Fiori & Sangenis, 40rn, 2021
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Resumo
A questão pode ser posta da seguinte maneira: até que ponto, a teoria tradicional da
secularização, iniciada por Weber (2004), e que, empiricamente, utilizou como referentes as
sociedades cristãs em estado “puro”, pode servir de base conceitual válida para teorizar
processos de secularização em curso em sociedades que, além do cristianismo, se
constituíram a partir de outras matrizes e tradições religiosas, entre elas a africana?
Fica bastante patente, no mito de criação, que o mundo e os orixás surgem a partir do
movimento de emanação de Olórun. A emanação é um processo cosmogônico no qual o ser
superior produz o inferior pela sua própria superabundância sem que o primeiro perca nada
nesse processo. A emanação é, pois, distinta da criação ex-nihilo ou a partir do nada. Olórun
produziu o mundo, todavia, tirando-o de sua própria substância inesgotável. Todos os seres,
portanto, são apenas fluxo ou uma expansão da essência divina. O Ser divino, em sendo o
criador do mundo, não é absolutamente separado de sua obra criada.
O àiyé e o òrun não são apenas mundos paralelos, no sentido de apartados ou que não
se encontram. Ao contrário, o òrun engloba todo o aiyé. “O òrun engloba tudo e todos. Ou
dito de outra forma, o Aiye não é um nível de existência fora do Orum, mas – para usarmos
uma imagem – é como um útero limitado dentro de um corpo sem limites”
(BERKENBROCK, 2012, p. 181).
Referências
BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia: rito nagô. São Paulo: Companhia das Letras,
2001.
BAUM, Gregory. Sociologia da religião (1973-1983). Concilium, n. 190. p. 1172-1180,
1983.
BENISTE, José. Òrun-Àiyé: o encontro de dois mundos: o sistema de relacionamento nagô-
yorubá entre o céu e a Terra, 14 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020.
BERGER, Peter. Múltiplos altares da modernidade: rumo a um paradigma da religião numa
época pluralista. Petrópolis: Vozes, 2017.
BERKENBROCK, Volney J. A experiência dos orixás: um estudo sobre a experiência
religiosa no Candomblé. 4. ed., Petrópolis: Vozes, 2012.
CUNHA, Luiz Antônio. O projeto reacionário da educação. 2016. Disponível em:
<http://luizantoniocunha.pro.br/uploads/independente/1-EduReacionaria.pdf>. Acesso em: 16
mai. 2019.
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