Tema 7-Empresas Familiares

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Disciplina: Tópicos de Integração em Controladoria e Organizações


Docente: Robson Zuccolotto
Discente: Simone Luiza Fiorio

TEMA 7 – Empresas Familiares


RESUMO
Davel, E., & Colbari, A. (2000). Organizações familiares por uma introdução a sua tradição
contemporaneidade e muldisciplinaridade. Organizações & Sociedade, 7, 45-64.

Objetivo do artigo é “estimular o desenvolvimento de novas pesquisas que deem conta da


diversidade de perspectivas teóricas e metodológicas de uma problemática que ainda requer
muita contribuição e atuação do meio acadêmico e profissional” (Davel & Colbari, 2000, p.
45-46). Assim, apresenta uma análise das organizações familiares, enfatizando sua tradição,
relevância contemporânea e a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para melhor
compreendê-las. Os autores buscam destacar a complexidade dessas organizações e sua
influência nas dinâmicas econômicas e sociais.
Davel & Colbari (2000) fundamentam suas discussões em uma revisão da literatura existente
sobre organizações familiares, incorporando teorias de diversas disciplinas, como
administração, sociologia e economia. Eles exploram conceitos como capital social, cultura
organizacional e a relação entre família e negócios. E tem por campo de estudo as
organizações familiares em diversos contextos, com foco na sua estrutura, gestão e desafios
enfrentados.
A ‘Introdução’ aborda o crescente interesse pelo estudo de organizações familiares,
destacando que todas as organizações são influenciadas pela dinâmica familiar. As
repercussões dessa influência são diversas e variam entre contextos e regiões, sendo o
capitalismo familiar uma forma organizacional dominante, mesmo após as revoluções
industriais. A literatura sobre o tema tem se expandido, abrangendo tanto aspectos materiais,
como sucessão e estratégia, quanto dimensões simbólicas e culturais, havendo uma
diversidade de perspectivas nas ciências sociais e administrativas, incentivando novas
pesquisas e aprofundando a compreensão sobre organizações familiares. Os autores utilizam
exemplos de organizações familiares para ilustrar os pontos discutidos e a conduzem com um
olhar crítico, considerando as interações entre fatores sociais, culturais e econômicos que
moldam essas entidades.
No capítulo "A Contribuição das Ciências Sociais", a família é considerada central nas
ciências sociais, abordada sob duas concepções do século XIX: a naturalista, que a vê como
uma entidade biológica e eterna, e a historicista, que a trata como um fenômeno social
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moldado por fatores econômicos e culturais. Autores como Morgan e Engels contribuíram
para a teoria evolutiva da família, enquanto a escola sociológica francesa, influenciada por
Durkheim, a analisou sob a ótica de tabus sociais, como o incesto.
"A Família e o Industrialismo" examina como a família, ao longo da industrialização, perdeu
sua função produtiva, transformando-se em um espaço moral e emocional. Isso resultou na
ascensão do modelo de família nuclear, que separou trabalho e vida doméstica, alterando a
percepção do trabalho em relação ao consumo e ao projeto de vida familiar.
No subtópico "A Família como Princípio Moralizador e Instrumento de Controle Social", é
discutido como a família, especialmente durante a industrialização, se tornou um meio de
moralização e controle social. A relação entre ética protestante e capitalismo, segundo Max
Weber, evidencia como valores religiosos sustentam a moralidade do trabalho, transformando
o familismo em uma “tecnologia política”.
No segmento "A Família como Princípio de Socialização", a família é vista como essencial na
socialização primária e na estabilização da personalidade, conforme a perspectiva
estruturalista. Autores como Parsons consideram a família nuclear um "tipo ideal" para a
sociedade industrial, que promove um individualismo e uma competição necessários para a
dinâmica de mercado.
"A Família como Princípio Emocional e Afetivo" analisa a família como um espaço de
afetividade, contrastando com a despersonalização da vida pública. Embora ofereça
estabilidade, também pode ocultar tensões e conflitos internos, conforme a teoria crítica.
Por fim, em "A Família e a Cultura Empresarial", o artigo explora como a cultura familiar
influencia a moral do trabalho e as identidades profissionais nas organizações. O "familismo"
se reflete em práticas de gestão, como o paternalismo, onde empresas contemporâneas
buscam promover laços afetivos, embora possam ocultar desigualdades nas relações de
mercado.
O capítulo "A Contribuição das Abordagens Administrativas" analisa as diferentes abordagens
nos estudos sobre organizações familiares, dividindo-as em duas vertentes: uma voltada para a
gestão de empresas familiares e outra para ciências sociais e humanas. Autores como Déry et
al. e Stafford et al. destacam a influência das teorias familiares nessas pesquisas.
Em "A Empresa Familiar", é apresentado um histórico da pesquisa sobre o tema, que
começou na década de 1950 com Carl Roland Christensen, focando na sucessão. O campo se
expandiu nas décadas seguintes, ganhando destaque na década de 1980 com a criação de
associações e publicações relevantes. O interesse por empresas familiares aumentou,
especialmente na literatura anglo-saxônica, com mais de 60 universidades nos EUA
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oferecendo programas sobre o tema. No entanto, ainda falta um corpo teórico unificado, com
mais de 34 definições, sendo a mais aceita a de Donnelley, que relaciona a família e a empresa
ao longo das gerações.
O controle na gestão familiar é um tema central, com fundadores frequentemente mantendo
controle centralizado. Goffee identifica 4 tipos de desenvolvimento organizacional com base
na orientação de mercado e controle. Stafford et al. propõem um modelo de sustentabilidade
que enfatiza a gestão de conflitos para garantir a continuidade da família e da empresa.
O artigo também discute as forças e fraquezas das empresas familiares. As forças incluem
lealdade, responsabilidade social e uma visão de longo prazo, enquanto as fraquezas
abrangem dificuldades em atrair talentos e resistência a mudanças. A relação entre forças e
fraquezas é complexa e deve ser gerida para maximizar os aspectos positivos.
Sobre cultura e confiança, Davel & Colbati (2000) afirmam que a cultura nas empresas
familiares é moldada pelo fundador, refletindo relações baseadas na confiança, que muitas
vezes substituem contratos formais. Dyer (1988) identifica padrões culturais distintos, desde
paternalistas até laissez-faire e participativas, cada um com diferentes visões sobre a natureza
humana. A confiança, fundamentada em uma história comum e laços emocionais, se torna um
elemento crucial, funcionando como um substituto para acordos explícitos.
O texto discute "A Questão da Mudança, do Desenvolvimento e da Profissionalização" nas
empresas familiares, enfatizando uma visão evolucionista que analisa como as famílias
passam por estágios ao longo do ciclo de vida, influenciados por eventos como casamento e
divórcio. Pesquisadores como Kepner e Gersick destacam a interdependência entre os ciclos
de vida familiar e empresarial, com o modelo tridimensional de Gersick mostrando como os
subsistemas de família, empresa e propriedade estão interconectados.
A profissionalização é vista como um estágio inevitável para as empresas familiares, que, ao
enfrentar desafios como a sucessão, tendem a passar de uma gestão pessoal para uma
administração mais racional e planejada. A temática da sucessão envolve múltiplos
stakeholders, e Handler (1991) identifica 3 estágios críticos: desenvolvimento do herdeiro,
seu envolvimento com a empresa e sucessão da liderança. O relacionamento entre o atual
dirigente e o sucessor é vital, sendo o treinamento mais pessoal do que formal. O processo de
sucessão se divide em 3 áreas principais: planejamento das atividades de sucessão,
relacionamentos pessoais que enfatizam confiança e comunicação e preparação dos herdeiros
em habilidades administrativas e conhecimento do negócio.
O artigo também aborda "Flexibilidade, Inovação e Mudança" nas organizações familiares,
sugerindo que aquelas que buscam crescimento rápido e são menos burocratizadas se adaptam
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melhor às contradições da sociedade contemporânea. Essas organizações promovem um


ambiente humanizado que valoriza socialização e aprendizado, refletindo uma integração
entre estabilidade e mudança que influencia a cultura organizacional. Também há menção às
questões de gênero e etnicidade nas empresas familiares, indicando que, embora existam
pesquisas sobre o impacto do contexto étnico-cultural, a literatura sobre gênero é escassa, com
pouca atenção à presença feminina nesse setor.
Em ‘a organização como família’, as abordagens interacionistas, simbolistas e
fenomenológicas analisam as organizações por meio de metáforas familiares. A relação entre
cultura familiar e cultura organizacional é complexa, refletindo tanto suporte emocional
quanto possíveis desigualdades.
‘Desafios e contribuições de um olhar multidisciplinar sobre as organizações familiares’, o
artigo analisa a diversidade de pesquisas sobre a influência da família nas organizações,
ressaltando sua relevância para compreender processos sociais e organizacionais
contemporâneos. As organizações familiares são consideradas um objeto de estudo
multidisciplinar, com três grupos principais de artigos: 1) Enfoque Microssocial: investiga a
subjetividade e as dinâmicas emocionais nas microempresas familiares; 2) Integração de
Dimensões Macro e Microssociais: exploram a transição de modelos familiares para
profissionais, mantendo a família como uma metáfora central; e 3) Enfoque Macrossocial:
este grupo examina a influência histórica da família na estrutura de poder empresarial,
destacando a figura paterna como um elemento central nas relações de poder.
O artigo conclui que as organizações familiares são fundamentais para a economia e a
sociedade, e que uma compreensão mais profunda de suas características e desafios pode
beneficiar tanto os estudiosos quanto os praticantes da área.
Os pontos fortes, do artigo, são: i) integrar diferentes disciplinas, permitindo uma visão mais
ampla e rica das organizações familiares; ii) discussão sobre as organizações familiares é
pertinente, pois essas entidades desempenham um papel significativo na economia e na
sociedade, especialmente em países em desenvolvimento; iii) utilização de casos e a revisão
da literatura enriquecendo a compreensão do tema; e iv) o artigo reconhece a complexidade
das dinâmicas familiares e empresariais, evitando simplificações que podem levar a
conclusões erradas. Porém algumas teorias mencionadas poderiam ser mais exploradas,
oferecendo um maior aprofundamento nas implicações práticas.
As contribuições para o campo: i) serve como um ponto de partida para pesquisas futuras
sobre organizações familiares, incentivando uma análise mais aprofundada em diferentes
contextos; ii) ajuda a entender como a família influencia a gestão e a cultura organizacional,
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proporcionando insights valiosos para acadêmicos e profissionais; e iii) a interdisciplinaridade


proposta pode inspirar outros pesquisadores a adotar abordagens similares em suas
investigações.
O que se pode aprender é que ao compreender que as relações familiares impactam nas
práticas de negócios e na gestão eficaz em organizações familiares, bem como entender que as
organizações familiares enfrentam desafios únicos, porém têm potencial para aproveitar suas
características específicas como vantagens competitivas.

Os três artigos seguintes são estudos de caso em empresas familiares e todos utilizaram o
modelo tridimensional proposto por Gersick et al. (1997, 2006): família, propriedade e gestão,
sendo que o artigo Silva Júnior et al. (2013) adaptou tal modelo ao incluir aspectos como
características, histórias e valores familiares.
O artigo de Davel et al. (2000) teve por objetivo compreender como a Organização Odebrecht
evoluiu da condição de empresa familiar para um tipo de empresa familiar profissionalizada.
Como comentado acima o artigo foca na teoria do desenvolvimento das empresas familiares,
especialmente no modelo de desenvolvimento tridimensional de Gersick et al. (1997), que
sugere que essas empresas passam por diversas etapas de transformação e explora, em seu
referencial, a Teoria de Ciclo de Vida.
Três grupos principais de pesquisa sobre empresas familiares são destacados: a relação entre
estágios de desenvolvimento e transições geracionais; a interação das necessidades
empresariais com as dos indivíduos-chave, e os fatores externos que influenciam o equilíbrio
entre necessidades familiares e de negócios.
O modelo tridimensional de Gersick et al. (1997) considera três subsistemas inter-
relacionados: família, propriedade e empresa, cada um passando por estágios distintos. A
propriedade tende a se diluir ao longo das gerações, enquanto o desenvolvimento familiar é
influenciado pelo envelhecimento dos membros. O eixo da gestão abrange transições que
podem ser abruptas ou graduais, refletindo mudanças na profissionalização. Gersick et al.
identificam quatro combinações típicas de desenvolvimento das empresas familiares: (1)
primeira geração, (2) sociedades entre irmãos, (3) consórcios de irmãos complexos e (4)
empresas em transição.
Capítulo “ O desenvolvimento tridimensional da organização Odebrecht” apresenta o
contexto histórico da organização e a metodologia da pesquisa. Trata-se de uma pesquisa de
campo, com abordagem qualitativa, realizada em 1998, utilizando documentos internos e
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externos, além de 12 entrevistas semi-estruturadas com indivíduos-chave da história da


empresa Odebrecht.
A pesquisa ilustra a transição de uma empresa familiar tradicional, onde o proprietário
centralizava decisões, para uma estrutura mais profissionalizada, com gestão descentralizada e
papéis bem definidos entre familiares e funcionários.
A Odebrecht foi fundada em 1945 na Bahia por Norberto Odebrecht, que assumiu os negócios
iniciados por seu pai em 1919. A família Odebrecht detém 46% do capital total e 56% das
ações ordinárias, promovendo uma cultura organizacional fundamentada em valores
germânicos e protestantes, que valorizam o trabalho como um ato edificador. O crescimento
patrimonial da empresa ultrapassou 6.400% nas últimas décadas do século XX, expandindo
suas operações de um mercado local para uma atuação internacional em mais de 14 países,
abrangendo setores como engenharia, construção e infraestrutura.
O fundador, Norberto Odebrecht, foi influenciado por sua educação rigorosa e formação
protestante, que moldaram seus valores e princípios de gestão, materializados na "Tecnologia
Empresarial Odebrecht" (TEO). As fases históricas da Odebrecht, considerando as três
dimensões do desenvolvimento organizacional: família, propriedade e gestão, são
apresentadas na Figura 1.
Figura 1 -
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O capítulo “Balanço panorâmico do processo de desenvolvimento da Odebrecht” aponta uma


evolução em quatro estágios, conforme proposto por Gersick et al. (1997).
- Primeiro estágio: A empresa é controlada pelo fundador, com estrutura organizacional fluida
e regras personalizadas. Há uma clara separação entre as finanças pessoais da família e da
empresa, e é estabelecida uma cultura de "trabalhar e servir", além de princípios de
descentralização e parceria.
- Segundo estágio: Embora a propriedade continue centralizada no fundador, a empresa
formaliza regras e procedimentos, caracterizando-se como uma "federação de pequenas
empresas" com funcionários atuando como "empresários-empreendedores". O filho do
fundador começa sua trajetória na empresa.
- Terceiro e quarto estágios: Esses períodos são marcados por um hibridismo nas dimensões
da organização. Na década de 70, o fundador distribui ações entre os filhos, mantendo o
controle, enquanto na década de 80, a empresa solidifica seus princípios de descentralização e
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profissionalização, além de diversificar suas operações. A transição de liderança do fundador


para o filho se completa em 1998.
Esse processo reflete uma complexa evolução da Odebrecht, integrando aspectos de controle,
gestão e cultura organizacional ao longo do tempo.
No último capítulo ‘Avanços e desafios para a análise das empresas familiares’, os autores
discutem as abordagens teóricas sobre o desenvolvimento de empresas familiares, destacando
a necessidade de refinamento nas perspectivas atuais. A análise tradicional, que vê mudanças
organizacionais de forma positiva e gradual, deve ser expandida para incluir elementos como
mudanças radicais e descontínuas, uma vez que o estudo de caso da Organização Odebrecht
revela que suas transformações não se alinham completamente com modelos analíticos
estabelecidos, como o de Gersick et al. (1997), sugerindo a inclusão de múltiplos "motores de
análise" (e.g., ciclo de vida, dialético) para melhor compreensão.
Além disso, enfatiza-se a importância de considerar o ciclo de vida familiar, variáveis
contextuais e a diversidade de estruturas familiares. O texto critica a visão limitada que
considera apenas o modelo de família nuclear e destaca a influência da cultura e do poder
local no desenvolvimento das empresas familiares.
A pesquisa conclui que as organizações familiares são protagonistas no desenvolvimento local
e devem ser estudadas em suas complexidades, incluindo a influência cultural e política, para
que se compreenda melhor sua dinâmica e impacto social.
Como ponto forte, eu destacaria a aplicação prática do modelo tridimensional de
desenvolvimento de empresas familiares proposto por Gersick et al. (1997). Por fraquezas eu
destacaria, que embora aborde desafios teóricos, o artigo pode não explorar suficientemente
as implicações práticas de suas conclusões para gestores de organizações familiares.
As contribuições para o campo são: i) integração teórica: o artigo contribui para a construção
de uma base teórica mais robusta para o estudo das organizações familiares; ii) insights
práticos: oferece insights sobre como as dinâmicas familiares afetam o funcionamento
organizacional, que podem ser valiosos para gestores e consultores; e iii) estímulo a novas
pesquisas: as questões levantadas sobre os desafios teóricos podem inspirar investigações
futuras que aprofundem o conhecimento nesse campo. E dentre as lições aprendidas, tenho: i)
a análise do contexto familiar é essencial para compreender o funcionamento das
organizações, destacando a singularidade de cada caso; ii) as interações familiares são
complexas e influenciam profundamente a estrutura e a cultura organizacional, o que deve ser
considerado em qualquer análise; e iii) integrar diferentes disciplinas e teorias pode
enriquecer a compreensão das organizações familiares e suas dinâmicas.
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Já o artigo e Silva Júnior & Muniz (2006) apresenta o seguinte problema de pesquisa: “como
as relações de poder e de confiança entre familiares, proprietários e gestores de uma empresa
familiar interferem no processo sucessório e impactam a sobrevivência do empreendimento?”
(Silva Júnior & Muniz, 2006, p. 108). A teoria e literatura de base são o Modelo de Três
Círculos (M3C), ciclo de vida e evolução da empresa familiar, sucessão da direção da
empresa familiar, poder, autoridade e relações de confiança nas organizações, bem como a
sobrevivência do empreendimento familiar.
Quanto à metodologia o artigo é um estudo de caso aplicado em uma empresa capixaba. A
coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com membros da
família proprietária e funcionários da empresa. A empresa Alpha, uma grande indústria de
alimentos localizada em Vila Velha/ES, exemplifica a dinâmica de empresas familiares,
conforme o modelo de Gersick. Fundada em 1929 por Manfred Kaltz, a Alpha passou por
duas sucessões (1973 e 1999) e foi vendida para uma transnacional em 2002, encerrando o
controle familiar.
Por ponto forte, o artigo traz foco em relações de poder e confiança, onde podemos perceber
que em empresas familiares, onde há conflitos de interesses, tais conflitos podem levar ao
insucesso e descontinuidade da gestão e/ou propriedade familiar. Assim o artigo dialoga com
a literatura existente sobre administração familiar, aprofundando a compreensão sobre os
fatores que impactam a sucessão.
Mas, ao se concentrar apenas nas relações internas da família, pode ter deixado de lado
influências externas, como o mercado ou a concorrência, que também afetam a sucessão.
Mesmo isso não desabona o artigo que contribui e traz aprendizados para a compreensão das
complexidades da sucessão em empresas familiares, oferecendo uma visão que pode ser
aplicada em contextos semelhantes, destacando a importância das relações de confiança e
poder, sugerindo que o sucesso da sucessão vai além de questões financeiras ou
administrativas.
O terceiro e último estudo de caso, elaborado por Silva Júnior et al. (2013) explora como os
sistemas de valores intrínsecos nas empresas familiares influenciam a governança corporativa,
abordando a interseção entre governança corporativa e organizações familiares, destacando a
necessidade de uma análise mais integrada entre esses campos. Assim, a questão de pesquisa
é: como o contexto familiar e o sistema de valores influenciam na governança corporativa e
no desenvolvimento de um grupo empresarial familiar? E teve por objetivo descrever e
analisar as implicações do contexto familiar e do sistema de valores na governança
corporativa em um grupo empresarial familiar.
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Para alcançar esse objetivo foram articuladas 4 dimensões analíticas: família, propriedade,
gestão e sistemas de valores, uma vez que os autores argumentam que as particularidades das
famílias proprietárias, como laços afetivos, tradições e visões compartilhadas, moldam as
práticas de governança, diferentemente de empresas não familiares.
A pesquisa fundamenta-se em teorias de governança corporativa, cultura e valores no contexto
dos empreendimentos familiares e amplia o Modelo de Três Círculos de Gersick (2006), que
categoriza gestão, propriedade e família, para compreender de forma mais profunda as
dinâmicas familiares e empresariais, considerando a perspectiva de valores culturais e sociais,
e como esses fatores moldam o comportamento organizacional.
Após as discussões teóricas, os ‘Aspectos metodológicos’, trata-se de uma pesquisa
qualitativa, de caráter descritivo-analítico, conduzida como um estudo de caso em um grande
grupo empresarial familiar, localizado na Região Sudeste e identificado como Grupo
Empresarial Alpha (GEA). A coleta de dados ocorreu entre junho e setembro de 2008,
utilizando técnicas como observação assistemática, análise documental e entrevistas
semiestruturadas, com 14 membros do grupo, incluindo familiares e não familiares em
diferentes funções.
As entrevistas e observações focaram no relacionamento entre os membros do GEA e na
utilização da estrutura física da empresa. A análise documental incluiu a história da família, o
histórico evolutivo da empresa e dados financeiros. Os dados foram analisados através de uma
abordagem temática, identificando categorias centrais como valores familiares, estrutura
organizacional, e modelo de governança.
Silva Júnior et al. (2013) analisam como os valores fraternais influenciam a estrutura de
propriedade e governança do GEA, que adotou uma organização multidivisional para dar
maior autonomia aos membros da família. A criação de uma holding, composta por
“Holdinhas”, ajuda a minimizar conflitos e a tratar questões familiares separadamente. A
governança é caracterizada por um Conselho de Administração (CA) que toma decisões por
unanimidade, promovendo um ambiente de consenso e evitando disputas. A articulação entre
os subsistemas familiar, de propriedade e de gestão é mediada por valores familiares,
fundamentais para a cultura empresarial e a harmonia entre os membros da família, criando
um ambiente propício ao crescimento e à coesão.
Os resultados sugerem que uma governança adaptada aos valores familiares não apenas
fortalece a coesão familiar, mas também contribui para a eficiência operacional e a resiliência
da empresa a longo prazo, assim o estudo conclui que a articulação entre valores tradicionais
e a modernização é crucial para a longevidade das empresas familiares, enfatizando que as
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práticas profissionalizantes devem se adaptar ao contexto cultural da família. Destaca a


complexidade das interações entre família e negócio e a importância de uma governança que
incorpore os valores familiares.
O trabalho contribui para a literatura ao realizar uma ampliação do modelo M3C,
reconhecendo a necessidade de incluir sistemas de valores e respondendo a críticas existentes,
além disso, a pesquisa enfatiza que não há um modelo único de governança ideal para todas as
organizações familiares, sugerindo que cada sistema deve respeitar as particularidades
familiares.
Os pontos fortes incluem a utilização de narrativas qualitativas que oferecem insights sobre a
implementação da governança e a influência dos valores familiares. Por outro lado, uma
fraqueza é a limitação das entrevistas a gestores, o que pode excluir perspectivas importantes
de outros membros da organização.
Os aprendizados principais incluem: i) valores familiares como ativos que fortalecem a
governança; ii) a importância da comunicação eficaz na implementação de práticas de
governança; e iii) a necessidade de adaptar estruturas de governança às particularidades da
empresa familiar.

Referências:
Davel, E., Silva, J. C. D. S., & Fischer, T. (2000). Desenvolvimento tridimensional das
organizações familiares: avanços e desafios teóricos a partir de um estudo de
caso. Organizações & Sociedade, 7, 99-116.
Silva Junior, A. da, & Muniz, R. M. (2006). Sucessão, poder e confiança: um estudo de caso
em uma empresa familiar capixaba. Revista de Administração, 41(1), 107-117.
Silva Junior, A. D., Silva, P. D. O. M. D., & Silva, A. R. L. D. (2013). Sistemas de valores e
implicações na governança corporativa em um grupo empresarial
familiar. Organizações & Sociedade, 20, 239-260.

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