Produção de Kappaphycus para Biofertilizantes
Produção de Kappaphycus para Biofertilizantes
Produção de Kappaphycus para Biofertilizantes
CAMPINAS
2019
VALÉRIA CRESS GELLI
CAMPINAS
2019
DEDICATÓRIA
“ Há quem diga que são os sonhos dos homens que sustentam o mundo
na sua órbita. ” JUNG
RESUMO
De acordo com os dados da FAO (2019), o cultivo de macroalga ou algicultura tem crescido
em todo o mundo proporcionando o desenvolvimento econômico e social nas comunidades costeiras.
Assim, com o objetivo de contribuir com o desenvolvimento ordenado e responsável do cultivo da
macroalga Kappaphycus alvarezii (musgo do mar de Elkhorn) para produção de estimulante agrícola
ou biofertilizante no litoral norte de São Paulo, foram realizados estudos com auxílio das ferramentas
da bioeconomia e da geotecnologia. O estudo iniciou com as análises das viabilidades técnica e
econômica do extrato da macroalga cultivada. O extrato da macroalga ou bioestimulante agrícola pode
ser produzido de forma artesanal e vários trabalhos comprovaram sua eficiência. O rendimento do
extrato da macroalga cultivada foi calculado e caracterizado em sua composição química de macro e
micronutrientes e para o estudo da viabilidade econômica foram considerados diferentes cenários de
preços de venda e comparados com a comercialização da macroalga fresca. As áreas foram definidas
como Módulo Mínimo Familiar (MMF) de 2.000 m² de lâmina de água totalmente ocupadas com
quatro balsas de cultivo, 280 dias de trabalho por ano e uma produtividade de 3 kg de alga.m-¹. O
rendimento médio obtido a partir do processamento das linhagens adaptadas brasileiras da macroalga
K. alvarezii para a fração líquida ou extrato da alga fresca foi de 0,71±0,0080 L Kg-1 e para a fração
sólida úmida foi de 295± 0,0126 g Kg-1. A composição química de macronutrientes (primários e
secundários) e micronutriente teve variação em comparação aos estudos encontrados. Os resultados do
estudo econômico mostraram que a produção do extrato artesanal foi economicamente viável para
extratos de algas com preço de venda a partir de R$ 9,00 nos MMF com um valor presente líquido
(VPL) de R$ 132.375,49 e uma taxa interna de retorno (TIR) de 38,99% em um período de dez anos.
O segundo estudo teve por objetivos selecionar as áreas mais aptas para a implantação da algicultura e
estimar as potencialidades ambiental, social e econômica utilizando as ferramentas da geotecnologia.
A temperatura da água do mar é um fator de grande importância e influencia diretamente o
crescimento da macroalga. Foi realizado o estudo da série temporal da temperatura de superfície do
mar (TSM) de 5 locais ao longo do litoral norte de São Paulo no período de janeiro de 2008 a
dezembro de 2017 associado à faixa ótima de temperatura de crescimento da macroalga K. alvarezii
(20 a 30° C), com as imagens recuperadas do sensor MODIS/Terra de 1 Km de resolução. Em um dos
pontos selecionados foram obtidas as taxas de crescimento médias da macroalga K. alvarezii mensais
nos períodos de maio de 2013 a julho de 2014 e bimensais no período de setembro de 2017 a outubro
de 2018 correlacionadas aos fatores ambientais (TSM do MODIS, TSM in situ e salinidade). Foi
utilizado o método AHP considerando os critérios técnicos, ambientais, socioeconômicos e legais para
a seleção das áreas aptas ao cultivo da macroalga. As áreas foram classificadas como “áreas mais
aptas” e “áreas legais” e foram estimados os potenciais de captura de CO2, de geração de empregos
diretos e receita líquida. Os resultados do estudo da série temporal de SST indicaram aptidão das áreas
estudadas para a implantação do cultivo de algas. Os dados TSM (in situ e MODIS) resultaram em
uma forte e positiva correlação com as taxas de crescimento das algas marinhas K. alvarezii pelos
períodos de cultivo estudados e também apresentaram para o estudo mensal de crescimento de algas
um coeficiente de determinação (R²) de 0,7659 e 0,6321 e para o estudo bimestral um R² de 0,7009 e
0,8066, respectivamente. Para os dados de salinidade, a correlação com a taxa de crescimento foi
baixa (0,11 e - 0,06). O tamanho das áreas adequadas para a implantação do cultivo de algas marinhas
e classificadas como a "mais aptas" foi de aproximadamente 2.299,26 hectares e para as "áreas legais"
de 1.299,59 hectares. Os resultados indicaram que as algas poderiam ser implementadas de forma
ordenada no litoral norte de São Paulo, com um potencial estimado de captura de CO2 de 15.739,33
toneladas por ano, gerando emprego em torno de 7.797 empregos e uma receita anual de
aproximadamente R$ 64,32 milhões.
.
Keywords: public policies, spatial planning, mariculture
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tabela 1. Produção mundial das macroalgas marinhas cultivadas (toneladas) e preços de venda (US
$.Kg-¹). 19
Tabela 2. Produção total (toneladas) e o preço de comercialização por quilograma (US$. Kg-¹) da
macroalga K. alvarezii nos diferentes continentes. 20
Tabela 3. Variação de preços da macroalga Kappaphycus alvarezii fresca ao longo de cinco anos
(US$/Kg) nos diferentes continentes. 21
Tabela 4. Composição química dos macronutrientes e micronutrientes do extrato da macroalga
Kappaphycus alvarezii de acordo com os trabalhos de ESWARAN et al. (2005), RATHORE et al.
(2009) e LAYEK et al. (2015). 25
Tabela 5. Concentrações dos fitohormônios encontrados no extrato da macroalga Kappaphycus
alvarezii de acordo com os trabalhos de PRASAD et al. (2010) e MONDAL et al. (2015). 26
Tabela 6. Preço de venda da macroalga Kappaphycus alvarezii fresca (MF) e três cenários de preços
do extrato (E1, E2, E3). 40
Tabela 7. Variáveis econômicas para a produção de macroalga fresca Kappaphycus alvarezii e do
extrato em área de baixo impacto, no litoral de São Paulo - Brasil, Janeiro de 2019. Macroalga fresca
(MF) e três cenários de preço do extrato (E1, E2, E3). 41
Tabela 8. Composição química média das amostras do extrato da macroalga Kappaphycus alvarezii
cultivada no litoral norte de São Paulo - Brasil e dos extratos encontrados nos trabalhos de LAYEK et
al. (2015) e RATHORE et al. (2009). Concentrações mínimas exigidas (g L-1) dos macronutrientes
secundários e dos micronutrientes de acordo com a Instrução Normativa n° 25, de 28 de julho de 2009
para classificação do fertilizante orgânico fluido foliar. 44
Tabela 9. Itens de investimento para implantação de cultivo para produção da macroalga fresca (MF) e
do extrato (E) no Litoral norte de São Paulo, janeiro de 2019. 46
Tabela 10. Itens de despesa operacional para a produção de macroalga fresca (MF) e do extrato da
macroalga Kappaphycus alvarezii (E), cultivada no litoral norte de São Paulo incluindo a mão de obra.
47
Tabela 11. Índices econômicos dos diferentes empreendimentos para comercialização da macroalga
Kappaphycus alvarezii fresca (MF) e do seu extrato (E1, E2, E3), cultivada no Litoral norte de São
Paulo (Janeiro,2019). 49
Tabela 12. Indicadores da viabilidade econômica do cultivo da macroalga Kappaphycus alvarezii em
módulos de baixo impacto para macroalga fresca (MF) e para a produção do seu extrato (E), cultivada
no litoral norte de São Paulo. 50
Tabela 13. Localização dos pontos amostrais estudados na série temporal da TSM durante o período
de 2006 a 2017. 63
Tabela 14. Coeficiente de Correlação entre as taxas de crescimento diária (% dia-¹) da macroalga
Kappaphycus alvarezii cultivada na praia do Itaguá (Instituto de Pesca) e as TSM (in situ e
Terra/MODIS) e salinidade (Períodos mensal: maio de 2013 a julho de 2014 e bimensal: dezembro de
2017 a outubro de 2018). 71
Tabela 15. Matriz de comparação de pares para avaliar a importância relativa de parâmetros para o
desenvolvimento de algicultura da macroalga Kappaphycus alvarezii. 73
Tabela 16. Estimativa do potencial (ambiental, econômico e ecológico) de produção da implantação da
macroalga Kappaphycus alvarezii no litoral de São Paulo, Brasil. 78
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 14
1.1. HIPÓTESE: 18
1.2. OBJETIVOS 18
1.2.1. Objetivo geral 18
1.2.2. Objetivos específicos 18
1.2.3. ORGANIZAÇÃO DA TESE 18
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 19
2.1. Panorama mundial da algicultura 19
2.2. Panorama brasileiro da algicultura 21
2.3. A biologia e o cultivo da macroalga Kappaphycus alvarezii 23
2.4. Eficiência do extrato da macroalga cultivada Kappaphycus alvarezii como biofertilizante 24
2.5. Classificação do extrato da macroalga como estimulante ou biofertilizante de acordo com a
legislação brasileira de fertilizantes agrícolas 27
2.6. Ordenamento do cultivo da macroalga Kappaphycus alvarezii 28
2.7. Utilização da geotecnologia para ordenamento da maricultura 30
3. RESULTADOS 32
3.1. Produção do extrato da macroalga Kappaphycus alvarezii como biofertilizante foliar: Uma
alternativa técnica e econômica para as comunidades litorâneas do sudeste brasileiro 33
3.1.1. Resumo 33
3.1.2. Introdução 34
3.1.3. Material e Métodos 37
3.1.3.1. Local do estudo 37
3.1.3.2. Processamento da macroalga fresca K. alvarezii para cálculo do rendimento da extração da
fração líquida (extrato) e da fração sólida (farinha) 38
3.1.3.3. Caracterização da composição química do extrato da macroalga Kappaphycus alvarezii de
macro e micronutrientes e classificação de acordo com a legislação de fertilizantes brasileira 38
3.1.3.4. Viabilidade econômica 39
3.1.3.4.1. Investimento inicial 40
3.1.3.4.2. Custo operacional 40
3.1.3.4.3. Índices de rentabilidade e análise de viabilidade 41
3.1.4. Resultados e discussão 43
3.1.4.1. Processamento do extrato puro da Kappaphycus alvarezii e composição química do extrato 43
3.1.4.2. Análise econômica dos empreendimentos da macroalga fresca (MF) e alga processada
(extrato bruto) 46
3.1.5. Conclusões 51
3.1.6. Referências 52
3.2. Desenvolvimento ordenado e potencial da produção da macroalga Kappaphycus alvarezii no
litoral de Estado de São Paulo 58
3.2.1. Resumo 58
3.2.2. Introdução 59
3.2.3. Material e métodos 61
3.2.3.1. Área do estudo 61
3.2.3.2. Procedimentos do método 62
3.2.3.2.1. Seleção das “áreas aptas” para implantação da algicultura 62
a. Estudo da série temporal da temperatura de superfície do mar associado ao crescimento da
macroalga Kappaphycus alvarezii. 63
b. Estudo da taxa de crescimento da macroalga associada aos fatores ambientais (T°C do MODIS,
T°C in situ e salinidade) na praia do Itaguá. 64
b.1. Análise estatística 65
c. Seleção de áreas mais aptas ao cultivo de acordo com os critérios biológicos da macroalga (taxa de
crescimento), ambientais (TSM, salinidade, batimetria, áreas abrigadas); socioeconômicos (pesca e
turismo) e legais (legislação aquícola e ambiental). 65
c.1. Critérios adotados para a seleção das “áreas mais aptas” ao cultivo da macroalga K. alvarezii 66
c.1.1. Temperatura de superfície do mar - TSM 66
c.1.2. Dados da batimetria 66
c.1.3. Dados foz dos rios 66
c.1.4. Áreas abrigadas 67
c.1.5. Legislação aquícola 67
3.2.3.2.2. Seleção e dimensionamento das “áreas legais” 67
3.2.3.2.3. Identificação das “áreas demarcadas” ou parques aquícolas 67
3.2.3.2.4. Estimativas dos potenciais ambiental, econômico e social com a implantação da atividade da
algicultura no estado de São Paulo 68
3.2.4. Resultados e Discussão 69
3.2.4.1. Estudo da série temporal da TSM (in situ e MODIS) e da salinidade associados ao crescimento
da macroalga Kappaphycus alvarezii 69
3.2.4.2. Seleção das áreas aptas para a implantação da algicultura 73
3.2.4.3. Seleção das enseadas produtoras para a implantação da algicultura nas “áreas legais” 75
3.2.4.4. Identificação das áreas demarcadas (parques aquícolas) promissoras aos cultivos da macroalga
K. alvarezii 76
3.2.4.5. Potencial ambiental, econômico e social 78
3.2.5. Considerações Finais 80
3.2.6. Referências 81
4. CONCLUSÕES 88
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 90
6. ANEXOS - 99
6.1. Processo n° 260108 -003.810/2016 de aprovação na Comissão Técnica do Instituto Florestal -
Carta COTEC n°480/2016 D74/2016TN) 99
6.2. Parecer Consubstanciado da Aprovação do projeto de tese no Sistema Comitê de Ética de
Pesquisa (CEP) UNICAMP/CAAE: 08837519.8.0000.5404 na Plataforma Brasil. 102
14
1 INTRODUÇÃO
do estado de São Paulo (HAYASHI et al., 2011; CASTELAR et al., 2015) e há cultivos
comerciais no Estado da Paraíba (ARAÚJO et al., 2014).
O primeiro registro estatístico de produção nacional da macroalga K. alvarezii
ocorreu em 2008 e a produção da macroalga foi estimada, em 2016, em torno de 700
toneladas (FAO, 2019), entretanto, esta produção deve estar superestimada, dado o
desinteresse e abandono dos produtores dos cultivos comerciais nos Estado do Rio de Janeiro
e São Paulo, em consequências das fortes restrições da legislação ambiental desses estados,
dos preços baixos praticados pelas indústrias da extração de carragenana, além dos problemas
de infraestruturas e das técnicas de manejo (GELLI e BARBIERI, 2015). O Brasil importou
no ano de 2018, em torno de 2,0 toneladas da carragenana, o que representou uma cifra de
US$ 17,91milhões (BRASIL, 2019).
O processamento da carragenana requereu infraestrutura com altos investimentos
em instalações e equipamentos, exigindo intensa mão de obra, energia e grande volume
d’água (PAULA et al., 1998), sendo que esses custos são impraticáveis pelas comunidades
locais. Uma alternativa para o incentivo ao desenvolvimento da algicultura poderia ser a
oferta de um produto com valor agregado como o extrato da macroalga. Na Índia, MANTRI
et al. (2017) afirmaram que o cultivo da macroalga exótica K. alvarezii foi substancialmente
incrementado de 21 toneladas secas para 1.490 toneladas secas em um período de 12 anos,
com a descoberta de novas aplicações no processamento da macroalga e o país emergiu
rapidamente como um importante centro de produção no sudeste asiático com volume de
negócio anual de cerca de US$ 27,8 milhões.
O processamento do extrato da macroalga requer infraestrutura caseira e essa
atividade poderia ser uma alternativa para os produtores se diferenciarem na comercialização
direta do produto, obtendo maior rentabilidade (GELLI e BARBIERI, 2015). De acordo com
CRAIGIE (2011), os pré-requisitos para a criação de uma indústria de estimulante de algas
seriam o fornecimento constante de matéria-prima, o recurso ser sustentável e renovável e
requerer uma gestão eficiente da colheita; condições estas encontradas na produção macroalga
pela aquicultura.
O extrato de K. alvarezii, pode ser extraído por processamento simples de
trituração e filtração (ESWARAN et al., 2005). A utilização extrato da macroalga na
agricultura reduziu doenças nas culturas, aumentou a produtividade e diminuiu o tempo de
produção das culturas, além de ser considerado biodegradável (SHAH et al., 2013).
16
1.1. HIPÓTESE:
A produção do extrato da macroalga K. alvarezii é uma atividade técnica e
economicamente viável e pode ser desenvolvida de forma ordenada no litoral norte paulista.
1.2. OBJETIVOS
A execução desta tese foi aprovada junto à Comissão Técnica do Instituto Florestal
(COTEC) da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Processo n°
260108 -003.810/2016, Carta COTEC n°480/2016 D74/2016TN) por ser realizado na Área de
Proteção Ambiental Marinha do Litoral Norte de São Paulo (APALN) e ao Sistema Comitê de
Ética de Pesquisa por meio da Plataforma Brasil (UNICAMP CAAE:
08837519.8.0000.5404), documentos em anexo.
Além da revisão bibliográfica, os resultados foram apresentados em forma de estudos
em artigos científicos e as metodologias específicas foram descritas dentro de cada estudo. O
artigo 1, abordou a viabilidade técnica e econômica do extrato utilizado como biofertilizante
agrícola e o artigo 2, a metodologia para a seleção das “áreas mais aptas” para a implantação
do cultivo de macroalgas no litoral norte do estado de São Paulo e a potencialidade da
atividade.
19
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
De acordo com os dados da FAO (2019), nos últimos cinco anos, a extração dos
recursos marinhos tem permanecida estável com uma produção média na faixa de 79 milhões
de toneladas, entretanto a produção de organismos marinhos ou maricultura tem crescido em
uma média 4,1 % por ano neste mesmo período.
AVANZO-NETO e FUJII, (2016) definiram as macroalgas marinhas como
organismos autotróficos que realizam fotossíntese, apresentam em comum o pigmento
clorofila “a”, são talófitas, multicelulares e estão agrupadas em três filos: Rodophyta (algas
vermelhas), Phaeophyta (algas pardas) e Chlorophyta (algas verdes).
Total (t) 27. 918.754 28. 97. 806 30. 981.420 31 .576. 219 31.736.963
Total (US$1.000) 11 367 742 11 193 753 10 340 593 11 138 634 11 768 950
Tabela 2. Produção total (toneladas) e o preço de comercialização por quilograma (US$. Kg-¹)
da macroalga K. alvarezii nos diferentes continentes.
Total (t) 27. 918.754 28. 97. 806 30. 981.420 31 .576. 219 31.736.963
Total (US$1.000) 11 367 742 11 193 753 10 340 593 11 138 634 11 768 950
Filo: Rodophyta
Ordem: Gigartinales
Esses sistemas foram comparados por GÓES e REIS (2011), os resultados demonstraram que
não houve diferença significativa na quantidade de carragenana nos dois sistemas e
concluíram que o cultivo em redes seria mais eficiente que a utilização das amarrações tipo
“tie tie” além de reter as algas no sistema de cultivo em balsas flutuantes que impediriam de
se dispersarem no meio ambiente.
onerosa e pode ser produzido de forma artesanal. De acordo com GELLI e BARBIERI
(2015), o rendimento médio do extrato para cada quilo de macroalga fresca foi de 741 ml de
fração líquida (extrato da macroalga) e de 40,1 g fração sólida seca (farinha da macroalga).
podem ser desenvolvidas outras atividades compatíveis com a prática da aquicultura”. Essas
definições são importantes para a seleção das áreas aptas ao cultivo.
Importante salientar que a Instrução Normativa n° 17, de 22 de setembro de 2005
estabeleceu os Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura - PLDM (BRASIL, 2005)
porém apesar de existir um relatório dos PLDMS do estado de São Paulo (MARQUES e
BARBIERI, 2008) disponibilizado pela Secretaria de Aquicultura e Pesca (SEAP) no estado
de São Paulo, o PLDM paulista ainda não foi oficializado. Entretanto, a falta deste
instrumento jurídico (PLDM) não impende a regularização das solicitações das áreas
aquícolas para cultivo no litoral Paulista por qualquer interessado previsto no Decreto n°
4.895, de 25 de novembro de 2003, artigo 4° e parágrafo primeiro “A falta de definição e
delimitação de parques e áreas aquícolas não constituirá motivo para o indeferimento”.
Os locais de cultivo da macroalga K. alvarezii estão restritos em parte do litoral de São
Paulo e do Rio de Janeiro pela Instrução Normativa nº 185, de 22 de julho de 2008 (BRASIL,
2008) de acordo com o artigo primeiro: “Permitir o cultivo de Kappaphycus alvarezii no
litoral dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, exclusivamente, na área compreendida entre
a Baía de Sepetiba (RJ) e a Ilha Bela (SP), delimitada em terra pela linha de costa, e em mar
pelas seguintes coordenadas de longitude e Latitude, respectivamente: Ponto1: 42° 27' 55,56"
W / 23° 49' 06,03" S; Ponto 2: 42° 27' 55,65" W / 23° 59' 09,10" S; Ponto 3: 43° 39' 49,27" W
/ 23° 59' 09,10" S; Ponto 4: 43° 39' 49,27" W / 23° 03' 11,51" S”.
Assim, para a seleção das áreas mais adequadas foram consideradas todos as restrições
legais da Instrução Normativa n °185, de 22 de julho de 2008 como no artigo primeiro e
parágrafo primeiro que definiu: “São consideradas áreas de exclusão para a instalação e
ampliação de empreendimentos de cultivo de Kappaphycus alvarezii nas áreas de Unidades
de Conservação, que não possuam plano de manejo definido, e sempre que houver indicativos
de incompatibilidades entre a atividade e as finalidades da referida Unidade de Conservação
(UC) , de acordo com o objetivo definido em seu decreto de criação, até a implementação de
seu Plano de Manejo.”
A UC marinha local do estudo é a Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral
Norte (APAMLN) foi criada pelo Decreto nº 53.525, de 8 de outubro de 2008 (BRASIL,
2008) e por não ter um plano de manejo oficializado deve seguir o Decreto Estadual Nº
62.913, de 08 novembro de 2017 (BRASIL, 2017) previsto no artigo 11° e parágrafo segundo
da sua criação: “Enquanto não aprovado o respectivo plano de manejo, as disposições do
Decreto estadual, de 7 de dezembro de 2004, que dispõe sobre o Zoneamento Ecológico-
30
Econômico do Setor do Litoral Norte, serão integralmente aplicadas às áreas da APA Marinha
do Litoral Norte abrangidas pelo referido regulamento”. De acordo com esse artigo, as áreas
restritas consideradas à implantação de qualquer atividade maricultura foram estabelecidas no
instrumento legal atualizado do ZEE, o Decreto Estadual Nº 62.913, de 08 novembro de 2017
(BRASIL, 2017) que dispõe sobre o Zoneamento Ecológico-Econômico do Setor do Litoral
Norte, artigo primeiro e no seu inciso segundo: “Aquicultura marinha de baixo impacto:
cultivo de organismos marinhos de interesse econômico, em áreas de até 20.000 m² de lâmina
d'água, respeitada a legislação específica que disciplina a introdução, reintrodução e
transferência de espécies”.
Ainda, outros critérios dos artigos estabelecidos pela Instrução Normativa 185, de 22
de julho de 2008 (BRASIL, 2008) foram considerados como artigo sétimo e inciso segundo:
“Quanto à taxa de ocupação em áreas abrigadas e em mar aberto: Em baías abertas e
enseadas, a título de precaução, a taxa máxima permitida de ocupação da área superficial é de
10% da área total.”. No inciso terceiro “Quanto ao afastamento mínimo da linha de costa: a)
200 metros da linha média de baixa-mar em praias. b) 50 metros dos costões rochosos”. E por
fim, no inciso quinto “Quanto à profundidade mínima para a instalação das estruturas de
cultivo deve prevalecer sempre a que for maior: a) A profundidade mínima deve ser igual a
altura da estrutura de cultivo submersa, mais uma distância mínima de 1,50 m entre a parte
inferior da estrutura e o sedimento; ou b) A profundidade mínima deve guardar a relação de
1:1 entre a parte submersa da estrutura de cultivo e o vão livre sob a mesma”.
É importante salientar que a Instrução Normativa 185, de 22 de julho de 2008, no seu
artigo oitavo previu a liberação dos cultivos da macroalga introduzida K. alvarezii fora da
área estabelecida e o cultivo só será permitido após estudos e avaliação ambiental da região
para comprovação da sua viabilidade ambiental, o que poderá ocorrer brevemente nos estados
de Santa Catariana (HAYASHI et al., 2011; SANTOS et al.,2018) e possivelmente no estado
da Paraíba (ARAÚJO et al., 2014).
RADIARTA et al. (2008) selecionaram áreas aptas para a vieira japonesa; RADIARTA, et al.
(2011) selecionaram áreas costeiras do Japão mais aptas para o cultivo da macroalga
Laminaria japônica. SAITOH et al. (2011) afirmaram que a aplicação das técnicas de
geotecnologia pode ajudar a prever o impacto da mudança climática com a proposta de
adequação dos locais para aquicultura da vieira (Mizuhopecten yessoensis). LIU et al. (2014)
identificaram as áreas mais sustentáveis baseadas em modelos de sistema de informação
geográfica para cultivo das vieiras japonesas e propõem o gerenciamento da atividade;
COLLAÇO et al. (2015) utilizaram técnicas de geoprocessamento para definição de áreas
propícias e inaptas para o cultivo de ostras na região estuarina de Cananéia; LIMA et al.
(2018) identificaram as áreas adequadas para o cultivo de peixe em áreas com temperaturas
adequadas para a criação do beijupirá (Rachycentron canadum) em gaiolas na costa brasileira
com o auxílio do sensor MODIS no Brasil; TEIXEIRA et al. (2018) identificam áreas para a
aquicultura em locais de produção de sal e pelo método AHP. YIN et al. (2018) afirmaram
que a seleção apropriada do local para instalação de atividades aquícolas é uma maneira de
minimizar o esforço no ecossistema, de tornar as colheitas mais produtivas e de mitigar
conflitos entre usuários diferentes da água.
No litoral norte do estado de São Paulo os trabalhos de ordenamento espacial
iniciaram em 1989 com os trabalhos de MARQUES et al. (1989) e seguidos em 1999 com os
trabalhos de GELLI e MARQUES (2002) com a demarcação dos pontos das áreas propícias à
implantação de cultivos, como fase inicial do planejamento participativo, levando-se em
consideração os critérios técnicos, ambientais e sociais.
Em 2005 o ordenamento da maricultura foi regrado pela Instrução Normativa n°17, de
22 de setembro de 2005 (BRASIL, 2005), que estabeleceu os Planos Locais de
Desenvolvimento da Maricultura PLDMs (MARQUES e BARBIERI, 2008) porém o estado
de São Paulo não possui seu plano oficializado pela Secretaria Especial de Aquicultura e
Pesca.
32
3. RESULTADOS
O fluxograma das metodologias dos estudos da tese foi apresentado na Figura 2: O
“estudo 1” foi intitulado “Produção do extrato da macroalga Kappaphycus alvarezii como
bioestimulante agrícola: Uma alternativa técnica e econômica para as comunidades litorâneas
do sudeste brasileiro ” e o “estudo 2” que foi intitulado “Desenvolvimento ordenado e
potencial da produção da macroalga Kappaphycus alvarezii no litoral de Estado de São
Paulo”.
Valéria Cress Gelli ¹ ², Marco Túlio Ospina Patino¹, Jansle Vieira Rocha¹, Gleyce Kely
Dantas de Araujo Figueiredo¹; Edison Barbieri², Kleber Campos Miranda Filho³, Marcelo
Barbosa Henriques²
3.1.1. Resumo
3.1.2. Introdução
iniciaram com os trabalhos de COSTA et al. (2017) com resultados positivos em relação à
produtividade da soja. No entanto, a composição química do extrato da macroalga
considerada baseou-se nos trabalhos da espécie cultivada na Índia (ESWARAN et al., 2005).
Assim, uma alternativa para desenvolver o cultivo de algas (algicultura), uma
atividade inexistente em quase toda a costa brasileira, seria pela oferta de um produto de valor
agregado como o extrato de algas artesanal, que poderia ser usado diretamente na agricultura
em concentrações específicas.
Portanto, este estudo teve como objetivo analisar a viabilidade econômica da produção
de algas frescas e do extrato caracterizado quimicamente da macroalga de K. alvarezii
cultivada no litoral de São Paulo nos módulos mínimos familiares como alternativa técnico-
econômica de renda para as comunidades costeiras.
O resíduo total produzido foi calculado em função do peso total da fração de sólidos
retido na filtragem e o peso inicial da macroalga usado, de acordo com a equação (2).
nitrogênio total por digestão ácido sulfúrico; perda de ignição resíduos minerais segundo
SCHULTE et al (1987); Fósforo (P2O5) por calorimetria de vanádio molibdênio; Potássio
(K2O), cálcio (Ca), magnésio (Mg), ferro (Fe), manganês (Mn), cobre (Cu), zinco (Zn) por
espectrofotometria de absorção atómica, extraídos com solução nítrico-perclórico. Os
resultados médios obtidos foram comparados com a literatura existente.
Após, o extrato foi classificado de acordo com a legislação brasileira que
regula os fertilizantes agrícolas, Lei n° 6.894, de 16 de dezembro de 1980 (BRASIL, 1980),
que dispõe sobre a inspeção e fiscalização da produção e do comércio de fertilizantes,
corretivos, inoculantes, ou biofertilizantes, remineralizadores e substratos para plantas
destinados à agricultura e seus decretos e instruções normativas que a regulam.
Tabela 6. Preço de venda da macroalga Kappaphycus alvarezii fresca (MF) e três cenários de
preços do extrato (E1, E2, E3).
Fresca
Macroalgas Extrato (L)
(Kg)
Cenários MF E1 E2 E3
Preço de venda (R$) 0,45 7,00 9,00 18,00
Cenários
Variáveis produtivas e econômicas MF E1 E2 E3
Produtividade (Kg. m-1) 3 3 3 3
Total de área (m²) 2.000 2.000 2.000 2.000
Número de balsas (3 por 50 m) 4 4 4 4
Número de ciclos ano-1 8 8 8 8
Produção por ciclo (Kg) 3.600 3.600 3.600 3.600
Produção de mudas (Kg) 720 720 720 720
Produção total (Kg) 2.880 2.880 2.880 2.880
Produção extrato por ciclo (L) 2.016 2.016 2.016
Produção anual total (L) 0 16.128 16.128 16.128
Preço de comercialização (R$) 0,45 7,00 9,00 18,00
Valor total produção ciclo (R$) 1.296,00 14.112,00 18.144,00 36.288,00
Valor total produção anual (R$) 10.368,00 112.896,00 145.152,00 290.304,00
Fonte: Dados do estudo
O Valor Presente Líquido (VPL) foi também estimado utilizando o fluxo de caixa,
descontando as taxas que representaram os custos de capital de importância para o investidor
a longo prazo (SHANG, 1990; MARTIN et al., 1994).
O Período de Recuperação de Capital (PRC) mede o tempo (anos) necessário para
recuperar o capital investido em uma determinada atividade.
O Período de Recuperação de Capital Econômico (PRCE): é o tempo (anos)
necessário para recuperar o capital investido em valores correntes, utilizando a taxa de
atratividade.
Também foi utilizado um indicador chamado ponto de nivelamento (PN), que
representa a produção mínima da macroalga K. alvarezii necessária para cobrir o custo,
dividindo-se o Custo Operacional Total pelo preço de venda por quilograma do produto de
acordo com MARTIN et al. (1998).
RB: Receita Bruta RB = Preço x Quantidade de alga;
RL: Receita Líquida RL = RB – Custo Operacional Total (COT);
RLF: Receita Liquida Financeira RLF = RB – Custo Operacional Efetivo
PN: Ponto de Nivelamento PN = COT/Preço;
Preço de Nivelamento Preço N = COT/ produção;
LO: Lucro operacional LO = RB-COT e
IL: Índice de lucratividade IL= LO/RB x 100
considerada a retirada 20% da produção total das macroalgas frescas para produção de novas
mudas. O tempo de cultivo das algas foi de 45 dias, totalizando 8 ciclos anuais e 280 dias de
trabalho, considerando a mão de obra familiar artesanal, composta por duas pessoas mais uma
para trabalho eventual.
giberelina, citocinina, zeatina e o ácido indol acético que estimularam o crescimento nas
culturas agrícolas, porém essas análises não foram realizadas no presente estudo.
Horizonte Projeto
Cenários
(10 anos)
INVESTIMENTO Quantidade Vida útil (anos) Valor Unitário MF E1, E2 e E3
Elaboração do projeto 0,05 10 1.448,76 1.388,76 1.448,76
Licenciamento ambiental 1 10 0,00 0,00 0,00
Barco de alumínio 4 m 1 10 4.000,00 4.000,00 4.000,00
Motor de popa - 5 HP 1 10 3.900,00 3.900,00 3.900,00
Balsa de manejo 1 10 7.800,00 7.800,00 7.800,00
Balsa de produção 4 5 1.400,00 5.600,00 5.600,00
Mesa de trabalho 1 5 300,00 300,00 300,00
Boias de sinalização 4 5 158,80 635,20 635,20
Ancoras de 70 kg 12 20 270,00 3.240,00 3.240,00
Balança eletrônica 30Kg 1 5 800,00 800,00 800,00
Lavadora de alta pressão 1 5 1.500,00 1.500,00 1.500,00
Liquidificador industrial 2 5 600,00 0 1.200,00
Valor Parcial (R$) 29.163,96 30.423,96
Capital de Giro (R$) 0,85 24.789,37 25.860,37
TOTAL (R$) 53.953,33 56.284,33
Fonte: Dados do estudo
47
Tabela 10. Itens de despesa operacional para a produção de macroalga fresca (MF) e do
extrato da macroalga Kappaphycus alvarezii (E), cultivada no litoral norte de São Paulo
incluindo a mão de obra.
Cenários MF E1 E2 E3
Insumos 19.368,01 31.626,79 31.626,79 31.626,79
Transporte - 2.400,00 2.400,00 2.400,00
Energia elétrica e água 4.799,99 10.800,00 10.800,00 10.800,00
Pessoal (80% encargos) 32.400,00 32.400,00 32.400,00 32.400,00
Pessoal maricultor 21.600,00 21.600,00 21.600,00 21.600,00
Pessoal- apoio manutenção 4.799,99 4.799,99 4.799,99 4.799,99
Taxa da Associação 120,01 120,01 120,01 120,01
Taxa Seguridade Social 476,92 5.972,18 7.678,54 15.357,07
TOTAL R$ 85.054,92 109.719,97 111.425,33 119.103,86
Fonte: Dados do estudo
A mão de obra, mesmo que familiar foi o item que mais onerou o custo de operação
nos cenários propostos (MF, E1, E2 e E3) em 63,48, 49,22, 48,37 e 45,34%, respectivamente.
Esses valores se diferenciaram de acordo com a contribuição da taxa de seguridade social que
é de 2,3 % da receita bruta.
A aquisição dos propágulos (mudas) para o primeiro ciclo de produção foi considerada
como custo operacional, mesmo que seu custo de R$ 72,00 tenha sido insignificante em
virtude das restrições da legislação brasileira ( Instrução Normativa N°185, de 22 de julho de
2005) que determinam que conste a procedência das mudas (BRASIL, 2008).
Os resultados de custos e os índices de rentabilidade para o monocultivo proposto para
alga fresca nos MMF podem ser observados na Tabela 11. A produção das macroalgas frescas
para extração de carragenana foi inviável economicamente para áreas de módulo mínimo
familiar. Mesmo com um total de custo operacional COT de R$ 10.981,90, os resultados dos
índices como receita líquida foram negativos assim como os índices de rentabilidade como o
48
Cenários AF E1 E2 E3
PRC (anos) (0,76) 25,68 2,74 0,75
PRC*(anos) (1,74) 35,78 3,23 0,40
VPL (US$) - 158.990,45 - 18.887,74 35.300,13 284.809,09
TIR (%) s.r. -16,55 38,99 215,98
Fonte: Dados do estudo
3.1.5. Conclusões
De acordo com as concentrações dos macronutrientes secundários e micronutrientes
analisados, o extrato da macroalga K. alvarezii cultivada no litoral norte de São Paulo não
pode ser considerado um fertilizante orgânico fluido foliar por não apresentar as
concentrações mínimos estabelecidas pela legislação brasileira (Instrução Normativa n°25, de
28 de julho de 2009) podendo ser considerado um biofertilizante.
Os resultados dos estudos econômicos mostraram que a produção do extrato artesanal
foi economicamente viável para o cenário da análise de sensibilidade com preço de venda a
partir de R$ 9,00. O cultivo da macroalga K. alvarezii pode ser uma alternativa sustentável de
acordo com sua forma de processamento. Os módulos mínimos familiares (MMF) são
inviáveis economicamente para a produção e comercialização de macroalgas frescas no preço
de venda de R$ 0,45.
Novos estudos devem ser estimulados no Brasil com a aplicação do extrato como
bioestimulante agrícola para incentivo da cadeia produtiva e para identificação dos agentes e
princípios ativos do biofertilizante para registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento.
Novos estudos econômicos em áreas maiores e em sistemas de cultivos integrados
multitróficos na região devem ser realizados.
A atividade da algicultura no litoral norte de São Paulo pode ser incentivada para a
produção de extrato de forma artesanal e para isso serão necessários projetos em Políticas
Públicas para o seu desenvolvimento de forma ordenada e responsável.
52
3.1.6. Referências
BRASIL, 2009. Instrução Normativa SDA/MAPA 25/ de 28 de julho de 2009 2–5. Estabelece
as normas sobre as especificações e as garantias, as tolerâncias, o registro, a embalagem e a
rotulagem dos fertilizantes orgânicos simples, mistos, compostos, organominerais e
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3.2.1. Resumo
3.2.2. Introdução
(2019) a produção nacional está concentrada toda no sul do estado do Rio de Janeiro e foi
estimada em 700 toneladas ao ano e um ganho de US $30 mil, em 2016.
A produção deveria estar superestimada pelo desinteresse e abandono dos produtores
dos cultivos comerciais nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, em consequência das
restrições da legislação ambiental, dos preços baixos praticados pelas indústrias, além de falta
condições de apoio da infraestrutura e técnicas de manejo (GELLI e BARBIERI, 2015).
Adicionalmente, à desorganização do setor produtivo somado à falta de pesquisas aplicadas e
de serviço de extensão também contribuíram para tornar a atividade incipiente (REIS et al.
2017). Os mesmos autores também consideraram que a algicultura brasileira necessita de
planejamento em políticas públicas para seu efetivo desenvolvimento.
De acordo com COLLAÇO et al. (2015), o desenvolvimento responsável de uma
atividade tecnicamente eficiente e economicamente viável dependeu fundamentalmente de um
ordenamento espacial embasado em critérios técnicos, biológicos, socioeconômicos e também
legal. A utilização das ferramentas da geotecnologia proporcionou respostas rápidas e
sistemáticas para seleção de áreas sustentáveis para os cultivos de organismos marinhos. O
domínio da técnica de geotecnologia quando aliada ao conhecimento de variáveis ambientais,
legais, da bioecologia dos organismos aquáticos, das técnicas de produção, respeitadas as
variáveis sociais, poderia gerar uma importante ferramenta de apoio ao planejamento e
desenvolvimento.
Logo, o uso de sensoriamento remoto auxiliou o mapeamento e o monitoramento das
variáveis ambientais como, por exemplo, a temperatura da água, a ser considerada na seleção
de áreas potenciais para maricultura. Além disso, a importância de séries temporais de
imagens de satélite e produtos derivados possibilita uma análise das variações dos parâmetros
oceanográficos, biológicos e físicos nas escalas de tempo mais longas (SAMBODHO et al.,
2017). Vários trabalhos foram desenvolvidos para o ordenamento da maricultura com o uso
da geotecnologia e seus resultados contribuíram em importante ferramenta para auxílio do
planejamento das atividades e consequentemente colaboração nos programas em políticas
públicas: RADIARTA et al. (2008) selecionaram áreas aptas para a vieira japonesa;
RADIARTA at al. (2011) selecionaram áreas costeiras do Japão mais aptas para o cultivo da
macroalga Laminaria japonica. SAITOH et al. (2011) afirmaram que a aplicação das técnicas
de geotecnologia poderia ajudar a prever o impacto da mudança climática e propuseram a
readequação dos locais para aquicultura da vieira (Mizuhopecten yessoensis). LIU et al.
(2014) identificaram as áreas mais sustentáveis baseadas em modelos de sistema de
61
Neste trabalho foram selecionadas “áreas aptas”, “áreas legais” e “áreas demarcadas
ou parques aquícolas” para a estimativa das potencialidades (ambiental, econômica e social).
Para seleção das áreas aptas foram realizadas as seguintes etapas a) Estudo da série
temporal da temperatura de superfície do mar associado ao crescimento da macroalga K.
alvarezii; b) Estudo da taxa de crescimento da macroalga associada aos fatores ambientais
(T°C do MODIS, T°C in situ e salinidade); e c) Seleção de áreas mais adequadas ao cultivo de
acordo com os critérios biológicos da macroalga (taxa de crescimento), ambientais (TSM,
salinidade, batimetria, áreas abrigadas); socioeconômicos (pesca e turismo) e legais
(legislação aquícola e ambiental). O fluxograma da metodologia adotada para seleção das
áreas aptas para a implantação da algicultura no estado de São Paulo pode ser visualizado por
meio da Figura 6.
63
Figura 6. Fluxograma adotado para seleção de áreas adequadas para o cultivo da macroalga K.
alvarezii no litoral norte de São Paulo nas etapas (a, b e c).
Os locais estudados para a série temporal são áreas que têm ou já tiveram fazendas
marinhas implantadas de qualquer organismo marinho e estão identificados na Tabela 13.
Tabela 13. Localização dos pontos amostrais estudados na série temporal da TSM durante o
período de 2006 a 2017.
O cultivo da macroalga foi realizado em sistema de balsa flutuante descrito por GELLI
e BARBIERI (2015). O método de plantio adotado no trabalho foi o sistema “tie tie” (GELLI
e BARBIERI, 2015) que consistiu em amarrar 30 mudas da macroalga com aproximadamente
100 g, espaçadas entre si em 20 cm ao longo de 3 cabos de 2 metros e presos em suas
extremidades na balsa de cultivo.
A taxa de crescimento foi descrita de acordo com YONG et al. (2013), conforme
equação (1):
Dados das médias da TSM do MODIS/Terra e in situ mensais foram testados em sua
normalidade de Shapiro-Wilk (1965) e para verificação da diferença significativa foi aplicado
o teste t-Student a 95% de nível de significância (p<0.05). As correlações lineares foram
calculadas entre a taxa de crescimento da macroalga e os dados de temperatura do
Terra/MODIS e “in situ” e salinidade. O índice de determinação foi calculado para as taxas de
crescimento com a TSM MODIS e TSM in situ.
Foi aplicada a metodologia de AHP (Analytic Hierarchy Process) para a seleção das
“áreas mais aptas” para a implantação da algicultura, com base na hierarquização das
variáveis envolvidas. O método considera informações qualitativas e quantitativas e as
combina auxiliando a tomada das decisões com os valores dos julgamentos das comparações
dos critérios paritários baseados em experiência, intuição e também em dados físicos
(SAATY, 2003).
Para a determinação dos critérios foram utilizados dados do estudo da biologia da
macroalga K. alvarezii no ambiente, da literatura, da legislação e das entrevistas com as
especialistas. Foram selecionados os critérios legais (legislação ambiental), socioeconômicos,
técnicos de cultivo da macroalga e ambientais (TSM, batimetria e proximidade da foz dos
rios).
Os pesos dos critérios foram definidos através das entrevistas aplicadas aos
especialistas com notável experiência na área da aquicultura marinha (Comitê de Ética de
Pesquisa UNICAMP/CAAE: 08837519.8.0000.5404, em anexo) através do Método de
Comparação Pareada (PCM), baseado em uma escala contínua onde o valor 1 indica que dois
critérios são "igualmente" importantes e o valor 9 indica que um critério é "extremamente"
mais importante que o outro. Os valores médios das comparações foram inseridos em uma
66
c.1. Critérios adotados para a seleção das “áreas mais aptas” ao cultivo da macroalga K.
alvarezii
Os critérios considerados foram compostos por quatro fatores e uma restrição abaixo
especificados.
Fatores:
c.1.1. Temperatura de superfície do mar - TSM
ambiente de produção, como os rios do litoral norte não são caudalosos foi adotada a distância
mínima de 500 metros para a implantação das unidades produtivas.
Restrição:
c.1.5. Legislação aquícola
O tamanho das áreas legais foi determinado de acordo com a Normativa Ibama n°
185/2005 no artigo sétimo, inciso segundo e alínea “a” que definiu a taxa de ocupação
máxima permitida da área superficial da área total nas baías abertas e enseadas, a título de
precaução de 10% (BRASIL, 2008a).
O mapa foi elaborado utilizando a imagem satélite LandSat 8, adquirida no site
https://earthexplorer.usgs.gov/. Foi utilizado o programa ArcMap10.5.1.
Essa etapa consistiu na coleta de dados secundários fornecidos por órgãos oficias da
Secretaria de Aquicultura e Pesca e dos órgãos estaduais da Secretaria da Agricultura do
Estado de São Paulo, foram considerados relatórios e publicações técnicas das instituições
governamentais disponibilizados (MARQUES e BARBIERI, 2008).
68
Para a seleção dos parques aquícolas nos municípios de Caraguatatuba, São Sebastião,
Ilhabela e Ubatuba. MARQUES e BARBIERI (2008) consideraram os seguintes critérios: a)
abrigo de ventos e correntes fortes b) inexistência de fontes poluidoras ou potencialmente
poluidoras nas proximidades. Nos aspectos econômicos e sociais foram considerados: a)
ausência de conflitos com fundeadouros de embarcações, marinas, áreas de navegação
marítima, pontos de colocação de redes de espera, locais de arrasto pesqueiro e pontos de
instalação de cercos flutuantes (GELLI e MARQUES, 2002); b) consentimento da população
local (pescadores e moradores) e c) ausência de conflitos com locais de refúgio para
embarcações frente às condições meteorológicas adversas
3.2.4.1. Estudo da série temporal da TSM (in situ e MODIS) e da salinidade associados
ao crescimento da macroalga Kappaphycus alvarezii
0,8066, respectivamente (Figura 8). Neste contexto, houve indicação que a recuperação dos
dados dos da STM do MODIS já seriam satisfatórios para estudos para essa espécie. A
temperatura é um fator de grande importância e influencia diretamente o crescimento da
macroalga e esses dados corroboraram com os resultados obtidos nos trabalhos de PAULA et
al. (2001); PAULA et al. (2002);. HAYASHI et al. (2007) para o mesmo local do estudo,
também encontraram uma correlação positiva com a taxa de crescimento e temperatura para a
mesma região. HAYASHI et al. (2011a) agora para região sul do Brasil demonstraram que o
crescimento da mesma pode ser cultivada em temperaturas abaixo de 20°C até 16°C, porém
com uma taxa de crescimento muito baixa de 0,54 a 0,32% ao dia.
A seleção das áreas aptas à implantação da atividade da algicultura foi realizada com
a aplicação do método AHP. Na Tabela 15 estão apresentados os valores médios atribuídos
pelos entrevistados para construção da matriz com seus respectivos pesos resultantes. O índice
de consistência calculado foi de 6%, assim o resultado foi aceitável de acordo com o método
que deve estar abaixo de 10%.
Tabela 15. Matriz de comparação de pares para avaliar a importância relativa de parâmetros
para o desenvolvimento de algicultura da macroalga Kappaphycus alvarezii.
Os resultados da seleção das áreas aptas de acordo com os fatores estabelecidos para
cultivo da macroalga K. alvarezii podem ser observados na Figura 9.
74
Figura 10. Mapa de localização final das áreas aptas ao cultivo da macroalga Kappaphycus
alvarezii.
3.2.4.3. Seleção das enseadas produtoras para a implantação da algicultura nas “áreas
legais”
A ocupação máxima permitida das enseadas para cultivo da macroalga K. alvarezii foi
de 10 % de acordo com a Normativa IBAMA n° 185 de 22 de julho de 2008. Na Figura 11
podem ser observadas todas as enseadas produtivas e o potencial de implantação da atividade,
respeitada a legislação vigente foi dimensionado em 1.299,59 hectares.
76
Figura 11. Mapa da localização das principais enseadas produtoras de Kappaphycus alvarezii.
3.2.4.4. Identificação das áreas demarcadas (parques aquícolas) promissoras aos cultivos
da macroalga K. alvarezii
Figura 12. Mapa da localização dos parques aquícolas (MARQUES e BARBIERI, 2008) com
as áreas aptas ao cultivo da macroalga Kappaphycus alvarezii.
Os resultados obtidos indicaram que a ocupação das áreas legais poderia suprir a
demanda da importação da carragenana que de acordo com os dados do Ministério da
Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o Brasil importou, em 2018, aproximadamente 2,0
toneladas de carragenana (BRASIL, 2019) assim, considerando o rendimento médio de 60%
do hidrocolóide por quilo de alga seca (HAYASHI; et al., 2007; MASARIN et al., 2016) a
demanda brasileira desta matéria prima seria de aproximadamente 3.333,3 toneladas/ano/seca
e diante dos dados obtidos, a estimativa de produção nestas áreas foi de aproximadamente
14.295,49 t/ ano/seco.
A produção mundial de algas marinhas, de acordo com os dados da FAO (2018) em
2016 foi de aproximadamente 28,8 milhões de toneladas em 2016 e de acordo a metodologia
de estimativa de sequestro de carbono de SONDAK et al. (2017) essa produção sequestrou
aproximadamente 2.876.956 toneladas de dióxido de carbono. Diante destes dados, a
estimativa da captura de CO2 paulista para as “áreas mais aptas”, as “áreas legais” e os
79
Devido a proposta de método apresentada oferecer um baixo custo relativo, bem como
vários elementos integradores de natureza inovadora, o método apresentado se caracteriza por
um grande efeito multiplicador, podendo ser aplicado também nos municípios situados no sul
do estado do Rio de Janeiro, bem como em outros municípios costeiros do litoral brasileiro.
3.2.6. Referências
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cultivation for Kappaphycus alvarezii (Rhodophyta, Solieriaceae) on the south coast of Rio de
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84
4. CONCLUSÕES
Para o local amostrado (Praia do Itaguá- Instituto de Pesca) os testes estatísticos dos
dados das TSM (MODIS e in situ) demonstraram não ter diferença significativa ao nível de
5%. Ainda, os resultados das correlações da taxa de crescimento da macroalga cultivada K.
alvarezii no ponto amostral nos períodos mensal de março de 2013 a julho de 2014 e bimensal
de dezembro de 2017 a outubro de 2018 apresentaram fortes correlações com a TSM MODIS
e com a TSM in situ para os dois períodos e com um índice de determinação (R²) para o
período mensal de 0,7659 e 0,6221 e para o estudo bimensal um de 0,7009 e 0,8066. Assim,
esses resultados indicaram que os dados pretéritos da TSM do Terra /MODIS poderiam ser
utilizados para o monitoramento ambiental, com critérios, necessitando de estudos mais
refinados futuros associados ao cultivo em outros locais costeiros de produção.
O dimensionamento das áreas aptas para a implantação da atividade da algicultura e
classificadas como as “mais aptas” foi de aproximadamente 2.299,26 hectares e para as “áreas
legais” de 1.299,59 hectares, resultados esses que embasaram a estimativa dos potenciais
ambiental de sequestro de CO2 que foi de 15.739,33 toneladas, social na geração
aproximadamente de 7.797 empregos e econômico com uma estimativa de receita anual R$
64,32 milhões.
Esse trabalho proporcionou em uma primeira fase a identificação de 44 locais aptos à
implantação da algicultura com base em diferentes fatores e restrições no nível específico para
a espécie Kappaphycus alvarezii. Em uma fase posterior, a metodologia adotada poderia ser
implantada para outras espécies cultivadas superficialmente para compor uma estratégia de
implantação de novos cultivos.
Destaca-se ainda que os resultados obtidos no presente estudo poderiam colaborar
como um importante componente a ser avaliado no âmbito do Programa Estadual de
Gerenciamento Costeiro de São Paulo, especialmente no que se refere ao Zoneamento
Ecológico Econômico Costeiro, visto que o potencial levantado pode ser representativo para a
economia dos municípios de Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela.
90
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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6. ANEXOS -
6.1. Processo n° 260108 -003.810/2016 de aprovação na Comissão Técnica do Instituto
Florestal -Carta COTEC n°480/2016 D74/2016TN)
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