UD II - Saúde e Beleza
UD II - Saúde e Beleza
UD II - Saúde e Beleza
Saúde e beleza
Sumário
1. Apresentação da Unidade 3
2. Saúde 4
3. Beleza 17
4. Práticas corporais associadas à saúde e à beleza 24
5. E a conversa continua... 26
6. Referências 28
II – Saúde e Beleza
1. Apresentação da unidade
Caro aluno,
Nesta segunda unidade didática, enfocaremos, principalmente, o conceito de
saúde e beleza, bem como procuraremos entender as inter-relações destes
constructos com práticas corporais. Para esta finalidade, apresentamos os
seguintes conteúdos, objetivos e métodos.
Conteúdos
a. Conceitos: saúde e beleza;
b. Práticas corporais associadas à saúde e beleza.
Objetivos
a) Conceituar saúde;
b) Conceituar beleza;
c) Explicar as práticas corporais associadas à saúde;
d) Explicar as práticas corporais associadas à saúde e interações com o meio
ambiente;
e) Explicar as práticas corporais associadas à beleza;
f) Debater as práticas corporais associadas à saúde e as associadas à beleza
identificando possível dicotomia.
Métodos
a) Vídeo-aula;
b) Leitura crítica de textos selecionados;
c) Vídeo sobre práticas corporais no campo da saúde.
Assim, iniciaremos nossa caminhada por essa área do conhecimento que nos
instiga a refletir sobre temáticas amplamente complexas e relacionadas, tais
como saúde, beleza e práticas corporais.
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II – Saúde e Beleza
Prezado aluno,
Refletir sobre saúde, beleza e suas inter-relações com práticas corporais é uma
atividade de fundamental importância no âmbito da Educação Física, uma vez
que contribui para ampliar nosso conhecimento sobre as perspectivas,
motivações e concepções do sujeito moderno em relação a tais práticas,
fornecendo-nos elementos teóricos consistentes para intervenções assertivas. É
neste sentido que o instigo aos seguintes questionamentos: o que você entende
por saúde e beleza? O que entende por práticas corporais? Quais relações são
possíveis de serem estabelecidas entre saúde, beleza e práticas corporais? Esteja
convidado para construir algumas possibilidades de respostas para tais
questionamentos.
2. Saúde
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II – Saúde e Beleza
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A formação moral e do caráter foram deixadas de lado em sua prática, restando apenas a
relação do indivíduo com seu próprio corpo como um fim em si mesmo. Nessa relação, os
indivíduos buscam desesperadamente encontrar no próprio corpo sua identidade pessoal,
destituída do mundo do trabalho e das responsabilidades sociais, deslocando para sua vida
privada toda a satisfação não mais desfrutada no mundo público (Pagni, 1997, p. 81).
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Nos EUA, nestes primeiros cem anos da profissão, a prioridade parece ter evoluído
circularmente desde o “higienismo” dos últimos anos do século passado até a educação para a
“aptidão física e a saúde” deste final de século. Entretanto, a similaridade entre as duas
épocas parece ficar só na terminologia. Atualmente, existem diferentes conceitos de saúde e
aptidão física (mais centrados no indivíduo), além da fundamentação científica muito mais
evidente e de objetivos ligados a todas as fases da vida [...], mais preocupada com a
preparação do indivíduo para decisões bem-informadas sobre exercícios, esportes, bem-estar e
saúde para uma vida inteira (1992, p. 55).
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Tem sido evidenciado que as pessoas ativas demonstram menores incidências de doenças
crônico-degenerativas comparado com pessoas inativas. Se inúmeros indícios nos levam a
estabelecer uma relação de causa-efeito entre atividade física e saúde ou entre a inatividade e
as enfermidades, pode-se questionar quais são as reais dificuldades de adoção de um estilo
vida ativo? (Achour Junior, 1995, p. 4).
O corpo humano é uma máquina capaz de fazer inveja ao mais sofisticado computador. [...]
Todo esse conjunto impressionante necessita de cuidados. Isso requer dedicação,
investimento e alguns procedimentos que você precisa conhecer (Guiselini, 1996, p. 15).
Toda a máquina exige a limpeza freqüente das suas engrenagens e a rejeição, não menos
freqüente, das escórias ou partes inutilizadas do carvão. Sendo o corpo humano uma
máquina das mais delicadas, é necessário velar pela sua limpeza e pela expulsão regular dos
seus dejetos (Vigarello, 1985, p. 165).
Temos certeza que não precisamos nos alongar muito sobre a comparação
acima, tamanha a força das fontes, que sugerem uma proximidade muito
evidente.
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Da fadiga ao estresse
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A legitimidade na ciência.
A produção de conhecimentos científicos, como toda atividade humana, diz respeito às suas
finalidades sociais e está estreitamente vinculada à busca constante de melhores condições de
vida, procurando responder às crescentes e renovadas necessidades de bem-estar e de conforto
das populações. Os avanços alcançados pela ciência moderna vêm fornecendo ao Homem
elementos para alterar e dominar a Natureza; a sua adequada utilização vem promovendo as
alterações perseguidas em todos os campos e, especificamente, naquele da saúde podem-se
apontar as positivas contribuições que a sua aplicação provoca nos perfis epidemiológicos e
no aumento da sobrevida com qualidade, sem evidentemente esquecer os persistentes desafios
ainda presentes, no nosso meio (Goldbaum, 1999, p. 1).
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modo, que os habitos do escolar se formem ao influxo desse meio sadio, como tambem se
consegue exercer, por intermédio da criança, accentuada influencia no lar e na família
(Fontenelle, 1940, p. 841).
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municipios, cujas rendas são absorvidas na quasi totalidade por intendentes, secretários,
collector e fiscaes. São chefes e cabos eleitoraes das varias oligarchias que nos felicitam e que
vão levando a nação, a passos largos, para a perda da sua soberania [sic] (Penna, 1923, p.
29).
[...] não convem absolutamente aos magnatas de posse dessa rica e vasta propriedade, que os
seus súbditos ou servos se instruam e adquiram saúde, pois que seria isto o ponto final do seu
nefasto predomínio (Penna, p. 32).
Todos os problemas relativos á salubridade das regiões e á saúde dos seus habitantes
prendem-se intimamente aos de sua organização política e social (Penna, p. 68).
Comparando esse discurso com o dos higienistas sociais da década de
1980, podemos observar uma clara continuação dos ideais da Liga Pró-
Saneamento do Brasil, posterior Sociedade Brasileira de Higiene, com os ideais
do Movimento Sanitário. Por exemplo, para Gastão Campos deveria ser
organizado um novo Movimento Sanitário, que teria como objetivo criticar
radicalmente o modelo médico sanitário do fim do século XX no Brasil,
deixando claro os determinantes sociais do processo saúde-doença e buscando,
no cerne desse movimento, constituir uma sociedade justa (Campos, 1991),
atitude muito similar ao intervencionismo da Sociedade Brasileira de Higiene.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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3. Beleza
O conceito de beleza abre margens para distintas classificações, que
variam amplamente de acordo com autores, épocas e culturas. De acordo com
Eco (2004), a beleza jamais foi algo de absoluto e imutável, mas assumiu
diversas faces segundo o período histórico e o país e isso não apenas no que diz
respeito à beleza física (do homem, da mulher, da paisagem), mas também no
que se refere à beleza das artes, ideias, coisas, deuses etc.
De modo geral, podemos entender que beleza – em conjunto com belo,
gracioso, bonito, sublime, maravilhoso, soberbo e outras expressões similares –
é um adjetivo de uso frequente para indicar algo que nos agrada. Nesse sentido,
aquilo que é belo é igual àquilo que é bom e, de fato, em diversas épocas
históricas, criou-se um laço estreito entre belo e bom. Nas palavras do Eco
(2004, p.8):
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O
corpo está sempre sendo redescoberto e reinventado, e todas as
marcas que se inscrevem ou se constroem em torno dele – nas artes, na
medicina, na mídia etc. – são sempre provisórias, características de
cada época, cultura ou grupo social. Em função disso, pretendo
mapear algumas das transformações colocadas ao corpo, principalmente o
feminino, no decorrer do século XX no Brasil. Como referência, opero com as
mudanças efetivadas pelos discursos que aliam beleza e saúde, localizando
onde e como esse par se confunde, se diferencia e/ou se torna um mesmo e se
ressignifica.
No decorrer do século XX, a imagem do que é saúde e do que é beleza
sofre um deslocamento em relação a conceitos de períodos anteriores. A
conquista de um corpo saudável e belo passa a ser entendida como um objetivo
individual a ser atingido por meio de um exercício intencional de autocontrole,
envolvendo força de vontade, restrição e vigilância constantes. Deborah Lupton
(2000, p. 24) diz que a obesidade passa a ser vista como um sinal tangível de
falta de controle, impulsividade, auto-indulgência, enquanto que o corpo magro
é um testemunho do poder da autodisciplina, um exemplo do domínio da
mente sobre o corpo e de um virtuoso sacrifício.
A busca por esse novo corpo belo e saudável durante o século XX
acarretou, durante as últimas décadas, a substituição do açúcar nas gôndolas
dos supermercados (e na mesa de uma significativa parcela da população que
se sente interpelada pelo discurso da boa forma) por produtos light e diet.
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[...] na medida em que o bem-estar se torna uma regra, nas cidades são multiplicados
os serviços de prazer e conforto em tudo o que se faz: muitas publicidades de alimentos
diet, por exemplo, defendem a aliança entre a dieta e o prazer de comer, termos
incompatíveis no passado (Sant’anna, 2000c, p. 38).
[...] seu outro lado é [uma] ameaça sempre presente: clama por vigilância incessante e
precisa ser combatida e repelida dia e noite, sete dias por semana. [...] E, finalmente o
significado de um regime de vida saudável não fica parado. Os conceitos de dieta
saudável mudam em menos tempo do que duram as dietas recomendadas simultânea
ou sucessivamente (Bauman, 2001, p. 93).
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II – Saúde e Beleza
Ou seja, o desejo tem a si mesmo como referência e não é, por isso, nunca
saciado, nunca satisfeito, e acaba em uma via de mão dupla. De um lado, os
produtores sempre preocupados em produzir novos desejos em seus
consumidores a um elevado custo; de outro, consumidores insatisfeitos e
prontos, rápidos, ágeis para irem às compras, alimentando, generosamente, a
indústria capitalista.
Em séculos anteriores, a gordura foi sinônimo de saúde, beleza e
sedução. No século XX, principalmente a partir da segunda metade, essa
representação sofre modificações, talvez uma inversão. A magreza encarna o
novo ideal de beleza, e a gordura é associada à doença, à falta de controle sobre
o corpo e, por extensão, também falta de controle sobre a própria vida. O
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[...] de ciências sociais que procuram entender esse fenômeno sugerem que as mulheres
estão infelizes com o seu corpo porque não se conformam com as figuras esguias e de
seios grandes que pressentem que os homens preferem; de fato, as mulheres têm a
tendência de sobrestimar o tamanho do seio quando avaliam o seu caráter geral de
atração. Existem bons motivos para acreditar que a sociedade paga um preço muito
acima do valor monetário ao alimentar a fantasia de corpos e seios perfeitos sem
reconhecer qualquer outro tipo (Yalom, 1998, p.229).
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era desenhada exclusivamente para os seios (Yalom, 1998, p. 209) que, diferente
do espartilho, não os elevava, mas buscava o conforto. Com isso, o corpo
ampulheta foi sendo substituído por corpos cada vez mais magros, obedecendo
às exigências de rapidez, agilidade e movimento que a vida moderna e o
desenvolvimento industrial demandavam. Os anos 20, segundo Yalom,
configuraram-se como uma das irregularidades históricas em que as mulheres
buscaram obter uma aparência lisa comprimindo os seios. A indústria da época
colaborou, colocando no mercado o soutien em forma de faixa que achatava os
seios, inventando uma silhueta masculinizada. A ênfase recaía sobre a
simplicidade, liberdade e abandono estilizado (Yalom, 1998, p. 211),
favorecendo a funcionalidade, a praticidade e a agilidade. Em relação a essa
necessidade de mudança, funcionalidade, praticidade, rapidez e,
necessariamente, adaptação, Bauman indica que,
o esporte era um divertimento, assim como uma obrigação – um peculiar mas essencial
paradoxo não diferente daqueles que emergem na conversão religiosa (Mrozeck apud
Lupton, 2000, p. 33).
Prezado aluno,
Vimos nos capítulos prévios que a atividade física tem sido historicamente
relacionada com saúde, por vezes, de modo simplista, em uma relação causa-
efeito. Vimos também que saúde e beleza são termos com significados
semelhantes, quando o assunto é a busca pelo corpo belo e ideal. Agora, vamos
pensar nas relações que saúde e beleza estabelecem com práticas corporais. De
igual modo às atividades físicas, as práticas corporais têm sido apontadas como
promotoras de saúde e beleza. Todavia, devemos ficar atentos a essa questão,
na medida em que as práticas corporais devem ser utilizadas no contexto da
Educação Física para além da intenção do binômio saúde e beleza, podendo
enfocar relações saudáveis com o próprio corpo, socialização, prazer, ampliação
das próprias experiências corporais, cooperação, cordialidade etc. Aí está o
grande desafio da área e dos futuros profissionais. Vamos começar nossas
reflexões?
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5. A conversa continua...
Caro aluno,
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