Magistratura E Ministério Público Estaduais

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MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAIS

Fernando Gajardoni
Direito Processual Civil
Aula 07

ROTEIRO DE AULA

4. CHAMAMENTO AO PROCESSO (130/132 CPC)

4.1. FUNDAMENTO E CONCEITO (LITISCONSÓRCIO PASSIVO FACULTATIVO ULTERIOR)

CONCEITO: o chamamento é a intervenção cujo objetivo é inserir no polo passivo da demanda os responsáveis
ou corresponsáveis pelo cumprimento da obrigação. É o réu (obrigado) quem requer o chamamento dos
coobrigados, havendo, assim, litisconsórcio passivo (polo onde se dá a formação) facultativo (chamar ou não
chamar é uma decisão que cabe apenas ao réu, não havendo consequências caso ele decida pelo não
chamamento) ulterior (ocorre após o início da demanda).

- O objetivo do chamamento, tal como na denunciação, é privilegiar a economia processual, resolvendo outros
conflitos além do original, mantido entre autor e réu.

4.2. HIPÓTESES DE CABIMENTO (130 CPC)

Art. 130, CPC. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu: I - do afiançado, na ação em que o
fiador for réu; II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles; III - dos demais devedores
solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum.

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A) FIADOR – AFIANÇADO (818 CC): o fiador pode trazer o afiançado para o polo passivo, uma vez que a
obrigação não é propriamente do fiador, sendo que este a assume apenas por uma garantia jurídica que tem
natureza de ficção jurídica. Se o fiador paga o que o afiançado devia, ele ganha, automaticamente, um título
executivo contra o afiançado (= economia processual).

Art. 818, CC. Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo
devedor, caso este não a cumpra.

ATENÇÃO: o afiançado não pode chamar o fiador ao processo, pois o afiançado é quem é responsável
originalmente pela obrigação. O fiador é apenas garante, estando ali apenas como uma forma de garantir e
facilitar a vida do credor e não do devedor original.

B) FIADOR – COFIADORES (829 CC): os cofiadores são devedores solidários, podendo o credor da obrigação
fracionar a cobrança entre os cofiadores ou cobrar tudo do fiador.

Art. 829, CC. A fiança conjuntamente prestada a um só débito por mais de uma pessoa importa o compromisso
de solidariedade entre elas, se declaradamente não se reservarem o benefício de divisão.

Parágrafo único. Estipulado este benefício, cada fiador responde unicamente pela parte que, em proporção, lhe
couber no pagamento.

C) DEVEDORES SOLIDÁRIOS (275 CC): havendo solidariedade passiva, o credor elege demandar apenas um dos
coobrigados, no geral, contra aquele que detém melhores condições financeiras. Se, eventualmente, o juiz
condenar todos e um dos coobrigados cumprir a obrigação, o que pagou ganha, automaticamente, título judicial
contra os demais devedores.

Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a
dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados
solidariamente pelo resto.

Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou
alguns dos devedores.

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- Tudo o que o 275 do CC melhorou a vida do credor, o 130 do CPC estragou, pois este último dispositivo mina a
vantagem da solidariedade. Assim, a despeito da solidariedade civil autorizar o credor a eleger de quem ele
deseja cobrar, o CPC autoriza o devedor eleito a chamar os demais para integrar o polo passivo da demanda.

4.3. LEGITIMIDADE, MOMENTO E PROCEDIMENTO (131 CPC)

Art. 131, CPC. A citação daqueles que devam figurar em litisconsórcio passivo será requerida pelo réu na
contestação e deve ser promovida no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de ficar sem efeito o chamamento.

Parágrafo único. Se o chamado residir em outra comarca, seção ou subseção judiciárias, ou em lugar incerto, o
prazo será de 2 (dois) meses.

• Legitimidade: é exclusiva do réu. Não existe chamamento pelo Autor.


• Momento: é na contestação, sob pena de preclusão.

- Se, eventualmente, o réu não chamar os coobrigados, ele só perderá a oportunidade de formar título executivo
contra eles já naquele momento. Isso, contudo, não impede o réu condenado cobrar a quota-parte de cada um
dos coobrigados por meio de ação de conhecimento (ação de cobrança).

Procedimento: o réu chama ao processo na contestação e o juiz manda citar os coobrigados para responderem
o processo no prazo de 15 dias. Em seguida, os chamados apresentam nova contestação ou apenas aditam a
contestação já apresentada, seguindo o processo seu curso normal.

4.4. FORMAÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO CONTRA E ENTRE TODOS (132 CPC)

- Uma vez cumprida a obrigação por qualquer um dos coobrigados, este obterá título executivo contra os
demais obrigados, podendo realizar o cumprimento de sentença nos mesmos autos.

Art. 132, CPC. A sentença de procedência valerá como título executivo em favor do réu que satisfizer a dívida, a
fim de que possa exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua quota, na
proporção que lhes tocar.

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4.5. DIFERENÇA COM A DENUNCIAÇÃO À LIDE (MESMA RJM/INSERÇÃO/RÉU)

- Tanto o chamamento quanto a denunciação visão a economia processual. Da mesma forma, o chamamento
também tem por escopo a garantia do direito de regresso. A diferença entre os institutos reside em, pelo
menos, 3 pontos:

(i) No chamamento, há apenas uma relação jurídica material, dado que os obrigados e coobrigados estão
vinculados ao Autor pela mesma RJM. Assim, quando o fiador chama o afiançado, nota-se que ambos estão
ligados ao locador pelo contrato de locação e tão somente por ele.

(ii) Intervenção por inserção: com o chamamento, a inserção dos chamados se dá na mesma relação jurídica
processual, não havendo formação de uma nova RJP para discutir-se a questão. A RJM entre denunciante e
denunciado é diferente e, além disso, não há inserção, havendo duas RJP autônomas; tanto é assim que quando
o juiz sentencia ele elabora dois dispositivos.

(iii) A denunciação pode ser feita tanto pelo Autor quanto pelo Réu, ao passo que o chamamento pode ser
realizado única e exclusivamente pelo Réu.

4.6. QUESTÕES (SAÚDE - STJ RESP 1.203.244 E STF RE 855.178) (1.698 CC)

- O STF e o STJ entendem que em tema de dispensa de medicamentos e tratamentos de saúde, há solidariedade
entre União; Estados; DF e Município. Cabe ao Autor escolher contra quais dos entes federados ele irá
demandar, sem, contudo, haver possibilidade do ente que é Réu chamar ao processo os demais, uma vez que o
direito regressivo pelo quota parte cabível para cada um dentro da divisão de responsabilidade pelo SUS, não é
autorizado, devendo tal acertamento ser feito internamente e administrativamente entre eles.

Alimentos avoengos: em caso de alimentos avoengos e demais hipóteses do Art. 1698 do CC, não há
chamamento ao processo, mas sim uma figura atípica de intervenção de terceiros. Por meio dela, é possível
tanto ao Autor quanto aos Réus trazer para o processo os demais parentes do mesmo grau para suportar a
obrigação alimentar. Todavia, como não haverá formação de título executivo entre o chamante e os chamados,
não é possível falar-se em chamamento ao processo, pois o juiz determinará que cada um arque com a

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obrigação alimentar na medida de suas possibilidades. A expressão “chamar”, portanto, é utilizada de forma
atécnica pelo Código Civil, não cabendo tal intervenção no modelo preconizado pelo Art. 130 do CPC.

5. AMICUS CURIAE (ART. 138 CPC E ART. 7º, § 2º, DA LEI 9.868/99 + Art. 6º, Lei 9882/99)

- Não é novidade do CPC, pois já era possível nas ações constitucionais de competência originária do STF (ADI,
ADC e ADPF). A novidade é que o CPC autoriza a utilização do amicus curiae em qualquer tipo de processo e em
qualquer grau de jurisdição.

Art. 138, CPC. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da
demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento
das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica,
órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua
intimação.

§ 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a interposição de
recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º.

§ 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus
curiae .

§ 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas.

ART. 7º, § 2º, DA LEI 9.868/99. O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos
postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a
manifestação de outros órgãos ou entidades.

Art. 6º, Lei 9882/99.Apreciado o pedido de liminar, o relator solicitará as informações às autoridades
responsáveis pela prática do ato questionado, no prazo de dez dias.

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§ 1o Se entender necessário, poderá o relator ouvir as partes nos processos que ensejaram a argüição, requisitar
informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou
ainda, fixar data para declarações, em audiência pública, de pessoas com experiência e autoridade na matéria.

§ 2o Poderão ser autorizadas, a critério do relator, sustentação oral e juntada de memoriais, por requerimento
dos interessados no processo.

5.1. OBJETIVO: AMPLIAR A LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA DA DECISÃO JUDICIAL (PLURALIZAÇÃO DO DEBATE)


TRAZENDO ELEMENTOS IMPORTANTES PARA JULGAMENTO (AMIGO DA PARTE!)

- O objetivo do amicus curiae é ampliar a legitimidade democrática da decisão judicial, pluralizando-se o debate
e permitir, através dos elementos trazidos, ter uma decisão de melhor qualidade. Como os membros do
Judiciário não são eleitos, a imposição da vontade do Estado pela Jurisdição não decorre da soberania popular,
mas sim do constitucionalismo. E, de acordo com a Constituição, é condição de legitimidade o fato de as
decisões do Judiciário serem refletidas, isto é, fruto de um contraditório pleno e com uma fundamentação que
possa prestar contas a sociedade. Por isso, a ampliação do debate para além das partes processuais aumenta a
legitimidade democrática.

- O amicus curiae é mais amigo da parte do que, como preconiza a tradução literal, amigo da Corte, pois, como
se sabe, o amicus curiae não é neutro e nem imparcial, mas defende um ponto de vista atrelado ao problema,
sustentando as bases teóricas que favoreçam a tese jurídica que pretendem ver sagrar-se como vitoriosa.

5.2. CABIMENTO (QUALQUER PROCESSO)

I) RELEVÂNCIA (JURÍDICA) DA MATÉRIA (EX. ART. 1.015 CPC – TAXATIVIDADE): a adequada interpretação do
Art. 1015 do CPC acerca do cabimento do Agravo de Instrumento é exemplo de matéria com relevância jurídica
que foi analisada pelo STJ e na qual o Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP) atuou como amicus curiae.
Note que se trata de matéria com pouco impacto para o cidadão comum, mas de impacto altíssimo na dinâmica
do sistema processual.

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II) ESPECIFICIDADE DO TEMA OBJETO DA DEMANDA (RELEVÂNCIA TÉCNICA) (EX. PESQUISA COM CÉLULAS
TRONCO EMBRIONÁRIAS): são temas nos quais o Judiciário não pode decidir com qualidade sem ouvir a
comunidade científica e demais interessados do campo social.

III) A REPERCUSSÃO SOCIAL DA CONTROVÉRSIA (RELEVÂNCIA SOCIAL) (EX. CONCENTRAÇÃO DOS PLANTÕES
POLICIAIS NOS FDS): trata-se de temas que tem impacto grande e imediato na vida do cidadão comum. Exemplo
nesse sentido é a concentração dos plantões da Polícia Civil nos finais de semana nas cidades maiores, em
virtude de gestão orçamentária. Há Ação Civil Pública que discute a legalidade da medida, cuja decisão final só
poderá ser tomada após a oitiva de especialistas e, sobretudo, de representantes que conheçam os impactos
práticos da comunidade afetada.

5.3. LEGITIMIDADE (ESPONTÂNEA OU PROVOCADA): PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA C/REPRESENTATIVIDADE


ADEQUADA (CONTROLE OPE JUDICIS)

- A representatividade adequada constitui-se na verificação sobre se o terceiro é um bom porta-voz dos


interesses em jogo, sendo um bom representante da coletividade ou do interesse que será apresentado em
juízo pelo amicus curiae.

- Se o STF debate a constitucionalidade do pacote anticrime, é necessário verificar quais são os bons porta-vozes
do campo jurídico para tratar do assunto e fornecer elementos técnicos a Corte. Nesse sentido, podemos ter
como representantes institutos que gozam de prestígio frente a comunidade científica, como o IBCRIM, ou
mesmo doutrinadores que são especialistas no assunto e gozam do mesmo prestígio (Prof. Renato Brasileiro). A
análise dessa representatividade, portanto, é sempre casuística.

- O amicus curiae pode entrar no processo sem que ninguém o convide (espontânea => atravessando uma
petição requerendo sua entrada) ou sendo convidado (provocada)

5.4. INTERVENÇÃO SEM INTERESSE JURÍDICA (INTERVENÇÃO ANÓDINA) (ART. 138, § 1º, CPC)

- A intervenção do amicus curiae é chamada de anódina, pois não há interesse jurídico do terceiro na demanda.
Pode haver interesse moral; científico ou acadêmico, mas não jurídico, pois, do contrário, haveria assistência. A

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consequência disso é que não há modificação de competência em razão do amicus curiae (ex.: a União pode
intervir como amicus sem que o processo que está sendo julgado pela estadual seja remetido para a federal).

5.5. DIFERENÇAS

A) MP COMO FISCAL (S/INTERESSE NO RESULTADO + ÓRGÃO OPINATIVO + PODERES MAIS AMPLOS QUE O
AMICUS): a atuação do MP como fiscal da lei não visa um interesse no processo, sendo imparcial. Por outro
lado, o amicus curiae é totalmente parcial, pois defende um ponto de vista. Da mesma forma, enquanto o MP
tem a função de opinar, o amicus curiae não pode ser tido como um mero parecerista, pois ele formula
requerimentos para que a sua tese seja acolhida. Por fim, é de se destacar os amplos poderes conferidos ao MP
(direito de recorrer, requerer provas, etc...), não outorgados ao amicus curiae.

B) ASSISTENTE (C/INTERESSE NO RESULTADO + PODERES MAIS AMPLOS QUE O AMICUS): enquanto o


assistente tem interesse jurídico no resultado do processo, o interesse do amicus é sempre de natureza diversa
da jurídica. Da mesma forma, o assistente detém poderes mais amplos do que o amicus curiae, sobretudo em se
tratando de assistência litisconsorcial.

5. AMICUS CURIAE (ART. 138 CPC E ART. 7º, § 2º, DA LEI 9.868/99)

5.5. PODERES (ART. 138, §§ 2º E 3º, CPC) (2):

A) EM GERAL: o juiz define se o amicus entra ou não no processo, estabelecendo quais são seus poderes (ex.:
pode realizar sustentação? Pode apresentar provas e ouvir testemunhas? Pode falar na audiência pública?)
(ART. 138, § 2º, CPC) (ART. 984, II, “B”, CPC)

Art. 984, CPC. No julgamento do incidente, observar-se-á a seguinte ordem:

II - poderão sustentar suas razões, sucessivamente:

b) os demais interessados, no prazo de 30 (trinta) minutos, divididos entre todos, sendo exigida inscrição com 2
(dois) dias de antecedência.

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B) RECURSOS: não pode recorrer das decisões de admissão/inadmissão (STF, RE 602.584, 2018 + STJ, RESP.
1.617.086-PR, 2018) ou qualquer outra tomada no processo (salvo embargos de declaração e no IRDR) (ART.
138, §§ 1º E 3º CPC).

STJ e STF: a vedação à admissão é estendida a inadmissão, não cabendo nenhum tipo de recurso (decisão
irrecorrível).

- Existem apenas duas hipóteses em que o amicus pode recorrer: ED para melhorar a fundamentação/qualidade
da decisão e amplo poder recursal no IRDR, dado o fato da decisão proferida no incidente ser estendida a vários
casos (RE, REsp, Reclamação, ED, etc...)

6. INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO PERSONALIDADE JURÍDICA

6.1. CONCEITO E OBJETIVO: SUPORTE ÀS HIPÓTESES DO ARTS. 50 DO CC E 28 DO CDC (133 E 134, § 4º, CPC),
INCLUSIVE NA FORMA INVERSA.

CONCEITO: a desconsideração é a situação na qual pretende-se alcançar os bens no sócio pelos atos praticados
pela Pessoa Jurídica. Quem prevê a hipótese de desconsideração é o Direito Material, mas especificamente o CC
(Teoria Menor) e o CDC (Teoria Maior).

- Por uma questão de opção política, o legislador previu um suporte processual às hipóteses contidas no CC e no
CDC, o qual pode ser utilizado em todas as modalidades (direta, inversa ou expansiva).

• Direta: busca-se os bens do sócio para saldar a dívida da PJ.

• Inversa: busca-se os bens da PJ para saldar a dívida do sócio.

• Expansiva: são os casos em que os bens do devedor estão em nome de laranja, buscando-se alcançar o
patrimônio destes.

Art. 133, CPC. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do
Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo.

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§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei.

§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica.

Art. 134, CPC. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no
cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial.

§ 1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas.

§ 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na


petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.

§ 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2º.

§ 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para


desconsideração da personalidade jurídica.

Art. 50, CC. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir
no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam
estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito
de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada
por: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa; (Incluído


pela Lei nº 13.874, de 2019)

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II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente
insignificante; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações de sócios ou
de administradores à pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo não
autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade
econômica específica da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Art. 28, CDC. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do
consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos
estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

§ 1° (Vetado).

§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são subsidiariamente


responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.

§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.

§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.

§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma,
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.

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QUESTÃO: aplicação aos casos dos arts. 124, 134 e 135 CTN? (STJ, 1.786.311, 2ª T, 2018) (STJ, Resp. 1.775.269,
1ª T, 2019) => A jurisprudência do STJ entende que nas hipóteses do 124, 134 e 135 CTN, que tratam de
responsabilidade tributária, não é necessária a utilização do procedimento de desconsideração, basta a inserção
da empresa coligada no polo passivo da demanda, devendo esta arcar com as dívidas tributárias da outra
empresa do grupo, na qual o sócio agiu com abuso de poder. No entanto, se o Fisco quiser alcançar outra PJ do
grupo, fora das hipóteses descritas no CTN, é necessário utilizar o incidente de desconsideração.

Art. 124, CTN. São solidariamente obrigadas:


I - as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal;
II - as pessoas expressamente designadas por lei.
Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem.

Art. 134, CTN. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo
contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem
responsáveis:
I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;
II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados;
III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes;
IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio;
V - o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário;
VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por
eles, ou perante eles, em razão do seu ofício;
VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.
Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de penalidades, às de caráter moratório.

Art. 135, CTN. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias
resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos:
I - as pessoas referidas no artigo anterior;
II - os mandatários, prepostos e empregados;
III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.

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6.2. DOIS MODELOS

A) AÇÃO (134, § 2º, CPC) (LITISCONSÓRCIO EVENTUAL) (CONTESTAÇÃO BIFRONTE): se o Autor quiser, na inicial,
promover a ação e requerer a desconsideração no bojo do próprio pedido principal, ele poderá assim o fazer. Ou
seja, aciona-se o devedor, mas já se indica a existência de abuso de personalidade por parte dele (sócio-Réu).
Trata-se de hipótese de litisconsórcio passivo eventual, no qual o Autor deseja a condenação de ambos (sócio e
PJ), mas, não sendo isso possível, pretende ver condenado, pelo menos, o sócio-Réu, que é o devedor.

B) INCIDENTE (C/SUSPENSÃO DO PROCESSO – 134, § 3º, CPC): o principal objetivo do incidente é trazer o
terceiro para participar do processo antes do juiz decidir, dado que o objetivo é alcançar os bens do terceiro, a
despeito de ele não ser o devedor original. Afinal, somente se o terceiro participar do contraditório é que ele
poderá ser alcançado pela coisa julgada.

6.3. MOMENTO E CABIMENTO DO INCIDENTE (ART. 134 CPC)

- O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo (inicial, contestação, reconvenção,


fase recursal). O único detalhe é que, ocorrendo o incidente na fase recursal, é o relator quem tomará as
providências necessárias (932, VI, CPC).

- O principal momento do incidente é a execução, pois é neste momento que o credor pesquisa os bens do
devedor, verificando a insuficiência destes para saldar o débito.

6.4. LEGITIMAÇÃO (ART. 133 CPC) (NÃO PODE DE OFÍCIO)

Legitimação: é a parte (Autor, Réu ou MP como parte) ou o MP (como fiscal da ordem jurídica).

- Não pode o incidente ser instaurado de ofício pelo juiz, dependendo de demonstração do cumprimento dos
requisitos do CC ou CDC pela parte que pretende a desconsideração.

6.5. PROCEDIMENTO (CITAÇÃO DO 3O) E RECURSO (134, §§ 1º, 3º E 4º, 135 E 1.015, IV, CPC)

• O procedimento do incidente se divide em:

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1ª ETAPA: a parte ou o MP peticiona indicando em que medida os requisitos do Art. 28 do CDC ou 50 do CC
estão previstos.

2ª ETAPA: é realizado um juízo de admissibilidade, verificando o juiz se é caso de desconsideração.

3ª ETAPA: admitido o incidente, o juiz ordenará a suspensão do processo (de conhecimento ou de execução)
para aguardar-se o julgamento do incidente.

4ª ETAPA: o terceiro (sócio, PJ ou laranja) é citado para que ele responda o incidente no prazo de 15 dias.

5ª ETAPA: prossegue o incidente com a ampla oportunidade para a produção de provas.

6ª ETAPA: decisão interlocutória acolhendo ou não o incidente. Da decisão cabe Agravo de Instrumento (decisão
interlocutória em 1º grau) ou Agravo Interno (decisão proferida pelo Relator em 2º grau).

6.6. EFEITOS DO JULGAMENTO (ACOLHIMENTO: S/SUCUMBÊNCIA (?) E INEFICÁCIA DA TRANSFERÊNCIA 137


CPC) (DESACOLHIMENTO: SUCUMBÊNCIA)

I) Acolhimento (não gera sucumbência): predomina o entendimento de que o acolhimento do incidente não
confere honorários de sucumbência ao advogado do credor, pois, a despeito dele ter que trabalhar durante as
etapas que precedem o acolhimento, ele já será remunerado pelos honorários fixados na fase de conhecimento
ou de execução (há quem pense o contrário na doutrina).

I.1) Ineficácia da transferência: o vício não se opera no plano da existência e nem da validade, mas apenas no da
eficácia. Assim, o ato será ineficaz em relação ao credor, que poderá penhorar o bem (ex.: carro doado pelo
devedor a sua sogra). No entanto, havendo pagamento, a penhora é levantada, ficando o bem em nome do
terceiro para quem o devedor teria transferido.

II) Desacolhimento: o único efeito é a sucumbência para o advogado do terceiro, que teve que contratar
advogado para o seu patrimônio não ser alcançado.

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6.7. EFEITOS DA NÃO CITAÇÃO DO 3º (EMBARGOS DE 3º - 674, § 2º CPC)

- Se o juiz e as partes não se atentarem a necessidade de instauração do incidente, é possível que o bem do
terceiro seja alcançado por decisão judicial ordenando a penhora independentemente de citação do titular do
bem. Neste caso, a não citação do terceiro permite que ele oponha Embargos de Terceiro. Por outro lado, se o
terceiro participou do processo depois de citação procedida em incidente de desconsideração, ele jamais poderá
opor Embargos de Terceiro contra a decisão proferida, dado que, neste caso, a coisa julgada o atinge.

Art. 674, CPC. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que
possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento
ou sua inibição por meio de embargos de terceiro.

§ 2º Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos:

I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvado o
disposto no art. 843 ;

II - o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada em
fraude à execução;

III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo
incidente não fez parte;

IV - o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia, caso não
tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos.

6.8. COISA JULGADA E RESCISÓRIA (ART. 966, CPC)

- A decisão interlocutória proferida no incidente faz coisa julgada material, o que lhe confere todos os atributos
do Art. 502 do CPC (imutabilidade e indiscutibilidade) e faz com que dela caiba ação rescisória nas hipóteses de
cabimento. Tanto é assim, que o Art. 966 não fala em sentença, mas sim em decisão.

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Art. 966, CPC. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:

I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;

II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;

III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou
colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;

IV - ofender a coisa julgada;

V - violar manifestamente norma jurídica;

VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada
na própria ação rescisória;

VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não
pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;

VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.

6.9. PEDIDO DE DESCONSIDERAÇÃO E TUTELA DE URGÊNCIA (300, CPC)

- A tutela de urgência é perfeitamente compatível com o incidente, o que abre margem para que o juiz, no
momento em que admite o incidente, tome as providências necessárias para salvaguardar os bens daquele que
é alvo da desconsideração. É possível, portanto, bloqueio de veículos no DETRAN; bloqueio de imóveis no
cartório de registro de imóveis, dentre outras medidas que impedem o terceiro de dilapidar o patrimônio que
está em seu nome, mas que se acredita pertencer ao devedor.

Art. 300, CPC. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

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JUIZ, MP, DEFENSORIA PÚBLICA E ADVOCACIA PÚBLICA

1. DO JUIZ

1.1. DEVERES/PODERES (139 CPC) (COOPERAÇÃO – ART. 6º CPC)

- O Art. 139 do CPC trata dos deveres-poderes do juiz.

- É de suma importância lembrar que antes de ter poderes, o juiz tem deveres. Só podemos pensar na Jurisdição
como poder se antes estivermos conscientes dos deveres que a ela são inerentes. Nesse sentido, a doutrina é
firme em dizer que ao juiz só são reconhecidos poderes na exata medida em que estes forem indispensáveis
para o exercício de seus deveres.

- Importante ressaltar o papel interpretativo que a cooperação exerce na leitura dos deveres-poderes do juiz, já
que todos eles devem ser lidos à luz deste dever. Exemplo disso são os deveres de esclarecimento; consulta;
auxílio, etc...

- O compromisso do Judiciário é prestar tutela adequada, não interessando se o advogado da parte é ótimo ou
péssimo. Por isso, é dever do juiz intervir no processo todas as vezes em que a cooperação o exigir.

I) Igualdade de tratamento (7º CPC)

Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades


processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao
juiz zelar pelo efetivo contraditório.

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

I - assegurar às partes igualdade de tratamento;

II) Razoável duração do processo (art. 4º CPC) (art. 5º, LXXVIII, CF)

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Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade
satisfativa.

Art. 5º, LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e
os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

II - velar pela duração razoável do processo;

III) Preservação da probidade processual (5º, 77 a 81, 772, I, 774, CPC)

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente
protelatórias;

Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.

- O Processo Civil é um instrumento ético, o que significa dizer que ele é técnica que só pode ser manejada
dentro de padrões de boa fé (Art. 5, CPC). No entanto, se, eventualmente, um dos atores processuais agirem de
má fé, o Código possui dois instrumentos principais para punir aquele que assim procede, a saber, (i) a litigância
de má fé e o (ii) ato atentatório à dignidade da justiça, que é uma espécie de litigância de má fé qualificada.

Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procuradores e de todos
aqueles que de qualquer forma participem do processo:

I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;

II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento;

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III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito;

IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua
efetivação;

V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial ou profissional onde
receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou
definitiva;

VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso.

Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser
superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos
prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou.

Art. 772. O juiz pode, em qualquer momento do processo:

I - ordenar o comparecimento das partes;

Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva ou omissiva do executado que:

I - frauda a execução;

II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos;

III - dificulta ou embaraça a realização da penhora;

IV - resiste injustificadamente às ordens judiciais;

V - intimado, não indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos valores, nem
exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus.

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IV) Dever de efetivação (MEDIDAS ATÍPICAS – STJ, RHC 97.876)

- É com base no Art. 139, IV que doutrina e jurisprudência tem construído a teoria dos poderes executivos
atípicos no juiz.

- No modelo do CPC-73, já se entendia, com base no Art. 481, §5, que o juiz dispunha da possibilidade de aplicar
medidas executivas não previstas em lei para obter o pagamento nas obrigações de fazer e de dar (ex.: controle
orçamentário para forçar a despoluição de uma área). Por outro lado, nas execuções por quantia, vigorava
exclusivamente o princípio da tipicidade, de modo que o juiz não poderia lançar mão de outras medidas para
prover o pagamento da dívida senão aquelas expressamente consagradas pelo texto legal, como a multa em
razão da ausência de pagamento voluntário (Art. 475-J, CPC-73) ou a penhora. Se a penhora não funcionasse,
não restava outra alternativa a não ser reconhecer a situação de execução frustrada.

- Hoje, o modelo da atipicidade vale também para as execuções por quantia, de modo que o juiz, atendidos os
limites postos pela doutrina, pode aplicar quaisquer medidas executivas como forma de garantir o cumprimento
da obrigação (ex.: bloqueio de cartão de crédito; apreensão de passaporte; suspensão de CNH; proibição de
frequentar determinados lugares; bloqueio de salário). A ideia é compelir e induzir o devedor a pagar, fazendo
com que ele sinta a desvantagem de não cumprir com a obrigação.

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para


assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária;

• Pautados pelo RHC 97.876 do STJ, podemos dizer que são cinco as condições de aplicação do Art. 139, IV:

(i) A medida deve ser adotada apenas após o esgotamento do uso das medidas típicas: trata-se de critério que
concretiza o princípio da menor onerosidade (ex.: protesto da sentença, inscrição do nome do devedor no
cadastro de inadimplentes, penhora de bens e, até mesmo, de salário, desde que, nesta última hipótese, seja
respeitado o mínimo existencial).

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(ii) Contraditório prévio com o prejudicado: o devedor deve ser intimado para se manifestar em relação ao
pedido do credor, auxiliando o juiz a verificar se a medida atípica que o exequente pugna como aplicável não é
incompatível com a situação pessoal do devedor ou se ela é inconstitucional no caso concreto (ex.: apreensão de
passaporte de aeromoça; suspensão da CNH de caminhoneiro, etc...). Note: como a penhora já foi esgotada, é
pouco provável que essa intimação tenha o condão de facilitar a vida do devedor, levando-o, por exemplo, a
ocultar bens.

- A finalidade da medida atípica é sempre forçar o pagamento ou coagir o devedor a indicar bens à penhora

(iii) Razoabilidade e proporcionalidade (eficácia da medida aplicada para compelir o cumprimento da


obrigação): só se pode pensar em uma medida atípica se ela for capaz de induzir ao pagamento. Deve haver
uma relação de causa-efeito, sob pena de se desnaturar o caráter coercitivo da medida e transformá-la em
punição/sanção. Não se deve aplicar sanções processuais a pessoa que passou por um revés financeiro, por
exemplo. É o caso concreto que dirá se a medida é útil ou não (ex.: foto em restaurante caro em redes sociais;
viagens internacionais e outros indícios de ocultação patrimonial podem ser úteis para identificar tais situações
na qual a situação de vida do devedor é incompatível com o inadimplemento).

(iv) Fundamentação: quanto maior o dever-poder do juiz, maior o ônus de fundamentação.

(v) Respeito às garantias constitucionais: são inaplicáveis, de per si, as medidas que violam garantias
constitucionais (ex.: carros de homenagem expondo o devedor ao desprezo público e outros meios vexatórios;
prisão domiciliar por débito não alimentar, etc...).

ATENÇÃO: Agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo, CPC) ou MS/HC

- As decisões que tratam do deferimento ou não das medidas atípicas são agraváveis de instrumento, nos
termos do Art. 1015, parágrafo único do CPC, podendo-se pensar em MS/HC para casos mais graves que afetem
a dignidade da pessoa ou a sua liberdade de locomoção.

V) Incentivar a autocomposição (Art. 3º, 334 e 695 CPC)

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Art. 139, CPC. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e


mediadores judiciais;

Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do
pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias,
devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.

Art. 695. Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as providências referentes à tutela provisória, o juiz
ordenará a citação do réu para comparecer à audiência de mediação e conciliação, observado o disposto no art.
694.

VI) Flexibilização procedimental legal genérica MITIGADA (437 CPC)

- O procedimento é a forma como os atos processuais se combinam no tempo e no espaço, devendo ser
adaptado ao caso concreto como forma de garantir a efetiva proteção do conflito no âmbito do direito material.

- Durante muito tempo, entendeu-se que apenas o legislador poderia adaptar o procedimento, já que ele era
considerado garantia da previsibilidade e penhor da legalidade.

- Com o CPC-2015, é notável que o dever judicial de adequar o procedimento está presente, sobretudo quando
olhamos a autorização dada para que o juiz amplie prazos e altere a ordem de produção de provas.

Exemplo¹.: em um processo com nove volumes, o prazo de contestação não pode ser de 15 dias.

VII) Poder de polícia (78 e 360 CPC)

- Como presidente do processo, compete ao juiz dirigi-lo e manter a ordem dos trabalhos, solicitando, inclusive,
força policial quando necessário.

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Art. 78. É vedado às partes, a seus procuradores, aos juízes, aos membros do Ministério Público e da Defensoria
Pública e a qualquer pessoa que participe do processo empregar expressões ofensivas nos escritos
apresentados.

Art. 360. O juiz exerce o poder de polícia, incumbindo-lhe:

I - manter a ordem e o decoro na audiência;

II - ordenar que se retirem da sala de audiência os que se comportarem inconvenientemente;

III - requisitar, quando necessário, força policial;

IV - tratar com urbanidade as partes, os advogados, os membros do Ministério Público e da Defensoria Pública e
qualquer pessoa que participe do processo;

V - registrar em ata, com exatidão, todos os requerimentos apresentados em audiência.

VIII) Interrogatório judicial (diferente de depoimento pessoal – Art. 385 CPC)

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da
causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso;

- Partindo da ideia de cooperação do Art. 6º, o Código autoriza que o juiz convoque qualquer das partes para
prestar esclarecimentos a qualquer momento. A ideia é que o juiz tem o dever de esclarecimento e consulta,
podendo lançar mão da consulta às partes para esclarecer pontos que lhe parecem nebulosos.

- O interrogatório judicial é diferente do depoimento pessoal do Art. 385, já que este é meio de prova no qual o
adversário requer o depoimento pessoal do outro como forma de tentar obter dele uma confissão. Assim, só
existe pena de confissão se se tratar de depoimento pessoal. O interrogatório judicial não gera confissão se a

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parte não comparecer a audiência. O único prejuízo que a parte pode sofrer neste caso consiste na possibilidade
de o juiz não entender a sua tese e, por este motivo, prolatar decisão em seu desfavor.

IX) Interesse jurisdicional no conhecimento do mérito (338/339 e 932 CPC)

- A ideia de evitar ou corrigir os vícios do processo tem por escopo que o Estado responda a demanda, pois a
maior frustração da atividade jurisdicional é extinguir o processo sem mérito.

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais;

Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o
juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu.

Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários ao


procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este
irrisório, nos termos do art. 85, § 8o.

Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida
sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos
prejuízos decorrentes da falta de indicação.

Exemplo¹.: o réu, verificando que não é parte legítima, deverá indicar para o autor quem é a parte legítima e o
juiz, ouvindo este último, deverá determinar a correção do polo processual, arbitrando honorários para o
advogado do réu.

Exemplo².: Art. 932, parágrafo único => Qualquer vício presente no recurso não poderá levar ao não
conhecimento deste sem que o relator oportunize à parte a correção.

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Art. 932. Incumbe ao relator:

Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao
recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível.

X) Representação para coletivização de demandas (art. 7º da LACP)

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria
Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho de
1985, e o art. 82 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da
ação coletiva respectiva.

Art. 7º, LACP. Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam
ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as providências cabíveis.

- Se o juiz está diante de uma situação em que ele verifica que existem várias demandas repetidas na vara dele,
ele pode, a bem de facilitar a tutela, fazer cópias dos autos e distribuir aos legitimados ativos (MP, Defensoria,
etc…) para que eles estudem a viabilidade de propor ação coletiva.

Exemplo.: devido a um show de música sertaneja que não aconteceu, várias pessoas ajuizaram ação no JEC
requerendo indenização. Diante do grande número de ações sobre o assunto, o juiz mandou suspender todas
elas e oficiou o MP, o qual conseguiu resolver o problema celebrando um TAC com a empresa que organizou o
show. Diante disso, todas as ações do JEC puderam ser extintas, o que foi feito a requerimento dos próprios
autores.

1. DO JUIZ

1.2. INDECLINABILIDADE E LEGALIDADE ESTRITA (140 CPC) (EXCEÇÕES)

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- O juiz não pode deixar de julgar o processo se ao final ele chegar à conclusão de que falta prova ou falta lei,
como fazia o pretor no processo romano. No processo civil moderno, o sistema resolve esse problema criando
os chamados mecanismos de integração.

a) Falta de lei (140 CPC) (art. 4º da LINDB)

- Na ausência de lei, o juiz utilizará os mecanismos naturais de integração previstos no Art. 4 da LINDB.

Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito.

b) Falta de provas (Art. 373 CPC)

Art. 373. O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.

- Na ausência de provas, o juiz resolverá o caso com base na regra do Art. 373 do CPC.

• Legalidade estrita (140 CPC) (Exceções)

- A lei é o limite semântico ao qual se submete o julgador. Todavia, não se pode confundir a legalidade estrita
com a hipótese excepcional que permite ao juiz julgar por equidade, isto é, conforme a justiça do caso concreto.
Exemplo disso é o que prevê o Art. 723 do CPC, que trata da jurisdição voluntária¹.

Exemplo¹.: no divórcio consensual em que se delibere que os filhos em idade escolar ficarão com o pai que é
caminhoneiro, o juiz pode julgar por equidade e mandar que as partes mudem o acordo sob pena dele não
homologar.

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Exemplo².: na nomeação de curatela, se o juiz verificar que o réu tem condições de expressar sua opinião, ele
poderá transformar o procedimento de nomeação de curatela para nomeação de apoiadores.

Art. 140, CPC. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.

Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.

GAJARDONI: o Art.6 da Lei nº 9.099/95 prevê que quando a causa é de baixa complexidade, o juiz pode
substituir o critério de legalidade estrita pelo julgamento por equidade (Alexandre Câmara discorda,
sustentando que o Art. 6º é critério de legalidade estrita, onde a lei apenas recomenda o julgamento com
equidade).

Art. 6º O Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da
lei e às exigências do bem comum.

Exemplo³.: Indivíduo que passou no sinal vermelho de bicicleta e foi atingido por uma caminhonete. O dono da
caminhonete propõe ação para obrigar o ciclista a indenizá-lo pelos prejuízos causados ao veículo. O ciclista,
contudo, narra uma história pessoal muito trágica, que o abalou psicologicamente no dia do acidente. Além do
mais, alega não ter bens para satisfazer a futura execução, já que o seu único bem de valor um pouco alto era a
bicicleta que foi totalmente destruída no acidente. Diante disso, o juiz deixa de aplicar o Art. 186 do CC,
argumentado e defendendo a inefetividade da condenação para aquele caso (critério de justiça social).

- É notável que o julgamento por equidade é absolutamente excepcional, impondo um ônus argumentativo
muito maior ao julgador.

JULGAMENTO POR EQUIDADE: é exceção. São hipóteses em que o juiz abandona a norma para julgar conforme
seus critérios de justiça (Art. 140, § do CPC e 6º da Lei 9.099)

JULGAMENTO COM EQUIDADE: é uma forma de aplicar a lei, sendo a regra no sistema jurídico-processual. Esse
tipo de julgamento é determinado pelos Arts. 4º e 5º da LINDB, que impõe ao juiz o dever de atender os fins
sociais ao interpretar a lei, mesmo quando julgar conforme a legalidade estrita.

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1.3. INÉRCIA OU DEMANDA (141 CPC) (EXCEÇÕES: VER AULA 1 – ART. 2º CPC)

- O juiz não pode ir além (ultra petita), fora (extra petita) ou deixar (infra petita) de apreciar os pedidos das
partes.

Art. 141, CPC. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de
questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte.

- O juiz pode agir oficiosamente apenas de forma excepcional, como acontece nas questões que envolvem a
ordem pública (vide Aula 1).

1.4. PERSUASÃO RACIONAL DA PROVA OU (LIVRE) CONVENCIMENTO MOTIVADO (371 CPC) (HÁ AINDA NO
CPC? -ARTS. 926/927 CPC)

• Existem 03 sistemas que podem ser adotados no que toca a valoração da prova:

(i) Sistema da prova legal: o legislador estabelece o valor prévio da prova.

PROBLEMA: o julgamento fica amarrado, já que pode haver casos em que uma única testemunha pode dar
conta de provar aquilo que é necessário de uma forma robusta.

(ii) Sistema do livre convencimento puro: o julgador julga da forma como entende justo, sem apresentar razões
(ex.: júri)

(iii) Sistema do livre convencimento motivado (ou persuasão racional): o juiz tem liberdade na valoração da
prova, devendo, contudo, passar pelo constrangimento ideológico da fundamentação.

Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e
indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento.

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• O NCPC ACABOU COM O LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO?

Pela supressão da palavra LIVRE no artigo de lei, alguns levantam essa discussão (DIDIER JR., DIERLE NUNES).
Trata-se, porém, de uma discussão sem sentido, pois o livre convencimento nunca foi um modelo que
autorizasse o juiz a julgar conforme a sua vontade. A liberdade aqui sempre se referiu a liberdade na
interpretação da prova. Interpretação essa que sempre se circunscreveu ao constrangimento lógico da
fundamentação. Nunca houve uma liberdade para que o juiz julgasse conforme a sua vontade; até porque isso
se chocaria frontalmente com o conteúdo do princípio da legalidade estrita. Nesse sentido, a supressão da
palavra livre é muito mais uma questão semântico-simbólica (para pôr fim a qualquer dúvida de que o juiz não
tem liberdade de julgar) do que para falar que não há liberdade na interpretação da prova. Pois, se assim, fosse
voltaríamos ao sistema já superado da prova legal, em que o valor da prova já era estabelecido pela lei.

- No Brasil, a valoração da prova é realizada com base no modelo da persuasão racional ou do livre
convencimento motivado. O juiz deve explicar, motivadamente, porque determinada prova é boa ou não, de
modo que o julgador se submeta a um constrangimento lógico para poder demonstrar de que maneira a prova
corrobora a decisão que ele está tomando.

LEMBRE-SE: o juiz sempre foi vinculado a lei. Nos dias de hoje, porém, ele não está mais apenas adstrito a ela, já
que os precedentes descritos no Arts. 926 e 927 do CPC também vinculam a sua atividade de intérprete-
aplicador do Direito.

Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.

§ 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão


enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.

§ 2o Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes que
motivaram sua criação.

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:

I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;

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II - os enunciados de súmula vinculante;

III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em


julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;

IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal
de Justiça em matéria infraconstitucional;

V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.

1.5 IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ (ART. 132 CPC/73) (NÃO HÁ NO CPC)

- No regime revogado, o juiz que concluía a instrução deveria julgar o processo, sob pena de nulidade.

- Não há mais princípio da identidade física na sistemática vigente, sendo perfeitamente possível que um juiz
receba a inicial, outro colha as provas durante a realização da instrução e outro, ainda, julgue.

- A identidade física, corolário da oralidade no âmbito processual, fica circunscrita, assim, ao processo penal
(399, CPP).

1.6. OUTROS DEVERES/PODERES

- Os deveres-poderes do juiz não se restringem aos previstos no Art. 139.

Poder Geral de Cautela (300/301)

- O juiz tem o dever de conservar as partes; as provas ou o objeto do processo.

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

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§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória
idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte
economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.

§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.

§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade
dos efeitos da decisão.

Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro,
arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para
asseguração do direito.

Dever de Fundamentação (489, § 1º)

- O juiz deve preservar a legitimidade do poder jurisdicional, o que é feito por meio da fundamentação.

Art. 489. São elementos essenciais da sentença:

§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou
a questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
adotada pelo julgador;

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V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes
nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a
existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.

Dever de seguir os precedentes judiciais (Arts. 926 e 927)

- Alguns tipos de julgamento são vinculantes segundo o CPC, preservando a isonomia e evitando a jurisprudência
lotérica.

1.7. REGIME JURÍDICO DO IMPEDIMENTO/SUSPEIÇÃO

- Ao estudarmos as características da jurisdição, notamos que a imparcialidade é pressuposto do exercício da


jurisdição. Árbitros e juízes não podem guardar vínculo e/ou interesse com o julgamento da causa. Para
preservar a imparcialidade, a lei prevê os mecanismos de impedimento e suspeição, podendo a ausência de
imparcialidade culminar em vício processual.

IMPEDIMENTO SUSPEIÇÃO

Presunção ABSOLUTA de parcialidade (= não admite Presunção RELATIVA de imparcialidade (= admite


prova em contrário) prova em contrário).

Circunstâncias objetivas (144 CPC) (não se investiga Circunstâncias subjetivas (145 CPC) (inclusive
animus) reconhecidas pelo julgador - § 1º)

Violação gera nulidade mesmo se não arguida Violação não gera nulidade se não arguida
oportunamente (pressuposto processual de validade) oportunamente

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Ação rescisória pela violação (art. 966, II, CPC) Não cabe rescisória pela violação

Arguição por incidente (petição) (art. 146 CPC) Arguição por incidente (petição) (art. 146 CPC)

A qualquer tempo (art. 146 CPC) Prazo de 15 dias a contar do conhecimento do fato
(art. 146 CPC), sob pena de preclusão

ATENÇÃO: nas hipóteses em que o juiz se afasta do caso por motivos de foro íntimo, ele não coloca suas razões
no processo, mas as comunica a respectiva corregedoria, possibilitando, assim, um controle maior dessas
questões (regra aplicável em alguns estados da federação, como São Paulo). Se assim não fosse, haveria risco
dos juízes se afastarem dos casos por qualquer motivo, sem oferecer maiores explicações.

Obs.: o fato do advogado ser parente do juiz em linha reta (sem grau) ou colateral até 3º grau, ou ainda, o fato
do juiz ser marido ou mulher do advogado, gera impedimento. Todavia, isso poderia dar ensejo a fraude, dado
que a parte, verificando que o juiz é muito rigoroso, poderia contratar o advogado parente do juiz como forma
de gerar o impedimento e afastar o magistrado do caso. Por isso, a hipótese do Art. 144 §§ 1º, 2º e 3º,
determina que sempre há impedimento do advogado/juiz que entra depois no processo e não o contrário.

2.MINISTÉRIO PÚBLICO (176/181 CPC) (DUPLA ATUAÇÃO)

- O MP tem uma dupla atuação no processo civil, ora funcionando como parte autora, ora como fiscal da ordem
jurídica (custus legis).

2.1. PARTE (177 CPC)

a) Finalidades institucionais (art. 127 da CF e 176 CPC) (04)

- O MP só atua como parte dentro de suas 4 finalidades institucionais (= tutela da ordem jurídica, defesa do
regime democrático e defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis). A lei que preveja a atuação do
MP fora de tais finalidades é inconstitucional.

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Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-
lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Art. 176. O Ministério Público atuará na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses e
direitos sociais e individuais indisponíveis.

b) Hipóteses de atuação (expressa previsão legal)

- O MP só pode atuar dentro dos limites legais, ou seja, mediante expressa previsão em lei.

(i) Ações individuais por atribuição própria: atua dentro das finalidades institucionais, agindo em nome próprio
para a defesa de direito próprio. Trata-se de hipótese de legitimidade ordinária.

Art. 1549, CC. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode ser
promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.

Art. 967, CPC. Têm legitimidade para propor a ação rescisória:


III - o Ministério Público: a) se não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção; b) quando a
decisão rescindenda é o efeito de simulação ou de colusão das partes, a fim de fraudar a lei; c) em outros casos
em que se imponha sua atuação;

(ii) Ações individuais por substituição processual (ex.: Súmula 594, STJ): age em nome próprio para a defesa de
direitos alheios. Trata-se de hipótese de legitimidade extraordinária.

Súmula nº 594, STJ: “O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de
criança ou adolescente independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se
encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer
outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca.” (Súmula 594,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/10/2017, DJe 06/11/2017)

Art. 616, VII, CPC. Têm, contudo, legitimidade concorrente:

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VII - o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes;

Art. 68, CPP (Ação Civil ex delito). Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o),
a execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo
Ministério Público.

(iii) Coletivas: a doutrina defende que o MP, nas ações de natureza coletiva, atua com base em uma
legitimidade autônoma para a condução do processo (interesses difusos e coletivos) ou com base na
legitimação extraordinária (interesses individuais e homogêneos)

Art. 5º, LACP. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448,
de 2007) (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)

I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).

Art. 17, Lei de Improbidade. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou
pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.

ATENÇÃO: regra geral, o MP só será Autor, de modo que quando demandado o MP, é a Pessoa Jurídica de
Direito Público a quem ele pertence que responde e não a instituição. Excepcionalmente, porém, o MP pode ser
réu nas ações derivadas, isto é, aquelas ajuizadas em virtude da atuação do MP em outro processo (ex.: ação
rescisória; embargos à execução de título extrajudicial [TAC] e embargos de terceiro [MP bloqueia bem de
terceiro em ação de improbidade podendo o terceiro apresentar embargos contra ele]).

c) Prerrogativas processuais

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