Antropologia Da Religiao 4
Antropologia Da Religiao 4
Antropologia Da Religiao 4
Contemporaneidade
Ponto de Partida
Como você já deve ter notado, o tema desta aula é instigante, pois trata da religião, ou da
religiosidade, na sociedade contemporânea. Ao longo das próximas páginas, exploraremos,
portanto, as características do mundo religioso brasileiro, considerando suas origens
históricas e sua manifestação na nossa sociedade.
Inicialmente, para entendermos a religiosidade brasileira, é fundamental reconhecermos sua
multiplicidade: nossa nação abriga uma miríade de tradições religiosas, que vão desde as
práticas das populações indígenas pré-colombianas até as influências trazidas pelos
colonizadores portugueses e pelas levas migratórias que chegaram ao longo dos séculos.
Quando falamos da formação do povo brasileiro, as religiões indígenas são parte integrante
da história espiritual do Brasil. Antes da chegada dos colonizadores europeus, os povos
nativos praticavam uma variedade de crenças e rituais que se conectavam intimamente com
a natureza e os ciclos da vida. Essas tradições continuam a influenciar muitas comunidades
indígenas até os dias de hoje, mesmo diante dos desafios impostos pela colonização e pela
modernização.
Com a colonização, chegou também a tradição cristã, que exerceu e ainda exerce uma grande
influência na vida religiosa do Brasil. O catolicismo romano foi a religião oficial do país por
muitos anos e continua a ser praticado por uma parcela significativa da população. Além
disso, o protestantismo, com suas várias denominações, ganhou espaço ao longo dos séculos,
contribuindo para a diversidade religiosa do Brasil.
A partir dessas considerações acerca da história religiosa do Brasil, pode-se compreender
melhor o cenário atual de pluralismo religioso que existe aqui. Além das tradições indígenas
e cristãs, o Brasil é lar de uma multiplicidade de expressões religiosas de origens diversas.
Nesse sentido, o sincretismo religioso é uma característica marcante, com elementos de
diferentes tradições se fundindo e se adaptando às realidades locais, uma vez que o país
abriga seguidores do islamismo, do judaísmo, do espiritismo, da umbanda, do candomblé,
entre outras religiões, cada uma contribuindo para a riqueza do panorama religioso
brasileiro.
Diante dessa diversidade, é desafiador quantificar o número exato de religiões presentes no
Brasil atualmente. A dinâmica migratória e a liberdade religiosa garantida pela Constituição
contribuem para a constante evolução e transformação do cenário religioso brasileiro, o qual
é um reflexo da rica tapeçaria cultural e espiritual do nosso povo. Ao compreendermos suas
características e complexidades, podemos apreciar a importância da religião na formação da
identidade nacional e na vida cotidiana dos brasileiros.
Para início de conversa, vamos situar a questão da religiosidade contemporânea a partir do
recorte do nosso país. Nesse sentido, quais são as características do mundo religioso
brasileiro? Quantas religiões existem, atualmente, neste país continental? A segunda
pergunta é muito difícil de ser respondida, pois, em nosso país, estão presentes tradições
religiosas remanescentes de tempos anteriores à chegada dos portugueses (as chamadas
religiões indígenas); a tradição cristã, trazida especialmente no processo de colonização; e
tradições religiosas do mundo inteiro, em virtude de o Brasil ser um país de imigrantes de
todos os continentes. Diante desse cenário de pluralidade religiosa, você já começa a
perceber que a religiosidade no Brasil é um tema vasto e complexo, que reflete a diversidade
cultural e étnica do nosso país. Dessa forma, você está convidado, a partir de agora, a
entender a relação do pluralismo cultural com a diversidade religiosa, principalmente no
cenário brasileiro. Tenha ótimas reflexões!
Vamos Começar!
Vamos Exercitar?
A religiosidade no Brasil é um tema vasto e complexo, refletindo a diversidade cultural e
étnica do nosso país. Ao longo dos séculos, diversas tradições religiosas se entrelaçaram e se
desenvolveram em território brasileiro, resultando em um cenário religioso plural e
multifacetado. Desde as religiões indígenas ancestrais até as tradições cristãs trazidas pelos
colonizadores portugueses, passando por influências de imigrantes de todos os continentes,
o Brasil se tornou um caldeirão de crenças e práticas religiosas.
Diante desse cenário de pluralidade religiosa, surge uma importante questão: como o
pluralismo cultural influencia a diversidade religiosa e como se relaciona com ela no Brasil?
Como essas diferentes tradições religiosas coexistem e interagem em uma sociedade tão
diversa como a nossa?
O pluralismo cultural, caracterizado pela convivência e pela interação de diferentes culturas
e tradições, desempenha um papel significativo na configuração da diversidade religiosa no
Brasil. A rica mistura de influências culturais de povos indígenas, colonizadores europeus e
imigrantes de todo o mundo contribuiu para a formação de uma tapeçaria religiosa única e
complexa.
Essa diversidade religiosa é evidente em todos os aspectos da vida brasileira, desde as
celebrações festivas até as práticas cotidianas. As festas religiosas, como o carnaval e as
festas juninas, combinam elementos de diferentes tradições religiosas em uma celebração
que reflete a identidade cultural do povo brasileiro. Além disso, a pluralidade religiosa no
Brasil também se reflete nas leis e nas políticas públicas que visam garantir a liberdade
religiosa e proteger os direitos das minorias religiosas. O Estado brasileiro reconhece
oficialmente diversas religiões e respeita a autonomia de cada grupo para praticar sua fé
livremente.
No entanto, apesar dos esforços para promover a convivência pacífica entre diferentes
tradições religiosas, ainda existem desafios e conflitos relacionados a essa diversidade no
Brasil. Questões como intolerância religiosa, discriminação e disputas por recursos e poder
podem surgir em um contexto de pluralismo religioso.
Portanto, para entender verdadeiramente a relação entre o pluralismo cultural e a
diversidade religiosa no Brasil, é necessário considerar não apenas as interações entre
diferentes tradições religiosas, mas também os contextos sociais, políticos e históricos que
moldaram essa realidade complexa. Um diálogo aberto e respeitoso entre as diferentes
comunidades religiosas e uma abordagem inclusiva e sensível às diferenças culturais são
essenciais para promover a coexistência pacífica e o respeito mútuo em uma sociedade tão
diversa como a nossa.
Saiba Mais
Na listagem a seguir, indicamos leituras que podem contribuir com o seu aprendizado:
Referências Bibliográficas
ASSIS, Machado de. Helena. Porto Alegre. L&PM, 2010.
IBGE. Censo 2010. IBGE, [s. l.], 2010. Disponível em: https://bit.ly/2Rbyimj. Acesso em: 16
fev. 2024.
Ponto de Partida
Estudante, aqui retomaremos brevemente o modo como a religião é estudada pela
antropologia e como chegou a se construir como uma instituição fundamental da sociedade e
recordaremos, de forma sucinta, alguns dos principais acontecimentos que contribuíram
para a sua mudança e transformação ao longo do tempo, perante as diversas civilizações,
para então chegarmos ao cenário brasileiro contemporâneo. A dimensão religiosa é um
aspecto presente em todos os grupos humanos, com suas respectivas variações em relação
aos contextos locais e podendo ser pensada como uma maneira de significação de si, das
relações, dos acontecimentos e do universo como um todo.
Nesta aula, para contextualizarmos os temas que serão discutidos e para levá-lo a pensar
sobre as mudanças crescentes nas manifestações religiosas no País quanto à sua pluralidade
e diversificação, imagine que foi realizado um evento parecido com o que o Instituto de
Estudos da Religião (ISER) realizou em 1992, durante a conferência da ONU, no Rio de
Janeiro, por ocasião da Eco-92.
O evento em questão foi uma vigília inter-religiosa, cujo tema era “Respeito e tolerância à
diversidade religiosa”. Para realizar a convocação nas redes sociais e em outras mídias, com
o intuito de estimular a participação das pessoas, foram colocados em destaque nas
publicações questionamentos como: a religião tem alguma importância em sua vida? O que
você acha que a religião faz por você e pela sociedade? Por que há indivíduos que são
discriminados por seu pertencimento religioso? Há alguma coisa que você e a sociedade
possam fazer para diminuir a violência e a perseguição religiosa? Em que medida o diálogo e
a paz podem contribuir para uma sociedade que também seja democrática?
O evento atraiu um número significativo de participantes e contou com uma palestra sobre
estatísticas de intolerância religiosa no Brasil e discussões temáticas em mesas redondas.
Todos os participantes que compareceram assinaram uma lista de presença (com solicitação
de preenchimento também de pertencimento religioso).
Assim, chegamos à problematização da aula: considerando o contexto apresentado, imagine-
se como um dos organizadores do evento. Com o intuito de compreender melhor o fenômeno
religioso, ao tabelar os diferentes segmentos assinalados na listagem, você percebeu que
houve participação de pessoas que se identificam com as religiões: judaísmo, espiritismo,
catolicismo, Santo-Daime, kaiowá-indígena, candomblé, ananda marga, bioarquitetura do
sagrado, evangélica, muçulmana, ciranda de luz umbanda, hinduísmo, hinduísmo da Guiana
e da ordem ramakrishna, umbanda, estudos espíritas, luterana, budismo do Japão, budismo
Tibetano, zen-budismo, hare krishna, messiânica, movimento sathya sai baba.
A partir desses dados e de posse dos conhecimentos da antropologia da religião, como você
poderia utilizar essas informações para compreender o lugar da religião na sociedade
contemporânea brasileira? De que maneira poderia usar tais saberes para equacionar
questões ligadas à intolerância, às desigualdades e aos preconceitos? É possível
vislumbrarmos uma sociedade onde haja a convivência pacífica das múltiplas expressões das
religiosidades?
Com esses questionamentos, você está convidado a refletir sobre mais este tema. Bons
estudos!
Vamos Começar!
Essas são apenas algumas das religiões mais populares no Brasil, havendo ainda uma grande
variedade de outras crenças e práticas religiosas no país, o que reflete sua diversidade
cultural e histórica. E quais seriam essas outras crenças e práticas religiosas? Além das
religiões mencionadas anteriormente, outras que refletem a diversidade cultural e étnica da
nação são (Sanches, 2014):
Siga em Frente...
A lista que você acabou de ler é uma parte das tradições protestantes populares no Brasil,
cada uma com suas próprias características teológicas, práticas de adoração e impacto na
sociedade brasileira.
Vamos Exercitar?
Este é momento de exercitar o tema que estudou nesta aula. Considerando o contexto
apresentado, imagine-se como um dos organizadores do evento citado no início: uma vigília
inter-religiosa, cujo tema é “Respeito e tolerância à diversidade religiosa”. Para realizar a
convocação nas redes sociais e em outras mídias, com o intuito de estimular a participação
das pessoas, foram colocados em destaque nas publicações questionamentos como: a religião
tem alguma importância em sua vida? O que você acha que a religião faz por você e pela
sociedade? Por que há indivíduos que são discriminados por seu pertencimento religioso?
Há alguma coisa que você e a sociedade possam fazer para diminuir a violência e a
perseguição religiosa? Em que medida o diálogo e a paz podem contribuir para uma
sociedade que também seja democrática?
A partir desses dados e de posse dos conhecimentos sobre antropologia da religião, como
você poderia utilizar essas informações para compreender o lugar da religião na sociedade
contemporânea brasileira? De que maneira poderia usar tais saberes para equacionar
questões ligadas à intolerância, às desigualdades e ao preconceito? É possível vislumbrarmos
uma sociedade em que haja uma convivência pacífica das múltiplas expressões das
religiosidades?
Considerando a problemática, vamos refletir juntos: ao organizar o evento inter-religioso, é
possível observar a participação de uma ampla gama de tradições religiosas, incluindo
judaísmo, espiritismo, catolicismo, Santo Daime, candomblé, umbanda, hinduísmo,
budismo, entre outros. Essa diversidade reflete a complexidade da sociedade brasileira e a
pluralidade de crenças e práticas espirituais presentes no País.
Diante desse panorama, a antropologia da religião oferece ferramentas conceituais e
metodológicas para compreender o lugar da religião na sociedade contemporânea brasileira.
Através de estudos comparativos e análises históricas, é possível identificar padrões de
interação entre diferentes grupos religiosos, bem como as formas pelas quais as crenças
religiosas influenciam as percepções e os comportamentos individuais e coletivos.
Além disso, a antropologia da religião permite verificar questões ligadas à intolerância, às
desigualdades e ao preconceito. Ao investigar as causas e manifestações da intolerância
religiosa, os antropólogos podem identificar fatores sociais, culturais e políticos que
contribuem para conflitos inter-religiosos e discriminação. Isso pode incluir a análise das
relações de poder, hierarquias sociais e processos de exclusão que afetam determinados
grupos religiosos.
Por fim, a antropologia da religião nos possibilita vislumbrar uma sociedade em que haja a
convivência pacífica das múltiplas expressões de religiosidades. Ao destacar os valores
compartilhados de respeito, tolerância e diálogo intercultural, os antropólogos podem
promover a construção de pontes entre diferentes tradições religiosas e contribuir para a
promoção da paz e da coexistência harmoniosa.
O estudo da religião pela antropologia é fundamental para que possamos compreender a
diversidade religiosa na sociedade brasileira contemporânea e investigar questões ligadas à
intolerância, às desigualdades e ao preconceito. Através de uma abordagem comparativa e
contextualizada, os antropólogos podem identificar padrões de interação entre diferentes
grupos religiosos, analisar as causas da intolerância religiosa e promover o diálogo
intercultural para uma convivência pacífica e respeitosa das múltiplas expressões das
religiosidades.
Saiba Mais
Indicamos uma relação de títulos para aprofundar as abordagens estudadas e contribuir com
o seu aprendizado, não deixe de conhecer:
Elementos para uma história do catolicismo popular: esse texto mostra como o
catolicismo popular se manifesta através de festas religiosas, devoções a santos,
peregrinações, práticas de cura e outras expressões de fé que refletem a cultura e os
valores das comunidades locais. Também aborda a relação entre o catolicismo popular
e as estruturas sociais, econômicas e políticas, bem como sua capacidade de resistência
e adaptação diante das transformações históricas.
Os deuses do povo: um estudo sobre a religião popular: o livro busca
compreender como as crenças e as práticas religiosas se entrelaçam com a vida
cotidiana das pessoas, refletindo suas experiências, anseios e resistências. Explora
diversas expressões da religião popular, incluindo festas, rituais, devoções a santos e
entidades, práticas de cura e magia, entre outras, destacando como essas
manifestações representam uma forma de lidar com as adversidades da vida e de
afirmar a identidade cultural das comunidades.
BRANDÃO, C. R. Os deuses do povo: um estudo sobre a religião popular. São Paulo:
Brasiliense, 1986.
A mística do catolicismo popular – a tradição e o sagrado: o artigo trata da dimensão
mística presente no catolicismo popular, enfatizando a importância da tradição e do
sagrado na experiência religiosa das comunidades populares. O autor analisa como a
mística do catolicismo popular se manifesta através de práticas, rituais e devoções que
expressam uma relação íntima e pessoal com o sagrado, muitas vezes mediada por
santos, imagens e objetos de devoção.
O protestantismo brasileiro: objeto em estudo: o artigo faz uma análise do
protestantismo no Brasil, abordando suas características, sua diversidade e seu
impacto na sociedade brasileira. Também discute a chegada e a expansão do
protestantismo no Brasil, destacando as diferentes denominações e correntes
teológicas presentes, como o pentecostalismo e o neopentecostalismo. Por fim, aborda,
ainda, as implicações socioculturais do protestantismo brasileiro, incluindo sua
influência na política, na mídia e na formação de identidades religiosas.
Referências Bibliográficas
AZZI, R. Elementos para uma história do catolicismo popular. Revista Eclesiástica
Brasileira, Petrópolis, v. 36, n. 141, p. 95-131, mar. 1976. Disponível em: https://
revistaeclesiasticabrasileira.itf.edu.br/reb/article/view/4077. Acesso em: 16 fev. 2024.
GAETA, M. A. J. V. “Santos” que não são santos: estudos sobre a religiosidade popular
brasileira. Mimesis, Bauru, v. 20, n. 1, p. 57-76, 1999. Disponível em: https://
secure.unisagrado.edu.br/static/biblioteca/mimesis/mimesis_v20_n1_1999_art_05.pdf.
Acesso em: 16 fev. 2024.
Ponto de Partida
Você já deve ter observado na sociedade a presença de certas narrativas e certos rituais e
símbolos religiosos que são classificados como “errados”, mas que continuam a ter fortes
raízes nas práticas e nas representações sociais da população, não é? Diante disso, nesta
aula, para contextualizarmos as discussões a serem feitas, imagine um antropólogo com
grande experiência no contexto de sua formação e do convívio junto à comunidade religiosa
de que faz parte, na qual seus colegas, adeptos da mesma religião, respeitam-no por seu
carisma, seu conhecimento e sua postura fiel e disciplinada diante da crença praticada.
Em determinado momento, ele foi convidado para realizar uma palestra a jovens do ensino
médio em um centro comunitário localizado em uma pequena e afastada cidade interiorana.
O tema central da palestra envolve uma discussão sobre a diversidade religiosa encontrada
no Brasil e o propósito dos estudos sobre antropologia da religião. Nessa cidade, são comuns
e cotidianas as narrativas da população sobre adivinhações, mau-olhado, benzedores e almas
penadas. Por exemplo, adivinhações relacionadas à gravidez de determinada mulher e ao
futuro da criança, relacionadas à morte prematura de uma pessoa, maus-olhados e invejas
capazes de levar um indivíduo ao adoecimento, pessoas com um dom de cura ou agravo
sobre as vidas de outras pessoas, ou, ainda, aparecimentos de fantasmas, pessoas mortas,
mas que supostamente continuam a existir no mundo dos vivos.
Essas são as narrativas que constantemente despertam o medo da comunidade, mas que,
ainda assim, não são abandonadas. O que determinadas crenças e superstições revelam
sobre o modo como uma sociedade se organiza? É possível perceber elementos híbridos nas
explicações desenvolvidas pelos indivíduos para acontecimentos extraordinários? Em que
medida a história e a cultura de cada grupo social estão expressos em práticas e
representações tão corriqueiras quanto a de uso da magia?
A partir desse cenário, durante o desenvolvimento da palestra na cidade, um dos jovens
participantes questionou a maneira como os estudos antropológicos da religião podem
fornecer as chaves para a interpretação e a compreensão das manifestações religiosas. Você,
estudante, no lugar do teólogo, responderia a esse questionamento de que maneira?
Questionamentos lançados, agora é hora de desenvolvermos o conteúdo. Bons estudos!
Vamos Começar!
No Brasil, o interesse dos antropólogos foi despertado para o estudo das religiosidades
devido àquelas que se encontravam nas bordas da religião dominante, o catolicismo. A partir
de então, uma série de estudos têm sido feitos sobre o candomblé, a umbanda e o
espiritismo, entre outras denominações evangélicas de protestantes, incluindo as
religiosidades dos povos indígenas, que são muito variadas, e sobre o budismo, o hare
krishna, o islamismo e o xintoísmo (Assis, 2010).
Siga em Frente...
Vamos Exercitar?
A temática das religiosidades se relaciona fortemente, na sociedade atual, com as pautas dos
direitos humanos, uma vez que se espera da sociedade e dos Estados a garantia aos
indivíduos do direito à vida, à liberdade e à crença. Desde a Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 1948, um dos documentos básicos das Nações Unidas, a questão
religiosa já estava assegurada como uma garantia que o Estado deveria assegurar para os
indivíduos, sendo exercida livre e plenamente sem que se colocasse em risco outras
dimensões da vida. Essa conquista se faz presente também na Constituição Federal
Brasileira, de 1988. Contudo, apesar dos avanços, é necessário promovermos a seguinte
reflexão: as religiosidades populares têm todas o mesmo respeito e legitimidade na
sociedade? Por que há notícias de manifestações crescentes de intolerância religiosa no
Brasil e em diversas regiões do mundo? Qual seria o papel do Estado diante dessa
problemática? A sociedade tem alguma responsabilidade sobre esses fatos?
O estudo de caso levanta questões profundas sobre o respeito e a legitimidade das
religiosidades populares, assim como a crescente intolerância religiosa observada tanto no
Brasil quanto em outras regiões do mundo. Para abordar essa problemática, é necessária
uma reflexão multifacetada.
Primeiramente, é importante reconhecer que todas as expressões religiosas, sejam elas
populares ou institucionalizadas, merecem respeito e consideração dentro de uma sociedade
pluralista e democrática. No entanto, na prática, nem sempre todas as religiões são tratadas
com igualdade de respeito e legitimidade. Muitas vezes, as religiões minoritárias ou menos
conhecidas enfrentam estigmatização e discriminação.
As manifestações crescentes de intolerância religiosa podem ser atribuídas a uma série de
fatores, incluindo ignorância, preconceito, conflitos históricos e políticos, além de influências
externas, como o fundamentalismo religioso. No caso do Brasil, por exemplo, o sincretismo
religioso e a diversidade de crenças podem gerar tensões entre diferentes grupos religiosos,
especialmente em um contexto no qual o conservadorismo e o fundamentalismo estão
ganhando força.
O papel do Estado diante dessa problemática é crucial, visto que tem a responsabilidade de
proteger e promover a liberdade religiosa, garantindo que todas as pessoas possam praticar
sua fé sem medo de discriminação ou perseguição. Isso envolve a implementação e a
aplicação efetiva de leis que combatam a intolerância religiosa, além de políticas públicas
que promovam o diálogo inter-religioso e a educação para a diversidade religiosa.
A sociedade também tem uma responsabilidade significativa no combate à intolerância
religiosa. Nesse sentido, é fundamental promover uma cultura de respeito, tolerância e
entendimento mútuo entre diferentes grupos religiosos, o que pode ser alcançado por meio
da educação, do engajamento comunitário e do diálogo inter-religioso. É importante que as
pessoas estejam dispostas a aprender as crenças e as práticas religiosas dos outros,
reconhecendo a humanidade compartilhada que une todas as pessoas, independentemente
de sua fé.
Conforme os estudos, esperamos que você tenha adquirido conhecimentos para enfrentar o
desafio da intolerância religiosa e tenha entendido que é necessário um esforço conjunto do
Estado, da sociedade civil e das instituições religiosas. Somente por meio do respeito mútuo,
da educação e do diálogo inter-religioso podemos construir uma sociedade mais inclusiva e
tolerante, em que todas as formas de religiosidade sejam respeitadas e valorizadas.
Saiba Mais
Para aprofundar o tema estudado e conhecer outras abordagens, considere as indicações de
leitura a seguir:
Espaço, religião & antropologia: uma leitura das formas elementares da vida
religiosa: esse texto explora as relações entre espaço, religião e antropologia,
destacando a contribuição de Durkheim para a compreensão da dimensão espacial da
religião e sua influência na vida social.
Os desafios da religiosidade contemporânea: análise das teorias da individualização
religiosa e espiritual: o artigo aborda os desafios enfrentados pela religiosidade no
contexto contemporâneo, com foco nas teorias da individualização religiosa e
espiritual. O autor examina como as transformações sociais, culturais e tecnológicas
têm impactado as formas de vivência e expressão da religiosidade, levando a uma
tendência de personalização e privatização da fé.
Uma viagem retrospectiva à antropologia da religião: esse texto apresenta uma
revisão histórica e crítica do desenvolvimento da antropologia da religião. Para isso, o
autor traça um panorama das principais abordagens teóricas e metodológicas que
caracterizaram o campo ao longo do tempo, desde os estudos clássicos até as
perspectivas contemporâneas.
Referências Bibliográficas
ALVES, J. E. D. O aumento da pluralidade religiosa no Brasil. IHU – Instituto Humanitas
Unisinos, São Leopoldo, 9. nov. 2017. Disponível em: https://bit.ly/3820cXZ. Acesso em: 20
nov. 2019.
MENEZES, R. de C. Espaço, religião & antropologia: uma leitura das formas elementares da
vida religiosa, de Durkheim. Espaço e Cultura, [s. l.], n. 32, ago. 2013. ISSN 2317-4161.
Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/
view/6974. . Acesso em: 16 fev. 2024.
Ponto de Partida
O primeiro tema de que trataremos nesta aula será o que se refere às novas comunidades e
religiosidades na América Latina, o qual aborda o surgimento e a expansão de novas
expressões religiosas e comunidades de fé na região, marcadas pela diversidade e pelo
dinamismo. Esse fenômeno é parte de um processo mais amplo de transformação do cenário
religioso latino-americano, que tem sido observado nas últimas décadas.
Vamos Começar!
Siga em Frente...
Vamos Exercitar?
Agora é o momento de exercitar o que estudamos sobre o panorama religioso na América
Latina, o qual, conforme apresentado, é marcado por uma rica diversidade e pelo
dinamismo, refletindo a complexa interação de tradições culturais e religiosas indígenas,
europeias e africanas. A região, tradicionalmente dominada pelo catolicismo, tem vivenciado
mudanças significativas com o declínio dessa religião e o crescimento do segmento
evangélico, especialmente o pentecostalismo. Além disso, observa-se um aumento na
diversidade religiosa e no número de indivíduos sem religião, embora não necessariamente
sem crenças religiosas.
Diante desse cenário, surgem várias questões importantes para sua reflexão: como as
mudanças no cenário religioso latino-americano afetam a identidade cultural e social no
país? De que maneira o fenômeno da secularização e o aumento da diversidade religiosa
desafiam as instituições religiosas tradicionais?
Refletindo a partir dos questionamentos levantados, você pode perceber que a diversidade
religiosa na América Latina é um reflexo da complexa história sociocultural da região,
marcada pela interação de diferentes tradições culturais e religiosas. Essa diversidade traz
consigo desafios e oportunidades, pois, enquanto pode enriquecer a cultura e promover o
diálogo inter-religioso, também pode gerar tensões e conflitos. Por isso, é fundamental
promover o respeito pela diversidade religiosa e garantir a liberdade de culto para todos os
grupos religiosos, buscando construir uma sociedade mais inclusiva e tolerante.
Diante da diversidade religiosa na América Latina, é essencial promover o diálogo inter-
religioso e a tolerância religiosa, reconhecendo a importância das diferentes expressões
religiosas na construção da identidade cultural e social da região. Ao mesmo tempo, é
importante garantir a liberdade religiosa e os direitos das minorias religiosas, promovendo
assim uma sociedade mais justa e inclusiva para todos.
Saiba Mais
Na listagem a seguir, você tem indicações de leituras importantes para aprofundar seus
estudos:
CALDERÓN, F.; CASTELLS, M. A nova América Latina. Rio de janeiro: Zahar, 2021.
ORO, A. P. Religião, coesão social e sistema político na América Latina. São Paulo:
iFHC; CIEPLAN, 2008. Disponível em: https://fundacaofhc.org.br/files/papers/434.pdf.
Acesso em: 16 fev. 2024.
SIQUEIRA, D. Novas religiosidades na capital do Brasil. Tempo Social, São Paulo, v. 14, n.
1, p. 177-197, maio 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ts/a/
tsjjF7zgs6kkjTVvSRsdJBm/?lang=pt#. Acesso em: 16 fev. 2024.
Videoaula de Encerramento
Nesta aula concluímos a quarta unidade da disciplina Antropologia da Religião I, voltada
para a religião, a religiosidade e a crença, na contemporaneidade. Ao longo deste
encerramento, discutiremos como esses conceitos são entendidos de maneira diversa e
plural na sociedade atual, de modo a refletir a diversidade de crenças e práticas religiosas.
Exploraremos, também, o papel significativo das principais religiões do mundo, como o
cristianismo, o islamismo, o hinduísmo, o budismo e o judaísmo, na formação da vida social,
cultural e espiritual das sociedades. Na sequência enfatizaremos a importância do diálogo
inter-religioso para promover a compreensão mútua e a coexistência pacífica em um mundo
globalizado. Por fim, abordaremos exemplos de práticas religiosas ecumênicas e projetos
inter-religiosos que contribuem para o crescimento da sociedade e a resolução de desafios
globais. Bons estudos!
Ponto de Chegada
Olá, estudante! Estamos concluindo a quarta unidade de estudos, que tratou de religião,
religiosidade e crença, na contemporaneidade. Ficou claro para você como esses três tópicos
se manifestam na atualidade? Mesmo que já tenhamos analisado cada um deles a partir de
diversas abordagens, outras perguntas ainda podem surgir e suscitar novas respostas, como:
religião, religiosidade e crença são entendidas da mesma maneira na sociedade
contemporânea? Uma resposta possível é a diversidade e a pluralidade, pois todos os
conceitos, na sociedade atual, são caracterizados pela diversidade e pela pluralidade.
A religião, a religiosidade e a crença desempenham papéis significativos na
contemporaneidade, influenciando a vida social, cultural e espiritual de indivíduos e
comunidades. As principais religiões do mundo, como o cristianismo, o islamismo, o
hinduísmo, o budismo e o judaísmo, oferecem diferentes perspectivas sobre a existência, a
moralidade e o propósito da vida, o que contribui para a diversidade do panorama religioso
global (Gomes; Souza, 2013).
Cada uma dessas religiões tem contribuído de maneira única para a sociedade. O
cristianismo, por exemplo, tem desempenhado um papel central na formação da cultura e da
ética ocidentais, promovendo valores como o amor ao próximo e a compaixão. O islamismo,
por sua vez, enfatiza a importância da justiça social e da caridade, como demonstrado pelo
conceito de Zakat, um dos cinco pilares do Islã. O hinduísmo, com sua rica tradição
filosófica, oferece uma visão pluralista da espiritualidade, enfatizando a tolerância e a
aceitação das diversas formas de crença. O budismo, conhecido por sua ênfase na paz
interior e na iluminação, tem inspirado práticas de meditação e mindfulness que são
adotadas por pessoas de diferentes religiões. O judaísmo, com sua ênfase na ética e na
justiça, tem sido fundamental na formação de conceitos morais e legais (Bingemer, 2018).
As religiões descritas influenciam a experiência religiosa na América latina?
No entanto, a diversidade religiosa também traz consigo desafios, especialmente em um
mundo cada vez mais globalizado e interconectado. Nesse contexto, o diálogo inter-religioso
surge como uma necessidade premente para promover a compreensão mútua, o respeito e a
coexistência pacífica entre diferentes tradições religiosas. Esse diálogo é essencial para
enfrentar questões globais, como a pobreza, as injustiças sociais e as crises ambientais, que
exigem uma resposta conjunta e solidária das comunidades religiosas (Moniz, 2017).
Como resolver os desafios da diversidade religiosa?
Exemplos de práticas religiosas ecumênicas que contribuem para o crescimento da sociedade
são cada vez mais comuns. Iniciativas como o Conselho Mundial de Igrejas, que promove a
unidade entre as denominações cristãs, e eventos como o Dia Mundial da Oração pela Paz,
iniciado pelo Papa João Paulo II em Assis, demonstram o compromisso das religiões com a
paz e a harmonia globais. Além disso, projetos inter-religiosos de ajuda humanitária e
desenvolvimento social, como a colaboração entre organizações islâmicas e cristãs para
combater a fome e a pobreza, ilustram como a fé pode ser um motor para a ação positiva e
transformadora (SANCHEZ, 2010).
Quais práticas religiosas podem contribuir para o ecumenismo e o diálogo inter-religioso na
contemporaneidade?
É Hora de Praticar!
A fim de desenvolver a competência desta unidade, avaliaremos as representações éticas e o
papel da responsabilidade social das religiões. Para isso, apresentaremos a você uma
situação-problema que o levará a pensar no diálogo inter-religioso sobre responsabilidade
social e ambiental. Nesse sentido, imagine que, em uma região diversificada em termos
religiosos e culturais, uma grande empresa de energia planeja construir uma barragem
hidrelétrica. O projeto promete desenvolvimento econômico e geração de energia limpa, mas
também gera preocupações quanto ao deslocamento de comunidades da região, aos
impactos ambientais e à preservação de locais sagrados.
Com isso, a construção da barragem gerou tensões entre diferentes grupos religiosos na
região. Alguns veem o projeto como uma ameaça às suas tradições e ao meio ambiente,
enquanto outros o apoiam por suas promessas de progresso. Surgem, então, questões éticas
sobre a responsabilidade social das religiões em proteger os direitos das comunidades e o
meio ambiente.
Nesse contexto, você é convidado a refletir sobre como contextualizar uma solução ou chegar
a um desenvolvimento consistente da situação. Como você resolveria esse caso? Vamos
refletir juntos!
Reflita
Referências