Parte Textual - ESTRATÉGIAS DE LEITURA QUE PODEM SER USADAS PARA CULTIVAR NOS ALUNOS O GOSTO PELA LEITURA

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CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

1.1 – A Problemática da investigação

A Leitura é uma das competências que marcaram a evolução da raça humana.


Através dela o homem tem a oportunidade de interpretar signos linguísticos escritos afim
de se informar, obter conhecimento e, até, se entreter. Com o aprendizado dessa
competência linguística, o processo da obtenção da informação e do conhecimento,
através da leitura, tornou-se um dos requisitos para o desenvolvimento intelectual, social
e cultural.
A leitura está entre os meios de busca de conhecimento mais tradicionais que
existem na história da humanidade. Além disso ela é das actividades educativas que mais
desenvolvem o nível cognitivo dos alunos. Leituras bem direccionadas, acompanhadas
de reflexão, transformam vidas, geram ideias, desenvolvem o mundo. Portanto, a leitura
é de extrema importância para a vida acadêmica dos alunos.
No entanto, vale realçar que o desenvolvimento dessa competência linguística não
é automática, ou seja nenhum humano já nasce com a habilidade de leitura ou a aprende
de modo espontâneo, assim como se adquire a primeira língua, mas sim, seu aprendizado
depende da exposição a um sistema de ensino.
Isso significa que para que um indivíduo adquira a capacidade de interpretar os
signos escritos de uma língua precisa, necessariamente, passar por um processo
sistemático de ensino e aprendizagem. Uma vez que ele tenha a oportunidade de ser
submetido ao processo de ensino e aprendizagem, começa a conhecer as letras que
compõem o alfabeto da sua língua e sua pronúncia, ou pronúncias, em função das relações
que estabelecem entre si para a formação de fonemas.
Na nossa realidade educativa, esse processo começa efectivamente no ensino pré-
escolar e primário, onde a criança, dos cinco aos dez anos, começa a socializar-se e tem
os primeiros anos de escolarização. Nessa fase, o principal objectivo da escola é ensinar
a criança a aprender e a ter gosto pela leitura.
Entretanto o aprendizado da leitura não é possível apenas na escola. Isso decorre
porque a educação é um processo social e a escola não é a primeira, ou a única, sede de
socialização da criança. Temos a família como o berço da socialização dela. Neste
ambiente, com conhecimento, os pais e/ou outros intervenientes podem criar condições
para que a criança aprenda a leitura mesmo antes de ir à escola. Daí que são conhecidos

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inúmeros casos de crianças que, ao entrarem no sistema de educação formal, já liam/lêem
muito bem.
Mas como abordar sobre ensino e aprendizagem leva-nos logo a associar esse
processo à escola, porque quase que não é possível desassociar o processo de ensino e
aprendizagem dela, essa instituição é a principal sede social em que se desenvolve o
ensino e a aprendizagem. Sendo que um dos seus objectivos é formar e desenvolver no
indivíduo a competência linguística da leitura, o nosso trabalho vai fixar-se na escola
como fonte do processo de ensino e aprendizagem da leitura, apresentando propostas para
actividades que melhoram essa competência linguística.
Depois que é aprendida a leitura deve ser desenvolvida. E para o desenvolvimento
dessa capacidade, para que o indivíduo leia bem, é necessário que faça da leitura uma
prática. E essa prática não só torna a leitura expressiva, como também desenvolve outra
capacidade linguística – a escrita. Essas duas competências linguísticas complementam-
se.
Quando falamos em boa leitura pensamos no seguinte: as palavras são lidas
correctamente, respeitando a sua acentuação gráfica ou tónica; são lidos grupos de
palavras, que formam as frases, e não palavra por palavra, para que se tenha a
interpretação correcta das frases; são expressados os sentimentos certos manifestados
através das palavras, especialmente em textos narrativos.
Atingir esse nível de leitura exige mais do que aprender a ler, algo que se atinge,
normalmente até ao final do ensino primário. Exige fazer da leitura uma prática diária,
um hábito de vida – amar a leitura.
No entanto, nos últimos anos tem se verificado uma crescente letargia à prática da
leitura por parte dos alunos. Os alunos, em particular, e a sociedade, em geral, estão a ler
cada vez menos.
Vários factores concorrem para que isso aconteça. Pode-se mencionar as
crescentes evoluções no mundo tecnológico, como o uso do telefone e suas diferentes
formas de comunicação (chamadas de voz, vídeo-chamadas, etc.) e a expansão da rádio
e da televisão.
Em função disso, infelizmente, muitos alunos já não recorrem ao livro, ao jornal,
à revista, ou a qualquer outra publicação escrita afim de buscar conhecimento ou como
actividade recreativa.
Essa letargia à leitura reflete-se no mau desempenho dos alunos em várias
actividades escolares como a escrita e a expressão oral, e até mesmo no baixo

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aproveitamento quantitativo. Assim, surge a necessidade de se criar, principalmente à
nível da escola, actividades educativas que promovem o incentivo à leitura.

Portanto, tendo em conta essa necessidade, levantamos as seguintes questões:


Como incentivar os alunos a cultivar o hábito da leitura? Quais actividades didácticas
podem ser usadas para desenvolver a prática da leitura nos alunos? Como aplicar essas
actividades didácticas em sequências que desenvolvam o gosto à leitura por parte dos
alunos?

Essas questões servem de guião para o nosso trabalho de investigação. É a partir


delas que construiremos nossas abordagens, a busca de suas possíveis respostas.

Para responder essas perguntas apresentamos resultados que são frutos de uma
compilação de estudos de trabalhos que tratam sobre actividades pedagógicas que
incentivam à prática da leitura.

Os trabalhos que utilizamos como suporte teórico para a apresentação dos dados
que compilamos são os estudos de Isabel Solé (1998) e Cyndi Oliveira e Elza Santos
(2019).

1.2 - Delimitação da Investigação

Nos trabalhos que iremos compilar, vamos nos focar nas sugestões apresentadas
sobre as actividades que podem ser implementadas, na sala de aulas, com o propósito de
motivar os alunos a desenvolverem gosto pela leitura. Além disso, estaremos focados
também nos resultados obtidos através da aplicação das actividades sugeridas pelos
autores que iremos compilar.
No trabalho de Isabel Solé (1998) vamos nos focar nas estratégias, propostas por
essa autora, para desenvolver nos alunos o gosto pela leitura. Na sua obra, esta autora,
apresenta os possíveis caminhos para o desenvolvimento de crianças leitoras. Solé define
estratégias de leitura como “procedimentos de caráter elevado, que envolvem a presença
de objectivos a serem realizados, a planificação das acções que se desencadeiam para
atingi-los, assim como sua avaliação e possível mudança”. (SOLÉ, 1998)
E finalmente, mas não menos importante, temos a obra das autoras Cyndi Oliveira
e Elza Santos (2019). Na obra dessas autoras iremos destacar os pontos que abordam
sobre como elaborar e desenvolver sequências didácticas com as estratégias de leitura.

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Os resultados obtidos a partir desses trabalhos, terão sua aplicação delimitada às
classes do Iº ciclo do ensino secundário, nomeadamente a 7ª, 8ª e 9ª classe.
Seleccionamos estas classes porque quando o aluno chega ao Iº ciclo, por norma, já
aprendeu a ler, através da sua passagem no ensino primário (cujo fim se dá na 6ª classe)
e já está, até certo ponto, na adolescência e, portanto, deve ser incentivado a fazer do
hábito da leitura uma prática regular. Nessa fase, incentivá-lo a gostar de ler é
preponderante para a sua formação pessoal e desenvolvimento cognitivo.

1.3- Objectivos da Investigação

Geral

Sendo que o claro entendimento das estratégias que podem ser aplicadas para
motivar os alunos a desenvolverem gosto pela leitura é de extrema importância no
desempenho da actividade docente, pretendemos aqui:

Compilar trabalhos que indicam actividades lectivas que podem ser realizadas
para incentivar os alunos a se empenharem à prática da leitura.

Específicos
1º Analisar as razões que levam os alunos a desenvolverem pouco ou nenhum
interesse pela prática da leitura;

2º Apresentar metodologias que servem para motivar os alunos a desenvolverem


gosto pela leitura.

1.4 – Quadro Teórico

Desenvolver o gosto pela leitura nos alunos é uma tarefa que deve ser exercida,
em sala de aula, pelo professor. Este deve estar munido de conhecimentos didáctico-
pedagógicos que lhe permitam conhecer as estratégias didácticas de leitura que devem ser
aplicadas em sala de aulas. Do ponto de vista Didáctico podemos conceituar estrategias
de leitura como “procedimentos de carácter elevado, que envolvem a presença de
objectivos a serem realizados, a planificação das ações que se desencadeiam para atingi-
los, assim como sua avaliação e possível mudança.” (SOLÉ, 1998) Por outro lado, outros
autores, como Galliano (1979), referem-se em método em vez de estratégia. Para
Galliano (1979), método é um “(…) conjunto de etapas, ordenadamente dispostas, a serem

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vencidas na investigação da verdade, no estudo de uma ciência ou para alcançar
determinado fim.”

Os conceitos apresentados por Solé e Galliano remetem-nos a uma reflexão


sobre como ensinar a leitura. Isto significa que não se trata apenas de uma questão
cognitiva e de descodificação do código escrito, mas de uma elaboração complexa que
requer o uso de estratégias específicas ou métodos adequados que devem ser aplicadas
durante o processo de ensino da leitura, particularmente no I⁰ ciclo, área em que
aplicamos as nossas abordagens.

Assim, a escola moderna precisa repensar a maneira como ensina ou desenvolve


nos alunos a prática da leitura. Os professores de Língua Portuguesa do I⁰ ciclo devem
preocupar-se com o desenvolvimento do gosto pela leitura nos alunos. Sobre este assunto,
Isabel Solé (1998) aponta que ainda há pouco espaço nas aulas para se ensinar a leitura,
pois o professor acredita que muitas vezes basta o estudante aprender a escrever para que
a leitura se desenvolva sozinha conforme o aluno avança em sua escolaridade.

Cabe então à escola contribuir para a formação de um leitor que não se caracterize
como um ser obediente e apático que preenche fichas, faz resumos de livros ou reproduz
trechos de materiais escritos, mas sim daquele leitor que é provocado e estimulado pelos
textos que lê, que engendra e constitui sentidos, que dialoga com o escrito, com seu
contexto, fazendo-o brotar e utilizando-o na sua biblioteca vívida. Enfim, é a escola que
irá “promover nos alunos a utilização de estratégias que lhes permitam interpretar e
compreender autonomamente os textos escritos.” (SOLÉ, 1998)

Um exemplo de uma estratégia que deve ser aplicada à prática da leitura, e que
deve ser ensinada aos alunos pelo professor, é o emprego de esquemas ou procedimentos
realizados pelo leitor, para obter, avaliar e servir-se de uma informação presente no texto.
O que possibilita com que o leitor: “Planeje sua tarefa geral de leitura e sua própria
localização, motivação e disponibilidade diante dela facilitarão a comprovação, a revisão,
o controle do que lê e a tomada de decisões adequadas em função dos objetivos
perseguidos”. (SOLÉ, 1998)

Por outro lado, a planificação da actividade da leitura em sala de aula com o


objectivo de incentivar os alunos à prática e ao gosto pela leitura, deve ser elaborada
seguindo esquemas didácticos. Assim as estratégias de leitura devem ser aplicadas numa

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ordem lógica e não aleatoriamente. Essa ordem lógica, através da qual cada estratégia de
leitura, será aplicada recebe o nome de sequência didáctica.

Para Oliveira e Santos (2019), sequência didáctica “é um procedimento encadeado


de etapas ligadas entre si para tornar o processo de aprendizado mais eficiente. Ela é
planejada e desenvolvida para a realização de determinados objectivos educacionais, com
início e fim conhecidos tanto pelos professores, quanto pelos alunos”.

Outra autora que defende o uso de sequências didácticas no ensino da Língua


Portuguesa é Mariana Correia. Correia (2018) aponta que uma sequência didáctica “é,
pois, um conjunto de actividades escolares planejadas e organizadas, de maneira
sistemática, em torno de um objecto de ensino”.

Dos conceitos apresentados por estas autoras podemos compreender que a


sequência didáctica organiza as etapas através das quais os conhecimentos serão
construídos. Assim, as actividades didacticas que serão aplicadas em sala de aulas devem
estar sequenciadas obedecendo às fases da sequência didáctica.

Portanto, entender o valor pedagógico e as razões que justificam uma sequência


didáctica é fundamental para identificar suas fases, que, segundo Oliveira e Santos (2019),
são: Produção inicial, os módulos (podem variar conforme o tipo e tamanho do texto a
ser lido) e a produção final.

Outra sugestão da estrutura de uma sequência didáctica é a apresentada por


Correia (2018) que afirma que uma sequência didáctica começa sempre com a
apresentação da situação, esta é seguida pela produção inicial (Módulo 1, Módulo 2 e
Módulo 3), e termina com a produção final.

Cada uma dessas fases correspondem às etapas em que as estratégias de Leitura


devem ser aplicadas dentro da sequência didáticas.

1.4.1 – Fundamentação Teórica

Etimologicamente, a palavra “ler” teve a sua origem do latim clássico, “legere”,


com o significado de recolher, apanhar, enrolar, tirar, captar com os olhos, ler em voz
alta. Isso indica que o significado inicial dessa palavra era mais limitado e estava restrito

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para a interpretação dos signos escritos. Assim, a leitura podia ser definida como o acto
de decifrar um texto escrito. (COELHO, 2011)

No entanto temos de mencionar que ler é mais do que decifrar ou interpretar


textos, requer prática por parte do leitor, pelo que ele deve ser capaz de usar métodos que
o facilitem na decifração de palavras, frases e tirar do texto o significado como um todo
coerente. Para isso, o leitor precisa ser hábil na interpretação a fim de compreender o que
leu. (SANTOS, 2000)

Então podemos afirmar que é no acto de ler que o leitor irá colher e armazenar
em seu interior os sentidos e significados humanos com os quais teve contacto na leitura.
É por meio de sua relação com o documento escrito que ele dará sentido e compreenderá
a matéria lida e pode assim, compreender-se, reconhecer-se e desenvolver suas
potencialidades, descobrindo-se, portanto, pertencente à raça humana e herdeiro de tudo
que advém com isso. (SILVA, 2002)

A leitura contribui assim para criar um pouco de jogo no tabuleiro social, para que
os que a praticam se tornem um pouco mais actores de suas vidas, um pouco mais donos
de seus destinos e não somente objectos do discurso dos outros. A leitura ajuda a sair dos
lugares prescritos e a se diferenciar dos rótulos estigmatizantes. (PETIT, 2008)

Ao longo do tempo, as investigações na área da leitura tem sido feitas com base
em fundamentos da “Psicologia, Linguística, Antropologia, Sociologia, Informática,
Cibernética, Modelos de Aprendizagem e Prática Pedagógica”. (SEQUEIRA, 1989, p.
73)

Neste ponto, gostaríamos de direccionar o foco da nossa abordagem para os factos


psicológicos relacionados à aprendizagem e a prática da leitura.

Para a psicologia cognitiva a leitura realiza-se em dois processos: o acesso ao


léxico e a compreensão. (Boso, 2010) O primeiro tem que ver com factores de percepção.
O segundo fundamenta-se nos factores cognitivos de alto nível onde intervêm a memória
e a razão.

Essa visão leva-nos a concluir que, mesmo quando uma criança já reconhece
palavras de um determinado texto, ela ainda não atingiu a capacidade de ler, pois a leitura
é um processo mais complexo que o simples reconhecimento e acesso ao léxico, tendo
em conta que o acesso ao léxico não se dá de forma independente.

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Então, para se atingir plenamente a capacidade da leitura a criança tem de, além
de ler, compreender o que lê, construir o sentido do que lê, ou seja, precisa identificar-se
primeiro com o que lê. Essa ideia é defendida por Giasson (1993, p. 35) quando diz que
“a compreensão não é a simples transposição do texto para a mente do leitor, mas uma
construção do sentido que ele próprio faz”.

Ainda sobre a questão da compreensão, Durkin, citado por Giasson (1993, p. 47),
diz: “Seria difícil encontrar alguém que não esteja de acordo com afirmação de que ler e
compreender são sinónimos. No entanto, só há pouco tempo é que os investigadores e os
professores orientaram os seus esforços para o ensino da compreensão na leitura. Antes,
parecia crer-se que o facto de fazer perguntas sobre o conteúdo do texto, levava os alunos
a compreendê-lo melhor. Esta posição teve como consequência pedagógica incitar os
professores a avaliar constantemente na aula o que fora ensinado. Outro resultado desta
concepção foi fazer ver que o melhor meio de resolver os problemas de compreensão era
fazer perguntas adicionais”.

O reconhecimento de palavras é um processo que se pode automatizar, enquanto


que a compreensão deve ser consciente para se evitar erros na leitura. Como conseguir
isso?

Arroyo (1996) sugere que o ideal é automatizar o reconhecimento do léxico da


sua língua, porque a medida que este processo se automatiza os recursos da cognição
estarão disponíveis para compreender. A escola não deve poupar esforços e tempo para
consolidar os processos de reconhecimento do léxico da língua. O tempo e os esforços
dedicados à automatização e mecanização da descodificação de palavras, construção de
sílabas, codificação de palavras e processamento sintáctico e semântico irão beneficiar as
operações de alto nível associados à compreensão, nomeadamente: integração de
proposições em esquemas, inferências e uso de metas na leitura.

O desenvolvimento da capacidade da leitura começa a se desenvolver nos


primeiros anos escolares, quer as crianças estejam já inseridas no sistema de ensino ou
não, desde que elas comecem a ser ensinadas a ler o léxico da sua língua. É função da
escola transmitir os conhecimentos culturalmente criados pela humanidade ao longo do
tempo e dentre eles, o mais elaborado é a leitura. É na escola que a criança deverá se
apropriar da leitura, aprenderá a ler e entender os símbolos mostrados, uma vez que, o
ensino formal “[…] começa no período de alfabetização, quando a criança passa a

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compreender o significado potencial de mensagens registradas através da escrita”.
(SILVA, 2002, p. 31).

Bordini e Aguiar (1993) consideram “a escola o lugar de se aprender a ler e gostar


de ler”. Na escola, trata-se, portanto, de introduzir os alunos no mundo do conhecimento
e do aprimoramento de sua capacidade de pensar e, ao mesmo tempo, à medida que a
escola lida com sujeitos diferentes, considerar no ensino a coexistência das diferenças, a
interação entre indivíduos de identidades culturais distintas.

Sendo assim, Santos e Souza (2004) afirmam que a escola deve proporcionar ao
aluno o contacto com livros de carácter agradável que ofereçam uma visão crítica do
mundo, uma vez que o conduzirá a oportunidade de experimentar a história e colocar-se
em acção por meio da imaginação. No entanto, é necessário evitar a imposição, muitas
vezes, de textos que não são atractivos. Pois que tais textos podem ser contraproducentes
para os interesses e objectivos que nos propomos alcançar.

Fortalecer o hábito e a compreensão da leitura é um objectivo primordial. Os


objectivos da escola ao proporcionar ao aluno oportunidades de desenvolver a sua leitura
são o desenvolvimento: a) das capacidades intelectuais por meio dos conteúdos; b) das
caraterísticas individuais de personalidade e sociais do aluno; c) dos factores
socioculturais e institucionais da aprendizagem.

Assim, hoje em dia é consensual que há a necessidade de produzir um cânone


literário especificamente direcionado aos alunos adolescentes e jovens. E estas obras
devem estar disponíveis, na escola, a ele. (Mergulhão, 2008) E Segundo Azevedo (2004),
à escola compete auxiliar e desenvolver no aluno sua formação leitora, de modo a levá-
lo a perceber o livro como reflexo de seus sentimentos, assim como manifestação activa
da cultura de uma sociedade e veículo que transmite um ser-estar no mundo, instruído da
leitura. Como muitas coisas da vida, a leitura exige esforço e o chamado prazer da leitura
é uma construção que pressupõem treino e capacitação.

No entanto, é de realçar que a escola moderna deve melhorar no aspecto de


percorrer as fases de aprendizagem da criança desde o seu início, sob pena de formar
maus leitores. Este problema, segundo Salgado (1997, p. 45), é grave porque quando a
escola não cumpre a sua missão de formar bons leitores, “um número significativo de
alunos entrará no 2º ciclo sem competência básica para construir o seu sucesso de ensino
que se sabe essencialmente livresco”.

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Boa parte das actividades de ensino da leitura ou de desenvolvimento do gosto
pela leitura falham preciosamente porque são postas em prática sem ter em conta o modo
como se processam as diversas operações que intervêm durante o processo de formação
do leitor.

Por isso é que Barbosa, citado por Salgado (1997, p. 46), admite que “as
actividades devem sempre colocar as crianças em situações mais próximas da realidade
do acto de ler, nas diversas circunstâncias, utilizando as diferentes estratégias para a
leitura, em busca do sentido dos textos. A criatividade de cada professor é o limite”.
Assim é necessário começar por elucidar os alunos sobre o que é ler e como se adquire
esta competência. Isso é sustentado por Benavente, citado por Salgado (1997, p. 14),
quando afirma que “não estamos preocupados com quem sabe ler e quem não sabe.
Preocupa-nos sim, o que se sabe ler e com que grau de competência se sabe manusear a
informação”.

Actualmente é necessário fazer sentir aos alunos a importância da linguagem, do


seu valor e do seu poder como meio de comunicação e expressão. Esta ideia é fomentada
também por Alonso (2002, p. 23) que sustenta que “se entendermos a linguagem como
uma extensão do ser humano que lhe permite relacionar-se com os seus semelhantes,
parece lógico afirmar que é necessário exercitá-la a fim de que esta relação seja mais
eficaz, mais útil e mais satisfatória”. Isso sem dúvida eleva os níveis de compreensão da
leitura feita pelos alunos.

Na realização da leitura, o estímulo recebido pelas formas impressas desempenha


uma função importante. É com base neste estímulo que devemos “ entender a natureza e
o desenvolvimento dos processos básicos de leitura” para daí chegar a uma metodologia
de “ensino e aprendizagem” que promova não só o “sucesso dos alunos”, mas que ajude
a formar “cidadãos literatos que, depois do período de educação escolarizada, sejam
leitores críticos, capazes de auto-regular os seus processos cognitivos de modo a saber
escolher as estratégias necessárias a cada situação de leitura” (Sequeira, 1989, p. 73).

Ao falarmos do gosto, do interesse pela leitura referimo-nos à aquisição da leitura


compreensiva, leitura que vai mais além do acto de unir sons, reconhecer grafias, recordar
significados, decifrar palavras. Procuramos através da leitura compreensiva que as
crianças desenvolvam a leitura crítica, a leitura que se instala na busca do sentido. Quando

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falamos de despertar o gosto pela leitura, referimo-nos a uma atitude que deve ser
alimentada, motivada diariamente.

O incentivo à leitura é de tamanha importância, pois que “O trajecto do aluno que


não lê é um círculo que se vai fechando até à perda quase completa de decifrar palavras,
isto é, como tem dificuldades de compreensão linguística não gosta de ler, lê cada vez
menos, a actividade é-lhe cada vez mais difícil e menos apetecível e, assim, até não saber
ler” (Sousa, 1988p. 119).

Segundo Barroco (2004, p. 141), os alunos com melhor desempenho de leitura


leem mais rapidamente. Segundo este autor, “a fluidez leitora deve ser ensinada e
treinada, já que uma leitura lenta poderá comprometer todo o processo de compreensão”.
O autor ainda vai mais longe ao dizer que “os alunos com melhor desempenho tendem a
usar mais estratégias”. (Barroco, 2004, p. 142)

Essas conclusões apresentadas por Barroco comprovam a necessidade do ensino


de estratégias de leitura ou, por outras palavras, “apostar no ensino explícito de estratégias
específicas de leitura”. (SIM-SIM, 2001, p. 19)

Outro ponto importante que se deve realçar no desenvolvimento da leitura dos


alunos é a participação da família. Ela “ exerce um poder importante sobre o sucesso do
aluno” (Barroco, 2004, p. 146). Alunos oriundos de famílias com mais e bons recursos
educacionais e onde são valorizados os estudos e a leitura obtêm melhores resultados.

Assim apresentamos uma revisão, possível, da literatura que fornece um quadro


teórico a partir do qual iremos construir as nossas análises sobre a questão das estratégias
aplicáveis para se conseguir motivar os alunos a desenvolverem gosto pela leitura.

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CAPÍTULO 2- MÉTODOS E MATERIAIS

2.1 – A natureza da nossa Pesquisa

As questões que procuramos responder ao longo do nosso trabalho surgiram a


partir de observações feitas ao longo do nosso estágio curricular, correspondente à cadeira
de Prática Pedagógica I, do terceiro ano, realizado na Escola Grande do Rangel.

O que verificamos foi que, mesmo já estando no Iº ciclo, muito alunos têm
algumas dificuldades para ler textos em Língua Portuguesa e grandes dificuldades para a
interpretação.

Os dados observados levaram-nos a procurar estudar sobre os processos que


podem ser aplicados para que se possa ajudar os alunos a desenvolver o gosto pela leitura.

Abordar a questão referente a necessidade de incentivar os alunos à prática da


leitura é falar sobre um assunto que não é novo no campo da educação. Ao longo da nossa
pesquisa deparamo-nos com inúmeros trabalhos, incluindo artigos, revista e livros, que
tratam tanto da importância da leitura a todos os níveis e das metodologias aplicáveis ao
seu ensino, como dos métodos para se trabalhar com a leitura em sala de aula para que os
alunos não se limitem apenas a ler, mas sim a ler muito bem e gostar da prática da leitura.

Assim, a nossa pesquisa é mais uma das várias que já existem e que tratam dos
possíveis métodos a serem usados na escola para se desenvolver o gosto da leitura por
parte dos alunos. No entanto, não apresentamos resultados puramente originais resultante
de um estudo de caso feito por nós. O que fizemos foi um trabalho de compilação de obras
que tratam da mesma temática tratada neste trabalho. Isso, basicamente, envolveu reunir
os resultados apresentados por outros autores e fazer um diálogo entre eles para que
tivéssemos um único resultado.

Para que este trabalho fosse possível foi necessário que primeiramente fizemos
uma pesquisa bibliográfica. Este tipo de pesquisa deve ser feita a partir do levantamento
de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos. A
pesquisa bibliográfica é de extrema importância na realização do trabalho científico, já
que dá ao pesquisador a possibilidade de conhecer o que já se estudou sobre o assunto.

A nossa pesquisa baseou-se unicamente na pesquisa bibliográfica, por meio da


qual procuramos encontrar teorias já publicadas com o objetivo de recolher possíveis
respostas aos questionamentos que constituem o problema que levantamos no primeiro

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capítulo deste trabalho. O que tivemos de fazer foi, essencialmente, uma estruturação
lógica, com base nos trabalhos que seleccionamos, afim de obter uma compilação
confiável que pode ser usada como fonte de consulta para futuros trabalhos. Assim, a
estruturação que fizemos concebeu uma ordenação das ideias que contribuem para dar
respostas aos problemas que nos levaram a realização desta pesquisa.

2.1.1 – O Trabalho De Compilação

Para efeitos de fundamento teórico apresentamos, a seguir, conceitos que


sustentam a possibilidade de se fazer um trabalho de pesquisa científica do tipo
“Compilação de estudos” a partir da pesquisa bibliográfica.

Os conceitos que apresentamos baseiam-se nas orientações de Umberto Eco


(2007) encontram-se na obra “Como se faz uma tese”. Este autor designa o tipo de
pesquisa científica em que os dados que respondem as questões levantadas na formulação
do problema são obtidos através da consulta bibliográfica em outros trabalhos já
publicados como “tese à italiana” ou “tese de compilação”. Neste caso, numa tese à
italiana, ou tese de compilação, o autor procura estudar diversos trabalhos publicados e
fazer uma união dos pontos propostos por cada um deles de um modo que se obtenha as
respostas das perguntas levantadas na formulação do problema do seu projecto de
pesquisa.

Eco (2007) sugere que na tese de compilação o pesquisador “demonstra haver


consultado criticamente a maior parte da “literatura” existente (…) e ter sido capaz de
expô-la de modo claro, buscando harmonizar os vários pontos de vista e oferecendo assim
uma visão panorâmica inteligente”. A medida que o pesquisador vai abordando sobre as
repostas às perguntas de partida, baseando-se nos trabalhos que consultou vai ficando
claro o quanto as ideias apresentadas por diferentes autores são reunidas de uma forma
una que se traduz num novo olhar de um assunto já conhecido.

Os trabalhos de investigação podem ter diferentes utilidades ou importâncias.


Sobre a importância do trabalho de compilação, Umberto Eco sustenta que este tipo de
trabalho é “útil sob o aspecto informativo mesmo para um especialista do ramo que, com
respeito àquele problema específico, jamais tenha efetuado estudos aprofundados”. (Eco,
2007) O que se pretende, no trabalho de compilação, é apresentar informações sobre um
mesmo assunto a partir de uma visão proposta por diferentes autores.

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Assim, para a realização do nosso trabalho de compilação, reuniremos dados
teóricos encontrados nos trabalhos de Isabel Solé (1998) e Cyndi Oliveira e Elza Santos
(2019). Os trabalhos destas autoras tratam de forma profunda a questão de sugestões de
actividades para a leitura. Através destes trabalhos, fizemos uma exposição clara das
sugestões apresentadas para tornar as actividades de leitura oportunidades para se
desenvolver nos alunos o gosto pela leitura. Buscamos, assim, harmonizar os vários
pontos de vista dos autores que as autoras apresentam com o objectivo de oferecer um
ponto de vista esclarecedor. (Eco, 2007)

2.2 – Isabel Solé – estratégias de Leitura

Ao pesquisamos bibliografias que abordem sobre as estratégias de leitura


deparamos com uma autora que chamou a nossa atenção. Esta autora é Isabel Solé. Solé
publicou em 1998, pela editora Artmed-Porto Alegre, uma obra cujo foco ficou virado a
apresentação de estratégias de leitura aplicáveis a actividade da leitura em sala de aula.
Da obra dessa autora procuramos compilar as estratégias apresentadas para se trabalhar a
leitura em sala de aula.

2.3 – Cindy Oliveira e Elza Santos – como incentivar adolescentes e jovens à leitura

Outras autoras cuja obra foi usada para a compilação dos dados que usamos para
responder as perguntas que fizemos no começo do nosso casamento são as autoras Cindy
Oliveira e Elza Santos. Em 2019, as autoras já mencionadas, publicaram o livro com o
tema “Como incentivar a leitura?” em formato E-BOOK. Este livro foi resultado de uma
dissertação de Mestrado apresentada por Cindy Oliveira, sob a orientação de Elza Santos.
No capítulo quatro deste livro, as autoras abordam sobre a construção de sequência
didáticas bem com o seu desenvolvimento na sala de aulas. É exactamente este o capítulo
que compilamos, em conjunto com os trabalhos já mencionados acima, para a nossa
apresentação dos dados.

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CAPÍTULO 3 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

3.1 – A necessidade de se fomentar o gosto da Leitura nos alunos

A leitura é uma das formas para se entender a realidade. Ler um texto constitui-
se como uma boa forma para o entendimento da realidade. Mas para isso é necessário que
quem lê aprenda a resumir as principais ideias que o texto pretende transmitir. Assim, os
alunos precisam aprender a ler até ao nível de extrair a informação do texto. (Solé, 2003)

Quanto mais o aluno gostar de ler mais vai aumentar o seu entendimento acerca
da interpretação e Compreensão textual. Isso, com certeza, irá desenvolver o espírito
crítico do aluno, levando-o a buscar novas inferências e novas implicações. Assim, um
aluno que gosta de ler apura a sua capacidade análise crítica, o que faz com que ele use
de forma mais complexa sua mente para a recepção e análise da informação. ( Zilberman,
1996)

Ainda por outro lado, ler e reflectir sobre o que se lê à medida que se lê é essencial
para a produção de conhecimento. Por isso é que alguns autores consideram a leitura um
alicerce da sociedade de conhecimento, pois que ela promove a libertação do pensamento
e a prática do exercício da cidadania. (Solé, 1998) Por isso é que ela assume uma
importância vital como forma de melhoria do processo ensino e aprendizagem, ao
contribuir para o desenvolvimento da capacidades de análise crítica e de resumo da
informação.

A leitura contribui significativamente para a formação do aluno por , influenciá-


lo a analisar a sociedade, seu dia a dia e, de modo particular, por ampliar e diversificar as
suas visões e interpretações sobre o mundo. Ela serve, assim, para fundamentar nossas
interpretações e nos viabiliza a compreensão do mundo. (Zilberman, 2001) É por meio da
leitura que o aluno adquiri e formata os seus posicionamentos, a medida que se questiona
acerca da potencialidade e opiniões dos autores e assim reflete e forma seus próprios
conceitos e consequentes ilações.

O aluno que desenvolve gosto pela leitura aprende a inferir, comparar, questionar,
relatar e observar a essência do conteúdo que lê. E torna-se, portanto, um agente activo
da busca de conhecimento afirmação social, cultural e humana.

15
3.2 – Resultados obtidos no inquérito

A seguir, em forma de tabelas, apresentamos os dados obtidos em cada uma das


fases da nossa pesquisa.
A primeira fase da nossa pesquisa (um inquérito aplicado aos alunos da 7ª, 8ª e 9ª
classe da escola 5020, em Viana) foi realizada no dia 20 de Março de 2023 no Colégio
Privado os Sambas, cito no município de Luanda. Nele participaram 25 alunos da 7ª
classe. No quadro abaixo apresentamos os resultados obtidos neste inquérito.

Número de alunos Idades Alunos pela primeira vez na Alunos


participantes classe repetentes
1 Aluno – 15 anos

4 Alunos – 14 anos
20 Alunos – 13
25 25
anos

Total 25
Quadro nº 01: Número de alunos participantes do teste primeiro teste e suas idades; Número de repetentes
e alunos novos.

A estes alunos foram feitas as seguintes perguntas (a seguir a cada pergunta,


apresentamos as respectivas respostas):

1- Já sabe ler?
Opção sim: 25 alunos.
2- Se sabe ler, como avalia a sua leitura?
Opção má: 2 alunos; Opção razoável: 13 alunos; opção boa: 10 alunos; opção
muito boa: 1 alunos.
3- Se ainda não sabe ler, poderia explicar o porquê?
Nenhum aluno respondeu, visto que todos sabem ler.
4- Gosta de ler?
Opção não: 5 alunos; opção um pouco: 16 alunos; opção muito: 4 alunos.

16
5- Com que frequência lê durante a semana?
Opção todos os dias: 4 alunos; opção um dia sim, um dia não: 9 alunos; opção
dois dias: 2 alunos; opção outro: 10 alunos.
6- Que temas gosta mais de ler?
Opção matéria escolar: 10 alunos; opção Religioso: 5 alunos; opção historias: 6
alunos; opção notícias: 4 alunos.
7- Sente que o gosto pela leitura lhe traz benefícios?
Opção não: …; opção mais ou menos: 6 alunos; opção sim: 19 alunos.
8- Quantos livros já leu?
Opção nenhum: 14 alunos; opção dois: 3 alunos; opção mais de dois: 8 alunos.
9- Poderia mencionar alguns livros que já leu ou que está a ler?
De um modo geral, entre os livros mencionados, constam a Bíblia, o manual de
Português da 7ª classe e alguns outros textos.
10- Prefere ler publicações numa rede social ou um livro?
Opção Rede social: 19 alunos; opção livro: 6 alunos.

Conforme temos vindo a tratar ao longo da nossa abordagem, o nosso objetivo é


que nas escolas desenvolvam-se alunos que saibam ler muito bem, o que vai do simples
reconhecimento das palavras escritas à interpretação textual, e tenham prazer pela prática
da leitura. Assim o que podemos concluir ao analisarmos as respostas acima?

Fica claro o seguinte, ao entrarem ao primeiro ciclo do ensino secundário, os


alunos já sabem ler, no entanto boa parte ainda não lê muito bem, sua leitura ainda é
razoável – está circunscrita ao nível do reconhecimento da linguagem escrita (com
algumas dificuldades, em alguns casos) e carece de uma análise crítica que facilite a
interpretação textual. Ainda mais ficou claro que, no primeiro ciclo, boa parte dos alunos
ainda não ganharam gosto pela leitura, por isso mesmo não têm o hábito de ler
diariamente e de fazer uma leitura sistematizada, lendo livros por inteiro. Por fim ficou
comprovado que o uso dos smartphones e das redes sociais diminui o gosto pelos livro.

Assim, o inquérito que fizemos provou-nos a necessidade de se trabalhar com


actividades que estejam viradas para a criação de alunos que leiam muito bem e que façam
da leitura uma prática prazerosa.

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Após a realização do inquérito, colocamos em prática um conjunto de actividades
didácticas com o objectivo de desenvolver nos alunos o gosto pela leitura. Abaixo,
apresentámos estas actividades e como foram colocadas em prática.

3.3 – Apresentação de actividades de Leitura baseadas em sequências


didácticas

Neste capítulo, apresentamos algumas actividades de leitura que podem ser


organizadas em sequência didática e serem aplicadas na sala de aulas. As sequências que
apresentamos, bem como as actividades nelas incluídas, são o resultado de uma
compilação das obras das autoras Isabel Solé (1998) e Cyndi Oliveira e Elza Santos
(2019).

1ª Apresentação da situação: Roda de leitura no jardim da escola.

Objectivo da Sequência Didáctica: Desenvolver a habilidade da leitura dos


alunos.

Conteúdos a serem trabalhados: Leitura e interpretação/Compreensão do texto


“O Gato e o Rato”. (Manual da 7ª classe da Plural editora, pág. 18)

Habilidade linguística a ser desenvolvida: Leitura e interpretação textual.

Tempo de execução da sequência didáctica: 3 aulas de 90 minutos cada uma.

Materiais necessários: Manual do aluno, caderno, lápis e lapiseira.

Detalhes de cada aula:

1º Módulo

Organização da turma: Os alunos sentar-se-ão em sentido circular ou


rectangular, o que permitirá que olhem uns nos outros.

Introdução: No começo da aula, é apresentado o tema a ser trabalhado, e o


Professor faz isso por explicar a actividade que deverá ser realizada nos minutos a seguir.
Neste momento, que é o de começo da actividade, o professor apresenta a motivação e os
objetivos da leitura, faz a activação do conhecimento e as previsões sobre o texto e das
perguntas dos estudantes.

Desenvolvimento: O Professor faz a primeira leitura do texto e, de seguida, pede


que os alunos leiam em silêncio o texto. Assim que terminam a leitura silenciosa, o

18
Professor divide a turma em pequenos grupos. Cada grupo deve ser composto pelo
narrador e as personagens do texto. Cada grupo faz uma leitura personalizada do texto.
Após a leitura de cada grupo, faz-se a interpretação/Compreensão do texto em turma,
sendo que cada aluno é responsável por apresentar uma resposta. Após esse passo, realiza-
-se um diálogo sobre as lições aprendidas no texto.

Conclusão: Os alunos levam para casa a tarefa de escrever um texto


argumentativo sobre o que aprenderam do texto lido.

2º Módulo

Organização da turma: Os alunos sentar-se-ão em sentido circular ou


rectangular, o que permitirá que olhem uns nos outros.

Introdução: O Professor apresenta a actividade do dia por explicá-la aos alunos.


Neste módulo, cada aluno irá ler e explicar para a turma o texto que escreveu sobre as
lições que aprendeu do texto da aula anterior.

Desenvolvimento: Cada aluno lê o texto que escreveu e explica aos outros as


lições que aprendeu enquanto que o restante de estudantes faz perguntas sobre a
apresentação do colega. Enquanto cada aluno faz a sua apresentação, o professor vai
fazendo qualquer observação quer do ponto de vista da leitura como da correcção
linguística na fala dos alunos. O objectivo é que os alunos possam ver o valor prático da
leitura e desenvolvam o seu nível de oratória e de interpretação ou análise textual.

Conclusão: Os alunos são orientados a escrever, de forma resumida, o texto em


análise. Mas lhes é apresentado o desafio de formarem uma conclusão diferente do texto.

3ª Módulo

Organização da turma: Os alunos sentarão uns atrás dos outros na sala de aulas.

Introdução: A aula começa com as orientações do professor sobre a aula. O


Professor apresenta aos alunos a aula que será um filme. O filme é assistido com o
objectivo de proporcionar aos alunos uma forma de ler diferente da convencional.

Desenvolvimento: Os alunos assistem o filme “Zootopia: essa cidade é o bicho”.


E durante esse momento, os alunos são incentivados a fazer anotações resumidas sobre o
que aprendem do filme e sobre a relação que ele tem com o texto que estão a considerar
durante a semana.

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Conclusão: Os alunos orientandos a escrever um texto sobre a relação que se pode
estabelecer entre o filme “Zootopia: essa cidade é o bicho” e o texto “O Gato e o Rato”.

Produção final: O professor relembrar aos alunos a relação que todas as


actividades realizadas tiveram e o seu impacto no desenvolvimento da capacidade da
leitura reflexiva e habilidade de interpretação e análise textual dos alunos.

2ª Apresentação da situação: Roda de leitura no jardim da escola.

Objectivo da Sequência Didáctica: Desenvolver a habilidade da leitura dos


alunos.

Conteúdos a serem trabalhados: Leitura e interpretação/Compreensão do texto


“Chuva no musseque”. ( Manual da 7ª classe da Porto Editora, pág. 36)

Habilidade linguística a ser desenvolvida: Leitura e interpretação textual.

Tempo de execução da sequência didáctica: 3 aulas de 90 minutos cada uma.

Materiais necessários: Manual do aluno, caderno, lápis e lapiseira.

Detalhes de cada aula:

1º Módulo

Organização da turma: Os alunos sentar-se-ão em sentido circular ou


rectangular, o que permitirá que olhem uns nos outros.

Introdução: No começo da aula, é apresentado o tema a ser trabalhado, e o


Professor faz isso por explicar a actividade que deverá ser realizada nos minutos a seguir.
Neste momento, que é o de começo da actividade, o professor apresenta a motivação e os
objectivos da leitura, faz a activação do conhecimento e as previsões sobre o texto e das
perguntas dos estudantes.

Desenvolvimento: O Professor faz a primeira leitura do texto e, de seguida, pede


que os alunos leiam em silêncio o texto. Assim que terminam a leitura silenciosa, o
Professor orienta os alunos para a leitura em grupo. Um aluno é escolhido para fazer ou
representar Zeca Santos, outro, vovó Xixe, e o outro, o narrador. Após esse primeira
leitura, outros alunos são convidados a repeti-la. Após a leitura faz-se a
interpretação/Compreensão do texto em turma, sendo que cada aluno é responsável por

20
apresentar uma resposta. Após esse passo, realiza-se um diálogo sobre as lições
aprendidas no texto.

Conclusão: Os alunos levam como tarefa para casa às seguintes questões:

Que lições aprendeu do texto?;

Como o comportamento de Zeca Santos poderia ser diferente?;

Como pretende colocar em prática as lições que aprendeu neste texto.

2º Módulo

Organização da turma: Os alunos sentar-se-ão em sentido circular ou


rectangular, o que permitirá que olhem uns nos outros.

Introdução: O Professor apresenta a actividade do dia por explicá-la aos alunos.


Neste módulo, alguns alunos são chamados a fazer um monólogo que apresentará as
respostas deixadas na tarefa. O monólogo que é feito tem o objectivo de desenvolver a
capacidade de Interpretação textual dos alunos.

Desenvolvimento: Um por um, cada um dos alunos seleccionados para fazer o


monólogo, são chamados para apresentar, em forma de peça dramática. Alguns aluno são
chamados a dramatizar a personagem Zeca Santos e outros a personagem vovó Xixi. A
seguir a isso, é realizada uma conversa em torno das lições aprendidas com os monólogos.
A direcção do diálogo será para a reflexão em torno da importância do monólogo
dramático na interpretação textual.

Conclusão: Os alunos são incentivados a escrever, num texto coeso e coerente, a


sua opinião sobre a importância do monólogo dramático na compreensão e interpretação
textual.

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3ª Módulo

Organização da turma: Os alunos sentar-se-ão em formato circular ou


rectangular para que, assim, possam manter contacto visual enquanto se realiza o diálogo
em sala de aulas.

Introdução: A aula começa com as orientações do professor sobre as actividades


do dia. O Professor apresenta aos alunos a Actividade, que será uma peça teatral. A peça
teatral é baseada no texto narrativo “Chuva no musseque”.

Desenvolvimento: Os alunos assistem a uma peça teatral na sala de aulas durante


15 minutos. A peça é apresentada por alguns alunos previamente escolhidos. Após a
apresentação da peça, mantêm-se um diálogo na sala de aulas sobre as lições da peça.

Conclusão: Os alunos orientandos a escrever um texto sobre as lições que


aprenderam do texto “Chuva no musseque”.

Produção final: O professor relembrar aos alunos a relação que todas as


actividades realizadas tiveram e o seu impacto no desenvolvimento da capacidade da
leitura reflexiva e habilidade de interpretação e análise textual dos alunos.

Guião da peça de teatro a ser apresentada na sala de aulas

(Enquanto cai uma forte chuva, moradores do musseque lamentam os prejuízos


causados)

Avô Manuel: Quando não chove sentimos falta dela, mas também quando chove
demais, estraga as nossas lavras e casas e mata as nossas vidas.

( De repente, passa, a correr, Zeca Santos)

Avó Jaja: menino Zeca onde está a sua avó?

Zeca Santos: Está em casa, vovô Jaja.

Outras pessoas ali presentes: (admiradas, dizem em coro) Mas esse menino não
tem juízo. Devia estar em casa para ajudar a sua avó, mas está a qui a brincar.

Avô Manuel: Zeca, vai para casa agora e vê se está tudo bem lá. Ajude a avó Xixi.

Zeca Santos: Está bem, avó Manuel. Vou mesmo agora.

22
(Enquanto vovó Xixi empurra para fora a água que está no quintal, Zeca Santos
entra correndo para o quintal)

Avó Xixi: (Assustada) eh, menino! Que isso!

Zeca Santos: Desculpa, avó.

Avó Xixi: Não pedes licença, só entras mesmo assim!? Até parece que vives com
cão.

Zeca Santos: Avó, é a pressa da chuva. Estive muito preocupado com a senhora.
Já agora, deixa já eu terminar de tirar a água do quintal.

Avó Xixi: Muito obrigada, menino Zeca. (Avó Xixi entrega o balde usado para
tirar a água da chuva do quintal ao Zeca e dirige-se para a casa).

Zeca Santos: (Zeca abaixa-se para começar empurrar a água para fora do quintal)
na rua estão muitas pessoas que perderam as suas casas. A avó acha que podemos estar
seguros aqui?

Avó Xixi: (Volta-se para o menino) embora está chuva tenha caído com muita
força, a nossa casa vai sobreviver. O teu avô fez uma construção de muita qualidade.

Zeca Santos: Que bom, avó!

(Avó Xixi entra em casa e Zeca continua a tirar a água do quintal)

Tempo de duração da Número de


peça personagens
15 minutos + de 8
Quadro nº 02: informações adicionais sobre a peça.

23
4 – CONCLUSÃO

Ao longo deste trabalho estudamos a importância de se desenvolver nos alunos,


particularmente da 7ª classe, o prazer pela prática da leitura. Vimos que essa prática não
envolve apenas a descodificação dos signos escritos que formam um texto, mas também
ela está intimamente ligada a capacidade de interpretação e compreensão do texto que se
lê. A leitura deve mover o aluno a fazer reflexões que o levem a tirar suas próprias
conclusões e a formar suas próprias lições sobre o texto.

Ficou também assente aqui neste trabalho o facto de que para que os alunos
cheguem a este nível de leitura a escola deve, na figura do professor de Língua
Portuguesa, desenvolver actividades de leitura, em sala de aulas que mostrem aos alunos
o quanto a leitura é uma actividade bastante recompensadora do ponto de vista da
aquisição do conhecimento e da manutenção da capacidade de interpretação do mundo a
sua volta.

As sequências didácticas representam uma forma de organizar as estratégias de


leitura que devem ser aplicadas em sala de aulas para tornar as actividades de leitura
diversificadas e interessantes.

Entre essas Actividades citamos o Monólogo dramático, assistir a filmes,


interpretação textual em rodas de leitura, produção textual das lições aprendidas e
reescrita do texto ou parte dele.

Estas todas Actividades, quando bem conjugadas com a leitura, tornam as aulas
de leitura e interpretação textual mais interessantes e desenvolvem nos alunos o gosto
pela leitura. Mas importante ainda é que quando as actividades de leitura são
acompanhadas de outras atividades que facilitam a sua interpretação e/ou análise
desenvolvem nos alunos o gosto pela leitura.

Assim, vale realçar que as actividades de leitura devem ser mais atrativas, visto
que só quando os alunos percebem que a leitura desempenha uma forte influência na
aquisição do conhecimento em variadas áreas é que eles passam se dedicar mais a ela.

Portanto, é tarefa do professor garantir que a leitura tenha um espaço privilegiado


nas actividades lectivas desenvolvidas na sala de aulas e diversificar com estratégias
como filmes que tenham relação com o texto a ser lido e região a encenação dramática
do texto.

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Todas as actividades devem ser motivadas com uma frequência que faça com que
os alunos desenvolvam uma leitura crítica - uma leitura que se instala na busca do sentido.

As actividades que sugerimos como estratégias para desenvolver as aulas de


leitura visam elevar plenamente a capacidade da leitura dos alunos, para que possam
compreender o que leem, construir o sentido do que leem, ou seja, identificar-se com o
que leem.

25
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28
ANEXOS

29
IMAGEM DA CAPA DO LIVRO DE OLIVEIRA E SANTOS

30
IMAGEM DO LIVRO DE SOLÉ

31
UMA IMAGEM DE CAPA DO FILME ZOOTOPIA

32
TEXTO “ O GATO E O RATO

33
34
TEXTO “CHUVA NO MUSSEQUE”

35
Imagens tiradas enquanto trabalhamos com os alunos em actividades de leitura

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