Amor e Transitoriedade Na Poética Do Audaz Navegante: Análise Do Conto de Guimarães Rosa

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AMOR E TRANSITORIEDADE NA POÉTICA DO AUDAZ

NAVEGANTE: ANÁLISE DO CONTO DE GUIMARÃES ROSA

LOVE AND TRANSIENCE IN THE POETICS OF THE BOLD


NAVIGATOR: AN ANALYSIS OF GUIMARÃES ROSA'S SHORT
STORY

AMOR Y TRANSITORIEDAD EN LA POÉTICA DEL AUDAZ


NAVEGANTE: ANÁLISIS DEL CUENTO DE GUIMARÃES ROSA

DOI: 10.36238/2359-5787.2024.V10N53.263
Submitted on: 08.26.2024| Accepted on: 08.27.2024| Published on: 09.04.2024

Luciana Carvalho dos Reis Fim1

RESUMO
O estudo em questão realiza uma análise detalhada do conto "A partida do audaz
navegante", de Guimarães Rosa, explorando a tradição oral como eixo central para
entender a construção narrativa e a interação entre os diferentes níveis de discurso
presentes na obra. A pesquisa foi motivada pela necessidade de aprofundar o
entendimento sobre como Guimarães Rosa utiliza a tradição oral para construir uma
narrativa rica em significados, que transcende o tempo e o espaço, estabelecendo uma
conexão profunda entre o narrador, a personagem Brejeirinha e os leitores. O principal
objetivo da pesquisa é demonstrar como o autor e a personagem Brejeirinha, ambos
narradores da história, utilizam o entre-lugar — um espaço híbrido entre a ficção e a
realidade — para desenvolver uma narrativa que reflete um elo de amor, manifestado
tanto no enredo quanto nas interações entre os personagens. Nesse sentido, o conto não
apenas apresenta uma trama envolvente, mas também revela uma metanarrativa que
expõe as camadas de interpretação possíveis através da tradição oral, onde a realidade é
constantemente reinterpretada pelos personagens. A metodologia adotada para alcançar
esses objetivos incluiu uma análise literária minuciosa do texto, com enfoque na
desconstrução dos elementos narrativos e nas interações entre as personagens principais:
Brejeirinha, Ciganinha e Zito. Essa abordagem permitiu uma compreensão mais ampla
de como os personagens se entrelaçam para compor "a pontinha da realidade", um
conceito que indica a linha tênue entre o real e o imaginário no universo rosiano. Os
resultados da pesquisa evidenciam a complexidade do entre-lugar na obra de Guimarães
Rosa, onde a tradição oral não apenas narra eventos, mas também cria e recria sentidos,
reforçando o vínculo emocional entre as histórias e seus narradores. A conclusão do
estudo reafirma a importância da tradição oral como um recurso literário fundamental
para a construção de narrativas que ecoam a profundidade das experiências humanas.

Palavras-chave: Guimarães Rosa; Tradição Oral; Entre-Lugar; Narrativa; Literatura


Brasileira.

1
Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: [email protected]

Revista Acadêmica Online, Brazil, v.10, n.53, p. 01-16, 2024. 1


ABSTRACT
This study conducts a detailed analysis of the short story "The Departure of the Daring
Navigator" by Guimarães Rosa, focusing on oral tradition as the central axis to understand
the narrative construction and the interaction between different levels of discourse in the
work. The research was motivated by the need to deepen the understanding of how
Guimarães Rosa employs oral tradition to craft a narrative rich in meaning, transcending
time and space, and establishing a profound connection between the narrator, the
character Brejeirinha, and the readers. The main objective of the research is to
demonstrate how the author and the character Brejeirinha, both narrators of the story, use
the in-between space—a hybrid space between fiction and reality—to develop a narrative
that reflects a bond of love, manifested both in the plot and in the interactions between
the characters. In this sense, the story not only presents an engaging plot but also reveals
a metanarrative that exposes layers of interpretation through oral tradition, where reality
is constantly reinterpreted by the characters. The methodology adopted to achieve these
objectives included a thorough literary analysis of the text, focusing on deconstructing
the narrative elements and the interactions between the main characters: Brejeirinha,
Ciganinha and Zito. This approach allowed for a broader understanding of how the
characters intertwine to compose "a hint of reality," a concept that signifies the thin line
between the real and the imaginary in Rosa's universe. The results of the research
highlight the complexity of the in-between space in Guimarães Rosa's work, where oral
tradition not only narrates events but also creates and recreates meanings, reinforcing the
emotional bond between the stories and their narrators. The conclusion of the study
reaffirms the importance of oral tradition as a fundamental literary resource for
constructing narratives that echo the depth of human experiences.

Keywords: Guimarães Rosa; Oral Tradition; In-between Space; Narrative; Brazilian


Literature.

RESUMEN
El estudio realiza un análisis detallado del cuento "La partida del audaz navegante" de
Guimarães Rosa, con un enfoque en la tradición oral como eje central para comprender
la construcción narrativa y la interacción entre los diferentes niveles de discurso presentes
en la obra. La investigación busca profundizar en cómo Guimarães Rosa utiliza la
tradición oral para construir una narrativa rica en significados que trasciende el tiempo y
el espacio, estableciendo una conexión profunda entre el narrador, la personaje
Brejeirinha y los lectores. El principal objetivo es demostrar cómo el autor y la personaje
Brejeirinha, ambos narradores de la historia, utilizan el entre-lugar —un espacio híbrido
entre la ficción y la realidad— para desarrollar una narrativa que refleja un lazo de amor,
manifestado tanto en la trama como en las interacciones entre los personajes. El cuento
no solo presenta una trama envolvente, sino que también revela una metanarrativa que
expone las capas de interpretación posibles a través de la tradición oral, donde la realidad
es constantemente reinterpretada por los personajes. La metodología adoptada incluyó un
análisis literario minucioso del texto, con énfasis en la desconstrucción de los elementos
narrativos y en las interacciones entre los personajes principales: Brejeirinha, Ciganinha
y Zito. Este enfoque permitió una comprensión más amplia de cómo los personajes se
entrelazan para componer "la puntita de la realidad", un concepto que indica la delgada
línea entre lo real y lo imaginario en el universo rosiano. Los resultados evidencian la

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complejidad del entre-lugar en la obra de Guimarães Rosa, donde la tradición oral no solo
narra eventos, sino que también crea y recrea sentidos, reforzando el vínculo emocional
entre las historias y sus narradores. La conclusión del estudio reafirma la importancia de
la tradición oral como un recurso literario fundamental para la construcción de narrativas
que resuenan con la profundidad de las experiencias humanas.

Palabras clave: Guimarães Rosa; Tradición Oral; Entre-Lugar; Narrativa; Literatura


Brasileña.

1 INTRODUÇÃO

A obra de João Guimarães Rosa, um dos mais renomados escritores da literatura


brasileira, é marcada pela profundidade de suas narrativas e pela riqueza linguística e
simbólica de seus textos. Entre seus contos, "A Partida do Audaz Viajante" destaca-se
como uma narrativa que explora temas universais, como o amor, a transitoriedade da vida
e a busca por um sentido existencial. Neste conto, Rosa tece uma trama complexa que
envolve a jornada de um personagem em um mundo marcado pela incerteza e pela
inevitabilidade das mudanças.
O objetivo desta pesquisa é realizar uma análise aprofundada de "A Partida do
Audaz Viajante", com foco na construção poética do conto e na maneira como Guimarães
Rosa articula as temáticas do amor e da transitoriedade. A pesquisa busca desvelar as
nuances simbólicas presentes no texto, compreendendo como o autor utiliza a linguagem
para expressar as inquietações e reflexões filosóficas que permeiam a narrativa.
A justificativa para este estudo reside na importância de explorar e interpretar a
obra de Guimarães Rosa à luz de sua complexidade literária e filosófica. "A Partida do
Audaz Viajante" é um exemplo paradigmático do estilo de Rosa, onde o uso inovador da
linguagem e a profundidade das temáticas abordadas oferecem vasto material para estudo.
Teoricamente, esta pesquisa se insere no campo dos estudos literários que
investigam a intersecção entre linguagem, simbolismo e filosofia na obra de Rosa. O
conto em questão proporciona uma rica oportunidade para examinar como o autor
manipula a linguagem de maneira inovadora, transformando-a em um instrumento de
exploração das questões existenciais. A análise simbólica dos elementos presentes no

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conto permitirá uma compreensão mais profunda dos temas de amor e transitoriedade,
revelando as múltiplas camadas de significado que Rosa tece em sua narrativa.
Praticamente, a pesquisa contribui para o entendimento e o ensino da literatura
brasileira ao oferecer uma interpretação detalhada e contextualizada de um dos contos
mais complexos de Guimarães Rosa. Essa análise pode servir de base para enriquecer a
abordagem didática de sua obra, proporcionando aos estudantes e leitores uma apreciação
mais completa das nuances literárias e filosóficas que caracterizam o trabalho do autor.
Além disso, ao destacar a relevância dos temas abordados no conto, a pesquisa promove
uma reflexão mais ampla sobre as questões humanas universais, contribuindo para o
debate literário e cultural contemporâneo.

2 AMOR E TRANSITORIEDADE NA POÉTICA DO AUDAZ NAVEGANTE:


ANÁLISE DO CONTO DE GUIMARÃES ROSA

“Quem, ainda que envolvido e não


desnavegado em margem, não tomou na
boca toda dos sentidos, ainda que em
silêncio oculto, o sabor da margem?”
Homi K. Bhabha

O conceito de entre-lugar, termo nomeado por Silviano Santiago nos anos 1970
em seu ensaio o entre-lugar do discurso latino-americano, reconfigura as fronteiras
difusas entre centro e periferia, cópia e simulacro, autoria e processo de textualização,
literatura e uma variada multiplicidade cultural que circunda o pós-moderno e ultrapassa
os limites, fazendo do mundo uma teia de entre-lugares. É nesse ambiente, neutro,
clandestino, que sublinha o ritual antropófago da literatura latino-americano, no qual ela
se realizaria entre o sacrifício e o jogo, entre a prisão e a transgressão, entre a submissão
ao código e a agressão, entre a obediência e a rebelião, entre a assimilação e a expressão
e entre a fabulação e a realidade por meio da linguagem.
Guimarães Rosa, em 1962, ao publicar o conto A partida do audaz navegante, traz
ao leitor uma narrativa infantil, pautada na fabulação de crianças e no mergulho
reatualizado do conto de fadas. Ao tecer a estória, Rosa, cria um espaço intermediário que
tange para o fechamento que convém ao conto como ponto de convergência. Temos então,

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dois narradores Rosa e a personagem Brejeirinha como demonstra o ponto de
convergência a seguir:

Mas Brejeirinha punha a mão em rosto, agora ela mesma empolgada, não
detendo em si o jacto de contar: ─ “O Aldaz Navegante, que foi descobrir os
outros lugares valetudinários. Ele foi num navio, também, falcatruas. Foi de
sozinho. Os lugares eram longe, e o mar. O Aldaz Navegante estava com
saudade, antes, da mãe dele, dos irmãos, do pai. Ele não chorava. Ele precisava
respectivo de ir. (Rosa, 2001, p. 470).

Aqui, o entre-lugar surge num elo de uma história de amor entre a narrativa de
Brejeirinha e a narrativa do conto, narrada por Rosa. A narrativa de Brejeirinha é uma
história de amor. A audaz navegante parte com sua amada. Além de Brejeirinha, duas
irmãs e o primo são personagens do conto. Suas irmãs Pele e Ciganinha e o primo Zito
não participam da narrativa de Brejeirinha. Mas Brejeirinha arquiteta sua narrativa a partir
da relação entre sua irmã Ciganinha e Zito, o conto ínsita o leitor entender que se trata de
uma personagem mais madura em relação às outras duas irmãs (Pele e Brejeirinha) e Zito,
uma espécie de alter ego de Guimarães Rosa, cabe lembrar que esse era o apelido de
infância do autor. Ao apresentar as personagens, Rosa, revela a memória que se
ficcionalizou dentro de um contexto poético, aqui podemos notar a ausência de nomes,
existem apenas apelidos.

Mamãe, a mais bela, a melhor. Seus pés podiam calçar as chinelas de Pele.
Seus cabelos davam o louro silencioso. Suas meninas-dos-olhos brincavam
com bonecas. Ciganinha, Pele e Brejeirinha ─ elas brotavam num galho. Só o
Zito, este, era de fora; só primo. (Rosa, 2001, p. 469).

A fantasia de Brejeirinha irrompe a partir da narrativa do conto que aponta a


relação entre Ciganinha e Zito. Ambos se amando e sem audácia para seguir em frente.
Com a narrativa de Brejeirinha, percebe-se que para o amor tem que ser audaz, é preciso
audácia para seguir e concretizar o amor. O primo tem que ser mais audaz para aprofundar
o amor com Ciganinha. A fantasia possui um vínculo pré-estabelecido com a realidade.
Ela não é um sinônimo para disparate, pois, a fantasia é partícipe de um pensamento. Ao
fantasiar abre-se o pensamento para o descoberto, o que pode ser mostrado. Com a
fantasia de Brejeirinha, em sua narrativa, vê-se o descobrimento do amor. E da força do
amor que une e felicita a vida, é o que vem confirmar a personagem Brejeirinha:

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─ “O Aldaz Navegante não gostava de mar! Ele tinha assim mesmo de partir?
Ele amava uma moça, magra. Mas o mar veio, em vento, e levou o navio dele,
com ele dentro, escrutínio. O Aldaz Navegante não podia nada, só o mar,
danado de ao redor, preliminar. O Aldaz Navegante se lembrava muito da
moça. O amor é original...” (Rosa, 2001, p. 472).

A recente publicação sem fraude nem favor, do psicanalista e professor da UERJ,


Jurandir Freire Costa2, apresenta leitura contestatória de três afirmações, praticamente
consensuais, que sustentam as crenças dominantes, relativas ao amor romântico:

1)o amor é um sentimento universal e natural, presente em todas as épocas e


culturas; 2) o amor é um sentimento surdo à “voz da razão” e incontrolável
pela força de vontade e 3) o amor é a condição sine qua non da máxima
felicidade a que podemos aspirar.3

A presença do amor em todas as culturas confirma sua gratuidade e fundamenta a


crença na universalidade e naturalidade do amor. Aprende-se, por conta disso, a “valorizar
o amor com um bem desejável”4 ao mesmo tempo que se confia em sua universalidade e
naturalidade.
No entendimento do psicanalista, dizer que o amor é universal revela
reconhecimento de semelhanças e identidades entre experiências amorosas do passado e
do presente, sempre ensinadas e retransmitidas. Quando se aprende a história dos grandes
pares amorosos da humanidade, está-se, de fato, aprendendo a reconhecer o amor que
devemos experimentar deverá ser, também, “algo grandiosos, mágico, que atravessa o
tempo e o espaço com a força de um bem extra-humano e extramundano.”5
A narrativa de Brejeirinha funciona como um para texto da narrativa do conto. Há
a coordenação de pensamento entre o narrador do conto Partida do audaz navegante e a
narradora Brejeirinha. A fantasia de Brejeirinha é alocada por uma situação real e
conectada a uma realidade. Impelida pela linguagem, irrompe na narrativa sua fantasia. É
o que vem confirmar Ramos:

Restam hoje algumas pistas desta origem ou, para dizer de outro modo, alguns
sinais fora da linguagem. Parece uma experiência cotidiana, ainda acessível a
todos, estranhar subitamente o som de determinada palavra como demasiado

2
COSTA, J.F.op.cit., p. 13.
3
Idem, ibiem
4
Id., ib.
5
Id., ib.

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abstrato ou inverossímil em relação àquilo que designa, e o velho jogo infantil
de repetir indefinidamente um mesmo vocábulo até que perca qualquer ligação
com aquilo que procura indicar talvez queira nos conduzir, apenas, de volta a
uma época em que cada coisa tinha seu peso sinestésico, e tanto a cor como o
sabor como a imagem eram o índice livre para aquele pássaro flechado.
(Ramos, 2010, p. 23).

A história de amor faz-se presente através da linguagem na narrativa que


desabrocha. O aldaz navegante para Brejeirinha e o audaz navegante para Pele, que
para nós leitores se mostra como crítica a linguagem utilizada por Brejeirinha. “Pele
levantou a colher: ─ “Você é uma analfabetinha “Alda” (Rosa, 2001, p. 471). O
simulacro poético (audaz//aldaz) é realidade e não ficcionalidade. Brejeirinha utiliza-se
de uma nova linguagem para extravasar e se comunicar nos apresenta as vogais doçuras
(a, e, o) e vogais ácidas (i, u), é o que vem comprovar o recorte:

Mamãe ia visitar a doente, a mulher do colono Zé Pavio. ─ “Ah, e você vai


conosco ou sem-nosco?” ─ Brejeirinha perguntava. Mamãe, por não rir nem
se dar de alheada, desferia chufas meigas: ─ “Que nossa vergonha!...” ─ e a
dela era uma voz de vogais doçuras. (Rosa, 2001, p. 471).

Para a narrativa, a fantasia faz-se necessária porque abre a fenda para o


extraordinário, lembrando a morfologia do conto maravilhoso. Aquilo que não pode ser
visto por olhos imediatos e simplificadores. Do ponto de vista real, uma porção de
estrume é somente fezes bovinas. Já para a fantasia, se há utilidade e um viés de
pensamento, logo se pode adquirir valor qualquer objeto ou forma. Assim, o Aldaz
Navegante é presentificado através da forma de esterco bovino para uma forma humana,
segundo Brejeirinha.

─ “Nã-ão. Não vale! Não pode inventar personagem novo, no fim da estória,
fu! E ─ olha o seu “aldaz Navegante”, ali. É aquele...” olhou-se. Era: aquele ─
a coisa vacum, atamanhada, embatumada, semi-ressequida, obra pastoril no
chão de limugem, e às pontas dos capins ─ chato, deixado. Sobre sua
eminência, crescera um cogumelo de haste fina e flexuosa, muito longa: o
chapeuzinho branco, lá em cima, petulante se bamboleava. O embate e orla da
água, enchente, já o atingiam, quase.Brejeirinha fez careta. Mas, nisso, o
ramilhete de Pele se desmanchou, caindo no chão umas flores. ─ “Ah! Pois é,
é mesmo!” ─ e Brejeirinha saltava e agia, rápida no valer-se das ocasiões.
Apanhara aquelas florinhas amarelas ─ josés-moleques, douradinhas e
margaridinhas ─ e veio espetá-las no concrôo do objeto. ─ “Hoje não tem
nenhuma flor azul?” ─ ainda indagou. A risada foi de todos, Ciganinha e Zito
bateram palmas. ─ “Pronto. É o Aldaz Navegante...” ─ e Brejeirinha crivava-

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o de mais coisas ─ folhas de bambu, raminhos, gravetos. Já aquela matéria, o
“bovino”, se transformava. (Rosa, 2001, p. 471).

Quando a fantasia opera há a possibilidade de novos parâmetros com novos


sentidos. Dessa maneira, o sentido novo indica um novo valor, longe da trivialidade.
Assim, os objetos ganham nova roupagem, tal como, as palavras que adquirem um novo
sentido. Se a viagem do Aldaz Navegante é permeada pela ternura na narrativa de
Brejeirinha, já que é uma viagem cerceada de acordo com um plano sentimental, por outro
lado, pelo fato corriqueiro da realidade, o Aldaz Navegante nada mais é que uma forma
de estrume levado pelas águas da chuva. Para a fantasia, o novo sentido doa maior
renovação na narrativa.
Tanto os mitos como as estórias de fadas respondem a questões eternas: O que é
realmente o mundo? Como viver minha vida nele? Como posso realmente ser eu mesmo?
As respostas dadas pelos mitos são taxativas, enquanto o conto de fadas é sugestivo. Esses
contos deixam à fantasia da criança o modo de aplicar a ela mesma o que a estória revela
sobre a vida e a natureza humana. Brejeirinha convida os outros a narrar:

Ciganinha e Zito sorriram. Riram juntos. ─ “Nossa! O assunto ainda não


parou?” ─ era Pele voltada, numa porção de flores se escudando. Brejeirinha
careteou um “ah!” e quis que continuou: ─ “...Envém a tripulação...Então, não.
Depois, choveu, choveu. O mar se encheu, o esquema, amestrador... O Aldaz
Navegante não tinha caminho para correr e fugir, perante, e o navio
espedaçado. O navio parambolava... Ele, com o medo, intacto, quase nem tinha
tempo de tornar a pensar demais na moça que amava, circunspectos. Ele só a
prevaricar... O amor é singular...” (Rosa, 2001, p. 472).

A narrativa procede de maneira consoante ao caminho pelo qual uma criança


pensa e experimenta o mundo; por esta razão são tão convincentes para a criança, que
pode obter um consolo muito maior de um conto de fadas do que de um esforço para
consolá-la baseado em raciocínio e pontos de vista adultos. Uma criança confia no que o
conto de fada diz por que a vida de mundo aí apresentada está de acordo com a sua. É o
que vem atestar Rosa:

Segredando-se, Ciganinha e Zito se consideram, nas pontinhas da realidade. ─


“Hoje está tão bonito, não é? Tudo, todos, tão bem, a gente alegre... Eu gosto
deste tempo...” E: ─ “Eu também, Zito. Você vai voltar sempre aqui, muitas
vezes?” E: ─ “Se Deus quiser, eu venho...” E: ─ “Zito, você era capaz de fazer
como o Audaz Navegante? Ir descobrir os outros lugares? E: ─ “Ele foi, porque

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os outros lugares ainda são mais bonitos, quem sabe?...” Eles se disseram,
assim eles dois, coisas grandes em palavras pequenas, ti a mim, me a ti, e tanto.
Contudo, e felizes, alguma outra coisa se agitava neles, confusa ─ assim rosa-
amor-espinhos-saudade. (Rosa, 2001, p. 474).

Qualquer que seja nossa idade, apenas uma estória que esteja conforme aos
princípios subjacentes a nossos processos de pensamento nos convence. Se for assim com
os adultos, que aprenderam a aceitar que há mais de um esquema de referências para
compreender o mundo – embora achemos difícil senão impossível pensar
verdadeiramente segundo outro que não o nosso - é exclusivamente verdadeiro para a
criança. Seu pensamento é animista. Como todas as pessoas pré-alfabetizadas e várias
instruídas, a criança assume que suas relações com o mundo inanimado formam um só
padrão com as do mundo animado das pessoas: ela acaricia como faria com sua mãe, as
coisas bonitinhas que lhe agradam; ela golpeia a porta que bateu nela. Deveríamos
acrescentar que ela age da primeira forma porque está convencida de que essa coisa bonita
gosta de ser acariciada tanto quanto ela; e castiga a porta porque está certa de que a porta
bateu por intenção malvada. Por mais que os adultos lhe dizem que as coisas não podem
sentir e agir; ela finge acreditar nisto para agradar a esses adultos, ou para não ser
ridicularizada. Sujeita aos ensinamentos racionais dos outros, a criança apenas enterra seu
"conhecimento verdadeiro", mas no fundo de sua alma ele permanece intocado pela
racionalidade; no entanto, pode ser formado e informado pelo que os contos de fadas têm
a dizer.
Para a criança não existe uma linha clara separando os objetos das coisas vivas; e
o que quer que tenha vida tem vida muito parecida com a nossa. Se não entendemos o
que as rochas, árvores e animais têm a nos dizer, a razão é que não estamos
suficientemente afinados com eles. Para a criança que tenta entender o mundo parece
razoável esperar respostas daqueles objetos que despertam sua curiosidade. E como a
criança é egocêntrica, espera que o animal fale sobre as coisas que são realmente
significativas para ela, como fazem os animais nos contos de fadas, e da maneira como a
própria criança fala com seus pertences ou animais de brinquedo. Uma criança está
convencida de que o animal entende e sente como ela, mesmo que não o mostre
abertamente.

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É na forma poética da linguagem que a linguagem revela seu abismo e seu centro,
sua essência, que não é ocultar ou desvelar um sentido escondido. Ela nasce não como
positividade de um sentido, mas como negatividade, ausência de sentido. A linguagem
não representa as coisas. A linguagem se dobra sobre si mesma. A verdade de uma
linguagem está na sua permanente proliferação. A esse respeito encontro em Ramos a
seguinte reflexão:

Mas talvez não importe tanto fabular sobre a origem da linguagem quanto
compreender a enorme cisão que ela causou. Pois uma vez amarrada está corda
entre todos, uma vez expulsos ou mortos aqueles não quiseram valer-se dela,
não há mais estranhas das ferramentas, da mais exótica das invenções (a
linguagem), parecer tão natural e verdadeira quanto uma rocha, um cajado ou
uma cusparada. Este é seu verdadeiro fundamento, sua, digamos, astúcia- a de
substituir-se ao real como um vírus à célula sadia. Há aí uma potência de
esquecimento que não pode ser diluída, uma armadilha na agonia que serviu a
alguns (e não a todos), sacrificando violentamente àqueles que não a
utilizaram. (Ramos, 2010, p. 22-23).

A criança fabula, Brejeirinha convida as outras personagens a participarem da


estória, que possui três planos narrativos: realidade ouvida (cotidiano), realidade do
passeio e a fabulação que Brejeirinha criou. É ficção em cima de ficção, o homem do
farol, “Aí? Então... então... Vou fazer explicação! Pronto. Então, ele acendeu a luz do
mar. E pronto. Ele estava combinado com o homem do farol... Pronto. E...” a partida do
barco do audaz, como concretização da metáfora: “E agora”. Os olhos de Brejeirinha,
“bilo-bilo”.

─ “Então, pronto. Vou tornar a começar. O Aldaz Navegante, ele amava a


moça, recomeçado. Pronto. Ele, de repente, se envergonhou de ter medo, deu
um valor, desassustado. Deu um pulo onipotente... Agarrou, de longe, a moça,
em seus abraços... Então, pronto. O mar foi que se aparvalhou-se. Arres! O
Aldaz navegante, pronto. Agora, acabou-se, mesmo: eu escrevi ─” Fim”!”
(Rosa, 2001, p. 473).

A obra literária moderna questiona os limites da obra. A grande transformação da


arte moderna, para Blanchot, é que ela tende para a obra, e não para o artista. A obra é
um exercício, “busca obscura, difícil e atormentada. Experiência essencialmente
arriscada, na qual a arte, a obra, a verdade e a essência da linguagem são postas em causa
e entram no espaço do risco.” (Blanchot, 1984, p. 207).

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Só a afirmação que existe na obra importa, e ela só é importante por conduzir à
busca da obra. A experiência artística, literária moderna é transgressora, subversiva,
contestadora, mas não a história ou a cultura. Obra da ausência de obra, ela duvida de si
mesma, fala de sua própria ausência de seu desmoronamento:

(...) a essência da literatura é escapar a toda determinação essencial, a toda a


afirmação que a estabilize ou realize... o que cada livro persegue como se fosse
a essência do que ama e desejaria apaixonadamente descobrir, é a não-
literatura. (Blanchot, 1984, p. 210-211).

A escritura como experiência, Blanchot e Rosa nos mostram a linguagem falada


por Brejeirinha como um elo de amor, Ciganinha e Zito saem da ficção e passam a integrar
a realidade, permanecendo a poesia e a construção imaginística.

“─Agora, eu sei. o Aldaz Navegante não foi sozinho; pronto! Mas ele
embarcou com a moça que ele amavam-se, entraram no navio, estricto. E
pronto. O mar foi indo com eles, estético. Eles iam sem sozinhos, no navio,
que ficando cada vez mais bonito, mais bonito, o navio... pronto: e virou
vagalumes...” (Rosa, 2001, p. 474).

É a experiência da atração da origem: o desobrar, e a impossibilidade de “olhar”


a origem: o obrar. Rosa traz a experiência do fora, de aproximação com o neutro, um
espaço neutro. A literatura é a linguagem do neutro, do entre- lugar, onde a tensão dos
contrários se mantém como paradoxo, não se dilui. Aberta a vertente para a construção
imaginística, se percebe que o amor tocou a escrita literária e derramou sua porção mágica
sobre a palavra dos mais variados sistemas culturais, ocupando-se definitivamente a cena
poética de todos os tempos, atemporalidade, apesar de se apresentar com variações
específicas em cada gênero literário, cada época e lugar.
Dificilmente define-se um sentido real para o amor. Sabe-se, entretanto, de sua
natureza secreta e avassaladora para os que verificam e bebem do filtro mágico que os
torna inconscientes e em permanente estado de delírio. Essa mesma natureza intervém
sobremaneira naqueles que pretendem descrevê-la e que, para isso, se valem da
linguagem dos símbolos, tão enganadora e envolta em brumas como a experiência da
paixão.
O mesmo impulso do espírito que alimenta a paixão faz nascer à linguagem. A
verdadeira paixão tende a narrar-se a si mesma, seja para se explicar, seja para se exaltar.

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De modo que se responsabiliza pela criação de certa retórica que viabiliza para uma nova
história, caminho para tomada de consciência.
A sensibilidade instaura uma instância reveladora. Quem lê pode sentir o mostrar
do amor se estiver aberto e receptivo para tal, assim como aquele que ama e é amado deve
estar na abertura para receber e dar amor. Por muitas vezes, o amor é considerado como
uma via única, já Guimarães Rosa nos mostra que o amor é uma via dupla incessante e
contínua. O amor existe em doação e recepção. Não há amor perdido e nem achado,
apesar da procura e do ganho. O amor é luminosidade, porque ilumina a via que é a vida.
Viver e amar são sinônimos à medida que é um diálogo incessante e permanente. Assim
como o Aldaz Navegante sentiu a falta da amada, a amada sentiu falta do amado, segundo
a fabulação de Brejerinha, os enamorados encontravam-se nas duas pontinhas da saudade:

“― ‘A moça estava paralela, lá, longe, sozinha, ficada, inclusive, eles dois
estavam nas duas pontinhas da saudade... O amor, isto é... O Aldaz Navegante,
o perigo era total, titular... não tinha salvação... O Aldaz... O Aldaz...’” (Rosa,
2001, p. 473).

O amor requer união. Brejeirinha fez sua narrativa e o amor possível. Sem ter
amado, a personagem compreende o amor. Como desfecho da narrativa do Aldaz
Navegante de Brejeirinha, unem-se os elementos amantes e amados em união
harmoniosa. Pois o Aldaz Navegante e sua amada partem, enfim, juntos. A união
harmoniosa prevalece onde o amor cativa. Assim, a luminosidade do amor transforma os
amantes em vagalumes. um caminho que se desdobra em múltiplas direções, e que, ao
invés de oferecer respostas conclusivas, instaura perguntas e provocações. A obra literária
moderna, nesse sentido, não busca a completude, mas sim a abertura, o entre-lugar onde
coexistem a ficção e a realidade, a presença e a ausência, o dito e o não dito. O conceito
de entre-lugar, como formulado por Silviano Santiago, oferece uma chave de leitura para
entender como a literatura latino-americana, e especificamente a obra de Guimarães Rosa,
opera dentro desse espaço de ambiguidade e criação contínua.
Em "A Partida do Audaz Navegante", Guimarães Rosa utiliza a narrativa de
Brejeirinha para explorar as fronteiras entre o real e o imaginário, entre a linguagem
cotidiana e a linguagem poética, entre o sentido literal e as camadas simbólicas que se
desdobram a partir da fantasia infantil. A história contada por Brejeirinha não é apenas

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uma repetição da realidade, mas uma reconfiguração dela, onde os elementos do cotidiano
são transformados pelo poder da imaginação e da linguagem.
Brejeirinha, ao fabular sobre o Audaz Navegante, cria um espaço de resistência e
transgressão dentro da narrativa, onde o imaginário infantil desafia as convenções da
realidade adulta. A personagem não apenas narra uma história, mas também a recria,
subvertendo expectativas e explorando novas possibilidades de sentido. Esse processo de
criação e recriação é central para o conceito de entre-lugar, onde a literatura se situa num
ponto de intersecção, jamais fixo, mas sempre em movimento.
A própria linguagem utilizada por Brejeirinha, com suas vogais "doçuras" e
"ácidas", revela a capacidade da linguagem de transcender seus próprios limites, de
transformar o mundano em poético, de dar novos sentidos às palavras e aos objetos. A
transformação do "bovino" em Aldaz Navegante é um exemplo claro desse poder da
linguagem de reconfigurar a realidade, criando novas formas e significados a partir do
que é, à primeira vista, banal ou insignificante.
Nesse contexto, a obra de Guimarães Rosa pode ser vista como uma manifestação
do entre-lugar, onde a literatura se realiza não como uma representação fixa da realidade,
mas como um espaço de experimentação e jogo, onde o autor, a narrativa e o leitor são
convidados a participar de uma dança de sentidos sempre em transformação. A narrativa
de Brejeirinha, com sua mistura de realidade e fantasia, revela o poder da linguagem de
abrir fissuras no real, de criar novas formas de ver e entender o mundo.
A literatura, nesse sentido, não é apenas uma janela para o mundo, mas também
um espelho que reflete e distorce, que revela e oculta, que cria novos mundos dentro do
mundo. A obra literária moderna, portanto, não se contenta em reproduzir a realidade; ela
busca, através da linguagem, explorar as infinitas possibilidades de sentido que existem
entre as palavras, entre as coisas, entre os mundos que criamos e aqueles que imaginamos.
Através do conceito de entre-lugar, podemos entender a obra de Guimarães Rosa
não apenas como uma contribuição à literatura brasileira, mas como parte de um
movimento mais amplo na literatura latino-americana, onde a identidade, a cultura e a
linguagem são constantemente reimaginadas e renegociadas. O entre-lugar, assim, se
torna um espaço de encontro e desencontro, de criação e recriação, onde a literatura se
torna uma forma de resistência, um modo de existir no mundo de maneira múltipla e
fluida, sempre aberta ao novo, ao inesperado, ao que ainda está por vir.

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3 CONCLUSÃO

Os resultados desta pesquisa revelam como o conto "A Partida do Audaz


Navegante", de Guimarães Rosa, exemplifica o conceito de entre-lugar, conforme
proposto por Silviano Santiago, criando uma narrativa que transcende dicotomias
tradicionais e que incorpora elementos de fantasia e realidade de forma indissociável. A
análise do conto sob essa perspectiva não só enriquece a compreensão da obra de Rosa,
mas também contribui para o campo mais amplo da teoria literária, destacando a
relevância da literatura latino-americana como um espaço de resistência e reconfiguração
cultural.
A sociedade, ao compreender a complexidade dessas narrativas e a maneira como
elas desafiam as fronteiras tradicionais de pensamento, pode se beneficiar de uma visão
mais crítica e ampla das construções culturais e sociais que moldam nossas percepções
de realidade, identidade e amor. Essa compreensão pode, em última instância, promover
uma maior reflexão sobre os valores que norteiam nossas interações e sobre a
possibilidade de transformá-los através da linguagem e da arte.
Na academia, a pesquisa oferece uma leitura rica e multifacetada que pode servir
como base para novas investigações sobre a obra de Guimarães Rosa e sobre a literatura
latino-americana em geral. A aplicação do conceito de entre-lugar à obra de Rosa abre
novas possibilidades interpretativas, não apenas para o conto em questão, mas também
para outros textos que exploram as interseções entre o real e o imaginário. Além disso, o
estudo reafirma a importância de abordar a literatura através de um diálogo com teorias
contemporâneas, enriquecendo o campo dos estudos literários e fornecendo novas
perspectivas para a análise crítica.
Apesar das contribuições significativas, esta pesquisa possui algumas limitações.
A análise focou-se principalmente no conto "A Partida do Audaz Navegante" e na
aplicação do conceito de entre-lugar, deixando de explorar outras possíveis leituras e
interações com diferentes teorias literárias ou textos de Rosa. Além disso, o estudo se
concentrou na intersecção entre fantasia e realidade, sem aprofundar em outras dimensões
simbólicas ou culturais que possam estar presentes na obra.
Para trabalhos futuros, recomenda-se a ampliação do escopo da análise para
incluir outros contos de Guimarães Rosa, a fim de verificar se o conceito de entre-lugar

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pode ser aplicado de maneira consistente em sua obra como um todo. Além disso, seria
relevante explorar como outras teorias literárias, como o pós-colonialismo ou o
feminismo, poderiam dialogar com a narrativa de Rosa, enriquecendo ainda mais a
compreensão de sua produção literária. Trabalhos futuros também poderiam considerar a
comparação entre a obra de Rosa e a de outros autores latino-americanos, investigando
como o entre-lugar se manifesta em diferentes contextos culturais e literários.

AGRADECIMENTOS

A Deus, força maior e guia das veredas incertas, agradeço pelo sopro de vida e inspiração,
sempre presente em meus caminhos trilhados.
À minha família, em especial meu esposo Nielson, porto seguro e esteio, agradeço com o
coração transbordante de afeto. À minha mãe, Sonia, cuja sabedoria é como o rio que
corre manso e profundo, moldando as margens da minha existência. Ao meu pai, que em
seus silêncios e olhares me ensinou a ler o mundo com a alma. À minha irmã, Lucilene,
companheira de travessias, cujas risadas e lembranças me aquecem o peito. E ao meu
filho, Théo, radiante estrela-guia, que ilumina o meu viver e me dá forças para seguir em
frente.
À instituição FICS que me acolheu, verdadeiro sertão de saberes e trocas, expresso minha
gratidão sincera. Aqui, encontrei mestres que, como jagunços das letras, me mostraram
que a vida é feita de histórias e significados. Aos professores, que são faróis na escuridão
do desconhecido, e aos colegas de jornada, cuja amizade foi sol na aragem fria das
incertezas acadêmicas, deixo meu muito obrigada, profundo e sentido, pois a caminhada
se fez mais leve e rica com vossas presenças.

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história. Trad. Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.

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