Aps - Esf Eixo 01 - m02 - PMM
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MÓDULO 02
Atenção Primária à
Saúde e Estratégia
Saúde da Família:
bases históricas,
políticas e
organizacionais
2ª edição
Programa Médicos pelo Brasil
EIXO 1 | PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DO SUS E DA
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
MÓDULO 02
Atenção Primária à
Saúde e Estratégia de
Saúde da Família: bases
históricas, políticas e
organizacionais
Ministério da Saúde
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul (Fiocruz MS)
2023
Instituições patrocinadoras:
Ministério da Saúde
Coordenação da UNASUS/UNIFESP
B823a
Inclui referências.
ISBN: 978-65-84901-57-5
Referência bibliográfica
MINISTÉRIO DA SAÚDE. FIOCRUZ MATO GROSSO DO SUL. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO
PAULO. Atenção primária à saúde e estratégia de saúde da família: bases históricas, políticas e
organizacionais [módulo 2]. 2. ed. In: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Projeto Mais Médicos para o Brasil.
Eixo 1: Princípios e fundamentos do SUS e da atenção primária à saúde. Brasília: Ministério da
saúde, 2023. 80 p.
Ministério da Saúde
Nísia Trindade Lima | Ministra
Webdesigner UNA-SUS/UNIFESP
Lucas Andrioli
Desenvolvedores Fiocruz MS
Janaína Rolan Loureiro
Leandro Koiti Oguro
Regina Beretta Mazaro
Conteudista
Clayton de Carvalho Coelho
Morris Pimenta e Souza
Revisor
Davi Bagnatori Tavares
Sumário
Apresentação 10
Objetivo geral de aprendizagem do módulo 11
Carga horária de estudo recomendada para este módulo 11
1. Atenção primária em saúde 12
Objetivo geral 13
Objetivos de aprendizagem 13
Introdução da unidade 13
1.1 - Conceito de APS 14
1.2 - Atributos da Atenção Primária à Saúde 16
1.2.1 - Atributos essenciais 17
1.2.2 - Atributos derivados 21
1.3 - Atenção Primária à Saúde no mundo 24
1.3.1 - Exemplos de APS no mundo 25
Fechamento da unidade 29
2. Organização da Atenção Primária à Saúde no Brasil: a estratégia
saúde da família 30
Objetivo geral da unidade 31
Objetivos de aprendizagem 31
Introdução da unidade 31
2.1 - Breve histórico da ESF 32
2.1.1 - A APS no Brasil antes do SUS 32
2.1.2 - A APS inserida no SUS 33
2.1.3 - O Programa Saúde da Família 34
2.1.4 - A Estratégia Saúde da Família (ESF) 36
2.2 - Política Nacional de Atenção Básica 39
2.2.1 - Princípios e Diretrizes 42
2.2.2 - Atribuições comuns e específicas de cada esfera
de governo 46
2.3 - Equipes de atenção primária 48
2.3.1 - Atribuições comuns e específicas de cada membro
da equipe 48
2.4 - Organização do processo de trabalho 52
2.4.1 - Definição de território e territorialização 53
2.4.2 - Responsabilização sanitária, adstrição de usuários
e produção de vínculo 54
2.4.3 - Porta de entrada preferencial 55
2.4.4 - Acesso universal, integral, equitativo e seguro 56
2.4.5 - Acolhimento 57
2.4.6 - Trabalho em equipe multiprofissional e intersetorial 59
2.4.7 - Resolutividade 60
2.4.8 - Atenção domiciliar 62
2.4.9 - Prevenção, promoção e vigilância em saúde 62
2.4.10 - Planejamento e programação da atenção à saúde 64
2.4.11 - Educação em Saúde 65
2.4.12 - Controle social 65
2.5 - Outras equipes de APS no SUS 66
2.5.1 - Equipes de Atenção Básica 66
2.5.2 - Equipe de Saúde Bucal 67
2.5.3 - O Núcleo ampliado de saúde da família e atenção
básica (Nasf-AB) 67
2.5.4 - Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde 68
2.6 - Atenção primária para populações específicas 69
Fechamento da unidade 74
Encerramento do módulo 75
Referências 77
Biografia dos conteudistas 79
Apresentação
Olá, caro profissional-estudante.
Seja bem-vindo ao módulo 2 - Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da
Família: bases históricas, políticas e organizacionais.
Neste módulo, você será convidado a fazer uma imersão na Atenção Primária à
Saúde (APS). Ao final dos nossos estudos, esperamos que você seja capaz de com-
preender o conceito de APS, bem como seus atributos essenciais e derivados e que
conheça a forma como ela se operacionalizou no Brasil por meio da Política Nacio-
nal de Atenção Básica (PNAB) e como tais atributos se expressam nesse referen-
cial normativo.
A perspectiva que buscamos desenvolver, por meio de uma abordagem dialógica
e aplicada à realidade, é de apresentação de uma APS e de uma Estratégia Saúde
da Família (ESF) concretas, palpáveis, para que, ao final deste módulo, você consiga
traçar os paralelos com a sua própria realidade de trabalho, percebendo as cons-
truções locais e suas oportunidades e desafios.
Buscamos também que os estudos deste módulo auxiliem-no na compreensão
dos conceitos que permearão a sua trajetória formativa na APS, para que desen-
volva competências fundamentais como Médico de Família e Comunidade, com-
preenda a lógica de funcionamento de uma APS qualificada e tenha consciência
de que sua inserção no funcionamento da Rede de Atenção à Saúde (RAS) é abso-
lutamente fundamental.
Desejamos a você bons estudos!
Os conteudistas
OBJETIVO GERAL DE APRENDIZAGEM DO MÓDULO
Ao final dos estudos deste módulo, o profissional-estudante será capaz de propor
a reorganização da sua prática profissional de maneira que aproxime seu cotidiano
de trabalho dos atributos da APS e do que está proposto pela PNAB, demonstrando
compreensão conceitos adquiridos a respeito do funcionamento do sistema de
saúde e do serviço de APS no qual está inserido.
Atenção Primária
em Saúde
EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
OBJETIVO GERAL
Compreender a APS com base nos seus atributos essenciais e derivados, reconhe-
cendo sua inserção na organização dos níveis de atenção em um sistema de saúde.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Identificar os atributos essenciais e derivados da APS;
• Conhecer diversas formas de organização da APS no mundo;
• Relacionar os atributos essenciais e derivados da APS com a prática
profissional;
• Avaliar as diversas possibilidades de utilização dos atributos essenciais e
derivados da APS em sua prática profissional.
INTRODUÇÃO DA UNIDADE
É comum que o Médico de Família e Comunidade pense e repense, constantemente,
múltiplas questões acerca da missão da Unidade Básica de Saúde (UBS) em que
atua, tais como:
• O que deveria ou não ser feito na unidade em que atuo?
• Qual a resolutividade esperada para a maior parte das condições de
saúde?
Essas visões orbitam em torno de um tema fundamental:
• Afinal, como deveria, de fato, se inserir uma UBS no sistema de saúde?
Para melhor pensar em tais questões, convidamos você a analisá-las conhecendo
melhor o nível de atenção no qual esse serviço se insere: a APS. Conhecer sua
inserção no sistema de saúde brasileiro, bem como em outros sistemas de saúde
no mundo, seus atributos, sua estrutura e desafios é essencial para reconhecer,
em sua realidade de trabalho, os fundamentos para sua máxima efetividade.
Para aproveitar os estudos, sugerimos que você mantenha a mente aberta para
uma postura reflexiva, procurando relacionar os conceitos aqui trabalhados com
sua prática profissional. Procure compartilhar suas reflexões com seus colegas e
toda a sua equipe. Compartilhe com sua comunidade ações e ideias de modo a
reconhecer as potencialidades do seu entorno a fim de contribuir para a constru-
ção de um sistema mais equânime e resolutivo, que seja um vetor de melhoria das
condições de vida e de dignidade para a população.
Sigamos em frente.
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cas, políticas e organizacionais
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Você pode ler mais a respeito desse assunto nos documentos disponibi-
lizados na midiateca.
Em síntese, um sistema de saúde cujo centro está na APS tem como objetivo garan-
tira cobertura e o acesso universal a cuidados de saúde abrangentes e compatíveis
com uma determinada carteira de serviços. Independentemente de tal carteira ser
mais restrita, como nos casos em que os limites assistenciais são mais estreitos,
ou em casos em que se busca de uma integralidade dos serviços – como no caso
do Brasil –, o centro do sistema estar na APS o tensiona a direcionar
seu foco à atenção clínica, à prevenção de doenças e à promoção da saúde, por
um cuidado centrado na pessoa e em suas relações reais com o mundo no qual
está inserida.
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cas, políticas e organizacionais
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Integralidade
A integralidade, enquanto atributo da APS, se aproxima do próprio do SUS. É um
atributo a ser perseguido no cotidiano dos profissionais desse nível de atenção,
que se manifesta pela prestação de uma série de serviços e ações que visam res-
ponder às necessidades da população atendida.
Fazem parte dos serviços e ações a serem realizados pela sua equipe de saúde:
• A promoção de saúde;
• A prevenção de doenças e agravos;
• A proposição de tratamentos para cura ou estabilização de doenças, no
cuidado biopsicossocial e na reabilitação.
Em outras palavras, o atributo da integralidade reconhece que a equipe de saúde
deve buscar, de forma contínua, a entrega de meios para que o usuário obtenha
o cuidado de que necessita, em todas as fases do seu processo saúde-doença.
Você já deve ter percebido que se trata de um princípio indissociável do direito à
saúde e caminha na direção da responsabilização da APS pela obtenção do acesso
aos serviços em outros níveis de atenção, reconhecendo os determinantes sociais
e os problemas singulares da população em toda a sua complexidade.
Longitudinalidade
Outro atributo da APS, a longitudinalidade, é definido, inicialmente, como lidar com
o crescimento e as mudanças de indivíduos ou grupos no decorrer de um período de
anos (Starfield, 2002). Em termos práticos, as unidades de saúde como aquela em
que você atua são responsáveis pela oferta regular de cuidados, ao longo do tempo,
estabelecendo um vínculo de confiança entre a população assistida e a equipe de
saúde. Dessa forma, a longitudinalidade abarca o acompanhamento tanto dos indi-
víduos, em suas necessidades integrais – assistência à doença e manutenção da
saúde –, quanto das necessidades da população ao longo do tempo, conforme as
mudanças nos perfis epidemiológico, demográfico e social daquela população.
Esse atributo se manifesta, primeiramente, no vínculo que se estabelece entre uma
pessoa e o seu médico ou a sua equipe de saúde. Todavia, mais do que isso, a longi-
tudinalidade significa que os cuidados de saúde para uma pessoa devem ser ofer-
tados ao longo do tempo, de forma longitudinal, independentemente de a pessoa
estar doente ou não. Tal atributo requer um serviço ou profissionais que se sintam,
e sejam de fato, responsáveis por uma população – e pelo registro dessa popula-
ção –, assim como por uma relação usuário/profissional de saúde que seja focada
na pessoa, e não na doença, com base em confiança mútua.
A criação desse vínculo pode ser trabalhada e desenvolvida por todos os membros
da equipe de saúde – como enfermeiros ou agentes comunitários de saúde (ACS).
Nesse sentido, é fundamental compreender que, ao longo do tempo, os
profissionais de saúde devem continuar responsáveis por seus pacientes ou
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REFLEXÃO
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Coordenação do cuidado
O atributo coordenação do cuidado, como você pode deduzir, relaciona-se direta-
mente com os princípios anteriores. Para que haja acesso integral e longitudinal,
é necessária certa sincronia na ação da equipe de saúde e no reconhecimento das
necessidades da população, de modo a garantir o adequado gerenciamento da
obtenção de recursos.
A articulação da equipe de saúde com a família, com o território e com outros
pontos das redes de saúde e intersetorial demanda esforço e gasto de energia por
parte dos profissionais. Quando esse esforço não existe, o conjunto de ações ocorre
de forma fragmentada, acarretando desperdícios, ineficiências e perdas de opor-
tunidades terapêuticas, o que, como você pode deduzir, leva a desfechos piores.
A coordenação do cuidado está, desse modo, ligada à responsabilidade sanitária
sobre a comunidade e seus membros, sendo inerente às melhores práticas
de APS. Envolve uma responsabilização contínua dos profissionais sobre
os pacientes, incluindo seu acompanhamento, quando referenciados para outros
níveis de atenção.
REFLEXÃO
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Orientação comunitária
Tal como o anterior, o atributo orienta-
ção comunitária da APS destaca a neces-
sidade de você compreender que as
famílias estão inseridas em contextos de
comunidade. A exposição maior ou
menor às vulnerabilidades locais,
costumes, hábitos, crenças e a tantas
outras características locais influencia
diretamente a dinâmica das famílias,
por isso, essas variáveis fazem parte do
contexto de determinação social
Foto por Vinícius Marinho | Acervo Fundação do adoecimento.
Oswaldo Cruz
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Competência cultural
O atributo competência cultural da APS consiste no reconhecimento e respeito às
particularidades culturais e às preferências das pessoas, das famílias e da comu-
nidade na qual elas se inserem. Procure entender esse conceito de forma ampliada,
como um processo dinâmico, crítico e reflexivo relacionado à forma como a cultura
daqueles indivíduos pode afetar comportamentos relacionados à sua saúde, na
perspectiva descrita como humildade cultural. Descrito por Murray-Garcia (apud
GOUVEIA; SILVA; PESSOA, 2019), o conceito de humildade cultural se mostra de
extrema relevância:
Lembre-se!
Humildade cultural é um compromisso vitalício de autoavalia-
ção e autocrítica, para os desequilíbrios de poder existentes na
relação médico-paciente; desenvolver parcerias clínicas de bene-
fícios mútuos; e advocacia não paternalista com as comunida-
des, em nome de indivíduos e populações.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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REFLEXÃO
SAIBA MAIS
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Lembre-se!
A gestão do cuidado em saúde se realiza em múltiplas dimen-
sões que, imanentes entre si, apresentam, todas e cada uma
delas, uma especificidade que pode ser conhecida para fins de
reflexão, pesquisa e intervenção. Podemos pensar a gestão do
cuidado em saúde sendo realizada em cinco dimensões: indivi-
dual, familiar, profissional, organizacional, sistêmica e societária
(Cecilio, 2011).
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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REINO UNIDO
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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FRANÇA
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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ALEMANHA
CANADÁ
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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SAIBA MAIS
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
FECHAMENTO DA UNIDADE
Até aqui, trabalhamos a base conceitual e histórica da APS, no Brasil e no mundo.
Após estudar os princípios da APS descritos, você, certamente, consegue compre-
ender o quanto eles são importantes para uma atenção de qualidade e é capaz,
inclusive, de analisar como os atributos estudados dialogam com os princípios do
SUS, já estudados.
Você também já pode compreender de que forma a APS, tendo em seus atributos
um esteio conceitual, desempenha papel fundamental no âmbito desse sistema.
No Brasil, inseridas no SUS, existem várias modelagens assistenciais para a APS,
sendo a principal delas a Estratégia Saúde da Família (ESF), que leva assistência
multidisciplinar à população nas UBSs. Os diferentes modelos oferecem acesso a
serviços de saúde, tais como:
• Consultas;
• Exames complementares;
• Vacinação;
• Serviços odontológicos;
• Atividades de prevenção de doenças e de promoção da saúde aos usuá-
rios, dentre outros.
As diferenças entre os modelos assistenciais estão relacionadas às formas de abor-
dagem (individual ou familiar), de intervenção e de responsabilização por uma
população adstrita a um território.
Na próxima unidade, discutiremos mais detalhadamente a ESF, além de refletimos
sobre outros modelos assistenciais de APS no SUS, suas principais diferenças de
abordagem e seus respectivos limites operacionais.
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UNIDADE 02
Organização
da Atenção
Primária à Saúde
no Brasil: a
estratégia saúde
da família
EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Identificar os princípios da PNAB;
• Relacionar os princípios da PNAB com a prática profissional;
• Identificar as características da ESF;
• Relacionar as características da ESF com a prática profissional;
• Reconhecer a importância da intersetorialidade para a organização dos
serviços na APS;
• Entender a importância do trabalho em equipe interdisciplinar e inter-
profissional na ESF para a organização do trabalho, conforme atributos
da APS. Avaliar as diversas possibilidades de utilização dos atributos
essenciais da APS na prática profissional;
• Promover ações fundamentadas nos princípios da PNAB, relacionando-os
com a prática profissional;
• Implementar ações com base nas características da ESF, relacionando-as
com os princípios da APS e a prática profissional.
INTRODUÇÃO DA UNIDADE
A Estratégia Saúde da Família (ESF) é, conforme a Política Nacional de Atenção
Básica (PNAB), o modelo assistencial preferencial a ser utilizado para organização
da APS no Brasil. Essa estratégia incorpora todos os princípios do SUS e deve ser,
do ponto de vista da gestão, em esfera federal, estadual e municipal, o modelo
prioritário para a execução do processo de trabalho e estruturação das
redes assistenciais.
Ainda que sejam possíveis outros modelos, consta da PNAB que os gestores de
todas as esferas devem garantir que os modelos tenham “caráter transitório, devendo
ser estimulada sua conversão em Estratégia Saúde da Família” (BRASIL, 2017).
Você sabe como é o modelo assistencial de ESF? Como esse modelo deve estar
estruturado? Seus principais processos de trabalho? No que se diferencia dos
modelos tradicionais de assistência à saúde em APS?
Outro ponto sobre o qual a unidade quer levar você a refletir são os referenciais
normativos que orientam tal modelo. Você os conhece? Sabe quais são seus
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Todavia, você deve ter em mente que, enquanto políticas públicas, tais ações eram
pontuais, prevalecendo ainda o modelo tradicional, mais centralista e voltado para
epidemias, em que os centros de saúde faziam a medicina pobre, para pobres,
segundo Testa (1992).
Lembre-se!
A perspectiva emancipatória diz respeito a um certo compro-
misso histórico do SUS com o Controle Social e com a participa-
ção da comunidade, o maior diferencial entre a Atenção Básica
enquanto projeto técnico-político que reconhecemos no Sistema
Único de Saúde, e os conceitos de Atenção Primária à Saúde que
tanto se discutem no mundo (CECILIO; REIS, 2018). O Controle
Social, enquanto política pública prevista na Lei nº 8.142
(BRASIL, 1990), vai além do reconhecimento de uma competên-
cia cultural; reconhece na própria comunidade e nos trabalha-
dores em saúde legitimidade gestora para fiscalizar e produzir
caminhos para o funcionamento adequado da unidade e do
próprio sistema de saúde.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Com base nesse conceito, pense na unidade de saúde em que você trabalha e no
município em que ela se localiza, procurando reconhecer quanto o Controle Social
está, de fato, presente e se ele é, de fato, uma expressão de reafirmação de pers-
pectiva emancipatória. Caso não seja, como você pensa ser possível desenvolver
tal perspectiva em sua realidade de trabalho.
Desde sua adoção, a PNAB já passou por diversos avanços, com uma reedição em
2011. Desde seus primórdios, várias tentativas de dinamizar as ações de APS se
conectaram a essa política, tais como:
• Instrumento de Avaliação da APS (PCATool);
• Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade (PMAQ-AB);
• Requalifica UBS;
• Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (PROVAB);
• Programa Médicos pelo Brasil;
• Programa Mais Médicos (PMM);
• Programa Mais Médicos pelo Brasil (PMMB).
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Você pode ler mais a respeito desse assunto nos documentos disponibi-
lizados na midiateca.
É importante agora aprofundar seus estudos sobre cada um dos programas que
foram precursores da ESF como a conhecemos hoje, a começar pelo PACS, que
surgiu no início da década de 1990, tendo sido efetivamente instituído e regula-
mentado em 1997. Foi uma importante estratégia que aprimorou o SUS ao propor
e viabilizar uma reorientação ambulatorial e domiciliar que tinha na figura do Agente
Comunitário de Saúde (ACS) um ator fundamental.
Esses agentes, inicialmente, eram pessoas escolhidas da própria comunidade para
desenvolverem ações, coletivas ou individuais, de prevenção e promoção da saúde
para a população, contribuindo para o reconhecimento dos contextos de vida das
famílias, levando em consideração as realidades das comunidades, bem como suas
potências e vulnerabilidades. Muitas vezes atuam em visitas domiciliares, ocorri-
SAIBA MAIS
Caso haja interesse, para entender melhor a importância do papel do ACS dentro
da ESF você pode fazer a leitura do artigo: Processo de trabalho do agente comuni-
tário de saúde e a reestruturação produtiva.
Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csp/2009.v25n4/898-906/.
das sob supervisão competente da equipe de saúde com foco nas pessoas, suas
famílias e seu círculo social.
Após o PACS, surgiu enfim o PSF, que foi a estratégia que antecedeu a implanta-
ção da ESF. Constituiu-se em uma forma de atendimento integral e contínuo à
pessoa e à sua família que, para atingir seus objetivos, viabilizou ações de promo-
ção, proteção e recuperação da saúde. Visou à reorganização das práticas assis-
tenciais, deslocando o eixo ambulatorial curativo dos modelos tradicionais de assis-
tência à saúde, forjados em uma prática hospitalocêntrica, para um enfoque mais
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Para que o SUS entregue o cuidado na forma como está preconizado pela política
pública, diversos modelos de cuidado ocorrem nas unidades de saúde país afora.
Discutiremos pormenorizadamente cada um deles, mas daremos destaque ao prin-
cipal deles: a Estratégia Saúde da Família (ESF), no qual seu trabalho está inserido.
Você deve estar se perguntando: por que essa centralidade na ESF? Em que se dife-
rencia a ESF do modelo tradicional de atendimento? A forma mais simples de expli-
car as diferenças entre eles se dá pela análise do processo de trabalho desse modelo
nas unidades.
É recomendado que cada equipe seja referência para uma população entre 2.000 e
3.500 pessoas, em seu território de abrangência, de forma a garantir acesso e
resolutividade, conforme os princípios da APS.
O número total de ACSs em cada equipe também deve ser definido de acordo com a
base populacional. Em regiões em que o risco e a vulnerabilidade social são muito
altos, recomenda-se a cobertura de 100% da população com número máximo de 750
pessoas por ACS.
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Alta
Complexidade
Média
Complexidade APS
Atenção Básica
Como você pode perceber, afigura piramidal expressa uma lógica de hierarquia
técnica, subordinando o secundário ao terciário e o primário aos dois primeiros.
Essa lógica ainda está presente no imaginário de muitas pessoas e mesmo de pro-
fissionais de saúde.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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REFLEXÃO
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Princípios
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Diretrizes
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Repare que essas três primeiras diretrizes previstas na PNAB possuem um papel
especialmente importante no planejamento e na execução das ações de saúde no
âmbito do SUS. O dimensionamento de serviços, as pactuações de referência e
contrarreferência, bem como as análises epidemiológicas para as ações de con-
trole de endemias, por exemplo, partem de um local, com suas determinações
sociais de saúde/doença e suas necessidades de saúde. A territorialização conduz
ao conceito de responsabilização sanitária e aos benefícios e fronteiras decorren-
tes dessa responsabilidade.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
As diretrizes IV, V e VI, como você pode concluir, possuem um papel significativo
quanto à forma que o cuidado deve ser ofertado pela APS, considerando que o
modelo de atenção às condições agudas não é mais compatível com um bom
cuidado em saúde, torna-se fundamental que se estabeleçam formas de produzir
um primeiro local de cuidados que seja ao mesmo tempo acolhedor, resolutivo,
acessível e produtor de vínculos. Tanto as condições crônicas de adoecimento –
hipertensão, diabetes ou neoplasias –, quanto as condições relacionadas a vulne-
rabilidades e padrões sociais de interação complexa – acidentes e agressões –,
necessitam de produção de vínculo, de profissionais capacitados e de referência,
que conheçam as pessoas e com elas interajam em seu processo saúde-doença.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
As três últimas diretrizes possuem, por sua vez, um papel fundamental quanto ao
papel da APS na rede. Pela proximidade dos serviços de APS, dos quais você é
agente, com o território e possibilidade de construção e manutenção de vínculos
entre trabalhadores e usuários, entende-se que é nesse ponto da rede que deva
se estabelecer o centro de cuidado para o paciente e sua família.
Apesar de o modelo hospitalocêntrico produzir na população uma sensação de
maior resolutividade, os profissionais que, como você, atuam em APS devem reco-
nhecer a potência que carregam por causa desse vínculo e proximidade e, com
isso, tentar construir pontes com a rede de serviços a fim de conseguirem ordenar
e coordenar o cuidado. Mais que isso, devem inserir a própria comunidade na cons-
trução desses cuidados, compartilhando decisões e promovendo, a partir dessa
participação, uma interação que extrapola os limites do serviço, integrando a APS
a uma rede intersetorial de serviços, muitas vezes necessária para os melhores
resultados em saúde.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
União
Cabe ao governo federal a implementação da política de atenção básica, subsi-
diando por meio de apoio técnico e incentivos de financiamento, a ampliação das
equipes e a expansão do acesso, fornecendo o respectivo apoio de custeio. É de
competência da União, nesse sentido, integrar as diferentes políticas vigentes,
consolidando uma determinada intencionalidade da política de saúde. Quanto ao
financiamento da APS no país, conforme preconizado na PNAB, deve, no entanto,
ser tripartite, portanto, de responsabilidade dos três entes federados (União,
Estados e Municípios).
Por outro lado, ao governo federal cabe, também, monitorar aspectos nacionais
e locorregionais, ou de grupos específicos, que possam interferir na consolidação
da APS nessas localidades, nesses grupos ou mesmo no país todo. Entre os exem-
plos de dimensões que podem ser monitoradas pelo governo federal estão as
ações de vigilância, o provimento de profissionais de saúde e os determinantes
de grupos específicos, como a população indígena ou aquela privada de
liberdade.
Nesses casos, o governo federal pode agir por meio de incentivos pontuais ou de
políticas específicas para garantir apoio à implantação da APS e das RASs naque-
las regiões ou municípios, bem como para aprimorar o cuidado ou o acesso para
aquele grupo ou localidade.
Estados
Além de participar do custeio tripartite da APS, cabe aos governos estaduais o apoio
técnico aos municípios para implementação da PNAB no contexto estadual, apoiando
a expansão e consolidação da APS no estado, seja por meio de apoio técnico e
incentivos específicos, seja pela implantação de serviços de abrangência regional.
Os estados possuem, assim, um papel de mediador importante nas relações regio-
nais, podendo agir de modo a complementar ofertas ou fornecer financiamento
de acordo com as realidades locorregionais. Mais que isso, os estados têm o dever
de dar suporte aos municípios por meio de apoio técnico para execução adequada
das políticas públicas vigentes.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Municípios
Aos municípios, por meio dos recursos obtidos com os governos federal e esta-
dual, complementados por recursos próprios, cabe organizar uma rede de ser-
viços capaz de responder pela APS em seus limites, provendo estrutura e proces-
sos (provimento profissional, insumos, etc.), bem como monitorando
resultados assistenciais.
A gestão municipal deve, ainda, articular e criar condições para que os fluxos de
referência aos serviços especializados ambulatoriais sejam realizados, preferen-
cialmente, pela AB, sendo de sua responsabilidade:
• Ordenar o fluxo das pessoas nos demais pontos de atenção da RAS;
• Gerir a referência e contrarreferência em outros pontos de atenção;
• Estabelecer relação com os especialistas que cuidam das pessoas do
território.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Além dessas atribuições, comuns a todos os membros, a PNAB também traz atri-
buições específicas para cada profissão. Para fins didáticos, vejamos, a seguir, as
atribuições dos médicos e dos enfermeiros nas UBS’s:
Médico
i. Realizar a atenção à saúde às pessoas e famílias sob sua
responsabilidade;
ii. Realizar consultas clínicas, pequenos procedimentos cirúrgicos, ati-
vidades em grupo na UBS e, quando indicado ou necessário, no domi-
cílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações
entre outros); em conformidade com protocolos, diretrizes clínicas e
terapêuticas, bem como outras normativas técnicas estabelecidas
pelos gestores (federal, estadual, municipal ou Distrito Federal), obser-
vadas as disposições legais da profissão;
iii. Realizar estratificação de risco e elaborar plano de cuidados para as
pessoas que possuem condições crônicas no território, junto aos
demais membros da equipe;
iv. Encaminhar, quando necessário, usuários a outros pontos de atenção,
respeitando fluxos locais, mantendo sob sua responsabilidade o
acompanhamento do plano terapêutico prescrito;
v. Indicar a necessidade de internação hospitalar ou domiciliar, man-
tendo a responsabilização pelo acompanhamento da pessoa;
vi. Planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS e ACE
em conjunto com os outros membros da equipe; e
vii. Exercer outras atribuições que sejam de responsabilidade na sua
área de atuação.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Enfermeiro
i. Realizar atenção à saúde aos indivíduos e famílias vinculadas às
equipes e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos
demais espaços comunitários (escolas, associações entre outras), em
todos os ciclos de vida;
ii. Realizar consulta de enfermagem, procedimentos, solicitar exames
complementares, prescrever medicações conforme protocolos, dire-
trizes clínicas e terapêuticas, ou outras normativas técnicas estabe-
lecidas pelo gestor federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal,
observadas as disposições legais da profissão;
iii. Realizar e/ou supervisionar acolhimento com escuta qualificada e
classificação de risco, de acordo com protocolos estabelecidos;
iv. Realizar estratificação de risco e elaborar plano de cuidados para as
pessoas que possuem condições crônicas no território, junto aos
demais membros da equipe;
v. Realizar atividades em grupo e encaminhar, quando necessário, usu-
ários a outros serviços, conforme fluxo estabelecido pela rede local;
vi. Planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas pelos técnicos/
auxiliares de enfermagem, ACS e ACE em conjunto com os outros
membros da equipe;
vii. Supervisionar as ações do técnico/auxiliar de enfermagem e ACS;
viii. Implementar e manter atualizados rotinas, protocolos e fluxos rela-
cionados a sua área de competência na UBS; e
ix. Exercer outras atribuições conforme legislação profissional, e que
sejam de responsabilidade na sua área de atuação.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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tarefa simples. Para que possa exercer seu papel em consonância com os prin-
cípios e diretrizes do SUS, deve considerar a singularidade dos indivíduos e sua
inserção sociocultural com vistas à garantia da integralidade e ganho de autono-
mia. Com vistas a obter sucesso nessa tarefa, respeitando tais premissas, a PNAB
orienta que a atenção primária deve organizar seu processo de trabalho com
base em algumas características comuns, que você verá a seguir.
REFLEXÃO
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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Essa articulação ajudará, inclusive, a compreender o fluxo das pessoas, não apenas
quanto ao uso dos equipamentos de saúde e dos demais setores, mas também
as dificuldades de utilização, os acessos fora de área, as soluções encontradas
para determinados vazios sanitários ou a deturpação de um determinado modelo
de atenção.
O olhar ampliado para o território permite a você compreendê-lo sem pré-julga-
mentos e com isso articular planejamentos integrados, centrados no usuário,
levando em conta sua cultura e suas necessidades. Isso permitirá ampliar o acesso
real de sua unidade às famílias e à comunidade, em vez de restringi-lo a um grupo
limitado de pessoas que se encaixam nas rotinas burocratizadas da unidade de
saúde. Essa linha de atuação auxiliará, também, a construir, em todos os membros
da equipe, uma mentalidade de acesso.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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Lembre-se!
Em breve síntese, a UBS deve ser o sítio preferencial de cuida-
dos para o paciente, consolidando o papel da APS enquanto cui-
dadora e, também, como coordenadora e ordenadora de cuida-
dos, de acordo com as necessidades percebidas de cada pessoa
em seus contextos de vida.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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Já deve estar claro para você que os múltiplos itinerários assistenciais previstos nas
RAS passam pela construção de um embricado relacionamento. Já deve ter enten-
dido, inclusive, que a consolidação do papel da APS, como porta de entrada prefe-
rencial do sistema de saúde apenas se dará de forma concreta quando os demais
pontos da RAS, como unidades de urgência e emergência, ambulatórios especiali-
zados e hospitais, passarem a enxergar todas as dimensões citadas anteriormente
como uma forma habitual de a UBS cuidar de todos seus pacientes.
Quando alguma dessas atribuições não faz, efetivamente, parte da missão da
unidade, ela automaticamente se afasta da construção dessa rede e abala a con-
fiança que a rede precisa ter de suas realizações. A relação de confiança propor-
cionada por essa consolidação favorece o aprimoramento do cuidado em rede
por meio de mecanismos diversos de compartilhamento de cuidados e de deci-
sões clínicas, como o apoio matricial ou a construção de instrumentos de
contrarreferência segura. Relação de confiança que deve ser fomentada primei-
ramente pelo exemplo e, posteriormente, pelo franco diálogo e compartilhamento
de problemas e decisões.
Uma vez estabelecida a relação de confiança e havendo maturidade no relaciona-
mento entre a APS e o restante da rede, é natural que tais pontos passem a exercer
um papel complementar de extrema potência para o funcionamento da UBS. Mais
que isso, operam como observatório do sistema de saúde, compartilhando infor-
mações por meio de sistemas logísticos apropriados e seguros, viabilizando a per-
cepção de lacunas assistenciais acerca de indivíduos e coletivos.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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2.4.5 - Acolhimento
É provável que você já tenha estudado a Política
Nacional de Humanização que define o acolhi-
mento como uma postura ética que implica a
escuta do usuário em suas queixas, reconhecendo
seu protagonismo no processo de saúde-doença
e na responsabilização pela resolução de suas
questões. É importante ter em mente que acolher
é, antes de tudo, um compromisso de resposta às
necessidades dos usuários que procuram os ser-
Fonte: Rede Humaniza SUS viços de saúde.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
Nessa perspectiva, a APS deve ter o acolhimento como alicerce de todos os seus
processos e relações de cuidado, sendo base para o relacionamento harmônico
entre trabalhadores e usuários, trabalhadores e gestores, usuários e gestores e,
finalmente, trabalhadores entre si.
O acolhimento deve estar presente nos seus atos de receber e escutar as pessoas
compreendendo suas necessidades, problematizando e reconhecendo-as como
legítimas. Uma vez que se trata de uma postura, deve estar presente na maneira
de lidar com o não previsto, nos modos de construção de vínculos e na continui-
dade do cuidado. Essa postura é necessária sobretudo para com aqueles que
procuram a UBS fora das consultas ou atividades agendadas. Tal escuta deve
levar em consideração, em especial na relação com os usuários, o risco assisten-
cial e a vulnerabilidade social, customizando respostas por meio do trabalho
sinérgico com sua equipe para que obtenham o melhor cuidado para
cada necessidade.
O acolhimento só é alcançado por meio de um interesse legítimo em propiciar o
acesso, devendo estar presente em todo funcionamento de sua unidade, desde
a organização dos fluxos de usuários, passando pelas avaliações de risco e vul-
nerabilidade, e pela definição de modelagens de escuta – individual, coletiva etc.
–, chegando na gestão das agendas de atendimento individual, nas ofertas de
cuidado multidisciplinar, dentre outras ações.
Entre as ações que sustentam o acolhi-
mento em uma UBS, ressalta-se a impor-
tância do acolhimento à demanda espon-
tânea, como forma de ampliação ou
facilitação do acesso. Sua equipe tem o
compromisso ético de atender a todas
as pessoas que chegarem à UBS, não
apenas as agendadas para as ações pro-
gramáticas ou usualmente atendidas.
Esse acolhimento deve avaliar a neces-
sidade do usuário e propiciar-lhe acesso
mediato ou imediato à equipe de saúde,
a depender do risco e da vulnerabilidade
envolvida, com vistas à produção de
vínculo e melhor resposta possível para
cada caso. Em outras palavras, o acolhi-
mento deve enxergar a pessoa e sua
necessidade para construir uma via de
cuidados responsável, integral e
balizada, antes de tudo, pelo vínculo e
pela resolutividade.
Nesse sentido, o acolhimento à demanda
espontânea, oriundo de uma postura Foto por Priscilla Du Preez | Unsplash.com
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
cas, políticas e organizacionais
as equipes desses locais para melhorar a efetividade. Além disso, deve se aproxi-
mar de outros serviços e setores, públicos ou privados, como:
Profissionais das
Serviços e profissionais secretarias de mobilidade
do Sistema Único de urbana/transportes, de
Assistência Social (SUAS) esportes, de educação,
dentre outras
EQUIPE
MULTIPROFISSIONAL
E INTERSETORIAL
2.4.7 - Resolutividade
Entende-se por resolutividade a capacidade de a equipe de saúde diagnosticar e
propor soluções adequadas para as necessidades e demandas de saúde dos usuá-
rios, mitigando riscos e apoiando a construção de um ambiente mais saudável
para toda a comunidade na qual se localiza. A busca por tal característica deve
permear todos os processos de trabalho de sua unidade de saúde, desde o pri-
meiro contato do usuário com o serviço, com vistas a reduzir ao máximo a expo-
sição ao risco assistencial do paciente.
Nesse sentido, espera-se que a UBS em que você atua não se conforme em ser
apenas uma encaminhadora de pacientes para toda e qualquer demanda, muito
menos em ser somente um ponto de vacinação, puericultura e exames periódi-
cos para as ações programáticas. É preciso garantir amplo escopo de ofertas e
abordagens de cuidado, concentrando recursos, maximizando as ofertas e apri-
morando o cuidado local e em rede. Tal postura gera um ciclo virtuoso na quali-
dade dos encaminhamentos aos serviços dos demais níveis de atenção e promove
maior percepção de valor no usuário.
Atingir a resolutividade esperada na APS inclui reconhecer e fazer uso de dife-
rentes tecnologias e abordagens de cuidado individual e coletivo, bem como uti-
lizar habilidades e competências dos diferentes profissionais visando atuar em
todas as fases do processo saúde-doença: promoção da saúde, prevenção de
doenças e agravos, proteção e recuperação da saúde e reabilitação e redução
de danos.
Uma vez que a APS não se caracteriza pela alta disponibilidade de tecnologias
duras de cuidado – como exames de imagem de alta resolução e outros depen-
dentes de uma maior capacidade física instalada –, é fundamental que se promova
o uso das tecnologias leves e leve-duras de cuidado, presentes na disponibilidade
dos saberes e das relações entre as pessoas.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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As ferramentas da clínica
ampliada, da gestão da
clínica e da promoção da
saúde, como os
protocolos e diretrizes
clínicas, incluindo sua
operacionalização em
linhas de cuidado
A implantação de
indicadores de cuidado, Os planos de ação
entre outros
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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Dentre as ações que podem ser desencadeadas citamos os grupos ou ações cole-
tivas com vistas a diversos objetivos como por exemplo:
Para que tudo isso ocorra, é fundamental a integração entre os processos de tra-
balho da UBS com os de Vigilância em Saúde. Tal integração se traduz por proces-
sos contínuos e sistemáticos de coleta, consolidação, análise e disseminação de
dados acerca de eventos relacionados à saúde, com vistas ao planejamento e
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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2. Educador físico;
3. Farmacêutico;
4. Fisioterapeuta;
5. Fonoaudiólogo;
6. Outros médicos especialistas, tais como: acupunturista, ginecologista/
obstetra, homeopata, pediatra psiquiatra, geriatra, clínico do trabalho,
sanitarista, infectologista, hansenologista, cardiologista e dermatologis-
ta;
7. Nutricionista;
8. Psicólogo;
9. Terapeuta ocupacional;
10. Médico veterinário;
11. Com formação em arte e educação (arte educador).
As equipes NASF-AB não devem ser vistas como serviços independentes, especiais
ou autônomos que funcionam na rede de saúde. A atuação dessas equipes deve
ocorrer de forma coordenada e complementar à unidade de saúde de referência,
dando suporte (clínico, sanitário e pedagógico) aos profissionais das equipes locais,
nas respectivas modalidades, considerando as necessidades do território.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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Intervenções no
território e na saúde de
Atendimentos individuais
grupos populacionais de
e compartilhados
todos os ciclos de vida e
da coletividade
Construção de grupos
Interconsultas
terapêuticos e educativos
EQUIPES
NASF-AB
Colaboração e
construção de projetos Ações intersetoriais
terapêuticos diversas
Ações de prevenção e
Ações de educação
promoção da saúde,
permanente
entre outros
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Populações ribeirinhas
Conformadas especialmente para a região da Amazônia legal,
podemos encontrar dois tipos de equipes para essas populações:
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Populações indígena
Para as populações indígenas moradoras de terras indígenas, há um
modelo distinto de APS. Após o reconhecimento do direito à auto-
determinação das populações indígenas pela Constituição de 1988,
a discussão entre esses povos evoluiu com a criação de um subsis-
tema de atenção (Subsistema de Atenção à Saúde Indígena – SASI)
vinculado ao SUS, porém com uma organização distinta das demais
instâncias. O SASI-SUS surgiu em 1999, dando origem, em 2002, à
Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena.
O SASI é o responsável direto pela execução das ações de APS nos
territórios indígenas no Brasil e pela articulação entre a APS e o res-
tante da rede SUS. É de gestão federal, inicialmente a cargo da Fun-
dação Nacional de Saúde (FUNASA). No entanto, desde 2010, está
sob responsabilidade da Secretaria Especial de Atenção à Saúde
Indígena (SESAI).
O propósito da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indí-
genas é:
Garantir aos povos indígenas o acesso à atenção integral
à saúde, de acordo com os princípios e diretrizes do
Sistema Único de Saúde, contemplando a diversidade
social, cultural, geográfica, histórica e política de modo a
favorecer a superação dos fatores que tornam essa popu-
lação mais vulnerável aos agravos à saúde de maior mag-
nitude e transcendência entre os brasileiros, reconhecendo
a eficácia de sua medicina e o direito desses povos à sua
cultura (BRASIL, 2002, p. 13).
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cas, políticas e organizacionais
Encerramento do
módulo
FECHAMENTO DA UNIDADE
Chegamos ao final dessa unidade, que trabalhou com a conceituação da ESF, da
PNAB, da organização do processo de trabalho em APS e dos principais modelos
desse nível de atenção previstos no SUS. Esperamos que você tenha aproveitado
os estudos e que saiba, neste momento, reconhecer o que pretende a política
pública no âmbito da APS e o que se espera do trabalho de equipes como aquela
da qual você faz parte.
Sua compreensão clara e os conhecimentos mais aprofundados sobre a APS per-
mitirão que você identifique os arranjos de cuidado possíveis nesse formato, opor-
tunizando aos seus pacientes o máximo que sua unidade pode oferecer. Tal cuidado
é importante mesmo se sua unidade ainda não estiver em ESF, pois, mesmo que
parciais, eles poderão ajudá-lo a fazer a diferença para as pessoas e para a comu-
nidade na qual atua como Médico de Família e Comunidade.
Acreditamos que, cada vez mais, você terá consciência do desafio que assumiu e
desenvolverá a maturidade e o discernimento para construir caminhos no terreno
do possível com vistas à integralidade, à equidade e à universalidade junto com
muitos que acreditam nesses princípios e trabalham em busca das melhores con-
dições de saúde para a população. Estaremos juntos nessa caminhada.
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EIXO 01 | MÓDULO 02 Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família: bases históri-
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Referências
BRASIL. Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da
comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras provi-
dências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8142.htm
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Biografia dos
conteudistas
CLAYTON DE CARVALHO COELHO
Médico Clínico, Especialista em Saúde da Família pela UFMG, Especialista em Pneu-
mologia Sanitária pela ENSP/FIOCRUZ, Coordenador do Projeto Xingu/UNIFESP –
Projeto de extensão Universitária com Populações Indígenas.
Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/2721697023058325
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MÓDULO 02
REALIZAÇÃO
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