NATURALISMO

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NATURALISMO

Contexto histórico
A Europa do século XIX vivenciava profundas transformações econômicas, políticas e
sociais, proporcionadas por dois grandes eventos do século XVIII: a Revolução
Industrial e a Revolução Francesa. Com a industrialização, surgiam os primeiros
centros urbanos e a nova ordem econômica do capitalismo financeiro, dividindo a
sociedade entre burguesia, a nova classe dominante após o fim do Antigo Regime, e
proletariado, classe dos trabalhadores assalariados, que operavam o maquinário
industrial. "Essas oposições e as condições degradantes de trabalho da época
propiciaram matéria-prima para as teorias socialistas de Karl Marx, cuja perspectiva
classista influenciou diretamente a estética naturalista.

A burguesia consolidava-se no poder, o que propiciava o movimento da Segunda


Revolução Industrial, que levaria à exploração do aço, do petróleo e da eletricidade.
O entusiasmo das novas invenções e descobertas levava o cientificismo, em voga
desde o século XVII, ao seu ápice: o método das ciências naturais era tido como a
principal maneira de compreender a realidade.

Principais características do naturalismo

➤ Ênfase no lado mais animalesco do homem: a fome, o instinto, a parte “não


civilizada”, a sexualidade etc., bem como a zoomorfização de personagens;

➤ Determinismo: o indivíduo não é mais sujeito, mas um figurante da história,


resultado das influências do meio;

➤ Cientificismo: o homem é entendido como produto das leis naturais;

➤ Patologias sociais: as obras naturalistas enfatizam esses temas, trazendo à tona


tópicos como as taras sexuais, os vícios, as doenças, o incesto, o adultério;

➤ Objetividade e impessoalidade narrativas;

➤ Preferência por temas cotidianos, frequentemente priorizando as relações e


vivências das classes “inferiores”;

➤ Predominância da forma descritiva;

➤ Obras comumente engajadas, denúncias de aspectos socialmente retrógrados, da


miséria e do sistema de desigualdades que fundamentava o capitalismo que surgia."

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NATURALISMO
Naturalismo no Brasil surgiu, em 1881, com a publicação do romance “O mulato”, de
Aluísio Azevedo, trazendo uma visão determinista e antirromântica da realidade
brasileira.

A supervalorização da ciência gerou teorias como o determinismo, que trouxe a ideia


de que os indivíduos eram influenciados pelo meio em que viviam e também pela raça
e época a que pertenciam. Desse modo, os autores criavam seus personagens com
base nessa premissa.

As motivações biológicas dos personagens eram mais valorizadas do que as


psicológicas. Isso porque o indivíduo era entendido como animal irracional sujeito aos
instintos, sobretudo o sexual. Assim, os autores recorriam à zoomorfização, que
consiste em atribuir características animais a seres humanos.

No entanto, os escritores tinham uma preferência por personagens marginalizados ou


oriundos da classe baixa, que eram analisados “cientificamente”. Além disso, nessas
obras, são visíveis os preconceitos, tidos como “científicos”, quando as mulheres são
tratadas como histéricas, as pessoas negras como inferiores e os homossexuais como
criminosos ou doentes.

No mais, as obras naturalistas valorizam a objetividade da linguagem e, por meio da


ficção, buscam analisar e compreender os problemas da sociedade, além de apontar
as suas causas. Nessa perspectiva, são narrativas antirromânticas, pois não realizam
qualquer tipo de idealização e, por isso, mostram a realidade sem retoques.

AUTORES
Aluísio Azevedo (São Luís-MA, 1857 – Buenos Aires, 1913)

Escritor, dramaturgo, pintor, caricaturista e, no final de sua carreira,


diplomata – foi o autor que inaugurou a estética naturalista no Brasil. Sua obra O
Mulato (1881) é tida como o primeiro expoente dessa corrente literária, que alcançou o
seu auge com o célebre O Cortiço (1890), romance em que descreve em minúcias
(patológicas) a organização social da periferia carioca, onde o português é o dono do
imóvel, dividido em porções menores e alugado aos brasileiros das classes mais
baixas, que se veem diante de diversas barreiras sociais, como o preconceito e a
exploração constantes.

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Adolfo Caminha (Aracati-CE, 1867 – Rio de Janeiro, 1897)

Escritor, jornalista e oficial da Marinha do Brasil, sua morte precoce


por tuberculose não o impediu de ser um dos mais veementes naturalistas do cânone
nacional. Estreou em 1886 com a publicação em versos Voos Incertos, mas foi com a
obra A Normalista (1893) que se consolidou como autor naturalista: trata-se de uma
chocante narrativa cujo enredo centra-se em uma relação incestuosa.

Aclamado por suas descrições minuciosas, o mais famoso romance de Caminha é O


Bom Crioulo (1895), protagonizado por um oficial da Marinha que se envolve amorosa
e sexualmente com um grumete (graduação mais inferior das praças da Armada).
Trata-se da primeira obra brasileira centrada em uma relação homossexual.

Naturalismo e realismo
O naturalismo é entendido como uma corrente mais radical do realismo. As duas
escolas compartilham, portanto, algumas premissas: o retrato verossímil da realidade,
a preferência por cenas cotidianas, a objetividade das obras, o desprezo pelas
idealizações românticas – retratando o adultério em oposição à realização amorosa
matrimonial e o fracasso social ao contrário do herói idealizado –, a crítica da
moralidade burguesa e a impessoalidade.

O que diferencia o naturalismo é a abordagem patológica das personagens e


situações. Enquanto o realismo privilegia mergulhos psicológicos nas personagens, o
naturalismo possui um olhar anatômico, ressaltando a doença e o aspecto animalesco
do ser humano. As personagens são abordadas de fora para dentro, enfatizando as
ações exteriores, sem preocupação com o aprofundamento psicológico. O realismo
retrata o homem psicológico, enquanto o naturalismo propõe o homem biológico.

Se o realismo propõe retratar o homem em interação com seu meio, o naturalismo vai
ainda um pouco além: expõe o indivíduo como um produto biológico, cujo
comportamento é determinado a partir dessas relações com o meio e de acordo com
suas características hereditárias.

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EXERCÍCIO

QUESTÃO 1. Bem! Vê lá! Isso já me vai cheirando mal!... Ora dizes uma coisa; ora
dizes outra!... O mês passado respondeste-me na varanda: “Pode ser” e agora, às
duas por três, dizes que não! Sabes que só quero a tua felicidade... Não te contrario...
Mas tu também não deves abusar!...
— Mas, gentes, o que foi que eu fiz?...

— Não estou dizendo que fizeste alguma coisa!... Só te aviso que prestes toda a
atenção na tua escolha de noivo!... Nem quero imaginar que serias capaz de escolher
uma pessoa indigna de ti!...

— Mas, como, papai?... Fale claro!

— Isto vai a quem toca! Não sei se me entendes!...

— Ora, seu Manuel! — exclamou Maria Bárbara, levantando-se e pousando no chão o


enorme cachimbo de taquari do Pará. — Você às vezes tem lembranças que parecem
esquecimento! Pois então, uma menina, que eu eduquei, ia olhar... — e gritou com
mais força — para quem, seu Manuel!?

— Bem, bem...

— Vejam se não é mesmo vontade de provocar uma criatura!...

— Bem, bem! Eu não digo isto para ofender!... — desculpou-se o negociante. — É que
temos cá um rapaz bem-aparecido que...

— Um cabra, berrou a sogra. — E era muito bem-feito que acontecesse qualquer coisa,
para você ter mais cuidado no futuro com as suas hospedagens. Também só nessa
cabeça entrava a maluqueira de andar metendo em casa crioulos cheios de fumaças!
Hoje todos eles são assim! Súcia de apistolados!
AZEVEDO, Aluísio. O mulato. São Paulo: Martin Claret, 2006. p. 107.

O texto exemplifica uma literatura voltada para

a) o desnudamento das relações sociais movidas por interesse.

b) o registro satírico dos costumes de uma época.

c) a apreensão crítica do conflito de gerações.

d) a defesa da mentalidade patriarcal.

e) a denúncia do preconceito racial.

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QUESTÃO 2. TEXTO I
E o mugido lúgubre daquela pobre criatura abandonada antepunha à rude agitação do
cortiço uma nota lamentosa e tristonha de uma vaca chamando ao longe, perdida ao
cair da noite num lugar desconhecido e agreste. Mas o trabalho aquecia já de uma
ponta à outra da estalagem; ria-se, cantava-se, soltava-se a língua; o formigueiro
assanhava-se com as compras para o almoço; os mercadores entravam e saíam: a
máquina de massas principiava a bufar. E Piedade, assentada à soleira de sua porta,
paciente e ululante como um cão que espera pelo dono, maldizia a hora em que saíra
da sua terra, e parecia disposta a morrer ali mesmo, naquele limiar de granito, onde
ela, tantas vezes, com a cabeça encostada ao ombro do seu homem, suspirava feliz,
ouvindo gemer na guitarra dele os queridos fados de além-mar.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.

TEXTO II

Reinavam no Ateneu duas perniciosas influências que contrabalançavam eficazmente


o porejamento de doutrina a transudar das paredes, nos conceitos de sabedoria
decorativa dos quadros, e ainda mesmo a polícia das aparições ubíquas e subitâneas
do diretor. Coisa difícil de precisar, como a disseminação na sociedade, do princípio do
mal, elemento primário do dualismo teogônico. O meio, filosofemos, é um ouriço
invertido: em vez da explosão divergente dos dardos — uma convergência de pontas
ao redor. Através dos embaraços pungentes cumpre descobrir o meato de passagem,
ou aceitar a luta desigual da epiderme contra as puas. Em geral, prefere-se o meato.
[...]
Representavam-se as influências dissolventes por duas espécies de encarnação,
fundidas em hibridismo de disparate — a da forma feminina personificada em Ângela, a
canarina, ou antes a camareira de D. Ema, e a de um encontro de tábuas humildes,
conjuntadas às pressas, por força do prosaísmo incivil de um episódio da economia
orgânica.

Sobre os fragmentos de O cortiço e O Ateneu, duas obras naturalistas, é possível


afirmar:

a) No texto I, sobressai a influência do meio; já no texto II, a zoomorfização.

b) Tanto o texto I quanto o texto II apresentam idealização da realidade.

c) No texto I, sobressai a zoomorfização; já no texto II, a influência do meio.

d) Tanto o texto I quanto o texto II apresentam o sensualismo animal.

e) Ambos os textos mostram apenas personagens socialmente privilegiados.

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QUESTÃO 3.
a) O Naturalismo, por seus princípios científicos, considerava as narrativas literárias
exemplos de demonstração de teses e ideias sobre a sociedade e o homem.
b) O Naturalismo usou elementos da natureza selvagem do Brasil do século XIX para
defender teses sobre os defeitos da cultura primitiva.

c) A valorização da natureza rude verificada nos poetas árcades se prolonga na visão


naturalista do século XIX, que toma a natureza decadente dos cortiços para provar os
malefícios da mestiçagem.

d) O Naturalismo no Brasil esteve sempre ligado à beleza das paisagens das cidades e
do interior do Brasil.

e) O Naturalismo do século XIX no Brasil difundiu na literatura uma linguagem científica


e hermética, fazendo com que os textos literários fossem lidos apenas por intelectuais.

QUESTÃO 4. São características da linguagem naturalista, exceto:

a) Determinismo;
b) Preferência por temas de patologia social;
c) Objetivismo científico e impessoalidade;
d) Linguagem simples;
e) Subjetividade.

QUESTÃO 5. Sobre o Naturalismo, é incorreto afirmar:


a) O Naturalismo teve como marco inicial a publicação, em 1881, de Germinal, de
Émile Zola, na Europa. Personagens e cenários são mostrados em toda sua miséria
material e moral.

b) O movimento literário costuma ser relacionado ao Realismo, que também tinha essa
missão de retratar a realidade.

c) Na literatura naturalista, assim como na literatura romântica, ocorre a idealização da


realidade, o homem é um ser subjetivo guiado por suas vontades individuais, sem que
exista interferência do meio ambiente em seu comportamento.

d) Em razão de sua objetividade radical, a literatura naturalista não é considerada por


muitos estudiosos como literatura, isto é, existem dúvidas de que as obras desse
período sejam verdadeiramente objetos artísticos.

e) No romance naturalista, o narrador comporta-se como um cientista, que observa os


fenômenos sociais como quem observa uma experiência científica. Por isso, os fatos
devem ser narrados de modo impessoal.

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