Revisçao de Literatura A Importancia Do Farmaceutico
Revisçao de Literatura A Importancia Do Farmaceutico
Revisçao de Literatura A Importancia Do Farmaceutico
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A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NA
FARMACOVIGILÂNCIA HOSPITALAR NO BRASIL: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
Cristiane Mancio Sauma¹, Ely de Nazaré Oliveira Drago¹, Karla Suanny Navarro¹, Marcella
Kelly Costa de Almeida¹, Carla de Castro Sant' Anna¹
¹ Universidade da Amazônia
E-mail para correspondência: [email protected]
Submetido em: 08/10/2021 e aprovado em: 10/01/2022
RESUMO
Introdução: Farmacovigilância é a ciência que estuda as atividades relacionadas a detecção,
avaliação, compreensão e prevenção dos efeitos adversos a medicamentos. Investigando e
notificando as queixas técnicas com base nas RAM's (Reações Adversas a Medicamentos), o
farmacêutico é o profissional mais preparado e qualificado para reduzir os riscos relativos à
utilização desses medicamentos, por meio do acompanhamento sistemático de ocorrências
desses eventos. Objetivo: Demonstrar a importância da atuação do farmacêutico no âmbito da
farmacovigilância hospitalar no Brasil. Método: Revisão de literatura, a partir de artigos
encontrados nas bases de dados SciELO, LILACS, MedLine e Google Acadêmico, indexados
no período de 2011 a 2021, por meio dos descritores: Farmacovigilância hospitalar; Atuação
do Farmacêutico; Reações Adversas a Medicamentos (RAMs). As referências foram analisadas
conforme ano, idioma, país de publicação e tipo de estudo e classificadas de acordo com seu
foco em relação às atividades relacionadas a detecção, avaliação, compreensão e prevenção dos
efeitos adversos a medicamentos (RAM’s) e a atuação do Farmacêutico na Farmacovigilância
Hospitalar. Resultados: A partir da leitura analítico-reflexiva de cerca de 1690 artigos
indexados nas bases de dados, conforme os critérios de inclusão e exclusão, optou-se pela
escolha daqueles que respondem à questão norteadora, restando 08 estudos. Utilizou-se duas
categorias de investigação, ou seja, atividades relacionadas a detecção, avaliação, compreensão
e prevenção dos efeitos adversos a medicamentos e atuação do Farmacêutico na
Farmacovigilância Hospitalar. Conclusão: As publicações enfatizaram a discussão sobre a
Farmacovigilância hospitalar e a atuação do farmacêutico direcionada à investigação e
notificação de queixas com base nas RAM’s, apresentando um impacto positivo dessa atuação
em relação à assistência à saúde, como segurança do paciente. Tais estudos podem fundamentar
o processo de tomada de decisão e a formulação de estratégias que visem ampliar a capacidade
de gestão e a qualidade do serviço prestado.
Palavras-chave: Farmacovigilância hospitalar, reações adversas a medicamentos, farmacêutico.
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DOI: 10.17648/2675-5572.racf.v2n2.2
INTRODUÇÃO
Os medicamentos são insumos indispensáveis na assistência farmacêutica, ferramentas
com finalidade profilática, paliativa, curativa ou de diagnóstico, essenciais para garantir e
melhorar a saúde, e a resolubilidade dos serviços de saúde 1.
O uso de medicamentos mesmo de maneira correta não está isento de riscos, podendo
trazer para o usuário alguns efeitos indesejados, ou até inesperados, acarretando complicações
e causando danos que podem ser leves, prolongar o tempo de internação, ou até levar o mesmo
a óbito2.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde 3, Reação Adversa a Medicamento
(RAMs) é qualquer resposta prejudicial ou indesejável e não intencional, que ocorre com
medicamentos em doses empregadas usualmente em seres humanos, para profilaxia,
diagnóstico, tratamento de doença, ou para modificação de função fisiológica.
Atualmente, existe estudo sobre eventos adversos na área hospitalar, onde revisões
sistemáticas sobre a ocorrência das RAMs, entre os pacientes internados, variam de 1,6% a
41,4%4.
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As RAMs foram descritas como sendo responsável por até 10% das internações
hospitalares nos diferentes países, e o custo das complicações associada à erros dos
medicamentos implicam um custo de até 15% dos orçamentos hospitalares 5.
Dados da OMS6 também mostram que mais de 50% dos medicamentos são prescritos,
administrados e vendidos indevidamente. Segundo o relatório publicado pelo Sistema Nacional
de Informação Tóxico-Farmacológicas7, os medicamentos representaram 27,93% dos casos de
intoxicação, revelando a necessidade de informação e orientação dos pacientes para o uso
racional de medicamentos.
São numerosos os erros na utilização dos medicamentos, sendo assim, aplicar a
ferramenta de gerenciamento de riscos no estabelecimento pode ser a alternativa para o melhor
controle e monitoramento dos processos8. Com isso, para que se possam prevenir riscos, é
necessário identificar e analisar a origem do evento para que ações preventivas possam ser
aplicadas antes da ocorrência e não após o dano9.
A farmacovigilância tem como objetivo o mapeamento e rastreamento das RAM, com
o monitoramento desses dados visando a redução dos eventos adversos realizando um processo
bem planejado, o farmacêutico pode utilizar ferramentas e mecanismos como os POP’S
(procedimentos operacionais padrão) para facilitar este processo 10.
Nesse contexto, o papel do farmacêutico no processo da farmacovigilância hospitalar é
de suma importância, pois é o profissional mais bem preparado e qualificado para tratar do
assunto, já que o mesmo precisará discorrer por vários processos de gerenciamento da área
hospitalar que vão desde aquisição, recebimento, guarda, até a dispensação desse
medicamento11.
A ausência de profissionais capacitados por falta de iniciativas governamentais, além de
uma política de saúde irregular e inconstante, prejudica a adequada orientação sobre o correto
uso de medicamentos e contribui com a manutenção de índices elevados de intoxicações.
Técnicas de marketing atraem usuários e prescritores, e favorecem a utilização indevida de
medicamentos por uma parcela importante da população 12.
O farmacêutico clínico, tem como principal função garantir o uso seguro dos
medicamentos prescritos para os pacientes, com foco em melhorar os desfechos clínicos e
reduzir eventos adversos a medicamentos. Porém, os principais desafios são a integração com
a equipe multiprofissional, desenvolvimento de trabalhos científicos que demonstrem os
resultados obtidos com a atuação do farmacêutico clínico e a necessidade de recursos humanos
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e tecnológicos, pois, na maioria dos hospitais brasileiros, ainda se tem um número elevado de
leitos por farmacêutico e a falta de sistemas informatizados para auxiliar no serviço 13.
Dessa forma, o objetivo deste artigo foi demonstrar, por meio de dados científicos, a
importância da atuação do farmacêutico no âmbito da farmacovigilância hospitalar,
contribuindo de forma positiva para a diminuição dos casos de intoxicação medicamentosa.
MÉTODOS
No processo de definição do tema e questão de pesquisa da revisão de literatura,
elaborou-se uma pergunta de pesquisa a qual norteou a condução do estudo: “Quais as
evidências científicas sobre a importância da atuação do farmacêutico no âmbito da
farmacovigilância hospitalar?”.
Foi realizada uma revisão integrativa de literatura sobre a importância do farmacêutico
no acompanhamento da farmacovigilância no âmbito hospitalar, baseando-se em artigos
científicos indexados. O estudo teve como objetivo a busca por dados científicos na
demonstração da importância da atuação do farmacêutico no âmbito da farmacovigilância
hospitalar, contribuindo de forma positiva para a diminuição dos casos de intoxicação
medicamentosa.
Os dados foram obtidos através de pesquisas da literatura através de bases de dados:
Scientific Electronic Library Online (SciELO); Medical Literature Analysis and Retrieval
System Online (MEDLINE); Lilacs (Latin American and Caribbean Literature in Health
Sciences) e o diretório Google Acadêmico (Google Scholar), utilizando os artigos científicos a
respeito do assunto que fossem encontrados nos idiomas inglês e português e que respondessem
à questão norteadora.
A coleta de dados deu-se a partir dos anos de 2011 a 2021, para retratar a atuação do
farmacêutico na farmacovigilância hospitalar. Os descritores (DeCS) utilizados foram:
Farmacovigilância hospitalar (Hospital pharmacovigilance); Atuação do Farmacêutico
(Pharmacist's Performance); Reações Adversas a Medicamentos (RAMs) (Adverse Drug
Reactions, ADRs).
Quanto aos critérios de inclusão, foram utilizados todos os tipos de desenho de estudos
retrospectivos e prospectivos que abordassem sobre a importância do farmacêutico no
acompanhamento da farmacovigilância no âmbito hospitalar, publicados em português com
texto disponível em revistas indexadas nas bases de dados citadas. Além destes, foram incluídos
estudos multiprofissionais. Foram excluídos artigos duplicados, relato de experiência, revisão
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sistemática de literatura, obras literárias, trabalhos de graduação, artigos publicados em revistas
não indexadas em banco de dados selecionados, artigos fora do período de seleção.
Para garantir a validade da revisão, a análise crítica dos estudos foi iniciada a partir da
categorização, ordenação e sumarização dos resultados. Assim, os dados obtidos durante a
coleta de dados foram armazenados em planilha do programa Excel (Microsoft Excel, 2019),
com o objetivo de analisar; demonstrar e comparar os resultados positivos e negativos do papel
do farmacêutico com a implementação do serviço de farmacovigilância hospitalar, gerando
assim, gráficos, tabelas e fluxogramas.
A apresentação da revisão de literatura aconteceu de forma clara e concisa para permitir
ao leitor avaliar criticamente os resultados. Na revisão de literatura os estudos foram reunidos
em categorias temáticas agrupadas por semelhança de conteúdo, e os resultados interpretados
com base na literatura correlata ao tema da pesquisa. Continham, então, informações
especificadas e pertinentes, com base em metodologias contextualizadas, sem omitir qualquer
evidência relacionada.
Foram considerados os aspectos éticos, mantendo as ideias e conceitos originais dos
autores pesquisados, citando-os e referenciando-os dentro das normas da Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT). Por se tratar de um estudo bibliográfico, não há relação direta
com seres humanos ou animais, conforme a Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de
Saúde/MS, que dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Deste modo, não houve a
necessidade de encaminhar a presente pesquisa ao Comitê de Ensino e Pesquisa.
RESULTADOS
A pesquisa nas bases de dados realizada pela Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), a partir
dos DeCS, resultou em cerca de 776 artigos na base SciELO, 180 na LILACS; 305 na MedLine;
e, 429 no Google Acadêmico, totalizando 1.690 artigos científicos.
Conforme a aplicação do critério de inclusão descrito no método, após a leitura dos
resumos/íntegra, selecionaram-se 87 artigos na base SciELO; 82 na MedLine; 80 na LILACS
e 16 no Google Acadêmico. Todavia, dentre estes artigos, poucos responderam à questão
norteadora, além da ocorrência de artigos duplicados, restando 04 na SciELO; 01 na MedLine;
02, na LILACS; e, 01 no Google Acadêmico.
Por fim, restaram 08 artigos que constituíram a amostra da revisão, considerando os
dados expostos na figura 1.
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Figura 1 - Fluxograma do processo de busca e seleção dos artigos da revisão, 2021.
Quadro 1 – Caracterização dos artigos selecionados para análise, segundo ordem, título/autor, ano, periódico/base e
objetivos (Brasil, 2011 a 2021)
Ordem Título/Autor Ano Periódico/Base Objetivo(s)
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BATISTA, L. M.;
ALBUQUERQUE, P. M. S.
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F8 Retrospectiva de 20 anos de 202121 Cadernos de Saúde Caracterizar as reações
atividade da Unidade de Pública/ SciELO adversas a medicamentos
Farmacovigilância do Porto, recebidas pela Unidade de
Portugal. FERREIRA-DA- Farmacovigilância do Porto
SILVA, R. et al. (UFPorto), Portugal, ao
longo de duas décadas de
atividade.
Dentre os 08 artigos encontrados nessa produção, 01 (um) foi publicado em 2011 (F1),
02 (dois) em 2014 (F2, F3), 01 em 2015 (F4), 02 em 2016 (F5, F6), 01 (um) em 2019 (F7), 01
(um) em 2021 (F8). Corrobora-se, portanto, a afirmação de que os estudos escolhidos foram
publicados em bases de dados dos últimos 10 anos (2011 a 2021).
Em detrimento às revistas onde os artigos foram publicados, identificou-se que 02 (dois)
artigos foram publicados na Revista Brasileira de Farmacologia Hospitalar e Serviços de Saúde.
Os artigos restantes foram publicados em revistas distintas, tendo como exemplo, a Revista
Brasileira de Educação Médica, a Revista Qualidade HQ, o Caderno de Saúde Pública, dentre
outras de igual relevância.
No quadro 2, são demonstradas as metodologias empregadas nos referidos artigos,
conferindo em sua maioria estudos de base descritiva e retrospectiva, conforme expresso nos
critérios de inclusão.
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F7 Estudo descritivo, retrospectivo com abordagem quantitativa dos dados provenientes da análise das
notificações em farmacovigilância que ocorreram no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2014,
a partir de tabelas e gráficos, apresentando as frequências absolutas/relativas.
F8 Este estudo, observacional, retrospectivo e descritivo, considerou todas as notificações de suspeitas
de reações adversas a medicamentos que foram reportadas à UF Porto desde janeiro de 2001 e
dezembro de 2019. Foram incluídas as notificações que verificaram os critérios mínimos de
validação, designadamente: doente, notificador, medicamento(s) suspeito(s) e evento(s) adverso(s).
Fonte: Das autoras, 2021.
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Essa prevenção perpassa inicialmente pela caracterização do evento adverso. É
importante conhecer se a manifestação ocorreu quando o paciente estava internado, ou em
procedimento ambulatorial, ou ainda, se não estava no hospital. O local da ocorrência impacta
na qualidade dos dados levantados e a redução dos eventos adversos precisa ocorrer por meio
do uso de métodos eficazes para a detecção e avaliação. Alguns fatores podem favorecer a
ocorrência destes eventos, como as propriedades do próprio fármaco ou as características do
paciente (idade, gênero, patologias associadas) e o uso da polifarmácia 19.
Outros fatores são o trabalho exaustivo dos profissionais de saúde no que se refere às
notificações. É um inconveniente para o relato de RAMs, pois além da prestação da assistência,
envolvimento com os familiares e os afazeres rotineiros, existe a rotina de notificação que
requer uma atenção e dedicação no preenchimento das RAMs15. Assim, quando há um número
de notificações expressivo, tem-se a necessidade de adoção de estratégias a fim de garantir
maior segurança do paciente20.
Essa garantia perpassa pelo monitoramento dos eventos adversos e observância de
queixas técnicas, com a adoção de medidas como barreiras que reduzam a ocorrência dos erros
(identificação dos medicamentos potencialmente perigosos ao serem dispensados às unidades
hospitalares), utilização de protocolos e padronização da comunicação sobre os tratamentos,
fornecimento e melhoria do acesso à informação, centralização dos processos de maior risco de
erros, incorporação de alertas automáticos nos sistemas informatizados, uso de procedimentos
de dupla conferência dos medicamentos, dentre outros20.
Saliente-se que o incentivo à notificação de RAM é considerado elemento chave para o
fortalecimento dos sistemas de monitorização, utilizado pela farmacovigilância, sendo de suma
importância para a melhoria da qualidade e do uso racional dos medicamentos 14.
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A atuação na farmacovigilância hospitalar é relevante, porém destaca-se a necessidade
de uma capacitação contínua, ou seja, um reforço positivo na compreensão do assunto
trabalhado, na intervenção educativa com estímulo à notificação, mudança de cultura e melhora
da assistência ao paciente17, até porque a formação do profissional influencia seu conhecimento
e condutas frente às reações adversas a medicamentos18.
Essa corresponsabilidade deve-se ao apoio ao desenvolvimento da farmacologia clínica
na unidade de saúde, levando em consideração o envolvimento de associações profissionais, a
participação em conferências científicas, a publicação dos achados em periódicos e a
retroalimentação, ou seja, a devolução da informação processada ao profissional notificador16.
Outro cuidado importante é a facilidade de acesso aos formulários, que deverão estar ao
alcance de todos os profissionais de quem se espera a notificação. Este acesso previne a
subnotificação, que tem por causas a falta de conhecimentos, percepção e compreensão dos
incidentes16.
Durante a ocorrência/suspeita de uma RAM, cabe ao profissional farmacêutico
comunicar ao profissional médico e registrar a suspeita no prontuário do paciente. Para que isto
ocorra, além de possuir extensa formação em farmacologia e toxicologia, precisa relacionar a
notificação de RAM como parte de suas obrigações profissionais (gerenciamento) 20.
Entre os profissionais de saúde, o médico é aquele que mais notifica as suspeitas de
reações adversas a medicamentos, seguindo-se o farmacêutico e, por fim, o enfermeiro 21.
Portanto, diante de uma notificação de evento adverso, relacionado a suspeita RAMs ou
inefetividade terapêutica, cabe ao farmacêutico realizar a busca de referências na literatura e,
após a análise, garantir informações suficientes para que seja possível registrá-la no banco de
dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – NOTIVISA19.
Assim, a sistematização de informações é importante para avaliação das notificações de
suspeitas de eventos adversos envolvendo medicamentos e da existência de fatores que podem
favorecer a ocorrência dos mesmos e interferir no resultado da análise pelo farmacêutico, o
desenvolvimento de uma ferramenta que direcione a coleta de dados é de fundamental
importância para otimização da investigação e confiabilidade do seu resultado 19.
Reforça-se a necessidade de capacitação como estratégia de sensibilização do
profissional para notificação espontânea, procurando demonstrar que essa notificação não se
traduz em erro de prescrição14.
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DISCUSSÃO
A apresentação das descrições metodológicas dos estudos incluídos revela, no que se
refere à atuação do farmacêutico na farmacovigilância hospitalar, que há um predomínio de
estudos qualitativos, descritivos e de cunho observacional analítico.
Os aspectos de iniciativas que podem ser implantadas pelo farmacêutico para melhoria
do estado de saúde da comunidade estão relacionados ao acompanhamento e educação do
paciente e para o paciente, a avaliação dos seus fatores de risco, prevenção das doenças,
promoção da saúde e vigilância das doenças22.
Neste novo contexto da prática farmacêutica, no qual a preocupação com o bem-estar
do paciente, somando esforços com outros profissionais de saúde e aos da comunidade para a
promoção de saúde, o farmacêutico assume um papel de fundamental importância23.
Na era da medicina moderna, o uso preciso de medicamentos consiste na principal
medida que liga a equipe multidisciplinar em atividades no cuidado com o paciente. Portanto,
o uso racional continua configurando como uma das prioridades na saúde pública mundial24.
A idéia de que os medicamentos têm implícita a possibilidade de induzir efeitos
adversos (RAMs) parece estar bem estabelecida entre a comunidade clínica e de usuários. Se a
decisão terapêutica terá sempre de ponderar os “benefícios” esperados do medicamento, assim
como os “riscos” da sua utilização, então a relação destes dois termos resulta um conceito mais
robusto, ou seja, a segurança do medicamento. O peso dado a cada uma destas definições é
relativo e variável entre patologias e doentes21.
Quando ocorre o uso irracional de medicamentos, uma de suas causas é devido à falta
de orientação de um profissional habilitado, ocasionando vários casos de intoxicação. A
notificação aos órgãos do Ministério da Saúde é de grande relevância, principalmente pela
compreensão do impacto clínico no tratamento de doenças com as medicações e da pressão
seletiva a ser exercida durante o uso, consistem em elementos fundamentais para a otimização
de estratégias para a prescrição de medicamentos25.
Deste modo, as reações adversas a medicamentos (RAM) são um dos graves problemas
de saúde pública em todo o mundo, responsáveis por numerosas hospitalizações, pelo aumento
do tempo de permanência hospitalar e, até mesmo, por óbitos. Estudos internacionais
evidenciam que elas representam a quarta causa de óbito nos EUA e são responsáveis por cerca
de 3 a 6% das hospitalizações. Estudos relatam a prevalência de 10 a 30% dessas reações
durante a hospitalização1.
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Quanto à farmacovigilância, a Organização Mundial da Saúde a define como o conjunto
de atividades relativas à detecção, avaliação, compreensão e prevenção de efeitos adversos ou
outros problemas relacionados a medicamentos. Para que um programa de farmacovigilância
tenha êxito é necessário um bom nível de informação dos profissionais de saúde acerca da
reação adversa, eventos adversos e desvio de qualidade de medicamentos. As atividades de
minimização do risco para serem eficazes, requerem comunicação com/entre pacientes e
profissionais de saúde26.
Cabe ao Sistema de Farmacovigilância, além da identificação de RAM, a
disponibilização de informações e orientações atualizadas, claras e imparciais sobre
medicamentos, tornando-as acessíveis ao usuário e aos profissionais de saúde; e normatização
de ações preventivas aos riscos dessas reações, de modo a contribuir para a melhoria contínua
da qualidade da assistência prestada ao paciente 1.
Assim, na farmacovigilância o farmacêutico identifica e avalia os efeitos, agudos ou
crônicos, dos riscos do uso dos tratamentos farmacológicos no âmbito hospitalar ou prestando
serviços em farmácias comunitárias em usuários dos sistemas de atenção à saúde 27.
Muitos profissionais deixam de notificar por insegurança e notificam apenas os casos
em que se observa uma relação causal, desconhecem o que notificar e são complacentes, pois
creem que todos os eventos adversos a medicamentos (EAM) foram identificados na etapa da
pesquisa clínica. Estudos explicam que os profissionais de saúde não estão devidamente
sensibilizados e motivados acerca da farmacovigilância, uma vez que ainda não são
devidamente elucidados os conceitos, a importância e as práticas envolvidas neste serviço 26.
Ressalta-se que é preciso uma educação permanente para a equipe multiprofissional
devido à grande negligência mediante os casos que precisam ser notificados. Destacando como
principal profissional responsável por incentivar a notificação em farmacovigilância o
farmacêutico clínico garantindo a qualidade de assistência prestada ao paciente adequando a
sua aplicação à saúde individual e coletiva26.
Portanto, a atuação do farmacêutico dentro da farmacovigilância hospitalar precisa estar
em consonância com a saúde pública; é um trabalho que deve ser valorizado como essencial
para a aplicação de técnicas que possam subsidiar as prescrições médicas recebidas no serviço
e avaliadas de forma correta para estabelecer um sistema de alerta permanente para a detecção
de RAM’s27.
Considerando-se as limitações do presente estudo, observou-se que há uma preocupação
no meio científico em destacar a participação efetiva do profissional farmacêutico na
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farmacovigilância hospitalar. Deste modo, surge a necessidade de maiores investimentos em
cursos de capacitação (educação contínua) na área.
Outra limitação ocorreu durante a análise e coleta de artigos direcionados ao presente
estudo, no qual foi observado um quantitativo baixo de artigos atualizados que respondessem à
questão norteadora, promovendo certa dificuldade para sua montagem.
Durante a busca por novas pesquisas sobre o tema abordado, foi possível adentrar em
temáticas diferenciadas conforme as atividades desenvolvidas na farmacovigilância hospitalar.
Neste setor, o trabalho precisa ser realizado com eficiência, eficácia e qualidade, em uma prática
segura durante as diversas etapas dos processos.
Ao considerar a necessidade de utilização de outros estudos mais aprofundados, a
presente pesquisa procurou investir em novos elementos acerca da atuação da equipe de
farmácia no âmbito hospitalar, bem como entender as dificuldades encontradas a partir de
investigações e notificações das queixas técnicas com base nas RAM's (Reações Adversas a
Medicamentos).
Em uma análise do processo de trabalho dos profissionais de farmácia, corroborou-se a
importância da farmacovigilância no âmbito hospitalar no intuito de diminuir os riscos
ocupacionais, além do alcance da tão almejada valorização profissional. A operacionalização
adequada desse setor garante a qualidade da assistência indireta prestada ao paciente,
principalmente em atividades relacionadas a detecção, avaliação, compreensão e prevenção dos
efeitos adversos a medicamentos.
Portanto, as contribuições pertinentes para a área de farmácia e para a saúde da
população de modo geral, perpassa pela atuação do profissional que precisa estar preparado e
qualificado para reduzir os riscos relativos à utilização de medicamentos, a partir de um
acompanhamento sistemático de ocorrências desses eventos, contribuindo assim para sua
diminuição e/ou prevenção.
CONCLUSÃO
Considerando os estudos apresentados, que serviram de base para os resultados,
observa-se uma lacuna entre a teoria e a prática dos profissionais da área de saúde, que
necessitam de especialização na área de farmacovigilância. Deste modo, é importante a
construção de uma rede colaborativa para a promoção de uma vigilância ativa da segurança dos
medicamentos.
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Participante desta rede colaborativa, o farmacêutico necessita manter-se ativo e
capacitado, para que o reconhecimento e a identificação das RAM experimentadas pelos
pacientes sigam a notificação aos órgãos regulatórios com vistas a promover uma utilização
segura e racional dos medicamentos.
Os subsídios para o planejamento de estratégias de sensibilização a respeito da
importância das atividades de FV para a identificação das RAMs e a promoção do uso racional
de medicamentos voltados ao cuidado do paciente podem ser discutidos com os profissionais
da área de saúde.
Deste modo, importa repensar currículos e avaliar a integração ensino-serviço, além de
investir em estratégias educativas direcionadas aos profissionais de farmácia, para que se sintam
aptos a identificar/avaliar situações de risco e conhecer os sistemas de notificação de incidentes.
À guisa de conclusão, as publicações enfatizaram a discussão sobre a Farmacovigilância
hospitalar e a atuação do farmacêutico direcionada à investigação e notificação de queixas com
base nas RAM’s, apresentando um impacto positivo dessa atuação em relação à assistência à
saúde, como segurança do paciente. Tais estudos podem fundamentar o processo de tomada de
decisão e a formulação de estratégias que visem ampliar a capacidade de gestão e a qualidade
do serviço prestado.
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