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587

Rev. Latino-Am. Enfermagem Artigo Original


jul.-ago. 2015;23(4):587-94
DOI: 10.1590/0104-1169.0227.2592
www.eerp.usp.br/rlae

Relação entre queixas apresentadas por pacientes na urgência e o


desfecho final1

Helisamara Mota Guedes2


Kesia Meiriele Souza3
Patrícia de Oliveira Lima4
José Carlos Amado Martins5
Tânia Couto Machado Chianca6

Objetivo: relacionar queixas apresentadas pelos pacientes classificados pelo Sistema de Triagem
de Manchester em um pronto-socorro com o desfecho final (alta/óbito/transferência). Métodos:
estudo de coorte prospectivo, realizado com 509 pacientes que deram entrada no pronto-socorro
e que nele permaneceram por mais de 24 horas após a admissão, sendo acompanhados até o
desfecho final. Os dados foram digitados e analisados com estatística descritiva e analítica em um
pacote estatístico. Resultados: entre os pacientes, 59,3% eram do sexo masculino, com idade
média de 59,1 anos. As queixas principais eram de mal-estar no adulto (130–22,5%), dispneia
em adulto (81–14,0%), dor abdominal em adulto (58–10,0%), alterações de comportamento
(34–5,9%), sendo que, desses, 87% recebeu alta. Foram encontrados mais óbitos nos pacientes
classificados nas cores mais graves, sendo 42,8% classificados como vermelho, 17,0% laranja
e 8,9% como amarelo. Entre os pacientes classificados como verde, 9,6% evoluiu para óbito.
Conclusão: nas diversas cores do Sistema de Triagem Manchester, o óbito prevaleceu nos pacientes
que apresentaram a queixa de mal-estar no adulto, dispneia, sofreram trauma craniano, trauma
maior, diarreia e vômito. Quanto maior a prioridade clínica maior a prevalência de óbito.

Descritores: Enfermagem; Serviços Médicos de Emergência; Triagem; Evolução Clínica.

1
Apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), Brasil, processo nº APQ-01153-12 e APQ-02677-12.
2
Doutoranda, Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. Professor Assistente, Departamento de
Enfermagem, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, MG, Brasil.
3
Aluna do curso de graduação em Enfermagem, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, MG, Brasil. Bolsista da
Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), Brasil.
4
Especialista, Enfermeira, Hospital Nossa Senhora da Saúde, Diamantina, MG, Brasil.
5
PhD, Professor Associado, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Coimbra, Portugal.
6
PhD, Professor Titular, Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Correspondência:
Helisamara Mota Guedes
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
Copyright © 2015 Revista Latino-Americana de Enfermagem
Campus JK. Departamento de Enfermagem
Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da Licença
Rodovia MGT 367, Km 583, nº 5000
Creative Commons Atribuição-Não Comercial (CC BY-NC).
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E-mail: [email protected] não comerciais, não precisam ser licenciadas nos mesmos termos.
588 Rev. Latino-Am. Enfermagem jul.-ago. 2015;23(4):587-94.

Introdução contexto, pois, dentre os diferentes profissionais de


saúde, o enfermeiro tem sido o profissional mais indicado
No Brasil, o atendimento ao paciente acontece para classificar o risco dos pacientes que procuram os
em redes que estão interligadas. Essas redes estão em serviços de urgência(7). Essa atribuição exige experiência
processo de construção e têm o intuito de garantir a profissional e formação específica. Nesse sentido, o
integralidade do atendimento de forma resolutiva(1). enfermeiro deve demonstrar agilidade, habilidade,
Entretanto, o aumento das demandas nos capacidade de estabelecimento de prioridades e agir de
tradicionais prontos-socorros tem causado superlotação forma consciente e segura(8).
e dificuldade no atendimento. Essa crescente procura Em estudos realizados com o STM, concluiu-se
está diretamente relacionada ao aumento da violência que o sistema é mais inclusivo(7) e capaz de distinguir
urbana, números de acidentes e atenção básica que não prioridades clínicas(4,9). O STM destaca-se por ser uma
consegue absorver toda a demanda(2). Somado a isso, ferramenta essencial na definição da priorização do
muitos atendimentos são oriundos de doenças de baixa atendimento, colaborando para a minimização de riscos
complexidade que poderiam ser resolvidos se existisse decorrentes de atendimentos que, anteriormente,
uma rede básica estruturada ou serviços de urgência de eram organizados de acordo com a ordem de chegada
menor complexidade(1).
ao serviço(7). Dessa forma, este estudo foi direcionado
Com o intuito de reorganizar os serviços de
para responder à seguinte questão: qual a relação da
urgência, foi implantada a triagem. O termo triagem
queixa recebida pelo usuário na classificação de risco e
tem origem na língua francesa e a palavra provém de
o desfecho clínico final?
trier que significa escolher ou selecionar(3).
Portanto, neste estudo, o objetivo foi relacionar as
A triagem não é um ponto final, mas o início de
queixas apresentadas pelos pacientes classificados pelo
um processo de exame e discriminação clínica(3). Deve
STM em um Pronto-Socorro (PS) com o desfecho final
ser eficiente e realizada por profissionais experientes,
(alta/óbito/transferência).
colocando o doente no local certo para receber cuidados
adequados. Métodos
Em Minas Gerais, como parte da política de saúde
do Estado, o governo implantou o Sistema de Triagem Trata-se de estudo de coorte prospectivo, realizado

Manchester (STM), como instrumento norteador para no PS da Santa Casa de Caridade de Diamantina, MG,

a triagem de pacientes em serviços de atendimento que é uma das principais instituições de saúde da Região

à urgência. O enfermeiro identifica a queixa principal do Vale do Jequitinhonha, sendo referência para a região

e então é selecionado um fluxograma específico, ampliada de saúde em assistência médico-hospitalar

orientado por discriminadores apresentados na forma de em média e alta complexidade, atendendo a sede, seus

perguntas. O STM é um processo dinâmico onde estão distritos e mais de 35 municípios do Vale do Jequitinhonha.

incluídos os níveis de prioridade, cor a ser atribuída Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética

e a previsão de tempo de espera para o atendimento em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais

médico. Possui 52 diferentes fluxogramas e uma escala (UFMG), sob Protocolo CAAE - 0430.0.203.000-11.

de risco que, dependendo dos sinais e sintomas, A população estudada foi composta por todos os

classifica os pacientes em: vermelho (atendimento pacientes que deram entrada no PS de Diamantina e

emergente), laranja (atendimento muito urgente), permaneceram internados por mais de 24 horas.

amarelo (atendimento urgente), verde (atendimento Para o cálculo amostral, utilizou-se um grau de

pouco urgente) e azul (atendimento não urgente) em confiança de 95%, erro máximo permitido de 5% e

um tempo que varia entre 0 e 240 minutos(4-5). uma proporção de interesse de 47%, chegando a uma

A partir do STM não se prevê a formulação de amostra de 370 pacientes. Foram acrescidos 20% a

diagnóstico médico, mas, sim, que contemple uma esse valor, totalizando 444 pessoas como mínimo para a
avaliação com critérios de gravidade do paciente de composição da amostra.
forma objetiva e sistematizada, na qual a queixa principal Foram incluídos no estudo os pacientes que
seja priorizada(6). A enfermagem tem se inserido nesse apresentavam fichas de atendimentos nas quais

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Guedes HM, Souza KM, Lima PO, Martins JCA, Chianca TCM. 589

constassem a identificação do profissional enfermeiro As queixas apresentadas pelos pacientes classificados


(profissional responsável pela classificação de risco no na cor vermelha estão descritas na Tabela 1.
local do estudo) que realizou o atendimento, a descrição Os discriminadores utilizados para direcionar esses
da avaliação realizada e o nível de classificação de risco fluxogramas foram: respiração inadequada (9-42,8%),
atribuído. choque (6-28,6%), obstrução de vias aéreas (2-9,5%),
Foram excluídos os pacientes transferidos para outro estar convulsionando (2-9,5%), hipoglicemia (1-4,8%)
hospital, os que tiveram alta ou falecerem antes das 24 e hiperglicemia (1-4,8%).

horas da coleta de dados e os menores de 18 anos. As queixas apresentadas pelos pacientes

A coleta de dados foi realizada em 4 meses classificados na cor laranja estão descritas na Tabela 2.

consecutivos, entre maio e setembro de 2012. Todos os Observa-se que 17,4% dos fluxogramas da

pacientes que deram entrada no PS e permaneceram por cor laranja está relacionado à dor. Os principais

mais de 24 horas internados foram incluídos, totalizando discriminadores que fundamentaram a escolha desses

uma amostra de 509 pacientes. Não houve perda, tendo fluxogramas foram: saturação de O2 muito baixa (32-

em vista que a coleta de dados aconteceu durante todos 20,6%), mecanismo de trauma significativo (24-15,1%),

os dias da semana, incluindo os finais de semana. déficit neurológico agudo (28-17,7%), dor intensa (17-

Os dados foram coletados da ficha manual de 10,9%), dor precordial (9-5,8%) e alteração súbita

classificação de risco do PS e os desfechos clínicos de consciência (10-6,3%). Destacou-se o fluxograma

(alta, transferência e óbito) do Sistema de Gestão dispneia como a principal queixa desse grupo.

Hospitalar, o SPDATA. Os dados foram digitados e Os pacientes classificados na cor amarela

submetidos a uma análise estatística descritiva, apresentaram como queixas aquelas descritas na Tabela 3.

através do Statistical Package for Social Sciences A dor esteve presente em 27,8% das queixas dos

(SPSS), versão 17.0. Os pacientes foram categorizados pacientes classificados como amarelo. Fundamentaram

em desfecho alta/transferência e óbito. Para o grupo a escolha os principais discriminadores: dor moderada

de cores do STM versus desfecho foi utilizado o teste (94-35,2%), déficit neurológico novo (59-22,0%),

de qui-quadrado. O nível de significância adotado foi saturação O2 baixa (41-15,4%), início súbito (22-8,2%)

de 5%, sendo considerados significativos valores de e história de convulsão (7-2,6%).

p≤0,05. As queixas apresentadas pelos pacientes


classificados na cor verde estão descritas na Tabela 4.
Resultados Os pacientes classificados como verde, ou seja,
pouco urgentes, apresentaram como queixa principal o
Da coorte de 509 pacientes analisados, 59,3% era mal-estar no adulto (33,9%), dor (19,3%) e problemas
do sexo masculino, com idade média de 59,1 anos. Além em extremidades (14,5%). Os principais discriminadores
disso, eles permaneceram internados, em média, 7,6 foram dor leve recente (12-36,6%), evento recente (32-
dias nas diversas clínicas do hospital. 51,6%) e edema (5-8,1%).
Neste estudo, 29 (55,7%) fluxogramas que Apenas um (0,17%) paciente foi classificado na cor
compõem o STM foram utilizados na classificação dos azul e apresentou o fluxograma mal-estar no adulto.
pacientes. As queixas principais foram mal-estar no Entre os pacientes atendidos no referido hospital,
adulto (130-25,5%), dispneia em adulto (81–15,9%), 443 (87,0%) obtiveram alta hospitalar ou foram
dor abdominal em adulto (58–11,4%), alterações de transferidos. Dos 66 (13,0%) dos óbitos, foram
comportamento (34–6,7%). encontrados, proporcionalmente, mais óbitos nos
O STM traz a queixa dor em 8 (15,4%) dos pacientes classificados nas cores mais graves: 9
seus 52 fluxogramas. Foram encontrados pacientes (42,8%) classificados como vermelho, 27 (17,0%)
que queixaram de dor em 7 fluxogramas, sendo: dor laranja e 24 (8,9%) como amarelo. Entre os pacientes
abdominal em adulto, dor cervical, dor de garganta, classificados como verdes, 6 (9,6%) evoluíram para
dor lombar, dor testicular, dor torácica e cefaleia (dor óbito. Foi encontrada uma diferença estatística entre o
de cabeça). Essas queixas de dor representaram 22,8% desfecho clínico e os grupos de classificação de risco,
das queixas apresentadas pelos pacientes. conforme mostrado na Tabela 5.

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Tabela 1 – Queixas apresentadas pelos pacientes classificados na cor vermelha pelo STM, segundo desfecho clínico.
Diamantina, MG, Brasil, 2012
Alta/transferência Óbito Frequência
Fluxograma
n % n % n %
Mal-estar no adulto 3 14,3 2 9,5 5 23,8
Convulsões 3 14,3 0 0,0 3 14,3
Alteração de comportamento 1 4,8 1 4,8 2 9,5
Diabetes 2 9,5 0 0,0 2 9,5
Dispneia em adulto 0 0,0 2 9,5 2 9,5
Trauma craniano 0 0,0 2 9,5 2 9,5
Trauma maior 2 9,5 0 0,0 2 9,5
Cefaleia 0 0,0 1 4,8 1 4,8
Dor abdominal em adulto 0 0,0 1 4,8 1 4,8
Trauma toracoabdominal 1 4,8 0 0,0 1 4,8
Total 12 57,2 9 42,9 21 100

Tabela 2 – Queixas apresentadas pelos pacientes classificados na cor laranja pelo STM, segundo desfecho clínico.
Diamantina, MG, Brasil, 2012
Alta/transferência Óbito Frequência
Fluxograma
n % n % n %
Dispneia em adulto 28 18,0 5 3,2 33 21,3
Mal-estar no adulto 21 13,5 9 5,8 30 19,3
Trauma craniano 3 2,0 17 11,0 20 12,9
Dor torácica 6 4,0 5 3,2 11 7,1
Alteração de comportamento 7 4,5 3 2,0 10 6,5
Trauma maior 2 1,3 8 5,1 10 6,5
Dor abdominal em adulto 5 3,2 4 2,6 9 5,8
Hemorragia digestiva 3 2,0 4 2,6 7 4,5
Problemas de extremidade 4 2,6 2 1,3 6 4,0
Diarreia e vômito 1 0,6 3 2,0 4 2,6
Dor lombar 1 0,6 3 2,0 4 2,6
Convulsões 2 1,3 0 0,0 2 1,3
Trauma toracoabdominal 0 0,0 2 1,3 2 1,3
Cefaleia 0 0,0 2 1,3 2 1,3
Diabetes 1 0,6 0 0,0 1 0,6
Asma 1 0,6 0 0,0 1 0,6
Dor cervical 0 0,0 1 0,6 1 0,6
Problemas urinários 1 0,6 0 0,0 1 0,6
Quedas 0 0,0 1 0,6 1 0,6
Total 86 55,4 69 44,6 155 100

Nota: três pacientes apresentaram registro de fluxograma em branco

Tabela 3 – Queixas apresentadas pelos pacientes classificados na cor amarela pelo STM, segundo desfecho clínico.
Diamantina, MG, Brasil, 2012
Alta/transferência Óbito Frequência
Fluxograma
n % n % n %
Mal-estar no adulto 63 23,7 10 3,7 73 27,4
Dispneia em adulto 40 15,0 3 1,1 43 16,1
Dor abdominal em adulto 36 13,5 4 1,5 40 15,0
Alteração de comportamento 18 6,7 4 1,5 22 8,3
Dor torácica 15 5,6 1 0,4 16 6,0
Dor lombar 11 4,1 0 0,0 11 4,1
Problemas de extremidade 11 4,1 0 0,0 11 4,1

(continua...)

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Tabela 3 - continuação
Alta/transferência Óbito Frequência
Fluxograma
n % n % n %
Diarreia e vômito 7 2,6 1 0,4 8 3,0
Convulsões 7 2,6 0 0,0 7 2,6
Trauma craniano 6 2,2 0 0,0 6 2,2
Diabetes 5 1,9 0 0,0 5 1,9
Quedas 4 1,5 0 0,0 4 1,5
Dor cervical 3 1,1 0 0,0 3 1,1
Feridas 2 0,8 1 0,4 3 1,1
Cefaleia 2 0,8 0 0,0 2 0,8
Corpo estranho 2 0,8 0 0,0 2 0,8
Problemas em olhos 2 0,8 0 0,0 2 0,8
Dor de garganta 1 0,4 0 0,0 1 0,4
Dor testicular 1 0,4 0 0,0 1 0,4
Erupção cutânea 1 0,4 0 0,0 1 0,4
Mordeduras e picadas 1 0,4 0 0,0 1 0,4
Problemas urinários 1 0,4 0 0,0 1 0,4
Overdose e envenenamento 1 0,4 0 0,0 1 0,4
Sangramento vaginal 1 0,4 0 0,0 1 0,4
Trauma toracoabdominal 1 0,4 0 0,0 1 0,4
Total 242 91,0 24 9,0 266 100

Nota: um paciente apresentava registro de fluxograma em branco

Tabela 4 – Principais queixas apresentadas pelos pacientes classificados na cor verde pelo STM, segundo desfecho
clínico. Diamantina, MG, Brasil, 2012
Alta/transferência Óbito Frequência
Fluxograma
n % n % n %
Mal-estar no adulto 16 25,8 5 8,1 21 33,9
Problemas de extremidade 9 14,5 0 0 9 14,5
Dor abdominal em adulto 8 12,9 0 0 8 12,9
Diarreia e vômito 4 6,5 1 1,6 5 8,1
Dispneia em adulto 3 4,9 0 0 3 4,9
Feridas 3 4,9 0 0 3 4,9
Dor torácica 2 3,2 0 0 2 3,2
Problemas urinários 2 3,2 0 0 2 3,2
Quedas 2 3,2 0 0 2 3,2
Cefaleia 1 1,6 0 0 1 1,6
Trauma craniano 1 1,6 0 0 1 1,6
Mordeduras e picadas 1 1,6 0 0 1 1,6
Dor cervical 1 1,6 0 0 1 1,6
Dor lombar 1 1,6 0 0 1 1,6
Erupção cutânea 1 1,6 0 0 1 1,6
Problemas em face 1 1,6 0 0 1 1,6
Total 56 90,3 6 9,7 62 100

Nota: uma pessoa estava com o fluxograma em branco

Tabela 5 - Distribuição dos desfechos clínicos entre os grupos de classificação de risco. Diamantina, MG, 2012
Alta/transferência Óbito Total
Grupos da classificação Valor de p*
n % n % N %
Vermelha 12 2,4 9 1,8 21 4,1 <0,001
Laranja 131 25,7 27 5,3 158 31,0
Amarela 243 47,7 24 4,7 267 52,5
Verde/azul† 57 11,2 6 1,2 63 12,4
Todos os pacientes 443 87,0 66 13,0 509 100
*p calculado através do teste qui-quadrado, significativo se p≤0,05.
†A cor azul foi agrupada com a cor verde por só ter uma pessoa que recebeu alta.

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592 Rev. Latino-Am. Enfermagem jul.-ago. 2015;23(4):587-94.

Discussão seguida de dor torácica (11,6%), indisposição no adulto


(10,1%) e dor de garganta (7,2%).
Neste estudo, 59,3% dos pacientes atendidos A dor em diversas partes do corpo esteve presente
no PS eram do sexo masculino, com idade média de em 22,8% das queixas dos pacientes classificados nas
59,1 anos, dados equivalentes ao encontrado em outro cores vermelha, laranja, amarela e verde. E 25,2% das
estudo . A média de internação de 7,6 dias está abaixo
(4)
queixas identificadas nos pacientes em um PS estavam
da encontrada no mesmo estudo que identificou 9,6 dias relacionadas à dor(4). Corroboram o achado de que a
de internação .
(4)
dor é a principal queixa dos pacientes atendidos em
Foram utilizados 10 fluxogramas para a classificação PS aqueles dados encontrados em estudos nacionais
de pacientes na cor vermelha. O desfecho óbito e internacionais(7,11). Segundo estudo realizado na
predominou nos pacientes classificados com mal-estar Espanha, a avaliação da dor é pouco frequente devido à
no adulto (9,5%), dispneia (9,5%) e trauma craniano educação insuficiente dos usuários e à falta de clareza
(9,5%). nas orientações de uso do STM(11).
A queixa mal-estar no adulto teve alta prevalência A avaliação da dor na urgência é tarefa difícil, já que
em pacientes classificados em todas as cores. Esse é um os pacientes se sentem pressionados a valorizar a dor que
fluxograma inespecífico, usado para pacientes que não estão sentindo para justificar a procura pelo serviço. Por
se sentem bem, sem queixa específica. Porém, fica o outro lado, pode ocorrer que algumas pessoas e crianças
questionamento se, de fato, não foi possível identificar neguem a dor para evitar tratamentos ou internação
a queixa principal. Observa-se, na prática clínica, certa hospitalar. Devido à sua importância, a dor não deve ser
comodidade do profissional ao utilizar esse fluxograma, considerada pelo profissional da classificação de risco
uma vez que ele possui ampla aplicabilidade. A apenas em seus aspectos subjetivos. No entanto, para
preocupação com essa queixa se justifica pelo fato de os profissionais da saúde, a avaliação criteriosa da dor
que, em todas as cores da classificação, a queixa mal- se torna extremamente necessária, uma vez que está
estar no adulto foi uma das principais causas de óbito. presente na grande maioria dos atendimentos. Em vista
O fluxograma dispneia também teve alta prevalência disso, alguns serviços de urgência estão utilizando um
em pacientes classificados nas cores laranja (21,3%) e instrumento formal para a avaliação da dor, como as
amarela (16,1%). A alta porcentagem de pacientes com escalas visuais analógicas. Diante disso, compete aos
essa queixa pode estar relacionada ao predomínio de profissionais de saúde que realizam a classificação de
idosos no estudo, somado a isso, o município não possui risco, assim como a toda a equipe, o aperfeiçoamento
uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), o que faz de habilidades técnicas e conhecimentos para avaliação
com que a demanda não absorvida pelas unidades de e tratamento da dor(7).
saúde seja drenada para o PS. Essa queixa esteve muito Quanto ao desfecho clínico, a queixa que mais
relacionada à mortalidade de pacientes classificados nas levou a óbito de pacientes classificados na cor amarela
cores vermelha, laranja e amarela. foi mal-estar no adulto (3,7%). Entre os pacientes, 242
Em indivíduos classificados na cor laranja, os óbitos (91%) tiveram alta/transferência hospitalar e 24 (9%)
predominaram quando as queixas foram: trauma craniano evoluíram para óbito, corroborando outro estudo(4) que
(11,0%), trauma maior (5,1%), mal-estar no adulto encontrou 90 (90,9%) pacientes classificados na cor
(5,8%) e dispneia no adulto (3,2%). Estudos realizados amarela que receberam alta ou foram transferidos e 9
no Centro de Pesquisa e Departamento de Cirurgia da (9,1%) que evoluíram, durante a internação, para óbito.
Universidade de Washington, EUA, mostraram que, nos Os pacientes classificados como verde, ou seja,
últimos 14 anos, o número de mortes no ambiente inter- pouco urgente, apresentaram como queixa principal o
hospitalar, durante a internação por trauma craniano, mal-estar no adulto (33,9%), dor (19,3%), problemas
melhorou, mas ainda é grande o número de mortes por em extremidades (14,5%). Neste estudo, foram
essa causa, necessitando que estratégias sejam usadas encontrados 62 (10,7%) pacientes classificados como
para aumentar a sobrevida, como o emprego de altas verde que, após 24 horas, estavam internados e tiveram
tecnologias e intervenções rápidas e de qualidade .
(10)
como desfecho em 56 (90,3%) a alta e 6 (9,7%) o óbito.
A maioria das queixas dos pacientes classificados Essa porcentagem nos pacientes menos graves pode
na cor amarela (266-28,2%) esteve relacionada à dor. estar relacionada ao fato de eles terem apresentado
Outro estudo(7) encontrou cefaleia (14,5%) como a seu quadro clínico complicado durante as 24 horas de
principal queixa de indivíduos classificados nessa cor, internação, ou ao fato de que a classificação realizada

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Guedes HM, Souza KM, Lima PO, Martins JCA, Chianca TCM. 593

pelo enfermeiro ter sido inadequada, configurando um de mal-estar no adulto e dor são as mais frequentes
erro humano. O óbito esteve relacionado ao mal-estar entre os pacientes que procuram os serviços de urgência,
no adulto (8,1%), diarreia e vômitos (1,6%). e tanto a avaliação acurada da dor como uma maior
Em um estudo nacional, 55,6% dos atendimentos discriminação da queixa de mal-estar continuam sendo
realizados em um PS eram de pacientes em situação problemas na prática em serviços de urgência.
clínica de menor gravidade e que foram classificados Observou-se que quanto maior a prioridade clínica
como verde e azul(7). A prevalência de pessoas que do paciente maior a taxa de óbitos. Os óbitos estiveram
procuram o PS apresentando queixas de baixa prioridade presentes em 45,8% na cor vermelha, 16,4% na cor
clínica também foi descrita em estudos nacionais e laranja, 8,6% amarelo e 9,2% verde. Esses pacientes
internacionais .
(7,12-13)
apresentaram queixas como mal-estar no adulto, dispneia,
Os pacientes triados nas categorias de menor trauma craniano, trauma maior, diarreia e vômito.
gravidade apresentaram alta prevalência da queixa Com os dados deste estudo é possível que, no nível
referente a problemas em extremidades (14,5%). terciário, possam ser otimizados recursos humanos
Confirma essa afirmativa o estudo realizado com e materiais para atender com eficácia as queixas dos
pacientes de baixa gravidade(14). Os autores encontraram pacientes que mais levam à morte, com o intuito de
que 77,1% das queixas dos pacientes se referiam a oferecer atendimento de qualidade e com sobrevida.
problemas de extremidades. Desses, 69,6% foi devido O estudo também permitiu conhecer as queixas das
à fratura. pessoas que procuram por atendimento no PS. Os níveis
Dos atendimentos de pacientes, com menor de atenção à saúde podem ser organizados a partir
gravidade, 80% pode ser atendido por um médico clínico do grau de gravidade das queixas, de forma a melhor
da rede, uma vez que um, em cada 15 pacientes de atender a demanda que compete a cada nível. Sugere-
baixa gravidade, é encaminhado do médico clínico para se que outros estudos possam demonstrar estratégias
um PS, por necessidade de recursos tecnológicos(14). Os práticas resolutivas para as queixas listadas nesta
autores concluíram que pacientes apresentando baixa pesquisa.
urgência podem ser tratados de forma eficiente e segura
por médicos clínicos que atendem na rede de saúde da Referências
atenção básica.
Neste estudo, foi encontrada diferença significativa 1. Oliveira GN, Vancini-Campanharo CR, Okuno MFP,
entre o STM e o desfecho clínico (p<0,001). Foi possivel Batista REA. Nursing care based on risk assessment
observar que pacientes classificados em categorias and classification: agreement between nurses and the
de maior gravidade morreram mais do que as demais institutional protocol. Rev. Latino-Am. Enfermagem.
categorias. Estudos mostraram que a morte está 2013;21(2):500-6.
associada às categorias de urgência do STM(5,12) e que o 2. Nascimento ERP, Hilsendeger BR, Neth C, Belaver
risco de morte em pacientes de alta prioridade (vermelha GM, Bertoncello KC. Acolhimento com classificação de
e laranja) foi 5,58 vezes maior do que o risco de morte risco: avaliação dos profissionais de enfermagem de um
para a baixa prioridade (amarela, verde e azul) .(5)
serviço de emergência. Re Eletrôn Enferm. [Internet].
Um fator limitador do estudo foi a seleção de uma 2011 [acesso 15 julho 2014];13(4):597-603. Disponível
amostra de pacientes que permaneceram internados por em: http://www.fen.ufg.br/fen_revista/v13/n4/pdf/
mais de 24 horas no serviço de urgência. Isso pode ter v13n4a02.pdf
influenciado os dados, já que pacientes muito graves 3. Soler W, Gómez MM, Bragulat E, Álvarez A. El triaje:
podem ter ido a óbito dentro das 24 horas, assim como herramienta fundamental en urgencias y emergencias.
pacientes menos graves que receberam alta. An Sist Sanit Navar. 2010;33(supl.1):55-68.
4. Pinto Júnior D, Salgado PO, Chianca TCM.
Conclusão Predictive validity of the Manchester Triage System:
evaluation of outcomes of patients admitted to an
No presente estudo encontrou-se que a maioria dos emergency department. Rev. Latino-Am. Enfermagem.
pacientes era do sexo masculino (59,3%), com média de 2012;20(6):1041-7.
idade de 59,1 anos, apresentando queixa de mal-estar 5. Santos AP, Freitas P, Martins HMG. Manchester triage
no adulto (22,5%) e dor (22,8%). A experiência e os system version II and resource utilisation in emergency
dados do presente estudo têm mostrado que as queixas department. Emerg Med J. 2014;31(2):148-52.

www.eerp.usp.br/rlae
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Recebido: 16.6.2014
Aceito: 1.2.2015

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