Dissertação Kamyla Da Silva Pereira Amorim Versão Final Corrigida

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Cultivo ex situ de Propágulos de Rhizophora mangle L.

em
diferentes concentrações salinas

Kamyla da Silva Pereira Amorim

Dissertação de Mestrado em Biodiversidade Tropical

Mestrado em Biodiversidade Tropical

Universidade Federal do Espírito Santo


São Mateus, Abril de 2015
Cultivo ex situ de Propágulos de Rhizophora mangle L. em diferentes
concentrações salinas

Kamyla da Silva Pereira Amorim

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical da


Universidade Federal do Espírito Santo como requisito parcial para a obtenção do grau
de Mestre em Biodiversidade Tropical.

Aprovada em:

______________________________________________________
Prof. Dra. Mônica Maria Pereira Tognella - Orientadora, UFES

______________________________________________________

Prof. Dra. Andréia Barcelos Passos Lima Gontijo - Co-orientadora, UFES

______________________________________________________
Prof. Dr. Adriano Alves Fernandes - Co-orientador, UFES

______________________________________________________
Prof. Dr. Mário Luiz Gomes Soares, UERJ

______________________________________________________
Prof. Dr. Antelmo Ralph Falqueto, UFES

Universidade Federal do Espírito Santo


São Mateus, Abril de 2015
Nunca Pare de Sonhar

“Nunca se entregue
Nasça sempre com as manhãs
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar
Fé na vida, fé no homem, fé no que virá
Nós podemos tudo, nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será”.
Gonzaguinha
Agradecimentos

Agradeço a Deus e a espiritualidade por tudo o que vivi até aqui, por todos os obstáculos
e conquistas, e pelo conforto de saber que nunca estive só.
À minha orientadora Prof. Dra. Mônica Maria Pereira Tognella, por enfrentar comigo
o desconhecido e me apoiar sempre que necessário, meu muito obrigada de coração.
Aos meus coorientadores Prof. Andréia Barcelos Passos Lima Gontijo e Prof. Dr.
Adriano Alves Fernandes por todo o apoio concedido.
À minha querida mãe Gildete Maria da Silva pelo amor incondicional, e por aguentar a
minha longa ausência mesmo morando a duas quadras de distância.
A todos do Laboratório de Gestão em Manguezais (GEMA) por todo o apoio. Louise,
Neilson, Arthur, Dielle, Jormara, Patrick, Amina, Ully e Laís muito obrigada por me ajudar nas
muitas etapas do cultivo. Louise e Neilson, obrigada pela disposição sem fim, imensa boa
vontade e sempre me colocar pra cima. Arthur sempre disposto a ajudar com um sorriso no
rosto, muito obrigada pelos momentos de conforto. Karen muito obrigada por fazer o mapa de
estudo.
Ao Prof. Dr. Antelmo Ralph Falqueto coordenador do Laboratório de Ecofisiologia
Vegetal (LEV) por ceder o equipamento para o cultivo, meus sinceros agradecimentos. Aos
estagiários do LEV Rodrigo Fantin, muito obrigada pela ajuda, até pra lavar as caixas gerbox
que no final acabei não utilizando rs, Jadson, Lourdes e Thaís muito obrigada pelo apoio
logístico e a Verônica pela paciência em esperar pela germinadora.
Ao Prof. Dr. Luís Fernando Tavares de Menezes coordenador do Laboratório de
Restinga por ceder o equipamento para o cultivo, meu muito obrigada.
Aos professores Vander Calmon Tosta e Ana Paula Cazerta Farro por cederem a capela
de fluxo laminar, e a Luana, Geórgia e Maria Paula por me ensinarem a manuseá-la.
Ao Prof. Ivoney Gontijo coordenador do Laboratório de Análises Agronômicas (Lagro),
e aos técnicos por todo o apoio, Joel e Francisco, muito obrigada por me ajudarem com a
elaboração da solução estoque de todos os macro e micronutrientes.
Ao técnico do Laboratório de Manipulação Montanha, Ernesto Brunoro por ceder toda
a água utilizada no experimento, eu nem tenho palavras para agradecer.
Aos Programas de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical e em Agricultura Topical
por fornecer as instalações necessárias para a execução do experimento.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela
concessão da bolsa de estudos.
Tem certas pessoas que tem o costume de ir guardando o “ melhor” para o final, bem,
digamos que eu guardei esse finalzinho pra agradecer em especial a oportunidade de ter
conhecido pessoas tão maravilhosas como a Luana Nara, Lívia Pires Kaique, Maria Paula Rozo
e Ana Luíza Receputi que estiveram comigo nesses dois anos de mestrado, como se não
bastasse tudo que eu adquiri nesses dois anos, de quebra eu ganhei quatro grandes amigas,
daquele tipo raro, que a gente leva pra vida toda, agradeço a vocês por todas as conversas,
gargalhadas sem fim, e pela extensa contribuição ao meu experimento desde a coleta dos
propágulos até as sugestões e trocas de ideias.
Ao Jefferson Bugoni, querido amigo que conheci no Congresso Nacional de Botânica
numa empreitada no início do mestrado e que também colaborou gentilmente com ideias para
o experimento.
A meus amigos queridos que aturaram a tagarelice sem fim sobre o experimento, e
também entenderam a minha ausência na finalização da dissertação, Cristiano (Biluda),
Amanda, Carla, Juliana, Camila, Keysi, Tia Maria e Tio Zé Carlos, obrigada por todos os
momentos, mensagens e carinho.
E, por fim a ele, que foi o princípio dessa realização, meu querido e amado esposo
Fernando Lopes Amorim, que tanto incentivou o meu ingresso no mestrado, por todo apoio,
paciência, dedicação, conforto, boa vontade, disposição, compreensão e auxílio, eu
sinceramente te agradeço por tudo o que você fez e faz por mim.
À todos que de alguma forma contribuíram para esse projeto estando encarnados ou não,
meu muito obrigada.
Sumário
Apresentação ........................................................................................................................ 9
Resumo ............................................................................................................................... 10
Abstract .............................................................................................................................. 11
Introdução Geral................................................................................................................ 12
Capítulo: Cultivo de Propágulos de Rhizophora mangle L. em diferentes concentrações
salinas ................................................................................................................................. 19
Introdução ...................................................................................................................... 19
Materiais e Métodos ....................................................................................................... 20
Coleta de propágulos..................................................................................................... 20
Salinidade ..................................................................................................................... 22
Piloto ............................................................................................................................ 22
Assepsia e Biometria..................................................................................................... 22
Delineamento experimental........................................................................................... 23
Cultivo e Monitoramento do experimento. .................................................................... 24
Determinação dos pesos e da condutividade .................................................................. 24
Descrição Biométrica dos Propágulos nos Tratamentos ................................................. 24
Tratamento Estatístico................................................................................................... 25
Resultados ....................................................................................................................... 25
Biometria dos propágulos ............................................................................................. 25
Biomassa dos propágulos em IPI................................................................................... 26
Incremento de biomassa dos propágulos durante a presença de NaCl ............................ 28
Crescimento dos propágulos em IPF ............................................................................. 33
Comparativo do IPI e IPF dos propágulos ..................................................................... 33
Taxa de crescimento relativo inicial e final (RGR inicial e RGR final) .......................... 39
Alocação de biomassa dos propágulos .......................................................................... 41
Discussão ......................................................................................................................... 44
Conclusão ........................................................................................................................ 47
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 47
Apêndices ........................................................................................................................ 53
Anexos ............................................................................................................................. 55
Lista de Tabelas

Tabela 1 Análise de variância (ANOVA) do comprimento inicial dos propágulos de R.


mangle do manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. .................................... 26

Tabela 2 Análise de variância (ANOVA) do peso inicial dos propágulos de R. mangle do


manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. ..................................................... 26

Tabela 3 Análise de variância (ANOVA) do incremento de peso inicial (IPI) dos propágulos
de R. mangle do manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. Sendo IPI= Peso
início dos tratamentos – Peso inicial. ............................................................................ 27

Tabela 4 Teste de Tukey do incremento de peso inicial (IPI) dos propágulos de R. mangle do
manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. Sendo IPI= Peso início dos
tratamentos – Peso inicial. ............................................................................................ 28

Tabela 5 Análise de variância (ANOVA) do incremento de peso final (IPF) dos propágulos de
R. mangle do manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. Sendo IPF= Peso final
do experimento – Peso início dos tratamentos............................................................... 33

Tabela 6 Teste de Tukey do incremento de peso final (IPF) dos propágulos de R. mangle do
manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. Sendo IPF= Peso final do
experimento – Peso início dos tratamentos. .................................................................. 33

Tabela 7 Análise de variância (ANOVA) do comprimento final dos propágulos de R. mangle


do manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. ................................................ 38

Tabela 8 Teste de Tukey do comprimento final, entre blocos, dos propágulos de R. mangle, do
manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. ..................................................... 38

Tabela 9 Análise de variância (ANOVA) do peso final dos propágulos de R. mangle do


manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. ..................................................... 39

Tabela 10 Teste de Tukey entre blocos, do peso final dos propágulos de R. mangle, do
manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. ..................................................... 39

Tabela 11 Análise de variância (ANOVA) da taxa de crescimento relativa inicial (RGR


inicial) e da taxa de crescimento relativo final (RGR final) dos propágulos de R. mangle
do manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. ................................................ 40

Tabela 12 Teste de Tukey do RGR inicial entre blocos, dos propágulos de R. mangle, do
manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. ..................................................... 40

Tabela 13 Teste de Tukey do RGR final entre tratamentos, dos propágulos de R. mangle, do
manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. ..................................................... 41

Tabela 14 Médias dos parâmetros de alocação de biomassa (± D.P.) e porcentagem de


biomassa medidos em propágulos de R. mangle, crescidos nos diferentes tratamentos. . 42

Tabela 15 Médias dos parâmetros de alocação de biomassa (± D.P.) e porcentagem de


biomassa medidos em propágulos de R. mangle, crescidos nos diferentes blocos. ......... 42
Tabela 16. Análise de variância (ANOVA) da biomassa seca de raiz (MSR) e hipocótilo
(MSH) dos propágulos de R. mangle do manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra,
ES. ............................................................................................................................... 43

Tabela 17 Teste de Tukey para interação entre tratamentos e blocos na biomassa seca de raiz.
..................................................................................................................................... 43

Tabela 18 Análise de variância (ANOVA) da biomassa seca aérea (MSA) dos propágulos de
R. mangle do manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. ............................... 44

Tabela 19 Teste de Tukey para interação entre tratamentos e blocos na biomassa seca da parte
aérea............................................................................................................................. 44
Lista de Ilustrações

Figura 1. a) Localização geográfica do município e da área de coleta (indicado com o ponto vermelho)
b) localização da região de coleta, na foz natural do rio Itaúnas, Conceição da Barra, ES. Fonte:
Google Earth (CNES/Astrium). Data da Imagem: 22/05/2014. ..................................................21

Figura 2 Comparativo do incremento do peso durante o experimento nos tratamentos. O eixo y mostra
o incremento do peso comparado ao peso no início do tratamento (origem), o eixo x é formado
pelos dias do experimento. Réplicas SNX 1 e 2 se encontram no bloco1, réplicas SNX 3 e 4 no
bloco 2 e réplicas SNX 5 e 6 no bloco 3. Medições feitas quinzenalmente. ................................30

Figura 3 Comparativo do incremento do peso durante o experimento nos blocos. O eixo y mostra o
incremento do peso comparado ao peso no início do tratamento (origem), o eixo x é formado
pelos dias do experimento. Réplicas SNX 1e 2 (bloco1), SNX 3e 4 (bloco2) e SNX 5e 6
(bloco3). Medições feitas quinzenalmente. ................................................................................32

Figura 4 Comparativo do incremento do peso dos nos blocos. IPI (Incremento do peso no início do
tratamento) = peso início do tratamento – peso inicial e IPF (Incremento do peso no final do
experimento) = peso final do tratamento – peso início do tratamento. Réplicas SNX 1e 2
(bloco1), SNX 3e 4 (bloco2) e SNX 5e 6 (bloco3). Medições feitas quinzenalmente. ................36

Figura 5 Comparativo do incremento do peso dos nos tratamentos. Incremento do peso no início do
tratamento = peso início do tratamento – peso inicial e Incremento do peso no final do
experimento = peso final do tratamento – peso início do tratamento. Réplicas SNX 1e 2 (bloco1),
SNX 3e 4 (bloco2) e SNX 5e 6 (bloco3). Medições feitas quinzenalmente. ...............................37
Apresentação

O mangue é um grupo diversificado de árvores, arbustos e samambaias terrestres que


crescem na zona entre marés ao longo das costas tropicais e subtropicais de todo o mundo.
Rhizophora mangle L. é uma espécie típica do manguezal da Guaxindiba, no município de
Conceição da Barra, Espírito Santo, Brasil. O objetivo desse estudo foi analisar o efeito da
salinidade na forma de diferentes concentrações de NaCl (0, 50, 250 e 500 mM) no crescimento
ex situ de propágulos de R. mangle. O experimento foi desenvolvido no Laboratório de
Ecofisiologia Vegetal (PPGBT) da Universidade Federal do Espírito Santo, e resultou em uma
dissertação em formato de artigo aqui apresentado: Cultivo de Propágulos de Rhizophora
mangle L. em diferentes concentrações salinas.
A presente dissertação possui sua estrutura na forma de artigo, mas, contempla uma
introdução geral sobre o manguezal, onde procuramos abordar o ambiente como um todo,
aspectos e importância ecológicos e cultivo de propágulos. O capitulo 1 é referente ao artigo
que será encaminhado para publicação em um periódico a definir.
Resumo

Foram realizados experimentos para determinar a influência de diferentes concentrações


salinas (0, 50, 250 e 500 mM de NaCl), sob fotoperíodo de 12 horas e temperatura de 25°C no
crescimento de propágulos de Rhizophora mangle L. coletados no manguezal da Guaxindiba,
município de Conceição da Barra, Espírito Santo, Brasil. O experimento foi conduzido em
câmara germinadora e delineado em blocos casualizados, bloco 1 (não sombreado), bloco 2
(sombreado) e bloco 3 (duplamente sombreado). No estágio anterior a inserção de NaCl, os
propágulos cultivados nos blocos sombreados (blocos 2 e 3) tiveram um incremento de peso
inicial (IPI) significativamente maior que os propágulos cultivados no bloco não sombreado. A
partir da inserção de sal o fator bloco se tornou secundário, e o sal passou a ser o fator
determinante para o crescimento dos propágulos. O incremento de peso final (IPF) foi
significativamente maior no tratamento com 50 mM de NaCl, intermediário no tratamento com
250 mM e menor no tratamento com 500 mM de NaCl. Em produção de biomassa seca de raiz
e parte aérea houve diferença significativa na interação tratamentos x blocos, para a biomassa
seca de hipocótilo não houve diferença significativa entre tratamentos, blocos e na interação
tratamentos x blocos. Concluímos que o sombreamento e a salinidade (0 a 500 mM)
influenciam no crescimento inicial dos propágulos de R. mangle.

Palavras – chave: propágulos, manguezal, salinidade, sombreamento, Rhizophora.


Abstract

Experiments were conducted to determine the influence of different salt concentrations


(0, 50, 250 and 500 mM NaCl), in developing seedlings of Rhizophora mangle L. species of
Guaxindiba’s mangrove in the city of Conceição da Barra, Espírito Santo, Brazil. The
experiment was conducted under a photoperiod of 12 hours and 25 ° C in germinating chamber
and in randomized blocks, block 1 (unshaded), block 2 (shaded) and block 3 (double shaded).In
previous stage of the insertion NaCl, seedling grown in shaded blocks (blocks 2 and 3) had an
initial weight increase (IPI) significantly higher than the seedlings grown in the unshaded block.
After the salt insertion the factor block became secondary, and salt became the determining
factor for the development of seedlings. The final weight increase (IPF) was significantly higher
with 50 mM NaCl, intermediate on treatment with 250 mM and lower in treatment with 500
mM NaCl. Production of dry biomass of roots and shoots was significant different in the
interaction of treatments x blocks, dry biomass hypocotyl showed no significant difference
between treatments, blocks and interaction treatments x blocks. We conclude that the shading
and salinity (0 to 500 mM) influence the early development of seedlings R. mangle.
Keywords: seedling, mangrove, salinity, shade, Rhizophora.
12

Introdução Geral

O mangue é um grupo diversificado de árvores, arbustos e samambaias terrestres que


crescem na zona entre marés ao longo das costas tropicais e subtropicais de todo o mundo
(TOMLINSON, 1986; CINTRÓN-MOLERO; SCHAEFFER-NOVELLI, 1992; CLOUGH,
2013). O que têm em comum é uma série de adaptações que lhes permitem lidar com inundações
periódicas das marés, ventos fortes, ondas e correntes de água, solos lamosos instáveis, altos
níveis de sal na água e solos deficientes em oxigênio (CLOUGH, 2013).

Suas adaptações permitem o crescimento em condições ambientais adversas para outros


vegetais (glicófitas), como salinidade, solo encharcado e com teor reduzido de oxigênio, além
das inundações pelas marés e de ambientes com temperaturas elevadas, ocorrendo também em
zonas sujeitas à rápida alteração geomorfológica (CINTRÓN-MOLERO; SCHAEFFER-
NOVELLI, 1992; GIRI et al., 2011).

Segundo Schaeffer-novelli et al. (2000), o termo manguezal refere-se ao ecossistema,


isto é, as unidades morfodinâmicas dentro das quais as florestas de mangue estão inseridas,
incluindo os componentes geofísicos e geomorfológicos, bem como o conjunto de organismos
presentes. O termo mangue é utilizado para designar o grupo de espécies arbóreas que
sobrevivem no ambiente entre marés que apresentam um conjunto de adaptações como:
presença de embriões vivíparos, sistema radicular com geotropismo negativo, mecanismos
fisiológicos para tolerar e/ou resistir aos íons salinos e com isto manter o equilíbrio interno de
água e carbono de forma eficiente ( TOMLINSON, 1986; ALONGI, 2009).

Existem aproximadamente 152.000 km² de florestas de mangue em 123 países e


territórios em todo o mundo (SPALDING; KAINUMA; COLLINS, 2010). No Brasil, sua área
de cobertura é estimada em mais de 1.100.000 ha de acordo com Magris e Barreto (2010). Os
manguezais distribuem-se ao longo da costa brasileira desde o extremo norte do Amapá
(04º20’N) até o Município de Laguna - SC (28º28’S) (SCHAEFFER-NOVELLI et al., 2000;
SOARES et al., 2012). Na costa brasileira ocorrem as seguintes espécies de mangue:
Rhizophora mangle L. (Rhizophoraceae), Rhizophora harrisonii L. (Rhizophoraceae),
Rhizophora racemosa G. Mey. (Rhizophoraceae), Avicennia schaueriana Stapf & Leechm. ex
13

Moldenke (Acanthaceae), Avicennia germinans (L.) L. (Acanthaceae), Laguncularia racemosa


(L.) C.F. Gaertn. (Combretaceae) (MAGRIS; BARRETO, 2010).
De acordo com Giri et al. (2011), os manguezais estão entre os ecossistemas mais
produtivos e biologicamente importantes do mundo, pois fornecem bens e serviços ambientais
importantes e únicos para a sociedade humana, bem como para os sistemas costeiros e
marinhos. Kristensen et al. (2008) salientam que os manguezais são fundamentais para a fauna
de ecossistemas adjacentes e, nas atuais circunstâncias de preocupação ecológica, para o
balanço global de carbono. As florestas de mangue promovem uma série de bens e serviços
como: proteção da linha de costa; redução de impactos causados por desastres naturais como
furacões e tsunamis; fonte de alimento; e berçário para diversas espécies marinhas e pelágicas.
Segundo Soares (1997) destacam-se como principais bens e serviços promovidos pelos
manguezais: (1) proteção da linha de costa, evitando a ação erosiva das marés e o assoreamento
dos corpos d’água adjacentes; (2) constituir a base da cadeia trófica de espécies de importância
econômica e/ou ecológica, devido à alta produção de detritos (matéria orgânica) e sua posterior
exportação para as águas costeiras adjacentes; (3) Refúgio para inúmeras espécies marinhas,
estuarinas, límnicas e terrestres, que nele encontram área de abrigo, reprodução, alimentação e
desenvolvimento; (4) fornecer pontos de alimentação e repouso para diversas espécies de aves
migratórias; (5) agir como filtro biológico, absorvendo e imobilizando produtos químicos
(metais pesados, por exemplo), filtrando sedimentos, e funcionando também no tratamento de
esgotos; (6) servir como fonte de alimento e de produtos diversos, associados à subsistência de
comunidades tradicionais que vivem em áreas vizinhas aos manguezais e (7) possibilitar
atividades de recreação e lazer, associado ao seu alto valor cênico. Nas comunidades locais,
além de fonte de alimento, medicamentos, energia e materiais para construção, também é
utilizado na forragem para gado leiteiro, produção de celulose e papel, participando também na
confecção de enfeites e souveniers (BABA; CHAN; AKSORNKOAE, 2013; GIRI et al., 2011).

Segundo Macintosh e Ashton (2002), os habitats costeiros em todo o mundo estão sob
forte pressão. Os manguezais têm sido particularmente vulneráveis à exploração por possuírem
madeira valiosa, conterem abundância de recursos pesqueiros, situarem-se em áreas costeiras
facilmente ocupáveis, entre outros atributos. O declínio contínuo das florestas é causado por
sua conversão para agricultura, aquacultura, desenvolvimento urbano e exploração excessiva
de seus recursos (GIRI et al., 2008). Grandes áreas de manguezais tem sido convertidas em
plantações na Malásia e Indonésia, extensos campos de arroz ocorrem nas Filipinas e no oeste
14

da África, mas as perdas mais dramáticas acontecem na Ásia e América Latina, locais onde há
a conversão dos manguezais em viveiros de camarão (CLOUGH, 2013).

Segundo a FAO (2007) o Brasil perdeu cerca de 50 000 ha de manguezais nos últimos
25 anos, ao longo do litoral sudeste. O país ainda possui uma porção significante de florestas
de mangue, pois, a maioria das áreas de manguezais estão localizadas nas porções menos
urbanizadas nos estados do norte (FAO, 2007). A legislação brasileira nessa época já protegia
os manguezais pela Lei nº 4771 do Código Florestal de 15/09/1965, que os classificava como
cobertura vegetal de preservação permanente (BRASIL, 1965). E mesmo assim, uma extensa
área foi perdida, devido a ocupação massiva desse ecossistema. A partir de 25/05/2012 passa a
vigorar a Lei nº 12651 do atual Código Florestal, que os classifica como Áreas de Preservação
Permanente em toda a sua extensão (BRASIL, 2012). Entretanto, a grande controvérsia desta
nova legislação é a exclusão parcial de uma importante fisionomia dos manguezais, os apicuns,
que deixam de ter proteção legal da sua área em 10% no bioma amazônico e 35% no restante
do País, apesar de ser um habitat do ecossistema manguezal de relevante contribuição
ecológica.

Em contrapartida, para assegurar os bens e serviços providos pelo manguezal, buscou-


se outros mecanismos legais, a portaria N° 9, de 29/01/2015 do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade aprova o Plano de Ação Nacional para Conservação das
Espécies Ameaçadas e de Importância Socioeconômica do Ecossistema Manguezal – PAN
Manguezal, que tem como objetivo geral conservar os manguezais brasileiros, reduzindo a
degradação e protegendo as espécies focais do PAN, mantendo suas áreas e usos tradicionais,
a partir da integração entre as diferentes instâncias do poder público e da sociedade,
incorporando os saberes acadêmicos e tradicionais (BRASIL, 2015).

A regeneração de manguezais degradados depende da conjugação de probabilidades que


vão do aporte de propágulos até sobrevivência de plântulas (TOMLINSON, 1986). Elster
(2000) afirma que utilizar propágulos é a forma mais fácil e econômica de reflorestamento,
mas, deve-se levar em conta as variáveis ambientais as quais o manguezal escolhido para o
processo de reflorestamento está sujeito, e, se as espécies escolhidas para o processo terão maior
viabilidade se cultivadas por um período em casa de vegetação, como reportado para A.
germinans e L. racemosa, ou se obterão sucesso plantados diretamente no solo da região a ser
restaurada como R. mangle.
15

Rhizophoraceae é uma família de distribuição pantropical, onde algumas espécies são


popularmente conhecidas como mangue vermelho. Contém 16 gêneros e 135 espécies de
árvores e arbustos frequentemente com raízes escoras e presença de taninos (JUDD et al., 2009).
Dados disponibilizados no The Plant List (2013) indicam atualmente o registro de 18 gêneros
e 421 nomes científicos, sendo que somente são aceitos 142 espécies. A família Rhizophoraceae
pertence à Ordem Malpighiales (APGIII, 2009). No Brasil ocorrem quatro gêneros:
Cassipourea Aubl., Paradrypetes Kuhlm., Sterigmapetalum Kuhlm. e Rhizophora L.,
totalizando 10 espécies (MANSANO; BARROS; ASSUNÇÃO, 2014). Nessa família o fruto e,
por conseguinte, a semente não é liberada, germinando na planta parental e formando o
propágulo - estrutura vivípara (JUNCOSA, 1982). Em espécies vivíparas, o embrião não possui
dormência (sementes recalcitrantes) e é separado da planta mãe apenas quando está pronto para
se estabelecer, formando uma estrutura denominada propágulo.

Diversos pesquisadores realizaram estudos empregando cultivo de propágulos, suas


características fisiológicas e relações com fatores abióticos como: salinidade (BALL;
FARQUHAR, 1984; OLIVEIRA, 2005; TAFFOUO et al., 2009; BOMPY et al., 2014),
alagamento (YE et al., 2003), luminosidade (KRAUSS; ALLEN, 2003). O estudo realizado por
Krauss e Allen (2003) destaca-se por analisar os efeitos da salinidade e do sombreamento, de
forma simultânea, no crescimento e na fotossíntese de propágulos de R. mangle e Bruguiera
sexangula, sendo estes experimentos desenvolvidos com cultivos in situ. Elster (2000), ao
realizar um estudo sobre as razões que determinam sucesso e fracasso no reflorestamento dos
manguezais, plantou os propágulos em campo e os cultivou in situ, sendo este tratamento
realizado em areia contendo água do mar diluída para posterior transferência das plântulas em
condições de campo. No trabalho de Bompy et al. (2014), que avaliaram o efeito da flutuação
da salinidade no crescimento e na fisiologia dos manguezais, os propágulos utilizados no
experimento foram cultivados em turfa.

Experimentos como o de Suárez e Medina (2006) avaliaram a influência da salinidade


no acúmulo de íons e trocas gasosas em Avicennia germinans e utilizaram apenas solução
nutritiva de Hoagland e Arnon neste experimento com acréscimo paulatino de sal. Suárez e
Medina (2005), para a avaliação do efeito da salinidade no crescimento e na demografia foliar
em Avicennia germinans também cultivaram os propágulos apenas em solução nutritiva, isto é,
sem substrato sólido.
16

Soluções nutritivas foram formuladas para avaliar os efeitos e interações dos nutrientes
no desenvolvimento das plantas. Segundo Salisbury e Ross (2013), as soluções nutritivas
começaram a surgir por volta de 1860, quando nessa época, os cientistas começaram a
compreender que as plantas precisavam de nutrientes como cálcio, potássio, enxofre, fósforo e
ferro para seu desenvolvimento.

Três fisiologistas vegetais da Alemanha (W. Pfeffer, Julius Von Sachs, W. Knopp), em
1860, reconheceram a dificuldade em se determinar os tipos e quantidades de elementos
essenciais para as plantas crescerem em um meio tão complexo quanto o solo. Decidiram
cultivar as plantas em uma solução de sais minerais, cuja composição química era controlada e
limitada apenas pela pureza das substâncias químicas disponíveis na época. Esse tipo de cultivo
foi denominado cultura hidropônica, sem solo ou solução. A partir daí a técnica foi aprimorada,
incluindo no processo a aeração e a circulação da solução. Como desvantagens dessa técnica
estão a necessidade da troca/reposição periódica da solução, visto que os nutrientes são
absorvidos pela planta, e o controle do pH, que pode alterar a disponibilidade/absorção dos
nutrientes (SALISBURRY; ROSS, 2013).

A solução de dois pioneiros da nutrição mineral dos Estados Unidos, Dennis R.


Hoagland e Daniel I. Arnon (Solução de Hoagland e Arnon, 1950), é amplamente utilizada até
hoje nos estudos de nutrição mineral, pois inclui os elementos considerados essenciais (em
quantidades que permitem um bom crescimento) para a maioria das angiospermas e
gimnospermas (SALISBURY; ROSS, 2013).

Existem dois critérios principais que determinam a essencialidade de um elemento. Um


elemento é essencial se a planta não puder completar seu ciclo de vida na sua ausência e se fizer
parte de qualquer molécula e componente que seja essencial para a planta (Epstein 1972 citado
por SALISBURY;ROSS, 2013). Os elementos essenciais são classificados em macronutrientes
(necessários em concentrações de 1000mg/Kg de matéria seca) e micronutrientes (necessários
em concentrações iguais ou menores que 100mg/Kg de matéria seca) (SALISBURY; ROSS,
2013).

Alguns elementos são benéficos para algumas plantas, mas não são considerados
essenciais. É o caso do sódio (Na), silício (Si) e cobalto (Co). O sódio (Na) é normalmente
17

muito tóxico para os vegetais. No entanto, ele é importante para as espécies que possuem
fotossíntese do tipo C4. Grande parte das plantas halófitas fotossintetizam pela via C4. Nessas
plantas, o sódio é necessário para a entrada de piruvato na célula do mesofilo onde ele regenera
o fosfoenolpiruvato (PEP), que é substrato da enzima PEPCase (CABEZAS, 2010). Não é este
o caso da vegetação de mangue, pois todas as espécies são C3 (BALL, 1986; CLOUGH, 1992).

Entretanto, processar o sal excessivo absorvido na água é um dos maiores desafios no


ambiente salgado em que vivem as espécies de mangue. Estas plantas têm desenvolvido vários
mecanismos, de acordo com as espécies, para dessalinizar a água do mar. Eles podem excluir a
absorção de sal no nível de raiz – ultrafiltração (SCHOLANDER et al., 1962); remover o
excesso de sal no nível folha, usando glândulas de excreção de sal pela transpiração cuticular
no nível de folha; ou por acumular o sal em tecidos foliares e, com subsequente queda das folhas
- senescência (TOMLINSON, 1986; FAO, 2007). Os manguezais toleram a salinidade do solo
e água por meio de três processos básicos listados a seguir:

1) Excreção do Sal: Plantas de mangue absorvem a água salina através de suas raízes.
Entretanto, nos tecidos de algumas espécies de mangue somente moléculas de água e alguns
sais importantes ficam retidos. Em algumas espécies, o excesso de sal é excretado através de
glândulas de sal que estão presentes nas folhas. As espécies excretoras de sal como os gêneros
Acanthus, Avicennia, Aegiceras e Aegialitis regulam seus níveis internos de sal pelas glândulas
foliares. O sal descartado na solução pode se cristalizar por evaporação sendo carregado pelo
vento ou lavado por orvalho e chuvas. Em manguezais que secretam (excretam) sal, a
concentração de NaCl na seiva xilemática é relativamente alta, cerca de um décimo da
concentração da água do mar. ( SCHOLANDER et al., 1962; TOMLINSON, 1986; AZÓCAR;
RADA; OROZCO, 1992).

2) Exclusão de sal: Nas plantas de mangue, as raízes possuem um mecanismo simples


não metabólico de ultrafiltração (SCHOLANDER et al., 1962; SCHOLANDER, 1968), num
sistema onde a alta tensão obtida no xilema e o turgor das células vivas é produzido por uma
manutenção ativa de uma alta pressão de soluto. Nesse processo a água e os sais da água do
mar são separados na zona radicular, somente a água é absorvida e o sal é rejeitado. Espécies
dos gêneros Rhizophora, Bruguiera, Lumnitzera e Sonneratia são exclusoras de sal. Em
espécies exclusoras de sal (não secretoras), a concentração de NaCl na seiva xilemática é cerca
de um centésimo da concentração da água do mar. Portanto, espécies excretoras de sal permitem
18

mais sal no xilema do que espécies não secretoras (SCHOLANDER, 1968; TOMLINSON,
1986).

3) Acumulação de sal: as espécies acumuladoras possuem a capacidade de acumular


uma grande quantidade de sal em suas folhas. Isso confere suculência as suas folhas. Espécies
dos gêneros Sonneratia, Laguncularia, Rhizophora, Xylocarpus estão incluídas nessa categoria.
A suculência foliar em manguezais é uma simples explicação em termos de equilíbrio salino.
Como as concentrações de sal são constantes e independentes da idade foliar, o sal pode ser
acumulado e com isto incrementar o volume das células foliares. O sal acumulado também pode
ser descartado quando as folhas eventualmente caírem (TOMLINSON, 1986).

Os impactos causados pela população humana e as alterações provocadas pelas


mudanças climáticas globais, que ocorrem sob diferentes intensidades em toda a Terra, são de
grande interesse científico. Diante desta perspectiva, estudiosos reforçam a necessidade de se
entender as características ecológicas e ecofisiológicas do estabelecimento, manutenção,
crescimento e desenvolvimento do mangue (KATHIRESAN; BINGHAM, 2001;
PASCOALINI et al., 2014). Ao revisarem quais são as condicionantes ambientais para a
implantação e desenvolvimento inicial do mangue Krauss et al. (2008) acentuam que uma
análise atualizada dos estudos experimentais pode ser a única forma eficiente para os
gerenciadores costeiros entenderem como as plântulas de mangue respondem
ecofisiologicamente aos fatores naturais, antropogênicos e aqueles induzidos pelas mudanças
climáticas globais.
19

Capítulo 1: Cultivo ex situ de Propágulos de Rhizophora mangle L.


em diferentes concentrações salinas

Introdução

As florestas de mangue se desenvolvem em solos anóxidos, salinos e lamosos sob


inundações periódicas pela água do mar. Essas peculiaridades associadas à salinidade tornam-
na um importante fator limitante para seu crescimento (LOVELOCK et al., 2004; NAIDOO,
2006). Flutuações na salinidade podem diminuir o crescimento de plântulas, mais do que altos
níveis de sal, porém em situações constantes (LIN E STERNBERG ,1993 citado por MCKEE
et al., 2002).
Um dos fatores que contribui para o sucesso no crescimento inicial do manguezal é a
viviparidade. Essa característica na família Rhizophoraceae é marcada pela presença de grandes
propágulos afilados (TOMLINSON, 1986). Os frutos nessa família demoram alguns meses para
amadurecer, antes da germinação começar e do hipocótilo emergir da base. O propágulo é um
alongado hipocótilo, contendo no topo, um pequeno epicótilo abrigando o caule e o primeiro
par de folhas ( JUNCOSA, 1982; DUKE; ALLEN, 2006).
Rhizophora é um gênero distribuído em ambientes costeiros, mas sua extensão limita-
se aos subtrópicos. São observadas três espécies no Brasil: R. harrisoni Leechm., R. mangle L.
e R. racemosa Hieron (MAGRIS; BARRETO, 2010), popularmente conhecidas como mangue
vermelho.
Cheeseman (2012) estudou o processo de brotamento de propágulos maduros de R.
mangle e descreveu a variação de peso entre os propágulos desta e de outras espécies da Família
Rhizophoraceae. Neste estudo, o autor para fins de terminologia, reportou que eles germinam
durante o elongamento, abscisão e dispersão do hipocótilo. Sendo assim, a atividade de
crescimento e estabelecimento dos propágulos, então, são referidos como brotamento ao invés
de germinação.
Devido ao tamanho dos propágulos, a distribuição e abundância do gênero nos
manguezais mundiais, tornam as espécies de Rhizophora objeto de vários experimentos. Os
propágulos de Rhizophora spp. são estudados desde seu estabelecimento após dispersão
(RABINOWITZ, 1978; SOUSA et al., 2007), sob influência da salinidade (CLOUGH, 1984;
KOCH, 1997; LÓPEZ-HOFFMAN et al., 2006), inundação (ELLISON; FARNSWORTH,
1997), luminosidade (LÓPEZ-HOFFMAN et al. 2006) e sombreamento (KRAUSS; ALLEN,
20

2003). Geralmente, os estudos são conduzidos em casa de vegetação, in situ, ou em ambos, mas
sem um controle fixo de fatores abióticos como temperatura e luminosidade.
Devido à grande importância da espécie R. mangle para os manguezais brasileiros e a
carência de estudos com cultivo de propágulos de R. mangle em condições controladas de
fatores abióticos como luminosidade e temperatura, o presente estudo foi conduzido para
contribuir com o conhecimento do crescimento inicial dos propágulos de R. mangle. Todo o
experimento foi conduzido ex situ em câmara germinadora, sob condições controladas de luz,
temperatura e fotoperíodo. Buscamos com isso, limitar as variáveis, para analisar o crescimento
de propágulos de R. mangle submetidos a diferentes concentrações de NaCl e sombreamento.

Materiais e Métodos
Coleta de propágulos

Propágulos de R. mangle foram coletados em árvores num bosque de franja no


manguezal da Guaxindiba (Rio Itaúnas), Conceição da Barra, ES (18°53’56” S e 039°43’56”
W, IBGE 2014) em abril de 2014 (Figura 1). Segundo a classificação climática proposta por
Köppen, citado por Nóbrega et al. (2008), o tipo climático para o município de São Mateus é
Aw, ou seja, tropical úmido, com inverno seco e chuvas máximas no verão.
Os propágulos foram coletados por esforço intensivo considerando as duas margens do
rio Itaúnas na região da foz natural. Como parâmetro para seleção dos propágulos foi utilizado
o grau de maturidade do mesmo, isto é, ao mínimo toque o propágulo se desprendia da planta
mãe, sendo caracterizado por nós como evidenciando seu grau de maturidade.
21

(a)

(b)
Figura 1. a) Localização geográfica do município e da área de coleta (indicado com o ponto
vermelho) b) localização da região de coleta, na foz natural do rio Itaúnas, Conceição da Barra,
ES. Fonte: Google Earth (CNES/Astrium). Data da Imagem: 22/05/2014.
22

Salinidade

Os dados de salinidade nos locais de estudo foram obtidos de forma esporadicamente


desde 2007. Coletas de salinidade realizadas por Lima (2007) nestes pontos de coleta,
registraram salinidade mínima de 32 e máxima de 40 sob diferentes condições de inundação e
valores que foram obtidos no interior do bosque e no corpo hídrico. Por outro lado, dados não
publicados de Pinto, a salinidade em 2008 nesta região variou de 33 a 47 no interior dos bosques
de mangue, para o ano de 2009 houve registro de valores mais baixos na salinidade sendo o
valor mínimo obtido de 5. Lima (2014) e dados não publicados observaram para o ano de 2009
valores de salinidade máxima de 37, em 2010 valores mínimos de 17 e máximo de 40. Dados
coletados em 2011, 2012, 2013 e 2014 para o local, coletados por Lima (com. pes.) reporta
valores mínimos de 20, 15, 19, 10, respectivamente para os anos citados acima, todos ocorrendo
no mês de novembro. As coletas de Lima com os maiores valores de salinidade foram de 37,
37, 34, 34, respectivamente para os anos de 2011, 2012, 2013 e 2014, registrados nos meses de
estiagem.

Ensaio Piloto

Propágulos de R. mangle foram coletados em árvores num bosque de franja no


manguezal da Guaxindiba (Rio Itaúnas), Conceição da Barra, ES (18°53’56” S e 039°43’56”
W, IBGE 2014) em março de 2014. Testamos se os mesmos se desenvolveriam na solução
nutritiva de Hoagland e Arnon, e acompanhamos o défict de condutividade e pH
(condutivímetro marca, modelo e pHmetro marca Tecnopon, modelo mPA-210p) da solução
nutritiva para estabelecer o período ideal para reposição da mesma. Sendo assim, determinamos
para o experimento definitivo o teor de 500 ml de solução nutritiva por recipiente, e a utilização
de ½ força para o preparo da mesma. Também definimos que as trocas da solução nutritiva
deveriam ser realizadas semanalmente, sem que houvesse comprometimento dos nutrientes
presentes na solução.

Assepsia e Biometria

Os propágulos coletados (N= 253) foram lavados em água corrente com detergente
neutro, para retirar a lama, a areia e possíveis micro-organismos. Optamos não utilizar outro
mecanismo de assepsia para não danificar os tecidos meristemáticos, uma vez que os mesmos
não são protegidos pelo tegumento. Ismail et al. (2010) em estudo sobre o desenvolvimento do
23

embrião de Rhizophora mucronata Lam. cita que o tegumento se degenera e seca pouco antes
do propágulo se tornar visível.
Após a assepsia, aqueles propágulos considerados como saudáveis por análise visual,
isto é, carentes de lesões na sua estrutura. Após avaliação visual, N= 10 descartados, os 247
propágulos restantes foram numerados aleatoriamente, pesados e mensurados quanto ao
comprimento do hipocótilo e do epicótilo.

Delineamento experimental

Para o experimento foram selecionados 120 propágulos aleatoriamente dos 247


previamente coletados e analisados. Os propágulos selecionados (N=120) foram distribuídos
em quatro tratamentos (Apêndice 1), sendo um contendo somente a solução nutritiva,
tratamento controle. Os tratamentos foram montados em solução nutritiva Hoagland e Arnon
(Anexo 1) (padronizado por SALISBURY; ROSS, 2013), a ½ força e pH igual a 6 devidamente
ajustado com solução de NaOH 1M aferido com pHmetro (marca Tecnopon, modelo mPA-
210p), em volume de 500 ml (equivale a 11 cm de coluna d’água no recipiente). Para tal foi
utilizada água oriunda de processos de deionização e osmose reversa. Nesta solução, por
tratamento, foram acrescentadas diferentes concentrações de NaCl, respectivamente, com 0
mM NaCl (SN0, tratamento controle), 50 mM NaCl (SN50), 250 mM NaCl (SN250) e com
500 mM NaCl (SN500).
Cada tratamento, elaborado em recipientes plásticos, possuía 6 réplicas contendo 5
propágulos cada réplica, sorteados aleatoriamente por réplica e posição, totalizando 30
propágulos por tratamento. Os recipientes plásticos foram lavados previamente com detergente
neutro, próprio para reagentes, e, posteriormente, foram envoltos em papel alumínio para
simular as condições de luz existentes no solo. Por fim, foram levados a capela de fluxo laminar
(marca Filterflux, modelo SBIIA1-808/4) para esterilização, mantidos sob luz ultravioleta
durante 15 minutos.
O experimento foi montado em câmara incubadora tipo B.O.D. (marca Splabor, modelo
SP-225) programada para ter alternância de fotoperíodo e temperatura controlada. A
temperatura utilizada para a execução dos experimentos foi 25 ºC ± 2°C, sob fotoperíodo de 12
horas e luminosidade resultante de quatro lâmpadas fluorescentes de 20 watts. O experimento
foi conduzido em delineamento em blocos casualizados com repetições, totalizando três blocos
com parcelas de cada tratamento por bloco. Cada parcela contendo 5 propágulos. (Apêndice 1).
O bloco 1 é caracterizado como a primeira prateleira da germinadora e definido como
não sombreado, o bloco 2 segunda prateleira sendo classificado como sombreado (isto é,
24

sombreado pelos recipientes do bloco 1). E, finalmente, o bloco 3, na parte inferior da


germinadora, é descrito como duplamente sombreado.

Cultivo e Monitoramento do experimento.

O experimento foi mantido durante um período de aproximadamente 8 meses (233 dias),


sendo a solução nutritiva de todos os tratamentos trocada semanalmente. Durante este
procedimento era realizada a avaliação visual das repetições e dos indivíduos em cada uma
delas. A solução era retirada dos recipientes, vertida em balde e descartada em meio e local
apropriado. Em seguida nova solução era adicionada aos tratamentos.
O procedimento adotado para a inclusão de sais (NaCl) foi a expansão do primeiro par
de folhas, ocorrendo somente nos tratamentos SN50, SN250 e SN500. Esse processo só ocorreu
após a expansão do primeiro par de folhas para todos os tratamentos, de acordo com
recomendação de Ball e Farquhar (1984). Desta forma, quase quatro meses após a
estabelecimento das plântulas na germinadora é que foi utilizada a solução salina. A solução
salina foi introduzida gradualmente sendo o volume inicial de 50 mM de NaCl adicionado
diariamente até se obter a concentração determinada para cada experimento, isto é, 50 mM, 250
mM e 500 mM de NaCl, respectivamente, para os tratamentos SN50, SN250 e SN500 (BALL;
FARQUHAR, 1984). Três meses após a introdução das concentrações totais dos sais para cada
tratamento, o experimento foi finalizado.

Determinação dos pesos e da condutividade

Depois que as concentrações definitivas de NaCl para cada tratamento foram obtidas, o
experimento foi conduzido de forma a analisar o peso dos propágulos ao longo do seu
crescimento. Realizamos uma medição no início da introdução de NaCl nos tratamentos e
medições subsequentes a cada 15 dias até o final do cultivo. Nesse período, ao medir o peso,
também obtínhamos a condutividade da solução nutritiva com multiparâmetro (marca HACH,
modelo HQ40d multi).

Descrição Biométrica dos Propágulos nos Tratamentos

Os caracteres avaliados nos propágulos foram: comprimento total inicial e final obtidos
empregando-se trena métrica. Comprimento do epicótilo inicial e final, mensurado com
paquímetro digital (marca Digimess precisão de 0,01 mm ± 0,03 mm). Pesos fresco e seco
totais, peso seco por compartimento: raiz (MSR), hipocótilo (MSH) e parte aérea (MSA):
epicótilo e folhas (quando presentes) obtidos em balança de precisão digital (marca Marte,
25

modelo AL500C precisão de 0,001g ± 0,01 g). Ao final do experimento todos os componentes
foram secos em estufa a 60ºC até peso constante (14 dias).
Para analisar se houve diferença significativa nas taxas relativas de crescimento (relative
growth rate) inicial e final dos propágulos (RGR inicial e RGR final), realizamos um cálculo
considerando para o RGR inicial como sendo a diferença do peso no início dos tratamentos e o
peso inicial dos propágulos na coleta. Este valor foi dividido pela quantidade de semanas até o
início do tratamento. Para o RGR final, definimos como sendo a diferença do peso final pelo
peso no início dos tratamentos dividido pelo número de semanas do tratamento.
Também calculamos o incremento de biomassa até o início dos tratamentos (peso inicial
de coleta – peso início do tratamento, isto é, IPI) e incremento de biomassa final (peso final dos
tratamentos – peso início dos tratamentos, isto é, IPF).

Tratamento Estatístico

Os dados foram submetidos ao teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov. Caso


necessário para o teste, transformamos os dados (fórmula Y= X + C, sendo X o maior valor negativo
encontrado no parâmetro) de acordo como os pressupostos do programa Assistat (versão 7.7 beta).
Posteriormente, realizamos análise de variância (ANOVA) entre tratamentos, blocos e interação
tratamento x bloco. Quando houve significância pelo teste F, utilizamos o teste de Tukey a 5% de
probabilidade (p < 0.05) para comparação entre as médias. Para todas as análises os dados foram
utilizados fazendo-se a média dos cinco propágulos, pois, cada propágulo no recipiente não é uma
amostra independente.
Os gráficos elaborados foram obtidos através do programa Microsoft Excel© 2007.

Resultados
Biometria dos propágulos

O peso mínimo dos propágulos foi de 6,2 g e o peso máximo de 31,3 g, com média 17,7
± 4,9 g. Em relação ao comprimento, o menor propágulo coletado tinha 9,3 cm e o maior foi de
34,2 cm, com média de 23,5 ± 5,3 cm para todos os propágulos. Entretanto, os propágulos foram
distribuídos nos tratamentos de forma aleatória e consideramos o valor médio dos cinco
propágulos de cada recipiente como réplica para as análises estatísticas.
Ao iniciar os tratamentos, os pesos médios dos propágulos das réplicas do SN0 foi 18,5
± 2,3 g e comprimento médio de 26,2 ± 2,4 cm. O tratamento SN50 teve peso médio de 17,3 ±
2,2 g e comprimento de 24,9 ± 2,1 cm. O peso e o comprimento médio do tratamento SN250
26

foram 17,4 ± 3,4 g e 25,3 ± 2,7 cm, respectivamente. Finalmente, o tratamento SN500
apresentou peso médio de 17,6 ± 1,9 g e comprimento médio de 23,9 ± 2,0 cm.
Numa avaliação destes pesos médios por bloco, temos, respectivamente, os valores de
17,8 g, 17,1 g e 18,0 g para os blocos 1, 2 e 3. Por outro lado, os comprimentos médios foram
25,5 cm, 24,0 cm e 25,6 cm para os blocos 1, 2 e 3, respectivamente.
A análise ANOVA dos propágulos das réplicas no início do experimento, para os
parâmetros comprimento e peso iniciais (Tabela 1 e 2), apresentou valores não significativos
entre todos os tratamentos (SN0, SN50, SN250 e SN500) e entre todos os blocos (Bloco 1,
Bloco 2, Bloco 3).

Tabela 1 Análise de variância (ANOVA) do comprimento inicial dos propágulos de R. mangle do


manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES.

FV GL F p
Tratamentos 3 1,0411 ns 0,4096
Blocos 2 1,1366 ns 0,3531
Trat x Bloc 6 0,8600 ns 0,55
ns não significativo (p ≥ ,05).

Tabela 2 Análise de variância (ANOVA) do peso inicial dos propágulos de R. mangle do


manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES.

FV GL F p
Tratamentos 3 0,1911 ns 0,9004
Blocos 2 0,1281 ns 0,8809
Trat x Bloc 6 0,3171 ns 0,9157
ns não significativo (p ≥ ,05).

Biomassa dos propágulos em IPI

Para analisar se houve incremento de peso dos propágulos, realizamos uma medição no
início dos tratamentos com acréscimo do NaCl. A partir deste dado inicial, calculamos o
incremento de peso até a medição que chamamos IPI (peso início dos tratamentos – peso inicial
da réplica por tratamento) e fizemos uma ANOVA para esse incremento de peso (Tabela 3).
Entre tratamentos não houve diferença significativa, mas houve diferença significativa entre
blocos (p = 0,003). Vale lembrar que nesse estágio, todas as réplicas estavam sob mesmas
condições em termos de NaCl, ou seja, 0 mM, reforçando o efeito sobreamento. Desta forma,
27

nessa etapa assumimos que não há necessidade em analisar os dados por tratamento, pois todos
continham apenas solução nutritiva. A avaliação dos resultados será empregada com o IPI
considerando somente os blocos, que é a única fonte de variação que foi significativa
estatisticamente.

Tabela 3 Análise de variância (ANOVA) do incremento de peso inicial (IPI) dos propágulos de
R. mangle do manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. Sendo IPI= Peso início dos
tratamentos – Peso inicial.

FV GL F p
Tratamentos 3 3,3542 ns 0,0554
Blocos 2 9,7297 ** 0,003
Trat x Bloc 6 1,2656 ns 0,419
** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < ,01).
ns não significativo (p ≥ ,05).

A variação do peso dos propágulos de R. mangle entre os blocos foi quantificada pelo
teste de Tukey apresentado na Tabela 4, que separou nesta etapa os três blocos em dois grupos
distintos: a (blocos 3 e 2) e b (bloco 1). O bloco 3 atingiu os maiores valores médios de IPI
(10,7 g), seguido de perto pelo bloco 2 (10,2 g), tanto que ambos foram considerados um só
grupo pelo teste de médias. Por fim, o bloco 1 apresentou os menores valores (5,2 g) de
incremento de peso. O fator bloco, mais uma vez se mostrou importante para o crescimento dos
propágulos, visto que além do IPI, também se mostrou significativo no comprimento. Dessa
forma, o fator sombreamento, foi crucial para o IPI dos propágulos, pois nos blocos 3
(sombreado pelos blocos 1 e 2) e 2 (sombreado pelo bloco 1), os propágulos obtiveram o maior
IPI, e no bloco 1 (não sombreado) onde obtiveram o menor IPI.
28

Tabela 4 Teste de Tukey do incremento de peso inicial (IPI) dos propágulos de R. mangle do
manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. Sendo IPI= Peso início dos tratamentos –
Peso inicial.

Bloco Médias de tratamento


1 5,2 b
2 10,2 a
3 10,7 a
Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

Incremento de biomassa dos propágulos durante a presença de NaCl

Acompanhamos o incremento do peso nas réplicas durante o experimento, por


tratamento (figura 2) e por bloco (figura 3) subtraindo o peso obtido a cada 15 dias após a adição
dos sais com o peso do início do tratamento. Ao analisarmos o incremento do peso dos
propágulos entre tratamentos, parece não haver um padrão de declínio ou de aumento, oscilando
em graus de intensidade distintos, tanto para incremento quanto para diminuição do peso.
Para o tratamento SN0 (controle) (figura 2 A), as réplicas parecem estar sofrendo um
efeito por nós definido como sendo em formato de “serrote”, onde algumas aumentam o peso,
para em seguida diminuir quase na mesma intensidade (SN0 1, SN0 2, SN0 5, SN0 3). As
réplicas SN0 4 e SN0 6 apresentaram comportamento inverso. Percebemos que ao final do
experimento, com exceção da réplica SN0 1 que conseguiu se manter acima do peso na origem
(início do tratamento), todas as demais réplicas do tratamento (SN0 2, SN0 4, SN0 5, SN0 3 e
SN0 6) apresentaram declínio do peso em relação ao peso na origem.
No tratamento SN50 (figura 2 B) quando comparado com o SN0 parece haver uma
melhora em termos de incremento de peso, uma vez que 83% das replicas apresentaram
aumento de peso ao final do experimento, sendo mais suavizado o “efeito serrote”. Somente a
réplica SN50 6 não registrou aumento de peso.
O tratamento SN250 (figura 2 C) apresentou resultados distintos dos demais
tratamentos, isto é, 50% das réplicas tiveram aumento quase contínuo de peso. Inclusive a
réplica SN250 2 também se destaca, tendo declínio contínuo no peso até o final do experimento.
O incremento do peso nas réplicas do tratamento SN500 (figura 2 D) permite avaliar o
comprometimento do sal sobre o brotamento dos propágulos. Somente 16,6% das réplicas
obtiveram resultados positivos de crescimento, isto é, a réplica SN500 6 aumentou seu peso
29

final de forma a se distinguir do peso na origem. As réplicas SN500 4, SN500 5 e SN500 2


também parecem sofrer o efeito “serrote”.
Os resultados apresentados na figura 2 identificam o papel do sal na fisiologia das
plântulas, sendo o tratamento SN50 aquele que nos define a importância do NaCl para o
brotamento da espécie e o SN500 descreve a proximidade do limite ideal do sal para estas
plantas.
30

Figura 2 Comparativo do incremento do peso durante o experimento nos tratamentos. O eixo y mostra o incremento do peso comparado ao peso no
início do tratamento (origem), o eixo x é formado pelos dias do experimento. Réplicas SNX 1 e 2 se encontram no bloco1, réplicas SNX 3 e 4 no bloco
2 e réplicas SNX 5 e 6 no bloco 3. Medições feitas quinzenalmente.
31

Ao analisarmos o incremento do peso durante o experimento por bloco, parece não haver
um padrão no desempenho das réplicas similar ao observado na análise dos tratamentos, isto é,
oscilação no peso em diferentes intensidades. No bloco 1 (figura 3 A), 50% das réplicas
apresentaram o efeito “serrote” até o final do experimento. 37,5¨% das réplicas não tiveram
incremento de peso inicial, realizaram uma recuperação e ao final do tratamento declinaram.
Em termos de análise por bloco, a partir da introdução do NaCl este prepondera sobre o efeito
luminosidade.
O bloco 2 (figura 3 B) destaca-se por apresentar menor amplitude em relação ao
incremento ou decréscimo de peso nos primeiros 15 dias de tratamento. Entretanto, ao final do
experimento 50% das réplicas apresentaram peso acima daquele ao início do aporte de NaCl.
Apenas a réplica SN500 4 aparenta sofrer o efeito “serrote". As réplicas SN250 3 e SN250 4
ganharam peso de forma contínua até o final do experimento, apresentando um comportamento
bastante particular neste bloco quando comparadas as réplicas deste tratamento (SN250) nos
outros blocos.
No bloco 3 (figura 3 C) as réplicas dos tratamentos SN50 e SN500 se comportaram de
forma antagônica. Enquanto nas réplicas SN50 5 e SN500 6 o peso aumentou, nas réplicas
SN50 6 e SN500 6 houve uma diminuição no peso. Estando essas réplicas sob mesmas
condições e tratamentos, a variação ocorrida neste caso não pode ser justificada pelos
parâmetros abióticos. Este grupo se destaca em relação aos anteriores por apresentar
comportamento diferenciado entre as réplicas logo em seguida a adição de NaCl. Com exceção
do SN0 5, todas as réplicas que apresentaram incremento em peso desde o início do tratamento,
isto é, 50 %, tiveram êxito no crescimento.
32

Figura 3 Comparativo do incremento do peso durante o experimento nos blocos. O eixo y mostra
o incremento do peso comparado ao peso no início do tratamento (origem), o eixo x é formado
pelos dias do experimento. Réplicas SNX 1e 2 (bloco1), SNX 3e 4 (bloco2) e SNX 5e 6 (bloco3).
Medições feitas quinzenalmente.
33

Crescimento dos propágulos em IPF

Ao final do experimento pesamos novamente os propágulos e calculamos o IPF (Peso


final do experimento – Peso início dos tratamentos). Esse incremento é referente ao período
após a inserção do NaCl nos tratamentos caracterizando o efeito deste nos propágulos. Por fim,
calculamos a ANOVA para os valores obtidos.
A Tabela 5 apresenta os valores da ANOVA para o IPF. Entre blocos não houve
diferença significativa. Já entre tratamentos houve diferença significativa. A variação entre os
tratamentos foi quantificada pelo teste de Tukey apresentado na Tabela 6. Essa distinção é
justificada pela análise do incremento médio de peso, sendo que o tratamento SN50 registrou
aumento de 5,8 g, seguido pelo SN250 (4,2 g), SN0 (3,4 g) e SN500 (2,5 g).

Tabela 5 Análise de variância (ANOVA) do incremento de peso final (IPF) dos propágulos de R.
mangle do manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. Sendo IPF= Peso final do
experimento – Peso início dos tratamentos.

FV GL F p
Tratamentos 3 4,0034 * 0,0345
Blocos 2 0,8254 ns 0,4615
Trat x Bloc 6 0,8928 ns 0,5299
* significativo ao nível de 5% de probabilidade ( ,01 ≤ p < ,05).
ns não significativo (p ≥ ,05).

Tabela 6 Teste de Tukey do incremento de peso final (IPF) dos propágulos de R. mangle do
manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES. Sendo IPF= Peso final do experimento –
Peso início dos tratamentos.

Tratamento Médias de tratamento


SN 0 3,4 ab
SN 50 5,8 a
SN 250 4,2 ab
SN 500 2,5 b
Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

Comparativo do IPI e IPF dos propágulos

A figura 4 mostra os gráficos comparativos por bloco do incremento do peso durante o


experimento, isto é, IPI e IPF. Os gráficos descrevem a variação descriminada pelo teste de
Tukey citado anteriormente (Tabela 6). No bloco 1, quanto ao IPI, as réplicas se comportaram
34

de forma variada, algumas aumentando valores que variam de 1 até 7 g (SN0 1, SN0 2, SN250
1, SN500 2), enquanto outras diminuindo o peso em torno de 0.2 g a até 5 g (SN50 1, SN50 2,
SN250 2, SN500 1). Em relação ao IPF quase todas as réplicas apresentaram um declínio no
peso, com exceção das réplicas do tratamento SN50 (SN50 1 e SN50 2), e uma das réplicas do
tratamento SN0 (SN0 2), que mesmo estando no bloco 1 (nenhum sombreamento), conseguiram
aumentar o peso.
No bloco 2, o IPI de todas as réplicas aumentaram em valores que foram de 2 g até 8
g, verdadeiro avanço no incremento, se comparado ao bloco 1, reforçando a proposição do
sombreamento atuando sobre o crescimento das plântulas. No IPF (após a inserção do NaCl)
apenas as réplicas dos tratamentos SN50 e SN250 obtiveram aumento no peso que
compreendeu de 0,5 g a 3 g. Todas as réplicas do tratamento SN0 tiveram declínio no peso e
do tratamento SN500 teve réplica com reduzido incremento e outra com perda de 1 g. Para as
réplicas do tratamento SN0, a carência de NaCl pode ter sido um fator limitante para o seu
crescimento. Em contrapartida, nas réplicas do tratamento SN500, a concentração de sal do
tratamento pode ter levado à perda de peso.
O IPI no bloco 3, com exceção da réplica SN50 5 (perdeu 0,5 g), foi positivo em todas
as demais réplicas, com incremento que foram de 2 g a 9 g. Por outro lado, em relação ao IPF,
a eficiência do aumento de peso ocorreu apenas com as réplicas SN50 5, SN250 6 e SN500 6,
sendo, respectivamente, de 4 g, 1 g e 1g. O IPF nas réplicas S0 5, SN0 6, SN50 6, SN250 5 e
SN500 5 reportaram decréscimo de 0,1 g a até 4 g.
A figura 5 mostra os gráficos comparativos do IPI e IPF por tratamento. Todas as
réplicas do tratamento SN0 (controle) incrementaram o peso até o início do tratamento em
aproximadamente de 4 g a 8 g . Porém, nesse tratamento ao comparar o incremento de peso
final, apenas a réplica SN0 1 acumulou cerca de 1g.
O IPI para o tratamento SN50 foi positivo para as réplicas em 50% variando de 3 g a 8
g, o restante das réplicas teve perda de peso de 1 g a até 5 g. Em relação ao IPF, o tratamento
SN50 teve os melhores resultados ao final experimento, com exceção da réplica SN50 6 que
perdeu cerca de 1 g, todas as demais réplicas incrementaram o peso em cerca de 0,5 g a 4g. As
réplicas SN50 1 e SN50 2 que tiveram seu IPI diminuído em cerca de 4 g, após o inclusão de
NaCl este insucesso reverteu no IPF quando estas réplicas obtiveram um incremento de cerca
de 2 g, mostrando que a presença de sal auxiliou na recuperação de parte desta biomassa.
No tratamento SN250 assim como no SN50 houve variações de aumento e decréscimo
de IPI. As réplicas SN250 1, SN250 3, SN250 4, SN250 5 e SN250 6 apresentaram acréscimo
positivo variando de aproximadamente 2 g a 8 g. Já a réplica SN250 2 quase igualou o seu peso
35

inicial, apresentando uma pequena diminuição. No final do experimento, metade das réplicas
diminuíram seu o IPF em cerca de 0,2 g até 2 g. As demais aumentaram o peso em valores de
1g a até 2g (réplicas SN250 3, SN250 4 e SN250 6). O tratamento SN250 foi o segundo melhor
em desempenho na presença de sal.
Com exceção da réplica SN500 1 que diminuiu o IPI em aproximadamente em 3 g,
todas as demais réplicas do tratamento SN500 aumentaram o IPI em cerca de 1 g a até 8 g. O
oposto aconteceu quanto ao IPF, com exceção da réplica SN500 6 (aumentou cerca de 1 g), em
todas as demais réplicas o peso diminuiu em cerca de 2 g a até 4 g. O tratamento SN500 teve o
pior desempenho de todos os tratamentos seguido pelo controle.
36

Figura 4 Comparativo do incremento do peso dos nos blocos. IPI (Incremento do peso no início
do tratamento) = peso início do tratamento – peso inicial e IPF (Incremento do peso no final do
experimento) = peso final do tratamento – peso início do tratamento. Réplicas SNX 1e 2 (bloco1),
SNX 3e 4 (bloco2) e SNX 5e 6 (bloco3). Medições feitas quinzenalmente.
37

Figura 5 Comparativo do incremento do peso dos nos tratamentos. Incremento do peso no início do tratamento = peso início do tratamento – peso
inicial e Incremento do peso no final do experimento = peso final do tratamento – peso início do tratamento. Réplicas SNX 1e 2 (bloco1), SNX 3e 4
(bloco2) e SNX 5e 6 (bloco3). Medições feitas quinzenalmente.
38

A Tabela 7 apresenta a ANOVA para os dados de comprimento final das réplicas. Não
houve diferença significativa entre os tratamentos quanto ao comprimento final médio, similar
ao observado no inicio do cultivo. Mas, entre os blocos houve diferença significativa (p =
0,0021). Esta variação entre os blocos foi quantificada pelo teste de Tukey apresentado na
Tabela 8, que separou os blocos em três grupos distintos: a (bloco 3), ab (bloco 2) e b (bloco
1). O bloco 3 atingiu os valores médios de comprimento de 34,5 cm, seguido pelo bloco 2 com
30,7 cm e pelo bloco 1 com 26,9 cm. Portanto, para o comprimento final, o fator bloco se
mostrou mais impactante nas réplicas do que o fator salinidade.
Salientamos que o bloco 3 estava situado na última prateleira da germinadora, sendo
sombreado pelos recipientes dos blocos 2 e 1. Nesse caso, o fator sombreamento, pode ter sido
crucial para o crescimento dos propágulos, pois no bloco 3 (sombreado pelos blocos 1 e 2) os
propágulos obtiveram o maior crescimento, seguidos pelo bloco 2 (sombreado pelo bloco 1),
e bloco 1 (não sombreado) onde obtiveram o menor crescimento.

Tabela 7 Análise de variância (ANOVA) do comprimento final dos propágulos de R. mangle do


manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES.

FV GL F p
Tratamentos 3 1,2052 ns 0,3498
Blocos 2 10,6658 ** 0,0021
Trat x Bloc 6 1,6730 ns 0,2109
** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < ,01).
ns não significativo (p ≥ ,05).

Tabela 8 Teste de Tukey do comprimento final, entre blocos, dos propágulos de R. mangle, do
manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES.

Bloco Médias de bloco


1 26,9 b
2 30,7 ab
3 34,5 a
Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

A Tabela 9 apresenta a ANOVA para os dados de peso final médio entre os tratamentos
e blocos. Não houve diferença significativa entre os tratamentos quanto ao peso final médio.
Mas ao comparar os blocos, houve diferença significativa (p = 0,0393), quantificada pelo teste
de Tukey apresentado na Tabela 10. O Bloco 3 apresentou média de peso de 20,3 g, seguido
pelo Bloco 2 com 19,2 g e pelo Bloco 1 com 14,2 g. Logo, para a variável peso final, como
39

ocorrido para a variável comprimento final, o fator bloco se mostrou mais impactante nos
propágulos do que o fator salinidade, o que nos leva a defender que o local de estabelecimento
inicial dos propágulos é de suma importância para o sucesso do seu crescimento.

Tabela 9 Análise de variância (ANOVA) do peso final dos propágulos de R. mangle do


manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES.

FV GL F p
Tratamentos 3 1,2166 ns 0,346
Blocos 2 4,2899 * 0,0393
Trat x Bloc 6 1,5794 0,2354
* significativo ao nível de 5% de probabilidade ( ,01 ≤ p < ,05).
ns não significativo (p ≥ ,05).

Tabela 10 Teste de Tukey entre blocos, do peso final dos propágulos de R. mangle, do
manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES.

Bloco Médias de bloco


1 14,20617 b
2 19,21938 ab
3 20,27455 a
Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

Se considerássemos apenas os valores finais de peso fresco e comprimento das


plântulas, os maiores valores foram atingidos no bloco 3 (duplamente sombreado),
independente do tratamento, mascarando, assim, o efeito do sal no experimento. Por isso
optamos por avaliar o experimento mediante as diferenças entre incremento de peso inicial e
incremento de peso final, onde conseguimos analisar corretamente o efeito do sal. Nesse caso,
independente do sombreamento e da temperatura, proporcionados pelos diferentes blocos, a
salinidade foi um fator preponderante, pois houve um incremento de peso no tratamento com
50 mM e uma diminuição do peso no tratamento com 500 mM, estando o tratamento 250 mM
intermediário independente do bloco em que estavam inseridos.

Taxa de crescimento relativo inicial e final (RGR inicial e RGR final)

A partir dos dados de peso, calculamos os valores para RGR inicial e final, por
tratamento e bloco, e submetemos os resultados para análises ANOVA (Tabela 11). A RGR
inicial sofreu variação apenas entre blocos (p = 0,003), o que era esperado, pelos resultados
obtidos com o IPI. Esta variação do RGR inicial dos propágulos de R. mangle entre os blocos
40

foi quantificada pelo teste de Tukey apresentado na Tabela 12, que separou nesta etapa os três
blocos em dois grupos distintos: a (blocos 3 e 2) e b (bloco 1).
Em relação ao RGR final, a análise ANOVA foi significativa apenas entre tratamentos
(p = 0,0345), o que também era esperado, devido aos resultados obtidos com o IPF. A variação
entre os tratamentos foi quantificada pelo teste de Tukey apresentado na Tabela 13, que separou
os quatro tratamentos em três grupos distintos: a (SN50), ab (SN250 e SN0) e b (SN500).

Tabela 11 Análise de variância (ANOVA) da taxa de crescimento relativa inicial (RGR inicial) e
da taxa de crescimento relativo final (RGR final) dos propágulos de R. mangle do manguezal da
Guaxindiba, Conceição da Barra, ES.

RGR Inicial RGR Final


FV GL F p F p
Tratamentos 3 3,3542 ns 0,0554 4,0034 * 0,0345
Blocos 2 9,7287 ** 0,003 0,8254 ns 0,4615
Trat x Bloc 6 1,2656 ns 0,3419 0,8928 ns 0,5299
** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < .01).
* significativo ao nível de 5% de probabilidade ( .01 ≤ p < .05).
ns não significativo (p ≥ .05).

Tabela 12 Teste de Tukey do RGR inicial entre blocos, dos propágulos de R. mangle, do
manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES.

Bloco Médias de tratamento


1 3,01 b
2 3,25 a
3 3,28 a
Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
41

Tabela 13 Teste de Tukey do RGR final entre tratamentos, dos propágulos de R. mangle, do
manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES.

Bloco Médias de tratamento


SN0 2,95 ab
SN50 3,14 a
SN250 3,01 ab
SN500 2,88 b
Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

Alocação de biomassa dos propágulos

Ao analisarmos os parâmetros de crescimento por bloco (Tabela 14), no tratamento


SN0, a biomassa seca de raiz (MSR) e a biomassa seca aérea (MSA) apresentaram em média o
mesmo peso, cerca de 0,54 g. O mesmo fato se dá no tratamento SN250, MSR e MAS possuem
0,41 e 0,47g, respectivamente. Já o tratamento SN50 investiu mais de peso na MSA (0,37 g) do
que na MSR (0,27 g). O tratamento SN500 mostrou o oposto, investiu mais na MSR (0,33 g)
do que na MSA (0,23 g).
Para o parâmetro biomassa seca do hipocótilo (MSH), mais uma vez o tratamento SN0
foi o maior, com 6,68 g, seguido pelo SN500 com 6,56 g, SN250 com 6,51 g e, por último, o
tratamento SN50 com 6,38 g.
No percentual do peso por compartimento, os tratamentos SN0 e SN500 investiram 9%
em MSR, seguidos pelo SN250 com 8% e SN50 com 6%. O tratamento SN500 investiu 88%
do seu peso seco total em MSH, seguido pelo SN50 com 87%, SN250 com 84% e SN0 com
82%. Por fim em relação ao percentil de MSA, o tratamento SN0 investiu 9%, seguido pelos
tratamentos SN50 e SN250 ambos com 8% e, por fim, o tratamento SN500 com 3%.
42

Tabela 14 Médias dos parâmetros de alocação de biomassa (± D.P.) e porcentagem de biomassa


medidos em propágulos de R. mangle, crescidos nos diferentes tratamentos.

Tratamentos
SN0 SN50 SN250 SN500
MSR (g) 0,54 ±0,1 0,27 ± 0,2 0,41 ± 0,2 0,33 ± 0,1
MSH (g) 6,68 ± 0,5 6,38 ± 1,0 6,51 ± 1,6 6,56 ± 1,0
MSA (g) 0,54 ± 0,3 0,37 ± 0,4 0,47 ± 0,3 0,23 ± 0,2
MST (g) 7,76 7,02 7,39 7,12
% de MSR 0,09 0,06 0,08 0,09
% de MSH 0,82 0,87 0,84 0,88
% de MSA 0,09 0,08 0,08 0,03

Ao analisarmos os parâmetros de crescimento por bloco (Tabela 15), em geral o bloco


3 atingiu o maior valor de MSR (0,48 g) seguido pelo bloco 2, com 0,45 g e, por fim, o bloco 1
com 0,24 g. Para aos valores de MSH ocorreu o oposto, o bloco 1 obteve os maior valor, isto é,
7,08 g; seguido pelo bloco 2 com 6,39 g e o bloco 3 com 6,13 g. No parâmetro MSA, os blocos
seguiram a mesma ordem que o MSR, bloco 3 em primeiro lugar com 0,53 g, bloco 2 com 0,47
g e bloco 1 com 0,21 g.
No percentual de peso por compartimento, os blocos 2 e 3 investiram 10% em MSR,e o
bloco 1 investiu 5%. O bloco 1 foi o que mais investiu em MSH (92%), seguido pelo bloco 2
com 83% e bloco 3, 81%. Os blocos 2 e 3 investiram o mesmo percentil em MSA, 9%, já o
bloco 1 investiu 5%, o que explica o valor mais elevado de MSH observado.

Tabela 15 Médias dos parâmetros de alocação de biomassa (± D.P.) e porcentagem de biomassa


medidos em propágulos de R. mangle, crescidos nos diferentes blocos.

Blocos
Bloco 1 Bloco 2 Bloco 3
MSR (g) 0,24 ± 0,2 0,45 ± 0,1 0,48 ± 0,1
MSH (g) 7,08 ± 1,1 6,39 ± 0,9 6,13 ± 0,9
MSA (g) 0,21 ± 0,3 0,47 ± 0,3 0,53 ± 0,2
% de MSR 0,05 0,10 0,10
% de MSH 0,92 0,83 0,81
% de MSA 0,03 0,09 0,09
43

A Tabela 16 apresenta os valores da ANOVA para os parâmetros de biomassa seca de


raiz e hipocótilo. Não houve diferença significativa para o peso seco do hipocótilo entre
tratamentos e blocos. Já para raiz, houve diferença significativa entre tratamentos, blocos e na
interação tratamentos e blocos, essa variação foi quantificada pelo teste de Tukey apresentado
na Tabela 17. Essa tabela mostra que a salinidade só foi importante em luz plena (bloco 1) e
que a luz não foi relevante nos extremos de salinidade (0 e 500).

Tabela 16. Análise de variância (ANOVA) da biomassa seca de raiz (MSR) e hipocótilo (MSH)
dos propágulos de R. mangle do manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES.

MSR MSH
FV GL F p F p
Tratamentos 3 6,7549** 0,0064 0,0657 ns 0,977
Blocos 2 11,3273** 0,0017 1,4386 ns 0,2754
Trat x Bloc 6 3,1553* 0,0427 0,5513 ns 0,7605
** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < ,01).
* significativo ao nível de 5% de probabilidade ( ,01 ≤ p < ,05).

Tabela 17 Teste de Tukey para interação entre tratamentos e blocos na biomassa seca de raiz.

Bloco
Tratamento
Bloco 1 Bloco 2 Bloco 3
SN0 0,569 aA 0,498 aA 0,566 aA
SN50 0,006 bB 0,464 aA 0,353 aA
SN250 0,133 bB 0,519 aA 0,582 aA
SN500 0,256 abA 0,311 aA 0,434 aA
Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Letras maiúsculas para coluna, letras minúsculas
para linha.

A Tabela 18 apresenta os valores da ANOVA para os parâmetros de biomassa seca da


parte aérea e biomassa seca total. Para a biomassa seca aérea houve diferença significativa entre
blocos e na interação entre tratamentos e blocos, essa variação foi quantificada pelo teste de
Tukey apresentado na Tabela 19. Já em relação a biomassa seca total, não houve diferença
significativa entre tratamentos e blocos. A Tabela 19 mostra novamente que a salinidade só foi
importante em luz plena (bloco 1) e que a luz não foi relevante nos extremos de salinidade (0 e
500).
44

Tabela 18 Análise de variância (ANOVA) da biomassa seca aérea (MSA) dos propágulos de R.
mangle do manguezal da Guaxindiba, Conceição da Barra, ES.

MSA MST
FV GL F p F p
Tratamentos 3 2,4350 ns 0,1153 3,4080 ns 0,7913
Blocos 2 5,1223 * 0,0246 0,1912 ns 0,8284
Trat x Bloc 6 3,1687 * 0,0421 0,3236 ns 0,9121
* significativo ao nível de 5% de probabilidade (,01 ≤ p < ,05).
ns não significativo (p ≥ ,05).

Tabela 19 Teste de Tukey para interação entre tratamentos e blocos na biomassa seca de parte
aérea.

Bloco
Tratamento
Bloco 1 Bloco 2 Bloco 3
SN0 0,569 aA 0,498 aA 0,566 aA
SN50 0,006 bB 0,464 aA 0,353 aA
SN250 0,133 bB 0,519 aA 0,582 aA
SN500 0,256 abA 0,311 aA 0,434 aA
Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Letras maiúsculas para colunas, letras
minúsculas para linha.

Discussão

A frequência de inundação no manguezal é um dos muitos fatores que pode influenciar


na sobrevivência de plântulas de mangue (TOMLINSON, 1986; KRAUSS et al., 2008). O fato
dos propágulos de R. mangle terem sido cultivados permanentemente submersos durante todo
o experimento, não interferiu no seu crescimento, como no estudo realizado por Mckee (1993),
em casa de vegetação.
Nossos dados amostrais iniciais encontram-se dentro da distribuição reportada por
Cheeseman (2012), cujo estudo demonstrou que os propágulos maduros de R. mangle variam
de peso entre 5 a 35 g. Essa variação não exerceu influência nos resultados do nosso
experimento, pois não houve diferença significativa quanto ao peso e comprimento iniciais
entre tratamentos e blocos.
Nossos resultados mostram que os propágulos conseguiram se desenvolver (de formas
e taxas distintas), em todas as condições de sombreamento, desde o bloco 3 (duplamente
sombreado), bloco 2 (sombreado) e bloco 1 (não sombreado), corroborando com os relatos de
Smith e Lee (1999) que apontam que R. mangle pode apresentar características associadas à
45

fenótipos tolerante e intolerante ao sombreamento permitindo que suas plântulas possam


sobreviver e explorar uma maior diversidade de ambientes. Tal característica é notável uma vez
que Chen e Twilley (1998) propuseram que as dessemelhanças na tolerância ao sombreamento
é um importante agente de competição interespecífica durante a sucessão em um bosque de
mangue, pois verificaram que R. mangle pode substituir L. racemosa que necessita uma alta
disponibilidade de luz nas fases iniciais. Um fato o que chama a atenção no nosso experimento
é o melhor desenvolvimento dos propágulos sob sombreamento, o que não é esperado e relatado
na literatura. Supomos que isto possa ter ocorrido possivelmente devido ao estiolamento do
epicótilo, causado pelo sombreamento a que estes propágulos estavam submetidos, um estudo
futuro desenvolvido com esse enfoque pode vir a esclarecer essa suposição.
Para o nosso trabalho, a avaliação somente dos dados finais sem comparar os resultados
obtidos antes da introdução do NaCl e após sua introdução não é adequada, uma vez que esta
análise prévia demonstra que há somente diferença significativa entre blocos, ou seja, é mais
correto analisar o comparativo antes e depois. Antes da introdução do NaCl houve incremento
de peso significativamente distinto entre blocos, sendo os blocos 2 e 3 com peso maior que o
bloco 1. Na análise final do tratamento com sal para esse parâmetro, observamos crescimento
significativamente distinto apenas entre tratamentos. Desta forma, o sombreamento que resulta
da avaliação por bloco passa a ser fator secundário para esse parâmetro. Este aspecto reforça a
descrição de que as espécies de mangue são halófitas (TOMLINSON, 1986; KRAUSS; BALL,
2013).
Quando avaliamos o incremento de peso fresco ao final do experimento, na situação de
ausência do sal, somente uma réplica apresentou incremento positivo, identificando a possível
necessidade do sal para seu pleno crescimento, o que condiz com os experimentos de Werner e
Stelzer (1990), que compararam o crescimento de propágulos de R. mangle cultivados a 0 e 200
mM de NaCl e encontraram que R. mangle na presença de sal foi significativamente melhor em
ganho de peso fresco, do que no tratamento sem sal, sendo que os propágulos deste tratamento
ao final de um ano de experimento gradualmente começaram a morrer. Na presença de sal,
nossos resultados descrevem que há incremento de peso na salinidade de 50 mM e decréscimo
de peso na salinidade de 500 mM. Isto resulta em avaliações de que a espécie, em condições
de sal constante, tem melhor crescimento em baixas concentrações do que em condições salinas
mais elevadas.
A comparação dos resultados de Werner e Stelzer (1990) com os nossos, pode sugerir
que acima de 250 mM de NaCl o crescimento de R. mangle passa a ser comprometido,
46

justificando desta forma a ocorrência de A. schaueriana em ambientes com salinidade média


acima daquela observada na água do mar (BALL; FARQUHAR, 1984).
No comparativo da taxa de crescimento final (RGR final), os maiores valores foram
obtidos em salinidades 50 mM e os menores com 500 mM, sendo o tratamento 250 mM
intermediário, mostrando que os propágulos submetidos a menores concentrações de sal
cresceram mais do que os submetidos a maiores concentrações de sal, sendo esse fato reportado
por Hoffman et al. (2006) que supõe que esse processo ocorre pois, em altas salinidades as
plântulas investem mais energia em recursos e sobrevivência sacrificando assim o crescimento,
enquanto em baixas salinidades as plântulas investem mais em crescimento do que em
sobrevivência. Supomos que em altas salinidades o maior investimento em sobrevivência pode
ser esclarecido com os gastos energéticos no controle da osmorregulação, visto que os
propágulos passam a ter um maior gasto para controlar o excesso de sal. Já propágulos em
menores salinidades possuem menos gastos energéticos com a osmorregulação, e conseguem
investir num maior crescimento do que os propágulos em altas salinidades.
Nossos valores de biomassa seca de raiz, foram significativamente diferentes entre os
diferentes níveis de sombreamento, e salinidade, o que vai parcialmente de encontro ao obtido
por Krauss e Allen (2003) que relatam para propágulos de R. mangle diferença significativa de
menor biomassa seca de raiz e caule com o aumento da luz, mas não com a variação da
salinidade até 32. Em altas salinidades R. mangle tende a alocar mais biomassa seca em raiz do
que na parte aérea. López-Hoffman et al. (2006) também reportaram aumento da alocação de
biomassa seca de raiz em altas salinidades.
Se somente compararmos nossos resultados de produção de biomassa seca total os
propágulos não sofreram variação quanto aos diferentes níveis de sal, resultado este que
corrobora os encontrados por Bompy et al. (2014) que encontraram que para R. mangle a
salinidade não interfere na produção de biomassa seca total, mesmo se submetidas a salinidades
constantes ou oscilantes (0 a 685 mM), nesse estudo eles não discriminam os valores de
biomassa por compartimento. Comparar apenas a biomassa total pode mascarar os dados
existentes por compartimento.
Para Biber (2006) as trocas gasosas (medidas pela condutância estomática) e o
desempenho fotossintético (medido pela fluorescência da clorofila) em propágulos de R.
mangle diminuíram conforme a salinidade aumentou (0 a 60 ppt). E López-Hoffman et al.
(2007) em estudos envolvendo alta luminosidade e diferentes condições de salinidade (20, 70
e 167 % do nível do mar) identificaram que alta luminosidade e baixas salinidades promovem
o incremento de biomassa de R. mangle mais do que em condições de alta salinidade. Desta
47

forma, estes estudos de produção primária também demonstram que a salinidade afeta o
crescimento de R. mangle.
Apesar de encontrarmos um aparente insucesso na salinidade de 500 mM, algumas
réplicas apresentaram incremento de peso sugerindo que dentro de uma população existem
indivíduos com capacidade de sobreviver nesta condição mais elevada de sódio e cloro. Essa
capacidade é fundamental para a distribuição da espécie em escala local (SPALDING;
KAINUMA; COLLINS, 2010; CLOUGH, 2013).
A plasticidade observada pela espécie em relação ao sombreamento lhe permite
colonizar tanto espaços abertos, ampliando a área de ocupação do manguezal num ambiente
estuarino/costeiro quanto clareiras, favorecendo a regeneração de bosques maduros por ocasião
da senescência de poucos indivíduos ou em bosques que sofreram tensores locais (como mortes
por raios) a modificações no fluxo de inundação.

Conclusão

Nosso trabalho mostra que o sombreamento e a salinidade (0 a 500 mM) influenciam


no crescimento de R. mangle. Identificar o nível de predominância desses parâmetros sobre o
crescimento não deve ser constatado levando em conta a análise parcial dos dados. Baixas
salinidades favorecem o crescimento dos propágulos mais do que altas salinidades, e
propágulos sombreados se desenvolveram melhor que os não sombreados.
Uma análise não detalhada dos dados pode levar a interpretações que ora privilegiam o
sombreamento e ora a salinidade e seu efeito sobre o crescimento dos propágulos.
Mais estudos sob condições controladas devem ser feitos para aumentar o entendimento
sobre o funcionamento dos padrões de crescimento dos propágulos de R. mangle. Sugerimos
que nesses estudos porvindouros o número de réplicas por tratamento seja maior, para evitar
possíveis erros oriundos de baixa amostragem.

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53

Apêndices

Apêndice 1. Croqui dos tratamentos do experimento. Para o experimento foram selecionados


120 propágulos aleatoriamente, distribuídos em quatro tratamentos. Cada tratamento, elaborado
em recipientes plásticos, possuía 6 réplicas contendo 5 propágulos cada réplica, sorteados
aleatoriamente por réplica e posição, totalizando 30 propágulos por tratamento

*Cores fantasia.
54

Apêndice 2. Croqui da distribuição dos tratamentos na germinadora. Bloco 1 bandeja superior,


bloco 2 bandeja intermediária e bloco 3 bandeja inferior. Cada bloco possui 2 réplicas de cada
tratamento.

*Cores fantasia.
55

Anexos

Anexo 1. Solução nutritiva número 2 de Hoagland & Arnon (pH = 6), padronizada por Salisbury
e Ross (2013).
Macronutrientes mM Micronutrientes mM
KNO3 6 MnCl2 . 4H2O 0,009
Ca(NO3)2 . 4H2O 4 H3BO3 0,046
NH4H2PO4 1 ZnSO4 . 7H2O 0,0008
MgSO4 . 7H2O 2 CuSO4 . 5H2O 0,0003
Quelato de Fe ͣ H2MoO4 . H2O 0,0001

ͣ Eles fizeram uma solução estoque de quelato de ferro em uma concentração final de 5g/litro e depois acrescentaram 2mL a cada litro da
solução nutriente duas vezes por semana.

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