3 Uma Perdicao de Devasso (Perdicao) - Lamara Oliv

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 452

Copyright © Lamara Oliveira

Todos os direitos reservados.


Criado no Brasil.

Capa: L.A Designer de Capas


Revisão: Barbara Pinheiro
Diagramação: Criativa TI
Livro: 1ª Edição.

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa
obra, através de quaisquer meios – tangíveis ou intangíveis – sem o
consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
Dedicatória
Notas da Autora
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a Autora
Dedicatória
Dedico este livro a você, leitor (a), que deseja viver a vida sem
julgamentos ou remorsos. Se permita, viva intensamente e com o coração.
A vida é sua e ninguém tem o direito de ditar as regras sobre ela. Nunca...
JAMAIS, deixe que tirem sua liberdade ou que te impeçam de voar!
Notas da Autora
Olá, leitor (a), tudo bem? Espero que sim!
Antes de embarcamos nessa história juntos (as), preciso passar
algumas informações muito importantes. Mas, antes quero te agradecer por
estar aqui e saiba que fico muito feliz e na torcida para que fique comigo até
o fim.
Para que você tenha um melhor entendimento e interação com a
história e os personagens, é aconselhável à leitura dos dois primeiros livros
da série, intitulados: Uma Perdição de CEO – Por Trás dos Seus Olhos e
Uma Perdição de Playboy – Por Trás dos Seus Medos.
O livro envolve todo o universo da “série perdição”, e com isso, a
leitura é recomendada para entender alguns pontos e situações vivenciadas
pelos personagens. Nada impede com que os livros sejam lidos em ordens
diferentes, porém se você não é muito fã de spoilers, terão alguns no
decorrer dessa história. Uma Perdição de Devasso – Por Trás dos Seus
Desejos, apesar de ser um clichê é uma história com personagens em
conflito com os próprios sentimentos, que erram e acertam, com defeitos e
qualidades, com algumas lições de vida e apesar de ser uma ficção, busco
sempre retratar situações que nos façam refletir e que nos toquem de
alguma forma.
Aviso de gatilhos: Linguagem imprópria, fobia social, relação
familiar abusiva, abandono parental e preconceito social, além de sexo
explícito. Caso não se sinta confortável com alguma situação citada,
por favor, não leia este livro.
Espero que curtam a leitura, e que Zac Stewart o “devasso de
sorriso fácil”, não só ganhe os seus corações, mas algumas passadas de
paninhos. Ah... E, que ele te faça chorar, só não digo por onde. <3
Sinopse
Zac Stewart é o diretor de RH da renomada Wilson Group
Corporation, uma das maiores e reconhecidas empresas do ramo
publicitário. É um profissional de excelência, respeitado por seus
colaboradores e desejado por muitas mulheres, afinal de contas, sua
reputação de devasso faz jus à sua carinha fingida de bom moço.
Considerado a perdição de muitas mulheres em Nova York, ele só não
imaginava que um anjo surgiria em seu caminho, deixando-o desesperado a
ponto de não desejar mais nenhuma outra mulher, a não ser o bendito anjo
que precisou da sua ajuda.
Claire Evergarden é secretária da presidência da mesma empresa
que o famoso e desejado diretor de RH, é tímida, dedicada e extremamente
responsável. Dona de um sorriso angelical, guarda em seu coração e
pensamentos desejos nunca explorados. Sua vida era pacata, até que um
tombo “digno de filme” no elevador da empresa faz com que o seu caminho
cruze com o devasso mais cobiçado da empresa, invadindo seus
pensamentos e sua vida sem permissão, aflorando ainda mais seus desejos
proibidos.

Ela o chama de pecado, ele a chama de anjo.


Ela é sua salvação, ele é sua perdição.
Ela quer distância, ele adora provocá-la.
Ela tem desejos reprimidos, ele quer desbravar cada um deles.
Ela diz que o odeia, ele diz que o ódio e o amor andam lado a lado.

Mas, o que ela poderia fazer se o pecado em forma de gente


entrasse em sua frente com um sorriso repleto de provocação e diversão,
convidando-a a viver as loucuras e desejos mais insanos que a vida poderia
proporcionar?
Ela quer ser livre, sem julgamentos e remorsos, e ele está disposto
a realizar tudo que ela desejar e vai mostrar que pecar pode ser um vício
delicioso.
Prólogo
Em toda minha vida, sempre me senti um peixe fora d’água. Nunca
me encaixei em nenhum grupo formado pela sociedade – parece exagero,
mas estou falando sério! Tentei na escola e no colégio e não deu certo,
muito menos na época da faculdade. Tudo que eu fazia era estudar, estudar
e… estudar. Sempre fui muito reservada e regrada para tudo. Talvez meu
comportamento seja reflexo da educação que eu recebi dos meus avós
maternos – os meus avós paternos faleceram antes mesmo de eu nascer e,
de acordo com meu pai, eram pessoas incríveis. Por mais que eu tivesse
meus pais comigo, eu cresci sendo educada pelos meus avós e, com isso, eu
os via como referência e exemplo a ser seguido.
Sabe aquela história de pais que trabalham demais, e quando
percebem, seus filhos já cresceram? Pois bem, esses eram meus pais. Eles
sempre fizeram de tudo para não deixar faltar nada para mim, porém existia
uma diferença entre dar algo a uma criança que logo entraria na fase da
adolescência, como bens materiais e se fazer presente no processo de
desenvolvimento dela. E era algo que eles se lamentavam, mas buscavam a
todo custo, mesmo que de forma tardia para determinadas questões e
situações, se fazerem presentes na minha fase adulta. E, tudo bem, eu não
conseguia ficar com raiva. Quem nunca errou?
Meu avô veio de uma família de militares e minha avó cresceu em
uma fazenda com uma família pacata e religiosa. Ambos sempre me
contavam suas histórias de criança e adolescência, e a maior semelhança
entre eles era a “disciplina”. Meu avô sempre me dizia a mesma frase
quando eu ia visitá-los: Quem caminha com a disciplina, disciplinado será
em tudo o que faz!
E assim eu vinha fazendo desde os meus treze anos de idade.
Aprendendo a ser disciplinada e focada com os trabalhos que me eram
dados na fazenda, até a minha vida adulta. Porém a sensação que eu tinha
era de que minha vida estava passando como um flash diante dos meus
olhos e eu não estava vivendo, muito menos a sentindo. Tinha que confessar
que eu não sabia de fato o que era “viver a vida”.
Encher a cara, chegar em casa com o dia amanhecendo ou até
mesmo acordar na casa de um desconhecido, depois de um sexo gostoso –
na verdade, era o tipo de assunto que eu preferia até pular. Por quê? Porque
sexo e Claire não podiam estar juntos em uma mesma frase, ok? A vontade
era rir e chorar, exatamente nessa ordem. Mas, voltando à minha vida
monótona e sem graça, com vinte e três anos de idade, sentia em mim… no
fundo do meu âmago, que eu não fiz nada de espetacular ou memorável,
além de trabalhar, estudar e ir à igreja aos domingos. Ah… a igreja! Sim, a
igreja foi a minha salvação. Dai glória e a vitória virá! Amém! – a reflexão
de toda semana, e que acalentava meu coração.
Retornei do almoço fazia uns quinze minutos e antes que eu
pudesse continuar perdida nas reflexões de todos os dias… a mulher adulta,
com os cabelos ruivos preso em um rabo de cavalo bem-feito, óculos de
grau grande demais para o rosto pequeno, vestindo um casaco de vovó e um
vestido uns dois números acima do seu, piscou para mim através do reflexo
do espelho e me trouxe de volta à realidade.
Algumas colegas de trabalho diziam que eu deveria valorizar mais
a minha beleza e o meu corpo, o que eu achava extremamente
desnecessário. Eu ia à empresa para trabalhar e não para me exibir, e
mesmo que eu tivesse essa intenção… que homem olharia para mim? Eu
era magra e tão pálida, que às vezes minhas olheiras mais pareciam um
buraco negro e minhas veias esverdeadas faziam contrataste em linhas finas
e grossas com a minha pele clara. E se tinha uma coisa que não mentia, era
o espelho. Esse sim mostrava com toda a verdade nua e crua, quem você
realmente era – e sorte dos dias em que ele não debochava de você. E o
reflexo que me encarava de volta, era quem eu realmente era. A Claire sem
graça e sem brilho no olhar e que, provavelmente, passaria a vida sem de
fato vivê-la e sem aproveitar os prazeres e a liberdade que ela oferecia.
Se eu dissesse que não amava a vida e tudo que ela me
proporcionava, eu seria um belo de um filho da puta mentiroso – e se tinha
uma coisa que eu odiava, era mentira. Não havia nada mais prazeroso do
que ter uma mulher totalmente rendida e entregue nos meus braços,
ouvindo seus gemidos e o quanto ela se sentia satisfeita por tudo que eu
poderia proporcionar. De um carinho a uma foda bem dada, eu fazia valer a
pena do momento em que ela se permitia passar uma noite comigo a hora
que ela partia.
Porém, já fazia alguns dias que eu vinha me sentindo meio
inquieto… como se faltasse algo, como se um vazio crescesse de forma
sorrateira e torturante dentro de mim. Meus amigos… James e Phillip
vinham me irritando, dizendo que estava na hora de largar minha vida
devassa e sossegar com alguém. Eu ria toda vez que conversávamos e
entravámos no assunto. Meses atrás, os dois estavam fazendo o mesmo que
eu, ou até pior… não, peraí! Eu sempre fui o pior, impossível me
ganharem. Enfim, pensar sobre isso e ver a felicidade dos dois com as duas
brasileiras mais loucas e lindas que já conheci, me fez refletir e pensar: será
que eu realmente precisava sossegar?
— Zac… — Voltei para a realidade e encarei a linda morena
ajoelhada entre as minhas pernas, acariciei seu rosto e sorri, vendo o desejo
gritando em seus olhos castanhos.
Se era de sossego que eu precisava, eu não fazia a menor ideia.
Mas, enquanto essa hora não chegava… a diversão continuava, com elas
gritando meu nome e pedindo por mais. E se tinha uma coisa que me dava
um prazer do caralho, era saber que nenhuma delas me esqueceria por dias,
pois cada parte do seu corpo lembraria que eu estive ali.
Capítulo 1
Por que comigo, Deus?

Continuei me olhando no espelho quando um grupo de mulheres


lindas e bem-vestidas entrou no banheiro fazendo um alvoroço. Lavei as
mãos e peguei um pedaço de papel para secá-las antes de sair. Odiava ficar
em locais onde tinham mais do que seis pessoas, me sentia incomodada e
abafada. Terminei de secar as mãos e quando pensei em jogar o papel
molhado fora, parei com o que ouvi da conversa delas.
— Estou morrendo de inveja de você, sua cachorra. Não acredito
que você sairá com ele — uma delas dizia, chocada. Não consegui ver
quem, até porque eu ainda estava de costas.
— Sinceramente, nem eu. — Me virei e vi uma morena alta
encostada na parede e beijando um cartão, parecia esses cartões de visita.
Pedi licença, passei por elas e antes de sair ouvi seu nome: — Zac Stewart
quer sair comigo.
— Sair não, querida! Zac não é o tipo de homem que te leva para
jantar e te dar flores no dia seguinte. Ele é o tipo que te conquista, come e
depois te manda embora.
A conversa, de alguma forma, se tornou estranha para mim, e eu
me senti uma intrusa no meio delas. Todas na Wilson Group Corporation
conheciam muito bem Zac Stewart, o famoso diretor do departamento de
RH. Ele era do tipo que hipnotizava as mulheres com seu sorriso fácil e sua
voz quente. Era como se ele tivesse o poder da sedução, em que, uma vez
envolvida em seu papo, não tinha para onde fugir. E de homens assim ou
qualquer outro, eu queria distância.
Olhei meu relógio e vi que faltavam dez minutos para o fim do
meu almoço, e eu não queria que meu chefe voltasse da sua reunião externa
e me visse fora da mesa. Apertei meu passo e de longe vi as portas do
elevador começarem a fechar. Corri como uma louca e joguei minha bolsa
para manter as portas abertas, e foi quando eu me embolei comigo mesma e
o desastre aconteceu. Consegui entrar, mas não do jeito certo e sim do jeito
mais desengonçado e constrangedor que existia. De encontro ao chão.
— Porra! — Imediatamente levei as mãos à boca e me repreendi
por ter falado um palavrão, e no mesmo instante ouvi uma risada. Uma
risada boa e gostosa.
Fechei os olhos e respirei fundo, buscando coragem para ver a
quem pertencia, e no momento em que meus olhos encontraram os dele,
senti meu corpo arrepiar. Zac Stewart estava me olhando com seu sorriso
fácil nos lábios bonitos, uma mão no bolso da calça e a outra estendida em
minha direção. Por que comigo, Deus?
Talvez eu tenha ficado mais tempo do que devia olhando para ele,
que só percebi quando ele disse com um tom de voz divertido:
— Eu posso ficar aqui o resto do dia, se você quiser, mas acho que
não vai querer estar nessa posição quando o elevador começar a encher.
Pigarreei, tentando não olhar seu sorriso e, sem muitas opções,
aceitei sua mão e levantei, querendo me esconder em algum lugar.
— Muito obrigada pela ajuda, Sr. Stewart!
— Não precisa agradecer, senhorita Evergarden! Eu tenho um
sexto sentido para mocinhas frágeis.
Abri e fechei a boca, tentando assimilar o que ele havia acabado de
me dizer – quem disse que eu era uma mocinha frágil? Quando pensei em
responder, o elevador parou no andar seguinte, e um número considerável
de pessoas começou a entrar, buscando espaço e fazendo com que cada um
fosse para um lado do elevador.
Sentia minha pele queimando por querer respondê-lo e não podia,
não com tanta gente em um espaço pequeno que começou a me deixar
agoniada. Olhei para cima, controlando a minha respiração e desejando
chegar ao meu destino o quanto antes, eu não era claustrofóbica nem nada
disso, só me sentia agoniada com muita gente ao meu redor. Próximo ao
andar do RH, minha curiosidade falou mais alto e tentei olhá-lo de rabo de
olho, e me surpreendi com ele me olhando, intrigado. Por qual motivo? Eu
não sabia nem queria saber.
Ouvimos o barulho do elevador avisando a próxima parada e antes
de ele sair, teve a coragem de me cutucar mais uma vez.
— Se precisar que alguém te socorra, este é o meu andar.
— Nem sonhando! — falei no impulso, e pigarreei, nervosa. —
Quero dizer… obrigada, Sr. Stewart.
— Sonhar faz bem, senhorita Evergarden — respondeu com uma
tranquilidade que trazia um charme na voz, o que me irritou.
Quando ele me deu as costas e saiu do elevador, eu falei:
— Peste!
Saiu mais alto do que eu gostaria, me surpreendendo e a ele, que
parou e me encarou, chocado e divertido. E antes de as portas se fecharem,
ele teve a audácia de piscar para mim e dizer:
— Anjo!
Assim que cheguei à minha mesa e guardei minha bolsa,
desbloqueei meu computador com ódio e acessei o sistema da empresa, e vi
a quantidade de e-mails, reuniões e muitas atividades administrativas da
presidência, senti uma vontade enorme de gritar. Respirei, levei as mãos ao
meu rosto e resmunguei:
— Isso é o fim dos tempos, Pai? Porque, se sim, a sua filha não
está pronta.
— Se a filha Dele está pronta ou não para o fim dos tempos, eu não
sei. Mas, que ela vai sair para comprar um vestido lindo para a festa da
empresa, ela vai.
Olhei para Sara que me observava com um enorme sorriso de
menina no rosto, e com um sorvete estendido em minha direção. Todos os
dias, ela trazia algo para mim quando voltava do almoço com seu namorado
que era CEO da empresa e meu chefe, James Wilson.
— Senhorita Bitten…
— Claire, o que já conversamos? — reclamou, fazendo biquinho.
— Ok… Sara! Mas, você sabe que preciso de tempo para me
acostumar a te tratar sem formalidades. — Aceitei o potinho.
— Eu sei! Agora prova esse sorvete e me diz o que acha.
Levei uma colherzinha à boca e arregalei os olhos com o sabor.
— Minha nossa… gostoso!
— Num é? Esse sorvete é de uma sorveteria nova que abriu aqui
perto. Como já te vi comendo morangos, achei que gostaria desse de frutas
vermelhas.
— Eu adorei… muito obrigada!
— A festa da empresa é semana que vem e não estou te vendo
animada como as outras pessoas.
Dei de ombros e resolvi ser sincera:
— Não sou muito fã de festas.
— O QUÊ? COMO ASSIM? — disse, chocada. — Isso vai cair
por terra a partir de agora e nós vamos mudar essa história.
Comecei a rir porque adorava a espontaneidade e o jeitinho
brasileiro de Sara.
— Não marque nada depois do almoço, na sexta. Vamos às
compras e você vai arrasar nessa festa — disse com convicção. — Agora,
preciso trabalhar, mas vamos nos falando. Você não me escapa, princesa
ruiva!
Balancei a cabeça rindo, e antes de se afastar, ela disse por cima
dos ombros:
— Lembra da minha amiga, Bela?
— Sim.
— Ela também irá.
Naquele momento, eu tive certeza de que, por mais que eu
quisesse, não tinha para onde fugir.
— Pai, o Senhor poderia me ajudar? Porque algo me diz que a
minha vida não será mais a mesma.
Capítulo 2
Festa da empresa

Na sexta, tentei fugir, sem sucesso. Dez minutos antes do meu


horário de almoço, duas brasileiras pulavam em frente à minha mesa, como
se sair para comprar um vestido comigo fosse o evento mais aguardado e
esperado do ano. E por mais que eu não estivesse tão empolgada quanto
Sara e Bela, era impossível não me sentir contagiada e animada com a
empolgação das duas.
— A gente consegue comprar esse vestido em meia hora? —
perguntei enquanto terminava de digitar um e-mail. Como não tive
respostas, levantei a cabeça, endireitei meus óculos e segurei o riso quando
as duas me olhavam de boca aberta.
— Quem compra um vestido de festa em meia hora, Claire? —
Bela foi a primeira a falar.
— Não dá? — perguntei com sinceridade.
— Claro que não! — Sara disse balançando a cabeça e logo em
seguida abriu um sorriso. — Por isso que eu pedi ao James a sua liberação
na parte da tarde.
Abri a boca, incrédula, e automaticamente balancei a cabeça
dizendo que “não”.
— Claire, para de drama! — Bela disse divertida e com carinho. —
Se a vaquinha aqui conseguiu a sua liberação com o poderoso chefão, por
que não?
— Não, gente! Por favor… não quero que as pessoas pensem que
estou me aproveitando ou me beneficiando e…
— Pra começar, ninguém tem que pensar nada… — Sara disse,
irritada. — Eu e Bela adoramos você e te queremos por perto e como nossa
amiga. — Sorriu e pegou a minha mão, apertando com carinho. — E só
para você saber, James não liberou por mim e sim por você. Ele me disse o
quanto você é inteligente, dedicada, focada e, principalmente, o quanto
você trabalha, e que desde que começou, nunca pediu para sair cedo ou
chegou atrasada. Ou seja, é uma liberação justa. Não acha?
Respirei fundo e concordei. Desde que eu comecei a trabalhar na
empresa, há um ano, sempre tentei ser uma funcionária disciplinada, assim
como tudo na minha vida. Talvez eu realmente merecesse.
— Tudo bem! Vocês venceram. — Ri com o gritinho das duas. —
Só preciso de mais alguns minutinhos pra ir embora com a cabeça tranquila.
— Certo! Vamos te esperar sentadas ali na recepção, mas não
demora porque a festa já é amanhã e precisamos achar um vestido
maravilhoso para você.
— Não vai passar de dez minutos. — Sara me olhou desconfiada.
— Dez minutos… eu juro! — Ri.
— Tá bem! Estamos ansiosas.

Depois de almoçarmos, fomos animadas para a Quinta Avenida.


Era engraçado, porque nunca me senti à vontade perto de pessoas como me
sentia perto das meninas. Sara e Bela, além de lindas, eram tão simples,
gentis, animadas e extremamente loucas. Do momento em que saímos da
empresa, elas não só me fizeram relaxar, mas ri como há muito tempo eu
não ria.
Entramos em uma loja que os vestidos eram um mais lindo que o
outro, e eu não consegui me imaginar vestindo nenhum deles. Eram
sensuais e elegantes, olhei os valores e sabia que poderia pagar. Afinal, eu
quase não saía ou gastava comigo, e com isso eu tinha uma quantia ótima
na conta, além da mesada exagerada que, mesmo depois de adulta, meus
avós gostavam de me dar, mesmo eu brigando com eles. Era uma ofensa
para o meu avô, um desrespeito como ele gostava de frisar. Até que cansei
de discutir.
— Gostou de algum, Claire? — Sara perguntou, eu respondi que
sim com a cabeça, um pouquinho sem jeito. — Por que esse sim tão
desanimado?
Ela trocou um olhar com Bela, e antes que elas pensassem que
pudesse ser por uma questão financeira, eu me adiantei em dizer:
— Não é isso, meninas! Os valores estão bons para mim. É que…
— Suspirei ajeitando meus óculos grandes demais para o meu rosto. — Os
vestidos são lindos, mas…
— Mas… — Bela me incentivou a continuar.
— Não sei se são vestidos pra mim, sabe?
Bela arregalou os olhos, pegou na minha mão e me arrastou até a
frente de um espelho e parou atrás de mim. E antes de ela começar a falar,
ouvi quando Sara disse:
— Adoro quando ela sacode a gente!
— Alguma vez você já se olhou no espelho?
— Todos os dias.
— Quero dizer, com carinho, amor, respeito, admiração… —
Apertou meus ombros de leve. — Já?
Passei as mãos pelos meus braços, um pouco envergonhada, e
balancei a cabeça em negativa.
— Então, vamos mudar essa história a partir de hoje… sabe por
quê?
Sara veio e me abraçou junto com Bela.
— Por quê?
— Porque você é linda por dentro e por fora, e eu posso te provar.
Olhe para o espelho e veja a mulher que grita para ser vista… para ser livre.
E se você quiser, podemos te ajudar a se encontrar dentro do seu estilo,
sabe? Essas roupas que você usa não são para você.
— O que a Bela quer dizer é que você é um ano mais nova que a
gente, e está usando roupas para pessoas muito mais velhas. — Sara me
olhou pelo espelho e continuou: — Você é linda, e me sinto até frustrada
por não ter um cabelo babado de lindo como o seu. Ruiva natural? Porra…
seria um sonho!
Acabei rindo junto com elas.
— Tá bem, eu quero tentar mudar e vou ficar feliz por ter a ajuda
de vocês.
— É assim que se fala, gata! — Bela me abraçou e Sara bateu
palminhas.
E mesmo com medo de mudanças, eu iria me arriscar. Não era
pecado querer estar bonita e me cuidar. Pelo menos, eu queria acreditar que
não, e não me lembro de ouvir algo assim na igreja.
Depois de experimentar alguns vestidos, coloquei um preto e, sem
me olhar no espelho, saí para as meninas verem. Quando as duas me
olharam, eu não soube dizer ao certo se o resultado era bom ou ruim. Sara
parou o donuts que ia comer no meio do caminho, de boca aberta, e Bela
deixou cair um vestido que ela olhava no chão. Fiquei um tempo esperando
uma resposta, até mesmo ansiosa, e quando eu ia perguntar se elas tinham
gostado ou não, as duas gritaram juntas:
— É ESSE!!!
Respirei, aliviada, porque já era o quinto vestido que eu
experimentava, os outros elas tinham reprovado, dizendo que faltava algo
para valorizar a minha beleza.
— Gostaram?
— Puta que pariu vinte vezes, Claire! Ainda bem que eu já fisguei
o Phillip, porque vou te contar… — Ri com as loucuras que Bela dizia de
forma natural. — Você está simplesmente maravilhosa!
— Vocês não acham que essa fenda na perna esquerda está grande
demais?
O vestido era todo preto com alças finas, onde o busto tinha um
formato de coração levemente decotado, modelando a minha cintura como
se fosse um corpete e a saia abria esvoaçante, trazendo um ar de menina
sexy.
— Grande onde? Está uma combinação perfeita — foi a vez de
Sara dizer, balançando o donuts de um lado para o outro. — Nada
exagerado para não te assustar nessa nova fase de mudanças, mas ao mesmo
tempo ficou sexy pra caralho, eu disse pra caralho… — A ênfase no
palavrão com a boca cheia e suja de açúcar, me deu vontade de rir. —
Valorizando a linda mulher que você é.
— Você está perfeita, Claire! — Bela disse com um sorriso de
aquecer o coração. — Agora vamos experimentar essas sandálias e clutch
prateada para ver o conjunto completo.
No final, eu saí da loja com o vestido e tudo que era preciso para
ficar perfeito e harmonioso com ele como a Bela disse, e pela primeira vez
na vida, eu me permiti relaxar e gastar um pouco comigo, como eu nunca
havia feito. Senti-me fazendo parte de um episódio de “Sexy In The City”,
para falar a verdade. Cheguei em casa exausta e com horário marcado para
fazer cabelo e maquiagem com as meninas no dia seguinte, e mesmo
achando um exagero… eu aceitei. Eu não fazia ideia de como me maquiar,
ou o que fazer no cabelo. Nos outros anos, lembro-me de ter vestido um
terninho e feito um coque, mas esse ano… seria diferente e, por algum
motivo, eu estava nervosa com o que poderia acontecer.

Fiquei olhando o reflexo que me encarava de volta pelo espelho, e


levei um tempo para aceitar que quem me encarava era eu mesma. Fiz o
cabelo, as unhas, depilação e a maquiagem junto com as meninas, e lá no
salão, mesmo vestindo uma calça jeans e um casaco, eu havia me sentido
diferente, mas nada se comparava com o que eu senti quando me vi pronta
com o vestido. Uma sensação de liberdade, prazer e descoberta. E mesmo
assustada, me agradava me ver daquela forma. Porém, sozinha, eu estava
segura de mim, e quando eu chegasse ao evento, como seria? Eu teria que ir
para saber, e antes que eu pensasse em desistir, peguei a clutch e saí às
pressas do meu apartamento.

Minhas pernas tremeram quando eu vi a movimentação em frente


ao enorme teatro, e funcionários conhecidos chegando. Levei um susto
quando um flash atingiu meu rosto, e como eu estava sem óculos e usando
lentes – algo raro de acontecer –, pisei em falso e antes que o pior
acontecesse, senti braços fortes me segurarem, ao mesmo tempo em que
uma risada, que não saiu da minha cabeça durante dias, invadiu meus
ouvidos causando o mesmo arrepio da última vez.
Ele abaixou para ficar da minha altura, me deixando tonta com seu
perfume almíscar e sedutor, disse no meu ouvido com divertimento e eu
poderia dizer até com ar de deboche:
— Geralmente, são os anjos que protegem, e não o contrário.
Cerrei os olhos e levantei a cabeça para dar uma boa de uma
resposta para o perturbado, e quando meus olhos encontraram os seus, eu
me odiei. Odiei-me porque me perdi no sorriso mais devasso que eu já vi na
minha vida. Zac Stewart não era de Deus, o olhar dele era repleto de
malícia, e tudo nele exalava pecado, te convidando a conhecer as coisas
mais erradas e obscenas que a vida tinha a oferecer. Mas, eu não me
importava e não tinha interesse, e quando uma chuva de flashes caiu sobre
nós, eu me afastei.
— Desde quando o pecado resolveu ser bondoso?
Ele meneou a cabeça de lado e mesmo com a quantidade de
pessoas nos olhando, levou o polegar e o dedo indicador ao lábio inferior,
me encarou e abriu um sorriso de canto de boca dizendo:
— Já fui chamado de muitas coisas, mas nunca de pecado.
Interessante! — E para me irritar ainda mais, se aproximou e parou a
centímetros do meu ouvido: — Será que o pecado consegue corromper um
anjo?
— No que depender de mim não e pare de me chamar assim.
— Então, você nunca experimentou o pecado certo.
Meu coração acelerou e meus olhos arregalaram, o sorriso dele
aumentou.
— Boa noite, senhor Stewart! — falei, louca para sair de perto
dele.
— Nos vemos lá dentro, senhorita Evergarden!
— Não conte com isso!
— Impossível!
Virei-me e fui em direção à entrada com muitos olhares sobre mim
e mantendo os passos firmes para não correr. Desde quando um descuido no
elevador passou a ser um teste e me irritar tanto? E por que Zac Stewart,
Pai? Se for um teste do inimigo, repreende e afasta de mim.
E como já era de se esperar, o teatro estava a coisa mais linda. Os
eventos da Wilson Group Corporation era um dos mais falados e
aguardados pelos colaboradores e clientes. Toda a estrutura era impecável.
Assim que entrei e peguei uma taça de espumante, recebi um abraço duplo
e sorri. Sara e Bela estavam lindas e radiantes por me verem. Bela assoviou
e Sara mordeu os lábios, segurando um gritinho.
— Puta que pariu! Quem é essa ruiva? — Bela disse, me fazendo
dar uma voltinha.
— MA-RA-VI-LHO-SA! — Sara disse um pouco alto, o que
chamou a atenção de algumas pessoas. Principalmente, de diretores que mal
olhavam para mim, exceto Ryan, o diretor de TI que, além de ser lindo e
sério, sempre me tratou muito bem. Confesso que até Zac, apesar de me
irritar nos últimos dias, também sempre me tratou muito bem. Não que os
demais me destratassem, mas para eles eu era só a menina de recados e
agora me olhavam como se eu fosse de outro mundo.
— É, gata… temos muitos olhares em cima de você. — Bela riu e
Sara também. — Idiota seria o cara que não te olhasse.
— Vem sentar com a gente! — Sara segurou em um braço e Bela
em outro.
— Não, meninas, eu…
— Não começa, Claire! — as meninas falaram em conjunto, e
quando dei por mim, já estava na mesma mesa que elas e sendo
cumprimentada pela família Wilson.
Um pouco antes de começar a apresentação, meu celular tocou e
quando eu vi o nome da minha mãe na tela, achei estranho, porque era raro
ela me ligar. Pedi licença e me levantei da mesa para atender, ouvindo o
pedido das meninas para que eu voltasse logo.
— Só um minuto! — atendi. E quando estava afastada o suficiente
das pessoas e em uma parte aberta que mais parecia um jardim, continuei:
— Oi, mãe!
— Onde você está?
— Na festa de final de ano da empresa. Tudo bem?
— Sim e não! Liguei porque já faz quinze dias que não nos
falamos. Quinze dias, Claire. Não é porque a maior parte da sua vida foi na
fazenda com seus avôs, que você não tem pais.
Respirei fundo antes de responder, porque ela não deixava de ter
razão, mas ainda assim, meu vínculo com meus avós, de alguma forma, era
mais forte.
— Mãe, me perdoa! Você sabe que não faço por mal. Minha rotina
de trabalho é uma loucura, e sempre que posso, busco fazer cursos para
aperfeiçoar meu conhecimento e quando eu vejo, o dia passou.
— Eu sei e te admiro por isso, mas viver e estar perto de quem se
ama deveria ganhar mais espaço na sua rotina, sei que eu e seu pai não
fomos pais perfeitos…
— Mãe, não começa… — Eu não queria estragar a noite que mal
havia começado para mim, com papos de arrependimentos do passado. —
Podemos falar disso em outro momento? Você me ligou justamente na hora
das apresentações do presidente e diretores da empresa, e por ser secretária
da presidência, fica muito feio para mim não estar presente.
— Perdoa, minha filha! Só liguei para dizer que em breve irei
visitar seus avós, e gostaria que você fosse também.
Fechei os olhos com força e prendi a respiração, contando até
cinco, eu odiava esses encontros. Todas as vezes, acabavam em brigas e
todos os podres familiares sendo jogados na mesa de jantar.
— Claro! Eu te ligo durante a semana e marcamos direitinho, tudo
bem?
— Você promete?
— Prometo! — fui sincera, por mais que eu não quisesse, eu
sempre ia e tentava amenizar os danos.
— Eu te amo, filha!
— Eu também te amo, mãe!
Desliguei o celular e voltei para a festa no exato momento em que
um “sim” emocionado foi dito, e em seguida o som de palmas invadiu o
salão. Por algum motivo, eu me emocionei, e aceitei a taça de espumante
que o garçom simpático me ofereceu para comemorar a alegria de duas
pessoas que se amavam. Era nítido e até mesmo palpável o amor de Sara e
James. Eu precisava me acostumar a chamá-lo assim fora do meu
expediente de trabalho. Com Phillip, que era primo de James e um dos
diretores e namorado de Bela, era mais fácil, talvez por ele ser mais
comunicativo, diferente de James que era mais sério.
De onde eu estava, dava para ver a agitação na mesa pelo momento
e quando pensei em voltar, vi Phillip se aproximar, falar algo no ouvido de
Bela e arrastá-la entre as pessoas, e acabei rindo e ficando vermelha porque
sabia exatamente o que eles iriam aprontar. Olhei para o relógio e pensei se
iria embora, ou não.
— Vai ficar o resto da noite parada aqui sem ser vista, senhorita
Evergarden? — A voz grossa e séria me fez sorrir, e quando olhei para o
homem imponente ao meu lado, sorri ainda mais. Por mais que ele fosse um
dos diretores da empresa, eu me sentia à vontade todas as vezes que Ryan
Taylor estava por perto.
— Vai continuar o resto da noite sem beber nada, Sr. Taylor? —
devolvi com outra pergunta, e um sorriso quase imperceptível surgiu em
seus lábios.
— Eu não bebo durante o trabalho. — Me encarou e lá estava a
intensidade misturada ao respeito de sempre.
— Nem aqui você descansa? — perguntei incrédula e quase
cambaleei com o sorriso que ele me deu. Despretensioso e envolvente,
como o dono. Ryan era conhecido por ser o gênio do TI e de poucas
palavras.
— Gostaria, mas olha a minha equipe… — Cruzou os braços e
olhou para o salão, eu o acompanhei. — Até o final do evento, alguns nem
lembrarão o próprio nome.
O jeito leve e descontraído com que ele disse, me fez gargalhar.
Uma gargalhada tão alta que muitas pessoas nos encararam, inclusive Zac
Stewart que cruzou os braços e franziu as sobrancelhas, enquanto
conversava com um grupo de mulheres que fazia questão de disputar sua
atenção.
— Acho que você precisa de mais colaboradores para poder
relaxar… — Levantei a minha taça, e sorri. — E talvez beber comigo em
um próximo evento.
Ryan me encarou por um instante antes de dizer:
— Não precisamos de um próximo evento, Claire… — Seu celular
tocou, o deixando tenso, e antes de se afastar, ele disse: — Se permita mais
vezes, você é linda e merece ser vista. — Depositou um beijo na minha
bochecha, e balançou o celular que não parava de piscar. — O trabalho me
chama.
— Boa sorte! — Sorri envergonhada e, de alguma forma, gostando
da sua atitude comigo.
Depois de estar na companhia de Ryan, que me sacudiu de um jeito
bom, voltei para a mesa e fiquei mais um pouquinho com as meninas, e
quando elas decidiram ir embora, terminei minha conversa com Mary
Wilson, mãe de Phillip, e na sexta taça de espumante, por mais que eu
tentasse manter a postura, já estava tonta por não ter o hábito de beber.
Despedi-me de todos, estiquei a minha coluna e caminhei bem
devagar para a saída sem me entregar, porque nunca me senti tão observada
como no evento. Por um lado, foi assustador, e por outro foi bom. Quem
diria que a secretária sem graça da presidência chamaria tanta atenção.
Comecei a rir e, antes de descer o último degrau, escorreguei e caí sentada
no chão. Senti-me como uma pluma leve, e ri um pouquinho mais. Minha
sorte que só os funcionários do teatro viram, pelo menos, foi o que eu achei.
— Precisa de ajuda, anjo? — O divertimento na voz sedutora e
quente era nítido. Arrepiei-me todinha.
— Se isso é provação por não ir à igreja há um mês, Pai… —
Olhei para o céu. — Serei uma filha melhor. Eu prometo!
— A provação pode vir em forma de salvação, sabia?
— Desde quando pecado salva?
— A partir do momento em que o pecado quer te ajudar e te levar
para casa. — Sorriu com seu jeito devasso e envolvente.
— Meu Deus, me ajuda!
— Ele já mandou o ajudante Dele… — Abaixou, envolvendo o
braço na minha cintura e me levantou do chão, me segurando bem perto do
seu corpo. — E eu nunca desobedeço a uma ordem.
Meu coração acelerou, e eu me assustei com a umidade crescendo
entre as minhas pernas. O que estava acontecendo comigo?
Capítulo 3
Ela me intriga!

Era engraçado ver como suas bochechas coravam e como seus


olhos verdes feito esmeraldas se arregalavam com uma mistura de
desespero, raiva e talvez desejo. Eu ainda não havia descoberto nem tinha
conseguido ler, de alguma forma, Claire Evergarden. Só sabia que minhas
provocações a irritavam e muito, e causava um misto de confusão na sua
carinha de anjo. Eu sabia que Claire era diferente de todas as outras
mulheres. Era reservada, focada e extremamente profissional, tanto que
nunca havíamos trocado muitas palavras além do que era necessário.
Desde o dia em que ela caiu na minha frente, ao mesmo tempo em
que eu queria rir… senti uma vontade absurda de protegê-la, talvez fosse
por ela ser tão delicada, novinha e fazer de “um” tudo para se tornar
invisível perante as outras pessoas. Porém, se a intenção era passar
despercebida, ela iria descobrir que desse evento em diante… seria
impossível. Claire não surpreendeu somente a mim, surpreendeu toda a
empresa. Alguns comentários me geraram um pouco de desconforto. Nada
que a desrespeitasse, pelo contrário. Senti-me ainda pior quando vi Ryan,
diretor de TI, conversando com ela, e ali eu vi que ela tinha um sorriso
encantador e estava totalmente relaxada, e me perguntei: logo com Ryan
que vive de cara fechada, e parece que não fode há anos?
Nos últimos dias, a ruivinha com carinha de anjo não saía da minha
cabeça, e acreditei que as responsáveis pudessem ser as brasileiras mais
loucas e maravilhosas que eu já conheci na vida. Sara e Bela falavam com
frequência de Claire na minha frente e sempre riam como se fosse um
código feminino, o que, além de me irritar, me deixava doido fazendo com
que James e Phillip rissem da minha cara. Mas, observando-a no banco do
carona, de cara fechada e torcendo os dedos das mãos uns nos outros, me
fez querer conhecer um pouco mais dela, até mesmo de querer provocá-la.
Algo me dizia que Claire tinha muito mais a dizer do que seus cortes e
respostas ácidas comigo. Isso me fez rir, e antes de parar no sinal… senti
que estava sendo observado, mas continuei rindo e olhando para frente com
uma mão no volante e a outra apoiada no queixo.
— Não que me interesse, mas a piada interna deve ser muito boa.
— Ela cruzou os braços de um jeito que fez com que os seios, que pareciam
ser pequenos e delicados, ficassem mais avantajados. Segurei no volante
com força, e virei para a janela, tentando não olhar.
— Não tem nenhuma piada… é você! — Voltei a colocar o carro
em movimento.
— Sou uma piada agora, Sr. Stewart? — Sua voz soou indignada,
mas arrastada.
— Não estamos na empresa para tanta formalidade, Claire… —
Tentei não rir. — E não, você não é uma piada. Você me intriga… é isso!
— Como assim?
— Não sei… parece que você esconde muito mais do que mostra
— fui sincero.
Como eu era diretor de RH, eu tinha o hábito de estudar os
colaboradores antes de contratá-los ou até mesmo depois de já estarem na
empresa. E Claire, além de ser secretária da presidência, era uma
colaboradora exemplar. Depois do incidente no elevador, voltei a minha
atenção um pouco mais dedicada a ela e, por algum motivo, me pareceu no
seu jeito, atitudes e no evento, analisando melhor, lhe faltava algo. Só não
entendi ao certo o que, e situações assim precisavam de tempo e de muita
observação.
— Eu não escondo nada, você nem me conhece para falar essas
coisas… — Sua postura ficou ereta em segundos e o nervosismo tomou
conta por um instante, o que me deixou ainda mais curioso.
— Foi só um comentário, não precisa ficar nervosa.
— Eu não estou nervosa… — Bufou. — Que inferno de elevador!
Mordi meu lábio inferior e segurei o riso, eu não podia deixar a
vontade de provocá-la ainda mais me consumir. Durante o restante do
caminho ficamos em silêncio, e quando parei em frente ao seu apartamento,
antes que ela pudesse sair e correr o risco de cair e se machucar de verdade,
pulei para fora do carro e corri a tempo de ajudá-la.
— Céus! Eu não vou cair, sabia?
— O céu ou o inferno, você precisa escolher… — falei e encarei
seus lábios rosados.
— Gostou?
Arqueei as sobrancelhas com a pergunta, quando vi os olhos verdes
que mais pareciam duas esmeraldas, pequenos de sono e por causa do efeito
das inúmeras taças de espumante que ela havia bebido.
— Do quê? — me fiz de desentendido.
— Da cor da minha boca, porque se gostou… — Enrolou um
pouco a língua, a deixando com um jeito fofo e engraçado — Infelizmente,
não tem outra igual.
— Tenho certeza que não, nem a cor e nem o sabor. — Sorri
despretensiosamente, quando seus olhos se arregalaram.
Ela desviou dos meus braços, tão rápido, que eu achei que fosse
cair e quando tentei ajudá-la, ajeitou o vestido um pouco sem jeito e
empinou o nariz antes de dizer:
— Muito obrigada pela carona!
Esperei que ela chegasse até a entrada do prédio, e antes que ela
fechasse a porta, falei:
— O pecado também sabe ser gentil, senhorita Evergarden!
E antes de entrar no carro eu ouvi: Jesus! – o que me fez gargalhar
como há muito tempo eu não fazia, e com um sorriso no rosto, voltei para o
evento em busca de diversão, e tentando não deixar uma ruivinha intrigante
dominar meus pensamentos.

No dia seguinte, acordei no hotel que eu costumava frequentar


sempre que terminava a noite acompanhado e com meus braços dormentes
por ter duas belas mulheres enroscadas em mim. Tentei me mexer, e tanto
uma quanto a outra se enroscaram ainda mais em mim, mas por mais que eu
quisesse curtir mais um pouco, já passava das dez da manhã e eu tinha uma
rotina a cumprir, mesmo nos fins de semana.
Levantei com cuidado, tomei um banho rápido e quando saí do
banheiro, a cena que se desenrolava na cama me deixou duro no mesmo
instante e eu me permiti observar um pouco antes de seguir meu caminho.
Duas mulheres em uma dança lenta e sedutora na cama? Que
homem que não gostaria disso?
— Vai ficar só olhando ou vai participar também? — Selena, a
gerente do jurídico, me perguntou, enquanto a noiva, Ashley, se dedicava
entre as suas pernas.
— Eu adoraria, mas você sabe que tenho hora — falei e dei as
costas para começar a me arrumar, quando ouvi um gemido e me segurei
para não entrar na brincadeira. Tinha alguém importante para mim que, com
certeza, estava me esperando impaciente pelo passeio de domingo no
parque.
— É uma pena, Zac! — A voz saiu baixa e falha.
— Oportunidades não irão faltar, Sel. Peçam e fiquem o tempo que
quiserem, o gerente do hotel me manda a conta depois… — Antes de sair,
olhei para as duas e sorri. — É meu presente de casamento para vocês. —
Pisquei para as duas que gritaram animadas, e saí.
Passei pela recepção do hotel, falei com Oscar que me conhecia há
anos e estava acostumado com a minha presença, e pedi para fornecer tudo
que as meninas quisessem e pedissem, e fui embora. Selena e Ashley já
estiveram comigo outras vezes, e sabiam exatamente como eu funcionava.
O que acontecia no momento de prazer e curtição ficava ali e vida que
seguia. Nunca usei nenhuma mulher de forma proposital, todas que saíam e
se envolviam comigo, sabiam exatamente como as coisas eram conduzidas.
Assim que girei a chave do meu apartamento, ouvi o barulho de
patas ansiosas correndo em direção à porta e quando abri, firmei as pernas
para não cair com a empolgação de Jacob. Meu menino de quatro patas,
meu golden retriever. Jacob tinha dois anos, mas era meu bebê, meu melhor
amigo e o amor da minha vida. Tínhamos uma rotina diária, passear e às
vezes correr juntos no Central Park todos os dias pela manhã, e eu sempre
evitava dormir fora de casa por causa dele. Odiava deixá-lo sozinho, mesmo
ele sendo bem-comportado.
— Hey, cara! Bom dia, sentiu minha falta? — Agachei para
acariciar sua cabeça e dar uns tapinhas de leve em suas costas como ele
gostava, e recebi um latido animado de volta. — Pronto pra sair?
O latido em resposta ficou mais forte, com ele girando no alto e
indo desesperado buscar sua coleira que ficava na área próxima à cozinha.
Aproveitei e fui trocar de roupa, colocando uma calça de moletom cinza,
tênis, uma camisa branca de manga longa e um boné. Coloquei a coleira
nele, peguei minha carteira e meus óculos escuros e saímos em busca de
aventuras.
Assim como Jacob, eu amava o clima do Central Park perto das
festas de final de ano. Estávamos no início de novembro e tudo ficava
diferente. As árvores ganhavam uma coloração diferenciada em tons
laranja, amarelo, marrom e verde, devido ao clima de outono com muitas
folhas caídas no chão. O parque se tornava mais cheio devido à alta
demanda de turistas e eventos. E Jacob, por ser brincalhão e carinhoso,
nunca passava sem ser notado, o que ajudava e muito o papai aqui.
Depois de caminharmos alguns quilômetros, eu gostava de sentar
na grama e sentir o sol tocar meu rosto e poder observar a forma como
Jacob brincava e rolava no chão se deliciando com o sol aquecendo os pelos
dourados e macios. Era nosso momento de relaxamento, sem trabalho,
estresse ou preocupação, pelo menos era isso que eu esperava. Em um
momento, Jacob estava ao meu lado, e no outro eu ouvi um gritinho agudo
seguido por uma risada alta, escandalosa e eu poderia dizer… gostosa. E
que eu gostei e muito de ouvir.
Levantei-me desesperado, e corri em direção à confusão que era
Jacob em cima da… – Puta que pariu… Claire! – A vontade de rir gritou na
minha cabeça, mas me segurei firme. Só desejei que meu melhor amigo não
entrasse para a lista de desafetos da ruivinha arisca.
— Jacob! Jacob… Para com isso, garoto!
Puxei-o de cima dela, e quando vi a cena como um todo foi
impossível não rir e me sentir sem graça ao mesmo tempo. Claire estava
com um lado dos óculos, nariz e queixo sujos de sorvete, e Jacob com o
focinho sujo e metade da casquinha na boca balançando o rabo, feliz.
— Nem aqui eu tenho sossego… — ela dizia sem fôlego e
tentando se limpar. — Esse menino levado e sem noção só podia ser seu,
né? — Encarou-me aborrecida, mas para Jacob, ela olhava com carinho. —
Toma, menino… pode terminar o sorvete, já que seu pai não te deu
educação.
Jacob aceitou o restante do sorvete e apoiou as patas para terminar
de comer no colo dela, fazendo-a rir novamente. Cruzei os braços, e
balancei a cabeça para o abuso.
— Não julgue a educação de um pai solo — comecei a falar
chamando sua atenção para mim. — Acredite… ele nunca tinha feito isso
com ninguém.
— Você sabia que os animais são inteligentes e observam tudo que
seus donos fazem? — Levantou uma sobrancelha em desafio. —
Provavelmente, ele vê muita coisa errada e na primeira oportunidade, faz
igual. — Sorriu, triunfante.
— Neste caso… — Tirei meus óculos e agachei para ficar na
mesma altura que ela. — Eu nunca roubei sorvete, muito menos… — Olhei
para Jacob satisfeito e lambendo os resquícios de sorvete da calça jeans
dela. — Me lambuzei em cima das pernas de uma mulher desse jeito, então
hoje… — Sorri. — Quem está aprendendo coisas erradas e gostosas… sou
eu.
Seus olhos arregalaram, e foi a minha vez de sorrir triunfante.
Levantei-me e deixei uma Claire atônita e fui em direção a uma barraquinha
de sorvete. Pedi dois sorvetes de morango, e voltei observando de longe a
interação entre Jacob e a ruivinha arisca. Jacob sempre foi muito
comunicativo e brincalhão, mas nunca o tinha visto ser tão carinhoso com
alguém, somente com crianças. Parei ao seu lado, e estendi a casquinha em
sua direção.
— Um pedido de desculpas pela falta de educação do meu filho.
— Não precisava, tenho certeza que ele não fez por mal. —
Aceitou com um sorriso tímido. — Morango?
— Imaginei que fosse esse o sabor pela cor, errei?
— Não. Obrigada!
Quando Claire estendeu a mão para pegar, Jacob ameaçou se
aproximar e eu chamei sua atenção, fazendo-a rir da situação quando ele
abaixou a cabeça e ficou me olhando com um olhar fingido de desculpas.
— Este é o seu! — Abaixei e deixei que ele se lambuzasse, e
durante alguns minutos um silêncio se fez presente, mas nada que me
incomodasse… foi leve e tranquilo.
Antes de me levantar, senti uma mão passar pelos meus ombros de
um lado ao outro e quando me virei, dei de cara com uma das minhas
conquistas. Isabella era alta, magra e com seios avantajados e fazia questão
de ostentá-los e mostrar para quem quisesse ver. Era bonita, gente boa e de
língua solta, e falava tudo que vinha à mente e, assim como Claire, era
ruiva, mas não natural.
— Hoje deve ser meu dia de sorte! Já faz quanto tempo, Zac? Um
ou dois meses?
Olhei rapidamente para Claire e vi que a postura um pouco
relaxada de antes, estava enrijecida e o olhar baixo, evitando encarar
Isabella. Não gostei!
— Acho que uns dois meses… — Levantei e a cumprimentei. —
Como você está?
— Eu estou bem, mas com saudade de umas boas noites em
claro… — Passou a mão no meu peito, mordendo os lábios volumosos, que
pareciam mais cheios do que da última vez que a vi. — E de incomodar
meus vizinhos com os barulhos que só você desperta em uma mulher.
Claire começou a tossir e a ficar vermelha. Tentei ajudá-la, mas ela
não deixou. Levantou rápido da manta estendida no chão, colocou as mãos
nos joelhos controlando a respiração e depois olhou para o céu com a
respiração mais controlada.
— Meu amor, você está bem? — Isabella perguntou e teve mais
sorte, alisando e dando batidinhas de leve em suas costas.
— Estou sim… — Tossiu mais um pouco. — O-obrigada pela
ajuda!
— Quer que eu compre uma água, Claire? — perguntei.
— N-não… já estou indo embora — gaguejou novamente e eu
sabia o motivo, qualquer um saberia e me senti ainda mais incomodado.
Isabella olhou de mim para ela, e arqueou uma sobrancelha.
— Eu atrapalhei alguma coisa? — perguntou com um olhar
malicioso.
— Não, não… — Claire foi mais rápida que eu. — Eu realmente
preciso ir.
— Eu te acompanho — falei, porque, por algum motivo, eu queria
que ela ficasse mais.
— D-de jeito nenhum! — Sua voz saiu um pouco mais alta que o
normal, e seu olhar ao mesmo tempo em que parecia julgador, era curioso.
Abaixou e começou a recolher a manta, celular, fones de ouvido e
um livro que eu tentei ler o nome e não consegui, só duas palavras “série
Perdição”. Jogou tudo dentro de uma mochila jeans e agachou para beijar o
focinho de Jacob e acariciar sua cabeça.
— Tchau, meninão! — Jacob choramingou e lambeu seu queixo, a
fazendo rir, e com isso ela foi embora tão pequena e delicada, sem olhar
para trás.
Fiquei olhando-a até ela sumir de vista e com uma das mãos
apoiadas na cabeça de Jacob, que ameaçou ir atrás dela. E quando virei para
Isabella, ela me olhava com um enorme sorriso nos lábios volumosos.
— Será que seu momento de sossegar chegou, querido?
— Hã? — Fiz uma careta. — Tanto tempo sem me ver e já está
vendo coisa onde não existe. — Balancei a cabeça rindo.
— Se você está dizendo… — Cruzou os braços mostrando ainda
mais dos seios fartos. — Vamos deixar o tempo dizer.
Balancei a cabeça novamente, e falei:
— O tempo eu não sei, mas se você continuar com os braços
cruzados desse jeito, não vou conseguir manter uma conversa decente com
você.
Ela deu uma gargalhada alta, e eu acabei rindo junto.
— Quer relembrar como eles são bons em uma espanhola?
Meu corpo reagiu, mas não como de costume e com isso achei
melhor ir para casa.
— Eu adoraria, mas preciso ir embora.
Isabella se aproximou, e deixou um selinho em meus lábios e antes
de se afastar sorriu.
— Vou sentir falta quando o devasso em você se acalmar, até
porque nenhum homem conseguiu me fazer sentir mulher como você faz…
— Bateu no meu queixo com o indicador. — Mas você merece ser feliz,
porque é um cara incrível.
Pisquei os olhos algumas vezes, e tentei entender como aquele
papo maluco começou. Abri a boca para responder, mas Isabella se afastou,
rebolando do jeito sedutor que ela gostava de fazer em uma calça de
academia que parecia apertada demais para ser corpo.
— Se mudar de ideia, sabe o meu número e onde eu moro. —
Soprou um beijo no ar, e foi embora.
Olhei para Jacob que tinha o olhar perdido onde Claire havia
sumido entre as pessoas que caminhavam animadas pelo parque, e prendi a
guia na sua coleira.
— Acho que a ruivinha ganhou seu coração, né? — Ele meneou a
cabeça de lado, e latiu. — Eu sei! Ela ainda é um ponto de interrogação,
mas vamos tentar descobrir aos poucos.
Capítulo 4
Mantenha a calma!

Eu havia prometido para mim mesma e para as meninas que


tentaria me soltar mais, ser mais livre e me descobrir mais como mulher, e
que não deixaria as mudanças me assustarem. Porém, já fazia mais de meia
hora que eu girava e caminhava de um lado para o outro na frente do
espelho. A verdade era que eu não sabia se estava pronta para novos olhares
assim como no evento da empresa.
Coloquei um terninho azul-marinho que modelava todo o meu
corpo, mostrando curvas que eu nem sabia que existiam e por baixo um
body branco com um decote em V um pouco mais profundo do que eu
estava acostumada, mas nada vulgar. Calcei um par de sandálias pretas de
saltos finos e prendi meu cabelo em um coque lateral com alguns fios
soltos. Um rímel, gloss e um blush leve, até porque eu precisava de tempo e
prática para me maquiar com maestria como Sara e Bela. Olhei-me no
espelho mais uma vez, e antes que eu perdesse a coragem e trocasse de
roupa, peguei minha bolsa e corri para fora do apartamento.

Assim que avistei a empresa, minhas pernas ameaçaram falhar e do


nada me deu uma crise de riso, conforme eu me aproximava mais. Eu não
era a especialista em saltos, mas havia aprendido com a minha mãe como
usá-los, mesmo que não fosse um hábito. Desde que fui contratada para
trabalhar na Wilson Group Corporation, não usei outra coisa que não
sapatilhas. Eram confortáveis, eu amava e me permitiam andar mais rápido
que esses saltos lindos, porém altos. Bem altos! Mas, algumas mudanças
precisavam de sacrifícios. Eu aprendi isso durante a minha vida quando tive
que sacrificar algumas coisas para me tornar alguém disciplinada e focada
nos meus sonhos e objetivos, e se usar saltos era parte do processo… eu
usaria.
Quando passei pelas portas giratórias, os primeiros olhares vieram
com tudo na minha direção. Os seguranças e as recepcionistas pararam o
que estavam fazendo e me olharam, respirei fundo e acenei como de
costume, e fui para a fila aguardar a minha vez para entrar no elevador.
Tentei passar, em vão, despercebida, pois braços delicados me apertaram
com empolgação e carinho pela cintura. Levei um susto e quando me virei
dei de cara com Sara com um enorme sorriso no rosto. Eu precisava me
acostumar com o calor brasileiro, era algo maravilhoso e novo para mim.
— Uau! Que mulher mais linda! — Veio para a minha frente e
olhou mais uma vez. — Claire… você está um arraso! Não está, James?
Minhas bochechas coraram quando vi meu chefe ao meu lado com
um sorriso de canto de boca, e balançando a cabeça para a empolgação da
noiva.
— Sim. Bom dia, Claire!
— Bom dia, senhor! Obrigada… — Voltei meu olhar para Sara e
retribuí seu abraço, e no seu ouvido, eu disse baixinho: — Estou nervosa!
Tem muita gente me olhando.
— Deixa olhar… idiota seria quem não olhasse!
O próximo elevador chegou e Sara me puxou para entrar com ela e
James sob o olhar e curiosidade dos colaboradores que também
aguardavam, e quando as portas iam fechar, abriram novamente com Phillip
e Zac, e de forma involuntária acabei apertando a mão de Sara que, no
mesmo instante, viu a forma como Zac me olhou e eu desviei.
— Bom dia, primo… princesa! — Phillip começou e Sara o
abraçou, rindo, enquanto James revirava os olhos.
— Bom dia, Phil… Zac! — Sara o abraçou também, depois que ele
cumprimentou James.
— O abraço que eu precisava para começar bem a minha semana
— Zac respondeu e quem estava em volta segurou o riso, porque conheciam
bem a amizade dos três e sabiam o quanto eles adoravam provocar o CEO
da empresa.
— Você realmente vai precisar de uma boa semana — James
respondeu com um falso aborrecimento e como resposta, ele riu.
— Bom dia, Claire! — Phillip olhou para mim e sorriu, o sorriso
encantador de sempre e que as mulheres comentavam, e que Bela era
apaixonada.
— Bom dia, senhor! — Sorri sem jeito, porque vi a curiosidade em
seu olhar com a minha mudança de visual.
— Bom dia, senhorita Evergarden! — E lá estava o sorriso sacana
e provocador que vinha me causando arrepios.
— Bom dia, senhor Stewart!
Sara apertou minha mão que ela ainda segurava, e eu me fiz de
louca até porque eu sabia que ela me sondaria depois. Ajeitei minha bolsa e
fiquei na minha enquanto eles conversavam.
— Já tomaram café? — James perguntou, e os dois diretores
responderam que não. — Sara pediu algumas coisas para tomarmos café lá
no escritório.
— Isso porque sou muito boazinha, mesmo vocês não
merecendo…
— A Bela não reclama — Phillip disse rindo.
— Ela está apaixonada e não trabalha com você.
Todos começaram a rir, e até eu não aguentei com a cara de
ofendido de Phillip, e quando chegamos ao andar da presidência, fui em
direção à minha mesa.
— Claire, você não vem? — Sara perguntou.
— Não, Sara! Preciso ver as pendências de sexta.
— Você é nossa convidada, Claire. Não tenha pressa em resolver
as coisas, tenho certeza que tudo está em perfeitas condições — James disse
com tranquilidade.
— O senhor sabe como eu trabalho, e preciso verificar as coisas
para ficar em paz. Na próxima, eu vou. — Sorri em agradecimento, e ri com
a cara de poucos amigos de Sara.
— Tudo bem!
— Eu trago algo doce e gostoso para ela — Zac disse e levou um
tapa de Sara. — Ai! Um donuts… você gosta, né? — Olhou para mim,
assim como todo mundo.
— Sim! — respondi, envergonhada.
— Viu? — E antes de ser levado por Sara, virou para mim e
piscou.
Sentei na minha mesa, e passei as mãos no rosto respirando fundo
e pedindo uma semana tranquila para Deus.

Dez minutos depois que liberei o funcionário da cafeteria, Zac


apareceu com seu jeito sedutor e com um donuts recheado de Nutella e um
chocolate quente. O cheirinho era tão gostoso que me fez suspirar.
— Eu não tinha certeza se você iria gostar ou não, mas arrisquei
nas escolhas.
— Arriscou certo. Eu gosto dos dois! — Aceitei um pouco sem
jeito, pois não imaginava que ele realmente traria algo para mim. — Muito
obrigada!
— Mais uma descoberta, além de sorvete de morango.
E de forma natural, eu falei:
— Desde quando passei a ser uma fonte de descobertas?
— Eu não diria dessa forma. — Sorriu de forma despretensiosa.
— Diria como, senhor Stewart?
— Só quero te conhecer um pouco melhor, senhorita Evergarden.
— Por que eu? — questionei.
— Por que não você, Claire?
— Não sou esse tipo de mulher. — Eu não estava me
reconhecendo. Tudo bem que quando eu era criança e me sentia acuada, a
forma que eu tinha de me defender era rebatendo de forma hostil.
— Que tipo de mulher? — O sorriso deixou seus lábios, e a
seriedade tomou conta do seu olhar.
— Um número… uma conquista, enfim.
Ele riu sem humor, e a postura antes relaxada deu lugar a uma
postura rígida e antes de sair, ele disse:
— Nenhuma mulher se envolve comigo, sem de fato saber onde
está se enfiando. Eu nunca desrespeitei ou desrespeito nenhuma delas,
senhorita Evergarden. Muito menos as trato como um número.
— Que bom para elas! — falei na intenção de acabar com a
conversa, eu precisava ficar sozinha.
— Pode ter certeza que bom é pouco. — Seu tom de voz, apesar de
seco, parecia divertido. — Ótimo dia de trabalho, e um excelente café da
manhã… aproveita enquanto ainda está quente, e a Nutella está derretendo
na boca. — Senti o duplo sentindo em suas palavras, e me segurei para não
tacar o grampeador na cabeça dele.
Mas uma coisa, eu não podia negar: Zac Stewart exalava
sensualidade e safadeza, e eu me perguntei se eu estava sendo testada como
Eva foi no Éden, porque se sim, o que eu iria fazer? Se a cobra tinha uma
aparência de babar, e a maçã era o seu jeito de agir e envolver?
— Fique calma, Claire! Ele só está curioso e logo passa, e se não
passar… E SE NÃO PASSAR? — minha mente gritou e meu coração
acelerou.
Senti-me tão nervosa que peguei o donuts e dei uma mordida
generosa, e quando o chocolate invadiu minha boca… odiei-me por pensar
em Zac Stewart e em várias coisas que poderiam ser feitas com ele e com
Nutella… juntos.
Pela primeira vez, uma mulher havia me tirado do sério. Eu podia
ser tudo, mas se tinha uma coisa que eu não era… era filho da puta! Eu
sempre deixei bem claro as minhas intenções e o que eu queria antes de me
envolver com qualquer mulher, não era o tipo que usava como se fosse um
produto descartável. Tanto que muitas se tornaram amigas, e eu pude
manter um bom relacionamento. Sempre fui do cara que sabe entrar e sair
da vida de alguém, infelizmente com algumas foi difícil de lidar quando
deixaram o coração falar mais alto que o desejo, mas ainda assim, não
passei a fazer parte da lista de desafetos de ninguém. Pelo menos, não que
eu soubesse.
Voltei para o escritório da presidência, e assim que entrei, me
joguei no sofá, puto com que ouviu de Claire e me perdi em pensamento, e
quando um silêncio se tornou presente, levantei a cabeça que até então
estava jogada no encosto do sofá e dei de cara com três pares de olhos
curiosos e divertidos me encarando.
— O que foi? — perguntei, irritado.
— A gente que te pergunta, irmão. Claire não gostou do café? —
Phillip começou.
— Será que ele errou no sabor, Phil? — James emendou, e Sara
começou a rir.
— Pelo visto, minha amiga não se agradou muito, né?
— A sua amiga tem cara de anjo, mas, pelo visto, esconde uma
diaba dentro dela — falei ainda mais irritado.
Os três trocaram olhares e explodiram em gargalhadas, e quando
dei por mim, também estava rindo da situação. Por algum motivo, o jeito
como ela me tratou só aumentou ainda mais a minha vontade de querer
conhecê-la e entender de fato quem era Claire Evergarden, a ruivinha arisca
com carinha de anjo. As abordagens que eu costumava usar não
funcionariam com ela, então eu ficaria na minha por enquanto e na hora
certa, eu voltaria a me aproximar.
Capítulo 5
A tentação vem disfarçada de bondade!

Os últimos meses do ano passaram tão rápido e com tantos


acontecimentos, tristes e alegres, que dezembro havia chegado e todos
estavam na correria para visitar seus familiares e descansar no recesso da
empresa. Nesse período, eu me aproximei mais das meninas, tornando a
nossa amizade cada vez mais forte, assim como passei a me sentir mais à
vontade perto dos meus chefes, James e Phillip. Depois do incidente que
ocorreu na família Wilson, em que a empresa virou notícia internacional,
muitas mudanças ocorreram e uma delas foi que George Wilson, o
fundador, se retirou de vez da presidência, passando a ser conselheiro, e
nomeou James de vez como presidente e Phillip como vice-presidente.
Com isso, recebi uma generosa proposta de aumento salarial para
atender aos dois, e desenvolver com mais liberdade e confiança as minhas
habilidades administrativas, o que me deixou extremamente feliz por
ganhar mais visibilidade, respeito e confiança. Sara descobriu que estava
grávida, causando uma emoção em todos, e informou animada e
emocionada que se casaria em breve. Bela decidiu de vez vir morar em
Nova York. E Zac… bem, foram poucas as vezes que esbarrei com ele
desde o dia do café da manhã. Encontrei com ele muito rápido para assinar
minha remuneração, e depois pelos andares e corredores da empresa,
quando era necessário resolver alguma pendência em aberto para a
presidência. Por um lado, me senti aliviada por não ter a sensação de ser
perseguida pela tentação mundana e, por outro, me senti incomodada por
não ter a irritação diária que ele me causava. Um conflito confuso e sem
sentido, eu sei.
Faltava pouco para eu ir embora, quando a neve ficou mais forte.
Antes eu tivesse seguido o conselho de Sara e James que saíram há meia
hora, e me chamaram para ir embora junto. Mas era o último dia de trabalho
antes do recesso, e eu queria deixar tudo organizado para o meu retorno.
Mesmo com a neve forte, já não tinha mais nada para fazer. Peguei minhas
coisas e desci, e assim como eu, mais alguns funcionários esperavam na
recepção do edifício, admirando os pequenos cristais de gelo que caíam de
forma graciosa criando uma verdadeira arte nas ruas, sobre os carros e em
tudo mais que eles conseguiam tocar.
Aproximei-me do enorme vidro, cruzei os braços para me
esquentar mais e fiquei admirando o quanto a natureza era mágica. Perdi-
me no tempo e nas lembranças de criança quando a família Evergarden
vivia em época de paz. Por mais que não nevasse no Texas, a neve, com sua
pureza, me fez voltar a uma época boa e sentimental.
— É linda, não é? — A voz forte e rouca era irreconhecível. Ryan
estava ao meu lado, com um sorriso contido. O sobretudo preto por cima do
terno impecável, assim como seu cabelo penteado de forma perfeita…
reforçavam a sua seriedade e o deixavam ainda mais sexy.
— Eu diria, mágica. — Ri.
— A magia está nos olhos de quem vê. — Olhei para ele, e lá
estava o sorriso um pouco mais aberto. Ah… se ele soubesse o quanto fica
ainda mais lindo sorrindo, sorriria mais vezes. Ryan, apesar de sério e de
pouca conversa, me passava algo muito bom. Eu gostava da presença dele e
de conversar com ele.
— Acredito que sim! E se for verdade, espero nunca perder.
— Eu também espero que você nunca perca. — Meneou a cabeça
de lado, e algo triste passou pelo seu olhar. — Está aqui há muito tempo?
— Uns vinte minutos. Preciso que diminua para tentar chamar um
táxi. — Aproximei-me mais do vidro. — Impossível ir andando.
— Deixa diminuir mais um pouquinho e eu te levo em casa.
— Não precisa. Já estou acostumada! — fui sincera. — Não quero
dar trabalho.
— Você não dá trabalho. — Colocou as mãos no bolso do
sobretudo. — E mesmo que desse, eu faria com prazer.
Minhas bochechas coraram e eu balancei a cabeça concordando, e
dez minutos depois, caminhamos em direção ao elevador para descer à
garagem. Caminhei ao lado de Ryan, rindo das caras que ele fazia falando
da animação dos seus funcionários para as festas de final de ano, quando ele
pegou a chave e um sedan preto e imponente, assim como o dono, piscou.
— Uau! Que lindo!
— Eu gosto… herdei o gosto por carros do meu pai. — Suas
palavras saíram carregadas de sentimentos.
— Vocês têm um ótimo gos… — Não consegui concluir a frase,
porque vozes muito altas e risadas chamaram a nossa atenção.
Pensei demais no diabo que ele apareceu, acompanhado de duas
mulheres. Cada uma pendurada em um lado do seu corpo. E para completar,
o carro dele, um SUV preto, estava parado bem ao lado do carro de Ryan.
Quando ele percebeu, olhou de mim para Ryan e vice-versa e o sorriso
devasso antes estampado no rosto, sumiu.
— Ryan… Claire!
— Zac — Ryan cumprimentou e caminhou para abrir a porta para
mim, sendo seguido pelos olhares desejosos das mulheres que estavam com
o diretor pervertido do RH.
Sorri para Ryan em agradecimento, e antes de entrar, eu falei para
Zac:
— Boa noite e boas festas!
— Digo o mesmo! — O tom áspero em sua voz acelerou o meu
coração, e quando Ryan entrou no carro e deu partida, relaxei, louca para
esquecer a empresa e Zac Stewart por mais alguns dias. Pelo menos, era o
que eu pensava.

Faltando um dia para a véspera de Natal, eu acordei com uma


ligação de Sara, pedindo para que eu fosse conhecer a sua família. Tentei
recusar porque viajaria logo cedo, mas não consegui. A gravidez estava
mexendo com ela, e dependendo da situação, ela ficava muito emotiva e o
Natal também tinha uma certa influência sobre as pessoas.
— Você sabe que amanhã eu viajo cedo para o Texas, não sabe?
— Ruivinha da minha vida, eu sei… — choramingou por telefone.
— Mas é a minha família e tenho certeza que você vai amar conhecê-los. E
eles querem saber quem é a famosa Claire.
Acabei rindo do seu poder de persuasão, e aceitei.
— Eu vou, mas não posso ficar até tarde.
— Tá bem! Só vem, por favorzinho! — disse, animada. —
Amanhã, a bandida da Bela também viaja cedo para passar o Natal com a
família, no Brasil. Só quero meus amigos comigo pelo menos um dia antes
da véspera de Natal, e outra… eu só vou te ver quando acabar o recesso.
— Você já me convenceu, e pode parar com o drama… — Ri.
— Você está andando muito com a Bela sem a minha presença,
olha como está me tratando… — respondeu, rindo. — Te espero mais tarde.
— Combinado.
Espreguicei-me e levantei para organizar o apartamento e conferir
mais uma vez se eu tinha pegado tudo que eu precisava para passar os dias
de recesso com a minha família, além do meu psicológico que eu ia precisar
manter firme e forte, só de lembrar a dor de cabeça vinha com força.

Como estava bem frio, escolhi um lookzinho básico e na cor preta.


Coloquei uma legging grossa, um vestido de mangas longas e gola alta,
com botas até a altura das coxas. E para quebrar um pouco a cor, optei por
um cachecol e gorro cinza, mas o sobretudo mantive preto também. Peguei
minha bolsa e, meia hora depois do horário combinado, eu estava no
elevador subindo em direção à cobertura do lindo edifício de frente para o
Central Park, onde Sara e James moravam.
Quando o elevador abriu, as meninas já me esperavam com um
sorriso enorme e dando pulinhos e gritinhos que só elas sabiam fazer. A
cada dia que passava, eu amava mais a alegria e calor brasileiro. Não via a
hora de poder conhecer o Brasil e curtir as praias cariocas que as meninas
falavam com tanta empolgação.
— Achei que não viesse mais… — Sara reclamou e envolveu um
braço no meu.
— Se você demora mais dez minutos, eu juro que eu ia te buscar.
— Bela envolveu os braços no meu livre e me puxou para dentro com Sara.
— Não sejam exageradas! — Ri. — Desde quando eu furei em um
compromisso com vocês? — Fiz uma cara feia e as duas reviraram os
olhos.
— Não furou, porque sabe muito bem que iríamos atrás de você e
faríamos as loucas-malucas na sua vida.
— Não duvido!
Nós três entramos rindo e chamando atenção, e quando eu vi, o
apartamento estava cheio. Senti meu rosto queimar quando vi Zac entre os
convidados, e esquentar ainda mais quando uma mini Sara, só que de
cabelos claros, gritou:
— Minha Nossa Senhoraaa, ela é uma princesa de verdade!
Sara traduziu para mim, e disse que a irmã era espontânea e que
estava aprendendo inglês ainda, e se eu tivesse alguma dificuldade em
conversar com ela, era só pedir a ajuda dela ou da Bela.
Ela correu para me abraçar, deixou um beijinho tímido no meu
rosto e alisando o meu cabelo, disse com os olhinhos brilhando:
— Você é linda!
— Muito obrigada! — falei, envergonhada. — Mas, acho que a
única princesa aqui é você.
Seu gritinho de alegria foi tão animado e lindo, que todos
começaram a rir.
— Sami, me ajuda a guardar o casaco da Claire? — Bela pediu e
ela aceitou sem pensar duas vezes, enquanto Sara me puxava e levava para
conhecer seus pais.
A família Wilson, eu já conhecia, assim como Zac que eu tentei me
manter distante o máximo de tempo que eu pude. Na hora do jantar, eu
entrei em desespero quando notei que meu lugar seria ao lado dele. Olhei
para Sara e Bela que me encaravam com divertimento, quando cerrei os
olhos as xingando em pensamento. Cissa e Mary, as mães de Sara e Phillip,
fizeram questão de organizar a mesa, e eu aproveitei para ir ao banheiro.
Ouvi barulho de saltos atrás de mim, e não precisei olhar para trás para
saber a quem pertenciam.
Entrei no banheiro e as duas entraram comigo, como duas crianças
ansiosas.
— Eu não vou sentar do lado dele. — Bufei.
— Por quê? — Bela perguntou, mordendo o lábio inferior para não
rir.
— Porque não!
— Ele mexe com você, né? — Sara perguntou, tentando se manter
séria.
— NÃO! — praticamente gritei. — De jeito nenhum, é só que…
— É só quê? — as duas incentivaram em conjunto.
— É só que ele me irrita com o jeito dele, com a forma como me
olha… com o sorriso sedutor e devasso. Não sei! — falei rápido demais e
além do que eu devia.
As duas explodiram em uma gargalhada e correram para me
abraçar.
— Ruivinha do meu coração, apesar de não trabalhar na empresa
de vocês… eu sei muito bem a fama que Zac tem dentro e fora dela, mas
vou te contar um segredo. — Diminuiu o tom de voz. — Das pessoas que
eu conheci desde quando eu cheguei, ele foi e é uma das pessoas mais
maravilhosas que eu conheci.
— Sou obrigada a concordar! — Sara sorriu com carinho. — Tem
um dos corações mais lindos que eu já vi. E Zac não vai fazer nada que
você não queira, no máximo te provocar. O que ele adora fazer com todo
mundo. Mas isso, você tira de letra, né?
— Sim!
— E, se sentar ao lado dele te incomoda tanto, podemos fazer uma
mudança nos lugares. Não tem problema!
Achei um absurdo a ideia e neguei com a cabeça. Apesar de Zac
Stewart me irritar, eu sabia que não era uma pessoa ruim. E mesmo com a
fama de mulherengo, era um dos diretores mais queridos da empresa pelo
coração bondoso e por saber se colocar no lugar do próximo antes de tomar
qualquer atitude ou decisão. Voltamos para a sala de jantar, e a mãe de Sara
perguntou se estava tudo bem.
— Está sim, tia Cissa! Fomos buscar esse anjo que se perdeu no
banheiro.
A menção da palavra anjo me pareceu um código, porque vi um
sorrisinho de canto de boca surgir nos lábios de Zac e as meninas sorrirem
com carinho para ele, mas logo tratei de jogar minha curiosidade para longe
e me sentei no lugar destinado a mim e pedindo proteção a Deus para não
engasgar ou agredir a tentação ao meu lado que estava lindo todo de preto,
com uma calça jeans e uma camisa de mangas longas e gola alta.
Para completar, seu perfume era praticamente um convite para o
pecado, o tipo que com certeza grudava na pele e no cabelo de uma mulher
para lembrá-la que ele passou na vida dela e no… corpo dela. Era um
perfume levemente amadeirado, com um toque de canela, rosas e âmbar,
não sei. Acho que por trabalhar muito tempo com meus avós na fazenda,
meu nariz ficou bastante apurado com os cheiros do campo. Balancei a
cabeça, e joguei para longe os pensamentos impróprios.
Antes mesmo de o jantar ser servido, brindamos e quando eu fui
dar o primeiro gole em minha bebida, quase engasguei com a pergunta da
pequena Sami.
— Claire, você tem namorado? — Arregalei os olhos e segurei o
líquido na boca. Eu não sabia falar português, mas tinha melhorado bastante
meu entendimento depois que conheci as meninas. E, sem me dar tempo,
ela continuou: — Se não tiver, podia namorar o Zac. Seria como a princesa
Aurora e seu príncipe.
Comecei a tossir e ouvir seus pais chamando a sua atenção, e Zac
alisava as minhas costas com carinho e segurando o riso. Acho que a mesa
inteira estava com um sorriso sem graça, ajeitei minha postura e vi que ela,
apesar de chateada por ser repreendida, ainda esperava por uma resposta.
— Eu não posso namorar agora, sabe por quê? — falei e Sara
ajudou no diálogo.
— Por quê? — A carinha em expectativa me fez querer abraçá-la.
— Porque eu trabalho muito e quando eu chego em casa, eu durmo
igual a Bela Adormecida.
A risadinha dela com a minha desculpa esfarrapada foi tão
espontânea que todos riram e eu me encantei ainda mais por ela.
— Eu sei que não é isso… — disse comendo uma batata frita. —
Mas, meu pai diz que tem coisas que eu só vou entender quando for adulta.
Então… — Deu de ombros. — Vou esperar muuuito tempo.
— Tomara, minha filha. O tempo passa rápido e quando vimos,
vocês já cresceram e vão embora — a mãe disse com uma tristeza e a mãe
de Phillip concordou, emendando em uma conversa de mães.
Samira era exatamente como Sara havia dito. Curiosa, esperta e
encantadora. Estiquei minha mão por cima da mesa e ela fez o mesmo,
balançando os dedinhos junto com os meus e rindo mais um pouquinho.
Todos observavam a nossa interação, mas o olhar que mais pesava sobre
mim era o de Zac que, algumas vezes durante o jantar, esbarrou a perna na
minha, causando arrepios por todo o meu corpo.
Eu sabia que teria que passar por algumas provações, assim que
encontrasse a minha família para passarmos o Natal, como todos os anos.
Mas ser testada de forma pecaminosa antes de uma data tão importante e
reflexiva, não era justo… não era certo! Atirar pedra na cruz não seria algo
que eu faria, mas talvez, em algum momento… eu tenha xingado,
debochado ou feito algo indevido – não!, eu não faria nada disso. Desde a
hora que sentei para o jantar, a comida estava descendo com dificuldade, ao
contrário do vinho que descia com facilidade, esquentando todo o meu
corpo e trazendo uma leveza, que chegava a dar prazer. E o pior era que o
responsável por me deixar desorientada, conversava com tranquilidade com
os amigos… Senhor!
— Quer mais um pouco de vinho, Claire? — Phillip perguntou com
a simpatia de sempre.
— Sim, por favor! Mas só mais um pouquinho, tenho que ir
embora.
— Por quê? — Bela perguntou, ajudando Phillip a encher minha
taça.
— Porque amanhã viajo cedo, esqueceu?
— De jeito nenhum… — Sara veio da cozinha com alguns doces.
— Eu e James te levamos em casa, mas você pode dormir aqui também.
— Imagina! Não precisa…
— Então, você vai comigo e com Phillip, tá bem? Só fica mais um
pouquinho. — Devolveu-me a taça de vinho.
— Não precisa gente, sério…
— Eu te levo.
Parei a taça no meio do caminho, e tentei não demonstrar
nervosismo. Nem fodendo que eu iria com ele, ainda mais depois de beber.
— Não precisa!
— Faço questão.
— Já disse que não! — Acabei aumentando o tom da minha voz
um pouquinho, e recebi um arquear de sobrancelha junto com um sorrisinho
de canto de boca.
— Precisa ser tão arisca?
— E-eu… eu não estou sendo arisca! — praticamente cuspi as
palavras.
— Não é o que parece. — Deu de ombros, girando o vinho na sua
taça.
Nossos amigos nos encaravam, esperando uma resposta da minha
parte, e acabei me sentindo ingrata com alguém que, até então, só queria me
oferecer uma carona.
— Tudo bem! Eu aceito.
A vitória estampada na cara dele me irritou tanto, que se eu
pudesse, quebraria a taça na cabeça dele.
— Eu não mordo, fica tranquila.
— Eu estou. Cão que ladra não morde.
— Só se você quiser!
— Não quero!
Virei o resto do vinho, o ouvindo bufar e a risada dos nossos
amigos, e estendi minha taça para que Phillip colocasse mais.

Despedi-me de todos e tentei manter o máximo de distância


possível do pecado em forma de gente que cantarolava alguma música,
baixinho, com a maior tranquilidade ao meu lado no elevador. Assim que
chegamos à garagem, as luzinhas da SUV esportiva, luxuosa e atraente
como o dono, piscaram. Engraçado que no dia em que aceitei a carona de
Ryan e mesmo no dia do evento da empresa, não reparei o quanto o carro
era gigante e imponente. Zac abriu a porta para mim, reprimi o riso por ver
que o devasso podia ser cavalheiro quando queria e não só ficar entre as
pernas de uma mulher. Senti-me tonta pela quantidade de vinho que ingeri,
mas me mantive firme. De jeito nenhum eu iria demonstrar fraqueza. Pra
quê? Para ouvir que eu era uma mocinha frágil? – não mesmo.
Durante o percurso até o meu apartamento, ele ligou o rádio e
como pegadinha da vida, a música “Cool for the Summer de Demi Lovato”
invadiu o carro, no mesmo instante pude ver um sorrisinho surgir em seus
lábios, quando uma onda quente surgiu entre as minhas pernas e
internamente eu me xinguei por isso.

“Got my mind on your body


And your body on my mind
Got a taste for the cherry
I just need to take a bite (…)”

Eu não queria me deixar influenciar pela Demi e pelo vinho, mas


nos últimos dias, mesmo contra a minha vontade, eu me peguei com a
mente traiçoeira e curiosa, imaginando como seria o corpo de Zac Stewart,
e pela forma como o terno e as roupas casuais encaixavam perfeitamente
em seu corpo, mostrando mais do que devia às vezes, eu tinha certeza de
que esse homem possuía algum pacto ou algo do tipo com o diabo.
— Onde exatamente é a fazenda da sua família, Claire?
Endireitei-me no banco, e respondi focando minha atenção nas
ruas movimentadas de Nova York e nas decorações natalinas, uma mais
linda que outra.
— Em Houston.
— No lugar onde o rural e o urbano se misturam.
— Você já esteve lá? — Tentei não soar com tanta curiosidade.
— Uma vez, em um evento da faculdade. — Riu. — Fizemos uma
viagem para conhecer tudo de bom que o lugar oferece. Você deve conhecer
bem, né?
Respirei fundo, porque nunca aproveitei como deveria e podia a
cidade de Houston. Sempre focada nos estudos e trabalhos, e meu avô dizia
que as mulheres que frequentavam a cidade se perdiam em meio aos
pecados mundanos, quando não, usava meus pais como exemplo.
— Não! Passei a maior parte da minha adolescência na fazenda.
Suas sobrancelhas levantaram levemente, e senti que a sua
curiosidade aguçou, mas para o meu alívio, ele não se aprofundou mais no
assunto.
— O que sua família cultiva na fazenda?
— Morangos. — Sua risada foi espontânea e acabei rindo junto. —
Posso saber o motivo da risada?
— Agora entendo por que é tão apaixonada por morangos.
— Quem disse que sou? — Eu realmente era.
— Ninguém, mas pelo prazer que você come tudo com morango…
— Vi um brilho no seu olhar. — Só um idiota não perceberia.
Minhas bochechas queimaram e meu corpo esquentou, apesar de
estar muito frio. Se eu pudesse, tirava o casaco e o cachecol. Eu precisava
chegar em casa o quanto antes, a dorzinha entre as minhas pernas estava
aumentando cada vez mais. Segurei um pouco mais firme no cinto de
segurança, e quase soltei de forma audível o alívio que eu senti quando
viramos na esquina da rua onde eu morava.
Quando Zac parou o carro em frente ao meu prédio, antes de
agradecê-lo, eu me enrolei para tirar o cinto de segurança, tamanho era o
meu desespero em me manter longe dele, do perfume dele, da imponência
dele… Se havia uma coisa que Zac Stewart tinha era presença, porém eu
não queria ser mais uma seduzida pelo seu rostinho lindo, sorriso devasso e
convite ao pecado. Não mesmo! O cinto me dificultando a sair, me deixou
nervosa e antes mesmo de eu perder total a minha paciência, senti seus
dedos nos meus e algo dentro de mim gritou a ponto de tudo se tornar bem
quente.
— Deixa que eu te ajudo…
Com a cabeça baixa, eu respondi:
— Não precisa.
— Eu faço questão.
— Eu já disse que… — Ele segurou minhas mãos, afastando do
cinto, e quando eu levantei a cabeça para reclamar, sua boca estava tão
perto da minha, que eu pude sentir seu hálito com cheirinho de canela e eu
nem era fã de canela, mas na boca dele parecia que a mistura era perfeita.
Seus olhos foram direto para minha boca e, de forma automática,
ele passou a língua nos lábios e um arrepio passou pelo meu corpo junto
com várias imagens do que ele seria capaz de fazer com a boca vermelhinha
e a barba cerrada entre as pernas de uma mulher.
— Jesus! — falei, ouvindo sua risada e me afastei para que ele
soltasse o bendito cinto para mim. Assim que ele fez, me ajeitei para sair do
carro e foi o tempo dele sair para dar a volta e abrir a porta para mim. —
Muito obrigada pela carona!
— Não precisa agradecer, Claire! Fiz com prazer. — E lá estava o
sorriso de canto de boca que passou a rondar meus pensamentos.
Eu precisava de ajuda, de uma oração… — pensei comigo!
— É, hã… — Pigarreei para que minha voz saísse de forma
decente, e continuei: — Feliz Natal adiantado!
— Para você também, e… — Abaixou para ficar da minha altura e
com a boca a centímetros do meu ouvido, disse: — Boas entradas de Ano
Novo! — Abri a boca chocada com o duplo sentido e antes mesmo de
respondê-lo à altura, seus lábios tocaram minha bochecha como labaredas
no frio e sua voz tocou a minha pele como uma seda suave. — Boa noite e
boa viagem, anjo!
Sem responder, me forcei a subir as escadas do meu prédio e
tomando todo o cuidado para não escorregar na minha própria excitação.
Será que eu era uma pervertida?
Se eu fiz algo de errado em outras vidas, Pai… perdoa sua filha e
leva para longe toda e qualquer tentação. Principalmente a tentação
devassa… ZAC STEWART! Eu te imploro!
Capítulo 6
Lar doce lar!

Estar de volta em casa era uma mistura de alegria e dor de cabeça.


Eu amava minha família, mas tinha dificuldade em lidar com as piadas,
deboches e brigas que começavam por muitas vezes com um simples “bom
dia” ou um favor. Quem visse a família Evergarden por um porta-retratos,
juraria que éramos a típica família de comerciais onde tudo eram sorrisos e
flores, mas as aparências enganavam e muito quando se tratava do meu “lar
doce lar”. Todas as vezes que eu vinha para casa, amava descer do táxi na
entrada da fazenda e caminhar com calma sentindo a brisa fresca do início
do dia e o cheiro adocicado dos morangos que eu tanto amava. Era único e
nostálgico. Era cheirinho de infância.
Eu podia ver ao longe os mesmos e poucos funcionários dedicados
de anos, minha avó servindo um suco geladinho como de costume e meu
avô no meio de todos com a mão na terra e analisando os morangos que
eram colhidos. Meu sorriso se ampliou, e quando dois pares de olhos me
encararam ao mesmo tempo, com um misto de emoção e saudade, eu me
tornei a menina de sempre largando minhas bolsas no chão e com o vento
batendo em meu rosto, corri em direção às pessoas que amava e me
ensinaram tanto.
Quando cheguei perto, fui recebida pelo meu avô, que apesar da
idade, tinha braços fortes e me girou beijando a minha cabeça, e quando
meus pés tocaram o chão, o abraço mais delicado do mundo me envolveu.
— Ah, minha menina! Que alegria te ver aqui. — Dona Olívia se
afastou e me analisou com carinho. — Tomara que esses dez dias não
passem voando. Quero te mimar!
— Eu também espero que não, vovó… — Sorri emocionada. —
Estou morrendo de saudade da melhor comida do mundo todo.
Sua risada foi música para os meus ouvidos.
— Não me iluda que eu acredito! Você ainda vai viajar este
mundo, e depois vamos ver se a minha comida continuará sendo a sua
preferida.
— Você está diferente, minha neta!
Por um instante, meu sorriso congelou no rosto e minha avó
percebeu.
— Está mais linda, Afonso! — minha avó rebateu.
— Não… não é isso, porque ela sempre foi linda… — Segurou em
meu rosto, apoiando as mãos uma em cada lado, analisou e franziu as
sobrancelhas. — Desde quando você usa maquiagem, Claire?
— Vovô… — A alegria em estar de volta começou a se dissipar.
— Não é possível que você seguirá pelo mesmo caminho da sua
mãe! — resmungou, chamando a atenção de alguns funcionários. —
Maquiagem, as roupas mais apertadas… o que aconteceu com você nesses
últimos meses? Tem ido à igreja? — Bufou ao final da frase que desceu
rasgando a minha garganta.
Que recepção! — pensei.
— Que caminho, pai? — Tomei um susto. — O da liberdade e o de
fazer as próprias escolhas, ao invés de seguir suas regras como seus
soldados faziam?
De onde minha mãe surgiu com a sua voz atrevida e provocativa?
— Eu nunca tratei vocês assim — meu avô rebateu e fechou a cara.
— Só não quero que a Claire siga pelos mesmos…
— Pelos mesmos caminhos que os meus, pai? Querer ser feliz,
amar e ser amada? Ahhh… eu nunca serei boa o suficiente para o senhor,
né? Não! Mulheres que não casam virgens, que amam dançar, beber, viver a
vida… não são dignas do reino dos céus, né? É isso que pregam na sua
igreja, ou será que está em alguma passagem da Bíblia que eu ainda não li?
— Jesus! Parem já com isso! — minha avó tentou acalmar os
ânimos. — A menina acabou de chegar. Será pedir muito uma trégua na
véspera de Natal?
Os dois pediram desculpas à minha avó. Senhor Afonso voltou a
focar no trabalho, dizendo que já estava na hora dos funcionários curtirem
com suas famílias e minha mãe se aproximou de mim.
— Oi, mãe!
— Oi, minha filha! Você está ainda mais linda! — O calor do
abraço da minha mãe me acalmou, e ao mesmo tempo me deixou triste. As
brigas dela com meu avô era o motivo da família Evergarden desmoronar
cada vez mais.
Vovô nos tratava como se fôssemos soldados e não admitia falhas,
e Grace Evergarden o afrontava com frequência pela sua liberdade e a
minha, com brigas que vinham se arrastando desde os seus dezesseis anos e
que minha avó tentava apaziguar.
— Muito obrigada! — Sorri. — Cadê o papai?
— Foi terminar umas entregas e daqui a pouco está chegando. —
Meus pais tinham uma loja de vinhos no centro de Houston e as épocas
festivas eram as que eles mais lucravam. — E me conta, as novidades? Já
está namorando?
Ouvi meu avô resmungando e minha avó revirando os olhos.
— Não, mãe!
— Como não? — Sua cara de espanto me fez rir.
— Preciso pegar minhas malas.
— Eu te ajudo e você conta a vida em Nova York.
Fomos abraçadas até as bolsas, e no meio do caminho não resisti e
colhi dois morangos e me deliciei, enquanto minha mãe falava cheia de
alegria sobre a vida. Ela queria que eu falasse, mas começou primeiro e eu
amava, porque o foco saía de mim e da minha vida sem graça. E olhando
para os morangos vermelhos, suculentos e bonitos, meus pensamentos
foram direto para onde não deviam. No devasso do Zac Stewart, e no seu
sorriso de arrancar suspiros.

Apesar do clima familiar tenso, no momento da ceia minha família


sabia deixar as diferenças de lado e agiam de forma civilizada como se
fôssemos uma família regada de amor e paz. Marc Smith, meu querido pai,
chegou poucas horas antes de cearmos, os singelos presentes ficariam para
o dia seguinte, na manhã de Natal, como sempre fazíamos desde a minha
infância. Conversamos, rimos e bebemos um vinho na enorme sala ouvindo
as músicas de Frank Sinatra que meu avô tanto amava.
As horas passaram e antes da meia-noite, estávamos nos
recolhendo e cada um indo para seu devido quarto, pois às oito da manhã
estaríamos reunidos novamente para dar continuidade às tradições. Enfiei-
me debaixo das cobertas, achando que dormiria rápido devido à viagem e as
duas taças de vinho que foram monitoradas pelo meu avô, mas o sono
resolveu dar uma volta por Houston e me abandonar quando eu mais
precisava dele.
Peguei meu celular, entrei no Instagram e me assustei com a
quantidade de novos seguidores que surgiram, até nisso as meninas me
ajudaram a dar uma repaginada, e apesar das poucas fotos, desde o evento
da empresa, eu fui de quatrocentos seguidores para mil e, entre eles, estava
quem vinha infernizando a minha mente. Zac Stewart com milhares de
seguidores e curtindo as minhas fotos. Sentei na cama um pouco ansiosa e
como qualquer pessoa curiosa, entrei no Instagram dele para fuxicar. Um
erro grave!
Perdi-me na hora olhando as fotos de tantas viagens, eventos,
festas e óbvio… o que me chamou mais atenção foram as fotos dele e Jacob
que eram a maioria, e a última havia sido postada há cinco horas, ambos
estavam vestindo suéteres iguais, o que me fez rir. Porém achei estranho ter
somente os dois em uma foto na véspera de Natal e, jogando a vergonha de
lado, entrei nos stories e fiquei surpresa de ver que só tinham os dois.
Fiquei pensando se a família dele morava longe assim como a minha, ou se
era uma pessoa sozinha. Balancei a cabeça em negativa. Como alguém
como ele poderia passar o Natal sozinho? Impossível!
Quase três da manhã, decidi deixar meu celular de lado e dormir,
afinal, o dia seguinte seria o último de trégua familiar, e os próximos dias
seriam longos, estressantes e nada divertidos.
Era estranho olhar pela janela do carro e ver as pessoas andando às
pressas pelas ruas movimentadas e decoradas da cidade, e muitas
esbanjavam um sorriso tão grande nos lábios, que eu me perguntei se
realmente era felicidade pelo clima natalino ou se estavam congelados
devido ao frio. Talvez fosse meu lado amargurado por não saber o que era
de fato sentir a emoção do Natal.
Continuei focado na estrada, e ouvindo em uma rádio qualquer a
voz doce de Mariah Carey cantando um dos seus hits natalinos. Olhei para
o banco do carona, passei a mão no cabelo e bufei frustrado por não poder
trazer Jacob para o tão esperado, feliz e emocionado almoço de Natal da
família Stewart. Parei o carro em frente à enorme mansão e a quantidade de
carros me tirou um pouco do sério, pois seria mais um dia vinte e cinco
estressante. Faria o meu papel de filho, e depois iria para casa ficar com
Jacob. Meu cachorro era uma companhia melhor do que muita gente,
começando pelas que estavam dentro da casa.
Entreguei as chaves para o manobrista, agradeci e ajeitei meu
sobretudo. Caminhei em direção à entrada e, antes de entrar, como se
estivesse sendo vigiado, a porta abriu e Cameron Stewart, com sua postura
engessada e inabalável, apareceu.
— Como sempre, a pontualidade não faz parte dos seus hábitos.
— Alguém nessa família perfeita tinha que ter um defeito, senhora
Stewart. — Sorri.
— Engraçado que você e seu irmão tiveram a mesma educação, e
ele nunca foi debochado como você. Vem cá… — Me ajudou a tirar o
sobretudo, e me analisou da cabeça aos pés.
— Toda família tem uma ovelha rebelde… — Beijei sua testa
vendo a sombra de um sorriso. — Já acabou a inspeção? Porque se eu não
estiver à altura dos seus convidados, não me importo em voltar para a
minha casa e ficar…
— Com seu querido cachorro Jacob ou uma de suas conquistas. É
o que eu mais vejo na rede social — disse, bufando.
— A vida é feita de diversões, mãe…
— E de responsabilidade, coisa que você ainda não encontrou. —
Edgar Stewart surgiu ao nosso lado com seu traje impecável e uma taça de
vinho na mão.
— Se eu não tivesse encontrado ainda, estaria vivendo debaixo do
seu teto e seguindo as suas regras, meu pai… — Um garçom passou e eu
aceitei uma água, não estava com clima para beber. — E neste caso, a
irresponsabilidade está nos olhos de quem não consegue tudo o que quer.
— Até em época festiva, você não deixa de ser petulante. — A
seriedade se firmou em seu olhar, e a taça tremeu de leve em sua mão. E a
mão escondida no bolso da calça, provavelmente estava fechada em punho.
— Só estou devolvendo as boas-vindas que o senhor me deu.
— Por favor… parem com isso! — Minha mãe endireitou a
postura e ficou entre nós dois. Se tinha uma coisa que a deixava apavorada,
era expor sua família nada perfeita perante as suas amigas. — A casa está
cheia.
— No que depender de mim, vamos viver o espírito natalino da
típica e perfeita família americana. — Sorri por fora, mas por dentro a
mágoa gritava em mim. Não conseguia lembrar quando uma data que eu
amava tanto deixou de ter a devida importância perto daqueles que eram a
minha família. — Feliz Natal, pai! — Ergui o copo d’água passando por
ele.
— Feliz Natal, filho! — Um feliz natal da boca para fora.

Passei a tarde rodeado dos meus familiares e dos amigos dos meus
pais, com suas filhas e filhos tão entediados quanto eu, mas que não tinham
coragem de enfrentar seus pais para serem felizes do jeito e da forma como
achassem que era conveniente, e muitos não enfrentavam porque não
queriam perder a mordomia e a vida boa que seus pais lhe davam. O único
momento que valeu a pena foi quando meu irmão se esquivou dos sócios e
se aproximou com dois copos de uísque.
— A sua animação me contagia, irmãozinho!
Ri sem vontade, e aceitei de bom grado o uísque.
— Alguém precisa animar esta linda festa em família, não acha?
Joseph riu de forma espontânea como sempre, e chamou atenção
para nossa direção.
— Existem coisas que não mudam, e você ainda mata nossos pais
do coração.
— Se eles tivessem curtido os prazeres da vida de forma correta,
com responsabilidade e usado o principal: a camisinha… eu não teria
nascido dez anos depois de você.
Meu irmão não aguentou e explodiu em uma gargalhada mais alta
que a primeira, recebendo um olhar de repreensão dos nossos pais. E
quando se acalmou, disse:
— Tenho certeza absoluta que nosso pai usou camisinha, ainda
mais metódico do jeito que ele é, e de duas uma… ou a camisinha estourou
ou a nossa mãe furou.
Foi a minha vez de rir, mas de um jeito mais contido.
— Você fala de mim, mas a sua esposa não aguenta mais sorrir e
dá para ver pelo olhar dela o desespero. — Bebi mais um gole do uísque e
entreguei para o garçom que passava, até porque eu voltaria dirigindo para
casa. — Minha cunhada está louca pra ir embora, coitada!
— Foda! — Meu irmão suspirou. — Assim como você, ela não
suporta as sociais dos nossos pais, mas prometi que vou compensá-la no
Ano Novo. Vamos passar com os pais dela e depois curtir uns dias só nós
dois.
— Certo é você e um sortudo do caralho por ter a Nora na sua
vida… — Bati de leve em seu ombro. — Não é toda mulher que abre mão
de estar com a família para aturar a família sem emoção do marido.
Joseph olhou apaixonado para a esposa e sorriu.
— Verdade! Por isso que eu faço tudo por ela.
— Trouxa! — provoquei antes de me despedir.
— Um dia, você será igual ou pior.
Fiz uma careta.
— Não morro desse mal. — Meu irmão gargalhou de novo.
— Veremos, pequeno Zac!
Despedi-me à distância dos meus pais, sendo repreendido com seus
olhares pela minha saída antes da hora e entrei no meu carro, ansioso para
estar em casa.

Assim que cheguei, foi como tirar um peso das minhas costas e
receber o amor e carinho, de fato, que eu tanto queria. Jacob fez uma festa
como se não me visse há dias, e sua reação foi o suficiente para me fazer
sorrir de forma leve e verdadeira. Deite-me no sofá, e quando peguei meu
celular… meu sorriso se ampliou por ver que a ruivinha mais arisca que eu
já conheci, havia aceitado a minha solicitação para segui-la no Instagram.
Não perdi tempo e olhei foto por foto, assim como seus stories e
era nítido ver que a menina Claire estava desabrochando e se tornando uma
mulher cada vez mais linda e iluminada. Uma foto dela em meio aos
morangos e comendo um, me deixou louco.
— Sexy sem ser vulgar, ruivinha! — pensei alto e Jacob meneou a
cabeça de lado para me observar. E, por algum motivo, eu me vi curtindo e
comentando na foto.

“A ruivinha dos morangos!”


Daria tudo para ver a reação dela, e esperava que não fosse me
bloquear. E só de pensar na possibilidade um arrepio percorreu meu corpo,
e levou sangue demais para um lugar do qual eu não esperava.
Capítulo 7
A provocação tem nome!

Acordei com batidas leves na porta do meu quarto e ouvi a voz


animada da minha avó, avisando que o café já estava na mesa e que eu tinha
dez minutos para descer. Peguei meu celular para ver a hora e quase chorei
quando vi que eram dez para as oito, e eu nunca senti tanta falta do meu
cantinho como naquele momento. Eu ainda era disciplinada como fui
ensinada desde criança, mas na minha casa… no meu espaço eram as
minhas regras, do meu jeito e no meu momento. Porém na fazenda a regra
era dos meus avós e, por amor e respeito, eu continuaria seguindo.
Arrastei-me pela cama e caminhei o mais rápido que eu pude,
tentando manter meus olhos abertos, até o banheiro. Lavei o rosto, escovei
os dentes e olhei pela janela para ver o dia. O céu estava azul, manchado
com algumas nuvens brancas indicando que estava um pouquinho frio.
Vesti uma camisa xadrez de manga longa, minha jardineira jeans que eu
amava usar quando vinha à fazenda e tênis. Prendi o cabelo em um coque
frouxo e desci como solicitado pela minha avó, e já no fim da escada, senti
o aroma do café fresquinho.
Minha mãe e meu pai haviam ficado para abrirmos os presentes e
mantermos a tradição de Natal e, logo em seguida, foram embora para
visitar uns amigos. Prometi que os visitaria na cidade durante a semana e
que também passaria o Ano Novo com eles, a contragosto do meu avô.
No fim da tarde, depois que dei uma volta com meu avô pela
fazenda e ouvi um pouco sobre como estava todo o processo da fazenda,
lavei as mãos e corri para a cozinha, onde meus avós já me esperavam na
mesa para o café da tarde.
— Vô… — Dei um beijo em sua testa, e depois fiz o mesmo com a
minha avó. — Que cheirinho bom de café, vó!
Sentei-me para ser servida pela minha avó que amava mimar a
família e os amigos.
— Dormiu bem de ontem para hoje? Falamos da fazenda, mas não
de como você está se sentindo — meu avô me perguntou, enquanto lia o
jornal.
— Dormi sim, mas confesso que devido à rotina corrida de Nova
York e agora a tranquilidade da fazenda, passaria um dia inteirinho deitada.
Ele me olhou por cima do jornal, como se eu tivesse duas cabeças,
ou como se eu fosse louca por pensar na possibilidade de descansar um dia
inteiro. Respirei fundo e minha avó percebeu. Afinal, que mal tinha em
querer descansar um pouco?
— Tire um dia para você, minh…
Meu avô a interrompeu:
— Achei que estivesse com saudade da fazenda.
— Eu estou, só ando…
— Que ótimo! — me interrompeu. — Já que dei folga para os
funcionários esta semana, vou precisar de ajuda. Hoje, foi só uma volta para
você ver como as coisas estão.
— Sim, senhor! — Minha avó balançou a cabeça, insatisfeita, mas
desistiu de bater de frente e mudou de assunto, falando algo sobre a igreja
que eles frequentavam.
Tomei meu café observando a interação, o amor e o carinho entre
os dois, e me fiz vários questionamentos. Como duas pessoas opostas
conseguiram viver durante tanto tempo bem? Meu avô, cheio de regras e
com seu regime militar constante, minha avó delicada e sempre muito
paciente. Talvez seja porque meu bisavô materno também era militar e, de
alguma forma, minha avó conseguiu lidar. Pode ser que sim ou pode ser que
não, nunca tive a oportunidade de ter uma conversa assim para saber como
ela se sentia ou pensava.
Meu celular vibrou na mesa, e eu sorri quando abri as mensagens.
Sara e Bela me enviando fotos do dia de Natal e dizendo que já estavam
com saudade. Respondi e aproveitei para olhar o Instagram na hora errada e
no momento errado. Abri as notificações e fui ver os comentários na foto
que eu havia postado, e engasguei com o café quando li.

“A ruivinha dos morangos!”

Pisquei os olhos várias e várias vezes, sentindo minhas bochechas


queimarem e todo um calor se espalhar pelo meu corpo, quando o
responsável pelo comentário era Zac Stewart. Tossi mais um pouco, e senti
as mãos delicadas da minha avó acariciando as minhas costas.
— Está tudo bem?
Sorri sem jeito, pegando um guardanapo e limpando a boca.
— Está sim, vó! Só lembrei que esqueci de mandar um e-mail
importante de trabalho, e fui cobrada agora.
— Hum… Essa cidade, esse trabalho não estão fazendo bem para
você — meu avô resmungou. — Deveria ter continuado aqui. Agora até
celular usa na mesa do café. — Bufou.
— Me desculpe!
— Termine o café, Claire, e depois você mexe nesse negócio.
— Sim, senhor!
A rigidez e até mesmo a bronca do meu avô não me incomodaram,
eu havia me acostumado. O que me incomodou foi o calor absurdo que
surgiu entre as minhas pernas com um simples comentário, na verdade, de
simples não tinha nada… aquele homem era a provocação em pessoa.

No dia seguinte, me dediquei a ajudar meu avô nos afazeres da


fazenda, como fazíamos quando eu era criança. E apesar do cansaço, o dia
passou tão rápido que não percebemos. Só quando minha avó foi avisar que
o jantar estaria pronto em uma hora e deveríamos estar prontos, pois
teríamos visita. Olhei para o meu avô, e vi o resquício de um sorrisinho,
algo que me incomodou bastante.
— Quem são os convidados? — perguntei, prendendo uma mecha
de cabelo atrás da orelha.
— Você saberá assim que eles chegarem.
— O senhor sabe que não sou fã de surpresas, né?
— Sim. — Tirou as luvas e guardou no bolso traseiro da calça
jeans. — Mas você vai gostar.
Eu esperava que sim, pois a última surpresa, eu havia odiado. E
que Deus me desse forças para não odiar essa também.
Assim que terminei de me arrumar, fui até a janela do meu quarto e
admirei um pouco do céu estrelado que, por tantas vezes, foi meu
companheiro. Senti uma vontade enorme de deixar a menina livre e
exploradora que um dia eu fui, e sair pela janela, ir para cima da casa e
deitar no telhado, me perdendo nas horas. Somente eu e essa imensidão
negra com pontinhos brilhantes. Era uma fase da qual eu estava me
descobrindo. Sonhos, projetos e a vontade de ganhar o mundo, sendo eu
mesma e vivendo todas as loucuras que a vida me permitisse.
Senti meu celular vibrar em minhas mãos e como ainda faltavam
alguns minutos para eu descer e me juntar aos meus avós e a tal visitava
surpresa, aproveitei para olhar as minhas notificações, já que eu voltei a ter
treze anos e estava proibida de levar o meu celular comigo para as
refeições. Uma a uma, eu fui visualizando e respondendo, porém quando
passei pela mensagem que havia ficado sem resposta do responsável que me
irritava e vinha despertando o pior em mim, pensei por uns instantes se eu
deveria responder ou não, e decidi que sim.

“Cada um tem a fama que merece!”

Respondi um pouco nervosa e com um sorriso no rosto,


imaginando qual seria a reação dele. Provavelmente, ele iria se divertir com
a minha resposta. Se havia alguém que não se importava com a fama de
mulherengo, esse era Zac Stewart, mas ainda assim eu quis provocá-lo,
irritando-o ou não.

Na hora do jantar, eu quase caí dura no chão da sala quando vi


quem eram as nossas visitas – uma em específico –, e senti vontade de sair
correndo até sentir meus pés esfolarem. Eu queria gritar e perguntar o que
deu nos meus avós para convidarem Billy Brown… meu primeiro amor não
correspondido, o cara mais cobiçado da cidade na minha adolescência e o
responsável pelo sexo mais frustrante da minha vida.
— Ah, olha ela aí! — meu avô começou e eu tentei sorrir, com
certeza o sorriso mais engessado da minha vida. — Claire, lembra da
família Brown?
Claro que lembro, senhor Evergarden! – eu queria gritar. – O Billy
que o senhor sempre achou um santinho, foi o cara quem tirou a virgindade
da sua neta atrás da sua casa, no seu armazém – pensei em dizer isso, mas
sorri e respondi com toda educação:
— Boa noite! Lembro sim… tudo bem? — cumprimentei, o mais
simpática que eu pude, sentindo os olhos de Billy pesando sobre mim e meu
corpo.
— É ótimo poder revê-la, Claire — Billy respondeu sorrindo. —
Acho que já faz uns cinco anos, acertei?
— Acredito que sim, Billy! Os dias passam tão rápido para mim,
que às vezes eu me perco no tempo.
— Isso é verdade! Depois que Claire se mudou para Nova York,
vive na correria entre trabalho e estudos, o que tornou suas visitas raras —
minha avó disse com carinho e tristeza.
— Se eu pudesse, já teria trazido ela de volta, mas sabe como são
os jovens… crescem, se tornam independentes e vivem a vida à maneira
deles. Eu adoraria que as regras de hoje fossem como na minha época.
Respirei, aliviada, por saber que as coisas haviam mudado. Apesar
de respeitar muito meu avô e as suas regras, se tinha uma coisa que eu não
abriria mais mão, era da minha liberdade e a vida que eu vinha batalhando
tanto para ter.
Recebi os cumprimentos dos pais de Billy e um beijo dele na
bochecha mais demorado do que eu gostaria, e fomos para a mesa de jantar
que já havia sido organizada pela minha avó. Na hora de sentar, meu avô
sentou em uma ponta da mesa e minha avó em outra, deixando as cadeiras
vagas para mim, Billy e os pais dele, e o resultado foi Billy ao meu lado. Se
antes eu estava com fome, ela simplesmente foi embora dando pulinhos de
alegria sem olhar para trás.
O assunto principal da noite foi a igreja que todos frequentavam
aos domingos, e depois sobre a economia na cidade. Em um determinado
momento, Billy puxou assunto comigo e eu vi que meu avô ficou satisfeito,
o que me incomodou bastante. Senti-me como a minha mãe, só que sendo
controlada de forma implícita.
— Como vão as coisas em Nova York? Sente falta daqui… dos
amigos?
— Em Nova York, não poderia estar melhor, e amigos? — Parei
por um instante, e olhei dentro dos olhos dele sem piscar e percebi seu
desconforto. Billy era muito bonito. Loiro, alto, o corpo atlético e com
olhos verdes, mas o brilho que eu enxergava neles deixou de me agradar,
me atrair… depois da nossa noite no armazém. — Você quer dizer os seus
amigos que eu achei que fossem meus amigos? Bem… não sinto falta, não.
Só da minha família.
— Claire… — Billy tentou tocar minha mão, e eu afastei, sorrindo
de um jeito que não alcançou meus olhos e respondendo a uma pergunta
que sua mãe havia feito.
No restante do jantar, Billy não tentou mais puxar assunto comigo
e eu agradeci a Deus por isso. Eu não o odiava, mas não queria alguém
como ele na minha vida. Não alguém que brincou com os meus sentimentos
para se sentir bem e mostrar que era o garanhão da cidade, e para completar
com uma plateia que ovacionou todas as merdas que ele fez como se o cara
fosse um rei.
Antes da família Brown ir embora, tomaram um cafezinho na sala,
conversando um pouco mais, e quando eu achei que Billy iria me deixar em
paz, ele perguntou na frente de todos se poderia conversar um pouco
comigo na varanda. Todos os olhares se voltaram na minha direção e me
senti encurralada em dizer não, e balancei a minha cabeça, dizendo que sim.
A noite estava fresca e linda, senti uma vontade enorme de correr para cima
da casa.
— Sei que já se passaram alguns anos, mas eu queria te pedir
desculpas pelo que eu fiz.
Continuei com meus braços cruzados, e olhando para frente,
sentindo a brisa leve tocar meu rosto.
— Você se arrepende de verdade do que me fez, Billy? — Quando
ele ia responder, levantei minha mão direita e olhei para ele: — Não, não!
Corrigindo… você se arrepende pela aposta que fez com seus amigos em
me conquistar e tirar minha virgindade?
Seus olhos arregalaram com a firmeza e tranquilidade que eu
falava, e provavelmente se assustando com a mulher que eu havia me
tornado, afinal… ele não estava mais diante da menina de cabelos ruivos e
ingênua que ele havia conhecido. Pelo menos, não para ele e não na frente
dele.
— Claire… eu era imaturo, um babaca e me senti um merda depois
do que aconteceu e quando eu vim na fazenda para me desculpar, você já
havia ido embora.
— Veio pedir desculpas quase um mês depois? — Ri sem vontade.
— Eu mudei, Claire, e por esse motivo eu vim para o jantar. Pra
me desculpar e te pedir uma chance de me redimir…
— Billy, se você mudou ou não mudou, de verdade? Isso não me
importa… não mais! Agora se você realmente se arrependeu, que bom. Pelo
menos assim você não será um babaca com outra mulher.
Tentei passar por ele antes de entrar, e ele me parou, praticamente
encostando-se em mim.
— Eu nunca soube como você se sentiu, afinal, era a sua primeira
vez.
— Frustrada! Eu esperava mais, mas pensa pelo lado positivo… —
Sorri e falei baixinho: — Você gozou em menos de um minuto.
— Eu sou melhor que isso, eu posso…
— Boa noite, Billy!
Entrei em casa e, pela primeira vez, olhei para meus avós de cara
feia antes de subir as escadas e esperava que eles não me perturbassem. Eu
só queria ficar sozinha, sem ninguém falando um “ai” na minha cabeça.
Peguei uma manta no armário, passei pela janela e escalei para cima da
casa. Estiquei com cuidado, e me cobri com o pedacinho que sobrou e ali eu
fiquei. Por um momento, minha cabeça nada pura, imaginou como seria
fazer sexo ali, à luz das estrelas e totalmente livre, e enquanto eu
imaginava, meu celular vibrou e, como brincadeira do destino, a notificação
apareceu.

Zac Stewart curtiu o seu comentário.


Zac Stewart respondeu ao seu comentário.

Peguei o celular e ri com a resposta.

“Não fale da minha fama, sem antes ter conhecido… Ruivinha!”

E depois de ler, desejei com o corpo quente e coração acelerado,


que ele estivesse no telhado entre as minhas pernas e fazendo valer a fama
que ele carregava. Devasso!
Capítulo 8
Dominando meus pensamentos!

Era mais um ano se despedindo para que um novo desse as caras e


fizesse um papel melhor. Não que o ano tivesse sido uma merda, mas
tinham coisas que infelizmente não mudariam. Como a minha relação
familiar, por exemplo. Era algo que eu havia me acostumado com tantos
anos passando pelas mesmas coisas, que às vezes eu me perguntava se meu
coração estava no lugar certo, ou se estava na sola do meu pé de tão frio e
distante que eu me tornava. Porém, quando eu encarava a bondade e a
pureza nos olhinhos castanhos de Jacob, e olhava os meus amigos como
agora… sorridentes, falando alto, me abraçando e me tratando com carinho,
eu sabia que nem tudo estava perdido e que nem todo mundo era egoísta.
— Animado para um novo ano, irmão? — Phillip disse me
entregando uma taça de espumante. Estávamos em mais uma das tão
faladas e esperadas festas de Ano Novo da tia Mary, mãe de Phillip. Não
importava a nossa idade, se não a chamássemos de tia, era um enorme
problema que arrumávamos para a nossa vida.
— Um novo ano é sempre um novo ano, irmão. Como não se
animar?
Por mais que eu falasse com um sorriso no rosto, eu sentia em mim
que faltava algo.
— Quem sabe, neste novo ano, você não conhece o “anjo” que vai
mudar a sua vida? — James se aproximou, jogando o braço por cima dos
meus ombros. Estávamos nos divertindo vendo o seu comportamento, agora
que seria pai. Ora estava sorrindo, e ora puxava os cabelos com as
mudanças de humor da Sara.
— E eu preciso que minha vida seja mudada? — Fiz uma careta.
Eu queria um anjo, mas não estava desesperado, muito menos precisava que
algo fosse mudado. — Vocês já fizeram esse papel por mim, não preciso ser
mais um.
— É assim que a gente cai, irmão. — Phillip riu. — E confesso que
não vejo a hora desse dia chegar para você. James… você vai querer
comemorar com uísque ou cerveja?
— Neste caso, acho que a cerveja será bem-vinda. A gente relaxa e
assiste de camarote.
— Vocês são dois cuzões do caralho, sabia? Não tente me levar
para o lado obscuro da força. — Bufei.
— Não precisamos… você vai pedir para entrar! — James riu com
a sua postura prepotente de sempre, sendo que foi o primeiro a se foder, e
como se lesse meus pensamentos, Phillip começou a rir, o irritando.
Pouco tempo depois, as meninas se aproximaram, animadas e
empolgadas como só elas sabiam ser e informando que faltavam menos de
três minutos para a contagem regressiva. Esperamos pacientemente e
quando começou, e o novo ano chegou de fato… vendo a troca de carinhos
dos meus amigos com as mulheres que eles amavam, senti um aperto no
peito e eu não sabia por que, queria que Claire estivesse presente. Meus
pensamentos foram até ela, e até mesmo na hora que quatro braços
delicados me envolveram de uma única vez com carinho e muitos beijos
foram depositados em meu rosto, eu não consegui parar de pensar nela.
— Pra que um anjo, se eu tenho uma princesa e uma linda que me
amam? — As duas começaram a rir sabendo da minha provocação,
enquanto James praguejava uns palavrões baixinho e Phillip balançava a
cabeça, rindo.
— Nós te amamos, meu bem — Sara começou —, mas nada de
deixar seu anjo de lado.
— Até porque, ele está mais próximo do que você imagina — Bela
falou com um ar cúmplice e piscou para a amiga.
— O que as duas sabem que eu não sei?
— Que a vida pode te surpreender — Bela continuou.
— VAMOS LIGAR PARA A CLAIRE! — Sara gritou de repente,
chamando a atenção para nossa direção, e fazendo as pessoas rirem com seu
jeito espontâneo.
Pediu a James seu celular e discou o número da ruivinha que não
saía dos meus pensamentos. No terceiro toque, ela atendeu, e assim que seu
rosto angelical apareceu na tela… senti meu coração acelerar, e meu amigo
antes quieto dentro das calças, deu sinal de vida. Como se soubessem o que
fariam, as três gritaram juntas: Feliz Ano Novooo!
— Onde você está, sua ingrata? — Sara disse em um
aborrecimento fingido.
Sua risada leve preencheu o ar e eu amei ouvir o som.
— No centro da cidade de Houston, na casa dos meus pais.
— Afasta o celular pra gente ver o seu look… — Bela disse,
animada.
Na hora, ela apoiou o celular em algum lugar, e levantou
empolgada para mostrar a roupa para as amigas e quando ela apareceu na
tela de corpo inteiro, vestindo um minúsculo vestido rosa de cetim e com os
cabelos soltos e levemente selvagens, meus pensamentos viajaram rápido
demais para as possibilidades e situações prazerosas que poderia
proporcionar a ela, e em todas… eu teria Claire à minha mercê, exausta e
ainda assim… pedindo por mais!
— Puta que pariu! — soltei baixinho, mas nunca passava
despercebido.
— Quer um babador, irmão? — Phillip perguntou, segurando o
riso.
— Você precisa relaxar… pra ontem! — James disse rindo e
tomando um gole do espumante.
— Vão se foder! — rebati.
— Ai. Meu. Deus! — as meninas cantaram como um coro.
— Linda, perfeita, gostosa e sexy pra um caralho… — Bela disse
sem o seu filtro de costume, e o vermelho dominou a pele clara, deixando
Claire ainda mais sexy.
— Muito obrigada! Tive ajuda de vocês, seria impossível não me
sentir bonita.
— Gata… você é perfeita! Só aceita — Sara completou. — Os
meninos querem falar com você.
Virou o celular na nossa direção e um a um foi falando com ela, e
na minha vez… o vermelho reacendeu em suas bochechas.
— Feliz Ano Novo, Ruivinha! Espero que esteja curtindo.
— Feliz Ano Novo, Zac! Não como eu gostaria, mas estou
tentando.
— Então, que venha a curtição que você tanto espera.
— Só se ela valer a pena! — Senti um desafio por parte dela, e
gostei do que vi e ouvi.
— Basta você querer, porque tenho certeza que oportunidade não
vai faltar.
Levantei a minha taça para ela, e de onde ela estava, fez o mesmo.
As meninas falaram mais um pouco e depois se despediram. Assim que
Sara devolveu o celular para James, deu um tapinha em meu braço.
— Ai!
— Safado!
— O que eu fiz? — Contive a risada e ela também, assim como
todos.
— Cuidado que você pode se surpreender, hein? Às vezes o
caminho pode parecer fácil, e do nada, ele fica estreito.
— Como assim? — Levantei uma sobrancelha em questionamento.
— Vamos ver o que este novo ano preparou. — Arrebitou ainda
mais o nariz, deu a mão para Bela e as duas se afastaram sorrindo.
— Que porra foi essa?
— Duas brasileiras criando um vínculo de amizade cada vez mais
forte com a Claire, ou seja… você está fodido! — Phillip disse rindo, e
James o acompanhou.
O ano começou mais animado do que eu esperava, e mesmo sem
saber o que iria acontecer… eu estava ansioso pelo que viria, e se o que
viesse… mudaria a minha vida de um jeito que eu nunca imaginei ou não.
Capítulo 9
De volta à rotina!

O recesso passou como um piscar de olhos, e apesar de amar os


meus avós… eu nunca estive tão feliz por estar de volta ao meu cantinho.
Ao meu apartamento pequeno e aconchegante, e que eu tanto amava.
Domingo era um dia que me deixava reflexiva sobre a semana que passou e
o dia que eu tirava para organizar a semana seguinte, disciplina que adquiri
desde que comecei a morar sozinha. Foi quando eu descobri que seria a
única responsável pela minha vida daquele momento em diante, sem pais e
nem avós para preparar minhas refeições e até mesmo organizar a casa
enquanto eu estivesse ausente.
Era quase oito da noite quando terminei de organizar as coisas da
viagem, e decidi pedir uma pizza e não perder tempo na cozinha preparando
algo, e aproveitei para tomar uma taça de vinho branco suave e espumante,
que meus pais haviam me dado. O sabor era leve e descia fazendo cócegas
na garganta com as bolinhas suaves. E como se soubesse que eu ficaria
apaixonada, minha mãe colocou mais três garrafas na mala dizendo que eu
deveria usar nos momentos de estresse e, principalmente, de prazer, o que
fez meu pai rir pela cara de espanto que meu avô fez. E isso foi motivo para
uma leve e acalorada discussão familiar.
Enquanto minha avó pedia calma, eu só conseguia olhar para as
garrafas e lembrar que elas haviam sido responsáveis por libertar meu
atrevimento no momento em que Zac apareceu na tela extremamente sexy
como um inferno – naquele momento, eu tive a certeza de que aquele
homem era enviado do cão. Provocante e sedutor. Por fora, eu era a
calmaria em pessoa, mas por dentro queimava e gritava para alguém apagar
o fogo que crescia dentro de mim e me sentindo uma pervertida com nossos
amigos por perto e ouvindo tudo.

— Feliz Ano Novo, Ruivinha! Espero que esteja curtindo.


— Feliz Ano Novo, Zac! Não como eu gostaria, mas estou
tentando.
— Então, que venha a curtição que você tanto espera.
— Só se ela valer a pena!
— Basta você querer, porque tenho certeza que oportunidade não
vai faltar.

Lembrar-me da conversa que deveria ter sido um simples desejar


de “feliz ano”, fez minhas bochechas esquentarem e uma dorzinha gostosa
crescer entre as minhas pernas, e isso me irritou de tal maneira que eu
queria gritar. Como o cara que mais me irritava e que era um devasso de
marca maior, estava conseguindo mexer comigo até mesmo em
pensamento? Era uma mistura de prazer e ódio, o que era uma afronta para
mim.
Senti um calor absurdo em um dia frio, que me vi tirando meu
casaco de moletom e virando de uma única vez o líquido instigante na
minha boca e enchendo a taça novamente. Apoiei as mãos no balcão que
separava a cozinha da sala, respirando fundo e tentando controlar meus
pensamentos e com a fogueira que se formava entre minhas pernas.
— Eu não vou para o céu, eu não vou para o céu, eu não vou para o
céu…
Comecei a repetir essa frase sem parar indo em direção ao meu
quarto, e quando eu abri a gaveta proibida com um lacinho vermelho no
puxador para me mostrar e lembrar que ela e todo o conteúdo dentro dela,
eram proibidos e uma descida de tobogã aos pecados da vida, choraminguei
quando olhei para o bichinho que deveria ser fofo e que de fofo só tinha a
aparência. Peguei o “Blue” , meu vibrador em forma de golfinho, que era
para ser delicado, mas fazia “absurdos” entre as pernas de uma mulher. Era
pequeno do tamanho de um batom, perfeito para ser carregado para onde
quisesse. Liguei na minha mão e dei um gritinho, travando minhas pernas
uma na outra.
— Puta merda! Você é como o inimigo, engana de um jeito
inofensivo e quando tem a oportunidade, faz um estrago. — Respirei fundo
e senti meu corpo gritando, pedindo um pouco de agrado… atenção! —
Que se dane! Só por hoje…
Tirei minha calça de moletom e rapidamente deitei na cama, e com
o coração acelerado liguei o Blue, o encostando no local que clamava por
atenção, e a primeira vibração veio com tudo atingindo meu ponto frágil e
inchado, eu gritei… jogando minha cabeça para trás e me xingando
mentalmente, quando um devasso de sorriso sedutor surgiu em meus
pensamentos dizendo besteiras no meu ouvido. Foi o que eu precisava para
sentir o tremor subindo pelas minhas pernas, me fazendo gritar e contorcer
na cama.
Olhei para o Blue completamente afogado pela minha excitação, e
antes mesmo que eu pudesse ter qualquer reação, a campainha tocou e eu
sabia que era a pizza, pulei da cama e fui de encontro ao chão pelas pernas
falhas pelo orgasmo recente e fui vestindo a minha calça do jeito que eu
podia e conseguia, e no instante em que eu abri a porta, o entregador me
olhou assustado.
— Sua entrega, senhorita! Cartão, certo?
Pigarreei antes de falar:
— Certo!
— Trinta e cinco dólares e vinte e sete centavos.
— Um minuto! — Corri até o balcão e peguei meu cartão,
tomando o cuidado para não pegar com a mão que eu ainda segurava o
Blue. — Aqui.
Assim que terminei de pagar, peguei o cartão e a pizza ao mesmo
tempo e do jeito que eu pude, e entrei. Quando passei pelo espelho que
havia na sala, senti vontade de me esconder e gritar. Minha calça estava
acima da cintura por cima do casaco e meu cabelo uma bagunça só, e na
minha mão… Blue olhava para mim como se estivesse se divertindo com a
minha situação.
— Por isso que você fica trancado a sete chaves, instrumento do
demo.
Peguei mais vinho, a caixa de pizza e me joguei no sofá, e a cada
mordida eu choramingava querendo mais e com medo do que estava se
libertando dentro de mim.

Mal coloquei os pés na empresa e um arrepio percorreu meu corpo.


Era revoltante, mas era um fato que não podia ser negado. Zac Stewart era
um homem de deixar qualquer mulher de queixo caído, era um absurdo ver
a quantidade de mulheres que o circulavam e, de alguma forma, pediam por
sua atenção. E ele? Ele adorava e as enfeitiçava com seu jeito relaxado e
sorrisinho de canto de boca que seduzia com facilidade. Provavelmente, no
momento em que estava sendo criado, seu sorriso foi o lugar onde o
inimigo perdeu mais tempo… trabalhando com afinco.
Perdi-me por tempo demais analisando a interação a alguns passos
à minha frente, que só me dei conta que estava sendo conduzida para dentro
do elevador, quando uma mão quente se fechou com cuidado em volta do
meu braço.
— Bom dia, Claire! — Olhei para cima, e dei de cara com Ryan. O
sorriso era sério, mas os olhos estavam divertidos, até mesmo carinhosos.
Ryan sendo Ryan. — Feliz Ano Novo! — Abaixou e deixou um beijo
delicado e respeitador na minha bochecha, e sua atitude aqueceu meu
coração.
Fiquei na ponta dos pés, e retribuí seu gesto de um jeitinho mais
animado.
— Feliz Ano Novo, Ryan! Obrigada por me trazer de volta à
realidade.
Discreto como sempre, ele balançou a cabeça rindo.
— Por esse motivo, tomei a liberdade de trazê-la para dentro do
elevador.
Não tivemos muito tempo para falar, pois o elevador parou no
andar do TI e assim que ele saiu, me vi falando:
— Almoça comigo?
As pessoas pararam de falar, principalmente as mulheres. Ryan
chamava atenção por onde passava, mas a sua seriedade era uma barreira
para qualquer pessoa se aproximar. Era um dos diretores mais sérios da
empresa, se não o mais sério. Ele parou de andar e olhou para trás, meneou
a cabeça de lado e sorriu.
— Será um prazer! — E deu uma piscadinha, o que me fez rir, e eu
tinha certeza de que não era coisa da minha cabeça, mas pude ouvir alguns
suspiros.
O elevador fechou as portas e voltou a se movimentar, e com isso
senti muitos olhares em cima de mim. Apertei as alças da minha bolsa nas
mãos e tentei não me importar. Ryan era um amigo, e que mal tinha em
convidar um amigo para um almoço?
Olhei para o lado e Zac me encarava sério e com uma sobrancelha
levantada, como se estivesse me questionando. Levantei uma em resposta e
ficamos assim, travando um tipo de luta, até que meus olhos recaíram sobre
a sua boca e os dele no meu decote. Rapidamente cruzei os braços, e
quando o elevador parou no andar do RH, dei graças a Deus. Ele saiu e teve
a coragem de virar para mim, e enquanto as portas fechavam… ele cruzou
os braços e levou dois dedos aos lábios, me analisando dos pés à cabeça. E
antes das portas se fecharem, ele sorriu. Parei de respirar, e tentei não
demonstrar o quanto o simples gesto me afetava.
Quando cheguei à minha mesa, minhas pernas tremiam e meu rosto
queimava. Enquanto Ryan me fazia bem com um papo agradável e
divertido. Zac me irritava, me deixava desconfortável a ponto de mexer
com o pior em mim e ao mesmo tempo me instigar, de alguma forma
reacendendo desejos que só eu sabia e desejava experimentar. – Como isso
era possível? Como tudo mudou em tão pouco tempo? – Joguei para longe
os questionamentos e foquei no trabalho à minha frente, novo ano e muito
trabalho a fazer. Ainda mais com a minha função em dobro. Nunca fugi de
trabalho, e estava animada para aprender ainda mais como secretária do
presidente e vice-presidente da empresa.

Durante o dia de trabalho, eu percebi que a semana seria puxada a


tal ponto que só me dei conta de que estava na hora do almoço, quando
duas brasileiras saíram animadas do elevador.
— Claireee… sua safadinhaaa! Por que não foi me dar um beijo?
— Sara foi a primeira a me abraçar.
— Eu já cheguei trabalhando, e tão focada em organizar e adiantar
as coisas… — Apontei para a quantidade de pastas e planilhas que estavam
abertas no meu computador. — Que me perdi na hora. Perdoa!
— Me dá um abraço — foi a vez de Bela —, que saudade! Almoça
com a gente?
— Eu também estava com saudade! — Era tão bom estar perto
delas. As meninas tinham uma energia surreal, e desde que as conheci, eu
sentia que me tornava uma pessoa mais alegre e relaxada.
— Podemos marcar para outro dia?
— Por quê? — as duas perguntaram juntas, e eu comecei a rir com
as carinhas aborrecidas.
— Eu marquei de almoçar com Ryan.
Bela assoviou e Sara abriu e fechou a boca algumas vezes.
— Não comecem… ele é só meu amigo e queremos colocar o papo
em dia — falei para me defender e tirar a satisfação maliciosa dos rostos de
ambas.
— Gata — Sara sussurrou —, que James não me ouça, mas Ryan
é… como posso dizer?
— Sexy pra caralho, além de lindo.
Sara virou para Bela colocando a mão na boca e pedindo para ela
falar baixo. Eu amava essa interação entre elas.
— Não fala alto desse jeito, bandida!
— Ué? Só estou falando a verdade.
— Eu sei, mas os meninos não precisam ouvir.
— Tá bem! Desculpa, mas convenhamos que é o tipo para
ninguém colocar defeitos, né? — Fez um gesto com as mãos como se
estivesse se abanando.
— Quem, minha linda? — Phillip surgiu com James do lado.
Sara segurou o riso assim como eu, e Bela arregalou os olhos.
— O novo projeto da revista, o que eu te disse que está sendo
inspirado no estilo de vida nova-iorquino. Lembra?
Phillip semicerrou os olhos e a encarou por uns segundos,
recebendo de volta um olhar nada inocente e um sorrisinho de menina
travessa nos lábios.
— Sei!
— Não entendi, meu lindo! Eu fujo do trabalho para vir almoçar
com vocês e é assim que você me trata?
E lá estava o olhar apaixonado de Phillip. O tipo de olhar que faria
qualquer mulher se render e se entregar a ele, era lindo a forma como ele a
tratava.
— Infelizmente, o tipo de tratamento que gostaria de te dar… —
Sorriu. — Eu preciso de tempo.
— Posso cancelar as reuniões da tarde. — Bela se jogou em seus
braços, animada.
— Procurem um quarto! — Sara falou rindo, e James balançou a
cabeça. — Claire, já que não vai almoçar com a gente, desce pelo menos
junto pra matarmos um pouquinho mais da saudade.
— Claro!
Peguei minhas coisas e desci junto com eles, só não esperava
encontrar na recepção do edifício Zac e Ryan conversando e, quando me
viram, por um momento eu travei com os dois homens à minha frente. Era
como se eu visse o anjo e o demônio e tivesse que fazer uma escolha para
saber se eu seria ou não julgada.
O problema não era o julgamento… e sim, como seria? Droga!
Capítulo 10
Testado, sim ou não?

Quando eu entrei na minha sala, sabia que passaria o resto do dia e


dos próximos, atolado de trabalho. Todo início de ano era feito um
levantamento pelos diretores de suas equipes de desempenho, promoções,
demissões e novas contratações. Eu amava meu trabalho, mas todo início de
ano eu me fodia.
Após terminar a vigésima ligação do dia, me lembrei que apesar de
Claire ter aceitado a proposta da presidência, ela ainda não havia assinado a
documentação informando o novo valor do seu salário, era a única
documentação que ficou pendente, desde a sua promoção. E me lembrar
desse fato, me fez perder alguns minutos pensando no que havia acontecido
no elevador. Desde quando Claire e Ryan se tornaram tão próximos a ponto
de trocarem beijos e saírem para almoçar? Ryan sempre foi fechado e eram
poucas as pessoas que ele permitia que se aproximassem. O conhecia de
anos, e sabia o tipo de pessoa que ele era, e que jamais desrespeitaria a
Claire. Mas só de pensar na possibilidade de algo entre eles, senti um gosto
amargo na boca. O que me irritou um pouco.
Levantei da minha mesa e fui até a enorme janela da minha sala, e
observando a cidade ainda mais movimentada não consegui parar de pensar
na forma como Claire me olhou quando me viu conversando com as
gerentes do jurídico e novos negócios, eu quase podia ver as engrenagens e
várias suposições passando em sua cabeça pela forma como ela me via. E,
apesar de ainda não ter falado com todas as letras, eu sabia que na visão
dela, eu era um pervertido… um devasso.
Meu celular vibrou no bolso e assim que eu atendi, comecei a rir.
— Você tem dez minutos para encontrar a gente na recepção da
empresa, meu bem. Bela já chegou e estamos indo buscar seus amigos, e
não se esqueça que estou grávida e não posso esperar.
— Desde quando você começou a usar a gravidez para se
beneficiar? — provoquei.
— Se tiver comida envolvida, eu vou me beneficiar. — Riu. — Não
provoque uma mulher grávida e com fome.
— Sim, senhora!
Voltei para o computador e finalizei o e-mail que faltava, assinei
um contrato e deixei na mesa da minha secretária. Desejei bom almoço para
os colaboradores que ainda estavam em suas mesas, e entrei no elevador.
No andar do TI, Ryan entrou e me senti tenso, porque eu sabia que ele
estava indo encontrar Claire. Não era da minha conta, e se não era… por
que a porra do incômodo?
A porta abriu e nós dois saímos, e antes de cada um seguir seu
rumo, Ryan me chamou:
— Zac! Podemos fazer aquela reunião no fim da semana?
Eu já sabia do que se tratava e saber que ele queria falar sobre o
assunto, me deixou satisfeito e eu tinha certeza de que também deixaria
James e Phillip.
— A hora que você puder! Espero que finalmente tenha decidido
aumentar sua equipe.
Ryan passou a mão no cabelo e respirou fundo.
— Acho que o meu controle e exigência vão acabar me
sobrecarregando ainda mais, e com isso, enlouquecer a minha equipe.
— Eu concordo! — Cruzei os braços. — Vamos encontrar
profissionais competentes e que estejam dentro do seu padrão.
— Eu sei que sim!
No instante em que ele acabou de falar, uma movimentação
chamou nossa atenção e ao mesmo tempo nós dois olhamos na mesma
direção, e lá estava ela… Claire. Linda, iluminada e sexy de forma natural,
o tipo de sensualidade que colocaria muitos homens aos seus pés, caso ela
quisesse. Um verdadeiro anjo!
Percebi que quando nos viu, seus olhos arregalaram, mas
rapidamente ela tratou de disfarçar e agir de forma natural, como se nada ao
seu redor a afetasse. Porém, eu já havia reparado em outras situações que
quando ficava nervosa, ela girava os dedos indicadores um no outro e
mordia de forma quase imperceptível o lábio inferior. Atitudes que
começaram a despertar em mim a vontade de tocá-la e até mesmo protegê-
la. Estranho, porque eu não a conheci a ponto de querer fazer algo desse
tipo e ter Ryan por perto, aumentava ainda mais essa vontade.
— Demorei? — Ouvir sua voz tão perto, me trouxe de volta à
realidade.
— Claro que não! E se demorasse, eu esperaria o tempo que fosse
preciso — Ryan respondeu com a porra de um sorriso de galã, e recebeu
como resposta uma Claire de bochechas coradas e praticamente suspirando.
Ryan estendeu um braço e ofereceu a ela, que aceitou com um
sorriso largo e animado. Descruzei os braços e levei minhas mãos fechadas
em punho para os bolsos da calça, e fiz uma careta para mim mesmo, me
questionando por tal atitude e desconforto.
— Podemos ir? — E nem precisei olhar para o lado, para perceber
que meus queridos amigos estavam se divertindo com a situação. Virei em
direção à saída, puto por ela agir como se eu não estivesse ali.
E antes de continuar, parei e virei para trás.
— Ryan, como fomos interrompidos — falei com toda a calma —,
no fim da semana damos continuidade no assunto.
Ryan piscou os olhos, confuso, e meneou a cabeça em
concordância, e eu não fiz questão de olhar para Claire e ver sua reação.
Talvez eu estivesse sendo um babaca, mas porra… ela agiu como se eu não
estivesse presente.
Voltei a caminhar e senti meus braços sendo envolvidos por duas
brasileiras travessas e atrás de mim as risadas debochadas dos meus amigos.
— Você foi grosseiro, sabia? — Bela disse segurando o riso.
— Não fui, não! — rebati.
— Ahhh… você foi, sim! — foi a vez de Sara afirmar.
— A gente te entende! — Bela continuou.
— Entende, o quê? — Levantei uma sobrancelha, aguardando a
bomba.
— A frustração de não ser o centro das atenções de todas as
mulheres — Sara disse olhando para mim e depois para Bela, e as duas
encostaram os queixos nos meus braços e piscaram os olhos, fingindo
inocência. Às vezes, elas me assustavam pela forma de agir e pensar juntas.
Era sempre certeiro e rápido.
Abri a boca para responder, uma… duas… três, e acabei desistindo
para não render assunto e foi o meu maior erro. O que antes eram risadas
baixas e contidas, ganhou espaço com uma mistura de sons convencidos e
debochados dos meus amigos que choravam de rir com a situação. Joguei a
cabeça para trás, respirando fundo e levantei minhas mãos e fiz o famoso e
clássico gesto de “vão se foder!”.
Quando chegamos ao restaurante e sentamos, peguei meu celular
para colocar em modo vibratório e foi quando eu os vi passando do lado de
fora. Claire gesticulava e falava animada, e Ryan a olhava hipnotizado. A
cena fez um gosto amargo subir pela minha garganta até alcançar minha
língua e uma vontade cada vez mais crescente de estar no lugar de Ryan.
Passei a mão na minha barba cerrada e tentei não transparecer mais uma vez
o meu incômodo e virar o assunto do almoço também. Eu não sabia o que
estava por vir, só tinha certeza de uma coisa: eu iria me foder assim como
dois mais dois… São quatro!
Capítulo 11
Ele me deixa louca!

Fazia tempo que eu não sabia o que era ter um almoço tão
divertido e agradável, pelo menos com um homem. Com as minhas amigas,
Sara e Bela, diversão não faltava. Ryan era um cara fechado, sério e de
poucas palavras, mas quando você o conhecia era possível enxergar o
quanto ele era incrível, e se tornava um cara ainda mais bonito quando
sorria de forma relaxada.
— O que foi? Você está me olhando como se tivesse descoberto
algo. — Estávamos terminando o nosso almoço, e enquanto eu me fartava
de um pedaço generoso de torta de morango com chantili, Ryan bebericava
com calma seu cappuccino.
— Na verdade, eu acho que descobri! — Encostei o garfo no meu
lábio inferior e sorri. Percebi que Ryan encarou por tempo demais a minha
boca, e uma quentura se espalhou pela minha bochecha. Mas não uma
quentura de desejo… o que me fez pensar em Zac… por que diabo aquele
pervertido invadiu a minha mente, eu não sei. E, sim, de vergonha.
Pigarreei, e continuei: — Você fica mais jovem, leve e bonito quando está
sorrindo. Já te falaram isso?
Debrucei na mesa e meneei minha cabeça de lado, curtindo a
surpresa pelo comentário tomar conta dos seus olhos.
— Não, nunca me falaram e também nunca tinham me deixado
sem jeito com um comentário. — Riu, e eu gostei do som. — Mas vindo de
você, sempre vale a pena.
Pisquei os olhos algumas vezes, e tentei interpretar se era um
agradecimento de amigo ou não, porque nós éramos amigos, certo? Pelo
menos, era no que eu acreditava.
— Isso quer dizer que sou especial — falei com espontaneidade.
— Achei que já soubesse disso. — Parei o garfo no meio do
caminho, e dessa vez não consegui encará-lo.
— Você está conseguindo me deixar envergonhada.
— Então, estamos quites!
Terminei de comer em silêncio e mais envergonhada que antes, e
por achar que Ryan estava muito quieto, levantei os olhos e quando eu vi
que ele segurava o riso, acabei rindo e relaxando. Os dias vinham passando,
e minha amizade com Ryan se fortalecia a cada dia. E conforme eu o
conhecia mais a fundo, sentia que a mulher que entrasse na vida dele, seria
uma sortuda. Ela, com certeza, teria o mundo, pois ele faria de tudo para
fazê-la feliz.

Quando retornei para a empresa, mal sentei e pouco tempo depois


as portas do elevador se abriram e um tumulto de vozes invadiu o ambiente,
e as mais altas eram as das meninas. Foi impossível passar despercebida
quando elas me olharam e vieram correndo querendo saber detalhadamente
como tinha sido o almoço.
— Foi ótimo… — comecei falando, e antes de continuar, olhei por
cima dos ombros das meninas. Zac observava a conversa com um olhar de
indiferença, o que me irritou e muito. Respirei fundo, sorri da forma mais
relaxada que eu pude e falei: — Há muito tempo que eu não almoço com
um cara tão gentil, educado e interessante… como Ryan. — Zac fez uma
careta e as meninas suspiraram.
— Mas a pergunta que não quer calar… — Bela perguntou,
animada. — Novos almoços virão, sim ou não?
— No que depender de mim, sim!
As meninas pularam e começaram a rir, enquanto Zac resmungava
alguma coisa com os amigos e voltava para o elevador. Foi o meu erro,
porque eu me esqueci de onde eu estava e o acompanhei até o elevador e,
quando ele entrou e me encarou sério, um arrepio subiu por todo o meu
corpo, e eu o odiei por isso. Por causar isso em mim, essa mistura de raiva e
sei lá… desejo?
Quando as portas se fecharam, as meninas me olhavam com um
sorrisinho cúmplice no rosto e antes que eu pudesse questioná-las ou elas
me questionarem, James interrompeu:
— Claire, quando você puder, dá uma pausa no seu trabalho e
passa lá no setor de RH para falar com o Zac.
— Por quê? — Fiquei tão nervosa, que esqueci que da porta para
dentro James e Phillip eram meus chefes e eu estava questionando um
deles.
— Para assinar a documentação da sua promoção — James
respondeu divertido, mas sem perder a sua postura de CEO. — Nós já
assinamos… — Apontou para Phillip. — Falta só você.
— Ah, claro! Já, já eu vou.
As meninas me abraçaram se despedindo, e combinamos de fazer
algo em breve. Voltei para o meu trabalho e tentei me manter calma até a
hora de assinar a documentação.
Afinal, para esse tipo de coisa não era necessário o diretor falar
com o colaborador ou era?
Quase duas horas depois, eu andava sozinha de um lado para o
outro no pequeno espaço do elevador que se tornou ainda menor do que eu
me lembrava, o que na minha cabeça era um absurdo e até mesmo
desnecessário o nervosismo que eu estava sentindo. Era só assinar a
documentação e sair. Tudo resolvido e vida que seguia. Era o tipo de
trabalho que não era necessário um diretor parar seus afazeres, quando tinha
toda uma equipe responsável para isso. Eu estava me precipitando de forma
desnecessária, não é?
O andar do RH era sempre muito agitado, somente um setor ficava
isolado dos demais e separado por uma parede de vidro além da sala pessoal
do diretor, era o setor responsável pelos encargos e salários de toda
empresa, e por demandarem concentração e discrição, ficavam separados
dos demais. Caminhei em direção à porta, mas Camille, a secretária de Zac,
entrou na minha frente com sua simpatia de sempre para não dizer o
contrário.
— Tudo bem, Claire?
— Tudo ótimo, Camille! E com você?
— Tudo ótimo também, querida!
Eu tentava entender como alguém como ela conseguia trabalhar em
uma área que era primordial um excelente atendimento ao público. Eu
tentava entender e continuava sem resposta.
— Eu vim assinar uns documentos a pedido do presidente da
empresa. — Sorri, um sorriso contido.
— Eu sei, por isso estou aqui. O Zac está te aguardando na sala
dele.
Nossa… que íntima! O Zac. Segurei-me para não revirar os olhos.
— Achei que fosse aqui… — Apontei para a sala à minha frente.
— Na verdade, é! No seu caso, será com o Zac… o porquê eu não
sei. Vou avisar da sua chegada.
Virou de costas para mim, indo em direção à sala rebolando tanto
que eu achei que fosse quebrar o quadril. Respirei fundo, e contei de um até
dez, e quando eu ouvi: Pode pedir para ela entrar, por favor! – De um jeito
tão sério, meu corpo todo tremeu e um ponto sensível em mim deu sinal de
vida. E que Deus me ajudasse e que essa documentação fosse rápida para
ler e assinar.
— Claire, pode entrar!
Passei as mãos no vestido preto tubinho, de mangas longas e gola
alta, e tentei em vão secar minhas mãos que suavam demonstrando todo o
meu nervosismo. – Como um ser humano conseguia me deixar tão
nervosa? – Entrei na sala, e me segurei para não cair para trás com a visão à
minha frente. Eu nunca tinha visto Zac de óculos de grau, na verdade, eu
nem sabia que ele usava. O enviado do mal conseguiu ficar ainda mais
lindo e atraente, como um fruto proibido. Sentado de forma relaxada na
cadeira, a barba cerrada, vestindo somente o colete do paletó e com o
cabelo desalinhado era o convite só de ida para o inferno.
— Obrigado, Camille! Se eu precisar de mais alguma coisa, eu ligo
ou vou até você.
— Tá certo!
— Sente-se, Claire! — Sua voz era séria, mas o olhar… o olhar eu
não estava conseguindo decifrar.
— Ah, certo! O que eu preciso assinar?
Zac encostou-se à cadeira, e levou a caneta que escrevia algo até os
lábios e meneou a cabeça de lado, me analisando e algo em mim o fez
respirar fundo, antes de começar a falar:
— Vai fazer um mês que você aceitou a proposta de trabalhar para
James e Phillip, porém não assinou a documentação da sua promoção. O
que foi uma falha nossa do RH, mas não se preocupe. O aumento salarial
vai vir direitinho no seu contracheque com a atualização e os retroativos
detalhados e a documentação que eu vou te dar, vem com todas as
informações necessárias.
— Tenho certeza que está tudo certo, e que a empresa jamais
deixaria de ser correta comigo.
— Nisso, você tem razão, se tem uma coisa que prezamos são os
colaboradores… — Levantou da cadeira e pegou uma pasta suspensa
trazendo até mim. — Mesmo assim, preciso que você leia com atenção e
assine só se estiver de acordo.
Zac chegou tão perto, que eu paralisei e fiquei com medo de fazer
qualquer movimento. Seu perfume me envolveu de um jeito absurdo, e
precisei me segurar para não gemer com o cheiro único, marcante e tão
masculino. Minha cabeça deu um nó pensando como ficaria esse cheiro
misturado ao suor dele.
Peguei o documento e comecei a folhear página por página,
tentando não perder o foco. Enquanto eu lia, ele se afastou, me dando
privacidade para ler com calma e foi para a enorme janela que ia do teto ao
chão, e com as mãos no bolso, ficou admirando a vista da cidade. Suas
costas largas eram tão definidas quanto seu bumbum e pernas, ele realmente
parecia um pecado que atraía sem fazer o menor esforço, mas… eu não era
e não seria mais uma envolvida na aura de sedução de Zac Stewart.
Foquei em ler o documento como ele havia pedido, e estava tudo
bem até a diferença salarial que eu iria receber, ou seja, a minha promoção.
Li e reli várias vezes, para ter a certeza de que eu não estava vendo errado.
Virei a folha de um lado para o outro, e eu jurei… jurei ter ouvido uma
risadinha, mas eu estava tão chocada com o valor que achei que fosse coisa
da minha cabeça.
— É, hum… — Pigarreei. — Acho que tem um erro aqui! — Virei
o documento para ele e apontei com a caneta onde eu queria que ele visse.
— O valor acordado para que eu aceitasse a proposta de trabalhar para os
presidentes era menor, e não quatro vezes o acordado.
Zac passou a mão na cabeça, parou ao meu lado apoiando uma
mão na mesa e a outra na minha cadeira, ficando tão perto, mas tão perto,
que se eu virasse, minha boca ficaria a centímetros da dele. Olhou por uns
instantes e respondeu:
— Está certo!
— Sério?! — Arregalei os olhos. — Isso é muito!
Ele virou para mim, e com um sorrisinho de canto de boca,
provocou:
— Muito? Você está trabalhando para os presidentes da empresa e
acha que é muito? Ou você acha que não é merecedora?
Seus olhos foram dos meus à minha boca, e a forma intensa com
que me olhava despertou tudo em mim. Sua respiração quente tocando a
minha bochecha e sua boca tão vermelhinha próxima à minha estava me
deixando zonza de curiosidade e desejo de tocá-lo. Apoiei minhas mãos
sobre os meus joelhos para que ele não notasse como elas tremiam. Estava
ficando até com medo da umidade entre as minhas pernas ultrapassar o
tecido do vestido. Desde aquele bendito tombo no elevador, eu não estava
me reconhecendo.
— Eu sei para quem eu trabalho, e sim… eu sou muito
merecedora, só estou surpresa.
— Surpresa ou não, assine. E não se surpreenda, caso eles queiram
aumentar novamente.
— Caramba! — Peguei a caneta para assinar, desnorteada. — Que
Deus me ajude!
Zac riu e eu me lembrei de como era bom ouvir o som da sua
risada.
— Espero que você não chame Deus quando a oportunidade surgir.
Terminei de assinar e o encarei, confusa.
— Que oportunidade?
Ele levantou e deu alguns passos para trás, colocando as mãos
dentro dos bolsos da calça.
— Na hora certa, você saberá…
— Por que não agora? — cortei-o, com a curiosidade gritando em
mim.
Zac voltou a se aproximar e com as mãos ainda dentro dos bolsos,
abaixou o suficiente para falar no meu ouvido.
— Não quero Deus por perto para ver o que eu vou fazer com
você, não quando eu estiver entre as suas pernas.
Eu simplesmente me esqueci de respirar, e me segurei no lugar
para não tombar no meu salto.
— Eu não vou… não ache… — Eu não conseguia formular uma
frase completa que fosse.
— Obrigado por assinar a documentação, Claire! Mais tarde,
Camille levará para você a sua via.
— Ok!
Foi a única coisa que eu consegui dizer, sem perder a postura ou
sem pular no pescoço dele e agredi-lo, por fazer o que ele fez e me deixar
totalmente desorientada. Por que Zac Stewart havia se tornado uma mistura
de raiva e desejo? Manter distância era o certo a se fazer, e era isso que eu
faria. Pelo menos, foi no que tentei acreditar.
Capítulo 12
Às vezes a vontade de pecar é maior!

Depois do que aconteceu, tentei me manter o mais distante possível


de Zac, e o meu comportamento parecia diverti-lo e agradá-lo cada vez
mais, o que me deixava ainda mais irritada. Sempre fui muito tranquila, mas
nos últimos meses, eu deveria ter “irritadinha” como meu sobrenome.
A semana foi uma loucura, o casamento de Sara e James seria em
uma semana e, com isso, ela estava conseguindo enlouquecer a todos.
Íamos do estresse à diversão, mas quem mais sofria era James. Era
engraçado ver James Wilson, o CEO todo sério e poderoso, pedir socorro e
ajuda com as mudanças de humor da sua princesa, como ele a chamava com
todo carinho. Era realmente lindo de se ver.
Na intenção de aliviar a pressão do trabalho e a correria com o
casamento, Sara junto com Bela inventaram a maravilhosa ideia de
apresentar para todos… o churrasco brasileiro. Foi onde eu me perdi e
decidi que eu precisava, precisava “não”… eu necessitava conhecer o Brasil
o quanto antes.
— Gente… isso é uma delícia! — Eu mal havia chegado, Bela já
veio na minha direção e deixou um pratinho nas minhas mãos e foi me
explicando como era o churrasco.
— Claire, minha filha… — Mary Wilson apareceu na minha frente
com toda sua beleza e alegria de sempre, com as bochechas coradas. E pela
sua empolgação, eu sabia que não era devido ao dia fresco e ensolarado. —
Isso porque você não provou essa bebida.
Estendeu um copo em minha direção e o cheirinho era bom,
combinava com o dia e não sei… com festa?! A única coisa que eu tinha
certeza era que tinha sido feita com limão.
— O que é? — perguntei e tomei um gole. — Minha nossa. Que
delícia! É forte, mas gostosa.
— É caipir… caipiri… Aiii! — Mary jogou as mãos para o alto e
Bela começou a rir. — Como se diz, minha nora?
— Caipirinha.
— Isso! — Fez um gesto como se estivesse dando um soquinho no
ar. — Esse é o nome. Já falei que Bela e Sara só saem desta casa, depois
que me ensinarem.
— Quer que seu filho me mate, né? — Bela disse rindo.
— Eu te defendo!
Acabamos rindo e emendamos em uma conversa animada, quando
Sara chegou mostrando algumas fotos das flores para o casamento.
O dia estava gostoso, a casa dos pais de Phillip cheia e o churrasco
fazendo sucesso. Apesar de não conhecer as músicas que tocavam, as
meninas me explicaram que era pagode e samba, deixei me envolver e
balancei o corpo ao ritmo leve e gostoso das músicas, era bom e
contagiante. Com a minha quarta caipirinha na mão, fechei os olhos e
suspirei sentindo o sol tocar minha pele. Quando os abri, o sol que antes era
bem-vindo, fez com que meu corpo ficasse quente demais e a tal caipirinha
se tornou ainda mais gostosa, quando vi Zac chegando acompanhado de
Jacob. Eu não sabia que ele iria aparecer, de acordo com as meninas, ele
estaria em um almoço de família.
Enquanto Jacob pulava e fazia gracinhas para chamar atenção das
pessoas presentes, Zac escaneou o lugar e seu olhar encontrou o meu. Tentei
desviar, mas não consegui, admirando cada parte do seu corpo. Bermuda
preta, camisa branca básica, tênis e óculos escuros. Tão relaxado, lindo e…
sexy! O jeito como ele me olhava, fez com que eu me sentisse exposta
demais com meu vestido verde e florido.
Desviei o olhar quando Sara sentou ao meu lado dizendo que
estava com inveja, porque queria beber e não podia, me pediu para beber
por mim e por ela, e me orientou a sempre beber uns golinhos de água.
Balancei a cabeça rindo e quando eu pensei em levantar para pegar água, só
senti o impacto seguido de muito carinho e lambidas. Jacob havia pulado
em cima de mim com tanta empolgação que me fez deitar no sofá que eu
estava sentada. Sua alegria era tanta que eu comecei a rir, passando a mão
em seu pelo, acariciando sua cabeça e dando beijinhos em retribuição.
Zac veio correndo até onde estávamos, e quando Jacob viu que
levaria uma bronca, parou a bagunça e escondeu a carinha em meu pescoço,
arrancando um coro feminino de “Ownnn”.
— Me desculpe, Claire! — Era engraçado ver Zac sem graça. —
Jacob, vem aqui!
Pelo tom da voz de Zac, Jacob sabia que estava muito encrencado e
com isso se aninhou ainda mais no meu colo com seu corpinho nada
pequeno, me fazendo rir.
— Não briga com ele… — falei abraçando o animal carinhoso e
dócil no meu colo. — Pode deixar ele aqui.
— Se eu deixar, ele vai ficar mal-acostumado e vai fazer isso toda
vez que te encontrar.
— Não tem problema! Eu jamais negaria um carinho desse — falei
com sinceridade.
— Tudo bem! — Senti alívio em sua voz. — Se comporta, cara!
Vou ficar te vigiando de longe.
— Ele vai se comportar! — Olhei para Zac e tentei não suspirar.
Jacob tirou a cabecinha do meu pescoço, e com o rabo abanando,
latiu para o dono e Zac riu.
— Ponto para você!

Tentei relaxar o restante do dia e até me arrisquei em aprender


umas dancinhas com as meninas se divertindo em ensinar para mim e Mary,
talvez fosse o efeito da bebida ou não, mas eu estava me sentindo como se
uma nova Claire estivesse surgindo. Nunca que eu poderia curtir sem
críticas ou culpa um sábado com meus amigos na fazenda dos meus avós,
onde eu cresci. Onde deveria ser um lugar tão leve e de paz, como a sua
beleza dizia, mas infelizmente… só tinha beleza e nada mais! Pelo menos,
não para a minha mãe, não para mim.
Perto das oito da noite, eu já estava me sentindo tonta e mais
risonha do que de costume – na verdade, todas, exceto Sara que ao mesmo
tempo que ficava emburrada, se divertia como se tivesse bebido tanto
quanto a gente –, e decidi que já era hora de parar e ir embora, não sem
antes pegar uma saideira como as meninas falaram. Fomos para o bar, e
enquanto ríamos e conversávamos, os meninos se aproximaram.
— Minha princesa… vamos parar um pouquinho? Seus pés já
estão inchados.
Sara olhou para os próprios pés e fez uma careta, abriu a boca para
responder e foi cortada por Mary.
— Filha, James está certo! Precisa descansar um pouquinho. —
Sua voz era arrastada. — Já pedi para preparem o quarto para vocês. Na
verdade, para todos vocês.
— Querida — Fred, o pai de Phillip se aproximou —, você
também precisa descansar.
— Depois que todos os meus filhos e filhas estiverem
confortáveis… — Suas palavras me emocionaram, mas guardei para mim.
— Porque todos aqui… são meus filhos, certo?
Sorrimos e concordamos com a cabeça. Aproveitei o momento, e
falei:
— Mary, eu agradeço! Mas, eu preciso ir para casa…
— De jeito nenhum eu vou deixar você ir embora. E é tia, não
Mary. — Fez um biquinho chateada.
— Tia Mary… — corrigi-me e pedi ajuda das meninas com o
olhar, e as safadas se fizeram de loucas. Elas queriam banho de piscina no
dia seguinte e eu queria descansar.
— Eu te levo, Claire! — Zac disse e puxou Mary para um abraço.
— Pode deixar que eu a levo em casa, tia. Em segurança! — Piscou para
ela, que lhe deu um tapinha no peito.
— Eu deveria me preocupar? — questionou com um sorriso no
rosto, e minhas bochechas ficaram vermelhas.
— Imagina! — Sorriu o sorrisinho safado de canto de boca. —
Mesmo que eu quisesse, não poderia ficar, eu estou com Jacob e não trouxe
nada para ele. E já que Claire precisa ir embora, eu a deixo na porta de
casa.
Frisou as últimas palavras, causando uma ansiedade em mim.
Despedi-me de todos, e entrei no carro de Zac acompanhada de um Jacob
animado. Durante todo o caminho fomos em silêncio, apenas ouvindo as
músicas que tocavam. Jacob foi com o focinho apoiado no meu ombro, e
vez ou outra pedia carinho. Zac só observava sem dizer nada.
Quando paramos em frente ao meu prédio, tive um pouco de
dificuldade para descer. Zac disse algo baixinho que eu não entendi muito
bem, e me ajudou mesmo eu dizendo que não era necessário. Chamou
Jacob e trancou o carro. Acompanhou-me até a entrada do meu
apartamento, abrindo a porta que eu levei uma surra para encaixar a chave.
Tropecei na entrada, mas fui impedida de cair sentindo seus braços em volta
da minha cintura. Eram tão quentes e firmes que, de forma involuntária, eu
gemi.
— Caralho, Claire… — Ouvi e sorri.
Virei-me para ele, e mordendo meu lábio inferior, perguntei:
— O caralho seria de forma figurativa, ou… — desci os olhos pelo
seu corpo, e fiquei louca com o volume que se formava contra o short — …
literal, caralho de verdade? — Fui ousada passando a mão por cima.
Vi seu peito subindo e descendo, e de olhos fechados, ele disse
pausadamente:
— Não. Brinca. Com. Fogo. Ruivinha.
— Por quê? Você acha que eu não aguento?
Fiquei na ponta dos pés, passei a língua bem devagar no canto da
sua boca e levantei uma perna, puxando-o para frente. Foi a vez de ele
gemer e despertar aquela dorzinha gostosa entre as minhas pernas.
— A questão não é aguentar, e sim você ter a certeza do que
quer… e você não está em condições para saber se realmente quer ou não.
— Zac fez o mesmo que eu, passando a língua no canto da minha boca. —
Quando eu estiver aqui… — Fez pressão com o quadril entre as minhas
pernas, me fazendo fechar os olhos em expectativa para senti-lo. — Quero
você totalmente presente e entregue.
— O que te faz achar que eu não estou totalmente entregue?
Zac me analisou por um tempo e sorriu.
— Seus olhinhos caídos de sono.
— Meus olhos falam mais do que a minha boceta molhada? —
falei irritada e o sorriso dele se ampliou, me fazendo suspirar. — Você me
irrita…
— Eu sei!
— Eu quero que você me coma… — Minha voz estava ficando
fraca.
— E eu quero te comer!
— Amanhã?
— Amanhã… — Ele se afastou o suficiente para me pegar no colo,
me deixando ainda mais mole de sono. — Isso se você não fugir!
— Não vou!
— Espero que não!
Foi a última coisa que eu ouvi antes de entrar em um sono
profundo.

Acordei sentindo umas pontadas leves na cabeça, passei a mão no


rosto e comecei a me espreguiçar quando flashes do que havia acontecido
pularam igual pipoca na minha frente. Na mesma hora, eu sentei na cama,
olhei desesperada ao meu redor e fiquei em silêncio para ter a certeza de
que eu estava sozinha. Com os olhos arregalados, eu apertei o edredom
contra o meu corpo e assim eu fiquei por um tempo. Brincando de estátua
comigo mesma. Depois de alguns minutinhos, criei coragem e afastei o
edredom do meu corpo, na hora que eu vi que estava com a mesma roupa
do dia anterior, me joguei na cama com um sorriso enorme por não ter feito
nenhuma besteira. Respirei aliviada e comecei a rir, pensando como uma
bebida tão refrescante e gostosa podia ser tão terrível.
Olhei para o lado e quando eu vi um papel com uma caneta em
cima do travesseiro, meu riso foi aumentando. Peguei para ler e o riso deu
lugar ao choro. Um choro de nervoso!

Bom dia, Ruivinha!


Beba muita água, se alimente bem e descanse um pouco.
Antes que eu me esqueça, o “amanhã” já é hoje, e se você não
fugir de mim… farei com todo prazer o que me pediu ontem.

— Caipirinha… você é do mal! — Puxei o edredom para cobrir o


meu rosto, e senti não só minhas bochechas, mas tudo em mim, queimar. E
durante um bom tempo, uma pergunta ficou girando ao redor da minha
cabeça: eu iria fugir ou iria me permitir?
Mesmo que Zac Stewart fosse o homem que mais me irritou e que
eu quisesse distância nos últimos meses, a vontade de pecar e saber como
seria uma noite com ele, falava mais alto do que a minha zona de proteção e
conforto.
Capítulo 13
O que aconteceria se o certo e o errado se misturassem?

Apesar da carinha de anjo, Claire mais parecia uma diaba com o


corpo quente e os pequenos olhos de esmeralda brilhando de desejo. Sua
voz era baixa e melancólica, demonstrando toda a sua irritação e frustração
por querer algo e não ter. Se ela soubesse o quanto eu estava em guerra para
não a virar de costas para mim, levantar seu vestido e sentir meu pau
pedindo passagem entre as suas pernas para a delícia que ela era… não seria
tão provocadora, mesmo bêbada. Seu cheiro era viciante, e não o do
perfume… e sim o da sua própria pele. Algo que me fodeu em cheio
quando ela se aproximou e passou a língua no canto da minha boca.
E olhando para ela dormindo como uma menina ingênua e
desprotegida, senti uma enorme vontade de deitar ao seu lado e puxá-la para
os meus braços, o que me assustou. Passei as mãos no meu cabelo e respirei
fundo, antes de procurar algo que eu pudesse deixar um bilhete para ela.
Peguei um bloquinho e caneta que eu encontrei na sala, arranquei uma folha
e escrevi o que precisava, deixando em cima do travesseiro ao lado.
Agachei-me, alisei os seus fios ruivos e sedosos, e sorri.
Imaginando como seria a sua expressão caso estivesse sóbria e me visse ao
seu lado. Seria divertido e memorável, ver a mistura de raiva e desejo
passar pelos seus olhos. Depositei um beijo rápido em sua testa para não a
acordar, e antes de sair do seu quarto, olhei em volta mais uma vez, me
certificando de que estava tudo certo, e desejei que ela realmente me ligasse
ou mandasse mensagem para que eu desse a ela o que ela pediu: Quero que
você me coma!
Desci as escadas com Jacob ao meu lado, e antes de entrar no
carro, olhei para o volume em minha bermuda que não diminuía de jeito
nenhum e acabei xingando a ruivinha responsável por me deixar duro como
pedra.
— Ah, Claire, espero de verdade que você não fuja de mim, e que
tenha total disposição para receber de volta todas as provocações que você
vem me causando.
Jacob me olhou sem entender e bufou como ele costumava fazer,
quando estava cansado e queria dormir.
— Em dez minutinhos, estaremos em casa, amigão. Não precisa
ficar bravo, foi preciso cuidar daquele anjo primeiro.
Seu latido foi forte e quando o rabinho balançou, eu soube que ele
havia concordado comigo.

No dia seguinte, acordei com Jacob me encarando como ele


adorava fazer – na verdade, era mais uma cobrança, quando eu dormia até
tarde e ele não tinha o seu passeio matinal. Acariciei a sua cabecinha, e ri
quando o focinho gelado se encostou no meu nariz.
— Você anda muito autoritário, hein? Dizem que os cachorros
puxam os donos, mas essa autoridade não veio de mim.
Peguei o celular para ver a hora, e foi o suficiente para eu despertar
por completo. Havia três mensagens da ruivinha que vinha rondando meus
pensamentos. Eram onze da manhã, e as mensagens haviam sido enviadas
há quase duas horas. Provavelmente, ela acordou de ressaca, mas bem.

Claire Evergarden: Bom dia! Tudo bem? – 9:35.


Claire Evergarden: Queria te pedir desculpas por ontem… –
9:35.
Claire Evergarden: E se você não tiver nenhum compromisso
mais tarde, gostaria de te agradecer pessoalmente por me trazer em
casa e, de certa forma, cuidar de mim. – 9:36.

Li e reli a terceira mensagem, várias e várias vezes, sem acreditar


que ela estava dando o braço a torcer. Claire estava se tornando uma
caixinha de surpresas, me instigando a querer conhecê-la cada vez mais.

Eu: Bom dia, Ruivinha! Espero que tenha dormido e acordado


bem. Meu compromisso é você. Na sua casa ou na minha? Ou você
prefere sair? – 11:22.

Minutos depois, a resposta veio, e eu adorei.

Claire Evergarden: Domingo eu prefiro ficar em casa. – 11:43.


Eu: Na sua casa, então? – 11:44.
Claire Evergarden: Prefiro. Tudo bem? – 11:44.
Eu: Pra mim está perfeito. – 11:45.

Às 20h, eu estava estacionando em frente ao edifício que Claire


morava, com algumas sacolas e vinho, e algo que há muito tempo eu não
sentia… senti. O caralho do frio na barriga, como se eu fosse o moleque de
dezessete anos que um dia eu fui. Respirei fundo, e toquei o interfone
aguardando que ela me liberasse. Assim que o som estridente da porta
sendo destravada se fez presente, eu entrei. Chegando em frente à porta do
seu apartamento, com apenas uma batida, ela abriu e seu perfume doce,
delicado e frutal como os morangos que ela amava, me invadiu dominando
o ar ao nosso redor e foi a porra da invasão mais gostosa que eu já senti.
— Boa noite! — A voz saiu baixa e um pouco trêmula,
demonstrando seu nervosismo. A pele clara ganhou um tom rosado, a
deixando ainda mais com a aparência de um anjo.
— Boa noite, Ruivinha! Espero que goste de comida japonesa e a
sobremesa é de morango, então eu acho que essa você vai gostar.
Seu sorriso foi tímido, e ela me deu passagem para entrar. Uma
música tocava e quando eu ouvi quem cantava, eu sorri… Claire curtia
“The Weeknd”, e se ela soubesse o quanto as músicas do cara me
instigavam a foder, ela não colocaria.
— Respondendo ao que você disse… eu adoro comida japonesa, e
todas as sobremesas que tenham morango.
— Ponto pra mim?
— Por enquanto, sim!
Acompanhei-a até a bancada que separava a cozinha da sala, e a
ajudei a organizar as coisas. Enquanto ela se movimentava de forma leve e
delicada, admirei suas pernas expostas pelo vestidinho branco e curto. O
cabelo estava solto e a pele lisa, sem maquiagem, com algumas sardinhas
em evidência, deixava-a frágil como uma menina em sua beleza natural.
— Nossa! Você trouxe comida para quantas pessoas? Seis?
— Como eu não sabia do que você gostava, eu comprei um pouco
de cada coisa que tinha no cardápio.
Os olhos verdes e inocentes arregalados de surpresa me fizeram rir
e eu me segurei para não a tocar. Claire estava tão relaxada, diferente de
quando ela ficava arisca ou até mesmo preparada para uma briga.
— Caramba! Serei obrigada a comer um pouquinho de cada coisa.
— Por favor! Eu comprei para você. — Claire sorriu e colocou
uma mecha de cabelo atrás da orelha, tentando disfarçar a vergonha. —
Você tem taças de vinho ou algum copo que a gente possa usar?
— Tenho sim. — Caminhou em direção ao armário. — Está aqui
em cima, na segunda porta à direita. — Fez um esforço ficando nas pontas
dos pés, e na mesma hora eu fui até ela. — Um minutinho!
Como ela não estava conseguindo pegar, e se pegasse podia deixar
cair e se machucar, acelerei meus passos e de forma involuntária meu corpo
encostou-se ao dela e eu consegui pegar as duas taças a tempo. Porém,
quando eu percebi… Claire estava com as mãos apoiadas na bancada e
imóvel, respirando bem devagar. Meu corpo também paralisou sentindo a
tensão sexual ao redor. Seu corpo, seu cheiro… estavam muito próximos, e
aquilo acabou comigo. Fazendo-me explodir em meio à onda de desejo que
eu vinha controlando desde o momento em que ela abriu a porta.
— Me perdoa, Ruivinha, mas não dá mais pra segurar.
Devolvi as taças para o armário, segurei em sua cintura e a virei de
frente para mim, e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, peguei-a no
colo e a girei, colocando-a sentada na bancada. Encaixei-me entre as suas
pernas, observando suas pupilas dilatarem e seu peito subir e descer em
expectativa pelo que viria. Encostei minha testa na dela, e falei com a boca
bem próxima da sua:
— Tem certeza de que é isso que você quer?
— Tenho sim.
Afastei-me, buscando seu olhar, o desejo gritava em seus olhos.
Desci minha mão direita pela lateral do seu corpo delicado, parando na
barra do vestido e levantei bem devagar, vendo sua pele arrepiar e assim
que meu polegar resvalou pelo tecido de renda que cobria sua boceta,
pressionei e senti a umidade tocar meu dedo. A mão esquerda que antes
estava na sua cintura, foi até o seu cabelo e eu fiz a pressão necessária para
que ela me olhasse.
— Se eu entrar aqui… — Pressionei meu polegar um pouco mais
forte contra a sua entrada. — Eu não vou parar até te ver gozando no meu
pau. Você realmente quer isso?
— Quero… — Um “quero” em meio a um gemido delicioso.
— Segura no meu pescoço e fecha as pernas na minha cintura, eu
não vou te comer aqui… pelo menos, não agora.
— Você é um pervertido!
— Você ainda não viu nada.
— Está esperando o que pra me mostrar? — E lá estava o
sorrisinho provocador que eu vi na noite anterior.
Sorri em resposta e com um tesão do caralho. Claire tinha carinha
de anjo, mas o desejo era de uma diaba e eu estava preparado para lidar
com o fogo dela.
Capítulo 14
Fui dominada pelo pecado… e agora?

Meu peito subia e descia em expectativa pelo que aconteceria, a


safada em mim se contorcia de ansiedade. Havia muito tempo que eu não
sabia o que era estar com um homem, e depois de tanto tempo, esse homem
seria Zac Stewart. Um dos homens mais cobiçado, desejado e pervertido,
não só da empresa… eu arriscaria em dizer de Nova York.
De manhã, quando eu enviei uma mensagem para ele, o fogo em
mim foi tanto que eu tirei coragem de onde eu nem sabia que tinha para
convidá-lo e agradecê-lo pessoalmente pela boa ação que ele havia feito na
noite anterior, e depois de trocarmos mensagens, foi que eu caí na real do
que eu havia feito, o pânico junto com uma tremedeira e calor tomaram
conta de mim. Porém eu não fugiria. A verdade era que eu queria saber se
Zac realmente era tudo que falavam, e internamente, eu torcia para me
frustrar e com isso, juntar o útil ao agradável para afastá-lo de uma vez da
minha vida e levando para longe todas as perturbações e provocações que
só ele fazia e me tiravam do sério.
A verdade é que vê-lo em pé na beira da minha cama, com a luz
fraca da rua entrando pela janela, foi que eu percebi que estava contando as
horas para o momento, e isso fez meu corpo tremer de confusão, raiva e
desejo. A forma como ele me olhava, parecia que estava não só detalhando,
mas guardando na memória cada parte do meu corpo. Fechei as pernas e
levei as mãos ao peito, tentando em vão controlar o nervosismo. Ele
meneou a cabeça de lado, e seu sorriso de canto de boca foi uma mistura de
carinho e desejo.
Bem devagar, Zac subiu na cama e próximo às minhas pernas, ele
fez carinho pedindo passagem e eu dei, abri as pernas sentindo o vestido
subir e seu corpo aos poucos se encaixar ao meu, e quando a sua ereção se
encostou no meu ponto sensível, mordi meu lábio inferior e apertei minhas
mãos mais forte uma na outra contra o meu peito.
— Está nervosa? — Sua boca estava a centímetros da minha.
— Um pouco.
— Relaxa e confia em mim… — Zac soltou minhas mãos uma da
outra e deixou um beijo em cada uma. Eu tinha certeza de que ele estava se
controlando para não me pegar com tudo, e no fundo, eu estava aliviada por
isso. Ao mesmo tempo em que eu queria deixar a safada em mim, entrar em
cena, uma timidez tomou conta de mim por lembrar o tamanho da loucura
que era toda a situação.
Zac encostou os lábios nos meus e aos poucos sua boca quente foi
me envolvendo, e quando a sua língua úmida e macia pediu passagem, eu
gemi e me esfreguei nele, o tesão veio forte e dolorido. Seu beijo tinha
gosto de certo e errado ao mesmo tempo, envolvente e sexy, intenso e com
certeza viciante. Permiti-me ser ousada e envolvi meus braços e pernas em
seu corpo, e foi minha vez de receber seu gemido, o que despertou um
gatilho em mim e me deixou louca, retribuí seu beijo com mais intensidade
e me esfreguei mais forte contra sua ereção.
— Se continuar assim, eu vou acabar te fodendo do jeito que você
está…
— Tá esperando o quê?
Zac se afastou buscando alguma dúvida em mim e não encontrou,
mas o que ele viu fez seus olhos brilharem. Sua mão direita desceu entre
nossos corpos, e quando minha calcinha foi puxada para o lado e seus dedos
me tocaram, sentindo a umidade entre as minhas pernas, bem no meu ponto
frágil… eu simplesmente prendi a respiração.
— Tão molhada… agora vai ser meu pau, mas depois será minha
boca, Ruivinha.
Sua boca voltou a buscar a minha, e dessa vez não tinha tanta
delicadeza como da primeira vez e eu adorei. Tudo foi tão rápido, que
quando eu vi, meu vestido estava na minha cintura e minha calcinha sendo
rasgada. Zac se afastou de mim o suficiente para puxar a carteira da calça e
pegar uma camisinha. Acompanhei seus movimentos ágeis, e meu rosto
esquentou quando meus olhos recaíram sobre seu membro, e pelo seu
sorriso de canto de boca, eu sabia que ele estava gostando de me ver
admirá-lo e tinha certeza de que ele estava lendo em minha testa a pergunta:
será que cabe?
Zac voltou a se deitar em cima de mim, se encaixando entre as
minhas pernas e antes que ele pudesse me penetrar, eu o travei.
— Devagar, por favor… — Fazia anos que eu não tinha nada com
ninguém, e a possibilidade de sentir dor, me assustou demais. Ainda mais
com seu membro avantajado.
— Não precisa pedir… eu não iria de outra forma.
Busquei seu olhar e encontrei a segurança que eu precisava, me
deixando levar. Zac voltou a me beijar, e quando eu senti a pressão do seu
pau na minha entrada pedindo passagem, cravei minhas unhas em seus
braços sentindo a dor. Não lembrava o quanto ardia.
— Relaxa… e se concentra em mim! Só me beija. — Zac me
abraçou mais forte e fez carinho em meu rosto. — No seu tempo.
E assim eu fiz, relaxei e mesmo sentindo dor, me concentrei no seu
beijo até senti-lo me tomar por completo. Meu coração batia acelerado e
Zac esperou eu me acalmar e me acostumar com seu tamanho. Ninguém me
contou que a segunda vez podia ser mais dolorida que a primeira, mas
diferente da primeira, mesmo com dor… eu estava ardendo de desejo e com
vontade de ser fodida até não aguentar mais.
Zac estava me corrompendo, eu soube e tive a certeza quando ele
começou a se movimentar de forma lenta em um entra e sai, como uma
dança sensual e envolvente, se tornando cada vez mais rápido e forte,
arrepiando todos os pelos do meu corpo.
— Está doendo?
— Não mais… pelo contrário…
— Mais forte?
— Bem forte…
— Safada!
— Sua culpa!
Zac ficou doido, puxando a parte da frente do meu vestido para
baixo e sugando o bico do meu seio esquerdo, e ali ele iniciou uma dança
sedutora com a língua, me instigando cada vez mais.
— Caralho… essa bocetinha está molhando o meu pau todo!
E eu fui surpreendida com a minha perna esquerda sendo levantada
e logo em seguida um tapa atingindo a lateral da minha bunda. Levei um
susto dando um gritinho e arregalando os olhos. Seu sorriso foi tão lindo,
por ver a minha reação. Um tapa seguido de outro, veio aumentando ainda
mais o meu desejo. Zac batia, apertava e alisava.
— Que carinha linda…
— Isso não é justo…
— Eu não disse que seria!
Ele voltou a me beijar, e a acelerar os movimentos e quando mais
um tapa me acertou, uma quentura que eu nunca havia sentido me atingiu,
fazendo minhas pernas tremerem, me assustando e me desmoronando
diante do homem mais lindo e pervertido que eu havia conhecido na minha
vida. Eu estava me perdendo e talvez não quisesse mais me encontrar, não
quando o cara que eu tanto lutei para me manter afastada, me queria tanto
quanto eu o queria. Se errar era isso, talvez eu quisesse me manter no erro.
Capítulo 15
Ela realmente é uma caixinha de surpresas!

No momento em que vi um tremor percorrer o corpo delicado de


Claire, e a forma como ela se protegeu, eu soube que ela não tinha
experiência ou que ela não havia tido muitos parceiros, e a sua atitude de
alguma forma fez com que eu me sentisse um sortudo do caralho, e ao
mesmo tempo em que eu queria fodê-la com força pela forma que ela me
tratava e pela nossa troca nada amigável, eu queria ser delicado como eu
nunca havia sido com nenhuma outra mulher.
E senti-la sob o meu corpo… apertando-me, arranhando e
mordendo pelo prazer enquanto gozava, era algo único e extremamente
excitante. A imagem mais linda e sexy que eu tinha a plena certeza de que
jamais sairia da minha cabeça. Eu queria mais, queria fodê-la com mais
força e mais fundo, mas a barreira que eu ultrapassei, deixou claro que era
preciso ser cuidadoso, antes de ela se soltar por completo. E algo me dizia
que havia uma diabinha louca para sair e quando isso acontecesse, eu iria
enlouquecer.
— Foi bom? — Claire fez um movimento que apertou meu pau, e
minha reação foi fechar os olhos e me controlar para dar tempo de ela se
recuperar. — Caralho!
Sua risadinha chamou a minha atenção, e eu fiquei hipnotizado
quando vi a vontade por mais, muito mais, nos seus olhos.
— Você gosta disso?
— Que apertem meu pau como você apertou?
E lá estavam as bochechas coradas que eu passei a sentir prazer em
provocar só para ver.
— Sim.
— Consegue fazer isso enquanto rebola pra mim? Se sim, você vai
saber se eu gosto ou não.
— Eu nunca fiz…
— Vem cá que eu te ajudo.
— Mas, eu…
Girei nossos corpos colocando-a em cima do meu, e sentei, ficando
com meu nariz grudado ao dela.
— Mas antes, me deixa tirar esse vestido. Quero te ver por
completo, enquanto rebola pra mim, aperta meu pau… — Encarei seus
olhos e sorri. — E leva uns tapas nessa bunda gostosa.
— Você realmente é um pervertido…
Foi a minha vez de rir.
— Não me dê a fama sem antes experimentar tudo o que eu tenho
pra te oferecer.
Tirei minha camisa e deitei, puxando-a junto comigo… o suficiente
para empurrar minha calça para baixo e ter a liberdade para fazer tudo que
eu queria com ela. Claire em nenhum momento desviou o olhar do meu,
aguardando exatamente o que eu faria. Segurei seu rosto delicado entre as
minhas mãos, e a beijei com cuidado e sem pressa, sentindo e saboreando
ainda mais o gosto doce da sua boca. Desci minhas mãos pelo seu corpo, e
quando cheguei à sua bunda e apertei com força, seu suspiro foi audível e
como faísca acelerando as batidas do meu coração.
— Apoia as mãos no meu peito…
Sem questionar, ela fez o que eu pedi e me deixou conduzir. Abri
suas pernas com as minhas e bem lentamente, eu voltei a tomar cada
pedacinho da boceta mais molhada que eu havia experimentado na vida.
Claire cravou as unhas no meu peito, e fechou os olhos, jogando a cabeça
para trás, mordendo os lábios e sentindo meu pau invadi-la sem pressa.
— E agora, senhor Stewart?
— Agora, senhorita Evergarden… — Dei um tapa entre a sua coxa
e bunda, lhe dando um susto e arrepiando todo o seu corpo. — Você vai
rebolar gostoso no meu pau, apertando, sentindo… até eu sentir vontade de
espalhar minha porra pelo seu corpo.
As caras de choque que Claire fazia com o meu vocabulário me
dava vontade de rir e me deixava com ainda mais tesão.
— Assim…
E a diabinha, com cara de anjo, começou a rebolar indo para frente
e para trás, e quando ela descia… descia girando e apertando meu pau.
Pisquei os olhos algumas vezes, e fiquei louco em ver o quanto Claire
realmente era uma caixinha de surpresa. Ora tímida, ora ousada de um jeito
único e marcante, com o desejo dançando em seu olhar e o sorrisinho sexy e
provocador. Se ela soubesse o quanto eu amava surpresas, iria me
surpreender cada vez mais ou pararia antes mesmo de continuar.
— Exatamente assim.
A cada rebolada, a vontade de gozar era mais forte, assim como a
vontade de fodê-la com força aumentava. Eu queria conhecer cada parte do
corpo de Claire, eu queria marcá-la e dar a ela o que ela nunca teve, mesmo
sabendo que essa trégua poderia acabar a qualquer momento.
Sem me segurar mais, eu a virei… encaixei meus braços em suas
pernas e a fodi forte e gostoso, e ela me recebeu se abrindo ainda mais.
Busquei sua boca, e o beijo antes calmo se tornou agressivo de ambas as
partes, e perto de gozar, eu acelerei e a estimulei para que ela gozasse mais
uma vez.
— Aperta meu pau mais uma vez, Ruivinha!
Claire segurou no meu cabelo com força, e buscou minha boca
antes de atingir o clímax, e quando eu percebi que ela estava satisfeita,
estoquei mais algumas vezes e sem esperar mais, eu saí de dentro dela,
arranquei a camisinha e gozei na sua barriga.
Quando me recuperei e encarei seu rosto, eu me perdi. Se eu já a
achava linda, eu simplesmente me encantei em vê-la tão entregue e
satisfeita. O cabelo uma bagunça acobreada, o corpo ganhando destaque
com a luz que transpassava pela fina camada da cortina, o peito subindo e
descendo pelo sexo intenso, e a boca vermelha pelo meu beijo. Era a porra
da visão mais linda que eu já tinha visto em toda a minha vida. Fez-me
lembrar daqueles quadros renascentistas, que você perde horas e horas
admirando e se perguntando: o que esse cara sentiu para criar algo tão
único? – Nesse caso, eu teria que perguntar para Deus o que Ele estava
sentido no dia em que criou Claire.
Eu não sabia o que Claire queria de mim e, na verdade, nem eu
sabia o que eu queria, mas algo me dizia que estávamos jogando um jogo
perigoso, e que as coisas poderiam melhorar ou ficarem cada vez pior.
Tomamos um banho juntos, e eu me dediquei em satisfazê-la um
pouco mais e agora que estávamos sentados e relaxados no chão da sala,
comendo comida japonesa e cada um segurando uma taça de vinho, era
divertido ver a forma como Claire se arrepiava e ficava com as bochechas
coradas a cada olhada, ou o mínimo toque de pele com pele.
— Como tem se sentido trabalhando para James e Phillip, ao
mesmo tempo? — puxei um assunto qualquer na intenção de ajudá-la a
relaxar. Eu tinha certeza de que éramos capazes de termos uma conversa
tranquila sem deboche ou troca de farpas.
Seus ombros relaxaram e ela sorriu.
— Cansativo, mas maravilhoso.
— Maravilhoso? — Arqueei uma sobrancelha.
Ela revirou os olhos e eu pude ver com clareza que ela estava
decidindo se me xingaria ou não.
— Sim. São dois gestores totalmente diferentes um do outro, mas
que pensam em conjunto. Enquanto, James é metódico e estrategista…
Phillip é tranquilo e analítico. É uma mistura de razão com emoção, e acaba
que eu aprendo muito. Eles me ensinam diariamente como lidar com certas
situações.
Eu ri e peguei mais um sashimi de atum.
— Você deveria trabalhar comigo, conseguiu definir perfeitamente
como aqueles dois são…
— Deus me livre!
Levei uma mão ao peito e me fiz de ofendido.
— Assim você me ofende. Eu sou um ótimo gestor, sabia?
— Não tenho dúvidas disso, nunca ouvi reclamações da sua
equipe… pelo menos não de quem eu conheço.
— Então, por que a recusa tão repentina? — Cruzei os braços e a
encarei, sério, esperando uma resposta.
— Só acho que não funcionaria muito bem.
Observei seu comportamento e sorri, antes de dizer:
— Você ficaria com vontade de foder com o seu gestor… é isso?
Claire cuspiu o vinho que havia acabado de colocar na boca e me
olhou com os olhos arregalados.
— Meu Deus! Você é sempre tão direto?
— Quando estou interessado? Sim.
Cheguei um pouco mais para a frente, passei a mão pelo seu rosto
e parei na nuca, a puxando com delicadeza para mim, e quando sua boca
estava a centímetros de distância da minha, passei a língua lambendo as
gotas de vinho do seu queixo e boca.
— E agora eu estou interessado em uma coisa…
— Que seria? — ela me respondeu com a voz baixa e os olhos
quase fechando.
— Saber qual seria o sabor da sua boceta com vinho.
Sua pele esquentou e Claire apertou meu braço em resposta, e sem
esperar mais, eu a deitei no chão e abri as suas pernas, ouvindo um gritinho
de surpresa. Era hora de me fartar e eu não pararia até senti-la se
desfazendo em minha boca. E algo me dizia que eu me tornaria a porra de
um viciado.
Capítulo 16
O pecado tem nome e eu posso provar!

Faltando poucos minutos para sair de casa, eu não parava de me


olhar no espelho, analisando as pequenas marcas vermelhas deixadas pelas
mãos de Zac, assim como minha virilha marcada pela mordida que me fez
gemer como uma louca, enquanto meu corpo tremia e eu desfalecia em sua
boca, ouvindo seu gemido de satisfação e prazer por tomar tudo de mim.
Passei os dedos em meus lábios ainda inchados pelos beijos e quando
flashes do que fizemos surgiram novamente em minha mente, meu rosto
esquentou e minhas bochechas ganharam uma nova coloração, de pálidas
para rosadas.
Depois que ele foi embora, eu simplesmente me joguei na cama,
exausta e reflexiva, sobre não o ter convidado para ficar, achei que seria
algo íntimo demais e por mais que ele tivesse me dado quatro orgasmos,
ainda assim, ele carregava uma placa em letras garrafais e neon, de que eu
deveria manter a distância.
Quando me dei conta da hora, corri para o quarto segurando a
toalha em volta do meu corpo e vesti meu vestido preto tubinho. Deixei
meu cabelo todo liso e solto, e prendi as laterais atrás das orelhas. Fiz uma
maquiagem leve, coloquei meu scarpin preto e peguei minha bolsa e o
casaco antes de sair, e pedindo forças aos céus para que tudo ocorresse de
forma tranquila e para que o pecado em forma de gente não me tirasse do
sério. O que aconteceu ontem, não iria mais se repetir. Pelo menos foi no
que eu tentei acreditar!
Assim que desci do táxi, senti um frio na barriga inesperado — o
que me fez travar por um instante no lugar. Respirei fundo e limpei o que
não havia para limpar no vestido, uma tentativa em vão e idiota de me
acalmar. Entrei no enorme edifício cumprimentando as pessoas como de
costume e fui para fila de todos os dias para entrar no elevador, era algo
impressionante. A sensação que eu tinha era como se todos os funcionários
da empresa resolvessem sair de casa ao mesmo tempo, e o pior eram
aqueles que resolviam colocar o papo em dia justamente na fila, atrasando
quem precisava passar.
Depois de alguns minutos esperando, comecei a me sentir
impaciente e bati o pé no chão, bufando e achando que ninguém veria, mas
eu não imaginei que ele estaria bem atrás de mim. O hálito quente assim
como sua voz, atingiu minha pele antes do toque rápido e suave dos seus
lábios resvalarem sobre minha orelha.
— Achei que depois de ontem, você começaria a semana mais
relaxada.
O pecado tinha nome e eu podia provar, e não foi à toa que senti
um frio na barriga e para não perder minha postura, apertei as alças da
minha bolsa com força entre meus dedos. E sem olhar para trás, respondi:
— E eu achei que o ontem, ficaria no ontem.
O som da sua risada arrepiou minha pele.
— Se você me olhar agora e disser que não quer mais, o ontem…
vai ficar no ontem.
Por que ele fazia essas coisas? Irritar-me e provocar logo cedo? Ele
sabia muito bem que eu não faria algo assim com tanta gente perto. O
próximo elevador chegou e sem olhar para trás, eu entrei, e quando me
virei, quase caí dura com ele entrando logo atrás e com o típico sorrisinho
de canto de boca que me tirava do sério.
Zac parou bem atrás de mim e conforme o elevador enchia, mais
perto ele ficava de mim… do meu corpo. Quando todos que podiam entrar,
entraram e as portas se fecharam, tentei relaxar, o que foi impossível
quando o demônio apoiou a mão na minha cintura e me puxou para mais
perto do seu corpo. As pessoas falavam e riam, e eu torci para que elas
estivessem alheias ao que estava acontecendo, porque, não satisfeito, o
enviado do demônio alisou com muito cuidado a minha nádega direita
como se soubesse que estava dolorida e com as marcas que ele havia
deixado, e meu corpo respondeu receptivo e eu me odiei por isso. Conforme
ele alisava, eu sentia a umidade entre as minhas pernas e abaixei a cabeça,
tentando disfarçar o rubor que eu tinha certeza, tomava conta das minhas
bochechas.
Fingi alisar meu vestido, e segurei em sua mão na intenção de
pará-lo, mas não consegui. Zac envolveu a minha com a sua, e continuou a
me acariciar, mas com as nossas mãos juntas. Senti meu corpo esquentar
cada vez mais e ao mesmo tempo em que eu me sentia sufocada, querendo
sair do elevador e precisando de ar, eu queria ficar… queria que
estivéssemos somente nós dois naquele espaço pequeno demais. Que raiva!
À medida que os andares passavam, o elevador ia esvaziando e
com isso Zac se afastou totalmente de mim, o que foi um alívio e
desesperador ao mesmo tempo, eu estava meia hora adiantada e como
James e Phillip teriam uma reunião externa antes de virem para a empresa,
eu teria tempo sozinha para me recompor. O andar do RH era o último antes
do andar da presidência e quando Zac não saiu, ficando só nós dois… eu me
tremi toda.
Assim que as portas se abriram, ele segurou na minha mão e me
puxou em direção às escadas.
— O que você está fazendo?
— Te levando para uma rapidinha gostosa.
Abri e fechei a boca várias vezes, e Zac parou surpreso.
— Nunca fez sexo em escadas?!
— Não… eu…
— Nem na faculdade?
— E-eu não tinha tempo, eu era muito focada nos meus estudos
e…
— Ah, Ruivinha… você não faz ideia do quanto me excita saber
que eu serei o primeiro nessa experiência com você.
— Isso é loucura.
Passamos pela porta e descemos um lance de escadas, e em um
ponto que Zac provavelmente considerou estratégico, ele parou.
— É sim, mas a vida é feita de loucuras!
— Isso é errado! — Meu coração começou a bater tão rápido, que
eu me perguntei se era possível ouvir as batidas frenéticas ou não.
Zac tirou a bolsa da minha mão e colocou em um canto próximo, e
antes de fazer qualquer coisa, ele segurou em meu rosto e passou a língua
bem devagar pelos meus lábios.
— Só vai ser errado se você quiser que seja… quer que seja?
Olhei em volta e tentei de forma inútil olhar por cima do ombro
dele, e a louca safada em mim gritou para eu me jogar.
— Não.
— Então, vira e apoia as mãos na parede e empina essa bunda
gostosa e marcada pelos meus tapas pra eu te comer rapidinho e gostoso…
— Senhor!
— Não, meu anjo! Em situações assim, seremos somente você e
eu.
Ouvi o barulho rápido e baixo do pacote de camisinha sendo aberto
e me segurei para me manter firme com as mãos apoiadas na parede. E, foi
quando eu o senti entrar de uma única vez, que percebi que havia prendido
a respiração que saiu como um gemido sôfrego dos meus lábios e foi… foi
tão gostoso, que eu me vi empinando e pedindo por mais com uma de suas
mãos envolvendo meu pescoço, me enforcando de leve.
Zac Stewart realmente fazia valer a fama que ganhava pelos
corredores da empresa e pela cidade de Nova York, deixando marcas e um
rastro de luxúria por onde passava. Eu sentia uma luta interna dentro de
mim. Entre a Claire que queria distância por saber quem ele era, e a Claire
que queria aventuras e despertar todos os desejos ocultos e obscenos que
existiam dentro dela. Uma contradição sem lógica e sem sentido, eu sabia.
— Já que essa bunda precisa de um descanso das minhas mãos…
olha pra mim, Ruivinha! Me mostra que está gostando de me ver enterrado
dentro de você.
Gemi frustrada por não querer demonstrar o quanto ele me
agradava e afetava, mas olhei e foi um choque indecente ver seus olhos
castanhos brilhando cheios de desejo e a boca vermelhinha e convidativa
tão próxima da minha. Senti uma vontade enorme de morder, mas abaixei a
cabeça por não conseguir encará-lo por muito tempo. Meu coração acelerou
com a forma como ele me segurava e apertava minha bunda, abrindo e
investindo ora lento e ora forte, meu corpo pedia por mais e eu desejei que
o momento não acabasse. Gemi um pouco mais alto, e senti a mão esquerda
de Zac apertar meu pescoço um pouco mais forte.
— Shiii… quer ser pega no flagra? Porque eu não me importo, mas
você eu sei que sim.
— Impossível me manter quieta… — rebati irritada e revirando os
olhos, e ouvindo a risadinha do pervertido.
Zac virou um pouco meu rosto para ele, e disse:
— Então, me beija pra ninguém ouvir. — Sua boca foi até o meu
ouvido e eu me segurei para não cair. — Porque eu vou te comer mais forte
e quero que você trabalhe o dia todo lembrando que meu pau esteve dentro
de você.
— Caralho… — Fiquei chocada quando ouvi que o palavrão havia
saído da minha boca, o que deixou Zac ainda mais excitado.
— Isso… no que depender de mim, vai ser caralho atrás de
caralho.
Eu tive a certeza de que estava me perdendo quando um sorriso
fraco se desenhou em meus lábios por gostar de ouvir as palavras sujas que
saíam da boca dele, assim como a mistura de gemidos e o som dos nossos
corpos se chocando um contra o outro. Os movimentos de Zac se tornaram
mais rápidos e brutos, e por mais que eu estivesse gemendo contra os lábios
dele enquanto era beijada, a batida do seu corpo contra o meu era possível
ser ouvida. Ecoando de forma rápida e bruta pelas escadas. Minutos depois,
eu não aguentei e gozei mordendo seu lábio inferior, sentindo sua mão
apertar meu pescoço mais forte e seu corpo tremendo contra o meu.
Ficamos um tempo juntos até nos acalmarmos e quando nos
separamos, Zac me virou com cuidado e ajudou a me recompor antes de me
ajeitar. Preocupei-me quando a calcinha não conseguiu segurar minha
excitação, e um pouco desceu pela minha perna direita. Zac tirou um lenço
de dentro do paletó e se agachou na minha frente com carinho e cuidado,
me deixando imóvel pela atitude. Quando ele levantou a cabeça e sorriu,
tomei um susto.
— Merda! — De forma impulsiva e desesperada, eu segurei em
seu rosto e o puxei para perto de mim. — Sua boca está sangrando. Me
desculpe! Eu…
— Relaxa, anjo! Estamos quites.
— Quites?
— Sim! Eu trabalho com algo seu e você trabalha com algo meu.
— Olhou entre nossos corpos e sorriu, me deixando envergonhada.
— Você é sempre assim?
— Assim como?
— Tão… tão…
— Tão? — E lá estava o sorriso de canto de boca que me
desarmava e excitava.
— Deixa pra lá!
— Vem cá! — Suas mãos envolveram meu rosto e seus lábios os
meus, em um beijo calmo, carinhoso e, ainda assim, indecente. — Eu
poderia ficar mais tempo aqui, mas se eu ficar… eu vou querer te comer de
novo e de novo, até esfolar meu pau.
— De jeito nenhum. Eu preciso trabalhar, não sou chefe como
você.
Afastei-me, pegando minha bolsa do chão e subindo os primeiros
degraus de volta para o ambiente de trabalho.
— Mas tem um futuro promissor pela frente.
— Quem disse?
— Eu estou dizendo.
— Como você pode ter tanta certeza? — Continuei subindo sem
olhar para trás.
— Porque com os meus anos de experiência na área de RH e
gestão, eu consigo enxergar um talento de longe.
Sem que ele visse, eu sorri. Porque senti sinceridade em suas
palavras e apesar da pouca idade, Zac era um dos melhores na área. Na
verdade, ele era excelente a ponto de receber propostas de inúmeras
empresas e sempre negando qualquer oferta.
Parei em frente à porta e não tive coragem de abrir, ouvindo
novamente a sua risada.
— A vida é feita de loucuras, anjo! Não se esqueça disso.
Com isso, ele abriu a porta na maior tranquilidade, olhou o
ambiente e me deu passagem para sair, e antes que eu pudesse me afastar,
ele me puxou pela cintura, me deu um selinho rápido e caminhou em
direção ao elevador. E assim que entrou, apontou para o lábio vermelho e
um pouco inchado.
— Será prazeroso te ter por perto hoje. — Piscou para mim antes
das portas se fecharem.
Joguei-me na cadeira, e passei as mãos pelo meu rosto e comecei a
rir de nervoso.
— O que eu estou arrumando para a minha vida?
Capítulo 17
Um anjo também pode pecar!

— Cara… você está prestando atenção no que a gente está


falando? — Phillip perguntou pela terceira vez.
— Claro! O que te faz pensar que eu não estou?
— A sua cara de idiota.
— Não sei onde! — Endireitei-me na cadeira do restaurante e
peguei meu suco de limão, que para me foder ainda mais, bateu no corte do
meu lábio inferior e ardeu. — Porra! — resmunguei sentindo a ardência
pelo líquido ácido.
— De duas uma… — James encostou-se à cadeira e levou as mãos
cruzadas ao queixo. — Ou você fez merda, ou irritou alguma das suas
conquistas. E observando melhor… — Meneou a cabeça de lado e sorriu.
— Esse corte até que te deixou charmoso.
— Vai se foder! E para informação dos dois cuzões… — Apontei
para os dois relaxando novamente na cadeira. — Quando a pegada é boa,
ela deixa marcas.
— Com a cara de idiota que você estava há poucos minutos… eu
poderia dizer que Zac Stewart finalmente está balançado por uma mulher,
primo?
— Parece que sim, Phill!
— Desde quando? — Bufei. — Tenho um currículo a zelar.
— Vamos ver até quando, irmão! — Phillip debochou da minha
cara mais uma vez, antes de darmos continuidade à nossa conversa de
negócios.
Passar a manhã inteira pensando na ruivinha arisca, não queria
dizer que eu estava apegado, balançado ou, muito menos, me envolvendo.
Eu não era um cara de me apegar com facilidade, e para falar a verdade…
eu nem conseguia me lembrar quando foi a última vez que eu me apaixonei.
Porém, havia algo em Claire que chamava a minha atenção. Talvez fosse a
sua carinha de anjo, mas o fogo de uma diabinha. Eu percebi e senti que
Claire tinha muitos desejos reprimidos e até mesmo guardados, e se ela
quisesse, eu estava disposto a viver cada um deles com ela.

No retorno para a empresa, me deparei com Claire caminhando à


nossa frente de braços dados com Ryan e a alguns metros de distância era
possível ouvir a sua risada tão doce e engraçada, e isso, de alguma forma,
me fez sorrir e incomodou ao mesmo tempo. Era bom vê-la sorrindo e tão
relaxada, mas me incomodou em ser Ryan o responsável por fazê-la sorrir,
por fazê-la gargalhar daquele jeito… sem nenhuma vergonha e como se
fosse uma menina de doze anos. Coloquei as mãos nos bolsos da minha
calça, e tentei disfarçar a frustração perto dos meus amigos que nos últimos
dias me tiraram para Cristo.
Próximo à entrada do edifício, dois furacões brasileiros apareceram
e os gritinhos foram ouvidos, quando as meninas abraçaram Claire e
cumprimentaram Ryan. Sara e Bela sempre causavam aonde quer que elas
fossem, e era impossível alguém não se contagiar com a alegria delas. Acho
que alegria era marca registrada do brasileiro.
Quando nos aproximamos e Claire me viu, suas bochechas
coraram e seus olhos desviaram dos meus e sem se abalar, ela nos
cumprimentou e voltou a conversar com as meninas que falavam animadas
e sem parar sobre vários assuntos ao mesmo tempo, algo que me deixava
confuso e admirado com a habilidade que as mulheres tinham de ir e voltar
entre os mesmos assuntos sem se perderem.
— Com licença a todos, mas preciso voltar ao trabalho — Ryan
disse todo educado. Não me lembrava de ver tanta gentileza e educação por
parte do gênio da TI.
— E o nosso sorvete? — Claire perguntou antes que Ryan se
afastasse.
— Mais tarde? Na sua sorveteria preferida?
— Combinado. — O sorriso dela foi algo tão natural e lindo, que
sem perceber eu fiz uma careta. E que porra era essa de sua sorveteria
preferida?
— Está tudo bem, Zac?
— Como? — Olhei para Sara que me observava, curiosa. — Por
que a pergunta, princesa?
— Pela cara de desgosto que você acabou de fazer.
— Eu não…
— Você, sim! — E lá estava o sorrisinho de deboche.
— Claro que não! Só estou com um pouco de dor de cabeça.
— Desde quando? — foi a vez de Phillip me questionar com ar de
riso.
— Desde agora! Algum problema?
— Você anda muito sensível…
— E você anda muito curioso — falei um pouco irritado. —
Preciso trabalhar, porque apesar de vocês serem os chefes… — Apontei
para os dois cuzões que me olhavam rindo. — Se eu não trabalhar, vocês
não têm colaboradores para fazer esta empresa andar. Com licença!
Pedi licença e dei as costas, caminhando em direção à entrada, com
uma falsa dor de cabeça e irritado sem motivo.
— A gente te ama, Zac! — James disse aos risos, e era melhor não
responder e dar mais munição para perturbarem a minha cabeça, que já não
estava boa.
Assim que entrei na minha sala, me joguei na cadeira e fiquei um
bom tempo olhando para o meu computador e vendo a quantidade de
trabalho e reuniões que saltavam na tela, e eu só conseguia pensar em uma
coisa: sorvete mais tarde e na sorveteria preferida dela? Era a porra de um
encontro de adolescente?
— Quer saber? Que se foda! Eu não tenho nada a ver com isso.
Cada um vai na sorveteria que quiser e com quem quiser.
Uma batida na porta chamou a minha atenção e Camille entrou
rebolando tanto em cima de saltos tão altos, que eu tinha medo de que
qualquer dia ela caísse ou deslocasse o quadril – isso, se fosse algo possível
de acontecer –, e em suas mãos tinha uma pilha de pastas.
— Diga!
— O departamento pessoal pediu que te entregasse essas pastas
com a indicação de alguns candidatos e candidatas para a área de TI.
— Ah, sim! Já estava na hora. — Rapidamente me endireitei na
cadeira, e peguei as pastas, animado para começar a analisar as
candidaturas.
— Eles também querem agendar uma reunião. Você tem
disponibilidade na agenda quarta à tarde e sexta de manhã. Qual dia fica
melhor para você?
— Pode ser na quarta à tarde. Quanto antes fecharmos as vagas,
melhor.
— Tá certo! Vou agendar e em alguns minutos o convite chega
para você.
— Muito obrigado, Camille! Não é hoje que você precisa sair mais
cedo?
— É sim! Só vou finalizar a agenda e vou.
— Ok! Se precisar de algo, ligue.
— Tá bem! Muito obrigada!
Camille tinha um jeito extravagante, mas era uma funcionária
dedicada e comprometida, e sempre que precisava ela ficava até mais tarde
para me dar suporte no que era preciso e era impossível negar quando ela
me pedia para sair mais cedo, pois era raro e quando acontecia, era sempre
em período de provas na faculdade. Camille estava cursando administração
e estava louca para atuar na área de gestão de pessoas e as portas estariam
abertas para quando esse momento chegasse, ela só precisaria melhorar seu
temperamento.
Comecei a minha análise e, como sempre, eu fiquei imerso e
focado em conhecer cada candidato, e não percebi o dia passando. Era um
melhor que o outro e de dez candidaturas, Ryan precisava de três. Além de
fazer a reunião com o departamento pessoal, seria necessário uma com ele.
Seria preciso um dia inteiro para Ryan bater um papo pessoalmente com
cada um que passasse para a próxima etapa, algo que o deixaria irritado, já
que foi um sacrifício fazê-lo aumentar a equipe.
Depois de analisar a última candidata, vi que já eram quase sete da
noite. Desliguei tudo, peguei minhas coisas e saí em direção ao elevador.
Precisava levar Jacob para dar uma volta e estava doido para tomar um
banho quente e relaxar um pouco, e a semana mal havia começado. Se
havia uma coisa que eu amava era trabalhar, mergulhar e me jogar com tudo
no que me era solicitado e no que eu pudesse fazer para melhorar a rotina e
os processos da empresa, o dia, apesar de ter sido produtivo, em
determinados momentos me vi disperso e eu odiava perder o foco do que
era necessário e importante, ainda mais quando envolvia o meu trabalho.
Saí do elevador e peguei meu celular, e ver algumas ligações
perdidas da minha mãe me incomodou. Em poucos dias, seria aniversário
do meu pai e saber que eu teria que fazer o bom filho e fingir uma
felicidade que não existia em uma família quebrada como a minha, me
tirava do sério e me cansava antes mesmo de acontecer.
Próximo ao carro, cruzei com algumas pessoas e duas delas eram
Claire e Ryan. Ela ficou sem jeito e Ryan me cumprimentou sucinto como
sempre, e aproveitei para comunicá-lo sobre a reunião.
— Ryan, hoje meu departamento pessoal me entregou algumas
candidaturas para sua equipe, e já adianto que são profissionais excelentes.
— Vocês são rápidos!
— Agilidade e eficiência fazem parte da rotina diária da equipe.
— Terei que participar do processo?
— Infelizmente, pois a parte técnica é com você. Mas, não se
preocupe… farei junto a equipe a seleção dos melhores, e irei te comunicar.
Você já vai entrar na reta final.
Vi seus ombros relaxarem.
— Agradeço!
— É o meu trabalho. Preciso ir e para vocês… — Olhei de um para
outro. — Um bom sorvete.
A raiva passou pelos olhos de Claire, porém eu não estava nem aí.
Dei as costas para ambos, e assim que eu entrei no carro, recebi uma
ligação.
— Oi, querido! Sei que é segunda, mas estou na cidade até sexta.
Será que eu consigo um horário na sua agenda.
E sem pensar duas vezes, eu respondi:
— E você ainda me pergunta?
— Com você é uma disputa muito grande…
— Sabe que para você não é assim… — Coloquei a chave na
ignição do carro e dei partida. — Me fala o hotel que você está que mais
tarde eu passo para te ver.
— Ansiosa! Vou te enviar por mensagem.
— Combinado, morena!
Desliguei e fui para casa, tentando não pensar muito em uma
ruivinha com carinha de anjo, afinal, eu era Zac Stewart e tinha uma fama a
zelar.
Capítulo 18
Acho que foi um erro!

A semana passou voando, e quando eu pisquei, já era sexta-feira.


E, de alguma forma, foi uma semana inquieta e pesada, desde segunda que
eu estava com algumas palavras guardadas para falar para aquele pervertido
que simplesmente sumiu e quando esbarrou comigo pelos corredores da
empresa, muito mal me olhou. Não que eu quisesse a atenção dele, longe de
mim, mas a postura dele comigo e com Ryan, na segunda, me incomodou
bastante. Era como se ele estivesse desdenhando do meu sorvete com meu
amigo que, além de gato, era cavalheiro, educado, gentil, gente boa e muitas
outras qualidades que eu poderia passar um dia inteirinho listando que,
ainda assim, não seriam o suficiente, diferente daquele… daquele… bufei e
joguei para longe pensamentos que envolviam Zac Stewart.
Mais tarde, eu iria a um barzinho com as meninas. Sara havia
marcado a data do casamento e estava superanimada e ansiosa para
compartilhar os detalhes. E Bela para compartilhar as mudanças na vida
dela em relação ao seu novo desafio na empresa onde ela trabalhava, e de
acordo com as duas, elas precisavam dançar e ouvir uma música boa para
extravasar. Concordei, porque senti que eu também precisava. E fiquei
aliviada que só as meninas iriam, porque se tinha uma coisa que eu havia
aprendido era que James, Phillip e Zac eram como se fossem os três
mosqueteiros. Sempre juntos!
Em casa, tomei um banho demorado e perdi um bom tempo
escolhendo uma roupa que me deixasse à vontade. Eu não sabia em qual bar
iríamos, mas optei por uma calça jeans, um body transparente e com leves
brilhinhos rosa, e uma jaquetinha de couro preta. Nos pés, escolhi um all
star preto, prendi o cabelo em um coque frouxo e peguei minha bolsinha
preta transversal. Era isso e estava ótimo!
No horário combinado, Sara parou em frente ao meu edifício e
Cláudio, como sempre, desceu para abrir a porta para mim.
— Oi, Cláudio! Tudo bem?
— Tudo bem, senhorita Evergarden.
— Claire… Cláudio! — Sorri. — Por favor?!
— Vou tentar. — Sorriu gentil. Cláudio era segurança pessoal de
James e Sara, e sempre que saíamos, ele ficava responsável por nos
acompanhar.
— Daqui a pouco, ele se acostuma, gata — Sara disse rindo. — Foi
assim comigo, com a Bela… quando ganhar mais intimidade com você, ele
será menos formal.
Entrei no carro rindo e quando sentei, Bela deu um grito:
— NÃO CREIOOO! Olhem para os nossos pés.
Na mesma hora, olhamos e começamos a rir.
— Puta que pariu vinte vezes!!! — Sara levou as mãos à boca. —
Se a gente combinasse, não seria tão legal.
— Verdade! — falei, chocada. Cada uma estava com um all star.
Sara com amarelo, Bela com um azul e eu com o preto.
Durante o caminho até o bar, falamos sem parar, e decidindo se
ficaríamos em um lugar mais calmo ou mais agitado, acabou que Bela
pesquisou e achou um bar conhecido que juntava o aconchegante com o
agitado, e foi próximo à Times Square que ficamos.
O lugar era realmente agradável, a música ambiente e gostosa, e
dava para ver que os frequentadores amavam. Sara correu e se jogou em
uma mesa que nos dava uma boa visão do lugar e, sem perder tempo, pegou
o cardápio e se perdeu nas opções. Bela sentou de um lado e eu de outro.
— Sabe que você não pode beber, né, vaquinha?
— Eu sei, bandida! Eu sei! — Sara passou a mão no rosto,
frustrada. — Vou pedir um desses coquetéis de fruta sem álcool e depois um
hambúrguer da casa com essa batata frita rústica com bacon. Olha, gente?
— Virou o cardápio para que pudéssemos ver. — Tá ou não tá com uma
cara bonita?
— Nossa… parece delicioso! — concordei. — Acho que vou pedir
um também, almocei muito mal.
— Eu também vou pedir um, mas antes vamos abrir a noite com
uma bebidinha pra relaxarmos a semana tensa de trabalho — Bela disse e
logo em seguida chamou um garçom para nos atender.
Pouco tempo depois, o garçom trouxe nossas bebidas. Bela pediu
um sex on the beach e eu pedi uma margarita, e era engraçado ver o
aborrecimento de Sara por não ter algo alcoólico para beber.
— A gente se contenta com o que pode e é permitido… —
Acariciou a barriga com muito carinho. — Meu anjinho é prioridade.
— Você não faz ideia do tamanho do meu orgulho, amiga. — Bela
sorriu emocionada. E eu me emocionei em ver a cumplicidade e parceria
das duas.
— Que Deus abençoe a amizade de vocês! — falei com carinho.
— Que Deus abençoe a nossa amizade. — Sara segurou a minha
mão. — Agora você faz parte da nossa vida, e por isso está aqui para
fofocarmos e surtarmos juntas com os preparativos do casamento.
— Exatamente… — Bela fez o mesmo que Sara. — Você entrou
na nossa vida para ficar, gata. E nem tente fugir, já imaginou duas
brasileiras loucas atrás de você?
— DEUS ME LIVRE! — praticamente gritei com a possibilidade.
Começamos a rir e passamos as horas seguintes falando sem parar
do casamento de Sara, vendo fotos da decoração, buffet, vestido e muito
mais. Só paramos de falar para comer e antes mesmo que eu desse a
primeira mordida no meu hambúrguer, ouvi alguns suspiros e eu não
precisei olhar para trás para saber o motivo. Pelos olhares apaixonados das
minhas amigas, James e Phillip haviam acabado de chegar e antes que eu
pudesse me perguntar se o terceiro mosqueteiro estaria junto ou não… meu
corpo arrepiou e eu consegui a resposta da pergunta que não tive tempo de
formular, porque, segundos depois, ele apareceu na minha visão e… e, ele
não estava sozinho?!
Ao lado dele estava uma morena que parecia que tinha acabado de
sair de uma capa de revista. Bela e Sara piscaram os olhos algumas vezes,
mas não de aborrecimento e sim de curiosidade. E eu? Eu senti meu
coração acelerar, e ao mesmo tempo, senti vontade de pegar minhas coisas e
ir embora. Por qual motivo, eu não sabia dizer.
James e Phillip me cumprimentaram e sentaram ao lado das
meninas, pedindo suas bebidas, e eu acabei rindo da interação entre eles.
Peguei meu hambúrguer dando uma mordida e me forcei a comer, não tão
animada como as batatas fritas, mas comi. Jogar comida fora é que eu não
iria, de jeito nenhum.
— Esse hambúrguer é gostoso?
Olhei para Zac sentado ao meu lado, e me perguntei quando foi
que ele sentou e onde estava a morena que chegou com ele.
— Pede um e você vai saber.
A surpresa passou rapidamente pelos seus olhos e logo em seguida
a porra do suspirar tomou conta dos seus lábios.
— Pra que tanta hostilidade se eu só fiz uma pergunta?
— Não estou sendo hostil, só estou sendo… — Parei para pensar e
comi uma batata. — Sincera.
— Entendemos a “sinceridade” de forma diferente, então.
— Pelo visto, sim. — Peguei mais uma batata e enfiei na boca. —
Acho que sua amiga precisa de ajuda. — Apontei para a morena que fazia
sinal para a nossa mesa. — Ela não para de balançar as mãos.
Zac olhou na direção da morena e, de alguma forma, ele entendeu
o que ela queria e fez um sinal em resposta. Ri de forma involuntária e
balancei a cabeça, me sentindo incomodada com uma interação simples.
— Vou ver o que a Jennifer quer, e… — Levantou e antes de se
afastar, falou rapidamente no meu ouvido: — Ela é só uma amiga,
Ruivinha.
— E o que eu tenho…
O pervertido já tinha se afastado e, por um instante, eu desejei que
ele tropeçasse e perdesse a pose de galã, e principalmente o sorriso que me
irritava e mexia comigo de alguma forma.
Passei a hora seguinte conversando com os casais, e uma vez ou
outra observando Zac à distância com a morena e os amigos de ambos, pelo
menos foi o que pareceu e quando dois pares de olhos brasileiros me
pegaram no flagra, tentei disfarçar em vão e eu soube que já era hora de ir
embora. Eu sabia que as meninas tentariam tirar alguma informação de
mim, mas não seria naquele momento.
— Gente, já deu minha hora!
— Mas já? — Sara reclamou.
— Hoje é sexta, Claire! Fica mais um pouco… — Bela começou e
eu sabia que se a deixasse falar, ela me convenceria a ficar.
— Eu sei, mas eu realmente preciso ir.
— Vou pedir para o Cláudio te levar.
— Imagina, James! Não precisa.
— Tenho certeza que ela vai embora porque vocês apareceram. —
Sara deu um tapa no braço de James.
— Ai, princesa! Tá doida? — Alisou o local do tapa. — Só
passamos aqui porque estávamos por perto.
— Passaram aqui porque são controladores — Bela disse na maior
tranquilidade e Phillip se fez de ofendido.
— Desde quando eu faço isso, minha linda?
— Desde sempre… porque é uma marca registrada da família
Wilson.
Eu comecei a rir.
— Gente, eu só vou embora porque eu estou muito cansada, só por
isso. — Peguei minha bolsa.
As meninas reclamaram mais um pouco, mas respeitaram a minha
decisão. E antes de sair do local, eu olhei para trás e vi que Zac me
acompanhava com o olhar, mas dessa vez não tinha o sorrisinho no rosto.
Quando ele ameaçou vir na minha direção, eu saí e me enfiei no primeiro
táxi que eu vi pela frente. Não tínhamos nada para conversar, e se ele tinha
algo para falar… não me interessava.
Assim que cheguei em casa, tirei meus sapatos, troquei de roupa e
me enfiei debaixo da coberta decidida a dormir até tarde no dia seguinte, eu
precisava descansar e me desligar do mundo lá fora. Era o que queria e
desejava, mas nem sempre desejos se realizam e o inesperado aconteceu no
meio da noite.
Capítulo 19
Impulsivo

Uma hora já havia passado e eu estava tentando entender desde


quando eu me tornei alguém impulsivo, para fazer o que eu fiz?
Quando eu vi Claire indo embora, me senti impaciente por não a
ter por perto e o papo com Jennifer e os nossos amigos em comum se
tornou sem graça e desinteressante, porque uma parte de mim só queria
provocar a ruivinha arisca e a outra queria papear com os amigos que na
correria da vida adulta, eu quase não tinha a oportunidade de conversar.
— O que foi? Parece disperso — Jennifer chamou a minha
atenção, passando a mão na minha perna.
— Não. Só estou me sentindo cansado.
— Logo você? O cara da noitada está se sentindo cansado em uma
sexta-feira? O que fizeram com Zac Stewart?
— Ele continua aqui, morena. — Ri e de forma delicada tirei sua
mão da minha perna, e o que havia sido divertido e gostoso há algumas
horas, me pareceu sem sentido. — Só que esta semana foi bem puxada.
Jennifer inclinou a cabeça de lado e olhou a forma como eu
segurava sua mão, e apesar do seu sorriso, eu sabia que as perguntas
pulavam em sua cabeça. Nos conhecíamos desde a época do colégio, e ela
sabia que apesar de ser tranquilo, minha vida era a minha vida e me encher
de perguntas não era o caminho.
— Vai embora?
— Vou sim! — Olhei para trás e vi que o pessoal ainda estava na
mesa. — Vou só me despedir dos meus amigos. Você vai ficar bem?
— Sim! Eu sempre fico e você sabe disso. — Puxou-me para um
abraço e disse no meu ouvido: — Você nunca foi santo, mas eu sempre
soube que o dia que você encontrasse alguém que mexesse com o seu
coração, você se doaria por completo.
Sorri confuso, e falei baixinho:
— Acho que você está vendo coisas onde não existe.
— Talvez sim, talvez não… uma pena que foi uma ruiva que
ganhou a sua atenção e não uma morena.
Fiz uma careta e balancei a cabeça. Jennifer sempre tinha umas
teorias loucas, que até eu me confundia.
— Fica bem! Vamos nos falando. — Deixei um beijo em sua
bochecha.
— Você também… se permita!
Sorri balançando a cabeça, me despedi dos nossos amigos e fui em
direção aos meus. Sendo observado além do necessário pelos caras e pelas
meninas, o que me deixou um pouco desconfortável e sufocado. E depois
que eu fui embora, só me dei conta de onde eu estava após ter parado o
carro.
— Caralho… o que está dando em mim? — Encostei a cabeça no
banco do carro e passei as mãos no rosto, pensando se eu deveria descer ou
não. Passava das duas da manhã e provavelmente ela estava dormindo, ou
em outro lugar. A rua deserta e a noite fria me fizeram repensar. E minha
escolha foi descer e ir até a porta do edifício. Já que eu estava ali, iria até o
fim.
Toquei uma, duas, três e na quarta a porta do edifício abriu,
mostrando a pequena figura ruiva aborrecida com uma carinha linda de
sono, vestindo uma roupa de dormir maior que o seu pequeno corpo.
— Posso saber o que está acontecendo?
— Eu estava aqui por perto e passei para te ver.
— De madrugada? — Tirou a mão da porta e cruzou os braços,
tentando se proteger do frio. Pensei em puxá-la para os meus, mas precisava
acalmá-la primeiro.
— Você está bêbado?
— Não. É preciso estar bêbado para vir te ver?
— Quando é de madrugada sim, a não ser… — Levou as mãos à
boca e arregalou os olhos. — Aconteceu alguma coisa com a Sara e o
anjinho, e você não sabe como me contar. É isso?
Os pequenos olhos verdes se encheram d’água, e sem esperar mais,
eu a puxei para os meus braços.
— Não aconteceu nada com ninguém, Claire. Eu que queria te
ver… — Alisei suas costas quando senti seu corpo enrijecer. — É tão difícil
acreditar?
Claire se afastou e quando ia falar, o queixo tremeu e o barulho de
dentes batendo um no outro, me fez rir. Tentou olhar por cima do meu
ombro, buscando algo ou alguém.
— Estou sozinho.
— Não estou procurando por ninguém… — Bufou. — Você já me
viu, agora pode ir embora.
— Não posso ficar mais um pouco?
— Só se for para tomar um chocolate quente, né?
— Eu adoraria.
A careta que ela fez foi tão feia e fofa ao mesmo tempo, que eu não
segurei e ri, deixando-a mais irritada.
— Desde quando Zac Stewart toma chocolate quente de
madrugada com uma mulher sem segundas intenções? E no fim de semana?
— Desde que essa mulher seja você.
Vi a vergonha e a dúvida tomarem conta do seu rosto, tentando
saber se eu falava a verdade ou não.
— Eu não sei o que está acontecendo, mas estou com muito frio.
— Entendi como um sim, e entrei fechando a porta do edifício
aconchegante e bem nova-iorquino — Uma caneca e você vai embora.
— Você quem manda, anjo!
Começamos a andar e eu ouvi baixinho:
— Meu Deus, se for laço do inimigo, afasta da minha vida.
Mordi meu lábio superior e segurei o riso, porque se Claire me via
como algo do inimigo, ela não tinha noção do significado que eu poderia
dar para a palavra “pecado”. E ajuda divina não seria a resposta.

— Quer ajuda?
— Não. Eu já estou acostumada.
— Há quanto tempo que você mora aqui?
— Vai fazer três anos. Por quê?
— Porque não só o lugar, mas o edifício e seu apartamento são
bem aconchegantes.
Vi um pequeno sorriso em seus lábios.
— Quando eu vim para cá, busquei encontrar um lugar que, de
alguma forma, me deixasse perto da natureza devido à fazenda onde eu
cresci. Eu sei que é Nova York, mas quando encontrei esta rua repleta de
árvores e este edifício, eu sabia que teria que ser aqui.
— Acertou em cheio. Eu moraria aqui sem pensar duas vezes.
— Não gosta de onde mora?
Aceitei a caneca que ela colocou na minha frente, e o cheirinho me
fez lembrar a minha infância.
— Não, eu amo.
— Fica muito longe da empresa?
— Na verdade, não. Uns quinze minutinhos. Moro de frente para o
Central Park.
Claire assoviou e eu adorei ouvir o som.
— Deve ser tudo, acordar e poder admirar o parque.
— É sim. Jacob ama… ele sempre fecha os olhinhos marrons e fica
sentindo a brisa fresca na carinha e nos pelos.
— Eu faria o mesmo. — Pegou a própria caneca e sentou no sofá,
colocando os pés para cima, tentando esquentá-los com uma almofada.
— Você pode fazer.
— Quem sabe um dia… preciso trabalhar muito para ter um
apartamento assim.
— Ou você pode jantar comigo e com Jacob, e acordar admirando
o Central Park.
Claire paralisou e eu também, porque eu nunca havia feito um
convite desses para uma mulher. Meu espaço era meu espaço e de Jacob, e
mais ninguém. Era sagrado!
— Um dia… quem sabe! — Claire bebeu um gole nervosa e
acabou se queimando. — MERDA!
Coloquei minha caneca em cima da mesinha de centro e fiz o
mesmo com a dela.
— Deixa eu ver…
— Não precisa.
Tirei seus dedos da minha frente e me aproximei, sentindo seu
cheiro doce e frutal, com uma mistura de chocolate. O que acabou
bombeando sangue para um lugar que eu amava usar.
— Ficou vermelho. Não só o lábio, mas a pontinha da língua.
— Vou tomar um pouco de água e deixar esfriar bastante antes de
beber.
— Deixa que eu te ajudo…
— Como?
Puxei Claire para o meu colo, e enfiei uma de minhas mãos no
cabelo solto e com a outra a puxei para mais perto de mim, sem deixar um
espaço sequer entre os nossos corpos que só eram separados pelas nossas
roupas.
— Assim… — Passei minha língua com cuidado em seus lábios e
bem devagar chupei sua língua ouvindo seu gemido baixinho.
— É assim que você quer ajudar?
Apoiou as mãos no meu peito e me encarou com os lábios
próximos aos meus.
— Não. É assim que eu quero cuidar de você.
— Precisa ser mais carinhoso.
Sorri e encostei minha boca na dela.
— Eu serei… aqui e em todos os cantos do seu apartamento.
Capítulo 20
Existe certo e errado?

Meu peito subia e descia, e ao mesmo tempo em que eu estava


exausta… eu queria mais. O dia estava quase amanhecendo, mas para mim
era indiferente. Eu queria mais dessa mistura bruta e carinhosa que era Zac
Stewart. Se ele era assim com todas, eu não sabia e talvez não quisesse
saber, mas algo nele despertava os desejos mais pecaminosos em mim.
Parecia que o que estávamos fazendo era só a pontinha do iceberg, e se eu
olhasse mais a fundo e com mais atenção, iria me surpreender ou me
assustar, eu não sabia dizer ao certo. Era uma mistura contraditória de certo
e errado, da redenção com a perdição, do bem e do mal, do divino com o
pecado.
Zac analisava meu corpo com tanta malícia e vulgaridade que eu
sentia como se fosse entrar em combustão apenas pelo jeito como ele me
olhava, olhava não… me comia com os olhos. Sem que ele me tocasse, meu
corpo correspondia arrepiando, tremendo e a umidade entre as minhas
pernas escorria, fazendo com que eu me sentisse uma cadela no cio. Minha
mente dizia que era loucura, mas meu corpo pegando fogo dizia que não.
— Abre bem essas pernas pra mim… quero ver cada pedacinho
dessa bocetinha melada.
Minha respiração foi sofrida e lutando contra a minha vergonha, eu
fiz exatamente o que ele me pediu. Abri o máximo que eu pude, e tentei não
desviar meus olhos dos dele. E sem que eu esperasse, Zac me puxou,
enfiando com tudo a boca entre as minhas pernas. Um gemido engasgado
escapou dos meus lábios e enlouqueci com a cena mais erótica da minha
vida.
Zac me lambia e chupava como se eu fosse algo extremamente
saboroso, ele era a visão pecaminosa que excitava e estimulava com o
cabelo bagunçado, o rosto e o peito ficando vermelhos, e a boca brilhosa
dos meus fluidos. Era sexy, vulgar… convidativo. Seus gemidos de prazer e
satisfação aceleravam meu coração e no desespero de tentar segurar o
redemoinho que se formava bem no meu monte sensível, eu levantei o meu
quadril e segurei com força no cabelo dele e comecei a me esfregar sem
pudor algum, ouvindo sua risadinha. Esfreguei-me cada vez mais forte, e
quando sua língua atingiu no lugar certo, eu gritei extasiada com a onda
forte de prazer que me dominou.
E com a respiração ofegante e um pouco desorientada, Zac colocou
outra camisinha e encaixou os ombros abaixo dos meus joelhos, me fazendo
sentir a cabeça do seu pau deslizando na minha entrada.
— Sem descanso? — perguntei.
— Sem descanso, anjo! Você gozou na minha boca… — Ele
esfregou a boca na minha, me fazendo sentir meu próprio sabor. — Agora
você vai gozar no meu pau, e vai gozar com ele todo enterrado em você.
— Você é… — E eu senti a primeira estocada indo bem fundo. —
Ai, caralho!
— Te machuquei?
— Não! — Passei a língua em seus lábios. — Só me assustei.
Ele me olhou com luxúria e carinho, e com um sorriso se formando
em seus lábios novamente, ele estocou mais uma vez.
— Que bom! — Riu.
— Por que você está rindo?
— Porque você fica sexy falando “caralho”.
— Nunca falei tanto palavrão, sabia?
— Quer dizer que eu sou o culpado?
— Pode ter certeza que sim. — Zac entrou e saiu mais uma vez me
provocando.
— Fala mais uma vez…
— Não! — Mordi meu lábio inferior para não falar.
— Não?
— Não.
— Tudo bem, Ruivinha!
Antes eu tivesse falado, porque Zac simplesmente me fodeu sem
pena e enquanto eu não gritei o que ele queria, ele não parou.
— Fala, Claire… fala pra mim o quanto você gosta desse caralho
te abrindo toda.
E sem me conter mais, eu cedi.
— Eu… eu adoro esse caralho me fodendo.
— Porra…
Zac levantou da cama, me encostou na parede e continuou a me
foder sem parar, segurei em seu pescoço com força e da forma que eu
consegui, e quando sua boca buscou a minha, me deixei levar e gozei mais
uma vez para ele, o beijando com vontade e desejo, e desespero…
desespero? Eu não conseguia dizer ao certo “por quê?”.
— Pede, Claire…
Pisquei os olhos, confusa, e quando eu vi meu desespero refletido
no seu olhar, eu entendi.
— Goza pra mim, Zac… me enche com a sua porra!
— Ah, caralhooo…
Foi o que ele precisava para me marcar, e depois de alguns
segundos me segurando com força contra a parede, ele afastou o rosto do
meu pescoço.
— Tudo bem? — Suas mãos alisaram meu rosto molhado de suor.
— Sim.
— Certeza?
— Certeza.
E ainda sentindo suas mãos no meu rosto, eu comecei a rir.
— O que foi? — perguntou, confuso.
— Nunca falei e ouvi tanto “caralho” na minha vida. — Escondi
meu rosto no seu pescoço.
— Será que ao invés de anjo, você é uma diaba?
Levantei a cabeça rapidamente e coloquei minha mão direita em
sua boca.
— Não fala uma coisa dessas… meu Pai!
Zac mordeu de leve a palma da minha mão e depois lambeu, e com
isso eu senti seu membro enrijecer entre as minhas pernas.
— Isso combina mais com você do que comigo… — falei com
convicção.
— Uma mistura de certo e errado.
E lá estava seu sorriso sedutor e pervertido.
— Acho que sim…
E da parede fomos para o banho e do banho para a cama, e o que
não imaginei que aconteceria… aconteceu. Dormimos juntos!

Acordei de manhã e senti um calor me apertando em volta da


minha cintura, e quando eu abri os olhos e vi que Zac realmente dormia
comigo, quase tive um surto. Tentei sair do seu abraço, mas tive uma
tentativa falha. Seu braço me puxou para mais perto e quando eu senti seu
corpo todo colado ao meu e seu membro contra a minha bunda, segurei a
respiração e me questionei se era desejo, ou se era a tal vontade de “mijar”
como os homens falavam e ainda diziam que era cientificamente
comprovado, e isso me deu vontade de rir. Meu corpo tremeu pela risada e
isso fez com que ele acordasse.
— Hum… posso compartilhar da piada?
— Não é nada de mais… — Mantive minha mão na boca e não
virei para ele.
— É sim. — Seu nariz passou pela minha nuca e aos poucos minha
risada deu vez a um suspiro audível. — Compartilha comigo, anjo!
— É que você está…
Pensei se perguntava ou não, afinal, uma pergunta não faria mal a
ninguém e eu também não tinha nada do que me envergonhar. Todo mundo
tem curiosidade sobre algo ou alguém. Que mal teria?
— É que eu estou?
— De… como eu posso dizer?! — Fiquei alguns segundos
pensando como eu poderia perguntar, mas com Zac Stewart pensar muito
era perda de tempo.
— De pau duro?
— Sim.
— E o que tem isso?
— Tenho curiosidade em saber se é a tal vontade de “mijar” —
falei e fechei os olhos, sem acreditar em mim mesma.
Ouvi sua risada no pé do meu ouvido, e me segurei para não roçar
minhas pernas uma na outra. Eu o odiava por ter uma risada tão gostosa e
sedutora.
— Sim, é verdade! Mas, no meu caso agora… — Zac me puxou,
levantou a minha blusa e roçou o pau na minha bunda. — É vontade de ir
ao banheiro, mas principalmente de enfiar meu pau todinho nessa boceta
apertada.
— Você não para? — perguntei reprimindo um gemido.
— Com você? Impossível.
Zac me virou de barriga para baixo, levantou minha blusa o
máximo que pôde e me surpreendeu, puxando a minha calcinha para o lado
e passando a língua com tudo no meu ponto sensível, e minha reação foi
morder meu travesseiro pelo prazer absurdo que ele conseguia me
proporcionar. Não só com a boca, mas com seus dedos habilidosos que me
tocavam e estimulavam nos lugares certos. Quando seu corpo grande e forte
se encostou ao meu, me senti pequena e frágil, mas no instante em que seu
membro encontrou o vão entre as minhas pernas, Zac gemeu frustrado e
apertou minha cintura com força, parando imediatamente.
— Porra!
— O que foi? — perguntei, o encarando por cima do meu ombro, e
tentando entender o que estava acontecendo. Meu corpo estava pegando
fogo e eu não queria que ele parasse.
Zac passou o nariz pela minha bochecha, e sussurrou no meu
ouvido:
— As camisinhas acabaram, anjo! Usamos uma atrás da outra…
Lembrar-me de tudo o que tínhamos feito horas seguidas, fez
minhas bochechas queimarem e eu tinha certeza de que Zac percebeu a
coloração rosada tomando conta da minha pele, pois seus dedos me
apertaram com mais força.
— Não para… — Minha voz saiu baixa e desesperada. Era loucura
fazer sexo sem camisinha, mas se ele não concluísse o que tinha começado,
eu iria enlouquecer.
— Anjo… — Zac segurou meu queixo com cuidado e buscou meu
olhar. — Tem certeza?
— Talvez eu me arrependa, devido à sua fama e … — Zac me
calou com um beijo que me fez perder o ar e senti, tudo em mim, queimar
de desejo e ansiedade.
— Eu nunca colocaria em risco a sua saúde… — Senti a cabeça do
seu pau encostar-se à minha entrada, onde ainda ardia pela madrugada
insana de sexo e que ao mesmo tempo estava molhada exigindo por mais,
mesmo que eu ficasse dias sem fechar minhas pernas direito. — Nem a
minha! — Senti a pressão um pouco mais forte, e mordi meu lábio inferior
segurando o gemido que escapava lentamente dos meus lábios. — Posso ter
a fama que você quiser, mas há anos que eu não fodo sem camisinha.
No final da frase, Zac me invadiu sem pressa e exigindo espaço e
quando seu rosto foi tomado com um misto de satisfação e prazer, escondi o
meu no travesseiro e sorri, me sentindo ousada e desejada.
— Caralho! Acho que eu nunca vou cansar…
— Você seria um idiota se cansasse — provoquei, deixando um
gemido sôfrego escapar dos meus lábios.
— Será? — Sua boca sugou o lóbulo da minha orelha. — Porque
eu posso me viciar.
— Tenho certeza!
— Se você tem tanta certeza, empina essa bunda gostosa e me
deixa colocar até o fundo.
E eu fiz exatamente o que ele pediu, e enquanto meu corpo
balançava sentindo as ondas de prazer que ele me causava, eu me perguntei
se ele seria o cara que realizaria os desejos mais pecaminosos guardados em
mim e se, sim, provavelmente eu me tornaria uma maníaca por sexo.
Capítulo 21
O provador

Os dias passaram como um borrão, que eu mal tive tempo para


mim. As demandas de trabalho não paravam de chegar e eu, como a viciada
por trabalho que era, não reclamava e se deixasse, me perdia na hora,
focada no que eu deveria fazer e resolver. Atender a dois presidentes
totalmente diferentes, não era fácil, mas em se tratando da família Wilson…
chegava a ser divertido ver os dois primos trabalhando em conjunto, James
e Phillip eram o verdadeiro significado de razão e emoção.
Sara e Bela estavam mais presentes do que de costume no
escritório, devido ao casamento de Sara e James que aconteceria nos
próximos dias. Bela e eu tentávamos ajudar o máximo possível, dando todo
o suporte que era preciso nos dividindo entre os nossos trabalhos e na
organização do casamento, e de uma coisa tínhamos certeza… tudo ficaria
lindo.
Próximo ao horário do almoço, tentei acelerar os e-mails pendentes
e que precisavam de respostas, eu me perdi nos dias e não me organizei
como deveria, e com o casamento na porta… lembrei que não tinha nada
para vestir e aproveitaria o horário de almoço para comprar algo. Enquanto
eu digitava uma resposta para um dos diretores, um falatório se fez
presente, mas eu nem levantei minha cabeça para ver, eu já sabia quem
eram os responsáveis. Os três mosqueteiros inseparáveis.
— Claire… — Ouvi a voz de James, mas continuei digitando sem
parar. — Estamos indo almoçar.
— Ok.
— Pronto — Phillip começou. — Ela entrou no modo máquina.
— Se eu não responder a esses e-mails, chefe… — Balancei a
cabeça. — Vocês terão o dobro de reuniões e eu, trabalho acumulado.
— Pelo amor de Deus, Phillip! Deixa-a trabalhar em paz… —
Ouvir o desespero na voz de James, que era totalmente metódico, me fez rir.
— Claire, acho que você merece um novo aumento de salário —
Phillip disse com um tom divertido na voz, mas eu sabia que ele estava
falando sério.
— Eu concordo! — James disse ainda mais sério que o primo.
— Não vou reclamar. — Parei por um instante e olhei para os três
com um ponto de interrogação, querendo saber se eles queriam mais
alguma coisa.
— Você não fica tonta digitando tão rápido? — foi a vez de Zac
falar olhando para os meus dedos parados em cima do teclado.
— Não! Já estou acostumada.
— Meu Deus!
Levantei uma sobrancelha para ele e segurei o riso. Era muito
difícil Zac usar o nome de Deus, e quando ele fazia isso por qualquer
motivo que fosse, eu achava fofo.
— Claire… não demore a almoçar e, qualquer coisa, só nos ligar.
— Sorri para James e voltei a responder os e-mails.
E antes de saírem, Zac disse baixinho:
— Olha seu celular.
— Tá bem!
Minutos depois, uma mensagem chegou.
Zac Stewart: Almoça comigo? – 12:15.

Pisquei os olhos sem acreditar na mensagem.

Eu: Você está bem? – 12:15.


Zac Stewart: Não entendi. – 12:16.
Eu: Almoçar comigo? Como fica sua reputação perante as
mulheres? – 12:17.
Zac Stewart: É sério isso? Eu não posso querer almoçar com
você? – 12:18.
Eu: Pode, mas vindo de você, é sempre estranho. – 12:18.
Zac Stewart: Assim você me ofende, sabia? Eu tenho
sentimentos! – 12:19.

Ri, porque eu tinha certeza de que era cena e ele estava rindo.

Eu: Mesmo que eu quisesse, não posso. – 12:19.


Zac Stewart: Por quê? – 12:20.
Eu: Vou tirar meu horário de almoço para comprar um vestido
para o casamento de James e Sara. – 12:20.
Zac Stewart: Eu posso te ajudar. – 12:21.
Eu: Você?! – 12:21.
Zac Stewart: Ué? Eu tenho um gosto excelente. Nunca parou
pra ver o quanto eu sou estiloso? – 12:22.

Li e reli a mensagem algumas vezes e depois de responder o último


e-mail, peguei o meu celular novamente e respondi:

Eu: Vamos ver se você realmente tem um “gosto excelente”. Me


encontra em cinco minutos? – 12:23.
Zac Stewart: Você não vai se arrepender. Te espero lá embaixo.
– 12:24.

Peguei minha bolsa, fui ao banheiro ajeitar meu vestido e fazer um


rabo de cavalo, se tinha uma coisa que me dava calor… era experimentar
roupa. Desci e quando vi aquele homem andando de um lado para o outro,
imponente e sério, falando ao celular, senti meu corpo arrepiar. Era raro ver
Zac sério, mas acabei de descobrir que até essa versão era atraente e sexy.
Quando cheguei perto, só pude ouvir: Vou pensar se irei ou não, mãe! –
logo em seguida, ele desligou o celular.
— Tudo bem? — Vi que ele estava tenso e poderia até dizer… com
raiva.
— Tudo ótimo!
— Se tiver que resolver algo, eu posso ir sozinha.
— E você acha que eu vou perder a oportunidade de te ver em um
provador?
— Pervertido! — Ri incrédula. — Logo vi que tinha segundas
intenções.
— Você não tem reclamado nos últimos dias. — E o sorrisinho
safado surgiu nos lábios vermelhos e que despertavam pensamentos
absurdos de tão gostosos em mim.
— Aff! Não vou nem responder.

Entramos em uma loja com tantas opções que eu me senti aliviada.


Uma coisa era certa… eu não sairia de lá sem um vestido. Escolhi umas três
opções e Zac escolheu somente uma, me pedindo para experimentar antes
de qualquer recusa. Revirei os olhos e falei que tudo bem, porém algumas
coisas não passaram despercebidas. Desde a hora em que colocamos os pés
dentro da loja, não tinha uma mulher que não o olhasse e, inclusive,
comentasse umas com as outras. Ele era lindo, e exalava safadeza, mas, por
algum motivo, me senti desconfortável e até um pouco irritada.
— Por que está com essa cara feia, anjo? — Zac estava parado à
minha frente, com as mãos no bolso.
— Não estou…
— Está sim, mas eu sei de algo que pode melhorar.
E sem que eu esperasse, ele me segurou pela cintura. Passou a
língua nos meus lábios e me beijou tão lentamente e de forma tão obscena,
que meu corpo ficou mole e eu não tive força para afastá-lo. E quando ele
encerrou o beijo, eu não consegui olhar para os lados. Eu sabia que a
pequena cena do safado havia atraído mais atenção para a gente e
principalmente para ele.
— Você não presta! — Passei as mãos pelo meu rosto, sentindo a
pele quente sob meus dedos.
— É uma das habilidades do meu currículo. — Riu. — Agora vai
experimentar os vestidos, porque eu estou doido para ver e, quem sabe,
tirar.
Arregalei os olhos e me afastei.
— De jeito nenhum!
— Vamos ver!
Corri para o provador ouvindo sua risada mais alta, e afastando
para longe os pensamentos que começaram a me consumir com o que ele
poderia fazer.
Fiquei um tempinho colocando e tirando os vestidos, e nenhum
deles eu havia gostado e me sentido bem a ponto de querer usar, e o último
que faltava foi justamente o que Zac havia escolhido. O vestido era azul-
turquesa, longo e modelando a cintura e com um decote em V que cobria os
seios e ia até as costas. Por cima era coberto de tule com pequenas
borboletas presas, uma junção de sexy com delicado. Girei em frente ao
espelho várias e várias vezes, me sentindo bonita.
— Posso ver como ficou? Já tem vinte minutos que você está aí
dentro.
— É porque eu não gostei de nenhum.
— De nenhum? — O espanto em sua voz me fez rir. — Sério?
— Na verdade, eu gostei de um.
— Qual?
Abri a porta do provador e mostrei para ele, e na hora ele sorriu
passando a mão pelo cabelo. Olhou-me de cima a baixo, e se aproximou.
Minha reação foi levantar as mãos e balançar a cabeça em negativa.
— Nem mais um passo…
— Eu só quero ver mais de perto!
— Você está em uma distância perfeita, então pode parando por aí.
— Você sabia que eu uso óculos de grau, anjo?
— Sabia e, ainda assim… — Comecei a rir de nervoso, porque eu
sabia que estávamos sendo observados. — Não precisa chegar mais perto.
— Tudo bem! — Ele aceitou fácil demais, o que me serviu de
alerta. — De todos os vestidos, o que eu escolhi foi o vencedor, certo?
— Certo! Preciso admitir que você tem bom gosto.
— Bom gosto é pouco e você sabe disso. Você está perfeita!
Revirei os olhos sentindo minhas bochechas esquentarem.
— Eu gostei, você gostou e agora eu vou tirar… posso te ajudar?
— Não, não!
— Nunca te falaram que só se vive uma vez? — O jeito que ele me
olhava, o sorriso devasso… despertava loucuras em mim, mas eu não podia
ceder. A loja estava movimentada, mas eu sabia que vários pares de olhos
estavam nos observando.
— Sim, mas aqui é loucura…
Quando viu que conseguiu a brecha que precisava, Zac entrou no
provador e fechou a porta.
— Tudo que é feito com loucura é mais gostoso, e agora vai ser
tudo pra você.
Zac me virou de frente para o espelho, tirou o vestido com
cuidado, me deixando somente de calcinha, e levantou minha perna direita
apoiando no pequeno sofá que estavam minhas coisas.
— Segura no meu pescoço e só assista o que eu vou fazer, e se
quiser gemer… — Sorriu me encarando através do espelho. — Minha boca
vai estar pertinho da sua.
Após falar essas coisas no meu ouvido, Zac puxou minha calcinha
de lado com a mão esquerda, chupou três dedos da mão direita e depois me
fez fazer o mesmo, passando os dedos com cuidado entre meus lábios, e
quando ficou satisfeito, levou a mão entre as minhas pernas. Seus dedos
molhados tocaram meu ponto sensível e iniciaram uma massagem
torturante e deliciosa, e de forma involuntária comecei a me esfregar contra
sua mão, sentindo a vontade louca de me libertar. Seus dedos saíram e
entraram em mim em movimentos de vaivém, e tocaram novamente o lugar
exato. Meu corpo tremeu, e como eu não podia gritar e gemer como eu
gostaria, fiz o que ele disse e busquei sua boca, o beijando
desesperadamente, enquanto me desmanchava contra seus dedos.
Depois que me acalmei, Zac colocou minha calcinha no lugar sem
pressa e chupou os dedos que brilhavam com os meus fluidos, sem desviar
os olhos dos meus.
— Você tem cinco minutos para se arrumar, e depois vamos comer
um hot dog no capricho antes de retornarmos para a empresa. Por algum
motivo, minha fome triplicou.
— Eu te odeio.
— O ódio e o amor andam lado a lado, anjo! — Deu uma
piscadinha e saiu do provador, me deixando uma bagunça e satisfeita… eu
não podia negar.
Capítulo 22
Tá esperando o quê?

Conforme combinado, eu passei para buscar Claire para irmos


junto ao casamento dos nossos amigos. De início foi difícil convencê-la,
pois de acordo com ela: O que as pessoas poderiam pensar? – E eu falei
“foda-se”, ninguém tinha que pensar ou falar nada, éramos adultos e
solteiros, e não me interessava a opinião alheia. Porém, eu sabia que havia
mais que isso, e daria o tempo dela. Nunca fui de me envolver com a
mesma mulher por várias vezes seguidas, mas com o Claire algumas coisas
estavam saindo do controle. Quando eu percebia ou me dava conta, já
estava com ela e fazendo de tudo para satisfazê-la. Parei para refletir sobre
os meus pensamentos, e balancei minha cabeça, incrédulo. Se a mulher
dizia que eu era o pecado e pervertido, ela era uma diaba disfarçada de anjo.
Desde quando eu pensaria essas coisas?
Estacionei o carro em frente ao seu edifício e mandei uma
mensagem, comunicando que havia chegado, e enquanto ela não saía,
peguei meu celular para comunicar ao Phillip que estávamos a caminho e
me assustei com a quantidade absurda de ligações perdidas da minha mãe.
Ela nunca foi tão insistente como nos últimos dias, e quem analisasse a
situação de fora, diria que eu era a porra de um filho ingrato. Isso porque
não cresceram no ambiente amoroso, para não dizer o contrário, da família
Stewart.
Aproveitei que Claire ainda não havia aparecido e retornei a
ligação, porque se bem eu a conhecia, enquanto não conseguisse o que
queria, não pararia de ligar e eu não ficaria irritado no dia do casamento dos
meus amigos. Não mesmo!
No terceiro toque, ela atendeu:
— Até que enfim lembrou que tem mãe…
— Podemos pular o drama?
— Fale direito comigo, Zac. Não foi essa educação que eu te dei!
— Achei que a minha babá e professores haviam me educado,
mãe… — Apertei o volante com força para não perder a paciência logo de
início.
— Às vezes eu me pergunto aonde foi que eu errei, sabia? Você e
seu irmão são o oposto um do outro…
— Eu posso fazer uma lista para a senhora. — Ri amargo.
— Não quero e não vou discutir com você. Não tenho tempo para
isso…
— Quando se trata dos seus filhos, a senhora nunca teve e nunca
tem tempo, mas quero saber… por que tanta ligação? Alguma fofoca nova
das suas amigas?
Ouvi um barulho e eu sabia que ela estava com uma das mãos
fechadas em punho diante da boca, segurando os gritinhos que ela
costumava dar quando perdia o controle. Sempre fiz de tudo para não
desrespeitar meus pais, mesmo eles não fazendo questão de levarem a sério
e com amor essa função, mas a cada ano que passava… minha paciência
estava se esgotando, porque não havia mudança e nem vontade de mudar de
nenhum dos dois. Era mais bonito fingir ser uma família feliz, quando, na
verdade, nunca havíamos sido, mas para eles… a imagem e status eram
muito mais valorizados e importantes que os próprios filhos.
— Preciso que você venha ao aniversário do seu pai… — Foi no
exato momento que Claire entrou no carro roubando toda a minha atenção.
— Zac… Zac…
Pisquei os olhos, voltando para a realidade e fechei a cara, sendo
observado por Claire.
— Dispenso!
— Zac Stewart, seu menino ingrato… — Bufei e segurei no
volante do carro com mais força. — Ele é seu pai!
— Continuo dispensando.
Claire me olhou, assustada.
— Seu menino mimado e insolente… se eu enfartar, a culpa será
sua!
E com isso ela começou o choro e o drama de sempre para me
convencer e me deixar com remorso. Xinguei baixinho e quando eu ia dizer
novamente que não iria, Claire apoiou a mão na minha e apertou, dizendo
baixinho:
— Eu vou com você!
Olhei para ela, surpreso e encantado pela sua atitude, apenas
concordei sabendo que seria um tédio para ela.
— Ok, mãe! Estarei lá e não irei sozinho.
— Não? — Rapidamente o choro fingido deu lugar à curiosidade.
— Como assim?
— O nome dela é Claire Evergarden, coloque o nome dela na mesa
da família.
— Da família?
— Isso, se quiser que eu vá.
— Oh… não! O nome dela estará na mesa e na lista. Não se
atrase, por favor!
— Preciso desligar!
— Te amo, meu filho!
— Eu também!
Com essa despedida seca, finalizei a ligação e dei partida no carro,
sendo observado por Claire e agradecendo internamente a Deus por ela não
ter feito nenhuma pergunta durante o caminho. Virou para a janela e ouviu
as músicas que tocavam, e as que ela sabia, cantava baixinho, olhando todo
o movimento das pessoas e carros pelas ruas.

Eu não me lembrava da última vez que tinha ido a um casamento,


talvez um ou outro, pouco tempo depois de concluir a faculdade, onde
muitos dos meus amigos e de James e Phillip se apaixonaram e se casaram
logo depois que nos formamos, e estar no mesmo ambiente que muitos
deles com seus casamentos firmes e fortes e filhos, fez um gosto amargo
subir pela minha garganta até chegar à minha língua. Talvez fosse a
convivência com meus soldados abatidos pelas suas brasileiras.
— Nossa… ficou tudo tão lindo! Do jeitinho que ela queria.
Voltei minha atenção para o anjo ruivo ao meu lado, que desde que
chegamos estava mais simpática que o normal comigo, e ora ou outra
envergonhada pelos olhares de algumas pessoas sobre nós.
— Apesar de não entender muito bem essa coisa toda de
decoração, concordo. Está tudo muito lindo!
— Eu acredito que casamento não é pra se entender, sabe? É pra
sentir.
Levantei a sobrancelha, curioso com o comentário. Como assim,
sentir?
— Não entendi…
— Você está vendo toda a beleza de uma decoração, certo? —
Balancei a cabeça concordando. — As flores, as mesas e cadeiras, as cores
da festa… tudo isso reflete um pouco sobre os noivos, mesmo que em
muitos casos a noiva fique de frente, como foi no caso de Sara. James a
deixou à vontade para conduzir tudo do jeitinho dela, mas é nos detalhes
que a gente de fato sente o casamento. A cerimônia diz muito sobre a
emoção de nos unirmos a quem nós amamos.
— Confesso que ainda estou confuso… — Claire riu e apontou
para a entrada onde Sara surgia ao lado do pai. Simplesmente linda com a
barriguinha ainda mais evidente.
— Presta atenção na cerimônia e depois você me diz.
Concordei e observei cada detalhe, e não pude deixar de rir quando
Sara passou por mim e Claire, os questionamentos e ameaças pulavam
através do seu olhar. Porém, tudo mudou quando ela e James pararam um
de frente para o outro. Ali eu comecei a entender o que Claire queria dizer.
A troca de palavras, de alianças, o amor e a cumplicidade refletidos no
olhar de ambos, e na hora do “sim”, me peguei emocionado e tentei
disfarçar sem sucesso. Claire me observava com seus pequenos olhos
verdes tão emocionados quanto os meus.
— Entendeu agora? — perguntou baixinho.
— Sim — respondi no mesmo tom. — É lindo!
— É a parte que eu mais amo em um casamento.
— Talvez eu passe a amar também.
— Acho que você já ama… — Sorriu. — O brilho nos seus olhos
fala por você.
— É um cisco.
— Deixa eu ver… — Claire segurou o riso, e se aproximou mais
de mim.
Agachei para ficar na altura dela, e quando ela chegou perto,
roubei um selinho. Claire deu um tapinha no meu braço, e encostou a testa
no meu ombro para esconder a vergonha. Foi tão fofo e natural, que se eu
pudesse, a fodia naquele momento sem pensar duas vezes.
— Viu? — Mordi meu lábio inferior segurando o riso.
— Acho que falar isso pela centésima vez não vai adiantar, mas…
você não presta!
— Eu nunca disse que prestava e se eu prestasse… você ia gostar?
Claire me encarou com tanta luxúria e ao mesmo tempo confusão,
que eu fiquei louco.
— Não me olha assim, anjo! Porque eu…
— Por que você?
— Quer descobrir?
Quando ela ia responder, fomos rodeados por nossos amigos e o
falatório, assim como a alegria tomou conta do momento e, ainda assim,
antes de nos afastarmos, ela disse sem emitir nenhum som:
— Quero!
Aquilo me deixou louco, e tive que segurar durante horas todo o
tesão e desejo que crescia em mim para ter alguns minutinhos com Claire e
na primeira oportunidade que eu tive, a esperei sair do banheiro e segurei na
sua mão, levando-a comigo para a parte de trás da casa. Desci com ela até a
adega de vinhos que havia na casa do pai de James.
George Wilson era um tremendo apreciador de vinhos.
— Hey… aonde vamos?
— Você logo saberá.
Entramos na adega e tudo que eu ouvia era a risadinha de menina
de Claire, que estava soltinha devido às taças de champanhe. Fui para o
canto mais escondido que havia, peguei sua bolsa e apoiei em cima de uma
bancada, e segurei em seu rosto.
— Eu quero muito te foder, mas só vou fazer isso se você quiser…
Ela passou a língua pelos meus lábios e sorriu com os olhinhos
ainda menores.
— Eu bebi, devasso — segurou no meu cinto e começou a abrir —,
mas tenho plena consciência do que eu quero e estou fazendo. — Agachou
na minha frente e colocou meu pau para fora, e não esperou para enfiá-lo o
máximo que ela conseguia na boca delicada e desenhada de forma perfeita.
— Caralho… — Passei a mão pelo seu rosto e acariciei, me
segurando para não encher a boca dela com minha porra. — Se continuar
assim, vai ser na sua boca mesmo…
Claire levantou, tirou a calcinha minúscula, colocando no bolso da
minha calça, levantou o vestido e virou de costas para mim.
— Tá esperando o quê?
Pisquei os olhos, fascinado com uma ousadia que eu, até então, não
conhecia, e dei um tapa na bunda empinada para mim antes de desfrutar do
pecado que era Claire, porque se ela achava que eu era a perdição, era
porque ela não tinha a minha visão.
Capítulo 23
Os sinais não mentem!

Eu estava parada em frente ao espelho olhando pela milésima vez


minha roupa, passando minhas mãos repetidas vezes por cima do tecido
entre o vão que separava meus seios da minha cintura, buscando amassados
onde não existia e me questionando “por que” eu havia me oferecido para
acompanhar Zac na festa de aniversário de seu pai. Talvez fosse a tristeza
mesclada à mágoa que vi transpassar seu olhar naquele dia, foi algo que me
incomodou e, de alguma forma, doeu em mim. E quando eu vi… já tinha
me oferecido.
Na semana, eu liguei para Zac e perguntei como seria a festa para
ter uma ideia de como eu deveria me vestir e a única coisa que ele disse foi:
— A festa será de dia, sinta-se à vontade para ir como você quiser.
Uma resposta totalmente sem emoção.
Por mais que eu gostasse do que via refletido através do espelho,
por algum motivo, eu me sentia nervosa. Talvez com medo de não ser o
suficiente ou de não agradar uma das famílias que fazia parte da alta
sociedade de Nova York. Eu não tinha feito nenhum tipo de pesquisa, mas
pela ligação, eu percebi que a família de Zac era… como eu poderia dizer:
difícil. E esse difícil, eu descobriria em breve.
Fiz uma maquiagem leve e optei por deixar meu cabelo com ondas
e solto. Coloquei um vestido longo floral de costas nuas e decote frontal até
o meio dos seios e não achei vulgar. Sandálias brancas para combinar e uma
bolsa de palha de mão. Tinha que servir e estar bom, porque senão, eu não
tinha ideia do que vestir. O interfone tocou, e antes de sair do quarto, me
olhei mais uma vez e respirei fundo. Que Deus me ajudasse, porque eu não
estava com um bom pressentimento.

Assim que passamos pelo enorme portão da mansão que gritava


riqueza e requinte, senti um frio na barriga e comecei a enroscar meus
dedos das mãos uns nos outros, na intenção de me acalmar. Se tinha uma
coisa que eu não gostava, era me sentir desconfortável em um ambiente que
eu desconhecia.
— Você está perfeita!
— Tem certeza?
Zac sorriu para mim, o sorriso devasso que sacudia qualquer
mulher.
— Eu não mentiria para você. — Acariciou meu rosto, e se
aproximou colando a boca no meu ouvido para dizer: — Além de perfeita,
está gostosa.
Ri pela safadeza que era algo característico dele.
— Se a sua intenção era me ajudar a relaxar, me deixou ainda mais
nervosa. — Encarei a boca dele bem perto da minha. — Só que de outro
jeito.
Quando ele ia me responder, uma movimentação chamou sua
atenção fora do carro e ele bufou.
— Pode ter certeza que mais tarde, eu não vou parar até te ver
completamente relaxada. — Me deu um selinho rápido e saiu do carro, me
deixando desorientada e com a respiração falha. Coloquei a mão para abrir
a porta, mas Zac abriu por mim. — Vamos!
Quando segurei em sua mão, vi que ele estava tenso e passando os
olhos rapidamente pelo local, e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa,
Zac apertou minha mão para acompanhá-lo e quando dei os primeiros
passos, notei uma mulher caminhando em nossa direção. Ela aparentava
estar na casa dos sessenta anos, porém com uma beleza sem igual. Exalando
elegância e nos analisando de forma minuciosa, o que me incomodou um
pouco. Caminhamos em sua direção, e antes mesmo de chegarmos perto,
ela disse:
— Atrasado como sempre!
— Alguém precisa quebrar as regras de vez em quando — Zac
respondeu.
— Não se trata de regras, e sim de respeito.
Ele meneou a cabeça de lado e apenas sorriu.
— Que bom que eu tive a Sandra para me ensinar o significado de
respeito.
O rosto da mulher à minha frente ganhou um tom avermelhado, e
sem perder a postura, ela continuou:
— Poderia me apresentar a sua amiga?
Apertei a mão de Zac e sorri.
— Meu nome é Claire.
— Seja bem-vinda, querida! Meu nome é Cameron, mãe do Zac.
Gostaria de conhecê-la melhor, mas como o almoço será servido em meia
hora, precisamos entrar.
— Claro!
Concordei e puxei Zac para segui-la, achando a interação entre
mãe e filho pesada e superficial — nesse ponto, eu deveria bater palmas
para Grace, minha mãe era intensa e calorosa, a ponto de me sufocar. Era
nítido ver a insatisfação no rosto dele por estarmos ali.
Conforme caminhávamos pelo enorme jardim que mais parecia
uma cena de filme, as pessoas nos olhavam e o cumprimentavam com
pequenos e discretos gestos de mãos ou cabeça. As mulheres mais novas
faltavam pouco para pular na frente dele para serem vistas. Respirei fundo,
e me segurei para não revirar os olhos com a inquietação estranha dentro de
mim.
A poucos passos de distância, em uma mesa grande e ornamentada
de forma diferente das demais, eu pude identificar logo de cara quem era o
pai de Zac. O homem era a visão do filho anos mais velho, de uma
aparência impecável e muito bonito, por sinal, assim como o outro homem
mais jovem ao seu lado. Provavelmente, irmão de Zac. Assim que nos
aproximamos, o clima, de alguma forma, ficou ainda mais estranho e
pesado.
— Nem no dia do meu aniversário você consegue ter um pouco de
consideração. — Girou a taça com um líquido que parecia espumante e
estalou a língua, olhando o filho com insatisfação.
— E o senhor sabe o que é isso? Ter consideração pelo próximo?
— Zac deu um sorriso tão triste, que me doeu por dentro.
— Não comecem, por favor — o outro homem na mesa pediu, e
olhando para mim ele sorriu. — Meu nome é Joseph, sou irmão do Zac, e
essa é minha esposa, Nora. Tudo bem? — Levantou, estendendo a mão para
me cumprimentar.
— Meu nome é Claire. — Sorri em resposta e estendi a mão,
retribuindo o gesto. — Estou ótima e vocês?
— Também estamos ótimos, Claire — a esposa do irmão dele
respondeu com um lindo sorriso e me puxando para me abraçar e me dando
dois beijinhos, um em cada lado do meu rosto.
Olhei para o pai dele e travei pela forma como o homem me
escrutinava. Era como se eu não fosse boa o suficiente para estar ali,
interagindo e socializando com eles. Enquanto Zac abraçava e beijava o
irmão e a cunhada, estendi minha mão para cumprimentá-lo.
— Feliz aniversário, senhor Stewart!
Do jeito em que levantei minha mão, ela ficou. E extremamente
sem graça, eu a puxei de volta, vendo o olhar de Zac ferver.
— De onde você conhece o meu filho? Nunca ouvi falar de você!
— Cruzou as pernas e balançou a cabeça em reprovação. — É mais uma de
suas conquistas?
Pisquei os olhos sem reação, e senti meu corpo tremer com a
grosseira.
— Que porra é essa? — Zac disse olhando com raiva para o pai. —
Esqueceu a educação dentro de casa ou no seu escritório?
— Baixe o tom de voz, moleque!
— Zac e Edgar… parem já com isso! Pelo amor de Deus. As
pessoas estão olhando — a mãe dele pediu. — Claire, nos desculpe!
Sentem, por favor. — Fez sinal para as cadeiras vazias.
Zac me colocou ao lado da cunhada dele e quando eu sentei, ela
segurou na minha mão por baixo da mesa e apertou, como se me pedisse
calma. Parecia que ela já havia passado pelo mesmo. Apertei de volta como
agradecimento e tentei manter a calma, pois a vontade que eu senti era de
dar as costas e ir embora.
Antes do almoço ser servido, o pai dele fez um discurso para as
pessoas presentes e pediu que todos aproveitassem ao máximo. Olhando
para ele durante seu discurso repleto de simpatia e brincadeiras,
brincadeiras essas que fizeram algumas pessoas rirem… se me contassem o
quão desagradável ele podia ser, eu não acreditaria na cena de minutos
atrás. Além de presenciar a cena, fui seu alvo. Só que eu não sabia que o
pior estava por vir.
Após o discurso, uma banda começou a tocar. Logo depois, os
garçons entraram em fileira se espalhando pelo ambiente para servirem as
mesas e antes que chegassem até a nossa, olhei o cardápio rapidamente e
gelei quando vi que em uma das entradas havia nozes.
— Zac…
— Oi, anjo!
— Estamos com um problema… — falei em um tom que só ele
pudesse ouvir.
Na hora ele franziu as sobrancelhas para mim.
— Qual?
— Uma das entradas tem nozes e eu sou alérgica. — Seu sorriso
em resposta foi lindo e tranquilizador.
— Não precisa comer.
— Jura?
— Juro.
— Ai, que alívio! Não quero fazer desfeita ou ser mal-educada.
— Não será… Fique tranquila! — E sem eu esperar, ele deu um
beijinho rápido na ponta do meu nariz.
Quando a entrada com nozes chegou, agradeci ao garçom e falei
que não queria.
— Algum problema, menina? — o pai dele perguntou para mim.
— Senhor? — Me tremi por dentro. — Desculpa, mas eu não
entendi.
— A entrada não está à sua altura? — Meu rosto queimou.
— Não… não é isso, é que…
— A senhorita vem no meu aniversário e se desfaz da minha
comida? Comida essa que provavelmente você nunca comeu e…
Meus olhos encheram d’água pela situação como um todo, e foi o
suficiente para instalar o caos na Terra.
— Ela tem alergia a nozes, caralho! — Zac disse e deu um soco tão
forte na mesa que tudo tremeu e muitas pessoas olharam. — É por isso que
eu não gosto de vir nessas merdas, porque você, como sempre, se acha a
porra do dono do mundo.
Sua mãe, assim como sua cunhada levaram as mãos à boca com o
susto e seu irmão encarou o pai com um olhar de repreensão, enquanto os
dois davam continuidade na discussão. Mordi a parte interna do meu lábio
inferior, tentando segurar o choro.
— Seu moleque insolente, sempre me desafiando e confrontando.
— Peça desculpas. — Zac exalava raiva e mantinha a mão fechada
em punho na mesa com tanta força, que os nós dos dedos estavam brancos.
— COMO É? — o pai dele praticamente gritou.
— Finja pelo menos uma vez na sua vida, ser alguém respeitoso e
menos prepotente, e peça desculpas…
— Eu não vou pedir desculpas dentro da minha casa para mais
uma de suas conquistas.
— Foda-se essa merda toda! — Socou a mesa mais uma vez e
estendeu a mão para mim. — Você não tem que passar por isso… me
perdoe! Vamos embora. — Fez carinho no meu rosto, secando a lágrima
que caiu contra a minha vontade. E antes de irmos, se virou para o pai e
apontou o dedo: — Enquanto você não tiver humildade e pedir desculpas
para Claire, nesta casa eu não volto mais. E para sua informação… se eu
estou aqui foi porque ela me pediu para estar e vim por ela, e não por você.
O pai dele me olhou em choque e sem que eu pudesse dizer
qualquer coisa, Zac me abraçou e me levou embora sob os protestos da
mãe, e das vozes do seu irmão e pai discutindo.

Durante o caminho até a minha casa, achei melhor não dizer nada e
com isso eu fiquei na minha, relembrando cada detalhe da situação
desagradável com a família de Zac. A arrogância no olhar do pai dele e até
mesmo desprezo pelo filho. A mãe dele preocupada com os olhares e o
irmão com um olhar cansado e triste pela situação. Com isso, eu fiquei me
perguntando como Zac sempre com um sorriso no rosto, gentil, atencioso e
com uma energia tão boa, se sentia em fazer parte de uma família como a
dele. Devia ser vazio e solitário.
Assim que ele estacionou o carro em frente ao meu edifício, seu
suspiro foi audível, chamando a minha atenção.
— Me perdoe mais uma vez, anjo! Você não merecia ser tratada
daquela forma, meu pai…
— Você não teve culpa. — Tentei não chorar novamente. — Não
temos controle sobre as atitudes e falas das outras pessoas.
— Eu sei! Mas nada justifica a falta de educação, desrespeito e
prepotência do meu pai. Ele não tinha e não tem o direito de falar com você
daquela forma.
— Não, ele não tinha. — Sorri, sentindo meu nariz arder
novamente. — O importante é que você não é como ele…
Zac me olhou e, pela primeira vez, o devasso saiu de cena e deu
lugar a um menino pedindo colo e carinho. Meu coração doeu, doeu por ver
que tem gente que tem tudo financeiramente, mas não tem o que mais
precisa… amor.
— Eu não sou e nunca serei como ele, anjo! — Eu vi a certeza e
firmeza em suas palavras. — Disso você pode ter toda certeza…
— Por algum motivo, eu confio em você. — Meu estômago
roncou, fazendo barulho e interrompendo a conversa. — Meu Deus!
Levei minha mão à barriga e ri envergonhada, com Zac me
olhando e segurando o riso.
— Fome?
— Muita.
— Quer sair para almoçar ou eu posso te convidar para almoçar na
minha casa?
— Sua casa? – Levantei uma sobrancelha, desconfiada.
— Sim. Por que não? — Zac levantou a sobrancelha em resposta.
— Jacob vai adorar te ver.
— Hum… não sei!
— Vamos… pega uma roupa mais confortável, e vamos. Prometo
que irei me comportar e não farei nada que você não queira. — O safado
apoiou os braços no volante do carro e olhou para o meu decote, sorrindo e
passando a língua no canto da boca.
Pensei por alguns segundos, e cheguei à conclusão de que eu não
tinha nada a perder. Mesmo que algo em mim dissesse o tempo todo que
essa aproximação com Zac era uma loucura, e que em algum momento
traria consequências. Fossem elas boas ou ruins, eu deveria me permitir.
— Tá bem! Me dá uns dez minutinhos.
— O tempo que você precisar… — Seu sorriso era triunfante. —
Quer que eu vá junto?
— Não, precisa! Já volto.
Desci do carro e entrei às pressas no meu edifício, com um sorriso
estampado no rosto e sentindo um frio na minha barriga.
Era lindo ver a interação entre Zac e Jacob, como se um precisasse
do outro, e talvez precisassem – os animais são puros e verdadeiros, e
melhores do que muitos seres humanos. Dando amor e carinho, sem pedir
nada em troca, além de atenção. E saber que Zac tinha um serzinho assim
ao lado dele, confortava meu coração.
Os dois rolavam no chão em uma brincadeira bruta, cheia de
mordidinhas superficiais e lambidas por parte de Jacob. Depois de dar as
“boas-vindas” para o pai, veio na minha direção, porém seu comportamento
mudou completamente. Cada passinho que ele dava era com cautela e
devagar, diferente das outras vezes. Dizem que os animais sentem quando
tem algo fora do lugar ou quando não estamos bem, e por mais que eu
estivesse com um sorriso no rosto, ainda assim, eu estava bem chateada
com tudo que havia acontecido. Jacob provavelmente estava sentindo.
— Oi, garoto! Tudo bem? — Agachei para ficar na altura dele e
acariciar sua cabecinha.
Jacob deitou a cabecinha na palma da minha mão e me olhou de
um jeito tão amoroso, que me surpreendi quando uma lágrima desceu pelo
meu rosto. Zac parou ao meu lado, e pegou a lágrima com o indicador.
— Às vezes, a sensação que eu tenho é como se ele estivesse
enxergando a minha alma… Tô errado, amigão?
Jacob latiu como se estivesse concordando com o que Zac havia
acabado de dizer. Levei um susto e ri, o safadinho ficou tão feliz com a
minha risada que pulou no meu colo como das últimas vezes, me
derrubando no chão. E brincar com ele me trouxe uma leveza e
tranquilidade que, até então, eu não sabia que precisava. Depois de brincar
sob o olhar de Zac, Jacob se cansou e se jogou no sofá de barriga para cima
e com a língua pendurada para fora.
— O que você quer comer? — Estendeu a mão para me ajudar a
levantar.
— Você vai cozinhar? — Ele coçou a cabeça sem jeito.
— Na verdade, pensei em pedir algo agora e se você ficar aqui,
faço questão de cozinhar para você mais tarde. Já são quase três da tarde, e
não quero que você espere mais para comer alguma coisa.
— Não sei se fico até mais tarde, mas aceito comer algo bem
gostoso.
— Como o que, por exemplo? Eu posso escolher, se você quiser.
— Tirou o paletó e jogou em cima do sofá, me olhando dos pés à cabeça. —
Tem muitas coisas que eu gostaria de comer e só de lembrar o sabor, minha
boca enche d’água.
Zac se aproximou e ficou tão perto de mim, que me senti sufocada
com a sua altura e beleza, respirei fundo e apoiei as mãos em seu peito.
— Estou falando de comida, seu pervertido.
Sem que eu esperasse, ele me pegou no colo, me fazendo dar um
gritinho de susto e foi em direção ao sofá, sentando comigo, segurou na
minha cintura e me puxou para mais perto. Zac fez um movimento com o
quadril que me fez sentir perfeitamente sua ereção dura contra a minha
boceta que já estava molhada pelo vocabulário vulgar que combinava
perfeitamente com ele.
— Posso ser sua sobremesa, então?
Esfreguei-me nele e com a minha boca bem próxima, sussurrei
contra os lábios dele:
— A sobremesa tem que valer a pena. — Zac segurou na minha
bunda com força e fez com que eu me esfregasse nele mais uma vez.
— É boa a ponto de você se lambuzar e pedir por mais.
— Hummm… acho melhor pularmos para a sobremesa, então.
— Vou pedir a nossa comida, e enquanto a gente espera… eu deixo
você sentir o gostinho, mas já adianto que a sobremesa é grande e grossa e
com uma calda diferente e nutritiva.
— O QUÊ?! — Tapei sua boca chocada. — Nutritiva? — Joguei a
cabeça para trás e gargalhei, até uma brincadeira com Zac era motivo para
safadeza.
Pedimos a comida e como prometido, não só eu me lambuzei, mas
ele também se lambuzou com a sobremesa que eu ofereci. Uma loucura fora
da curva, pecaminosa e extremamente deliciosa.
Capítulo 24
Nem sempre a interpretação é o que parece

Claire dormia relaxada e ressonando baixinho, e olhando para ela


eu tive a certeza de que estava com um anjo em meus braços. Passei a
maior parte da noite admirando sua beleza que se destacava de forma única
e delicada em minha cama, com a leve iluminação que ultrapassava as
janelas do quarto tocando a sua pele, assim como meus dedos que não
consegui manter distante e deslizavam com cuidado por seu corpo para não
a acordar, e me perguntei como pude deixar uma mulher dormir em minha
cama… em minha casa.
Será que era o fim dos tempos? Não era na Bíblia que dizia que o
diabo era o mestre da manipulação?
Talvez Claire não soubesse, mas quanto mais eu a conhecia… eu
me envolvia com seu jeitinho arisco, que oscilava entre amor e ódio. Algo
que eu me peguei sentindo prazer, principalmente, quando ela estreitava os
olhos para mim querendo me esganar e vinha com respostas afiadas, na
defensiva, e bastava eu provocar, que eu via a chama do desejo dançando
em seus olhos verdes que carregavam uma mistura de inocência e gana para
viver e conhecer tudo que o mundo pudesse oferecer.
Suspirei e passei minha mão livre pelo cabelo, sentindo algo
martelando em meu peito desde o dia em que eu bati meus olhos nela caída
no chão do elevador. Tão frágil e tão forte ao mesmo tempo… com a
resposta na ponta da língua, me desafiando a conhecer e desbravar os seus
pensamentos e desejos. Olhando para ela mais uma vez, senti um nó
incômodo na garganta e puxei meu cabelo para causar uma dor passageira e
me trazer de volta à realidade e focar na mulher delicada que mais parecia
uma menina com uma respiração serena em meus braços.
Suspirei, sabendo que eu não era o cara ideal para ela, e porque
sabia que se ela pudesse, me manteria distante pela minha fama e, de certa
forma, até preferia assim, pois não me via em um relacionamento – talvez
eu nem casasse –, porém, eu não estava conseguindo tratá-la como mais
uma foda ou mais um momento de curtição na minha vida. Claire era
incrível pelo pouco que eu a conhecia, mas eu ainda não estava preparado
para ser castrado como meus amigos e esperava que ela pensasse como eu.
Curtir o momento, sem expectativas e planos. Pelo menos, foi no que eu
tentei me apegar ou me enganar, e talvez a última frase fosse algo mais
direcionado a mim do que para Claire.
Quase pegando no sono, um movimento na cama que eu já
conhecia chamou minha atenção e eu fiz sinal para Jacob subir devagar. Ele
adorava dormir nos meus pés, mas comecei a achar que meu melhor amigo
estava em competição comigo, pois o safado subiu e se jogou nas costas de
Claire cutucando o pescoço dela com o focinho.
— Para com isso, garoto! — sussurrei, e quando pensei em afastá-
lo, Claire abriu os olhos perdida e tentando entender a situação. —
Desculpe, anjo! Mas ele sobe na cama às vezes.
— Não tem problema! — Sorriu e virou para o safadinho que fazia
um olhar de pidão. — Vem cá, seu fofo! — Levantou o edredom e o
incentivou a entrar, e Jacob não pensou duas vezes. Enfiou-se debaixo da
coberta grossa com o rabo balançando pela vitória, se aconchegou em
Claire e os dois fecharam os olhos.
— É sério isso? — perguntei.
— Boa noite, pervertido!
A primeira e única vez que decidi ter uma mulher em minha casa,
perdi toda e qualquer atenção para Jacob, e isso me fez rir. E sem querer
ficar de fora, me aconcheguei a eles envolvendo como eu pude os dois em
meu abraço e tentei dormir.

Na manhã seguinte, não acordei como eu esperava, a cama ao meu


lado estava vazia e quando olhei ao redor, procurando por Claire e tentando
ouvir algum barulho que denunciasse sua presença, e não tive resposta,
passei as mãos em meu rosto na intenção de despertar logo e comecei a me
questionar se ela teria ido embora sem falar comigo. Pulei da cama e andei
pelo apartamento que me pareceu maior do que era. Enquanto eu andava,
comecei a ficar um pouco irritado e frustrado, porque se ela tivesse
realmente ido embora… eu me sentiria um merda. Abandonado em meu
próprio apartamento pela primeira mulher que eu permiti entrar em um
lugar que era sagrado para mim e Jacob… seria uma puta piada do caralho
da vida com minha cara.
Próximo à sala, ouvi a sua risada de menina, e de forma
instantânea o alívio tomou conta do meu peito e a cena que presenciei me
fez encostar na parede e ficar observando, como um idiota com um sorriso
no rosto. Claire corria de um lado para o outro, vestindo uma camisa minha,
que por sinal ficou sexy pra porra nela, e Jacob corria atrás pulando e
abanando o rabo.
Quando se deu conta da minha presença, Claire parou cansada e
passando as mãos pelos cabelos bagunçados que caíam sobre seu rosto,
olhou para mim e seus olhos arregalaram e suas bochechas começaram a
ganhar a coloração que eu estava aprendendo a adorar a cada dia mais.
— Bom dia, anjo!
— Bom dia… você sempre acorda assim? — Fez um sinal com a
mão pequena e delicada de cima a baixo apontando para o meu corpo.
Acompanhei seu gesto e comecei a rir.
— Pelado ou de pau duro?
— Hum… os dois.
— Pelado sim, agora de pau duro… só quando quero ir ao
banheiro, mas neste caso aqui… — Segurei no meu pau, e alisei sem pressa
da glande à base, observando sua reação.
— Neste caso aí? — E lá estava a diabinha assumindo o controle.
— Você é a responsável!
— Tenho minhas dúvidas…
— Tem? — Arqueei as sobrancelhas e desencostei da parede e, no
automático, Claire deu um passo para trás.
— Pode ficando aí… — Continuei andando. — É sério, Zac!
— Ué? Não estou fazendo nada de mais, só quero meu café da
manhã.
— Você não se cansa de ser pervertido assim? — Eu conseguia ver
o brilho da expectativa dançando em seu olhar.
— O que poderia ser melhor do que iniciar o dia com perversão?
— Você não existe… — Com essa frase, ela começou a rir, e foi o
que eu precisava para pegá-la e jogá-la por cima do meu ombro, ouvindo
sua risada ficar ainda mais alta.
— Vou te mostrar o quanto eu sou real. — Dei um tapa em sua
bunda e uma mordidinha de leve na lateral da coxa, ouvindo seu gritinho
misturado com um gemido. — Na minha cama, enquanto eu enfio meu pau
nessa boceta gostosa e apertada.
Os dias passaram e as coisas com Zac estavam fluindo de forma
tranquila e leve, o que vinha me surpreendendo bastante. Ele ainda me
tirava do sério em muitas situações, mas ao mesmo tempo me acalmava e
instigava com as coisas obscenas que ele falava e sabia fazer, e muito bem,
que só de lembrar meu corpo respondia por mim. No trabalho, tentávamos
ser discretos o máximo possível, porque se tinha uma coisa que eu não
queria… era que as pessoas me vissem como mais uma conquista dele, não
que não fosse verdade. Porém meu trabalho era algo muito importante e
crucial para mim.
Sara e Bela estavam desconfiadas, pois nos viram indo embora
juntos por duas vezes, e por mais que eu tentasse disfarçar, Zac não
ajudava. Para ele era divertido ver meu desespero perante as minhas
amigas, tentando dar desculpas sem sentido. Não que eu não quisesse que
elas soubessem, mas o que eu poderia falar? Afinal, nem eu sabia de fato o
que nós dois tínhamos.
Durante a semana, eu recebi uma ligação de minha avó me pedindo
ajuda com a minha mãe e meu avô que não paravam de brigar.
— Minha filha, eu sei que sua vida é corrida… — Suspirou,
exausta. — E não é justo ficar te importunando com problemas familiares,
mas eu estou cansada. Estou cansada dessas brigas bobas e sem sentido do
seu avô com sua mãe. Não há um minuto de paz e tranquilidade quando os
dois estão no mesmo ambiente.
— O que aconteceu agora, vó?
Antes mesmo de ela começar a falar, minha cabeça doeu e eu tirei
meus óculos de grau para esfregar os olhos. As portas do elevador abriram e
eu dei graças a Deus que era Zac quem saía, e quando vi a hora pelo
computador, lembrei-me da reunião que ele teria com James e Phillip.
— A briga agora foi porque seu avô achou um absurdo sua mãe
ter convidado os funcionários para beberem após o expediente.
— E o que tem demais nisso? Pelo que eu saiba, meu avô conhece
cada um deles.
Zac se aproximou e parou na minha frente com uma sobrancelha
erguida, tentando decifrar pelas caras que eu fazia o que estava
acontecendo. Pedi um minuto com a boca sem emitir nenhum som.
— Sim, minha filha! Mas, o problema é que tem dois funcionários
novos e como ainda não conhecem a sua mãe, seu avô disse que convidar
homem solteiro para beber não é postura de mulher casada.
— Meu Deus! Mas, vó… — Suspirei e esfreguei meus olhos com
força. — Isso tudo é desnecessário. Meu avô sabe muito bem que meu pai
estará junto, e por mais que ele não estivesse… minha mãe sempre foi
comunicativa com todo mundo e sempre soube colocar limites e separar as
coisas, tanto que todos têm muito carinho e respeito enorme por ela.
— Exatamente! Seria pedir demais que você viesse esse fim de
semana nos visitar… — choramingou. — Eu pago suas passagens.
— Imagina, vó! Não se preocupe com isso. Vou comprar as
passagens agora, tá bem? Eu vou sábado e volto segunda, bem cedinho.
— Ah, graças a Deus! Vou avisá-los e vou à cidade comprar
algumas coisas para fazer as comidas que você gosta.
Sorri pela empolgação dela, mas meu psicológico por dentro
gritava.
— Preciso desligar, vó! Logo estaremos juntas. Te amo!
— Também te amo, minha neta!
Desliguei o celular, e passei a mão no rosto.
— Tudo bem, anjo? Aconteceu alguma coisa grave para você ter
que viajar?
— Mais ou menos! Não é só você que tem uma família difícil… —
Ri sem vontade.
— Será que a sua é mais difícil que a minha? — Sorriu, porém, seu
olhar era sério.
— Numa escala de um a cem, acho que noventa e nove.
— Porra… — A cara de espanto dele foi tão engraçada, que não
me segurei e explodi em uma gargalhada. — Então, a briga é feia.
— Pode apostar que sim!
Depois que eu me acalmei, Zac aproximou a mão do meu rosto e
fez um carinho breve, porque ele sabia que eu tinha receio de sermos vistos.
— Agora é sério. A situação é muito grave?
Suspirei e respondi:
— Eu não diria grave, mas desnecessária. Meu avô é ex-militar e
por muita das vezes, ele age como se fôssemos seus soldados e, com isso,
exige obediência, disciplina e respeito para coisas que são ultrapassadas,
sabe? Para completar… minha mãe é um espírito livre e, desde a
adolescência, bate de frente com ele quando ela não concorda com algo.
Zac ficou um tempo me olhando, como se estivesse juntando peças
de um quebra-cabeça.
— O que foi? Perdeu a noção de tempo me olhando? — brinquei.
— Eu sempre me perco te olhando… — Minhas bochechas
queimaram e com certeza estavam vermelhas, denunciando a minha
vergonha. — Quer que eu vá com você?
Olhei bem dentro dos seus olhos, buscando algo que me fizesse
recuar e quando eu vi carinho… senti meu coração acelerar. Eu esperava
qualquer coisa, menos que ele se oferecesse para ir comigo apaziguar uma
briga constante de família.
— Tá falando sério?
— Ué? Por que eu não estaria? — Apoiou os braços cruzados no
balcão e deu de ombros. — Você me apoiou com a minha família, e ainda
aturou todas aquelas merdas…
— Não precisa me retribuir porque eu fiz por você.
— Não é uma retribuição, apenas quero estar com você! —
Arqueei uma sobrancelha em dúvida. E fiz uma análise rápida da sua
postura relaxada diante de mim e sem demonstrar qualquer dúvida.
— Se é assim, tudo bem! Vou comprar minhas passagens depois do
almoço.
— Combinado! — disse, dando uma batidinha de leve no balcão e
sorrindo do seu jeito safado e descontraído. — Me manda o voo direitinho
que eu compro do seu ladinho. Rimou, viu?
Ri balançando a cabeça.
— Você está atrasado para a sua reunião, Sr. Stewart! — Baixei a
cabeça rindo para que ele não visse o quanto me afetava com atitudes
simples.
— Estou indo. — Piscou para mim, e se virou em direção à sala de
reunião.
E antes que ele se afastasse de vez, lembrei-me de algo importante.
— Esteja preparado para vários questionamentos, porque eles vão
achar que você é meu namorado… — Revirei os olhos imaginando a cena,
e quando voltei a olhar para Zac, ele estava sério e parecia que tinha
perdido a cor.
— Vou me preparar… — respondeu, mas o tom de brincadeira não
estava mais ali.
Acompanhei-o até que não estivesse mais no meu campo de visão,
e voltei a focar no trabalho sem querer colocar coisas na minha cabeça ou
enxergar coisas onde não existia.

O sábado chegou e, como combinado com Zac, às 8h eu estava


pronta para irmos ao aeroporto. O voo era às 10h20, e como eu sempre
tinha medo de me atrasar ou sofrer algum imprevisto pelo caminho, preferia
sair de casa mais cedo. Porém a hora foi passando e nada de Zac. Liguei,
mandei mensagem e nada. Às 8h40 achei melhor pegar um táxi e ir.
Cheguei ao aeroporto e fiz todo o processo necessário para
embarcar e quando iniciaram a chamada, comecei a me preocupar.
Enquanto caminhava na fila, devagar, liguei mais uma vez e nada. Depois
de sentar e me acomodar na poltrona, disquei seu número novamente e
continuei sem resposta. Levei meu polegar esquerdo à boca e comecei a
puxar as pelinhas nas laterais da unha, sabendo que meu dedo ficaria
horrível, olhando para cada pessoa que entrava e ia se acomodando, e ao
olhar a poltrona vazia ao meu lado, bufei com um misto de irritação e
frustração. Faltando dez minutos para as portas fecharem, meu celular
vibrou, me assustando e no instante em que eu li a mensagem, abri e fechei
a boca sem acreditar e me odiando por dentro.

Zac Stewart: Claire, me perdoe! Mas achei melhor eu não ir,


não queria passar a imagem errada para a sua família. Quando chegar,
me avisa? – 10:18.

Li e reli a mensagem inúmeras vezes e não acreditei no tamanho da


babaquice. Foi uma brincadeira, e por mais que minha família fizesse
algumas perguntas, Zac seria apresentado como meu amigo e ponto final. E,
mesmo que ficassem curiosos por serem conservadores ou não
acreditassem, não insistiriam. Eu havia baixado demais a guarda, e desde o
início eu deveria ter dado mais ouvido à razão do que a porra do desejo
desenfreado que ele me causou, me deixando envolver pelo seu jeito
devasso que seduzia com facilidade e naturalidade.
O celular vibrou na minha mão com uma, duas, três e mais
ligações perdidas de Zac. E quando foi pedido pela comissária de bordo
para que os passageiros desligassem seus aparelhos, eu dei graças a Deus.
Verifiquei meu cinto e cruzei meus braços, olhando pela janela, refletindo
sobre a situação. Eu dei brecha demais para Zac, e sua atitude só serviu para
me mostrar e afirmar que toda fama tem um fundo de verdade. E no caso
dele, o babaca fazia jus a ela.
Como dizia meu avô: Quando se dá brecha para o inimigo… ele
entra sorrateiro, brinca com você e depois vai embora como se nada tivesse
acontecido, deixando um rastro de pecado e vergonha.
Quando o avião começou a decolar, eu tomei a decisão que deveria
ter tomado desde o fatídico tombo constrangedor no elevador. Zac Stewart
voltaria a ser o diretor de RH que eu me dirigia apenas para assuntos
profissionais, e se antes existia uma barreira entre nós dois, dessa vez ela
seria tão alta que seria impossível escalar.
Capítulo 25
Falha na comunicação!

Perdi as contas de quantas vezes eu liguei, e em todas as ligações,


eu não fui atendido. Ou caía na caixa-postal, ou ela desligava. Pouco antes
do horário combinado, me bateu um pânico de saber que eu conheceria a
família de Claire, que nem a dose dupla de uísque resolveu. Senti-me a
porra de moleque covarde, que se escondeu dentro de casa sem coragem de
encarar de frente a confusão que arrumou no meio da rua.
Fiquei andando de um lado para o outro, refletindo sobre a minha
atitude e com uma sensação de perda estranha. Fui eu que me ofereci para ir
com ela, e não como forma de retribuição pelo que ela havia feito por mim,
me apoiando e incentivando no aniversário do meu pai, mesmo eu já
sabendo que não terminaria bem como quase em todos os anos. E sim,
porque eu queria estar perto dela. Conhecer um pouco mais de sua vida, e
ver pessoalmente a menina ruivinha em meio à fazenda de morangos que
era sua fruta preferida.
— Porra, Jacob! Eu acho que fiz merda. — Parei, olhando para o
meu amigo e filho que me encarava com a cabecinha inclinada de lado, me
analisando com seus olhinhos marrons e brilhantes.
Jacob deu um latido forte como se confirmasse o que eu havia
acabado de falar, e com isso passei a mão no meu cabelo, o puxando,
frustrado. Era sábado e eu só a veria na segunda, isso se ela ainda quisesse
falar comigo. Eu vinha aprendendo que era melhor ter uma Claire falante e
irritadinha, do que ter uma Claire em silêncio. Dava-me a sensação de
desprezo e indiferença, e isso sempre foi algo que me incomodou muito
vindo das pessoas. Cresci com a indiferença me rondando, e quando partia
de alguém que era importante para mim, era dolorido e sufocante. E se
Claire fosse por esse caminho, algo me dizia que eu iria enlouquecer.
Peguei meu celular mais uma vez e tentei ligar novamente, e nada.
Caixa-postal atrás de caixa-postal. Olhei o relógio e se o voo não tivesse
sofrido nenhum atraso, em dez minutos ela estaria chegando ao seu destino
e eu tentaria de novo. Para não ficar agoniado, peguei a coleira de Jacob e
fui dar uma volta no parque. Seria o melhor a fazer para o tempo passar e
poder ligar novamente e pedir desculpas.
Isso se ela aceitasse minhas desculpas. E que Deus me ajudasse!

O fim de semana passou e adivinhem o que aconteceu? Claire


simplesmente me ignorou, e mesmo sabendo que eu merecia, fiquei irritado
e puto, porque foi o suficiente para me deixar trancado em casa sem
vontade nenhuma de sair e recusando todo e qualquer tipo convite. Passei
de pegador nato a um monge em um fim de semana, o que me levava a crer
que Claire realmente era uma diaba disfarçada de anjo. Eu fui a porra de um
babaca, não ia me isentar da culpa. Eu honrava e valorizava o que eu tinha
entre as minhas pernas, na verdade, eu zelava com muito… muito cuidado e
carinho. Mas ainda assim, ela podia ter me atendido. Nem que tivesse sido
apenas para me xingar, e eu aceitaria calado, mesmo querendo rebater.
Devido à minha inquietação, não consegui esperar o horário da
empresa abrir e cheguei com quase duas horas antes do expediente começar.
E jogado na minha cadeira, girando de um lado para o outro, eu me sentia a
porra de um moleque ansioso para ver a menina dos sonhos, mesmo
sabendo que ela não me daria atenção ou me esnobaria. Eu já tinha bebido a
quantidade de café para um dia inteiro de trabalho, li e assinei alguns
contratos que não exigiam tanta atenção no começo da semana… na
intenção de controlar uma ansiedade que eu nunca senti na vida. Uma
ansiedade escrota, porque de alguma forma parecia que a vida debochava
da minha cara. — Porra! Eu era Zac Stewart e tinha certeza de que logo
passaria. Como não passar? — Tudo porque eu não sabia como seria tratado
por Claire. A ruivinha que dominou meus pensamentos no fim de semana.
Da minha sala, eu via a minha equipe chegando e um a um
ocupavam seus lugares, dando início às suas funções devido à alta demanda
da área. Foi o único momento em que me acalmei e senti orgulho e
satisfação de onde eu estava, de quem eu era e dos meus colaboradores
esforçados e extremamente dedicados. A hora foi passando e, por volta das
dez, decidi me levantar e não esperar mais. Eu precisava pedir desculpas, e
esperava que o anjo não tivesse dado lugar à diaba.
Entrei no elevador e senti minhas mãos suando.
— Porra… o que está acontecendo comigo? — Passei as mãos pela
minha calça e antes que as portas se abrissem, estufei meu peito e as enfiei
no bolso. No instante em que saí do elevador e seu olhar cruzou com o meu,
tive a certeza de que de anjo ela não tinha nada e eu estava fodido.
Tentei dar passos largos e firmes, e assim que me aproximei da sua
mesa organizada, porém cheia de contratos e outros documentos, seus olhos
não desviaram em nenhum momento da tela do computador. O barulhinho
das teclas não parava com a agilidade dos seus dedos, batendo mais forte do
que deveriam no teclado como se dissessem: Hoje não! – Ainda assim, me
fiz de maluco e tentei agir o mais natural possível.
— Bom dia, anjo! A gente pod…
— Bom dia, Sr. Stewart! — o corte foi rápido e certeiro. — Só um
minuto que eu vou verificar se há algum horário, pois não fui informada de
nenhuma reunião com o RH.
— Anjo, vamos conversar! Quero explicar o que aconteceu e te
pedir descu…
Ela levantou o indicador direito, pequeno e delicado para mim.
Pisquei algumas vezes, e nessas piscadas eu entendi que ela estava me
mandando calar a boca. – Claire estava me mandando calar a boca? –
Ainda aturdido, tentei continuar:
— Claire, eu não gosto que levantem o dedo pra mim e… — Mais
uma vez ela levantou o dedo, e eu senti que meu sangue estava começando
a ferver.
— Infelizmente, Sr. Stewart… — E sem desviar os olhos do
computador, disse: — Eu não tenho horário disponível para os próximos
três dias, mas se o senhor quiser, pode tentar falar diretamente com a
presidência.
— Eu sei, eu faço isso sempre! — Bufei fazendo uma careta.
— Que ótimo! Sendo assim, preciso retornar ao meu trabalho.
Com licença.
Passei uma mão no cabelo, frustrado e irritado, mesmo sabendo
que a culpa pela atitude dela ser minha, ainda assim me irritava que ela me
evitasse e não quisesse conversar.
— Não faz assim, sei que errei… — Fechei os olhos, respirando
fundo, e quando abri, Claire estava com um sorriso enorme olhando para
trás de mim. Virei para ver, e quando vi Ryan caminhando em nossa direção
e sorrindo em resposta, um gosto amargo subiu pela minha boca.
Olhei de um para o outro, e fechei com força minha mão que
estava dentro do bolso da calça.
— Bom dia, Claire… Zac?! — Ryan fez um movimento sutil com
a cabeça na minha direção, e eu fiz o mesmo.
— Bom dia, Ryan! — Endireitei minha postura, e falei: —
Aproveitando que você está aqui, quando tiver um tempo livre, passe na
minha sala. Já selecionamos os candidatos para darmos início às entrevistas.
Ryan respirou fundo e concordou com a cabeça. O cara odiava
fazer parte do processo seletivo, o que levou um bom tempo para que eu,
James e Phillip o convencêssemos a aumentar sua equipe, porém foi
necessário. Devido à redobrada segurança no sistema da empresa, Ryan
estava ficando sobrecarregado. E, como ele queria os melhores, eu
precisava dele para avaliar a parte técnica. O resto eu faria, e faria com
êxito.
— Ok! Na parte da tarde estarei lá.
— Com licença — Claire falou com um sorriso somente para
Ryan. — Eu já comuniquei ao Phillip que você está aqui.
— Obrigado, Claire! — E antes de se afastar, o filho de uma boa
mãe disse: — Podemos almoçar juntos? Quero saber como foi seu fim de
semana.
Pela leve caída nos ombros de Claire, pude perceber que não foi
nada agradável e me amaldiçoei por isso. E assim, como ele, eu também
queria saber.
— Claro! Vai ser ótimo… na verdade, sempre é!
Ah, sua diabinha atrevida! — meu subconsciente gritou.
— Até daqui a pouco! Bom Trabalho… até mais tarde, Zac! —
Ryan meneou a cabeça em minha direção.
— Até!
Esperei que virasse no corredor e assim que ele sumiu de vista,
voltei a focar na diaba à minha frente.
— Você pode almoçar com ele, mas não pode conversar comigo.
Sério isso, Claire?
— Sr. Stewart, diferente do senhor, eu tenho uma demanda muito
grande de pendências para serem resolvidas. Se me der licença, preciso
focar no meu trabalho. Um ótimo dia!
— Tá certo! Eu vou… — Ajeitei meu paletó, controlando a
vontade de esganar o pescocinho fino à minha frente. Não só esganar, mas
beijar e cheirar. — Mas ainda vamos conversar.
Dei as costas sem esperar uma resposta e meus passos falharam
quando a voz suave, porém firme, disse:
— Não vamos, não!
Uma frase curta e que fez um arrepio frio percorrer todo o meu
corpo. Continuei caminhando sem olhar para trás e quando entrei no
elevador, vi a vida brindando e rindo com deboche da minha cara através do
reflexo do espelho.
— Caralho! Que merda eu arrumei para a minha vida.
A semana passou se arrastando, e por mais que fosse sexta… a
vontade que eu estava era de cancelar minhas reuniões da parte da tarde e ir
embora, e simplesmente deitar e ligar o foda-se para o mundo à minha
volta. Não consegui falar com Claire, que me evitou a semana inteira,
minha mãe não parava de ligar e exigir minha presença em casa, meu irmão
pedindo uma trégua… a porra do caos instaurado que estava me tirando do
sério. E mesmo cansado, eu me recusei a ir embora. Se tinha uma coisa que
ninguém jamais poderia falar era da minha capacidade e excelência
profissional. Isso não!
A última reunião do dia seria com os caras para falar do workshop
que era feito uma vez ao ano, na intenção de fazer com que todas as áreas
trocassem figurinhas e interação, e desde que começamos com esse projeto
de conhecimento e diversão, não só o rendimento das equipes aumentou,
mas o progresso da empresa vinha sendo considerado pela Forbes uma das
maiores empresas para se trabalhar, crescer e desenvolver como
profissional. O que me dava gana para continuar firme e forte nos nossos
projetos. Era a porra do tal brilho nos olhos que eu amava.
Entrei no elevador, sentindo o desconforto e a irritação me
dominarem antes do tempo, porque sabia que mais uma vez Claire agiria
como se eu não existisse ou me trataria com total formalidade e
profissionalismo além do natural. Mal coloquei os pés para fora do
elevador, e já ouvi: De jeito nenhum!
— Que saco, Claire! Não se diz não para uma grávida… — Sara
batia o pé como uma menina mimada, o que muitas das vezes ela era… que
ela não me ouvisse falando isso.
— Boa tarde, senhoritas! — Tentei passar direto, mas com Sara era
impossível.
— Hey, desde quando você não me dá um beijo e nem no anjinho?
— Fez um bico e apontou para a barriga cada dia maior e mais bonita. —
Que tio desnaturado! — Cruzou os braços fazendo o drama que se tornou
uma das suas armas contra os amigos.
Ri e balancei a cabeça. Aproximei-me e agachei à sua frente para
acariciar e beijar sua barriga, e quando levantei, dei um beijo em sua testa e
pelo canto dos olhos, pude ver que pequenos olhos verdes nos observavam.
— Satisfeita, mimada? — provoquei.
— Não exatamente… vamos sair hoje? — Fiz uma careta e antes
que eu pudesse responder, ela me cortou: — Gravidez não é doença! Vocês
precisam parar de fazer essas caras todas as vezes que eu quero sair. Pelo
amor de Deus! — Jogou as mãos para o alto e apoiou na cintura.
Cruzei os braços e perguntei:
— Para onde exatamente a princesa gostaria de ir?
— Conhecer a nova boate do Jason…
— De jeito nenhum… — Ri e balancei a cabeça. Jason era um dos
nossos melhores clientes, e a inauguração da sua boate estava parando Nova
York há semanas e seria impossível segurar Sara e Bela. E só de pensar em
James enlouquecendo, eu sentia pena e vontade de rir. — James vai
enfartar!
— Vai nada! — Deu de ombros. — Ele é jovem e, outra, o lugar
tem três andares. — Os olhinhos brilharam. — Só quero comer uma boa
comida, nem faço questão de ir à boate… — O sorrisinho disfarçado era o
mais engraçado. Vi que Claire levou uma das mãos à boca para não rir.
Arqueei uma das minhas sobrancelhas e balancei a cabeça mais
uma vez.
— Minha resposta é não… preciso descansar!
— Mas…
— Não tem “mas”, princesa. Com licença, senhoritas! — Antes de
dar as costas e caminhar em direção ao corredor, fiz questão de encarar
Claire bem no fundo dos olhos, e suas bochechas ficaram vermelhas
levando sangue para um lugar que não devia no meu corpo. — Estou
atrasado para a minha reunião.
— Desde quando você é pontual? Eu ainda estou falando, Zac —
Sara choramingou.
— Se tem uma coisa que eu sou, é pontual, e você sabe disso. —
Parei levando uma mão até meu coração, e me fingindo de ofendido.
— Não somos mais amigos.
— Somos sim! — Pisquei e continuei andando, ouvindo ao longe
ela reclamar de mim com Claire. — Daqui a pouco você esquece e me
perdoa.
— Veremos, seu conquistador. Toda grávida tem uma listinha de
desafeto, e você foi para o topo da minha. — Ri, ouvindo seu tom de voz
revoltado.
A verdade era que, no final, ela ia conseguir convencer a todos. Por
isso, eu deveria preparar meu psicológico para lidar com o desprezo da
diabinha ruiva durante a noite. Claire era uma mulher diferente e qualquer
lugar que ela ia chamava a atenção. Impossível não se encantar por alguém
como ela… com carinha de anjo, mas que exalava sensualidade sem
perceber. E mesmo não sendo fã, eu tomaria um chá de camomila antes de
sair de casa.
Capítulo 26
Entre o certo e o errado… o pecado é o vencedor!

Parei em frente ao espelho, sem acreditar que eu havia cedido às


chantagens emocionais de Sara, e para completar, não só cedi como aceitei
usar o vestido que ela havia escolhido. Era lindo. Vermelho de um tecido
brilhoso, com um profundo decote em V, não só na parte de cima, mas
embaixo… um V inverso. Extremamente sexy e elegante. Enrosquei meus
dedos uns nos outros, me analisando nos mínimos detalhes e me
perguntando se o vestido realmente era para mim. Das roupas grandes
demais e para alguém com mais idade que eu, eu havia feito uma evolução
absurda e algumas até mais ousadas para o meu guarda-roupa. Se minha
mãe visse faria um escândalo de tão animada que ficaria e do jeito que era,
até foto postaria. Já meu avô provavelmente chamaria o pastor para orar,
falando que eu havia me corrompido ao mal mundano. A comparação me
fez rir de nervoso. Respirei fundo e girei em frente ao espelho algumas
vezes tentando criar coragem para descer.
Sara havia me mandado mensagem avisando que passaria para me
buscar em cinco minutos. Eu estava amando o reflexo à minha frente, mas
ao mesmo tempo achando que estava demais. Vestido vermelho, ruiva,
batom vermelho… muita informação! Quando me bateu a insegurança e eu
pensei em trocar de roupa, meu celular começou a tocar.
— Cadê você, gata?! Já estamos aqui embaixo. — A animação na
voz de Sara era contagiante.
— Desço em um minuto.
— Não demora, porque estou ansiosa.
— Já percebi.
Peguei minha bolsa e tentei correr sem enfiar minha cara no chão.
Não dava tempo de trocar. E confiante ou não, eu ficaria com o vestido.
Quando saí do prédio, ouvi um assovio da enorme SUV preta parada em
frente ao meu prédio, com mais duas próximas. Uma na frente e outra atrás.
Balancei a cabeça e ri, talvez ser dono de um dos maiores impérios
publicitários não fosse tão bom assim. A família Wilson sempre andava
acompanhada de uma escolta, e com alguns seguranças.
Próximo ao carro, Sara deu um gritinho chamando a atenção para
as pessoas que passavam pela calçada.
— AHHH… Eu poderia dizer Brasil, mas vou dizer Nova York.
PARA TU-DOOO!!!
Senti minhas bochechas queimarem, principalmente quando a
porta se abriu e Zac pulou para fora, exalando seu perfume, sensualidade e
beleza. Mas, rapidamente tratei de enviar para longe qualquer desejo e
admiração. Ele não merecia!
— Boa noite, Claire!
— Boa noite! — Tentei manter minha voz firme.
Seus olhos percorreram todo o meu corpo, mas fingi que não vi. Eu
precisava manter meu foco. Ele me deu passagem e eu entrei, e agradeci
baixinho quando passei por ele por não demonstrar fraqueza diante do
homem que ele era. Entrei e sentei o mais distante que pude, e ele, vendo
minha reação, se manteve distante também.
Depois que passamos para buscar Bela e Phillip, a distância se
tornou impossível e o carro que antes estava tranquilo, se tornou uma
loucura. Sara e Bela faziam uma festa, e contagiavam todo mundo. Quando
descemos do carro em frente à boate, Bela ficou louca com nossas roupas e
enquanto eu prestava atenção no que ela falava, ouvimos risadas dos
meninos atrás de nós e quando me virei, Zac passava uma mão no cabelo
resmungando alguma coisa. Seu olhar cruzou com o meu, e no mesmo
instante desviei.
O pessoal começou a caminhar em direção à entrada da boate, e eu
fiz o mesmo. Quando o primeiro flash veio em nossa direção, eu tomei um
susto, levando uma mão ao rosto, ainda não havia me acostumado que sair
com eles era isso. Mídia atrás de mídia. Senti uma mão quente repousando
em minha coluna, e não precisei olhar para descobrir a quem pertencia.
— Relaxa, anjo! Só estou fazendo isso para entrarmos e passarmos
pelo tumulto de pessoas e flashes.
Concordei com a cabeça e relaxei como ele havia me pedido. Era
insano ver a enorme fila se perder pelo quarteirão sem sabermos o final
dela, até onde pude ver, eu tinha quase certeza que provavelmente a espera
seria de duas horas ou mais, independente do ambiente que a pessoa
quisesse conhecer do lugar.
Como era de se esperar, passamos direto pela fila e pelos
seguranças ouvindo algumas reclamações, o que me deixou um pouco
desconfortável. Porém, eu vinha aprendendo que o conhecimento fazia uma
diferença absurda nos lugares mais badalados de Nova York. Cabia eu
aceitar ou não, e com os amigos que eu tinha… só me restava uma opção:
aceitar.
A hostess nos levou em direção ao anfitrião da noite. Jason Uchôa
era um dos maiores clientes da Wilson Group Corporation e se tinha uma
coisa que não faltava nele, era carisma e presença. Jason era um cara
bonito, atraente, preto e o tipo de homem que roubava a atenção por onde
passava com seus quase dois metros de altura, e sorriso charmoso. As
poucas vezes que ele esteve na empresa foi algo bem rápido. Chegava para
as reuniões necessárias e ia embora às pressas para os jogos da liga de
basquete, ainda mais com seu time ganhando a maioria dos jogos.
Como era de se esperar, fomos recebidos com muita educação e
simpatia, e após os cumprimentos nada delicados entre os meninos, me
senti envergonhada quando ele me olhou de cima a baixo com uma
satisfação que agradava aos olhos. Porém, me senti desconfortável quando
ele fez um comentário com Zac.
— E você? — Apontou para Zac com um sorriso divertido. —
Preparado para curtir a noite? A casa tá recheada, irmão.
Zac riu e o abraçou.
— Hoje a casa é toda sua, irmão! — Zac piscou, me deixando
vermelha e irritada.
Jason me olhou dos pés à cabeça e de forma espontânea, disse:
— Você seria um idiota se não focasse no lindo motivo que está ao
seu lado.
— Que bom que ela está ao meu lado! — Zac respondeu menos
amigável. E para minha surpresa, acabei sendo grosseira, chamando a
atenção.
— Estou ao seu lado, e não com você — rebati, fazendo Jason
assoviar e Zac fechar a cara ainda mais.
Phillip percebeu que os ânimos estavam alterados e entrou na
conversa, finalizando as apresentações. Zac cruzou os braços e me olhou
pelo canto dos olhos, e eu revirei os meus. Quando fomos direcionados para
a mesa reservada por Jason, sentei e não foi surpresa nenhuma quando ele
sentou ao meu lado. Respirei fundo e pedi ajuda a Deus para que eu não
perdesse a minha postura e deixasse a raiva me dominar. Como que um
comentário idiota entre homens me tirou do sério? Se ele quisesse, podia
ficar com a boate inteira que eu não me importaria. Aff!
Depois da pequena troca de farpas nada gentis, jantamos e nos
distraímos falando sobre vários assuntos, porém o clima agradável se
despediu dando lugar a um clima pesado quando ouvimos uma voz
arrastada demais e sorrateira.
— Como vir a um lugar desses, e não falar com a nata de Nova
York, que até ontem não sabia andar?
Os meninos trocaram um olhar rápido e como eu estava sem meus
óculos de grau e não era fã de lentes, olhei mais tempo que o necessário
para o homem baixo, e bem mais velho que todos os presentes e com uma
energia pesada. E ao lado dele uma loira alta e muito bonita que lembrava
uma modelo de capa de revista.
— Vamos brindar… — Ergueu o copo de uísque com um olhar
malicioso. — A noite só está começando!
Rapidamente, olhei para meus amigos e a forma como Bela e
Phillip estavam, eu entendi que o mal-estar atingia principalmente os dois.
Porém, apesar de agir com indiferença, Zac assim como James, estavam
tensos, tanto que Sara segurou a mão do marido e apertou de leve fazendo
carinho. Sem saber o que fazer ou agir, apoiei minha mão na perna de Zac
chamando sua atenção e meneei a cabeça de lado pedindo silenciosamente
uma resposta. Uma de suas mãos desceu e segurou a minha apertando de
leve. Ok… eu deveria esperar!
Jason, como um bom anfitrião, levantou e foi cumprimentar o casal
à nossa frente, mas não adiantou muito, porque o homem de olhar malicioso
continuou a provocação. Eu o conhecia de algum lugar, um possível cliente
talvez… não conseguia lembrar. Eram tantos que às vezes eu me perdia.
— E você, Phillip? Como se sente brincando de negócios? Me
admira o George se afastar e deixar um bando de moleques conduzir uma
empresa como a Wilson Group Corporation. — Era nítido o desprezo em
sua voz.
— Engraçado ouvir isso de você, Orlando! — Phillip disse,
prepotente, o que raramente ele fazia com as pessoas. E, sem perder a
elegância e o sorriso de playboy que fazia a mulherada suspirar. — Até
onde eu sei, foram as crianças aqui que tiraram a sua empresa da beira da
falência. Ou eu estou errado? — Olhou para James e depois para Zac.
— Exatamente! Nunca tivemos tanto trabalho para limpar a
imagem de um cliente. — James entrou no seu modo CEO, um jeito que
tirava muitas pessoas do sério.
— Sem falar dos processos! — Zac entrou na conversa, e encarou
Orlando com um sorriso gentil. O falso sorriso gentil que ele usava com os
pais. E, de alguma forma, me doeu a comparação.
O homem ficou vermelho, sem saber como agir perante os três
homens maravilhosos sorrindo para ele. E olhando mais uma vez e
reparando com mais atenção e puxando na memória a sua fisionomia,
lembrei seu nome. Orlando Miller, um dos maiores empresários da indústria
têxtil, e… um dos clientes mais problemáticos da Wilson Group
Corporation. Eu ouvi muito seu nome, mas não o reconheci até agora. Seu
corpo tremeu e, na tentativa de dar um passo à frente, a mulher ao seu lado
o segurou.
— A soberba de vocês será a destruição daquela empresa.
Os três apenas levantaram os copos como resposta, desprezando e
sorrindo com o homem quase entrando em colapso à nossa frente. E quando
ele nos deu as costas, os três voltaram a conversar como se nada tivesse
acontecido. Que loucura!

Após as controvérsias da noite e o jantar, Sara mais uma vez


conseguiu convencer a todos – além de quase fazer o marido enfartar de
nervoso – a irmos para o último andar e conhecer a tão famosa boate que
gerava filas e mais filas em Nova York. No elevador tocava uma música
clássica, o que Jason explicou que era proposital e quando as portas
abrissem, nós entenderíamos. E no instante em que isso aconteceu e a
batida da música invadiu o pequeno espaço de aço arrepiando todos os
pelos do meu corpo, com uma energia caótica me convidando a imergir no
mar de corpos amontoados uns nos outros balançando e pulando como se
não houvesse o amanhã, eu quis desesperadamente fazer parte daquilo e me
envolver na loucura que se desenrolava à minha frente. Jason sorriu para
todos e explicou que o objetivo era trazer o caos em meio à calmaria,
incentivando a adrenalina dentro das pessoas. E o cara acertou em cheio.
Puta que pariu vinte vezes! Como dizia Sara e Bela.
Subimos para a área vip e mal passamos pela entrada e a primeira
coisa que fiz foi correr para o guarda-corpo e lá eu me perdi observando as
pessoas dançando de forma livre e sensual, e sem perceber eu balançava
meu corpo de forma tímida. Levei uma mão à boca discretamente
segurando a vontade de rir. Eu realmente estava mudando, e não sabia se ria
ou se chorava. Primeiro as roupas, e agora o desejo desenfreado de me
enfiar no meio de desconhecidos e dançar até esquecer tudo ao meu redor.
Logo eu que sempre me senti sufocada em lugares fechados e lotados.
Revirei os olhos para mim mesma e ri.
Percebi que não estava mais sozinha quando Zac parou ao meu
lado com uma taça de espumante na mão, estendendo para mim, mas o que
me chamou a atenção foi seu sorriso devasso de canto de boca. Era como se
ele soubesse exatamente como eu me sentia, e tudo aquilo o que eu queria
fazer. Desviei o olhar rapidamente e aceitei a taça, agradecendo com um
aceno de cabeça.
— Quer descer? Se quiser, eu desço com você, é só pedir…
Olhei a movimentação na pista de dança, e me imaginei dançando
com ele da mesma forma que as mulheres dançavam com os caras, sem
vergonha ou pudor. Minha cabeça disse que não, mas meu corpo gritou que
sim. – SIM… SIM… SIM! – Tomei um gole generoso da bebida, e respondi
tentando não demonstrar a minha vontade de ir. De jeito nenhum!
— Não… prefiro só observar!
— Se o problema for a dança… — Zac se aproximou me
sufocando com a sua altura e beleza. — Eu te ensino! Eu sou um excelente
professor. — Enquanto seus olhos estudavam minha reação, sua língua
passava lentamente pelo lábio inferior até parar no canto da boca.
Fiquei um pouco perdida, tentando encontrar uma resposta e com o
desespero querendo me dominar, porque eu não queria ceder e não podia,
eu precisava manter minha postura. Fui salva pelas meninas que se
aproximaram animadas e me puxaram para dançar, mas ainda assim, o jeito
como ele me encarou fez com que toda a chama que eu tentei manter
apagada nos últimos dias, sacudisse dentro de mim dando sinal de que logo,
logo se acenderia. Mordi meu lábio inferior com raiva de mim por me
perder nas palavras de Zac, e simplesmente perder a fala. Eu consegui
manter a distância nesses últimos dias, e não seria em momento de
relaxamento com meus amigos que as coisas mudariam.
No decorrer da noite, tentei me manter impassível e curtir com
minhas amigas sem me deixar abalar com o devasso que não tirava os olhos
de mim. Zac não precisava de muito para envolver alguém, seu olhar
conseguia desestabilizar e fazer com que uma mulher se sentisse desejada
apenas sendo observada. Em um determinado momento, Sara parou de
dançar para descansar os pés que estavam inchando devido à gravidez e
James, como o apaixonado que era, logo tratou de cuidar da sua princesa e
Bela tinha parado um pouquinho para beber alguma coisa e conversava com
Phillip em um cantinho da área vip.
Sorri por ver a interação dos casais apaixonados e que, a cada dia,
eu torcia mais por sua felicidade, eles mereciam o mundo. E olhando para
eles, por um momento me perguntei se um dia eu viveria algo assim. A
reflexão me fez parar por um instante e sem perceber, olhei em volta e meus
olhos cruzaram com os do pecado em forma de gente. Sentado em um dos
sofás, seus braços estavam apoiados em seus joelhos com uma cerveja entre
as mãos e seus olhos percorriam com intensidade e detalhadamente todo o
meu corpo. Estava lindo com o terno todo preto moldado de acordo com
seu corpo deliciosamente gostoso, sem a gravata e o cabelo todo bagunçado
de um jeito charmoso, me convidando a passar as mãos e sentir mais uma
vez os fios deslizando entre meus dedos. Respirei fundo, me sentindo
desejada, e mesmo tímida e um pouquinho sem jeito, continuei dançando,
deixando meu corpo leve e sendo conduzido com a ajudinha da minha
quarta taça de espumante que descia com facilidade pela minha garganta.
Fechei os olhos e deixei com que “7 rings de Ariana Grande” com
sua batida sensual e gostosinha, tomasse conta dos movimentos do meu
corpo. Se eu estava fazendo certo, eu não sabia, mas me deixei levar e
esquecer tudo ao meu redor. Certo ou errado, eu só queria dançar e dançar.
Mas, meu devaneio não durou muito tempo, quando Bela me puxou para
um canto junto com Sara, pisquei os olhos e tentei não cair com os saltos
finos. Acompanhei as duas sem entender, e antes de focar em Bela, vi que
os meninos estavam próximos ao guarda-corpo da área vip conversando e
não se atentaram ao que acontecia em volta.
— O que foi bandida? — Sara perguntou preocupada, alisando o
rosto da nossa amiga.
Olhei bem e quando vi que ela chorava, segurei em sua mão e
apertei, preocupada.
— Bela… — Sequei uma lágrima que caía. — O que aconteceu?
— Eu preciso ir embora. — Ela baixou a cabeça e depois levantou
o rosto, olhando para o alto e respirando fundo, e com um sorriso fraco
continuou: — Me desculpem, mas… a noite de hoje não saiu como eu
esperava e tudo que eu quero é ir pra casa e sentir o conforto da minha
cama.
— Eu te conheço o suficiente para saber que alguma coisa muito
séria aconteceu, e se o problema for alguém e ainda estiver por perto…
vamos resolver! — Sara fez um bico e semicerrou os olhos. — Aproveita
que eu ainda estou descalça e consigo andar mais rápido.
Bela, assim como eu, riu das loucuras e proteção de Sara.
— Para com essas loucuras, vaca! Eu jamais deixaria você entrar
em uma briga, ainda mais correndo o risco de machucar nosso anjinho —
disse, alisando a barriga de Sara com carinho.
— Mas eu posso te defender… — falei endireitando a minha
postura. — Nunca briguei, mas eu entro em uma briga sem pensar duas
vezes por vocês. — Eu realmente nunca havia brigado na minha vida, muito
mal discutido com alguém, mas se fosse preciso… eu iria com tudo.
As duas sorriram para mim, e Bela nos puxou para um abraço. E
ainda nos abraçando, disse:
— Ninguém vai brigar com ninguém, só preciso ir pra casa. E
prometo que assim que eu estiver melhor, eu conto tudinho para vocês. —
Passou as mãos no rosto e nos chamou para ir falar com os meninos.
Assim que nos aproximamos, todos perceberam que ela não estava
bem, principalmente Phillip que demonstrou seu desespero tentando
entender como a namorada se sentia. Depois de algumas trocas de palavras,
todos decidiram ir embora. Corri para pegar minha bolsinha em cima da
mesa e quando eu voltei, as meninas me pararam e seguraram as minhas
mãos.
— Amiga… você fica — Bela começou e antes que eu pudesse
responder, concluiu: —Você está um espetáculo com esse vestido, e seria
um desperdício ir embora e não aproveitar tudo que a noite ainda te reserva.
— Vi quando ela trocou um olhar cúmplice com o Zac e queria grudar no
pescoço dela.
— Não faça o que eu não faria, ou melhor… — Sara olhou para
James e sorriu provocativa. — Faça tudo e muito mais nessa área vip.
— Minha princesa… pelo amor de Deus! — James fingiu
aborrecimento, mas a troca de olhares com a esposa dizia muito do que eles
aprontariam.
— Ué? Eu não disse nada de mais… hormônios da gravidez. —
Estalou a língua e sorriu, fingindo inocência. — Fica mais um pouquinho,
tá bem?
— Mas, se viemos todos juntos… — Tentei fugir.
— Nada disso! Depois Zac te leva em casa, né, abençoado? —
Bela olhou para o amigo que sorriu em resposta.
— Com todo o prazer! — o devasso respondeu com aquele sorriso
que na maioria das vezes molhava a minha calcinha, e que, por acaso, já
estava causando um rio entre as minhas pernas.
— Perfeito! — Sara bateu palminhas, abraçou o amigo, deu um
tapinha na minha bunda e foi em direção à escada balançando os quadris no
ritmo da música, enquanto os demais se despediam de mim e Zac.
E quando Bela me abraçou, disse:
— Faça sexo nessa área vip por mim, por favor!
Pensei em responder, mas a doida jogou um beijinho no ar e saiu
igual Sara, balançando os quadris. Fechei e abri a boca algumas vezes, e
antes de pensar em fazer qualquer coisa, a voz quente como o inferno
sussurrou no meu ouvido:
— Agora somos só você e eu, meu anjo!
Meu anjo? Desde quando passei de anjo para meu anjo?
Virei-me bem devagar sem demonstrar que ele havia me afetado e
arqueei uma sobrancelha.
— E o que isso quer dizer?
Zac sorriu e levantou o dedo me pedindo um minuto. Pegou o
celular do bolso e caminhou em direção à entrada da área vip, digitando
algo, e ficou lá por uns cinco minutos. Sentei no sofá, peguei uma pedrinha
de gelo e passei na minha nuca, observando a interação dele com o
segurança. Aproveitei o momento sozinha e fechei os olhos, tentando
controlar o nervoso crescendo dentro de mim. Quando os abri, vi Zac
caminhando com mais uma garrafa de espumante e o segurança que antes
estava na entrada, não estava mais e não só isso, todo e qualquer
movimento havia sumido. A área vip não era tão espaçosa, mas era elegante
e confortável, e em comparação à parte de baixo que ficava a pista e os
bares em pontos estratégicos, a iluminação era baixa e quem estava
embaixo quase não conseguia ver quem estava em cima.
Sem desviar os olhos dos meus, Zac encheu uma taça para mim e
uma para ele, que pelo que pude perceber era a primeira da noite. Entregou-
me uma e estendeu a sua em minha direção.
— Um brinde ao que a noite ainda nos reserva. — Seu olhar
percorreu meu corpo com mais intensidade do que das outras vezes, e
apenas estendi minha taça brindando sem saber o que dizer. Fiquei até com
medo de quebrar com a força que eu a segurava.
Tomei um gole e acompanhei sua língua quando ele passou entre
os lábios, ao encarar o V invertido do meu vestido entre as minhas pernas.
Zac bebeu mais uma vez, e deixou a taça em cima da mesa à minha frente e,
logo em seguida, estendeu a mão para mim.
— Te ver dançar é algo que eu poderia fazer o dia inteiro… —
Meneou a cabeça de lado e sorriu repleto de segundas intenções. — Mas
dançar com você e sentir você… é algo que estou ansioso para fazer. — O
que ele quis dizer com “sentir”? — Dança comigo?
E mesmo em dúvida e sabendo que poderia me arrepender, virei de
uma única vez o restante do líquido com bolinhas refrescantes, e quando
minha mão tocou a sua… puta que pariu! Fiz uma prece desesperada
pedindo a Deus sanidade e forças, porque se minhas pernas ficaram moles
com apenas um toque… imagina como ficaria o restante do meu corpo?
Zac me conduziu sem nenhuma pressa até onde ele queria e a cada
passo, meu coração parecia que sairia pulando do meu peito, e quando me
vi encostada no guarda-corpo, mordi meu lábio querendo rir de desespero.
Suas mãos seguraram firme em minha cintura e me puxaram de leve contra
seu corpo, e não demorei muito a perceber que o volume que se encaixava
perfeitamente no centro da minha bunda era seu pau. Rapidamente, segurei
na barra fria à minha frente buscando apoio, inspirei e expirei bem devagar
tentando me manter firme, mas quando seus lábios resvalaram pelo lóbulo
da minha orelha, eu simplesmente me odiei com o gemido traiçoeiro que
escapou da minha boca. Pude ouvir sua risadinha convencida e sem me dar
tempo de reação, sua voz rouca invadiu meu ouvido:
— Está vendo aquelas pessoas lá embaixo, meu anjo… — Zac
mordeu a pontinha da minha orelha, e lentamente uma de suas mãos subiu
pelo meu braço e parou no meu pescoço, apertando de leve. — Elas estão
curtindo sem se preocuparem se estão sendo observadas ou não, se permita
fazer o mesmo como mais cedo… faça o que deseja!
Meus olhos que estavam quase fechando com as coisas que ele
fazia e dizia, abriram e mais uma vez observei os corpos suados e
amontoados dançando de forma sensual. Dava para ver que nenhuma
daquelas pessoas se preocupava com os demais ao seu redor, apenas se
moviam com um sorriso no rosto e de acordo com a música.
Por um instante, me questionei se deveria ou não fazer o que de
fato eu queria. Eu não era sexy dançando, mas queria saber como seria
dançar me esfregando em Zac… sentindo suas mãos em meu corpo. A
indecisão foi jogada para longe, quando “Body Party de Ciara” começou a
tocar. Sem olhar para ele, comecei a mexer o meu corpo lentamente e aos
poucos fui me deixando consumir pela música.

(…) You can't keep your hands off me


Touch me right, yeah, rub my body
I can’t keep my hands off you
Your body is my party
I'm doing this little dance for you
You got me so excited (…)

Eu queria me manter distante o máximo possível, mas eu tinha


desejos guardados em mim que Zac começou a despertar, e mesmo sabendo
que eu iria me cobrar e até mesmo me julgar por ter sido fraca e dado
brecha para ele, a Claire que sempre quis viver as loucuras libertinas da
vida, não pediu licença… apenas comunicou que ela conduziria a situação.
Aos poucos, fui me soltando, joguei meus braços para alto e apoiei
minha cabeça em seu ombro, deixando minhas mãos deslizarem por trás da
sua cabeça e tocarem sua nuca. Conforme a música me envolvia, eu me
sentia mais atrevida. Segurei novamente no guarda-corpo e joguei meu
cabelo todo para o lado esquerdo, e sem pudor algum empinei minha bunda
contra sua ereção cada vez maior, e foi minha vez de ouvi-lo gemer. Sorri
inebriada pela sensação de liberdade, e dei um gritinho quando sua mão
acertou minha bunda e apertou. Vire-me para ele e sem nada a perder,
joguei meus braços ao redor do seu pescoço e falei:
— O que te faz pensar que hoje vai mudar alguma coisa?
Zac semicerrou olhos e de repente sorriu, a porra do sorriso que
desestabiliza qualquer mulher. O tipo do sorriso devasso que você se
apaixona e sabe que vai trazer problemas para a sua vida e, ainda assim,
quer experimentar… quer pagar para ver. E com os lábios bem próximos
aos meus, ele respondeu:
— Um homem pode ter esperanças, não concorda?
— No seu caso… — A frase ficou pela metade, quando senti uma
de suas mãos subindo pela minha perna e parando próxima ao V entre elas.
— O que você está fazendo?
— Eu não vou continuar se você não quiser. — Zac encarou minha
boca e passou a língua entre os lábios. Senti uma vontade absurda de beijá-
lo. — Mas se a resposta for sim, eu não vou parar até te comer e te ver
satisfeita seja aqui nesta boate ou em qualquer outro lugar, Claire.
Encostei minha testa em seu peito sentindo as batidas frenéticas do
meu coração, pois ao mesmo tempo em que eu queria viver, me sentia uma
covarde de alguém ver. Quando levantei minha cabeça e deixei minha mão
direita descer até seu peito, senti as batidas do coração de Zac e arregalei os
olhos, surpresa em perceber que o seu estava como o meu, recebi um
sorrisinho de canto de boca e um olhar repleto de expectativa e luxúria.
— Eu quero…
Zac meneou a cabeça de lado para ter a certeza de que era o que eu
queria, e antes que eu perdesse a coragem, fechei a mão na lapela do seu
paletó e fiz o que eu queria. O beijei com vontade, e abri as pernas
empurrando meu corpo contra o dele. E com esse gesto, eu não tive tempo
de pensar nas loucuras que aconteceram a seguir.
Sua língua invadiu minha boca, assim como seus dedos ágeis e
habilidosos que empurraram minha calcinha para o lado e abriram espaço
pela minha boceta extremamente molhada, invadindo de uma única vez em
um entra e sai torturante e excitante. Busquei me manter firme quando seus
movimentos se tornaram mais rápidos, e seu polegar massageava meu
clitóris. Mexi os quadris contra sua mão, buscando acelerar a sensação que
crescia entre as minhas pernas, quando o filho da mãe parou de me beijar e
segurou meu lábio inferior entre os dentes, sorrindo, e bem devagar se
afastou de mim, me deixando com a respiração ofegante.
— Você é doido? — Levei uma mão até meu lábio dolorido pela
mordida. — Que porra é essa…
Ele avançou sobre mim, arrancando um gritinho pelo susto que
levei, e me pegou no colo, e quando pensei em questionar, senti minhas
costas encostarem na poltrona e em um piscar de olhos, meu vestido estava
na altura dos meus quadris, minha calcinha sendo rasgada e a boca de Zac
entre as minhas pernas, lambendo e chupando como se fosse a minha boca.
— Zac, alguém pode ver… — Segurei em seu cabelo e olhei ao
redor, porque de onde estávamos dava para ver uma parte da pista de dança,
por mais que estivéssemos no segundo andar.
— Adoro te ver irritada e falando palavrão, meu anjo… — disse,
dedilhando a minha boceta e abrindo meus grandes lábios sem pressa
nenhuma com a língua.
Apertei meus dedos com mais força em seu cabelo e fechei os
olhos, excitada e com vontade de rir daquela sacanagem.
— Minha nossa…
— Quer que eu pare?
Olhei para ele tão lindo e imponente ajoelhado entre as minhas
pernas, sem se preocupar ou se importar com o que acontecia ao nosso
redor, beijando e esfregando a barba cerrada entre minhas coxas – tão sexy
– que balancei a cabeça desesperada em negativa e mexi meu quadril,
fazendo-o rir e voltar a se dedicar à minha boceta totalmente exposta à sua
mercê. Zac lambeu e chupou como se eu fosse fugir a qualquer momento, e
quando seus dedos me preencheram novamente e entraram em sincronia
com os movimentos de sua boca, arqueei minhas costas do sofá e deixei
escapar um gemido longo e dolorido de prazer entre meus lábios,
agradecendo a música alta. Enquanto meu corpo ainda tremia, seus olhos
estavam sobre mim se deleitando com a minha reação. Um olhar que
parecia desvendar todos os desejos insanos guardados em mim, e que
estavam dispostos a me ajudar a experimentar e a vivenciar cada um deles.
Quando me senti mais calma, aliviei a pressão que meus dedos
faziam em seu cabelo e alisei seu rosto, suspirando com o homem perfeito à
minha frente e que tinha o poder de me levar de oito a oitenta com as suas
provocações e atitudes ousadas. Seus lábios estavam brilhando dos meus
fluidos, e sem desfazer nosso contato, ele levantou com toda tranquilidade
do mundo e com um sorrisinho devasso que condizia com sua reputação,
estendeu uma das mãos me ajudando a levantar mesmo que minhas pernas
ainda estivessem fracas pelo orgasmo intenso.
— Vamos embora? — perguntei curiosa, ajeitando o vestido,
vendo-o guardar minha calcinha destruída em um dos bolsos da sua calça.
— Embora? — Ele arqueou uma sobrancelha.
— Sim…
— De jeito nenhum! — Passou as mãos pelo meu rosto deixando
uma sensação de quentura e conforto, e me beijou fazendo com que eu
sentisse meu próprio gosto em sua boca, algo que me fez ficar excitada
novamente. Desviando da minha boca, disse em meu ouvido: — Te fodi
com a minha boca, meu anjo… agora vou te foder com meu pau e vou
deixar você escolher o lugar. — Apesar de conter um sorriso de canto de
boca, seu olhar era repleto de lascívia e promessas que eu ainda
desconhecia. — Na mesinha, no sofá, na parede… onde você quer que eu te
coma, Claire?
Pisquei atordoada e tendo a certeza de que desceria de tobogã para
o inferno, e que todos os domingos que eu tirei para ir à igreja, não seriam o
suficiente para me salvarem da devassidão que era Zac Stewart.
Capítulo 27
Se eu não enlouquecer agora, não enlouqueço nunca mais!

Meu anjo ruivo arregalou os olhos e levou o polegar até a boca,


mordendo a pontinha da unha, demonstrando seu nervosismo, respirou
fundo e como ela sempre me surpreendia quando se sentia à vontade, não
perdeu tempo passando os olhos por todo o espaço. A indecisão misturada
ao desejo em seus pequenos olhos verdes e puros estava me deixando
maluco. Claire provavelmente não fazia ideia do poder que tinha nas mãos,
com seu jeitinho inocente e sexy de forma tão natural, ela poderia colocar
qualquer homem aos seus pés – inclusive eu – e sentindo meu corpo reagir
a um gesto despretensioso que nem ela sabia que estava fazendo, mordi
meu lábio segurando a vontade de colocá-la de quatro na porra do sofá e
fodê-la tão forte e gostoso, que a música da boate não seria o suficiente para
abafar seus gritos.
Quando decidiu o que queria, ela me encarou com a boca que
parecia que havia sido moldada para encaixar na minha, totalmente
vermelha e inchada pelos nossos beijos. Aproximei a minha da sua, e passei
a língua bem devagar desenhando o contorno dos seus lábios tão delicados
e macios. As mãos pequenas vieram sobre as minhas e apertaram, tentando
conter um gemido baixo e sôfrego. Sorri satisfeito e me afastei, aguardando
que ela abrisse os olhos e me encarasse.
— Já tenho uma resposta?
— Sim…
— Onde, Claire?
— Na parede. — A voz saiu tão baixa que quase não ouvi, mas
sorri com a escolha atrevida. Dependendo da parede que Claire escolhesse,
poderíamos ver as pessoas, mas elas não nos veriam devido à iluminação, o
que não impediria de trazer uma adrenalina de sermos vistos e observados.
— Em qual delas, meu anjo?
Afastei-me para dar espaço, e indiquei com a mão que ela
caminhasse até o local escolhido. E mesmo tímida, ela foi até uma parede
atrás de mim e confesso que fiquei surpreso, porque era o único lugar que
vez ou outra as luzes coloridas de led passavam.
— Eu quero aqui — disse encostando-se à parede e mordendo o
lábio inferior.
Apoiei as mãos uma em cada lado dos seus ombros, e com os
nossos narizes praticamente se tocando, falei:
— Quer escolher como eu vou te foder ou eu posso conduzir?
Eu poderia fazer do meu jeito, mas eu sabia que era tudo novo para
Claire e que por mais que ela não falasse, eu vinha percebendo que ela tinha
muitos desejos reprimidos e me sentia a porra de um sortudo por fazer parte
de algumas de suas descobertas.
— Me surpreenda…
A diabinha entrou em ação, levantando o vestido até a altura dos
quadris, o que foi o caralho da pólvora explodindo dentro de mim. Sem
pensar duas vezes, abri minha calça às pressas ouvindo a sua risadinha
provocadora. Quando puxei meu pau para fora, só tive tempo de xingar com
o susto que levei, quando Claire se ajoelhou e o segurou entre as mãos e
lambeu da base até a glande que já mostrava o líquido pré-ejaculatório.
— Ah, caralhooo… — Joguei minha cabeça para trás, trincando
meus dentes.
A boca fechou com cuidado em volta da cabeça, enquanto suas
mãos iniciavam um vaivém um pouco sem jeito e trêmulo, porém firme na
base me fazendo gemer. Apesar da pouca experiência, Claire conseguia me
excitar como nenhuma outra mulher havia feito. Ela se aventurava e se
permitia viver o momento, mesmo que por muitas vezes demonstrasse uma
luta interna com ela mesma. Sua boca foi ficando mais ousada. Lambendo,
chupando e engolindo meu pau cada vez mais da forma como conseguia, e
quando ela girou a língua em volta da glande inchada e me encarou, levou
para longe todo o meu autocontrole. Afastei-me o suficiente para levantá-la
do chão e a pegar no colo.
— Se continuar me chupando gostoso com essa boca atrevida… —
A mantive presa contra a parede, e com uma mão guiei meu pau até sua
boceta e pincelei sua entrada molhada, em uma brincadeira vulgar e
deliciosa.
Suas pernas se fecharam com mais força em volta da minha
cintura, e seus braços envolveram meu pescoço para me manter do jeito que
ela queria.
— Você vai fazer o quê? — disse mexendo os quadris para me
atiçar.
— O que eu vou fazer? — Sorri encantado em vê-la se soltar, se
permitir. — Isso…
Entrei de uma única vez na boceta deliciosamente apertada,
ouvindo seu gritinho de surpresa. Trinquei meus dentes tentando me
acalmar e não a foder como um louco contra a parede, tocando seu rosto
para saber se ela estava bem com a forma brusca que eu a penetrei. Levantei
seu queixo com cuidado, e assim que nossos olhares se encontraram e eu
pude ver refletido em seus olhos o mesmo desejo que gritava em mim, eu
não parei. Fechei os braços com mais força em volta do seu corpo pequeno
e comecei a me movimentar devagar para que ela pudesse se acostumar, e
conforme Claire se abria me dando mais espaço, as estocadas de lentas e
longas, se tornaram rápidas e curtas, com nossos gemidos se misturando à
música da vez, tornando a cena memorável para quem de alguma forma
estivesse vendo.

(…) You, you love it how I move you


You love it how I touch you
My one, when all is said and done
You'll believe God is a woman (…)

Senti que meu anjo estava perto de gozar quando seus dedos se
fecharam em meu cabelo me puxando para ela, e sua boca buscou pela
minha de forma desesperada. Levei minha mão entre nossos corpos e
estimulei seu clitóris, incentivando e prolongando seu orgasmo que a
atingiu com tudo. Eu apenas observei e guardei na memória a sua imagem,
tão linda e entregue, enquanto ela segurava meu lábio inferior entre os
dentes e gemia sem vergonha alguma. Quando os espasmos foram
diminuindo, ela abriu os olhos de um jeito preguiçoso e com sorrisinho de
quem tinha acabado de foder e estava satisfeita.
— Não para… — Levou minha mão que estava entre nossos
corpos, e chupou os dedos que antes estavam em seu clitóris. — Quero te
ver gozando dentro de mim!
Alisei a sua coxa e subi deixando um tapa na bunda que eu
adorava, e sorri.
— Seu pedido é uma ordem…
Não esperei um minuto a mais ou a menos, puxei a lateral do seu
vestido com minha boca expondo o mamilo esquerdo durinho e rosado,
passei minha língua ouvindo seu gemido baixo e o engoli com vontade,
entre chupadas e lambidas tentando aplacar o desejo desenfreado que
crescia em mim quando se tratava de Claire. Espalhei beijos molhados entre
o vão dos seios que cabiam perfeitamente na palma da minha mão, até
alcançar o mamilo direito e fazer o mesmo, e só me dei por satisfeito
quando vi sua respiração ofegante e sua lubrificação molhando a minha
calça. Eu a fodi, com menos delicadeza e não parei até senti-la apertar meu
pau mais uma vez. Gozei junto com ela e enchi a boceta que vinha me
enlouquecendo com toda a porra que eu acumulei nos últimos dias, e se
continuasse assim… com a nossa diferença de idade, em algum momento a
diabinha ruiva me faria enfartar.
Com as nossas respirações aceleradas, eu a desci com cuidado,
deixando que firmasse seus pés no chão e ajeitei seu vestido. Passei as mãos
pelo seu rosto tirando os fios grudados em sua testada e a beijei sem pressa,
sentindo a textura dos seus lábios macios e o gosto da sua boca misturado
ao do espumante, sendo retribuído da mesma forma.
— Tudo bem?
— Sim… — Sua voz estava letárgica e segurei a vontade de rir
para não a irritar, e dar motivos para que ela subisse a barreira que construiu
nos últimos dias entre nós novamente. — Eu só…
— Você só? — Meneei a cabeça de lado tentando descobrir, e
quando vi que ela prendia uma perna na outra, imediatamente entendi. — Já
volto!
Saí da área vip vendo que Jason manteve o espaço vazio para nos
dar privacidade, como eu havia pedido e sorri, satisfeito, fazendo uma nota
mental para agradecer meu amigo. Entrei no banheiro e peguei duas toalhas.
Molhei uma e a outra eu mantive seca. Voltei e ela continuava do mesmo
jeito, mas de uma forma engraçada. Na ponta dos pés, com as pernas
pressionadas uma na outra e as mãos segurando a barra do vestido, tentando
ver o que acontecia na pista de dança. Assim que me aproximei, agachei na
sua frente e Claire tentou pegar as toalhas da minha mão e por reflexo eu
afastei.
— Eu posso fazer isso sozinha.
— Eu faço!
— Zac, já disse que faço… — Tentou pegar as toalhas novamente.
— Eu posso muito bem me virar sozinha.
— Em nenhum momento eu disse que não podia, disse? —
Arqueei uma sobrancelha e observei um biquinho lindo se formar em seus
lábios. — Não vamos discutir sobre isso, ok? Agora abra as pernas, meu
anjo!
Claire fez o que eu pedi um pouco revoltada e me deixou limpá-la,
observando todos os meus movimentos, soltando um resmungo ou outro
quando a toalha passava entre suas pernas.
— Tô passando forte?
— Não! Só estou um pouquinho sensível.
Assenti, agora usando a toalha seca, e quando terminei, joguei as
duas no lixo. E assim que terminou de se ajeitar, perguntei:
— Quer ir embora?
Claire cruzou os braços, e mais uma vez olhou na direção da pista
de dança.
— Podemos passar lá embaixo primeiro? — Desviou o olhar da
pista e mordiscou os lábios, esperando por minha resposta.
— O que você quiser…
— Obrigada! — Claire correu até a mesinha para pegar sua
bolsinha e quando voltou, seu sorriso parecia de uma criança que havia
conseguido o que tanto queria. — Podemos ir!
Segurei em sua mão cruzando nossos dedos e como ela não
reclamou, fui em direção ao lugar que meu anjo tanto queria desde a hora
em que chegamos. A pista de dança.

— Quer beber alguma coisa? — perguntei ao pararmos em frente a


um dos bares, que por sinal nos dava uma visão ampla do lugar.
— Hum… — Ela fez um biquinho lindo mexendo de um lado para
o outro, ponderando se pedia ou não, e quando pensei que a resposta seria
não: — Uma margarita.
— Margarita… — Sorri com a escolha. — E o espumante?
Desistiu?
Ela deu de ombros e respondeu prendendo o cabelo em um coque
alto e frouxo, expondo o pescoço, que eu queria passar meu nariz e sentir o
cheirinho do seu perfume viciante e frutal novamente.
— Aqui embaixo está calor, e acho a bebida refrescante.
Aproximei-me do seu rosto vendo seus olhos arregalarem em
expectativa e resvalei meus lábios nos seus depositando um selinho.
— Seu pedido é uma ordem… — Pisquei, recebendo como
resposta um suspiro acompanhado de um revirar de olhos. Um gesto que eu
achava fofo e atrevido. Contive a vontade de rir e fiz sinal para o barman.
Fiz o nosso pedido, a bebida que ela queria e uma cerveja para
mim, como a tal “saideira” que aprendi com Sara e Bela. Todas as vezes
que íamos embora de um lugar, elas sempre diziam “não sem antes
tomarmos a saideira”, e ambas explicaram que era algo que os brasileiros
sempre diziam antes de irem embora de algum lugar, o que achei
interessante e divertido.
Enquanto eu aguardava nossas bebidas, virei-me para Claire que
estava a poucos centímetros à minha frente e observei o jeito fascinado que
ela encarava o emaranhado de corpos que se agitavam na elaborada pista de
dança. E uma coisa eu tinha que admitir, até eu ficava fascinado com a
“Partition Pop Night 's”. Desde a sua inauguração, era a terceira vez que eu
vinha e não tinha como não ser consumido com a estrutura elegante e
minimalista do lugar. Jason acertou em cheio quando trouxe a mistura do
sofisticado ao popular em um único lugar. Meu amigo era um cara
visionário e além de ser um dos melhores jogadores de basquete do país,
estava se tornando um empresário de respeito do entretenimento.

O barman me chamou entregando as bebidas e antes de entregar a


de Claire, a observei por mais um tempo. Era nítido ver o quanto ela queria
fazer parte daquilo, curtir e sentir a sensação de estar no meio daquele calor
humano. O que para mim era curioso, porque eu já havia reparado que ela
não era muito fã de lugares apertados e tumultuados. No dia em que ela caiu
no elevador e eu ajudei, foi a primeira vez que notei seu desconforto. Passei
a notar que quando saíamos com nossos amigos, se estivéssemos em locais
muito cheios, apesar do sorriso no rosto e das conversas descontraídas, seu
olhar mudava como se ela estivesse controlando a respiração. Talvez o
desconforto fossem os elevadores, ou não…, mas eu descobriria assim que
terminasse as nossas bebidas.
— Sua bebida. — Ela se virou para mim e pegou a bebida,
tomando um longo gole.
Claire deu uma tossida e piscou os olhos para mim.
— Porra… gelada e forte!
Dei risada com a situação, e balancei a cabeça me sentindo mais
atraído e encantado pelo anjo ruivo à minha frente. Eu tinha certeza de que
se estivesse cem por cento sóbria, não teria dito a metade dos palavrões que
falou essa noite. Foram poucos, mas para Claire… eram muitos.
— Está boa?
— Demais… — Bebeu mais um pouco, um gole maior que o
primeiro.
— Devagar, meu anjo.
Com a taça ainda encostada em sua boca, disse:
— Está me controlando? — Seus olhos semicerraram, quase
fechando.
— Jamais, só não quero que passe mal — fui sincero.
— Hum… sei! — Com os olhos me analisando, bufou: — Não
quero mais um homem ditando regras na minha vida.
Mais um homem? Como assim?
Acabei com os poucos centímetros que ainda restavam entre nós, e
antes de falar, passei a língua no canto esquerdo da sua boca onde havia
ficado um pouco de açúcar da borda da taça e vendo sua postura vacilar um
pouco, disse:
— Cuidado é diferente de controle, Claire. E como eu não sou
santo… — Segurei em sua nuca com a minha mão esquerda e continuei: —
Se você fosse minha, eu provavelmente me sentiria possessivo de alguma
maneira, mas jamais te impediria de ser livre para fazer o que sentisse
vontade… para ser você mesma.
Claire balbuciou algo que eu não ouvi, pois tudo que eu queria era
sentir sua boca na minha e por isso não perdi tempo. Suguei seu lábio
inferior e o prendi entre meus dentes ouvindo seu gemido, e brinquei com a
minha língua de um lado para o outro. Claire ficou nas pontas dos pés se
apoiando em meu peito e para deixá-la segura, passei meu braço direito por
sua cintura mantendo-a firme contra meu corpo, enquanto eu intercalava
minha mão esquerda entre sua nuca e seu rosto, acariciando o maxilar.
— V-você não presta! — disse com os olhos ainda fechados e com
a boca grudada na minha.
— Eu não disse que prestava, meu anjo, mas nunca duvide da
minha sinceridade.
No mesmo instante, seus olhos verdes abriram com um tom intenso
de verde-escuro, com uma luxúria latente que desabrochava a cada
descoberta, e saber que eu causava isso, fazia meu pau latejar e meu
coração acelerar como nunca. Ela me chamava de pecado, mas talvez ela
fosse o meu. Eu ainda não havia descoberto e tinha medo de descobrir,
porque eu poderia me tornar a porra de um viciado e se isso acontecesse, eu
teria prazer em me viciar e pecar.
— Antes de irmos embora, quer ir à pista de dança?
— Não. — Sua resposta foi rápida como eu imaginava.
— Não? — Cruzei os braços e arqueando uma sobrancelha,
continuei: — Não foi o que me pareceu desde a hora que chegamos.
— E o que te pareceu? — Claire imitou meu gesto cruzando os
braços também e empinando o nariz, apesar da voz um pouco mais lenta.
— Que você queria estar lá… — Meneei a cabeça em direção à
pista. — Sentindo a sensação de dançar da mesma forma que você fez lá em
cima, mas no centro daquelas pessoas.
Claire abriu e fechou a boca chocada sem saber o que responder. –
Caralho… até sem palavras ela era linda. – Encarou a pista e depois voltou
a me olhar.
— Confesso que eu senti vontade quando eu cheguei, mas agora eu
já sei como é…
— Não, não sabe.
— Quem disse?
— Eu estou dizendo, anjo — falei sem lhe dar tempo de rebater. —
Ver não é a mesma coisa que viver e sentir.
— Zac, você não entende… — Vi a sombra de uma aflição em seu
olhar e não gostei.
— Se você não me explicar, eu não vou entender. — Descruzei os
braços e segurei em seu rosto, acariciando com meus polegares as
bochechas, descendo para o maxilar até parar em seu pescoço.
— Não gosto de lugares com muitas pessoas… — Riu sem humor.
— Sei que é algo contraditório de se dizer estando dentro de uma boate,
mas é diferente de estar aqui, só olhando… — Apontou para a pista lotada.
— Do que estar lá no meio, entende? E-eu não sei muito bem explicar, eu
só me sinto sufocada e… não gosto. — A voz saiu tão baixa, que eu senti
um aperto incômodo no meu peito.
O que você não está me contando, meu anjo?
Respirei fundo e sorri para aliviar o clima.
— Tudo bem… me desculpe! Não tive a intenção de pressioná-la,
só queria que matasse a vontade de estar lá.
— Talvez em outro momento.
— Sim… é só você pedir!
— Obrigada!
— Vamos?
— Sim… meus pés estão gritando de dor.
Concordei com a cabeça, e a coloquei na minha frente, nos
conduzindo até a saída. Antes de sairmos, esbarramos com Jason na saída,
que agradeceu a visita e pediu para que não demorássemos a voltar, e pela
forma como eu o encarei, ele entendeu meu agradecimento pela noite e,
principalmente, por sua discrição. Não queria que Claire se sentisse
constrangida por saber que eu havia pedido a ele privacidade na área vip.
Como eu não estava de carro, e nós tínhamos ido de carona com
James e Sara, assoviei para um táxi próximo à entrada da boate e passei o
endereço de Claire. Durante o caminho, comecei a me sentir desconfortável,
pois a barreira que eu achei que ela havia derrubado parecia estar sendo
levantada novamente com o seu silêncio. Assim que viramos a esquina da
sua rua, segurei em sua mão e apertei para chamar sua atenção. Seus olhos
verdes encontraram os meus e ali eu soube que o melhor a fazer seria ir para
minha casa, só não esperava a pergunta repentina que nem eu sabia ao certo
a resposta.
— O que mudou, Zac?
— Como assim? — questionei, confuso.
— Em que momento passei de anjo para meu anjo?
Meu coração acelerou com a pergunta, porque até eu havia me
surpreendido quando a chamei de meu anjo. Eu me sentia mal pelo nosso
afastamento dos últimos dias, mesmo sabendo que o único culpado havia
sido eu. Ser desprezado por Claire me causou um mal-estar, que eu nunca
havia sentido com nenhuma outra mulher. Claire irradiava luz e era
impossível não se encantar por ela. E, por algum motivo, quando eu a vi
dançando sem preocupação alguma, como se estivesse em seu mundo
particular, eu não só senti vontade de tê-la em meus braços, como senti
vontade de protegê-la. Desejei que de alguma forma, ela fosse minha.
Perdi-me por tempo demais em meus pensamentos, que só notei o
movimento rápido do seu cabelo batendo em meu ombro, quando ela virou
de forma brusca para a porta do táxi e abriu.
— Boa noite, Zac!
— Claire, espera… — Ergui minha mão, tentando segurar seu
pulso.
Mas ela já tinha saído do carro, e quando bateu a porta, só tive
tempo de puxar minha mão para não ficar presa.
— Puta que pariu! — Passei as mãos pelo meu rosto, frustrado, e
só depois que ela sumiu pela porta do seu edifício adentro, e eu tive a
certeza que ela estava segura, passei meu endereço para o taxista.
— Desculpe me meter, meu filho… — O senhor de meia-idade me
olhou pelo retrovisor, com um sorriso complacente. — Existem situações
que o silêncio pode ser interpretado como resposta e levar a vários tipos de
interpretações erradas, e entenda… em muitos casos, mulheres são
imediatistas. Ou você responde, ou você responde.
— Acabei de perceber e de piorar a minha situação.
— Vai se resolver!
Eu esperava que sim, porque se eu não enlouquecer agora… não
enlouqueço nunca mais!
Capítulo 28
Dias nublados podem aquecer um coração?

Encostei-me à porta do meu apartamento assim que entrei e a


tranquei, batendo minha cabeça contra ela com um pouco mais de força do
que eu gostaria.
— AI! — resmunguei e levei minha mão direita até o local,
alisando rapidamente.
Deixei os braços caírem nas laterais do meu corpo e mantive os
olhos fechados, me sentindo um pouco zonza pela quantidade de álcool que
eu havia ingerido, e ali eu permaneci por um tempo.
— Meu anjo… desde quando? — reclamei e bufei para o nada.
Senti meus pés reclamarem pela milésima vez dos saltos
altíssimos, e me inclinei para frente tentando tirá-los e dando pulinhos para
me equilibrar e não ir de encontro ao chão. Eu estava exausta, irritada,
frustrada e tudo que eu queria era um belo de um banho quente e demorado
e um dos meus lugares preferidos… minha cama. Entrei no meu quarto,
pegando meu celular com um pouco mais de dificuldade do que de
costume, joguei no centro da cama e larguei a bolsinha em qualquer lugar
do quarto mal iluminado. Tirei meu vestido às pressas, liguei o chuveiro e
me enfiei debaixo da água forte e quente como eu queria, mas o
“demorado” eu deixaria para mais tarde. O cansaço junto à bebida estava
cobrando seu preço, e quase caí quando meus olhos fecharam e meus
joelhos falharam. Era hora de sair, caso não quisesse parar em um hospital
de madrugada.
Depois do banho, fiz tudo no automático. Peguei um pijama
qualquer, tirei o resíduo da maquiagem com demaquilante como as meninas
me ensinaram, escovei meus dentes e me enfiei debaixo do edredom fofo e
quentinho. Fechei os olhos achando que iria embarcar no meu mundinho
dos sonhos, de repente os abri querendo gritar. Levei minhas mãos ao rosto
e gemi frustrada. Balancei minhas pernas e meus braços como uma criança
birrenta, quando aquele… aquele devasso de sorriso fácil e sedutor, que
exalava pecado invadiu meus pensamentos.
Lembrar-me de toda a loucura que fizemos naquela boate, me
jogou em uma maré de contradições. Senti raiva por ter me permitido
envolver, quando o certo era ter me mantido firme e distante. E excitada,
muito excitada por querer viver toda aquela vulgaridade com uma pitada de
adrenalina, de novo e de novo. Meu corpo todo me traiu, e o edredom
fofinho e quentinho, se tornou pesado e abafado. As cenas que passavam
como um filme em minha cabeça do que havíamos feito no sofá e depois
contra a parede, fez meu coração acelerar e o ponto sensível entre as minhas
pernas despertar com aquela dorzinha gostosa. Uma dorzinha que se
espalhava como um desejo avassalador por todo o meu corpo, e que mesmo
que eu odiasse… eu só queria e desejava que o pecado em forma de gente
que me deixava no limiar do certo e errado, aplacasse o fogo que ardia em
mim.
Peguei um travesseiro e tapei meu rosto abafando um grito e como
não adiantou, dei um pulo na cama e me coloquei de joelhos no centro dela,
cruzando minhas mãos e encostando minha testa contra elas, pedindo:
— Pai… aqui é a sua filha! E-eu fiz algo de muito errado em
algum momento da minha vida? Se a resposta for sim… eu já posso ser
perdoada e o Senhor levar para longe de mim toda e qualquer tentação? Se
na Bíblia diz que mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita e tu não
serás atingido… Por que sinto que estou sendo atingida? — De repente
uma trovoada sacudiu a janela de tão alta, me fazendo gritar. — AHHH…
MEU PAI! — Corri fechando a porta do meu quarto e voltei a me enfiar
embaixo do edredom, deixando só meus olhos e nariz de fora, observando
os primeiros pingos d’água atingirem a janela. — Amém? — Outra trovoada
e com isso me calei e não falei mais nada.

A semana mal havia começado e trouxe um turbilhão de


sentimentos e confusões. O clima pesou quando o tal Orlando Miller
compareceu na empresa para uma reunião com James, Phillip e Peter, o
diretor jurídico, e senti um arrepio de forma negativa quando o homem
entrou com a prepotência maior do que seu tamanho e me encarou como se
pudesse me despir com seu olhar nojento. Balancei a cabeça séria quando o
deixei acompanhado do seu advogado na sala de reunião, e quando James e
Phillip passaram por mim sorrindo e relaxados em direção ao corredor que
eu havia acabado de sair, eu sabia que logo, logo a prepotência do aprendiz
de pinguim, cairia por terra.
Como esperado, menos de uma hora depois, quando James e
Phillip saíram do corredor com uma satisfação estampada em seus rostos,
tive a confirmação que aquele homem não sairia daquela sala da mesma
forma que entrou. Minutos depois, tomei um susto quando o pinguim
passou aos berros com seu advogado, gesticulando e afrouxando a gravata,
com o rosto vermelho pela raiva e ainda desorientada com a cena, não
percebi que Peter estava parado à minha frente e observando o mesmo que
eu. Assim que eles entraram no elevador, e os berros e palavrões foram
abafados, Peter estalou a língua balançando a cabeça e sorrindo.
— Mais um tentando burlar a lei e achando que vai ficar impune…
Olhei para ele que, apesar do rosto sério, era nítido ver a sua
diversão por saber o quanto era excelente no que fazia, sem ter que se
esforçar muito. Peter era o tipo de homem com um charme peculiar. Era
alto, com um porte atlético e chamava a atenção com a postura impecável
de advogado, porém encantava com suas poucas sardas, os óculos de grau
quadrados e estilosos, e o cabelo castanho-claro repartido de lado e
impecavelmente penteado para trás. Totalmente diferente do pervertido do
RH.
Joguei meu pensamento para longe, quando ele estalou a língua
mais alto, chamando a minha atenção. Pisquei os olhos e sorri em resposta
ao seu sorriso de ladinho sem mostrar os dentes.
— Com o senhor de frente? — Foi a minha vez de estalar a língua.
— Eu duvido.
Peter riu como sempre fazia, porque dizia que era estranho me ver
o chamando de “senhor” quando ele tinha só trinta e três anos.
— Eu não me importaria de ficar o dia inteiro aqui, mas … — Seus
olhos encaram os meus e seu sorriso aumentou, me fazendo corar. — O
dever me chama. — Bateu de leve no balcão acima da minha mesa. — Se
importa de informar a James e Phillip que em breve eles receberão não
somente uma cópia do contrato assinado, mas tudo que é preciso por e-
mail?
— Claro que não, Sr. Sandler!
— Senhorita Evergarden, você me encanta! — Riu. — Um ótimo
dia!
— Muito obrigada!
Assim que Peter entrou no elevador, fiz o que ele havia me pedido
e foquei no trabalho e não vi o dia passando. Só me dei conta que já era
hora de ir, quando um furacão chamado Sara parou em frente à minha mesa.
— Coisa linda da minha vida, você já viu a hora?
Levantei a cabeça e dei de cara com três pares de olhos me
encarando. Pensei em abrir a boca para responder, mas os três balançaram a
cabeça. Fiz cara feia, terminei mais um e-mail e desliguei o computador
reclamando.
— Satisfeitos?
— Claire, você não era assim… — Phillip começou quando
paramos em frente ao elevador.
— Assim como? — Endireitei meus óculos de grau e o encarei
cruzando os braços.
— Revoltada…
— Sara e Bela não são boas influências e… — James completou e
logo foi repreendido. — Ai! Tá doida, minha princesa? — disse chocado e
alisando o braço.
— Vou te mostrar a doida… — Ri com o falso fingimento da
minha amiga, e quando Phillip foi fazer o mesmo, rapidamente endireitou a
postura e resmungou baixinho algo que não conseguimos entender.
— Gostaria de dizer o quanto vocês são irritantes, mas… vocês são
meus chefes e ainda estamos dentro da empresa — falei, ajeitando a minha
bolsa e segurando o sorriso por me sentir tão à vontade perto de cada um
deles.
Uma amizade improvável que a cada dia que passava, se tornava
família. Suspirei pensando que sem perceber, eu havia os deixado se
aproximar… eu que sempre me mantive distante das pessoas.
— Por enquanto — James disse com a sua postura de CEO.
No mesmo instante, perdi o raciocínio da minha reflexão, e olhei
de um para outro.
— Não entendi… como assim, por enquanto?
— Por enquanto — Phillip repetiu como um copia e cola de James,
e sorriu com alguma piada interna.
— Sara?
— Amiga… juro que nem eu entendi.
Estreitei os olhos, pronta para continuar o questionamento, quando
as portas do elevador abriram no andar do RH e como se tivesse sido
invocado, ele passou pelas portas falando ao celular. A postura sempre
impecável, com uma aura sedutora e o sorriso descontraído carregado de
um charme natural que te envolvia sem que você percebesse. – Quem o
visse e não o conhecesse, se enganaria fácil… – Abriu ainda mais o sorriso
quando deu de cara com os amigos, e quando seus olhos pousaram em mim,
demoraram um pouquinho mais que o necessário causando o bendito
arrepio que atiçava meu corpo traiçoeiro. Tentei controlar a minha
respiração e me manter distante, e agir como se ele não me afetasse.
— Combinado, Ryan! — Esperou mais um momento ouvindo a
resposta. — Sexta, às 16h. — Finalizou a ligação guardando o celular no
bolso.
— Não me diga que você conseguiu?! — Phillip questionou,
incrédulo.
— O que eu não consigo, irmão? — Zac respondeu rindo. Era
nítido ver que estava brincando, mas tinha um tom de satisfação em sua
voz. — Confesso que não foi fácil, Ryan não é fã de se envolver na parte
burocrática.
— Não mesmo… — James passou um braço pelos ombros de Sara
e a puxou contra seu corpo. — Ryan é excelente no que faz e é muito
exigente com a equipe dele, equipe essa que já está moldada à sua maneira.
Acredito que isso tenha sido um dos pontos fortes para ele relutar tanto em
fazer novas contratações.
— Exatamente! Mas depois de algumas conversas, fiz com que ele
entendesse que era preciso… a parte burocrática seria minha e a técnica
dele.
— Esses dias, enquanto resolvíamos umas questões da empresa,
pedi que repensasse sobre expandir a equipe e fico tranquilo em saber que o
processo está em andamento. Afinal, primo, só você sozinho equivale a
uma empresa. — Phillip cutucou James como sempre fazia, fazendo-o
estalar a língua e revirar os olhos.
Sara riu alto e levou as mãos à boca tentando, em vão, disfarçar o
que não era possível e eu me contive para não rir também. Diferente dos
meninos que não escondiam a diversão.
— Acha isso engraçado, minha princesa?
— Hã… quem acha o que engraçado? Eu não fiz nada.
James estreitou o olhar cheio de amor pela esposa, balançou a
cabeça e riu.
— Eu realmente não sou respeitado.
— Como não? — Minha amiga virou para o marido fazendo um
biquinho. — Você é meu senhor perdição, esqueceu? Primeiro eu te
provoco e depois eu te respeito. — Beijou seu queixo fazendo charme.
— Você me tem na palma da mão, sabia? — Seus olhos brilhavam
enquanto olhava para ela.
— Eu sei! — disse, roçando os lábios nos dele.
— E mais uma vez perdemos o foco da conversa.
Phillip começou e Zac completou:
— Sempre assim! Que tristeza!
— Chatos… — Sara empinou o nariz e acusou: — Como se você
não fosse assim com a bandida da Bela, né, Phillip?
— Se minha linda estiver no meio, não tenho como me defender.
— Levantou as duas mãos em sinal de rendição. — Sou um louco
apaixonado.
Sorri encantada com as declarações, porque eram sinceras e
verdadeiras e ninguém que os conhecia duvidava. Os dois fariam de tudo e
revirariam o mundo se preciso fosse pelas mulheres que amavam.
— E você, Zac? — Sara sorriu. O tipo de sorriso que ela sempre
dava antes de falar ou fazer, o que não devia.
— O que tem eu? — Zac cruzou os braços e meneou a cabeça de
lado, desafiando-a a continuar.
— Se você tomasse jeito, não seria “uma tristeza”… — Minha
amiga fez um sinal de aspas no ar com dedo antes de continuar: — Ver seus
amigos apaixonados e, provavelmente, já teria encontrado o seu tão
sonhado anjo — Sara provocou e algo me dizia que ela já sabia a resposta e
estava fazendo de propósito, e Zac como sempre fazia, deu aquele
sorrisinho devasso cheio de malícia implícita que causava um frisson no
meu interior e levava uma quantidade exagerada de lubrificação para o
meio das minhas pernas, molhando minha calcinha.
— E se eu te disser que talvez já tenha encontrado… — Encarou-
me por tempo demais, me prendendo em seu olhar com lembranças do que
fizemos e com promessas do que ainda poderíamos fazer. — Você
acreditaria?
Suas palavras me atingiram com tudo, e senti que o pequeno
espaço metálico que chamávamos de elevador havia se tornado ainda
menor. Segurei a vontade de levar minha mão até meu peito e a alisar, para
aplacar o rebuliço que se agitava ao redor do meu coração.
— Que sorte a sua, hein, abençoado?
Minha amiga olhou para mim com um sorrisinho cúmplice e eu
revirei os olhos, dando graças a meu bom Deus por ser só ela, porque se
Bela estivesse junto, eu estaria perdida. As duas juntas eram terríveis.
— Eu diria que sorte é pouco, princesa… — Zac levou o celular ao
queixo e deu uma batidinha de leve. — Acho que Deus ouviu minhas
preces e enviou o anjo que eu tanto pedi.
Eu sabia que eles iriam para o estacionamento, e assim que as
portas se abriram no hall da recepção do edifício, aproveitei e saí, mas não
sem antes dizer:
— Lúcifer também era um anjo.
Vi quando ele abriu a boca surpreso, e em seguida semicerrou os
olhos parecendo… fascinado? Foi o que me pareceu e eu achei uma
loucura, e não fiquei para descobrir ou entender. E antes das portas
fecharem, ouvi as risadas e sua voz tentando se defender das implicâncias
dos amigos.
Cumprimentei os seguranças e recepcionistas quando passei pela
catraca de entrada, e peguei meu celular mandando uma mensagem para
Sara, inventando uma desculpa dizendo que eu precisava resolver algumas
coisas, por isso não pegaria carona com ela e James. Eu não podia me
manter por muito mais tempo no mesmo ambiente que Zac. De jeito
nenhum!
— Aquele idiota devasso gostoso do caralho… — Levei as mãos à
boca com meu vocabulário, e quando senti o ventinho do início da noite
bater em meu rosto, respirei fundo batendo meus saltos contra o chão. —
Respira Claire… respira!
Como piorar o que já estava uma loucura?
Eu poderia não acreditar, mas logo eu me arrependeria daquela
pergunta, e entenderia que algumas brincadeiras com fogo… podiam se
tornar tentadoras e prazerosas.

Pouco tempo depois que cheguei em casa, meu celular tocou com
uma mensagem de S.O.S de Sara dizendo que Bela e Phillip estavam com
problemas e se elas poderiam passar a noite no meu apartamento. Não
pensei duas vezes, e disse que estava esperando por elas. Corri pelo meu
cantinho que eu tanto adorava e fui ajeitando o que estava fora do lugar,
pois queria que minhas amigas se sentissem confortáveis e fiquei aliviada
por saber que tinha feito um bom investimento na cama. Nós três
caberíamos perfeitamente nela, sem ficarmos espremidas. Assim que
terminei de ajeitar a cama, iniciei o preparo de um chocolate quente, porque
as noites em Nova York andavam frias e chuvosas nos últimos dias. Assim
que Sara me mandou mensagem, avisando que estavam chegando, corri
para o quarto. Só tive tempo de colocar uma calça jeans e quando puxei
uma camisa e coloquei às pressas, vi que não era minha e sim de Zac.
Suspirei com o cheiro que invadiu minhas narinas e ri de nervoso.
A camisa era duas vezes maior que o meu tamanho, e tinha ficado
comigo para que eu pudesse lavar depois que eu insisti quando de forma
desastrada deixei cair molho shoyo na noite seguinte em que jantamos
juntos, depois que ele havia me deixado bêbada em casa – a mesma noite
em que transamos pela primeira vez. Só não lembrava de tê-la guardado e
nem imaginaria que mesmo depois de lavada, seu perfume gostoso e
amadeirado grudaria no tecido.
— Droga! Eu realmente não tenho paz… — Calcei meus chinelos
e abri a porta, descendo as escadas de dois em dois degraus às pressas e me
sentindo sendo consumida por ele, mesmo que o próprio não estivesse por
perto. — Corpo traiçoeiro! — choraminguei.
Assim que abri a porta do edifício, fui até as minhas amigas que
me olharam e eu tive a certeza de que a camisa não havia passado
despercebida por elas. Me fiz de doida, cumprimentei Cláudio que era o
segurança pessoal de James e Sara, e chefe de segurança da família Wilson,
e depois foquei em Bela junto com Sara puxando as duas juntas para um
abraço.
— Fiz chocolate quente pra gente, enquanto decidimos juntas o
que pedir para comer. O que acham? — falei com carinho e tentando
controlar minha preocupação.
— Você é perfeita! — Sara disse, animada e com brilho nos olhos
parecendo uma criança.
— Muito obrigada! Eu nem sei o que dizer… — Bela disse com a
voz baixa e com um sorriso fraco.
— Imagina! — Abracei Bela mais uma vez, e respirei fundo para
não chorar. — Vamos?
Cláudio nos acompanhou até a entrada e disse que passaria para
nos buscar para levar ao trabalho no dia seguinte, e agradecemos. Cláudio,
apesar da seriedade, era muito gentil, cuidadoso e preocupado. Sempre nos
tratando da mesma forma que tratava Sara. Era impossível não gostar dele
que, apesar de passar uma imagem de poucos amigos, tinha um coração do
tamanho do mundo.
Assim que entramos no apartamento, tomamos o chocolate quente
que, por sinal, estava perfeito de tão delicioso, e deixamos que nossa amiga
desabafasse sobre o que havia acontecido e foi impossível não chorar junto
com ela. Depois que ela se sentiu mais calma, foi tomar um banho,
enquanto eu e Sara ficamos responsáveis por escolher algo para comermos.
Escolhemos muitas besteiras deliciosas, como pizzas, refrigerantes,
chocolates e sorvetes. Briguei com Sara para que sentasse no sofá e me
deixasse arrumar tudo na mesinha de centro da sala rapidinho.
— Gravidez não é invalidez, sabia, ruiva do meu coração?
Balancei a cabeça revirando os olhos para a reclamação magoada
que ela fazia.
— E, eu disse que era, dramática da minha vida? — Vi quando ela
cruzou os braços e segurou um sorriso. — Não posso querer cuidar da
minha amiga e do nosso anjinho?
— Aff… já disse que te amo hoje?
— Ainda não, mas eu sei… — Ri quando ela tentou dar um
tapinha na minha bunda.
— Cara de pau! — Riu alisando a barriguinha linda. — O que acha
de assistirmos a um filme?
— Eu acho ótimo… um filme vai cair superbem se Bela concordar.
Assim que terminei, Bela se juntou ao nosso trio que se fortalecia e
se tornava cada vez mais inseparável com o tempo.
— Muito obrigada pelo carinho! Vocês não existem! — disse
segurando em nossas mãos.
— Não precisa agradecer, bandida! — Sara beijou sua mão e
colocou em cima da sua barriga. — Pensamos em assistir a um filme. O que
acha?
— Acho ótimo! — Sorriu e eu fiquei aliviada.
— Que tipo de filme? — Peguei o controle e comecei a passar
pelas categorias e li em voz alta: — Comédia, ação, suspense, fantasia,
romance…
— ROMANCE, NÃO! — gritamos as três juntas, olhamos uma
para a outra e começamos a rir.
Escolhemos um filme de comédia e nos acabamos de rir, e apesar
de saber que minha amiga estava com o coração dolorido e em um mar de
sentimentos conflitantes, eu assim como Sara sabíamos que tudo ficaria
bem. Phillip não teve culpa sobre as atitudes da sua ex e Bela sabia o
quanto ele era extremamente louco e apaixonado por ela, e que jamais a
magoaria. Phillip com certeza sofreria mil vezes a mesma dor para não a
ver sofrer. E por mais que ambos estivessem sofrendo, o amor deles era
mais forte do que qualquer dificuldade ou imprevisto pelo meio do
caminho.

No decorrer do fim de semana, eu fui me sentindo estranha e, na


sexta, acordei tão mal que não consegui ir trabalhar. Com certeza foi a
chuva que eu peguei na quarta, quando saí da empresa e tive dificuldade em
pegar um táxi. Cheguei em casa com frio e me sentindo um pinto molhado.
Corri para tomar um banho quente, mas estava tão cansada que dormi com
o cabelo ainda úmido. Na quinta, ainda consegui ir trabalhar sentindo o
corpo pesado e uma exaustão absurda, e antes de ir embora James disse que
não queria me ver no dia seguinte. Tentei argumentar e não tive sucesso. E
agora sentada no vaso e fazendo um pipi’s – como dizia Sara –, percebi que
foi a melhor coisa ter ficado quieta no meu cantinho. Minha cabeça estava
explodindo e meu nariz vermelho começava a ficar assado de tanto que eu
assoava e passava o papel.
Tentei fazer uma sopa, mas não tive forças e olhando para o dia
nublado e para a chuva que não parava de cair, respirei fundo e desisti, me
enfiando debaixo do edredom quentinho, sentindo o efeito do remédio para
dor de cabeça. Um alívio lento que me permitiu fechar os olhos e aos
poucos cair no sono.
Em algum momento, eu ouvi o barulho da campainha e achei que
estivesse sonhando ou que fosse coisa da minha imaginação, mas como o
barulho não parava, se tornando insistente, levantei vendo pela janela que o
dia não estava mais claro e sim escuro, e sem me preocupar se estava
apresentável ou não, caminhei em direção à porta, na mesma lentidão que
uma tartaruga.
— Já vai… — gritei, sentindo a pontada forte em minha cabeça e
automaticamente levei a mão até o lado da pontada. — Caramba!
Destranquei a porta e quando eu ia reclamar, perdi a fala.
— Oi, meu anjo.
— O que… como você subiu? — Zac estava tão lindo. O terno sob
medida se moldava perfeitamente ao corpo definido, a gravata frouxa
deixando os dois primeiros botões abertos e o cabelo estava bagunçado com
alguns pinguinhos de chuva. Uma imagem digna daqueles sites de fotos
para divulgações. Se eu fosse fazer uma busca, pesquisaria por: homem
lindo, sexy e de terno. Balancei a cabeça com meus pensamentos doidos e
foquei em suas mãos que seguravam algumas sacolas.
Ele me analisou com uma preocupação evidente nos olhos da
cabeça aos pés, e respondeu:
— Acho que a senhorinha do primeiro andar gosta de mim e não se
esqueceu da última vez que segurei a porta para ela e a ajudei com suas
compras.
— Se for quem estou pensando, você deve ter feito algum feitiço…
— falei, me perdendo na sua beleza. — Ela não deixa ninguém entrar.
— Talvez ela tenha se encantado com o meu cavalheirismo. —
Deu o sorrisinho que com certeza foi o responsável por fazer a senhorinha
rabugenta cair no seu charme devasso.
— Ela é doida, isso sim. — Levei minha mão direita à cabeça
sentindo a pontada novamente. — Ai!
Sem esperar mais, Zac entrou e fechou a porta com um pé e
caminhou em direção à cozinha.
— Por que está aqui, Zac?
Depois de deixar tudo em cima do balcão, ele tirou o paletó com
tranquilidade, assim como a gravata, jogando ambos em cima do sofá.
Dobrou as mangas da camisa até os cotovelos e quando se sentiu satisfeito,
parou na minha frente segurando meu rosto com tanta delicadeza entre as
mãos que senti vontade de fechar os olhos.
— Não é óbvio?
— O quê? — Meu coração acelerou em expectativa pela resposta.
Antes de responder, ele resvalou os lábios nos meus e sem desviar
os olhos castanhos que brilhavam refletindo um carinho além do normal,
disse com a boca na minha:
— Eu cuido de quem é importante pra mim. — Foi a vez do seu
nariz roçar no meu. — E você, meu anjo… se tornou o centro da minha
atenção e vai me deixar cuidar de você, sem questionar e sem brigar. Tudo
bem?
Talvez eu estivesse sendo enfeitiçada e não a senhorinha rabugenta
do primeiro andar, porque balancei minha cabeça concordando. Zac sorriu
satisfeito com a resposta e depositou um selinho rápido em meus lábios,
beijou minha testa e me deu as costas para iniciar o que tinha em mente
como se a minha cozinha fosse dele.
Capítulo 29
Serei o que ela precisar!

A semana passou turbulenta, sacudindo toda a realidade ao redor.


Primeiro foi a porra do problema com Orlando Miller, que gerou um efeito
dominó no relacionamento dos meus amigos. Bela e Phillip tiveram uma
crise porque Alice resolveu dar o ar da graça, demonstrando que ela nunca
foi flor que se cheirasse. – O tipo de flor bonita por fora, e venenosa por
dentro. – Sua atitude não teve sucesso como ela esperava, mas não impediu
com que Phillip ficasse mal, quando Bela pediu um tempo. Algo que fez
com que James e eu virássemos a noite bebendo e consolando o nosso
amigo, o que gerou uma ressaca do caralho no dia seguinte. Porém, a
felicidade dos meus amigos era a minha e o que me deixava tranquilo, era
saber que tudo ficaria bem. No seu devido tempo, mas ficaria.
Segundo foi ser evitado com louvor pelo anjo de cabelos ruivos e
olhos verdes como esmeraldas que vinham tirando meu sono. Por mais que
eu me sentisse impaciente para me aproximar e chamá-la para conversar, eu
estava respeitando seu tempo e espaço. Até o dia de hoje.
Às 16h, como combinado, Ryan passou pela porta da minha sala e
se sentou na cadeira à minha frente, abrindo um botão do paletó e com uma
seriedade que já era uma de suas características.
— Pronto para as entrevistas? — perguntei, colocando cinco perfis
selecionados em cima da mesa à sua frente, sabendo que de cinco, ele
precisaria escolher pelo menos três para ter uma folga. Porém, o ideal
seriam os cinco para fechar sua equipe da matriz.
— Já que não tem outra opção, sim… — Passou a mão pelo lado
direito do paletó irritado, e notei que estava molhado.
— Dia difícil? — questionei, curioso.
— Uma louca derramou água em mim, e mesmo errada, ainda se
achou na razão. — Bufou, e se aproximou da mesa.
Fiquei com vontade de rir, porque nunca o tinha visto tão irritado.
Mas, mantive minha postura profissional. Enquanto ele analisava um perfil
por vez, eu ia explicando como tinha sido a entrevista e o que me levou a
selecionar os cinco de quinze candidatos. Quando chegamos ao último
perfil, vi quando Ryan ergueu as sobrancelhas. Parecia surpreso.
— Emma Davis? — perguntou-me sem desviar os olhos do
currículo em sua mão.
— Conhece? — Encostei-me na cadeira e esperei pela resposta.
— Não, mas gostaria de saber por que dos cinco perfis, ela foi a
única mulher selecionada. — Ryan encostou-se à cadeira assim como eu, e
continuou com o currículo em mãos. O que me deixou com uma
curiosidade ainda maior.
— Da última vez que conversamos… — comecei. — Você havia
dito que preferia manter a equipe somente com homens, porém eu não
podia deixar passar alguém com um currículo tão impecável como o de
Emma, apesar da pouca experiência.
Ryan olhou para o papel em suas mãos mais uma vez, e percebi
que ele ponderava se dava ou não uma oportunidade.
— Você sabe que pouco me importa que seja mulher ou homem,
contanto que tenham foco, comprometimento e excelência no que fazem.
As equipes que temos nas filiais, não entregam menos do que um resultado
excelente.
— Sim, eu sei — respondi no mesmo tom de voz. Seco e objetivo.
— Por isso, eu sou o diretor de RH e você o de TI. E, excelência por
excelência… temos os melhores na sua frente.
Ryan meneou a cabeça de lado, sorrindo, satisfeito com a minha
resposta. Colocou o currículo de volta na mesa, e levou as duas mãos ao
queixo.
— Certo! Quando faremos as entrevistas? — Arqueei uma
sobrancelha, surpreso. Para quem vinha fugindo das entrevistas, teve uma
mudança repentina. — Se Emma for tão boa quanto seu currículo, será a
primeira mulher na equipe.
— Talvez ela te surpreenda…
— Talvez.
— Dos cinco selecionados, o departamento de pessoal conseguiu
agendar dois para agora. E os demais para segunda, tudo bem?
— Ótimo!
— Então, vamos.
Levantei-me sendo acompanhado por Ryan, que pegou os papéis e
observei quando ele olhou mais uma vez para o currículo de Emma Davis.
Hum… interessante! O cara era difícil de decifrar, mas senti que tinha algo
no ar.
Após as entrevistas, que, por sinal, Ryan aprovou, entrei no
elevador e fui em direção ao andar da presidência. Informaria aos meus
amigos como andava o processo de um dos setores mais importantes da
empresa, e aproveitaria para ver Claire mesmo que à distância. Assim que
as portas se abriram, coloquei as mãos dentro dos bolsos da minha calça,
tentando disfarçar a vontade louca que eu sentia em apenas olhá-la. Porém,
assim que olhei na direção em que era seu cantinho de trabalho, não a vi.
Sem conseguir me conter, me aproximei e estranhei como o local estava
todo organizado. Não que ela não fosse organizada, mas parecia que não
tinha sido usado.
Peguei meu celular vendo a hora, e ainda eram cinco e meia da
tarde, e Claire ficava até as seis. Girei meu celular entre os dedos e
caminhei em direção a quem poderia me responder. James, já que Phillip
tirou o resto da semana para trabalhar de casa. Bati na porta, e quando ouvi
sua voz, entrei e me joguei na cadeira em frente à sua mesa, aguardando-o
finalizar a ligação.
— Aguardo os novos contratos na segunda. — Meu amigo me
pediu um minuto, enquanto ouvia a outra pessoa. — Sim, trinta por cento
de desconto no primeiro mês e dependendo do retorno publicitário,
conversamos sobre a possibilidade de estender. — Mais uma pausa. — Ok,
fico no aguardo.
James finalizou a ligação, jogando o celular na mesa e passando as
mãos pelos cabelos.
— Porra… nunca desejei tanto uma sexta como hoje.
— Somos dois! Semana turbulenta do caralho.
Levantei-me e fui até o bar, preparando duas doses duplas de
uísques para nós dois.
— Sei que você me ama, mas não sabia que amava a ponto de vir
me visitar quase todos os dias. — Revirei os olhos sentindo a provocação
que se tornou seu passatempo e de Phillip. Dois cuzões que sentiam prazer
em me irritar!
— Primeiro… não fode! — Ele começou a rir, antes de sorver o
primeiro gole do líquido âmbar. — Segundo, eu vim aqui para dizer que
estamos em reta final de fechar a equipe de Ryan.
— Puta que pariu vinte vezes, como diz minha esposa! — Ri
vendo meu amigo arregalar os olhos e jogar as mãos para alto, como Sara
fazia. — Até que enfim! Pelo menos uma notícia boa esta semana.
— Consegui selecionar os melhores para que ele pudesse
entrevistar, e os dois primeiros já foram aprovados. Segunda, ele fará as
últimas entrevistas e espero que fique satisfeito. — Quase gemi de
satisfação com o líquido descendo com uma leve queimação pela minha
garganta.
— Ryan é muito exigente, e ficou ainda mais depois de tudo que
passamos… — Por um instante, o olhar de James perdeu o brilho, e suspirei
me sentindo mal com as lembranças de tudo que aconteceu no ano passado.
— Sim… o cara se tornou ainda mais inflexível do que de costume
com a equipe.
— Vamos torcer! — James disse e balancei a cabeça concordando.
— E o terceiro?
— Que terceiro?
— Você quer saber sobre a Claire… — Arqueei uma sobrancelha.
— E se bem te conheço, está curioso para saber por que não a viu assim que
passou pela recepção.
E lá estava a postura avaliativa de CEO com um sorriso prepotente
no rosto, como se soubesse da porra toda.
— Eu poderia te mandar ir para a casa do caralho…
— Mas não vai mandar, porque quer informações.
— Os anos passam e as coisas não mudam. — Ri, balançando a
cabeça, sem acreditar. Era como se fôssemos os moleques iniciantes na
faculdade de novo.
— Se forem divertidas, pra que mudar?
— Deixa de ser cuzão, pare de testar minha paciência e me fala
logo. Ela saiu mais cedo? Aconteceu alguma coisa? Ela não entrou de
férias, entrou? Eu não recebi nenhum comunicado.
James riu com a chuva de perguntas.
— Pra quem disse que não estava se envolvendo… — Colocou o
copo na mesa e levantou meneando a cabeça para que eu o acompanhasse.
— Claire está doente.
Travei no lugar, e não consegui controlar a minha preocupação.
— Como assim, doente?
— Calma, irmão! — James passou um braço pelos meus ombros e
me fez voltar a andar. — É uma gripe! Ontem percebi que ela não estava
bem, e com isso pedi que não viesse trabalhar. Ela ainda tentou argumentar,
mas não dei brecha.
— Mas quem garante que é só uma gripe, porra? — perguntei um
pouco aborrecido.
— Porque minha princesa tem falado com ela, assim como eu —
respondeu, fazendo uma careta. — Claire se tornou uma amiga e eu
também me preocupo. Se fosse algo mais sério, você acha que eu já não
teria ido até o apartamento dela com Sara?
Entramos no elevador, e passei as mãos no cabelo, sentindo uma
preocupação absurda me dominar.
— Foi mal! Só fiquei…
— Preocupado! — James enfiou as mãos nos bolsos da calça e
sorriu com deleite. — O início sempre é assim.
E antes que eu pudesse mandá-lo pra casa do caralho, o elevador
abriu no andar que Sara trabalhava e meu amigo saiu rindo. Assim que
entrei no estacionamento, e destravei a porta do meu carro, ouvindo o
barulhinho familiar da trava sendo aberta, me sentei em frente ao volante, já
sabendo qual seria o meu destino. Passaria no meu apartamento para ver
Jacob, e depois iria ao mercado para comprar algumas coisas e cuidar do
anjo que estava levando, sem perceber… tudo de mim.
Espalhei tudo que eu havia comprado pela pia da cozinha e sabia
que estava sendo observado de perto por ela, que acompanhava cada um
dos meus movimentos.
— Você não está bem… — Abri as portas dos armários e fui
pegando os utensílios que eu usaria. — Por que não vai deitar ao invés de
ficar me vigiando?
— O que vai fazer?
Virei-me para ela que estava com o queixo apoiado nos braços
cruzados em cima da bancada da cozinha americana. Senti uma dor no peito
ao ver o narizinho vermelho, assim como os olhos verdes cabisbaixos
transmitindo toda a exaustão do seu corpo. Os cabelos ruivos caíam em
ondas confusas para o lado pela forma que ela deixou a cabeça pender para
a esquerda.
— Uma sopa de legumes com frango desfiado. Gosta?
— Gosto de legumes e frango, mas não posso dizer se vou gostar
ou não da sua sopa… — Deu de ombros como uma criança manhosa, me
fazendo morder o lábio inferior para não a colocar em meu colo e espalhar
beijos por todo o rosto delicado. — Você me disse que sabe cozinhar, mas
dizer é diferente de fazer.
Sorri e, sem resistir mais, me aproximei dando a volta na bancada
vendo seus olhos arregalarem de forma sútil com a minha aproximação.
Quando cheguei perto, não dei tempo para que ela pensasse, pegando-a no
colo e ouvindo seu gritinho de surpresa.
— Zac!
Entrei com ela no quarto, e a coloquei com cuidado sentada na
cama.
— Você tem duas opções, meu anjo.
Mesmo doente, Claire cruzou os braços e me olhou irritada.
— Que seriam? — Alisei com meu polegar o vinco que formou
entre as sobrancelhas sentindo a pele quente pela febre. Algo que eu iria
observar e se ela piorasse, a levaria ao hospital. Ela gostando ou não.
— Deitar e ficar quietinha até que eu traga a sopa para você, ou…
— Cruzei os braços como ela. — Se preferir, tome um banho morno, deite e
fique quietinha até que eu traga a sopa pra você.
— Nossa… quantas opções atraentes!
— Posso torná-las atraentes assim que você estiver melhor.
Sorri com o rubor tomando conta da pele clara e delicada, e me
xinguei internamente por sentir meu corpo responder. Respirei fundo e me
afastei antes de me sentir um pervertido por querer estar dentro dela e fazê-
la minha. Quando eu já estava na porta, sua voz me fez parar.
— Eu ainda não o desculpei… — Olhei para ela que ostentava
uma carinha genuína de aborrecimento. — A boate, a sopa, você aqui… eu
ainda não o desculpei — repetiu a frase para reforçar como se sentia.
— Eu sei, meu anjo… — E eu realmente sabia. — Mas, eu sou
paciente e vou buscar um jeito de me redimir.
Claire abriu e fechou a boca, e como não encontrou palavras para
retrucar, levantou da cama e caminhou em direção ao banheiro, fechando a
porta resmungando alguma coisa que eu não consegui entender muito bem.
Na cozinha, peguei meu celular e escolhi uma playlist, e enquanto
“Girls Like You de Maroon Five” tocava, eu preparava a sopa. Claire não
voltou a aparecer na cozinha, o que me deixou satisfeito por saber que ela
me ouviu e decidiu tomar banho e deitar até que eu levasse a sopa. Quase
quarenta minutos depois, a sopa ficou pronta. Fui até a porta do quarto e
como ela estava quietinha, não precisei chegar tão perto para saber que
havia adormecido.
Voltei para a cozinha, peguei minha carteira e a chave do carro
para ir até a farmácia comprar um remédio para gripe e um termômetro, e
aproveitaria para pegar a bolsa que deixei com algumas peças de roupa no
banco traseiro. Por mais que ela não quisesse papo comigo, eu não a
deixaria passar a noite sozinha. Nem que eu tivesse que acordar várias
vezes na madrugada, e ir até seu quarto para ter a certeza de que ela estava
bem. Eu jamais ficaria em paz, sabendo que meu anjo estava doente e
sozinha, sem ninguém para cuidar dela.
Capítulo 30
Por que não?

Senti dedos quentes tocarem a minha pele, e por um instante me


permiti ficar quietinha só para ter mais daquele toque que me parecia tão
certo. Abri os olhos e meu coração acelerou de tal maneira, que mesmo que
ele não pudesse ver por causa do edredom, levei minha mão até meu peito e
alisei.
— Oi, anjo… que tal levantar para comer a sopa e depois você
volta a dormir?
Zac estava agachado à minha frente, alisando meus cabelos com
carinho e com uma preocupação evidente no olhar. Perdi-me no homem à
minha frente e suspirei por me sentir tão atraída e encantada por alguém que
conseguia me levar de oito a oitenta. Ao mesmo tempo em que ele me
irritava com seu sorriso devasso e cheio de si, ele conseguia me dominar
com o mesmo sorriso. Ao mesmo tempo em que ele me provocava e irritava
com as coisas que dizia até tirar a minha paciência, ele conseguia me fazer
rir e desejar seus beijos, abraços e tudo que ele podia me oferecer, com as
mesmas palavras.
— Você tem cinco segundos para levantar, se não quiser que eu te
pegue no colo de novo, o que pra mim… — Seus olhos miraram minha
boca, antes que ele continuasse: — Não seria problema algum, pelo
contrário, eu adoraria cuidar de você bem aqui. — O safado deu uma
batidinha em uma de suas coxas delineadas e em destaque pelo tecido da
calça social.
Acompanhei seu movimento, e desejei que meu corpo estivesse
cem por cento. Zac deu um sorrisinho de canto de boca sabendo que havia
alcançado seu objetivo, mas para não dar o braço a torcer, tirei o edredom
de cima de mim e tentei me sentar o mais rápido possível na cama.
— De jeito nenhum!
Zac levantou dando uma gargalhada gostosa, que tive que morder
minhas bochechas internamente para não rir junto. Pegou um termômetro
em cima da mesinha que eu não sabia de onde ele tinha tirado, ligou e
colocou embaixo da minha axila esquerda.
— É, ruivinha, você não para de me surpreender. — Beijou minha
testa e passou os dedos pela minha bochecha. — Fique aqui que eu vou
buscar a sopa e algumas coisas para cuidar de você. E evite não se mexer.
— Como se eu tivesse para onde ir… — Bufei, me ajeitando
contra a cabeceira da cama.
— Ah, meu anjo… existem muitos lugares que você pode ir sem
sair do lugar. — O devasso piscou para mim e saiu do quarto, me deixando
quente. Eu só não sabia dizer se era devido à febre ou das coisas absurdas
que ele dizia e que eu estava aprendendo a amar a cada dia.
Peguei meu celular na mesinha ao lado da minha cama, e vi que
tinham algumas mensagens da minha mãe, e das minhas amigas. Também
vi algumas ligações perdidas da minha avó. Respondi as mensagens e
depois que jantasse, ligaria para meus avós e aproveitaria para saber como
estavam as coisas. Havia pouco tempo que eu os tinha visitado, mas já
estava com saudade. Isso me fez pensar na família de Zac. Depois da visita
lamentável ao aniversário do pai dele, muitas coisas aconteceram entre nós
dois, mas algo me dizia que nada havia mudado. Minha família estava
longe de ser perfeita, mas não tínhamos um abismo entre nós, apesar da
criação rígida de meu avô.
Fui tirada de meus pensamentos quando o vi passando pela porta
carregando uma bandeja que raramente eu usava, e ao colocá-la aberta em
cima das minhas pernas, uma emoção subiu pelo meu peito até chegar à
minha garganta. Depois que vim para Nova York, me acostumei a me virar
sozinha, que me esqueci como era ser cuidada por alguém.
— Espero que goste… essa receita eu aprendi com a Sandra —
disse, tirando o termômetro da minha axila e analisando. — Você está com
trinta e oito graus de febre. Vamos observar depois que você se alimentar e
tomar os remédios.
Concordei com a cabeça e olhei para a sopa bonita e cheirosa,
acompanhada de um copo de suco que parecia delicioso apesar de eu não
saber do que era, porque a cor era uma mistura de vermelho com laranja, e
ao lado dois remédios. Peguei a colher ao lado do prato, mergulhando na
sopa e levando a primeira colherada até a minha boca. No mesmo instante,
fechei os olhos com o sabor maravilhoso que invadiu a minha língua e notei
que eu estava com fome. Repeti o gesto mais três vezes, e depois olhei para
ele que me encarava com um sorriso contido, porém satisfeito.
— Está uma delícia… obrigada! — Peguei o copo de suco, antes
de beber perguntei: — É de quê?
— Morango com laranja.
— Morango?
— Sim. Sei que é apaixonada por morangos e descobri hoje que
morango com laranja é bom para gripe — disse, dando de ombros e fazendo
meu coração errar uma batida.
— Quem é Sandra? — Eu sabia que tinha ouvido esse nome em
algum lugar.
— Uma das pessoas mais importantes da minha vida, e que cuidou
de mim com muito amor. — Seus olhos brilharam com um misto de carinho
e saudade. — Sandra foi minha babá.
Precisei respirar fundo e piscar algumas vezes para controlar as
lágrimas que se formavam em meus olhos. Era visível ver mais amor em
suas palavras pela babá, do que pelos próprios pais.
— Ela te ensinou muito bem — foi o que consegui dizer, e para
não chorar, troquei de assunto: — Pretende ficar?
— Quer que eu vá embora?
— Hum… — Eu não queria, mas ainda estava chateada. Eu era
humana e tinha direito de estar. — Não é isso!
— Então, é o quê?
— Desde que chegou, você não parou e ainda está com a roupa do
trabalho.
— Isso não é resposta, meu anjo.
— Já comeu?
Alguém pode, por favor, me sacudir? Desde quando passei a
desviar dos assuntos?
— Você é a minha prioridade, depois eu cuido de mim. — Se
aproximou tanto de mim, que tive que levantar a cabeça para encará-lo. —
Agora me responde. Você quer que eu vá embora?
— Não, eu não quero.
— Que bom, porque eu não iria.
— Então, por que perguntou?
— Porque eu queria ouvir de você.
Se olhar matasse, provavelmente ele estaria caído no chão nesse
exato momento e ele sabia disso, porque havia se afastado e me encarava
com um sorriso lindo no rosto. Terminei de comer, tomei os remédios junto
com o suco que estava uma delícia. Zac pegou a bandeja e disse para eu me
deitar, que logo voltaria para verificar a minha febre novamente.

Acordei um pouco zonza e sentindo frio. Coloquei meus pés para


fora e ao ver no meu celular que eram quase três da manhã, não acreditei
que uma fechadinha de olho me fez dormir por quase seis horas. Desci da
cama e arrastei-me pelo apartamento, achando tudo muito silencioso. Ele
tinha dito que ficaria, será que foi embora? — pensei comigo, e tive a
minha resposta assim que cheguei à sala e o vi deitado no sofá. Na TV
passava um programa qualquer, enquanto ele estava deitado vestindo
apenas uma calça de moletom, usando óculos de grau e segurando um livro
entre as mãos. Antes mesmo de me aproximar, Zac notou a minha presença
e largou o livro sobre a mesinha de centro. Não pensei e também não deixei
que ele pensasse, apenas subi no sofá e me aconcheguei em seu corpo,
sentindo seus braços me envolverem.
— Porra, meu anjo… você está queimando em febre! — Sua mão
direita veio até o meu pescoço, enquanto sua bochecha encostava-se à
minha testa. — Precisamos ir ao médico, Claire.
— Não, não precisamos — rebati.
— Precisamos sim. — Seus braços me apertaram ainda mais contra
seu corpo. — Ao invés de diminuir, a febre aumentou.
— Eu não quero ir, com certeza está frio lá fora… — Fiz um rastro
com uma lentidão ridícula com minha mão esquerda do seu peito até a
altura do cós da calça. — Aqui está mais quente!
Zac riu, pegando a minha mão e a beijando.
— Vamos fazer o seguinte… — Ele se desvencilhou do meu corpo
com cuidado fazendo com que o frio que eu sentia, se tornasse ainda maior
e agachou à minha frente: — Vamos verificar essa febre mais uma vez,
depois a mocinha vai tomar outro banho e como já se passaram seis horas
desde a última vez que você tomou os remédios, vai tomar de novo. —
Acariciou meu rosto e depositou um beijinho na ponta do meu nariz. — E
se nada mudar, você querendo ou não, nós vamos ao médico.
Balancei a cabeça concordando, na verdade, eu concordaria com
tudo, para não ter que ir ao médico. Eu não tinha nada contra hospitais, mas
o quanto eu pudesse me manter distante, eu me mantinha. Só ia em último
caso.
Minha febre estava acima de trinta e nove graus, o que deixou Zac
bem tenso. Sorri, tentando tranquilizá-lo e não queria demonstrar o quanto
estava zonza e exausta, tudo que eu queria era me enfiar embaixo do meu
edredom fofo, grande e quentinho. Tomei os remédios com mais um pouco
de suco, e na hora do banho, quase enfartei com a temperatura da água.
— SENHOR! Não vou entrar aí de jeito nenhum. — Encolhi-me
contra a parede do banheiro, balançando a cabeça em negativa. — Tá
muito, muito, muito fria!
— Deixa de ser exagerada, meu anjo! A água não está fria e sim
morna. — Zac disse segurando a barra da minha camisa grande e larga. —
Só diminuí a temperatura da água quente, deixando a fria um pouquinho
mais forte.
— Eu posso ter um treco, sabia?
Zac riu com o meu drama, mas um drama sincero porque a água
realmente estava fria.
— Ou é isso, ou é hospital… — Encarou-me erguendo a
sobrancelha. — O que você prefere?
Olhei para a água que caía, desejando estapear o homem
maravilhoso à minha frente.
— Fala isso porque não é você no meu lugar.
— Não seja por isso, eu entro com você.
Ele se afastou, puxando a calça de moletom para baixo e ficando
completamente pelado, me hipnotizando com o corpo que gritava pecado e
me convidava a fazer muitas coisas erradas com ele. Suspirei, perdida e
excitada, mesmo passando mal. Eu o queria, dentro de mim e me
dominando por completo. Zac ergueu meu queixo entre os dedos indicador
e médio, e roçou os lábios nos meus.
— Meu anjo, eu juro que tô tentando me controlar desde a hora
que cheguei… — Sua respiração estava pesada. — Então, pare de me olhar
desse jeito e colabore comigo. Preciso cuidar de você.
Zac se afastou, puxando minha camisa até tirá-la por completo e
fez o mesmo com o meu short e calcinha. Deixei que me guiasse, e tentei
não pensar na situação como um todo. Assim que entramos no boxe,
involuntariamente encolhi-me contra seu corpo.
— Fri-friaaa… — Meu queixo começou a tremer.
— Shhh… é rapidinho! — Segurou meu cabelo com carinho para
não molhar e alisou minhas costas com a mão livre espalhando a água. — É
para o seu bem, amanhã você vai acordar melhor. Agora, vira de frente…
— S-Seu ra-rapidinho já p-passou! — resmunguei e ele riu,
beijando meu pescoço.
— Tá acabando, eu prometo…
Fiz como ele pediu e levei minhas mãos ao rosto, tentando
controlar o frio, enquanto suas mãos quentes e habilidosas cuidavam de
mim. Quando não ouvi mais o barulho da água, respirei aliviada e o único
som que ouvíamos era do meu queixo batendo. Zac me envolveu com a
toalha e se secou rápido colocando a calça, e depois voltou a cuidar de mim.
Foi até o quarto pegando uma camisa limpa e me ajudou a vestir. Pegou as
roupas que estavam no chão, assim como a toalha e largou tudo em um
canto do banheiro.
— Mais tarde eu ajeito isso, primeiro você.
Zac me levou até o quarto, e puxou o edredom para que eu pudesse
subir na cama e entrar debaixo dele.
— V-você não v-vem? — Me encolhi na cama como um gatinho.
— T-tô com frio… uiii, por s-sua culpa!
Ele sorriu do jeito que fazia meu coração acelerar e aquecer.
— Vou sim. Só preciso desligar a TV, apagar as luzes e pegar meu
celular.
Zac saiu do quarto, e fiquei esfregando minhas pernas uma na
outra, tentando esquentar meu corpo. Quando ele voltou e fechou a porta do
quarto, meu corpo tremeu. Mas, não de frio e sim de expectativa. Assim que
ele levantou o edredom e deitou ao meu lado, seus braços me envolveram e
aproveitei para enroscar minhas pernas nas suas, e não demorou muito para
o frio ir embora e dar lugar ao quentinho.
— Como está se sentindo? — perguntou com seus dedos
acariciando em círculos a minha cabeça.
— Hummm… com sono, ainda com um pouquinho de dor de
cabeça e excitada. — Escondi meu rosto em seu pescoço, quando ele riu e
desceu a mão pela minha cintura apertando a minha bunda.
— Somos dois… — Sua respiração foi sofrida e audível. — Eu
deveria ter pegado uma calcinha pra você.
— Você podia me comer, né? Com jeitinho… — Não concluí a
frase, e mordi meu lábio inferior com vontade de rir. Zac realmente não só
conseguia me fazer pensar, mas também conseguia me fazer querer sentir e
falar os desejos guardados em mim.
— Puta que pariu! — Levantei minha perna direita mais um pouco
e ri de nervoso por ver o quanto seu pau já estava duro. Zac segurou minha
perna e apertou. — Você não está bem, e ainda está queimando em febre…
eu posso sentir.
— Eu só queria um pouquinho… — Desci minha mão pelo seu
peito e senti as batidas do seu coração aceleradas. — Pessoas doentes
deveriam ter seus desejos atendidos, não acha?
Por um instante, o silêncio se fez presente e quando eu achei que
tivesse perdido a batalha, Zac me surpreendeu rolando para cima de mim
com seu corpo maior que o meu, encarando-me com tanto carinho e desejo,
que eu senti minha excitação escorrer por entre minhas pernas.
— Seu desejo é que eu te coma, meu anjo? — Sua língua passeou
por meus lábios até separá-los e sua boca sugar o inferior, prendendo entre
seus dentes.
— É sim…
Zac puxou minha camisa até a altura dos meus seios, enquanto eu
empurrava sua calça de moletom para baixo.
— Então, abra bem as pernas pra mim… porque eu vou te comer
bem devagar, até você gozar e melar meu pau.
E o que aconteceu a seguir foi tudo que eu desejei nos últimos dias,
e mesmo com raiva, eu o queria com todas as minhas forças. Zac entrou tão
lentamente dentro de mim, me alargando e preenchendo, que beirou à
tortura. Sua boca buscou a minha, enquanto ele começava a se movimentar
bem devagar. Eu sabia que ele estava se segurando, porque eu não estava
bem, mas ainda assim era gostoso… intenso. Sua boca sugou e lambeu
meus mamilos expostos à sua mercê, fechei os olhos e enfiei meus dedos
por dentro do seu cabelo e deixei o primeiro gemido escapar de meus
lábios.
— Tão molhada e apertada…
Eu estava tão molhada, que dava para ouvir o barulho dos nossos
corpos se chocando um contra ou outro por mais que Zac estivesse
controlando seus movimentos.
— Ahhh… não, não para!
— Não, vou… você está muito quente!
— Mais forte, Zac… por favor!
— Porra…
E mais uma vez ele fez o que eu pedi, acelerando seus movimentos
e rebolando com mais pressão contra meu corpo. Agarrei-me a ele como eu
pude, gemendo em sua boca e senti que ele me acompanhava pela forma
como sua mão apertou a carne da minha bunda e me senti sendo preenchida
pelo líquido que eu aprendi a gostar do sabor. Cruzei os braços em volta do
seu pescoço e escondi meu rosto, sentindo seu cheiro. Zac começou a
espalhar beijinhos pelo meu pescoço e se afastou passando as mãos pelo
meu rosto.
— Você está bem?
— Sim… — Ele me observou por mais um tempo para ter a
certeza de que eu falava a verdade.
— Por que está tão séria?
Alisei seu rosto, sentindo um misto de sentimentos despertarem
algo novo em meu coração. Com ele entre as minhas pernas e em cima de
mim, me segurando como se estivesse me protegendo, tive a certeza de que
as coisas haviam fugido do controle. E de alguma forma, eu não queria que
fossem controladas.
— Eu estou confusa… — fui sincera.
— Eu também… — Ele encostou a testa na minha. — Vamos
conversar mais tarde, depois que você descansar, tudo bem?
— Tá bem!
Zac saiu de mim nos ajeitando, me colocou de lado e me puxou
contra seu corpo, me abraçando pela cintura e sussurrando contra meu
ouvido:
— Durma, meu anjo! Eu vou estar bem aqui quando você acordar.
Capítulo 31
Vamos deixar acontecer!

Acordei me sentindo melhor, com minha camisa um pouco suada e


pelo pouco que eu sabia, era sinal de que a febre estava passando. A dor de
cabeça havia passado, e eu já não sentia a exaustão de ontem. Talvez o
remédio fosse meu devasso e tudo que ele podia fazer. Arregalei os olhos,
tirei os fios que estavam em meu rosto e levei minhas mãos à boca chocada
e com vontade de rir. – Meu devasso? – Eu dormi uma Claire e acordei
outra. Meu Deus… que caminho é esse que eu resolvi seguir? Isso me fez
perceber que a cama estava vazia, e o quarto silencioso. Tirei o edredom de
cima de mim, porque diferente da madrugada que eu senti frio, agora eu
estava com calor.
Meu celular vibrou na mesa, e não me surpreendi com as
mensagens das minhas amigas pedindo um sinal de vida e querendo saber
se eu tinha melhorado. Mas, tomei um susto com a quantidade de ligações
da minha mãe e meus avós. Como ainda eram dez horas da manhã, mandei
uma mensagem para minha mãe dizendo que tinha acabado de acordar e
depois que tomasse banho e café, eu ligaria para conversarmos um pouco. E
para meus avós, eu decidi ligar. No terceiro toque, a voz doce e calma da
minha avó preencheu meu ouvido me fazendo sorrir.
— Oi, vó… Bom dia!
— Minha filha, graças ao bom Deus! Como você está? —
Suspirou de alívio, e eu me senti culpada por deixá-la preocupada. — Eu
quase peguei um avião e fui até você, mesmo não sendo fã.
— Ah, vó… me perdoa! Passei o dia de ontem descansando.
— Não precisa pedir perdão, minha filha! Só fiquei preocupada
porque sua mãe nos disse que você estava ficando doente e isso me deixou
nervosa. Pode imaginar como ficou seu avô, né? — Riu sem ânimo. —
Tenho certeza que ontem foi o pior dia de trabalho dos funcionários.
Fiz uma nota mental para falar com minha mãe, não era certo
deixar meus avós preocupados sem motivos e ainda fazer os funcionários
pagarem pelo temperamento difícil do senhor Afonso.
— Pode ficar tranquila e tranquiliza meu avô por mim, tá bem? Foi
só uma gripe boba. — Tentei melhorar minha voz que estava um pouco
rouca. — Tomei os remédios necessários, me alimentei bem e bebi bastante
líquido… — Graças ao Zac, pensei comigo. — Hoje já acordei ótima e vou
aproveitar para organizar algumas coisas aqui. Sei que agora meu avô está
no campo. Mais tarde eu ligo de novo, tudo bem?
— Combinado, minha menina! Se sentir qualquer coisa, promete
que liga? Juro que entro nesse negócio e vou cuidar de você.
Ri com tudo que dona Olívia faria só para me ver bem.
— Prometo. Te amo!
— Eu também te amo, minha filha!
Deixei o celular em cima da mesinha e fui até o banheiro para lavar
meu rosto e escovar meus dentes. Ao me olhar no espelho, vi a confusão
que era meu cabelo, parecendo um ninho de passarinho, e passei meus
dedos pelas olheiras que haviam se formado debaixo dos meus olhos em tão
pouco tempo. Eu não queria ver Zac naquele estado, já não bastava a
madrugada. Tirei minha camisa, peguei minha escova de dente e me enfiei
debaixo do chuveiro. Tomei um banho do jeitinho que eu gostava, lavando
meu cabelo e cuidando um pouquinho de mim. Meu estômago roncou, e
deixei para secar meu cabelo depois. Vesti outra camisa e saí do quarto. Era
ótimo ter roupas confortáveis para ficar em casa, e eu amava esse tipo de
camisa, grande e larga.
Saí do quarto e senti o cheirinho de café, e quando procurei por
Zac, ele estava sentado no sofá com o celular na mão e a cabeça jogada para
trás. Aproximei-me dele, que levantou a cabeça e estendeu a mão me
puxando para sentar em seu colo. Sentei de frente para ele, encaixando meu
rosto no vão do seu pescoço e enfiando uma mão por baixo da sua camisa.
Com a minha outra mão, alisei seu cabelo e vi que ainda estava úmido, com
certeza, ele havia acordado um pouquinho antes de mim.
Fiquei em silêncio com os olhos fechados, mas não pude evitar
ouvir que a pessoa com quem ele falava, parecia uma mulher que gritava e
chorava ao mesmo tempo, mas quando eu soube quem era, meu corpo ficou
tenso.
— Mãe, o que a faz pensar que o pedido de desculpas precisa partir
de mim? O único a ser desrespeitoso e mal-educado foi ele e mais ninguém.
— Ele ouviu por mais um tempo, antes de continuar: — Com todo o
respeito… eu quero mais é que se foda a opinião da alta sociedade de Nova
York. A opinião alheia não muda meus princípios ou me faz ser quem eu
sou.
Levantei a cabeça, assustada, e consegui ouvir: – Olha a boca, seu
menino ingrato! – Zac me puxou para mais perto, e ergueu o quadril para se
encaixar melhor entre as minhas pernas e como eu estava sem calcinha,
senti a fricção do tecido contra minha boceta sensível, o que me fez
pressionar meus dedos em seu peito e cabelo, algo que não passou
despercebido por ele que arqueou uma sobrancelha e deu um sorrisinho de
canto de boca.
— Não se trata de ingratidão, mãe! E sim de sermos realistas. —
Seu olhar se tornou sério e triste. — Ele se acha superior às outras pessoas
em cima de um pedestal com sua prepotência e arrogância, e se esquece de
que quando morremos, não importa se somos ricos ou pobres, importantes
ou não, o destino de todos é o mesmo.
Ouvir sua mãe soluçando do outro lado do telefone trouxe um
aperto ao meu coração, pois por mais que ela também estivesse errada, era
alguém que vivia de aparências e independentemente de qualquer problema,
lutava para manter a família unida por mais que não fosse da forma correta.
— E sinto muito se isso te machuca, mas não faço questão de estar
no mesmo ambiente que ele, não enquanto ele não aprender o significado de
humildade e respeito ao próximo… — Sua mãe disse mais alguma coisa
que eu não consegui ouvir, devido ao choro. — Ele desrespeitou alguém
que é importante pra mim, especial na verdade. E isso eu não vou aceitar.
— Zac desviou o olhar do meu e olhou para o dia nublado pela janela.
Minha reação foi segurar seu rosto entre as minhas mãos, e me
agarrar a ele como se ele fosse fugir.
— Preciso desligar, mãe! Nos falamos em outro momento.
Depois de finalizar a ligação, não deixei que ele falasse nada.
Grudei minha boca na sua em um beijo desesperado, buscando sua língua
com a minha e segurando as lágrimas que ameaçavam inundar meus olhos.
Zac passou as mãos pelas minhas coxas subindo até minha bunda e me
travou com um braço pela cintura, segurando meu queixo com a mão livre.
— Eu quero você… — Minha voz saiu em um sussurro.
— De que jeito, Claire? Eu preciso saber…
Seus olhos castanhos refletiam o medo, o desejo e a paixão da
mesma forma que os meus. Éramos uma confusão de sentimentos que
estavam explodindo um atrás do outro sem nos dar brecha para respirar.
— De todos os jeitos possíveis… — Zac me apertou mais contra
seu corpo, e eu aproveitei para me esfregar contra ele. Meu corpo estava
quente e louco por alívio. — E você?
— De todos os jeitos possíveis e impossíveis… — Sua boca tomou
a minha com intensidade e paixão, e enlouqueci quando ele começou a me
preencher devagar. — Você se tornou o centro do meu mundo, meu anjo.
— Quero você por completo, meu devasso!
Zac abriu o sorriso mais lindo e safado que eu já tinha visto, me
fazendo perder o fôlego.
— Eu já sou seu.
— Ah, é? Então, por que não me mostra? — Dei um gritinho
quando ele nos girou no sofá e comecei a rir.
— Será um prazer.
Caralho… meu coração batia tão forte contra meu peito, que eu
cheguei a duvidar se estava realmente acelerado ou se eu estava enfartando.
– Quem diria que eu iria me apaixonar por uma mulher quase oito anos
mais nova que eu e totalmente inexperiente? – A verdade que Claire, meu
anjo… era única e especial, e me encantava ver a sua inocência em meio à
curiosidade sobre a vida, mesmo sabendo que ela foi educada de forma
rígida e cheia de regras, era nítido ver que ela não só queria viver a vida,
mas queria ter experiências de forma intensa, e eu? Eu queria fazer parte
disso, queria poder proporcionar tudo que ela quisesse e desejasse. Não me
lembrava da última vez que havia me permitido ter um envolvimento sério
com alguém, mas por ela… eu seria capaz de dar a volta ao mundo a pé, se
preciso fosse. Tudo para vê-la feliz!
— Zac, por favor… — Sua voz sôfrega me chamou de volta à
realidade. — Eu vou ter um treco, se você não me foder AGORA.
Ri com a sua carinha de desespero.
— Desde quando você ficou tão safada? — provoquei, espalhando
beijos molhados pelo seu pescoço até chegar ao seu queixo, onde dei uma
mordidinha de leve.
— Hummm… desde que deixei você entrar na minha vida —
Claire me respondeu, impaciente, tentando tirar a minha camisa e antes que
ela tivesse êxito, passei meus braços por sua cintura e me ajoelhei no sofá
para ficar de pé, trazendo a comigo.
— Aonde nós vamos?
— Tomar café da manhã.
— Na cama?
— Aqui.
Coloquei-a sentada na bancada da cozinha, tirei sua camisa e me
afastei para observá-la. Claire conseguia ser perfeita em uma mistura de
pureza e sensualidade, algo que me encantava e excitava de uma forma
absurda. Os cabelos molhados caíam como uma cascata ruiva por cima dos
ombros e suas pontas tocavam os mamilos durinhos e rosados. As pernas
abertas me davam uma visão privilegiada da boceta pequena e lisinha, que
brilhava com a sua excitação e pedindo por atenção. Segurei na gola da
minha camisa por trás e puxei por cima da minha cabeça, jogando no chão e
não demorei muito para tirar minha calça e dar o mesmo destino que a
camisa. Toquei meu pau que babava para se enterrar dentro dela, mas não
antes que minha boca pudesse sentir seu gosto.
— Você é perfeita, sabia? — Passei as mãos por suas coxas até
alcançar sua bunda e a puxei para frente, fazendo com que suas pernas
abrissem mais.
— Sou?
Os olhos verdes brilhavam em expectativa pelo que eu faria,
enquanto o peito subia e descia pela respiração descompassada.
— É sim, e é impossível me manter imune… — Passei minha
língua bem devagar por toda a extensão da bocetinha inchada, abrindo os
pequenos e grandes lábios até seu clitóris, rodeando e chupando sem pressa.
Claire gemeu e não demorou a enfiar os dedos em meu cabelo
puxando e se esfregando contra a minha boca sem vergonha alguma, o que
fazia meu pau ficar cada vez mais duro e ansioso para ter o seu momento.
Eu não parei, eu queria mais… queria mais dos seus gemidos e do seu gosto
em minha língua. Quando senti que ela estava quase gozando, me afastei e
comecei a deixar um rastro de beijos, lambidas e mordidas pelo seu corpo
até alcançar sua boca, e beijá-la com todo o desejo que me consumia.
— Você quer me enlouquecer, tenho certeza… — Claire disse
contra minha boca, e segurou no meu cabelo com mais força.
— Só quero tomar meu café, antes de comê-la do jeito que você
tanto quer.
Peguei o potinho de mel que estava atrás da bancada, e abri a
tampinha com o dente vendo os olhos de Claire arregalarem de surpresa.
Apertei sobre seu corpo e me deliciei vendo o líquido viscoso e açucarado
tocar no vão entre seus seios e descer em uma linha fina até sua boceta e se
perder por entre seus lábios vaginais.
— Ai, minha nossa…
Quando me dei por satisfeito, larguei o potinho de lado.
— Agora sim, posso tomar meu café.
— Puta que pariu! Eu nunca mais vou conseguir ver o mel da
mesma forma.
Ri com a reação de Claire, e fiquei ainda mais excitado com ela se
admirando e mordiscando os lábios sem acreditar no que eu tinha feito.
Passei dois dedos pela boceta que eu estava viciado, misturando o mel com
a sua excitação e levei até seus lábios, espalhando como se estivesse
pintando.
— Quero que sinta o mesmo gosto que eu vou sentir…
— Você é um pervertido!
— Que eu saiba, foi a minha perversão que te conquistou, não foi?
— Você me corrompeu, é diferente.
Sorri, enfiando minha mão por dentro do seu cabelo e segurei em
sua nuca, beijando-a de forma lenta e sensual, deixando com que ela
experimentasse seu gosto e visse o quanto era perfeita em todos os sentidos.
Beijei seu queixo, pescoço e trilhei o mesmo caminho que o mel até o meu
objetivo. Eu simplesmente me perdi e enlouqueci com a explosão doce que
invadiu a minha boca quando Claire se esfregou sem pudor algum e gritou
meu nome, tentando fechar as pernas com o corpo tremendo. Travei seus
movimentos com minhas mãos, ouvindo seus gemidos entre palavras
confusas e só parei depois de tomar toda sua excitação.
Seu peito subia e descia pelo orgasmo intenso, e não me surpreendi
quando um sorrisinho lento e safado surgiu em seus lábios vermelhinhos e
inchados.
— Quero mais!
Sorri, me sentindo um sortudo do caralho.
— Vem cá… — Abracei seu corpo pequeno e a coloquei no chão,
virando-a de frente para a bancada. — Você queria ser fodida, e é o que eu
vou fazer. — Alisei suas costas e dei um tapa em sua bunda ouvindo seu
gritinho de surpresa. — Empina essa bunda gostosa.
Claire fez o que pedi sem questionar, e nós dois gememos juntos
enquanto eu a preenchia. Ela era delicada e apertada, mas estava me
recebendo com facilidade de tão molhada. Passei um braço por sua cintura e
apoiei uma mão na bancada e não perdi tempo. Comecei a estocar de forma
longa e lenta, passeando minha mão por seu corpo e aos poucos fui
aumentando meu ritmo, e passei a estocar de forma rápida e curta. Eu
queria gozar, mas não antes de vê-la gozar novamente. Estimulei seu
clitóris, quando ela jogou a cabeça para trás procurando pela minha boca,
bebi seus gemidos sentindo meu pau sendo apertado e não me segurei mais.
Uma, duas, três estocadas e o barulho de corpos chocando um contra o
outro preencheu a sala, até que eu gozei me agarrando a ela. Agarrando-me
ao anjo que durante muito tempo eu busquei e encontrei.

— Tem certeza de que está se sentindo bem para ir comigo? Eu


posso ir e voltar — perguntei da porta, observando-a ajeitar uma mala
pequena. Havíamos passado o sábado todo grudados um no outro e
aproveitamos para conversar sobre o que tinha acontecido.

— Você me perdoa pela minha atitude imatura, meu anjo?


Claire suspirou fundo antes de responder:
— Eu fiquei bem chateada e decepcionada, eu não esperava…
sabe?
Apertei seu corpo ainda mais contra o meu e beijei o topo da sua
cabeça.
— Eu sei, e me sinto muito mal por isso e se eu pudesse voltar
atrás, eu voltaria.
— Mas não pode…
— Não posso.
Um silêncio se fez presente, e quando comecei a me preocupar se
seria perdoado ou não, ela apoiou o queixo no meu peito, e disse:
— Da mesma forma que você tem receios, eu também tenho… —
Capturei uma mecha macia do seu cabelo antes que caísse em seu rosto e
coloquei atrás da sua orelha, alisando sua bochecha com o polegar. — Não
tenho tanta experiência quanto você, mas se tem uma coisa que eu prezo é
pela conversa e sinceridade, e te peço… não faça isso de novo, porque se
você fizer, não teremos uma outra oportunidade como essa.
— Eu sei, meu anjo… obrigado!
Seus olhos brilhavam com as lágrimas que ela segurava fazendo
eu me arrepender pela milésima vez. Ela tinha me perdoado, e agarraria
essa chance não só com o meu coração, mas com a minha alma.

Respirei aliviado e continuei observando seus movimentos. Eu


precisava ir em casa, mas queria ter a certeza de que ela estava bem para ir
junto. Jacob já estava há mais de vinte e quatro horas sozinho, e como eu o
conhecia bem e sabia o quanto ele era apaixonado por Claire, ficaria
acelerado e não sairia do lado dela.
— Tenho sim… já não estou mais com febre e nem com dor de
cabeça, graças a Deus. Só de pensar em hospital, me bate um desespero.
— Sorte a sua, porque se não melhorasse, eu te jogaria no ombro e
a levaria de qualquer jeito. — Claire revirou os olhos e eu ri. — Sabe que
Jacob não vai sair de cima de você, né?
— Não tem problema, aquela bola fofa de pelos ganhou meu
coração desde o dia que roubou meu sorvete no parque — disse com um
sorriso no rosto e parou para olhar ao redor. — Caramba já ia me
esquecendo.
Ela foi até o armário e abriu uma gaveta, pegando algumas
calcinhas.
— Pra que tantas? Você só vai precisar de uma pra ir trabalhar na
segunda.
— Olha… — Vi quando ela prendeu os lábios um contra o outro
para não rir. — Tenho certeza que na próxima vez que eu for à igreja, eu
vou cair.
— Eu vou com você e te seguro.
— A gente não vai passar da porta.
Levei uma mão ao peito, ofendido, mas explodi em uma
gargalhada quando ela abriu um sorriso enorme para mim.
Capítulo 32
Desde quando?

Como eu esperava, Jacob não desgrudou de Claire um minuto


sequer e aonde ela ia, ele a acompanhava como se fosse sua sombra. Seus
olhinhos refletiam todo o amor que ele já sentia por ela, assim como eu,
tinha certeza de que meu garoto faria de tudo para vê-la feliz e sorrindo, e
foi exatamente o que ele conseguiu fazer na noite de sábado e o domingo
todinho. O apartamento foi preenchido com risadas e gritinhos, e como um
fantoche que eu estava me tornando para os dois, uma coisa que não faltou
foi sorvete e passeio no Central Park.
Na segunda-feira, assim que estacionei meu carro no subsolo do
edifício da empresa, antes de sairmos senti que Claire estava um pouco
nervosa. Olhei para ela que estava perfeita em um vestido tubinho verde-
musgo, com o cabelo preso em um rabo de cavalo e uma maquiagem tão
leve, que dava para ver as poucas sardas que ela tinha e se destacavam
realçando ainda mais seu ar angelical. Toquei em seu pescoço com minha
mão e a puxei para perto de mim, roçando meu nariz em sua bochecha e me
embriagando com seu cheiro doce e frutal.
— Tudo bem?
— Tudo sim… — Claire passou a mão pelo meu rosto e depositou
um beijinho no meu queixo.
— Por que algo me diz que não é verdade?
— Não é isso!
— Então, o que é?
Claire suspirou e levou o indicador direito à boca e puxou uma
pelinha com o dente. Peguei sua mão e beijei o mesmo dedo.
— Vai ser a primeira vez que vamos chegar juntos.
— E isso te incomoda? Chegar comigo? — Senti uma pontada no
peito, porque eu sabia que eu não tinha um histórico exemplar, mas nunca
me expus com mulher nenhuma dentro da empresa e tudo que eu fazia, era
da porta para fora.
— Deveria, mas não. Até porque me envolvi sabendo da sua
fama… — Riu sem ânimo. — Mas, tenho certeza de que muitas pessoas
irão olhar pra gente.
Isso me fez lembrar do seu comportamento na festa da empresa, na
boate e de outras situações. Claire sempre ficava muito bem perto de quem
ela conhecia, mas se o local estava cheio ou se tivessem pessoas
desconhecidas, ela se mantinha firme, porém demonstrava uma certa
vulnerabilidade. Eram gestos sutis que eu estava aprendendo a identificar,
como agora. Como tirar pedacinhos de pele dos dedos, morder os lábios
para controlar o nervosismo e girar os dedos uns nos outros, na tentativa de
controlar a situação. Isso me lembrava sintomas de um tipo de fobia, se eu
não estivesse errado, era fobia social. Eu tinha um amigo da época de
faculdade que era psicólogo e assim que finalizasse as entrevistas com
Ryan, entraria em contato com ele e falaria sobre o assunto, e se realmente
fosse algo assim, eu conversaria com o meu anjo e a ajudaria a lidar com a
situação.
— Pra começar, meu anjo… não existe mais fama, porque você é a
única mulher que eu quero e que tem tomado todo e qualquer espaço no
meu coração. — Roubei um selinho rápido. — E sim, todos irão olhar
porque você é encantadora e eu sou a porra de um filho da puta sortudo do
caralho…
— E desbocado… — Sua risadinha aqueceu meu coração.
— Sim, eu sou! — Sorri em resposta. — Só quero que segure a
minha mão e confie em mim, tudo bem?
— Tá bem!

Como o expediente começava às nove e todo início de semana os


elevadores ficavam com uma espera ainda maior, decidimos subir o
pequeno lance de escadas e enfrentar a fila do hall de entrada. Quando
passamos pelas portas, peguei sua mão, entrelaçando nossos dedos. Muitas
pessoas olharam em nossa direção, principalmente algumas mulheres que
eu já havia me envolvido, e conforme andávamos, o típico burburinho
começou e para tranquilizá-la apertei sua mão e sorri para ela dando uma
piscadinha. Paramos na fila e não me surpreendi quando mãos delicadas
seguraram as nossas e pressionou contra a barriguinha protuberante e
redondinha.
— Puta que pariu vinte vezes! Eu quero gritar “eu sabia”, mas não
posso. Respira Sara, respira. — A brasileira que havia se tornado uma das
minhas melhores amigas, exibia um sorriso lindo e cheio de alegria.
— Minha princesa, por favor… se você continuar eufórica desse
jeito, terei que te levar ao hospital — James disse, tentando manter a calma.
— Porque eu tô feliz? Costumo ficar eufórica com frequência por
outros motivos e você nunca me levou. — Era incrível ver que Sara era uma
das poucas pessoas que conseguia desestabilizar James, que abriu e fechou
a boca, e balançou a cabeça sorrindo. — Bom dia, sua safadinha!
Sara voltou sua atenção para Claire que estava vermelha, mas ao
mesmo tempo relaxando por ter a presença da amiga por perto. As duas se
abraçaram e caminharam à nossa frente, conversando animadas sobre o
retorno de Bela.
— O que aconteceu com o último dos moicanos? — James sorriu
triunfante. — Phillip vai adorar saber da novidade, que já não era novidade.
— Eu poderia começar meu dia mandando você se foder, mas hoje
sou obrigado a concordar com você. — Respirei fundo e sorri passando a
mão na minha nuca. — Ela roubou meu coração e eu não quero de volta.
— Bem-vindo ao paraíso, irmão!
Com um anjo como Claire, eu realmente estava no paraíso.

O dia passou tão rápido que quando eu vi, já era hora do almoço.
Após as entrevistas que faltavam, fiquei satisfeito e até mesmo chocado
quando Ryan decidiu fechar com os cinco candidatos selecionados. De
acordo com ele, cinco era melhor que três, porém não queria saber de novas
entrevistas tão cedo, só se alguém da sua equipe fizesse merda.
Marquei de almoçar com meus amigos, mas não esperava ser
rejeitado. Quando saí do elevador, coloquei meus óculos escuros e caminhei
até eles que conversavam de forma animada.
— E ele como sempre pontual — Phillip provocou.
— Que eu saiba, se eu não fizer o meu trabalho esta empresa não
anda.
Observei minha garota que fazia uma selfie com Sara, e eu tinha
certeza de que enviariam para Bela.
— É, irmão… alguém precisa fazer a parte mais difícil e
importante. — Segurou no meu rosto e deu dois tapinhas de leve em ambos
os lados. — Você é nosso orgulho!
— E é bom te ver animado. — Puxei meu amigo para um abraço.
Saber que ele e Bela haviam se acertado e que em breve ela estaria
retornando do Brasil, me deixava feliz. Todos estavam com saudade
daquela louca.
— E é bom te ver apaixonado.
— Vocês vão me infernizar com isso?
— Se tornou o nosso passatempo. — James riu.
Antes que eu os xingasse, as meninas se aproximaram e envolvi
Claire pela cintura, dando um beijo em sua testa.
— Vamos?!
— Eu não vou.
— Não entendi. Por quê?
— Vou almoçar com Ryan.
— Tá falando sério?
— Por que não estaria? Ele é meu amigo, qual o problema? — A
diabinha cruzou os braços e empinou o nariz. — Não quero que fique
mijando em mim.
— Mijando? — Mesmo com os óculos escuros, a careta que eu fiz
deve ter sido tão expressiva, que meus amigos viraram de costas para não
rirem. — Eu não estou fazendo isso, meu anjo.
— Está sim… parece que quer marcar território.
— Eu não faria isso! — me defendi.
— Não é o que parece.
Respirei fundo e segurei seu rosto entre minhas mãos, e tentei
desfazer o biquinho com meus polegares que havia se formado em seus
lábios.
— O que quero dizer… é que ele é só um amigo, porque você quer.
— Ele nunca me desrespeitou, Zac. Sempre foi um cara incrível
comigo, e eu não vou deixar de ser amiga dele. Goste você ou não! — Ela
me abraçou pela cintura, e me deu um beijo rápido. — Preciso ir.
Vi Ryan parado um pouco distante e pude ver a forma animada e
carinhosa que Claire o abraçava, sendo retribuída da mesma forma. Um nó
esquisito se formou em minha garganta.
— Porra… me fodi! — Phillip disse, irritado.
— Hoje o almoço é por sua conta. — James riu e assoviou logo em
seguida.
— Algo que eu tenha perdido?
— Ah… — Sara segurou em meu braço com um sorriso de menina
levada e me puxou para caminhar com ela e meus amigos. — Eles
apostaram um pouco antes de você descer, quando seria sua primeira crise
de ciúme e meu maridinho ganhou.
— O quê? — falei, desacreditado. — Quando digo que vocês são
dois cuzões, ninguém acredita.
— Na nossa vez você fez pior, não reclame — Phillip disse rindo.
— E se prepara, porque essa é a primeira de muitas.
— E conhecendo a amiga que eu tenho… — Sara suspirou com
satisfação. — Espero que seu coração seja forte, coisa linda da amiga.
Porra… Ciúme? Eu estava fodido.
— Fiquei preocupado! Está se sentindo melhor? — Ryan
perguntou depois que fizemos nosso pedido em um dos restaurantes que
gostávamos de almoçar próximo à empresa. Tinha um estilo rústico e
aconchegante.
— Estou sim. — Sorri para ele. — Foi uma gripe chatinha, mas
consegui me recuperar no fim de semana e também aprendi a não sair mais
sem guarda-chuva.
Ryan deu uma risada gostosa, algo que era difícil de ver e eu me
sentia feliz, por saber que podia compartilhar momentos assim com ele.
— Nunca mais tire o guarda-chuva da bolsa.
— Não vou.
— Fico feliz de saber que está feliz. — Ele sorriu, porém seu
sorriso não alcançou os olhos. — Zac realmente é um cara de sorte.
Senti uma pontada no meu coração, e uma vontade enorme de
abraçá-lo. Ryan era alguém incrível, e não só pela beleza que era de tirar o
fôlego. Imponente, charmoso e até misterioso, porém o que mais chamava
atenção era seu coração que eu tive o prazer de conhecê-lo um pouquinho e
tê-lo em minha vida. E como eu falei para Zac, eu não iria me afastar de
alguém que sempre me tratou da mesma forma desde que eu me sentia um
peixe fora d’água.
— Obrigada! — Segurei em sua mão por cima da mesa e sorri com
minha visão um pouco embaçada pelas lágrimas.
— Pelo quê? — Ele meneou a cabeça de lado e apertou minha mão
quando limpei uma lágrima traiçoeira.
— Você sempre foi maravilhoso comigo, e espero que nossa
amizade não mude e continue se fortalecendo. — Sorri.
— No que depender de mim, nossa amizade não mudará em nada.
Falo sério quando digo que fico feliz por você…
— Eu sei. — Funguei e Ryan riu. — Se eu chorar, além da torta de
morango… — Ri. — Vou querer passar naquela sorveteria artesanal na
volta.
— Não se esqueça de que da última vez, você disse que seu
cérebro estava congelando.
Explodi em uma gargalhada e acabei chamando atenção para nossa
mesa, rapidamente tentei me acalmar e evitei olhar para os lados.
— Você diz que Zac é um cara de sorte, mas sortuda será a mulher
que conquistar seu coração.
— Não sei! Não é algo que eu queira ou busque.
— A vida é cheia de segredos, e você pode se surpreender.
— Talvez!
Nosso pedido chegou e nos minutos seguintes, almoçamos
conversando sobre as entrevistas que Ryan havia feito, e na maior parte do
tempo eu me diverti, com as caras que ele fazia contando sobre cada uma,
principalmente da Emma Davis. Depois passamos para tomar o sorvete que
eu queria e quando nos despedimos, Ryan me abraçou e depositou um beijo
no topo da minha cabeça, e eu tive a certeza de que ele seria um amigo para
o resto da minha vida.
Nos dias que se seguiram, tentei não me importar muito com os
olhares que eu recebia todas as vezes que estávamos juntos, fosse dentro ou
fora da empresa, era como se Nova York inteira estivesse nos vigiando. Zac
não tinha vergonha de demonstrar seus sentimentos em público quando
estávamos juntos, algo que se tornou uma diversão para James e Phillip, e
fazia as meninas suspirarem. Apesar de não termos rotulado o nosso
relacionamento, eu me via cada vez mais apaixonada por ele e, mesmo com
medo, estava me permitindo e deixando as coisas acontecerem.
Seu cuidado e preocupação comigo eram tanto que Zac notou algo
que de início eu não quis acreditar e me senti um pouco relutante. Quando
Bela retornou do Brasil, saímos para comemorar e houve um momento que
me senti sufocada dentro do pub em que estávamos e pedi para irmos
embora, e mesmo contra o protesto das meninas, ele não questionou.
Apenas me levou para seu apartamento.
— Meu anjo… podemos conversar sobre algo que eu venho
observando? — Zac perguntou, acariciando meu cabelo.
— Podemos sim. — Levantei minha cabeça buscando seu olhar, e
vi preocupação. — Tá tudo bem?
Desde que chegamos do pub, estávamos deitados no sofá com
Jacob entre as nossas pernas.
— Não quero que interprete errado o que vou dizer, mas sim que
me ouça… tá bem?
— Se você continuar me olhando desse jeito e não falar nada, além
de interpretar errado, vou ficar nervosa.
— Você consegue ficar ainda mais linda irritada, sabia?! — disse
sorrindo do jeito que eu amava.
— Não me distraia com esse sorrisinho devasso…
Fiquei séria, demonstrando meu aborrecimento, e Zac passou o
polegar no vinco que se formou entre as minhas sobrancelhas e depositou
um beijo.
— Perdão!
— Você está arrependido de verdade?
— Não. — Dei um tapinha em seu peito ouvindo sua risada.
— Idiota!
Meu devasso pegou minha mão e beijou com carinho. Como ele
conseguia me irritar e me acalmar ao mesmo tempo?
— Anjo… desde que nos conhecemos, tenho observado que
quando estamos em lugares muito cheios, perto de pessoas desconhecidas
ou que você possa ser o centro das atenções, você fica tensa e
desconfortável a ponto de algumas vezes machucar os dedos ou até mesmo
se sentir sufocada como hoje…
Pisquei os olhos algumas vezes, sentindo um nó se formar em
minha garganta. Como ele havia notado algo que nem eu mesma não
entendia muito bem?
— Como você notou essas coisas? — Minha voz saiu baixa, quase
um sussurro.
— Como não notar no anjo ruivo que roubou meu coração?
— Zac, eu… eu não sei por que me sinto assim.
— Hey, meu amor… — Ele secou a lágrima que caía. — Eu sei!
Por isso, não quero que interprete errado.
— Como assim?
Percebi que ele estava receoso, mas esperei que continuasse.
— Tenho um amigo da época de faculdade que é psicólogo, e
tomei a liberdade de conversar com ele…
— Sobre mim? — Me senti estranha. — O que vocês falaram?
— Sim, sobre você. — Zac me apertou mais contra seu peito. —
Nicolas gostaria de conversar com você, caso você queira. Ele acredita que
possa ser fobia social, mas como não sou médico…
— Fobia social? — repeti em voz alta, tentando assimilar o que
Zac havia acabado de dizer. Não percebi que tinha ficado por tanto tempo
em silêncio, até que ele sentou e me colocou em seu colo.
— Olha pra mim… — pediu com tanto carinho, que seria
impossível ficar chateada. — Pelo que pesquisei, a fobia social é algo que
todos podemos ter em qualquer momento da nossa vida. Pode surgir através
da ansiedade, como pode ser hereditário, traumas ou experiências e
situações que levaram a pessoa a se sentir daquela forma.
Tentei puxar na memória situações que pudessem me levar a me
sentir daquela forma, mas minha cabeça ficou confusa. Era como se um
balde de informações virasse em cima da minha cabeça.
— Se eu realmente tiver essa fobia, será que é grave?
— Grave ou não, eu vou estar com você. — Zac beijou minhas
bochechas e nariz. — Eu posso te levar para uma consulta com o Nicolas,
eu confio nele e no trabalho dele. Você quer?
— Quero sim — fui sincera, secando as lágrimas que não consegui
controlar, e me aninhei nos braços do homem que me protegia sem
julgamentos.
— Fico feliz, meu anjo! Você me perdoa por ter sido invasivo sem
antes te consultar?
— Só com uma condição.
— Qual?
Ajeitei-me em seu colo, envolvendo seu pescoço com meus braços.
— Me chama de “meu amor” de novo, vai?
Zac semicerrou os olhos, e sendo ele quem era, levantou comigo
no colo e me jogou por cima do ombro dando um tapa na minha bunda. Dei
um gritinho pelo susto e a rapidez com que ele sempre conseguia fazer
essas coisas.
— Você vai ouvir, enquanto eu estiver dentro de você… sua
diabinha!
— E a lista de apelidos só aumenta.
Levei outro tapa, e ri me divertindo com a situação. Zac me jogou
na cama, e sorriu cheio de promessas. E olhando para ele, eu nunca me senti
tão grata por ter sucumbido ao pecado.
Capítulo 33
É pedir muito um pouco de paz?

Na semana seguinte, após sairmos do trabalho, Zac foi comigo até


o consultório do seu amigo que havia ficado depois do horário para nos
receber. Durante todo o caminho, senti minhas mãos suando e só me
acalmava quando suas mãos seguravam as minhas, acariciando, me
passando o conforto que eu precisava. Eu sabia que não era nada demais,
muito menos um bicho de sete cabeças ir ao psicólogo. Era algo natural e
normal para muitas pessoas que se sentiam bem para abrir o coração, e falar
sobre tudo. Zac me disse que na época de faculdade ia toda semana e
adorava, pois conversava coisas com um profissional, que às vezes, os
amigos não entendiam ou não conseguiam ajudar. Tudo ia de acordo com a
visão de quem estava de fora, e era algo que além de acalmar, era libertador.
Assim que chegamos, fiquei impressionada com o lugar. Eu jamais
diria que era um consultório. Além de ter uma visão maravilhosa de Nova
York, o ambiente era aconchegante e moderno, com uma música ambiente
ao fundo, que pelo meu pouco conhecimento, eu soube que era jazz, os
quadros de bandas e instrumentos nas paredes confirmaram a minha dúvida.
Mas, o que chamou mais a minha atenção, foram as cadeiras de massagem.
Elas gritavam: ouça uma boa música, enquanto eu te faço relaxar!
Quando pensei em compartilhar a minha piada idiota com Zac que
me observava com um brilho no olhar, a porta atrás de nós foi aberta e um
homem preto, alto e muito charmoso nos cumprimentou com um sorriso
acolhedor.
— É sempre uma alegria receber um amigo tão querido.
— Nunca duvidei do seu amor por mim. — Zac o puxou para um
abraço, o que o fez sorrir ainda mais.
— Existem coisas que não mudam.
— Que graça teria se mudasse? — Zac riu e segurou na minha
mão. — Nicolas, essa é Claire… meu anjo, esse é o Nicolas, meu amigo de
anos.
— Oi… tudo bem? — Respirei fundo, mas quando sua mão tocou
a minha, eu senti uma calmaria absurda.
— Tudo bem, Claire! Vou dizer que é uma alegria te conhecer para
não ser ameaçado por esse cara aqui.
— Que bom que você sabe — Zac respondeu, fingindo
aborrecimento e eu acabei rindo.
— Preciso dizer que estou encantada com seu consultório.
— Eu também sou encantado por este lugar. — Nicolas olhou ao
redor, antes de continuar: — Este lugar é uma mistura dos meus sonhos,
paixões e família. E como passo a maior parte do meu tempo aqui, tentei
deixá-lo o mais confortável não só pra mim, mas para quem viesse aqui.
— Eu poderia passar um dia inteiro aqui.
— Ponto pra mim! — Nicolas sorriu. — Já que estou ganhando
pontos, que tal batermos um papo e você me conta um pouco quem é a
Claire?
Olhei para Zac, que me deu um selinho e sorriu me incentivando.
— Eu não vou a lugar nenhum, leve o tempo que for preciso.
— Tá bem!
Perdi a noção de tempo, depois que entramos na sala de Nicolas e
me deitei em uma cadeira incrivelmente confortável, e ali eu fui abrindo
meu coração e meus sentimentos. De início, me senti estranha e exposta,
mas quando dei por mim, me vi aos prantos, me lembrando da minha
infância, adolescência e minha vida adulta. Doeu perceber que, apesar dos
meus avós terem dado o melhor de si para me educarem, a rigidez com que
fui imposta e a forma religiosa com que fui doutrinada, de alguma forma
afetaram a minha visão de mundo. Tornei-me reprimida e alguém que
desejava com todas as forças viver a vida e ser livre – o que de pouco em
pouco eu vinha fazendo –, mas ainda assim, o medo em ser julgada e
apontada como desgosto por qualquer pessoa perante os meus avós, assim
como meu avô falava da minha mãe, gerou uma fobia que eu não sabia que
era possível.
E eu não queria isso, queria viver a minha vida sem pressão ou
julgamentos, e fiquei feliz quando Nicolas disse que estaria disposto a me
ajudar, e que a fobia social que eu sentia não era considerada grave e não
teríamos que recorrer a medicamentos, pois diferente de outras pessoas, eu
ainda conseguia sair e interagir com o meio social, já que a minha
relutância era de início e com acompanhamento adequado, e algumas dicas
de exercício que ele passaria para trabalhar a minha ansiedade e mente, tudo
ficaria bem.
— Tô orgulhoso de você, meu anjo! — Zac entrelaçou nossos
dedos e beijou minha mão.
— Obrigada… — Alisei seu rosto com a minha mão livre. — Por
cuidar de mim!
— Você é mais do que pedi, e farei de tudo para te ver bem e com
um sorriso no rosto.
Nos dias que se seguiram, tive algumas mudanças na minha rotina
com as consultas semanais com o psicólogo. Nicolas estava sendo
extremamente profissional e em uma das minhas consultas, ele permitiu que
Zac participasse e, desde então, meu devasso vinha fazendo parte de todo o
meu tratamento, com dedicação e foco. Muitas coisas haviam mudado, só
não imaginei que em uma manhã de sábado, em meu apartamento, eu
poderia ir do céu ao inferno em tão pouco tempo. Eu tinha acabado de
acordar quando Zac entrou pelo quarto com um sorrisinho de quem estava
aprontando.
— Achei que fosse acordar só na hora do almoço, já estava até
guardando tudo que eu organizei para o café.
Enfiou-se entre as minhas pernas até envolver minha cintura nos
braços que eu me sentia acolhida, e começou a espalhar beijinhos pela
minha barriga, seios, pescoço, rosto e até chegar à minha boca, onde fui
mais rápida e tapei com as mãos.
— Eu não escovei os dentes… — Cruzei as pernas em volta da sua
cintura e ri, quando ele arqueou uma sobrancelha.
— E você acha que isso vai me impedir de te beijar? — Balancei a
cabeça em negativa, porque sabia que não ia. — Te dou cinco minutos para
estar na sala se não quiser perder o que eu e Jacob fizemos para você.
— O que é?
Zac já não estava mais entre as minhas pernas, e da porta ele disse:
— Cinco minutos, meu anjo!
Dei um pulo da cama, ouvindo sua risada, corri para o banheiro e
tentei fazer uma higiene rápida e decente. Na sala tocava uma música suave
que combinava com o dia lindo lá fora, a mesinha que ficava no centro não
passou despercebida com pães, frutas, bolos, tortinhas de morango e flores
coloridas. Estava tudo lindo e cheiroso que levei minhas mãos ao rosto
segurando a emoção.
— É algum dia especial e ninguém me disse nada?
— Me sinto até ofendido… — Meu devasso levou a mão direita ao
peito, chocado. — Já teve algum dia que eu não te mimei?
— Hummm… deixa eu pensar? — Fiz um bico movimentando
minha boca de um lado para o outro. — Acho que o mais mimado aqui é
você.
— Por quê?
Aproximei-me dele e abracei sua cintura, e sussurrei como se fosse
um segredo:
— Porque me come todo o dia.
Zac explodiu em uma gargalhada, me fazendo rir junto, e paramos
quando Jacob latiu chamando a atenção com a sua patinha e uma caixinha
na boca. Pisquei os olhos e olhei para o homem que tinha o meu coração.
— Eu e Jacob compramos esse presente para você, e estamos
ansiosos pela sua resposta.
Agachei-me para pegar a caixinha e esfregar meu nariz no focinho
de Jacob, deixando um beijinho como eu sempre fazia e levantei para abrir
a caixinha. Quando tirei o conteúdo, larguei a caixinha no sofá e segurei o
cordão de ouro delicado em minhas mãos. O cordão era preso a um
pingente vazado de coração que tinha asas e auréola de anjo, e a auréola era
preenchida com pequenos diamantes.
— É-é lindo…
— Esse cordão representa a nós dois e tudo que estamos vivendo,
porque esse coração é o meu e essas asas são você… o meu anjo. Você
roubou o meu coração, e eu não aceito de volta.
— Eu não te devolveria nem que você quisesse… — Minha voz
estava embargada.
— Que bom… porque eu quero muitas coisas com você, e a
primeira delas é saber se você quer namorar comigo. Você quer, meu anjo?
Pulei em seu colo e depois de encher seu rosto de beijos, respondi:
— Que bom que caiu na real que eu sou uma menina tradicional.
— Beijei sua boca sem pressa e totalmente apaixonada. — Claro que quero!
Zac rodou comigo no colo e se jogou no sofá falando para Jacob:
— Já ganhamos o primeiro sim, garotão.
— Como assim?
Jacob latiu e veio correndo para cima de nós dois, nos enchendo de
muitos beijos em forma de lambida. Curtimos o momento por pouco tempo,
porque a campainha começou a tocar de forma estridente, e nos deu um
susto.
— Tá esperando alguém?
— Não.
Deixei meu cordão na mesinha para colocar depois, e do jeito que
estava fui até a porta, preocupada, com Zac logo atrás de mim. Eu, como
sempre, com as minhas camisas largas e ele com a calça de moletom que
ele adorava e sem camisa. Abri a porta e não me preparei para ver as
pessoas à minha frente. Minha avó levou uma mão à boca envergonhada e
meu avô praticamente me fuzilou com a expressão dura, mas o que me doeu
foi a forma como ele balançou a cabeça, se mostrando decepcionado.
— Oi, minha filha! Desculpa incomodar, mas como não tivemos
notícias nos últimos dias, achamos que poderia estar doente novamente.
— Não peça desculpas, Olívia! Já viu que ela está ótima, vamos
embora…
— Afonso, espera! — minha avó tentou intervir. — Não viemos de
outro Estado para não falar direito com a nossa menina…
— Vô, espera… entre, deixa eu falar melhor com vocês, preparar
um café e…
— Não tem nada para ser dito! — O tom da sua voz nos deu um
susto, exceto em Zac que o corpo tremia atrás do meu. — E eu achei que
você pudesse ser diferente da sua mãe. Talvez esse seja o meu fardo por não
ter sido mais rígido.
— Vô, o senhor não está sendo justo… — Eu já não conseguia
segurar as lágrimas.
— Vamos, Olívia!
Ele começou a caminhar sem esperar pela minha avó, que me
abraçou e depositou um beijo na minha testa, secou minhas lágrimas e
pediu desculpas. Os dois sumiram da minha visão, e quando me virei, fui
amparada por Zac que não demonstrava mais nenhuma alegria, e sim uma
frieza que eu nunca tinha visto.
— Vai ficar tudo bem, meu anjo!
— Eu não mereço ser livre à minha maneira? — sussurrei contra
seu pescoço, sentindo seu cheiro que me acalmava.
— Não é questão de merecer, meu amor… ninguém tem o direito
de ditar as regras na vida de ninguém, entendeu? Você é livre para ser e
fazer o que quiser, e a sua liberdade não pode ser baseada na opinião alheia,
porque você fazendo ou não as pessoas irão julgar, porque é mais fácil
apontar o dedo para o próximo do que enxergar dentro de si.
Eu apenas balancei a cabeça e me deixei ser embalada pelo homem
que eu amava, sim… eu o amava e, naquele momento, eu passei a amá-lo
ainda mais.
Capítulo 34
Eu enfrento o mundo por ela!

— Se você não parar de andar de um lado para o outro como um


cachorro raivoso, vai acabar enfartando — James disse sério com a mão no
queixo.
— Ou furando o chão — Phillip disse do bar sofisticado que tinha
na sala de James, preparando três doses de uísque, uma para cada um.
— Caralho… — Passei pela milésima vez a mão no meu cabelo
puto e frustrado com o que havia acontecido no fim de semana. — Vocês
não fazem ideia do quanto foi dolorido vê-la chorando e se sentindo
culpada por nada. Eu, sinceramente, não sei quem é pior. — Ri sem ânimo
algum. — Meu pai que se acha o dono do mundo em meio à sua arrogância
e prepotência, ou o avô de Claire com pensamentos arcaicos e julgamentos
descabidos.
— Só que entre os dois existe uma grande diferença… — Phillip
entregou um copo para James e a outro para mim.
— Que seria?
— Seu pai é sua família e você já está acostumado a lidar, mesmo
não concordando com as atitudes dele; já o outro, além de ser alguém
importante para Claire, é o avô da mulher que você ama.
— O que você pretende fazer? — James me encarava, e eu podia
ver a expectativa por uma resposta que o agradasse, assim como Phillip que
sorvia o líquido âmbar sem desviar os olhos de mim.
Pensei no meu anjo… pensei no quanto ela estava se esforçando e
empolgada com o tratamento contra a fobia social, o quanto vinha se
dedicando e estudando para ser uma pessoa melhor, sempre pensando no
próximo e enfrentando uma luta pessoal que ninguém sabia, nem nossos
amigos e vem o avô da puta que pariu para julgá-la sem motivos. Sem nem
mesmo dar a oportunidade para que ela falasse algo ou até mesmo o
abraçasse. Terminei de beber o restinho do líquido que desceu arranhando a
minha garganta do jeito que eu adorava, ainda mais quando estava puto.
— Se o velho veio da casa do caralho para falar um monte de
merda sem deixar minha garota falar, chegou a minha vez de ir até ele e
situá-lo da realidade.
— Porra… é isso! — Phillip largou o copo na mesa e caminhou em
direção à porta. — Faz tempo que não vamos a Houston.
James fez o mesmo, com o celular nas mãos.
— Cláudio, prepare o jatinho! Vamos fazer um bate e volta no
Texas.
Balancei a minha cabeça rindo. Era como se tivéssemos voltado
aos velhos tempos, mas com uma diferença… nossos corações tinham
donas, e o nome de cada uma delas estava tatuado para sempre.

Chegamos à cidade por volta do horário do almoço, e não


perdemos tempo em ir até a fazenda Evergarden que levou mais uma hora
do nosso tempo. Durante o caminho, meus amigos se mantiveram
imparciais, e quando passamos pelas portas da fazenda que era rodeada de
verde, grande e extremamente bonita, sorri imaginando meu anjo ainda
pequena, vestindo uma jardineira com as sardas mais evidentes e o cabelo
ruivo em contraste com a pele clara, correndo pelo campo e até mesmo
ajudando a cuidar da frutinha que ela tanto amava.
Assim que a enorme SUV parou na entrada, logo os funcionários
mais próximos pararam para olhar, e eu pude ver sua avó abastecendo uma
mesa com jarras de sucos e, logo, saindo da enorme casa, seu avô que parou
e tentou enxergar quem estava visitando a sua propriedade.
Saí do carro e meus amigos fizeram o mesmo, e antes que eu fosse
em direção ao dono do lugar que fechou a cara ao me reconhecer, ouvi:
— Estaremos aqui! — James disse encostando-se no carro. — Só
não bata no velho, seria uma puta dor de cabeça.
— Eu não vou bater em ninguém, e…
— Será que a gente consegue comer uns morangos enquanto isso?
Olhei para Phillip que deu de ombros, e se não fosse uma situação
tão séria, eu estaria rindo.
— Que belo apoio moral!
Ajeitei meu paletó e caminhei em direção à casa. Antes de chegar,
levei o primeiro coice.
— Não temos tempo para engomadinhos. — Seu avô fazia umas
anotações em um caderno e não fez questão de parar.
— Pelo amor de Deus, Afonso! — A avó de Claire secou as mãos
molhadas em um avental e sorriu sem jeito para mim. — Bom dia, meu
filho! Quer um suco? Está bem quente hoje.
— Não, dona Olívia! Muito obrigado, mas o que vim fazer aqui
será bem rápido.
— Ah, claro! Minha menina está na cidade com você? — Doeu em
mim, ver a sua aflição.
— Infelizmente, não! Claire não sabe que estou aqui. — Vi quando
seu avô parou de escrever, mas logo voltou a movimentar a caneta entre os
dedos calejados.
— Ela está bem?
— Com todo o meu respeito, dona Olívia… — Enfiei as mãos
dentro dos bolsos para controlar a raiva que queria me consumir pelas
coisas que eu falaria a seguir. — Depois de não ter tido a oportunidade de
falar e abraçar as pessoas que ela tanto ama, ter sido julgada e ter passado o
fim de semana inteiro chorando… a última coisa que Claire está é bem.
Seu avô se irritou e bateu com a caneta no caderno que segurava.
— Quem você pensa que é para vir daquela cidade que corrompeu
a minha neta e falar o que acha que entende, seu moleque insolente? VOCÊ
NÃO SABE DE NADA! — gritou.
— Afonso, o que é isso? — Sua avó levou as duas mãos frágeis até
a boca.
— O senhor não é o primeiro a me chamar de insolente. — Sorri
para a avó de Claire como um pedido de desculpas por fazê-la passar por
aquela situação. — E eu sou Zac Stewart, namorado da sua neta. E para a
sua informação, Claire não foi corrompida. Ela simplesmente está se
permitindo viver como sempre desejou, ansiou e esperou. Longe de
julgamentos ou dedos apontados para ela, pelo menos foi no que ela
acreditou. Até ser julgada por uma das pessoas que ela mais ama, e pelo que
exatamente?
Seu avô partiu para cima de mim, mas dois funcionários o
seguraram e eu me mantive parado no mesmo lugar.
— Qual o direito que você tem de vir até aqui e me ofender? Você
não faz ideia do que eu fiz para dar a melhor educação, disciplina e até
mesmo doutrinar não só a minha neta como a mãe dela dentro dos
princípios da igreja — cuspiu na minha direção. — Ser decepcionado por
Grace que saiu de casa cedo para viver com o pai de Claire é uma coisa,
agora não por minha neta.
— O senhor faz questão de falar de educação, disciplina e até
mesmo da doutrina dentro da igreja, mas se esquece de uma coisa. Deus é
amor! Ele não faz distinção entre cor, religião ou orientação sexual. Deus
nos ama pelo que de fato nós somos, e não nos julga. — Respirei fundo,
sentindo minha garganta doer. — Claire é o ser humano mais incrível que
eu já conheci na minha vida, sua neta me fez querer amar e ser amado, e se
tornou o anjo que me mostrou um mundo novo. E se o senhor tivesse
parado para ouvi-la e abraçá-la, saberia que devido à forma que ela foi
criada, Claire adquiriu uma fobia social e está em tratamento.
— Como? — A avó da minha garota levou as mãos à boca e
começou a chorar copiosamente.
— Fobia? Que história é essa? — seu avô perguntou com os olhos
marejados.
Respirei fundo, e segurei com cuidado a mão de sua avó que veio
até meu peito.
— O senhor sabe o número da sua neta. Ligue para ela e se não
quiser visitá-la, chame-a para vir até aqui e ao invés de julgá-la por querer
ser feliz e viver a vida, apenas escute.
Quando virei para ir embora, quase tive um treco quando dei de
cara com James e Phillip tão próximos de mim. Pela forma como me
olhavam, eu sabia que tinham escutado tudo, mas cabia à minha ruivinha
contar e não a mim. Quando estávamos perto do carro, ouvi a voz de sua
avó correndo em nossa direção com mais dois funcionários atrás.
— Zac, meu filho… — Pegou uma das sacolas e me entregou. —
Leve para a minha menina, por favor! Obrigada por hoje, você fez o que
ninguém teve coragem. — Me abraçou sem que eu esperasse e eu retribuí
com carinho beijando sua cabeça. — Sei que minha menina será muito feliz
e meu coração não me engana.
— Não precisa agradecer!
Quase caí duro para trás quando avó de Claire virou para os meus
amigos e disse primeiro para Phillip e depois para James:
— Meu filho, assim que chegar em casa, coloque as garrafinhas de
suco e as caixinhas de morango na geladeira. Como foram colhidos hoje, irá
durar uma semana e você, meu filho… como sua esposa está grávida,
depois que saciar a vontade, congele os morangos e faça pelo menos duas
vezes na semana uma vitamina de morango. É uma fruta rica em vitamina
C.
Os dois agradeceram e assim que entramos no carro, olhei de um
para o outro:
— É sério isso?
— O quê? — James abriu uma caixinha para pegar um morango.
— Irmão, antes de o velho gritar com você e ameaçar te bater, eu
fiz amizade com dois funcionários e falei dos morangos — Phillip disse,
dando de ombros e abrindo uma das garrafinhas de suco. — Caralho! Que
delícia, não se esqueça de me chamar das próximas vezes que vier ao Texas.
Balancei a cabeça rindo para a cena à minha frente, mas senti meu
coração apertado e fiz algo que há muito tempo eu não fazia, pedi a Deus
que tocasse no coração do avô de Claire e o fizesse refletir sobre suas
atitudes, e não magoasse alguém tão especial como o meu anjo… a menina
de olhos verdes puros que eu amava.
Capítulo 35
O perdão cura a alma e o coração!

Quando retornamos, já era noite em Nova York, e como eu não


queria construir um relacionamento à base de mentiras, decidi contar para
Claire sobre a minha ida até Houston. De início, ela ficou aborrecida, mas
depois me encheu de beijos e carinho agradecendo o que eu tinha feito e em
meio ao choro, ela explodiu em uma crise de risos sobre a reação de seu avô
e de saber que durante a confusão, James e Phillip pediram morangos para
os funcionários e ainda conquistaram o coração da sua avó.
— E eu que pensei que só as minhas amigas fossem loucas, e olha
aonde eu fui me meter? — Ela tentou passar por mim, mas fui mais rápido
passando minha gravata por sua cintura e a puxando para o meio das
minhas pernas.
— E aonde você foi se meter? — perguntei, enfiando e esfregando
meu nariz entre os seios pequenos e redondos que eu amava e me deliciava.
— Meu namorado, chefes e amigos são ainda piores. — Riu,
mordendo a ponta do meu nariz.
— Eu só quero te ver bem e com um sorriso no rosto, meu anjo.
— Eu sei, meu amor… todos os dias agradeço a Deus por ter
conhecido você, apesar de ter me irritado bastante no início.
— Você já me amava e não sabia… — provoquei.
— Além de devasso, agora é convencido? — Claire revirou os
olhos e eu ri.
— Tenho esse direito, já que sofri o pão que o diabo amassou para
conquistar seu coração.
— Olha, Zac Stewart… você não presta! — Roubou um selinho e
me empurrou. — Vou tomar um banho que é a melhor coisa que eu faço. —
Na porta do banheiro, a diabinha virou para mim com um sorriso no rosto e
disse: — Que sorte a sua ter me contato, porque senão estaria ferrado.
— Como assim?
— Minha mãe já tinha me ligado…
— E você não me disse nada?
— Esperei você contar primeiro. — Piscou para mim.
Fechei e abri minha boca sem acreditar, e quando encarei a
safadinha à minha frente, dei o primeiro passo ouvindo seu gritinho em
meio à risada, quando ela sumiu dentro do meu banheiro.

De madrugada, meu celular começou a tocar sem parar, e além de


acordar sonolento e assustado, me acalmei ao ver que Claire e Jacob
estavam aninhados um no outro na cama. Sem verificar quem era, atendi.
— Alô?
— Mano, está em casa?
Afastei o celular do ouvido para ter a certeza de que era realmente
meu irmão que me ligava naquele horário. Não tínhamos esse hábito, só
fazíamos isso quando tínhamos feito merda ou quando tinha dado merda.
— Sim, por quê? Aconteceu alguma coisa?
— É nosso pai…
— O que tem ele? — perguntei, me sentando na cama, e meu
movimento brusco acabou acordando Claire que levantou tão assustada
quanto eu. Na mesma hora, passei a mão em seu rosto e pedi desculpas.
— Ele, ele…
— Caralho, Joseph… fala logo se não quiser que eu tenha um
treco.
— Ele sofreu uma convulsão em casa, e assim que o trouxemos
para o hospital, descobrimos que ele estava enfartando…
— E? — Por mais que eu não tivesse um bom relacionamento com
Edgar Stewart, fiquei com medo da resposta.
— Está na sala de emergência. — Meu irmão respirou pesado. —
Sei que vocês vivem se estranhando, mas a gente é família, porra… queria
que estivesse aqui.
— Me manda o nome do hospital por mensagem que eu só vou
colocar uma roupa. — Finalizei a ligação e passei as mãos no meu cabelo.
— O que aconteceu? — Meu anjo me encarava com preocupação.
— Meu pai passou mal em casa e a única notícia que minha família
tem era que ele estava enfartando e agora está na sala de emergência.
— Meu Deus! — Claire levou as mãos à boca por alguns
segundos, depois pulou da cama e correu até o armário. — Anda logo,
amor. Coloca uma roupa e vamos.
— Você vai?
— Claro que vou! Não vou te deixar sozinho, é seu pai.
Tentei controlar a respiração para não desabar. Claire realmente era
especial, mesmo depois de ter sido humilhada por meu pai, ela
simplesmente passou por cima de tudo e estava disposta a ir comigo, para
dar suporte para alguém que talvez não merecesse.

Passamos pela porta da sala de espera, e as primeiras pessoas que


eu vi foram minha cunhada que segurava a mão da minha mãe que parecia
ter envelhecido anos, mesmo depois de algumas cirurgias plásticas, e meu
irmão andando de um lado para o outro. Assim que nos viram, meu irmão
foi o primeiro a se aproximar, e me puxar para um abraço e logo fez o
mesmo com Claire.
— Alguma notícia? — perguntei, encarando os três.
— Até agora nada. — Joseph passou a mão pela barba baixa e
coçou. Era nítido ver seu cansaço.
— Meu amor… — Claire me chamou e notei quando três pares de
olhos focaram na nossa interação. — Vou comprar uma água, quer alguma
coisa?
— Não, meu anjo, obrigado! — Beijei sua testa.
— Vocês querem alguma coisa? — virou para minha família e
perguntou com gentileza.
— Ar puro e um café. — Minha cunhada levantou em um pulo. —
Se importa se eu for com você?
— Claro que não, Nora.
Mal as duas saíram pela porta, minha mãe perguntou:
— Então, é sério?
— Chegou a duvidar em algum momento?
— Não precisa estar sempre na defensiva, meu filho. Eu só quero
que seja feliz.
— Pode ter certeza que estou e serei ainda mais, quando ela aceitar
casar comigo.
— Nossa… — As lágrimas desciam pelos olhos tão castanhos
quantos os meus. — Fico muito feliz, e tenho certeza que seu pai também
ficará.
— É… meu caçula cresceu! — Meu irmão me puxou para um
abraço, e disse no meu ouvido o quanto estava feliz.
Na hora seguinte, ficamos calados e aguardando, enquanto pela
janela o dia dava sinal de que logo dominaria o céu, um médico apareceu e
explicou que meu pai estava fora de perigo, e disse que apesar de ter sido
um susto, algumas coisas precisariam mudar. Hábitos e alimentação, e
algumas medicações, caso não quiséssemos passar por aquela situação
novamente. Após dar as informações, as visitas foram liberadas. Minha mãe
foi a primeira e depois meu irmão com a minha cunhada, e quando eu
pensei em ir embora, meu irmão segurou em meu braço, sendo observado
por minha mãe que parecia esperançosa.
— Nosso pai quer falar com você.
— Ele já está fora de perigo, Joseph.
— Zac? — Meu anjo tocou em minhas mãos com as suas pequenas
e delicadas. — Família, perfeitos ou não… vai! Eu vou estar bem aqui
quando você voltar.
Respirei fundo e segui em direção ao quarto que meu irmão
indicou. Assim que entrei e o vi na cama, tão debilitado e frágil, me
aproximei aos poucos.
— Eu sei quem te convenceu a vir. — Tossiu um pouco, e quando
fiz menção de pegar a garrafinha de água, ele fez um gesto vago com a mão
me impedindo. — Não precisa, porque apesar de estar fraco agora, posso
muito bem pegar minha água.
— Se está dizendo. — Cruzei os braços.
— Sei que só está aqui porque a menina te pediu… — Meu pai
encarava o teto, e falava reflexivo. — Você sempre faz questão de dizer que
não se parece em nada comigo, mas você é uma cópia minha quando eu era
mais jovem, a diferença é que seu coração se mantém bondoso, amoroso e
humilde, mesmo… — Ele parou por um momento, antes de continuar: —
Com a minha ausência e de sua mãe, que infelizmente seguimos os passos
de nossos pais. Tentando suprir amor, com bens materiais. Zac… —
Quando seus olhos encontraram os meus, senti toda a armadura em mim se
partir. Deus sabia o tamanho da mágoa que eu carregava em meu peito, mas
pela primeira vez em minha vida, eu enxerguei remorso e amor em meu pai.
— Se eu pudesse voltar atrás, eu voltaria. Como não posso, gostaria de
aproveitar a segunda chance que estou recebendo da vida e poder ser
alguém melhor, começando pelos meus filhos.
Cansei de ser forte, e deixei que as lágrimas descessem
descompassadas e ligeiras por meu rosto. Caralho… todos mereciam uma
segunda chance, não?
— Evite ficar falando, e quando estiver fora deste hospital… —
Segurei na mão que ele me oferecia, e senti seu aperto forte e desesperado.
— A gente conversa, pai. Tudo bem?
— Eu te amo, meu filho, e vou respeitar seu tempo, só peço que
me perdoe.
— Se estou aqui, é porque eu te perdoo.
— Obrigado, meu filho!
— Vou chamar a minha mãe de novo, ela está louca pra ficar com
você.
— Só me faça um favor antes?
— Sim?
— Chame a menina… preciso pedir perdão a ela e uma nova
oportunidade para me conhecer.
Saí do quarto e quando falei com Claire, vi surpresa e depois a
emoção dominá-la. Fui com ela até o quarto, mas me mantive do lado de
fora e esperei que meu pai estivesse sendo sincero, e quando tentei espiar,
me surpreendi ao vê-lo aos prantos e abraçando minha garota. Edgar
Stewart não era de abraços, mas foi mais um que se encantou com o anjo à
sua frente.
Um mês depois…

— Acabei de chegar!
— Respira fundo e conta até dez, meu anjo! Não se esqueça de que
é a sua família e apesar de tudo, eles te amam e, mesmo não estando ao seu
lado, eu estou em pensamento e no seu coração.
— Por que mesmo você não veio, hein?
— Porque é o seu momento com a sua família, e que eu me
lembre… você praticamente me obrigou a ir em um almoço da minha
família.
Ri com a sua reclamação, e tentei controlar a minha respiração.
— Não largue esse celular, tá bem?
— Não vou. Estarei bem aqui, e se precisar, eu vou até você. Te
amo, meu anjo!
— Te amo, meu devasso!
— Porra… meu pau acabou de ficar duro e algumas senhorinhas
acabaram de ver.
— Zac… seu pervertido!
Finalizei a ligação ouvindo a risada gostosa que causava as
melhores sensações em mim, e comecei a caminhar em direção à entrada da
enorme casa da fazenda. Desde a visita inesperada dos meus avós, eu não os
via, mas ainda falava por telefone com a minha avó e meus pais, exceto
meu avô. Como amanhã seria seu aniversário, mesmo com toda a situação,
eu não poderia deixar de vir. Quando passei pela porta de entrada, havia
uma música baixinha tocando e o cheirinho de bolo me levou em direção à
cozinha. Encostei-me no batente da porta e sorri emocionada, vendo minha
mãe abraçando a minha avó pelas costas e balançando o corpo ao ritmo da
música.
— É pedir muito que minha menininha pare de crescer?
— Pai! — Sorri, virando para ele e praticamente me joguei em
seus braços. — Que saudade! E é pedir muito que meu pai pare de ficar tão
bonito?
— Eu já não sei mais o que faço com tanta mulher de olho, o que
me acalma é saber que ele é meu… — Minha mãe se juntou ao abraço,
enquanto minha avó a repreendia e ria. — Sua avó está enchendo esta casa
com as suas comidas preferidas.
— Tudo pela minha menina!
Foi impossível não chorar, com o cheirinho de lar e aconchego.
Perfeitos ou não, errados ou não, eu os amava com todas as loucuras e
nossas diferenças familiares.
— Onde está meu avô? — perguntei sem jeito.
— Aquele velho turrão?
— Grace! — Minha avó deu um tapinha em minha mãe.
— Ai… não falo por mal, é meu jeito de dizer que o amo.
— E de tirá-lo do sério.
— Também… — Minha mãe riu para minha avó e piscou para
mim. — Tá lá no campo, meu amor. Vai lá… ele errou muito feio, mas te
ama com a própria vida. Nós dois não iremos mudar um com o outro, mas
com você é diferente. Você é nossa luz!
Minha avó passou as mãos pelo rosto secando as lágrimas e me
entregou uma cestinha com suco, café e bolo. Peguei e fui direto ao lugar
que eu sabia que o encontraria. Nas divisões dos campos, analisando o solo
para os próximos plantios.
— Não sei se o senhor percebeu, mas logo o sol vai se pôr e sei
que gosta de tomar seu café admirando a troca do dia pela noite, e agradecer
por mais um dia.
Quando seus olhos encontraram os meus, mordi meu lábio inferior
tentando controlar a emoção, com a culpa e a saudade que eu via refletir
através do seu olhar. Seus olhos tão verdes quanto os meus, diziam mais
que mil palavras. Senhor Afonso começou a limpar as mãos com o lencinho
que ele carregava para todos os cantos.
— Chegou tem muito tempo? — Pigarreou para controlar a voz
embargada.
— Não, senhor… cheguei não faz meia hora. — Peguei um
morango e girei entre meus dedos. — Animado para seu aniversário,
amanhã?
— Não estava até te ver… — Suspirou. — A idade vai chegando e,
no meu caso, parece que me perdi e me tornei ignorante. Foi preciso aquele
moleque insolente do seu namorado chegar aqui todo engomadinho para me
fazer perceber que eu estava magoando o meu bem mais precioso… — Seu
queixo tremeu e rapidamente, ele tratou de secar com o dorso da mão as
lágrimas que caíam. — Achei que estava acertando, e não vi que as minhas
atitudes estavam ferindo não só a você, mas a maluca da sua mãe… —
Bufou e eu acabei rindo. — E a coitada da sua avó. Aquela mulher
realmente me ama.
— Vô…
— Não, minha neta! Me deixa terminar, sim? — Concordei,
deixando as lágrimas correrem soltas. — Deus é amor e não inibe seus
filhos, e eu, temente à Sua palavra de forma controversa, tentei podar suas
asas e, por isso, quero pedir o seu perdão e pedir para que tenha um pouco
de paciência com esse velho rabugento aqui.
— Ah, vô… como não te perdoar? Como o senhor disse: Deus é
amor! E, o perdão cura a alma e o coração, aprendi isso com o senhor.
Lembra?
— Eu te amo, minha neta! Obrigado por me permitir sorrir de
novo.
— Te amo, vô! E obrigada por sempre me ensinar o caminho do
bem.
Errar é humano, mas perdoar é divino. Como não perdoar alguém
que errou, tentando acertar?
Epílogo
Um ano depois…

Eu tinha certeza de que a diabinha com carinha de anjo sentia


prazer em me torturar, ou gostava de testar meu coração. O tempo estava
passando e, com ele, a ansiedade em meu coração, cheguei até a agendar
umas consultas com Nicolas que morria de rir a cada vez que eu aparecia.
— Caralho… eu juro que vou enlouquecer!
— Quer um calmante, irmão? Eu posso receitar algo bem leve.
— Virou piadista, além de psicólogo?
— Você está exagerando… — Nicolas sorriu. — Claire te ama, e
tudo é questão de tempo.
Respirei fundo, passando as mãos pelo meu rosto, mas acabei
sorrindo. Meu coração gritava de amor e orgulho pela minha ruivinha…
pelo meu anjo. Claire vinha se destacando ainda mais na empresa, depois
que foi promovida a gerente de “Novos Negócios” – o que rendeu muita
comemoração e três mulheres incríveis e extremamente bêbadas, um dia
que entrou para a história –, e ao que tudo indicava, em breve, seria
promovida à diretora. Seu tratamento com Nicolas evoluiu tanto, que meu
amigo acreditava que logo as consultas semanais se tornariam mensais, até
não serem mais necessárias. Só de acompanhar de pertinho o seu
desabrochar, me fazia agradecer todos os dias pelo homem sortudo que eu
me tornei.
O problema era que nossos amigos já haviam se casado, a nossa
princesinha Liv nasceu e cada dia encantava mais os papais, James e Sara, e
a todos ao redor. Bela e Phillip também aguardavam o nascimento da sua
princesinha, acreditem, era uma menina também e se chamaria Ava. E tudo
que eu queria era poder casar e construir uma família com meu anjo ruivo,
que quando eu falava do assunto desconversava e dizia que precisava de
tempo para organizar a vida.
— Eu só quero poder casar com ela, construir uma família e morar
debaixo do mesmo teto. É pedir muito? Eu sou louco por aquela mulher, e
por amá-la tanto, sofro aqui nas suas consultas, mas não a pressiono.
— O nome disso é parceria e amor.

Quando cheguei em casa, fui recebido pela alegria contagiante de


Jacob, que assim como eu, andava impaciente e sentia falta da ruivinha
quando ela não podia dormir com a gente, o que naquele dia não era o caso.
— Sentiu saudade? — Meu filho latiu e deu um pulo girando no
alto. Agachei-me à sua frente, e segurei sua cabecinha esfregando meu nariz
no seu focinho. — Pra estar tão feliz assim, é porque ela já chegou, certo?
— Recebi mais um latido como resposta e seu rabinho abanando
descontrolado.
Entrei no quarto e fiquei fascinado com a mulher que se olhava no
espelho, mordendo os lábios de forma despretensiosa e pensando se a roupa
que usava estava boa ou não.
— Se minha opinião vale de algo, você está perfeita e posso te
contar um segredo?
Claire virou para mim com as mãos para trás, me dando uma visão
ainda melhor da sua beleza. Ela estava com um vestido branco que
modelava todo o seu corpo, de alças finas e com um decote que se
encaixava perfeitamente aos seios que cabiam nas palmas das minhas mãos,
a cintura era um pouco mais marcada e o comprimento parava no meio das
suas coxas. O cabelo estava todo preso para trás em um rabo de cavalo, a
maquiagem leve e nos pés uma sandália prata. Um anjo que tinha meu
coração na palma da mão.
— Que seria?
— Acho que me apaixonei pela milésima vez, e sinto que vou me
apaixonar muitas e muitas outras milhares.
— Será que estamos em competição para ver quem se apaixona
mais?
Não resisti e tomei sua boca para mim, sem pressa, mas com muito
desejo e paixão. Eu a amava a tal ponto, que meu coração sempre errava as
batidas e começava do zero.
— Provavelmente, você vai perder… — Sorri. — Vamos pra
onde?
— Queria dar uma volta. Jantar e depois, quem sabe, beber um
pouco? — Suspirou.
— Que foi?
— As meninas não poderão ir. Sara disse que Liv não está muito
bem, mas pediu para não nos preocuparmos, porque é só uma dor de
barriga. — Éramos padrinhos de Liv, assim como Bela e Phillip e qualquer
coisa eu já ficava preocupado. E tinha certeza de que ficaria da mesma
forma com Ava, assim que ela nascesse. — E Bela está enjoada o dia todo.
— Passou as mãos pelo meu peito e sorriu, o sorriso que me desmontava.
— Pensei em irmos nós dois. O que acha?
— Só preciso de vinte minutos. — Roubei um selinho. — Já sabe
aonde quer ir?
— Que tal na boate de Jason?
— Perfeito! Vou mandar uma mensagem para ele no caminho.
Como era de se esperar, o lugar estava lotado e como de costume
passamos direto. Depois que jantamos, subimos para o terceiro andar, mas o
que me surpreendeu foi que Claire não quis ir para a área vip, e sim direto
para a pista de dança.
— Quer beber alguma coisa, meu anjo?
— Uma água.
— Você disse que queria beber, e no jantar só tomou um suco e
agora água?
— Quero segurar um pouquinho antes de ficar bêbada. — Eu ri, e
ela também.
Em um determinado momento, Claire tirou a cerveja da minha mão
e colocou em cima do balcão do bar junto com a água, entrelaçou nossos
dedos e me puxou para o centro da pista de dança. Suas mãos suavam e
apertavam as minhas com força, seu olhar brilhava com as lágrimas
contidas em meio ao sorriso de alegria, força e libertação, enquanto
“Diamonds de Rihanna” tocava em alto e bom som, me arrepiando com a
cena à minha frente. De fato, meu anjo brilhava irradiando luz como um
diamante.
(…) You´re a shooting star I see
A vision of ecstasy
When you hol me, I’m alive
We’re like Diamonds in the sky (…)

Claire balançou a cabeça, fechando os olhos e se permitindo


envolver pela música cantando e dançando, do jeito que ela sempre desejou.
As pessoas ao nosso redor que pulavam e dançavam estavam alheias ao que
acontecia, mas eu sabia de tudo que havia acontecido para que ela chegasse
até ali e que o processo não havia sido fácil, mas anjos como ela, sempre
viriam à terra para salvar alguém e ela havia me salvado. Com suas costas
contra o meu peito, senti seu corpo tremer e quando a virei de frente para
mim, seu choro era de alegria.
— Eu consegui!
— Você conseguiu, meu anjo!
Envolvi sua cintura e a tirei do chão, girando com ela no meio da
pista, sem me importar com os olhares.
— Eu consegui, amor! — Seus braços envolveram meu pescoço, e
seus lábios buscaram os meus com urgência. — Casa comigo?
— O QUÊ? Porra… você quer me matar do coração? — A
diabinha explodiu em uma gargalhada. — Óbvio que eu caso, mas isso não
é justo!
— Por que não?
— Porque o anel que eu comprei está em casa.
— Então, por que não vamos pra casa e você o coloca no meu
dedo, e depois me come gostoso?
— Ah, meu anjo… você não vai dormir nem tão cedo.
— Dormir é para os fracos!
Nunca saí tão rápido de um lugar, como naquele dia.
Três meses depois…

O dia do nosso casamento havia chegado e a sensação que eu tinha


era de que meu coração sairia pela minha boca. Meu avô alisava meus
braços, tentando me acalmar.
— Minha filha, você está linda! E está tudo do jeitinho que você
sonhou, e aqueles que estão ali fora, são pessoas que você ama e que te
amam, e desejam a sua felicidade.
— Eu sei, vô… só não imaginei ficar tão nervosa!
— Vai passar assim que você der de cara com aquele moleque
insolente.
— Senhor Afonso!!! — Ele riu, e eu o acompanhei. Apesar da
implicância, depois do que Zac fez, meu avô passou a admirá-lo.
A mãe de Bela, a tia Maitê, havia feito meu vestido assim como fez
os das minhas amigas. Tive a oportunidade de conhecê-la, como toda a
família de Bela e ela não pensou duas vezes, antes de me presentear com o
lindo vestido que eu usava, que chamou carinhosamente de “A liberdade de
um anjo”, depois que ela ouviu um pouquinho da minha história. O vestido
era todo branco, com um corpete trabalhado em renda floral, onde uma
parte das flores descia pela saia de tule, com as alças finas e mangas caídas
e levemente cheias que lembravam as asas de um anjo. Meu cabelo estava
solto em grandes ondas e com uma tiara que parecia pontos de luz. A
maquiagem era leve, meus olhos estavam um pouco destacados, e minha
boca com o tom natural.
A cerimonialista se aproximou e disse que estava na hora. Passei
meu braço pelo do meu avô que deu tapinhas de leve na minha mão. – Meu
pai disse que era mais do que justo que meu avô fosse o responsável por me
levar até o altar, já que ele era tão pai quanto ele. – Assim que “Hallelujah
de Leonard Cohen” começou a tocar de forma instrumental e eu dei meus
primeiros passos, não houve uma só pessoa presente que não se
emocionasse. Era como se todos, e inclusive a natureza, com os raios de sol
que tocavam o campo de morangos que estava mais belo que nunca,
abençoasse o nosso casamento… a nossa união. E no instante que meus
olhos encontraram os dele, do homem que havia levado tudo de mim e que
também me deu tudo aquilo que sempre desejei e sonhei, eu sorri e não
pude mais segurar as lágrimas. Meu devasso estava lindo em um terno todo
cinza e o cabelo bagunçado do jeito que eu amava, quando suas mãos
tocaram as minhas, não enxerguei mais nada e nem ninguém.
— E ainda tem gente que diz que sou louco, quando digo que vejo
um anjo todos os dias… — sussurrou no meu ouvido, me fazendo amá-lo
ainda mais.
Nossa cerimônia foi romântica, linda e divertida, mas o ponto alto
foi quando Jacob entrou com um terninho igual ao de Zac, trazendo as
alianças. Nosso garotão arrancou muitos suspiros e risadas das pessoas
presentes, quando latiu pedindo beijo e ficou observando a cerimônia até o
fim. Depois do tão esperado “sim”, meu marido me convidou para dançar e
eu achei que seria a hora de contar algo que eu vinha guardando comigo.
— Você me corrompeu tanto, que agora vai precisar aguentar as
consequências. — Passei minhas mãos por seu pescoço, e o puxei para um
selinho.
— Como assim? — Ele arqueou uma sobrancelha. — O que
fizemos de manhã foi muito rápido, não valeu.
— Seu pervertido! — Comecei a rir. — Você não tem jeito, né?
— Você me ama assim!
— Sim, e não quero que mude absolutamente em nada. — Afastei-
me e peguei suas mãos, encostando-as em minha barriga. — Você disse que
sempre quis um anjo, agora terá dois.
Zac olhou para as minhas mãos sobre as suas, piscou algumas
vezes e quando entendeu do que eu falava, se ajoelhou à minha frente, me
abraçando e encostando a testa em minha barriga, beijando e acariciando.
— Ah, meu anjo… muito obrigado! — Meu marido levantou
emocionado e segurou meu rosto entre as mãos. — Eu soube que Deus me
amava no instante em que você entrou na minha vida, agora eu sei que Ele
me ama pra caralho. Minha nossa… como eu te amo!
— Eu também te amo, meu devasso!
Sim… Zac Stewart me fez amá-lo e odiá-lo, foi meu pecado e
também minha salvação. Não só me ajudou a enxergar, como me incentivou
a viver tudo que havia “por trás dos meus desejos”, sem julgamentos e de
coração aberto. Ele tinha uma fama que despertou o meu interesse e sem
que eu percebesse, além de se tornar o amor da minha vida… se tornou a
minha perdição de devasso!
Agradecimentos
Primeiramente... Muito obrigada meu Deus por ser tão maravilhoso
comigo!
Se me contassem que quase um ano após a minha primeira Bienal
de SP – que foi um caos maravilhoso – eu teria finalizado mais uma
história, após um longo período sem escrever com o coração apertado, triste
e repleto de saudade, devido às loucuras da vida adulta... Eu iria me
emocionar como agora, eu acreditaria? Sim... Com certeza, sim. O tempo
às vezes machuca, mas ele também cura. E poder concluir essa história que
foi tão especial pra mim, onde eu refleti sobre a vida, ri e me emocionei,
não tem palavras para descrever o sentimento de alegria que sinto nesse
momento. Zac e Claire reacenderam em mim o amor pela escrita, o amor
por contar histórias. E, eu serei eternamente grata.
A minha família... Sou privilegiada por ter vocês sempre me
incentivando e apoiando. Impossível não me sentir grata e amada, com tanta
torcida pelos meus sonhos e projetos. Esse agradecimento sempre estará
presente a cada nova história contada. Amo vocês!
Aos meus amigos que são parte de mim e da minha família, muito
obrigada por cada grito, sorriso, choro e torcida em cada uma das minhas
conquistas. Seja ela pequena ou grande, com vocês... É sempre uma festa!
<3
E, por último e extremamente especiais para mim... Quero
agradecer a você leitor (a), as minhas amigas autoras: Ágatha Santos, Mari
Sales, Julia Fernandes, Jess Bidoia, Márcia Lima e Evy Maciel, e a Path
Media que não desistem de mim, me incentivando e sacudindo com sua
torcida, apoio e carinho. Muito... Muito obrigada! Vocês são o meu
combustível de alegria... Vocês são MARA!
Ah... Aproveito para agradecer com muito carinho a você que não
me conhecia e leu essa história, me dando a oportunidade de mostrar um
pouquinho do meu trabalho. Espero ter conquistado um espacinho em seu
coração, mas se por algum motivo isso não tenha acontecido ou o livro não
tenha sido o que você esperava... Fico na torcida para que o próximo tenha
mais sorte. Muito obrigada! ;)
Sobre a Autora
Lamara Oliveira é carioca, formada em Publicidade e Propaganda,
e desde pequena sempre esteve no meio da arte. É apaixonada por moda, fã
de animes, adora uma cervejinha gelada com os amigos e os momentos em
família. Sonhar sempre fez parte de quem ela é, e foi através dos livros que
percebeu que poderia viver não só o amor, mas a vida de várias formas
diferentes.
Após um tempo afastada da carreira literária, ela retornou com o
relançamento de “Por Trás dos Seus Olhos” seu primeiro livro, repaginado
e ainda mais apaixonante que antes, agora intitulado “Uma Perdição de
CEO: Por Trás dos Seus Olhos”, o primeiro livro da série “Perdição”.
Escrevendo sobre o amor e a vida, espera conquistar muitos
corações com sua escrita, alegria e bom humor.

Instagram: https://www.instagram.com/lamaraoliveira/
TikTok: https://www.tiktok.com/lamara_oliveira/
Facebook: https://www.facebook.com/lamara.oliveira.1/
Amazon: https://amzn.to/46sOZxG

Você também pode gostar