Meditação Da Palavra de Deus Na Lectio Divina
Meditação Da Palavra de Deus Na Lectio Divina
Meditação Da Palavra de Deus Na Lectio Divina
NA «LECTIO DIVINA» *
*
Esta reflexão resulta da comunicação feita pelo autor no dia 5.12.1998, no âmbito do ciclo de
conferências de espiritualidade e oração, organizado pela “Ajuda à Igreja que sofre” no ano
pastoral de 1998-99 em Lisboa. Ela publicará as conferências. Agradecemos a gentileza da
licença para a publicarmos desde já.
1
No nº 1 (Secretariado Geral do Episcopado; Rei dos livros; Lisboa 1990) 5.
2
O vocabulário que a caracteriza nas várias fases é referido em latim, porque os que originari-
amente a praticaram e dela falaram escreviam em latim.
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A oratio, embora implicando obviamente a oração, em latim continha em primeira acepção a
conotação da declamação de um “discurso, sermão”; de facto, no processo da lectio divina, o
da oratio era o momento de exprimir o ‘concebido’ (o ‘conceito’), que tinha vindo a crescer
até ao ponto de não poder permanecer mais tempo escondido no silêncio, traduzindo-se com
a pronúncia de um discurso diante de Deus e dirigido a Ele. As formas que assumia a oratio
eram variadas, desde a proclamação da verdade descoberta no texto lido, graças à purificação
do olhar e como fruto da lectio, até à oração em complementares expressões: petição,
explosão do louvor e da acção de graças, etc.
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4
A contemplação, tal como era significada na língua grega utilizada pelos Padres com o termo
theoria (“visão em profundidade” do texto lido), evoluiu semanticamente para o sentido que veio
a assumir no vocábulo latino contemplatio, enquanto virtude pela qual o coração e a vontade se
elevam para Deus. Tal evolução já se encontra, por exemplo, em Gregório Magno no séc. VI/VII:
In librum primum Regum: PL 79, coluna 216C. O cisterciense ARNOLFO de BOHÉRIES
concede que o monge “...não precisa de ir sempre para o oratório mas poderá contemplar e orar na
própria leitura”: Speculum monachorum: PL 184, col. 1175A-C. Cf. I. GARGANO, “La
metodologia esegetica dei Padri”, Metodologia dell’Antico Testamento (a cura di H. SIMIAN-
YOFRE) (Studi biblici; EDB; Bologna 1994) 197-222. “Con-templar” etimologicamente já
significa posicionar-se e olhar do ponto do templo que pode ser visto de qualquer sítio e donde se
pode ver todo ele conjuntamente.
5
Para além do monacato antigo e medieval, também os protestantes praticaram a meditatio das
Escrituras. O próprio Lutero a aconselhava. Para Pierre Jurien, pastor em Paris no séc. XVII, a
devoção também implicava três exercícios principais: lectio, meditatio, oratio.
6
GUIGO II, Scala claustralium, sive tractatus de modo orandi: PL 184, col. 476C; cf. 476B.
7
“Legendo oro, orando contemplor”: citado por G.M. COLOMBÁS, m.b., La lectura de Dios.
Aproximación a la lectio divina (Monte Casino; Zamora 19863) 56.
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desde esta vida, daquilo que será o salário da boa acção... A leitura dá a
inteligência, a meditação fornece o juízo, a oração pede, a acção
procura, a contemplação encontra... O que percorre este caminho procura
a vida... A contemplação encontra o que a oração procura... Os que
sobem estes degraus encontram a perfeição”.8
O hábito desta metodologia de nutrimento espiritual resultou na
celebrada e gostosa espiritualidade monástica, que, portanto, nasceu
do encontro com a Palavra de Deus.
8
HUGUES DE SAINT-VICTOR, L’art de lire. Didascalion (Sagesses chrétiennes; Cerf; Paris
1991) 204-205.
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9
Cf. J. LECLERCQ (beneditino de Claraval), L’amour des lettres et le désir de Dieu. Initiation
aux auteurs monastiques du Moyen Age (Cerf; Paris 1956) 70-86; IDEM, La spiritualità del
Medioevo, vol. 4/A (Dehoniane; Bologna 1992); F. VANDENBRUCKS, La spiritualità
medievale, vol. 4/B (Dehoniane; Bologna 1994).
10
In librum primum Regum: PL 79, col. 55C.
11
Cf. Moralium libri sive Expositio in librum B. Job, lib. 2, c. 1: PL 75, col. 553D. ARNOLFO
de BOHÉRIES retoma a mesma ideia para o leitor da Sagrada Escritura: “na frequente leitura
e assídua meditação da página sagrada contemple como num espelho a face do homem
interior” (Speculum monachorum: PL 184, col. 1175A-C).
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espiritual’, que lhe permitiu estender “as asas da contemplação”.12 Não lhe
bastava o “conhecimento” (notitia); queria o voo (volatus). Por outras
palavras, procurava primeiro que a Escritura fundamentasse a sua fé
nos mistérios do Verbo incarnado e em seguida lhe permitisse elevar-se
acima de si próprio, onde a divindade do Verbo pode ser contemplada.
O que a Escritura lhe comunicava não é redutível a conhecimentos
distintos: depunha sementes no coração, alimentava a “vida
contemplativa”, na liberdade do espírito.13
Gregório Magno teve numerosos imitadores, que se foram abeberar
nas fontes da Escritura a fim de encontrar o “gosto da contemplação
interior”. Das ideias centrais que o mestre total da fé deixara como herança
à Igreja da Idade Média, sobressai o primado da Palavra de Deus
compendiada na lectio divina e na dedicação à meditação da mesma.14 A
leitura da Bíblia era para eles a “festa da contemplação pelo espírito”. Era
sempre uma leitura interiorizada e sapiencial de “unção”, “gosto”,
“sabor”, “delícias”.15 A Bíblia emprestava a linguagem para elevações
espirituais, brindava a moldura para a exposição de certos temas, sem a
pretensão de explorar a significação literal do texto.16 Por exemplo, os
comentadores ao Cântico dos cânticos não se propunham ensinar, mas
expandir o seu fervor sobre o amor de Deus e ocupar os seus momentos
de lazer em assuntos edificantes.17 A experiência que traduziam estava
unida a uma autêntica meditação da Bíblia. Só se pode admirar tão
grande familiaridade com o texto sagrado. O jogo espontâneo das
12
Cf. Homiliarum in Ezechielem Prophetam libri duo, lib. 1, hom. 3, nº 4: PL 76, col. 807C (cf.
nn. 1 e 2: col. 806A-C).
13
Cf. W.F. POLLARD, “Richard Rolle and the «Eye of the Heart»”, Mysticism and Spirituality
in Medieval England (eds. W.F. POLLARD – R. BOENIG) (D.S. Brewer; Rochester, NY
1997) 85-105.
14
Cf. D. de PABLO MAROTO, Espiritualidad de la alta Edad Media (siglos VI-XII) (Editorial
de Espiritualidad; Madrid 1998) 105-127.
15
Cf., e.g., GREGÓRIO MAGNO, Homiliarum in Ezechielem Prophetam libri duo, lib. 1, hom.
3, nº 19: PL 76, col. 814C; Moralium libri sive Expositio in librum B. Job, lib. 16, c. 19: PL
75, col. 1132D. Essa linguagem percorreu toda a tradição monástica. Ainda se aprecia em S.
TERESA DE ÁVILA: veja-se, por exemplo, Meditações sobre os Cantares: em Obras
completas (Carmelo; Aveiro 1978) 577-635.
16
S. BERNARDO confessa com franqueza na Excusatio após as homilias Super ‘Missus est’:
“Não tive tanto a intenção de expor o evangelho como de aproveitar a ocasião para, a partir
do evangelho, falar daquilo que me deleitava expor”: PL 183, col. 86D.
17
Ao comentar as palavras dos Cantares 1,2 (“beije-me com os beijos da sua boca...”) sem
entender o significado do texto (“recomendo-vos muito quando lerdes este livro... que aquilo
que boamente não puderdes entender, não... gasteis o pensamento em afiná-lo: não são para
mulheres, nem mesmo para homens muitas coisas”), S. TERESA DE ÁVILA serve-se dele
como de plataforma para descolar para altos voos do espírito na contemplação: em Obras
completas (Carmelo; Aveiro 1978) 577-635.
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18
“Die ac nocte in lege Domini meditantes [cf. Ps 1,2; Ios 1,8] et in orationibus vigilantes”.
“Gladius... spiritus, quod est verbum Dei [cf. Eph 6,17], abundanter habitet [cf. Col 3,10] in ore
et in cordibus vestris [cf. Rom 10,8], et quaecumque vobis agenda sunt in verbo Domini fiant [cf.
Col 3,17; 1Cor 10,31]”: Regula ‘primitiva’ Ordinis Beatissimae Virginis Mariae de Monte
Carmelo, em Constitutiones Fratrum Discalceatorum Ordinis B. Mariae V. de Monte Carmelo
(Curia Generalis; Roma 1986) 18.20.
19
Cf. H. de LUBAC, A Escritura na tradição (Bíblica 8; Paulinas; S. Paulo 1970) 48-60.
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20
Tensão análoga registou-se no séc. XII de Bernardo de Claraval e de Guilherme de Saint-
Thierry entre o monge filósofo aplicado à ciência divina e as escolas de filosofia profana:
aquele, perscrutando as Escrituras, procura iluminar a sua fé com a inteligência, viver a
mensagem bíblica interiorizando-a, possuir uma experiência do divino no mistério; estas
buscavam o saber pelo saber e o verdadeiro conhecimento das Escrituras fugia diante daquele
que as quisesse compreender desde fora, sem comprometer a sua existência. Cf. M.-M.
DAVY, Initiation médiévale. La philosophie au douzième siècle (Bibliothèque de
l’Hermétisme; Albin Michel; Paris 1980) 135-158.209-216.224-248.
21
La Vie de Moïse: Sources chrétiennes 1 (Cerf; Paris 1968).
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22
HUGUES DE SAINT-VICTOR, L’art de lire. Didascalion (Sagesses chrétiennes; Cerf; Paris
1991) 142; cf. pp. 140-143.
23
S. AGOSTINHO di-lo de forma lapidar: “quando lês é Deus que te fala; quando oras é a Deus que
tu falas: quando legis, Deus tibi loquitur, quando oras, Deo loqueris” (Enarrationes in Ps. 85,7:
PL 37, col. 1086). Obviamente, ele supõe uma leitura meditada.
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24
Cf. Sl 63,7; 77,13; 143,5, um mussitar que se contrapõe à oração clamorosa em momentos de
prova: cf. Sl 3,5; 5,3; etc.
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25
Cf. L. ROCHA E MELO, Se tu soubesses o dom de Deus. Ensaio sobre a oração (Oração e
vida; Ajuda à Igreja que sofre – A. O.; Braga 1999) 63-71.115-131.
26
Cf. Pe. MARIE-EUGÈNE, Contemplation et apostolat (Notre Dame de Vie 1962) 25-115.
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27
CONCÍLIO VATICANO II, Dei Verbum, 12, e COMISSÃO BÍBLICA PONTIFÍCIA, A
interpretação da Bíblia na Igreja, I, A, 2-4.
28
È a reter a lição dada por um rabino a um judeu estudante do Talmud. Este disse-lhe: “Rabbi,
já não sou tão ignorante: já entrei muitas vezes dentro do Talmud”. O rabino retorquiu: “Mas
quantas vezes deixaste entrar o Talmud dentro de ti?”
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29
Cf. C.M. MARTINI, La parola di Dio alle origini della Chiesa (Università Gregoriana;
Roma 1980) 3-65.
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30
L. ALONSO SCHÖKEL, Comentarios a la Constitución “Dei Verbum” sobre la divina
revelación (BAC 284; Madrid 1969) 485.
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31
Cf. G. CASSIANO, Institutions Cénobitiques, lib. 5, c. 34: Sources chrétiennes 109 (Cerf; Paris
1965) 244-245; Conlatio 14,10 e 11: Sources chrétiennes 54 (Cerf; Paris 1958) 195-198.
32
Cf. V. MANUCCI, Bibbia come parola di Dio (Strumenti 17; Queriniana; Brescia 1983) 326-327.
33
Cf. R. GÖGLER, citado por L. ALONSO SCHÖKEL, Il dinamismo della tradizione (Paideia
Ed.; Brescia 1970) 163.
34
Sobre métodos psico-físicos e corpóreos, posições e atitudes do corpo para a meditação,
particularmente valorizados no Oriente cristão, cf. a referida Carta aos Bispos..., nn. 26-28,
pp. 29-33 da ed. citada.
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35
O monacato tornou-se o transmissor principal – e, desde o séc. VIII , único – da escritura e do
livro. A arte da escritura era considerada como exercício do espírito, dos olhos e das mãos,
favorecendo assim a concentração. Os monges copistas, escribas, passavam a maior parte da
sua existência a escrever; escrever, compor ou copiar um livro era um trabalho nobre e uma
forma de difundir a Palavra de Deus: cf. U. ECO, Il nome della rosa (Bompiani; Milano
19844) 289.442-446 e passim. Segundo Pedro o Venerável, o solitário substituía a charrua
com a pluma, tema antigo que será conhecido na Idade Média através de Isidoro de Sevilha
(Etymologia VI, 14,71): nos sulcos traçados no pergaminho ele lança o grão da palavra
divina. Dessa forma o monge, sem abrir a boca e permanecendo no remanso do claustro,
percorria terras e mares graças à escritura (PL 189, c. 98): cf. E.R. CURTIUS, Literatura
europea y Edad Media latina (Lengua y estudios literarios 1; Fondo de cultura económica;
México – Buenos Aires 1955) 437-448; e M.-M. DAVY, Initiation à la symbolique romane
(Champs 19; Flammarion; Paris 1977) 30-32.
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36
Cf. D. de PABLO MAROTO, Historia de la espiritualidad cristiana (Editorial de
Espiritualidad; Madrid 1990) 79-85.
37
HUGUES DE SAINT-VICTOR, L’art de lire. Didascalion (Sagesses chrétiennes; Cerf; Paris
1991) 143-144.
38
Cf. M. TASINATO, L’œil du silence. Éloge de la lecture (Verdier; Lagrasse 1989) 75-78; e E. von
SEVERUS – A. SAVIGNAC, Méditation (de l’Écriture aux auteurs médiévaux), DS, X (1980)
col. 908. F. RUPPERT, “Meditatio-Ruminatio. Une méthode traditionelle de méditation”, CC 39
(1977) 81-93. Um apotegma atribuído a S. Antão adverte que o monge não deve ser como o
cavalo que come muito, mas como o camelo que vai ruminando a comida até que lhe penetra os
ossos e a carne: Les sentences des Pères du Désert, troisième recueil (Solesmes 1976) 148-149.
Também CASSIANO ensinava a “aprender de cor as divinas Escrituras e a ruminá-las incessante-
mente na nossa mente”: Conlatio 14,10: Sources chrétiennes 54 (Cerf; Paris 1958) 196. Cf.
também G. de SAINT-THIERRY, Ep. ad fratres de Monte Dei, 122 (cf. 123-124): Sources
Chrétiennes 223, p. 241. Síntese em G.M. COLOMBÁS, m.b., La lectura de Dios. Aproximación
a la lectio divina (Monte Casino; Zamora 19863) 95-100.
39
Ibidem, p. 144.
40
Em S. BERNARDO, ambos os termos, meditatio e ruminatio, convergiam e apontavam para uma
prática de assimilação da Escritura que contém a revelação divina: Sermões sobre o Cântico dos
Cânticos, em Obras completas, V: (ed. bilingue dos MONJES CISTERCIENSES DE ESPAÑA)
(BAC 491; Madrid 1987): cf. Sermo 43,2,3 e Sermo 16,2; Sermo 53,9 (pp. 234-235.582-
585.684-687): “ruminemos como animais puros do Bom Pastor o que no sermão de hoje
engolimos com grande avidez” (pp. 686-687). Cf. UNE MONIALE CISTERCIENNE, La parole
ruminée (Cerf; Paris 1997).
41
“Os sine requie sacra verba ruminans”: De miraculis, lib. 1, c. 20: PL 189, col. 887A.
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MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS NA «LECTIO DIVINA» 311
42
TEODÓSIO DA SAGRADA FAMÍLIA, Santa Teresa de Ávila, mestra de oração (Carmelo;
Aveiro 1970) 29; cf. pp. 33-39. Vejam-se em síntese as concepções dos autores da escola
carmelitana sobre a meditação, em GABRIEL DE S. MARIA MADALENA, Breve catecismo
da vida de oração (Porto 1966) 10-14.18.21-29; M. HERRÁIZ GARCÍA, A união com Deus.
Graça e projecto (Espiritualidade 5; Carmelo; Oeiras 1991) 106-122; IDEM, Oração, histó-
ria de amizade (Espiritualidade 1; Carmelo; Oeiras 1983) passim, especialmente 211-238;
D. de PABLO MAROTO, Dinámica de la oración. Acercamiento del hombre moderno a S.
Teresa de Jesús (Espiritualidad; Madrid 1973) 199-265.
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43
Caminho de perfeição, XXIII, 2: Obras completas (Carmelo; Aveiro 1978) 488.
44
Não é por acaso que se qualificou a época carolíngia como a “civilização da liturgia”, pela
importância que o culto tinha no seio do cristianismo ao longo da Alta Idade Média: cf. A.
VAUCHEZ, A espiritualidade da Idade Média ocidental: Séc. VIII-XIII (Nova história 26;
Estampa; Lisboa 1995) 16-23.
45
Cf. Frère PIERRE-YVES, “La Méditation de l’Écriture”, Frère FRANÇOIS – Frère PIERRE-
YVES, Métitation de l’Écriture. Prière des Psaumes (Vie monastique 5; Abbaye de
Bellefontaine; Bégrolles-en-Mauges 1975) 36-54. Todo o artigo nos inspirou. Veja-se ainda
A.-M. BESNARD, “Les grandes lois de la prière”, La Vie spirituelle (Oct. 1959) 242ss;
IDEM, “Il faut répondre”, La Vie spirituelle 129 (1975) 359-360; Mgr PAULOT, “La
pratique de l’oraison”, La Vie spirituelle (Oct 1959) 287ss.
Meditação da Palavra de Deus na «Lectio Divina», Revista de Espiritualidade. N.º 28. vol. 7. 1999, página 20
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MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS NA «LECTIO DIVINA» 313
5. Os frutos da meditatio
46
Livro da vida, XIII, 13: Obras completas (Carmelo; Aveiro 1978) 95.
47
Cf. CASSIANO, Conlatio 14,10: Sources chrétiennes 54 (Cerf; Paris 1958) 195-197.
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314 ARMINDO DOS SANTOS VAZ
48
Da sua mãe Eunice e da sua avó Loida, judias (cf. 2Tim 1,5 e Act 16,1): este é o mais precioso
testemunho do Novo Testamento sobre os benefícios da educação da fé no seio duma família
crente por meio da leitura da Sagrada Escritura.
49
In evangelium Matthaei, lib. 2, c. 13: PL, 26, col. 93A.
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MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS NA «LECTIO DIVINA» 315
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316 ARMINDO DOS SANTOS VAZ
50
Cf. S. De DIETRICH, Como ler a Bíblia hoje? A renovação bíblica hoje (Emaús 2; Perpétuo
Socorro; Porto 1972) 20-22.112: “do estudo à meditação”.
51
Cf. G.M. COLOMBÁS, m.b., La lectura de Dios. Aproximación a la lectio divina (Monte
Casino; Zamora 19863) 47-77.
Meditação da Palavra de Deus na «Lectio Divina», Revista de Espiritualidade. N.º 28. vol. 7. 1999, página 24
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MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS NA «LECTIO DIVINA» 317
operação, a terra saiu toda com a água e o cesto ficou vazio”. “É isso! –
exclamou o mestre; é o que conseguirá em ti a leitura constante da Palavra
de Deus escrita: esta é a água límpida que purifica; o cesto cheio de terra és
tu; a terra são as tuas impurezas e imperfeições; deixa-te penetrar pela
água viva da Palavra de Deus, que ela irá expulsando de ti os maus hábitos
e te configurará à imagem do Filho de Deus”.
S. Bento, insigne no assíduo exercício da lectio divina, hauriu
das Escrituras força e luz para fazer transbordar a sua regra de palavras
de sabedoria e unção. Sente-se que o ruminar da Palavra pela meditação
transformou essa prática em substância do seu próprio ser.52 A imagem
da mastigação, do ruminar, digerir e assimilar interiormente exprime
bem o efeito da meditatio: fazer passar a Palavra de Deus, não à cabeça
intelectualizante, mas ao coração contemplativo e activo. É o que
ressuma da meditação dialogada dum intelectual com Jesus, ilustrada
com as Escrituras: “Um jurista perguntou-lhe para o pôr à prova:
«Mestre, que tenho de fazer para herdar a vida eterna?» [Jesus] disse-lhe:
«Que está escrito na Lei? Como lês?» O jurista respondeu: «amarás o
Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com
todas as tuas forças e com toda a tua mente, e ao teu próximo como a ti
mesmo». [Jesus] retorquiu: «Respondeste bem. Faz isso e viverás»”
(Lc 10,28). O meditativo crente, não estuda a Bíblia: “pensa a Bíblia”,
na medida em que os seus conteúdos dão muito que pensar. Mas a sua
leitura será menos um ‘amor da sabedoria’ do que a ‘sabedoria do
amor’; a meditação não consiste só em pensar muito, mas em abrir-se a
amar muito. A meditação da Palavra dá a ‘sabedoria do coração’, para
saborear o melhor da vida e uma vida com Deus.53
Hugo de S. Victor diz que “o fruto da leitura divina é duplo. Forma
o espírito pela ciência e orna-o pelos bons costumes que gera. Ensina o que
se gosta de saber e mais ainda de imitar”. Ou seja, dá luz, mas para agir:
“que a leitura não possua [o leitor] ao ponto de o impedir de efectuar uma
boa obra...; a leitura deve ser uma actividade encorajadora, não
absorvente; deve nutrir os bons desejos, não matá-los”.54 Não censura o
zelo dos que lêem; estimula os que lêem a praticar o que a leitura
sugere. A leitura pode ser um exercício, não um fim – remata ele.
52
Cf. A. de VOGÜÉ, “Les deux fonctions de la méditation dans les Règles monastiques
anciennes”, Revue d’histoire de la spiritualité 51 (1975) 3-16.
53
Cf. H. BACHT, “«Meditatio» in den ältesten Mönchsquellen”, Geist und Leben 28 (1955) 360-373.
54
HUGUES DE SAINT-VICTOR, L’art de lire. Didascalion (Sagesses chrétiennes; Cerf; Paris
1991) 198.200 (cf. 198-207).
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318 ARMINDO DOS SANTOS VAZ
Conclusão
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MEDITAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS NA «LECTIO DIVINA» 319
55
“Ofereceu-se-me... considerar a nossa alma como um castelo todo de um diamante ou mui claro
cristal, onde há muitos aposentos, assim como no céu há muitas moradas... Não é outra coisa a
alma do justo senão um paraíso onde Ele disse ter suas delícias... Consideremos que este castelo
tem... muitas moradas; umas no alto, outras em baixo, outras aos lados; e, no centro e meio de
todas estas, tem a mais principal, onde se passam as coisas mais secretas entre Deus e a alma”:
Moradas ou Castelo interior, I, 1.3: Obras completas (Carmelo; Aveiro 1978) 642.643. “Faça-
mos... de conta que dentro de nós há um palácio de enorme riqueza, todo feito de ouro e pedras
preciosas... e neste palácio está este grande Rei, que houve por bem ser vosso Pai, e está em trono
de grandíssimo preço, que é o vosso coração”: Caminho de perfeição, XXVIII, 9: ibidem, p. 508.
Faz estas afirmações ao declarar o que é a oração de recolhimento e o lucro que há em entendê-la
e ser conscientes das mercês que por ela recebemos de Deus.
56
“Tu eras interior intimo meo et superior summo meo”: Confessiones, 3,6,11: PL 32, col. 688
(cf. De vera religione 39,72: Pl 34, col. 154).
57
Ver acima. Sobre a leitura da Palavra de Deus feita por Agostinho, veja-se a reflexão de M.L.
COLISH, The Mirror of Language: A Study in the Medieval Theory of Knowledge (Yale
Historical Publications, Miscellany 88; Yale University Press; New Haven – London 1968)
8-81, sob o título “St. Augustine: the expression of the Word”. Cf. Carta aos Bispos... (acima
referida), nº 19.
58
O documento da Comissão Bíblica Pontifícia, A interpretação da Bíblia na Igreja, recomen-
da-a vivamente em IV, A, 2.
59
Como sugere o CONCÍLIO VATICANO II, Dei Verbum, 25.
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60
Texto referido por Vida nueva, nº 2.205 (1999) 16.
61
Cf. J.B. METZ, Teologia do mundo, da sociedade, da política, da paz (Teologia nova;
Moraes; Lisboa 1969) 9-48.
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