Maroun, 38rn, 2017 (Pôster)

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GT21 – Educação e Relações Étnico-Raciais – Pôster 739

EDUCAÇÃO DO CORPO, INSTITUIÇÕES ESCOLARES E RELAÇÕES


ÉTNICO-RACIAIS
Kalyla Maroun - UFRJ

Resumo

Este trabalho é fruto de um projeto de pesquisa, em fase inicial de desenvolvimento, que


trata da educação do corpo em instituições escolares sob o foco de práticas educativas
voltadas às relações étnico-raciais. Trazemos aqui um primeiro recorte do referido
projeto, retratando a interface entre a educação do corpo e as questões étnico-raciais no
campo da educação, por meio de uma breve análise tanto de políticas educacionais (Leis
Federais 10639/2003 e 11645/2008; Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana; Diretrizes Curriculares Nacionais para as educações escolares indígena e
quilombola), como de literatura selecionada nas plataformas Scielo e CAPES relativa ao
tema.

Palavras-chave: Educação do corpo; Instituições escolares; Relações étnico-raciais

Introdução
O presente trabalho é fruto de um projeto de pesquisa, em fase inicial de
desenvolvimento, que pretende analisar a educação do corpo em instituições escolares,
sob o enfoque de práticas educativas voltadas às relações étnico-raciais. Para tanto,
reunimos primeiramente algumas políticas educacionais voltadas à diversidade étnico-
racial, no intuito de verificarmos o papel que a educação do corpo ocupa no plano
normativo. Em seguida, fizemos uma revisão bibliográfica sobre entre educação do corpo
e questões étnico-raciais, com o objetivo de mapearmos como tal objeto analítico vem se
apresentando na literatura do campo da educação, tanto em pesquisas que versam sobre
práticas educativas formais, como naquelas voltadas a práticas não formais.
No cenário do plano normativo reunimos os seguintes documentos: Lei Federal
10.639/2003, que trouxe a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira
e africana na Educação Básica; As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
(BRASIL, 2004), que trazem contribuições importantes para a ampliação do foco dos
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currículos escolares na direção da diversidade cultural, social e racial; A Lei Federal


11.645/2008, que amplia a Lei 10.639/2003 ao inserir a obrigatoriedade do ensino da
história e da cultura dos povos indígenas na Educação Básica; As Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Escolar Indígena (BRASIL, 2012), que garantem uma
educação intercultural e diferenciada para escolas indígenas; E, por fim, as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola, publicadas em 20 de
novembro de 2012. Estas trazem elementos que garantem a valorização dos saberes e da
cultura local nas escolas localizadas em territórios quilombolas ou que atendam alunos
oriundos destes.
Após uma breve análise das políticas educacionais acima mencionadas, partimos
para a revisão bibliográfica. Esta foi realizada nas plataformas scielo e CAPES, e contou
com os seguintes descritores: a) educação indígena; b) educação quilombola; c) relações
étnico-raciais; d) educação do corpo; f) práticas corporais; g) educação física escolar.
Chamamos aqui de educação do corpo os processos de agenciamento do corpo
que ocorrem por meio da incorporação de hábitos sugeridos ou impostos por determinada
cultura. De acordo com Mauss (2003), as pedagogias corporais são transmitidas por meio
da imitação prestigiosa que confere ao aprendiz a força da tradição presente tanto nas
técnicas do fazer (laborais, sociais e festivas), quanto nas interdições corporais (gestuais,
sexuais, alimentares), em diversos contextos educativos/formativos. Nesse sentido,
destacamos a escola como uma instituição social, dentre outras, voltada à educação
sistemática do corpo, uma vez que esta se apresenta, desde sua origem, como espaço de
práticas que refletem seu respectivo contexto histórico, social e cultural (OLIVEIRA,
2006).
No Brasil, povos tradicionais como indígenas e quilombolas conquistaram o
direito a uma escola pública de qualidade, voltada aos seus respectivos saberes
tradicionais e culturais, o que pode ser representado pela a publicação de diretrizes
curriculares nacionais que orientem as instituições localizadas nestes respectivos
territórios étnicos. No entanto, cabe ressaltarmos que tais diretrizes não se encontram
apartadas do contexto das políticas educacionais universais da Educação Básica.

A educação do corpo nas políticas voltadas às questões étnico-raciais


Uma análise preliminar das políticas educacionais voltadas à diversidade étnico-
racial aponta para a necessidade das instituições escolares direcionarem suas ações para
a valorização e o reconhecimento das histórias e das culturas afro-brasileiras, indígenas e

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quilombolas. Nesse sentido, percebemos que a educação do corpo e o ensino de


determinadas práticas corporais possuem destaque nesse cenário, uma vez que é por meio
de gestos, condutas e saberes tradicionais expressos pelo corpo que identidades étnicas
e/ou raciais vão sendo construídas e reafirmadas.
As Leis Federais 10.639/2003 e 11.645/2008, por exemplo, ao mencionarem a
obrigatoriedade do ensino da história e da cultura africana, afro-brasileira e indígena,
sugerem que tais conteúdos sejam trabalhados especialmente nas áreas de Artes, História
e Literatura. Uma breve observação que inicialmente podemos fazer é que a disciplina de
Artes possui estreita relação com a educação do corpo no contexto escolar, seja por meio
do ensino de danças e manifestações culturais, ou mesmo através do teatro, da arte e da
música. Além disso, histórias e culturas afro-brasileiras e indígenas, por si só, podem ser
transmitidas por meio de saberes corporais, isto é, a escola pode ter uma pedagogia
corporal voltada à valorização das diferenças e das identidades étnicas e/ou raciais.
As diretrizes curriculares nacionais para as educações escolares indígena e
quilombola também apresentam alguns destaques referentes à educação do corpo nas
instituições escolares, tais como: as práticas culturais comunitárias devem ser inseridas
na escola, o que significa que hábitos, costumes, normas, festividades, ritos, dentre outros,
devem se estender do espaço da comunidade para o escolar; alimentação e infraestrutura
devem ser condizentes com a cultura das comunidades; lideranças comunitárias, como os
sábios no caso indígena, e os anciãos (griots), devem estar atuando junto a escola, levando
a ela seus saberes e suas corporalidades.

Educação do corpo e questões étnico-raciais na área da educação


Após a pesquisa bibliográfica selecionamos 17 trabalhos que apresentam uma
interface entre educação do corpo e questões étnico-raciais.
A partir de uma breve análise do material, apresentamos um panorama sobre os
temas que nele se apresentam. Dois trabalhos abordam a educação escolar quilombola
(PARÉ; OLIVEIRA; VELLOSO 2007; SOUZA, 2008); dois focalizam o tema do
currículo (ARROYO, 2015; MAROUN, 2016); dois versam sobre práticas corporais de
grupos étnicos (ALMEIDA; ALMEIDA; GRANDO, 2010; SOUZA; LARA, 2011);
práticas educativas e construção identitária é o tema de dois trabalhos (GOMES, 2002;
ROSA, 2009); cinco estudos apresentam a educação escolar indígena (BERGAMASCHI;
MEDEIROS, 2010; DELMONDEZ; PULINO, 2014; MELIÀ, 1999; PAES, 2002;
VILLANOVA; FENERICH; RUSSO, 2011); três tratam das relações étnico-raciais na

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educação física escolar; (PINTO; MACAMO; AZEVEDO, 2014; RODRIGUES, 2010;


MARANHÃO, 2009). Por fim, um trabalho aborda o tema da produção de saberes
indígenas (TESTA, 2008).
Percebemos que processos de agenciamento do corpo, a partir do conceito
apresentado por Mauss (2003), aparecem com destaque nos trabalhos reunidos. Nesse
sentido, podemos dizer que práticas educativas no/sob o corpo, são indicadores relevantes
para refletirmos sobre formação identitária e questões étnico-raciais no contexto da
educação formal e/ou não formal.

Considerações finais
O debate aqui proposto aponta que a interface entre educação do corpo e questões
étnico-raciais pode oportunizar o reconhecimento de grupos que foram/são
marginalizados na cultura escolar. Uma pauta para novos trabalhos versa sobre a
observação empírica de tal interface nas instituições escolares, a partir do olhar construído
pela análise das políticas educacionais e da literatura pertinente a esse tema no campo da
educação.

Referências
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