (GEA). A coleta de dados ocorreu entre junho e setembro de 2008,
utilizando técnicas como observação assistemática, análise documental e entrevistas
semiestruturadas, com 14 membros do grupo, incluindo familiares e não familiares em
diferentes funções.
As entrevistas e observações focaram no relacionamento entre os membros do GEA e na
utilização da estrutura física da empresa. A análise documental incluiu a história da família, o
histórico evolutivo da empresa e dados financeiros. Os dados foram analisados através de uma
abordagem temática, identificando categorias centrais como valores familiares, estrutura
organizacional, e modelo de governança.
Silva Júnior et al. (2013) analisam como os valores fraternais influenciam a estrutura de
propriedade e governança do GEA, que adotou uma organização multidivisional para dar
maior autonomia aos membros da família. A criação de uma holding, composta por
“Holdinhas”, ajuda a minimizar conflitos e a tratar questões familiares separadamente. A
governança é caracterizada por um Conselho de Administração (CA) que toma decisões por
unanimidade, promovendo um ambiente de consenso e evitando disputas. A articulação entre
os subsistemas familiar, de propriedade e de gestão é mediada por valores familiares,
fundamentais para a cultura empresarial e a harmonia entre os membros da família, criando
um ambiente propício ao crescimento e à coesão.
Os resultados sugerem que uma governança adaptada aos valores familiares não apenas
fortalece a coesão familiar, mas também contribui para a eficiência operacional e a resiliência
da empresa a longo prazo, assim o estudo conclui que a articulação entre valores tradicionais
e a modernização é crucial para a longevidade das empresas familiares, enfatizando que as
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Referências:
Davel, E., Silva, J. C. D. S., & Fischer, T. (2000). Desenvolvimento tridimensional das
organizações familiares: avanços e desafios teóricos a partir de um estudo de
caso. Organizações & Sociedade, 7, 99-116.
Silva Junior, A. da, & Muniz, R. M. (2006). Sucessão, poder e confiança: um estudo de caso
em uma empresa familiar capixaba. Revista de Administração, 41(1), 107-117.
Silva Junior, A. D., Silva, P. D. O. M. D., & Silva, A. R. L. D. (2013). Sistemas de valores e
implicações na governança corporativa em um grupo empresarial
familiar. Organizações & Sociedade, 20, 239-260.