Livro Sérgio 2023

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2023
Queila Pahim da Silva
Sérgio Ramiro Rivero Guardia
Organizadores

Turismo reflexões e desafios


Volume IV

2023

1
Copyright© Pantanal Editora
Editor Chefe: Prof. Dr. Alan Mario Zuffo
Editores Executivos: Prof. Dr. Jorge González Aguilera e Prof. Dr. Bruno Rodrigues de Oliveira

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Conselho Técnico Científico
- Esp. Joacir Mário Zuffo Júnior
- Esp. Maurício Amormino Júnior
- Lda. Rosalina Eufrausino Lustosa Zuffo

Ficha Catalográfica
Catalogação na publicação
Elaborada por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166

T938

Turismo reflexões e desafios - Volume IV / Organizadores Queila Pahim da Silva, Sérgio Ramiro Rivero
Guardia. – Nova Xavantina-MT: Pantanal, 2023. 93p. ; il.

Livro em PDF

ISBN 978-65-81460-96-9
DOI https://doi.org/10.46420/9786581460969

1. Turismo. I. Silva, Queila Pahim da (Organizadora). II. Guardia, Sérgio Ramiro Rivero (Organizador).
III. Título.

CDD 338.4791

Índice para catálogo sistemático

I. Turismo

Pantanal Editora

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autores com a concordância da Pantanal Editora.

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Apresentação
Para qualquer país, o turismo é uma importante atividade socioeconômica, que se por um lado
oportuniza o crescimento dos destinos, residentes e visitantes; por outro pode acarretar deterioramento
no meio ambiente, das cidades e outros. Debater e refletir sobre os desafios deste fenômeno, implica em
apoiar as governanças dos destinos para tornar suas ações relevantes.
Nesta obra reunimos cinco trabalhos acadêmicos de diversas regiões do Brasil que exploram as
múltiplas faces do turismo. No primeiro capítulo descortina-se o contexto das concessões de serviços
turísticos nas áreas protegidas do Brasil, apresentando-se uma sistematização de dados sobre as
concessões de serviços turísticos em Áreas Naturais Protegidas (AP) brasileiras, até o ano de 2020, bem
como identifica questionamentos que emergem das publicações acadêmico-científicas que tratam desta
matéria no Brasil. Em abordagem qualitativa e descritiva, é apresentada uma análise do contexto
brasileiro, onde ressalta-se alguns aspectos históricos e políticos de fomento destes arranjos e suas
principais características. Por fim, o capítulo apresenta reflexões que emergem dos achados de pesquisas
acadêmicas e científicas sobre a temática, identificando algumas lacunas nos processos, especialmente,
quanto à participação efetiva de comunidades locais e à promoção do desenvolvimento local na
perspectiva da sustentabilidade.
Dando continuidade, o segundo capítulo versa sobre o resultado de uma parceria
interinstitucional dos Cursos de Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Tendo como objetivo principal promover
um conjunto de ações interdisciplinares de extensão e ensino, em formato remoto, aos estudantes de
graduação em turismo, com ênfase na preparação para participação no Exame Nacional de Desempenho
dos Estudantes (ENADE). Para tal, foram realizadas palestras de sensibilização e oficinas temáticas
contextualizadas aos conteúdos básicos e específicos pertinentes às Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCN) do Curso de Graduação em Turismo. Trata-se de uma pesquisa exploratória de caráter qualitativo,
realizada por meio de fontes primárias e secundárias, analisadas a partir de uma visão interpretativista.
Já no capítulo 3, o autor considera que ao propor novas formas de percepção e experimentação
do urbano, a atividade produz novos sentidos da cidade, constituindo-se como um fator de inovação do
turismo. Para tanto, estabelece uma relação entre a organização do geoturismo e processo de governança,
correlacionado referências mundiais nas respectivas áreas, como Liccardo et al. (2016; 1012), Hose (2005)
e Graham et al. (2003) e Hall (2011). Em seguida, utiliza de dados secundários obtidos na pesquisa de
Silva (2016) para construir uma narrativa da geologia capital potiguar. Por fim, por meio da relação em
Merleau-Ponty (1999) e Foucault (2003), Costa mostra como o geoturismo urbano produz sentidos e
constrói um novo discurso turístico, colaborando para fortalecer o poder de competitividade do destino.
No quarto artigo, é apresentado uma análise da formação tecnológica e profissional em Eventos
ofertada no Instituto Federal de Brasília, tendo como ponto de partida o olhar do discente acerca dos
reflexos desta formação em sua preparação para o mercado de trabalho. Como resultado, identificou-se

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a necessidade dos discentes em aprofundar seus conhecimentos sobre cenografia, audiovisual e
cerimonial social, a expectativa em ter remuneração nos trabalhos desenvolvidos ao longo do curso,
dentre outros.
Por fim no capítulo 5 analisou-se a utilização das redes sociais para a promoção do turismo, em
especial do instagram, através de uma pesquisa feita em 2021 via whatsapp. Foi constatado que apesar
desta rede social ser a mais utilizada pelos entrevistados, a maior parte das compras de viagens era feita
fora da plataforma. Como conclusão, constatou-se o potencial desta rede com ferramenta para divulgação
e venda de produtos turísticos.
Desejamos a todos uma ótima leitura e novas reflexões!
Os organizadores.

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Sumário

Apresentação ................................................................................................................................. 4
Capítulo I ....................................................................................................................................... 7
O contexto das concessões de serviços turísticos nas áreas protegidas do Brasil..................................... 7
Capítulo II ................................................................................................................................... 26
Extensão em rede: uma experiência com base no ENADE dos cursos de turismo das IES públicas
do Rio Grande Do Norte ................................................................................................................................ 26
Capítulo III .................................................................................................................................. 43
Geoturismo urbano e sua organização como discurso da cidade: uma reflexão a partir da capital
potiguar .............................................................................................................................................................. 43
Capítulo IV .................................................................................................................................. 56
Formação superior tecnológica em eventos: uma análise do curso oferecido no Instituto Federal de
Brasília – Campus Brasília, a partir do olhar discente ................................................................................. 56
Capítulo V .................................................................................................................................... 73
Instagram e sua influência na escolha do produto turístico ....................................................................... 73
Índice Remissivo ......................................................................................................................... 92
Sobre os organizadores ................................................................................................................ 93

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Capítulo I

O contexto das concessões de serviços turísticos nas


áreas protegidas do Brasil
Recebido em: 28/04/2023 Paula Normandia Moreira Brumatti
Aceito em: 10/05/2023 Kerlei Eniele Sonaglio
10.46420/9786581460969cap1

INTRODUÇÃO
A importância global atribuída ao patrimônio ambiental e sociocultural para o desenvolvimento
das sociedades contemporâneas revela diversas possibilidades e desafios do turismo como instrumento
de conservação das áreas protegidas (APs). Entendidas como espaços geográficos reconhecidos,
destinados e manejados por mecanismos legais e protetivos para a conservação da natureza (Chape et al.,
2008), tornam-se questão central nas discussões sobre mudanças climáticas e manutenção dos serviços
ecossistêmicos essenciais. Porém, o desafio de conservação dessas áreas é comumente associado a falta
de recursos, principalmente financeiros e em países em desenvolvimento (Thompson et al., 2014),
transformando o uso público para a visitação e o turismo uma estratégia potencial para a geração de
receitas às APs e apoio à conservação.
Apesar do reconhecimento internacional sobre o potencial brasileiro para o desenvolvimento do
turismo em áreas naturais (World Economic Forum, 2017), a efetividade desse processo depende de
investimentos tanto em infraestrutura para o atendimento dos visitantes como da gestão da conservação
das APs e de seu uso público. Nesse sentido, em 2008, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) em
conjunto ao Ministério do Turismo (MTur) lançaram o Programa de Turismo nos Parques que dentre
outras ações, foi responsável por promover as concessões de serviços de apoio à visitação em Parques
Nacionais (PARNAs), na intenção de integrar o setor privado à gestão dessas APs (Brasil, 2008;
Rodrigues, 2009). Dentre os objetivos do programa destacavam-se: o aumento do fluxo turístico, a
melhoria de infraestrutura e serviços; o incremento de receitas; a dinamização da economia local; e
incentivos à produção de artesanato (Brasil, 2008).
Completados duas décadas desde os primeiros esforços para viabilizar as concessões dos
PARNAs do Brasil, poucas são as publicações acadêmicas e científicas que tratam especificamente do
tema ou que reportam as respostas obtidas após a implementação. Dessa maneira, este trabalho tem por
objetivo apresentar o cenário das concessões turísticas em APs do Brasil, até o ano de 2020, considerando
aspectos políticos e regulatórios e de formalização, bem como as principais questões e limitações
levantadas por estudos acadêmicos e científicos que tratam desta matéria no Brasil.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

A partir de uma abordagem qualitativa e descritiva, este estudo, primeiramente, buscou


compreender as oportunidades e desafios que permeiam a promoção e gestão de concessões turísticas
em APs, para num segundo momento, apresentar o contexto brasileiro, identificando os instrumentos
políticos-institucionais e legais que respaldam os processos; a distribuição das Unidades de Conservação
(UCs) submetidas às concessões e as principais características dos arranjos implementados. Por fim, a
partir dos enfoques e proposições presentes nas publicações acadêmico-científicas que abordam o tema
no Brasil, buscou-se elucidar questionamentos, lacunas e novas oportunidades de investigação dessa
estratégia de gestão do turismo no território nacional.

MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo é fruto de uma pesquisa de doutoramento (Brumatti, 2020). A pesquisa utilizou-se
de uma abordagem qualitativa e descritiva, baseada em análise documental e revisão bibliográfica, com o
objetivo de sistematizar informações referentes às concessões dos serviços de apoio ao uso público ativas
em UCs do Brasil.
A primeira etapa da pesquisa consistiu na identificação das áreas protegidas submetidas aos
processos de concessões, das características dos acordos e das bases políticas e legais que regulamentam
tais processos, por meio da análise de documentos, políticas e programas governamentais, além de
comunicações oficiais publicadas nas páginas eletrônicas do MMA e do MTur. O levantamento de dados
ocorreu entre os anos de 2017 e 2020, fazendo-se uma busca por documentos publicados desde a primeira
concessão formalizada, 1998, até o ano de 2020. Os principais documentos analisados consistiram em
relatórios institucionais, editais e contratos de concessões das UC.
A partir de dados primários disponíveis na plataforma de dados abertos do Ministério do Meio
Ambiente e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) (dados.gov.br),
elaborou-se o mapa de distribuição das áreas protegidas submetidas ao regime de concessões, tomando
como referência o fluxo de visitação do ano de 2019.
Para a sistematização das produções acadêmico-científicas alinhadas ao tema da pesquisa e
publicadas foi utilizado o processo Knowledge Development Process Constructivist/ProKnow-C (Ensslin et al.,
2010). Para fins desse estudo foi desenvolvida a primeira etapa do método que consiste na seleção de
artigos e demais publicações para a construção do portfólio bibliográfico relacionados ao tema em
questão. No geral, essa etapa empreendida em 2020, consistiu em três fases: (a) a seleção dos artigos nas
bases de dados que compõem o Banco de Dados Bruto; (b) a filtragem dos artigos selecionados com
base no alinhamento da pesquisa; e, (c) o teste de representatividade do portfólio bibliográfico (Ensslin
et al., 2013). Esta primeira etapa originou 02 (dois) portfólios: a) panorama básico conceitual e b)
concessões turísticas em UCs no Brasil.
Para a seleção, optou-se pela busca no Portal de Periódicos da CAPES/MEC das publicações em
português com combinação das palavras-chave concessões-turismo-unidades de conservação ou parques

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

nacionais e, para a filtragem, a leitura dos resumos. A opção inicial do idioma “português” justifica-se em
razão de que a pesquisa se refere às concessões no território brasileiro e, portanto, o interesse era o de
conhecer, prioritariamente, o volume de dados e informações já disponíveis sobre a matéria. Entretanto,
para buscar fundamento teórico básico sobre o tema em tela, optou-se pela busca nos idiomas
“português”, “inglês” e “espanhol”, visando destacar as principais publicações dedicadas a esclarecer os
aspectos conceituais, oportunidades e desafios sobre as concessões de serviços turísticos em APs.
Seguindo a metodologia ProKnow-C, se desconsiderou o teste de representatividade, em razão
do número reduzido de publicações encontradas. Foi realizada também uma busca no Google Scholar
para complementar o portfólio bibliográfico e ampliar o espectro de achados sobre o tema, que serão
demonstrados no decorrer do texto.
Para analisar o conteúdo dos achados, utilizou-se a técnica de Bardin (2011) em 4 fases, a saber:
coleta de dados, pré-análise, categorização e análise. A fase de coleta de dados e pré-análise foram
orientadas pela metodologia ProKnow-C. Já as categorias analíticas que orientaram a discussão reflexivo
foram divididas em 2 (dois) blocos. No primeiro bloco as categorias definidas e o filtro empreendido
visaram demonstrar um breve panorama e destacar as principais publicações mundiais dedicadas a:
esclarecer os aspectos conceituais, oportunidades e desafios das concessões de serviços turísticos em APs.
No segundo bloco, as categorias de análise foram definidas para contemplar o contexto brasileiro, como
segue: aspectos legais, aspectos estruturais, situação/distribuição territorial, serviços ofertados, atividades
concessionadas, lacunas e desafios.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Compreendendo as concessões turísticas em áreas protegidas
Uma concessão turística é definida como uma licença, arrendamento ou permissão concedida a
uma ou mais organizações, por um determinado período, para operar serviços turísticos relativos à
hospedagem, recreação, alimentação, guiamento, educação no interior de áreas públicas sob a
administração e gestão de agências governamentais (Spenceley et al., 2017). Quando aplicada em uma
AP, as concessões tornam-se uma ferramenta que permite aumentar a arrecadação de fundos, como parte
do sistema “Tourism User Fees”, e viabilizar acessibilidade para visitantes a serviços de qualidade
comprometidos com objetivos sociais e ambientais de desenvolvimento do turismo nesses espaços (Font
et al., 2004; Eagles et al., 2009; Wood, 2010). Portanto, as concessões em APs envolvem parceria dos
órgãos governamentais com uma ou mais organizações, as quais adquirem o direito de operarem e se
beneficiarem com as atividades turísticas comerciais, comprometendo-se com o repasse a agência pública
e/ou comunidade tradicional de parte da receita gerada com a visitação das áreas.
Principalmente a partir do século XXI, diversos países passaram a adotar as concessões turísticas
como estratégia de arrecadação de fundos em prol da conservação, assim como para atender aos demais
objetivos econômicos, sociais e ambientais do desenvolvimento do turismo nessas áreas (Wood, 2010).

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Países como Estados Unidos da América (EUA), Austrália, Canadá, Nova Zelândia e África do Sul, são
exemplos icônicos na promoção de concessões em Parques Nacionais (PARNAs) como forma de
arrecadação de fundos e desenvolvimento turístico (Thompson et al., 2014).

Quadro 1. Oportunidades e desafios das concessões turísticas em áreas naturais protegidas. Fonte:
Elaborado pelas autoras adaptado de Thompson et al. (2014); Spenceley et al. (2017).
OPORTUNIDADES
Diversificação de produtos e serviços turísticos
Geração e incremento da receita para financiamento da AP
Aumento da demanda turística e interesse de ampliação da área sob proteção ou formação de
corredores ecológicos
Maior sensibilização à conservação ambiental e conhecimento sobre o meio natural
Facilitar ao órgão gestor da ANP maior dedicação às ações de conservação e manejo da AP
Desenvolvimento socioeconômico e geração de emprego e renda
Desenvolvimento de pequenos negócios para comunidades
Proporcionar maior visibilidade a determinada AP, ecossistema ou mesmo a um destino turístico ou
região de um país
Investimento em infraestruturas com menor impacto sobre a AP e maior qualidade ao atendimento
de visitantes
DESAFIOS
Capacidade institucional e habilidade em todo o processo de estabelecimento de parcerias
Disponibilidade de tempo, fundos e equipe para realizar, concluir e manter o processo (inclusive
monitoramento).
Adequação de regras, leis e normas que podem comprometer, ameaçar e ferir princípios de
sustentabilidade
Volatilidade do turismo e de interesse da demanda
Sobreposição de interesses das concessionárias sobre interesses coletivos de conservação
Aspectos de governança como poder, corrupção e pouca demanda de concessões
Aspectos legais que podem desencorajar investidores
Estabelecimento das taxas e prazos de concessão adequados para geração de receitas para as partes
envolvidas
Provimento de infraestrutura adequada
Requisitos, capacidades e competência privada para gerir uma concessão
Definição da área, localização e serviços prioritários para concessão
Minimizar conflitos entre atores sociais envolvidos referente ao uso público das AP

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

No entanto, a geração de receita depende tanto da capacidade e estratégias dos agentes parceiros
em atrair turistas - localização da ANP, facilidades, acesso – como da viabilidade em oferecer serviços os
quais os visitantes estão dispostos a pagar para cobrir mais do que os custos das operações (Spenceley et
al., 2017), revelando, assim, oportunidades e desafios (Quadro 1).
Dessa forma, a eficiência das concessões turísticas está atrelada à articulação de mecanismos
políticos, regulatórios e de monitoramento, que sem uma adequada estruturação pode representar riscos
significativos, como a degradação dos recursos naturais dos quais o turismo também depende (Wyman
et al., 2011). Como exemplo, segundo Dinica (2017), a política de concessões da Nova Zelândia, orientada
para atender à demanda turística externa, conjugada à falta de planejamento turístico e adequada
prospecção financeira, tem sido ineficiente para a manutenção das atividades e estruturas necessárias à
gestão e conservação das APs, colocando em risco o desenvolvimento sustentável do turismo. Outros
estudos também constatam ineficiências ou problemas associados às concessões em diversos países: EUA
(Slocum, 2017; Bryant, 2019); África do Sul (Nyahunzvi, 2016; Coghlan; Castley, 2013); Colombia (Ojeda,
2012); Argentina (Valverde et al., 2015), entre outros. Dentre os principais problemas destacam-se: a
exclusão social e intensificação de conflitos para o uso do território; danos ambientais decorrentes do
grande fluxo de visitação e maior pressão de uso dos recursos naturais; falta de responsabilidade das
empresas privadas com ações de conservação e o contínuo subfinanciamento das APs.
Dessa forma, apesar das concessões, como parceiras público-privadas, representarem um dos
mecanismos comumente utilizados para o desenvolvimento do turismo nos parques nacionais de diversos
países (Wyman et al., 2011; Spenceley et al., 2017), o seu desempenho depende de diversas variáveis e
esforços investigativos para identificação de capacidades de respostas positivas e/ou de suas limitações
(Eagles, 2014), podendo, inclusive, serem inviáveis a determinadas APs (Eagles et al., 2009; Thompson
et al., 2014; Spenceley et al., 2017).
O que de fato diversos estudos internacionais aclaram é que, embora estas concessões possam
agregar resultados positivos em termos financeiros, de ordenamento do turismo e de qualificação de
serviços, a comercialização turística das áreas protegidas sob a ótica da conservação neoliberal representa,
na prática, uma nova fronteira de expansão do capitalismo (Brockington; Duffy, 2010; Nyahunzvi, 2016)
e, portanto, requer maior cuidado quanto ao desenvolvimento de processos mais democráticos e
responsáveis eticamente com a conservação ambiental, especialmente em países em desenvolvimento.

Dos aspectos legais e estruturais das concessões em AP do Brasil


No Brasil ainda não há uma política institucionalizada específica a concessão de serviços de apoio
a visitação em AP (Brumatti, 2020). Dessa forma, a estrutura legal e regulatória desses processos está
fundamentada em instrumentos jurídicos e normativos nacionais mais gerais (planos, políticas, leis e
instruções normativas) e documentos específicos a UCs (planos de manejo, projetos, editais e contratos),

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

conforme o Quadro 2, onde estão destacados os instrumentos mais diretamente relacionados a estes tipos
de arranjos.

Quadro 2: Instrumentos políticos, legais e regulatórios diretamente relacionados às concessões dos


serviços turísticos em AP do Brasil. Fonte: Elaborado pelas autoras, adaptado de Brumatti (2020).
1.Instrumentos jurídicos, legais e normativos
Lei n.º 8.666 de 21 de junho de 1993. Institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública.
Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação
de serviços públicos.
Lei Nº 9.790, de 23 de março de 1999. Dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito
privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e
disciplina o Termo de Parceria.
Lei 9.985 de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.
Decreto 4.340 de 22 de agosto de 2002. Regulamenta a lei 9.985/2000 e a autorização da exploração de
produtos ou serviços inerentes às unidades de conservação, exigindo a previsão no Plano de Manejo,
a participação do conselho Consultivo e estudos de viabilidade econômica.
Lei n.º 13.019 de 31 de julho de 2014. Estabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração
pública e as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação e define diretrizes para
a política de fomento, de colaboração e de cooperação com organizações da sociedade civil.
Decreto Federal n.º 8.726, de 2016. Dispõe sobre regras e procedimentos do regime jurídico das
parcerias celebradas entre a administração pública federal e as organizações da sociedade civil.
Lei 13.668, de 28 de maio de 2018. Dispõe sobre a destinação e a aplicação dos recursos de
compensação ambiental, sobre a contratação de pessoal por tempo determinado pelo IBAMA e
ICMBio, bem como permite a concessão de serviços, áreas ou instalações de unidades de
conservação federais para a exploração de atividades de visitação.
Instrução Normativa do ICMBio: que estabelecem normas, procedimentos, padronizações e disciplinas
para a prestação de serviços de planejamento, execução e monitoramento de contratos de concessões
(n° 9, 2018).
Portarias e suas atualizações: definição dos preços para cobrança de ingressos (n° 831, 2018).
2.Planos, Diretrizes, Programas
Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (Decreto 5.758/2006)
Diretrizes para Visitação em Unidades de Conservação (2006)
Projeto “Parcerias Ambientais Público-Privadas” (PAPP) 2014-2020.
3.Instrumentos específicos a UCs
Planos de Manejo ou de Uso Público
Editais de chamamento público de estudos de viabilidade técnica econômica e financeira para os
PARNAs e de licitação para concessão.
Contratos

O aparato legal encontrado, mais recente, foi a Lei n° 13.668/2018 a qual declara que está
permitida a “concessão de serviços, áreas ou instalações em UCs federais para a exploração de atividades
voltadas à educação ambiental, à preservação e conservação do meio ambiente, ao turismo ecológico, à
interpretação ambiental e à recreação em contato com a natureza, precedidos ou não da execução de
obras de infraestrutura, mediante procedimento licitatório regido pela Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de
1995” (Brasil, 2018).
Assim, as concessões em APs brasileiras se inserem no âmbito discricionário do poder público
Estatal, o qual define o arranjo institucional para a prestação dos serviços, observando os princípios
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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

básicos da Lei 8.987/1995, “Lei das concessões de serviços públicos” (Brasil, 1995). Nesse caso, esse
mecanismo envolve necessariamente um processo licitatório, na modalidade de concorrência, que delega
à pessoa jurídica ou consórcio de empresas determinados serviços, relacionados ao uso da ANP
(Rodrigues, 2009). De forma antecipada, o processo exige o Plano de Manejo da UC, o estudo de
viabilidade econômica, consulta pública para elaboração do projeto básico, publicação do edital. Após a
licitação e seleção da melhor proposta, baseada na maior oferta (Rodrigues, 2009), o processo é finalizado
com a assinatura de um contrato administrativo em que o poder público atribui a oferta dos serviços
definidos no projeto exclusivamente à particular, por prazo determinado.
Apesar da legislação brasileira prever a modalidade concessão de serviços públicos via parcerias
público-privadas (Lei n° 8.987/95 e Lei n° 11.079/04), que poderia envolver organizações privadas sem
fins lucrativos, no âmbito do provimento de serviços de apoio à visitação em parques nacionais, elas
ainda não ser utilizadas (Carrillo; Catapan, 2016).
Ademais, embora a terceirização dos serviços de apoio ao uso público nas UCs, segundo as
diretrizes nacionais, preveja uma descentralização e defina diferentes modalidades - concessão, permissão
e autorização – existe uma preferência pelo primeiro modelo (Rodrigues, 2009; Brumatti, 2020). Em
termos gerais, a permissão envolveria também um processo licitatório, porém com contrato por ato
administrativo unilateral sem exigência de grande investimento em infraestrutura, e a autorização não
exige a licitação (Botelho, 2018; Carrillo; Catapan, 2016).

Da situação brasileira das concessões de serviços de apoio a visitação


No Brasil, as primeiras concessões de serviços turísticos em APs ocorreram no Parque Nacional
do Iguaçu (PNI), no estado do Paraná, em 1998. Após significativa melhoria na infraestrutura turística
do Parque por meio do investimento privado e o crescente número de visitantes, o então Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) passou a apoiar as parcerias
público-privadas. O documento intitulado “Marco Conceitual e Diretrizes para Terceirizações
Administrativas em Unidades de Conservação”, salientava a contribuição da privatização dos serviços
para o uso público e recreativo nessas áreas (Pasquali, 2006).
Transcorridos dez anos das primeiras concessões, em 2008, foi lançado o Programa de Turismo
nos Parques que envolveu ações para o desenvolvimento do uso público em PARNAs. Essa iniciativa
decorreu do Plano de Ação para Estruturação e Promoção do Turismo nas Unidades de Conservação
(UC), como produto do grupo de trabalho interministerial formado pelo MMA, ICMBio, MTur e
EMBRATUR. Dentre outras ações, o programa considerava: a implantação de infraestrutura mínima na
área de parque (sede administrativa, portaria, centro de visitantes, sinalização e trilhas), investimentos
financeiros, estabelecimento de parcerias com empresas privadas e fortalecimento da capacidade de
participação de comunidades locais (Brasil, 2008).

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Neste momento, foram definidas áreas prioritárias para investimento de recursos financeiros e
consolidação de parcerias público-privadas, por meio de concessões, incluindo os Parques de Iguaçu/PR
(PNI), Marinho de Fernando de Noronha/PE (PARNAMAR- Noronha), Marinho dos Abrolhos/BA
(PARNAMAR-Abrolhos) e Tijuca/RJ (PNT). Como resultado, no ano de 2010 foram formalizados mais
2 contratos de concessões no PNI e estabelecidos contratos no PARNAMAR- Noronha e da Serra dos
Órgãos (PARNASO) e, em 2012, no Parque da Tijuca.
A partir de 2014, as concessões foram fomentadas sob a estruturação do projeto “Parcerias
Ambientais Público-Privadas” (PAPP), conduzido pelo ICMBio e o MMA, com o apoio financeiro do
Fundo Multilateral de Investimentos (FOMIN), do BID, do Fundo Socioambiental da Caixa Econômica
Federal (CAIXA), sob a responsabilidade executiva do Instituto Brasileiro de Administração Municipal
(IBAM, 2019). Esta iniciativa resultou em diversas ações como a produção de estudos conceituais;
estudos de caso e iniciativas de capacitação e troca de experiências, fortalecendo as oportunidades de
concessão em AP ou demais arranjos no âmbito da terceirização de serviços de visitação em UC (IBAM,
2019).
Como consequência, em 2018, os estudos apontavam diversas UCs aptas às concessões de
serviços turísticos, apontando o potencial para os Parques de Caparaó (MG); Aparados da Serra e Serra
Geral (RS); Itatiaia (RJ); Anavilhanas e Jaú (AM) e São Joaquim (SC), além das FLONAS de Canela e São
Francisco de Paula (RS), da APA Costa dos Corais (AL) e da Reserva Extrativista do Rio Unini, na
Amazônia, ampliando o rol de categorias de UC possivelmente sujeitas às concessões. No escopo das
prioridades do ICMBio, o órgão previa as concessões dos Parques Chapada dos Veadeiros (GO), Pau
Brasil (BA), Jericoacoara (CE), Lençóis Maranhenses (MA), Bodoquena (MS), Caparaó e Itatiaia
(ICMBio, 2018). Como resultado, em 2018, é firmado mais dois contratos de concessão nos parques da
Chapada dos Veadeiros (GO) e Pau Brasil (BA) e, no ano seguinte 2019, no parque de Itatiaia.
Assim, até 2020, dos 74 parques nacionais, que compõe o SNUC, 7 (sete) já haviam formalizado
contratos de concessões e 5 (cinco) encontravam-se em processo de elaboração do projeto base e/ou
consulta pública para licitação: São Joaquim (SC), Lençóis Maranhenses (MA), de Brasília (DF), Aparados
da Serra (RS/SC) e Serra Geral (RS/SC) (Figura 1).
Já em 2019 e 2020, os parques PNI, Lençóis Maranhenses (MA), Jericoacoara (CE), Aparatos da
Serra (RS/SC), Serra Geral (RS/SC), Brasília (DF) e São Joaquim (SC) foram qualificados no Programa
de Parcerias de Investimentos da Presidência da República – PPI, incluídas no Programa Nacional de
Desestatização – PND, para fins de concessão da prestação dos serviços públicos de apoio à visitação, à
conservação, à proteção e à gestão das unidades.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Figura 1. Distribuição das concessões turísticas em parques nacionais do Brasil com dados de visitação
do ano de 2019. Fonte: ICMBio (2020).

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

O programa inclui investimentos do BNDES no fomento de estudos de viabilidade econômica


que respaldam as concessões, além de prever apoio à supervisão dos serviços técnicos e revisão dos
serviços contratados. Ainda de acordo com a resolução nº 157, de dezembro de 2020, o Ministério da
Economia emitiu parecer favorável à qualificação de outras UCs no âmbito do PPI como Floresta
Nacional de Brasília (DF), PARNASO, da Chapada dos Guimarães (MT), de Ubajara (CE), da Serra da
Bocaina (RJ/SP), da Serra da Capivara (PI), da Serra da Bodoquena (MS), do Jaú (AM) e de Anavilhanas
(AM).
Identifica-se, portanto, que até 2020 as concessões prevaleceram nos PARNAs com maiores
fluxos de visitantes anuais. De acordo com o ICMBio (2018), a escolha das UCs prioritárias para a
consolidação das concessões baseava-se em critérios como a existência de plano de manejo, o potencial
número de visitantes, a facilidade de acesso ao local e a existência de estudos preliminares de viabilidade
econômica, além da existência prévia de fluxo de visitantes na região onde a UC está inserida. Nesse caso,
ao considerar que os PARNAs Serra da Bodoquena, Pau Brasil e Chapada dos Veadeiros não estejam
entre as UCs com maior número de visitantes, encontram-se próximos à destinos turísticos com alto
desempenho turístico, como as cidades de Bonito- MS, Porto Seguro- BA e Brasília- DF,
respectivamente.
Em relação aos serviços ofertados eles variam de acordo com os projetos de cada parque, mas na
maioria dos contratos envolvem: centros de visitantes, bilheterias, transportes, alimentação e lojas de
conveniência. Os prazos de contratos variaram entre 10 e 25 anos. Até 2020, é possível dizer que apenas
dois grupos de empresas, Cataratas S.A. e Hope Recursos Humanos, detinham o mercado de concessões
turísticas no Brasil (Tabela 1).
Constatou-se, portanto, que os projetos de concessões foram direcionados a promover
infraestruturas e serviços básicos nos parques nacionais ou UC que já possuem fluxos de visitação
significativos ou com tendência à expansão do mercado, visando, essencialmente, o ordenamento do
turismo e o incremento da qualidade dos serviços de uso público, envolvendo diretamente poucas
empresas privadas com fins lucrativos. Em todos os casos os parques passaram a implementar bilheterias,
cobrando pagamento de ingressos. Ademais, embora os projetos tenham envolvido grandes
investimentos, a margem de recolhimento por parte da união das receitas geradas com a visitação girou
em torno de 2 a 14 % na maioria dos casos, chegando ao máximo de 27, 08% como no caso particular
do PARNA da Chapada dos Veadeiros.
Assim, embora a agência governamental venha aprimorando os instrumentos normativos e
regulatórios e canais de comunicação, a fim de viabilizar a implantação das concessões e atrair investidores
privados, por exigir grandes investimentos e utilizar a modalidade de concessão comum, verifica-se a
dificuldade da participação de médias e, principalmente, pequenas empresas ou mesmo de organizações
sem fins lucrativos e da sociedade civil. Além disso, apesar do processo exigir os estudos de viabilidade
econômica para a segurança financeira do “negócio”, não foram identificadas a exigência de demais

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

estudos como de impactos das concessões em termos ambientais e sociais, bem como de instrumentos
estratégicos como planos de uso público com objetivos e metas claras sobre a direção do
desenvolvimento do turismo e da visitação.

Tabela 1. Contratos vigentes de concessão de serviços turísticos em Parques Nacionais brasileiros. Fonte:
Brumatti (2020). Fonte: Brumatti (2020).
Serviços e
Parque Vigência
Atividades Concessionária(s) Investimento/Pagamento
Nacional Contratual
concessionadas
Centro de
visitantes, 1998/2009-
1° contrato: 30 milhões. 6%
Bilheteria, Cataratas do Iguaçu 2020
da receita
Estacionamento, S/A (Grupo Cataratas)
2° contrato: 63 milhões. 3%
Transporte, 1998/2005-
da receita
Alimentação, Loja 2020
de conveniência;
Transportes
Iguaçu
aquaviário e
Ilha do Sol Agência de
Guiamento 2010/2020 11 milhões. 11% da receita
Viagens Ltda.
(Trilhas), esportes
e aventura
8 milhões.
- Transporte Helisul Taxi Aéreo 2002/2014 5% da receita
Aéreo Ltda. 2016/2021 46 milhões.
Horas de voo
Centro de
Fernando visitantes,
Econoronha 2010/2025 ~ 7 milhões inicial.
de Bilheteria,
(Grupo Cataratas) (+5) 14,7% receita
Noronha Alimentação, Loja
de conveniência.
Bilheteria,
Hospedagem
Serra dos Hope Recursos ~2 milhões inicial.
(Camping), 2010/2020
Órgãos Humanos LTDA 15% receita
Estacionamento e
Trilhas
Centro de
visitantes,
Paineiras-Corcovado 2012/2032 51 milhões
Bilheteria,
(Grupo Cataratas) (+5) 5,11% receita
Estacionamento,
Tijuca transporte
Inicialmente
121 milhões.
Consórcio – Esfeco e
Transporte 2014/2034 3,8 milhões anual + 9,9%
Grupo Cataratas, hoje
receita bruta
só Esfeco.
Centro de
visitantes,
Chapada Consórcio Sociparques
Bilheteria, 16 milhões
dos (Socicam 2018/2038
Estacionamento, 27, 08% receita
Veadeiros transportes/Parquetur)
Alimentação,
Hospedagem

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Serviços e
Parque Vigência
Atividades Concessionária(s) Investimento/Pagamento
Nacional Contratual
concessionadas
(Camping), Loja
de conveniência;

Centro de
visitantes,
Bilheteria,
Estacionamento,
Alimentação,
Hope Recursos 7,2 milhões.
Pau Brasil Hospedagem 2018/2033
Humanos LTDA 6,5% até o terceiro ano
(Camping), Loja
de conveniência;
Atividades
Recreativas
Esportivas
Bilheteria,
Estacionamento,
Alimentação,
Hospedagem
Hope Recursos 17 milhões
Itatiaia (Camping), Loja 2019/2044
Humanos LTDA 2% receita
de conveniência;
Atividades
Recreativas
Esportivas

A problemática das concessões turísticas em áreas protegidas brasileiras


Considerando a realidade brasileira, ainda são poucos estudos que tratam desse tema específico
e, mais ainda, que reportem às respostas que este tipo de arranjo vem trazendo ao desenvolvimento dos
parques nacionais e à redução de conflitos. De acordo com a metodologia utilizada ProKnow-C, foi
possível identificar 13 artigos científicos, 8 teses e dissertações, além de documentos técnicos,
essencialmente, publicados pelo Ministério do Meio ambiente e ICMBio, ou com seu apoio.
Em relação aos artigos científicos, que tratam da temática no Brasil, foram verificadas publicações
a partir de 2013, apresentando distintos enfoques. Alguns apresentam estudos de caso sobre a concessão
em uma determinada UC (Estima et al., 2014; Migliori; Biesek, 2015, Torres; Consenza, 2017; Botelho;
Maciel, 2018; Maranhão et al., 2018; Souza; Amorim, 2019), demonstrando que embora este tipo arranjo
seja viável, trazendo benefícios, ao mesmo tempo trazem lacunas e desafios. Outros artigos discutem
questões socioeconômicas relevantes que impactam ou podem ser impactadas pelas concessões
(Rodrigues; Godoy, 2013; Godoy; Leuzinger, 2015; Souza et al., 2019), assim como questões de
governança e participação comunitária (Botelho; Rodrigues, 2016; Rodrigues; Abrucio, 2019). E por fim
dois artigos que apresentam um panorama mais geral sobre as concessões (Santos et al., 2013; Reis;
Queiroz, 2017).

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

De maneira geral, os estudos técnicos e prescritivos reconhecem a deficiência de recursos


financeiros e humanos dos órgãos governamentais responsáveis pela gestão das APs (Medeiros; Young,
2011; Carrillo; Catapan, 2016, Instituto Semeia, 2019) atribuindo às concessões turísticas significativa
importância para fortalecer a gestão das UCs, assim como contribuir para a geração de receitas, criação
de infraestruturas e aumento do fluxo de visitantes nos Parques (ICMBio, 2018). Ao mesmo tempo,
embora identifique-se consistência do aparato legal e regulatório dos processos, os relatórios elucidam a
necessidade de se buscar respostas mais eficientes (Costa, 2017).
A exemplo, Gorini et al. (2006) identificam que embora a concessão no PARNA Iguaçu tenha
colaborado para maior arrecadação de fundos, este resultado não se refletiu nos orçamentos daquela UC
específica, já que, em 2001, cerca de 42% da arrecadação retornou ao parque Iguaçu e, em 2005, esse
percentual havia se reduzido a 20%. Os relatórios (Costa, 2017; Carrillo; Catapan, 2016) também elucidam
falhas, insatisfações e desafios. De acordo com os documentos, os processos encontram dificuldades
referentes a questões contratuais de definição e clareza; de cumprimento de obrigações e contrapartidas
das concessionárias; de monitoramento efetivo (e não avaliações esporádicas e pontuais), de
relacionamentos entre gestor e concessionários da UC; e da efetiva aplicação e pagamento das
penalidades.
Já os estudos acadêmicos complementam a discussão sobre a contribuição econômica do uso
turístico dos PARNAs (Santos, 2011; Santos et al., 2013; Godoy; Leuzinger, 2015; Migliori; Biesek, 2015;
Souza et al., 2017; Torre; Consenza, 2017; Souza; Amorim, 2019), bem como as bases legais e regulatórias
do processo de concessões (Braga, 2013; Rodrigues, 2009; Maranhão et al., 2018) com reflexões no
campo social de estudos. Nesse sentido, as pesquisas têm colaborado para identificar lacunas da estratégia
política acerca do processo participativo em relação às comunidades locais, da resolução de conflitos
sociais e territoriais, do papel do Estado na defesa e garantia do patrimônio público ambiental e da
promoção do desenvolvimento local sob princípios de sustentabilidade (Pasquali, 2006; Rodrigues, 2009,
Rodrigues; Godoy, 2013; Estima et al., 2014; Maciel, 2015; Botelho; Rodrigues, 2016; Botelho; Maciel,
2018; Botelho, 2018; Trevisan, 2018).
Os estudos acadêmicos demonstram que, no Brasil, a implementação de parcerias para o apoio
aos serviços de visitação pode colaborar para o financiamento do SNUC, desenvolvimento local e
aprimoramento da visitação. Porém, o modelo de concessões utilizado até o momento não seria a única
ou a melhor alternativa, considerando que é limitado quanto a aspectos de transparência (Rodrigues;
Abrucio, 2019); ao aproveitamento de iniciativas de micro e pequeno porte; ao equilíbrio entre os
benefícios econômico-financeiros privados e garantia da função pública de conservação das áreas
(Rodrigues; Godoy, 2013; Godoy; Leuzinger, 2015); e quanto a democratização de espaços públicos
(Botelho; Maciel, 2018).
Dessa forma, para um país que enfrenta uma série de dificuldades na gestão e conservação efetiva
das UCs associadas a problemas fundiários, de direitos quanto ao uso dos recursos naturais, de

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

legitimidade dos espaços de governança e de exclusão econômica e social (Brumatt; Rozendo, 2021),
estas limitações do modelo despertam relevantes ponderações quanto a efetiva capacidade de resposta
das concessões dos serviços de apoio à visitação no Brasil e compromisso com os princípios de
sustentabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As concessões dos serviços turísticos em parques nacionais no Brasil representam uma alternativa
financeira para a gestão pública dessas unidades de conservação e para o desenvolvimento turístico no
país (Godoy; Leuzinger, 2015; ICMBio, 2018). Entretanto, a sustentabilidade do sistema turístico em APs
envolve questões que vão além de uma eficiência econômica, pois incorpora e é incorporada por
elementos de natureza política, ideológica, sociocultural, ambiental, ética e legal, que por sua vez, quando
estruturados, implicam na construção de seus próprios limites.
Esta pesquisa mostra que, após 20 anos da primeira iniciativa do governo federal brasileiro em
favorecer parcerias para a consolidação do turismo em APs e promoção das concessões, é possível
verificar algumas prioridades e lacunas. O modelo escolhido busca nas organizações privadas com fins
lucrativos o seu principal parceiro para investimentos em infraestrutura e oferta de serviços turísticos,
tem como principais objetivos o aumento do número de visitantes e a geração de receitas e empregos e
vem se estruturando sob bases legais e regulatórias consistentes, mas que favorecem a poucos e grandes
grupos empresariais. Ao mesmo tempo, estudos e pesquisas demonstram algumas fragilidades associadas
a este tipo de modelo, principalmente, em relação aos processos participativos e de governança; ao
monitoramento e cumprimento dos acordos e às capacidades efetivas de respostas econômicas e
socioambientais propostas pelo modelo escolhido.
A gestão dos parques nacionais está condicionada a uma série de fatores, que também são
particulares a cada área, região ou país, e, portanto, não existe uma abordagem universal adequada a todas
as situações para o desenvolvimento sustentável do turismo (Eagles, 2009). Certo é que esse
desenvolvimento envolve muito mais do que recursos financeiros e administrativos. Exige compreender
os múltiplos elementos que compõem um sistema complexo e integrado e os processos que atribuem
dinamicidade, para assim sugerir capacidades de respostas à sustentabilidade e resiliência do sistema e
adequações que colaborem para o desenvolvimento local e a conservação do patrimônio ambiental
público.
Nesta perspectiva, são emergentes os estudos no campo do turismo em áreas protegidas que
retomem a perspectiva sistêmica e da complexidade, revelando quais os elementos constituem o sistema
turístico e de APs, como eles se integram e interagem entre si e com sistemas externos a eles, para assim
compreender suas capacidades de respostas e seus limites na promoção efetiva do desenvolvimento
sustentável.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Capítulo II

Extensão em rede: uma experiência com base no


ENADE dos cursos de turismo das IES públicas do Rio
Grande Do Norte
Recebido em: 30/04/2023 Antônio Rufino da Costa
Aceito em: 07/05/2023 Guilherme Bridi
10.46420/9786581460969cap2 João Freire Marinho
Mabel Simone de Araújo Bezerra Guardia
Salete Gonçalves

INTRODUÇÃO
A extensão universitária é uma atividade capaz de produzir um novo sentido à Universidade e
cooperar significativamente para a transformação da sociedade. A mesma só foi entendida como
procedimento que profere o ensino e a pesquisa no final da década de 1980, onde instituíam e promoviam
as mobilizações sociais, culturais e políticas que surgiram na época. Diante de tais acontecimentos várias
indagações sobre produção de ciência e sobre sua entrada originaram variadas discussões sobre um novo
protótipo de universidade, de sociedade e de cidadania (Drèze; Debelle, 1983).
No processo de indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, afirma-se que essa experiência é
necessária à vida acadêmica dos estudantes, pois é por meio dela que se realiza a troca de saberes
disciplinares e populares, o que resulta na participação da comunidade na atuação universitária. Sendo
assim, é um modo de levar conhecimento para a sociedade e trazê-lo em forma de vivências e ações para
a universidade, pois favorece uma visão integrada do social. Nesse sentido, torna-se indispensável a
extensão para as Instituições de Ensino Superior (IES), pois é neste momento em que se envolve em
práticas sociais que se permite encontrar soluções através de pesquisas, garantindo valores democráticos
e desenvolvimento social.
Partindo desse entendimento, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) através
do Curso de Turismo da Faculdade de Engenharia, Letras e Ciências Sociais do Seridó (FELCS - UFRN),
em fins de 2020 elaborou o Projeto Extensão em Rede: Ações integradas dos cursos de graduação em
Turismo para a melhoria do Ensino Remoto, tendo como parceiros os Cursos de Turismo do Campus
de Natal da UFRN; do Campus Central e do Campus de Natal da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte (UERN). O objetivo central foi promover um conjunto de ações interdisciplinares, em formato
remoto, aos estudantes de graduação em turismo, com ênfase na preparação para participação no Exame
Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), edição 2021.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Cabe destacar que o ENADE é um exame que busca avaliar os conhecimentos gerais dos
estudantes, em suas respectivas áreas de estudo, considerando suas habilidades, competências, ideais e o
domínio sobre as especificidades da graduação. Além disso, tem o papel de verificar se as IES estão em
consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de cada curso (Griboski, 2012).
Percebe-se assim, a relevância do ENADE para toda a comunidade acadêmica, gestores,
docentes, discentes e futuros universitários, que poderão, a partir do desempenho no exame, avaliar o
curso e criar estratégias visando a melhoria na qualidade do ensino superior. Ademais, parte-se da
premissa de que a busca por excelência no conceito ENADE promoverá um reconhecimento ainda maior
dos cursos por parte do trade turístico e das comunidades locais, proporcionando novas oportunidades
profissionais e melhores condições de inserção no mercado aos(as) turismólogos(as) egressos(as) no
estado do Rio Grande do Norte.
Frente esse cenário, o artigo em tela tem como objetivo central analisar o Projeto Extensão em
Rede: Ações integradas dos cursos de graduação em Turismo para a melhoria do Ensino Remoto, a partir
da participação docente e discente, bem como dos conteúdos apresentados no decorrer das oficinas.
Ressalta-se que as ações foram desenvolvidas durante a pandemia da SARS-CoV-2 , ou COVID-
19 como ficou popularmente conhecida a doença respiratória, no ano de 2021, de forma on-line através
da plataforma Google Meet, ferramenta tecnológica de uso síncrono (em tempo real), substituindo o espaço
físico tradicional de aula pelo ambiente virtual de aprendizagem (AVA).
Para alcançar tais objetivos, foi realizada uma pesquisa descritiva e exploratória de caráter
qualitativo (Minayo, 1994), com o uso de fontes primárias e secundárias, analisadas a partir de uma visão
interpretativista (Deslandes, 1994).
Para a realização das ações pensadas no que diz respeito às atividades preparatórias do ENADE
2021, estruturou-se uma metodologia inovadora baseada na promoção de oficinas, palestras, cursos,
minicursos, seminários e simulados, integralmente no formato remoto, com uso de plataformas digitais
variadas, com destaque para o Ambiente Virtual de Aprendizagem da Pró-Reitoria de Extensão da UFRN
(AVAPROEX) e Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA). Plataformas digitais
globais como Google Meet, YouTube e StreamYard também foram utilizadas amplamente para a divulgação
de conteúdos e atividades programadas no projeto. Foram igualmente ministradas oficinas, palestras e
workshops que abordaram questões relativas ao ENADE (Dicas de temas e conteúdo, questionário do
estudante, provas anteriores), além de aspectos motivacionais para promover maior engajamento dos
estudantes ao projeto.
Dessa forma, acredita-se que a partir da experiência do Projeto ora apresentado, poderá se
estimular a produção de novos trabalhos e atividades extensionistas, visto que o público-alvo não se limita
ao Curso de Turismo de uma única IES, tendo a possibilidade de alcançar alunos de todo o Brasil que
têm a obrigação de se submeter ao ENADE.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO ENSINO REMOTO


A pandemia da Covid-19 decretada em 11 de março de 2020, pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), gerou impactos nas mais variadas dimensões: sanitárias, econômicas, políticas, socioculturais e
ambientais, afetando tanto em nível global quanto local.
Conforme dados do Johns Hopkins Coronavirus Resource Center (2021), o foco da pandemia recaiu,
primeiramente, sobre a China, alguns países da Europa, Estados Unidos da América (EUA) e, em seguida
se apresentou sobre o Brasil. Até meados do mês de março de 2022, o número total de infectados no
mundo era de 450 milhões, com um total aproximado de seis milhões de óbitos. No Brasil, os registros
indicam 29 milhões de infectados com um total de 655 mil mortes (3o no ranking mundial).
O modus vivendis da população modificou-se em todo o mundo, com fechamento de fronteiras,
isolamento social e uso de medidas protetivas, o que afetou diversas atividades, como comércio, eventos,
transportes, educação e esportes, com longas suspensões de atividades presenciais.
No contexto brasileiro, o primeiro instrumento normativo que reconheceu o estado de
transmissão comunitária do vírus (SARS-CoV-2) em todo o território nacional foi publicado em 20 de
março de 2020 pela Portaria nº 454 e no contexto estadual com o Decreto nº. 29.524, de 17 de março de
2020.
Essa nova realidade trouxe diversos impactos, inclusive na Educação. Segundo dados do
Ministério da Educação, na primeira semana de julho de 2020, existiam 658 mil alunos sem aulas em 28
Institutos Federais e 877 mil graduandos sem ensino presencial em 54 Universidades Federais espalhados
pelo Brasil (2020). A este quadro deve-se acrescer um número expressivo de alunos que sofrem ademais
das questões sanitárias e mentais, com a suspensão das aulas, com a falta de acesso à internet e
computadores, ressaltando as desigualdades existentes na sociedade brasileira, onde nem todos tem
acesso a recursos tecnológicos comprometendo o processo de ensino-aprendizagem e impactando, em
maior proporção, a população em maior vulnerabilidade social. Isso mesmo diante do fato de que a
educação é um direito garantido pelo artigo 205º da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988 (BRASIL, 1988), quer seja em tempos pandêmicos ou não.
Com o distanciamento social necessário para a contenção da transmissão do novo coronavírus, o
Ministério da Educação (MEC) publicou uma série de instrumentos normativos a serem adotadas pelas
instituições de ensino, instituindo a modalidade de ensino remoto, dentre eles: a Portaria nº 544, de 16
de junho de 2020, que dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais,
enquanto durar a situação de pandemia, e revoga as Portarias MEC nº 343, de 17 de março de 2020, nº
345, de 19 de março de 2020, e nº 473, de 12 de maio de 2020 (BRASIL, 2020); a Lei nº14.040, de 18 de
agosto de 2020 que estabelece normas educacionais excepcionais a serem adotadas durante o estado de
calamidade pública reconhecido pelo Decreto legislativo nº 6, de 20 de março de 2020 (BRASIL, 2020).
Nesse contexto, vale destacar ainda a Resolução Conselho Nacional de Educação (CNE) /
Coordenador pedagógico (CP) nº 2, de 10 de dezembro de 2020 que institui diretrizes nacionais

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

orientadoras para a implementação dos dispositivos da Lei nº 14.040, de 18 de agosto de 2020, que
estabelece normas educacionais excepcionais a serem adotadas pelos sistemas de ensino, instituições e
redes escolares, públicas, privadas, comunitárias e confessionais, durante o estado de calamidade
reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020.
Dessa forma, o estado de pandemia fez com que muitas instituições de ensino implementassem
a modalidade de ensino remoto, sejam elas públicas ou privadas, de Ensino Infantil, Fundamental, Médio
ou Superior, fazendo com que todos os atores envolvidos nesse processo se adequassem a esse novo
formato de ensino.
Vale salientar que a modalidade de ensino remoto não possui uma legislação específica e foi criado
em caráter emergencial diante de uma situação atípica, provocada pela pandemia da Covid-19, devendo
ser compreendido como:

[...] um formato de escolarização mediado por tecnologia, mantidas as condições de


distanciamento professor e aluno. Esse formato de ensino se viabiliza pelo uso de plataformas
educacionais ou destinadas para outros fins, abertas para o compartilhamento de conteúdos
escolares. Embora esteja diretamente relacionado ao uso de tecnologia digital, ensinar
remotamente não é sinônimo de ensinar a distância, considerando esta última uma modalidade
que tem uma concepção teórico-metodológica própria e é desenvolvida em um ambiente virtual
de aprendizagem, com material didático-pedagógico específico e apoio de tutores (Garcia et al.,
2020, p.5).

Nesse sentido, os autores supracitados destacam dois aspectos importantes sobre essa modalidade
de ensino: primeiro, o ensino remoto não é o mesmo que Educação a distância (EaD); segundo, a
importância do uso de tecnologias digitais para o seu desenvolvimento.
Buscando aprofundar essas diferenciações, vale destacar que a EaD tem uma legislação própria,
sendo legislada pelo Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017 que regulamenta o art. 80 da Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. E em seu Art. 1º
considera a educação a distância como a modalidade educacional na qual a mediação didático pedagógica
nos processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de informação e
comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação
compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais da educação
que estejam em lugares e tempos diversos (BRASIL, 2017). Ou seja, para além da separação do espaço-
tempo entre educador e educando, existe um conjunto de elementos tecnológicos e humanos
devidamente capacitados seguindo uma política educacional para atuar nesse campo.
No caso do ensino remoto, o uso das tecnologias digitais também se faz presente, porém com
outra dinâmica e características próprias:

O ensino remoto permite o uso de plataformas já disponíveis e abertas para outros fins, que não
sejam estritamente os educacionais, assim como a inserção de ferramentas auxiliares e a
introdução de práticas inovadoras. A variabilidade dos recursos e das estratégias bem como das
práticas é definida a partir da familiaridade e da habilidade do professor em adotar tais recursos.
Ensinar remotamente permite o compartilhamento de conteúdos escolares em aulas organizadas
por meio de perfis [ambientes controlados por login e senha] criados em plataformas de ensino,
como, por exemplo, SIGAA e MOODLE, aplicativos como Hangouts, Meet, Zoom ou redes

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

sociais. Entretanto, é reconhecível que o ensino remoto comporta potencialidades e desafios,


que envolvem pessoas, tecnologias, expertise e infraestrutura (Garcia et al., 2020, p.5).

Os autores supracitados destacam que no ensino remoto, as ações estratégicas, recursos


tecnológicos e ferramentas digitais são utilizados de acordo com o domínio do docente, por isso, o
importante papel do professor no planejamento, execução e avaliação em suas vivências remotas, já que
seu saber tecnológico irá influenciar em suas práticas e consequentemente no desempenho da turma.
Essa necessidade de busca em aliar o tecnológico com o pedagógico emerge de forma intensa
com a pandemia da Covid-19 ao provocar mudanças nas práticas docentes, que tiveram que ser
implementadas de forma abrupta.
Considerando esse cenário remoto no contexto da educação superior, o uso das tecnologias deve
estar presente nas três dimensões da Universidade: ensino, pesquisa e extensão, realizando os ajustes
necessários para essa nova realidade, no qual o espaço de trabalho é virtualizado e comunicação passou
a ocorrer tanto de forma síncrona quanto assíncrona (em tempos diferentes), utilizando diferentes
plataformas digitais. Logo, modificando a dinâmica do processo ensino-aprendizagem e promovendo a
inserção de novas metodologias, com a necessidade do professor enquanto mediador e de uma maior
interação e colaboração discente.
Mas cabe destacar que o acesso a essas tecnologias é desigual, já que que muitos alunos não têm
smartphones, notebooks, tablets e acesso à internet, possuem baixo letramento digital e não dispõem de
ambiente adequado para acompanhamento das aulas remotas. Aqui se observa que a desigualdade social
reflete na desigualdade digital. A pandemia apenas evidencia os problemas socioeconômicos do país e os
reflexos na educação é uma das suas dimensões.
Ressalta-se ainda que a pandemia acarreta mudanças expressivas no cotidiano dos sujeitos do
ponto de vista econômico, social e emocional, e isso inclui discentes e docentes, deixando no seu lastro
perdas humanas e materiais e mudanças traumatizantes que afetam suas práticas e o seu modo de vida
(Vieira et al., 2020).
Esses desafios e limitações que preconizam a modalidade remota também são observados no
campo da extensão universitária, sobretudo, quando da necessidade de uso da mediação com a
comunidade externa, bem como de preconizar suas diretrizes, dentre elas a dialogicidade, a formação
discente e a transformação social (FORPROEX, 2013), potencializando os resultados e a experiência
extensionista, mantendo a segurança dos envolvidos e preservando a vida diante do novo coronavírus.
Diante desse novo cenário, percebe-se o importante papel das IES na promoção de um processo
formativo diferenciado, com base nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda
2030 (Organização Das Nações Unidas - ONU BRASIL, 2015), em especial ao quarto, intitulado
Educação de qualidade; através de uma política educacional clara, que integre o ensino, a pesquisa e
extensão, viabilizando cada vez mais a inserção de novas tecnologias, capacitação docente e que busque
uma aprendizagem para além do conhecimento técnico e especializado, mas de outros valores e

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

princípios, que promova uma maior humanização e desenvolvimento de estilos de vida sustentáveis, seja
em tempos pandêmicos ou não.

PROJETO EXTENSÃO EM REDE E O ENADE


Um projeto em rede refere-se à maneira, pela qual vários componentes são interconectados pelo
um determinado assunto de mesmo interesse. Dessa forma, foi pensado o projeto “Extensão em rede:
ações integradas dos cursos de graduação em turismo para a melhoria do ensino remoto”, que reuniu
todos os cursos de Turismo das instituições públicas do estado potiguar.
Os cursos envolvidos no projeto estão inseridos em duas universidades públicas e distribuídos
em quatro campi, a saber: UFRN campus Central, localizado em Natal e FELCS do campus Currais
Novos; e a UERN campus Central situado em Mossoró e o campus de Natal.
Salienta-se que a equipe executora é formada por 22 docentes dos supracitados cursos, das mais
variadas áreas de atuação e 01 bolsista, bacharelando em turismo do FELCS/UFRN, assumindo o seu
caráter interdisciplinar e interprofissional, que é uma das diretrizes para as ações de extensão universitária
(FORPROEX, 2013).
No tocante à realização das ações pensadas, a metodologia utilizada para às atividades
preparatórias do exame nacional foi estruturada de uma forma inovadora, baseado no fomento de
oficinas, palestras, cursos, minicursos, seminários e simulados, sendo realizados integralmente no formato
remoto, com o uso de plataformas digitais, tais como o Google Meet e Canva.
Além do mais, as atividades desenvolvidas foram ministradas por docentes qualificados nas suas
respectivas áreas, com titulação de Mestre e Doutor, se tornando uma experiência única, visto que muitas
vezes, as oficinas foram ministradas em conjunto, de modo que participavam professores de diferentes
campi ou instituições numa mesma ação.
Ratifica-se que o projeto de extensão foi planejado, com o intuito de unir esforços de diferentes
docentes e IES em aproximar discentes de turismo para a preparação do ENADE. Essa característica da
proposta revela a busca pela interação dialógica na medida em que as universidades de diferentes
instâncias, uma federal e outra estadual, trocam saberes, superando o discurso de superioridade e
concorrência evocando assim a ideia da aliança e partilha de conhecimento.
Destaca-se que essa troca de experiências se dá em um processo de rede, onde cada ator
envolvido, seja professor da UFRN ou da UERN, aluno da UFRN ou da UERN, bem como aluno de
outras IES ou professor convidado, trazem suas experiências e democratizam o conhecimento de forma
ética e plural, fazendo com que todos os agentes envolvidos na ação extensionista contribuam com a sua
práxis.
Traçando um breve histórico do projeto, cabe destacar que a ideia surgiu em uma reunião entre
os docentes em um evento da área, assim foi provocada a reunião dos gestores dos cursos para discutir

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

e viabilizar as ações de extensão articuladas pedagogicamente, por meio de uma parceira institucional,
tendo como uma das premissas a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão.
Nesse sentido, ressalta-se que o ensino se dá na medida em que o projeto se vincula ao processo
de formação do aluno possibilitando que este seja protagonista da ação, e o professor um mediador que
de forma conjunta dão vida ao projeto. Já a pesquisa é deflagrada no uso de metodologias participativas
e do monitoramento e avaliação dos resultados da ação, ademais através do projeto extensionista pode-
se haver produção acadêmica.
Frente a esse contexto, para melhor compreender a dinâmica de cada curso, segue uma breve
descrição:
Quadro 01. Descrição dos Cursos de Turismo das IES públicas do RN. Fonte: UERN, 2018a; UERN,
2018b; UFRN, 2015; UFRN, 2017.
Cursos de Turismo Ano de Carga Número de Turno
criação horária vagas
UFRN – Campus Natal 1996 2.865 108 Vespertino
UFRN – Campus Currais Novos 2006 2.530 50 Noturno
UERN – Campus Mossoró 2002 2.960 40 Matutino
UERN – Campus Natal 2002 2.850 40 Noturno

Observa-se no Quadro 1 as características principais dos cursos de Turismo, em que o curso mais
antigo é o da UFRN Campus Central e o mais recente é o do FELCS. Percebe-se também que existe
oferta nos três turnos e que a oferta total de vagas é 238. Salienta-se que, mesmo diante das especificidades
de cada curso, considerando a região no qual está situado, seus objetivos e alcance, eles seguem as
diretrizes curriculares nacionais, ofertando em suas matrizes curriculares conteúdos básicos, específicos
e teórico-práticos, desenvolvendo projetos de ensino, pesquisa e extensão, propagando aos seus alunos
os conhecimentos necessários para atuarem no mercado turístico, como: empresas de consultoria e
assessoria, agência de viagens, empresas de eventos, meios de hospedagem, Alimentos e Bebidas (A&B),
no setor público dentre outros.
Dessa forma, considerando as singularidades de cada curso acredita-se que essa união contribui
para o fortalecimento de laços interinstitucionais e na preparação dos estudantes para o ENADE.
Cabe esclarecer que o Exame Nacional de Cursos (ENC), mais conhecido como “Provão”, foi
criado em 1995, no primeiro mandato do então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso,
através do Sistema Nacional de Avaliação (SNA) (De Castro et al., 2016) e antecedeu o ENADE.
O ENC, era aplicado de forma anual com os estudantes concluintes dos cursos de graduação.
Tinha como condição a obrigatoriedade da prova, a aquisição do diploma. Era elaborado com base nos
conteúdos mínimos de cada curso e avaliava as competências adquiridas pelos alunos, na qualidade do
ensino ofertado. O ENC vigorou até o ano de 2003, sendo substituído pelo ENADE a partir de 2004.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Em 2004, durante o primeiro mandato do governo Luís Inácio Lula da Silva (2003-2006), foi
instituído o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). Cujo, objetivo é garantir o
processo nacional de avaliação das IES, de cursos de graduação e do desempenho acadêmico dos
discentes (De Castro et al., 2016).
O ENADE é parte do SINAES, sendo formalmente instituído pela Lei n. 10.861. O SINAES
também inclui uma série de quesitos avaliativos, como: a autoavaliação das instituições, avaliação externa
do corpo docente, da infraestrutura e uma avaliação específica de cada curso de Graduação, realizada por
avaliadores selecionados pelo Ministério da Educação (MEC) (Bittencourt et al., 2008).
Frente esse cenário, uma indagação recorrente feita pelas IES privadas, sobre os requisitos
avaliativos do Ensino Superior no Brasil, era sobre à igualdade tratamento em relação às instituições
públicas (especialmente federais), visto que para ingressar numa instituição pública era mais difícil do que
na privada, portanto os alunos (das universidades públicas) seriam bem mais preparados para o exame.
Tal reclamação resultou na criação do Indicador de Diferença (IDD) (Indicador de Diferença entre os
Desempenhos Observado e Esperado), sendo considerado a maior inovação do atual sistema avaliativo
(ENADE) em relação ao seu antecessor (Provão) (Bittencourt et al., 2008).
No IDD, os candidatos são avaliados em relação ao desempenho médio esperado, para os
estudantes, em condições supostamente semelhantes. Dessa forma, o índice IDD representa a diferença
entre o desempenho médio dos concluintes com os resultados médios das IES (de perfis semelhantes)
(Bittencourt et al., 2008).
Ademais, o ENADE é um exame que tem como finalidade, avaliar o conhecimento dos
estudantes em suas respectivas graduações, para isso atribui-se um conceito (de 1 a 5), sendo que de 1 a
2 significam que o curso está abaixo das expectativas, ou seja, um resultado indesejado; já a obtenção da
nota 3 é considerada satisfatória, pois aponta que o curso está dentro do rendimento comum ou muito
próximo, atendendo as expectativas do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira), que a é a entidade pública federal vinculada ao MEC responsável pelo ENADE; e por
fim, as notas 4 e 5, que indicam os níveis mais elevados de qualidade de ensino e deflagram que o curso
apresenta performance superior à média nacional.
Por isso, é de suma importância a participação dos estudantes neste exame, visto que na ausência
deles, poderá acarretar a não aquisição do diploma, pois o ENADE é um componente curricular
obrigatório, sendo a regularidade do estudante perante o Exame condição necessária para a conclusão do
curso de graduação. A inscrição é obrigatória para os estudantes concluintes habilitados dos cursos de
bacharelado e superiores de tecnologia vinculados às áreas de avaliação da edição (BRASIL, 2022).
Considerando especificamente os Cursos de Turismo, o mesmo pertence ao III Ciclo avaliativo
do ENADE, tendo sua primeira ocorrência no ano de 2009 e sendo realizado a cada três anos, ou seja,
em 2012, 2015 e 2018. A quinta edição estava prevista para ocorrer em novembro de 2021 (INEP, 2021),

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

porém diante dos desafios impostos pela pandemia da covid-19 foi adiado para o ano de 2022
(ASSESSORIA..., 2022; BRASIL, 2021), sem data definida.
Destaca-se que os conceitos obtidos pelos Cursos de Turismo integrantes do projeto de extensão
variam de acordo com a IES e com cada edição, como se observa no Quadro 02.

Quadro 02. Conceito ENADE dos Cursos de Turismo das IES públicas do RN (2009-2018). Fonte:
INEP (2022).
Cursos de Turismo 2009 2012 2015 2018
UFRN – Campus Natal 4 3 3 4
UFRN – Campus Currais Novos Sem conceito 3 2 4
UERN – Campus Mossoró Sem conceito 3 2 2
UERN – Campus Natal 5 3 3 2

Como se pode observar, na primeira edição do ENADE, dois cursos não tiveram conceito, pois
não tinha turma de concluintes. A UERN Campus de Natal teve o melhor resultado em 2009, sendo que,
nos anos subsequentes, teve seu conceito final reduzido, obtendo nota 2 na última avaliação, já a UERN
Mossoró que obteve o primeiro conceito 3, por duas edições está com conceito 2. Referente a UFRN
Campus Natal esta obteve conceito 4 em 2009, sofrendo uma redução deste para 3, nos anos de 2012 e
2015. Em 2018, porém, recuperou sua avaliação para o conceito 4 (Muito Bom), a UFRN campus Currais
Novos - FELCS também sofreu uma queda na avaliação de 2015, mas se recuperou após um trabalho
em equipe conduzido pela coordenação de curso.
Percebe-se assim que esse projeto de extensão poderá possibilitar uma melhoria nesses conceitos,
fortalecendo os cursos de turismo do Rio Grande do Norte.

EXPERIENCIANDO A EXTENSÃO EM REDE NO ENSINO REMOTO


O projeto “Extensão em rede: ações integradas dos cursos de graduação em turismo para a
melhoria do ensino remoto” contou inicialmente com reuniões entre os chefes de departamento e
coordenadores de curso para elaborar o seu plano de ação. Nessa primeira reunião identificou-se que o
curso da UERN Campus Natal já vinha trabalhando em um cronograma de oficinas voltadas para o
Enade, o qual acabou sendo adaptado e usado como ponto de partida para o planejamento das atividades
do projeto em rede. Posteriormente os docentes de cada curso envolvido foram convidados para
integrarem a proposta e contribuir no debate e criação de estratégias para viabilizar a atividade
extensionista. Ressalta-se que esses encontros foram realizados de forma virtual, utilizando ferramentas
tecnológicas de comunicação síncronas e assíncronas, devido principalmente a pandemia da covid-19 e a
distância geográfica, uma vez que existem campi na capital, na região oeste e no Seridó do estado potiguar.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Em seguida, foi criada a arte, definido um cronograma das ações e a metodologia a ser utilizada.
Com essas definições, iniciou-se o processo de divulgação das oficinas nas mídias sociais, com destaque
para a página do instagram @projeto_rede_enade, resultando em um total de 14 publicações, 173
seguidores e seguindo 138 perfis, na data de 16 de janeiro de 2022.
Ratifica-se que o projeto foi realizado de forma on-line, tendo suas primeiras atividades ocorridas
em março de 2021, nas quais as IES envolvidas realizaram palestras de sensibilização com seus alunos
sobre a importância do ENADE, bem como apresentando o projeto de extensão interinstitucional.
Os demais encontros foram realizados através de oficinas digitais com a revisão de conteúdo e
resolução de questões, nas quais inicialmente o link era disponibilizado na biografia do Instagram do
projeto e pelos chefes de departamento de cada curso parceiro, mas devido a uma invasão hacker, ocorrida
em junho de 2021, o acesso foi disponibilizado apenas aos chefes de departamento que assumiram a
responsabilidade em divulgar junto ao seu corpo discente. Essa ação fez com que houvesse uma maior
segurança cibernética ao projeto, em contrapartida restringiu o acesso de bacharelandos em turismo de
outras universidades.
No total, ao longo de 10 meses de execução do projeto, foram realizadas 12 oficinas síncronas
no turno vespertino, sendo 10 nos sábados, 01 na segunda-feira e 01 na sexta-feira.
As oficinas contaram com a participação de 15 professores, sendo 7 da UERN/Campus Natal, 3
da UERN/Campus Central, 3 da UFRN/Campus Natal, 2 da FELCS/UFRN e 2 convidados externos.
Dessa forma, observa-se uma maior participação de docentes da UERN, conforme se observa no quadro
a seguir:

Quadro 03. Participação docente por oficina. Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
Seq. Oficina Data Qtd. de professores
1. Planejamento e administração do 27/03 02 UERN CAN
turismo
2. Planejamento do turismo 10/04 02 UERN CAN
3. Leitura e interpretação de texto 24/04 01 UERN CAN
4. Produção de texto 08/05 01 UERN CAN
5. Lazer e ludicidade 12/06 01 UERN Campus Central e 01 UFRN
FELCS
6. Métodos quantitativos aplicados ao 14/08 01 UERN CAN e 01 UFRN Natal
turismo
7. Produção de texto 04/09 01 convidada externa
8. Biossegurança nos serviços turísticos 02/10 01 convidada externa
9. Teoria Geral do Turismo 23/10 01 UERN CAN

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Seq. Oficina Data Qtd. de professores


10. Eventos 05/11 01 UFRN Natal
11. Turismo e Meio Ambiente 11/12 01 UERN Campus Central
12. Hotelaria e Gestão Hoteleira 15/12 02 UERN (CAN e Campus Central)
Total 17

Cabe destacar no quadro 03, o somatório totalizou 17 professores, porque dois professores
ministraram duas oficinas, a saber: “Planejamento e administração do turismo” e “Planejamento do
turismo”.
No tocante à participação dos alunos nas oficinas, constatou-se uma assistência total de, no
mínimo, 128 alunos durante todo o projeto, conforme Quadro 04. Todavia, como diversos alunos
participaram de mais de uma oficina, a verificação das listas de presença revelou a participação efetiva de
71 alunos.
A maioria dos alunos, 58%, participou de apenas uma oficina, revelando assim, uma baixa
assiduidade dos estudantes, diante da projeção de alunos que irão fazer o ENADE por curso/IES. Se
aliarmos esse resultado aos alunos que participaram de duas oficinas esse percentual atinge 73%,
podendo-se inferir que esse comportamento dos alunos se deve aos seguintes fatores: o volume de
atividades regulares do ensino remoto; problemas de saúde, tanto de ordem física quanto mental; o
cansaço das atividades on-line; o dia e/ou horário da semana escolhido. Aspectos que são suscitados, mas
que podem ser investigados para identificar de fato, a causa desses resultados.
Considerando os demais participantes, 14% se fizeram presentes em três oficinas; 6% em cinco
oficinas; 5% em quatro oficinas; 1% participou de seis oficinas e 1% participou de nove oficinas. Dessa
forma, nenhum estudante participou das 12 oficinas ofertadas na primeira edição do Projeto Extensão
em rede: ações integradas dos cursos de graduação em turismo para a melhoria do ensino remoto.
Salienta-se que a frequência era realizada utilizando a ferramenta Google Forms, disponível durante o
período da atividade, de março a dezembro de 2021.
Cabe destacar ainda que houve 128 registros de participações de alunos nas oficinas, pois,
conforme apresentado anteriormente, os alunos podiam participar de quantas oficinas eles desejassem,
conforme se observa no quadro 04. Ademais pode-se inferir que esse número possa ser maior, pois nem
todos os alunos assinavam a lista de frequência e há relatos que alunos de outras IES também participaram
de algumas oficinas.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Quadro 04. Participação discente por oficina. Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
Número de Número de Número
Oficina Datas alunos alunos total de
UFRN UERN alunos
1. Planejamento e administração do 27/03 03 12 15
turismo
2. Planejamento do turismo 10/04 03 10 13
3. Leitura e interpretação de texto 24/04 02 03 05
4. Produção de texto 08/05 02 02 04
5. Lazer e ludicidade 12/06 02 03 05
6. Métodos quantitativos aplicados ao 14/08 02 03 05
turismo
7. Produção de texto 04/09 23 01 24
8. Biossegurança nos serviços turísticos 02/10 09 01 10
9. Teoria Geral do Turismo 23/10 01 03 04
10. Eventos 05/11 25 02 27
11. Turismo e Meio Ambiente 11/12 07 02 09
12. Hotelaria e Gestão Hoteleira 15/12 08 03 11
Total 86 42 128

Considerando o quadro acima, observa-se uma oscilação na frequência dos estudantes por oficina,
atingindo o pico máximo na oficina de “Eventos” com 27 alunos e mínima de 04 alunos na oficina de
“Produção Textual”. Vale ressaltar ainda, que a oficina “Produção Textual” foi programada e divulgada
para ocorrer no dia 26 de junho de 2021, porém a mesma não ocorreu por falta de demanda, sendo
remarcada para o dia 04 de setembro de 2021 e mesmo assim com pouca adesão dos estudantes.
Verificou-se ainda que, do ponto de vista absoluto, uma maior participação dos alunos da UFRN,
sendo 36 do FELCS e 13 do Campus de Natal; seguido por 11 discentes da UERN Campus Central e 11
do Campus Mossoró. Pode-se afirmar que esses alunos foram impactados por essa atividade
extensionista, uma vez que “esses resultados permitem o enriquecimento da experiência discente em
termos teóricos e metodológicos, ao mesmo tempo em que abrem espaços para reafirmação e
materialização dos compromissos éticos e solidários da Universidade Pública brasileira” (FORPROEX,
2013, p. 52-53).
Vale acrescentar que há uma preocupação da coordenação do projeto no engajamento dos alunos,
havendo reuniões periódicas para apontar os pontos fortes e fragilidades, bem como no monitoramento
da frequência dos alunos. Uma das mudanças perceptíveis na dinâmica da atividade extensionista, foi a

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

mudança da periodicidade das oficinas, que até o primeiro semestre de 2021 e antes do anúncio do
adiamento do ENADE eram realizadas quinzenalmente e a partir desse período passaram a ser mensais,
tornando assim o cronograma mais conciso e menos cansativo.
Destaca-se ainda que foi criado um banco de questões elaboradas pelos docentes das duas
instituições envolvidas no projeto, no entanto os simulados que estavam planejados no cronograma inicial
do projeto não aconteceram, tendo uma de suas causas a postergação do exame, desta forma o referido
banco de questões será utilizado no ano de 2022.
Observa-se também que foram pensadas novas estratégias de divulgação e de segurança
cibernética nas oficinas; bem como ampliado o público alvo, que não se limitará apenas aqueles estudantes
que irão realizar o Enade.
No tocante as temáticas ministradas nas oficinas, observou-se que foram trabalhados um número
significativo de conteúdos básicos e específicos dos Cursos de Turismo propostos pelas Diretrizes
Curriculares Nacionais (BRASIL, 2006), dentre eles: aspectos sociológicos, antropológicos, históricos,
geográficos e culturais, bem como assuntos relacionados com a Teoria Geral do Turismo, estabelecendo
relações com a administração, a economia e a estatística.
Ressalta-se que os temas “Planejamento do turismo” e “Produção de Texto” tiveram maior
ocorrência durante a execução do projeto, com a oferta de duas oficinas cada. Interessante considerar
que o planejamento turístico é um assunto muito abordado nas edições do ENADE, sempre abordado
de modo interdisciplinar, tornando-se pertinente a ênfase por tal temática.
Já sobre a produção textual percebe-se a atenção dos coordenadores do projeto em se ater a
importância da compreensão dos enunciados das questões do ENADE, que podem ser de
complementação, interpretação, resposta múltipla, asserção e discursiva, e em preparar os discentes com
relação ao tempo e a escrita da avaliação, desenvolvendo competências e habilidades nos envolvidos tais
como: compreender a complexidade do mundo pós-moderno e problematizar situações-problema na
área do turismo e do entretenimento.
Por fim, constatou-se o interesse da coordenação em desenvolver uma segunda edição do projeto,
com a oferta de novas temáticas e o reforço dos conteúdos específicos, e a possibilidade de realizar
atividades híbridas, caso haja um controle da pandemia da covid-19.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Projeto Extensão em Rede: Ações integradas dos cursos de graduação em Turismo para a
melhoria do Ensino Remoto é uma iniciativa inovadora, principalmente pelo fato de integrar quatro
cursos de duas universidades públicas, motivadas pelo fortalecimento e melhoria da qualidade dos
referidos cursos e do campo do turismo no estado potiguar, rompendo quaisquer ideias da concorrência
entre as IES e alunos, uma vez que integra diferentes docentes, discentes e Universidades.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Ademais, a inovação também é perceptível na metodologia utilizada e na busca de uma maior


autonomia e protagonismo discente, uma vez que os mesmos são convidados a participar das oficinas e
não há nenhuma premiação em troca.
Pode-se destacar ainda que a oferta das atividades de modo on-line possibilita um maior alcance
de estudantes interessados em revisar conteúdos importantes na formação do Bacharel em Turismo e em
se preparar para o ENADE e/ou outros concursos públicos na área. Além disso, os acadêmicos entram
em contato com outros docentes e discentes, ampliando seu networking e sua percepção do fenômeno
turístico através de novos olhares sobre o mesmo conteúdo e a aplicabilidade do conhecimento teórico
apreendido no decorrer da sua graduação. Dessa forma, acredita-se que essa experiência é um diferencial
na sua formação acadêmica e profissional dos envolvidos, tornando-a mais crítica, humana, responsável,
ética e integrada. Ou seja, para além do desempenho dos alunos para ENADE, outros valores e princípios
são desenvolvidos no projeto.
Ressalta-se que o envolvimento de diferentes professores e com variadas titulações enriqueceu o
projeto, enfatizando o caráter interdisciplinar, através da troca de experiências, novas metodologias de
ensino e abordagens teóricas contribuindo para o desenvolvimento educacional dos envolvidos.
O uso das tecnologias no projeto de extensão é um aspecto que também deve ser abordado, já
que se por um lado possibilitou uma nova forma de pensar, de planejar, de aprender e agir demandando
mudanças no contexto educativo e nas ações pedagógicas desenvolvidas, ou seja, potencializou o
processo de ensino-aprendizagem. Por outro lado, os estudantes com pouco acesso e/ou instabilidade
na internet não conseguiram acompanhar as oficinas. Diante dessa realidade, um novo desafio a ser
enfrentado pelas instituições envolvidas é assegurar que todos possam participar dessas atividades de
forma remoto e/ ou híbrida, já que existe o interesse em dar continuidade ao projeto, a fim de auxiliar os
estudantes mais vulneráveis a continuar suas atividades extensionistas diante de um cenário pandêmico
da Covid-19.
No que concerne as oficinas ofertadas, constatou-se que as temáticas propostas foram adequadas
para o objetivo do projeto extensionista e que podem contribuir para um melhor desempenho dos
estudantes no ENADE.
Os resultados apontados por esse projeto podem ser uma importante ferramenta para o processo
de formação humana dos atores envolvidos, já que ao promover atividades fora da sala de aula, do seu
Campus, da sua realidade traz benefícios aos envolvidos, podendo ser tão ou mais duradouros/benéficos
quanto às atividades regulares desenvolvidas na sala de aula ou em laboratórios. Além disso, acredita-se
que esse projeto pode ser reproduzido por outras IES, fazendo-se as adequações necessárias a cada
realidade, propiciando o acesso a novas formas de ensino-aprendizagem, a diversidade e descristalizando
alguns padrões.
Acredita-se que novos estudos podem ser realizados sobre o projeto, investigando o grau de
satisfação dos envolvidos e os impactos do projeto em sua vida acadêmica; além de analisar sua

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

continuidade e acompanhar o resultado do ENADE, observando se haverá mudanças nos conceitos dos
cursos envolvidos.
Por fim, acredita-se que mesmo diante dos desafios, oportunidades e limitações advindos com a
modalidade remota e o uso das tecnologias, todos os agentes envolvidos nesse processo adquiriram novas
habilidades e novos aprendizados, ampliando, mesmo que minimante, o seu letramento digital, sua rede
de relacionamentos e o compartilhamento de conhecimento sobre o fenômeno turístico.

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https://doi.org/10.18264/eadf.v10i3.1147. Acesso em: 15 out. 2021.

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Capítulo III

Geoturismo urbano e sua organização como discurso da


cidade: uma reflexão a partir da capital potiguar
Recebido em: 10/05/2023 Moabe Breno Ferreira Costa
Aceito em: 20/05/2023
10.46420/9786581460969cap4

INTRODUÇÃO
Meu pai São João Batista é Xangô
Ele é dono do meu destino até o fim
O dia que me faltar a fé no meu senhor
Derruba essa pedreira sobre mim
(Ponto de Xangô)1

O verso da epígrafe, intitulado Ponto de Xangô, que faz parte do domínio popular e é
interpretado por cantores da música brasileira, como Maria Betânia (Brasileirinho, 2003), propõe uma
síntese da relação entre homem, cultura e elementos da natureza. Xangô é considerado o senhor da
sabedoria e da justiça, pela tradição afro-brasileira; e seu habitat natural são cavernas, rochas e pedreiras.
Para religiões de matriz africana, os elementos bióticos e abióticos trazem consigo mistérios
divinos, cujas interpretações influenciam o comportamento humano e a relação do homem com o meio.
Por analogia ao sagrado, observamos que as diferentes composições de solos, minerais, rochas, rios,
lagoas, paisagens e fenômenos naturais que compõem as diversas regiões do planeta Terra, objeto de
estudo da geologia, interferem no modo como o homem se relaciona com o meio ambiente.
Cada local, cada cultura desenvolve significados específicos para os elementos da natureza que
compõem sua ambiência. A formação das cidades, com suas estruturas, infraestruturas, edificações, ruas,
paisagens e demais aspectos que fomentam sua dinâmica e criam seus cenários, está vinculada ao
ambiente natural em que foi edificada. As intepretações geológicas são alicerces para a edificação do
urbano e colaboram para a atribuição de sentidos aos lugares, possibilitando a construção de discursos
culturais.
Os elementos da geodiversidade de um local permitem uma sistematização do espaço,
delimitando as possibilidades de intervenções em cada área. Núcleos habitacionais, regiões de negócios e
de grandes edificações, interligações de espaços, áreas de proteção são indicativos da geodiversidade da
cidade. Analisamos a estrutura geológica para projetarmos a imagem do lugar. Ou seja, o urbano é

1 http://www.umbandaesoterica.com.br/?page_id=539//. Acesso em 12 de junho de 2016.

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edificado por meio de processos de interpretação. Às vezes não tão respeitosos com os elementos da
Terra quanto a percepção religiosa, mas este é um caminho para entendermos a cidade e as atividades
que nela se desenvolvem, como o turismo.
O turismo é uma forma de relação do homem com os lugares, propondo uma cultura específica.
A atividade compreende interação de atores-observadores (termo para designar autóctones e turistas)
com o espaço e suas dinâmicas em processo de trocas simbólicas que direta e/ou indiretamente geram
conhecimentos e interferem nas identidades locais. O termo simbólico está relacionado a aspectos
materiais e imateriais que se comportam como representações do corpo social.
Portanto, as trocas simbólicas correspondem a negociações entre diferentes elementos que
dinamizam as culturas. Quando este processo enfatiza o meio físico com a proposta de interpretar
cientificamente a paisagem e sua contribuição para a construção dos significados sociais, denominamos
de geoturismo.
Para a National Geographic Travel (2016), o geoturismo deve possibilitar conhecimentos sobre
aspectos abióticos e melhorias na dinâmica local, considerando setores ambientais, estéticos, econômicos,
entre outros. Para tanto, prescinde de uma gestão que promova a efetiva participação dos atores
envolvidos na atividade. Neste sentido, nosso objetivo aqui é refletir sobre a construção discursiva do
geoturismo urbano, tendo como objeto o destino de Natal, capital do Rio Grande do Norte-BR.
Esta reflexão foi apresentada na Conferência Internacional de Turismo (Invtur), realizada no
município de Aveiro, Portugal, no ano de 2017. Estabelecemos relações entre elementos concretos e
abstratos do geoturismo urbano, da governança e da produção de sentidos, construindo uma
racionalidade hermenêutica. Buscamos formular nosso próprio contexto cognitivo a partir da
interpretação de pesquisas bibliográficas e documentais, utilizando de dados secundários.
A hermenêutica é uma “uma metodologia crítica na leitura, releitura e nova interpretação de
conceitos que integram o campo epistemológico do turismo” (Panosso Netto; Nechar, 2014, p. 133).
Aqui, tentamos atribuir novos significados ao geoturismo, por meio de um exercício cognitivo que busca
romper com absolutismos, orientações positivistas, funcionalistas e estruturalistas que situam as
discussões referentes às investigações turísticas em um campo distante da argumentação, da racionalidade
analógica e da dialética.
Ao pretendermos identificar analogias e contradições na essência do nosso objeto de análise,
desenvolvemos uma hermenêutica dialética transformacional, como observa Gaxiola (2009). Assim, não
nos debruçamos no processo histórico de desenvolvimento do geoturismo nem da governança nem da
análise do discurso, mas nos critérios lógicos e válidos que os aproximam. Como a hermenêutica é um
modo interpretativo que se comporta ao mesmo tempo como metodologia e teoria, organizamos nossas
reflexões em três tópicos dissertativos.
O primeiro – Geoturismo urbano como estratégia de governança – traz uma contextualização
sobre aspectos da atividade que apontam para sua gestão com base nos princípios da governança, já que

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esta corresponde a um processo de gestão participativa cujos princípios incluem atribuição de voz ativa
aos envolvidos, visão estratégica, responsabilidades, eficácia, eficiência e justiça social. Por meio desta
relação, destacamos o geoturismo como uma narrativa cultural e, para melhor contextualização,
apresentamos no segundo tópico – Geodiversidade de Natal: uma nova narrativa cultural – um estudo
com dados secundários totalmente fundamentado na pesquisa de Silva (2016).
Enfatizamos a contribuição da geologia para a formação da dinâmica urbana e cultural da capital
potiguar, destacando aspectos que contextualizam o geoturismo urbano. Estas abordagens teórica e
técnica desencadeiam na terceira seção – Sentidos do urbano a partir da geodiversidade – uma discussão
sobre produção de sentidos e como estes se convergem em mais um discurso da cultura turística.
Refletimos sobre o modo como os elementos da geologia e gestão do geoturismo propõem um novo
discurso para a cultura turística.
Consideramos o geoturismo urbano como um novo nicho de mercado, estimulando novos
enfoques sobre a dinâmica socioeconômica e administrativa de centros receptivos, já que propõe novos
movimentos sensíveis e cognitivos, a partir de um processo sistêmico de interpretação geográfica.

GEOTURISMO URBANO COMO ESTRATÉGIA DE GOVERNANÇA


Geoturismo corresponde às iniciativas administrativas para promover aos atores-observadores
conhecimentos sobre a geologia e geomorfologia de uma localidade, ultrapassando a contemplação da
beleza ambiental. Segundo Hose (2005), a atividade consiste na interpretação cientifica do patrimônio
natural de forma compreensível, estimulando a visitação, a partir de um sistema ordenado de informações
sobre elementos abióticos, com facilidades de serviços.
Por geoturismo urbano, entendemos a interpretação dos elementos abióticos que compõem a
paisagem e estruturas das cidades. Liccardo et al. (2016; 2012) observam que a atividade está relacionada
à geodiversidade usada no meio urbano e à presença de geossítios em seu território. Também são
consideradas a geografia física e humana, história local e as relações da sociedade com o meio ambiente,
tendo enfoque na demanda turística e na infraestrutura de comunicações, transportes, receptividade e
hospitalidade adequadas.
A geodiversidade é representada por “todos os componentes da natureza abiótica, como minerais,
rochas, solos, rios, paisagens e as relações e processos naturais envolvidos por esses recursos” (Silva,
2016, p. 79). Nas cidades, elementos da geodiversidade também estão diretamente vinculados à dinâmica
e complexidade. Eles permitem a edificação de aspectos que compõem imagens ambientais, colaborando
com a constituição da identidade do lugar. Encontramos elementos da geodiversidade in situ (no local de
origem: praias, morros, cavernas, etc) e ex situ (elementos transportados do seu local de origem para outro,
a exemplo de blocos de rochas utilizados na construção de arruamentos, monumentos, praças e prédios).

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Buckley (2003) considera que o geoturismo urbano depende de estruturas sociais e instituições
capazes de contribuir para a sustentabilidade local, estimulando hábitos sociais voltados para a redução
de danos ao meio ambiente. A atividade só é viável a partir de unidades e medidas que assegurem uma
exploração consciente dos elementos da geodiversidade, podendo ser incorporada a práticas já
consolidadas, como o turismo cultural ou da natureza. Caetano et al. (2011) consideram que geoturismo
se comporta como um micro-nicho de mercado, e o urbano como um nano-nicho, que incorpora a
práticas já existentes aspectos da cientificidade, entretenimento e desenvolvimento com base sustentável.
Os autores citados acima convergem no fato de que implementação e execução do geoturismo
urbano devem partir da tomada de decisões coletivas. Em diálogo com Graham et al. (2003), percebemos
que a gestão da atividade corresponde a uma estratégia de governança. Conforme ponderam os autores,
governança é um processo de tomada de decisões com base na participação de grupos de interesses que
integram uma atividade. Envolve acordos, procedimentos, convenções ou políticas que conduzem a
tomada do poder, de decisões e da prestação de contas para a promoção do bem coletivo.
Por sua vez, Newsome et al. (2012) estabelecem que a gestão do geoturismo deve envolver poder
público, investidores, organizações de conservação não-governamentais, comunidades locais e os
próprios turistas. A implementação e administração da atividade exigem especialistas em geologia,
delimitação de sítios para acesso público, desenvolvimento de técnicas e métodos de conservação e
estímulo ao conhecimento na forma de interpretação, além do gerenciamento de eventuais impactos
negativos. Portanto, mesmo incorporado a um segmento, este nano-nicho de mercado exige específicas
estratégias de planejamento e execução.
Assim, associamos a gestão do geoturismo aos princípios gerais da governaça. Segundo Graham
et al. (2003) a governaça ocorre a partir da voz ativa aos setores sociais e atores envolvidos (Legitimidade),
visão estratégica (Direção), eficácia e eficiência (Performance), delimitação de resposabilidades
(Responsabilidade) e equidade social (Justiça). Como base em Hall (2011), observamos que compreender
esses aspectos é importante, pois eles determinam formas de ação na arena política do turismo e,
portanto, seleciona instrumentos e indicadores que são utilizados para alcançar objetivos concretos.
Graham et al. (2003) explicam que a participação efetiva, intrínseca à governança, implica na
liberdade de associação, expressão e construção coletiva. Como já mencionado, o geoturismo deve ser
gerenciado a partir do entendimento dos atores locais sobre seus aspectos. Condição essencial para
assegurar a voz ativa dos envolvidos e o desenvolvimento de habilidades técnicas e administrativas que
dinamizam o setor turístico, além da delimitação de valores justos aos serviços e produtos
comercializados.
Por conseguinte, é preciso pressupostos que possibilitem a conciliação de interesses divergentes,
gerando um consenso sobre os propósitos gerais da atividade. Tal convergência permite a elaboração de
políticas e procedimentos de regulamentação de uso dos recursos ambientais e da infraestrutura que
colabora para promover a satisfação proposta pelo atrativo. Isso implica em uma perspectiva de longo

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prazo sobre a gestão do espaço, conciliando com o que Graham et al. (2003) entendem como o princípio
da direção da governança. Ou seja, devemos buscar o desenvolvimento humano e social, associado à
proteção ambiental.
Neste contexto, a gestão do geoturismo exige estratégias que permitam resultados satisfatórios às
partes e instituições envolvidas. A atividade estabelece aos agentes públicos, setor privado e organizações
da sociedade civil comprometimento com o cumprimento das condicionantes de uso do meio ambiente.
Desse modo, apontamos para um livre fluxo de informações necessárias ao entendimento e
monitoramento das ações, culminando no que corresponde ao princípio da responsabilidade, na
governança.
Newsome et al. (2012) dizem que a natureza específica do geoturismo deve ser clara e concisa
para que profissionais do turismo tenham um caminho definido a seguir, estabelecendo a compreensão
de aspectos específicos do marketing, proteção e interpretação dos locais de interesse, constituindo uma
perfomance fundamental para promoção da eficácia e eficiência na gestão da atividade. Portanto, sua
implementação corresponde a uma forma organizativa, considerando aspectos da geodiversidade e
fatores socioeconômicos que particularizam e evidenciam culturas, possibilitando apreensões de sentidos
ao lugar.
A concepção da atividade traz em si um modo específico da gestão e fazer turismo, propondo
novas formas de percepções, experimentações e constatações sobre o espaço, apontando para um novo
fator da cultura turística. Para Eagleton (2005), a cultura está diretamente associada à ideia de produção,
incluindo aspectos referentes ao pensamento, cognições, sensações, comportamentos, economia,
tecnologia, memórias coletivas, entre outras questões que configuram identidades culturais e discursos
sociais.
O geoturismo urbano põe em sinergia aspectos da cultura e produz novas interatividades do
homem com a cidade, propondo uma narrativa própria. Assim, torna-se, consequentemente, um fator
que amplia a competitividade dos destinos. Podemos pensar em uma reinvenção da exploração da cultura
urbana, associando serviços e traçados naturais e arquitetônicos em um sistema que propõe subjetividade
e funcionabilidade. Entendemos esse processo como a construção de novas narrativas culturais dotadas
de sentidos e de significados. Estes especificam produções e processos interativos que interferem nas
percepções afetivas, cognitivas e psicológicas do ator-observador sobre os espaços.
São narrativas imbricadas de simbolismos e semioses resultantes da cientificidade e processos de
governança que propõem novas apreensões e compreensões sobre organizações sociais. Mas, que
elementos constituem a narrativa do geoturismo? O próximo tópico traz uma abordagem sobre esta
questão. Os elementos empíricos que apresentaremos são dados secundários, extraídos do estudo de Silva
(2016) sobre o município de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte-BR. O autor apresenta
descrições da geodiversidade em locais específicos da cidade, pontuando informações que mostram sua

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relação com a dinâmica do lugar, possibilitando a identificação e invenção de uma narrativa do


geoturismo.

GEODIVERSIDADE DE NATAL: UMA NOVA NARRATIVA CULTURAL


Natal ocupa uma área de 167, 234 km², dividida em quatro regiões administrativas (norte, sul,
leste e oeste) e 36 bairros. O município contém 235.522 domicílios em áreas com infraestrutura
apropriada para ocupação, e 22.561 domicílios em locais carentes de serviços públicos. Estão delimitadas
dez Zonas de Proteção Ambiental, quatro Zonas Especiais de Interesse Turístico, outras quatro de
Interesse Social e uma de Interesse Histórico.
Apesar de ter sido fundada em 1599, somente a partir do século XX, iniciaram-se os debates
sobre a organização da capital potiguar, incluindo a preocupação com as condições da paisagem urbana.
Os atores integrantes do processo se preocuparam em respeitar características morfológicas de terrenos
com solos arenosos e conjunto de dunas, delimitação de áreas verdes e a estruturação do urbano,
considerando sistemas de redes de água, esgoto, transportes, calçamento das ruas e avenidas e o
surgimento de novos bairros. Até 1901, só havia as comunidades da Cidade Alta, Ribeira e Cidade Nova
que correspondem atualmente aos bairros de Petrópolis e Tirol.
A partir de meados do século XX, a população de Natal desenvolve novos hábitos sociais, como
o usufruto dos recursos naturais no cotidiano. Começam a ser diversificados os equipamentos urbanos,
ruas, prédios, praças, monumentos, elaboração de planos diretores que vão exigindo uma relação mais
intensa da cidade com sua formação geológica.
No que se refere aos produtos abióticos in situ, Natal possui oito geossítios (lugares de
geodiversidade) – Parque das Dunas, Parque da Cidade, Campo de Dunas Sul, Rio Doce, Rio Pitimbu,
Rio Potengi, Litoral Central e Litoral Sul. No contexto ex situ, é possível identificar elementos da
geodiversidade desde as edificações mais antigas, no Bairro da Ribeira, por exemplo, até às construções
mais modernas em regiões centrais.
Ao percorrer áreas construídas e de proteção e conservação, em Natal, encontramos aspectos
naturais associados às práticas humanas, em monumentos, prédios ou calçamentos, ou mesmos
intrínsecos à paisagem natural, indicando transformações sociais e da incorporação da geodiversidade ao
cenário urbano. Tomemos como exemplo a relação homem-natureza a partir do Litoral Central. A região
é limitada pela desembocadura do Rio Potengi, a norte, e a sul pela Ponta do Morcego, onde ocorrem
rochas correlatas ao Grupo Barreiras (arenitos ferruginosos) e que são registros remanescentes de falésias
na região. Compreende as praias do Forte, do Meio e dos Artistas.
Até a década de 1920, a região não era utilizada para o lazer do natalense. Com o aumento do
fluxo de pessoas, a área, sobretudo da Praia do Meio, passou a contar com avenidas e chegou a ter o
primeiro hotel de luxo da cidade, o Hotel Reis Magos, inaugurado em sete de setembro de 1965.
Geomorfologicamente, essa região é caracterizada por praias arenosas, com alguns resquícios de dunas

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vegetadas, sendo possível ainda identificar dunas frontais na região da Praia do Forte. A principal
diferença desse recorte do litoral natalense para os demais, entretanto, é a presença de corpos de arenitos
praiais paralelos à linha de costa.
No começo da história da cidade, já percebíamos a importância da presença dos arrecifes de
arenito como um componente da paisagem. Mapas que retratam a época da ocupação holandesa, quando
Natal passou a se chamar Nova Amsterdã e o Forte dos Reis Magos (Fort Ceulen), mostram e identificam
os proeminentes arrecifes na região Litoral Central. No início do século XX, Branner (1904) mapeia a
região, mostrando a existência de duas linhas paralelas de recifes de arenitos, chamados de “recife interno
e externo”, constituindo o primeiro discurso científico sobre a geodiversidade local.
Essas duas linhas de arrecifes possuem gênese semelhante, sendo sua origem relacionada com a
passagem lenta de águas saturadas em carbonato de cálcio a partir do continente que, ao entrar em contato
com as águas marinhas, precipita o CaCO3 na forma de cimento dando origem às rochas (arenitos e
conglomerados). Pesquisa arqueológica no Forte dos Reis Magos, realizada pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), permitiu a coleta de algumas amostras de arrecifes que foram
analisadas em microscópio petrográfico. Essas amostras correspondem aos corpos de arenitos praiais na
região Litoral Central, de onde foram retirados, inicialmente, os blocos para a construção do Forte e de
alguns edifícios no Centro Histórico de Natal.
Pela análise, identificamos que as rochas são compostas, essencialmente, por quartzo
monocristalino, plagioclásio e microclina. São encontrados em menores proporções: bioclastos, apatita,
turmalina, epidoto, muscovita, titanita e biotita. Podemos observar uma cimentação carbonática tipo
mosaico e em franjo fibro-radial, enquanto o tipo de porosidade predominante é intergranular primária.
Os corpos de arenitos na região Litoral Central também são responsáveis pela morfologia da linha de
costa, uma vez que pequenas aberturas nos recifes geram difração nas ondas, que, ao atingir a praia, a
modelam em um formato côncavo.
Como notamos, Silva (2016) traçou um panorama da região Litoral Central a partir de elementos
da geodiversidade in situ e da relação desses elementos com a produção humana. O pesquisador também
faz a abordagem referente aos elementos ex situ de Natal, como podemos observar no contexto do Centro
Histórico que compreende uma área de 28 hectares entre os bairros da Cidade Alta, Ribeira e Rocas,
tombada pelo Iphan, em julho de 2014.
Esta região, que até o começo do século XX correspondia à área total da cidade, possui um amplo
registro de uso de rochas na pavimentação de ruas, construção e ornamentação de edifícios e
monumentos. Arenitos ferruginosos e arenitos calcíferos foram utilizados no Centro Histórico desde o
início da colonização da cidade. No início do século XX, começaram a ser usados granitos e, em seguida,
ortognaisses, mármores, migmatitos, tonalitos e diabásios. A partir dessa contextualização, Silva (2016)
descreve como e onde essas rochas foram utilizadas, mostrando a relação dos elementos abióticos e a
cultura local.

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Portanto, ao construir um discurso com base na interpretação da geodiversidade, consideramos


que Silva (2016), estabelece imagens de Natal até então não incorporadas pela cultura turística local.
Como observa Lynch (1997), a cidade só pode ser percebida no decorrer do tempo, por meio do seu
design ou imagem ambiental.

A cada instante, há mais do que o olho pode ver, mais do que o ouvido pode perceber, um
cenário ou uma paisagem esperando para serem explorados. Nada é vivenciado em si mesmo,
mas sempre em relação aos seus arredores, às sequências de elementos que a ele conduzem, à
lembrança de experiências passadas (Lynch, 1997, p. 4).

Para o autor, no processo de construção da cidade, a imagem ambiental corresponde ao elemento


estratégico para que os cidadãos construam em suas mentes a ideia de localismo, apontando para os
sentidos do urbano. Desse modo, refletimos que os sentidos resultam de um processo dialógico entre
observador e o ambiente, compreendendo sensações, percepções e experimentações. Os sentidos da
cidade decorrem de suas formas físicas e da sensibilidade do observador.
Com base em Horan (2000), inferimos que o construto de Silva (2016) propõe um novo senso
do local, definindo mais uma atmosfera específica da capital potiguar. Desse modo, o pesquisador
contribui para a produção de um novo discurso sobre a cultura turística de Natal, a partir da delimitação
de aspectos que podem produzir sentidos ao ator-observador, interessado na abordagem científica sobre
o meio ambiente.
Observamos a materialidade do discurso do geoturismo urbano em Natal uma vez que é possível
identificar procedimentos internos e externos e sistemas de restrições que o circunscrevem e o ratificam
como uma narrativa cultural. Admitimos que a atividade cria novos sentidos à cidade, atualizando
percepções, experimentações e constatações de atores-observadores sobre o local. Mas como ocorre a
produção de sentidos? É a abordagem do próximo tópico.

SENTIDOS DO URBANO A PARTIR DA GEODIVERSIDADE


A narrativa do geoturismo urbano é mais uma constatação que ratifica a noção do turismo como
uma cultura virtual, por estar em constante processo de criação, transformação, vivências, produção de
conhecimentos e de reformulações do ambiente. Também ratifica que o turismo depende de inovações
para ampliar sua competitividade. Assim, refletimos que a cultura turística se constitui a partir de diversas
narrativas que propõem diferentes sentidos aos locais. Estes diferentes sentidos se misturam na cidade e
compõem suas identidades.
Entendemos a cidade turística como um corpo integrado, no qual seus elementos interagem para
a formação de um todo dotado de narrativas culturais. Cada um dos seus aspectos admite significados
próprios, que podem ser compreendidos tanto em seu interior, isolados ou na inter-relação entre eles,
quanto fora de suas fronteiras. Como constamos anteriormente (Costa, 2004), a cidade é uma idealização
do homem para a vida em comum. Trata-se de uma unidade orgânica formada por aspectos naturais,

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sociais, históricos, políticos, econômicos que especificam culturas evidenciadas por suas formas
organizativas e atividades desenvolvidas.
A cidade é um corpo que admite sentidos à medida que se vão definindo e reinventando suas
funções, atribuições e valores. Através de aspectos do sensível, da experiência e da cognição, os atores
sociais atribuem sentidos ao local, constituindo processos de significação, cujas semioses propõem
narrativas culturais. Conforme pondera Merleau-Ponty (1999, p. 294), “todos os sentidos são espaciais, e
a questão de saber qual é o sentido que nos dá o espaço deve ser considerada como ininteligível se
refletirmos no que é um sentido”.
Isso implica que quando o ator-observador se depara com algo que se apresenta diante de sua
mente, primeiro ele nota e percebe esse objeto por essência, em harmonia com sua forma, a partir de
uma consciência perceptiva. Somente após o processo de percepção, uma experiência do sensível, o
objeto penetra na cognição, podendo, em seguida, constituir-se como um fenômeno.
Para o filósofo francês, o objeto só é determinado como um ser identificável através de uma série
abstrata de experiências possíveis. Experiências do próprio corpo como visão, tato, audição ou mesmo
os movimentos. Como exemplo, o autor observa a influência das cores no comportamento humano.
Conforme pondera, só é possível compreender a significação motora das cores se se permitir perceber a
atitude do corpo que ela propõe. É preciso, portanto, a percepção das cores como agentes produtores de
sensações e não apenas como meras qualidades ou estados fechados em si mesmos.
Da mesma forma ocorre a produção de sentidos do geoturismo. O andar pelas areias, mergulhar
nos mares e rios, sentir o calor e o vento, deixar se envolver pelas cores, texturas e formatos dos elementos
geológicos in situ e ex situ constitui o movimento perceptivo que nos permite apreender discursos contidos
na geodiversidade dos lugares. Em Merleau-Ponty (1999), a apreensão de sentidos dos objetos e dos
fenômenos ocorre por meio da apreensão de suas especificidades. E só podemos verificá-las na
experimentação, constituindo uma síntese perceptiva, para posteriormente se exercer a síntese intelectual
da narrativa proposta pelas coisas.

Não é o sujeito epistemológico que efetua a síntese, é o corpo, quando sai de sua dispersão, se
ordena, se dirige por todos os meios para um termo único de seu movimento, e quando, pelo
fenômeno de sinergia, uma intenção única se concebe nele (Merleau-Ponty, 1999, p. 312).

Portanto, a produção dos sentidos está vinculada a uma síntese perceptiva, que parte das
sensações, da experiência do sensível, penetrando em seguida na consciência, na razão cognitiva,
constituindo-se como uma síntese intelectual. Para Merleau-Ponty (1999, p. 315), “os sentidos traduzem-
se uns aos outros sem precisar de um intérprete, compreendem-se uns aos outros sem precisar passar
pela ideia”. Segundo o autor, o que faz a realidade da coisa é aquilo que se subtrai à posse do observador;
aquilo por ele apreendido. Quando percorremos o processo interrupto da percepção à experimentação,
podemos dizer que atingimos a unidade dos sentidos, sendo possível apreender imagens do objeto e
desenvolver narrativas sobre a cultura.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Ao tentarmos entender sentidos do urbano propostos pelo geoturismo, é preciso considerar


formas espaciais da cidade e as sensações que estas e seus elementos (cores, temperaturas, movimentos,
informações, materiais...) podem provocar no ator-observador e que discursos estes são capazes de
produzir. É necessário desenvolver uma percepção sobre a cidade, seus contornos, formações, elementos
abióticos e suas apropriações pela cultura, como propôs Silva (2016). Mas, não exatamente porque a
atividade consiste na intepretação desses elementos; e sim, porque são estes que vão estimular o universo
sensível do observador, sem o qual ele pode não dedicar atenção à atividade.
Ou seja, o geoturismo urbano é um discurso turístico que tem seu próprio modo de estruturação,
que, ao nosso ver, relaciona-se à governança, exige conhecimentos e práticas específicas e produz
sensações nos atores-observadores. Assim, estimula o sistema háptico, desenvolvendo no sujeito da
experiência uma consciência das sensações provocadas no corpo pelos elementos abióticos, como vento,
água, temperatura, textura dos elementos in situ e ex situ da geodiversidade. Ao sintetizar, ao sincronizar
a natureza às percepções humanas, a atividade chama a atenção para novos sentidos do urbano e a
materialização de um novo discurso cultural.
O geoturismo urbano se evidencia e se concretiza na medida em que o observador realiza uma
série abstrata de experiências, envolvendo seus sentidos, e atribuindo, desse modo significações à prática,
de onde se depreendem os discursos. Afinal, o discurso se materializa nas práticas culturais.

[...] suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada,
selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função
conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, estivar sua pesada e
temível materialidade (Foucault, 2007, p. 9).

Ou seja, o discurso é material e existe na cultura de modo devidamente estruturado a partir de


perspectivas organizacionais como a própria governança que caracteriza a estratégia de gestão do
geoturismo. Foucault (2007) observa que a materialidade do discurso pode ser identificada a partir de
procedimentos internos (comentário, autor e disciplina), sistemas externos de controle (interdição,
rejeição e rejeição do discurso) e sistemas de restrições (rituais da palavra, sociedades do discurso, grupos
doutrinários e apropriações sociais).
Com a proposta de associar cientificidade, entretenimento e proteção ambiental nas cidades, o
geoturismo urbano exige associação de disciplinas como geografia e comunicação, e torna-se objeto de
estudos para autores de diversas áreas do saber, estando suscetível a construções de comentários
(científicos, técnicos ou empíricos).
Por estes aspectos e por delimitar forma específica de gestão, há, na concepção, organização e
prática da atividade, sistemas externos de controle do discurso, tanto, que foi possível estabelecer uma
relação entre a estruturação do geoturismo e sistemas de governança. Há palavras que não podem ser
expressas no discurso do geoturismo, a exemplo de termos que indiquem relações de dominação e
degradação do ambiente. Isso vai construindo um ritual da circunstância, na qual as ideias repercutidas

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apontam para delimitação de verdades, como notamos nos dados secundários que coletamos em Silva
(2016) sobre a geodiversidade da capital potiguar.
Esta vontade da verdade, por sua vez, possibilita uma concretização de ideias e sua apropriação
pelas práticas sociais. E, nesse caso, a delimitação de um público alvo fomenta a sociedade do discurso,
constituindo assim um posicionamento turístico e poder de competitividade. Dos rituais das palavras até
às apropriações sociais, constatamos que o discurso emerge como uma reflexão sobre verdades e se
manifesta como práticas sociais.

O discurso nada mais é do que a reverberação de uma verdade nascendo diante de seus próprios
olhos; e, quando tudo pode, enfim, tomar a forma do discurso, quando tudo pode ser dito e o
discurso pode ser dito a propósito de tudo, isso se dá porque todas as coisas, tendo manifestado
e intercambiado seu sentido, podem voltar a interioridade silenciosa da consciência de si
(Foucault, 2007, p 49).

Observamos que o discurso do geoturismo urbano em Natal-RN vem sendo construído através
de investigações científicas, como o estudo de Silva (2016). Verificamos a emergência de um novo
aspecto da cultura turística, já que o geoturismo estabelece modos operacionais específicos, constituindo
novos movimentos sensíveis, intelectuais e socioeconômicos. Isso permite inusitadas percepções e
experimentações na cidade, colaborando para a produção de novos sentidos do urbano. Por admitir
público alvo, gestão específica e práticas culturais peculiares, pode-se considerar o geoturismo urbano
como um fator de inovação no setor, ampliando a competitividade do destino Natal-RN.

CONSIDERAÇÕES
O geoturismo urbano é um fator de inovação na cultura turística, que amplia a competitividade
do destino, associando entretenimento, cientificidade e sustentabilidade como uma estratégia de
governança. Por assumir características próprias, a atividade se comporta como uma nova narrativa
cultural, disseminando, desse modo, novos sentidos sobre os locais onde se evidencia. Portanto, da
concepção à execução da atividade, identificamos a emergência de um discurso turístico que especifica
uma nova prática cultural, propondo ao destino, ações pautadas pela criatividade, empreendedorismo e
inovação.
Tais aspectos são imprescindíveis à ampliação da competitividade e fomento a um ecossistema
turístico sustentável. A prática atualiza a cultura turística ao delimitar novo público e um discurso
centrado em específicas sensações, percepções e experimentações do espaço. Por isso, consideramos
Natal como lugar apropriado ao desenvolvimento do geoturismo urbano. A capital potiguar dispõe de
locais em que a geodiversidade pode ser explorada de forma natural ou como constituinte principal das
paisagens, da beleza cênica e como componente construtivo em edificações históricas.
Tudo isso representa um ritual de proteção da geodiversidade urbana. Por isso, relacionamos o
geoturismo urbano à essência de Xangô, o orixá protetor das rochas, da justiça e da sabedoria. A atividade

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

traz em sim uma preocupação com o uso sustentável do ambiente urbano, podendo ampliar a discussão
para questões mais profundas relacionadas à cultura turística.
Promoção da sadia qualidade de vida aos residentes, dignidade da população em situação de rua,
formas inteligentes de mobilidade para execução da atividade e ampliação de iniciativas da educação
ambiental para todos são temas que integram o discurso do geoturismo ambiental. Entre outras, estas
abordagens podem e merecem ser exploradas em estudos técnicos e pesquisas científicas, no sentido de
fomentar o desenvolvimento socioeconômico dos destinos.
Entre nossas preocupações conceituais, defendidas em outras produções, o geoturismo urbano
ratifica o turismo como uma cultura que se desenvolve a partir da dinâmica local, cuja produção simbólica
tem força para atrair estrangeiros (turistas e empreendedores). Também coopera como contra-
argumentação ao que alguns pesquisadores chamam e-tourism. Turismo é sensação, é pratica, é iteração
no espaço físico e com ele, como mostra o geoturismo urbano. Ambiências digitais são apenas
plataformas de comunicação interativas.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Capítulo IV

Formação superior tecnológica em eventos: uma análise


do curso oferecido no Instituto Federal de Brasília –
Campus Brasília, a partir do olhar discente
Recebido em: 24/04/2023 Diêgo Melo Fernandes
Aceito em: 08/05/2023 Raquel Lage Tuma
10.46420/9786581460969cap5 Queila Pahim da Silva

INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como tema a formação profissional dos discentes do curso superior de
Tecnologia em Eventos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília (IFB), estando
o desenvolvimento da pesquisa norteado pela seguinte questão-problema: Como o corpo discente avalia
o processo formativo ofertado no curso e como percebe os contributos desta formação para sua futura
atuação no mercado de trabalho?
Dessa forma, o intuito foi analisar, através da perspectiva do estudante com matrícula ativa no
ano de 2019, a relevância dos conteúdos e métodos de ensino adotados ao longo do processo educacional
para a sua qualificação profissional e para a sua efetiva atuação no setor de eventos. A fim de atingir este
objetivo, a pesquisa teve por metas secundárias: averiguar o percentual de alunos atuantes no mercado
de eventos; descrever as estratégias utilizadas pelos alunos para alcançar sua recolocação profissional;
coletar dados sobre as expectativas, realizações e frustrações dos discentes no transcurso da formação; e,
por fim, investigar se a abordagem teórica e as vivências práticas oportunizadas pelo curso vão ao
encontro das necessidades formativas dos estudantes.
A coleta de dados foi metodologicamente organizada da seguinte forma: na primeira etapa, foi
desenvolvida pesquisa em fontes bibliográficas e documentais acerca da educação profissional e
tecnológica, com ênfase no curso Tecnólogo em Eventos. Posteriormente, tendo por instrumento
orientador o Projeto Pedagógico do referido curso (PPC) do Instituto Federal de Brasília (IFB) – Campus
Brasília, foram formulados questionários sobre as componentes curriculares e a forma como elas
colaboram ou não, segundo a percepção do discente, com seu progresso acadêmico-profissional. Estes
questionários foram aplicados em todas as turmas do curso entre os dias 18 de outubro e 01 de novembro
de 2019, durante o turno de aula matutino.
A partir das informações obtidas com a aplicação dos questionários, foram formuladas entrevistas
semiestruturadas aplicadas também aos estudantes, com a finalidade de complementar os dados
anteriores e dar consistência aos resultados, além de verificar a percepção acerca das metodologias
adotadas pelos professores e outras questões pertinentes ao processo de ensino-aprendizagem. Por fim,
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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

as informações obtidas em todas as etapas descritas foram devidamente cruzadas, de modo que a própria
pesquisa se apresentasse como um diagnóstico para futuras melhorias seja nos conteúdos, na prática
pedagógica desenvolvidas e também como material para posterior formulação ou ajustes no PPC.
Para apresentar o resultado dessa pesquisa, foi desenvolvido este artigo, que consiste nesta
introdução, fundamentação teórica abordando o conceito de eventos e sua evolução histórica como
mercado de trabalho; uma reflexão sobre a educação profissional no país; a contextura da formação
profissional e tecnológica na área de eventos no Brasil e no Instituto Federal de Brasília; procedimentos
metodológicos, resultados da pesquisa, considerações finais e por fim, as referências consultadas.

EVENTOS: CONCEITUAÇÃO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA


Segundo a ABNT NBR 16.004, denomina-se por “Evento” qualquer atividade previamente
planejada com o objetivo de reunir pessoas em um determinado espaço geográfico e em um tempo
específico. Todavia, há casos nos quais o próprio pesquisador propõe-se a complementar o conceito,
introduzindo elementos referentes à atuação profissional de quem trabalha diretamente neste setor
produtivo da sociedade. Cabe ressaltar ainda que, há outros olhares de complementaridade do conceito,
como das áreas de turismo, relações internacionais, economia, administração e outras, denotando que a
concepção de eventos é transversal e adaptativa a muitas áreas interdisciplinares e multidisciplinares.
Segundo Zanella (2003, p. 2),

Evento é uma concentração ou reunião formal e solene de pessoas e/ou entidades realizada em
data e local especial, com objetivo de celebrar acontecimentos importantes e significativos, e
estabelecer contatos de natureza comercial, cultural, esportiva, social, familiar, religiosa, científica
e outros.

O Caderno Técnico, elaborado pela Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e Gestão


do Distrito Federal (2018), também apresenta evento como uma atividade social, com propósito
específico e acrescenta que é organizada por pessoas habilitadas. Tal afirmação, destaca a relevância do
profissional qualificado no desenvolvimento da atividade.
A falta de objetividade do conceito é oriunda da própria evolução histórica do setor, cuja
sistematização do mercado enquanto área de atuação para profissionais com qualificação específica, é um
processo ainda muito recente, embora seus primórdios remontem a atividades sociais, religiosas, culturais
e esportivas realizadas desde a Antiguidade Clássica. Com efeito, Matias (2013), ao descrever o
desenvolvimento histórico desta área de atuação, argumenta que os primeiros registros da atividade estão
diretamente relacionados aos Jogos Olímpicos Gregos, datados de 776 a.C.
Nakane (2013), por sua vez, ao considerar a importância dos eventos como um elemento
fundamental para a sociedade humana em termos de sobrevivência e de comunicação, sugere que o
desenvolvimento da atividade acompanhou o desenvolvimento do homem, tendo seu marco inaugural
na pré-história, quando os homens do período paleolítico começaram a agremiar-se e formar grupos de

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

caça. A autora recorda, também, outros momentos históricos que precederam a realização dos Jogos
Olímpicos, como por exemplo: o banquete de inauguração do palácio de Kalhu, datado entre os anos de
883-859 a.C.; os banquetes e os rituais fúnebres do Antigo Egito; os acontecimentos cívicos e religiosos
da sociedade grega, entre outros.
Ao tratar do período histórico que abrange o auge da sociedade romana, Nakane (2013) destaca
as festas proporcionadas pelos imperadores romanos como momentos de inovação e amadurecimento
para a decoração, a gastronomia, a cenografia e a tematização dos eventos.
Apesar da divergência quanto à origem da atividade, ambas as autoras concordam que as
realizações da civilização antiga deixaram como legado “o espírito de hospitalidade, a infraestrutura de
acesso e os primeiros espaços de eventos” (Matias, 2013, p. 4).
Matias (2013) segue a trajetória histórica dos eventos, citando que na Idade Média a maioria dos
eventos realizados tinha cunho religioso ou comercial e gerava um fluxo muito grande de pessoas entre
as regiões, de sorte que houve a expansão das atividades relacionadas à recepção e hospedagem dos
viajantes. Logo em seguida, na modernidade, com a Revolução Industrial, passaram a surgir eventos com
caráter técnico ou científico, sendo o precursor desta modalidade o Congresso de Medicina Geral,
realizado em Roma, no ano de 1681 (Matias, 2013).
A popularização dos eventos de caráter comercial, técnico ou científico, bem como a realização
de feiras destinadas à promoção de produtos industriais, fomentaram a organização daquilo que viria a
ser chamado de “Turismo de Eventos”. Tal modalidade de turismo consolidou-se ainda mais com a
retomada dos grandes eventos esportivos internacionais, em 1896, quando houve a retomada dos Jogos
Olímpicos (Matias, 2013). A partir de então, o setor expandiu-se bastante.
No contexto da modernidade, uma vez percebida a necessidade de sistematização e
aprimoramento deste mercado, foram fundadas inúmeras organizações voltadas exclusivamente para as
empresas e para os profissionais da área, dentre as quais destacam-se: a Convention Bureau (1895), a
International Association of Convention and Visitors Bureau (1914), a Convention Liaison Council (1949), a
Association Internationale des Palais de Congress (1958), a International Congress and Convention Association (1961)
e, no Brasil, a Associação Brasileira de Eventos e Empresas Operadoras em Congressos e Convenções
(1977) (Matias, 2013).
A partir da apresentação deste quadro da evolução histórica do setor de eventos, pode-se inferir
que, ao se fortalecer e consolidar como uma atividade laboral, os eventos sociais como descritos,
estiveram sempre presente nas civilizações, sendo um elemento especial ao desenvolvimento humano
social (Lukower, 2012). Neste sentido, o mercado profissional passou também a exigir de seus
profissionais uma melhor preparação. Este tipo de exigência mercadológica por qualificação, aliás, é
presente em quase todos os setores da economia, vindo a motivar a organização de um sistema nacional
de educação profissional e tecnológica.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TECNOLÓGICA: FORMAÇÃO HUMANA E


QUALIFICAÇÃO PARA O MUNDO DO TRABALHO
O surgimento da educação profissional tecnológica brasileira como apontado por Deitos & Lara
(2016) relaciona-se com motivos socioeconômicos e ideológicos. Os autores identificam os fatores
socioeconômicos, como condicionantes para suprir a demanda de qualificação da mão da obra, que
precisa acompanhar a modernização e competitividade das empresas e da economia, visando sua
integração ao mundo globalizado, e ideológicos, no que tange a necessidade educativa que a maioria da
população trabalhadora exige como condição social para sua sobrevivência cultural.
Oliveira e Silva (2019), corroboram com esse entendimento, apoiados no conceito de Estado
teorizado por Gramsci (1991), ao afirmar que as políticas públicas voltadas para a educação profissional
proporcionam a mediação que o Estado pratica entre os interesses da burguesia, ao promover a educação
profissional para os funcionários que as empresas necessitam, além de propiciar de alguma forma, a
competitividade e a melhoria das condições de vida, dos jovens no mundo do trabalho dominado por
uma determinada classe, a medida em que eleva sua escolarização, qualificação e renda salarial.
Utilizando-se deste contexto político, econômico, social e ideológico, que sempre está imbricado
nas políticas públicas de educação em nosso país (Goergen, 2019), foram criados os cursos superiores de
tecnologia (CST). Conforme a Resolução do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno
(CNE/CP) n. 3 de 18 de dezembro de 2002, os referidos cursos, são cursos de graduação focados na
aplicação de conhecimentos científicos e tecnológicos em áreas de conhecimento relacionadas a um ou
mais campos profissionais, nos quais haja utilização de tecnologias (Brasil, 2002). De acordo com este
documento, os CST devem obedecer às diretrizes contidas no Parecer CNE/CES 436/2001 e conduzirão
à obtenção de diploma de tecnólogo.
Apesar da instituição das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a organização e o
funcionamento dos CST datar de 2002, o início da criação desses cursos, conforme mostram Batista et
al. (2020), se deu ainda em 1961, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1961 (Lei n.
4.024), ao dar permissão aos conselhos de educação para autorizar o funcionamento de cursos
experimentais, com currículos, métodos e períodos próprios. Para os autores, essa foi uma flexibilização
que proporcionou a criação do Curso de Engenharia de Operação, com duração de 3 anos e a partir daí
o Conselho Federal de Educação, começou a normatizar essa oferta educativa.
Ainda na década de 1960, precisamente no ano de 1968, foi implantada a Reforma Universitária,
através da Lei n. 540, que entre outras disposições, propunha a instalação e o funcionamento de cursos
profissionais de curta duração, que proporcionavam habilitações intermediárias de grau superior e
deveriam ser ministrados em universidades e em outros estabelecimentos de educação superior em
funcionamento no país, marcando o surgimento legal dos cursos superiores de tecnologia (Brasil, 1968).
Na década de 1990, há a promulgação e publicação da LDB de 1996, que devido sua relevância
na educação do país, foi considerada por Saviani (2008) de “Lei Magna da Educação Brasileira.” Apesar

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

de ter influência das mudanças econômicas impostas pela globalização, que exigia maior eficiência e
produtividade dos trabalhadores (Favreto; Moretto, 2013), ela representou um indicativo de
transformação nos cursos superiores de tecnologia, pois dispõe que a educação profissional deve ser
integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, com vistas ao contínuo
desenvolvimento do país (Brasil, 1996).
Como mostram Nascimento et al. (2020), a educação profissional no Brasil sempre foi marcada
pela diferença social das forças de trabalho, entre as pessoas que detêm os meios de produção e as que
tem a mão de obra necessária para produzir. Nesse sentido, a educação foi dividida entre formação
acadêmica-intelectual, oferecida nas universidades, para os mais privilegiados e formação
profissionalizantes para os que seriam assalariados.
Esta visão dualista acerca dos processos educacionais deixou, como legado para a educação
profissional – tanto técnica, quanto tecnológica - o estigma de formação inferior em relação à formação
acadêmica que culminava nos graus de licenciatura ou bacharelado. O que contribuiu para que seus
currículos e metodologias estivessem focados não no desenvolvimento integral do sujeito, mas nas
exigências e demandas por de mão-de-obra qualificada do mercado.
Cordão (2018) afirma que o advento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação trouxe profundos
avanços para o entendimento e para a reengenharia da formação profissional, pois, a partir do novo
modelo educacional proposto, os objetivos do processo de ensino-aprendizagem não mais se assentaram
na preparação para execução de tarefas, mas sim no desenvolvimento de habilidades e competências
relacionadas à área de atuação do futuro profissional, para que o mesmo pudesse ter um olhar pleno
sobre todas as dimensões do trabalho desempenhado.
A promulgação desta Lei afigurou-se como uma política de fortalecimento para a educação
profissional, pois, ao incluir em sua nomenclatura a dimensão da formação tecnológica, ela também
trouxe a esta modalidade de educação novos olhares, novos significados e nova formatação de ensino,
mais crítica e mais global em termos de formação humana (Costa, 2019).
Os avanços não foram consequência apenas da LDB de 1996, mas também de outros
instrumentos legais, como o Parecer CNE/CES 436 de 2001, sobre a formação tecnológica na qualidade
de graduação e sua validade legal para o progresso dos estudos em níveis de pós-graduação; a Lei n.
11.892/2008, que regula a criação dos Institutos Federais de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica; e o Plano Nacional de Educação (PNE) (Lei n. 13.005/2014), cujo conteúdo apresenta
orientações, objetivos e estratégias que regerão as políticas educacionais durante um determinado espaço
de tempo.
Ao que se refere à Lei n. 11.892/2008, cuja normativa cria os Institutos Federais, pode-se afirmar
que foi um passo decisivo para a reformulação da identidade da educação profissional e tecnológica no
país, uma vez que fez emergir, seja do ponto de vista institucional, seja na dimensão das políticas públicas
aplicadas, verdadeiras inovações, como, a organização verticalizada do ensino e o compromisso com a

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

esfera social, do qual derivam diversos esforços de vinculação da busca por desenvolvimento
científico/tecnológico com a proposição de soluções práticas para os desafios ordinários da vida em
sociedade.
Ainda que a educação profissional no Brasil, tenha sido palco de avanços, as modalidades de
ensino que estão a ela atrelados ainda causam confusão, em termos conceituais. Assim, nota-se a
importância de esclarecer as definições e características dos cursos tecnológicos, que por sua natureza de
curso superior, destina-se aos egressos do ensino médio e/ou técnico, tendo sua organização orientada
pelas diretrizes curriculares nacionais (Brasil, 2002).
De acordo com Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia de 2010, havia 113 CSTs
nas mais diversas áreas, como de ambiente e saúde, apoio escolar, controle e processos industriais, gestão
e negócios, hospitalidade e lazer, informação e comunicação, infraestrutura, militar, produção alimentícia,
produção cultural e design, produção industrial, recursos naturais e segurança (Brasil, 2010).
Como explica o próprio Catálogo, essa listagem de cursos não esgota todas as possibilidades de
oferta de graduações tecnológicas no país e por isso é admitido, conforme estabelece o Decreto n.
5.773/06, em seu art. 44, cursos experimentais em oferta legal e regular porém, com outras
denominações, as quais poderão futuramente – com base em análises contextuais – passar a integrar o
instrumento (Brasil, 2010).
A seguir, será apresentado sobre o curso de tecnologia em Eventos no Brasil e no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília.

O CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM EVENTOS NO INSTITUTO FEDERAL DE


EDUCAÇÃO DE BRASÍLIA
De acordo com o Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia, os cursos de
Tecnologia em Eventos, são regulamentados pelo MEC, só podem ser ofertados por instituições de
ensino credenciadas pela autarquia e preparam profissionais com o olhar amplo acerca das estratégias
gerenciais a serem empregadas nas diversas etapas do planejamento, organização e execução de eventos
sociais, esportivos, culturais, científicos, artísticos, de lazer e outros (Brasil, 2010).
No Distrito Federal, o Instituto Federal de Brasília – Campus Brasília é a única instituição que
oferece o Curso de Tecnologia em Eventos de forma presencial (MELO e TUMA, 2019). Dentre os 10
campi do Instituto Federal de Brasília, o campus Brasília é aquele que possui os na área temática de Turismo,
Hospitalidade e Lazer, sendo eles o Ensino Médio Integrado em Eventos, Técnico Subsequente em
Eventos (a distância) e Tecnólogo em Eventos (presencial).
O Curso Superior de Tecnologia em Eventos teve seu Projeto Político Pedagógico aprovado em
novembro de 2016 e início da primeira turma em fevereiro de 2017 (IFB, 2017). A forma de acesso é
orientada exclusivamente para pessoas que já concluíram o ensino médio e que foram aprovados em
processo seletivo, através do SISU ou para portadores de diploma. Seu objetivo é “formar um profissional

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

capaz de desenvolver atividades ligadas à gestão e organização de eventos de diversas classificações, em


consonância à formação ética, pensamento crítico, interpretação de mundo e compreensão das relações
sociais” (IFB, 2017, p.13).

O perfil que se pretende formar ao longo do curso prevê profissionais que sejam capazes de:

I. Criar, elaborar, estruturar e gerir projetos e produtos culturais, estabelecendo metas e


estratégias para o fomento e a promoção da cultura, nas esferas pública e/ou privada na área de
eventos; II. Planejar e divulgar projetos de eventos e produtos culturais; III. Elaborar projetos
de captação de recursos para investimento cultural utilizando as legislações de mecenato
existentes nos âmbitos municipal, estadual e federal; IV. Promover o diálogo entre as
manifestações artísticas e as esferas da administração pública e privada da cultura; Realizar
intercâmbios que contemplem e valorizem a diversidade cultural; Atuar em diferentes espaços,
gerindo e administrando atividades culturais, bem como executando projetos da área; V.
Contribuir nas ações de preservação e revitalização do patrimônio cultural, material e imaterial;
Desenvolver projetos culturais que valorizem a diversidade sociocultural do país e do Distrito
Federal; Estabelecer intercâmbios com entidades e centros culturais; Familiarizar-se com as
práticas e procedimentos comuns em ambientes organizacionais; Empreender negócios em sua
área de formação; VI. Conhecer e aplicar normas de sustentabilidade ambiental, respeitando o
meio ambiente e entendendo a sociedade como uma construção humana dotada de tempo,
espaço e história; VII. Ter atitude ética no trabalho e no convívio social, compreender os
processos de socialização humana em âmbito coletivo e perceber-se como agente social que
intervém na realidade; VIII. Ter iniciativa, criatividade, autonomia, responsabilidade, saber
trabalhar em equipe, exercer liderança e ter capacidade empreendedora; e, posicionar-se crítica e
eticamente frente as inovações tecnológicas, avaliando seu impacto no desenvolvimento e na
construção da sociedade (IFB, 2017, p.16).

Espera-se que o egresso, assim preparado, esteja pronto para atuar, com excelência, no mercado
de Eventos e em áreas afins. Neste sentido, a pesquisa questiona, por meio do olhar discente, se este ideal
formativo é efetivamente alcançado.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente estudo caracteriza-se como pesquisa exploratória, uma vez que “tem por objetivo
familiarizar-se com o fenômeno ou obter uma nova percepção dele e descobrir novas ideias” (Cervo et
al. 2007, p. 62). Quanto ao método, segundo Sampieri et al. (2013, p. 548) a pesquisa tem um enfoque
misto, pois “envolve um processo de coleta, análise e vínculo de dados quantitativos e qualitativos”.
Entende-se por dados quantitativos aqueles obtidos por meio de questionário e passíveis de mensuração
numérica; enquanto os dados qualitativos são todas as outras informações verbais coletadas por meio de
entrevista.
Para que o propósito da pesquisa fosse melhor atendido, ela foi sistematizada em três etapas:
pesquisa bibliográfica e documental, acerca da educação profissional e tecnológica, com ênfase no curso
Tecnólogo em Eventos; aplicação de questionário junto aos discentes com matrícula ativa durante o 2°
semestre do ano de 2019, com perguntas acerca do perfil sociodemográfico dos estudantes, sobre o modo
como qualificavam diversos aspectos da formação e a relevância de cada componente curricular e por
fim, entrevistas semiestruturadas.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Os resultados da primeira etapa da pesquisa permitiram esclarecer o contexto no qual


estruturaram-se os cursos de Eventos ofertados pelo IFB e orientaram a construção dos instrumentos de
pesquisa. No questionário constavam perguntas acerca do perfil sociodemográfico dos estudantes, do
modo como qualificavam diversos aspectos da formação e a relevância de cada componente curricular.
Na última etapa da coleta de dados, foram entrevistados quatro discentes, que prestaram
informações sobre as metodologias e estratégias de ensino, temáticas importantes ao setor de eventos e
que não são contempladas na formação, adequação da carga horária e da duração do total do curso às
necessidades formativas, comprometimento do corpo discente e pontos fortes e pontos fracos do curso.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a aplicação do questionário, foi obtido um total de 65 respostas válidas, sendo 17 do
primeiro semestre, 23 do segundo semestre, 13 do terceiro semestre e 12 do quarto. Este número de
respostas é bastante significativo, se considerado o universo total dos alunos matriculados no período de
aplicação da pesquisa, sendo 35 discentes no primeiro semestre, 29 no segundo, 36 no terceiro e 25 no
quarto.
A partir da amostra, constata-se que, o rol dos respondentes é constituído, majoritariamente, por
mulheres e o número de inquiridos do sexo masculino não ultrapassou a marca dos 30%. A faixa etária
mais frequente é entre 17 e 25 anos, representando 70,18% dos respondentes.
Quando à situação ocupacional, no curso técnico, o número de alunos que se declararam,
temporariamente, sem atividade laboral é bastante alta, de modo que 46,42% disse ser estudante e 14,28%
afirmou estar em condição de desemprego. Os demais distribuíam-se entre os diversos tipos de
trabalhadores formais e informais, conforme ilustrado no Gráfico 1:

Gráfico 1. Situação ocupacional dos respondentes. Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

Perguntados sobre possuírem ou não experiência no mercado de eventos, apenas 5,88% dos
respondentes declararam não possuir experiência na área; 47,05% disseram que, esporadicamente,
desempenham alguns trabalhos relacionados ao setor; 39,21% afirmaram ter adquirido experiência por
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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

meio da atuação voluntária. Os demais disseram ser produtores/organizadores de eventos (7,84%) ou


afirmaram desenvolver atividades relativas ao setor em suas práticas de estágio (1,96%).
Os discentes que, ainda, não atuavam diretamente no mercado de eventos apontaram como sendo
as principais dificuldades para sua inserção no setor: a falta de oportunidades (45%), a inexperiência do
candidato (15%), sua pouca visibilidade na área (37,5%) e o fato do mercado ser muito competitivo
(2,5%).
Este último dado parece ser muito significativo na leitura do modo como os estudantes observam
o mercado de trabalho e interagem com ele, pois focam na busca de estratégias que favoreçam o
posicionamento profissional e o alcance de maior visibilidade no âmbito do setor. O que comprova
algumas das premissas dos CST em preparar seu público não apenas para o domínio operacional de um
determinado fazer, mas para a compreensão global do processo produtivo e a mobilização dos valores
necessários à tomada de decisões (Brasil, 2002).
No empenho de descobrir soluções para vencer as dificuldades interpostas no processo de
inserção no mercado de trabalho, os discentes afirmam possuir o hábito de: utilizar as redes sociais para
descoberta de postos de trabalho, participar de oportunidades de trabalho voluntário no IFB e de
trabalhos freelancers, distribuir currículos, criar redes de contatos informais e profissionais, através de
networking e realizar cursos de formação complementar.
Finalizados os temas anteriores, os discentes foram convidados a avaliarem as dimensões
pedagógicas da formação, considerando, primeiramente, a relevância do curso e das oportunidades de
atuação ofertadas no âmbito do IFB; e, posteriormente, os currículos e métodos adotados no
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. Quanto ao primeiro quesito, os respondentes
informaram que tanto a formação, quanto os referidos trabalhos, contribuíram e/ou poderiam contribuir
positivamente para sua futura inserção no mercado. Indagados, porém, sobre possíveis recomendações
para que tais oportunidades de atuação profissional fossem melhores aproveitadas, os alunos fizeram
várias sugestões.
Como o desenvolvimento de novas parcerias entre o IFB e empresas produtoras de eventos, para
atrair oportunidades de estágios e trabalhos remunerados; oferta de treinamento prévio à atuação dos
alunos em eventos; criação de um banco de talentos, no qual fossem identificadas as habilidades e
experiências profissionais de cada discente; estruturação da empresa júnior; incentivo de práticas
empreendedoras no âmbito da instituição e por fim, flexibilização de atuação nas etapas de idealização e
planejamento dos eventos desenvolvidos no campus, e não somente como staff.
As sugestões propostas pelos discentes evidenciam duas realidades interessantes. Primeiro, é
possível inferir que os alunos tratam a obtenção de um trabalho remunerado como uma prioridade e
parecem acreditar que o IFB pode ser um intermediador neste processo, daí as alusões às parcerias e à
supervisão das atividades com o intuito de facilitar futuras indicações; depois é possível depreender que

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

há no corpo discente uma necessidade de “profissionalização” dos trabalhos voluntários que eles são
convidados a realizar, por isso a proposição de treinamentos prévios.
Além destas realidades apresentadas, as sugestões propostas trazem um ponto que urge ser
refletido: os estudantes solicitam mais oportunidades de atuação em processos de idealização,
planejamento e organização dos eventos internos ao campus, todavia, observa-se que, em ocasiões nas
quais essa chance é possibilitada aos alunos, poucos são os que efetivamente fazem adesão à proposta e
se comprometem com ela.
Passando a analisar o PPC e suas componentes curriculares, 76,47 % consideraram que o objetivo
de “formar um profissional capaz de auxiliar na realização de eventos nos diversos tipos e portes, em
consonância à formação ética, pensamento crítico, interpretação de mundo e compreensão das relações
sociais” (Brasil, 2016), contido no referido Plano, é alcançado por meio das práticas, conteúdos e métodos
adotados em sala de aula, enquanto 19,60 % discordam e 3,92 % não souberam opinar.
Observa-se, nesta questão que mais de 70 % dos alunos puderam opinar sobre o PPC no qual
estavam matriculados, pois declararam ter conhecimento de seu conteúdo. Esta compreensão estudantil
acerca do Plano de seu curso, impacta positivamente a formação, pois viabiliza ao aluno, a posse de uma
visão mais ampla sobre todo o contexto do processo educacional. O entendimento dos objetivos e das
diretrizes adotadas no curso, torna-se fonte geradora de exigências e críticas com fundamento, para as
quais devem ser dada atenção.
Na análise das componentes curriculares, os discentes foram convidados a apreciarem o quanto
cada disciplina demonstrou-se relevante em seu processo formativo, apresentando contribuições efetivas
para a aquisição de habilidades e competências que viabilizassem sua futura atuação profissional.
A percepção dos discentes acerca da relevância das componentes curriculares é pouco
promissora, principalmente em relação às disciplinas de caráter mais teórico, tais como: Leitura e
produção de texto, Aspectos culturais em Eventos, Metodologia de Pesquisa e Seminários de Eventos;
ou em relação a matérias cujas atividades práticas aparentam não possuir utilidade essencial no processo
de planejamento, organização e gestão de eventos, tais como: Decoração, Meios de Hospedagem e
Atividades complementares.
Se por um lado, as componentes curriculares – tal como encontram-se teoricamente descritas no
PPC– têm um alto índice de aprovação por parte dos discentes; de outra parte, as práticas pedagógicas
empregadas pelos professores no exercício de suas atividades laborais são questionadas pela maioria dos
alunos que participaram das entrevistas. Antes, porém, de apresentar os resultados desta etapa de coleta
de dados, cabe ressaltar que, ao refletirem sobre este tema específico, parte dos entrevistados demonstrou
estar ciente que suas contribuições são validadas dentro de seus contextos vivenciais específicos, não
podendo ser utilizadas para a proposição de generalizações.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Gráfico 1. Relevância das componentes curriculares segundo percepção discente. Fonte: Dados da
pesquisa, 2019.

Esta compreensão é fundamental para que se perceba que as opiniões abaixo descritas não
traduzem, de modo absoluto, a realidade que abrange todo o corpo docente em todas as situações de
ensino-aprendizagem; mas sim a contextura que envolve a dinâmica de atuação de alguns profissionais,
no desenvolvimento de algumas disciplinas, para determinadas turmas.
Entre as principais dificuldades elencadas pelos estudantes, com referência ao trabalho dos
professores, destacam-se elementos como: falta de objetividade no planejamento das disciplinas, falta de
domínio de classe (em alguns casos), gestão inadequada do tempo em sala de aula e falta de assertividade
na explanação dos conteúdos. Os alunos argumentam que estas falhas na didática prejudicam o
aproveitamento das componentes curriculares, causando desestímulo na turma e casos de evasão escolar.
Os respondentes concordaram que a maioria dos professores demonstrava ter disposição para o
cultivo de um ambiente saudável dentro e fora de sala de aula e buscavam envolver o máximo possível
de estudantes, quando propõem atividades intra e extraclasse, como se observa na resposta de uma
estudante:

O que eu percebo é que existe um esforço por parte dos professores em aplicar metodologias
diferenciadas (Estudante 1).

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Concordam igualmente que as práticas pedagógicas desenvolvidas pelos professores, embora


necessitem ser elaboradas a partir de parâmetros que sejam capazes de atribuir maior valor acadêmico às
disciplinas, não podem ser pensadas de maneira padronizada a fim de se adequarem à natureza de cada
componente curricular, ao perfil do docente e às necessidades formativas de cada turma.

Isso depende muito da matéria. Eu percebo que tem matéria que é extremamente teórica e outras
que são mais práticas. Eu acho interessante, por exemplo, que matéria como Administração, ela
é importante que seja mais teórica para a gente entender os processos, questão de documentação,
burocracia. A aula de planejamento é muito mais prática. A professora já nos levou para eventos,
para shows, para a gente ver como que se planeja, ver o backstage, questão de montagem, como
é o camarim. Não teria nenhuma outra aula que a gente conheceria isso, se não fosse ela
(Estudante 2).

Paralelo ao tema do desempenho dos professores, os entrevistados foram convidados a


analisarem o grau de comprometimento dos discentes no processo de formação. Embora respostas
conclusivas não tenham sido levantadas sobre este assunto, algumas colocações abordadas neste tópico
da conversa mostraram-se explicativas e devem ser considerados como objeto de reflexão para debates e
estudos posteriores.
O discurso dos entrevistados apresentou-se um pouco diversificado, ressaltando haver um maior
engajamento dos alunos com as atividades práticas, enquanto as tarefas de produção científica eram
claramente rejeitadas.

Tem certas questões que o pessoal não se engaja muito. Essa questão de fazer artigo, muito
trabalho escrito, teórico. Às vezes, não sei se por falta de preparo, tem gente que simplesmente
não quer fazer (Estudante 3).

Quanto à carga horária das disciplinas e à duração total do curso, as opiniões dos entrevistados
ficaram divididas entre dois polos: de um lado, há quem defenda que o tempo dedicado para algumas
matérias é muito limitado, provocando desequilíbrio entre as dimensões teóricas e práticas das mesmas e
impedindo que seus objetivos sejam plenamente alcançados; no outro lado, há quem argumente que a
carga horária é suficiente, todavia precisa ser melhor administrada, tendo em conta que, frequentemente,
perde-se muito tempo com conversas não relacionadas aos conteúdos.
Perguntados sobre a existência de outras temáticas que não estão incluídas no currículo do curso
ou que são pouco exploradas durante a formação, os discentes elencaram conteúdos relacionados à
formação do perfil profissional, assentando-se em aprendizagens significativas que se relacionam à
possibilidade de amadurecimento do sujeito, como, por exemplo, a questão da inteligência emocional,
ética profissional e dresscode.

Uma questão que eu acho que falta para a gente, uma matéria que nos ensine formas de como,
no evento se deu algo errado, você lida com o seu emocional e o emocional da equipe. Acho que
isso falta. A gente tem muita prática, a gente lê muito, mas seria importante ter uma aula
específica para a gente aprender a lidar com isso (Estudante 5).

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Acredito que um grande problema que temos que resolver é o drama da postura pouco
profissional que alguns alunos assumem quando estamos trabalhando voluntariamente
em eventos pelo IFB. A galera vai de qualquer jeito, pensa que o trabalho pode ser feito
de qualquer jeito; levam mesmo na brincadeira. Isso prejudica não só a imagem do
estudante, mas também a imagem do próprio curso. Se não trabalharmos logo essa
questão da postura, pode ocorrer que as oportunidades se tornem mais escassas para
nós (Estudante 3).

Os estudantes concluíram as entrevistas listando os pontos fortes e os pontos fracos do curso


como um todo. Os resultados estão expressos no Quadro 1:

Quadro 1. Pontos fortes e pontos fracos do curso, segundo a percepção discente. Fonte: Dados da
pesquisa, 2019.
Pontos fortes Pontos fracos

O conteúdo contido no PPC O fato deste conteúdo não ser


rigorosamente trabalhado
A vinculação entre teoria e prática na
maioria das disciplinas A falha nas comunicações entre os
agentes da formação
A integração entre os níveis e entre os A obrigatoriedade de fazer trabalhos
cursos ofertados no IFB voluntários
O acesso facilitado aos cursos, A postura profissional e a prática
especialmente à formação técnica pedagógica de alguns professores
A abertura da coordenação para ouvir e O não aproveitamento do tempo de aula
atender as demandas pessoais e coletivas para o desenvolvimento dos planos de
dos alunos curso
Número reduzido de professores
A relação dos conteúdos com a realidade A não possibilidade dada ao aluno de
do mercado participar ativamente na idealização e no
planejamento dos eventos internos

A partir dos aspectos catalogados pelos entrevistados, observa-se, neste primeiro momento, que
os pontos de fragilidade identificados pelos discentes referem-se mais ao modo como o Projeto
Pedagógico é posto em prática no desenrolar da vida acadêmica, do que ao teor do próprio documento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve por objetivo a tarefa de investigar o olhar discente sobre a relevância da
formação ofertada no curso de Tecnologia em Eventos do IFB, campus Brasília e sobre os contributos
deste processo formativo em termos de preparação para sua futura atuação no mercado de eventos. Ao
final do trabalho, julga-se que esta meta foi alcançada; porém, sem que o assunto fosse plenamente
esgotado.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Com efeito, os temas explorados, embora mostrem a visão dos estudantes sobre diversos aspectos
da formação, introduzem novas questões a serem investigadas em projetos de pesquisa mais minuciosos,
como: a ponderação sobre a influência de fatores subjetivos próprios de cada aluno, como sentimento
de pertença, histórico de formação, perfil socioeconômico, entre outros e sobre a maneira como o mesmo
avalia o curso e dele participa; a reflexão sobre as práticas docentes e os motivos que levam os discentes
a questioná-las; ou, ainda, a análise sobre quais estratégias podem ser utilizadas para melhorar o
engajamento dos alunos com a totalidade do processo educacional, fazendo-o valorizar igualmente os
aspectos teóricos e práticos das disciplinas.
Identificou-se uma necessidade dos discentes em aprofundar seus conhecimentos sobre
cenografia, audiovisual e cerimonial social. Os discentes alegam perceber a necessidade desses conteúdos
em sua formação, de maneira a proporcionar uma maior autonomia no desenvolvimento de sua prática
profissional.
Quanto aos objetivos secundários da pesquisa, os resultados obtidos por meio deles trouxeram
importantes contribuições para a compreensão da relação dos discentes com o mercado de trabalho.
Percebe-se, por exemplo, que, mais da metade dos estudantes já desenvolveu atividades remuneradas
permanentes ou temporárias no setor, todavia muitos não conseguiram manter presença sólida no
mercado. Pode-se, a partir deste dado, elucubrar se a “falta de oportunidade”, indicada no questionário
como sendo uma barreira para inserção dos discentes no setor, é realmente um problema desta área
profissional ou se a dificuldade a ser superada não consista mais propriamente na questão de um melhor
aproveitamento destas oportunidades.
Percebe-se, igualmente, que as estratégias empregadas pelos discentes constitui-se de busca por
vagas em redes sociais, entrega de currículos, atuação voluntária, networking e formação complementar.
Talvez seja o caso de propor uma reflexão sobre maneiras pelas quais a Instituição de ensino pode
favorecer a intermediação deste processo, aproveitando as oportunidades de atuação voluntária em
eventos internos ou externos para dar maior visibilidade aos talentos contidos entre seu corpo discente.
Outras informações importantes encontradas a partir do alcance dos objetivos específicos dizem
respeito aos elementos que promovem o sentimento de realização ou de frustração nos estudantes ao
longo da formação. Por exemplo, os alunos mostrando-se satisfeitos com a atualização dos conteúdos
em relação às demandas do mercado, com a junção entre dimensão teórica e prática nas disciplinas e com
a abertura da coordenação/colegiado em ouvir e atender suas necessidades específicas; enquanto a
comunicação falha, o prejuízo na aprendizagem causado pela falta de professores e a não possibilidade
de participação nos momentos de idealização de eventos internos ao Campus ainda causam inquietações.
Espera-se que esta produção cientifica estimule tanto os discentes quanto os docentes do curso a
repensarem suas práticas e a adotarem soluções que tragam melhorias efetivas à formação técnica e
tecnológica em Eventos fornecida no IFB. Espera-se igualmente que seus resultados tragam
contribuições às comissões de revisão do Projeto Pedagógico de Curso, auxiliando-a a reconhecer que a

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

reforma da formação, embora passe pelo redesenho de seus documentos orientadores, só se processa
quando os agentes da formação se decidem a, juntos, tornar concreta a realidade acadêmica idealizada.

REFERÊNCIAS
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Janeiro, 2016.
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Zanella, L. C. Manual de organização de eventos: planejamento e operacionalização. São Paulo: Atlas, 2003.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Capítulo V

Instagram e sua influência na escolha do produto


turístico
Recebido em: 05/05/2023 Kaila Gabriela dos Santos Silva
Aceito em: 09/05/2023 Clébia Bezerra da Silva
10.46420/9786581460969cap5

INTRODUÇÃO
A criação da internet trouxe várias mudanças, saindo dos programas “engessados” para uma
grande rede de comunicação e negócios. Ela não é mais apenas um meio, o consumo de conteúdo torna-
se o ambiente para os usuários criarem conteúdo e comunicar-se com outras pessoas instantaneamente.
O desafio das empresas é fazer parte desse meio e estar sempre presente, mostrando ao seu cliente o que
ele deseja ver.
Emídio et al. (2014) relatam que “No processo de escolha do destino a ser viajado são vários os
fatores que podem influenciar na decisão. Estes dependem da motivação, necessidades e desejos
individuais”. As pessoas tendem a construir a imagem de um lugar antes mesmo da viagem, fazendo
assim dessa experiência algo aguardado e planejado. Silva e Perinotto (2016) afirmam que “o turismo é
uma das atividades que mais utiliza a imagem para se promover e atrair consumidores, pois o turista,
antes de comprar um lugar, para desfrutar de suas férias, por exemplo, ‘compra’ uma imagem, com um
sonho ou um desejo”.
O papel das redes sociais é muito relevante quanto a isso, pois elas trabalham com a imagem
direta, além de opiniões sobre diversos lugares e experiências, que podem tanto ser responsáveis de forma
positiva ou negativa sobre a expectativa do consumidor.
Segundo a pesquisa da Global Digital Overview (2020), feita pelo site We Are Social em parceria com
o Hootsuite, o Brasil está em terceiro lugar no ranking de populações que mais passam tempo nas redes
sociais, isso demonstra quanta importância estas redes têm no dia a dia das pessoas e como elas
consideram as informações fornecidas por consumidores do meio cada vez mais verídicas e de fácil
acesso. Dessa maneira, surge a seguinte problemática de pesquisa: como o Instagram influencia no
processo de decisão de escolha do consumidor de produtos turísticos?
Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar a influência do Instagram na de decisão de compra
de um produto turístico. Para isso, como objetivos específicos espera-se: (1) caracterizar a rede social
Instagram; (2) mostrar o uso da rede social Instagram voltado para o turismo e (3) conhecer como os
compradores em potenciais de produtos turísticos utilizam a rede social Instagram para uma tomada de
decisão.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

A pesquisa está organizada da seguinte forma: primeiro é apresentado o referencial teórico, que
explana conceitos mais específicos para fundamentar e dar suporte ao estudo e seus objetivos, acerca das
redes sociais voltadas para o turismo, marketing digital, comportamento do consumidor e, por fim,
enfatizando a influência do Instagram no consumo de produtos turísticos. Em seguida, apresenta-se a
metodologia utilizada para o estudo, os resultados, considerações finais e referências bibliográficas.

INSTAGRAM COMO ESTRATÉGIA DE MARKETING


Com o aumento de usuários na internet, a comunicação passou por uma revolução completa, a
internet traz velocidade de informação e nível de interação que os usuários nunca experimentaram antes.
(Castells, 2003) afirma que desde a década de 1990, a internet se consolidou no Brasil e vem se espalhando
e tomando conta do dia a dia dos brasileiros. Quando se trata da World Wide Web (WWW), a primeira
coisa que vem à mente é a conectividade.
Segundo dados do Comitê Gestor da internet no Brasil (2019), a proporção de domicílios com
internet passou de 18% em 2008 para 71% em 2019, o que significa que metade dos domicílios
pesquisados tem acesso à internet. Em outras palavras, é importante notar que o número de residências
com internet mais do que dobrou em seis anos.
Castells (2003, p. 10) diz que “a internet transforma o modo como nos comunicamos, nossas
vidas são profundamente afetadas por essa nova tecnologia da comunicação. Por outro lado, ao usá-la de
muitas maneiras, nós transformamos a própria internet”. Em outras palavras, os usuários não apenas
consomem, mas também produzem cada vez mais conteúdo.
A geração de informação e conhecimento, a proximidade de amigos e familiares e o
estabelecimento de vínculos profissionais, resultando em grande parte do seu tráfego. Para Torres (2009)
as redes sociais são “sites na internet que permitem a criação e o compartilhamento de informações e
conteúdos pelas pessoas e para as pessoas, nas quais o consumidor é ao mesmo tempo, produtor e
consumidor da informação”. Já para Marteleto (2001), é “um grupo de participantes autônomos, unindo
ideias e recursos em torno de valores e interesses comuns”.
Segundo uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigente e Logistas (CNDL) e
do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil, 2019) 97% dos consumidores brasileiros que tem acesso
à internet consultam sites antes de fazer uma compra. Além disso, uma outra pesquisa realizada pelo
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e SPC Brasil (2018) diz que 74% dos consumidores
utilizam smartphone no processo de compra na internet. Esses dados mostram a importância das mídias
digitais no consumo brasileiro.
Uma das redes sociais mais utilizadas em smartphones é o Instagram, propondo o compartilhamento
de imagens, essa rede tornou-se alvo de publicidade porque pode atingir rapidamente um grande número
de usuários e utilizar imagens, que é um dos alicerces da mídia publicitária.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

O aplicativo Instagram foi revelado ao público em 6 de outubro de 2010. Desenvolvido pelo


engenheiro de programação Kevin Systrom e o brasileiro Mike Krieger (Piza, 2012) “a intenção, segundo
os próprios, era resgatar a nostalgia do instantâneo cunhada ao longo de vários anos pelas clássicas
Polaroids, câmeras fotográficas de filmes cuja as fotos revelam-se no ato do disparo”.
Em um mundo móvel, diante da variedade de aplicativos o Instagram atraiu a atenção das pessoas,
que quando utilizado como ferramenta de marketing de empresas fez com que os clientes obtivessem
mais controle no quesito cliente-empresa, na plataforma eles podem encontrar qualquer coisa com o
dispositivo telefone e conectar-se a várias pessoas, é possível verificar preços, comparar cotações e
receber recomendações de amigos imediatamente.

Características do Instagram
O Instagram é um aplicativo de dispositivos moveis, disponibilizado gratuitamente que permite ao
usuário o compartilhamento de fotos e vídeos. Segundo Leal et al. (2017) apud Flaubi Farias (2015), “o
Instagram é outra rede muito popular, é uma rede feita para utilizar apenas por dispositivo móvel”.
Nesse sentido é perceptível que o Instagram passou de uma simples rede social para uma
ferramenta poderosa de divulgação, de acordo com Handayani (2015),

[...]o número de pessoas que usam o Instagram aumentou rapidamente. A partir das estatísticas o
Instagram mostrou que atraiu mais de 150 milhões de usuários ativos, com uma média de 55
milhões de fotos enviadas por usuários por dia, e mais de 16 bilhões de fotos compartilhadas até
agora (Instagram 2013) (Handayani, 2015, tradução nossa).

Figura 1. Interface do Instagram. Fonte: CVC RN. Acesso em 13 de abril de 2021

Nesse sentido, o Instagram é um meio de personalização da informação, integrando imagens,


conteúdo, velocidade e interação. Redes sociais como esta têm se tornado um dos principais alvos para

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

empresas e instituições promoverem suas atividades devido ao seu uso crescente e aos baixos custos de
transmissão. Ainda o Instagram pode ser considerado um sucesso e um instrumento de negócios devido
as suas ferramentas de compartilhamento e ao seu alcance. De modo geral, o Instagram tem funções
específicas que os usuários costumam usar, esses recursos podem ser descritos a seguir.
I. Interface de perfil do Instagram
A interface do Instagram exibe informações sobre o perfil do usuário, inclui biografia, foto do
perfil, número de postagens, contagem de seguidores e usuários seguidos e as publicações feitas pelo
usuário. Ainda há opções dos botões “seguir” que permitem que os usuários sigam outros usuários e se
mantenham atualizados sobre o conteúdo postado por eles Com o recurso de “mensagem” o usuário
pode conversar via inbox e com “contato” pode adicionar um número de telefone.
II. Conteúdo do perfil
No perfil pode-se observar os “destaques” das publicações postadas nos stories e que o
proprietário da conta deixa salvo para uma visualização dos seus seguidores a qualquer momento. Há
também as fotos “reels” (recurso para gravação de vídeos de até 30 segundos) e “IgTV” (recurso para
gravação de vídeos maiores de 30 segundos) que são publicados e podem ser rolados para baixo no perfil.
Os visualizadores podem ver todas as publicações de fotos e vídeos do perfil que podem estar disponíveis
caso o perfil seja público.
III. Conteúdo de fotos do Instagram
Ao clicar em uma foto é exibida uma versão maior dela. Assim as pessoas podem dar like,
comentar e compartilhar. Neste conteúdo de foto também é exibido a legenda e comentários deixados
na publicação por outros usuários.
IV. Ferramentas de navegação
Há cinco ícones disponíveis na parte inferior de cada página da tela do Instagram. Estes ícones são
a página inicial (botão home), botão do explorar, botão de loja, caso um usuário tenha algum produto para
vender ou está buscando algo para comprar e o botão de perfil do proprietário da conta e o botão do
reels. Esta é uma nova ferramenta para postar vídeos como IgTV (Instagram Tv) que são vídeos com mais
de um minuto e os reels que são vídeos pequenos de até 30 segundos, geralmente vídeos criativos devido
às ferramentas de edição no próprio Instagram. Os recursos citados acima, dão aos usuários "uma maneira
única" de usar o Instagram como uma rede social.
Em um mundo modernizado, os usuários/consumidores podem facilmente comprar e alugar
serviços pela internet. Essas mudanças se refletem até na estrutura de poder, as conexões trazidas pela
internet são o principal motor dessas mudanças.

O fenômeno de consumo pelo Instagram ainda é recente. Assim, estudos que abordam essa
temática se mostram incipientes, principalmente no que se refere à sua associação com a ciência
psicológica devido à influência direta do aplicativo na formação dos novos hábitos de consumo
da sociedade (Gonsalves et. al 2021, apud Piza 2012).

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Assim, para uma empresa, o Instagram é uma rede social que pode torná-la notória. Para fazer isso
é necessário que a empresa defina um perfil baseado na sua atividade e essa passa a ser a escolha do tema
comum às várias publicações partilhadas na conta da empresa, geralmente relacionadas com o seu ramo
de atividade. Conforme Leal et al. (2017).

Investir em estratégias de marketing no Instagram está sendo um excelente negócio”, pois devido
ao grande número de compartilhamento “uma grande parte das empresas fazem uso também
desta ferramenta estratégia para atrair clientes e alavancar seus negócios (Leal et al. 2017).

O rápido desenvolvimento de novas tecnologias, proporcionam grandes mudanças na estrutura


de produtos e atividades, e levam as pessoas a mudar suas visões sobre princípios e crenças abrindo as
portas para que possam investir em inovação e reformular suas estratégias competitivas.

Marketing digital
Em uma organização, o marketing tem como uma de suas várias funções atrair clientes. Para
(Armstrong; Kotler, 2015), o principal objetivo é atrair novos clientes e reter os clientes existentes para
sua satisfação. Na era digital, o marketing exige novos métodos, e as compras dos clientes na internet são
diferentes das compras tradicionais. Na internet, as compras são iniciadas e controladas pelos clientes, o
que difere do processo tradicional em que os consumidores são passivos. (Armstrong; Kotler, 2015).
De acordo com (Armstrong; Kotler, 2015), o marketing online é dividido em quatro áreas
principais, a saber: business-to-consumer (B2C) de empresa para consumidor, ou seja, quando a compra é
feita pelo cliente a partir de uma loja e-commerce ou física, business-to-business (B2B) de Empresa para
Empresa, quando o foco é vender apenas para outras organizações, (C2C) de consumidor para consumir,
quando as transações são feitas por um meio facilitador, seja ele físico ou online onde pode acontecer a
compra ou venda de consumidor para consumidor, e, por fim, do consumidor para a empresa (C2B)
onde o consumidor pode propor ou colaborar diretamente com a empresa sobre o produto que quer ao
invés de apenas aceitar uma oferta especifica.
De acordo com Torres (2009) “Quando falamos de marketing digital e internet, estamos falando
sobre pessoas, suas histórias e seus desejos. Estamos falando sobre relacionamentos e necessidades a
serem atendidas”. Portanto, o objetivo do marketing digital é formular estratégias e ações de marketing,
comunicação e publicidade por meio da internet. O que está se tornando? Está se tornando cada vez mais
importante para negócios e empresas.
Para (Armstrong; Kotler, 2015), o marketing online é a forma de vendas direta que mais cresce e
se tornará um modelo de negócios de sucesso para algumas empresas. Segundo eles, apesar dos desafios,
muitas empresas integraram o marketing online às suas estratégias e, à medida que continua a evoluir, esta
abordagem mostrará que se trata de construir relacionamentos com os clientes, aumentar as vendas e
comunicar sobre a empresa e você. Uma poderosa ferramenta para sua informação.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Segundo Nonnenmacher (2012) “Algumas empresas já perceberam que as plataformas móveis


são uma nova oportunidade de mercado e estão criando conteúdos interativos para os seus clientes”.
Nesse ambiente, Armstrong e Kotler (2015) dividem as empresas em três categorias: empresas
tradicionais, que só utilizam equipes de vendas em lojas físicas para atingir os consumidores; empresas
virtuais que não possuem lojas físicas e prestam serviços aos seus clientes por meio de sites; e empresas
híbridas com lojas físicas tradicionais e canais de marketing online que podem estabelecer conexões entre
vendedores e clientes.

O comportamento do consumidor no turismo


O turismo é uma das atividades que podem ser analisadas a partir de pesquisas sobre o
comportamento do consumidor. Isso porque a atividade turística também passou por várias etapas, desde
o processo de tomada de decisão até o pós-compra, de forma semelhante ao que ocorre na atividade de
consumo em geral.
Vários modelos foram desenvolvidos para explicar o comportamento do consumidor, desde o
estágio de tomada de decisão de viagem até o pós-compra. Ao escolher um pacote de viagem, o
consumidor terá expectativas e investirá em produtos e serviços essencialmente intangíveis. Portanto,
verifica-se que o modelo de comportamento do consumidor para o setor do turismo deve considerar as
características intangíveis da indústria, além de considerar que a aquisição de serviços não levará à efetiva
propriedade dos produtos.
Gouveia et al. (2014) faz uma comparação entre alguns modelos de processo e tomada de decisão
de compra dos consumidores e diz que,

Os modelos de Moutinho (1987) e Gilbert (1991) trazem questões um pouco mais abrangentes.
Moutinho (1987) cita estágios distintos do processo de tomada de decisão, além disso, o autor
observa que as decisões de compra resultam de três conceitos comportamentais: motivação,
cognição e aprendizado. Já Gilbert (1991), inclui influências psicológicas, como percepção,
aprendizado e influências sociais promovidas pelos grupos de referências e família (Gouveia et
al. 2014).

Esses modelos ainda são comparados aos de outros autores como Kotler (2006) e Middleton
(1994). Todos esses modelos mostram diversos fatores que podem explicar o comportamento do
consumidor em diversas variáveis como os fatores psicológicos, culturais, motivacionais etc.
Segundo McIntosh et al. (2003, tradução nossa) diversos fatores influenciam a motivação do
consumo das atividades turísticas, entre eles, os autores apontam quatro tipos de motivações turísticas:
I. O turista: busca diversas experiências e satisfações psíquicas e físicas. A natureza destes
determinará em grande parte os destinos escolhidos e as atividades desfrutadas.
II. Os negócios que fornecem bens e serviços turísticos: os empresários veem o turismo como uma
oportunidade de lucrar fornecendo os bens e serviços que o mercado turístico demanda.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

III. O governo da comunidade anfitriã ou área: os políticos veem o turismo como um fator de riqueza
na economia de suas jurisdições. Sua perspectiva está relacionada com os rendimentos que seus
cidadãos podem ganhar com este negócio. Os políticos também consideram as receitas cambiais do
turismo internacional, bem como as receitas fiscais recolhidas dos gastos turísticos, direta ou
indiretamente. O governo pode desempenhar um papel importante na política turística,
desenvolvimento, promoção e implementação.
IV. A comunidade anfitriã: as pessoas locais geralmente veem o turismo como um fator cultural e de
emprego. De importância para esse grupo, por exemplo, é o efeito da interação entre um grande
número de visitantes internacionais e residentes. Este efeito pode ser beneficente ou prejudicial, ou
ambos.
Diferente de McIntosh et al. (2003) para Armstrong e Kotler (2015) a decisão de compras está
ligada mais a necessidade, independe de ser social ou psicológica. Conforme Armstrong e Kotler apud
Maslow (2015),

De acordo com Maslow, [...] as necessidades humanas são dispostas em uma hierarquia, da mais
urgente (na base) a menos urgente (no topo), [...] Elas incluem necessidades fisiológicas, de
segurança, sociais, de estima e de autorrealização (Armstrong; Kotler apud Maslow, 2015).

Armstrong e Kotler (2015) definem cinco estágios que apresentam o processo de decisão do
comprador, são eles:
• Reconhecimento da necessidade: o processo de compra se inicia aqui. O comprador reconhece a
necessidade.
• Busca por informações: um consumidor interessado busca por informações adicionais. Se o
impulso for forte e o produto que satisfaz a necessidade estiver à mão, ele provavelmente o
comprará.
• Avaliação das alternativas: a maneira como o consumidor processa as informações para chegar à
escolha da marca. Os consumidores utilizam diversos processos de avaliação em todas as situações
de compra.
• Decisão de compra: no estágio anterior o consumidor classifica as marcas e forma intenções de
compra. Geralmente sua decisão de compra será comprar a sua marca favorita.
• Comportamento pós-compra: após a compra o consumidor fica satisfeito ou insatisfeito. A relação
entre as expectativas do consumidor e o desempenho percebido do produto definem a opinião do
comprador.
Para Gouveia et al. (2014) “a imagem que o indivíduo tem de determinado local, interfere no
comportamento do consumidor com relação ao turismo”, diferentes fatores como imagem do turismo,
características da viagem, pressão doméstica, confiança em agências intermediárias e coleta e busca de
informações podem formar essa imagem por meio desses fatores.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Com base nessa imagem, os turistas em potencial avaliarão para onde pretendem ir. O desejo de
viajar decorre do agrupamento de elementos relacionados às suas características e percepções, e é
determinado pelas informações obtidas pelos turistas.
Para Armstrong e Kotler (2015), o marketing online se tornará um modelo de negócios de sucesso
para algumas empresas. Segundo ele, apesar dos desafios, muitas empresas integraram o marketing online
à sua estratégia e, à medida que se desenvolve, essa estratégia se mostrará uma forma de construir
relacionamentos com clientes, aumentar as vendas e divulgar empresas e produtos relacionados,
tornando-se uma ferramenta poderosa para informação.
Considerando que os celulares são pertences pessoais de indivíduos e estão sempre intimamente
relacionados aos seus proprietários, essa revolução permite que as organizações se aproximem de seu
público-alvo.
Segundo Anh e Chu Phuong (2015),

Um dispositivo móvel - que pode acessar a internet, impacta o comportamento de um indivíduo.


Afeta direta ou indiretamente as ações físicas humanas, e os impactos podem acontecer de forma
significativa. Influenciou a forma como um cliente pesquisa e compra produtos, realiza quaisquer
transações, planos ou realiza atividades, comunica e interage com outros; e entretém (Anh; Chu
Phuong, 2015, tradução nossa).

Quando se trata de informação e turismo, a internet é uma forma de rápida expansão, e essa
velocidade com que a informação é enviada torna-se a base para o seu desenvolvimento. O setor do
turismo não funcionaria sem internet, pois os turistas precisam obter informações antes de continuar sua
viagem.
De acordo com Cruz et al. (2012),

Diante do aumento do uso da Internet, inclusive como meio de divulgar e, em consequência,


promover o turismo em determinados destinos, entende-se que a utilização da mesma é fator
decisivo para a tomada de decisão na hora da escolha de um destino turístico (Cruz et al., 2012).

Em um mundo globalizado, os usuários têm uma compreensão maior de seu poder de compra,
com o tempo, eles decidirão o que comprar e como entender a compra. Outra questão é a quantidade de
oferta e a forma como ela é fornecida aos consumidores, se o mercado não souber definir a forma de
interagir com os clientes, os mesmos podem se sentir inseguros para compras online e assim acabem
optando por não adquirir seus produtos/serviços por esse tipo mercado online.
As empresas devem reconhecer que a revolução online não é apenas mais um canal de vendas.
Hoje o consumidor tem o poder de comprar a qualquer hora do dia sem precisar se dirigir a uma loja ou
agência, isso mostra o quanto as empresas precisam mudar e se adaptar a esse novo modelo de mercado
online.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Utilização das redes socias para promoção do Turismo


No turismo, a mídia é considerada indispensável no processo de informação turística, pois as
pessoas estão constantemente expostas a diversos anúncios veiculados na TV, internet e em outdoors
(Sousa et al., 2016). As redes sociais aumentaram o poder do diálogo consumidor-consumidor (C2C) no
mercado, permitindo que uma pessoa interaja facilmente com centenas de outros consumidores. De
acordo com Lílian et al. (2017) “No Turismo a evolução dos meios de comunicação impactou
desenvolvimento para a área e a comunicação entre as empresas e seus parceiros melhorou, bem como a
comunicação com os consumidores”.
Como um mercado inovador, naturalmente o turismo mudou com a modernização do mercado.
A digitalização da informação promove estas novas fases de transformação, permitindo a concretização
de produtos turísticos através de conteúdo multimídia contendo vídeos, imagens e textos que podem
proporcionar a formação de uma imagem positiva na experiência turística. Além disso, a chegada das
empresas às redes sociais trouxe mudanças na comunicação entre a empresa e seus clientes, conectando
às duas partes gerando uma maior interação entre eles.
Para Sousa et al. (2016)

Não há dúvidas que efeitos destes anúncios são fatores que influenciam a tomada de decisões
dos turistas e, com a evolução das TIC’s tem-se influenciado o crescimento do setor turístico e
o desenvolvimento dos negócios virtuais tornando-se assim, uma ferramenta fundamental para
o incremento das atividades turísticas (Souza et al. 2016).

Nesta perspectiva, devido ao crescimento da utilização da internet como meio de troca de


informações, surge o e-commerce (comercio eletrônico), onde os meios virtuais se tornaram um canal de
distribuição de informação, divulgação e comercialização de produtos, tendo como principal objetivo
empresas que estão começando a usar a internet para promover e vender seus produtos e serviços,
trazendo vantagens para o e-commerce por meio do marketing digital.
Nesse sentido Cruz et al. (2012) no setor de turismo, a internet pode ser vista como uma
ferramenta revolucionária que permite aos usuários acessar diversas informações obtidas sem a
necessidade de intermediários como agências de viagens. Assim para Costa e Perinotto(2017) apud
Guimarães e Borges (2008) a tomada de decisão para a compra de uma viagem é mais rápida e pode ser
preparada com o auxílio da mídia. Essa velocidade foi projetada para garantir que os clientes não percam
tempo e cheguem ao destino com mais rapidez.
De acordo com Thomaz et al. (2013),

Nos últimos anos, o surgimento de novas mídias e redes sociais facilitou e contribuiu para a
produção de conteúdo e compartilhamento de informações entre as pessoas. Esse novo cenário
desencadeou diversas mudanças no comportamento do consumidor e novos tipos de turismo
surgiram, turistas, profissionais da área, formas de marketing e marketing (Marketing Digital,
Search Marketing (SEM), Marketing de Mídia e Redes Sociais, etc) (Thomaz et al., 2013, tradução
nossa).

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Assim, a internet e as redes sociais podem ser consideradas um meio estratégico, pois atuam como
canais de divulgação de informações de localização turística, pois por elas podem ser inseridas além de
publicações, serviços de consulta de destinos turísticos e regiões. Segundo Brasil (2010, p.123), “A
internet é uma ferramenta de extrema importância para o processo de comercialização e divulgação de
produtos turísticos”. Mediante as ferramentas que a internet disponibiliza é possível ter acesso a
informações como destinos, restaurantes, meios de transporte, hospedagens, entre outros.
Conforme Cruz et al. (2012)

Neste sentido, a Internet pode ser percebida, nos setores do turismo, como uma ferramenta
revolucionária que permite aos usuários acessarem diversas informações que são adquiridas sem
a necessidade de intermediários, como um agente de viagens (Cruz et al.., 2012).

Com o desenvolvimento do comércio eletrônico na internet, cada vez mais usuários de compras
online estão aumentando, portanto, o setor de turismo está ganhando crescimento no campo econômico.
Para Eltz e Bridi (2016) apud Carrilho e Vellani (2011) “o comércio eletrônico na Internet aumentou o
número de usuários que fazem comprar on-line, gerando no setor turístico mais forças na economia
empresarial.”
Mediante o aumento do uso das redes sociais, as empresas passaram a tratá-las como um
mecanismo de comunicação rápida, permitindo a troca de informações com mais rapidez e atingindo
várias pessoas ao mesmo tempo. Portanto, as redes sociais são a base para a obtenção de resultados
positivos, o entendimento do público-alvo e, o mais importante, oferecem oportunidades para quem
deseja divulgar seus produtos ou marcas e possibilitar a fidelização de clientes.

METODOLOGIA
A abordagem da pesquisa é qualitativa conforme compreendida por Flick (2009) como “parte da
noção da construção social das realidades em estudo, está interessada nas perspectivas dos participantes,
em suas práticas do dia a dia e em seu conhecimento cotidiano relativo à questão em estudo”. Também
é de acordo com os seus objetivos uma pesquisa descritiva, (Gil, 2002; Gerhardt; Silveira (2009); Severino,
2013) consideram uma pesquisa descritiva quando é ampliado o conhecimento dos tópicos a serem
estudados posteriormente e que além de registrar e analisar os fenômenos estudados, busca identificar
suas causas.
Diante do cenário atual da pandemia do Covid-19 com a dificuldade de aplicar os questionários
presencialmente a melhor opção para a coleta de dados foi disponibilizar o questionário (Apêndice A)
compartilhando inicialmente no Instagram e WhatsApp da autora de onde foi solicitado que a quem
respondesse e também o compartilhasse, assim o questionário possivelmente pode alcançar diversas
cidades e Estados do país.
Como forma de atender aos objetivos dois e três da pesquisa foi elaborado um questionário com
treze questões de perguntas fechadas e de múltipla escolha para a coleta de dados, sendo elas quatro

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

questões relacionadas ao perfil do usuário/consumidor, quatro relacionadas ao uso de redes


sociais/Instagram e cinco sobre compras online, experiência no Instagram e na internet, comunicação
publicitária percebida, influência e confiança.
O questionário foi construído na plataforma Formulários Google (Google Forms) e disponibilizado
no dia 17 de novembro de 2021 ao dia 02 de dezembro de 2021. Todas as pessoas responderam
anonimamente, gerando um total de 189 questionários sendo desconsiderados os respondentes que não
representavam o foco da pesquisa e pessoas que não que tivessem conta no Instagram, restando assim 185
questionários válidos.
A análise dos dados foi realizada através de estatísticas descritivas (porcentagem e frequência) a
partir das perguntas norteadoras da pesquisa. Ao final do período de aplicação dos questionários, através
das respostas obtidas, foram construídos gráficos para que se pudesse expô-los com os objetivos da
pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com relação ao perfil dos respondentes, 67% corresponderam ser do gênero feminino e 33% do
gênero masculino, dentre eles 31,4% (18 – 25 anos), 36,2% (26 – 30 anos) e 22,2% (31 – 40 anos), 10,3%
(40 anos ou mais).

Tabela 1. Caracterização dos participantes. Fonte: Dados da pesquisa (2021).


Variáveis F* %**
Feminino 124 67%
Gênero Masculino 61 33%

18 a 25 anos 58 31,4%
26 a 30 anos 67 36,2%
Idade
31 a 40 anos 41 22,2%
40 anos ou mais 19 10,3%
Ensino fundamental completo 6 3,2%
Ensino médio incompleto 5 2,7%
Escolaridade Ensino médio completo 47 25,4%
Superior incompleto 42 22,7%
Superior completo 85 45,9%
Menos de um salário-mínimo 26 14,1%
De um a dois salários-mínimos 84 45,4%
Renda
Mais de dois salários-mínimos 33 17,8%
Mais de três salários-mínimos 42 22,7%
Nota: *F = Frequência. **% = Porcentagem

Em relação à escolaridade dos respondentes, a maioria 45,9% concluíram o ensino superior,


22,7% possuem ensino superior incompleto e 25,4% ensino médio completo, conforme mostrado na
Tabela 1. Sobre a renda dos respondentes, 45,4% correspondem as pessoas que têm a renda de um a dois

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

salários-mínimos, 22,7% mais de três salários mínimos, 17,8% a mais de dois salários e 14,1% menos de
um salário mínimo.
Observando os dados levantados sobre o perfil dos respondentes da pesquisa, conclui-se que o
questionário obteve em sua maioria respostas de pessoas do gênero feminino na faixa etária entre 26 e
30 anos, em sua maioria com superior completo e com renda familiar de um a dois salários-mínimos.
Buscando saber quais outras redes sociais são utilizadas pelos respondentes a maioria destacou
que usa o Facebook 83,6%, seguidos por 33,3% que fazem uso do Twitter, 31,2% utilizam Pinterest e
29,1% Google+. Apenas 4,8% responderam não terem outra rede social além do Instagram.

Pinterest 31,2%

Google + 29,1%

Twitter 33,3%

Facebook 83,6%

Não tenho outra rede social 4,8%

Gráfico 1. Outras redes sociais dos participantes da pesquisa. Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Com base nas informações sobre o uso de outras redes sociais viu-se que as pessoas têm outras
redes sociais além do Instagram, aspecto esse que converge com a perspectiva trazida por (Castells, 2003)
quando menciona que as redes sociais têm um enorme potencial para mobilizar a sociedade e formar
redes de conexões que podem compartilhar informações e dar voz as pessoas.
As redes sociais são estratégias importantes de aproximação entre organizações e o público-alvo,
fazendo com que elas sejam uma das estratégias de marketing mais utilizadas atualmente. Dentre as
pessoas que responderam ao questionário como mostrado no Gráfico 2, 97,8% afirmaram que acessam
o Instagram todos os dias durante a semana.

Todos os dias 97,8%

Quatro dias por semana 1,1%

Tres dias por semana 0,5%

0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0% 120,0%

Gráfico2. Frequência de acesso ao Instagram por semana. Fonte: Dados da pesquisa (2021).

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Com relação a frequência de acesso à rede social, no Gráfico 3 é possível ver que 78,4% acessam
mais cinco vezes por dia a plataforma. O que também foi observado na pesquisa da (Global Digital
Overview, 2020) que destaca o Brasil em terceiro lugar no ranking de populações que mais passam tempo
nas redes sociais.

Mais de cinco vezes por dia 78,4%

Quatro vezes por dia 8,1%

Três vezes por dia 8,1%

Duas vezes por dia 1,6%

Uma vez por dia 3,8%

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0%

Gráfico 3. Frequência de acesso ao Instagram por dia. Fonte: Dados da pesquisa (2021).

A fim de responder o objetivo três desta pesquisa foi perguntado se os respondentes seguiam
páginas de turismo no Instagram, no Gráfico 4 pode-se ver que 69,2% seguem páginas referente a assuntos
turísticos, seguidos de 30,8% dos usuários respondentes que não seguem páginas de turismo.
Compreende-se dessa forma que as empresas de turismo estão utilizando as redes sociais.

30,8%
Seguidores de páginas de
turismo
Pessoas que não seguem
69,2% páginas de turismo

Gráfico 4. Seguidores de páginas de turismo no Instagram. Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Nesse sentido, quando perguntado se as pessoas acreditavam que aplicativos/postagens como o


Instagram podiam influenciar o consumo de viagens, 100% dos participantes da pesquisa acreditam que
publicações sobre produtos turísticos feitas no Instagram ou por meio de outras redes sociais, influenciam
o consumo de produtos turísticos, para (Sousa et al., 2016) os anúncios e publicações são fatores que

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

influenciam a tomada de decisões, que a tecnologia tem influenciado o crescimento do setor turístico e
que negócios virtuais são ferramentas fundamentais para o crescimento do segmento.
Como pode-se observar Instagram é uma rede social que pode influenciar as pessoas a comprarem
produtos. No Gráfico 5, 74% das pessoas disseram nunca ter comprado pelo Instagram e apenas 26% já
efetuaram algum tipo de compra pela rede social. Assim é possível perceber que mesmo que as pessoas
se sintam influenciadas e sigam páginas de turismo no Instagram, ainda preferem efetuar a compra fora do
aplicativo.

26% Já comprou
diretamente no
Instagram
Nunca comprou no
Instagram
74%

Gráfico 5. Compras realizadas no Instagram. Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Já utilizou o instagram
41% como meio de consulta
para compras
Nunca utilizou o
59% Instagram como meio de
consulta para compras

Gráfico 6. Instagram como meio de consulta para compras. Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Brasil (2010, p. 123) diz que “É normal que hoje as pessoas busquem informações na internet
antes mesmo de ligar ou visitar uma agência de viagem”, nesse sentido, percebe-se que o Instagram pode
vir a impactar tanto nas compras autoguiadas quanto nas compras mediante agências/lojas.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Como fonte de consulta para futuras compras 59% das pessoas afirmaram que utilizam o Instagram
como fonte inicial, seguidos de 41% que não utilizam a plataforma como fonte/base de consulta (Gráfico
6).
Quando falado especificamente sobre o método de consulta sobre um produto turístico 69,2%
das pessoas afirmaram que usam as redes sociais em geral o que é quase a mesma quantidade de pessoas
que consultam os amigos 60%, seguidos de porcentagem menores para 15,1% que consultam guias de
turismo, 23,8% agentes de viagem e 27% a família (Gráfico 7).

Redes sociais 69,2%

Guia de turismo 15,1%

Agente de viagem 23,8%

Família 27,0%

Amigos 60,0%

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0%

Gráfico 7. Fonte de consulta para compra de um produto turístico. Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Conforme afirmam Armstrong e Kotler (2015) um consumidor quando interessado por um


produto busca todas as informações sobre ele. O consumidor se modificou muito com o destaque que o
Instagram mediante ferramenta de compra se apresenta, podendo impulsionar e fornecer informações
sobre futuras compras. Dessa forma a partir dos dados obtidos pode-se perceber que as buscas feitas
pelas redes sociais têm um número significativo, mas não descarta outras fontes de consulta para
compras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo analisar como o Instagram pode influenciar as pessoas nas
decisões de compras de produtos turísticos.
Conforme mostrado nesse trabalho o setor de turismo vem também se utilizando do Instagram
para a divulgação dos produtos e para ter um contato mais próximo com os clientes e futuros
compradores, visto que o aplicativo hoje é muito utilizado pelas pessoas como um todo, a pesquisa
buscou identificar como o uso do mesmo pode ser voltado para o turismo, com isso foi percebido que
grande parte dos respondentes da pesquisa seguem páginas de turismo no Instagram, assim como
acreditam que publicações na plataforma podem influenciar a compra de produtos turísticos.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Os constantes avanços tecnológicos e o crescimento da internet, mudaram os padrões de


consumo. As redes sociais, em especial o Instagram, passam a ser um importante meio de informação para
pesquisa de produtos turísticos, mas não quando se trata de compras dentro do aplicativo.
As respostas analisadas confirmaram que as pessoas se sentem influenciadas pelo aplicativo que
apresenta ser uma rede social bastante acessada, tendo em vista a quantidade de pessoas que responderam
acessar diariamente a plataforma. Quanto as compras, percebeu-se que o Instagram ainda funciona apenas
como ferramenta de consulta ou para divulgação dos produtos turísticos, já que a porcentagem das
respostas que dizem fazer compras fora da plataforma é maior que as realizadas na mesma. Entende-se
a partir disso que o mesmo é uma boa ferramenta para divulgação de produtos turísticos, e que pode vir
a crescer como uma ferramenta de compras.
A internet é um importante meio de informação para pesquisa de viagens, mas verificou-se que
raramente a rede social foi a ferramenta de escolha para compra de produtos turísticos, passando a ser
mais usado como mecanismo de busca para uma futura compra fora do aplicativo.
Com relação aos resultados acima mencionados, percebe-se que as pessoas estão utilizando cada
vez mais a internet, e mais especificamente o Instagram, para interagir devido à facilidade de comunicação.
Diante disso e do que é apresentado no trabalho, é importante que as empresas utilizem as redes sociais,
para divulgar seus produtos e serviços, considerando que milhões de brasileiros utilizam a internet e o
aplicativo foco da pesquisa.
A maior limitação desta pesquisa deve-se ao número reduzido de respostas ao questionário que
foi aplicado durante a pandemia do Covid-19, o que impactou diretamente na coleta de uma maior
amostra. Apesar das limitações onde a amostra estudada não apresenta resultados globais, o estudo
conseguiu passar uma visão geral que mostra o impacto do Instagram na escolha de produtos turísticos,
que é o foco da investigação.
Assim pelo exposto observou-se que a rede social influência na decisão de compras de produtos
turísticos, mas apesar disto ele não é um meio para compras. Considerando os resultados obtidos, em
pesquisas futuras, considera-se implementar questionários mais aprofundados, aumentando o intervalo
de tempo de coleta de dados e recorrer a outro método de aplicação dos questionários.
Ainda quando a futuras linhas investigativas sugere-se ampliar pesquisas sobre a relação das redes
sociais na compra de produtos turísticos e especificamente sobre o Instagram, porque as pessoas não
compram através da mesma, já que as pessoas consultam essa rede para tomar uma decisão sobre a
compra.
Desta forma, espera-se que este artigo possa contribuir e auxiliar a outros trabalhos de
investigação relacionados com marketing digital e promoção de produtos turísticos no Instagram.

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Índice Remissivo

C internet, 73, 74, 76, 77, 80, 81, 82, 83, 86, 88

Cidade, 48, 49 P

E Parques Nacionais, 7, 10, 17


perfil, 76, 77, 83, 84
Eventos, 56, 58, 61, 62, 63, 65, 68, 69
T
I
turismo, 73, 74, 78, 79, 80, 81, 82, 85, 86, 87
Instituto Federal de Brasília, 56, 57, 61

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Turismo reflexões e desafios - Volume IV

Sobre os organizadores

Queila Pahim da Silva

Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico nas áreas de Turismo,


Hospitalidade e Lazer no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de Brasília (IFB). Doutora em Educação pela Universidade Católica de Brasília.
Mestre em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2012);
Especialista em Planejamento e Consultoria Turística pela Faculdade Estácio de
Sá RN (2009); Bacharel em Turismo pela Faculdade de Ciências Cultura e
Extensão do Rio Grande do Norte (2005) e técnica de Guia de Turismo pelo SENAC RN (2005). Atua
nas áreas de formação de professores para a educação bilíngue de Surdos, educação de Surdos e oratória
para ouvintes. Participa dos Grupos de Pesquisa: Grupo de Estudos Críticos e Avançados em Linguagens
(GECAL) da Universidade de Brasília, Comunidade Escolar: Encontros e Diálogos Educativos da
Universidade Católica de Brasília e Ensino de Libras - Língua Brasileira de Sinais do Instituto Federal de
Brasília. Faz parte do corpo editorial da Pantanal Editora.

Sergio Ramiro Rivero Guardia

Doutor em turismo (2020), mestre em sistemas e computação na área de


engenharia de software pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFRN (2002). Graduado em processamento de dados pela Universidade Federal
de Campina Grande UFCG (1987). Atualmente é engenheiro de sistemas e
consultor em tecnologias da informação e comunicação na DATANORTE
(Companhia de Processamento de Dados do RN) e professor da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Com larga experiência na área de
sistemas de informação empresarial e assessoria na gestão de empresas, tendo participado na modelagem
de processos de negócios e no desenvolvimento de sistemas computadorizados, atuando principalmente
nas áreas de: Inovação, gestão da TIC, gerenciamento de projetos, integração, desenvolvimento e
implantação de sistemas de informação, negócios eletrônicos, sistemas de qualidade ISO e mais
recentemente em marketing digital. No momento interessado em cidades e destinos inteligentes.

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