Licao 4 Khoisan
Licao 4 Khoisan
Licao 4 Khoisan
Introdução
Nesta aula você vai encontrar uma abordagem sobre a coabitação de culturas distintas
a partir do século IV na África Austral. Esta lição tem como importância perceber que
antes da comunidade de agricultores e pastores na África Austral, existiram as
comunidades de caçadores e recolectores. O encontro entre estas, nesta região foi
pacífica porque os bantu estavam numa fase incipiente do desenvolvimento da
agriculrura, precisando deste modo de fazer mediações com a caça.
A idade de ferro foi marcada por diferentes estágios culturais onde o primeiro período
é designado por idade de ferro inicial ou idade antiga do ferro. Este período marcou
praticamente o início ou a sistematização das primeiras comunidades agrícolas em
Moçambique. Este período foi caracterizado por existência de comunidades
fundamentalmente agrícolas; pelo conhecimento da metalurgia do ferro e da olaria;
pela vida desenvolvida em aldeias semi-permanentes. O período coincide com a
fixação dos grupos de população designados por Bantu. Com estas características
praticamente rompia-se com o período da idade da pedra superior marcado pela
actividade cinegética como principal, vida nómada e, para o caso da África Austral é
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um período dominado por material de pedra de estilo Witoniense. Assim, pode-se
concluir que a partir de um certo período, assiste em Moçambique a constituição de
duas culturas no mesmo espaço.
Alguns grupos das populações Khoisan que não conseguiram se integrar nas aldeias
dos Bantu, emigraram para as regiões inóspitas por consequência da actividade dos
bantu, pois o abate das florestas e o desgaste dos ecossistemas (para o
desenvolvimento da agricultura pelos Bantu) de que dependiam os caçadores e
recolectores Khoisan, obrigou a estes a deslocarem-se para outros sítios uma vez que
tornava-se difícil manter uma vida comunitária baseada na caça e recolecção num
meio cuja vida era difícil constituída por uma base alimentícia escassa.
A transição da actividade cinegética para uma economia produtora terá sido lenta, com
interrupções, sobreposições, interligações e mediações. Lenta porque os agricultores
ainda dependiam da natureza devido ao seu nível tecnológico para além de que as
primeiras formas de cultivo não supriam as necessidades alimentares. Interrupções
porque a menor produtividade condicionava sempre o recuo e a prática de actividades
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anteriores principalmente quando as colheitas fossem péssimas. Sobreposições
porque o género de vida semi-sedentário feito em várias migrações progressivas
conduzia paulatinamente á emergência de sobreposições entre grupos anteriores e
posteriores. Mediações porque no processo de conquista de plantas, os grupos de
cada região iam conhecendo vários géneros alimentícios transmitindo a outros grupos
de outras regiões. Interligações porque algumas vezes, grupos bantu eram obrigados
a abandonar a actividade agrícola (nos períodos de estiagem) alternando-a com a
actividade cinegética.
Os Bantu não são originários de Moçambique e, as evidências que mostram isso são
as seguintes:
A metalurgia do ferro na África Austral parece ter sido introduzida como uma
técnica acabada eficaz, logo não há indícios de antecedentes desta actividade
surgida noutra parte;
Nenhum sítio da África Meridional forneceu cerâmica alguma que possa ser
considerada ancestral ou anterior á cerâmica da idade do ferro antigo;
A região da África Austral não apresenta vestígios de domesticação de animais
e plantas antes de Cristo.
Foi desta forma que surgiu a ideia de migração e povoamento Bantu em Moçambique.
Inicialmente, o Bantu teve conotações linguísticas, mas actualmente há fundamentos
antropológicos e etnológicos. Os estudos Bantu começam em 1862 com Black e este
designou por Bantu a um grupo de línguas faladas na África central e meridional,
aparentadas em vocábulos e quadro estrutural. A designação generalizada de Bantu
surgiu do termo Muntu que significa pessoa (singular) nessas línguas cujo plural é
Bantu (pessoas).
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Em 1889, Meinhof iria reconhecer a proximidade destas línguas Bantu com as línguas
da África Ocidental conhecidas como línguas sudanesas ocidentais. Com esta
aproximação das línguas surge a ideia de migração Bantu para África Austral, mas
existem controvérsias em relação a forma e origem desses movimentos migratórios.
As teorias que explicam a migração destes povos são baseadas na arqueologia e
linguística.
Byran aponta que o negróide Bantu surgiu nos Himalaias e na Polinésia. Dos
Himalaias tomaram o sentido ocidental e da Ásia tendo atravessado o istmo de Suez
entrando em África atravessando o Sahaara descendo no sentido norte para o sul do
continente africano até a região dos grandes lagos. Nesta região, encontraram os
Nilotas e Camitas resultando em conflitos pela posse da terra levando os negróides a
ser empurrados para o sul na região da África Meridional.
Machado apoia a origem africana dos Bantu, mas considera que depois da sua
aparição em África, os Bantu teriam emigrado para Ásia e mais tarde voltam a África
indo fixar-se na região dos grandes lagos, mas com a pressão demográfica dos
Camitas, emigram para a África Meridional.
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tenha existido um terceiro núcleo protobantu na região dos grandes lagos de onde
partiriam as rotas orientais desses grupos protobantu.
Assim, a origem dos bantu é fixada na África Ocidental por ser uma área sugestiva
pelo facto de ter uma maior diversidade linguística, isto é, trata-se de uma região onde
é notória a divergência de várias línguas.
Todas as teorias são unânimes em reconhecer que tal migração ocorreu entre 200/300
dc num período em que os bantu eram conhecedores da metalurgia do ferrro.
Estas rotas definem-se por volta dos anos 200/300 dc e os padrões de olaria seriam
pouco diversificados. Seria o povoamento da parte costeira oriental que deu origem
aos macuas no norte e os que atravessaram o rio Zambeze seriam os shopi. A zona
de Namuli se constituiu como bastião dos macuas a quando das invasões dos nguni
no século XIX. Os macuas encontram-se entre o rio rovuma e vale do Zambeze entre
os séculos XVI e XIX. Os macondes ocupam o planalto de Mueda.
No sul do limpopo sem interferência (conserva costumes), estes contactos que deram
origem aos bitonga continuam a partir do ano 1000 dc e ocorre mais exploração de
recursos naturais no interior levando a uma segunda explosão demográfica na África
Austral que explica uma nova expansão para o leste entre 1000 e 1500 dc dos Sutho
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do Transval para leste o que daria origem aos actuais primeiros tsongas. A rota
oriental (macua) seria responsável da fixação dos Shopi e dos Matola.
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O advento da agricultura marcou o início de novas relações entre o homem e a
natureza, pois o mato que era anteriormente protector torna-se hostil com o
desenvolvimento da agricultura. Assim, o homem devia dominá-lo para o
desenvolvimento da agricultura, transformando o território em terreno de cultivo. A
agricultura exige uma multiplicidade de trabalhos sobre o território desde o
arroteamento, amanho da terra, afolhamento; também impõe um ciclo ou regime
agrícola anual. Todas estas funções exigem cooperação estável e prolongada dos
indivíduos para a produção. Esta cooperação estável e prolongada transformou as
relações efémeras em vitalícias ou pelo menos em relações duradoiras.
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as termiteiras. Os objectos elaborados pelos ferreiros tinham uma função doméstica e
utilitária.
Os factores que contribuíram para estas inovações nesta região entre Limpopo e
Zambeze estão ligados a menor prevalência das doenças tropicais; a maior fertilidade
dos solos; a regularidade da precipitação e a variedade e abundância de minerais.
Estas condições permitiram que o planalto que está entre o Zambeze e Limpopo fosse
uma zona de convergência da população, como também uma zona de centrifugação
de fluxos humanos.
Para o povo kutama, a agricultura continuou durante a primeira fase como actividade
dominante devido a regularidade da precipitação. A continuação e a primazia da
agricultura, permitiu que a pecuária conhecesse um certo desenvolvimento durante o
mesmo período, pois a agricultura como actividade dominante possibilitou maior
reprodução dos bovinos. A abundância do gado condicionou que o mesmo fosse a
base de ostentação entre aqueles que o possuíam. Contudo, pensa-se que terão sido
os donos do gado que no período de conhecimento de uma metalurgia mais avançada
absorveriam outros povos da região.
Terá sido o domínio do kutama sobre outros povos que iria conduzir a estruturação
dos shona, suthu e angunis. Os senhores ricos da idade do ferro superior, em virtude
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da sua opulência, passariam a controlar a circulação das mulheres e filhos, marcando
paulatinamente a transição para o sistema patrilinear com herança agnática e
casamento virilocal ligado a compensação nupcial. No mesmo período em que
aconteciam estas transformações no sul do Zambeze, ocorria a manutenção da
linhagem matrilinear no norte do Zambeze devido a manutenção da agricultura como
actividade dominante e dirigida por mulheres, que, controlando os celeiros mantinham
não só a linhagem matrilinear, mas também a uxorilocalidade e a transmissão do
poder por via matrilinear.
Sumário
A transição da actividade cinegética para uma economia produtora terá sido lenta, com
interrupções, sobreposições, interligações e mediações.
Leituras Complementares
RITA-FERREIRA. A. Fixação Portuguesa e História Pré-Colonial de Moçambique,
Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical/ Junta De Investigações Científicas
Do Ultramar, 1982.
PARKINGTON, J. E., A África meridional: cacadores e coletores, cap. 26. In:
MOKHTAR, Gamal. História geral da África, II: África antiga, 2.ed. rev. –
Brasília : UNESCO, 2010.
Auto avaliação
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4. Comente a afirmação: “Todo grupo Khoisa integrou-se nas aldeias dos Bantu”
6. Apresente a evidência que mostra que os bantu não são autóctones da África
Austral.
12. Refira-se aos factos que contribuíram para que as regiões entre Limpopo e
Zambeze fossem zonas de convergência da população.
3. O contacto entre os Khoisan e o Bantu é caracterizado por não ser violento porque
não havia disputa. Enquanto os Bantu, isto é, os Khoisan não eram inimigos dos Bantu
pois os Khoisan se dedicavam a caça e resolução e os Bantu a agricultura que não
precisavam se expropriar da floresta da qual era base dos Khoisan.
4.
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10. Na olaria, as transformações conhecidas são os seguintes estilos: Kwale, Urewe,
Gokomere, Ziwa e Matola. Estes estilos diferenciam-se na morfologia, na decoração,
na forma de bordo e tratamento superficial.