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Aula 02

Conhecimentos Específicos p/ SEDF (Professor de História)


Professor: Naiane Comar
Aula 02: 09 Brasil – A ocupação inicial do território
brasileiro e a questão indígena.

SUMÁRIO PÁGINA
1. A OCUPAÇÃO INICIAL DO TERRITÓRIO 02
BRASILEIRO
2. A QUESTÃO INDÍGENA 09

3. LISTA DE QUESTÕES 19

4. QUESTÕES COMENTADAS 21
5. GABARITO 25
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 26

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Chegamos ao Brasil!

E mais perto do fim do curso. Com o atraso do edital, temos


tempo, só não pode desanimar.

Vamos lá?

1. A OCUPAÇÃO INICIAL DO TERRITÓRIO


BRASILEIRO

 Expansão marítima e comercial

Lembra quando citei a crise do século XIV? Ela também alcançou


a Península Ibérica, diminuindo a população, provocando o êxodo
para as cidades e revoltas camponesas. Além disso, os metais
preciosos com que se cunhavam moedas tornavam-se cada vez
mais escassos. No caso de Portugal a crise foi contornada com o
processo de Expansão Marítima, onde as atividades comerciais já
representavam um fator importante na economia da região.

Portugal foi o primeiro país europeu a lançar-se no processo de


expansão marítima, sendo que isso não ocorreu por acaso. A
posição geográfica se mostrava favorável, por ser banhado em
toda sua costa pelo oceano Atlântico, além de ser ponto de escala
comercial. Além disso, no século XV, Portugal era um país sem
guerras internas e externas, enquanto outros estavam
envolvidos em diversos conflitos. Podemos citar também, a
precoce centralização política, com a Revolução de Avis (Que
colocou no poder D. João, ligado aos interesses da Burguesia
comercial), Portugal conseguira antes de outras nações

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europeias, centralizar o governo, criando o Estado moderno
associado aos interesses mercantis.

Os fatores religiosos e culturais também estavam presentes.


O ideal missionário em Portugal e Espanha e o espírito de
Cruzada, serviram de pretexto para justificar a expansão
europeia. O desenvolvimento da arte da construção naval e
da navegação, aliados à invenção da caravela, tornaram
possível a navegação em alto mar. O próprio conceito de que a
terra era redonda, levou à conclusão de que seria possível atingir
qualquer continente pela navegação marítima em linha reta.

Enquanto foi promovida pelos burgueses, a expansão portuguesa


teve fins pacíficos e comerciais; nas ocasiões em que os nobres
as dirigiam, as expedições tenderam mais ao saque é à conquista
das grandes cidades muçulmanas, "infiéis", do norte da África.
Foi sob a regência de Dom Pedro que a expansão portuguesa
viveu o seu grande momento. Algum tempo depois começou a
exploração comercial, organizada sob a forma de concessões e
monopólios, que levaria os portugueses às Índias (só em 1460 se
falou pela primeira vez na possibilidade de chegar até lá). Os
descobrimentos se sucederam: Ceuta (1415), Madeira, Açores,
Cabo Bojador, Cabo Branco, Cabo Verde, Golfo da Guiné, até a
passagem do Equador, em 1471. Em 1487, Bartolomeu Dias
ultrapassou o Cabo das Tormentas. Ao seguir a mesma rota, em
1497, Vasco da Gama tocou Moçambique e Melinde, na África
Oriental, antes de atingir Calicute, na costa oeste da índia,
fazendo assim a primeira ligação direta por mar entre a Europa
Ocidental e os países marítimos do Oriente (1498).

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Convém lembrar, mais uma vez, a conexão que existiu entre a
centralização política e a expansão comercial. Assim, a medida
que outros reinos se unificavam, laçavam-se também para a
expansão marítima concomitantemente a expansão portuguesa
que ia desvendando os segredos dos mares e ampliando o seu
comércio junto às regiões da costa africana, a Espanha ainda se
via envolvida em conflitos bélicos pela expulsão dos mouros da
parte sul de seu território. Após a expulsão dos mouros, iniciou-
se a expansão ultramarina espanhola, financiando uma expedição
que comandada por Cristóvão Colombo, pretendia chegar as
Índias navegando pelo Ocidente. Partindo das Canárias, depois
de navegar 33 dias chegou em 1492 às ilhas Lucaias, Cuba e São
Domingos. Pensando estar nas índias, chamou os habitantes da
terra de índios.

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A partir da “descoberta” do Novo Mundo, Portugal e Espanha
apressaram-se em estabelecer deu domínio sob a região. Na
eminência de conflitos entre os dois reinos, houve a intervenção
papal que estabeleceu uma linha imaginária a 100 léguas Cabo
Verde onde a porção territorial a oeste da linha pertenceria à
Espanha, e a porção leste pertenceria a Portugal. (Bula Inter
Coetera 1493. Insatisfeito e inconformado com a divisão, Portugal
ameaçou valer-se da força para decidir a questão, e antes que se
despontasse um confronto armado, um novo acordo firmado
entre os dois reinos, estabeleceu uma nova linha a 370 léguas de
Cabo Verde (Tratado de Tordesilhas 1494). Esse acordo, ao
mesmo tempo em que se reafirmou a supremacia desses países
no século XV, reconhecendo o pioneirismo Ibérico na expansão,
o tratado foi contestado pelas demais nações como França e
Inglaterra que não o reconheceram.

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Mercantilismo:

Mercantilismo é a teoria e prática econômica que defendiam, do


século XVI a meados do XVII, o fortalecimento do estado por meio
da posse de metais preciosos, do controle governamental da
economia e da expansão comercial. Os principais promotores do
mercantilismo, como Thomas Mun na Grã-Bretanha, Jean-Baptiste
Colbert na França e Antonio Serra na Itália, nunca empregaram esse
termo. Sua divulgação coube ao maior crítico do sistema, o escocês
Adam Smith, em The Wealth of Nations (1776; A riqueza das
nações).

Para a consecução dos objetivos mercantilistas, todos os outros


interesses deviam ser relegados a segundo plano: a economia local
tinha que se transformar em nacional e o lucro individual
desaparecer quando assim conviesse ao fortalecimento do poder
nacional.

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 A Ocupação

As terras americanas eram vistas pelos europeus como fonte de


recursos de grande valor comercial, fato que explica os objetivos
com a colonização e todo o processo de ocupação que aqui se
estabeleceu. A América Tropical apresentava uma natureza
considerada hostil para os colonizadores por apresentar
características diferentes da de seu espaço de origem. No
entanto, esta hostilidade passou a ser considerada uma dádiva
na medida em que proporcionava uma variedade de recursos
naturais propícios à exploração. Para o colonizador “A América
lhe poria a disposição, em tratos imensos, territórios que só
esperavam a iniciativa e o esforço do Homem. É isto que
estimulará a ocupação dos trópicos americanos” (PRADO JUNIOR,
1979 : 28). Neste meio hostil e selvagem, longe da modernidade
e agitação da metrópole, o colono europeu não viria com
disposição de empregar a energia do seu próprio trabalho físico
no desbravamento destas novas terras. (COSTA) “Viria como
dirigente da produção de gêneros de grande valor comercial,
como empresário de um negócio rendoso [...]” (PRADO JUNIOR,
1979 : 28 – 29). Este só se dirigia para os trópicos quando, na
função de dirigente, contava com mão-de-obra disponível para
trabalhar para ele. A princípio a mão-de-obra utilizada era a
indígena e seu pagamento se dava através do escambo. O
trabalho dos nativos num primeiro momento era livre, mas logo
os indígenas começaram a se desinteressar pelo pagamento que
recebiam por seu trabalho e iniciaram um processo de fuga,
dispersando-se pelo território o que dificultou sua captura. O
trabalho utilizando indígenas passou então a ser escravo.

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A ocupação do território brasileiro, num primeiro momento
ocorreu por meio da atividade extrativista vegetal, com a
exploração do pau-brasil, presente nas matas ao longo da costa
brasileira, em vasta extensão no sentido norte-sul. Isto ocorre,
entre os anos 1500 a 1530, período em que há um descaso da
Coroa Portuguesa em relação a sua colônia. Essa atividade teve
curta duração e não possibilitou a criação de estabelecimentos
fixos como vilas e/ou cidades, facilitando a invasão do território
por parte de outros estados europeus. No entanto, criou
condições favoráveis para o desenvolvimento de uma atividade
que asseguraria a posse deste imenso território e possibilitaria
uma base econômica mais ampla e estável: a agricultura.
Segundo PRADO JUNIOR (1979:130) é propriamente na
agricultura que se assentou a ocupação e exploração da maior
parte do território brasileiro.

A colonização é conteúdo para a próxima aula! Agora, a


questão indígena.

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2. QUESTÃO INDÍGENA

Segundo o site da FUNAI,

“Desde 1500 até a década de 1970 a população indígena


brasileira decresceu acentuadamente e muitos povos foram
extintos. O desaparecimento dos povos indígenas passou a ser
visto como uma contingência histórica, algo a ser lamentado,
porém inevitável. No entanto, este quadro começou a dar sinais
de mudança nas últimas décadas do século passado. A partir de
1991, o IBGE incluiu os indígenas no censo demográfico nacional.
O contingente de brasileiros que se considerava indígena cresceu
150% na década de 90. O ritmo de crescimento foi quase seis
vezes maior que o da população em geral. O percentual de
indígenas em relação à população total brasileira saltou de 0,2%
em 1991 para 0,4% em 2000, totalizando 734 mil pessoas. Houve
um aumento anual de 10,8% da população, a maior taxa de
crescimento dentre todas as categorias, quando a média total de
crescimento foi de 1,6%.

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Um dado importante foi o aumento da proporção de indígenas
urbanizados. A atual população indígena brasileira, segundo
resultados preliminares do Censo Demográfico realizado pelo
IBGE em 2010, é de 817.963 indígenas, dos quais 502.783 vivem
na zona rural e 315.180 habitam as zonas urbanas brasileiras.
Este Censo revelou que em todos os Estados da Federação,
inclusive do Distrito Federal, há populações indígenas. A Funai
também registra 69 referências de índios ainda não contatados,
além de existirem grupos que estão requerendo o
reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão federal
indigenista.

>>FORAM REGISTRADAS NO PAÍS 274 LÍNGUAS


INDÍGENAS<<

Com relação às 274 línguas faladas, o censo demonstrou que


cerca de 17,5% da população indígena não fala a língua
portuguesa. Esta população, em sua grande maioria, vem
enfrentando uma acelerada e complexa transformação social,
necessitando buscar novas respostas para a sua sobrevivência
física e cultural e garantir às próximas gerações melhor qualidade
de vida. As comunidades indígenas vêm enfrentando problemas
concretos, tais como invasões e degradações territoriais e
ambientais, exploração sexual, aliciamento e uso de drogas,
exploração de trabalho, inclusive infantil, mendicância, êxodo
desordenado causando grande concentração de indígenas nas
cidades. ”

10
Este texto pode ser encontrado do site da Funai no tópico
“Quem são”. Porém é insuficiente para entender quem
são os índios, diante disso, segue abaixo alguns
conceitos...

Os habitantes das Américas foram chamados de índios pelos


europeus que aqui chegaram. Obviamente, uma denominação
genérica. Estima-se, que no Brasil, havia cerca de 3 a 5 milhões
de pessoas antes da chegada dos portugueses.

Nas últimas décadas, o critério da auto identificação étnica vem


sendo o mais amplamente aceito pelos estudiosos da temática
indígena. Na década de 50, o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro
baseou-se na definição elaborada pelos participantes do II
Congresso Indigenista Interamericano, no Peru, em 1949, para
assim definir, no texto “Culturas e línguas indígenas do Brasil”, o
indígena como: “ (…) aquela parcela da população brasileira que
apresenta problemas de inadaptação à sociedade brasileira,
motivados pela conservação de costumes, hábitos ou meras
lealdades que a vinculam a uma tradição pré-colombiana.

Ou, ainda mais amplamente: índio é todo o indivíduo reconhecido


como membro por uma comunidade pré-colombiana que se
identifica etnicamente diversa da nacional e é considerada
indígena pela população brasileira com quem está em contato”.

Uma definição muito semelhante foi adotada pelo Estatuto do


Índio (Lei no. 6.001, de 19/12/1973), que norteou as relações do
Estado brasileiro com as populações indígenas até a promulgação

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da Nova Constituição de 1988, em especial no seu art. 4º do
Título I (dos princípios e definições):

“Art. 4º Os índios são considerados:

I - Isolados - Quando vivem em grupos desconhecidos ou de que


se possuem poucos e vagos informes através de contatos
eventuais com elementos da comunhão nacional;

II - Em vias de integração - Quando, em contato intermitente ou


permanente com grupos estranhos, conservam menor ou maior
parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam algumas
práticas e modos de existência comuns aos demais setores da
comunhão nacional, da qual vão necessitando cada vez mais para
o próprio sustento;

III - Integrados - Quando incorporados à comunhão nacional e


reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que
conservem usos, costumes e tradições característicos da sua
cultura. ”

Ainda, segundo uma definição técnica das Nações Unidas, de


1986, as comunidades, os povos e as nações indígenas são
aqueles que, contando com uma continuidade histórica das
sociedades anteriores à invasão e à colonização que foi
desenvolvida em seus territórios, consideram a si mesmos
distintos de outros setores da sociedade, e estão decididos a
conservar, a desenvolver e a transmitir às gerações futuras seus
territórios ancestrais e sua identidade étnica, como base de sua
existência continuada como povos, em conformidade com seus
próprios padrões culturais, as instituições sociais e os sistemas
jurídicos.

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Em suma, um grupo de pessoas pode ser considerado indígena
ou não se essas pessoas se considerarem índias ou se assim
forem consideradas pela população que as cerca. Mesmo sendo o
critério mais utilizado, ele tem sido colocado em discussão já que
muitas vezes são interesses de ordem política que usam tal
definição, da mesma forma como acontecia há 500 anos.

Mas os índios se denominam como índios?

Hoje, devido aos movimentos de luta, a denominação imposta


pelos europeus passou a ser usada pelo movimento, afim de unir
os diversos povos em torno de um mesmo objetivo.

“Com o surgimento do movimento indígena organizado a


partir da década de 1970, os povos indígenas do Brasil
chegaram à conclusão de que era importante manter,
aceitar e promover a denominação genérica de índio ou
indígena, como uma identidade que une, articula, visibiliza
e fortalece todos os povos originários do atual território
brasileiro e, principalmente, para demarcar a fronteira
étnica e identitária entre eles, enquanto habitantes
nativos e originários dessas terras, e aqueles com
procedência de outros continentes, como os europeus, os
africanos e os asiáticos. A partir disso, o sentido pejorativo
de índio foi sendo mudado para outro positivo de
identidade multiétnica 31 de todos os povos nativos do
continente. De pejorativo passou a uma marca identitária
capaz de unir povos historicamente distintos e rivais na
luta por direitos e interesses comuns. É neste sentido que
hoje todos os índios se tratam como parentes. “
(LUCIANO)

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Porém, é importante entender que cada povo possui uma cultura
própria, isto é, língua, crenças e um jeito próprio de trabalhar,
pensar, relacionar-se com a natureza e com os outros povos.

O Brasil possui uma imensa diversidade étnica e linguística,


estando entre uma das maiores do mundo. Muito disso é por
conta da pluralidade indígena. Segundo o IBGE, existem 305
etnias indígenas (comunidades definidas por afinidades
linguísticas, culturais e sociais), das quais a maior é a Tukúna,
com 6,8% da população indígena.

Deste modo, não existe nenhum povo, tribo ou clã com a


denominação de índio. Na verdade, cada “índio” pertence a um
povo, a uma etnia identificada por uma denominação própria, ou
seja, a autodenominação, como o Guarani, o Yanomami, etc. Mas
também muitos povos recebem nomes vindos de outros povos,
como se fosse um apelido, geralmente expressando a
característica principal daquele povo do ponto de vista do outro.
Ex.: Kulina ou Madjá. Os Kanamari se autodenominam Madjá,
mas os outros povos da região do Alto Juruá os chamam de
Kanamari. (LUCIANO)

Segundo o material proposto pela Unesco, O Índio


Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos
indígenas no Brasil de hoje, escrito por Gersem dos Santos
Luciano:

“De fato, a história é testemunha de que várias tragédias


ocasionadas pelos colonizadores aconteceram na vida dos povos
originários dessas terras: escravidão, guerras, doenças,
massacres, genocídios, etnocídios e outros males que por pouco
não eliminaram por completo os seus habitantes. Não que esses

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povos não conhecessem guerra, doença e outros males. A
diferença é que nos anos da colonização portuguesa eles faziam
parte de um projeto ambicioso de dominação cultural, econômica,
política e militar do mundo, ou seja, um projeto político dos
europeus, que os povos indígenas não conheciam e não podiam
adivinhar qual fosse. Eles não eram capazes de entender a lógica
das disputas territoriais como parte de um projeto político
civilizatório, de caráter mundial e centralizador, uma vez que só
conheciam as experiências dos conflitos territoriais intertribais e
interlocais. A partir do contato, as culturas dos povos indígenas
sofreram profundas modificações, uma vez que dentro das etnias
se operaram importantes processos de mudança sociocultural,
enfraquecendo sobremaneira as matrizes cosmológicas e míticas
em torno das quais girava toda a dinâmica da vida tradicional. No
início do contato, apesar de serem uma maioria local adaptada
culturalmente ao meio em que habitavam, não contavam com
uma experiência prévia de intensas relações interétnicas e com
os impactos provocados pela violência dos agentes de
colonização, que foram por demais severos. Foram 506 anos de
dominação e, em que pesem as profecias de extinção definitiva
dos povos indígenas no território brasileiro, previstas ainda no
milênio passado, os índios estão mais do que nunca vivos: para
lembrar e viver a memória histórica e, mais do que isso, para
resgatar e dar continuidade aos seus projetos coletivos de vida,
orientados pelos conhecimentos e pelos valores herdados dos
seus ancestrais, expressos e vividos por meio de rituais e crenças.
São projetos de vida de 222 povos que resistiram a toda essa
história de opressão e repressão. Viver a memória dos ancestrais
significa projetar o futuro a partir das riquezas, dos valores, dos

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conhecimentos e das experiências do passado e do presente, para
garantir uma vida melhor e mais abundante para todos os povos.
Mas essa abundância de vida, buscada por todos os povos do
mundo, para os povos indígenas passa necessariamente pela
manutenção dos seus modos próprios de viver, o que significa
formas de organizar trabalhos, de dividir bens, de educar filhos,
de contar histórias de vida, de praticar rituais e de tomar decisões
sobre a vida coletiva. Dessa maneira, os povos indígenas não são
seres ou sociedades do passado. São povos de hoje, que
representam uma parcela significativa da população brasileira e
que por sua diversidade cultural, territórios, conhecimentos e
valores ajudaram a construir o Brasil. ”

Vimos na aula 00 a LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE


2008, que prevê a obrigatoriedade do ensino de África e
dos povos indígenas. Temas que o Cespe adora,
importante relembrar.

Acerca disso, qual a contribuição dos povos indígenas na


formação da cultura brasileira?

Segundo Gersem dos Santos, “na história oficial do Brasil,


contada nos livros didáticos das escolas ou mesmo na literatura
especializada, não aparece nenhum feito ou contribuição
significativa dos povos indígenas à formação da nação brasileira.
Isto porque os povos indígenas sempre foram considerados sem
cultura, sem civilização ou qualquer tipo de progresso material.
Aliás, circula ainda hoje entre pessoas bem escolarizadas a ideia
de que os índios representam barreiras e empecilhos para o
progresso e o desenvolvimento da nação [...]. A primeira
contribuição dos povos indígenas teve início logo após a chegada

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dos portugueses às terras brasileiras. Os índios pacificados e
dominados ensinaram a eles as técnicas de sobrevivência na
selva e como lidar com várias situações perigosas nas florestas
ou como se orientar nas expedições realizadas. Em todas as
expedições empreendidas pelos desbravadores e colonizadores
portugueses lá estavam os índios como guias e serviçais,
conforme atestam vários registros documentais da época. Ao
longo de toda a história de colonização brasileira, os povos
indígenas estiveram presentes, ora como aliados na expulsão de
outros invasores estrangeiros, ora como mão-de-obra nas frentes
de expansão agrícola ou extrativista [...]. Do ponto de vista
sociocultural, hoje é aceito oficialmente o fato de que o povo
brasileiro é formado pela junção de três raças: a indígena, a
branca e a negra. Mas não foi somente no aspecto biológico que
os índios contribuíram para a formação do povo brasileiro como
o senso comum faz crer, mas principalmente do ponto de vista
cultural e religioso. Basta prestarmos atenção em muitos
aspectos que constituem a vida cotidiana dos brasileiros,
começando com a própria língua portuguesa que acabou
incorporando várias palavras, conceitos e expressões de línguas
indígenas. Há centenas de nomes de lugares (Iguaçu,
Itaquaquecetuba, Paranapanema), de cidades (Manaus, Curitiba,
Cuiabá) de pessoas (Ubiratan, Tupinanbá), de ruas e até de
empresas (Aviação Xavante, Empresa Xingu). Outro aspecto
extremamente relevante são os conhecimentos culinários dos
povos indígenas que estão presentes na vida dos brasileiros, em
que talvez a mais forte expressão esteja na presença de inúmeros
produtos da mandioca, desde a tradicional tapioquinha ao exótico
tucupi e à indispensável farinha. Além de tudo isso, há ainda

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outro legado bem mais atual dos povos indígenas ao Brasil e ao
mundo, que são os seus milenares conhecimentos de medicinas
tradicionais. Alguns estudiosos estimam que os índios do Brasil já
chegaram a dominar uma cifra de mais de 200.000 espécies de
plantas medicinais. Muitos delas estão se perdendo antes mesmo
de serem descobertas pela ciência moderna. Ao contrário do que
muitos médicos pregam, a medicina tradicional possui um valor
incalculável ainda a ser descoberto e explorado pela medicina
moderna, desde que a arrogância dos cientistas ceda lugar às
possibilidades de novas descobertas sobre os mistérios da
natureza e da vida, como pregam e vivem os povos indígenas
[...]. Por fim, os povos indígenas brasileiros constituem ainda
uma riqueza cultural invejável para muitos países e continentes
do mundo. São 222 povos étnicos falando 180 línguas – 222
povos é pouco menos que as 234 etnias existentes em todo o
continente europeu. São poucos os países que possuem
tamanha diversidade sociocultural e étnica. Por tudo isso,
o Brasil e o mundo precisam olhar com mais carinho para
os povos indígenas e vê-los não como vítimas ou
coitadinhos pedindo socorro, mas como povos que, além
de herdeiros de histórias e de civilizações milenares,
ajudaram a escrever e a construir a história do Brasil e do
planeta com seus modos de pensar, falar e viver. ”

Por fim, os indígenas “são povos que representam culturas,


línguas, conhecimentos e crenças únicas, e sua contribuição ao
patrimônio mundial – na arte, na música, nas tecnologias, nas
medicinas e em outras riquezas culturais – é incalculável. Eles
configuram uma enorme diversidade cultural, uma vez que vivem

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em espaços geográficos, sociais e políticos sumamente
diferentes. (LUCIANO)

Vamos para os exercícios?

3. LISTA DE QUESTÕES

(CESPE: PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA/HISTÓRIA


– SEDF 2008)
O português veio ao Brasil em 1500, em expedição a caminho da
Índia. Nos três primeiros decênios do século XVI, o Brasil esteve
de lado, embora não de fora das preocupações do colonizador:
algum comércio se fez, houve pequenas expedições e alguns
portugueses ficaram. Em 1530, veio a primeira expedição
importante, sob o comando de Martim Afonso de Sousa: sugeriu-
se ao rei o estabelecimento do sistema de capitanias. O donatário
deveria investir capital, poderia fazer a doação de terras, teria de
defendê-las contra o índio ou o estrangeiro, recebendo em troca
suas rendas, fora os direitos da Coroa. Ante o malogro da
descentralização, o português mudou o sentido da colonização e
estabeleceu, em 1548, o governo geral. O traço básico da

19
economia era a ausência de autonomia do produtor, dependente
de outro centro. A colônia existia para a metrópole. Fornecedora
de bens primários, a colônia entregou-se à agricultura ou à
atividade extrativa — vegetais ou minerais —, sendo-lhe, em
regra, vedada a indústria. Na formação étnica e cultural, o fator
predominante foi o português. Os nativos, os índios,
encontravam-se no estágio da Idade da Pedra, contrastando com
alguns núcleos encontrados pelos espanhóis. A ação indígena
para a formação do Brasil pode ser contada na agricultura
(técnicas e espécies), na coleta de resinas e fibras, nos utensílios
e instrumentos de caça e pesca. Deles, folclore, magia, lendas e
vocabulário foram, em pequena parte, incorporados. A influência
máxima do negro africano deu-se no trabalho, mas também na
alimentação, no folclore, nas crenças religiosas, na música e na
dança. A presença do negro assinalou fundamente a etnia
brasileira, sendo o século XIX marcado pelo problema da luta
contra a escravidão e por certos conflitos étnicos, que se
projetam até nossos dias.

Francisco Iglesias. História geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 1989, p. 52-64 (com adaptações).

Tendo o texto acima como referência inicial e


considerando o processo histórico brasileiro do período
colonial ao século XIX, julgue os itens de 01 a 61.

1. A colonização do Brasil coincidiu com a denominada Idade


Moderna, destacada, na Europa, pelas práticas políticas
absolutistas e econômicas mercantilistas.
2. Infere-se do texto que a chegada dos portugueses ao Brasil
inseria-se no projeto maior comumente chamado de
comércio oriental, fortemente assentado nas especiarias, de
larga aceitação no mercado europeu
20
3. No segundo parágrafo do texto, o autor sugere ter sido
instituído no Brasil o Pacto Colonial, próprio do
mercantilismo, caracterizado pelas relações de
subordinação e dependência da colônia em relação à
metrópole.
4. No texto, sugere-se que, salvo algumas exceções, as
populações nativas do Brasil que os portugueses
encontraram equiparavam-se culturalmente aos incas e aos
maias.
5. Pelo destaque dado no texto à preponderância portuguesa
na formação étnico-cultural brasileira, conclui-se que o
autor desconsidera o fato de o idioma falado no país resultar
de influências maiores dos indígenas e dos africanos.

Poucas questões e bem simples também, né? Hoje foi


moleza.

4. QUESTÕES COMENTADAS

(CESPE: PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA/HISTÓRIA


– SEDF 2008)
O português veio ao Brasil em 1500, em expedição a caminho da
Índia. Nos três primeiros decênios do século XVI, o Brasil esteve

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de lado, embora não de fora das preocupações do colonizador:
algum comércio se fez, houve pequenas expedições e alguns
portugueses ficaram. Em 1530, veio a primeira expedição
importante, sob o comando de Martim Afonso de Sousa: sugeriu-
se ao rei o estabelecimento do sistema de capitanias. O donatário
deveria investir capital, poderia fazer a doação de terras, teria de
defendê-las contra o índio ou o estrangeiro, recebendo em troca
suas rendas, fora os direitos da Coroa. Ante o malogro da
descentralização, o português mudou o sentido da colonização e
estabeleceu, em 1548, o governo geral. O traço básico da
economia era a ausência de autonomia do produtor, dependente
de outro centro. A colônia existia para a metrópole. Fornecedora
de bens primários, a colônia entregou-se à agricultura ou à
atividade extrativa — vegetais ou minerais —, sendo-lhe, em
regra, vedada a indústria. Na formação étnica e cultural, o fator
predominante foi o português. Os nativos, os índios,
encontravam-se no estágio da Idade da Pedra, contrastando com
alguns núcleos encontrados pelos espanhóis. A ação indígena
para a formação do Brasil pode ser contada na agricultura
(técnicas e espécies), na coleta de resinas e fibras, nos utensílios
e instrumentos de caça e pesca. Deles, folclore, magia, lendas e
vocabulário foram, em pequena parte, incorporados. A influência
máxima do negro africano deu-se no trabalho, mas também na
alimentação, no folclore, nas crenças religiosas, na música e na
dança. A presença do negro assinalou fundamente a etnia
brasileira, sendo o século XIX marcado pelo problema da luta
contra a escravidão e por certos conflitos étnicos, que se
projetam até nossos dias.

Francisco Iglesias. História geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 1989, p. 52-64 (com adaptações).

22
Tendo o texto acima como referência inicial e
considerando o processo histórico brasileiro do período
colonial ao século XIX, julgue os itens de 01 a 61.

1. A colonização do Brasil coincidiu com a denominada Idade


Moderna, destacada, na Europa, pelas práticas políticas
absolutistas e econômicas mercantilistas.
CERTO. Lembra quando citamos a Idade Moderna?
Certíssimo.
2. Infere-se do texto que a chegada dos portugueses ao Brasil
inseria-se no projeto maior comumente chamado de
comércio oriental, fortemente assentado nas especiarias, de
larga aceitação no mercado europeu
CERTO. Sempre prestar atenção nesse “infere-se”.
Sim, está no texto, certo!
3. No segundo parágrafo do texto, o autor sugere ter sido
instituído no Brasil o Pacto Colonial, próprio do
mercantilismo, caracterizado pelas relações de
subordinação e dependência da colônia em relação à
metrópole.
CERTO. Mais uma questão de interpretação. E sobre o
pacto colonial, falamos mais na aula que vem.
4. No texto, sugere-se que, salvo algumas exceções, as
populações nativas do Brasil que os portugueses
encontraram equiparavam-se culturalmente aos incas e aos
maias.
ERRADO. No texto, ele afirma que as populações
indígenas se encontravam na “idade da pedra”.

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5. Pelo destaque dado no texto à preponderância portuguesa
na formação étnico-cultural brasileira, conclui-se que o
autor desconsidera o fato de o idioma falado no país resultar
de influências maiores dos indígenas e dos africanos.
ERRADO. Ele cita a contribuição no vocabulário,
mesmo dizendo ser pequena, não desconsidera a
influência.

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5. GABARITO

QUESTÕES GABARITO
1 C
2 C
3 C
4 E
5 E

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6. REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RIBEIRO, Darcy. Os Índios e a Civilização: a integração das


populações indígenas no Brasil moderno. Petrópolis: Vozes, 1979.

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

FUNAI - Fundação nacional do índio. Disponível em:


http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/quem-sao

LUCIANO, Gersem dos Santos. O Índio Brasileiro: o que você


precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje.
Disponível em:
http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001545/154565por.pdf

PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo –


colônia. 16 ed. São Paulo : Brasiliense, 1979.

DA COSTA, Rosana Ruivo. Paraná – A ocupação do espaço e os


mecanismos de apropriação da terra como elementos deradores
de conflitos agrários. Disponível em:
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/produ
coes_pde/artigo_rosana_ruivo.pdf

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